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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA INSTITUTO DE QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E QUIMIOMÉTRICA DE COMBUSTÍVEL AERONÁUTICO: UMA ABORDAGEM ACERCA DA ESTABILIDADE APÓS ESTOCAGEM E COM ADIÇÃO DE ADULTERANTES Wellington Jefferson Oliveira da Silva Dissertação de Mestrado Natal/RN, dezembro de 2021 WELLINGTON JEFFERSON OLIVEIRA DA SILVA AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA E QUIMIOMÉTRICA DE COMBUSTÍVEL AERONÁUTICO: UMA ABORDAGEM ACERCA DA ESTABILIDADE APÓS ESTOCAGEM E COM ADIÇÃO DE ADULTERANTES Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências para obtenção do título de Mestre em Química. Orientadora: Profª. Dra. Luciene da Silva Santos Natal / RN 2021 À minha família, em especial aos meus pais que sempre entenderam que a educação é a única ferramenta capaz de transformar vidas. AGRADECIMENTOS À minha família que sempre acreditou na educação e em seu poder transformador. À Profª Luciene Santos, minha orientadora, pelos ensinamentos e, principalmente, pela compreensão, apoio e confiança. Aos professores e colegas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, que tive oportunidade de conhecer no decorrer da minha trajetória. A Anne Beatriz Câmara colega do Laboratório de Tecnologias Energéticas – LABTEN, pelo apoio na realização do trabalho de pesquisa. A PETROBRAS, em especial, ao laboratório do Ativo Industrial de Guamaré, que tenho a honra de fazer parte do corpo de colaboradores. “O pensamento é o ensaio da ação.” Sigmund Freud RESUMO O combustível aeronáutico, querosene de aviação, QAV, devido a sua grande importância, demanda de utilização e por questões de segurança, necessita de uma criteriosa avaliação de suas propriedades físico-química antes de ser inserido no mercado, com a finalidade de atestar a qualidade do produto e garantir que suas características atendam aos padrões impostos pela Agência Nacional de Petróleo Biocombustíveis e Gás Natural – ANP. Porém, mesmo com o controle na produção, processos de adulterações podem comprometer a qualidade deste produto em seu processo de distribuição. Este trabalho buscou avaliar o impacto na qualidade do querosene de aviação, quando adulterado com querosene iluminante. A investigação foi realizada utilizando duas metodologias. A primeira, ocorreu por simulação da adulteração do querosene de aviação por querosene iluminante na faixa de concentração de 50% (v/v), e caracterização através de análises físico-químicas, tais como: teor de aromáticos totais, teor de enxofre total, curva de destilação, ponto de fulgor, massa especifica, ponto de fuligem, ponto de congelamento, viscosidade e corrosividade. Na segunda, foram utilizados métodos espectroscópicos associados às técnicas quimiométricas. Para tanto, foi simulada a adulteração do QAV em diferentes concentrações de querosene iluminante, que variaram de 5 a 60% (v/v). As amostras foram analisadas por técnicas espectroscópicas de infravermelho (MIR/NIR) durante um período que se estendeu por 60 dias. Os dados obtidos, foram posteriormente avaliados pelas técnicas quimiométricas de análise exploratória (PCA), análise discriminante linear (PCA-LDA) e por resolução de curvas multivariadas com mínimos quadrados alternados (MCR-ALS) afim de se obter um modelo estatístico que conseguisse predizer a presença de adulterante e a quantidade presente deste no querosene de aviação. Os resultados mostraram que o querosene de aviação mesmo adulterado se manteve estável durante o período de estocagem e que, os ensaios físico-químicos de modo isolado não foram capazes de detectar a presença do adulterante. Entretanto, as técnicas quimiométricas utilizadas neste trabalho foram capazes de identificar a presença do adulterante por MCR-ALS. Palavras chave: Querosene de aviação, Envelhecimento do combustível, Propriedades físico-químicas, Adulteração de combustível, Espectroscopia IR, Quimiometria ABSTRACT The fuel is necessary for the evaluation of quality issues, QAV, due to its great importance, demand for use and for safety, it needs a physical-chemical property before being inserted in the market, in order to certify that of the product and guarantee that its characteristics meet the standards imposed by the National Agency of Petroleum, Biofuels and Natural Gas – ANP. However, even with production control, adulteration processes can guarantee the process of this product in its quality distribution. This sought to assess the impact of quality keros with quality, tampered with when necessary. The investigation was carried out using two methodologies. The first one occurred by simulating the adult who wanted the combination, as a combination of kerosene combination 0% (v/characterization) by comparing comparison chemicals, freezing content, soot point, total sulfur content, distillation curvature, specific gravity, soot point, soot point, tolerance and corrosivity. In the second, spectroscopic methods associated with chemometric techniques were used. Therefore, the tampering of the QAV was simulated in different lighting products, ranging from 5 to 60% (v/v). As a sample they were by infrared spectroscopic techniques (MIR/NIR) during a period that extended for 60 days. The data obtained later through chemometric analysis techniques (PCA), analysis-model of discriminatory analysis of curves obtained with linear alternation (MCR-LDS) in order to obtain an analysis model that could predict the presence of adults and the amount present of this in falling kerosene. The results. However, the chemometric techniques used in this work were able to identify the presence of MCR-ALS. Keywords: Aviation kerosene, Fuel aging, Physicochemical properties, Fuel adulteration, IR spectroscopy, Chemometrics LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Repartição da oferta interna de energia (2020) ........................................ 19 Figura 2 - Oferta interna de energia pela classe da fonte (2020) ............................. 20 Figura 3 - Esquema simplificado de refino de petróleo ............................................. 21 Figura 4 - Torre de destilação e faixa de derivados .................................................. 22 Figura 5 - Escopo de análises físico-químicas utilizadas para especificação do QAV- 1 e suas normas ASTM. ..................................................................................... 35 Figura 6 - Resumo esquematizado da avaliação preliminar ..................................... 39 Figura 7 - Determinação do aspecto visual .............................................................. 40 Figura 8 - Determinação de Cor Satbolt via colorímetro automático ........................ 41 Figura 9 - Fluxograma das etapas para a determinação de goma atual .................. 43 Figura 10 - Etapas de determinação da separação de água em QAV pelo micro separômetro ....................................................................................................... 44 Figura 11 - Esquema para a determinação de acidez total ...................................... 46 Figura 12 - Determinação de enxofre mercaptídico .................................................. 47 Figura 13 - Esquemapara a determinação de delta cor ........................................... 48 Figura 14 - Estabilidade térmica-oxidativa ................................................................ 50 Figura 15 - Esquema representativo da Avaliação principal das amostras de QAV-1 originais e adulteradas ....................................................................................... 51 Figura 16 - Esquema para a determinação do ponto de fuligem .............................. 52 Figura 17 - Esquema para a destilação atmosférica – ASTM D86 ........................... 53 Figura 18 - Esquema para a determinação de ponto de fulgor ................................ 54 Figura 19 – Determinação de massa específica via densímetro digital .................... 55 Figura 20 - Esquema para a determinação de aromáticos totais ............................. 57 Figura 21 - Esquema para a determinação de enxofre por FRX .............................. 58 Figura 22 - Sistema para a determinação do ponto de congelamento ..................... 59 Figura 23 - Sistema para a determinação de viscosidade ........................................ 59 Figura 24 - Esquema para determina de corrosividade a lâmina de cobre .............. 60 Figura 25 - Esquema para monitoramento por espectroscopia IR da adulteração de QAV-1 ................................................................................................................ 61 Figura 26 - Resultados da determinação de acidez total .......................................... 66 Figura 27 - Resultados da determinação de enxofre mercaptídico .......................... 67 Figura 28 - Resultado da determinação de goma atual ............................................ 68 Figura 29 - Resultado do índice de separação de água ........................................... 69 Figura 30 - Resultado para presença e qualificação do depósito ............................. 70 Figura 31 - Resultado de diferença de pressão ........................................................ 71 Figura 32 - Resultado da determinação da cor saybolt ............................................ 71 Figura 33 - Resultado da determinação do delta cor ................................................ 72 Figura 34 - Resultado do teor de aromáticos totais .................................................. 74 Figura 35 - Resultado do teor de enxofre total ......................................................... 76 Figura 36 - Curva de destilação das amostras antes e depois da estocagem ......... 77 Figura 37 - Resultados do T10% e PFE antes e depois da estocagem ................... 78 Figura 38 - Resíduo e perda da destilação antes e depois da estocagem ............... 79 Figura 39 - Resultado da determinação do ponto de fulgor ...................................... 80 Figura 40 - Resultado da determinação de massa específica .................................. 81 Figura 41 - Resultado da determinação de ponto de congelamento ........................ 81 Figura 42 - Resultado da viscosidade cinemática .................................................... 82 Figura 43 - Resultado da determinação do ponto de fuligem ................................... 83 Figura 44 - Gráficos dos scores para os espectros de (a) MIR e (b) NIR analisados por PCA.............................................................................................................. 84 Figura 45 - Loadings do PCA para os dados de MIR ............................................... 86 Figura 46 - Loadings do PCA para os dados de NIR ................................................ 88 Figura 47 - DF plots obtidos pelo método PCA-LDA com os dados de (a) MIR e (b) NIR ..................................................................................................................... 89 Figura 48 - Curva de calibração da concetração medida versus a concentração relativa para o NIR onde (a) Copt1 e (b) Copt2 .................................................. 91 Figura 49 - Curva de calibração da concetração medida versus a concentração relativa para o MIR onde (a) Copt1 e (b) Copt2 ................................................. 92 Figura 50 - Perfis recuperados pelo MCR-ALS para os dados de (a) NIR e (b) MIR 93 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Composição elementar média do petróleo .............................................. 18 Tabela 2 - Resumo dos métodos utilizado no estudo, segundo ANP ....................... 25 Tabela 3 - Ensaios e métodos utilizados nas avaliações físico-químicas ................. 36 Tabela 4 - Resultados obtidos na avaliação preliminar ............................................. 65 Tabela 5 - Resultado obtido na avaliação principal ................................................... 73 Tabela 6 - Bandas de absorção que mais influenciam os loadings do PC2 e PC3 obtidos do MIR ................................................................................................... 85 Tabela 7 - Bandas de absorção que mais influenciam os loadings do PC2 e PC3 obtidos do NIR ................................................................................................... 87 Tabela 8 - Figuras de mérito calculadas para o modelo PCA-LDA ........................... 90 LISTA DE ABREVIATURAS ANAC Agência Nacional de Aviação Civil ANP Agência Nacional de Petróleo Biocombustíveis e Gás Natural ASTM Sociedade Americana para Teste e Materiais do inglês American Society for Testing and Materials BEN Balanço energético nacional BTEX Benzeno, Tolueno, Etilbenzeno e Xileno DEA Di-etanol amina EPE Empresa de Pesquisa Energética GLP Gás liquefeito de petróleo Jet-A1 Denominação internacional para o QAV-1 JFTOT Oxidação Térmica em Combustível de Aviação, do inglês, Jet fuel thermal oxidation tester LDA Análise discriminante linear MIR Infravermelho médio MSEP Avaliação do micro-separômetro, do inglês, Micro-separometer rating NIR Infravermelho próximo PCA Análise de componentes principais PCR Regressão pelo método das componentes principais PFE Ponto final de ebulição PIE Ponto inicial de ebulição PLS Regressão pelo método dos quadrados mínimos parciais QAV Querosene de aviação QAV-1 Querosene de aviação tipo 1 QAV-C Mistura de querosene de aviação com querosene alternativo QI Querosene iluminante RAB Registro aeronáutico brasileiro URE Unidade regeneradora de enxofre SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15 2 OBJETIVOS ................................................................................................. 17 2.1 OBJETIVO GERAL ....................................................................................... 17 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 17 3 REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................... 18 3.1 PETRÓLEO .................................................................................................. 18 3.1.1 O refino de petróleo .................................................................................... 20 3.2 QUALIDADE E ESPECIFICAÇÃO DOS PRODUTOS DERIVADOS DO PETRÓLEO ............................................................................................................... 24 3.2.1 Querosene de aviação ................................................................................ 25 3.3 ADULTERANTES EM COMBUSTÍVEIS DERIVADOS DE PETROLEO ....... 32 4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................... 34 4.1 REAGENTES ............................................................................................... 34 4.2 AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA ....................................................................35 4.2.1 Avaliação preliminar ................................................................................... 38 4.2.2 Avaliação principal ..................................................................................... 50 4.3 AVALIAÇÃO QUIMIOMÉTRICA ................................................................... 61 4.3.1 Adulteração e monitoramento utilizando espectroscopia de IR ............ 61 4.3.2 Modelos quimiométricos ........................................................................... 62 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 65 5.1 AVALIAÇÃO PRELIMINAR ........................................................................... 65 5.1.1 Acidez total – ASTM D3242 ........................................................................ 66 5.1.2 Enxofre mercaptídico – ASTM D3227 ....................................................... 67 5.1.3 Goma – ASTM D381 .................................................................................... 68 5.1.4 Determinação de característica de separação de água em QAV - ASTM D3948 ...................................................................................................................... 68 5.1.5 Avaliação da estabilidade térmica do QAV – ASTM D3241 ..................... 70 5.1.6 Cor saybolt – ASTM D6045 ........................................................................ 71 5.1.7 Delta cor – N-2331 ....................................................................................... 72 5.2 AVALIAÇÃO PRINCIPAL .............................................................................. 73 5.2.1 Teor de aromáticos – ASTM D1319 ........................................................... 74 5.2.2 Enxofre total – ASTM D4294 ...................................................................... 75 5.2.3 Corrosividade ao cobre – ASTM D130 ...................................................... 76 5.2.4 Destilação – ASTM D86 .............................................................................. 77 5.2.5 Ponto de fulgor – ASTM D93 ..................................................................... 79 5.2.6 Massa específica – ASTM D4052 ............................................................... 80 5.2.7 Ponto de congelamento – ASTM D7153 ................................................... 81 5.2.8 Viscosidade – ASTM D7042 ....................................................................... 82 5.2.9 Ponto de fuligem – ASTM D1322 ............................................................... 83 5.3 AVALIAÇÃO QUIMIOMÉTRICA ................................................................... 84 5.3.1 Classificação multivariada para avaliação da estocagem do querosene de aviação ................................................................................................................ 84 6 CONCLUSÃO............................................................................................... 94 REFERÊNCIA ........................................................................................................... 96 15 1 INTRODUÇÃO O Brasil é considerado um dos maiores mercados consumidores de combustíveis de aviação do mundo, devido ao seu elevado produto interno bruto – PIB e por ser também, a maior área territorial da América Latina. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), no ano de 2020, o total de aeronaves cadastradas no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), sem aeronaves experimentais, já ultrapassa as 16.000 unidades. Os produtos especificados para uso nessas aeronaves são o querosene de aviação (QAV), a gasolina de aviação e o querosene de aviação alternativo (QAV alternativo). O querosene de aviação, também conhecido como Jet-A1 ou QAV-1, é um derivado de petróleo obtido por processos de refino como o fracionamento por destilação atmosférica, já o QAV alternativo é obtido a partir de fontes alternativas, como biomassa, gases residuais, resíduos sólidos, carvão e gás natural e, pode ser misturado ao QAV vindo a formar o QAV-C ( Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP, 2020). Quanto à utilização, a gasolina de aviação é usada em motores tipo pistão, que incorporam aeronaves de pequeno porte, enquanto o QAV-1 e o querosene alternativo, são utilizados em motores tipo turbinas. O QAV-1 é uma mistura de hidrocarbonetos parafínicos, naftênicos e aromáticos, com predominância de hidrocarbonetos parafínicos e naftênicos com tamanho de 9 a 15 átomos de carbonos e faixa de ebulição compreendida entre 150ºC e 300ºC (BRASIL et al., 2012). Para o uso como combustível aeronáutico é necessário rígido controle de sua produção e comercialização, visando atendimento as conformidades tributarias vigentes a época, assim como o atendimento a parâmetros de qualidade que almejam, principalmente, garantir a segurança no uso, pois qualquer erro inerente ao produto pode gerar um acidente de grandes proporções. Buscando assegurar uma correta incorporação do combustível ao mercado aéreo, como também, estabelecer as obrigações quanto ao controle da qualidade a serem atendidas pelos agentes econômicos que comercializam esse produto em território nacional, a ANP de acordo com a Resolução - ANP nº 778, de 5 de abril de 2019, estabelece que as exigências de qualidade do QAV-1 para o uso em turbinas aeronáuticas são as seguintes: proporcionar máxima autonomia de voo, vaporizar-se adequadamente no interior da câmara de combustão minimizando a formação de fuligem, proporcionar partidas fáceis e seguras, ter facilidade de reacendimento, 16 minimizar a formação de resíduos e cinzas por combustão, escoar facilmente em baixa temperatura, ser estável química e termicamente, não ser corrosivo aos materiais da turbina, minimizar a tendência à solubilização de água, ter aspecto límpido, sem sedimentos e alteração de cor, não apresentar água livre, evitando o desenvolvimento de microrganismos e a obstrução de filtros, oferecer segurança no manuseio e na estocagem, (ANP, 2019). A regulamentação da especificação dos combustíveis é imprescindível, pois garante a qualidade do produto e a segurança dos usuários. No entanto, é necessário além de garantir a conformidade das características na produção do combustível, mantê-las estáveis até o uso final. O monitoramento de qualidade em distribuidoras por meio de propriedades físico-químicas como; curva de destilação e massa específica, pode avaliar estas características, assim como também monitorar e até inibir a adulteração do combustível, que poderá trazer impactos para a segurança, como também danos tributários, tendo em vista que os adulteradores buscam obter lucro, seja modificando ou substituindo determinados combustíveis por outras fontes de menor valor agregado. Considerando os efeitos causados pela adulteração, é possível ressaltar que há limitações na observância de agentes modificadores do combustível por meio de propriedades aparentes, fato que leva ao encarecimento dos monitoramentos, por meio de ensaios em laboratórios. É importante a iniciativa de se buscar novas metodologias analíticas que possam avaliar as propriedades dos combustíveis, como identificar potenciais agentes adulterantes, de forma rápida e com baixo custo. O uso de ferramentas quimiométricas acopladas à espectroscopia na região do infravermelho pode ser aplicado como alternativa para esses fins, pois a espectroscopia quando associadas a ferramentas quimiométricas, tem o potencial de trazer segurança, rapidez e eficácia na obtenção dos resultados (Câmara et al., 2017; Oliveira et al., 2007). 17 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Desenvolver metodologia para avaliação do processo de adulteração do combustível aeronáutico, QAV-1, por queroseneiluminante, por meio de ensaios físico-químicos e ferramentas quimiométricas, após adição do adulterante e estocagem das misturas. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ● Simular processo de adulteração do querosene de aviação com querosene iluminante, produzindo sistemas de misturas; ● Avaliar por meio de análises físico-químicas e de espectroscopia de infravermelho (MIR/ NIR) a estabilidade do querosene de aviação, estocados por períodos inferiores e superiores ao determinado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biodiesel (ANP); ● Avaliar a eficácia das técnicas quimiométricas na identificação de adulterações no querosene de aviação. 18 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 PETRÓLEO Segundo a Sociedade Americana para Teste e Materiais (do inglês American Society for Testing and Materials - ASTM), o petróleo é definido como sendo “uma mistura de ocorrência natural consistindo, predominantemente, de hidrocarbonetos e derivados orgânicos sulfurados, nitrogenados e/ou oxigenados, o qual pode ser removido da terra no estado líquido”, podendo ainda ser encontradas outras substâncias, tais como, água, matéria inorgânica e gases dissolvidos, juntamente com o petróleo bruto. O petróleo quando em seu estado natural pode ser aproveitado apenas para o fornecimento de energia, via processo de combustão, no entanto, devido à sua grande gama de constituintes baseada em hidrocarbonetos, é possível sua aplicação nas mais diversas áreas. Na Tabela 1 estão apresentados os dados de composição elementar, em % massa, dos principais elementos constituintes do petróleo (BRASIL et al., 2012). Tabela 1 - Composição elementar média do petróleo Elemento % em massa Carbono 83,0 a 87,0 Hidrogênio 10,0 a 14, 0 Enxofre 0,05 a 6,0 Nitrogênio 0,1 a 2,0 Oxigênio 0,05 a 1,5 Metais (Fe, Ni, V etc.) <0,3 Fonte: Processamento de petróleo e gás (BRASIL et al., 2012) O petróleo desde o seu descobrimento em quantidades comerciais, vem sendo utilizado nas mais diversas áreas, tendo em vista sua gama de aplicação, em decorrência do potencial energético de seus derivados. Os derivados mais consumidos, são: óleo diesel, gasolina e querosene de aviação (QAV), além do gás liquefeito de petróleo (GLP). Também tem significativa relevância o consumo de óleo 19 combustível, nafta, lubrificantes, asfalto e coque. Vale destacar que cada um desses produtos possui propriedades que o adequam a usos específicos ( EPE, 2018). O Relatório Síntese do Balanço Energético Nacional – BEN 2021, apresenta os dados acerca da oferta de produtos energéticos no Brasil, tendo o ano base 2020 (EPE, 2021). É possível ter um panorama quantitativo da dependência do petróleo ao se observar a Figura 1, na qual está mostrada a oferta de energia, (%), a partir das principais fontes energéticas utilizas no Brasil, e, mesmo sendo um dos países que mais investem e crescem em termos de oferta de energia renovável, o consumo de petróleo ainda supera o consumo das demais fontes. No Brasil, o consumo de energia renovável é 48,0%, enquanto que o de não renováveis é de 52%, como pode ser visto na Figura 2. Fonte: EPE (2021) Figura 1 - Repartição da oferta interna de energia (2020) 20 Fonte: EPE (2021) 3.1.1 O refino de petróleo O processo de refino do petróleo é composto por diversas etapas de beneficiamento do produto bruto. Esse beneficiamento é realizado em refinarias, englobando etapas físicas e químicas de separação, dando origem às frações do petróleo. Uma das primeiras etapas do beneficiamento é, a separação das frações em decorrência da sua faixa de ebulição. Após a separação, as frações passam pela etapa de conversão, da qual se obtém os derivados finais que, posteriormente, passam pela etapa de tratamento, resultando em produtos com um melhor acabamento e, acumulando maior valor agregado (NEIVA, 1993). Nas refinarias, o esquema de refino pode variar dependendo do tipo de petróleo a ser processado e a finalidade dos produtos, o mercado também é fator importante na tomada de decisão de quais processos seguir. Para ter essa flexibilidade, uma refinaria necessita de processos de refino, como: processos de separação, conversão e tratamento. O esquema resumido está apresentado na Figura 3. Figura 2 - Oferta interna de energia pela classe da fonte (2020) 21 Fonte: Autor (2021) Após o processo de refino os produtos finais tem diversas formas, como gasolina, diesel, GLP, QAV, óleos combustíveis e lubrificantes, solventes e parafinas, entre outros produtos (Ramos, et al., 2007). a) Processo de separação O processo de separação tem por finalidade obter frações intermediárias de petróleo por meio de processo físico, esse processo é escolhido ainda em virtude das propriedades da corrente a ser processada. O ponto de ebulição é a principal propriedade escolhida para realizar a separação dos componentes do petróleo. Não ocorre reações químicas nesses processos, todas as moléculas presentes na entrada da unidade de separação estarão no somatório da saída (BRASIL et al., 2012). A técnica mais utilizada, tendo como fundamento da faixa de ebulição do produto, para que ocorra a separação é, a destilação. A destilação tem flexibilidade para ser executada, podendo ser realizada em diferentes níveis de pressão e etapas, dependendo apenas do objetivo a ser alcançado ao fim do processo. Na destilação, o petróleo é aquecido em altas temperaturas até evaporar. Esse vapor volta ao estado líquido, conforme resfria em diferentes níveis dentro da torre de destilação. Em cada nível há um recipiente que coleta um determinado subproduto do Figura 3 - Esquema simplificado de refino de petróleo 22 petróleo (PETROBRAS, 2021). A Figura 4 ilustra uma torre de destilação com seus respectivos produtos. Fonte: Adaptada de https://netnature.wordpress.com/2018/02/01/petroleo-formacao- estrutura-quimica-e-geologia/, 2021 b) Processos de conversão Conversão é, o processo que transforma as partes mais pesadas e de menor valor do petróleo, em moléculas menores, dando origem a derivados mais nobres, aumentando o aproveitamento do petróleo (PETROBRAS, 2021). Após o processo de separação, dependendo da necessidade do produto final na refinaria, pode ser necessário a realização de processos de conversão. As reações específicas de cada processo são conseguidas por ação conjugada de temperatura e pressão sobre os cortes, sendo bastante frequente também a presença de um agente promotor reacional, denominado de catalisador. Conforme a presença ou ausência desse agente pode-se classificar estes processos como catalíticos ou não catalíticos. Entre os tratamentos estão: Craqueamento Catalítico, Hidrocraqueamento Catalítico, Alquilação Catalítica, Reformação Catalítica, Craqueamento Térmico, Viscorredução, Coqueamento Retardado. Figura 4 - Torre de destilação e faixa de derivados 23 c) Processos de tratamento e mistura Os tratamentos, são processos voltados para adequar os derivados à qualidade exigida pelo mercado (PETROBRAS, 2021). Isso ocorre eliminando as impurezas presentes nas frações que possam comprometer a qualidade final dos produtos. Dentre as impurezas removidas, os compostos de enxofre e de nitrogênio são os principais, pois conferem às frações; corrosividade, acidez, odor desagradável, formação de compostos poluentes e alteração de cor (BUENO, 2003). Os processos de tratamento podem ser classificados em duas categorias: convencionais (tratamento cáustico, tratamento cáustico regenerativo, tratamento Bender e tratamento com Di-Etanol Amina - DEA), sendo aplicados às frações leves, de baixa severidade operacional e com baixo investimento para sua implantação e, o hidroprocessamento (hidrotratamento catalítico), usado principalmente nas frações médias e pesadas,com necessidade de investimentos maiores. O tratamento cáustico consiste na remoção de compostos ácidos de enxofre como o H2S e os mercaptanos de baixo peso molecular. É utilizado em frações leves, que possuem densidade bem menores que o da solução utilizada na lavagem, tais como GLP e gasolina. E, em decorrência do seu elevado consumo de soda, este tratamento é empregado apenas quando o teor de enxofre no produto não é muito elevado (MARIANDO, 2001). Já o tratamento cáustico regenerativo, que consiste em uma lavagem cáustica também, é mais aplicado, pois tem a vantagem de se regenerar a soda cáustica consumida. Com isto, várias unidades que operavam com tratamento cáustico, sofreram adaptações e operam hoje como tratamento cáustico regenerativo (BUENO, 2003). Tratamento Bender, foi desenvolvido para melhorar a qualidade do querosene de aviação. Não tem o objetivo reduzir o teor de enxofre, mas sim transformar compostos sulfurados de corrosão acentuada como mercaptanas em outros menos corrosivos como dissulfetos. Nele conjugam-se lavagens cáusticas com ações de campos elétricos de alta voltagem (ALBERTO, 2010). O tratamento com DEA, é específico para remoção de H2S de frações gasosas e do CO2. O processo tem como base o fato que as soluções de di-etanol amida em temperatura ambiente combinam-se com H2S presente em produtos gasososderivados de petróleo, como o gás natural e GLP, formando produtos estáveis. Esses produtos quando aquecidos são decompostos ocorrendo 24 regeneração do DEA e produzindo corrente rica em enxofre, que pode posteriormente ser recuperado em unidade regeneradora de enxofre - URE (GUIMARÃES, 2006). O Hidrotratamento Catalítico é, um processo que ocorre em elevadas pressões e temperaturas, e ainda na presença de catalisador heterogêneo, geralmente CoMo ou NiMo suportado em Al2O3. O hidrogênio é o responsável nesse processo pela remoção de impurezas como; enxofre, nitrogênio, oxigênio, halogênios e metais. (PEREIRA, SILVA, MELLO, 2017). O hidrotratamento catalítico pode ser empregado basicamente em todas as frações; gases, naftas, querosenes, gasóleos e resíduos de vácuo, é empregado rotineiramente com a finalidade de reduzir os teores de enxofre desses derivados (BUENO, 2003). Mesmo após todo o processo de tratamento, a maioria dos produtos finais das refinarias, é obtida com processos de mistura (“blendings”), que consistem simplesmente em mesclar produtos intermediários, de forma a conseguir um produto com a qualidade requerida pelo mercado. 3.2 QUALIDADE E ESPECIFICAÇÃO DOS PRODUTOS DERIVADOS DO PETRÓLEO Cada derivado de petróleo oriundo de seu fracionamento, visa atender uma demanda específica. O diesel, por exemplo, é utilizado por transportes terrestres e aquáticos, geralmente de grande porte, já o QAV, é utilizado em inúmeros tipos de aeronaves (Empresa de Pesquisa Energética – EPE, 2021). No Brasil, grande parte do fluxo de mercadorias ocorre por meio de malha rodoviária (Ministério da Infraestrutura, 2019). O País é o maior consumidor de querosene de aviação da américa latina, nas residências são utilizados os gases do tipo natural e liquefeito de petróleo para o preparo de alimentos, ou seja, somos dependentes dos derivados de petróleo em numerosas atividades. Vale destacar que, para que todas essas aplicações sejam alcançadas de modo satisfatório, é necessário um rigoroso processo de refino, até que se alcance as características desejadas, além de um controle de qualidade que garanta a manutenção dessas caracterizas até seu uso. Os critérios de qualidade dos derivados de petróleo são especificados por normas regulamentadoras controladas pela ANP. Essas normas visam a padronização dos requisitos necessários aos produtos para serem inseridos no 25 mercado consumidor, com intuito de atender de modo seguro, limpo e eficaz as demandas exigidas (ANP, 2019). Cada produto tem características especificas para sua finalidade e parâmetros destinados a atesta-las, a seguir será descrito os parâmetros a serem atendidos pelo derivado alvo do estudo. 3.2.1 Querosene de aviação O querosene de aviação, sendo um derivado de petróleo obtido por destilação direta, é classificado como um produto intermediário do processo de separação, para que possa ser utilizado com segurança, tem suas características avaliadas segundo a Resolução nº 778, de 5 de abril de 2019 da ANP. Essa avaliação pode ser sistematizada por ensaios que contemplam grupos de características que são desejadas e que estão contidas de modo resumido na Tabela 2. Tabela 2 - Resumo dos métodos utilizado no estudo, segundo ANP CARACTERÍSTICA UNIDADE LIMITE MÉTODO ASTM APARÊNCIA Aspecto - claro, límpido e isento de água não dissolvida e material sólido à temperatura ambiente D4176 Cor - Anotar D6045 COMPOSIÇÃO Acidez total, máx. mgKOH/g 0,015 D3242 Aromáticos, máx. % volume 25 D1319 Enxofre total, máx. % massa 0,3 D4294 Enxofre mercaptídico, máx. % massa 0,003 D3227 VOLATILIDADE Destilação °C D86 P.I.E. (Ponto Inicial de Ebulição) anotar - 10% vol. recuperados, máx. 205 - 50% vol. recuperados anotar - 90% vol. recuperados anotar - P.F.E. (Ponto Final de Ebulição), máx. 300 - Resíduo, máx. % volume 1,5 - Perda, máx. % volume 1,5 - Ponto de fulgor, mín. °C 38 D93 26 Massa específica a 20°C kg/m3 771,3 - 836,6 D4052 FLUIDEZ Ponto de congelamento, máx. °C -47 D7153 Viscosidade a -20°C, máx. mm²/s 8 D7042 COMBUSTÃO Ponto de fuligem, mín. ou mm 25 D1322 Ponto de fuligem, mín. e Naftalenos, máx. mm 25 D1322 mm % volume 18 3 D1322 D1840 CORROSÃO Corrosividade ao cobre (2h a 100°C), máx. - 1 D130 ESTABILIDADE Estabilidade térmica 2,5h - mín. 260°C queda de pressão no filtro, máx. mmHg 25 D3241 depósito no tubo (16) - <3 (sem depósito de cor anormal ou de pavão) Depósito no tubo - método instrumental, máx. 85 CONTAMINANTES Goma atual, máx. mg/100 ml 7 D381 Índice de separação de água, MSEP sem dissipador de cargas estáticas, mín. - 85 D3948 Fonte: ANP, 2019 As características físico-químicos citadas, integram o processo denominado certificação do querosene de aviação. Esse processo consiste em submeter o querosene a uma bateria de ensaios, objetivando atestar se o combustível está de acordo com o estabelecido pela resolução. Os ensaios que compõem cada característica alvo desse estudo, estão descritos a seguir. a) Avaliação da aparência A avaliação da aparência é um dos aspectos abordado pela ANP na sua resolução e, é uma característica que demonstra o grau de refino do querosene de aviação, por meio de seu acabamento. Essa característica é avaliada pelos ensaios de aspecto visual e cor. O QAV para ser considerado especificado (dentro dos parâmetros estabelecidos pela ANP) e ser inserido no mercado consumidor, deve ser; claro, 27 límpido, isento de água não dissolvida e material sólido à temperatura ambiente (ANP, 2019). Segundo ASTM D4176 (2021), a determinação da cor consiste na determinação da altura da amostra que produz a mesma transparência que uma coluna de água, determinada por comparação de intensidade de luz transmitida através da amostra com aquela transmitida através da água. Normalmente este ensaio é realizado em um calorímetro automático, que utiliza um método espectroscópico de analise baseado na luz absorvida pelas moléculas contidas na amostra analisada. b) Avaliação da composição É importante antes de se inserir o produto no mercado, avaliar sua composição, pois desta forma, é possível identificar e quantificar seus constituintes e, as características influenciadas por esses. Dentro da resolução supracitada, os ensaios que estabelecem a composição do querosene de aviação são: acideztotal, teor de aromáticos totais, enxofre total e enxofre mercaptídico (ANP, 2019). A acidez, está relacionada ao tratamento com ácido durante o processo de refino ou ainda, oriunda da formação por meio de processo natural, desse modo, alguns compostos ácidos podem estar presentes em combustíveis utilizados em aeronaves. A contaminação ácida significativa, não é provável, tendo em vista os muitos testes de verificação realizados durante as várias etapas do refino. No entanto, podem estar presentes e são indesejáveis, devido as tendências do combustível em corroer os metais aos quais estejam em contato (ASTM D3242, 2017). O teor de aromáticos totais, é um importante parâmetro a ser observado, devido sua influência na qualidade da queima. Valores elevados de composto aromáticos, impactam na formação de depósitos durante combustão, e essa característica é afetada diretamente pelo aumento do teor de compostos com maior massa molecular (BRASIL et al., 2012). O enxofre que pode estar presente no combustível, também influencia de maneira negativa os componentes metálicos, além da qualidade das emissões em decorrência da combustão. Já o enxofre mercaptídico, é monitorado devido a sua tendência em provocar degradação dos constituintes aeronáuticos compostos por elastômeros. Os elastômeros, também conhecidos como borrachas, são utilizados como principal 28 forma de vedação do sistema de combustível das aeronaves. Essa espécie de composto sulfurado, ainda influencia na corrosão dos demais componentes do sistema (ASTM D3227, 2016). c) Avaliação da volatilidade Para a característica de volatilidade, a resolução estipula três ensaios como parâmetros: a destilação, o ponto de fulgor e a massa específica a 20 ºC. A destilação é, um processo primário amplamente utilizado nas indústrias para realizar o fracionamento de derivados de petróleo, obtendo informações qualitativas e quantitativas sobre as frações do derivado destilado. A partir da destilação é obtida uma curva, que é a representação da temperatura de ebulição da mistura líquida versus a volume acumulado de destilado a uma determinada pressão (SANTOS, et al, 2021). Entre os métodos existentes de caracterização de produtos via destilação, um que merece destaque pela simplicidade, é o método ASTM D86. De acordo com a ASTM, o método D86 padroniza o teste de destilação a pressão atmosférica, utilizando uma unidade de destilação em laboratório para determinar as características por meio da faixa de ebulição de produtos médios e leves derivados de petróleo. Sendo o QAV uma mistura de hidrocarbonetos médios, cada um com seu próprio ponto de ebulição, a vaporização ocorre em uma faixa na qual as temperaturas compõem essa curva de destilação. O ponto de fulgor é uma propriedade física importante para combustível de aviação, tendo grande relevância no monitoramento de características que abrangem critérios de segurança, principalmente manuseio, transporte e armazenamento (ANP, 2021). O ponto de fulgor representa a menor temperatura na qual o produto se vaporiza em quantidade suficiente para formar com o ar uma mistura capaz de se inflamar momentaneamente, quando sobre ela incide uma centelha (ASTM D93, 2020). Essa propriedade é conhecida por ser afetada pela quantidade de hidrocarbonetos voláteis presentes no combustível, pois com a perda desses compostos voláteis, pode ocorrer imprecisões na determinação dessa característica, resultando assim em valores de ponto de fulgor imprecisamente altos. Para evitar isso, as especificações ASTM recomendam o armazenamento combustíveis a baixas 29 temperaturas para mitigar as perdas por evaporação (BRENT, et al, 2021). Essa imprecisão pode acabar por gerar inconsistências na segurança, levando a acidentes, por este motivo, essa propriedade é monitorada nos termos da resolução. O valor da massa específica será o mesmo da densidade para o querosene de aviação, pois este se encontra em seu estado líquido e indicará o grau de concentração de massa em determinado volume. Ainda conforme ASTM D4052 (2018), a densidade é uma propriedade física fundamental que pode ser usada em conjunto com outras propriedades para caracterizar os derivados de petróleo. Ela ainda, está relacionada com a autonomia de voo das aeronaves, pois assegura a quantidade necessária de combustível para as viagens. d) Avaliação da fluidez Para monitorar a característica relacionada ao fluxo do combustível em operação, a resolução estipula a caracterização dessa propriedade por meio do ponto de congelamento e da viscosidade a -20 ºC. Por ponto de congelamento define-se, a temperatura na qual cristais de hidrocarbonetos formados pelo resfriamento da amostra desaparecem quando está sujeita a reaquecimento, sob agitação constante. Em termos práticos, o ponto de congelamento representa a menor temperatura em que o QAV permanece livre de cristais que podem restringir o seu fluxo através de filtros em turbinas aeronáuticas (ASTM D7153, 2015). O sistema de combustível de uma turbina, possui permutadores de calor e injeção de solvente (álcool) para assegurar o estado líquido do combustível e seu perfeito escoamento. Contudo, é prática segura e eficaz contra esses efeitos limitar o ponto de congelamento a valores abaixo da temperatura de operação do sistema, que é de cerca de -40 °C. O ponto de congelamento é influenciado pelo tipo de hidrocarboneto e pelo ponto final de ebulição da fração. Quanto maior o teor de normais parafínicos e o ponto final de ebulição, maior será o ponto de congelamento. A viscosidade é afetada na mesma medida, com a queda de temperatura, ocorre o aumento dessa propriedade, podendo dificultar a circulação do combustível por meio dos bicos injetores e tubulações (ASTM D7042, 2020). 30 e) Avaliação da Combustão Conforme ASTM D1322 (2019), o ponto de fuligem é definido como a altura máxima medida em milímetros durante a combustão da amostra sem que haja produção de fuligem. Essa avaliação indica a qualidade de combustão do produto. Essa metodologia pode ser aplicada a combustível aeronáuticos utilizados em turbinas, assim como em querosene iluminante. No Quadro 1 está descrito a relação entre algumas propriedades dos combustíveis e o ponto de fuligem. Quadro 1 - Influência dos hidrocarbonetos no ponto de fuligem Fonte: FARAH (2013) Quando observado o mesmo número de átomos de carbono em compostos distinto, os hidrocarbonetos parafínicos apresentam menor ponto de ebulição em decorrência de terem uma menor energia de ligação carbono-carbono. Por essa condição, essas substâncias queimam de forma mais completa do que os hidrocarbonetos aromáticos. Desse modo, os hidrocarbonetos parafínicos tendem a proporcionar menor formação de fuligem e menor energia radiante, ou seja, apresentam maior ponto de fuligem, o que é benéfico para a turbina (FARAH, 2013). f) Avaliação da corrosão Diversos são os metais que são empregados na fabricação dos elementos do sistema de combustível da aeronave, também é utilizado borrachas (elastômeros) com a finalidade de vedar as conexões necessárias. Sendo assim, é necessário que o combustível não ocasione impactos em virtude de sua interação com esses componentes. A corrosividade é avaliada por meio do ensaio de corrosão ao cobre, e influenciada pela presença de compostos sulfurados (ANP, 2019). O ensaio de corrosividade mede o nível de corrosão que ocorre em uma lâmina de cobre exposta a amostra sob condições de temperatura e duração definidas, medida por comparação com padrões previamente classificados segundo o grau de corrosividade (ASTM D130, 2019). Hidrocarbonetos Relação com ponto de fuligem Quanto mais parafínico Maior o ponto Quanto menor ponto de ebulição Maior o ponto Quanto maior o ponto de fuligem Menos depósito formados Quanto maioro ponto de fuligem Maior energia produzida sem danos 31 g) Avaliação da estabilidade Outro parâmetro que requer bastante atenção é, o de estabilidade termo- oxidativa do QAV-1, avaliado pelo ensaio denominado Oxidação Térmica em Combustível de Aviação, do inglês, Jet fuel thermal oxidation tester– JFTOT. Esse teste, simula as condições de pressão e temperatura a que se submete o combustível nas turbinas das aeronaves. O QAV-1, nas aeronaves, além de combustível, é também fluído de resfriamento do óleo lubrificante, aquecendo-se a temperaturas da ordem de 150 °C. Nessas condições, o produto deve ser estável termicamente sem formar depósitos, fato que pode afetar o fluxo de combustível e influenciar na transferência de calor dos permutadores, na combustão, levando a obstrução de filtros e bocais ejetores. A estabilidade térmica do QAV-1 é prejudicada, principalmente, pela presença de compostos nitrogenados básicos (ASTM D3241, 2020). h) Avaliação dos contaminantes Para a avaliação de contaminantes no querosene de aviação, segundo a resolução 778 da ANP, o monitoramento é realizado submetendo o combustível aos ensaios de goma atual e índice de separação de água (WSIM/MSEP). O teor de goma atual, é uma determinação realizada em combustíveis aeronáuticos como; QAV e gasolinas de aviação e, é caracterizada pela presença de resíduo da evaporação desses combustíveis. Valores elevados de goma atual no QAV, indicam a presença de resíduos devido à contaminação do produto com derivados de alto ponto de ebulição ou de material particulado, que podem ser causados por ocorrências anormais de qualidade na distribuição do produto (ASTM D381, 2019). Já o índice de separação de água (micro-separometer rating — MSEP ou também conhecido como WSIM) é um número entre 0 e 100 que indica a turbidez do produto, avaliada pela facilidade de separação da água do combustível por coalescência, medida em uma célula fotoelétrica. O ensaio é empregado para combustíveis de aviação, que, de modo geral, são capazes de tolerar alguma quantidade de água na forma dispersa (ASTM D3948, 2020). 32 Esse ensaio tem seu grau de importância devido às condições de uso do combustível, pois como a temperatura de utilização desse produtos é baixa, com faixa de trabalho que pode variar de -40 °C a -50 °C, dependendo das condições de voo, torna-se necessário determinar sua tolerância à água, já que temperaturas nessa ordem de grandeza, podem promover a separação da água que pode estar dispersa no QAV-1, podendo posteriormente resultar na obstrução de filtros e tubulações, devido a solidificação dessa água livre (FARAH, 2013). 3.3 ADULTERANTES EM COMBUSTÍVEIS DERIVADOS DE PETROLEO Com o aumento crescente da demanda energética, faz-se necessário cada vez mais, buscar maneiras de aumentar a produção de combustíveis. Esse aumento pode levar, em alguns casos, a problemas no que se refere à qualidade dos produtos, em virtude da dificuldade em seu monitoramento quanto ao processo de distribuição e comercialização. A distribuição e a comercialização são regulamentadas por órgãos nacionais e internacionais, com a finalidade de inibir fraudes, adulterações e extravios dos mesmos, e com isso garantir a qualidade, reduzindo as não conformidades (OLIVEIRA et al., 2020). Os combustíveis corriqueiramente adulterados, devido a grande quantidade comercializada e o fácil acesso, são o diesel e a gasolina, tendo como principais adulterantes da gasolina: o etanol, os lubrificantes, o tíners, os aromáticos (BTEX’s), solventes com preços baixos (pentano e hexano), além de querosene e nafta (MENDES, BARBEIRA, 2013). Para o diesel, a adulteração pode ser realizada pelo querosene iluminante (CUNHA, MONTE, CASTRO, BARBOSA, 2016), devido a uma sobreposição de hidrocarbonetos (na faixa de C6-C16 para o diesel, com C9-C16 para o querosene). Outros frequentes adulterantes do diesel são: óleos residuais, seja de fritura de cozinha ou de lubrificantes automotivos, e também o biodiesel (ocorrendo essa adulteração nas rotas de obtenções do biodiesel, pela inserção de produtos indesejados) proveniente de sementes comestíveis e não comestíveis (milho, algodão, soja, etc.) (MAZIVILA, GOTIJO, SANTANA, 2015). Para tentar detectar e inibir essas adulterações, determinadas abordagens podem ser realizadas, algumas sendo oficialmente adotadas pela ANP. Ensaios físico- químicos, como os parâmetros da curva de destilação e a massa específica, assim como o teor alcoólico, podem evidenciar a inserção de compostos adulterantes nos 33 produtos (OLIVEIRA et al, 2004). Porém, nem sempre apenas paramentos físico- químicos são suficientes para caracterizar a adulteração. Diante disso, novas metodologias estão sendo aplicadas com finalidade de identificar e quantificar adulterantes em combustíveis. Essas metodologias, baseiam-se na utilização de técnicas de infravermelho associadas a um conjunto de ferramentas estatísticas, como: PCA, LDA e PLS, integrando aspectos quimiométricos, viabilizando assim uma poderosa ferramenta de detecção e quantificação de adulterantes (MENDONÇA, 2005). 34 4 MATERIAIS E MÉTODOS Neste capítulo, serão apresentados os reagentes utilizados e as metodologias aplicadas, assim como os procedimentos adotados nesse trabalho. O estudo foi dividido em duas metodológicas, uma físico-química e outra quimiométrica. A primeira por sua vez, foi subdivida em duas etapas, uma denominada preliminar e outra, principal. Na etapa preliminar, apenas QAV foi utilizado, avaliando a estabilidade térmica e química de 05 amostras de QAV-1 após a estocagem. Uma das amostras também foi utilizada concomitantemente na etapa principal deste estudo. Para tanto, foi obtida uma mistura de 50 % (v/v) de querosene iluminante (QI) e querosene de aviação, com o propósito de avaliar o impacto da adulteração no combustível aeronáutico. As avaliações utilizadas nessas duas etapas do estudo, tiveram como base, normas da ASTM. A outra metodologia abordada foi baseada na Quimiometria, na qual foi elaborado um sistema de mistura, entre o querosene de aviação e querosene iluminante, submetendo-o a avaliações espectroscópicas periódicas, de modo a coletar dados que permitissem averiguar a estabilidade, em virtude do envelhecimento decorrente da estocagem, o impacto da adulteração nesta propriedade e também, averiguar a possibilidade de quantificação e/ou identificação do adulterante presente na mistura combustível, quando aplicado técnicas quimiométricas a esses dados. 4.1 REAGENTES Amostras de QAV-1, denominado internacionalmente JET A-1 e que é destinado, exclusivamente, ao consumo em turbinas de aeronaves, foram utilizadas neste trabalho. Estas amostras foram cedidas pelo Ativo Industrial de Guamaré (ATI), localizado na cidade de Guamaré no Estado do Rio Grande do Norte. Amostras de QI da marca Lider também foram utilizadas, essas por sua vez, foram obtidas por meio de compra direta, realizada em mercado varejista da cidade de Natal – RN. Outros reagentes foram utilizados em ensaios analíticos, no decorrer da avaliação físico- química e são mostrados no Quadro 2. 35 Quadro 2 - Reagentes utilizados Fonte: Autor, 2021 4.2 AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA A metodologia baseada na análise das propriedades físico-químicas, teve em seu escopo ensaios analíticos que almejaram atestar e monitorar as propriedades necessárias para a viabilização do uso do combustível, entre elas; não ser corrosivo, fácil fluxo em baixas temperaturas, ser isento de água e impurezas, promover fácil manuseio e estocagem, assim como ser estável térmica e quimicamente. Os requisitos de qualidade, as características e os ensaios abordados neste trabalho estão expostos na Figura 5. Fonte: Autor, 2021Os ensaios que seguem as especificações necessárias para o cumprimento dos requisitos de qualidade utilizaram normas internacionais e nacionais e encontram- se compilados na Tabela 3. E os ensaios para as determinações das propriedades REAGENTE PUREZA MARCA Álcool Isopropílico 99,5 % Synth Tolueno 99,5 % Isofar Naftolbenzeina - Neon Acetato de sódio 99 % Êxodo Ácido Acético 99,8 % Isofar Figura 5 - Escopo de análises físico-químicas utilizadas para especificação do QAV-1 e suas normas ASTM. 36 físico-químicas dos combustíveis e das misturas com o adulterante, foram realizadas antes e após o período de estocagem e estão descritos nos próximos tópicos. Tabela 3 - Ensaios e métodos utilizados nas avaliações físico-químicas Ensaio Método Título Aspecto ASTM D4176 Método padrão para teste de água livre e contaminação por partículas em combustíveis destilados (procedimentos de inspeção visual) Acidez Total ASTM D3242 Método padrão para teste de acidez em combustível para turbina de aviação Aromáticos ASTM D1319 Método padrão para teste de tipos de hidrocarbonetos em produtos de petróleo líquidos por adsorção de indicador fluorescente Enxofre Total ASTM D5453 Determinação de enxofre total em hidrocarbonetos leves, combustível de motor de ignição por centelha, combustível de motor diesel e óleo de motor por fluorescência ultravioleta Enxofre Mercaptídico ASTM D3227 Método padrão para teste de enxofre (Tiol Mercaptan) em gasolina, querosene de aviação e combustíveis destilados (método potenciométrico) Destilação Atmosférica ASTM D86 Método padrão para teste de destilação de produtos petrolíferos à pressão atmosférica Ponto de Fulgor ASTM D93 Método padrão para teste de ponto de fulgor por Pensky-Martens copo fechado Massa específica a -20ºC ASTM D4052 Densidade, densidade relativa e gravidade API de líquidos por medidor de densidade digital 37 Ponto de congelamento ASTM D7153 Método padrão para teste de ponto de congelamento de combustíveis de aviação (método automático de laser) Viscosidade ASTM D7042 Método padrão para teste de viscosidade cinemática de líquidos transparentes e opacos (e cálculo de viscosidade dinâmica) Ponto de Fuligem ASTM D1322 Método de teste padrão para ponto de fuligem de querosene e combustível de turbina de aviação Corrosividade ao cobre ASTM D130 Método de ensaio padrão para Corrosividade ao cobre de derivados de petróleo pelo ensaio da lâmina de cobre Goma Atual ASTM D381 Método padrão para teste de teor de goma em combustíveis por evaporação a jato MSEP/WSIM ASTM D3948 Método padrão para teste de determinação das características de separação da água de combustíveis de turbina de aviação por separômetro portátil Cor Saybolt ASTM D6045 Método padrão para teste de cor de produtos petrolíferos pelo método automático de tristimulus Partículas Contaminantes ASTM D5452 Método padrão de teste de contaminação de partículas em combustíveis de aviação por filtração de laboratório Delta Cor N-2331 Estabilidade à Oxidação de Querosene de Aviação JFTOT a 280ºC ASTM D3241 Método padrão de teste para estabilidade de oxidação térmica de combustíveis de turbina de aviação Fonte: Autor, 2021 38 4.2.1 Avaliação preliminar Juntamente com o processo de certificação, que segue rigorosos critérios físico-químicos estabelecidos pela resolução 778, outras exigências para a produção e comercialização do produto, devem ser atendidas, como por exemplo, se manter estocadas por um período de 3 meses, amostras dos querosenes que passaram pelo processo de certificação, afim de manter tais amostras como testemunhas ou contraprova, caso ocorra algum incidente ou alguma inconsistência seja detectada por parte dos compradores. A etapa preliminar deste trabalho, tem a finalidade de avaliar a estabilidade química do QAV-1 depois de três meses estocadas em garrafas âmbar, com batoque e tampa, mantidas ao abrigo de luz, em pressão atmosférica e temperatura ambiente. Para isso, 05 amostras de QAV-1 cedidas pelo ATI, foram utilizadas em ensaios físico- químicos, com o objetivo de avaliar características como: aparência, composição, contaminantes e estabilidade térmica. Tais parâmetros foram obtidos por meios da realização de ensaios como: aspecto visual, cor, goma atual, água, acidez total, enxofre mercaptídico, delta cor e JFTOT. Estes ensaios foram realizando antes da estocagem e, após esse período, os ensaios foram repedidos e os dados obtidos comparados com os dados anteriores, com a finalidade de se averiguar a estabilidade das amostras dentro do período teste. Um resumo esquematizado da avaliação é mostrado na Figura 6. E as metodologias das principais análises utilizadas na caracterização e avaliação da estabilidade do QAV-1, estão descritas na sequência. 39 Fonte: Autor, 2021 a) Avaliação do Aspecto - ASTM D4176 As amostras foram mantidas em frascos transparentes e em repouso até atingirem a temperatura ambiente. A avaliação do aspecto ocorreu por meio da observação do frasco das amostras contra à luz, visando averiguar a presença de contaminação por água ou material particulado. Este foi então agitado de maneira circular, de modo que fosse produzido um vórtice. A parte inferior do vórtice foi examinado visualmente, observando se havia a presença de água ou particulado. As amostras foram avaliadas também de modo visual quanto a turbidez. Os resultados das observações foram expressos como “conforme", quando não houvesse a presença de água ou material particulado e, como “não conforme”, quando houvesse presença de um desses, como demonstrado na Figura 7. Figura 6 - Resumo esquematizado da avaliação preliminar 40 Fonte: Autor, 2021 b) Cor Saybolt - ASTM D6045 O ensaio foi realizado em um equipamento colorímetro automático, modelo ACL-2 da Tanaka. Com a câmara de medição do equipamento vazia e a tampa superior fechada, primeiramente foi realizado um auto zero, uma espécie de branco, garantindo que não ocorresse interferências nas leituras, verificando também se as cubetas a serem utilizadas estavam devidamente limpas. As amostras foram transferidas para uma cubeta de 100 mm, de maneira que não ficassem bolhas dentro da mesma. Se tampou a cubeta, inserindo-a em seguida, na câmara de medição do equipamento. O resultado foi expresso em uma escala de 0 a 30, em unidades positivas (+0 até +30). Quanto mais próximo de 30, mais límpido. O procedimento está ilustrado na Figura 8. Figura 7 - Determinação do aspecto visual 41 Figura 8 - Determinação de Cor Satbolt via colorímetro automático Fonte: Autor, 2021 c) Goma atual - ASTM D381 Na determinação de goma atual nas amostras, dois béqueres foram utilizados no ensaio, um sendo conferido ao branco (sem adição de amostra) e o outro para o teste (com adição de amostra). Eles foram mantidos em estufa da Quimis, modelo Q- 317M42 a uma temperatura de 150 ºC por 1 h. Posteriormente, foram retirados da estufa e mantidos em dessecador, sem agente dessecante, por 2 h. Após transcorrido esse período, foi determinada a massa de cada um dos béqueres, com precisão de 0,1 mg em balança analítica Sartorius, modelo Practum224. A temperatura do banho de evaporação do equipamento modelo D381 da Láctea, deve ser mantida entre 232 °C ± 3 °C durante o ensaio. A válvula de vapor foi ajustada para uma pressão entre 35 kPa a 42 kPa já com o bloco aquecido. A amostra foi então homogeneizada cuidadosamente e, medido 50 mL com proveta e, transferido para o béquer de teste. Os béqueres, branco (sem amostra) e o 42 teste, foram então colocados no equipamento e submetidos a corrente de vapor durante todo o processo. Decorridos 30 ± 0,5 min, os béqueres foram retirados, transferidos e mantidosem dessecador por 2 h sem agente dessecante, próximo à balança. Foi novamente determinada a massa dos béqueres, com precisão de 0,1 mg. De posse dos dados mássicos obtidos, foi possível calcular o teor de goma seguindo a Equação 2: Goma (mg / 100 mL) = 2 x [(M2 - M1) - (MB2 - MB1)] Equação 2 Onde: M1 = Massa inicial do béquer de teste, em miligramas M2 = Massa final do béquer de teste com o resíduo, em miligramas MB1 = Massa inicial do béquer de ensaio em branco, em miligramas MB2 = Massa final do béquer de ensaio em branco após evaporação, em miligramas Os resultados foram reportados com aproximação de 1mg/100mL, para os quais, valores menores que 1 mg/100 mL, foram registrados como sendo "<1 mg/100 mL". O ensaio esquematizado pode ser visto na Figura 9. 43 Fonte: Autor, 2021 d) Determinação de característica de separação de água em QAV - ASTM D3948 O procedimento foi realizado em equipamento modelo 1140 da Mark V Deluxe, que utiliza princípios óticos para determinar as características de separação. As amostras foram mantidas em temperatura ambiente e foi utilizado para cada uma destas, um conjunto de insumos para o ensaio, contendo; seringa, plug para tampar a seringa, ponteira para pipetador, filtro coalescedor, papel absorvente e cubeta. 50 mL da amostra foi transferido para uma seringa limpa e com saída vedada por plugs, que foi então instalada no agitador, dando início a agitação. Ao mesmo tempo, uma alíquota contendo de 15 a 20 mL da amostra, foi transferida para a cubeta, que foi então colocada no compartimento de leitura óptica para a obtenção da absorbância. Ao término do processo de agitação, a amostra foi drenada e mais uma alíquota de 50 mL foi transferida para a seringa e, com o auxílio de um pipetador, foi introduzido 50 µL de água destilada na amostra do querosene. Logo em seguida, a seringa contendo a amostra com 50 µL de água, foi inserida no agitador. Figura 9 - Fluxograma das etapas para a determinação de goma atual 44 Ao término da agitação, um filtro coalescedor (ALUMICEL) foi instalado e o conjunto montado no acionador mecânico, mantendo a cuba de resíduos abaixo do filtro para receber as amostras que seriam descartadas. A amostra coalescida foi coletada em cubeta de 15 mL e colocada no compartimento de leitura óptica. Após 1 min o resultado foi obtido e expresso em número inteiro. O esquema do ensaio pode ser visto na Figura 10. Figura 10 - Etapas de determinação da separação de água em QAV pelo micro separômetro Fonte: Autor, 2021 e) Determinação da acidez - ASTM D3242 O ensaio usando a norma ASTM D3242 tem como base a titulação colorimétrica, e para maior precisão nos resultados das medidas, foi utilizado um titulador modelo Titrino Plus da Metrohm. Na sequência, foram utilizados dois 45 erlenmeyers limpos e secos, com tubo lateral para borbulhamento de nitrogênio, que tem a finalidade de tornar o meio titulante inerte às contaminações externas por CO2, o que impactaria nos valores da determinação, em virtude da formação de H2CO3. Em seguida, foram adicionados a cada erlenmeyer 100,0 mL de solvente de titulação (composto de 50 % v/v de tolueno, 45 % de álcool isopropílico e 5 % de água), além de conter 1,0 mL/1L da solução de indicador p-naftolbenzeína 10 g/L e uma barra magnética pequena. Inicialmente, foi realizado o ensaio do branco. O erlenmeyer foi posto em base magnética e a esse acoplado uma mangueira para borbulhar o nitrogênio e então foi iniciada a titulação, que foi realizada com solução alcoólica de KOH 0,01 M, sob agitação e borbulhamento de nitrogênio (vazão entre 600 e 800 mL/min por 3 ± 0,5 min). Pequenas quantidades de titulante foram adicionados até o ponto de viragem do indicador, com o aparecimento da cor verde, que persistiu por 15 s. Após detectado o ponto de viragem, o volume gasto foi registrado. Para a análise das amostras, foram adicionados 100 ± 5 g destas no outro erlenmeyer contendo 100 mL de solvente de titulação. Todo o processo foi repetido, assim como o realizado na determinação do branco. O volume gasto foi registrado e, juntamente com o volume do branco e da massa da mostra pesada, utilizados no cálculo do teor de acidez total, conforme demonstrado na Equação 3. Acidez (mg de KOH/g) = [(V2-V1) x M x f x 56,1] / m Equação 3 Onde: V2 = volume gasto do KOH alcoólico para análise da amostra, em mL V1 = volume gasto do KOH alcoólico para análise do branco, em mL M = molaridade da solução de KOH alcoólico f = fator da solução de KOH m = massa da amostra, em g Ao fim do processo, o resultado foi anotado com aproximação de 0,001 mg KOH/g. O esquema da análise pode ser visto na Figura 11. 46 Figura 11 - Esquema para a determinação de acidez total Fonte: Autor, 2021 f) Enxofre mercaptídico - ASTM D3227 Essa determinação foi realizada utilizando um titulador modelo Titrando 809 da Metrohm. Para tal, foi determinada a massa das amostras entre 20 g e 40 g e adicionado 100 mL de solvente de titulação (composto por acetato de sódio anidro, álcool isopropílico e ácido acético). Em seguida, foi inserida uma barra magnética no frasco de titulação, que foi posicionado no agitador magnético, seguido da inserção do eletrodo combinado na solução. O ensaio iniciou-se via comando no software analítico TiAmo da Metrohm. O titulante utilizado na determinação foi AgNO3 0,01 M e, após detecção do ponto de equivalência via potenciometria, com a utilização de eletrodo indicador de Ag/AgS, o resultado foi enviado para o banco de dados e o cálculo foi realizado pelo software, de acordo com a Equação 4. 47 Mercaptas(mg/Kg) = (A x M x f x 3,206) / Ma x 10000 Equação 4 Onde: A = volume de AgNO3 gasto na titulação, em mL M = Molaridade da solução de AgNO3 f = Fator da solução de AgNO3 Ma = Massa de amostra 3,206 = mili-equivalente para mercaptas O resultado foi expresso com aproximação de 0,0001 % em massa. E o ensaio está representado na Figura 12. Figura 12 - Determinação de enxofre mercaptídico Fonte: Autor, 2021 g) Determinação do delta cor - N2331 A determinação da estabilidade à oxidação de querosene de aviação, foi realizada através do envelhecimento acelerado, fornecendo informação rápida quanto à variação da cor e formação de sedimentos durante a estocagem. Estas 48 características estão associadas à presença de compostos nitrogenados e sulfurados. O método também é utilizado para a triagem de substâncias inibidoras da oxidação e polimerização, com a finalidade de aumentar a estabilidade do QAV-1 durante a estocagem (N-2331, 2013). As amostras foram filtradas e aquecidas a 100 ± 0,5 ºC em um banho termo- oxidativo da Scavini, modelo AD0252-530, em presença de oxigênio, sob pressão de 690 kPa a 705 kPa (100 a 102 psi) por 2h. A cor Saybolt das amostras foram medidas antes e após o período de aquecimento para fins comparativos. E o resultado é expresso como a diferença numérica entre a cor inicial e final. A determinação do delta cor está descrita de forma esquematizada na Figura 13. Fonte: Autor, 2021 Figura 13 - Esquema para a determinação de delta cor 49 h) Avaliação da estabilidade térmica do QAV – ASTM D3241 Este método de ensaio, utiliza o aparelho para teste de oxidação térmica de combustíveis para turbina de avião da PAC, modelo JFTOT 230MK III, onde é determinada a estabilidade da amostra a alta temperatura (280 °C). O QAV-1 foi submetido a condições que podem ser relacionadas àquelas que ocorrem em sistemas de combustível de motores aeronáuticos, sendo este bombeado a uma determinada vazão volumétrica constanteatravés de um aquecedor, passando em seguida, por um filtro de aço inoxidável, no qual os produtos obtidos da degradação do combustível podem ficar retidos. O ensaio utilizou 450mL de cada amostra no teste e durou aproximadamente 2,5 h. Os resultados que foram observados para avaliação das amostras foram: a quantidade de depósitos no tubo aquecedor de alumínio que foi comparado com resultados do padrão de cores da ASTM, a taxa de obstrução de um filtro de precisão, com porosidade nominal de 17 µm, localizado imediatamente à saída do tubo aquecedor, e a determinação da estabilidade foi dada pela queda de pressão ao longo do ensaio. Os dados obtidos ao fim da avaliação são indicativos de desempenho do combustível, durante o funcionamento na turbina e pode ser utilizado para avaliar o nível de depósitos que se forma quando o líquido combustível entra em contato com uma superfície aquecida, que está a uma temperatura especificada. O teste está ilustrado na Figura 14. 50 Fonte: Autor, 2021 4.2.2 Avaliação principal A avaliação principal das propriedades físico-químicas das amostras adulteradas, utilizou como referência, uma das amostras integrante dos testes preliminares com QAV-1, e foi obtida de modo aleatório. A avaliação principal visou observar, avaliar e identificar os impactos ocasionados pelo processo de adulteração do combustível, a partir da mistura de querosene de aviação e querosene iluminante. Foi realizada uma mistura contendo 50 % (v/v) de QI no QAV-1. A amostra de querosene de aviação, o querosene iluminante e a mistura destes, foram submetidas a ensaios físico-químicos, afim de avaliar propriedades como: combustão, volatilidade, composição, fluidez e corrosividade. Após esse Figura 14 - Estabilidade térmica-oxidativa 51 processo avaliativo, essas amostras foram armazenadas durante um período de 180 dias (período superior ao estipulado pela ANP) e o impacto desse envelhecimento observado com a realização de novas análises físico-químicas. Então, os dados finais foram comparados com os iniciais. O processo realizado na avaliação pode ser visto de modo esquematizado na Figura 15. Fonte: Autor, 2021 a) Determinação do Ponto de fuligem - ASTM D1322 Para a realização dessa determinação, um pavio próprio para a análise foi cortado para cada amostra, tendo estes um comprimento não inferior à 125 mm. O pavio foi embebido por uma porção de amostra e então inserido no tubo A da vela, como mostrado na Figura 16. A ponta do pavio foi cortada de maneira que ficou exposto 6 mm, sem rebarbas ou pontas soltas no topo do tubo A. Uma alíquota de 10 Figura 15 - Esquema representativo da Avaliação principal das amostras de QAV-1 originais e adulteradas 52 mL a 20 mL da amostra foi inserida na vela e conectada a tampa com pavio. A vela metálica foi então introduzida no suporte do aparelho e o pavio foi acendido. A altura da chama foi ajustada em 10 mm e essa foi mantida queimando por 5 min, antes da leitura do ensaio. Foram realizadas três leituras de acordo com o seguinte procedimento: levantou-se a vela até que aparecesse fuligem e depois essa foi abaixada lentamente passando pelos seguintes estágios do aspecto da chama: ponta longa, fuligem pouco visível e chama saltitante (como pode ser visto em A – perfil da chama), ponta alongada e ponta côncava, onde foi possível notar que a extremidade pontiaguda simplesmente desaparece, conforme B (perfil da chama). Até o aparecimento de uma ponta arredondada, conforme C (perfil da chama), que é um aspecto incorreto para essa determinação. Por fim, a altura da chama B, que representa o aspecto ideal da chama para essa determinação, foi determinada com precisão de 0,5 mm e calculada a média das três leituras com uma casa decimal. A Figura 16 representa o esquema descrito. Fonte: Autor, 2021 Figura 16 - Esquema para a determinação do ponto de fuligem 53 b) Destilação com destilador automático - ASTM D86 As destilações das amostras foram realizadas em destilador automático da PAC, modelo Optidist. Para tal, uma alíquota de 100 mL das amostras foi medida em proveta e transferidas para um balão de destilação específico de 125 mL, ao qual foi adicionado também uma porção de pedra pomes antes do início do ensaio, com a finalidade de evitar borbulhamentos excessivos da amostra. O balão foi posicionado na placa de aquecimento (suporte do balão) e acoplado ao tubo condensador da unidade de destilação na posição vertical, e em seu topo posicionado um sensor de temperatura tipo PT100. A proveta usada para medir a amostra foi colocada na câmara do destilador. A amostra foi gradativamente sendo vaporizada e condensada de acordo com os pontos de ebulição dos seus constituintes e, recolhida na proveta na câmera de refrigeração, como pode ser visto na Figura 17. Ao final da destilação, foram registrados: o ponto inicial de ebulição (PIE), as temperaturas correspondentes aos 5 %, 10 %, 30 %, 50 %, 70 % e 90 % evaporados, o ponto final de ebulição (PFE) e os percentuais de resíduo (quantidade em volume que permaneceu no balão ao termino do ensaio) e perda (somatório do valor recuperado na proveta e do resíduo, menos o valor total inicial). Fonte: Autor, 2021 Figura 17 - Esquema para a destilação atmosférica – ASTM D86 54 c) Determinação do Ponto de fulgor – ASTM D93 Para essa determinação foi medido em proveta graduada, 50 mL da amostra e transferida para a cuba do equipamento, que em seguida foi levada para o bloco de aquecimento do equipamento modelo OptiFlash da PAC, na qual um sensor de temperatura tipo PT100 também foi inserido, assim como um ignitor elétrico. Para o início do ensaio foi necessário indicar um valor estimado de ponto de fulgor para a amostra. Essa estimativa de resultado serve para que o aquecimento da amostra possa ser realizado com uma taxa adequada de aquecimento. A Figura 18 representa o esquema de determinação de ponto de fulgor. Fonte: Autor, 2021 d) Massa específica a 20°C - ASTM D4052 A determinação de massa específica, foi realizada em densímetro automático da Anton Paar, modelo DMA 4500. Uma alíquota de 3 mL das amostras foi tomada Figura 18 - Esquema para a determinação de ponto de fulgor 55 com o auxílio de uma seringa plástica, e introduzida no densímetro, preenchendo todo compartimento analítico do equipamento, dando início ao ensaio. O resultado foi expresso em g/cm3 e a Figura 19 apresenta a análise. Fonte: Autor, 2021 e) Determinação de aromáticos totais - ASTM D1319 Essa determinação se trata de uma cromatografia, denominada Adsorção de Indicador Fluorescente, do inglês Fluorescent Indicator Adsorption (FIA), onde a evidência da separação dos compostos ocorre pela observação de diferentes cores quando exposto a radiação ultravioleta. Uma coluna de vidro da marca IVM Brasil, empacotada com sílica gel, como fase estacionária, foi utilizada. Antes do empacotamento da coluna foi necessário realizar secagem da sílica em estufa a 175 °C por 3 h. Após esse tempo, a sílica foi transferida da estufa para um dessecador hermético, sem dessecante. A coluna de FIA, na fase de empacotamento, foi exposta à vibração ao longo de seu comprimento, sendo esta interrompida e adicionada uma camada de 3 a 5 mm de indicador. Mais algumas porções de sílica foram colocadas até atingir 75 mm na seção de carga e, então, repetiu-se o processo de vibração. Ao término do empacotamento, foi injetado 0,75 ± 0,03 mL das amostras com o auxílio de uma microseringa a, aproximadamente, 30mm abaixo da superfície da sílica gel na seção de carga. Álcool isopropílico foi adicionado até a junta esférica, como fase móvel. A coluna por fim foi conectada em um sistema de gás nitrogênio, sob pressão. O nitrogênio tem a finalidade de acelerar
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