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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO INTRODUÇÃO AO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO ANA CAROLINA NOBRE PORDEUS ATELIER: Centro Integrado de Moda Natal, Junho 2017 ANA CAROLINA NOBRE PORDEUS ATELIER: Centro Integrado de Moda Trabalho Final de Graduação apresentado à banca examinadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, requisito para conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo EUNÁDIA CAVALCANTE Orientadora Natal, Junho 2017 ANA CAROLINA NOBRE PORDEUS ATelier: centro integrado de moda Trabalho Final de Graduação apresentado à banca examinadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, requisito para conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo EUNÁDIA CAVALCANTE Orientadora Aprovação em___ de junho de 2017. BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________________ Eunádia Cavalcante Professor Orientador – UFRN _______________________________________________________________ Sandra Albino Ribeiro Professor – UFRN _______________________________________________________________ Rosanne Azevedo de Albuquerque Arquiteto Convidado AGRADECIMENTOS Nomear todos os quais sou grata por contribuírem nesta jornada de formação profissional e pessoal certamente tornaria este tópico demasiadamente longo. Entretanto, alguns merecem destaque por estarem lado a lado, seja fisicamente ou enviando pensamentos positivos. Em primeiro, à Ele. Quem deposito todas as oportunidades e origem da força para reequilibrar nos episódios que resultavam em desejos de desistir. À Deus, por constituir o símbolo da minha fé e exemplo maior de amor ao próximo, sempre derramando bênçãos no meu caminhar. E ainda me proporcionar conviver em uma família erroneamente perfeita. Por segundo, o “obrigada” é direcionado para ela. Constituída dos mais variados membros: um pai incentivador em primeiro grau; uma mãe que reproduz à sua maneira a Maria mãe de Jesus, fazendo jus ao nome que carrega; um irmão solucionador de todos os problemas, e uma irmãzinha especialista em “kit estudo”. Todos juntos e de maneira especial estiveram e estão comigo em todas as conquistas e adversidades. Agradeço ainda às duas grandes amigas do “BSF”, Camila e Roberta, presentes da vida, apoio durante o trajeto de graduação, consolo em meio as dificuldades, companhias de felicidades, e compreensão quando ausente durante o desenvolvimento deste trabalho. Às “Arqfriends” (Monalisa, Aline, Ana Luísa, Bruna e Priscilla), companheiras de faculdade, que juntas dividimos muitos momentos de trabalhos acadêmicos, dicas de arquitetura, convivência e apoio, e ao fim tornaram-se amigas. À Giorgi, por todo amor e carinho demonstrados, pelos conselhos durante o processo de realização desse TFG, a confiança em mim depositada, e o incentivo para seguir em frente. Por fim, aos meus mestres, por compartilharem os “saberes”, em especial à Eunadia, que concordou orientar esse trabalho, e com bastante paciência e leveza contribuiu durante todo o processo de desenvolvimento. Muito obrigada! “Se eu nascesse hoje, colecionaria somente amores, fantasias, emoções e alegrias”. LINA BO BARDI RESUMO Capaz de se fazer presente em inúmeras áreas, a moda representa a cultura e conta a história de um povo, não é apenas aquilo que cobre o corpo. Além disso, é fonte de conhecimento e economia para uma região. Sendo assim, o objetivo desse estudo é o desenvolvimento de um espaço que incentive o contato da sociedade com a moda através da elaboração de um anteprojeto de um Centro Integrado de Moda para a cidade de Natal. Para o desenvolvimento do trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas e estudos de referências. O universo de estudo escolhido foi o bairro de Capim Macio, que dispõe de infraestrutura e proximidade com outras instituições de ensino que atraem um público diverso característico para essa proposta. O trabalho resultou na proposta de uma edificação que circunda um pátio aberto, com bastante integração com o exterior, além de um grande espaço multiuso para eventos relacionados à área, e salas de aulas teóricas e práticas. Palavras-chave: Arquitetura escolar. Moda. Educação. ABSTRACT Capable of being present in countless areas, the fashion represents culture and tells the story of a people, not just what covers the body. Moreover, it is a source of knowledge and economy to a region. Therefore, the purpose of this study is the development of a space that encourages the contact of society with fashion through the design of a draft of a Fashion Integrated Center. For the development of the work bibliographical researches and reference studies were conducted. The study universe was the neighborhood of Capim Macio, that has infrastructure and is close to others educational institutions which attracts a diverse public for this proposal. The work resulted in the proposal of a building that surrounds an open courtyard with a lot of integration with the exterior besides a large multipurpose space for events related to the fashion, and theatrical and practical classrooms. Key words: School architecture. Fashion. Education. LISTA DE FIGURAS Figura 1: Quadro de Mondrian........................................................................................ 16 Figura 2: Vestido criado por Yves Saint Laurent, inspirado no artista Mondrian ............ 17 Figura 3: Layout Sala de criação - desenhos manuais ..................................................... 22 Figura 4: Layout – Sala Modelagem ................................................................................ 24 Figura 5: Layout Sala de Costura ..................................................................................... 25 Figura 6: Layout do Natal Fashion Week 2006 ................................................................ 27 Figura 7: Boca de cena desfile Chanel 2017 .................................................................... 27 Figura 8: Ateliê do curso de Design de Moda – foco para manequins, quadro metálico e tomadas suspensas ......................................................................................................... 30 Figura 9: Abertura – “vitrine” .......................................................................................... 30 Figura 10: Ateliê do curso de Design de Moda – foco para iluminação artificial e tábuas retráteis. .......................................................................................................................... 30 Figura 11: Planta baixa ateliê curso Design de Moda da UNP......................................... 31 Figura 12: Detalhe de ripas de madeira escondendo a estrutura do edifício. ................ 32 Figura 13: Fachadas Fábrica Berluti ................................................................................ 32 Figura 14: Ágora coberta................................................................................................. 33 Figura 15: Ágora coberta................................................................................................. 33 Figura 16: Ambientes com grandes aberturas e contato com o exterior ....................... 34 Figura 17: Rampas prédio FAUSP .................................................................................... 34 Figura 18: FAUSP ............................................................................................................. 35 Figura 19: Biblioteca FAUSP – Contato interior/exterior ................................................35 Figura 20: Primeiro terreno de estudo............................................................................ 37 Figura 21: Localização terreno – Mapa Natal/Mapa Capim Macio ................................. 38 Figura 22: Terreno e entorno de serviços ....................................................................... 38 Figura 23: Dimensões terreno ......................................................................................... 39 Figura 24: Curvas de nível do terreno ............................................................................. 39 Figura 25: Terreno com destaque para massa verde ...................................................... 40 Figura 26: Vista da Rua Adolfo Ramires (massa verde do terreno) ................................. 40 Figura 27: Rosa dos ventos aplicada no terreno ............................................................. 41 Figura 28: Classificação das vias segundo Código de Obras de Natal, 2004. .................. 43 Figura 29: Dimensionamento das formas de acesso ....................................................... 43 Figura 30: Opção de acesso “a” ao estacionamento. ...................................................... 44 Figura 31: Dimensionamento de rampas ........................................................................ 46 Figura 32: Detalhe de rampa........................................................................................... 47 Figura 33: Projeção solar e ventos predominantes no lote em estudo .......................... 51 Figura 34: Zoneamento Final – Pavimento térreo .......................................................... 52 Figura 35: Zoneamento final – Pav. Superior .................................................................. 53 Figura 36: Esquema acesso pedestres ............................................................................ 55 Figura 37: Esquema acesso automóveis ......................................................................... 56 Figura 38: Implantação final ............................................................................................ 56 Figura 39: Volumetria – Proposta 01 .............................................................................. 57 Figura 40: Planta baixa pavimento térreo – Proposta 01 ................................................ 57 Figura 41: Planta baixa pavimento superior – Proposta 01 ............................................ 58 Figura 42: Volumetria – Proposta 02 .............................................................................. 58 Figura 43: Planta baixa pavimento térreo – Proposta 02 ................................................ 59 Figura 44: Planta baixa pavimento superior – Proposta 02 ............................................ 59 Figura 45: Planta baixa pavimento térreo - final ............................................................. 60 Figura 46: Planta baixa pavimento superior - final .......................................................... 61 Figura 47: Volumetria final .............................................................................................. 62 Figura 48: Volumetria final .............................................................................................. 62 Figura 49: Vista para o pátio externo .............................................................................. 62 Figura 50: Vista estacionamento ..................................................................................... 63 Figura 51: Ventilação cruzada no Espaço Multiudo ........................................................ 65 Figura 52: Esquema de ventilação cruzada com telhas de diferentes alturas no pavimento superior ........................................................................................................................... 66 Figura 53: Exemplo de sombreamento utilizado ............................................................ 66 Figura 54: Esquema contato interior/exterior ................................................................ 67 Figura 55: Divisórias de dry-wall ..................................................................................... 68 Figura 56: Detalhe laje impermeabilizada com tratamento térmico .............................. 69 Figura 57: Telha termoacústica TR 25 marca Santo André ............................................. 69 Figura 58: Detalhe telha termoacústica .......................................................................... 70 Figura 59: Telha de fibrocimento ondulada – marca Brasilit. ......................................... 70 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Síntese dos estudos de referência ................................................................... 36 Tabela 2: Prescrições urbanísticas para o lote em estudo .............................................. 42 Tabela 3: Programa de necessidades .............................................................................. 48 Tabela 4: Pré-dimensionamento setor administrativo.................................................... 49 Tabela 5: Pré-dimensionamento setor educação ........................................................... 49 Tabela 6: Pré-dimensionamento setor técnico ............................................................... 49 Tabela 7: Pré-dimensionamento setor funcionários ....................................................... 50 Tabela 8: Pré-dimensionamento setor apoio .................................................................. 50 Tabela 9: Prescrições urbanísticas do anteprojeto ......................................................... 65 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 13 1. ARQUITETURA E MODA ......................................................................................... 16 1.1 Moda como arte e produto .............................................................................. 16 1.2 Estudo da moda ............................................................................................... 18 1.3 Arquitetura escolar........................................................................................... 19 1.4 Espaços de produção e promoção da moda .................................................... 21 1.4.1 Salas de Criação: ....................................................................................... 22 1.4.2 Sala de Modelagem:.................................................................................. 23 1.4.3 Sala de Costura: ........................................................................................ 24 1.4.4 Espaços para desfiles ................................................................................ 26 2. REFERENCIAL EMPÍRICO ....................................................................................... 28 2.1 Estudos diretos ................................................................................................. 28 2.1.1 Universidade Potiguar ............................................................................... 28 2.2 Estudos indiretos .............................................................................................. 31 2.2.1 Fábrica Berluti ........................................................................................... 31 2.2.1 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (FAUSP) ................. 34 2.3 Compilação dos estudos de referências ........................................................... 36 3. CONDICIONANTES PROJETUAIS ........................................................................ 37 3.1 Condicionantes físico-ambientais ..................................................................... 37 3.2 Condicionantes legais ....................................................................................... 41 3.2.1 PlanoDiretor de Natal............................................................................... 41 3.2.1 Código de Obras de Edificações do Município de Natal............................ 42 3.2.2 Código de Segurança contra incêndio e pânico do Rio Grande do Norte . 44 3.2.3 ABNT – NBR 9050 (2015) .......................................................................... 45 3.3 Condicionantes funcionais ............................................................................... 47 3.3.1 Público alvo ............................................................................................... 47 3.3.2 Programa de Necessidades e Pré-dimensionamento ............................... 48 3.3.3 Zoneamento .............................................................................................. 51 4. PROCESSO PROJETUAL ........................................................................................ 54 4.1 Conceito e Partido arquitetônico ..................................................................... 54 4.2 Implantação ...................................................................................................... 55 4.3 Evolução da proposta – plantas e volumetria .................................................. 56 5. ATELIER – O produto ............................................................................................. 64 5.1 Conforto ........................................................................................................... 65 5.2 Sistema construtivo .......................................................................................... 67 5.2.1 Estrutural .................................................................................................. 67 5.2.2 Vedações ................................................................................................... 68 5.2.3 Cobertura .................................................................................................. 68 5.3 Sistema hidráulico ............................................................................................ 70 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 71 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 72 13 INTRODUÇÃO A moda está inserida em diversos campos da sociedade, como comportamento, linguagem, arte, e o mais tradicional: vestuário. Além disso, a palavra pode dispor de conceitos variados, dependendo da frase ou contexto em que está inserida, como retrata Denise Pollini, em seu livro Breve História da Moda: É claro que ao nos depararmos com estas frases diversas sabemos que “está na moda ser ecológico” e “a moda da cintura alta” são referências a aplicações diferentes do termo. (POLLINI, 2007, p. 8) No contexto deste trabalho, será abordada a moda inserida no universo do vestuário. O setor da moda como indumentária engloba várias atividades, uma vez que possui um longo caminho a ser percorrido desde a produção até a comercialização do produto. Esse percurso envolve o processo criativo, realizado por estilistas, engenheiros têxteis e designers de moda, através de inspirações, estudo de referências, criação de um conceito, escolha de materiais, e consequente concepção de uma peça ou coleção. Após esse passo, segue-se para a produção, onde são executados os projetos desenvolvidos. Nesse estágio, ocorrem inúmeros “sub processos”, como corte, costura, e por vezes, provas dos moldes em “modelos”; em seguida, inicia-se a parte mais comercial do setor, a venda do produto. Ainda é possível incluir em todo esse ciclo a etapa de divulgação e marketing, seja física, como as revistas e catálogos, ou virtuais, como os blogs e os modernos e-commerces (comércio eletrônico de objetos, através dos quais é possível adquirir peças virtualmente, sem a necessidade de se deslocar até o ponto de venda). Além da área comercial, a moda como vestuário está presente também na história das sociedades, demarcando classes, épocas e culturas. E é ainda capaz de identificar um grupo social, através dos padrões de indumentárias utilizadas por ele, como os góticos, os hippies, etc. A indústria da moda é um setor de destaque na economia, pois, por demandar atividades de diversos níveis e áreas, é capaz de empregar também diversos tipos de funcionários. Segundo a ABIT1 (Associação Brasileira de Indústria Têxtil e Confecção), o setor possui 1,5 milhão de empregados diretos e 8 milhões quando somados os indiretos, constituindo o 1 ABIT. Perfil do setor. Disponível em: http://www.abit.org.br/cont/perfil-do-setor. Acesso em dez de 2016. 14 segundo maior empregador da indústria de transformação, e o segundo maior gerador do primeiro emprego (dados de 2016 referentes a 2015). O mundo da moda também movimenta o setor financeiro através das grandes semanas de moda, nas quais as marcas expõem coleções piloto que depois serão oferecidas para o consumidor nos pontos de venda. Esses acontecimentos exigem uma enorme quantidade de trabalhadores, desde os que participam da criação e produção das peças, até os organizadores e modelos. Em Natal, já ocorre esse tipo de evento, como o Natal Fashion Week, surgido em 2005, que é realizado anualmente, em duas edições. Neste cenário, entendendo a importância da moda no contexto da sociedade, objetiva- se desenvolver um anteprojeto arquitetônico de um centro de moda em Natal, criando um espaço que busca suprir a carência desse tipo de atividade na cidade. Pretende-se ainda, criar um espaço capaz de promover a moda e formar profissionais da área, atuantes em variados segmentos deste universo, através de cursos técnicos profissionalizantes e livres, de receber eventos relacionados à moda e outros tipos de arte, como desfiles e exposições. Para tanto foi necessário estudar os preceitos da arquitetura escolar, necessários para o desenvolvimento do projeto. Por fim, busca-se trazer à tona a discussão da moda como arte e como produto, tanto para entender as necessidades desse segmento quanto a espacialização arquitetônica. A escolha do tema Arquitetura e Moda foi influenciada por interesse pessoal pela moda, visto que sempre foi entendida como parte integrante da cultura, e não apenas como futilidade, ou algo sem significação. Tal interesse foi intensificado pela experiência na disciplina Moda, do curso de Engenharia Têxtil da UFRN. A partir dessa matéria abriram- se os horizontes acerca do que a moda representa e o que demanda para a sua existência, pois possibilitou entender que a história da humanidade está relacionada às vestimentas, assim como o fato da moda estar presente em vários segmentos do mercado, movimentando vários setores. Esse último aspecto despertou a curiosidade por compreender e pensar um espaço capaz de receber essa multifuncionalidade. Outro fato que justifica a escolha do tema é a pequena quantidade de cursos de moda na cidade de Natal. Atualmente, existe um curso de dois anos na Universidade Potiguar (Design de Moda), e o SENAI oferece cursos de pequena duração e assuntos variados, porém em épocas esporádicas. Sendo assim, não existe na cidade um local voltado 15 especificamente para esse tipo de aprendizado, o que justifica um estudo acerca dessa carência da cidade. Além disso, vislumbrou-se nesse trabalho a chance de estudar e desenvolver um projeto de arquitetura escolar, tema projetual não abordado durante a graduação, tornando-se assim uma oportunidade de preencher tal lacuna. Para alcançar os objetivos propostos para o trabalho, foram determinados alguns procedimentos metodológicos. Desta forma, o desenvolvimento deste estudo foi dividido em três etapas: a primeira consistiu na fundamentação teórica com a finalidade de obter maioresconhecimentos sobre a moda, sua história, comércio, promoção e produção, e assim entender os aspectos que essa atividade exige para ocorrer; a segunda, nos estudos diretos e indiretos nos quais se buscou conhecer os espaços necessário para o bom funcionamento do edifício de acordo com os usos propostos, as relações de fluxos entre esses espaços, o layout de cada ambiente, além das premissas de conforto exigidas; e por fim, o desenvolvimento do projeto. Para o qual foi adotada a metodologia de Laert Neves, em seu livro Adoção do Partido na Arquitetura. Para apresentar o resultado deste estudo, estruturou-se o trabalho em cinco tópicos: o primeiro desenvolve a contextualização do tema, tratando da moda como vestuário e dos espaços exigidos para o funcionamento dessa atividade; o segundo relata estudos diretos e indiretos realizados com o objetivo de obter referências previamente determinadas para o desenvolvimento do anteprojeto; o terceiro aborda os condicionantes projetuais: físico-ambientais, legais e funcionais; o capítulo quatro apresenta todo o processo projetual, desde o conceito até o zoneamento. O penúltimo tópico expõe o produto deste trabalho, apresentando questões de conforto, estrutura e soluções formais do projeto. 16 1. ARQUITETURA E MODA Esse tópico expõe sobre a moda, englobando conceitos, estudos possíveis na área, espaços de produção e promoção da moda, focando nas necessidades que esta atividade exige quanto à espaços físicos. Além disso, aborda sobre arquitetura escolar, explanando sobre a qualidade do ambiente de ensino e as premissas necessárias para seu bom desempenho. 1.1 Moda como arte e produto O termo moda pode ser associado a vários conceitos, dependendo do contexto no qual está inserido. Analisada sob o olhar do mundo do vestuário, a expressão pode ser considerada como “um sistema que acompanha o vestuário e o tempo, que integra o simples uso das roupas no dia-a-dia a um contexto maior, político, social, sociológico” (PALOMINO, 2002, p. 4), ou seja, a moda tem seus limites muito além das peças de vestir, pois engloba a história da humanidade, a cultura de um povo, e ainda a arte e o comércio. É possível perceber a relação da moda com a arte quando a primeira busca na segunda fontes de inspiração para se desenvolver, como bem afirma Cláudia de Castro Correia et all (2015. P. 3) “é observável a referência a obras de arte em inúmeros objetos de moda, principalmente nas coleções de grandes criadores como Yves Saint Laurent, Christian Dior e Jean Paul Gaultier”. Um exemplo desse tipo de relação foi a coleção criada por Yves Saint Laurent em 1965, inspirada nas obras do artista Mondrian, como pode ser observado nas Figura 1 e Figura 2. Figura 1: Quadro de Mondrian Fonte: PACIEVITCH. 17 Figura 2: Vestido criado por Yves Saint Laurent, inspirado no artista Mondrian Fonte: BOSCOLO, 2016. Assim como Yves Saint Laurent, muitos outros estilistas obtiveram na arte o estímulo para produzir a moda, e ainda o fazem até hoje, seja na alta-costura, onde se concentra o valor estético em único objeto, desenvolvendo-se peças quase exclusivas; seja no prêt-à- porter, o qual se reproduz em grande quantidade uma mesma peça, objetivando atingir um amplo número de usuários. Vale salientar que o contrário, isto é, a moda na arte, também ocorre. Esse fenômeno se dá quando se retrata o vestuário em pinturas, gravuras, ilustrações, fotografia, ou seja, se representa a vestimenta de determinada época através do uso de elementos da arte. Além da arte, a moda possui grande representatividade no mercado econômico, pois envolve vários setores da economia, desde a área criativa até a comercial, passando pela colheita e ultrapassando as fronteiras divulgadas pela mídia. Sendo assim, essa atividade é capaz de gerar empregos atuantes em inúmeros campos e movimentar o capital de um país. Isso torna-se ainda mais evidente no Brasil, pois é o único local do ocidente que possui a cadeia têxtil completa (ABIT, 2016), ou seja, desde a produção das fibras, galgando pela confecção, até chegar aos desfiles de moda e comercialização. A ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) publicou dados otimistas de previsão para o setor no ano de 2017, quando comparados aos dois últimos anos de recessão: um faturamento de R$135 bilhões, o que representa um aumento de 4.6% em relação ao ano de 2016; geração de cerca de 10 mil postos de trabalho, quando houve grande perda nos dois últimos anos (cerca de 125 mil empregos). 18 Ainda sobre o mercado no Brasil, segundo o jornal online A Tribuna, em matéria divulgada em 2016, o país encontra-se em 5º lugar no ranking de consumo de moda mundial (de acordo com estudo do Euromonitor), além do setor liderar as vendas do e-commerce brasileiro, como relatou a E-bit2. Sendo assim, a moda é percebida em diversas áreas, formas e momentos; e manifesta- se de inúmeras maneiras, além de contribuir com a economia e cultura de uma região. 1.2 Estudo da moda Por participar de vários setores, a moda permite também que seu estudo seja possível em diversas áreas e níveis de conhecimento. O ensino da moda é possível tanto no nível superior quanto no técnico, além da possibilidade dos cursos livres, com durações variadas de acordo com o objetivo do estudante e os assuntos abordados. Existe ainda uma grande variedade nos conhecimentos ministrados em tais escolas, desde a parte teórica, tratando da história do vestuário, por exemplo, até a confecção das peças, passando assim por inúmeros segmentos como estilo, desenho, modelagem e costura, criação e até mesmo gestão e marketing, permitindo que o profissional atue em diversas áreas. O SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) é um dos grandes promotores do ensino na área de moda em todo o Brasil. A empresa fornece cursos de graduação, pós-graduação, cursos técnicos e livres. Os assuntos abordados nos cursos da instituição são os mais variados: modelagem, beleza, negócio de moda, design, etc. Em Natal, o SENAC oferece curso presencial de costureiro, por exemplo. Com carga horária de 212 horas, ao final deste curso o aluno será capaz de realizar procedimentos de corte, montagem, costura e acabamento de peças do vestuário, podendo atuar como autônomo, trabalhar em indústrias de confecção ou até em pequenos ateliês. Além dessas, existem ainda as universidades que dispõem de graduação e/ou pós- graduação na área, como a Universidade Federal do Ceará (UFC), que possui, segundo o site do próprio departamento, cinco unidades de estudo na graduação de Design de Moda: a primeira consiste na “ unidade história e pesquisa de moda, o aluno estuda aspectos históricos da moda e as mudanças das indumentárias ao longo do tempo. Em 2 Instituição que mede a reputação das lojas virtuais por meio de pesquisas com consumidores reais, gerando dados estratégicos e táticas para o mercado online. 19 tecnologia têxtil e de confecção são vistas disciplinas de Modelagem Tridimensional e Ergonomia de Produto, por exemplo. Outra unidade curricular é a de linguagem visual, constituída por disciplinas como Fundamentos do Design e Desenho Técnico de Moda. Na unidade negócio de moda o aluno estuda disciplinas relacionadas à criação de negócios próprios, entre elas Empreendedorismo. Já a unidade de gestão de projeto agrega as disciplinas de Processos Criativos, Produção de Moda e envolve também a produção do trabalho de conclusão de curso” (UFC, 2017). Sendo assim, é possível notar que o concluinte do curso superior de Design de Moda da UFC poderá trabalhar em variados setores, pois obteve conhecimentos de distintas áreas da moda na graduação. Por fim, as possibilidades de se obter conhecimentos, tanto teóricos quanto práticos, sobre a moda e tudo que a envolve são muitas,e podem ser realizadas em todos os níveis de estudo. Assim como é grande o leque de opções para o profissional da área, que poderá atuar em diversos segmentos. 1.3 Arquitetura escolar O ensino representa um ponto de grande responsabilidade na formação e socialização do ser humano, sendo assim, é constantemente analisado, seja nas escolas infantis, ensino médio ou até nas universidades. O bom desempenho do aprendizado no ambiente escolar depende tanto de aspectos físicos do edifício quanto dos pedagógicos e dos próprios usuários. O ambiente físico escolar é, por essência, o local do desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem. O edifício escolar deve ser analisado como resultado da expressão cultural de uma comunidade, por refletir e expressar aspectos que vão além da sua materialidade. KOWALTOWSKI, 2011. p. 11) O projeto de arquitetura escolar exige que sejam considerados inúmeros aspectos, desde as premissas de conforto ambiental, como acústica e conforto térmico, até mesmo o mobiliário, cores de teto, piso e parede, pois cada condicionante irá influenciar no resultado da formação dos alunos e nas interações sociais. 20 A importância do conforto ambiental em relação à produtividade no trabalho ou na aprendizagem depende, em primeiro lugar, do projeto do edifício e de seus ajustes às atividades do usuário. (KOWALTOWSKI, 2011. p. 112) Para o desenvolvimento do projeto do ambiente escolar deve-se definir o público alvo e o tipo de atividade que será exercida: qual o nível de ensino, a idade dos alunos, o currículo que será desenvolvido, a quantidade de alunos. Sendo assim, é de suma importância que a arquitetura deste espaço esteja de acordo com as premissas pedagógicas propostas para a escola, ocasionando uma boa funcionalidade. Com o público e o tipo de exercício definidos pode-se pensar no dimensionamento dos ambientes, que deve ocorrer em função do trabalho que será realizado, através da constituição do layout. Este deve ser elaborado de acordo com o mobiliário necessário para a execução do que foi proposto para o espaço. Ao fim de seu livro “Arquitetura escolar”, Kowaltowski (2011) enumera e descreve 31 parâmetros de projeto para escolas com aspectos específicos para o Brasil, elaborados a partir das realidades de dificuldades enfrentadas pelos projetistas brasileiros, pois grande parte da literatura disponível acerca do tema é estrangeira. Dentre eles destaca-se os importantes e pertinentes ao anteprojeto proposto neste estudo: Transparência: a autora do livro relata que a transparência “deve transmitir a ideia de que a educação e aprendizagem são visíveis e celebradas na escola”. Pode estar presente nos corredores com luz natural e vistas interessantes etc. Vistas interiores/exteriores: criar um horizonte externo para as salas de aula, objetivando descansar a visão; Conexão entre espaços externos e internos: essa conexão deve ser bastante explorada, através “das vistas, terraços, salas de aula ao ar livre, cantos para sentar, ler, discutir, usar laptop etc.” (KOWALTOWSKI, 2011) Espaços flexíveis: permitem aprendizado de várias maneiras através do layout, desde que este identifique o uso proposto para o espaço. Isto pode ser realizado com a utilização de mobiliário móvel, de alturas ajustáveis; Iluminação natural: de grande importância para o bem-estar fisiológico e psicológico do usuário, além de contribuir para a eficiência energética da edificação, porém deve ser projetada com cuidado, sobretudo em lugares com muita incidência solar, como Natal, 21 Ventilação natural: essencial para a renovação do ar e promoção do conforto térmico do espaço. Sua ausência é prejudicial, “psicologicamente, provoca apatia e desinteresse pelo trabalho...”, como afirma Kowaltowski. Iluminação, cor e aprendizagem: a iluminação e a cor devem estar em conformidade com a atividade praticada no ambiente, pois exercem influência no aprendizado dos alunos. Vale destacar que é importante o projeto de iluminação artificial ser realizado considerando a presença da iluminação natural, e que áreas de exposição devem possuir iluminação flexível. O pátio, a implantação e a adequação dos espaços livre: o pátio deve consistir em um ambiente agradável, com vegetação que sombreie, além de projeto paisagístico e de fácil manutenção, que permita o contato entre ele e as pessoas; Conforto acústico: o projeto de arquitetura escolar deve considerar as aberturas, os ruídos externos, a densidade ocupacional e os materiais, pois esses aspectos influenciam no conforto acústico das salas de aula, interferindo no aprendizado dos alunos. Acessibilidade: necessário para a inclusão social dos usuários e sua vivencia nos espaços públicos e privados. O edifício deve ser acessível desde a entrada, até as circulações, através de rampas, plataformas e mobiliário; Entrada convidativa: o acesso à escola deve “convidar” os alunos para o interior, com elementos que marquem a entrada e revelem os limites da área externa com a área restrita aos alunos; 1.4 Espaços de produção e promoção da moda A produção e promoção da moda permitem uma grande variedade de atividades, e cada uma dessas exige uma qualidade ambiental diferente, de acordo com o uso: seja uma fábrica, um atelier, um espaço de criação, de divulgação, etc. Por pretender usos variados, o produto proposto neste estudo demanda espaços com arquitetura também diversificada, específica para cada trabalho realizado, com o objetivo de atender à multifuncionalidade do edifício. Sendo assim, a seguir serão apresentadas as características singulares exigidas em cada fase desse processo, da produção à promoção da moda. Vale salientar que os atributos relatados no item anterior sobre arquitetura 22 escolar também devem ser aplicados no projeto, juntamente com as especificidades de cada ambiente. Obteve-se como fonte de estudo sobre as necessidades para o bom funcionamento das salas que exigem atributos especiais a apostila “Padronização de tipos e quantidades necessárias de instalações e equipamentos dos laboratórios das habilitações profissionais. Técnico em Modelagem de Vestuário” desenvolvida em 2010 pelo CETEC Paula Souza, de São Paulo. 1.4.1 Salas de Criação: Quanto à produção, o passo inicial consiste na criação das peças, que se dá através de estudos de referências, estudos de materiais, ideias e croquis, podendo utilizar computadores para pesquisas. Então, para essa etapa são necessárias salas de computadores e salas de desenho. As primeiras serão compartilhadas com a etapa de desenvolvimento das peças através do uso de softwares específicos. Para as salas desenho, com dimensões de 120m² e 3m no mínimo de pé direito, sugeridas para 20 alunos, são indicadas mesas escolares medindo 120cm x 60cm e altura de 75cm, assim como de cavaletes para desenho. Além disso, esse tipo de atividade, que requer bastante atenção, exige uma iluminação adequada, com iluminância mantida na superfície de referência, onde se trabalha, de 750 lux, segundo a NBR 8995-1, que trata acerca da iluminação de ambientes de trabalho, além disso, a iluminação não deve causar ofuscamento ou grandes contrastes, que podem gerar cansaço visual (observar Figura 3). Figura 3: Layout Sala de criação - desenhos manuais Fonte: CETEC Paula Souza, 2010. 23 1.4.2 Sala de Modelagem: Após a criação, o passo seguinte é a modelagem das peças. Esse momento pode ocorrer de duas maneiras: através da modelagem 2D ou da modelagem 3D. No primeiro, denominado de modelagem plana, o costureiro elabora os cortes das peças em moldes de papel para depois transferir para o tecido. Existem vários métodos para realizar essa modelagem, como o proporcional, o direto ou o misto, variando apenas a metodologia de obtenção das medidas do usuário da vestimenta. Na modelagem 3D, conhecidacomo moulage, a vestimenta “é feita diretamente no manequim, aprimorando o caimento e o acabamento da roupa. Geralmente, são usadas malhas de baixo valor com caimento parecido ao do tecido “final”. Após terminado o processo de moulage, fica mais fácil entender e planificar a tela em um desenho bidimensional. ” (INSTITUTO RIO MODA, 2011). Para a sala de modelagem, a apostila sugere uma área de 120m² para atender 20 alunos, e pé direito mínimo de 3m. Sobre os revestimentos, o piso deve ser em material impermeável e antiderrapante, liso, resistente à abrasão, impacto; as paredes claras e as instalações das mesas aparentes. Acerca da iluminação: controlada, uso de lâmpadas fluorescentes tubulares de 6500K (branca e fria), e a sala deve possuir cortinas. Em relação ao mobiliário, é recomendado a instalação de expositores (araras), dois tipos de mesa: a escolar (60cm x 120cm com altura de 75cm) e a de corte ( para tecidos leves e médios, que suporte 80kg/m² e meça 180cm x 125cm e altura de 90cm); também são necessários bustos de manequim estofados (para permitir o uso de alfinetes), tanto femininos quanto masculinos, com altura aproximada de 90cm, apoiados em bases de ferro de 80cm de altura, que possuem regulador de altura independente; é recomendado ainda a instalação de armários para armazenamento dos materiais utilizados durante as aulas (Figura 4. A respeito dos equipamentos, é indicado a presença de ferro de passar roupa (e tábua), e uma máquina de cortar tecidos: “com corpo em aço; lâmina tipo faca vertical; com 5"; capacidade de corte mínima de 90 mm; com afiador automático; na velocidade de 3400rpm; potência de 1,5cv; voltagem 110/220 v” (CETEC Paula Souza, 2010). 24 Figura 4: Layout – Sala Modelagem Fonte: CETEC Paula Souza, 2010. Observando a Figura 4, que demonstra a sugestão de layout feita pelo CETEC Paula Souza, observa-se a ainda a presença de um provador de roupas, que deve medir no mínimo 90cm x 90cm. 1.4.3 Sala de Costura: Agora, com os moldes obtidos na modelagem, inicia-se a fase da costura. Nesse estágio os elementos moldados serão unidos para compor a peça final do vestuário. Para a execução dessa etapa é recomendado, segundo a apostila do CETEC Paula Souza uma sala de 120m², pé direito mínimo de 3m dimensionada para 20 alunos. O piso deste ambiente deve ser piso em material claro, impermeável, liso, resistente à abrasão, impacto; as paredes também devem possuir revestimentos claros (Figura 5). Existe uma infinidade de tecidos e cortes que permitem uma gama enorme de possibilidades para a confecção, e cada tipo exige uma máquina de costura diferente. Sendo assim, foram listadas pelo CETEC Paula Souza os equipamentos básicos necessários para o curso de costura: Máquina de costura do tipo reta eletrônica industrial; Máquina de costura do tipo reta ‐ industrial; 25 Máquina de costura do tipo galoneira; Máquina de costura do tipo overloque; Máquina de costura do tipo interloque; Máquina de costura do tipo botoneira; Máquina de costura do tipo caseadeira reta; Máquina de costura do tipo traveti; Máquina de costura do tipo pespontadeira; Máquina de cortar tecidos (rainha); com corpo em aço, equipada de mesa estante e motor com fricção; A sala de costura não exige um mobiliário específico para seu funcionamento, apenas, como nas outras salas, mesas (para apoio do maquinário citado acima e para o professor) e cadeiras. A Figura 5 a seguir representa uma sugestão de layout para este ambiente: mesas e cadeiras dispostas de maneira tradicional, em filas e colunas, com duas circulações que se estendem do início ao fim do espaço. Figura 5: Layout Sala de Costura Fonte: Adaptado de CETEC Paula Souza, 2010. 26 1.4.4 Espaços para desfiles Após todo o processo de desenvolvimento do vestuário, chega o momento da divulgação das peças produzidas, para que atinjam o público consumidor. Uma das maneiras de promover uma coleção de roupas é através de desfiles. Neles, são projetadas cenografias com a função de ambientar quem está assistindo e representar o tema criado pelo estilista. Como afirma Matoso (2015): É um trabalho construído a várias mãos: designers, arquitetos e cenógrafos concebem um ambiente que geralmente é sugerido pelo estilista da coleção, que pode ser no interior ou exterior de alguma edificação e criam todo um conceito de iluminação, cores, mobiliário e até circuitos (hoje as passarelas não são mais uma linha reta, as modelos podem andar até em círculos, por exemplo) que deem dinâmica e dialoguem com todos os elementos da coleção: maquiagem, música, roupas e sapatos. Por se tratar de um espaço tão dinâmico, que varia de acordo com o tema proposto pelo profissional criador da coleção, o público-alvo, o local do evento, não existem regras para o projeto desse tipo de ambiente. Entretanto, é necessário ter conhecimento das necessidades para o funcionamento dessa atividade. Leila Guilhermino, no seu Trabalho Final de Graduação, intitulado de Muda, afirma que “as premissas para a concepção desse espaço estão, principalmente, na necessidade de se explorar o elemento surpresa sobre o que acontecerá ali e, não menos, a curiosidade sobre o que se passa nos bastidores. ” Além disso, destaca que os elementos constituintes das salas de desfiles são a passarela, boca de cena (de onde saem os modelos), a plateia e o ponto de imprensa. No estudo de caso realizado por ela, a passarela de uma Semana de Moda de Natal (Natal Fashion Week) media aproximadamente 45m x 4m, e para cada marca que expunha a coleção o cenário era alterado (as cortinas se fechavam para tais mudanças), no seu fim estava o local da imprensa (onde ficavam os fotógrafos, jornalistas e técnicos de som e iluminação). A plateia do mesmo evento foi organizada de modo arquibancada, comportando 200 espectadores. A boca de cena possuía iluminação de destaque e cortinas deslizantes funcionando como pano de fundo para os desfiles e permitindo a dinamizando do cenário. Por trás desta, encontrava-se o backstage, onde cada marca possuía um stand (aproximadamente 3m x 3m) com as peças que seriam desfiladas, espaço para trocas de roupa, maquiagem e cabeleireiros. 27 Figura 6: Layout do Natal Fashion Week 2006 01: Passarela de desfiles Fonte: Adaptado de GUILHERMINO apud NATAL FASHION WEEK VERÃO 2007 Projeto Imprensa, 2006. Entretanto, atualmente os desfiles estão abandonando o modelo tradicional: passarela central com plateia no entorno. Marcas de reconhecimento internacional são pioneiras quando o assunto é ousar quanto a organização espacial desse evento. Em março de 2017 a marca francesa Chanel realizou um desfile na semana de moda em Paris que é exemplo de ousadia: a “boca de cena” era em um ponto central do ambiente, de onde foi lançado um foguete; a passarela iniciava-se em formato circular logo após a boca de cena, e depois tomava forma mais reta. A plateia foi posicionada no entorno da passarela, de forma que todos os espectadores conseguissem visualizar as modelos de todos pontos. Figura 7: Boca de cena desfile Chanel 2017 Fonte: GUIMARÃES, 2017. Desta maneira, o local destinado para os desfiles não necessita ter mobiliário fixo, e sim consistir em um grande espaço multiuso, capaz de receber diversos eventos e ser passível da instalação de layout de acordo com a necessidade. O1 28 2. REFERENCIAL EMPÍRICO Neste tópico serão apresentados estudos diretos e indiretos que contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento deste anteprojeto. 2.1 Estudos diretos Esses estudos são caracterizados como diretos por serem realizados através de vistas aos locais onde se deseja obter conhecimentos que serão utilizados para projetar. Com o intuito de compreender melhor os espaços propostos para este trabalho se fez necessário a realização deum estudo direto, objetivando entendê-los quanto às necessidades de layout, mobiliário, fluxos, conforto e equipamentos. 2.1.1 Universidade Potiguar Objetivando entender melhor os espaços para o anteprojeto proposto, escolheu-se realizar um estudo direto nas instalações do curso de Design de Moda da Universidade Potiguar em Natal. A visita foi guiada por Virgínia Borges, coordenadora acadêmica. O curso, de nível tecnólogo, funciona na unidade da Av. Roberto Freire, durante o turno noturno e possui duração de quatro semestres. Por se tratar de um curso novo na instituição, as instalações foram adequadas ao prédio já existente, portanto não foi possível atingir a excelência em todos os aspectos: ansiava- se espaços abertos de convivência, como um “loft” (como informou Virgínia), que permitissem vários usos, através da alteração do mobiliário. Alguns ambientes necessários para as aulas são compartilhados com outros cursos, por exigirem usos semelhantes, como o Laboratório com pranchetas (utilizados para desenhos e confecção de maquetes) e o de Informática. Entretanto, o espaço visitado, que funciona como um ateliê, é exclusivo para o Design de Moda, já que possui especificidades utilizadas apenas por esse curso, em razão disso o foco da visita foi conhecer tal ambiente. O ateliê foi pensado como um espaço multiuso, possibilitando a realização de aulas com necessidades diferentes. Lá é possível ocorrer aula de moulage (modelagem 3D), modelagem 2D, costura, desenho, entre outros. O ambiente comporta em média 45 alunos, porém já aceitou turmas com 50. A quantidade de alunos por turma é organizada de acordo com a demanda de inscritos por curso, sendo 50 o número máximo por turma. Entretanto, segundo informou Virginia Azevedo, coordenadora do curso e quem 29 acompanhou durante a visita, o número ideal de alunos seria apenas 30, pois por se tratar de aulas práticas, exigem maior atenção dos professores. O local, com cerca de 83m², possui aspecto de uma grande vitrine para quem transita em seu exterior, uma vez que possui uma grande abertura em vidro, permitindo a visualização de todo o interior do espaço. O ambiente consiste em uma grande sala com parede, piso e teto na cor branca, com foco de cor apenas no mobiliário. Quanto a iluminação, existe apenas a do tipo artificial e direta, com ausência de janelas para o exterior, o que impede a presença de iluminação natural. O local não possui ventilação natural e é climatizado artificialmente. O layout é simples e bastante funcional: duas mesas dispostas linearmente no centro, como um grande ateliê, equipadas com dois tipos de assentos (cadeiras de giro e bancos metálicos laranja). Possui grandes circulações no sentido longitudinal da sala, os fluxos são bastante livres. Além disso, a sala possui 26 manequins femininos estofados com altura regulável e tamanho 38 (sendo um para uso do professor, e o restante os alunos compartilham em dupla), duas lousas, 3 tábuas de passar roupa retráteis equipadas com ferro, um guarda volumes de aço com 24 nichos, 2 expositores de tecidos fixos na parede, duas araras móveis, uma parede com espelho, e um quadro magnético para fixação de papel através de imãs, compondo um mood board. Ainda sobre o mobiliário, contém um grande armário baixo (de cor laranja), onde ficam armazenadas as máquinas de costura portáteis. Essa organização se deu em virtude da multifuncionalidade do espaço, sendo assim, elas apenas são retiradas do móvel durante as aulas de costura. O espaço não dispõe de outros equipamentos, entretanto possui instalação para o projetor que será inserido brevemente. Apesar disso, todo o ambiente foi equipado com tomadas suspensas em trilhos metálicos sobre as mesas, permitindo o uso de computadores ou outros dispositivos necessários durante as aulas. 30 Figura 8: Ateliê do curso de Design de Moda – foco para manequins, quadro metálico e tomadas suspensas Fonte: Acervo da autora. Figura 9: Abertura – “vitrine” Fonte: Acervo da autora. Figura 10: Ateliê do curso de Design de Moda – foco para iluminação artificial e tábuas retráteis. Fonte: Acervo da autora. 31 Figura 11: Planta baixa ateliê curso Design de Moda da UNP Fonte: Elaborado pela autora. Esse estudo possibilitou entender muitas das necessidades espaciais, de mobiliário e de fluxos que serão utilizados neste Trabalho Final de Graduação, além do fato da flexibilidade que estes espaços podem conter, pois em apenas um ambiente é possível que ocorram diversas aulas, como no curso da Universidade Potiguar. 2.2 Estudos indiretos 2.2.1 Fábrica Berluti O edifício da Fábrica Berluti está localizado em Ferrara, na Itália, e teve projeto desenvolvido pelos arquitetos Barthélémy Griño em 2015. Com área de 8700m², o prédio funciona como fábrica e escola de fabricação de calçados de luxo. A concepção do projeto foi baseada em duas intenções: fazer desaparecer o aspecto industrial que o espaço revela e criar um envoltório capaz de diminuir o peso formal da edificação. Para o primeiro aspecto, a estrutura da edificação é toda oculta, escondendo o aspecto fabril comum em espaço de mesmo uso. Para dinamizar a fachada, foram instalados, desde o solo, suportes de cedro vermelho natural que se repetem ritmicamente e funcionam como protetores solar. 32 Figura 12: Detalhe de ripas de madeira escondendo a estrutura do edifício. Fonte: Arnaud Schelstraete, 2016. Figura 13: Fachadas Fábrica Berluti Fonte: Arnaud Schelstraete, 2016. O ponto de destaque do projeto é o pátio coberto, que pode ser acessado assim que se entra na edificação. Essa ágora “conecta e distribui todos os espaços e congrega todos os ofícios, habilidades e conhecimentos técnicos entre si: desde corte, até costura, desde o polido ao protótipo, aproveitando a inteligência das mãos e a transmissão dos gestos no coração da fabricação. ” (BRANT, 2016) A cobertura é em material translúcido com grelhas de madeira que criam um efeito de sombra bastante interessante. Dele é possível observar o interior de diversos ambientes, como a sala de aula de fabricação, a sala de fototipagem e a sala de produção, criando uma relação intensa exterior-interior. 33 Figura 14: Ágora coberta Fonte: Arnaud Schelstraete, 2016. Figura 15: Ágora coberta Fonte: Arnaud Schelstraete, 2016. Vale destacar que mesmo os ambientes que não possuem contato direto com a ágora são dotados de grande interação com o exterior, pois contém grandes aberturas, do piso ao teto, funcionando como uma grande vitrine (Figura 16). O estudo da Fábrica Berluti possibilitou encontrar soluções formais e funcionais para o projeto do Centro Integrado de Moda, principalmente no que se refere ao uso de pátios. 34 Figura 16: Ambientes com grandes aberturas e contato com o exterior Fonte: Arnaud Schelstraete, 2016. 2.2.1 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (FAUSP) O prédio do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, projetado por João Batista Vilanova Artigas em 1961 e construída entre 1966 e 1969, possui predominância de linhas simples, uso do concreto e do vidro, além da grande integração dos espaços, através do uso de rampas, que interligam os seis pavimentos. A proposta central do projeto reside na ideia de continuidade espacial, que o grande vazio central explicita. Os seis pavimentos, ligados por suaves e amplas rampas de inclinações variáveis, dão a sensação de um só plano. (FRACALOSSI, 2011) Figura 17: Rampas prédio FAUSP Fonte: OWAR Arquitectos, via Archdaily, 2011. 35 O edifício consiste em um grande bloco de concreto sustentado por pilares em formato de trapézio duplo, consistindo em apoios leves quando comparados com o volume total da faculdade. Outro fator importante da edificação são os grandes espaços abertos, quepermitem e incentivam a convivência entre usuários. Além disso, é notável no projeto a presença do contato do interior com o exterior, através das grandes aberturas e vãos. Diante do exposto, analisando o edifício da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade São Paulo foi possível notar soluções para trabalhar com níveis diferentes em um mesmo projeto, além do contato com o exterior, mesmo com um volume tão “pesado” esteticamente. Figura 18: FAUSP Fonte: Fernando Stankuns, via Archdaily, 2011. Figura 19: Biblioteca FAUSP – Contato interior/exterior Fonte: OWAR Arquitectos, via Archdaily, 2011. 36 2.3 Compilação dos estudos de referências Os estudos de referências realizados contribuíram para o processo de desenvolvimento do projeto, pois possibilitaram conhecer aspectos funcionais e formais para o uso proposto. As contribuições foram sintetizadas na tabela abaixo: Tabela 1: Síntese dos estudos de referência Síntese dos estudos de referência ESTUDO CONTRIBUIÇÃO Ateliê Curso Design de Moda Conhecimento de fluxos, mobiliário, atividades realizadas, conceito “vitrine”, programa de necessidades, dimensões, quantidade de usuários, cursos; Fábrica Berluti Conceito de “vitrine”, contato exterior, pátio centra, ambientes com grandes aberturas; FAU- USP Solução de planta: níveis diferente, uso de rampas para ligação dos pavimentos, contato interior/exterior Fonte: Elaborado pela autora. 37 3. CONDICIONANTES PROJETUAIS Este capítulo contém os condicionantes projetuais que serviram de diretrizes para a realização deste anteprojeto, divididos em três tipos: físicos-ambientais, legais e funcionais. O primeiro relata sobre as condições gerais do local de implantação, quanto a questões de conforto, medidas e entorno. O segundo, apresenta a legislação incidente no universo de estudo, e o último descreve os aspectos ligados a funcionalidade, zoneamento e programa de necessidades. 3.1 Condicionantes físico-ambientais O aspecto norteador para escolha da área de intervenção foi a intenção de atrair públicos de diversas áreas da cidade devido ao uso proposto, sendo assim é necessário que seja de fácil acesso, exigindo a presença de transporte público nas imediações. Além disso, por se tratar de um espaço educacional, é importante a proximidade com outros serviços que sirvam de apoio aos estudantes, como restaurantes. Sendo assim, o primeiro terreno escolhido para estudo, com cerca de 2000m², localiza-se no Bairro de Lagoa Nova, próximo à praça da árvore de Mirassol, no cruzamento das avenidas Governador José Varela e Miguel Alcides de Araújo, próximo aos shoppings Via Direta e Natal Shopping, além de supermercados como o Carrefour e Hiper Bompreço. Entretanto, após realização do programa de necessidades básico para a proposta, que será explanado posteriormente, observou-se que a área seria insuficiente para a instalação do anteprojeto. Sendo assim, foi necessário estudar outra área de intervenção. Figura 20: Primeiro terreno de estudo Fonte: Google, 2017. Nota: Adaptado pela autora 38 Objetivando manter os princípios de escolha estabelecidos anteriormente, o segundo terreno selecionado localiza-se no bairro de Capim Macio, na mesma Avenida Governador José Varela na qual se situa o primeiro. Possui ainda limites com mais duas vias: Rua Professor Leví Higino Jales e Rua Adolfo Ramires. Localiza-se ainda muito próximo da Avenida Engenheiro Roberto Freire, uma das principais da cidade, que possui mobilidade facilitada, dada a presença de paradas de ônibus próximas ao terreno e que servirão aos usuários deste estudo. Figura 21: Localização terreno – Mapa Natal/Mapa Capim Macio Fonte: Google, 2017. Nota: Adaptado pela autora Figura 22: Terreno e entorno de serviços Fonte: Google, 2017. Nota: Adaptado pela autora 39 O terreno escolhido possui formato de trapézio com testadas de dimensões variadas, totalizando 11.335,35m² de área. Possui lotes adjacentes apenas em uma das fachadas, e estes possuem fachada frontal para a Avenida Engenheiro Roberto Freire (como mostra a Figura 23. A topografia varia da cota de altura 41 metros em relação ao nível do mar até a 43 metros, sendo que quase a totalidade do terreno está inserida entre as cotas 41m e 42m. Entretanto, em virtude das grandes dimensões, o desnível do lote torna-se pequeno, sendo mais severo apenas na testada adjacente aos outros lotes (como pode ser observado na Figura 24). Figura 23: Dimensões terreno Fonte: Semurb, 2005. Nota: Adaptado pela autora Figura 24: Curvas de nível do terreno Fonte: Semurb, 2005. Nota: Adaptado pela autora 40 No lote, é possível notar a presença de uma grande massa verde na porção sul, próxima à rua Adolfo Ramires. Pretende-se, neste trabalho manter a vegetação existente como solução de conforto térmico, servindo de sombreamento para o projeto (Figura 25 e Figura 26). Figura 25: Terreno com destaque para massa verde Fonte: Google, 2017. Nota: Adaptado pela autora Figura 26: Vista da Rua Adolfo Ramires (massa verde do terreno) Fonte: Google, 2017. Nota: Adaptado pela autora Sobre a análise bioclimática, o universo de estudo está inserido na Zona Bioclimática 08, segundo a NBR 15220 – Desempenho térmico de edificações. Para essa zona, a norma recomenda grandes aberturas sombreadas direcionadas para os ventos predominantes e o uso de ventilação cruzada como condicionamento térmico passivo. Quanto a insolação, as duas menores testadas do lote possuem maior incidência solar, pois estão voltadas para Leste e Oeste. Acerca dos ventos, em Natal, os predominantes são da 41 direção sudeste e leste. Sendo assim, ao sobrepor a Rosa dos ventos da cidade no terreno observa-se a predominância destes no sentido da massa de vegetação existente, como demonstra a Figura 27. Figura 27: Rosa dos ventos aplicada no terreno Fonte: Google, 2017. Nota: Adaptado pela autora 3.2 Condicionantes legais Aqui, serão explanadas as legislações e normas pertinentes ao projeto que incidem na área de estudo. Essas premissas são condicionantes para o desenvolvimento deste anteprojeto, restringindo ou direcionando o processo projetual. Os documentos utilizados foram: Plano Diretor de Natal (2007), Código de Obras da cidade (2004), Código de Segurança Contra Incêndio e Pânico do Estado do Rio Grande do Norte e NBR 9050 (2015). 3.2.1 Plano Diretor de Natal O Plano Diretor de Natal, regulamentado pela Lei Complementar Nº082 de 21 de junho de 2007, tem como objetivo garantir o “desenvolvimento das funções sociais, e ambientais da cidade e da propriedade”. Segundo o Macrozoneamento do referido documento, o lote em estudo está inserido em uma Zona de Adensamento Básico, com coeficiente de aproveitamento básico de 1,2. Além disso, localiza-se na Área de Controle do Gabarito do Entorno do Parque das Dunas, onde, mesmo sendo permitido o adensamento, existe um controle quanto ao gabarito máximo admitido, objetivando 42 preservar o valor cênico-paisagístico da região. Segundo o Quadro II do Anexo I do Plano, o maior gabarito consentido para o terreno é 6m. Quanto às prescrições urbanísticas para a área, as taxas de ocupação e impermeabilização máximas são de 80%. Os recuos mínimos são: frontal de 3 metros; lateral de 1,5 metro e posterior não obrigatório. Entretanto, como o lote possui limite com as vias em três testadas, possui três recuos frontais e um posterior. Considerando a área total do terreno de 11335.35m², tem – se os seguintes valores na tabela abaixo: Tabela 2: Prescrições urbanísticas para o lote em estudo Prescrições urbanísticas Coeficiente de Aproveitamento 1,2 Recuos Frontal: 3,00 metros Posterior: não obrigatório Taxa de ocupação Máxima: 80% (9.068.28m²) Taxa de impermeabilização Máxima: 80% (9.068,28m²)Gabarito Máximo: 6m Fonte: Elaborada pela autora, 2017. 3.2.1 Código de Obras de Edificações do Município de Natal Este documento está regulamentado sob a Lei Complementar nº 055 de 27 de janeiro de 2004, e propõe diretrizes visando o conforto do usuário quanto a edificação e sua relação com o meio urbano. Para este estudo, foram aplicados os direcionamentos do Título III, que tratam sobre Normas específicas das Edificações. Segundo o Código é obrigatório em todos os projetos a presença de estacionamento, com acesso pela via de menor hierarquia e dimensões mínimas de vaga de 2,40m por 4,50m. Todas as vias limítrofes do lote são locais (Figura 28), sendo assim o acesso pode ocorrer por qualquer uma das vias. 43 Figura 28: Classificação das vias segundo Código de Obras de Natal, 2004. Fonte: Google, 2017. Nota: Adaptado pela autora De acordo com a Tabela do Anexo III do documento, para esta edificação, do tipo 11 (Escola do 2º grau, curso preparatório e ensino técnico) com acesso por vias locais, contabiliza-se 1 vaga a cada 70m² de área construída, além de exigir embarque, desembarque e casa de lixo. Para o cálculo das vagas, tem- se que: 1 vaga a cada 70 m² Área construída: 3.548,23m² Total de vagas: 51 Segundo o anexo II do mesmo documento, que explana sobre o Dimensionamento das formas de acesso, para vias Locais, com necessidade de menos de 60 vagas, a opção de acesso mínima que deve ser prevista é a do tipo “a”, como demonstrado na Figura 30. Figura 29: Dimensionamento das formas de acesso Fonte: Código de Obras, 2004. Nota: Adaptado pela autora 44 Figura 30: Opção de acesso “a” ao estacionamento. Fonte: Código de Obras, 2004. Nota: Adaptado pela autora O Código ainda determina que todos os ambientes da edificação tenham aberturas direcionadas para a rua, pátio ou recuo. Além disso, elas devem ter no mínimo 1/6 da área do ambiente (para longa permanência) ou 1/8 em lugares de curta permanência. Desta maneira, todos os espaços propostos neste trabalho atendem à esta determinação. 3.2.2 Código de Segurança contra incêndio e pânico do Rio Grande do Norte Essa legislação determina os critérios mínimos necessários para manter a segurança das edificações quanto a incêndio no Estado do Rio Grande do Norte. Segundo o documento, o anteprojeto aqui proposto classifica-se como “Reunião Pública”, de Risco II e “A” (quanto à ocupação). Para edifícios desta classe, o código faz as seguintes orientações pertinentes a este caso de estudo: Os ambientes devem dispor de renovação de ar através da ventilação natural; Deverá dispor de sistema de iluminação de emergência; As portas de saída de emergência deverão ter abertura no sentido de saída e destravamento por barra antipânico; Utilização de guarda-corpo nas sacadas, rampas e escadas, em material resistente, evitando-se quedas acidentais; Além disto, as edificações desta classificação devem atender às exigências de dispositivos de proteção contra incêndio quanto a altura e área construída. No caso, para edificações 45 com altura menor que seis metros, com área construída superior a 750 m², orienta-se, no que tange em relação a este estudo: Prevenção fixa (hidrantes); Prevenção móvel (extintores de incêndio); Sinalização; Instalação de hidrante público; Para abastecer a rede de hidrantes é necessário determinar uma reserva técnica de incêndio que será adicionada ao reservatório superior de água, e seja capaz de suprir os pontos de hidrantes durante 30 minutos (para áreas construídas de até 20 mil m², segundo o documento). O cálculo da capacidade é realizado de acordo com a fórmula: R = Q. T. H, onde: R= reserva mínima Q= vazão T= tempo H= quantidade de hidrantes O Código determina para risco II e “A”, a vazão de 180L/min e o uso de dois hidrantes simultaneamente. Desta maneira, o cálculo será: R = Q. T. H R = 180. 30. 2 R = 10.800L 3.2.3 ABNT – NBR 9050 (2015) A NBR 9050, de 2015, denominada “Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos”, determina critérios que prevêem o emprego de acessibilidade em projetos, edificações novas, reformas, tanto no meio urbano quanto no rural, objetivando a inclusão e o acesso de todas as pessoas às edificações e equipamentos. Neste tópico serão apresentados critérios de maior relevância para o estudo proposto no limite determinado de anteprojeto. Vagas: A norma estabelece que sejam reservadas vagas para idosos e para pessoas deficientes. No primeiro caso, devem estar posicionadas próximas aos acessos, buscando o menor percurso, e orientar observar a Resolução 303/08 do CONTRAN sobre a quantificação das 46 vagas para esse público (realizada a partir do Estatuto do Idoso): mínimo 5% do total. Desta forma, para o estacionamento do ATelier, serão necessárias no mínimo 3 vagas para idosos, já que o total calculado no item 3.2.1 é de 51 vagas. Para as vagas de pessoas com deficiência, a NBR prevê a instalação de uma faixa de 1,20m de circulação ao lado do espaço para o carro, que pode ser compartilhada por duas vagas. Além disso, ordena a observação da Resolução 304/08 do Contran acerca da quantificação das vagas: 2% do total de vagas, o que significa 2 vagas. Rampas: São consideradas rampas, segundo a norma 9050/2015, todos os percursos com inclinação superior a 5%. Uma rampa pode ser inclinada até no máximo 8,33%, dependendo do desnível que vence, assim como pode variar a quantidade de segmentos permitidos para cada uma, como pode ser observada na Figura 31 . As rampas curvas (presentes no anteprojeto do estudo), o raio mínimo é de 3m, medido no perímetro interno da curva. Para o cálculo da inclinação, utiliza-se a fórmula: i = h x 100/c, onde: i= inclinação h= o desnível a ser vencido c= comprimento horizontal da rampa. Figura 31: Dimensionamento de rampas Fonte: NBR 9050/2015. Nota: Adaptado pela autora Ainda sobre rampa, sua largura mínima recomendável é de 1,50m, porém a medida mínima aceitável é 1,20m. Além disso, a norma prevê a obrigatoriedade da presença de corrimãos em duas alturas de cada lado (0,92m e 0,70m), guarda corpo mínimo de 1.05m (quando não há presença de paredes laterais), assim como a instalação de guias de balizamento com altura mínima de 0,05m (Figura 32). 47 Figura 32: Detalhe de rampa Fonte: NBR 9050/2015. Nota: Adaptado pela autora Acerca dos patamares, devem possuir dimensão longitudinal mínima de 1,20m, e previstos no início, fim e quando houver mudança de direção na rampa (obedecendo a largura desta). Acessos/circulações: A NBR determina que todas as edificações possuam entradas acessíveis, bem como as rotas que fazem a ligação das calçadas e estacionamentos ao edifício. Para os acessos, as portas devem possuir vão livre mínimo de 0,80m e altura de 2,10m. Sobre os percursos acessíveis, a largura mínima recomendável de faixa livre é 1,50m, sendo aceito 1,20m. Vale salientar que a trajetória máxima percorrida do estacionamento ao acesso principal do equipamento não deve ser superior a 50m. 3.3 Condicionantes funcionais 3.3.1 Público alvo Para iniciar o desenvolvimento do programa de necessidades e pré-dimensionamento, faz-se necessário a definição do público alvo. Neste caso, seria qualquer pessoa interessada pelos cursos oferecidos, além de empresas, marcas ou profissionais que se interessem em utilizar o espaço para eventos relacionados à moda, como desfiles, exposições fotográficas e outros. Sobre a quantidade de usuários, foi instituído realizar os estudos e dimensionamentos para 268 alunos por turno (a decisão projetual sobre a capacidade máxima para um turno girou em torno de 250 alunos, em virtude dos estudos direto e de referências, entretanto, dificilmente todas as salas estarão ocupadas com a quantidade máxima),além de 10 48 funcionários (3 de limpeza, 1 secretário, 1 coordenador, 1 diretor, 1 para os recursos humanos, 1 para financeiro, 2 recepção – térreo e superior), e 8 professores. 3.3.2 Programa de Necessidades e Pré- dimensionamento O programa de necessidades foi definido a partir do estudo direto realizado na sala de Ateliê do curso de Design de Moda da Universidade Potiguar, explicado no item 2.1.1. Através dele foi possível notar que é possível uma mesma sala comportar várias etapas do processo de produção da moda, desde que possua um layout bem funcional. Entretanto, ao contrário do curso da UNP, que foi organizado dentro das instalações já existentes do prédio, o edifício proposto neste trabalho final de graduação consiste em um equipamento destinado ao tema, e por isso deseja-se que possua salas específicas para cada etapa, representando uma cadeia de produção. Tabela 3: Programa de necessidades PROGRAMA DE NECESSIDADES Recursos humanos Atelier Espaço Multiuso Sala reunião Salas de aulas comuns Almoxarifado Coordenação Biblioteca Depósito Secretaria Lab. Informática Casa de lixo Diretoria Sala Professores Sala de Controle Financeiro Xerox Vestiários/banheiros Lab. costura Cantina Copa Lab. modelagem Loja Convivência (func) Fonte: Elaborado pela autora. Após a definição do programa de necessidades, do público alvo, e do estudo direto, foi possível produzir o pré-dimensionamento. Com ele, é possível ter noção da área necessária do projeto e assim organizar os ambientes em setores. Para definir as áreas de cada ambiente, considerou-se as diretrizes elaboradas pelo CETEC Paula Souza, e o mobiliário. A seguir se encontram as tabelas com o pré-dimensionamento organizado por setor. 49 Tabela 4: Pré-dimensionamento setor administrativo SETOR ADMINISTRATIVO AMBIENTE ÁREA (UNID) Quant ÁREA TOTAL Recursos humanos 15 1 15 Coordenação (pedagógica e de estágio) 13 1 13 Secretaria 13 1 13 Diretoria 13 1 13 Financeiro 13 1 13 Sala reunião 20 1 20 TOTAL 87 Fonte: Elaborado pela autora. Tabela 5: Pré-dimensionamento setor educação SETOR EDUCAÇÃO AMBIENTE ÁREA (m²) Quant ÁREA TOTAL (m²) Lab Costura 100 2 200 Lab Modelagem 100 2 200 Salas de aula comuns 80 4 240 Lab Informática 80 2 160 Ateliê 100 2 200 Biblioteca 60 1 60 Sala Prof 35 1 35 Banheiro Masc 16 1 16 Banheiro Fem 16 1 16 Banheiro Adap 4 2 8 TOTAL 1115 Fonte: Elaborado pela autora. Tabela 6: Pré-dimensionamento setor técnico SETOR TÉCNICO AMBIENTE ÁREA(m²) Quant ÁREA TOTAL (m²) Almoxarifado 5 1 5 50 Depósito 20 1 1 Casa Lixo 9 1 9 Sala controle 12 1 12 TOTAL 27 Fonte: Elaborado pela autora. Tabela 7: Pré-dimensionamento setor funcionários SETOR FUNCIONÁRIOS AMBIENTE ÁREA (UNID) Quant ÁREA TOTAL Vestiário Fem 16 1 16 Vestiário Masc 16 1 16 Vestiário Adap 7 2 14 Copa 16 1 16 Convivência/Descanso 12 1 12 TOTAL 74 Fonte: Elaborado pela autora. Tabela 8: Pré-dimensionamento setor apoio SETOR APOIO AMBIENTE ÁREA (m²) Quant ÁREA TOTAL(m²) Xerox 10 1 10 Loja Aviamentos + papelaria 15 1 15 Cantina 20 1 20 Banheiro Fem 16 1 16 Banheiro Masc 16 1 16 BWC Adap 4 2 8 Espaço Multiuso + Convivência 1000 (capac receber desfile para 400 espectadores) 1 1500 TOTAL 1085 Fonte: Elaborado pela autora. A área total estimada no pré-dimensionamento (2276m²) não prevê circulações verticais e horizontais, representadas pelas rampas e corredores, respectivamente, nem as áreas 51 das paredes, além de espaços acrescidos por decisões projetuais, como é o caso da laje de conivência. Por essas razões, a área final do projeto (3548,23 m²) foi superior ao previsto. 3.3.3 Zoneamento O Zoneamento do projeto teve como ponto de partida a intenção de manter a massa verde existente no terreno, o melhor aproveitamento dos ventos, e a criação de um pátio descoberto para utilizar o conceito de “vitrine” (onde se cria um contato visual do interior com o exterior). Considerando a orientação solar, onde o sol nasce em Leste e se põe em oeste, e os ventos predominantes em Natal que são de Leste e Sudeste, principalmente, a disposição das salas de aula e laboratórios, lugares de maior permanência e uso principal do edifício, foi feita de modo a privilegiá-los quanto ao conforto térmico. Na Figura 33 é possível como o sol e os ventos se comportam dentro do terreno escolhido para implantação. Figura 33: Projeção solar e ventos predominantes no lote em estudo Fonte: Elaborado pela autora, 2017. O desejo principal era a criação de um pátio central descoberto, a partir disso, na proposta de zoneamento a melhor localização dos laboratórios quanto ao conforto e intenções projetuais, foi na porção mais sudeste e nordeste, no térreo, implantados em formato de “L”, objetivando aproveitar a vista para o pátio proposto e vegetação existente, enquanto que as salas de aulas convencionais ficaram no pavimento superior com orientação também sudeste. Próximo ao setor de educação foi locado o setor de apoio, pois ele contém os ambientes que contribuem para o melhor funcionamento do 52 primeiro. Entretanto, apenas a cantina foi zoneada na parte externa e mais distante do resto do setor, pois servirá de ponto de atração dos usuários para o pátio externo. Os setores de funcionários e técnicos também foram pensados no térreo: para acesso direto e facilidade de fluxos. O setor administrativo foi locado no primeiro pavimento para criar certa privacidade, pois os usuários em geral não necessitam de um contato diário com estes ambientes. Acerca do estacionamento, sua localização foi definida em virtude de sua área, pois demanda um grande de espaço para ser acomodado com a quantidade de vagas previstas de acordo como Código de Obras de Natal. Sendo assim o único local que caberia sem interferência no volume da edificação seria onde foi pensado. Com base nos estudos do tópico 3, o zoneamento foi evoluindo juntamente com a disposição dos ambientes previstos no programa de necessidades, a legislação incidente e as questões físico-ambientais e configurou-se como as figuras 34 e 35. Figura 34: Zoneamento Final – Pavimento térreo Fonte: Elaborado pela autora 53 Figura 35: Zoneamento final – Pav. Superior Fonte: Elaborado pela autora 54 4. PROCESSO PROJETUAL O processo projetual baseou-se na metodologia do livro Adoção do Partido na Arquitetura, onde Laert Neves relata três fases para o desenvolvimento de um projeto, o chamado planejamento arquitetônico: o primeiro consiste na coleta e análise das informações básicas através de fontes variadas que ajudarão a desenvolver o partido arquitetônico; o segundo, denominado de pelo autor de “ato criador”, é a fase de “transpor para o papel, para as plantas, na linguagem própria do desenho, a solução arquitetônica correspondente à formulação conceitual do projeto” (NEVES, 1989. p. 12), é nela que se produz o partido arquitetônico. Enquanto que a última etapa, a da solução formal, representa o desenvolvimento do projeto executivo, com toda a precisão que não surgiu no partido. Assim, após a etapa de coleta de dados, neste tópico será explanada a etapa “ato criador” para proposta do ATelier. 4.1 Conceito e Partido arquitetônico O primeiro passo para iniciar o desenvolvimento do projeto é a definição do conceito. Neste estudo, ele está intimamente relacionado à atividade praticada no edifício: os moldes. Desenvolvidos durante o processo de produção do vestuário, essas peças confeccionadas em papel são a base para a confecção da maioria das vestimentas, a partir delas o trabalhador transporta o formato para o tecido final e assim, encaixando-as umas às outras, compõem a roupa e pode reproduzi-la quantas vezes desejar. Os moldes possuem muitas curvas, predominância de formas orgânicas
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