Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE-UFRN CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA - PPGEQ Dissertação de Mestrado Avaliação de métodos de rompimento celular e de diferentes metais imobilizados em resina Streamline Chelating para purificação do antígeno 503 de Leishmania i. chagasi. Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Orientador: Prof. Dr. Everaldo Silvino Dos Santos Coorientador: Dr. Francisco Canindé de Sousa Junior NATAL/RN FEVEREIRO/2017 Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Avaliação de métodos de rompimento celular e de diferentes metais imobilizados em resina Streamline Chelating para purificação do antígeno 503 de Leishmania i. chagasi. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Engenharia Química, sob a orientação do Prof. Dr. Everaldo Silvino dos Santos e coorientação do Dr. Francisco Canindé de Sousa Junior. NATAL/RN FEVEREIRO/2017 Catalogação de Publicação na Fonte. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN / Sistema de Bibliotecas - SISBI Biblioteca Setorial Especializada em Engenharia Química - CT Leitão, Ana Laura Oliveira de Sá. Avaliação de métodos de rompimento celular e de diferentes metais imobilizados em resina Streamline Chelating para purificação do antígeno 503 de Leishmania i. chagasi / Ana Laura Oliveira de Sá Leitão. - Natal, 2017. 96f.: il. Orientador: Everaldo Silvino dos Santos. Coorientador: Francisco Canindé de Sousa Junior. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Engenharia Química. Programa de Pós-graduação em Engenharia Química. 1. Leishmaniose - Dissertação. 2. Adsorção - Dissertação. 3. Lipopolissacarídeos - Dissertação. I. Santos, Everaldo Silvino dos. II. Sousa Junior, Francisco Canindé de. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. RN/UF/BSEQ CDU 616.993.161(043.3) LEITÃO, Ana Laura Oliveira de Sá – Avaliação de métodos de rompimento celular e de diferentes metais imobilizados em resina Streamline Chelating para purificação do antígeno 503 de Leishmania i. chagasi. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. Área de Concentração: Engenharia Química, Linha de pesquisa: Processos químicos, catalíticos e biotecnológicos, 2017, Natal/RN, Brasil. Orientador: Prof. Dr. Everaldo Silvino dos Santos Coorientador: Dr. Francisco Canindé de Sousa Junior RESUMO Com o desenvolvimento da indústria biotecnológica, é crescente o interesse por antígenos recombinantes purificados para obtenção de vacinas. Porém, para essa aplicação esses antígenos precisam apresentar um elevado grau de pureza, e por isso é de grande relevância o desenvolvimento de técnicas que permitam a redução do número de operações unitárias necessárias ao processo de purificação, permitindo ainda uma elevada recuperação e proporcionando uma maior economia na obtenção dos bioprodutos. A Adsorção em Leito Expandido (ALE) vem se destacando como uma alternativa propícia para o downstream processing, pois é uma técnica cromatográfica de modo simples e de baixo custo, que integra as etapas de clarificação, concentração, purificação em uma única operação. Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo avaliar os métodos de rompimento celular e os diferentes metais imobilizados em resina Streamline chelating para purificação do antígeno 503 de Leishmania i. chagasi por ALE bem como remover os lipopolissacarídeos (LPS) liberados durante a etapa de rompimento celular. Primeiramente, foi avaliado qual o melhor método de rompimento celular para obtenção da proteína intracelular. As estratégias estudadas utilizando lisozima, pérolas de vidro, ureia e EDTA foram avaliadas através de quatro planejamentos experimentais. Em seguida, foram realizados testes de adsorção em batelada, utilizando-se cinco íons metálicos (Cu2+, Ni2+, Zn2+, Co2+ e Fe3+) nas concentrações de 0,1, 0,5 e 0,8 mol/L acoplados na resina Streamline chelating, escolhendo-se o metal que apresentou melhor adsorção do antígeno para os ensaios usando ALE. Posteriormente, foi estimada a quantidade mínima de tensoativo Triton X-114 necessária na etapa de lavagem da ALE para remoção do LPS, a fim de obter-se o antígeno 503 livre desse contaminante. E por fim, foram realizados ensaios de ALE visando recuperar e purificar a proteína de interesse. Para os ensaios usando ALE utilizou-se uma coluna de 2,6 cm de diâmetro por 30 cm de altura, acoplada a uma bomba peristáltica. Com os planejamentos experimentais realizados para avaliação do rompimento celular, observou-se que maiores quantidades de proteínas totais e do antígeno 503 liberadas foram obtidas para o método da ureia e que o único fator significativo para esse planejamento foi a concentração, correspondente a 8,0 M. Como resultado para a triagem do íon metálico, o cobre (Cu2+) foi o metal que apresentou maior capacidade de adsorção do antígeno 503, apresentando valores de capacidade de adsorção de 0,102, 0,128 e 0,111 mg/mL de adsorvente para as concentrações de 0,1, 0,5 e 0,8 mol/L, respectivamente. Tem-se ainda que para as três condições analisadas (0,01, 0,05 e 0,1 % de Triton X-114) na etapa de lavagem da ALE o percentual de remoção de LPS foi elevado e que a concentração mínima utilizada (0,01 %) já foi suficiente para a remoção de 99,70 % deste contaminante. Para o teste de ALE utilizando eluição isocrática (0,6 M de imidazol) os resultados obtidos mostraram baixa recuperação (3,0 %) do antígeno 503. Avaliou-se então a eluição em degrau, inicialmente em dois passos, aplicando-se 0,6 mol/L e, em seguida, 1,0 mol/L de imidazol. Porém, esta estratégia ainda não foi eficiente para recuperar a proteína de interesse. Um novo ensaio foi realizado, com um total de três passos de eluição, utilizando 0,3 e 0,6 mol/L. Esse último teste mostrou uma recuperação de 15,0 % da proteína de interesse e um fator de purificação de, aproximadamente, 3,0. Portanto, a técnica cromatográfica de afinidade por íons metálicos imobilizados (IMAC) mostrou ser uma alternativa eficiente na recuperação e purificação do antígeno 503 a partir do homogeneizado de E. coli não clarificado. Palavras-chave: Adsorção em Leito Expandido, purificação, íon metálico, antígeno 503, remoção de LPS. LEITÃO, Ana Laura Oliveira de Sá – Avaliação de métodos de rompimento celular e de diferentes metais imobilizados em resina Streamline Chelating para purificação do antígeno 503 de Leishmania i. chagasi. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. Área de Concentração: Engenharia Química, Linha de pesquisa: Processos químicos, catalíticos e biotecnológicos, Natal/RN, Brasil. Orientador: Prof. Dr. Everaldo Silvino dos Santos Coorientador: Dr. Francisco Canindé de Sousa Junior ABSTRACT Due to the development of biotechnology industry, there is a growing interest in purified recombinant antigens to obtain vaccines. However, for this application these antigens require a high degree of purity, thus, it is of great relevance the development of techniques that allow the reduction in the number of unitary operations required for the purification process, this would also allow a high recovery and a greater saving in obtainingbioproducts. The Expanded Bed Adsorption (EBA) has shown as a suitable alternative for downstream processing, once it is a simple and low cost chromatographic technique that integrates clarification, concentration and purification in a single operation. This study aims at evaluating the methods of cell disruption and the different metals immobilized in Streamline Chelating resin for purification of Leishmania i. chagasi 503 antigen by EBA as well as removing the lipopolysaccharides (endotoxin) released during the stage of cell disruption. Firstly, the best method of cell disruption to obtain intracellular protein was evaluated. The strategies studied using lysozyme, glass beads, urea and EDTA were evaluated through four experimental designs. Then, batch adsorption tests were carried out using five metal ions (Cu2+, Ni2+, Zn2+, Co2+ and Fe3+) at concentrations of 0.1, 0.5 and 0.8 M coupled in the Streamline chelating resin, selecting the metal that showed the best adsorption of the antigen for the assays using EBA. Then, the minimum amount of Triton X-114 tensioactive required in the EBA wash stage for LPS removal was estimated in order to obtain the 503 antigen free of this contaminant. Finally, EBA assays were performed in order to recover and purify the protein of interest. EBA experiments were carried out using a column of 2.6 cm in diameter (30 cm height), coupled to a peristaltic pump. The experimental plannings carried out to evaluate cell disruption, showed that higher amounts of total proteins and 503 antigen released were obtained for the urea method and that the only significant factor for this planning was the concentration corresponding to 8.0 M. As a result of the metal ion screening, copper (Cu2+) was the metal with the highest adsorption capacity of 503 antigen, presenting adsorption capacity values of 0.102, 0.128 and 0.111 mg / mL of adsorbent at concentrations of 0.1, 0.5 and 0.8 M, respectively. For the three analyzed conditions (0.01, 0.05 and 0.1% Triton X-114) in the EBA washing stage, the percentage of LPS removal was high and the minimum concentration used (0.01%) was enough to remove 99.70% of this contaminant. For the EBA test using isocratic elution (0.6 M imidazole) the results obtained showed a low recovery (3.0 %) of the 503 antigen. The step elution was then evaluated, initially in two steps, applying 0.6 M and then 1.0 M imidazole. However, this strategy has not yet been effective in recovering the protein of interest. A new assay was performed, with a total of three elution steps, using 0.3 and 0.6 M. This test showed that a recovery of 15.0% of the protein of interest and a purification factor of 3.0. Therefore, the immobilized metal ion affinity chromatography (IMAC) technique has been shown to be an efficient alternative in the recovery and purification of the 503 antigen from the homogenized E. coli unclarified. Keywords: Expanded Bed Adsorption, purification, metallic ion, 503 antigen, LPS removal. AGRADECIMENTOS À Deus, pela vida, força, fé e coragem. Aos meus pais, Gerardo e Lucinha, e ao meu irmão Bruno, pelo amor, afeto, dedicação e confiança sempre depositada. À minha vovó Laura (in memoriam), por sua infinita bondade, pelo carinho e cuidado de mãe e pelas orações a mim ofertadas. Ao meu orientador Prof. Dr. Everaldo Silvino dos Santos, pela orientação, disponibilidade, comprometimento e atenção oferecidos durante este trabalho. Ao meu coorientador Dr. Francisco Canindé de Sousa Junior, pela forma que me acolheu no LEB e por ter sido tão solícito durante todo esse tempo de desenvolvimento da pesquisa. Ao meu namorado Mauro André, pela compreensão, carinho e companheirismo demonstrados no decorrer desta jornada. À minha prima Naylla e minhas amigas Jéssyca, Cleitiane, Patrícia e Jhéssica, pela amizade, apoio e incentivo, vocês foram essenciais em todo esse tempo. As bolsistas de iniciação científica, Fernanda, Laura e Cecília, por toda ajuda e comprometimento para a realização deste trabalho. Aos meus colegas do LEB, Carlos, Sérgio, Millena, Emy e Naldo e aos demais integrantes desse laboratório, pela receptividade, companhia, conversas, risadas e disponibilidade em ajudar. Aos servidores do PPGEQ pela disponibilidade e atenção. SUMÁRIO 1. Introdução ............................................................................................................................. 16 2. Objetivos ............................................................................................................................... 19 2.1 Objetivos Gerais ............................................................................................................. 20 2.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 19 3. Revisão Bibliográfica ........................................................................................................... 22 3.2 Leishmaniose .................................................................................................................. 22 3.2.1 Leishmaniose Visceral ............................................................................................. 23 3.2.1.1 Situação epidemiológica .................................................................................... 23 3.2.1.2 Agente etiológico e transmissão ........................................................................ 24 3.2.1.3 Quadro Clínico .................................................................................................. 24 4.2.1.4 Diagnóstico e tratamento ................................................................................... 25 3.3 Antígenos Recombinantes .............................................................................................. 26 3.3.1 Antígeno 503 ............................................................................................................ 26 3.4 Rompimento Celular ....................................................................................................... 27 3.4.1 Lise enzimática ......................................................................................................... 28 3.4.2 Pérolas de vidro ........................................................................................................ 29 3.4.3 EDTA - Mg2+ ........................................................................................................... 29 3.4.4 Ureia ......................................................................................................................... 29 3.5 Purificação de Proteínas .................................................................................................. 30 3.6 Cromatografia ................................................................................................................. 32 3.6.1 Adsorção em Leito Expandido ................................................................................. 32 3.6.1.1 Caracterização do leito expandido ..................................................................... 35 3.6.2 Cromatografia de Afinidade por Íons Metálicos Imobilizados (IMAC) .................. 36 3.7 Endotoxinas .................................................................................................................... 38 4. Metodologia .......................................................................................................................... 42 4.1 Material ........................................................................................................................... 42 4.1.1 Adsorvente ............................................................................................................... 42 4.1.2 Coluna ......................................................................................................................42 4.1.3 Material Biológico.................................................................................................... 43 4.1.4 Reagentes e Padrões ................................................................................................. 44 4.2 Métodos .......................................................................................................................... 44 4.2.1 Preparo do inóculo ................................................................................................... 44 4.2.2 Cultivo e indução ..................................................................................................... 45 4.2.3 Escolha do método para o rompimento celular ........................................................ 45 4.2.3.1 Método de lise enzimática ................................................................................. 46 4.2.3.2 Método de pérolas de vidro ............................................................................... 46 4.2.3.3 Método de rompimento celular usando ureia .................................................... 47 4.2.3.4 Método de rompimento celular usando EDTA - Mg2+ ...................................... 47 4.2.4 Triagem do íon metálico .......................................................................................... 48 4.2.5 Isoterma de adsorção ................................................................................................ 49 4.2.6 Purificação do antígeno 503 e remoção de LPS utilizando ALE ............................. 49 4.2.7 Determinação da concentração de proteínas totais .................................................. 50 4.2.8 Eletroforese em gel de poliacrilamida ...................................................................... 51 4.2.9 Derterminação da concentração de antígeno 503 ..................................................... 51 4.2.10 Determinação de LPS ............................................................................................. 52 4.2.11 Cálculos .................................................................................................................. 52 5. Resultados e Discussões ....................................................................................................... 55 5.1 Escolha do método para o rompimento celular .............................................................. 55 5.2 Triagem do íon metálico ................................................................................................. 63 5.3 Isoterma de adsorção ...................................................................................................... 66 5.4 Remoção de LPS ............................................................................................................. 67 5.5 Purificação do antígeno 503 e remoção de LPS utilizando ALE ................................... 69 6. Conclusões ............................................................................................................................ 78 7. Referências Bibliográficas .................................................................................................... 80 Apêndice 1 ................................................................................................................................ 94 Anexo 1 .................................................................................................................................... 96 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Endemicidade da Leishmaniose Visceral em todo o mundo no ano de 2013 (World Health Organization, 2014). ..................................................................................................... 23 Figura 2 - Etapas de um processo genérico de purificação de biomoléculas. Fonte: Pessoa-Jr & Kilikian, 2005. .......................................................................................................................... 31 Figura 3 - Princípio de funcionamento de um processo de adsorção em leito fixo e expandido. Fonte: adaptado de Crase & Draeger, 1992. ............................................................................. 33 Figura 4 - Figura 4: Etapas do processo de adsorção em leito expandido. Fonte: Amersham Pharmacia Biotech, 1997. ......................................................................................................... 35 Figura 5 - Estrutura química dos LPS de E. coli O11:B4 de acordo com Ohmo & Morrison (1989). Abreviações - Hep: L-glicerol-D-mano-heptose; Gal: galactose; Glc: glicose; KDO: ácido 2-ceto-3-deoxioctônico; NGa: N-acetil-galactosamina e NGc: N-acetil-glic ................. 39 Figura 6 - Aparato experimental utilizado para os ensaios de ALE. ....................................... 43 Figura 7 - Biorreator de bancada Biostat B. ............................................................................. 45 Figura 8 - (a) Diagrama de Pareto para a concentração de proteína total e (b) superfície de resposta que apresenta os efeitos da concentração de lisozima (X1) e do tempo (X2) na concentração de proteína total obtida. ...................................................................................... 58 Figura 9 - (a) Diagrama de Pareto para a concentração de antígeno 503 e (b) superfície de resposta que apresenta os efeitos da concentração de lisozima (X1) e do tempo (X2) na concentração de antígeno 503 obtida........................................................................................ 58 Figura 10 -(a) Diagrama de Pareto para a concentração de proteína total e (b) superfície de resposta que apresenta os efeitos da razão g de pérolas de vidro/mL de suspensão (X1) e do tempo (X2) na concentração de proteína total obtida. .............................................................. 59 Figura 11 - (a) Diagrama de Pareto para a concentração de antígeno 503 e (b) superfície de resposta que apresenta os efeitos da razão g de pérolas de vidro/mL de suspensão (X1) e do tempo (X2) na concentração de antígeno 503 obtida. .............................................................. 59 Figura 12 - (a) Diagrama de Pareto para a concentração de proteína total e (b) superfície de resposta que apresenta os efeitos da concentração de EDTA (X1) e do tempo (X2) na concentração de proteína total obtida. ...................................................................................... 60 Figura 13 - (a) Diagrama de Pareto para a concentração de antígeno e (b) superfície de resposta que apresenta os efeitos da concentração de EDTA (X1) e do tempo (X2) na concentração de antígeno 503 obtida. ................................................................................................................. 60 file:///C:/Users/Mauro/Dropbox/Imprimir%20-%20UNI/Mestrado/2016/Qualificação/Dissertação%20Ana%20Laura.docx%23_Toc471996014 file:///C:/Users/Mauro/Dropbox/Imprimir%20-%20UNI/Mestrado/2016/Qualificação/Dissertação%20Ana%20Laura.docx%23_Toc471996014 Figura 14 - (a) Diagrama de Pareto para a concentração de proteína total e (b) superfície de resposta que apresenta os efeitos da concentração de ureia (X1) e do tempo (X2) na concentração de proteína total obtida. ...................................................................................... 61 Figura 15 - (a) Diagrama de Pareto para a concentração de antígeno 503 e (b) superfície de resposta que apresenta os efeitos da concentração de ureia (X1) e do tempo (X2) na concentração de antígeno 503 obtida........................................................................................ 61 Figura 16 - Gel de eletroforese (SDS-PAGE) mostrando o perfil protéico apresentado para cada ensaio do planejamento. Coluna 1: Padrão de massa molecular; Coluna 2: Ensaio 1 (2,0 M e 15 min); Coluna 3: Ensaio 2 (8,0 M e 15 min); Coluna 4: Ensaio 3 (2,0 M e 60 min). ................ 63 Figura 17- Capacidade de adsorção do antígeno 503 para os íons estudados. ........................ 64 Figura 18 - Isoterma de adsorção para o antígeno 503 na resina Streamline Chelating. .......... 66 Figura 19 - Cromatograma do perfil de purificação do antígeno 503 a partir do homogeneizado de E. coli não clarificado utilizando 0,01 % de Triton X-114 na etapa de lavagem e a eluição isocrática. .................................................................................................................................. 69 Figura 20: Gel de eletroforese (SDS-PAGE) do antígeno 503 recuperado a partir do homogeneizado de E. Coli usando 0,01 % de Triton X-114 na etapa de lavagem da ALE. Linha 1: Padrão de peso molecular; Linha 2: Homogeneizado de E. coli; Linha 3: Carga; Linha 4: Lavagem: Linha 5: Eluição ...................................................................................................... 71 Figura 21 - Cromatograma do perfil de purificação do antígeno 503 a partir do homogeneizado de E. coli não clarificado utilizando 0,01 % de Triton X-114 na etapa de lavagem e a eluição em degrau com 0,6 e 1,0 M. ..................................................................................................... 72 Figura 22 - Gel de eletroforese (SDS-PAGE) do antígeno 503 recuperado a partir do homogeneizado de E. Coli usando 0,01 % de Triton X-114 na etapa de lavagem da ALE. Coluna 1: Padrão de massa molecular; Coluna 2: Homogeneizado de E. coli; Coluna 3: Carga; Coluna 4: Lavagem; Coluna 5: Eluição 0,6 M; Coluna 6: Eluição 1 M. .............................................. 74 Figura 23 - Cromatograma do perfil de purificação do antígeno 503 a partir do homogeneizado de E. coli não clarificado utilizando 0,01 % de Triton X-114 na etapa de lavagem e a eluição em degrau com 0,3 e 0,6 M. ..................................................................................................... 74 Figura 24 - Gel de eletroforese (SDS-PAGE) do antígeno 503 recuperado a partir do homogeneizado de E. Coli usando 0,01 % de Triton X-114 na etapa de lavagem da ALE. Coluna 1: Padrão de massa molecular; Coluna 2: Homogeneizado de E. coli; Coluna 3: Carga; Coluna 4: Lavagem; Coluna 5: Eluição 0,3 M; Coluna 6: Eluição 0,6 M. ........................................... 76 file:///C:/Users/Mauro/Dropbox/Imprimir%20-%20UNI/Mestrado/2016/Qualificação/Dissertação%20Ana%20Laura.docx%23_Toc471996033 file:///C:/Users/Mauro/Dropbox/Imprimir%20-%20UNI/Mestrado/2016/Qualificação/Dissertação%20Ana%20Laura.docx%23_Toc471996033 file:///C:/Users/Mauro/Dropbox/Imprimir%20-%20UNI/Mestrado/2016/Qualificação/Dissertação%20Ana%20Laura.docx%23_Toc471996033 file:///C:/Users/Mauro/Dropbox/Imprimir%20-%20UNI/Mestrado/2016/Qualificação/Dissertação%20Ana%20Laura.docx%23_Toc471996033 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Principais características da resina Streamline chelating. ....................................... 42 Tabela 2 - Composição do meio de cultivo 2xTY (pH 7,0) ..................................................... 44 Tabela 3 - Fatores, variáveis codificadas e níveis para o planejamento experimental usando lisozima. .................................................................................................................................... 46 Tabela 4 - Fatores, variáveis codificadas e níveis para o planejamento experimental usando pérolas de vidro. ....................................................................................................................... 47 Tabela 5 - Fatores, variáveis codificadas e níveis para o planejamento experimental usando a ureia. ......................................................................................................................................... 47 Tabela 6 - Fatores, variáveis codificadas e níveis para o planejamento experimental usando o EDTA - Mg2+. ......................................................................................................................... 48 Tabela 7- Condições de eluição para purificação do antígeno 503. ......................................... 50 Tabela 8 - Resultados de concentração de proteína total e antígeno 503 para o método de lise enzimática (lisozima). ............................................................................................................... 55 Tabela 9 - Resultados de concentração de proteína total e antígeno 503 para o método pérolas de vidro. .................................................................................................................................... 55 Tabela 10 - Resultados de concentração de proteína total e antígeno 503 para o método da ureia. .................................................................................................................................................. 55 Tabela 11 - Resultados de concentração de proteína total e antígeno 503 para o método de EDTA - Mg2+. ......................................................................................................................... 56 Tabela 12 - Percentagem de remoção de LPS nos ensaios de ALE. ........................................ 68 Tabela 13 - Dados da purificação do antígeno 503 a partir do homogeneizado de E. coli não clarificado para o ensaio com a eluição isocrática. .................................................................. 69 Tabela 14 - Dados da purificação do antígeno 503 a partir do homogeneizado de E. coli não clarificado para o ensaio com a eluição em degrau com dois passos. ...................................... 73 Tabela 15 - Dados da purificação do antígeno 503 a partir do homogeneizado de E. coli não clarificado para o ensaio com a eluição em degrau com três passos. ...................................... 74 LISTA DE QUADRO Quadro 1 - Sequência de aminoácidos do fator de alongamento 1-γ de L. infantum. .............. 27 file:///C:/Users/Mauro/Dropbox/Imprimir%20-%20UNI/Mestrado/2016/Qualificação/Dissertação%20Ana%20Laura.docx%23_Toc471993539 LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS ALE: Adsorção em Leito Expandido ANOVA: Análise de variância APT: Área de proteína total API: Área de proteína de interesse BSA: Albumina de Soro Bovino cm: Centímetro C: Concentração da proteína no equilíbrio na fase líquida C0: Concentração inicial da proteína alvo na fase líquida CPT: Concentração de proteína total Ca503: Concentração do antígeno 503 cDNA: DNA complementar DAT: Teste de Aglutinação Direta DEAE: Dietil aminoetil DEQ: Departamento de Engenharia Química dp: Diâmetro da partícula E. coli: Escherichia coli EDTA: Ácido etilenodiaminotetracético EF-1: Fator de alongamento 1 ELISA: Enzyme-linked Immunosorbent Assay FP: Fator de Purificação Fcal: Pontos de percentual calculados da distribuição F Ftab: : Pontos de percentual tabelados da distribuição F g: Aceleração da gravidade Gal: Galactose GE: Grau de expansão do leito Glc: Glicose GTP: guanosina trifosfato H: Altura do leito expandido H0: Altura do leito fixo Hep: L-glicerol-D-mano-heptose IDA: Ácido iminodiacético IMAC: Cromatografia de Afinidade por Íon Metálico Imobilizado INF-γ: Interferon gama Kd: Constante de dissociação no equilíbrio kDa: Kilodalton KDO: Ácido 2-ceto-3-deoxioctônico L: Litro LAL: Limulus Amebocyte Lysate LC: Leishmaniose Cutânea LCM: Leishmaniose Cutâneo-Mucosa LV: Leishmaniose Visceral LPS: Lipopolissacarídeos m: Metro mg: Miligrama min: Minuto mL: Mililitro mM: Milimolar n: Índice de Richardson-Zaki NGa: N-acetil-galactosamina NGc: N-acetil-glicosamina OMS: Organização Mundial da Saúde q: Capacidade de adsorção qmáx: Capacidade máxima de adsorção R2: Coeficiente de regressão RIFI: Reação de Imunofluorecência Indireta ReP: Reynolds da partícula rpm: Rotações por minuto SABs: sistemas aquosos bifásicos SDS-PAGE: Eletroforese em gel de poliacrilamidaem condições desnaturantes SP: Sulfapropil tRNA: Aminoacil-RNA transportador U: Velocidade da partícula UE: Unidade de endotoxina UFRN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte Ut: Velocidade terminal da partícula V: Volume de extrato bruto Vads: Volume de adsorvente utilizado %: Percentagem º C: Graus celsius ε0: Porosidade inicial do leito ε: Porosidade do leito μ: Viscosidade do fluido μL: Microlitro ρp: Densidade da partícula ρL: Densidade do fluido CAPÍTULO I INTRODUÇÃO 16 1. Introdução Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 1. Introdução Em muitos países, o aumento dos fatores de risco para a Leishmaniose tem despertando uma crescente preocupação nos órgãos de saúde pública. Esta é uma doença causada por protozoários do gênero Leishmania e classifica-se em três formas: Leishmaniose Visceral (LV), Leishmaniose Cutânea (LC) e Leishmaniose Cutâneo-Mucosa (LCM) (World Health Organization, 2014). Estima-se que cerca de 88 países são afetados e a população em risco é de aproximadamente 350 milhões de pessoas (Desjeux, 2004). A Leishmaniose Visceral (LV), umas das manifestações clínicas da Leishmaniose, é uma doença crônica e potencialmente fatal para o homem se não tratada (Gontijo & Melo, 2004). A LV apresenta uma incidência anual de 200.000 a 400.000 novos casos (World Health Organization, 2014) e exibe uma extensa distribuição ocorrendo na Ásia, na África, nas Américas, na Europa e no Oriente Médio. Na América Latina, 90% dos casos ocorrem no Brasil, principalmente na região Nordeste (Ministério da Saúde, 2014). Até o presente não existe nenhuma vacina eficaz no tratamento da Leishmaniose em humanos. As drogas que vem sendo empregadas, por mais de sessenta anos, para o tratamento da doença são os antimoniais pentavalentes. No entanto, essas drogas apresentam custos elevados, nem sempre são efetivas e apresentam elevada toxicidade. Diante desses aspectos, avanços expressivos dos estudos de biologia molecular vêm contribuindo para a produção de antígenos recombinantes purificados que poderão ser utilizados para obtenção de vacinas (Gontijo & Melo, 2004). Adicionalmente, com o desenvolvimento da indústria biotecnológica, o interesse pelas proteínas é cada vez maior, devido a suas atividades enzimáticas e ações terapêuticas. Porém, para a maioria de suas aplicações elas precisam apresentar um elevado grau de pureza (Chase, 1994). As técnicas utilizadas para separação e purificação de proteínas são conhecidas como downstream processing (Santos, 2001). Esse processo envolve diferentes operações unitárias como, por exemplo, centrifugação, filtração, precipitação, cromatografia e cristalização (Padilha, 2013). Por outro lado, a Escherichia coli encontra-se como um dos hospedeiros mais utilizados na obtenção de proteínas recombinantes, principalmente por apresentar vantagens como facilidade de manipulação e grande disponibilidade de informação genética, crescimento rápido, alto nível de expressão em meios de baixo custo e facilidade na ampliação de escala 17 1. Introdução Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 (Huang et al., 2012). Nesses casos em que a proteína recombinante é expressa em E. coli, o procedimento de ruptura celular ocasiona a liberação de grandes quantidades de lipopolissacarídeos (LPS), uma vez que estes derivam da membrana celular externa de bactérias Gram-negativas (Lopes et al., 2010). Esses LPSs apresentam elevada toxicidade sobre os seres humanos, por isso é fundamental a sua remoção de produtos biológicos e farmacêuticos e, para isso, diversos métodos vêm sendo testados. Uma alternativa que vem mostrando resultados promissores na remoção de LPS integrado à purificação da proteína de interesse, é a aplicação do Triton-X 114 durante a etapa de lavagem do processo cromatográfico (Sousa Junior, 2015). Ainda segundo Sousa Junior (2015), devido ao elevado número de operações unitárias necessárias, que é dependente do grau de purificação desejado, a etapa de purificação apresenta um alto custo. Portanto, é de grande interesse o desenvolvimento de técnicas econômicas e que permitam a redução dessas etapas para a purificação de proteínas. Assim, vem sendo amplamente estudado o desenvolvimento das operações integradas, as quais reduzem o número de operações unitárias necessárias ao processo de purificação, permitindo uma elevada recuperação e, também, proporcionando uma maior economia na obtenção dos produtos (Cavalcanti, 2010). Dessa forma, a Adsorção em Leito Expandido (ALE) vem se destacando como uma alternativa promissora na área de recuperação e purificação de biomoléculas, pois é uma técnica cromatográfica que integra as etapas de clarificação, concentração e purificação em uma única etapa (Anspach et al., 1999). Além disso, a mesma permite explorar diferentes técnicas cromatográficas, tais como: troca iônica, interação hidrofóbica e afinidade por íons metálicos imobilizados (IMAC) (Zhao et al., 2009). Dentre essas técnicas cromatográficas, a IMAC é uma cromatografia de afinidade em que a biomolécula se liga reversivelmente ao metal imobilizado na resina e vem sendo bastante utilizada na purificação de proteínas recombinantes que possuem caudas de histidina (Iwashita, 2012). Estudos realizados por Campubrí et al. (2006), Dalal et al. (2008), Yap et al. (2010) e Sousa Júnior et al. (2015) confirmam que a utilização da técnica cromatográfica IMAC operando em leito expandido vem se mostrando eficiente para processos de purificação. Nesse contexto, esse processo que integra a clarificação, recuperação e purificação da proteína e remoção de LPS em uma única operação vem sendo estudado pelo grupo de pesquisa em Engenharia de Bioprocessos do Departamento de Engenharia Química (DEQ) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e trata-se de um processo simples e de baixo custo quando comparado com outros procedimentos alternativos. 18 1. Introdução Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 O presente trabalho está dividido em sete capítulos. O Capítulo 1 consiste na introdução aos assuntos discutidos no decorrer do trabalho, em seguida, tem-se o Capítulo 2, onde estão expostos os objetivos propostos. O Capítulo 3, apresenta uma revisão da literatura com relação à Leishmaniose, antígenos recombinantes, rompimento celular, purificação de biomoléculas, cromatografia, adsorção em leito expandido, técnica de Cromatografia de Afinidade por Íons Metálicos Imobilizados (IMAC) e endotoxinas. O Capítulo 4 irá abordar a metodologia utilizada, seguido do Capítulo 5, que irá apresentar os resultados e discussões e no Capítulo 6 são apresentas as considerações finais. Por fim, o Capítulo 7 relata as referências estudadas para a elaboração deste trabalho e em seguida tem-se o apêndice e o anexo. CAPÍTULO II OBJETIVOS 20 2. Objetivos Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 2. Objetivos Os objetivos deste trabalho podem ser divididos em objetivos gerais e específicos. 2.1 Objetivos Gerais • Avaliar os métodos de rompimento celular e os diferentes metais imobilizados em resina Streamline Chelating para purificação do antígeno 503 de Leishmania i. chagasi. • Remover os lipopolissacarídeos liberados durante a etapa de rompimento celular. 2.2 Objetivos Específicos • Avaliar quatro métodos de rompimento celular, utilizando lisozima, pérolas de vidro, ureia e EDTA-Mg2+, para obtenção da proteína intracelular; • Analisar a influência dos íons metálicos Cu2+, Ni2+, Zn2+, Co2+ e Fe3+ imobilizados na resina Streamline chelating na adsorção do antígeno 503 usandoo homogeneizado celular em sistema de batelada; • Determinar a quantidade mínima de tensoativo Triton X-114 necessária na etapa de lavagem da ALE para remoção do LPS, a fim de obter-se o antígeno 503 livre desse contaminante; • Recuperar e purificar o antígeno 503 diretamente do homogeneizado bacteriano não clarificado por adsorção em leito expandido, utilizando a resina Streamline chelating com o metal imobilizado que apresentar melhor capacidade de adsorção. CAPÍTULO III REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 22 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 3. Revisão Bibliográfica Neste capítulo é elaborada uma revisão da literatura baseada na temática deste trabalho, abordando assuntos com relação à purificação de biomoléculas, incluindo processos de rompimento celular, a técnica de adsorção em leito expandido e a IMAC. Além disso, um contexto geral sobre a leishmaniose, antígenos recombinantes e endotoxinas também foram estudados. 3.2 Leishmaniose A leishmaniose constitui um complexo de doenças com uma importante diversidade clínica e epidemiológica. A doença é causada por um parasita protozoário da família Trypanosomatidae, que pertence ao gênero Leishmania. Cerca de 30 espécies foram comprovadas, sendo 20 dessas espécies patogênicas para os seres humanos (Desjeux, 2004). As manifestações clínicas da doença dependem da espécie de Leishmania e apresenta três principais formas: visceral (LV), cutânea (LC) e mucocutânea (LMC) (World Health Organization, 2014). A doença é considerada endêmica em 88 países, dos quais 72 são países em desenvolvimento e 13 estão entre os menos desenvolvidos. A maioria dos casos de leishmaniose ocorre em populações rurais pobres e áreas suburbanas de alguns países, como: Índia, Sudão, Bangladesh, Nepal, Brasil, Peru, Irã, Afeganistão, Argélia, Síria e Arábia Saudita (Desjeux, 1996). A Figura 1 apresenta o estado de endemicidade da Leishmaniose Visceral em todo o mundo no ano de 2013. 23 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 3.2.1 Leishmaniose Visceral 3.2.1.1 Situação epidemiológica A Leishmaniose Visceral (LV), também conhecida como calazar, é a forma clínica mais grave, pois é geralmente fatal se não tratada (Boelaert et al., 2000). É uma doença sistêmica que atinge as células do sistema monocular fagocitário do homem sendo os órgãos mais afetados o baço, fígado, linfonodos, medula óssea e pele (Melo, 2004). No Brasil, inicialmente a LV foi caracterizada como uma doença rural, ocorrendo especialmente na região Nordeste. Com o aumento da urbanização houve uma expansão na distribuição geográfica da LV e a doença se espalhou para todas as regiões do país, envolvendo as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste (Martins-Melo et al., 2014). Essas modificações, do ponto de vista epidemiológico, resultam da alta densidade demográfica, alterações climáticas e migração rural para áreas urbanas periféricas (Miranda, 2008). Figura 1 - Endemicidade da Leishmaniose Visceral em todo o mundo no ano de 2013 (World Health Organization, 2014). 24 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 Em 1998, fora da região Nordeste foram notificados 15% dos casos e, em 2005, essa proporção aumentou para 44% (Harhay et al., 2011). Atualmente, a doença está distribuída em 21 estados brasileiros, com cerca de 3.500 casos anuais (Alvar et al., 2012). Aproximadamente 41,9% dos casos humanos do país correspondem a crianças com até nove anos de idade (Marcondes & Rossi, 2013). Os dados epidemiológicos dos últimos anos relatam a periurbanização e a urbanização da LV, destacando-se a ocorrência de surtos nas seguintes cidades: Rio de Janeiro (RJ), Araçatuba (SP), Santarém (PA), Belo Horizonte (MG), Corumbá (MS), Teresina (PI), São Luís (MA), Natal (RN), Fortaleza (CE), Camaçari (BA), Três Lagoas (MS), Campo Grande (MS) e Palmas (TO) (Ministério da Saúde, 2014). 3.2.1.2 Agente etiológico e transmissão A LV é causada por espécies pertencentes ao complexo Leishmania donovani. No Brasil, o agente etiológico é a L. chagasi, espécie semelhante à L. infantum encontrada em alguns países do Mediterrâneo e da Ásia. Com a realização de estudos envolvendo técnicas bioquímicas e moleculares, a L. chagasi e a L.infantum foram consideradas a mesma espécie, e por isso este parasita é mencionado como L. infantum chagasi ou L. i. chagasi (Sousa Junior, 2015). Para que ocorra a transmissão da doença é necessária a presença do vetor susceptível, bem como de um hospedeiro e um reservatório também susceptíveis (Gontijo & Melo, 2004). No ambiente urbano o cão doméstico é o principal reservatório e fonte de infecção para os vetores (Courtenay et al., 2002). A principal forma de transmissão do parasita é através da picada de flebotomíneos do sexo feminino. Outras formas de transmissão já foram registradas, como: congênita, seringas contaminadas e transfusão de sangue (Quinnell & Courtenay, 2009). No Brasil, duas espécies de vetores estão relacionadas com a transmissão da doença, Lutzomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi, sendo a primeira considerada o principal vetor da LV (Gontijo & Melo, 2004). 3.2.1.3 Quadro Clínico As manifestações clínicas da LV apresentam as seguintes formas: assintomática, oligossintomática e clássica (Sousa Junior, 2015). 25 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 A forma clássica da doença é caracterizada pela presença de febre, anemia, hepatoesplenomegalia, manifestações hemorrágicas, linfadenomegalia, perda de peso, taquicardia, além de tosse seca e diarréia, sendo estas duas últimas menos frequentes (Pastorino et al., 2002). Apenas uma pequena parcela de indivíduos infectados desenvolve sinais e sintomas da doença, a maioria desenvolve infecção assintomática ou oligossintomática (Lima et al., 2012). De acordo com Ready (2014), aproximadamente 25% dos indivíduos infectados evoluem para a forma clássica da doença. 4.2.1.4 Diagnóstico e tratamento O diagnóstico da LV é baseado em parâmetros epidemiológicos, clínicos e laboratoriais (Pastorino et al., 2002). Um dos problemas associado a esse diagnóstico é a semelhança no quadro clínico que a LV apresenta com outras doenças presentes nas áreas onde ela ocorre, como, por exemplo, Doença de Chagas, Esquistossomose, Malária, Tuberculose e Febre Tifóide (Gontijo & Melo, 2004). Diante dos sinais e sintomas que são comuns a outras patologias devem-se utilizar os métodos clínicos adjuntos aos métodos parasitológico, sorológico e imunológico para construir o diagnóstico da LV (Souza et al., 2012). O diagnóstico feito através do método clínico baseia-se em diversas indicações, como: febre prolongada, anemia, esplenomegalia, hepatomegalia e leucopenia. O método parasitológico, por sua vez, fundamenta-se na visualização direta em cultivo do parasito obtido de baço, fígado, medula óssea ou linfonodos. Por outro lado, os métodos sorológicos e imunológicos utilizam testes, tais como: a Reação de Imunofluorecência Indireta (RIFI), a Reação Imunoenzimática Enzyme-linked Immunosorbent Assay (ELISA) e o Teste de Aglutinação Direta (DAT) (Assis et al., 2008). O tratamento da LV vem sendo realizado com cinco medicamentos derivados de moléculas naturais e sintéticas: antimônio pentavalente, anfotericina B (AmpB), miltefosine, paromomicina e pentamidine. Atualmente, dois compostos antimoniais pentavalentes são comercialmente disponíveis: Glucantime® (antimoniato de metilglucamina) e Pentostan® (estibogluconato de sódio) (Hwan, 2016). No Brasil, esses medicamentos à base de antimônio, são as drogas de primeira escolha para o tratamento da doença e o único composto disponível é o antimoniatoN-metil glucamina, sendo a última adquirida previamente por meio da aminação redutora da glicose em presença de metilamina (Rath et al., 2003). Devido a toxicidade do antimônio, a Organização Mundial 26 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 da Saúde (OMS) sugere que a dosagem dessa droga não ultrapasse 20 mg/kg/dia, com uma dose máxima diária de 850 mg (Balaña-Fouce et al., 1998). Distúrbios cardiovasculares são os principais efeitos colaterais do glucantime (Gontijo & Melo, 2004). A anfotericina B é uma droga de segunda linha utilizada como tratamento alternativo, em caso de resistência aos antimoniais. É um antibiótico antifúngico proveniente de uma cepa de Streptomyces nodosus (Rath et al., 2003). O uso desse medicamento é restringido pela sua elevada toxicidade, com isso a anfotericina B pode ser incorporada em lipossomas, reduzindo a toxidade e elevando os níveis de cura (Freitas-Junior et al., 2012). 3.3 Antígenos Recombinantes Com o surgimento da tecnologia do DNA recombinante, tornou-se possível expressar proteínas recombinantes, tornando-se essa técnica uma ferramenta importante nos estudos da estrutura, função e identificação de novas proteínas, principalmente com finalidades terapêuticas (Vaz, 2008). As proteínas recombinantes podem ser obtidas em diversos hospedeiros, tais como: bactérias, leveduras, fungos filamentosos e células de mamíferos. A bactéria Gram-negativa, Escherichia coli, é um dos hospedeiros mais bem estudados e utilizados para reprodução destas proteínas, principalmente por ser bem caracterizada em termos de genética molecular, fisiologia e sistema de expressão, permitindo assim que várias técnicas de manipulação genética fossem desenvolvidas e aprimoradas (Makrides, 1996; Choi & Lee, 2004; Lima, 2004). Proteínas de Leishmania, como por exemplo antígenos de Leishmania chagasi, têm sido clonados e produzidos em bactérias para o desenvolvimento de vacinas e kits de diagnóstico (Silva, 2013). 3.3.1 Antígeno 503 De acordo com o estudo realizado por Martins et al. (2006), observou-se que uma vacina que produz proteção contra a LV deveria possuir mecanismo de ação que consistiria no estímulo da produção de interferon gama (INF-γ). Para esse estudo foi gerada uma biblioteca de cDNA (DNA complementar) da forma amastigota de Leishmania i. chagasi e os antígenos foram 27 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 identificados através da dupla varredura da biblioteca. O antígeno 503 apresentou 100% de identidade com o fator de alongamento 1-γ de L. infantum, sendo observada uma massa de 56 kDa e confirmando ainda, o potencial desta proteína como candidata à vacina ou teste para diagnóstico específico da LV. O fator de alongamento 1-γ é uma subunidade do fator de alongamento 1 (EF-1). O EF- 1 além de ser o principal fator traducional, é também uma das mais importantes proteínas multifuncionais, uma proteína G que desempenha um papel importante na tradução de proteínas em células eucarióticas. O EF-1 é composto por quatro subunidades principais: alfa, beta, gama e delta (EF-1α, EF-1β, EF-1δ e EF-1γ). A subunidade EF-1α liga o aminoacil-RNA transportador (tRNA) ao ribossomos 80s através da hidrólise do guanosina trifosfato (GTP), enquanto as outras subunidades (EF-1β, EF-1δ e EF-1γ) apresentam como função a troca do nucleotídeo EF-1α-guanosina difosfato (GDP) por EF-1α-GTP (Cañavate et al., 2002; Ejiri, 2002). O Quadro 1 mostra a sequência de aminoácidos do fator de alongamento 1-γ de L. infantum 3.4 Rompimento Celular Existem dois tipos básicos de produtos produzidos por microrganismos: intracelular, que são retidos no interior da célula do citoplasma e extracelular que são excretados para um meio de crescimento (Geciova et al., 2002). Comparado aos produtos extracelulares, os intracelulares dificultam o processo de purificação de biomoléculas, uma vez que exigem o rompimento celular (Pessoa-Jr & Kilikian, 2005). 1 mtykllaplh pesaraqkim vaaayanvdv elkvcqygqe netpefarnc spcmrfpsmq 61 teegylfesn aimrhiarve ksgaklygat pfessqvdmw ldfasselda hnmpylmetf 121 agipaaesam atleeslagl elwletrtfl vgermtvadi svafalqwvy rmnvkhgeel 181 tkkyrnayrl yntvmqqpkt vevlkqwgat fgpakapkka aeakpkaekk pkeavgdeee 241 qsakeekkan pldalppssf vldaykreys ntdtrtvaap yffehydteg ytcfwaryky 301 nednkkqfmt anlvrgwfqr mehvrkyafg valiigedaa helvsfwvfr gkgmpeivse 361 vvdtelfewe eikdvqaeke kitdylcweg ptiprpvleg rcfk Quadro 1 - Sequência de aminoácidos do fator de alongamento 1-γ de L. infantum. Fonte: GenBank número CAC35543.1 28 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 De acordo com Pessoa-Jr (2005), o rompimento celular ocorre após a etapa de separação e lavagem das células obtidas ao final do cultivo. Alguns fatores como: tamanho da célula, necessidade de controle de temperatura, tempo de operação, tolerância a tensões de cisalhamento, rendimento do processo, custo e capital de energia, devem ser considerados para escolha da técnica de rompimento mais adequada. Portanto, a ruptura celular consiste da primeira etapa no processo de recuperação de produtos intracelulares e constitui um passo essencial do downstream processing, pois algum dano ocasionado ao produto de interesse a ser recuperado, pode influenciar nas etapas seguintes (Neves, 2003). Os métodos para ruptura celular são classificados como: mecânicos e não-mecânicos. Os métodos mecânicos incluem técnicas baseadas em forças de cisalhamento (moinho de bolas, ultrassom) ou por pressão (homogeneizador a alta pressão). Os métodos não-mecânicos podem ser: físicos (choque osmótico, termólise, congelamento e descongelamento), químicos (detergentes, solventes, EDTA) e enzimáticos (lise enzimática) (Harrison, 1991; Ho et al., 2006). 3.4.1 Lise enzimática A lise enzimática é um método de rompimento celular atraente em termos da sua especificidade, condições suaves de operação, baixo investimento de capital, além de ser adequado para a recuperação de biomoléculas sensíveis à tensão de cisalhamento (Harrison, 1991). Esse método de ruptura baseia-se na remoção da parede celular, com a ação das enzimas, acompanhado do rompimento da membrana citoplasmática devido à pressão osmótica interna. As enzimas atuam no rompimento, visto que a parede seja seu substrato (Pessoa-Jr, 2005). Diferente das bactérias gram-positivas, as gram-negativas possuem uma estrutura mais complexa. Estas são constituídas por uma parede de duas camadas: a interior, composta por peptidoglicano e a membrana externa formada por fosfolipídios, proteínas, lipoproteínas e lipopolissacarídeos. Logo, é necessário um pré-tratamento para remover a membrana externa e expor o peptidoglicano ao ataque enzimático, esse pré-tratamento pode ser feito, por exemplo, com o detergente Triton X-100 (Andrews & Asenjo, 1987). 29 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 3.4.2 Pérolas de vidro Devido à sua simplicidade, esse método parece ser o mais simples para ruptura celular quando equipamento especializado não estiver disponível (Benov & Al-Ibraheem, 2002). O rompimento por pérolas de vidro é um método mecânico e ocorre devido à força de cisalhamento aplicada pelas esferas de vidro contra a parede celular das células. Esse método é bastante indicado para escala laboratorial, uma vez que não necessita de grande aparato operacional. O procedimento desse método consiste, basicamente, da adição das pérolas de vidros em um tubo, contendo um determinado volume de suspensão celular, agitado-se o tubo vigorosamente por um determinado tempo (Neves, 2003). 3.4.3 EDTA - Mg2+ O EDTA (ácido etilenodiaminotetracético) é um agente quelante que causa desestabilização ou remoção damembrana externa (Harrison, 1991). No caso da E. coli o EDTA é necessário para romper a camada de peptidoglicano na membrana externa e Mg2+é adicionado para estabilizar os esferoplastos (Xiang et al., 2002). 3.4.4 Ureia A expressão de proteínas em E. coli frequentemente leva à produção de proteínas agregadas e insolúveis expressas em corpos de inclusão no citoplasma bacteriano. Os agentes mais usualmente utilizados para a solubilização de proteínas agregadas são guanidina e ureia. Estes levam a formação de estruturas protéicas flexíveis e desordenadas e quando altos níveis de concentração destes agentes desnaturantes são utilizados a solubilização pode ser completa através da ruptura de interações intramoleculares (Clark, 2001; Singh & Panda, 2005) Desse modo, a ureia é um agente caotrópico que age interrompendo as interações fracas entre moléculas, como as interações hidrofóbicas entre as proteínas. Agentes caotrópicos são eficazes na desnaturação de proteínas e por esse motivo são adicionados nos tampões de lise (Geciova et al., 2002; Burden, 2012). 30 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 3.5 Purificação de Proteínas O interesse por processos de purificação é crescente devido ao desenvolvimento da biotecnologia e à demanda das indústrias farmacêutica e química por produtos com elevado grau de pureza (Zuñiga et al., 2003). Destacam-se, dentre esses produtos, as proteínas, interferons, insulinas, hormônios de crescimento, vacinas, cujas técnicas de separação e purificação podem ser agrupadas no downstream processing. Essas operações unitárias são bastante dispendiosas, podendo comprometer em até 80% do custo total (Santos, 2001). Dessa forma, tem-se grande interesse no estudo e desenvolvimento de técnicas mais simples, ou seja, que permita a redução das etapas desse processo, e que ofereça um menor custo para a purificação de biomoléculas. Diversas técnicas podem ser utilizadas na purificação de produtos biotecnológicos e a seleção do processo mais adequado a ser utilizado vai depender da aplicação final da molécula- alvo requerendo maior ou menor grau de pureza, das características físico-químicas e também das impurezas. Biofármacos (diagnósticos e terapêuticos) são os que demandam maior grau de pureza e, assim, acabam elevando a complexidade e os custos do processo de purificação (Pessoa-Jr & Kilikian, 2005). Na indústria biotecnológica, as técnicas cromatográficas são os métodos mais empregados para recuperação e purificação de proteínas, principalmente quando alta concentração e alta pureza são necessárias, e a adsorção em leito fixo, especificamente, encontra-se com uma das técnicas de mais amplo estudo. Porém, uma das maiores limitações desta técnica se dá após os processos fermentativos, onde são necessárias algumas operações unitárias prévias, devido à presença de diversos contaminantes e materiais indesejados, como subprodutos e resíduos celulares, os quais podem causar obstrução da coluna e, deste modo, prejudicar o rendimento do processo de purificação (Azzoni, 2002; Zhao et al., 2009; Lima, 2014). O objetivo de um processo de purificação de proteínas é atingir rendimento máximo com alta seletividade, considerando os custos das operações empregadas. Sendo assim, é necessário ter uma sequência adequada das etapas envolvidas no processo e um número otimizado de operações unitárias envolvidas, reduzindo o tempo de processamento (Silva, 2000). Em geral, o processo de recuperação e purificação envolve uma estratégia que inclui quatro passos sequenciais: clarificação (remoção de compostos insolúveis), concentração 31 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 (isolamento do produto), purificação e polimento. Essa abordagem é uma das melhores estratégias para a purificação de biomoléculas (Cussler & Ding, 1995; Zuñiga et al., 2003). Nesse caso, como comentado anteriormente, técnicas que permitam integrar as etapas de clarificação, concentração/purificação são de extrema importância. Dentre essas destacam-se os sistemas aquosos bifásicos (SABs) e a adsorção em leito expandido (ALE), sendo essa última usada no presente trabalho. A Figura 1 esquematiza as etapas de um processo de purificação de biomoléculas. Figura 2 - Etapas de um processo genérico de purificação de biomoléculas. Fonte: Pessoa-Jr & Kilikian, 2005. Meio de cultivo com células ou microrganismos em suspensão Clarificação (separação células/meio) Células ou microrganismos (produtos intracelulares) Sobrenadante (produtos extracelulares) eextracelularesexintracel ulares) Rompimento de células ou microrganismos Remoção de fragmentos de células ou microrganismos Fração sólida Sobrenadante e Separação/Concentração de moléculas Purificação Tratamentos finais 32 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 3.6 Cromatografia A introdução da cromatografia como técnica analítica ocorreu em 1906, por um pesquisador russo, Mikhael Semenovich Tswett, ao descrever sua experiência de separar a clorofila de uma mistura de pigmentos de planta (Moraes, 2009). Nas últimas décadas, a cromatografia vem se destacando como uma das técnicas mais importantes para separação e purificação de biomoléculas, devido ao seu alto desempenho e eficiência (Zhao et al., 2009). Essa técnica baseia-se nas características físico-químicas dos componentes de interesse e consiste da separação dos componentes entre uma fase móvel, que contém a mistura de componentes a serem separados, e outra estacionária, esta normalmente é sólida e formada por matriz de partículas empacotadas em uma coluna de forma tubular (Azzoni, 2002; Zuñiga et al., 2003). Durante a passagem da fase móvel por meio da fase estacionária, os constituintes da amostra são difundidos entre as duas fases, de tal forma que, cada um deles é seletivamente retido pela fase estacionária, resultando em uma migração diferencial que promove a separação (Collins et al., 2006). As técnicas cromatográficas mais utilizadas para purificação de produtos biotecnológicos são: cromatografia por exclusão molecular, troca iônica, interação hidrofóbica, afinidade e imunoafinidade. Na cromatografia por exclusão molecular a separação ocorre em função dos tamanhos das moléculas, enquanto que nos demais processos, as diferentes moléculas adsorvem na matriz, e em seguida, ocorre dessorção seletiva, proporcionando a separação dos componentes (Pessoa-Jr & Kilikian, 2005). 3.6.1 Adsorção em Leito Expandido A Adsorção em Leito Expandido (ALE) tende a simplificar de forma significativa o downstream processing, pois nessa técnica o caldo bruto proveniente da fermentação pode ser utilizado sem que haja uma clarificação prévia, com o material particulado passando através do leito sem ser retido. Esta técnica cromatográfica elimina as etapas de filtração, centrifugação e concentração, integrando em uma única operação as etapas de clarificação, concentração e purificação (Chase & Draeger, 1992; Hjorth, 1997). Essa característica de integrar essas etapas em uma única operação unitária é a principal vantagem da utilização da adsorção em leito expandido, sobre a técnica cromatográfica convencional em leito fixo. 33 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 A Figura 3 ilustra a comparação entre o funcionamento de um processo de adsorção em leito fixo (3a) e expandido (3b), podendo-se observar que no leito fixo o material particulado bloqueia a coluna. No entanto, ao ser operada de forma expandida a alimentação contendo o material particulado passa pela coluna sem a obstrução do leito (Figura 3b) (Santos, 2001).Figura 3 - Princípio de funcionamento de um processo de adsorção em leito fixo e expandido. Fonte: adaptado de Crase & Draeger, 1992. A ALE baseia-se na fluidização do leito de adsorventes cromatográficos (Padilha, 2013). Esse processo de fluidização do leito promove uma maior interação entre as matrizes adsorventes e as moléculas alvo (Curvelo-Santana et al., 2008). As propriedades das partículas adsorventes são de fundamental importância para formar uma fluidização perfeita, nesse caso, faz-se necessário o uso de partículas com alta massa específica, que permite o estabelecimento de elevadas velocidades de fluxo de líquido através do leito expandido. Quando a fase móvel é bombeada em sentido ascendente através da coluna, as partículas com tamanhos e densidades diferentes distribuem-se de forma não uniforme ao longo da altura do leito (Lin et al, 2013). As partículas adsorventes maiores ou mais densas Fluido com partículas Partículas adsorventes Material particulado que passa pelo leito Torta de Células (a) (b) 34 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 localizam-se na parte inferior do leito expandido e as menores ou menos densas na parte superior, como pode ser visto na Figura 2b ilustrada acima (Hjorth, 1997). O fluxo ascendente através do adsorvente fornece uma maior fração de vazios no interior do leito, o que permite a utilização de material particulado, que passa através da fase sólida enquanto a biomolécula alvo é adsorvida (Tong & Sun, 2002). As matrizes adsorventes mais utilizadas para purificação de proteínas são as de celulose, agarose, dextrana e poliacrilamida (Sousa Junior, 2015). Os ligantes clássicos (SP – sulfapropil, DEAE – dietil aminoetil e IDA – ácido iminodiacético) são acoplados ao suporte das partículas adsorventes (agarose-quartzo ou agarose-metal) elevando sua densidade e viabilizando a expansão do leito. Estes adsorventes são identificados comercialmente como Streamline, comercializados pela GE Healthcare e são compostos de 6% de agarose contendo um núcleo de quartzo cristalino, que atua aumentando a densidade do adsorvente, com um tamanho de partícula que varia de 100-300 µm, com tamanho médio de 200 µm e densidade em torno de 1,2 g/mL (Amersham Pharmacia Biotech, 1997; Kilikian & Santos, 2005). O processo de cromatografia em leito expandido corresponde a uma sequência de operações, que inclui o equilíbrio da resina, aplicação da amostra, a lavagem das proteínas não adsorvidas, a eluição do composto e a regeneração da resina (Moraes, 2009). A ilustração dessa sequência é representada na Figura 4. Primeiramente, o adsorvente do leito expandido é equilibrado com o tampão de equilíbrio, aplicado em fluxo ascendente, causando a expansão do leito em 2 ou 3 vezes, dependendo da velocidade. Após essa etapa, a amostra contendo as células e partículas em suspensão é alimentada, no sentido ascendente, no leito estabilizado. Dessa forma, a biomolécula alvo adsorve na resina, enquanto as células, restos celulares e contaminantes saem pela parte superior da coluna. Nessa etapa, é importante manter o mesmo grau de expansão do leito estabelecido e para isso deve-se controlar a velocidade. Em seguida, efetua-se a lavagem de modo ascendente usando-se o tampão, para remoção de partículas e proteínas fracamente adsorvidas. Depois da lavagem, a eluição da biomolécula de interesse é conduzida após sedimentação do leito, ou seja, com o leito empacotado, podendo-se utilizar o fluxo na forma ascendente ou descendente. Finalmente, a resina é limpa e regenerada para ser novamente utilizada (Amersham Pharmacia Biotech, 1997). 35 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 Figura 4 - Etapas do processo de adsorção em leito expandido. Fonte: Amersham Pharmacia Biotech, 1997. 3.6.1.1 Caracterização do leito expandido Para as operações usando a ALE é de fundamental importância conhecer o comportamento do leito em função das propriedades físicas das partículas e do fluido (Moraes, 2009). Uma das formas de conhecer esse comportamento é por meio da correlação de Richardson & Zaki (1954), eles estudaram a sedimentação e fluidização de vidro, divinil benzeno e balas de chumbo usando soluções como cloreto de sódio, M-cresol, bromofórmio e glicerol e obtiveram uma expressão que relaciona a velocidade do fluido e a velocidade terminal da partícula, com a porosidade do leito, conforme a Equação (1) (Santos, 2001): U Ut =εn (1) Em que U é a velocidade do fluido, 𝑈𝑡 é a velocidade terminal da partícula, 𝜀 a porosidade do leito e n é o índice de expansão (ou índice de Richardson-Zaki), sendo este uma função do número de Reynolds terminal (Ret). Ret= dPρLUt μ (2) Leito sedimentado Equilíbrio (expansão do leito) Aplicação da amostra Lavagem Eluição da proteína Regeneração 36 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 No regime de Stokes, em que o 𝑅𝑒𝑝 < 0,1, a velocidade terminal de uma partícula isolada 𝑈𝑡 é dada por: Ut= gdP 2 (ρ p -ρ L ) 18μ (3) Sendo g a aceleração da gravidade, dp é o diâmetro da partícula, μ é a viscosidade do fluido, e ρp e ρL são as densidades da partícula e do fluído, respectivamente. Outro parâmetro importante na caracterização do leito expandido é o grau de expansão (GE), que é um número adimensional e representa a razão entre a altura do leito expandido (H) e a altura do leito fixo do adsorvente (𝐻0), para uma dada velocidade aplicada, como segue na Equação (4). Para sistemas operando em leito expandido, os valores de GE giram em torno de 2,0 a 3,0 (Kilikian & Santos, 2005). GE= H H0 (4) A Equação (5) representa a relação entre a porosidade do leito e o grau de expansão: H H0 = (1-ε0) (1-ε) (5) Em que ε é a porosidade do leito e 𝜀0 a porosidade inicial do leito (assumindo valor de 0,4) (Cavalcanti, 2010). 3.6.2 Cromatografia de Afinidade por Íons Metálicos Imobilizados (IMAC) A IMAC foi introduzida por Porath e colaboradores em 1975 e, desde então, íons metálicos imobilizado vem sendo empregados como ligantes gerais em cromatografia de afinidade para a purificação de várias biomoléculas (Vançan, 1999). Assim como as demais técnicas de cromatografia de afinidade, a IMAC é usada nos casos em que se deseja uma purificação rápida e uma elevada pureza do produto. Apresenta vantagens quando comparada a essas outras técnicas, como a estabilidade entre IMAC – ligante, 37 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 condições suaves de eluição, regeneração simples e de baixo custo, além da sua aplicabilidade em condições desnaturantes, o que muitas vezes faz-se necessário quando as proteínas recombinantes são expressas em E. coli na forma de corpos de inclusão, permitindo que as proteínas marcadas com histidina possam ser separadas eficientemente na presença de concentrações de desnaturantes, como ureia ou guanidina-HCl (Gaberc-Porekar & Menart, 2001). Nessa técnica, a adsorção das proteínas é baseada na interação entre o íon metálico imobilizado na matriz do adsorvente e um grupamento doador de elétrons localizados na superfície das proteínas (Sousa Junior, 2015). Os íons metálicos mais usualmente empregados são, Fe3+, Cu2+, Ni2+, Co2+, Zn2+, Al3+ e Ca2+. Sendo que para purificação de proteínas que possuam resíduos de histidina, triptofano e cisteína, os mais utilizados são, Cu2+, Ni2+, Co2+, Zn2+, onde esses íons interagem com o nitrogênio aromático dos grupamentos imidazol, indol e com o enxofre do grupamento tiol, respectivamente, de cada aminoácido (Bresolin et al., 2009). Bresolin et al. (2009) reportamainda uma predição de afinidade da proteína com o ligante IDA baseado em resíduos de histidina acessíveis na superfície de proteínas. Para a ocorrência de apenas um resíduo de histidina o Cu2+ é o íon mais indicado para adsorção de proteína, quando houver mais de um resíduo de histidina os íons metálicos que devem ser utilizados para retenção de proteínas são Cu2+ e Ni2+ e no caso de ocorrer um cluster de histidina os íons apropriados para adsorção de proteína são Cu2+, Ni2+, Zn2+ e Co2+. Segundo Sulkowski (1989), o par de elétrons presente no nitrogênio aromático do anel imidazol da histidina é o principal colaborador na interação entre a proteína e íons metálicos de transição (quando quelatados ao ácido iminodiacético, IDA) e que a presença de múltiplas histidinas expostas na superfície da proteína a ser separada aumenta o grau desta interação. Poucas são as proteínas que naturalmente contêm resíduos de histidina localizados na superfície, porém com o advento da engenharia genética, proteínas que na sua forma original não possuíam caudas de histidinas disponíveis para ligação com íons metálicos imobilizados, são geneticamente modificadas para receberem uma cauda de histidina, o que facilita a purificação da proteína alvo por IMAC (Serpa, 2002). Nessa técnica cromatográfica, o processo de purificação depende de diversos fatores, como a escolha dos íons metálicos, dos agentes quelantes, das matrizes cromatográficas usadas para imobilização dos agentes quelantes e as condições de adsorção e dessorção, buscando 38 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 favorecer a interação entre a proteína e o metal para que alta recuperação e seletividade sejam alcançadas (Bresolin et al., 2009). 3.7 Endotoxinas As endotoxinas são lipopolissacarídeos (LPS) de alta massa molecular, derivados da membrana celular de bactérias gram-negativas e são responsáveis pela sua organização e estabilidade (Lopes, 2010; Lopes, 2014). A liberação de LPS ocorre durante a morte ou multiplicação celular dessas bactérias (Cardoso, 2014). Em indústrias farmacêuticas, é possível encontrar endotoxinas durante os processos de produção ou no produto final. Entretanto, a presença do LPS mesmo em concentrações muito baixas (<1,0 UE/mL) é indesejável, devido à potente reação inflamatória desencadeada por esta molécula, causando graves efeitos fisiopatológicos sobre o hospedeiro como choque endotóxico, injúria tecidual e até morte (Schädlich et al., 2009). O lipopolissacarídeo é formado pelo núcleo polissacarídico, ao qual se liga a cadeia O- antigênica e a unidade lipídica A (Lopes, 2014), como mostra a Figura 5. 39 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 Figura 5 - Estrutura química dos LPS de E. coli O11:B4 de acordo com Ohmo & Morrison (1989). Abreviações - Hep: L-glicerol-D-mano-heptose; Gal: galactose; Glc: glicose; KDO: ácido 2-ceto-3-deoxioctônico; NGa: N-acetil-galactosamina e NGc: N-acetil-glic. O lipídeo A é considerado a porção ativa da membrana da bactéria Gram-negativa, constituído por um dissacarídeo de glicosamina, sendo altamente substituído por ácidos graxos de cadeia longa ligados por ligações do tipo éster ou amida (Fukumori, 2008). Essa região é responsável pela maior parte das atividades biológicas da endotoxina, isto é, a sua toxicidade (Magalhães et al., 2007). A região oligossacarídica possui sua estrutura formada por uma região com o ácido 2- ceto-3-deoxioctônico (KDO) ligado a heptoses, geralmente L-glicerol-D-mano-heptose (Hep) e outra região ligada a hexoses, frequentemente glicose (Glc), galactose (Gal), N-acetil- galactosamina e N-acetil-glicosamina (NGc) (Erridge et al., 2002). A porção O-antígeno geralmente é formada por uma sequência de oligossacarídeos idênticos, com unidades repetidas de três a oito monossacarídeos, os quais são específicos para 40 3. Revisão Bibliográfica Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 cada espécie de bactéria e determinam a sua identidade sorológica, o que permite a classificação de mais de 100 sorotipos de E. coli e mais de 1000 de Salmonella (Petsch & Anspach, 2000). As endotoxinas apresentam efeitos biológicos muito fortes ao entrar na corrente sanguínea de humanos, que vão desde febre e calafrios até hipotensão, síndrome da angústia respiratória do adulto, coagulação intravascular disseminada e choque (Gorbet & Sefton, 2005). Os antibióticos usados para tratar doenças causadas por bactérias Gram-negativas podem quebrar as células bacterianas e isso ocasiona a liberação de LPS, podendo levar a uma piora imediata dos sintomas (Magalhães et al., 2007). Devido ao potencial tóxico dos LPS, é de extrema importância sua remoção de preparações injetáveis e de outros produtos biológicos e farmacêuticos (Lopes et al., 2010). Porém, essas moléculas apresentam característica termoestável, ou seja, não é destruída de forma eficaz pelos processos de esterilização amplamente utilizados como, por exemplo, o calor úmido a 121°C por 30 minutos (Magalhães et al., 2007). Deste modo, diferentes processos têm sido desenvolvidos para remover LPS de proteínas, entre eles estão, adsorção por afinidade, ultrafiltração, cromatografia de troca iônica, cromatografia de interação hidrofóbica e extração por duas fases aquosas. A aplicabilidade desses métodos depende das propriedades da biomolécula de interesse (Lin et al., 2005). De acordo com estudos realizados por Reichelt et al. (2006), Zimmerman et al. (2006) e Sousa Junior (2015), a adição de um detergente não iônico, como o Triton X-114, durante a etapa de lavagem dos processos cromatográficos, é uma alternativa eficiente para remoção de LPS. O tensoativo não-iônico, Triton X-114, auxilia na dissociação da endotoxina de proteínas recominantes, proporcionando uma capacidade de separação das fases para a remoção da endotoxina dissociada (Aida & Pabst, 1990). CAPÍTULO IV METODOLOGIA 42 4. Metodologia Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 4. Metodologia Neste item serão apresentados os materiais e as metodologias empregadas para avaliar os métodos de rompimento celular e de diferentes metais imobilizados em resina Streamline Chelating para purificação do antígeno 503 de Leishmania i. chagasi, bem como a remoção de LPS. 4.1 Material 4.1.1 Adsorvente A resina Streamline chelating foi utilizada durante os ensaios com IMAC e adquirida da GE Healthcare (Uppsala, Suécia). As características desse adsorvente são apresentadas na Tabela 1. Tabela 1 - Principais características da resina Streamline chelating. Característica Descrição Ligante Ácido iminodiacético (IDA) Tamanho médio da partícula 200,0 μm Variação no tamanho da partícula 100,0 – 300,0 μm Densidade média da partícula 1,2 g/mL Matriz Ligação cruzada de agarose 6,0 % contendo núcleo de quartzo pH de trabalho 3,0 – 13,0 pH de limpeza 3,0 – 14,0 Grau de expansão a 300 cm/h 2,0 – 3,0 Condições de estocagem Etanol 20,0 % Fonte: adaptado de Amersham Pharmacia Biotech (1997). 4.1.2 Coluna Uma coluna de vidro especialmente construída para operar em leito expandido, com diâmetro igual a 2,6 cm e uma altura de 30,0 cm e equipada com um êmbolo ajustável para 43 4. Metodologia Ana Laura Oliveira de Sá Leitão Fevereiro/2017 minimizar o espaço de topo sobre o leito fluidizado, foi utilizada nos experimentos de ALE. A coluna possuía uma régua (escala) na parede externa para registrar a altura do leito. A porção inferior da coluna foi preenchida por esferas de vidros para distribuir o fluxo de entrada, formando um leito com altura de 4,0 cm. Uma bomba peristáltica, modelo Perimax 12, da Spetec, foi utilizada para bombear o
Compartilhar