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Cidadesmediasinteracoes-Nascimento-2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CIDADES MÉDIAS, INTERAÇÕES ESPACIAIS E DESENVOLVIMENTO 
REGIONAL: UM OLHAR PARA O ESTADO DO CEARÁ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal/RN 
2021 
 
 
CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CIDADES MÉDIAS, INTERAÇÕES ESPACIAIS E DESENVOLVIMENTO 
REGIONAL: UM OLHAR PARA O ESTADO DO CEARÁ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao curso de Pós-
Graduação em Economia da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, como 
requisito parcial à obtenção do título de Mestre 
em Economia. Área de concentração: 
Economia Regional. 
 
Orientador: Prof. Dr. William Eufrásio Nunes 
Pereira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal/RN 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
 
 Nascimento, Carlos Eduardo Pereira do. 
 Cidades médias, interações espaciais e desenvolvimento 
regional: um olhar para o estado do Ceará / Carlos Eduardo 
Pereira do Nascimento. - 2021. 
 152f.: il. 
 
 Dissertação (Mestrado em Economia) - Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, 
Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas. Natal, RN, 
2021. 
 Orientador: Prof. Dr. William Eufrásio Nunes Pereira. 
 
 
 1. Desenvolvimento Regional - Ceará - Dissertação. 2. Cidades 
Médias - Dissertação. 3. Multiescalaridade - Dissertação. 4. 
Globalização - Dissertação. 5. Economia Regional - Dissertação. I. 
Pereira, William Eufrásio Nunes. II. Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. III. Título. 
 
RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 332.1(813.1) 
 
 
 
 
 
Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 
 
 
CARLOS EDUARDO PEREIRA DO NASCIMENTO 
 
 
CIDADES MÉDIAS, INTERAÇÕES ESPACIAIS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: 
UM OLHAR PARA O ESTADO DO CEARÁ 
 
 
Dissertação apresentada ao curso de Pós-
Graduação em Economia da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, como 
requisito parcial à obtenção do título de Mestre 
em Economia. Área de concentração: 
Economia Regional. 
 
 
Aprovada em: 23 de abril de 2021. 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
 
 
______________________________________ 
Prof. Dr. William Eufrásio Nunes Pereira 
Orientador 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
 
 
______________________________________ 
Prof. Dr. Denilson da Silva Araújo 
Examinador Externo ao Programa 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
 
 
______________________________________ 
Prof. Dr. Francisco do O’ de Lima Junior 
Examinador Externo à Instituição 
Universidade Regional do Cariri 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, pelo carinho, amor e dedicação contínuos. 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradecer aqueles(as) que nos incentivam e nos ajudam a remar contra as correntezas 
da vida, seja qual for a empreitada, é sempre um momento de alegria e retribuição pelos bons 
e maus momentos compartilhados. Antes de tudo, agradeço ao bom e grandioso Deus por me 
proporcionar mais essa conquista; por sempre me rodear de pessoas de uma energia incrível, 
antes, durante e após a conclusão do mestrado (levarei vocês comigo para onde for). 
A minha mãe, Sonia, e a meu pai, Gilberto, pelo carinho, amor e dedicação 
incondicionais. Por sempre acreditarem e terem fé em mim. Amo vocês com todo o meu 
coração! A minha querida irmã, Samia que, a despeito das discussões diárias, sempre me faz 
rir e torce pelo meu sucesso. Uma ótima companhia (às vezes) para assistir filmes. Te amo, 
irmã! 
Ao meu orientador/amigo, prof. William Pereira, pelas orientações, ensinamentos, 
conversas informais, puxões de orelha. Por me ajudar a entender a qual área de pesquisa 
pertenço e, sem dúvida, suas aulas de economia regional e as discussões suscitadas no Grupo 
de Estudos do GEPETIS me deram as respostas que eu precisava. Também, por me ajudar a 
avançar a próxima fase da minha vida, o doutorado. Sua ajuda foi muito significativa e sou 
grato por isso. 
Agradeço a excelente banca examinadora formada pelos professores Lima Junior e 
Denilson. Aos senhores, muito obrigado pelas considerações, as quais me ajudaram a 
melhorar e enriquecer esta dissertação. Um agradecimento especial a Lima pela contínua 
assistência, pelos ensinamentos, por tudo que apreendi ao longo da graduação e da pós-
graduação e também pela ajuda com o projeto de tese de doutorado. Você é, sem dúvida, uma 
das minhas inspirações a seguir a carreira acadêmica. 
Agradeço as pessoas maravilhosas que o mestrado me permitiu conhecer, e que pude 
compartilhar ótimos momentos nos últimos dois anos, além das trocas de ideias, parcerias 
cientificas e, o mais importante, dos momentos divertidos e espontâneos que vocês me 
proporcionaram: Guilherme Brandão, Joana Priscila, Amanda Renally, Camila Medeiros, 
Marcelo Brandão, Danyelle Mestre, Denis Fernandes e Luiz Vinicius. Amizades que levarei 
comigo para sempre. 
Por fim, agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Economia (PPECO) e a 
todos(as) do corpo docente, em especial aqueles(as) que tive contato seja através das 
disciplinas, seja através de breves conversas; à Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
(UFRN) por me disponibilizar uma estrutura sensacional, através da biblioteca, das salas de 
 
 
estudo, do refeitório etc.; à cidade de Natal-RN por me receber de braços abertos; e grato a 
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de 
mestrado, código de Financiamento 001. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“O direito à cidade é muito mais do que o direito à moradia, é o direito a uma vida digna 
dentro de tudo aquilo que uma cidade pode proporcionar: escolas, postos de saúde, hospitais, 
praças, áreas verdes, água, esgoto, coleta de lixo, enfim, todos os equipamentos sociais e 
infraestrutura que possam tornar a vida urbana saudável e segura”. 
(BRAGA, R.; CARVALHO, P. F. de. Cidade: espaço da cidadania, 2004, p. 118). 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar as cidades médias cearenses enquanto 
agentes fundamentais no processo de promoção do desenvolvimento regional em suas áreas 
de influência numa perspectiva multiescalar. A metodologia tem base bibliográfica, fazendo 
uso dos métodos exploratório e descritivo com análise quali-quantitativa. O período de análise 
compreende as duas décadas do século XXI. O lócus de pesquisa é o estado do Ceará. A 
classificação e o critério estabelecidos para definir as cidades médias compreendem aquelas 
que possuem entre 75.000 e 500.000 habitantes. Destarte, foram definidas 11 cidades, a saber: 
Canindé, Crateús, Crato, Iguatu, Itapipoca, Juazeiro do Norte, Quixadá, Quixeramobim, 
Russas, Sobral e Tianguá. Conclui-se, portanto, que as cidades médias analisadas têm 
mecanismos para promover a regionalização do desenvolvimento, sendo pontos estratégicos 
e, no caso de algumas delas, já consolidados enquanto espaços de promoção às políticas de 
desenvolvimento regional, cada qual com suas dimensões espaciais. Além disso, algumas 
pesquisas que antecedem o REGIC 2007 (2008) já atestavam que algumas dessas cidades 
poderiam ser caracterizadas como cidades médias. 
 
Palavras-chave: Ceará. Cidades Médias. Desenvolvimento Regional. Multiescalaridade.ABSTRACT 
 
The present work has as its general objective to analyze the medium-sized cities of Ceará as 
fundamental agents in the process of promoting regional development in their areas of 
influence from a multiscale perspective. The methodology has a bibliographical base, making 
use of exploratory and descriptive methods with quali-quantitative analysis. The period of 
analysis comprises the two decades of the 21st century. The research locus is the state of 
Ceará. The classification and the criteria established to define medium-sized cities comprise 
those with between 75,000 and 500,000 habitants. Thus, 11 cities were defined, namely: 
Canindé, Crateús, Crato, Iguatu, Itapipoca, Juazeiro do Norte, Quixadá, Quixeramobim, 
Russas, Sobral and Tianguá. It is concluded, therefore, that the analyzed medium-sized cities 
have mechanisms to promote the regionalization of development, being strategic points and, 
in the case of some of them, already consolidated as spaces for the promotion of regional 
development policies, each one with its spatial dimensions. Moreover, some researches that 
preceded the REGIC 2007 (2008) already attested that some of these cities could be 
characterized as medium-sized cities. 
 
Keywords: Ceará. Medium-Sized Cities. Regional Development. Multiscalarity. 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1: Cidades médias cearenses definidas conforme classificação adotada ..................... 28 
 
Figura 2: Evolução urbana na Antiguidade. ............................................................................ 34 
 
Figura 3: Processo de implosão-explosão ............................................................................... 38 
 
Figura 4: Modelo da Teoria da Localização Agrícola de Von Thünen ................................... 54 
 
Figura 5: Localização ótima industrial através do modelo de triângulo locacional ................ 55 
 
Figura 6: A Teoria dos Lugares Centrais de Christaller .......................................................... 56 
 
Figura 7: O cone de Lösch....................................................................................................... 57 
 
Figura 8: Modelos de Christaller (esquerda) e adaptação por Lösch (direita). ....................... 58 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Quadro 1: Região de Influência de Cidades para o Ceará segundo REGIC (2008)................ 23 
 
Quadro 2: Regiões Geográficas Intermediárias e Regiões Geográficas Imediatas do Ceará .. 24 
 
Quadro 3: Região de Influência de Cidades para o Ceará segundo REGIC (2020)................ 25 
 
Quadro 4: A visão convencional das cidades médias (anos 1960): síntese dos principais 
aspectos ..................................................................................................................................... 87 
 
Quadro 5: Evolução e significados do conceito de cidade média ........................................... 89 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1: Estimativas da população das cidades médias cearenses entre 75.000 e 500.000 em 
2020 .......................................................................................................................................... 27 
 
Tabela 2: Cidades médias no Brasil*: 1950/2020 ................................................................... 93 
 
Tabela 3: Empregos totais nas cidades médias definidas no/do Ceará .................................... 98 
 
Tabela 4: Participação relativa nos empregos totais nas cidades médias definidas no/do Ceará
 ................................................................................................................................................ 144 
 
Tabela 5: Empregos por setores do IBGE nas cidades médias definidas do Ceará ............... 144 
 
Tabela 6: Empregos por grau de escolaridade nas cidades médias definidas do Ceará ........ 146 
 
Tabela 7: Empregos por faixa salarial nas cidades médias definidas no/do Ceará ............... 148 
 
Tabela 8: Empregos por tamanho dos estabelecimentos nas cidades médias definidas do 
Ceará ....................................................................................................................................... 150 
 
Tabela 9: PIB das cidades médias definidas no/do Ceará (2000/18)*, em R$ 1.000 ............ 151 
 
Tabela 10: Valor das exportações das cidades médias definidas no/do Ceará (2000/20), em 
valor FOB (US$) .................................................................................................................... 152 
 
Tabela 11: Valor das importações das cidades médias definidas no/do Ceará (2000/20), em 
valor FOB (US$) .................................................................................................................... 152 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
AP - Arranjo Populacional 
BNB - Banco do Nordeste do Brasil 
BM - Banco Mundial 
CVSF - Comissão do Vale do São Francisco 
CEPAL - Comissão Econômica para os Países da América Latina e Caribe 
CODENO - Conselho de Desenvolvimento do Nordeste 
CNDU - Conselho Nacional de Desenvolvimento Urbano 
CNPU - Conselho Nacional de Planejamento Urbano 
DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas 
FMDU - Fundo Municipal de Desenvolvimento Urbano 
FNDU - Fundo Nacional de Desenvolvimento Urbano 
GTDN - Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste 
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IPECE - Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará 
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
IAA - Instituto do Açúcar e do Álcool 
IES - Instituição de Ensino Superior 
IFCE - Instituto Federal do Ceará 
MHU - Ministério de Habitação e Desenvolvimento Urbano 
MICES - Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços 
NGE - Nova Geografia Econômica 
PIB - Produto Interno Bruto 
PLAMEG - Plano de Metas Governamentais 
PND - Plano Nacional de Desenvolvimento 
RAIS - Relação Anual de Informações Sociais 
ReCiMe - Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias 
REGIC - Região de Influência das Cidades 
RM Cariri – Região Metropolitana do Cariri 
RMF – Região Metropolitana de Fortaleza 
SM - Salário Mínimo 
SUDEC - Superintendência de Desenvolvimento do Estado do Ceará 
SUDENE - Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste 
UECE - Universidade Estadual do Ceará 
UFC - Universidade Federal do Ceará 
UFCA - Universidade Federal do Cariri 
UGI – União Geográfica Internacional 
UNESP - Universidade Estadual Paulista 
URCA - Universidade Regional do Cariri 
UVA - Universidade do Vale do Acaraú 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16 
2 METODOLOGIA ................................................................................................................ 21 
2.1 CRITÉRIOS E CLASSIFICAÇÃO DE DIVISÕES REGIONAIS ................................. 22 
2.2 CRITÉRIOS E CLASSIFICAÇÃO DAS CIDADES MÉDIAS: PROPOSTA 
METODOLÓGICA .............................................................................................................. 26 
3 O URBANO E A CIDADE E A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA REGIONAL ............ 30 
3.1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O URBANO E A CIDADE .............................. 30 
3.1.1 A constituição do urbano ....................................................................................... 30 
3.1.2 A cidade e suas versões .......................................................................................... 33 
3.2 ECONOMIA, REGIÃO E DESENVOLVIMENTO ....................................................... 47 
3.2.1 Da gênese à construção da economia regional ..................................................... 50 
3.2.2 Espaço e economia: uma relação recente ............................................................. 59 
4 GLOBALIZAÇÃO, INTERAÇÕES ESPACIAIS E AS (NOVAS) FUNÇÕES DAS 
CIDADESMÉDIAS ............................................................................................................... 69 
5.1 GLOBALIZAÇÃO, INTERAÇÕES ESPACIAIS E MULTIESCALARIDADE .......... 70 
5.2 CIDADES MÉDIAS: APONTAMENTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS .................. 80 
5 DINÂMICA ECONÔMICA, CIDADES MÉDIAS E DESENVOLVIMENTO 
REGIONAL: UM OLHAR PARA O CEARÁ .................................................................... 95 
5.1 MERCADO DE TRABALHO NO CEARÁ EM ANOS SELECIONADOS .................. 98 
5.2 ESTRUTURA PRODUTIVA E A BALANÇA COMERCIAL .................................... 112 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 123 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 129 
APÊNDICE ........................................................................................................................... 143 
 
 
 
16 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O urbano e a cidade, frutos das relações sociais, revelam-se importantes no debate 
espacial. Salienta-se, dessa forma, o papel do urbano na constituição da cidade enquanto 
espaço de produção e poder e como lócus da reprodução social. Assim, a urbanização 
acompanha a evolução da cidade em suas novas configurações historicamente consolidadas 
(LEFEBVRE, 2001, 2002, 2011; MONTE-MÓR, 2006a, 2006b). 
Nessa perspectiva, observa-se a complexidade do que é cidade e do que ela vem a ser 
sob a égide das transformações promovidas pelo ser humano e pelo capital. Sem previsões 
exatas sobre seu surgimento, admite-se que muitos períodos são mencionados pelos(as) 
pesquisadores(as), apesar de situarem a origem das cidades na região da Mesopotâmia. 
Enquanto expressão da produção social, a cidade tem passado por transformações 
relacionadas aos modos de produção. De espaço de reflexão e debate político na Grécia 
Antiga, a espaço-mercadoria; ambiente de acumulação e reprodução do capital, um espetáculo 
à economia mundial. Seu papel aumenta com o tempo, principalmente em meados do século 
XX, com as atenções às desigualdades regionais, o forte adensamento populacional e 
produtivo nos grandes centros urbanos mundiais e as mudanças tecnológicas e informacionais 
(CARLOS, 1997; SPÓSITO, 1988). 
Nesta lógica, a questão regional ganha corpo nos debates políticos e econômicos a 
partir da II Guerra Mundial, mais especificamente anos 1950, ressaltando, à luz das 
reconstruções dos países europeus e o Japão, as desigualdades entre e dentro das nações. Tal 
questão encontra-se na base dos estudos da Teoria Clássica da Localização, na constituição 
incipiente da Ciência Regional, nas Teorias de Desenvolvimento Regional pautadas nas 
Aglomerações Produtivas e na Nova Geografia Econômica (NGE), intensificadas, 
principalmente após o referido período (BENKO, 1999, 2002; MONASTÉRIO; 
CAVALCANTE, 2011). A evolução teórica no que concerne a questão regional suscitou o 
debate sobre as cidades à luz das novas estruturas socioespaciais e econômicas preconizadas a 
partir desse contexto e suas repercussões sobre os novos papeis auferidos por elas. 
Destarte, o desenvolvimento regional tornou-se um tema recorrente e buscado pelas 
nações desde os anos 1950 via planejamentos estratégicos. Assim, a questão regional e a 
cidade tomaram destaque nas políticas urbanas e econômicas. A relação entre esses objetos 
evidencia também a complexidade e as inúmeras formas e terminologias conceituais. Nesse 
17 
 
sentido, ela expressa a divisão socioespacial do trabalho e o aprofundamento da dinâmica 
espacial presente na identidade e interação sociais nas diversas escalas. 
Nesse contexto, a multiplicidade e complexidade das ações e funções que a cidade 
aufere ao longo do tempo deve-se ao forte protagonismo por ela adquirido nas diversas 
esferas da sociedade. A globalização trouxe transformações em larga escala e em toda parte. 
Corolário disto, a configuração espacial tomou complexidades significativas nas relações 
socioespaciais, modificando as relações entre as escalas geográficas. Com isso, os territórios 
nacionais transformam-se em espaços da economia internacional, movidos pelas relações 
sociais agora em escala mundial. A interação e/ou imbricação entre as escalas auxilia na 
compreensão do objeto enquanto sujeito que interage com o meio espacial, ou seja, evidencia 
o importante papel da multiescalaridade, da análise espacial sob a ótica de mais de uma escala 
(ALENTEJANO, 2001; BRANDÃO, 2004a, 2004b, 2012; BRENNER; JESSOP; JONES, 
2018; SANTOS, 1994). 
Nessa perspectiva, a análise espacial assume variáveis complexas, indicando as 
relações mais profundas e difusas entre as escalas e suas novas configurações tais como 
glocalização e cidade global, por exemplo, enfatizando que o uso multidimensional enriquece 
as dimensões coletiva e individualmente. Assim, entender o papel da cidade média para o 
desenvolvimento de um espaço seja qual for o nível escalar (no caso em questão, de uma 
região), é destacar a importância da análise multiescalar como mecanismo essencial para 
entender as transformações espaciais (BRENNER; JESSOP; JONES, 2018). 
Não obstante, a formação das cidades no quadro atual “tem na historicidade da 
construção e organização espacial, em seus contextos regionais de localização, as marcas que 
explicam” além de sua localização, “[...] a sua atual importância e peso regional, a partir de 
suas funções e papeis, sobre um determinado número de outras cidades” (LIMA, 2019, p. 75), 
ou seja, o papel de comando regional exercido por algumas cidades. Essa interação 
hierárquica ocorre nas diversas escalas. As dinâmicas intra e/ou inter-regionais que se dão 
entre as cidades marcam uma miríade de interações econômicas, espaciais, culturais, 
intensificando as relações de mercado, movimento pendular, elementos de infraestrutura e a 
circulação contínua de produtos, serviços e insumos (PORTO, 2003; LIMA, 2019). 
Nesse quadro, a discussão sobre cidades médias apresenta historicamente uma 
evolução, que assume pelo menos duas visões. A primeira está vinculada a questão 
dimensional e populacional da cidade, frisando o papel intermediador entre os pequenos e 
grandes centros. A segunda ganha força a partir da II Guerra Mundial, na Europa, pela 
18 
 
preocupação em superar os desequilíbrios e promover o desenvolvimento regional (COSTA, 
2000, 2002; LIMA; SILVEIRA, 2018). 
Considerando a heterogeneidade e complexidade que as redes urbanas auferiram, elas 
tomam diversas formas a partir de sua localização geográfica e função regional, as quais 
incorporam novas escalas, temáticas e métodos, descortinando uma série de contribuições e 
teorias, em decorrência de sua complexidade urbano-regional, além de sua diversidade 
inserida na lógica das diversas escalas (AMORIM FILHO, 2007; ARAÚJO; MOURA; DIAS, 
2011). 
Na década de 1960, surgem as villes moyennes
1
 e o aménagement du territoire
2
, as 
cidades médias francesas com o objetivo de melhor distribuir as atividades econômicas e 
garantir a eficácia econômica e atenuar o desequilíbrio regional
3
 (AMORIM FILHO, 2007; 
AMORIM FILHO; RIGOTTI, 2003; AMORIM FILHO; SERRA, 2001; ANDRADE; 
SERRA, 2001; FERRÃO; HENRIQUES; NEVES, 1994). À luz das teorias da Ciência 
Regional, a cidade, sobretudo, a cidade média, se apresenta como uma boa opção para 
fomentar o desenvolvimento regional. No Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, as 
unidades federativas auferiram certa autonomia político-administrativa, as cidades tomam 
destaque e se abrem à concorrência em busca de espaço na economia mundial através da 
abertura comercial. 
As cidades médias se mostram bons mecanismos de desenvolvimento regional. O 
grande debate sobre elas versa em sua classificação. O aspecto quantitativo já perdeu sua 
primazia como característica principal. A inserção de outras característicasenriqueceu o 
debate e modernizou a ideia de cidade média. Tanto que algumas cidades como Picos-PI e 
Pau dos Ferros-RN apresentam aspectos para além de suas características demográficas, 
configurando-as enquanto centros de influência regional, evidenciando a presença de cidades 
com aportes menores de 100.000 habitantes que tem potenciais forças de comando regional. 
Todavia, será que outras realidades no Brasil, como no caso cearense, também apresentam 
cidades médias caracterizadas não mais pelo adjetivo quantitativo delineado pelas instituições 
competentes, isto é, pelo interstício populacional apregoado pelo IBGE? Portanto, o debate 
sobre cidades, sobretudo cidades médias, está longe de se encerrar e isso alimenta a discussão 
 
1
 Cidades médias. 
2
 Planejamento urbano e regional. 
3
 Mesmo diante de diversas contribuições acerca do tema estudado, a escola francesa criou diversas bases para as 
cidades chamadas de médias e que, destarte, se configuram como a principal influência nos estudos sobre esta 
temática no Brasil, lembrando nomes como Amorim Filho a partir de 1973 (AMORA; COSTA, 2007; AMORIM 
FILHO, 2007). 
19 
 
e a interlocução multidisciplinares sobre este tema tão atual e recorrente (DANTAS; 
CLEMENTINO, 2013; LIMA, 2019). 
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo geral analisar as cidades 
médias cearenses enquanto agentes fundamentais no processo de promoção do 
desenvolvimento regional em suas áreas de influência numa perspectiva multiescalar. Os 
objetivos versam sobre apresentar concisamente a constituição da cidade mediante diversas 
perspectivas teóricas, enquanto construção humana histórica e social, além de não descartar a 
dinâmica intraurbana desse processo; apresentar o debate histórico-conceitual sobre espaço e 
região e sua relação com a economia; evidenciar a importância da multiescalaridade na 
formação e transformação dos espaços; caracterizar e definir as cidades médias no Ceará; 
discorrer sobre o papel de comando regional que as cidades médias exercem ou não sobre 
suas áreas de influência regional pela análise quali-quantitativa; e, por fim, analisar as cidades 
médias cearenses previamente definidas e seus papeis na promoção do desenvolvimento 
regional e se exercem funções de comando regional. 
Os objetivos elencados têm como papel primordial subsidiar conceitos referentes às 
cidades médias, que a antecedem e que evidenciam seu importante papel na constituição 
urbana e regional contemporânea. Analisando conceitual, histórica e multidisciplinarmente, a 
cidade, o urbano, a economia regional e as interações espaciais conformam um arcabouço 
significativo para melhor apresentar o papel de influência inter-regional que determinadas 
cidades com determinadas características que serão elencadas, exercem sob suas áreas 
contíguas (ou não). 
A metodologia pautar-se-á em pesquisa bibliográfica, fomentando o diálogo entre os 
principais autores das linhas de pesquisa sobre cidades, cidades médias, desenvolvimento 
regional e interações espaciais numa perspectiva multiescalar. Far-se-á uso dos métodos 
exploratório e descritivo (GIL, 2008; MARCONI; LAKATOS, 2003). O presente estudo tem 
como lócus de pesquisa as cidades médias cearenses previamente definidas. O recorte 
temporal de análise proposto segue as primeiras décadas do século XXI. Ademais, a análise é 
quali-quantitativa, no que tange as cidades cearenses analisadas a partir de microdados de 
instituições e agências credenciadas traçando links entre teoria e empiria. A ideia pauta-se na 
tentativa de delimitar, se constatada o comando regional, o nível de influência regional 
(microrregional, mesorregional ou maior do que estas). 
A estrutura da dissertação, excetuando a introdução e as considerações finais, será da 
seguinte forma: apresenta-se a metodologia através dos critérios e classificação das divisões 
regionais e das cidades médias, bem como a proposta para defini-las. O capítulo seguinte traz 
20 
 
breves considerações sobre o urbano e a cidade, uma análise sucinta sobre os conceitos de 
urbano e de cidade que auxiliem na construção inicial e contextualização dos capítulos 
seguintes deste trabalho, sobretudo para os conceitos e discussões sobre cidade e dinâmica 
intraurbana e se faz um resgate da evolução teórico-metodológica da economia regional, 
analisando os conceitos de espaço e região e sua relação com a economia e o 
desenvolvimento/desigualdade regional; o quarto capítulo preconiza a importância de se 
pensar o espaço e as interações socioespaciais na perspectiva multiescalar, evidenciando a 
importância da multiescalaridade na formação e transformação dos espaços e se faz um 
resgate histórico e conceitual sobre cidade média, caracterizando-as e definindo-as; por fim, 
fazem-se breves considerações acerca da formação da rede urbana do estado do Ceará, 
explicando a formação econômico-espacial das cidades cearenses, e análise sobre o papel de 
comando regional que as cidades médias exercem ou não sobre suas áreas de influência 
regional através da análise quali-quantitativa. 
 
 
 
 
 
21 
 
2 METODOLOGIA 
 
A metodologia pautar-se-á em pesquisa bibliográfica sobre a temática aqui abordada, 
fomentando o diálogo entre os principais autores das linhas de pesquisa sobre cidades, cidades 
médias, rede urbana, desenvolvimento regional e interações espaciais numa perspectiva 
multiescalar. 
Far-se-á uso dos métodos exploratório e descritivo, buscando, a partir de princípios 
reconhecidos como verdadeiros e abrangentes, chegar a novas conclusões; questionar 
conceitos e ideias buscando entender, delimitar, de forma mais apropriada o objeto de 
pesquisa (GIL, 2008). Além disso, pretende-se analisar as transformações da cidade, enquanto 
objetos em movimento, pois as coisas são sempre analisadas na qualidade de objetos em 
movimento; contínuos movimentos de transformação e desenvolvimento, ou seja, “passam 
por uma mudança ininterrupta de devir e decadência”, até que há de chegar o 
desenvolvimento progressivo (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 101). Portanto, o debate 
sobre cidades, sobretudo cidades médias, está longe de se encerrar e isso alimenta a discussão 
e a interlocução multidisciplinares sobre este tema tão atual e recorrente. 
Ademais, a análise é quali-quantitativa, no que tange as cidades cearenses analisadas a 
partir de microdados de instituições e agências credenciadas, tais como o Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará 
(IPECE), a Rede de Pesquisadores sobre Cidades Médias (ReCiMe), o Instituto de Pesquisa 
Econômica Aplicada (IPEA), a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), o Comex Stat 
do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MICES) dentre outros, traçando 
links entre teoria e empiria, na “obtenção de um sentido mais amplo para os dados analisados, 
o que se faz mediante sua ligação com conhecimentos disponíveis, derivados principalmente 
de teorias” (GIL, 2008, p. 178). A ideia pauta-se na tentativa de delimitar, se constatada o 
comando regional, o nível de influência regional (microrregional, mesorregional ou maior do 
que estas). 
O presente estudo tem como lócus de pesquisa as cidades médias cearenses definidas a 
partir do critério de classificação proposto na segunda subseção deste capítulo. O recorte 
temporal de análise proposto segue as primeiras décadas do século XXI, período em que as 
cidades médias ganham maior enfoque nas estruturas econômica e política no Brasil. 
Sobre a cidade e o urbano, a ideia é buscar uma apresentação concisa das diversas 
dimensões conceituais sobre as suas constituições. Para as cidades médias e o 
desenvolvimento regional, propõe-se entender sua formação teórica e material e sua 
22 
 
importância recente ao desenvolvimento observando a heterogeneidadeespacial e suas 
diversas aplicações à cidade a partir de estudos importantes atinentes a relação cidade-
desenvolvimento regional. 
Quanto à escala de análise, dar-se-á ênfase na escala regional, buscando compreender 
o nível de influência regional exercido pelas cidades médias cearenses definidas. Todavia, a 
análise intraurbana será incorporada ao trabalho, entendendo sua importância, pois na 
construção de um objeto de estudo complexo como a cidade média, é necessário que se 
resgate também as dinâmicas e relações intraurbanas (ARAÚJO; MOURA; DIAS, 2011). 
 
2.1 CRITÉRIOS E CLASSIFICAÇÃO DE DIVISÕES REGIONAIS 
 
Os estudos sobre rede urbana e classificações regionais remontam aos anos 1960. O 
IBGE elaborou diversas classificações de divisões regionais. Entre elas têm-se as Zonas 
Fisiográficas (1940/60), as Microrregiões e Mesorregiões Homogêneas (1968 e 1976, 
respectivamente) e as Microrregiões e Mesorregiões Geográficas (1990) (IBGE, 2017). 
Ademais, diversos artigos foram publicados na Revista Brasileira de Geografia tratando da 
regionalização do país, bem como trabalhos realizados por outras instituições de pesquisa 
como o IPEA, com a série Caracterização e Tendências da Rede Urbana do Brasil, dividida 
em seis volumes. 
Outra contribuição do IBGE está para o documento Região de Influência das Cidades 
(REGIC)
4
, com cinco publicações: 1972, 1987, 2000, 2008 e 2020 (IBGE, 1967a, 1967b, 
1967c, 1972, 1987; REGIC, 2008, 2020). Enfatizando os dois últimos trabalhos, em 2008, o 
IBGE lançou esse documento objetivando ilustrar as cidades e seus níveis de influência 
regional sobre outras cidades. Estas foram classificadas em cinco grandes níveis, os quais, por 
sua vez, foram subdivididos em dois ou três subníveis, a saber: Metrópole, Capital Regional, 
Centro Sub-regional, Centro de Zona e Centro Local. O estudo tem como metodologia a 
classificação dos centros e delimitação de suas áreas de atuação, privilegiando a função de 
gestão do território
5
 (REGIC, 2008). 
Além disso, em complementaridade e preparação para o trabalho seguinte, em 2020, o 
IBGE lançou mais dois trabalhos, Divisão Urbano-Regional (2013) e Redes e Fluxos do 
 
4
 Objetiva identificar e analisar a rede urbana brasileira, estabelecendo a hierarquia dos centros urbanos e as 
regiões de influência das cidades. 
5 Centro de gestão de território significa uma cidade onde estão localizados os órgãos do Estado e sedes de 
empresas que, direta ou indiretamente, influenciam sob o controle da cidade mediante as empresas nela sediadas 
(REGIC, 2008). 
23 
 
Território: Gestão do Território (2014), os quais traziam novas definições e classificações 
urbano-regionais e no que concerne à gestão do território. As contribuições foram 
identificações de três escalas de referência regional, sendo Regiões Ampliadas de Articulação 
Urbana, Regiões Intermediárias de Articulação Urbana e Regiões Imediatas de Articulação 
Urbana (IBGE, 2013) e na condução da gestão em diversas esferas (pública, privada e 
territorial) (IBGE, 2014). 
Para o Ceará, objeto de estudo deste trabalho, a divisão via REGIC (2008) ficou da 
seguinte forma: 
 
Quadro 1: Região de Influência de Cidades para o Ceará segundo REGIC (2008) 
CENTROS 
NÍVEIS DE HIERARQUIA DOS 
CENTROS 
CENTROS CEARENSES 
Metrópole Metrópole Fortaleza 
Capital Regional Capitais Regionais C 
Juazeiro do Norte-Crato-
Barbalha
6
 e Sobral 
Centro Sub-Regional 
Centros Sub-regionais A Crateús, Iguatu e Quixadá 
Centros Sub-regionais B Itapipoca 
Centro de Zona 
Centros de Zona A 
Acaraú, Aracati, Canindé, 
Icó, Limoeiro do Norte e 
Russas 
Centros de Zona B 
Brejo Santo, Camocim, Cruz, 
Guaraciaba do Norte, Ipu, 
Iracema, Itapagé, Jaguaribe, 
São Benedito, Senador 
Pompeu e Tauá 
Centro Local - Demais 158 cidades 
Fonte: Elaborado a partir do REGIC (2008). 
 
Conforme quadro acima, observa-se que as cidades com maior dinamismo, 
desconsiderando a metrópole Fortaleza, são Crato-Juazeiro do Norte-Barbalha e Sobral como 
Capitais Regionais C, sendo estes os principais polos regionais do estado. Ademais, tem-se 
como Capital Sub-regional A, Crateús, Iguatu e Quixadá, e como Capital Sub-regional B, 
Itapipoca. 
 
6 Mesmo não sendo considerada uma cidade média pela classificação adotada pelo IBGE, Barbalha assume tal 
papel, pois a conurbação Juazeiro do Norte-Crato-Barbalha apresenta uma consonância estrutural intrínseca às 
suas economias que se integram e interagem espacialmente. 
24 
 
Além destes, o IBGE, em 2017, lançou um documento online no qual preconiza as 
novas classificações para os limites e divisões regionais, chamado de “Novas Divisões 
Regionais do Brasil: Regiões Geográficas Imediatas e Regiões Geográficas Intermediárias”. 
Além da conhecida divisão por grandes regiões (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e 
Sul), há também outras divisões, tais como as microrregiões e mesorregiões. Na lógica deste 
trabalho, estas duas são substituídas pelas novas nomenclaturas regionais: Regiões 
Geográficas Imediatas e Regiões Geográficas Intermediárias, respectivamente. As primeiras 
são estruturadas mediante centros urbanos limítrofes no suprimento de necessidades imediatas 
à população, como o acesso a bens de consumo, serviços e emprego. Elas são limitadas a uma 
estrutura formada entre cinco e 25 municípios e formada por uma população mínima de 50 
mil habitantes. As segundas relacionam-se às Regiões Geográficas Intermediárias via um polo 
urbano superior, o qual apresenta funções urbanas complexas. 
A despeito das mudanças nas nomenclaturas e na composição das novas áreas 
regionais, este é um passo que leva tempo e que estas modificações serão absorvidas 
paulatinamente pela pesquisa e pela academia. Para o Ceará, a divisão é marcada pela 
existência de seis Regiões Geográficas Intermediárias (ante as sete mesorregiões) e 18 
Regiões Geográficas Imediatas (ante as 33 microrregiões). 
 
Quadro 2: Regiões Geográficas Intermediárias e Regiões Geográficas Imediatas do Ceará 
Regiões Geográficas 
Intermediárias 
Regiões Geográficas Imediatas 
Fortaleza Fortaleza, Itapipoca, Redenção-Acarape, Canindé e Itapagé 
Quixadá Quixadá, Russas-Limoeiro do Norte e Aracati 
Iguatu Iguatu e Icó 
Juazeiro do Norte Juazeiro do Norte e Brejo Santo 
Crateús Crateús e Tauá 
Sobral 
Sobral, São Benedito-Ipu-Guaraciaba do Norte-Tianguá, Acaraú 
e Camocim 
Fonte: Elaboração a partir de dados do IBGE (2017). 
 
25 
 
Fazendo análise comparativa dos quadros expostos, percebe-se a concentração em seis 
grandes cidades, destacando algumas delas que até então tinham pouca influência regional 
(Quixadá) e outras que sequer figuravam entre as mais dinâmicas (Iguatu). 
Já a mais recente contribuição para os estudos urbanos e regionais, a REGIC 2018, 
publicada em 2020, atualiza a rede urbana nacional. Traz as novas configurações espaciais 
dos centros regionais. Mantem-se as classificações utilizadas em 2008, porém, com 
melhoramento metodológico. Para o Ceará, há mudanças significativas, conforme Quadro 3: 
 
Quadro 3: Região de Influência de Cidades para o Ceará segundo REGIC (2020) 
CENTROS 
NÍVEIS DE HIERARQUIA DOS 
CENTROS 
ARRANJOS 
POPULACIONAIS 
Metrópole Metrópole C Fortaleza 
Capital Regional 
Capital Regional B 
Juazeiro do Norte-Crato-
Barbalha
7
 
Capital Regional C Sobral 
Centro Sub-Regional 
Centro Sub-regional A Iguatu 
Centros Sub-regionais B 
Aracati, Baturité, Camocim, 
Crateús, Itapajé, Itapipoca, 
Limoeiro do Norte, Pacajus, 
Quixadá, Russas e Tianguá 
Centro de Zona 
Centros de Zona A 
Brejo Santo, Horizonte, Icó, 
Quixeramobim, São Benedito e 
São Gonçalo do Amarante 
Centros de Zona B 
Acopiara, Canindé, Guaraciaba 
do Norte, Ipu, Mauriti, 
Mombaça, Santa Quitéria e Tauá 
Centro Local - Demais 155 cidades 
Fonte: Elaborado a partir doREGIC (2020). 
 
Conforme os anos se passaram desde o último documento REGIC, em 2008, 
observam-se algumas mudanças. Fortaleza aparece como Metrópole C
8
. O Arranjo 
Populacional (AP) Juazeiro do Norte-Crato-Barbalha torna-se Capital Regional B, elevando 
sua posição de centro de influência regional dentro do estado. Sobral permanece como Capital 
Regional C. Iguatu permanece como Centro Sub-regional A. Os núcleos que antes 
 
7
 A despeito de referenciar somente a Juazeiro do Norte, a conurbação Juazeiro do Norte-Crato-Barbalha 
continua em evidência pela dinâmica compartilhada e integrada e pela integração espacial e econômica destes 
municípios, cidades estas centro econômico da Região Metropolitana do Cariri (RM Cariri). 
8
 Ao consultar o REGIC 2018 (2020), pode-se evidenciar três classificações para as metrópoles, em A, B e C. 
26 
 
apresentavam a mesma classificação deste, Crateús e Quixadá, caem para Centro Sub-regional 
B, ao lado de Itapipoca. Este nível de influência regional é o que mais se destaca pela 
quantidade de novos membros que ascendem a ela. Este nível só tinha um representante em 
2008 (Itapipoca). Nos Centros de Zona destacam-se Brejo Santo, Ipu e São Benedito, que 
sobem um nível; Quixeramobim, Horizonte e São Gonçalo do Amarante, que passam de 
Centros Locais a Centros de Zona A. Amora e Costa (2007) já destacavam, antes do REGIC 
2007 (2008), algumas cidades que para a realidade cearense poderiam ser caracterizadas como 
cidades médias, entre elas Quixadá, Crateús, Tianguá, Russas e Quixeramobim. Esse 
movimento de importância central, no que concerne a hierarquia urbana e regional do estado, 
pode ser explicado pela tendência da inserção do Ceará nas novas formas de exploração da 
heterogeneidade territorial promovidas pelo regime de acumulação capitalista contemporâneo 
em nível global. As implicações disso na rede urbana do estado convergem à permanência e 
reforço das polarizações tradicionais: “metrópole, por se beneficiar mais diretamente do 
processo de mundialização da economia e; especialização crescente de cidades médias” 
(MORAIS; MACEDO, 2014, p. 57-58). Tomando o segundo ponto, as cidades médias 
acentuam suas interações espaciais com outros centros e apresentam crescente especialização 
econômica. Ademais, esse movimento envolve também centros de zona, o que explica a 
importância regional de outros centros além dos que são destacados e o aumento na 
quantidade de centros de influência regional no estado entre os REGICs (2008, 2020). 
Diante do exposto, observa-se a ampliação no número de cidades (26 para 29) que 
exercem certa influência regional com intensidades variadas. 
 
2.2 CRITÉRIOS E CLASSIFICAÇÃO DAS CIDADES MÉDIAS: PROPOSTA 
METODOLÓGICA 
 
O presente trabalho faz uso da classificação para as cidades médias entre 75.000 e 
500.000 habitantes, diferentemente das utilizadas por outros autores como Amorim Filho e 
Serra (2001), Andrade e Serra (2001), Branco (2006, 2007), Corrêa (2007), Spósito et al. 
(2007), e instituições como o IBGE a partir de trabalhos como o REGIC (2008, 2020) e a 
publicação Divisão Regional do Brasil em Regiões Geográficas Imediatas e Regiões 
Geográficas Intermediárias (2017). Destacando a classificação do IBGE, que salienta a 
importância das cidades médias, sobretudo no que se refere às funcionalidades urbanas e 
regionais que elas exercem, mas que, não abdica do interstício populacional entre 100 mil e 
27 
 
500 mil habitantes, sendo a principal modificação proposta por este trabalho, atestando que 
possíveis variações neste critério (salientando esta variação para o limite inferior) possam ser 
adotadas paulatinamente nos futuros trabalhos sobre esta forma de cidade. 
 A justificativa para uso desta classificação parte do pressuposto de que a questão 
populacional não mais norteia uma cidade a apresentar funções e papeis complexos de 
intermediação ou centros regionais para além da região da metrópole. Cidades fora do 
intervalo populacional proposto pelo IBGE, como os casos de Pau dos Ferros-RN
9
 
(DANTAS; CLEMENTINO, 2013) e Picos-PI
10
 (LIMA, 2019) pelo dinamismo regional 
alcançado nas últimas décadas podem ser classificadas como cidades médias. Assim, busca-se 
observar se esta realidade está presente no estado do Ceará, analisando as cidades médias 
definidas através de uma proposta de classificação, dispostas conforme Tabela 1 e Figura 1. 
 
Tabela 1: Estimativas da população das cidades médias cearenses entre 75.000 e 500.000 em 
2020 
Município Pop. (2020) 
Canindé 
77.244 
Crateús 
75.159 
Crato 
133.031 
Iguatu 
103.074 
Itapipoca 
130.539 
Juazeiro do Norte 
276.264 
Quixadá 
88.321 
Quixeramobim 
81.778 
Russas 
78.882 
Sobral 
210.711 
Tianguá 
76.537 
Fonte: Elaboração feita pelo autor a partir de dados do Sidra/IBGE (2020). 
 
9
 Sua dinâmica e ampliação da rede urbana são evidenciadas pela interiorização do ensino superior e 
descentralização dos serviços de saúde, os quais atraíram investimentos privados nas suas respectivas áreas 
(DANTAS; CLEMENTINO, 2013). 
10
 Num sentido mais complexo, Lima (2019) apresenta Picos-PI enquanto cidade que auferiu novos papeis; 
papeis estes complexos na lógica capitalista, de modo que, a partir do conceito denominal de Cidade de 
Comando Regional apresentado pelo autor, não no sentido de uma hierarquia entre cidades, de comando, mas de 
competência, ou seja, algumas cidades “podem promover capacidades de integração e/ou de desenvolvimento 
regional, ao considerar suas capacidades produtivas, funcionalidades diversas e potencialidades regionais” 
(LIMA, 2019, p. 272). 
28 
 
 
 
 
Figura 1: Cidades médias cearenses definidas conforme classificação adotada 
Fonte: Elaboração própria com a utilização do software QGis. 
 
 Portanto, tenta-se responder a seguinte questão: as cidades médias cearenses 
promovem o desenvolvimento regional de suas respectivas áreas, enquanto agentes 
fundamentais desse processo? 
A classificação baseia-se nos pressupostos de trabalhos do IBGE quanto às cidades e 
seu papel e influência regionais. Tem-se como hipótese norteadora a possibilidade de cidades 
com números populacionais inferiores, terem capacidade suficiente de exercer as mesmas 
funções que uma cidade média em locais menos desenvolvidos (AMORIM FILHO; BUENO; 
ABREU, 1982; BESSA; BORGES; SOARES, 2002; FRANÇA, 2007; OLIVEIRA; 
SOARES, 2014; STEINBERGER; BRUNA, 2001). Em consonância, Araújo, Moura e Dias 
(2011) destacam que, no contexto específico das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o 
intervalo populacional entre 50.000 e 100.000 habitantes podem se configurar como cidades 
médias devido às características do sistema urbano-regional. 
A ideia é entender, a partir da estrutura produtiva e outros fatores dessas cidades, 
como a dinâmica econômica, sua influência urbano-regional e econômica, promovem o 
29 
 
desenvolvimento regional. Além disso, a despeito de Caucaia (365.212), Maracanaú 
(229.458), Maranguape (130.346), Pacatuba (84.554) e Aquiraz (80.935) contemplarem o 
critério aqui estabelecido, não estarão no escopo deste estudo, pois estão inseridas na Região 
Metropolitana de Fortaleza (RMF), que apresenta uma forte concentração da estrutura 
produtiva do Estado e, em detrimento disto, não exercem características intrínsecas a cidade 
média. Destacando o aspecto da localização espacial, a cidade média pode estar sob a 
influência, direta ou indiretamente, de uma metrópole nacional ou regional (aqui, no caso, 
Fortaleza, ‘Metrópole C’), o que, em alguns casos até conurbadas, essas cidades se 
especializam visando atender às demandas da metrópole, o que, por sua vez, lhe confere 
maiores chances de crescimento e desenvolvimento. Tais fatores indicam a singularidade das 
cidades médias em seus respectivos contextos (BESSA; BORGES;SOARES, 2002; 
FRANÇA, 2007; OLIVEIRA; SOARES, 2014; STEINBERGER; BRUNA, 2001). 
 
 
30 
 
3 O URBANO E A CIDADE E A EVOLUÇÃO DA ECONOMIA REGIONAL 
3.1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O URBANO E A CIDADE 
 
O urbano enquanto fenômeno socioespacial e a cidade enquanto expressão material, 
ambos frutos das relações sociais, revelam-se importantes no debate urbano e regional e 
significativos para atingir o objetivo aqui proposto. Ademais, neste contexto, analisar as 
transformações intraurbanas revela possíveis desdobramentos sobre as relações interurbanas 
contemporâneas, ou seja, a relação da cidade com as diversas escalas (local, regional, nacional 
e global). 
 
3.1.1 A constituição do urbano 
 
Etimologicamente, o urbano deriva do latim, “urbanum (arado), vem o sentido de 
povoação, a forma física da ocupação do espaço de vida delimitado pelo sulco do arado dos 
bois sagrados que marcava o território da produção e de vida dos romanos” (MONTE-MÓR, 
2006b, p. 11). Configura-se como processo espacial e temporal, pois se estende no espaço que 
modifica e se desenvolve no tempo, tomando forma, tornando-se predominante da prática e da 
história (LEFEBVRE, 2002). 
As relações entre urbano e rural, antes delimitadas e já estabelecidas (KIELING; 
SILVEIRA, 2015; WIRTH, 1979), apresentam atualmente, uma relação difusa, contínua e 
sem delimitações precisas. As relações do urbano com o espaço transcendem o território, 
englobam amplas regiões vizinhas, se integram e se estendem além dos territórios limítrofes e 
distantes. No urbano, a terra não é instrumento de produção imediata, como ocorre no campo. 
A reprodução do espaço urbano não ocorre apenas através da incorporação de novas áreas, 
mas também pelo adensamento e verticalização (CARLOS, 1997; MONTE-MÓR, 2006b). 
A relação entre o urbano e a cidade está associada ao capitalismo industrial, ou 
melhor, à sociedade capitalista industrial, com a urbanização presente a partir da indústria, 
com a subsunção do rural ao urbano, com este sendo o centro das ações e relações sociais de 
produção no coração citadino, ou seja, pressupõe um conjunto de manifestações da cidade 
sobre o campo (LEFEBVRE, 2002; LENCIONI, 2008; MONTE-MÓR, 2006a, 2006b). 
 Nesse sentido, a cidade expressa à divisão socioespacial do trabalho e o 
aprofundamento na conformação de uma comunidade que se estende ao urbano onde se dá a 
completa dominação do campo. Sendo assim, a indústria é fator importante para passagem 
31 
 
efetiva da cidade à urbanização, da produção ao espaço de poder. Nesse contexto, o lócus de 
excedente (a cidade), do poder e da reprodução social, a práxis urbana, antes restrita à cidade, 
repolitizou todo o espaço social (LENCIONI, 2008; MONTE-MÓR, 2006a). 
Ademais, a despeito do urbano se assentar nas relações socioespaciais com a indústria, 
as intervenções urbanas com interesse científico se iniciam no século XIX, tais como 
Barcelona, com Ildefons Cerdá (1854) e Paris com o Barão Georges-Eugène Haussmann 
(meados do século XIX). Paralelamente a isso, os ditames e influências das teorias sociais 
sobre a cidade e organização do espaço urbano foram se desenvolvendo. Seja pela tradicional 
influência da Escola Ecológica de Chicago
11
 com suas abordagens culturais e ecológicas para 
compreender a cidade e o urbano diante da explosão urbana da cidade de Chicago, seja pelas 
ações da economia regional e urbana advindas das ricas contribuições da Ciência Regional a 
partir de Walter Isard (HALL, 2005; MONASTERIO; CAVALCANTE, 2011; MONTE-
MÓR, 2006b)
12
. 
O urbano se apresenta como espaço no qual se processa duas visões polares: 
“enquanto lugar da reprodução da força de trabalho e das relações sociais no cotidiano que se 
expressam através do consumo; e [...] enquanto lugar da reprodução das relações sociais de 
produção na perspectiva da reprodução dos bens de produção” (LIMONAD, 1999, p. 82) que 
se aglutinam conforme o estágio de aperfeiçoamento das forças produtivas ligadas, sobretudo, 
ao desenvolvimento do meio técnico-científico. Durante certo tempo, essas esferas de 
produção foram concatenadas em um mesmo espaço. Entretanto, atualmente, tais esferas são 
colocadas em espacialidades diferentes (CASTELLS; HALL, 1994; LIMONAD, 1999, 2019). 
A superação da dicotomia urbano e rural suscita um novo debate às cidades mediante 
novas demandas de planejamento urbano e regional, além de novas atribuições a elas 
incumbidas pelo novo paradigma capitalista (CAPEL, 1975). As contradições não se situam 
mais entre cidade e campo, urbano e rural; situam-se no interior do fenômeno urbano: “entre a 
centralidade do poder e as outras formas de centralidade, entre o centro riqueza-poder e as 
periferias, entre a integração e a segregação” (LEFEBVRE, 2002, p. 155). 
 
11 A ideia de Ecologia aplicada por Ezra Park, um dos principais expoentes da Escola de Ecologia Urbana de 
Chicago, advém do conceito por ele criado de ‘área natural’, a qual assumia que “as forças competitivas naturais 
tendem a produzir um equilíbrio também ‘natural’ de adaptação social ao ambiente urbano” (MONTE-MÓR, 
2006b, p. 5) envolvendo costumes, tradições, processos vitais daqueles que a compõem (PARK, 1979). 
12
 A Escola de Chicago se desenvolve como um constructo para as investigações das disposições intraurbanas ao 
passo que a Ciência Regional direciona-se aos fenômenos do espaço regional numa perspectiva mais ampla. 
Frisado no início deste capítulo, evidenciar os pressupostos relacionados as disposições intraurbanas serve de 
subsídios significativos para entender a cidade e suas relações numa perspectiva multiescalar a partir das sua 
dinâmica e relações intraurbanas. 
32 
 
Assim, o urbano não produz à maneira da agricultura e/ou indústria, ele cria; se impõe 
em escala mundial (ARAÚJO, 2012). Assim funciona a práxis urbana enquanto tal reúne e 
transforma aquilo que reúne (ordens e desordens, mensagens e códigos do passado); não 
apresenta ter nenhum conteúdo específico, mas tudo a ele vem e nele vive (LEFEBVRE, 
2002); assume qualidades e significados distintos historicamente, processado em espaços pré-
existentes, pré-produzidos e pré-organizados, resultado constante da (re)estruturação do 
espaço de reprodução das relações sociais de produção, da força de trabalho e da vida 
cotidiana, através das relações que os homens travam entre si e a natureza (LIMONAD, 
2019). 
Destarte, ressalta-se o papel do urbano na constituição da cidade como espaço de 
produção e poder; como lócus da reprodução social da geração de demandas e o espaço de 
lutas políticas dos estratos sociais que reivindicam acesso aos meios de consumo coletivo e 
inserção no mercado de trabalho (BRANDÃO, 2004b). A partir da indústria, o urbano toma-
se como espaço privilegiado de reprodução, acumulação e ampliação do capital. Assim, este 
se apresenta como um terceiro elemento, opositor, da (antiga) dicotomia cidade-campo, “a 
manifestação material e socioespacial da sociedade urbano-industrial contemporânea, 
estendida, virtualmente, por todo o espaço social” (MONTE-MÓR, 2006a, p. 14). Dessa 
forma, o urbano se estende virtualmente por todo o espaço social, fruto de implosões e 
explosões que engendram os movimentos da supremacia do urbano na cidade, ou seja, o 
tecido urbano prolifera, estende-se, corroi os resíduos de vida agrária (LEFEBVRE, 2002); 
“[...] é permeado por relações de poder, relações de dominação e subordinação, que canalizam 
a diferenciação regional e o regionalismo, a territorialidade e o desenvolvimento desigual, e as 
rotinas e revoluções, em muitas escalas diferentes” (SOJA, 1993, p. 186). 
 
As transformações, que historicamente se deram, permitindo a estruturação do modo 
de produção capitalista, constituem consequências contundentes do próprio processo 
de urbanização. A cidade nunca fora um espaço tão importante, e nem a urbanizaçãoum processo tão expressivo e extenso a nível mundial, como a partir do capitalismo 
(SPOSITO, 1988, p. 30). 
 
As preocupações com a rede de cidades, a hierarquia urbana e o diálogo entre estas se 
tornaram contínuos, articulando as dimensões urbanas e regionais. Assim, a questão regional 
toma caminhos emergentes, ofuscando o problema urbano da esfera social e da organização 
intraurbana para o aspecto econômico, tendo como principais focos programáticos o espaço 
regional e nacional e a organização interurbana (MONTE-MÓR, 2006b). 
 
33 
 
3.1.2 A cidade e suas versões 
 
Esta seção tem como objetivo descrever sucintamente as fases da cidade no contexto 
capitalista, enquanto construção humana histórica e social (CARLOS, 1997): a cidade 
comercial, a cidade industrial e a cidade contemporânea, estão incluídas nas lógicas do 
neoliberalismo e do planejamento estratégico, entendendo sua formação e constituição como 
espaço urbano de relações sociais, mas também como lócus de produção, reprodução e 
circulação do capital, ou seja, como unidade capitalista. 
Pensar a cidade é algo instigante e, ao mesmo tempo, desafiador. Ela não é um fato 
novo (GOITIA, 1982). São diversas as interpretações que pensam sobre ela, o que justifica 
sua complexidade teórico-empírica para seu entendimento (RAMOS, 2015), além das funções 
especializadas que a mesma adquire histórica e espacialmente, configurando-se em um 
polígono de mundos sociais pela identificação social daqueles(as) que a compõem (WIRTH, 
1979), ou seja, deve-se considerar todos os determinantes (econômicos, sociais, políticos e 
culturais) que, no passar dos anos, a constroi, a transforma e a reconstroi. Portanto, o espaço é 
história e, destarte, a cidade de hoje é corolário cumulativo das cidades de antes, isto é, 
transformadas, demolidas, reerguidas, produzidas pelas transformações sociais através dos 
tempos (SPOSITO, 1988). 
Não se tem ao certo quando, de fato, originaram-se as primeiras cidades. No momento 
em que o homem deixa de ser nômade, fixando-se no solo como agricultor foi dado o 
primeiro passo para a formação das cidades. Um segundo momento pode ser salientado, o 
qual as pessoas iniciam a dominação de técnicas menos anacrônicas que lhes permitem extrair 
o excedente agrícola (CARLOS, 1997). Todavia, muitos são os períodos mencionados 
pelos(as) pesquisadores(as), apesar de situarem a origem das cidades em regiões parecidas. 
Carlos (1997) indica para 5.000 anos a.C. o surgimento das primeiras civilizações que pode 
nomear de cidade, a exemplo de Kish, Ur e Uruk, civilizações sumérias situadas nas Baixa e 
Média Mesopotâmias. Sposito (1988) cita seu aparecimento na Mesopotâmia, por volta do 
ano 3.500 anos a.C., na região dos rios Tigre e Eufrates, posteriormente surgindo próximas a 
rios como o Vale do Rio Nilo (3.100 anos a.C.), no Vale do Rio Indo (2.500 anos a.C.) e no 
rio Amarelo (1.550 anos a.C.)
13
. Braga e Carvalho (2004) situam o surgimento das primeiras 
cidades na Mesopotâmia. Doravante, se desenvolveram no norte do continente africano (Vale 
 
13
 Uma explicação para criar cidades contíguas aos rios advém de uma motivação natural, pois tais cidades estão 
localizadas em regiões predominantemente semiáridas. Embora o processo que as criou baseie-se em aspectos 
políticos e sociais (dominação), as condições naturais foram os determinantes espaciais, visto que, até então, o 
desenvolvimento técnico da humanidade não permitia superar estes empecilhos (SPOSITO, 1988). 
34 
 
do rio Nilo) e pela Ásia (Índia e China). Posteriormente expandiram-se pela região do 
Mediterrâneo e Europa, sob as civilizações Grega e Romana. No novo mundo, as cidades se 
desenvolveram na América central há mais de 2000 anos, sob as civilizações Maia e Asteca. 
Os autores sintetizam esta evolução das cidades através da figura 2. 
 
 
 
Figura 2: Evolução urbana na Antiguidade. 
Fonte: Braga e Carvalho (2004) 
 
A cidade enquanto expressão da produção social tem passado por transformações 
relacionadas aos modos de produção. Exemplos disso têm-se as cidades da Grécia Antiga e 
aquelas dominadas pelo Império Romano. Em ambos os casos as cidades eram dominadas 
pelo aspecto político, o qual sobrepujava o aspecto espacial no que concerne o conceito de 
cidade da época. A despeito da ainda anacrônica formação social e urbana, as cidades antigas 
demonstravam certo nível de desenvolvimento pela complexidade social engendrada seja pelo 
aspecto político ou bélico, ou ambos, em seus tempos e, de fato, revelou-se importante na 
formação das cidades posteriores, sobretudo pela sua complexidade estrutural. As cidades da 
Grécia Antiga, por exemplo, já apresentavam vestígios de uma divisão social do trabalho. 
Ademais, ao Império Romano atribui-se a descontinuidade ‘espontânea’ da urbanização visto 
que as cidades foram moldadas para permitir a hegemonia política romana e ampliar a divisão 
interurbana do trabalho, já que o território romano expande-se e cria um forte papel comercial 
aos novos espaços conquistados (ARAÚJO, 2012; LEFEBVRE, 2011; ROLNIK, 1995; 
SPOSITO, 1988). 
35 
 
Na Idade Média, que segue o curso da história após a derrocada do Império Romano 
no século V, apresenta-se o feudalismo como organização econômica e social dominante, 
eminentemente rural e com uma parca formação e relação socioespaciais entre os citadinos. 
Apesar de ser considerado um período sem grandes evoluções, houve avanços tecnológicos 
como o aperfeiçoamento na agricultura e no artesanato. Além disso, diversas cidades surgiram 
da prática foris-burgus.
14
 Engels (2010), em seu livro “A Situação da Classe Trabalhadora na 
Inglaterra”, relata tais relações, de uma sociedade escravocrata e rural a um proletariado e 
prematuro sistema urbano. Esse movimento além de evidenciar as transformações 
socioespaciais, também evidencia o engajamento inicial da classe trabalhadora em reivindicar 
direitos a partir de movimentos sociais, ou seja, tal época, situada nos idos da primeira 
Revolução Industrial, é “expressão máxima de todos os movimentos sociais e a mais visível 
manifestação de nossa miséria social” (ENGELS, 2010, p. 41), visto que a situação de grande 
parte da população era precária, subumana. 
Atinente à questão urbana pode-se afirmar que o renascimento urbano (proveniente do 
Império Romano) teve como base inicial o aglomerado medieval que, por sua vez, não 
possuía caráter urbano. Ademais, cidades nasciam em espaços até então inabitados, houve 
registros de cidades romanas reconstruídas. Essa renovação da urbanização e 
consequentemente das cidades foi possível graças à reativação do comércio, o qual criou 
bases à constituição do modo de produção capitalista e, concomitantemente, o declínio do 
sistema feudal. Nesse sentido, houve diversas modificações no sistema econômico. 
Revoluções comerciais e urbanas, complexificando as relações de troca, a divisão do trabalho 
e o estabelecimento de uma vida social organizada com a substituição das praças de reflexão e 
debate pelos mercados e mercadorias agora inseridos na lógica citadina mercantil, a qual 
preconiza a troca comercial como função urbana fazendo assim surgir uma nova estrutura do 
espaço urbano. Destarte, os espaços comerciais disputam a centralidade urbana com os 
espaços políticos, administrativos (as instituições) (LEFEBVRE, 2002). Com isso, as terras 
perderam seu caráter autossuficiente, pois até então sua função era de suprir as necessidades 
do feudo e de seu senhor. 
Com a ascensão do Absolutismo, a urbanização recebe um forte reforço, pois a ordem 
capitalista impôs-se à ordem feudal e derrubou seu monopólio de alimentos, transformando a 
terra em mercadoria. Ademais, com a necessidade de expansão, o capital mercantilizava o 
 
14
 Neste período, as fortalezas garantiam aospoucos mercantes, proteção a seus bens. Todavia, algumas destas 
fortalezas não conseguiam mais contê-los, engendrando o chamado foris-burgus, ou seja, burgos adjacentes a ela 
(SPOSITO, 1988). 
36 
 
processo artesanal urbano e estimulava a produção manufatureira, além, também, do 
desenvolvimento marítimo, promovendo navegações e, assim, expansão colonial e criação de 
novos monopólios comerciais. Esta ação reforçou a economia mercantil que disseminou a 
urbanização ao mundo colonial a partir do século XV. Com a ampliação do comércio, o 
desenvolvimento de uma economia monetária que transformou a relação das pessoas com as 
mercadorias e o próprio crescimento das cidades configuraram-se em movimentos históricos 
que fortaleceram um espaço fora do escopo feudal, ou seja, a corrosão da instituição servil, 
pois permitia aos camponeses romper às amarras que os prendiam a economia feudal 
(SPOSITO, 1988). 
Portanto, o capitalismo surge primitivamente sob a égide do comércio, nova 
centralidade econômica da cidade. A morfologia arquitetural e urbana é modificada dando 
lugar ao encontro de pessoas não mais para refletir e debater, mas ao estabelecimento de 
trocas. A intensificação destas amplia a riqueza e a circulação de mais trocas para além das 
fronteiras da cidade. Cria-se maior fluxo de capital em circulação o que, por sua vez, instiga 
na criação de instituições financeiras (bancos) e novos mercados (ARAÚJO, 2012). Tendo 
como passo inicial o processo de mercantilização das cidades como fase inicial em passagem 
para o urbano, a segunda transformação e efetiva dar-se pela entrada da indústria na cidade. 
Neste cenário, o campo, até então espaço de insumos para a cidade, passa a depender do 
parque industrial para sua própria produção, ferramentas e alimentos e bens de consumo 
básicos. Esse movimento identifica a subsunção do campo à cidade (LEFEBVRE, 2002). 
Ocorrem, assim, implosões e explosões que criam os movimentos da supremacia do urbano 
na cidade, colocando-a a frente do campo como lócus privilegiado de reprodução, acumulação 
e ampliação do capital (MONTE-MÓR, 2006a). 
O planejamento começa, a partir daí, a ganhar corpo na organização espacial da 
cidade. Todavia os planejamentos realizados não obtiveram o sucesso requerido. A reação das 
ideias para o espaço urbano no século XX surge como contrapartida as do século anterior, 
37 
 
estas sem muito êxito. Exemplo disso há a Cidade-Jardim
15
 de Ebenezer Howard, em 1902, e 
a Cidade Radiosa
16
 de Le Corbusier, em 1933 (HALL, 2005). 
Todavia, a indústria nascente se instalava em espaços contíguos às fontes de energias, 
matérias-primas, meios de transporte, reservas de trabalho (LEFEBVRE, 2011), ou seja, 
ocorreu um movimento de implosão-explosão na cidade. Primeiro, a industrialização negou a 
centralidade na cidade (implosão), pois, o conteúdo político e comercial perde sua potência 
social. Posteriormente, ocorre a explosão da cidade ou projeção de fragmentos da malha 
urbana disjuntos por uma vasta região (explosão)
17
. Este duplo processo de implosão e 
explosão acarretou na criação de uma anticidade, isto é, a negação da cidade que a antecede, a 
cidade política-comercial (ARAÚJO, 2012; LEFEBVRE, 2001, 2002, 2011). Destarte, 
esvazia-se a qualidade dos costumes e das relações cotidianas, aplainando-as a uma condição 
quantitativa, por exemplo, “as festas outrora ricas de significações se tornaram uma repetição 
de signos destinados ao consumo. É como se a cidade fosse compelida a se transformar em 
uma empresa” (ARAÚJO, 2012, p. 135). Com a quebra do sistema feudal, o sistema urbano 
se abre. A cidade cria algo além do que ela representa em três planos: econômico (indústria), 
social (propriedade mobiliária) e político (Estado) (LEFEBVRE, 2001). 
 
 
15
 O conceito de Cidade-Jardim é formado no ambiente britânico do último quartel do século XIX, como solução 
para o crescimento das grandes cidades. Apresentava-se como um diferente modelo de organização, tendo como 
precursor Ebenezer Howard. A Cidade-Jardim traduzia-se no conjunto de moradias em extensos espaços 
arborizados. Assim, ela teria “um ambiente dominado por superfícies arborizadas, plantadas e ajardinadas que 
permitiriam o máximo acesso virtual e físico a todos os espaços” (LAMAS, 2004, p. 312), pensando na evolução 
das ideias sobre esta forma de cidade já aplicada em Letchworth, Hampstead e Welwyn, na Inglaterra. Trata-se, 
neste momento, da quebra de paradigma quanto à cidade tradicional, indo em direção à cidade moderna (HALL, 
2005; LAMAS, 2004). 
16
 A Cidade Radiosa de Le Corbusier, mostrada nos anos 1930, era uma cidade verde com solo livre; construções 
enormes e pontuais, assentadas em pilotis (de origem francesa, é um sistema construtivo em que uma edificação 
é sustentada através de uma grelha de pilares em seu pavimento térreo) que libertavam o solo para os peões e 
prolongavam os espaços verdes sob as construções; unidades de habitação que incluíam os equipamentos 
elementares. A unidade de habitação, para Le Corbusier, é fundamental na constituição da unidade-base de 
organização e composição da Cidade Radiosa. Este modelo citadino influencia até os anos 1970 (HALL, 2005; 
LAMAS, 2004). 
17
 Gera-se uma enorme concentração na realidade urbana, de pessoas, de atividade, de riqueza, de coisas e de 
objetos, de instrumentos, de meios e de pensamento (implosão) e, ao atingir o apogeu da concentração, ocorre a 
projeção de fragmentos múltiplos e disjuntos, a saber: periferias, subúrbios, residências secundárias, satélites etc. 
(explosão) (LEFEBVRE, 2002). 
38 
 
 
Figura 3: Processo de implosão-explosão 
Fonte: Lefebvre (2002, p. 27) 
 
Nesse sentido, as cidades, até então presas às raízes locais e regionais, veem, a partir 
da industrialização, a ampliação de suas funções e relações não somente com os espaços 
adjacentes, mas também com os espaços distantes. Dessa forma, reforçou o papel da divisão 
social do trabalho em âmbito espacial, a divisão territorial do trabalho, ou seja, os lugares se 
especializaram funcionalmente. Esta divisão última tornou-se mais efetiva e possível a partir 
do desenvolvimento das comunicações e dos transportes (SPOSITO, 1988). 
O movimento de transição do mercantilismo da Idade Média para o capitalismo 
industrial dar-se pela Revolução Industrial do século XVIII com a ascensão do liberalismo 
econômico e do movimento filosófico-social cujas doutrinas constituíram a base ideológica do 
novo desenvolvimento industrial e capitalista (laissez-faire, laissez-passer) materializados por 
Adam Smith, Jeremy Bentham e Stuart Mill. Houve grande explosão do crescimento 
industrial e da urbanização. Com a divisão social do trabalho e o desenvolvimento dos 
transportes, as indústrias, antes localizadas ao longo dos rios, com a invenção da máquina a 
vapor de James Watt, em 1775, poderiam se concentrar em locais determinados, o que 
auxiliou no surgimento das cidades industriais. As situações iniciais das cidades industriais 
eram catastróficas pelas más condições de saneamento das slums
18
 acarretando em uma taxa 
de mortalidade infantil elevadíssima chegando aos anos de 1870 a 260 óbitos para cada 1.000 
nascimentos. Tal realidade se modifica paulatinamente com mudanças nas condições 
 
18
 Favelas. Cortiços. 
39 
 
sanitárias da classe de trabalhadores. Um dos primeiros a adotar medidas sanitárias 
favoráveis
19
 foi Robert Owen nos anos 1810 (ENGELS, 2010; GOITIA, 1982). 
A indústria transformou regiões longínquas em mercados potenciais. A fábrica, 
expressão material incipiente do movimento industrial, nasce antes dela, de uma forma e 
natureza diferenciadas pautada numa produção artesanal pouco coordenada. Com a 
industrialização de fato e sua intrínseca relação com o processo vertiginoso de urbanização,produtos poderiam ser vendidos a preços menores e em larga escala. O conceito de fábrica 
anteriormente apregoado se esvai. Dessa forma, mais e mais pessoas se alinham ao mercado 
de trabalho industrial (além da desleal concorrência com este setor de produção) (ROLNIK, 
1995). 
A busca pela homogeneização do consumo foi um aspecto ligado a esse sistema 
produtivo em sua hegemonia no capitalismo do século XX. O urbano se prolifera 
vertiginosamente, absorvendo o rural, pequenas e médias cidades e espaços até então 
inabitados pelo capital (CARLOS, 1997). Nesse sentido, a cidade se estabelece enquanto 
espaço no qual a população local satisfaz parcialmente suas necessidades essenciais de 
demanda diária no mercado local e outra parte essencial satisfaz-se mediante localidades e/ou 
habitantes dos arredores que produzem ou adquirem para disponibilizar no mercado. Ela se 
consolida como um local de mercado, ou seja, como centro econômico do estabelecimento 
com um mercado local e uma especialização permanente da produção econômica (WEBER, 
1979). 
A cidade industrial é espetáculo, mas também é detestável. As pressões demográficas 
e a insuficiência das políticas públicas no urbano desestabilizam as relações socioespaciais, 
criando camadas sociais, espaços subutilizados e precários movidos pelo caos urbano levando, 
consequentemente, as metamorfoses da cidade. Essa aglomeração exacerbada em grandes 
cidades levou a formação das metrópoles ou cidades globais como espaço produtivo e nexo 
dos fluxos de mercadorias e pessoas pelo mundo. Esse contexto se inscreve na lógica de 
transição do capital produtivo para o capital especulativo, para uma cidade pós-industrial 
(CARLOS, 1997; MONGIN, 2009; ROLNIK, 1995). 
Os anos dourados da era industrial (1930/70) convertem-se em anos tenebrosos e 
instáveis que culminam em novas alternativas de planejamento econômico e socioespacial. A 
indústria dominante e coativa converte-se em realidade dominada no “curso de uma crise 
 
19
A ideia de favorecimento colocada neste contexto significa favorecimento de uma classe em detrimento de 
outra, ou seja, visa esclarecer que a melhoria das condições sanitárias garante aos trabalhadores mais anos de 
vida e vigor físico por mais tempo, o que, por sua vez, garante ao mercado de trabalho (leia-se capitalistas) mais 
fator trabalho disponível para expansão da cidade e, principalmente, do lucro. 
40 
 
profunda, às custas de uma enorme confusão, na qual o passado e o possível, o melhor e o 
pior se misturam” (LEFEBVRE, 2002, p. 27). Nessa perspectiva, a cidade se metamorfoseia, 
toma formas diferenciadas, e tais mudanças não são acompanhadas ou expressadas pelos 
estudiosos. Destarte, a palavra ‘cidade’ atravessou séculos sem alterações, mesmo sendo um 
objeto em perpétua e contínua mudança, sem conseguir expressar as transformações 
constantes de algo tão mutável, mantem-se sua nomenclatura e a ela adiciona adjetivos que 
permita compreender suas características, funções, partes e transformações, tais como cidade 
satélite, cidade horizontal, cidade verticalizada, cidade mundial, cidade moderna, cidade 
administrativa, cidade interiorana, cidade informal; além dos adjetivos aos novos aglomerados 
metropolitanos que surgem na nova fase da acumulação capitalista, cidades globais, 
metrópole, megalópole, megametrópole, metápole (LENCIONI, 2008; ROCHEFORT, 2002). 
Entretanto, antes de falar da nova concepção do capital e suas repercussões sobre o 
espaço, logo, na cidade, cabe frisar as contribuições marxistas à luz deste novo movimento 
que surge nos anos 1970/80. Materializado por diversos autores adeptos às ideias de Karl 
Marx, como Lefebvre, Gottdiener, Castells (temporariamente), Harvey, Massey, dentre 
outros, estes evocam a questão urbana e a questão do espaço sob a perspectiva marxista, 
mesmo que Marx nunca tenha dado a adequada atenção ao espaço e a cidade, tentando 
absorver suas ideias e formular uma hipótese de viés marxista para a formação da cidade e 
evidenciar a urbanização capitalista
20
 (GOTTDIENER, 1993; HARVEY, 2012a; LEFEBVRE, 
2001, 2002, 2011). 
A vertente marxista opõe-se as ideias da Escola de Chicago. Para esta defende-se que 
a cidade é o resultado de movimentos espontâneos e naturais, um corpo de costumes e 
tradições, envolvido nos processos vitais das pessoas que as compõem, não somente um 
mecanismo físico de construção artificial (PARK, 1979). A cidade é caracterizada por 
contatos mais secundários, ou seja, os contatos da cidade ocorrem face a face, mas são, não 
obstante, impessoais, superficiais, transitórios e segmentários (WIRTH, 1979) apregoando a 
atitude blasé (SIMMEL, 1979). Para aquela, “o espaço da cidade é determinado pelas forças 
produtivas e pelas relações de produção que se originam delas” (RAMOS, 2015, p. 304). A 
cidade, nesse sentido, advém de um consumo coletivo, no qual as relações capitalistas se 
desenvolvem, ou seja, a acumulação do/pelo capital requer um ambiente que garanta a 
expansão dos meios de produção e controle do fator trabalho. Dessa forma, o Estado assume 
papel significativo nesse processo como um agente submisso às ações do capital. Assim, a 
 
20
 ‘Movimento calculado’ pelo capital no processo de espraiamento de acumulação capitalista, diminuindo os 
caminhos de sua reprodução e ampliando seu raio de atuação (HARVEY, 2012a). 
41 
 
cidade é um ambiente construído que surge da mobilização, extração e concentração 
geográfica de vultosa quantidade de mais-valia, isto é, o ambiente erguido é conformado, 
sobretudo pelo capital intervencionista materializado pelo Estado (GOTTDIENER, 1993; 
HARVEY, 1977; RAMOS, 2015). 
A natureza atuante do Estado se faz latente, segundo esta perspectiva teórica do espaço 
e da cidade, pois o papel desempenhado por ele nos processos espaciais urbanos fica 
explícito, seja direta (através da produção e distribuição de bens e serviços de natureza 
coletiva) ou indiretamente (através das legislações de uso do solo e códigos de obras, do 
mercado de capitais imobiliários etc.). Destarte, o Estado, através de suas políticas urbanas, 
está apenas exercendo seu papel: manter a segregação que é funcional, e, além disso, garantir 
os modos pelos quais a ordem urbana se expande. Em consonância, Camargo (1976 apud 
RAMOS, 2015) afirma que, na realidade brasileira, os movimentos desse agente sempre 
seguiram o setor privado e investimentos públicos a serviço da dinâmica especulativa. Além 
deste autor, Hall (2005) chama atenção para a nova função da cidade e do Estado que, 
segundo ele, na visão marxista, é formada pelo capital em busca do lucro, alterando o uso do 
solo e modelos de atividade. E é pelas instabilidades atuais do sistema que o socorro advém 
do Estado, trabalhando a favor do capital, corrigindo os desequilíbrios no mercado. Nesse 
sentido, o planejamento urbano leva a problemas contínuos, ou seja, a resolução de um 
problema gera outro. Tal planejamento envolvido pelas ações do Estado apresenta viés 
político na tomada de decisão gerando as intervenções públicas têm caráter desigual (HALL, 
2005). Além dessas contribuições, Lojkine (1981) atesta que a cidade é corolário de uma 
dupla socialização, ou seja, advém das condições gerais de produção e do espaço. Esta visão 
evidencia diversas cidades da atualidade pelos seus atributos urbanos e suas posições de 
espaços importantes na expansão do capital (incluindo nesta lógica as cidades médias). 
Considerando o exposto sobre a vertente teórica marxista da cidade pode-se dizer que a 
cidade seria o espaço que serve de suporte ao desenvolvimento do modo de produção 
capitalista, sendo ela uma forma de socialização capitalista das forças produtivas; sede e 
ambiente da reprodução das classes, das atividades de produção, distribuição, troca e consumo 
(BRANDÃO, 2004b).

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