Buscar

Conhecimentoecologicolocal-Silva-2022

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 88 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 88 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 88 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA
CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL E BIOLOGIA REPRODUTIVA DO
LAGARTO-DE-FOLHIÇO Coleodactylus natalensis FREIRE, 1999, EM ÁREA
PROTEGIDA DE MATA ATLÂNTICA: SUBSÍDIOS À CONSERVAÇÃO DESTA
ESPÉCIE AMEAÇADA
PARA A COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVEL
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA
FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A
COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA
HOLDA RAMOS DA SILVA
2022
Natal – RN
Brasil
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - Centro de Biociências - CB
Silva, Holda Ramos da.
Conhecimento ecológico local e biologia reprodutiva do
Lagarto-de-folhiço Coleodactylus natalensis Freire, 1999, em área
protegida da Mata Atlântica: subsídios à conservação desta espécie
ameaçada / Holda Ramos da Silva. - 2022.
87 f.: il.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do
Norte, Centro de Biociências, Programa Regional de Pós-graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente/PRODEMA. Natal/RN, 2022.
Orientadora: Profa. Dra. Eliza Maria Xavier Freire.
Coorientador: Prof. Dr. Raul Fernandes Dantas de Sales.
1. Conhecimento ecológico local - Dissertação. 2. Parques
urbanos - Dissertação. 3. Reprodução de lagartos - Dissertação. 4.
Etnoconservação - Dissertação. I. Freire, Eliza Maria Xavier. II.
Sales, Raul Fernandes Dantas de. III. Universidade Federal do Rio
Grande do Norte. IV. Título.
RN/UF/BSCB CDU 574
Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351
2
Holda Ramos da Silva
CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL E BIOLOGIA
REPRODUTIVA DO LAGARTO-DE-FOLHIÇO Coleodactylus natalensis
FREIRE, 1999, EM ÁREA PROTEGIDA DE MATA ATLÂNTICA:
SUBSÍDIOS À CONSERVAÇÃO DESTA ESPÉCIE AMEAÇADA
SUSTENTÁVEL
A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTERNATIVA PARA A COTONICULTURA
FAMILIAR SUSTENTÁVEL A BIOTECNOLOGIA VEGETAL COMO ALTER PARA A
COTONICULTURA FAMILIAR SUSTENTÁVELAAA
Dissertação apresentada ao Programa Regional
de Pós-Graduação em Desenvolvimento e
Meio Ambiente, da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN),
como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre.
Orientadora: Profª. Drª. Eliza Maria Xavier Freire
Coorientador: Prof. Dr. Raul Fernandes Dantas de Sales
2022
Natal – RN
Brasil
3
HOLDA RAMOS DA SILVA
Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em
Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente.
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________________
Dra. Eliza Maria Xavier Freire (UFRN)
Orientadora/Presidente
_______________________________________________
Dr(a). Kallyne Machado Bonifácio
Universidade Federal da Paraíba (UFPB/PRODEMA)
Membro interno
_____________________________________________
Dr. Daniel Cunha Passos
Universidade Federal Rural do Semi-árido (UFERSA)
Membro externo
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço à CAPES pelo financiamento da bolsa de mestrado.
Aos gestores do Parque da Cidade e demais funcionários que cordialmente me
ofereceram todo o suporte necessário para a realização da pesquisa.
À minha orientadora e coorientador, Drs. Eliza Freire e Raul Sales pelo
acolhimento que recebi no LabHerpeto desde antes da seleção do mestrado. Sem vocês,
esse trabalho não teria sido tão empolgante e importante para o meu crescimento
profissional. Serei para sempre grata.
À equipe do LabHerpeto que incansavelmente esteve presente em todos os 12
trabalhos de campo e me recebeu não só como companheira de trabalho, mas como
amiga. Sem Olyana, Thawaan, Daniel, Dezão, Letícia, Duda e Lucas, os campos não
teriam sido tão prazerosos e os almoços pós campo no Zumbi bar menos saborosos.
Agradeço em especial a Joaquim Bruno e minha irmã Évila Ramos, que
genuinamente se propuseram a me ajudar quando eu já estava muito cansada; vocês
foram igualmente importantes para esse trabalho se realizar.
Ao meu irmão Gustavo, por me ajudar incasavelmente na construção dos mapas,
meu eterno agradecimento.
Essa dissertação foi construída em um período caótico com a Pandemia do
Covid-19. Contudo, tive a sorte de várias pessoas me receberem em suas casas para me
promover um lugar pacífico para estudo. Por isso, aqui vai o agradecimento ao meu
irmão Gustavo Henrique, Tia Kika, Tia Mirella e Tia Liliane, por terem me oferecido
um espaço em suas casas para a escrita dessa dissertação. Acolhimento é suporte e
vocês me ofereceram isso.
Especialmente, quero agradecer à Dra. Francisca Ramos (Tia Kika), que além de
me acolher na sua casa em Açu, me acompanhou em noites de maratonas de estudos,
conversas e Nescafé no seu aconchegante escritório. Você me foi uma amiga, uma
inspiração acadêmica e de vida. Sem saber, em pequenas conversas e companhia, você
me deu força para ter chegado até aqui. Nos momentos amargos, você me lembrou do
doce que é ser uma pesquisadora. Sem você esse trabalho teria perdido o encanto. Por
isso e muito mais, te amo.
5
Às minhas amigas Raynara e Sâmara por acreditarem em mim, muitas vezes
mais do que eu acreditei; vocês são minhas musas inspiradoras e deram a força motriz
para eu ter começado essa jornada.
Ao meu pai e minha mãe, que sempre colocou meus estudos como meu maior
presente de vida. Hoje, só sou Mestre por causa de vocês e por vocês. Te amo
I would like to thank my husband to be, Benjamin. I can’t remember one hard
path that I took along these two years that you weren’t there cheering for me. You were
many times my arms and legs. You gave me unconditional support and love, and for
that, I would never be able to thank you enough. I love you.
Por fim, quero agradecer à Maria Auxiliadora de Souza, que sozinha criou cinco
filhas negras, as alimentou em muitas vezes das plantações de alface no sertão. Cinco
filhas, as quais hoje, chamo quatro de tias e uma de mãe. Sem você e sua base forte, não
teríamos mais uma mulher negra Mestre no mundo. Você foi a matriarca que nos deu o
suporte pra chegar onde chegamos, nunca me tire das suas orações. Te amo, amo e amo.
6
RESUMO
A dificuldade de inserção de comunidade local nas estratégias de conservação, é
amplamente discutida, porém é ainda mais preocupante quando se refere a espécies de
pequeno tamanho corporal e de coloração críptica. Nesse contexto, levando em
consideração que o lagarto-de-folhiço é uma espécie oficialmente ameaçada, endêmica
de fragmentos da Mata atlântica potiguar, críptica e com pequeno tamanho corporal,
utilizá-la como modelo para entender quais os conhecimentos das pessoas sobre
espécies de pequeno tamanho corporal pode constituir dados de relevância global que
embasam estratégias de etnoconservação. Nesse cenário, este estudo teve como
objetivos analisar o Conhecimento ecológico local (CEL) dos funcionários de um
Parque urbano no município de Natal/RN sobre a fauna de répteis, especialmente sobre
o lagarto Coleodactylus natalensis, espécie-bandeira desta área protegida e ameaçada de
extinção, bem como investigar o ciclo reprodutivo desta espécie, em prol de sua
conservação e da biodiversidade associada. Os dados sobre CEL foram coletados
através de questionários semiestruturados aplicados para 39 funcionários do Parque
sobre conservação, herpetofauna, e ecologia do lagartinho-de-folhiço. Os funcionários
demonstraram conhecimentos mais específicos sobre a flora local do que sobre fauna, e
reconhecem a importância do parque para conservação das espécies. Os funcionários
com maior tempo de trabalho no parque possuem maior CEL sobre a espécie críptica e
ameaçada de extinção, C. natalensis; este dado é de grande relevância, pois não é o
padrão observado em outrosestudos de CEL. Também se destacaram as ameaças às
quais parques urbanos estão submetidos, inclusive as diferenças entre estes e os parques
rurais. As coletas dos dados reprodutivos de C. natalensis foram efetuadas durante
excursões mensais, de janeiro a dezembro de 2021, totalizando 12 meses de
amostragem, sendo que em todos os meses os ovos foram monitorados com 15 dias de
intervalo. Os resultados demonstram ocorrer reprodução contínua em C. natalensis, com
ninhada fixa de um ovo. O conjunto dos dados obtidos constitui subsídio importante e
valioso para o monitoramento e conservação da espécie ameaçada, bem como para a
gestão dessa Unidade de conservação, além de corroborar a relevância do CEL para a
conservação de espécies ameaçadas na perspectiva da etnoconservação.
Palavras-Chave: Conhecimento ecológico local; parques urbanos; reprodução de
lagartos; Etnoconservação.
7
ABSTRACT
ECOLOGY AND LOCAL ECOLOGICAL KNOWLEDGE OF THE ENDANGERED
LEAFLE LIZARD, Coleodactylus natalensis FREIRE, 1999, IN A PROTECTED
AREA OF NORTHERN BRAZILIAN ATLANTIC FOREST
The difficulty of including the local community in conservation strategies is widely
discussed, but it is even more worrying when it comes to species of small body size and
cryptic coloration. In this context, taking into account that the leaf lizard is an officially
threatened species, endemic to fragments of the Potiguar Atlantic Forest, cryptic and
with small body size, to use it as a model to understand what people's knowledge of
small body sized species, can provide globally relevant data that support
ethnoconservation strategies. In this scenario, this study aimed to analyze the local
ecological knowledge (LEK) of the employees of an urban park in the city of Natal/RN
on the reptile fauna, especially on the lizard Coleodactylus natalensis, a flagship species
of this protected and threatened area of extinction, as well as investigating the
reproductive cycle of this species, in favor of its conservation and associated
biodiversity. Data on LEK were collected through semi-structured questionnaires
applied to 39 park employees, on conservation, herpetofauna, and ecology of the leaf
lizard. The employees demonstrated more specific knowledge about the local flora than
about the fauna, and they recognize the importance of the park for the conservation of
the species. Employees with longer working time in the park have higher LEK on the
cryptic and endangered species, C. natalensis; this data is of great relevance, as it is not
the pattern observed in other LEK studies. The threats to which urban parks are
subjected were also highlighted, including the differences between these and rural
parks. The collections of reproductive data of C. natalensis were carried out during
monthly excursions, from January to December 2021, totaling 12 months of sampling,
and in all months the eggs were monitored 15 days apart. The results demonstrate that
continuous reproduction occurs in C. natalensis, with a fixed litter of one egg. The set
of data obtained constitutes an important and valuable subsidy for the monitoring and
conservation of the threatened species, as well as for the management of this
Conservation Unit, in addition to corroborating the relevance of the LEK for the
conservation of threatened species from the perspective of ethnoconservation.
8
KEYWORDS: Local ecological knowledge; lizard reproduction; urban parks;
Ethnoconservation
9
LISTA DE FIGURAS
INTRODUÇÃO GERAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Figura 1 - Indivíduo de Coleodactylus natalensis (macho) no folhiço do Parque da
cidade Dom Nivaldo
Monte........................................................................................................15
Figura 2 - Localização do Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, destacando a área do
Centro de Experimentos e Pesquisas da Mata Atlântica – CEPEMA, onde foi realizado
o estudo sobre biologia
reprodutiva....................................................................................22
Figura 3 - Fotos dos animais apresentados aos funcionários do Parque Municipal Dom
Nivaldo Monte durante as entrevistas para identificação de quais deles são répteis. 1 =
tatu-peba (Euphractus sexcinctus); 2 = jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria); 3 =
jiboia (Boa constrictor); 4 = minhoca (Annelida); 5 = perereca-do-chaco (Boana
raniceps); 6 = lagartixa (Tropidurus hispidus); 7 = embuá/piolho-de-cobra (Diplopoda);
8 = cobra-cipó (Chironius flavolineatus)........................................................................24
Figura 4 - Fotos dos animais apresentados aos funcionários do Parque Municipal Dom
Nivaldo Monte durante as entrevistas para identificação de qual deles era o lagarto de
folhiço, Coleodactylus natalensis. 1 = Vanzosaura multiscutata; 2 = Brasiliscincus
heathi; 3 = Hemidactylus mabouia; 4 = Salvator merianae; 5 = Coleodactylus
natalensis.........................................................................................................................25
Figura 5 - Fêmea de Coleodactylus natalensis contendo ovo visível a partir do
ventre...............................................................................................................................27
Figura 6 - Ovo de Coleodactylus natalensis encontrado em uma das excursões, sob o
folhiço..............................................................................................................................27
Figura 7 - Banderinha usada para a identificação do local onde foram encontrados ovos
de Coleodactylys natalensis, durante o trabalho de
campo...............................................................................................................................28
Capítulo 1 - Conhecimento ecológico local sobre a fauna de répteis e lagarto críptico,
ameaçado de extinção, em floresta urbana de área protegida.
Figura 1 - Valores médios (± 1 DP) dos escores de conhecimento ecológico local sobre
o ambiente natural do Parque e os répteis entre as pessoas que reconheceram e as que
10
https://www.google.com/search?bih=770&biw=1707&rlz=1C1CHZL_pt-BRBR910BR910&hl=pt-BR&sxsrf=AOaemvIuWpc1kP5M7ZgwH3o_Frng7kzi_g:1633378765442&q=Chelonoidis&stick=H4sIAAAAAAAAAONgVuLSz9U3SDc1zytOW8TK7ZyRmpOfl5-ZklkMAGd_yR0cAAAA&sa=X&ved=2ahUKEwi13uOIyrHzAhWdJLkGHU5lACIQmxMoAXoECEsQAw
não reconheceram a espécie Coleodactylus natalensis dentre as imagens de lagartos
apresentadas.....................................................................................................................46
Capítulo 2 - Biologia reprodutiva do lagarto ameaçado Coleodactylus natalensis Freire,
1999 (Squamata: Sphaerodactylidae) em remanescente da Mata atlântica setentrional
brasileira.
Figura 1 – Localização do Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, destacando a área do
Centro de Experimentos e Pesquisas da Mata Atlântica – CEPEMA, onde foi realizado
o estudo sobre biologia reprodutiva. Fonte:
Autores...........................................................62
Figura 2 – Dados abióticos de precipitação e temperatura média mensais no município
de Natal no ano de 2021, e média histórica de precipitação. Fonte: EMPARN e
INMET.............................................................................................................................63
Figura 3 – Número de indivíduos e de ovos de Coleodactylus natalensis registrados
mensalmente no ano de 2021 no Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, Natal, Estado
do Rio Grande do Norte, nordeste do
Brasil.....................................................................66
Figura 4 – Frequências mensais de atividade reprodutiva das fêmeas de Coleodactylus
natalensis no ano de 2021 no Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, Natal, Estado do
Rio Grande do Norte, nordeste do Brasil. Números acima das barras indicam os
tamanhos
amostrais..........................................................................................................................67
Figura 5 - Proporçõesmensais de adultos (CRC > 17 mm), juvenis (CRC entre 13 e 17
mm) e neonatos (CRC < 13 mm) de Coleodactylus natalensis no ano de 2021 no Parque
Municipal Dom Nivaldo Monte, Natal, Estado do Rio Grande do Norte, nordeste do
Brasil...............................................................................................................................67
11
LISTA DE TABELAS
INTRODUÇÃO GERAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Tabela 1 - Pontuações atribuídas para as perguntas sobre a fauna e flora local e sobre os
répteis durante as entrevistas com funcionários do Parque Municipal Dom Nivaldo
Monte...............................................................................................................................29
Tabela 2 - Pontuações atribuídas para as perguntas sobre atributos ecológicos de
Coleodactylus natalensis durante as entrevistas com funcionários do Parque Municipal
Dom Nivaldo Monte. Estas perguntas foram realizadas somente com os participantes
que reconheceram adequadamente a espécie por
fotografia...................................................30
Capítulo 1 - Conhecimento ecológico local sobre a fauna de répteis e lagarto críptico,
ameaçado de extinção, em floresta urbana de área protegida
Tabela 1 - Cognição comparada sobre os répteis, elaborada a partir de entrevistas com
funcionários do Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, realizadas em julho e agosto de
2021.................................................................................................................................42
Tabela 2 - Quadro de cognição comparada sobre a ecologia de Coleodactylus natalensis
obtido através de entrevistas com funcionários do Parque Municipal Dom Nivaldo
Monte, realizadas em julho e agosto de
2021................................................................................43
Tabela 3 - Valores médios (± 1 DP) dos escores de conhecimento ecológico local sobre
o ambiente natural do Parque e sobre os répteis (amostra total); e sobre a espécie de
lagarto Coleodactylus natalensis (amostra de pessoas que reconheceram a espécie),
ambos por tipo de ascendência (rural x urbana) e tempo de trabalho no
Parque..............................................................................................................................45
Tabela 4 – Números absolutos e percentuais de pessoas que reconheceram
Coleodactylus natalensis, nas diferentes categorias relacionadas ao tempo de trabalho
no Parque e tipode ascendência (rural ou
urbana).............................................................................................................................47
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................14
Etnoconservação e Conhecimento Ecológico Local (CEL) – bases conceituais e
relevâncias ......................................................................................................................17
Reprodução e estratégias reprodutivas: relevantes para conservação de espécies..........18
METODOLOGIA GERAL ............................................................................................21
Área de estudo.................................................................................................................21
Procedimentos metodológicos ........................................................................................22
- Conhecimento ecológico local – aplicação dos questionários......................................22
- Amostragem sobre a biologia reprodutiva de Coleodactylus natalensis......................26
Análise dos dados............................................................................................................28
- Conhecimento ecológico local......................................................................................28
- Biologia reprodutiva de Coleodactylus natalensis........................................................31
CAPÍTULO 1 - Conhecimento ecológico local sobre a fauna de répteis e lagarto
críptico, ameaçado de extinção, em floresta urbana de área protegida ..........................32
Introdução........................................................................................................................36
Material e métodos..........................................................................................................38
Resultados........................................................................................................................40
Discussão.........................................................................................................................47
Conclusão........................................................................................................................50
Agradecimentos...............................................................................................................51
Referências......................................................................................................................51
CAPÍTULO 2 - Biologia reprodutiva do lagarto ameaçado Coleodactylus natalensis
Freire, 1999 (Squamata: Sphaerodactylidae) em remanescente da Mata atlântica
setentrional brasileira.......................................................................................................58
INTRODUÇÃO...............................................................................................................59
MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................................61
Área de estudo.................................................................................................................61
Coleta e análise de dados.................................................................................................63
RESULTADOS...............................................................................................................65
DISCUSSÃO...................................................................................................................68
REFERÊNCIAS..............................................................................................................69
CONSIDERAÇÕES FINAIS DA
DISSERTAÇÃO.......................................................72
13
REFERÊNCIAS DA PARTE INTRODUTÓRIA DA DISSERTAÇÃO.......................73
Apêndice 1 – Questionário..............................................................................................79
Apêndice 2 - Material suplementar do artigo submetido referente ao capítulo 1............81
Anexo 1 – Comprovante de submissão de Artigo...........................................................86
Anexo 2 – Autorização da CEUA...................................................................................88
14
INTRODUÇÃO GERAL E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A vida na terra está passando pela sexta extinção em massa, que está colocando
em risco toda a biodiversidade mundial (CEBALLOS; EHRLICH; RAVEN, 2020). As
interferências antropogênicas que causam perda e fragmentação de habitats
compreendem um dos principais fatores que influenciam declínios populacionais de
espécies (GIBBONS et al., 2000; PRIMACK; RODRIGUES, 2001; RODRIGUES,
2005). Conhecer a história natural das espécies e investir em estratégias de conservação
junto à sociedade é um primeiro e grande passo para a conservação efetiva, porém
quando se trata de espécies de répteis de pequeno tamanho corporal, crípticas e que
tendem a ter menos contato e carisma para a população local, implantar essas estratégias
se torna mais problemático (FRYNTA et al., 2013; MACDONALD et al., 2015; ROLL
et al., 2016; SITAS; BAILLIE; ISAAC, 2009).
O Brasil é detentor de uma das maiores riquezas de répteis do mundo, com 848
espécies, o que corresponde a cerca de 8% das espécies mundiais (COSTA; BÉRNILS,
2021). No que diz respeito aos lagartos, cerca de 47% das espécies registradas no Brasil
são endêmicas do território nacional (COSTA; BÉRNILS,2021). Neste cenário,
destaca-se a família Sphaerodactylidae, composta por cinco gêneros, dentre eles o
gênero Coleodactylus, que está distribuído no norte da América do Sul e reúne cinco
espécies, quatro delas endêmicas do Brasil. Os lagartos desse gênero são
predominantemente diurnos e vivem associados à serapilheira de habitats florestados
(FREIRE, 1999 ; MORETTI, 2009; VANZOLINI, 1968).
Uma das espécies deste gênero é Coleodactylus natalensis Freire, 1999,
conhecido popularmente como lagarto-de-folhiço (Figura 1), e considerado o menor
lagarto da América do Sul, medindo até 24 mm de comprimento rostro-cloacal
(FREIRE, 1999). Coleodactylus natalensis pode ser identificada pela combinação dos
seguintes caracteres, que em conjunto a diferenciam do congênere C. meridionalis, a
espécie mais próxima filogeneticamente (FREIRE, 1999): (a) comprimento
rostro-cloacal máximo de 22 mm nos machos e 24 mm nas fêmeas; (b) região dorsal
castanho escuro com duas a três manchas brancas de cada lado, pareadas ou não, sendo
este padrão evidente principalmente nos machos; (c) uma faixa clara transversal sobre a
nuca; (d) machos com uma mancha branca trapezoidal no focinho e outra escura em
forma de “V” na região parietal; (e) escama rostral muito alta com a margem posterior
em forma de “W”; e (f) unhas cobertas por um estojo ungueal composto por cinco
escamas assimétricas.
15
Estudos ecológicos realizados com populações de C. natalensis demonstraram
que esses lagartos são termorreguladores passivos, dependentes da sombra da floresta
para sobreviver (SOUSA; FREIRE, 2011); alimentam-se de artrópodes,
predominantemente isópodes e aranhas (LISBOA; SALES; FREIRE, 2012); as fêmeas
possuem ninhada fixa de um ovo (LISBOA; SOUSA; RIBEIRO, 2008) e depositam este
ovo isoladamente ou de maneira agrupada/comunal, ou seja, próximos a ovos de outras
fêmeas da mesma espécie (SALES et al., 2020).
Figura 1 - Indivíduo de Coleodactylus natalensis (macho) no folhiço do Parque da cidade Dom Nivaldo
Monte. – Foto: Olyana da Silva Furtado.
A distribuição geográfica de C. natalensis está restrita a remanescentes florestais
da Mata atlântica potiguar, com preferência por habitats sombreados e clima mais
ameno. Os habitats florestados utilizados por C. natalensis estão bastante fragmentados
pela expansão urbana e turismo desordenados (FREIRE et al., 2018), fatos que causam
interrupção do fluxo gênico entre as subpopulações e declínio constante da qualidade do
hábitat e, consequentemente, das subpopulações insulares (DIXON et al., 2007; VOS et
al., 2001). Em adição a essas ameaças, soma-se a dificuldade de inserção da população
local nas estratégias de conservação, devido ao pequeno tamanho corporal e coloração
críptica da espécie, conforme constatado em espécie semelhante por Berti et al (2020a)
e Roll et al. (2016). Devido ao conjunto desses fatos, Coleodactylus natalensis foi
16
classificada como ameaçada, na categoria “em perigo”, na última avaliação da fauna
brasileira ameaçada de extinção (BRASIL, 2014; MMA, 2018).
Frente às ameaças à Mata Atlântica, em especial à herpetofauna da Mata
Atlântica nordestina, o Centro de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – RAN/ICMBio instituiu
inicialmente o Plano de Ação Nacional (PAN) para Conservação da Herpetofauna
Ameaçada da Mata Atlântica Nordestina (Portaria nº 200, de 1º de julho de 2013;
período 2013-2018), em continuidade pelo PAN Herpetofauna do Nordeste (Portaria nº
354, de 25 de julho de 2019; período 2019-2024), com o objetivo de criar estratégias
para a conservação das espécies de répteis e anfíbios ameaçadas de extinção nessa
região. Dentre as espécies alvos dos referidos PAN’s, está o lagarto-de-folhiço,
Coleodactylus natalensis Freire, 1999.
O lagarto-de-folhiço atualmente possui uma ocorrência bastante limitada, apenas
em remanescentes da Mata Atlântica do Rio Grande do Norte, além de submetido à
perda de habitat; por outro lado, a maioria das populações conhecidas e parcialmente
monitoradas está em Unidades de Conservação de proteção integral, na categoria
Parques (FREIRE, 1999; LISBOA; SOUSA; RIBEIRO, 2008; SALES et al., 2020;
SOUSA; FREIRE, 2011). Os Parques de ocorrência desta espécie estão ilhados dentro
de áreas urbanas, portanto, a sua conservação depende diretamente da manutenção
destas áreas protegidas e consciência da população que vive no entorno e/ou trabalha
nesses Parques.
A conservação de espécies é um grande desafio; maior dificuldade ainda quando
se trata da conservação de espécies de pequeno porte, devido ao menor financiamento
destinado, atuação em pesquisa e ações de conservação do que espécies maiores e
carismáticas, como grandes mamíferos (FISHER, 2011). Quando se trata de espécies de
répteis, esses números podem ser bem mais preocupantes (MAREŠOVÁ; FRYNTA,
2008; SITAS; BAILLIE; ISAAC, 2009). Estudos mostram que muitas vezes a
disposição de proteger e os recursos alocados para a conservação estão relacionados às
atitudes humanas frente ao animal em questão, e não em relação a indicadores da real
prioridade de conservação, como o status da red list da IUCN, por exemplo (SITAS;
BAILLIE; ISAAC, 2009). Nesse contexto, levando em consideração que o lagarto-
de-folhiço é uma espécie oficialmente ameaçada, endêmica de fragmentos da Mata
atlântica potiguar, críptica e com pequeno tamanho corporal, utilizá-la como modelo
para entender quais os conhecimentos das pessoas sobre espécies de pequeno tamanho
17
corporal, pode fornecer dados de relevância global que embasem estratégias de
etnoconservação.
Ao mesmo tempo, estratégias e ações de conservação dependem de informações
básicas sobre a história natural das espécies. Portanto, outra forma imprescindível de
contribuir para a conservação de espécies ameaçadas é o estudo dos padrões
reprodutivos, pois, os períodos de acasalamento, de desenvolvimento embrionário e de
recrutamento de juvenis são de grande importância para a sobrevivência e dinâmica das
populações (PRIMACK; RODRIGUES, 2001).
Etnoconservação e Conhecimento Ecológico Local (CEL) – bases conceituais e
relevâncias
Em se tratando de conservação da biodiversidade, é fundamental analisar a
história e a forma como as sociedades humanas se relacionaram com o meio ambiente e
a biodiversidade local (ALVES; ALBUQUERQUE, 2012). Essa relação direta ou
indireta é de grande relevância, uma vez que sua compreensão contribui para a
conservação da biodiversidade (GADGIL; BERKES; FOLKE, 1993), de espécies raras
(COLDING, 1998), de áreas protegidas (JOHANNES, 1998), processos ecológicos e
uso sustentável de recursos em geral (BERKES; COLDING; FOLKE, 2000; CUNHA,
1999; RAMIRES et al., 2015; SILVANO et al., 2006). Esse conhecimento acumulado
por sociedades humanas sobre fauna e flora é estudado pela Etnobiologia. A
característica multidisciplinar dessa ciência possibilita um amplo espectro de
abordagens e aplicações, bem como o surgimento de diversas áreas relacionadas como
etnobotânica, etnoecologia, etnozoologia (ALVES; SOUTO, 2011).
Embora a Etnobiologia, especificamente a Etnozoologia, sejam áreas
promissoras e que vêm crescendo consideravelmente nos últimos anos no Brasil
(BEAUDREAU; LEVIN, 2014; LANA PINTO; CRUZ; SILVÉRIO PIRES, 2015;
RAMIRES et al., 2015; REYES-GONZÁLEZ et al., 2020; SILVANO et al., 2006),
ainda existe carência sobre a Etnoherpetologia, subárea da Etnozoologia que se dedica
ao estudo da relação de culturas humanas e conhecimento popular sobre a herpetofauna
(ALVES et al., 2010). Esse fato limita a elaboração de estratégias de conservação
adequadas para várias espécies, considerando que tais estudos são fundamentais dentro
da perspectiva conservacionista (ALVES et al., 2010; ALVES; SOUTO, 2011;
DIEGUES, 2000; PASSOS et al., 2015).
18
Uma vertente conservacionista bastante promissora na área da Etnobiologia, mas
ainda subexplorada, é a Etnonconservação, a qual estuda o conhecimentodas
populações humanas sobre processos da natureza e práticas de manejo, promovendo
uma conexão entre o conhecimento popular e o científico em prol da conservação da
biodiversidade (DIEGUES, 2000; MAGALHÃES; NETO; SCHIAVETTI, 2020).
Nessa perspectiva, diversos pesquisadores propõem uma aliança entre os
cientistas e os construtores e portadores do conhecimento local, considerando que os
dois conhecimentos — o científico e o local — são igualmente importantes devido à
grande necessidade de se integrar essas duas contribuições no planejamento e execução
de ações conservacionistas (ASWANI; LEMAHIEU; SAUER, 2018; LANA PINTO;
CRUZ; SILVÉRIO PIRES, 2015; NASH; WONG; TURVEY, 2016; RAMIRES et al.,
2015; SILVANO et al., 2006). No entanto, a expressão dos conhecimentos nas
populações urbanas permanece ainda pouco conhecida. Neste sentido, a existência de
algumas espécies de lagartos adaptadas a ambientes antrópicos ou negativamente
impactadas, mas que ainda conseguem permanecer em remanescentes florestais
urbanos, como é o caso do lagarto Coleodactylus natalensis, somada à ascendência
familiar de parcelas da população urbana, frequentemente relacionadas à zona rural,
suporta a ocorrência de concepções particulares sobre lagartos nos centros urbanos
(PASSOS et al., 2015).
Nesse contexto, uma das maneiras de se estudar/trabalhar na perspectiva
etnobiológica, particularmente da etnoconservação, é focar nos estudos sobre o
conhecimento ecológico local (CEL) de uma comunidade.
O conhecimento ecológico local (CEL) pode ser definido pelo conjunto de
conhecimentos sobre ecologia e gestão de recursos naturais que uma pessoa adquire ao
longo da vida, que pode variar por gênero, idade, nível educacional e frequência de
contato com áreas naturais (BERKES; COLDING; FOLKE, 2000; GADGIL; BERKES;
FOLKE, 1993). Constitui um campo do conhecimento científico que tem como objetivo
testar a validade ecológica de determinadas formas de manejo dos recursos naturais
utilizadas por um grupo cultural em uma determinada área (ALVES; SOUTO, 2015).
Reprodução e estratégias reprodutivas: importância para conservação de espécies
Ações de conservação exigem informações básicas sobre a história natural das
espécies. Isto posto, outra forma imprescindível de contribuir para a conservação de
19
espécies ameaçadas é o estudo ecológico dos padrões reprodutivos, uma vez que os
períodos de acasalamento, de desenvolvimento embrionário nos ovos e de recrutamento
de juvenis são de grande importância para a sobrevivência e dinâmica das populações
(PRIMACK; RODRIGUES, 2001).
Os ciclos reprodutivos em lagartos têm sido associados a fatores ambientais
limitantes, sendo a precipitação, temperatura e o fotoperíodo os mais importantes na
determinação do período reprodutivo de espécies de zonas temperadas (JAMES;
SHINE, 1985; TINKLE; WILBUR; TILLEY, 1970). Para lagartos de regiões tropicais,
que vivem em ambientes com uma sazonalidade de precipitação bem previsível,
normalmente observa-se reprodução cíclica bem demarcada e correlacionada com as
estações e variáveis ambientais, principalmente precipitação e temperatura (VAN
SLUYS et al., 2010; WIEDERHECKER; PINTO; COLLI, 2002). No entanto, no que
se refere a espécies de lagartos de regiões tropicais onde as chuvas são imprevisíveis e
não existe uma padronização cíclica das variáveis ambientais bem demarcadas, a
reprodução contínua é por diversas vezes observada (VITT; GOLDBERG, 1983;
ZANCHI-SILVA; BORGES-NOJOSA; GALDINO, 2014), sendo esta configuração
discutida do ponto de vista de assincronia dos períodos reprodutivos individuais na
população em virtude da falta de pistas ambientais previsíveis (SALES; FREIRE,
2016). Nessa perspectiva, existem duas hipóteses para a influência de condições
ambientais na reprodução de lagartos tropicais (BROWN; SHINE, 2006; VITT; COLLI,
1994): (1) reprodução contínua ao longo do ano em ambientes nos quais as chuvas são
abundantes e relativamente constantes (e.g. Floresta Amazônica), ou sazonais porém
bastante imprevisíveis (e.g. Caatinga); e (2) reprodução sazonal em locais nos quais
chuvas são periódicas e concentradas numa época do ano (e.g. Cerrado) (VITT;
GOLDBERG, 1983; WIEDERHECKER; PINTO; COLLI, 2002).
Para lagartos ovíparos, após a postura dos ovos, a incubação também depende
diretamente de variáveis ambientais para fornecer as condições necessárias para o
desenvolvimento embrionário bem sucedido (SIVITER; CHARLESDEEMING;
WILKINSON, 2019). Portanto, o estado de conservação da área, disponibilidade de luz
solar, temperatura e precipitação podem impactar o sucesso da incubação, sendo a
temperatura a variável mais importante para o sucesso dos recém-nascidos (FLATT et
al., 2001). Logo, o monitoramento de ovos com identificação das condições de postura,
número e época de nascimento de filhotes fornecem dados de história natural
20
importantes e necessários para uma eficaz avaliação do risco de extinção de uma
população ou espécie (TINGLEY; MEIRI; CHAPPLE, 2016).
Para Coleodactylus natalensis, os dados disponíveis sobre biologia reprodutiva
ainda são bastante escassos (SALES et al., 2020). Assim, considerando que ações de
conservação são urgentes por se tratar de uma espécie ameaçada, e que o conhecimento
sobre a biologia e história natural de uma espécie é o primeiro passo para embasar
estratégias de conservação (PRIMACK; RODRIGUES, 2001; SALES et al., 2020),
estudar a biologia reprodutiva desta espécie endêmica e ameaçada é de necessidade
eminente.
Objetivos e estrutura da Dissertação
Diante do exposto, e partindo da perspectiva de que a conservação moderna
opera no nexo de influências biológicas e sociais, esta Dissertação objetiva analisar o
conhecimento ecológico local dos funcionários do Parque Municipal Dom Nivaldo
Monte, Natal/RN, sobre a fauna de répteis, especialmente quanto a Coleodactylus
natalensis, espécie-bandeira desta área protegida e ameaçada de extinção, assim como
investigar o ciclo reprodutivo da espécie, em prol de sua conservação e de toda a
sociobiodiversidade associada. Especificamente, objetiva-se (1) identificar o
conhecimento ecológico local (CEL) dos funcionários sobre a fauna de répteis e flora
local, bem como a importância da existência da Unidade de Conservação; (2) identificar
se o CEL dos funcionários converge com a literatura científica e se há concepções
alternativas sobre a hepetofauna local; (3) determinar quais conhecimentos ecológicos
esses trabalhadores possuem sobre C. natalensis; (4) avaliar as diferenças no CEL dos
entrevistados em função das variáveis tempo de trabalho no Parque e ascendência social
(rural ou urbana); (5) monitorar a densidade populacional de adultos e filhotes ao longo
do ano; (6) identificar a duração do período reprodutivo (contínuo ou sazonal), bem
como os parâmetros ambientais envolvidos na sua determinação; e (7) monitorar o
tempo de eclosão dos ovos e identificar ocorrência de nidificação comunal e época de
nascimento de filhotes.
A Dissertação está estruturada em dois capítulos. O Capítulo 1 abrange os
objetivos específicos 1 a 4 e está intitulado “Conhecimento ecológico local sobre a
fauna de répteis e lagarto críptico, ameaçado de extinção, em floresta urbana de área
protegida”. Já o Capítulo 2 contempla os objetivos específicos 5 a 7, e possui como
título “Biologia reprodutiva do lagarto ameaçado Coleodactylus natalensis Freire, 1999
21
(Squamata: Sphaerodactylidae) em remanescente da Mata atlântica setentrional
brasileira”. Após os dois capítulos, são tecidas as Considerações Finais da Dissertação.
METODOLOGIA GERAL
Área de estudo
Este estudo foi realizado no Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, uma
Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integral da Mata Atlântica setentrional.
Compreende uma área de 136,54 hectares e está inserido na área urbana do município
de Natal/RN (“Prefeitura Municipal do Natal”, [s.d.]). Mais conhecido como Parque da
Cidade, esta UC foi criada por meio do DecretoMunicipal Nº 87.078/2006, na categoria
de Unidade de Conservação de Proteção Integral, cujo objetivo é preservar a natureza,
admitindo apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. No âmbito deste Parque, as
entrevistas com os funcionários, cujos resultados compõem o Capítulo 1 desta
Dissertação, foram realizadas na sede da UC. Já as coletas dos dados reprodutivos, que
compõem o Capítulo 2, foram realizadas no Centro de Experimentos e Pesquisas da
Mata Atlântica – CEPEMA (5°51’02” S, 35°14’18” O, 44 m elev.), que compreende
uma área de aproximadamente 4,7 hectares do Parque, onde C. natalensis ocorre em alta
densidade (SALES & FREIRE, dados não publicados).
Na área do CEPEMA (Figura 2), funcionava um horto florestal destinado a
cultivo de espécies de plantas ornamentais, contudo a área do horto desativado foi
integrada à área da UC no âmbito de um processo de compensação ambiental decorrente
do licenciamento de um empreendimento imobiliário nas margens do Parque. O
CEPEMA possui uma vegetação arbórea predominante alta, proporcionando áreas
sombreadas e com grande quantidade de folhiço, ambiente propício à ocupação e
permanência de Coleodactylus natalensis (FREIRE, 1999). A temperatura e umidade
relativa do ar no município de Natal são relativamente constantes durante o ano, com
médias de 26,2 ± 0,1 °C e 79,7 ± 3,1%, respectivamente; já a precipitação anual média é
de 1614,3 ± 77,5 mm (fonte: Instituto Nacional de Metereologia – INMET).
22
Figura 2 – Localização do Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, destacando a área do Centro de
Experimentos e Pesquisas da Mata Atlântica – CEPEMA. Fonte: IBGE Malhas digitais (2021) e
SEMURB (2020).
Procedimentos metodológicos
Conhecimento ecológico local – aplicação dos questionários
As entrevistas foram feitas com 39 funcionários do Parque Municipal Dom
Nivaldo Monte, alocados nos Setores de manejo ambiental (n = 11), de educação
ambiental (n = 11), administrativo (n = 3), guardas municipais do Grupo de Ação
Ambiental - GAAM (n = 10), e auxiliares de serviço gerais - ASGs (n = 4).
A coleta de dados foi feita através do uso de questionários semiestruturados
sobre conservação, herpetofauna, e ecologia do lagartinho-de-folhiço, aqui
representando um modelo de espécie críptica de pequeno porte, além de ser
espécie-bandeira do Parque (NATAL, 2014). Os questionários foram aplicados
individualmente para evitar indução nas respostas, em entrevistas que duraram entre 15
e 30 minutos.
23
As entrevistas ocorreram entre julho e agosto de 2021 na sede do Parque (Figura
2). Antes da entrevista, foi explicado brevemente a proposta do estudo e perguntado se a
pessoa gostaria de participar; aqueles que aceitaram assinaram um Termo de
Consentimento (TCLE), autorizando a utilização dos dados para a pesquisa, que seguiu
as recomendações do Comitê de ética e pesquisa da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (CAAE 46979421.8.0000.5537). O questionário foi dividido em 4
partes: (1) dados pessoais, como idade, ascendência de ambiente rural ou urbano, tempo
de trabalho no parque, gênero, escolaridade, setor de atuação no parque (10 questões);
(2) conhecimento sobre conservação (6 questões); (3) conhecimento sobre a fauna de
répteis local (5 questões); e (4) ecologia do lagarto-de-folhiço (11 questões). O
questionário completo pode ser visualizado no Apêndice 1.
Durante cada entrevista foram mostradas oito fotos de animais que ocorrem na
região, e solicitado aos funcionários que identificassem quais eles classificavam como
répteis. As fotos apresentadas estavam fora de escala. Os animais apresentados (Figura
3) foram o tatu-peba (Euphractus sexcinctus), o jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria,
Spix 1824), a jiboia (Boa constrictor, Linnaeus, 1758), uma minhoca (Annelida), a
perereca-do-chaco (Boana raniceps, Cope 1862), a lagartixa (Tropidurus hispidus,
Spix, 1805), um embuá/piolho-de-cobra (Diplopoda) e a cobra-cipó (Chironius
flavolineatus, Jan, 1863).
Em seguida, em outro ponto do questionário, foram apresentadas aos
funcionários fotos de cinco lagartos que ocorrem na área do Parque (Vanzosaura
multiscutata, AMARAL 1933, Brasiliscincus heathi Schmidt & Inger, 1951,
Hemidactylus mabouia, Jonnes, 1818, Coleodactylus natalensis e Salvator merianae,
Duméril & Bibron, 1839; Figura 4) e foi perguntado se, dentre esses lagartos, eles
sabiam identificar quem era o lagarto-de-folhiço, Coleodactylus natalensis. Para os
entrevistados que responderam que não sabiam identificar ou que identificaram
erroneamente, a entrevista foi encerrada; já para aqueles que identificaram C. natalensis
corretamente, a entrevista prosseguiu com perguntas específicas sobre aspectos
ecológicos dessa espécie, incluindo biologia reprodutiva, uso de habitat, período de
atividade, dieta e termorregulação.
24
https://www.google.com/search?bih=770&biw=1707&rlz=1C1CHZL_pt-BRBR910BR910&hl=pt-BR&sxsrf=AOaemvIuWpc1kP5M7ZgwH3o_Frng7kzi_g:1633378765442&q=Chelonoidis&stick=H4sIAAAAAAAAAONgVuLSz9U3SDc1zytOW8TK7ZyRmpOfl5-ZklkMAGd_yR0cAAAA&sa=X&ved=2ahUKEwi13uOIyrHzAhWdJLkGHU5lACIQmxMoAXoECEsQAw
Figura 3 - Fotos dos animais apresentados aos funcionários do Parque Municipal Dom Nivaldo Monte
durante as entrevistas para identificação de quais deles são répteis. 1 = tatu-peba (Euphractus sexcinctus);
2 = jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria); 3 = jiboia (Boa constrictor); 4 = minhoca (Annelida); 5 =
perereca-do-chaco (Boana raniceps); 6 lagartixa (Tropidurus hispidus); 7 = embuá/piolho-de-cobra
(Diplopoda); 8 = cobra-cipó (Chironius flavolineatus). Fonte: Autores
25
https://www.google.com/search?bih=770&biw=1707&rlz=1C1CHZL_pt-BRBR910BR910&hl=pt-BR&sxsrf=AOaemvIuWpc1kP5M7ZgwH3o_Frng7kzi_g:1633378765442&q=Chelonoidis&stick=H4sIAAAAAAAAAONgVuLSz9U3SDc1zytOW8TK7ZyRmpOfl5-ZklkMAGd_yR0cAAAA&sa=X&ved=2ahUKEwi13uOIyrHzAhWdJLkGHU5lACIQmxMoAXoECEsQAw
Figura 4 - Fotos dos animais apresentados aos funcionários do Parque Municipal Dom Nivaldo Monte
durante as entrevistas para identificação de qual deles era o lagarto Coleodactylus natalensis. 1 =
Vanzosaura multiscutata; 2 = Brasiliscincus heathi; 3 = Hemidactylus mabouia; 4 = Salvator merianae; 5
= Coleodactylus natalensis. Fonte: Foto 3: Vinícius Thawaan Cerqueira Silva; demais fotos: Autores.
Esta pesquisa foi aprovada no Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob o número certificado CAAE
46979421.8.0000.5537 e número do Parecer 4.812.599. Seguindo as regras desse
Comitê, antes de aplicar o questionário, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) foi dado aos funcionários conforme as normas estabelecidas pela Resolução nº
196/1996 do Conselho Nacional de Saúde e previamente aprovadas pelo Comitê de
26
Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
(CEP/ UFRN nº 227/12).
Amostragem sobre a biologia reprodutiva de Coleodactylus natalensis
Os dados sobre a biologia reprodutiva de Coleodactylus natalensis foram
coletados mensalmente de janeiro a dezembro de 2021, totalizando 12 meses de
amostragem. A cada mês foram feitas duas incursões a campo com 15 dias de intervalo
entre elas, sendo a primeira visita (V1) destinada à busca dos espécimes e ovos de C.
natalensis, e a segunda visita (V2) destinada somente ao acompanhamento dos ovos
encontrados nas visitas anteriores, sendo possível obter dados mais detalhados sobre o
tempo de eclosão dos ovos em monitoramento.
Para essa amostragem sobre biologia reprodutiva, foram demarcados seis
quadrantes de 5 x 10 m (50 m2) em locais sombreados e com abundância de serapilheira
no solo. Em todas as V1, cada quadrante foi inspecionado durante 30 minutos por 4
pessoas, revirando-se lentamente toda a serapilheira no solo, protegidos por luvas de
raspa de couro, no período matutino, entre 8:00h e 13:00h. Além disso, para registro dos
dados abióticos, foram feitas as aferições da temperatura do ar (TA), umidade do ar
(UA) 1 cm acima da serrapilheira, temperaturado folhiço (TF) e profundidade do
folhiço (H) em cinco pontos escolhidos de forma randômica. Essas medidas foram feitas
em campo com o uso de um sensor de temperatura (Instrutherm® model S- 02K)
acoplado a um termohigrômetro (precisão de 0,1 ° C; Instrutherm® modelo HTR-350),
em um ponto em cada um dos 6 quadrantes.
Os espécimes de C. natalensis encontrados foram coletados manualmente para
realização das medidas morfométricas com um paquímetro digital: comprimento
rostro-cloacal (CRC); comprimento da cauda (CC); largura da cabeça (LC). As fêmeas
foram inspecionadas no ventre com auxílio de lanterna para verificar se havia presença
de ovo, fato que evidencia se ela está ou não no período reprodutivo; é possível
visualizar a presença de ovo no ventre do animal pela coloração diferenciada (Figura 5).
Os lagartos foram mantidos temporariamente numa caixa de contenção até que todo o
quadrante fosse amostrado. Todos os animais capturados foram soltos nos mesmos
locais de coleta, após a inspeção da área delimitada, conforme metodologia utilizada por
Lisboa; Freire (2012) em estudo semelhante com essa mesma espécie em outra
localidade. Para cada indivíduo encontrado foram registrados os dados abióticos (TA,
UA, TF, H) do local exato onde foi encontrado.
27
A localização dos ovos encontrados no ambiente (Figura 6) foi sinalizada com
bandeirinhas confeccionadas com papel vegetal e palitos de churrasco (Figura 7), assim
foi possível encontrar facilmente os ovos nas visitas seguintes. Esses locais foram
inspecionados quinzenalmente para verificar se os ovos eclodiram, bem como para
registros dos dados abióticos (TA, UA, TF, H) do local onde os ovos foram encontrados.
Figura 5 - Fêmea de Coleodactylus natalensis contendo ovo visível a partir do ventre. Foto: Vinícius
Thawaan Cerqueira Silva.
Figura 6 - Ovo de Coleodactylus natalensis encontrado em uma das visitas, sob o folhiço. Foto: Vinícius
Thawaan Cerqueira Silva.
28
Figura 7 - Banderinha usada para a identificação do local onde foram encontrados ovos de Coleodactylys
natalensis, durante o trabalho de campo. Foto: Raul Sales
A abordagem metodológica aqui utilizada foi aprovada pela Comissão de Ética
em Uso de Animais (CEUA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
certificado sob número 232.023/2020, assim como autorizada pelo Sistema de
autorização e informação em biodiversidade (SISBIO), para atividade com finalidade
científica, sob número 75883-1.
Análise de dados
Conhecimento ecológico local
A investigação do conhecimento local foi analisada qualitativamente e
quantitativamente. Para a identificação qualitativa, foi construído um “quadro de
cognição comparada”, contendo as informações providas pelos informantes (respostas
mais frequentes) sobre o meio ambiente, répteis e C. natalensis, e as convergências e
divergências com a literatura científica (COSTA NETO; SANTOS FITA; VARGAS
CLAVIJO, 2009). Quando a informação não foi encontrada na bibliografia científica
para a espécie, foi levado em consideração o que havia disponível para o gênero
Coleodactylus, e quando não encontrado para este gênero foi levado em consideração as
informações gerais para lagartos gecos (Gekkota) de serrapilheira, em razão da
proximidade filogenética das espécies desse grupo (KLUGE, 1995).
Para a análise quantitativa dos dados, primeiramente organizou-se uma tabela
com escores (pontuação) para as respostas obtidas (Tabela 1). Aqueles entrevistados que
obtiveram pontuação máxima, ou seja, acertaram todas as respostas, atingiram 10
29
pontos. A mesma metodologia foi utilizada para as informações sobre atributos
ecológicos de Coleodactylus natalensis (Tabela 2); estas perguntas especificas sobre o
lagarto-de-folhiço foram realizadas somente com os participantes que identificaram
adequadamente a espécie por fotografia.
Com essa pontuação feita para cada um dos informantes, testes t de amostras
independentes foram realizados para verificar se havia influência do tempo de trabalho
no Parque (maior ou menor que 5 anos) e da ascendência do informante (urbana ou
rural) sobre os escores de CEL quanto ao ambiente natural do Parque e os répteis. Um
teste t independente também foi aplicado para comparar os escores de CEL entre os
informantes que reconheceram e os que não reconheceram a espécie C. natalensis
dentre as imagens de lagartos apresentadas. Adicionalmente, o teste Chi-quadrado foi
aplicado para testar se o tempo de trabalho no Parque e a ascendência do informante
influenciaram no reconhecimento de C. natalensis. Para as pessoas que reconheceram
C. natalensis, uma análise de regressão linear simples foi realizada para testar se havia
relação entre os escores de CEL sobre o ambiente natural do Parque e os répteis, e os
escores de CEL sobre a espécie C. natalensis.
Todas as análises estatísticas foram realizadas usando o software SPSS Statistics
20.0 (IBM) para Windows (α = 0,05). Todas as variáveis foram testadas quanto à
normalidade e homoscedasticidade das variâncias antes de realizar testes paramétricos.
Tabela 1 – Pontuações atribuídas para as perguntas sobre a fauna e flora local e sobre os
répteis durante as entrevistas com funcionários do Parque Municipal Dom Nivaldo
Monte.
Perguntas Escore (pontos) Pontuação
máxima
Tipo de vegetação
predominante no Parque
2 – Correto
1 – Parcialmente correto
0 – Incorreto/não soube responder
2
Encontros com animais no
Parque
1 – Encontra
0 – Não encontra
1
Principal característica dos
répteis
2 – Forneceu satisfatoriamente
uma característica
1 – Forneceu uma resposta vaga
0 – Não soube responder
2
Reconhecimento de répteis 4 – Identificação 100% correta das
fotografias
3 – Identificação 75% correta das
fotografias
4
30
2 – Identificação 50% correta das
fotografias
1 – Identificação 25% correta das
fotografias
0 – Não soube identificar os répteis
nas fotografias
Percepção de répteis como
animais peçonhentos
1 – Respondeu corretamente
(alguns são peçonhentos)
0 – Respondeu incorretamente
(todos são peçonhentos ou nenhum
é peçonhento)
1
TOTAL MÁXIMO DE PONTOS 10
Tabela 2 - Pontuações atribuídas para as perguntas sobre atributos ecológicos de
Coleodactylus natalensis durante as entrevistas com funcionários do Parque Municipal
Dom Nivaldo Monte. Estas perguntas foram realizadas somente com os participantes
que reconheceram adequadamente a espécie por fotografia.
Perguntas Escore (pontos) Pontuação
máxima
Como se reproduz? 1 – Resposta correta (reprodução
sexuada ovípara)
0 – Incorreto/não soube responder
1
Tamanho da ninhada 1 – Resposta correta (1 ovo)
0 – Incorreto/não soube responder
1
Ocorrência de oviposição
comunal
1 – Soube responder (ovos
solitários ou ovos encontrados
juntos)
0 – Não soube responder
1
Período reprodutivo ao
longo do ano
1 – Soube responder (reprodução
contínua ou concentrada numa
época do ano)
0 – Não soube responder
1
Período de atividade 1 – Respondeu corretamente
(atividade diurna)
0 – Incorreto/Não soube responder
1
Categoria de luminosidade
predominantemente ocupada
(sombreada ou ensolarada)
1 – Respondeu corretamente
(hábitats sombreados)
0 – Incorreto/Não soube responder
1
Microhabitat predominante
ocupado
1 – Respondeu corretamente
(folhiço)
2 – Incorreto/Não soube responder
1
Dieta 1 – Respondeu corretamente
(pequenos invertebrados)
0 – Incorreto/Não soube responder
1
31
Consequências ecológicas
do pequeno tamanho
corporal
1 – Respondeu corretamente (o
tamanho diminuto traz alguma
consequência ecológica, seja
positiva ou negativa)
0 – Respondeu incorretamente/Não
soube responder
1
Variação em densidade ao
longo do tempo
1 – Soube responder (aumentou,
diminuiu ou manteve-se)
0 – Não soube responder
1
TOTAL MÁXIMO DE PONTOS 10
Biologia reprodutiva
Foi contabilizado o número de indivíduos adultos, juvenis e neonatos, além de
contabilizados os números de ovos e fêmeas grávidas para as análises dos dados
reprodutivos. Para verificar a influência de variáveis ambientais das áreas(precipitação
mensal, temperatura média mensal) sobre a abundância mensal de indivíduos e ovos,
bem como na proporção mensal de fêmeas em condição reprodutiva, foram usadas
correlações de Spearman.
32
CAPÍTULO 1
Conhecimento ecológico local sobre a fauna de répteis e lagarto críptico, ameaçado
de extinção, em floresta urbana de área protegida
Holda Ramos da Silva 1, Raul Fernandes Dantas de Sales 2, Eliza Maria Xavier Freire 3
1.Aluna do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. e-mail:
ramos.holda@gmail.com 2. Pós-Doutorando em Desenvolvimento e Meio
Ambiente /UFRN e-mail: raulsales17@gmail.com. 3. Professora do
Departamento de Botânica e Zoologia/UFRN (Orientadora). e-mail:
elizajuju1000@gmail.com.
ESTE ARTIGO ESTÁ SUBMETIDO AO PERIÓDICO “AMBEINTE & SOCIEDDE”,
QUALIS A2, E, PORTANTO, ESTÁ FORMATADO DE ACORDO COM AS
RECOMENDAÇÕES DESTA REVISTA (acessar
https://www.scielo.br/journal/asoc/about/#instructions)
33
mailto:ramos.holda@gmail.com
mailto:raulsales17@gmail.com
mailto:elizajuju1000@gmail.com
https://www.scielo.br/journal/asoc/about/#instructions
Conhecimento ecológico local sobre a fauna de répteis e lagarto críptico, ameaçado
de extinção, em floresta urbana de área protegida
Holda Ramos da Silva I
Raul Fernandes Dantas Sales I
Eliza Maria Xavier Freire I
I Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Rio Grande do Norte,
Brasil.
34
Conhecimento ecológico local sobre a fauna de répteis e lagarto críptico, ameaçado
de extinção, em floresta urbana de área protegida
Resumo
Áreas protegidas constituem estratégias importantes de conservação da
biodiversidade, mas é um desafio mantê-las, especialmente em áreas urbanas.
Em um Parque Urbano na Mata Atlântica, foi investigado o Conhecimento
ecológico local (CEL) dos funcionários sobre a fauna de répteis e de espécies
de lagartos crípticas de pequeno porte. Foram entrevistados 39 funcionários do
Parque. Constatou-se que os funcionários detêm conhecimentos mais
específicos sobre a flora local, e reconhecem a importância do Parque para
conservação das espécies. Funcionários com maior tempo de trabalho no
Parque possuem maior CEL sobre a espécie críptica e ameaçada de extinção
Coleodactylus natalensis. Esse fato, quando adicionado ao tamanho diminuto
da espécie, e inexistência de valor cultural e utilitário para os funcionários, é de
grande relevância, visto que não é o padrão observado em outros estudos de
CEL. Este trabalho também evidencia as ameaças às quais parques urbanos
estão submetidos e diferenças de parques rurais.
Palavras-chaves: Conhecimento local; parques urbanos; espécies crípticas;
etnoherpetologia; conservação.
Local ecological knowledge about reptiles and cryptic lizard in an urban
forest
Abstract
Protected areas are important strategies for conserving biodiversity, but
maintaining them is a challenge, especially in urban areas. In an urban park in
the Atlantic Forest, the local ecological knowledge (LEK) of employees on the
fauna of reptiles and small cryptic lizard species was investigated. 39
employees of the park were interviewed. It was found that employees have
more specific knowledge about the local flora, and recognize the importance of
the park for the conservation of species. Employees with longer working time in
the park have a higher LEK on the cryptic and endangered species
Coleodactylus natalensis. This fact, when added to the small size of the
35
species, and the lack of cultural and utilitarian value for the employees, is of
great relevance since it is not the pattern observed in other LEK studies. This
work also highlights the threats to which urban parks are subjected.
Keywords: Local knowledge; urban parks; cryptic species; ethnoherpetology;
conservation.
Saber ecológico local sobre la fauna de reptiles y lagartijas crípticas en el
bosque urbano
Resumen
Las Áreas Protegidas o Unidades de Conservación son estrategias de
preservación, pero mantenerlas es un desafío, especialmente en áreas
urbanas. En el Parque Municipal Urbano, con un remanente de Mata Atlántica
Norte, se investigó el saber ecológico local (SEL) de los empleados sobre la
fauna de reptiles y sobre especies de lagartijas crípticas pequeñas. Se
entrevistaron 39 empleados de diferentes sectores del Parque. Entre los
resultados se encontró que los empleados tienen un conocimiento más
específico sobre la flora local, y reconocen la importancia del parque para la
conservación de las especies. Los empleados con más tiempo de trabajo en el
parque tienen un SEL más alto en la especie críptica y amenazada
Coleodactylus natalensis. Este hecho, sumado al pequeño tamaño de la
especie, y la falta de valor cultural y utilitario para los empleados, es de gran
relevancia, ya que no es el patrón observado en otros estudios de SEL. Este
trabajo también destaca las amenazas a las que están sujetos los parques
urbanos y destaca las diferencias entre los parques urbanos y los rurales.
Palabras llave: Saber local; parques urbanos; especies crípticas;
etnoherpetología; conservación.
Introdução
A vida na terra está passando pela sexta extinção em massa, e este
evento está colocando em risco toda a biodiversidade mundial (CEBALLOS;
EHRLICH; RAVEN, 2020). As interferências antropogênicas que causam
36
fragmentação de habitat constituem um dos principais fatores que influenciam o
declínio populacional, sendo este considerado severa causa deste problema
(GIBBONS et al., 2000; PRIMACK; RODRIGUES, 2001; RODRIGUES, 2005).
Conhecer a história natural das espécies e investir em estratégias de
conservação junto à sociedade é um primeiro e grande passo para a
conservação efetiva, porém quando se trata de espécies de répteis de pequeno
tamanho corporal, crípticas e que tendem a ter menos contato e carisma para a
população local, implantar essas estratégias se torna mais problemático
(FRYNTA et al., 2013; MACDONALD et al., 2015; ROLL et al., 2016; SITAS;
BAILLIE; ISAAC, 2009).
Existe uma grande dificuldade para a conservação de espécies de
pequeno porte, em decorrência de menor financiamento, atuação em pesquisa
e ações de conservação do que espécies maiores e carismáticas, como
grandes mamíferos (FISHER, 2011). Quando se trata de espécies de répteis,
esses números podem ser bem mais preocupantes (MAREŠOVÁ; FRYNTA,
2008; SITAS; BAILLIE; ISAAC, 2009). Estudos mostram que muitas vezes a
disposição de proteger e os recursos alocados para a conservação estão
relacionadas às atitudes humanas frente ao animal em questão, e não em
relação a indicadores da real prioridade de conservação, como o status da red
list da IUCN, por exemplo (SITAS; BAILLIE; ISAAC, 2009).
Nesse contexto se encontram alguns lagartos da família
Sphaerodactylidae, que são predominantemente diurnos e vivem associados à
serapilheira de habitats florestados (FREIRE, 1999 ; MORETTI, 2009;
VANZOLINI, 1968). Uma das espécies desta família é o geco pigmeu de Natal,
o lagarto-de-folhiço Coleodactylus natalensis Freire, 1999, considerado o
menor lagarto da América do Sul, medindo até 24 mm de comprimento
rostro-cloacal (FREIRE, 1999). Esta espécie é endêmica da região setentrional
da Mata Atlântica brasileira, especificamente de remanescentes florestais do
Rio Grande do Norte, e está oficialmente ameaçada de extinção (MMA, 2018).
Os habitats florestados utilizados por C. natalensis estão bastante
fragmentados pela expansão urbana e turismo desordenados. Juntamente a
essas ameaças, o pequeno tamanho corporal e coloração críptica da espécie
torna ainda mais difícil inserir a população local nas estratégias de conservação
(BERTI et al., 2020a; ROLL et al., 2016). Os Parques onde esta espécie ocorre
37
estão ilhados dentro de áreas urbanas, portanto, a sua conservação depende
diretamente da manutenção destas áreas protegidas e conscientização da
população que vive no entorno e/outrabalha nesses Parques.
Em se tratando de conservação da biodiversidade, é fundamental
analisar a história e a forma como as sociedades humanas se relacionaram
com o meio ambiente e a biodiversidade local (ALVES; ALBUQUERQUE,
2012). A compreensão desta relação é de grande relevância, uma vez que
contribui para a conservação da biodiversidade (GADGIL; BERKES; FOLKE,
1993), de espécies raras (COLDING, 1998), de áreas protegidas (JOHANNES,
1998), de processos ecológicos e uso sustentável de recursos em geral
(BERKES; COLDING; FOLKE, 2000; CUNHA, 1999; RAMIRES et al., 2015;
SILVANO et al., 2006). Uma ferramenta importante para se trabalhar
conservação junto à sociedade, é o estudo do conhecimento ecológico local
(CEL), que pode ser definido pelo conjunto de conhecimento sobre ecologia e
gestão de recursos naturais que uma pessoa adquire ao longo da vida, que
pode variar por gênero, idade, nível educacional e frequência de contato com
áreas naturais (BERKES; COLDING; FOLKE, 2000; GADGIL; BERKES;
FOLKE, 1993).
Desse modo, este trabalho aborda a avaliação do conhecimento
ecológico local de funcionários de um Parque urbano sobre a Mata Atlântica, a
herpetofauna, e o lagarto críptico de pequeno porte C. natalensis, que constitui
espécie-bandeira deste Parque. Especificamente, objetiva-se (1) identificar o
conhecimento ecológico local (CEL) dos funcionários sobre a fauna de répteis e
importância da existência da Unidade de Conservação; (2) identificar se o CEL
dos funcionários converge com a literatura científica e se há concepções
alternativas sobre a hepetofauna local; e (3) determinar quais conhecimentos
ecológicos esses trabalhadores possuem sobre o lagarto C. natalensis.; (4)
Avaliar as diferenças no CEL dos entrevistados em função do tempo de
trabalho no Parque e ascendência familiar rural ou urbana.
Material e métodos
Área de estudo
38
Este estudo foi realizado no Parque Municipal Dom Nivaldo Monte
(Figura S1), uma Unidade de Conservação (UC) de Proteção Integral da Mata
Atlântica setentrional. Compreende uma área de 136,54 hectares, e está
inserido na área urbana do município de Natal/RN (“Prefeitura Municipal do
Natal”, [s.d.]). Mais conhecido como Parque da Cidade, esta UC foi criada por
meio do Decreto Municipal Nº 87.078/2006, na categoria de Unidade de
Conservação de Proteção Integral, cujo objetivo é preservar a natureza,
admitindo apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. No âmbito deste
Parque foram realizadas as entrevistas com os funcionários na sede dessa UC.
Coleta de dados
A coleta de dados ocorreu nos meses de julho e agosto de 2021 através
de questionários semiestruturados aplicados com funcionários do Parque sobre
conservação, herpetofauna, e ecologia do lagarto-de-folhiço, Coleodactylus
natalensis, aqui representando o nosso modelo de espécie críptica de pequeno
porte, que também é espécie-bandeira do Parque (Lei N.º 6.438 de 07 de
Março de 2014).
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob o número certificado CAAE
46979421.8.0000.5537 e número do Parecer 4.812.599. Seguindo as regras
desse Comitê, antes de aplicar o questionário, o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE) foi dado aos funcionários conforme as normas
estabelecidas pela Resolução nº 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde e
previamente aprovadas pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) (CEP/ UFRN nº 227/12).
Os questionários foram aplicados individualmente para evitar indução
nas respostas, em entrevistas que duraram entre 15 e 30 minutos. Antes da
entrevista, explicou-se brevemente a proposta do estudo e foi perguntado se a
pessoa gostaria de participar; aqueles que aceitaram assinaram o TCLE,
autorizando a utilização dos dados para pesquisa. O questionário foi dividido
em 4 partes: (1) dados pessoais, como idade, ascendência de ambiente rural,
tempo de trabalho no parque, gênero, escolaridade, setor de atuação no
parque (10 questões); (2) conhecimento sobre conservação (6 questões); (3)
39
conhecimento sobre a fauna de répteis local (5 questões); e (4) aspectos
ecológicos do lagarto C. natalensis (11 questões).
Durante cada entrevista foram mostradas oito fotos de animais que
ocorrem na região (um tatu, um jabuti, duas serpentes, uma perereca, uma
minhoca e um embuá/piolho-de-cobra; Figura S2), e solicitado aos funcionários
que identificassem quais eles classificavam como répteis. Em seguida, em
outro ponto do questionário, foram apresentadas aos entrevistados fotos de
cinco lagartos que ocorrem na área do Parque (Figura S3) e perguntado se,
dentre esses lagartos, eles sabiam identificar quem era o lagarto-de-folhiço
Coleodactylus natalensis. Para os entrevistados que responderam que não
sabiam identificar este lagarto ou que identificaram erroneamente, a entrevista
foi encerrada; já para aqueles que identificaram C. natalensis corretamente, a
entrevista prosseguiu com perguntas específicas sobre aspectos ecológicos
dessa espécie, incluindo biologia reprodutiva, uso de habitat, período de
atividade, dieta e termorregulação.
Análise dos dados
O Conhecimento ecológico local (CEL) foi analisado qualitativamente e
quantitativamente. Para a análise qualitativa, foi elaborado um “quadro de
cognição comparada”, contendo as informações providas pelos entrevistados
(respostas mais frequentes) sobre o meio ambiente, répteis e C. natalensis, e
as convergências e divergências com a literatura científica (COSTA NETO;
SANTOS FITA; VARGAS CLAVIJO, 2009). Quando a informação fornecida pelo
entrevistado não foi encontrada na bibliografia científica para a espécie, foi
levado em consideração o que havia disponível para o gênero Coleodactylus, e
quando não encontrado para este gênero foi levado em consideração as
informações gerais para lagartos gecos (Gekkota) de serrapilheira, em razão
da proximidade filogenética das espécies desse grupo (KLUGE, 1995).
Para a análise quantitativa dos dados, primeiramente organizou-se uma
tabela com escores (pontuação) para as respostas obtidas (Tabela S1). Os
entrevistados que obtiveram pontuação máxima, ou seja, acertaram todas as
respostas, atingiram 10 pontos. A mesma metodologia foi utilizada para as
informações sobre atributos ecológicos de Coleodactylus natalensis (Tabela
S2); estas perguntas especificas sobre o lagarto-de-folhiço foram realizadas
40
somente com os participantes que identificaram adequadamente a espécie por
fotografia.
Com essa pontuação feita para cada um dos informantes, testes t de
amostras independentes foram realizados para verificar se havia influência do
tempo de trabalho no Parque (maior ou menor que 5 anos) e da ascendência
do informante (urbana ou rural) sobre os escores de CEL quanto ao ambiente
natural do Parque e os répteis. Um teste t independente também foi aplicado
para comparar os escores de CEL entre os entrevistados que reconheceram e
os que não reconheceram a espécie C. natalensis dentre as imagens de
lagartos apresentadas. Adicionalmente, o teste Chi-quadrado foi aplicado para
avaliar se o tempo de trabalho no Parque e a ascendência do informante
influenciaram no reconhecimento de C. natalensis. Para as pessoas que
reconheceram C. natalensis, uma análise de regressão linear simples foi
realizada para testar se havia relação entre os escores de CEL sobre o
ambiente natural do Parque e os répteis, e os escores de CEL sobre a espécie
C. natalensis.
Todas as análises estatísticas foram realizadas usando o software SPSS
Statistics 20.0 (IBM) para Windows (α = 0,05). Todas as variáveis foram
testadas quanto à normalidade e homoscedasticidade das variâncias antes de
realizar testes paramétricos.
Resultados
Um total de 39 funcionários do Parque da Cidade foram entrevistados
entre julho e agosto de 2021 (27 do sexo masculino e 12 do sexo feminino),
com idade entre 24 e 63 anos. Do total de entrevistados,onze trabalhavam no
setor de manejo ambiental - SMA (28,2%), onze no centro de educação
ambiental – CEA (28,2%), dez no grupo de ação ambiental – GAAM (25,6%), 4
funcionários assistentes de serviços gerais – ASG (10,3%) e 3 funcionários do
setor Administrativo – ADM (7,7%). Dentre estes, 71% declararam morar no
município de Natal durante toda a vida, contudo 53,8% tinham ascendência até
2º grau (avós e avôs) no meio rural. Além disso, 53,8% possuem ensino
superior completo, mas apenas 7,7% com formação na área ambiental. Um
total de 61,5% dos funcionários trabalha no parque há 5 anos ou mais (alguns
desde a sua inauguração, há 13 anos), enquanto 38.5% dos trabalhadores
41
trabalham no parque há menos de 5 anos. Também foi perguntado quais
animais eles mais viam no Parque, e 73.7% afirmaram que as aves constituem
o grupo mais avistado; 26,3% afirmaram que os répteis são mais avistados.
Conhecimento sobre o ambiente natural e a Mata Atlântica
No que se refere às respostas das questões sobre conservação, 100%
dos entrevistados consideraram a existência do Parque como “muito
importante” para a conservação da fauna e flora locais. Em relação às
informações sobre a vegetação e bioma predominantes no Parque, a maioria
respondeu corretamente que a Mata Atlântica é o bioma predominante, mas
também foi citado por eles a restinga, vegetação arbustiva densa ou espaçada,
tabuleiro costeiro, floresta semidecidual arbustiva, capim dunar, floresta
estacional”, que são tipos de vegetação associadas à Mata atlântica. Apenas
duas pessoas indicaram o bioma principal do parque como sendo “Cerrado”, ou
“Caatinga”.
Quando foi pedido aos entrevistados para classificar de 0 a 10 o quanto
as espécies da fauna e flora local teriam a possibilidade de sobreviver sem a
existência do parque após 10 anos, todos responderam que sem esta área
protegida haveria interrupção da sobrevivência e permanência das espécies no
local do Parque com o passar dos anos. A justificativa principal citada pelos
entrevistados para o “desaparecimento” rápido da biodiversidade local foi a
especulação imobiliária, posto que o Parque está localizado em uma área
urbana da cidade de Natal, e recentemente alguns condomínios de luxo vêm
sendo construídos em seu entorno.
Conhecimento sobre os répteis
A partir das respostas dos entrevistados, foram selecionadas frases
recorrentes sobre répteis e distribuídas na Tabela 1, para conferir se havia
congruência entre estas e a literatura científica. A maior parte dos entrevistados
(79%) afirmaram não ter medo de répteis, contudo 38,4% afirmaram que
répteis ou alguns répteis podem transmitir doenças, uma das concepções
alternativas errôneas encontradas. Adicionalmente, 25,6% dos entrevistados
classificaram que todos os répteis são peçonhentos.
42
Tabela 1 - Cognição comparada sobre os répteis, elaborada a partir de entrevistas com
funcionários do Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, realizadas em julho e agosto de 2021.
Fonte: Holda Ramos-Silva
Declarações dos
entrevistados
Informações da bibliografia científica
Características gerais de répteis
“são animais que
rastejam”
“deixam rastro na trilha”
Cobras e lagartos terrícolas rastejam e
costumam deixar rastros na areia, podendo-se
identificar a sua passagem pelo rastro da cauda
e/ou patas dos animais (HICKMAN et al., 2014)
“possuem casco” As tartarugas são envolvidas por uma armadura
(casco) que consiste em uma carapaça dorsal e
um plastrão ventral (HICKMAN et al., 2014)
“tem habitat terrestre e se
esconde na vegetação”
Os amniotas ocupam nichos variados de habitat
aquático e terrestre (VITT; CALDWELL, 2014)
“colocam ovos e se
escondem em tocas”
Seu sucesso como vertebrados terrestres pode
ser atribuído a várias adaptações, incluindo o
ovo amniótico (HICKMAN et al., 2014)
“são animais de sangue
frio”
“são pecilotérmicos”
Animais de sangue frio é a denominação comum
dada a animais ectotérmicos, como os anfíbios e
répteis, que dependem de fontes ambientais
para ganho de calor; portanto, respondem à
variação no ambiente físico para regulação da
temperatura (VITT; CALDWELL, 2014).
“...são caçadores” As atividades em répteis que demandam o maior
gasto energético são reprodução, fuga,
aquisição de presas e forrageamento, no qual as
duas últimas estão ligadas a busca de alimento,
podendo considerar assim algumas espécies de
lagartos e cobras caçadores por serem
forrageadores ativos (VITT; CALDWELL, 2014)
Conhecimento sobre o lagarto-de-folhiço, Coleodactylus natalensis
43
Quando foram apresentadas as cinco imagens de lagartos aos
entrevistados, 22 (56,4%) identificaram corretamente o lagarto Coleodactylus
natalensis. Para os que identificaram corretamente, continuamos a entrevista
perguntando as características ecológicas especificas sobre o
lagarto-de-folhiço, tais como, habitat, reprodução, período reprodutivo,
quantidade de ovos por postura, horário de maior atividade, e alimentação,
cujas principais e mais recorrentes respostas estão na Tabela 2.
Tabela 2 - Quadro de cognição comparada sobre a ecologia de Coleodactylus natalensis obtido
através de entrevistas com funcionários do Parque Municipal Dom Nivaldo Monte, realizadas
em julho e agosto de 2021. Fonte: Holda Ramos-Silva
Declarações dos
entrevistados
Informações da bibliografia científica
Reprodução
“eles colocam ovos” Fêmeas de Coleodactylus natalensis são
ovíparas, assim como outros gecos (grupo
Gekkota) (SALES et al., 2020).
“colocam vários ovos em
uma ninhada”
Não condiz com a literatura científica disponível
até a publicação deste trabalho, pois o tamanho
de sua ninhada é fixo, de um ovo único (LISBOA;
SOUSA; RIBEIRO, 2008).
“colocam apenas 1 ovo” Esta espécie tem um tamanho de ninhada fixo
de um ovo único (LISBOA; SOUSA; RIBEIRO,
2008).
“é comum encontrar mais
de um ovo no mesmo
local”
É muito provável que diferentes fêmeas de C.
natalensis usem os mesmos locais para
ovipositar, detectando a presença de ovos
coespecíficos durante a escolha do local de
oviposição (SALES et al., 2020)
“não é comum encontrar
mais de um ovo no
mesmo local”
As fêmeas de Coleodactylus possuem uma
postura fixa de um ovo, e podem realizar a
postura em local isolado ou próximo a ovos de
outras fêmeas (SALES et al., 2020)
Alimentação
44
“...se alimentam de
pequenos insetos.”
“Se alimentam de
formigas.”
A dieta de C. natalensis é composta
principalmente de artrópodes, mais
categoricamente representados por Isopoda e
Araneae (LISBOA; SALES; FREIRE, 2012)
“...se alimentam de
fungos e resina de
árvores”
Não condiz com a literatura científica disponível
até a publicação deste trabalho, e.g., LISBOA;
SALES; FREIRE, 2012.
Comportamento/habitat
“gostam de umidade” Coleodactylus natalensis ocupa
preferencialmente habitats florestados, em áreas
úmidas com temperaturas mais amenas, sem luz
solar direta e com folhiço espesso (LISBOA;
FREIRE, 2012).
“são mais vistos no
inverno (estação
chuvosa)”
“são mais vistos quando
chove”
Foi encontrada ocorrência significantemente
maior de lagartos de C. natalensis na estação
chuvosa (LISBOA; FREIRE, 2012).
“são mais ativos de dia” Espécies de lagartixas do gênero Coleodactylus
são encontradas ativas apenas durante o dia
(VITT et al., 2005).
“ficam mais na sombra
onde tem muitas folhas e
ao redor de árvores”
Coleodactylus natalensis ocupa
preferencialmente habitats de mata, os quais
possuem características mésicas, tais como,
ambiente sombreado e com folhiço espesso
(CAPISTRANO; FREIRE, 2009).
“eles gostam de ficar ao
redor de árvores onde
tem muito folhiço”
Quanto maior a espessura do folhiço maior a
densidade encontrada de C. natalensis. O
mesmo vale para região de mata alta, onde é
encontrada a maior densidade (LISBOA;
FREIRE, 2012)
45
Características determinantes do CEL
Entrevistados com ascendência rural e urbana não diferiram nos escores
de CEL sobre o ambiente natural do Parque e sobre os répteis (t = -0,589, gl =
37,

Continue navegando