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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA ANA LUIZA DANTAS GALVÃO CONCEITO DE INFORMAÇÃO NA MUSEOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO NATAL/RN 2018 ANA LUIZA DANTAS GALVÃO CONCEITO DE INFORMAÇÃO NA MUSEOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Monografia apresentada ao Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia. Orientadora: Profa. Dra. Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus. NATAL/RN 2018 Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Galvão, Ana Luiza Dantas. Conceito de informação na Museologia e sua relação com a Ciência da Informação / Ana Luiza Dantas Galvão. - 2018. 51f.: il. Monografia (Graduação em Biblioteconomia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Ciências da Informação. Natal, RN, 2018. Orientador: Profa. Dra. Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus. 1. Conceito de Informação - Monografia. 2. Museologia - Monografia. 3. Ciência da Informação - Monografia. 4. Interdisciplinaridade - Monografia. I. Tanus, Gabrielle Francinne de Souza Carvalho. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/Biblioteca do CCSA CDU 069.01 Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 ANA LUIZA DANTAS GALVÃO CONCEITO DE INFORMAÇÃO NA MUSEOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Monografia apresentada ao Curso em Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como parte das exigências para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia. Natal, 17 dezembro de 2018. BANCA EXAMINADORA __________________________________________________________________ Profa. Dra. Gabrielle Francinne de Souza Carvalho Tanus (Orientadora) Departamento de Ciência da Informação Universidade Federal do Rio Grande do Norte __________________________________________________________________ Profa Dra. Luciana de Albuquerque Moreira Departamento de Ciência da Informação Universidade Federal do Rio Grande do Norte __________________________________________________________________ Profa Dra. Monica Marques Carvalho Gallotti Departamento de Ciência da Informação Universidade Federal do Rio Grande do Norte AGRADECIMENTOS Paciência. Ótima palavra para começar. Paciência para entender que é só um trabalho… um trabalho importante, mas só um. Paciência para escolher um tema e não abrir mão dele. Paciência que muitas pessoas precisavam ter quando eu sei que exagerei ou não cumpri com algo. Paciência que nunca tive e aprendi a ter, e certamente cresci com isso. Paciência da minha orientadora por me acompanhar nesta jornada. Paciência dos amigos pelas boas palavras de fé quando eu não as tinha. Paciência que agora não preciso mais ter, pois finalmente conclui este trabalho. Aos meus pais Célia Dantas e Cláudio Galvão, e minhas irmãs Ana Carolina e Ana Cláudia, por terem me dado apoio para chegar até aqui. Construir esse trabalho não foi fácil, ninguém nunca disse que era, mas sempre ouvi que valeria muito a pena concluí-lo da maneira como eu queria, que não haveria sensação melhor quando acontecesse. Antes do todo e qualquer coisa um IMENSO agradecimento a minha orientadora Gabrielle Francinne Tanus. Meus amigos hoje em dia sabem seu nome e sobrenome, e provavelmente gostam mais de você do que de mim. Agradeço por aceitar conversar comigo e ouvir sobre minha vaga ideia de tema, pela constante ajuda em me fazer construir este trabalho, por ter paciência, me apoiar e continuar aqui. Obrigada! Obrigada aos amigos que fiz ao longo desses quatro anos de curso, pelas risadas, trabalhos e comidas que compartilhamos. Algumas coisas realmente podem mais na memória do que outras, mas sem dúvidas foram grandes momentos de aprendizados e descobertas juntos todas essas pessoas incríveis que conheci ao longo do curso. Os BiblioAmigos que fiz tanto na UFRN como em outras universidades que visitei ou que pude manter contato realmente contribuíram para que de alguma maneira eu fosse abrindo meus olhos para inúmeras coisas que posso vivenciar depois daqui. E a vida acadêmica não seria a mesma sem vocês, Magaly Alexandre e Melissa Fontes. Obrigada estranhamente por terem entrado neste curso e pela amizade que sei que durará outras vidas. Pelas coisas que não temos em comum, mas que no fim das contas não ligamos tanto e buscamos realmente melhorar uma na outra e totalmente livre de julgamentos. Agradeço também pela empresa e igreja que não fundamos, mas seguimos os padrões da ABNT para cria-la inicialmente. Vocês sabem o quanto custou a cada uma chegar até aqui e eu sei que todas podemos e muito mais longe do que pensamos. Grata! Gratidão! Agradeço aqueles poucos e muitos amigos que em 5 minutos de conversa me davam dicas, que sempre perguntavam como eu estava e como o TCC estava indo. Aos que me compraram brigadeiros e empadas enquanto eu estudava, aos familiares, amigos e conhecidos que sempre me desejaram boas energias falando que eu conseguiria. Aos que preferem permanecer anônimos e aqueles que não poderei citar o nome um a um para agradecer o pouco de carinho e paciência que recebi. Muito obrigada! Falaram-me que construir um TCC seria uma tarefa difícil, que eu teria que me esforçar e buscar pelos conhecimentos adquiridos no decorrer deste curso. Me senti realmente perdida em muitas ocasiões, mas realmente vi que além do que aprendemos e do conhecimento que buscamos a vida sempre mostra que são as pessoas que nos cercam que nos ajudam a crescer e vencer as grandes e pequenas batalhas que surgem ao longo da vida. Certamente eu não seria quem sou pelas coisas boas, mas certamente eu também não teria chegado até aqui sem as pedras no caminho que me fizeram buscar mais e me ver que certas vitórias sempre podem maiores e conquistadas mais de uma vez. Diante de tantos momentos de alegria ou tristeza ocorridos neste pequeno departamento, quero agradecer imensamente aos professores com quem tive contato e pude aprender um pouco mais a cada dia, um sincero obrigada: Andrea, Antonia, Eliane, Fernando, Francisco, Jacqueline, Luciana, Nadia, Pedro e Rildeci. E agradeço também aos que passaram brevemente por esta casa: Carla, Claudialyne, Fernanda, Ilaydiany, Rhavena e Rafael. E alguns outros grandes professores de outros departamentos que pude conhecer e que me ajudaram a enriquecer os conhecimentos aprendidos aqui. E sem esquecer, é claro, esse funcionário querido por todos e que nos atende sempre tão bem: Laerte. A vocês e a todos os outros docentes e profissionais com quem tive contato em outras disciplinas... Obrigada! “Odiei as palavras e as amei, e espero tê-las usado direito” (A menina que roubava livros, Markus Zusak) RESUMO Discorre acerca de dois campos interdisciplinares que são a Ciência da Informação e a Museologia, tendo em vista a consolidação delas enquanto campo científico. Tem como objetivo geral compreender como o conceito de informação é trabalhado no campo da Museologia, visando estabelecerrelações com a Ciência da Informação. Objetiva especificamente: discutir aspectos interdisciplinares da Museologia e da Ciência da Informação; identificar os artigos publicados no campo da Museologia que versem sobre o conceito de informação; analisar as manifestações do conceito de informação presente nas publicações; apresentar e discutir as aproximações e os afastamentos do conceito de informação. Utiliza-se uma metodologia de pesquisa bibliográfica e documental com análises comparativas dos dados coletados para explicação dos resultados. Apresenta-se um enlace do conceito de informação da Museologia com as categorias: informação como coisa, informação como processo e informação como conhecimento. Embora seja bastante trabalhada e discutida o conceito de informação, no que se refere a área da Museologia ela não apresenta uma definição precisa do termo nos artigos analisados. Os autores pouco fazem uso do conceito de informação em seus trabalhos, deixando quase sempre subentendido que o leitor tem um conhecimento prévio do significado ou então ligando o termo a algo expresso no artigo a fim de concluir e ligar a discussão a temática abordada. Palavras-chave: Conceito de Informação. Museologia. Ciência da Informação. Interdisciplinaridade. ABSTRACT It discusses two interdisciplinary fields that are Information Science and Museology, with a view to their consolidation as a scientific field. Its main objective is to understand how the concept of information is worked in the field of Museology, aiming to establish relations with Information Science. Objective: to discuss interdisciplinary aspects of Museology and Information Science; identify the articles published in the field of Museology that deal with the concept of information; analyze the manifestations of the information concept present in the publications; present and discuss the approximations and departures from the concept of information. A bibliographic and documentary research methodology is used with comparative analysis of the data collected to explain the results. It presents information records from the categories: information as a thing, information as process and information as knowledge. Although the concept of information is quite elaborate and discussed, it does not present a precise definition of the term in the articles analyzed. The authors make little use of the concept of information in their works, leaving almost always implied that the reader has a prior knowledge of the meaning or else linking the term to something expressed in the article in order to conclude and link the discursion to the subject addressed. Keywords: Information Concept. Museology. Science Information. Interdisciplinarity 12 1. INTRODUÇÃO A Museologia inicialmente ligada aos conceitos de memória e patrimônio tem a perspectiva dentro do campo ampliada devido a uma crise dos museus no período da Segunda Guerra Mundial, bem como a modernização do campo e incorporação de tecnologias de informação e comunicação. Surge então a necessidade de legitimar a Museologia enquanto um campo científico, ocorrendo a criação do Conselho Internacional de Museus (ICOM). Ademais, é identificada a necessidade de mudanças nas perspectivas técnico-científicas de compreensão das teorias, objetos de estudo e conservação dos mesmos. Foi considerada uma ciência em construção, com um sistema em aberto, onde era necessário compreender os diferentes tipos de conhecimentos que haviam dentro dela, a fim de estabelecer-se como um campo científico e, consequentemente, com um possível ensino museológico e fazer profissional. Diante da visão e reconstrução do que seria o museu, e as pesquisas da área, a Museologia passa a ser encarada como uma ciência interdisciplinar, voltando-se também para o papel social do museólogo e do museu. Por sua vez, a Ciência da Informação é um campo científico apontado por muitos autores com sua origem no século XX, vinculada ao crescimento informacional devido ao período de guerra e o aumento da produção bibliográfica do período. A Ciência da Informação ainda é alvo de dúvidas quanto ao seu objeto de pesquisa e mais ainda sobre o seu conceito: a informação. É possível identificar que parte disso é devido a sua interdisciplinaridade que faz com que a mesma dialogue com outras áreas acarretando uma série de interpretações. O campo da Biblioteconomia também pode ser visto com antecessor à Ciência da Informação, e relaciona-se com as preocupações expostas pela Documentação, a saber: A Ciência da Informação não estuda a ação administrativa, política ou cultural em si mesmas, mas apenas naquilo que elas têm de informacional. O contínuo exercício destas ações de in-formar acaba 13 por gerar um determinado acúmulo de registros do conhecimento humano – que Berger e Luckmann (1985) chamam de “acervo social de conhecimento” e Halbwachs (1990) de “memória social”. Foi, aliás, justamente esse conjunto documental que deu origem, séculos antes, a campos de conhecimento como a Arquivologia, a Biblioteconomia e a Museologia. Ao mesmo tempo, ainda, os seres humanos, também em suas diferentes ações (tomar decisões de investimentos, testemunhar determinados direitos, comunicar-se com os outros, etc.), utilizam esses documentos, esses registros materiais – os seres humanos se in-formam. É também essa ação de utilizar, se apropriar dos registros de conhecimento que é a informação, e que é também objeto de estudo da CI. (ARAÚJO, 2014, p.25) O campo científico da CI originou-se então, de modo a diferenciá-lo de suas outras áreas relacionadas, com objetivo de não pensar apenas no documento em si, mas no que estava contido nele, na informação. Sobre essa informação, pensava-se na sua disseminação, circulação e em como torná-la útil e produtiva. As ações informacionais de informar e de se informar tornaram as preocupações fulcrais para este campo recentemente e em constante processo de desenvolvimento científico. A princípio a ideia de estudo a respeito deste tema se deu pelo interesse nas coleções expostas em museus de maneira geral, e como o tempo em algumas conversas e leituras foi possível perceber que seria necessário primeiro entender o um conceito central: informação. Ao consultar a obra de referência “Conceitos-chave de Museologia” dos editores André Desvallées e François Mairesse, constatou-se que não há um verbete específico para o termo informação. Todavia, pode-se constatar a ocorrência da informação em alguns verbetes como: musealização, comunicação e exposição. No verbete "Musealização" que consiste na "operação de extração, física e conceitual, de uma coisa de seu meio natural ou cultural de origem, conferindo a ela um estatuto museal", isto é, transformando em um documento/objeto de museu (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p. 56), a informação vincula-se ao objeto portador de informação, ou objeto-documento musealizado, que se inscreve no coração da atividade científica do museu. No verbete "comunicação" a informação aparece como um elemento da veiculação da ação de comunicação. Esse processo ocorre não apenas por meio dos processos humanos portadores de informação, mas 14 também por vias das máquinas, sendo a comunicação elemento central das instituições museais, sobretudo, a partir das exposições. De modo que, os conjunto de coisas expostas estão vinculados "aos suportes de informação (os textos, os filmes ou os multimídias), conforme o verbete "exposição" (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.44). Outrora, foi necessário extrapolar o entendimento de como a Museologia enxerga a informação. Assim, foram levantados alguns questionamentos visando pontos específicos a respeito de como a informação é discutida nas publicações científicas, em especial, nos artigos, e, por fim, buscar perceber se é possívelestabelecer proximidades desse conceito com a maneira de como a informação é trabalhada pela Ciência da Informação. Trata-se de ver, portanto, como a informação é discutida no campo da Museologia e se é possível estabelecer proximidades com a informação discutida pela Ciência da Informação. Ambos os campos em foco neste trabalho, Museologia e Ciência da Informação, são identificados como interdisciplinares, e o diálogo entre essas áreas é bem mais recente e menos recorrente quando se comparada com outros campos. Como, por exemplo, a Ciência da Informação estabelece uma relação interdisciplinar mais forte com a Biblioteconomia e com a Arquivologia, e a Museologia com a História, Sociologia e Antropologia (TANUS, 2013). Voltando-se para os campos da Ciência da Informação e da Museologia, especificamente, estabeleceu-se, os seguintes itens: problema de pesquisa, objetivo geral e objetivos específicos, a seguir: 1.1 Problema de pesquisa Como a informação é discutida no campo da Museologia? É possível estabelecer proximidades com a informação trabalhada pela Ciência da informação? 15 1.2 Objetivo geral Compreender o conceito de informação presente na literatura científica do campo da Museologia e as relações deste conceito a partir da visão da informação como coisa, da informação como processo e da informação como conhecimento. 1.3 Objetivos específicos Discutir aspectos interdisciplinares da Museologia e Ciência da Informação; Identificar os artigos publicados no campo da Museologia que versem sobre o conceito de informação; Analisar as manifestações do conceito de informação presente nas publicações da Museologia; Apresentar e discutir as aproximações e os afastamentos do conceito de informação a partir do enlace com a Ciência da Informação. Disto isto, a pesquisa concentrou-se na busca dos periódicos científicos específicos e de excelência da área de Museologia, os quais constituem dois periódicos nacionais: “Museologia e Patrimônio” (qualificado como B1) e “Museologia & Interdisciplinaridade” (qualificado como B3). Para a seleção dos periódicos da área de Ciência da Informação, tendo em vista uma quantidade maior, optou-se em restringir para aqueles com qualis A1, que são: “Perspectiva em Ciência da Informação”, “Informação e Sociedade” e “Transinformação”. A introdução dos periódicos da Ciência da Informação teve como objetivo ampliar a coleta de dados, e dar visibilidade as publicações dos artigos que versassem sobre Museologia, tendo em vista justamente a interdisciplinaridade entre os campos, e em 16 razão dos periódicos da Ciência da Informação constituírem em um local de publicação da Museologia. A partir desta seleção das fontes de informação da Museologia e da Ciência da Informação operou-se a coleta de dados a partir do uso dos descritores: informação, informação AND museologia, e informação AND museu em todos os campos passíveis de busca, isto é, título, resumo, palavras-chaves, opção disponível nos periódicos científicos. Ao todo após o tratamento dos dados, de retirada de duplicadas, foram selecionados 17 artigos que foram publicados entre os anos de 2008 a 2017, e que constituíram no foco de análise. Ressaltamos que o segundo semestre de 2017 foi o momento da coleta de dados, e que devido a publicação de outros volumes a partir deste ano os resultados provavelmente devem variar, o que demonstra uma dinamicidade e importância de olhar novamente para a informação na publicação científica da Museologia. 17 2. CAMPO CIENTÍFICO DA MUSEOLOGIA Dentro de um contexto de construção social, deve-se levar em consideração que a história é criada no período de vivência de um grupo naquele espaço de tempo em que reside e “descobre” sua época, e com ou sem conhecimento do domínio de técnicas que possam registrar seu cotidiano, isso fica gravado em materiais que podem ou não ser acessíveis futuramente por outros grupos d(a)aquela região, com ou sem a intenção de recriar o passado. Sobre isso, Meneses (1998, p. 92) declara que “[…] os objetos materiais têm uma trajetória, uma biografia. […] Não se trata de recompor um cenário material, mas de entender os artefatos na interação social”. Essas lembranças de caráter coletivo constroem uma identidade cultural e um patrimônio histórico que de maneiras atemporais é percebido, estudado, e em alguns casos, também recriado a fim de conhecer a importância de tal artefato naquele cotidiano. Scheiner (2008, p. 36), relata a respeito da visão sobre o que era o museu e origem da palavra: Uma das mais fascinantes representações da sociedade humana, o Museu foi tradicionalmente compreendido, na sociedade dita ‘ocidental’, como instituição permanente – dedicada ao estudo, conservação documentação e exibição de evidências materiais do homem e do seu ambiente. Essa percepção limitada do Museu, como espaço físico de guarda de objetos, originou-se provavelmente no pensamento europeu do século 16 e prolongou-se na literatura ocidental, a partir da ênfase dada à atividade colecionista pela sociedade do Renascimento. […] Parece ter sido esse também o momento em que se passou a vincular a origem do Museu à palavra grega Mouseion, ou “templo das musas”, frequentemente confundido com o local (em Delfos) onde as musas falavam, pela voz das pintoras; ou com o Mouseion de Alexandria, primeiro contro cultural conhecido do ocidente, fundado no século 3 a.C., para glória do mundo helenístico. A consolidação da Museologia está relacionada a uma crise dos museus no período da segunda guerra mundial, onde foi percebido que havia a necessidade de modernização do campo e incorporação de tecnologias de informação e comunicação, bem como mudanças nas perspectivas técnico-científicas de 18 compreensão das teorias, objeto de estudo e conservação dos mesmos. Conforme exposto: A história da Museologia – ou a saga de uma disciplina que ao mesmo tempo que tenta se estruturar, procura se desvincular de preconceitos ligados ao seu universo de estudos (instituição museu), e passa por uma necessária revolução de princípios, demonstra com muita clareza todos os conflitos que emergem da produção acadêmica contemporânea. Compreende-se, hoje, que a Museologia tem um espaço próprio de experimentação, análise e sistematização de seu objeto de estudo. (BRUNO, 1997, p. 14) Nessa mudança de perspectiva e de contexto pós-guerra, houve fortes reflexões sobre o que seria o museu e a Museologia, e partindo disso há então uma necessidade de legitimar a Museologia enquanto um campo científico, o que ocorre com a criação do Conselho Internacional de Museus (ICOM)1, fundado em 1946, e associado à Unesco. A criação desse conselho efetivou-se sobremaneira em razão da extinção, em 1945, do Escritório Internacional de Museu (OIM), criado por M. Henri Focillon, após a Primeira Guerra Mundial, em 1926, com apoio da Sociedade das Nações, também extinta após essa guerra. (TANUS, 2013, p. 68) O ICOM desempenha um papel de grande importância perante as instituições museológicas e a Museologia, onde a princípio os participantes desse comitê tinham como objetivo desvelar os conteúdos do campo. A partir de questionamentos e preocupações quanto ao ensino e formação dos profissionais, já que as discussões estavam dispersas dentro do Conselho, é criado em 1968, o Comitê Internacional de Treinamento de Pessoal em Museus (ICTOP)2, um comitê temático dentro do ICOM. A partir dos estudos desenvolvidos por esse comitê e demandas potenciais oriundas da Museologia, profissionais conduzem a criação de um comitê específico para estudar a área. Dessa forma, em 1977, é oficializado o Comitê Internacional para a Museologia (ICOFOM)3 que possibilitou o encontro de pessoas interessadas 1Disponível em: https://icom.museum/en/. Acesso em: 21 de dezembro de 2018. 2 Disponível em: http://ictop.org/. Acesso em: 21 de dezembro de 2018. 3 Disponível em: http://network.icom.museum/icofom. Acesso em: 21 de dezembro de 2018. 19 na formação do campo da Museologia e em discutir o objeto de estudo, bem como em estabelecer o que seria o “pensamento museológico” (CERÁVOLO, 2004). É importante salientar que havia sim o uso da palavra museologia antes desse período, mas com significados diferentes. E a Museologia enquanto área não se restringe ao ICOM ou ICOFOM (CERÁVOLO, 2004). Pode-se encontrar também o uso do termo Museografia, antes mesmo do uso do termo Museologia. A Museografia pode ser definida de três diferentes maneiras, sendo elas: um conjunto de técnicas desenvolvidas para funções museais; serve para designar a arte de exposições e técnicas ligadas e isso, sendo essas exposições realizadas em espaços museais ou não; e por último poderia significar o conteúdo de um museu, de maneira comparativa pode-se dizer que seria como a bibliografia para a pesquisa científica. A atuação em museus e a construção de seus espaços eram feitas por pessoas de diversas áreas de formação, executando funções que nem sempre necessitavam de muita técnica, não havia realmente uma reflexão museológica ou consenso sobre a prática em si, mas, ainda assim, segundo Santos (1996) a construção do campo da Museologia se deu pela análise do processo de construção da tríade: o sujeito que conhece, o objeto do conhecimento e o conhecimento como produto do processo. No museu, então se desenvolviam ações museológicas, levando assim, o Conselho Internacional de Museus (ICOM) a considerar a Museologia como a ciência que estuda a instituição museu, sua história, evolução, sua atuação no presente, seu desenvolvimento futuro e sua relação com a sociedade, fortalecendo a Museologia como uma ciência sócia. A insatisfação com o modelo de museu estabelecido é, então, refletida na IX Conferência Geral do ICOM, realizada em Paris e Grenoble, em 1971, e na Mesa Redonda de Santiago do Chile, em 1972, sendo esta última, considerada um marco no processo de transformação da Museologia, sobretudo por ter colocado em evidência a prioridade da ação museal no campo de intervenção social, abrindo espaço para um repensar global da Museologia, situando-a entre as ciências sociais. (SANTOS, 1997, p. 104) 20 No processo de reconhecimento da Museologia enquanto um campo científico foi possível identificar na mesma certas características que tornavam-na uma área com objetos específicos. Sendo, a ciência onde o seu objeto de pesquisa museológica é o fato museal (relação profunda entre homem e objeto) e da condição ou espaço onde ele se realiza (museu), dentro de um espaço temporal e visão espacial das próprias perspectivas do homem e da sociedade em torno desta relação (GUARNIERI, 2010, p. 133). Segundo Scheiner (2008, p. 45) “na segunda metade do século 19, já havia permitido pensar o Museu para além dos espaços construídos e dos conjuntos de objetos” e onde o próprio conceito de objeto é desenvolvido para o de patrimônio com a intenção de focar nas vivências do ser humano, bem como valorizar sua identidade. Embora seja possível identificar que no decorrer de sua construção, a herança cultural associada a Museologia está ligada às atividades de preservação e comunicação, o que pode ser entendido como a essência do campo (TANUS, 2013, p. 71). Enquanto um campo do saber, foi considerada uma ciência em construção, com um sistema em aberto, onde era necessário compreender os diferentes tipos de conhecimento que haviam dentro dela, a fim de estabelecer com um campo científico e consequentemente um possível ensino museológico e fazer profissional. Enquanto ciência, a Museologia não pode existir unicamente sobre a dependência objetiva do museu, pois o que traria de conhecimento ficaria limitado unicamente a essa tarefa e à necessidade prática de seu desenvolvimento. Ela não serviria às exigências objetivas do desenvolvimento do conhecimento científico. A Museologia não pode se desenvolver ficando presa ao museu, mas ela deve ao mesmo tempo preceder o museu, estar em seu meio e segui-lo. (STRANSKY, 1981, p. 19 apud SANTOS, 1996, p. 109) O conhecimento museológico seria a compreensão e tratamento da realidade e da história, sendo assim não apenas um conhecimento racional e sistemático, mas também prático onde é possível construir um processo de coerência, conexão e interdependência das partes. 21 Diante disso, era necessário lhe especificar características e descrevê-la enquanto ciência, isso ocorria, porém com dificuldades (CERÁVOLO, 2004, p. 245). O objetivo da museologia e da pesquisa museológica é o conhecimento claro e intenso do fato museal (relação profunda entre o homem e o objeto) e da condição, do enclave no qual ele se realiza (museu), dentro de um contexto, uma visão espacial e temporal e das perspectivas e prospectivas do homem e da sociedade. (GUARNIERI, 2010, p. 133) A partir dessa perspectiva e de uma visão mais crítica, ela passa a ser encarada como uma ciência interdisciplinar, pensando também no papel social do museólogo. [...] constata-se que existe um leque variado de aspectos que possibilitam o diálogo interdisciplinar entre a Museologia e a Ciência da Informação. Desse modo, são campos cujas afinidades não podem ser desprezadas, pois um pode contribuir com o outro, seja através da experiência e/ou do conhecimento acumulado, como as questões de representação da informação (documentação museológica, linguagem documentária); da informação (do objeto como fonte de informação, do objeto como documento, seus aspectos teóricos e cognitivos); da instituição (museus como sistemas de informação); do usuário (pesquisa de público/visitante real ou virtual, necessidade, uso e transferência de informação); da comunicação (exposição, divulgação científica, disseminação da informação) e das novas tecnologias da informação e comunicação (estudo dos impactos, novos processos, produtos e serviços). (TANUS, 2013, p. 82) Ao aprimorar-se enquanto área e lidando com questões de memória, patrimônio, cultura e educação, a Museologia ver-se envolta de uma nova discussão: “nova museologia”. Esta questão a destaca como agente e/ou meio de construção de novas práticas e de maneira auto-organizada a fim de gerir o tempo e futuro (SANTOS, 1996). O Museu visto aqui enquanto fenômeno, pode ser trabalhado de diferentes formas e é visto de maneira mais ampla podendo existir em qualquer lugar. O objeto é a informação e a comunicação é a principal forma de transmiti-lo. 22 2.1 Interdisciplinaridade na Museologia A interdisciplinaridade embora não apresente um conceito estável e definido em consenso, é uma palavra que atualmente pode ser considerada bastante gasta já que pode ser aplicada em muitos contextos e também atrelada a outras palavras como multidisciplinaridade, pluridisciplinariade e transdisciplinaridade que também podem gerar ambuiguidade quanto a conceituação. O radical da palavra advém de disciplina que pode ser entendida como um ramo do saber, como um componente curricular ou como um conjunto de normas e leis (POMBO, 2008). Desconsiderando os demais contextos e palavras que aparecem, interdisciplinaridade pode ser principalmente considerada dentro do contexto estudo como o compartilhamento de conhecimento entre as áreas, pois segundo Pombo (2018) “o prefixo inter, aquele que faz valer os valores da convergência, da complementaridade, do cruzamento, parece-me ser ainda o melhor”. Devido a maneira como se consolidou como um campo científico, a Museologia é vista como um conjunto básico de parâmetros que liga herança cultural e natural, atividades ligadas a preservação e comunicação desta herança.O significado dos museus foi expandido e passa a visualizar e a reconstruir suas pesquisas, espaço de exposição e objeto de estudo de outra maneira. Tendo em vista que o “fato museal” e que os estudos da Museologia voltam- se para teorias e metodologias ou práticas de trabalho dentro do museu, é possível verificar que a área entra em contato com outros campos do conhecimento como História, Arqueologia, Psicologia, Sociologia e Antropologia, pois dessa relação entre homem e objeto ela também se preocupa em estudar a memória (TANUS, 2013). Como também em outros estudos o museu e Museologia aparecem atrelados as disciplinas de Comunicação, Telecomunicações, Organização e Administração e Educação. Isso evidencia as práticas museológicas, a pesquisa científica e a formação do profissional. O tema acerca da informação da cultura não material e os problemas pertinentes relativos ao modo de produzir documentação para efeito de 23 disseminação da informação museológica têm sido questão tratada pelo Comitê Internacional para a Documentação (CIDOC), pertencente ao ICOM. Devido à natureza dos estudos museológicos e os aspectos culturais que podem gerir estas pesquisas, é perceptível que o campo estabelece um compromisso com pesquisas e disseminação de informação cultural (LIMA, 2008). Bruno (1996) também destaca a respeito da pesquisa: Neste sentido, cabe destacar que os objetos retêm as informações referentes aos sistemas sócio-culturais onde estão inseridos. A Museologia se interessa, portanto, em administrar, conservar e em organizar novas maneiras de informação, por meio da elaboração de discursos expositivos e estratégias pedagógicas. (BRUNO, 1996, p. 21) A produção e organização da documentação museológica seria o que principalmente liga a Museologia com a Ciência da Informação, pois aqui é feito o registro, catalogação, controle da movimentação desse material no acervo, pois este objeto torna-se parte da coleção e passa a ser importante destacar suas características particulares e as informações contidas nele. Além da informação outros conceitos são discutidos na Museologia e Ciência da Informação ou que aparecem com a mesma intenção prática em ambas: memória, documento, comunicação, organização, representação, apropriação, entre outros, os quais são capazes de efetivar um diálogo interdisciplinar. Guarnieri (2010) salienta que o método da ciência deve ser interdisciplinar, pois “a interdisciplinaridade e seus desdobramentos permitem a viabilidade a uma maior consciência da necessidade de uma conexão crítica contínua e constante sobre a Museologia, e sobre o papel do museólogo como trabalhador social”. Sobre a interdisciplinaridade a autora acrescenta que: Essa interdisciplinaridade permite a constante interação, o processo que leva a um caminho próprio para a pesquisa e a operação do raciocínio, bem como à ação museológica, considerada como um todo sistematizado. […] Desse modo, a ciência museológica a partir do método da interdisciplinaridade, o ensino e a formação serão, por consequência, interdisciplinares, e interdisciplinar será o trabalho nos 24 museus. Encarando o conhecimento científico, o ensino que ele acarreta e a ação científica (profissão, ofício) como diferentes estágios de uma mesma operação e atividade – o trabalho humano sobre o campo, um domínio específico –, pode-se concluir pela coerência e pela unidade de um só método relativo á Museologia enquanto ciência, ensino e profissão: a interdisciplinaridade. (GUARNIERI, 2010, p. 134). Um paralelo importante destacado por Araújo (2013) é que ambos os campos se ligam por meio da informação, seja para estabelecer um conceito, seja para trabalhar com ela. A interdisciplinaridade relaciona-se com a questão da ação social do homem, ou, pelo menos, evidencia como é possível trabalhar de maneira prática o conhecimento oriundo de um campo dentro de um outro. 25 3. CAMPO CIENTÍFICO DA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO A Ciência da Informação é um campo científico em construção e bastante recente em comparação com outras áreas do conhecimento. Seu surgimento é apontado por muitos no século XX, dentro de um contexto de guerras e grande crescimento na produção bibliográfica durante esse período, é também apresentado diferentes justificativas em torno do seu surgimento, havendo divergências em sua origem de acordo com o ponto de vista de cada autor. Alguns compreendem que a CI já se apresentava muito antes da explosão informacional no período pós Segunda Guerra, embora não fosse uma área, mas apresentava traços básicos para isso. Já outros autores entendem que seu surgimento originou-se devido à necessidade de solucionar os problemas informacionais enfrentados mundialmente durante o período pós-guerra. Considerando como antecessor a Ciência da Informação, pode-se retomar a Documentação, uma ciência nascida no século XIX, em meio a um contexto de mudanças referentes à maneira como realizava-se a organização de documentos impressos e é percebida uma maior importância aos periódicos científicos. Em 1895, Paul Otlet e Henry La Fontaine se voltam a produção de um sistema de organização a fim de construir algo que abarcasse todo conhecimento (bibliográfico) registrado até então, levando assim também a criação de uma padronização técnica para esse tipo de registro. Surge assim a Documentação. Essa demanda de criação e consolidação da Documentação inicia-se com a I Conferência Internacional de Bibliografia, que leva ao surgimento do Instituto Internacional de Bibliografia. Em 1938, torna-se Federação Internacional de Documentação (FID). No Brasil, o então Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD) muda seu nome para Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), sendo a primeira instituição de Ciência da Informação no país (ARAÚJO, 2014a). 26 Segundo Araújo (2014a, p. 2) “em 1968, o American Documentation Institute, dos Estados Unidos, mudou seu nome para American Society for Information Science, tornando-se a primeira instituição de Ciência da Informação do mundo”. É importante perceber que apesar das contradições existentes quanto a como originou-se a ciência da informação, têm-se um importante avanço para constituição e aceitação da mesma como ciência. Apesar disso, a Ciência da Informação ainda é alvo de dúvidas quanto ao seu objeto de estudo e mais ainda sobre o que se trata. É possível identificar que parte disso é devido a sua interdisciplinaridade que foi anteriormente mencionada e faz com que a mesma dialogue com outras áreas e seja até confundida ao pensar tratar- se da mesma coisa. O campo da Biblioteconomia também pode ser visto como antecessor à Ciência da Informação, e relaciona-se com as preocupações expostas pela Documentação. Em particular, a Biblioteconomia consolida-se por meio de associações e cursos de graduação e pós-graduação. Em 1876 foi criada a American Library Association (ALA). Em 1908, surge a Special Libraries Association (SLA), que por fim, em 1968 e levando em consideração a Documentação como um campo de atuação muda seu nome para American Society for Information Science (ASIS). A Ciência da Informação não deve restringir seu escopo epistemológico a essa ou aquela atividade profissional – biblioteconomia, arquivologia, museologia – a essa o aquela competência técnica – bibliotecários, arquivistas, museólogos, gestores da informação – a essa ou aquela instituição social – bibliotecas, arquivos, centros de documentação, museus – a essa ou aquela tipologia documental – livros, revistas, discos, manuscritos, filmes, objetos de arte, teses páginas web – nem a essa ou aquela característica da informação – científica, tecnológica, econômica, jurídica, pedagógica, histórica, médica, política, administrativa, empresarial. Sua preocupação deve,sim, abranger todo o conjunto de atividades, especialistas, organizações, tecnologias, produtos e linguagens que se encontra imerso nesse espaço paradigmático cujo epicentro é a informação. Por extensão – nem tolhida nem limitada ao inventário da realidade material que lhe confere um regimento constituinte – deve buscar sua legitimidade pela incorporação, em seu programa de estudos, de preocupações e análises contextuais, 27 que permitam compreender sua posição estratégica em relação aos produtos da cultura e do saber humano. (ODDONE, 1998, p. 84). Considerada a princípio em 1982, como uma subárea dentro da área de Comunicação pertencente às Ciências Humanas, Sociais e Artes, passa a ser reconhecida como área do conhecimento tanto pelo CNPq quanto pela CAPES em 1984, fazendo parte do grupo das Ciências Sociais Aplicadas – recém-criado e que englobava outras 13 áreas. Apresentava a Biblioteconomia e Arquivologia como suas subáreas do conhecimento e sofreu poucas alterações em sua descrição desde firma-se como área do conhecimento (SOUZA; STUMPF, 2009) A Ciência da Informação e a Biblioteconomia apresentam fortes relações interdisciplinares no que se refere ao papel social e com relação a preocupação com os registros, conforme apontado por Saracevic (1996), mesmo deixando claro que ambas as áreas apresentam grandes diferenças: (1) seleção dos problemas propostos e a forma de sua definição; (2) questões teóricas apresentadas e os modelos explicativos introduzidos; (3) natureza e grau de experimentação e desenvolvimento empírico, assim como o conhecimento prático/competências derivadas; (4) instrumentos e enfoques usados; e (5) a natureza e a força das relações interdisciplinares estabelecidas e sua dependência para o avanço e evolução dos enfoques interdisciplinares. (p. 49) Em seu artigo denominado “O que é Ciência da Informação?”, Carlos Araújo (2014b, p. 2), aborda a temática no seguinte trecho: Alguns já ouviram falar de sua relação com a Biblioteconomia e pensam tratar-se apenas de um “novo nome” para ela. Cursos de “gestão da informação” causam ainda mais dúvidas. Recentemente, no Brasil e em outros países, cursos de Arquivologia e Museologia foram criados em faculdades ou departamentos de Ciência da Informação, ampliando ainda mais a confusão. O que essas duas áreas, Arquivologia e Museologia, e mesmo a Biblioteconomia, cuja relação é mais antiga, têm a ver com Ciência da Informação? O que é, afinal, Ciência da Informação? Buscando elucidar no entendimento da constituição do campo científico da CI o autor cita cinco fatores: o surgimento da Bibliografia e da Documentação; a relação 28 institucional com a Biblioteconomia; a atuação dos primeiros “cientistas da informação” no provimento de serviços em ciência e tecnologia; o incremento tecnológico; a fundamentação na Teoria Matemática (ARAÚJO, 2014a, p. 3). Fatores esses que nos conduzem também a entender as características dessa ciência. O campo científico da CI originou-se então, de modo a diferenciá-la de suas outras áreas relacionadas, com objetivo de não pensar apenas no documento em si, mas no que estava contido nele, na informação. Sobre essa informação, pensava-se na sua disseminação, circulação e em como torná-la útil e produtiva. Desde sua institucionalização a Ciência da Informação (CI) experimentou diferentes propostas de conceituação e de exame de seus fenômenos de interesse. Foram suas principais bases iniciais a Recuperação da Informação, a Cibernética e a Teoria Matemática da Comunicação, a Classificação e a Informátika soviética. Sobre estas bases se adicionavam, conforme a proposta, elementos de diversas áreas do conhecimento, justificadas por sua vocação interdisciplinar. Tinha-se em vista construir um modelo robusto para o campo e aumentar a precisão e velocidade das práticas de organização, tratamento e recuperação da informação em ciência e tecnologia. (FERNANDES, 2018, p. 128) A partir dessa perspectiva, reconhece-se que após sua consolidação como ciência principalmente com o surgimento e crescimento das graduações, pós graduações e especializações na área, campo da CI tornou-se diverso e foi amplamente dividida em treze teorias contemporâneas: análise de domínio; altmetria; cultura organizacional; curadoria digital; folksonomias e indexação social; ética intercultural da informação; neodocumentação; humanidades digitais; arqueologia da sociedade da informação; práticas informacionais; regimes de informação; memória; aproximações com arquivologia, biblioteconomia e museologia (ARAÚJO, 2017). O campo científico da Ciência da Informação é formado por três modelos, também chamados de paradigmas que são complementares, mais do que excludentes. Com base nas análises apresentadas a seguir, é possível concluir que o campo da CI, apesar de sua enorme variedade de possíveis temáticas, continua a 29 tratar os problemas informacionais lembrando de sua dimensão física, tendo também aspectos cognitivos e se inserindo em dimensões sociais. E é no encontro dessas abordagens que se pode definir o que é, enfim, Ciência da Informação. 3.1 Paradigmas da Ciência da Informação Com vistas a compreender a epistemologia da Ciência da Informação, recorreu-se ao texto de Capurro (2003), que estabeleceu três momentos fundamentais para a compreensão da trajetória desta Ciência. Faz-se necessário, contudo, uma breve explicação sobre a noção de paradigma. Nas ideias de Thomas Kuhn (2006, p. 13) tem-se que paradigmas são “[...] realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência”. Sendo assim, a medida que um paradigma, antes considerado dominante por ser capaz de responder aos questionamentos daquela ciência, passa a não ser suficiente, ele entra em uma crise profunda e irreversível (SANTOS, 1988, p. 54). O ambiente passa então a ser propício para o surgimento de um novo paradigma. O novo paradigma que surge é considerado emergente. Apesar da crise ocasionada, é necessária uma revolução científica para que este passe a ser considerado o dominante. Assim, verifica-se que as origens da área de Ciência da Informação remetem a uma série de estudos independentes, que partindo de objetivos e pontos de vista distintos vêm consolidando este campo científico. Deste modo, como era de se esperar, as várias vertentes que influenciaram o desenvolvimento da Ciência da Informação, acabaram por delimitar paradigmas epistemológicos distintos, embora inter-relacionados e complementares. (ALMEIDA et al., 2007, p. 18) O que foi observado na Ciência da informação é que a mudança de paradigmas ocorreu com a necessidade de inserir no discurso científico a questão social e a vontade de socialização da ciência. De acordo com Capurro (2003, p. 3), “[...] nasceu com um paradigma físico, questionado por um enfoque cognitivo 30 idealista e individualista, sendo este por sua vez substituído por um paradigma pragmático e social.”. Expõe-se, portanto, o paradigma físico, o paradigma cognitivo e o paradigma social. 3.1.1 Paradigma Físico Este é centrado em sistemas informatizados baseado numa epistemologia fisicista (a informação é mensurável, uma coisa). Esse paradigma, intimamente relacionado com a assim chamada Teoria Matemática de Claude Shannon e Warren Weaver (1949) e com a cibernética, focava na transmissão de mensagens e troca de sinais (CAPURRO, 2003). Nessa teoria os autores não denominam o objeto como informação, mas sim como mensagem, ou mais precisamente como signos que deveriam ser a princípio reconhecidos pelo receptor sob certas condições ideais, e onde posteriormente haveria a utilização dos mesmos signos por parte do emissor e receptor, junto com a ausência de perturbaçõesna transmissão. As concepções desse paradigma têm ênfase no progresso industrial e tecnológico. Além da teoria anteriormente citada, têm também suas ideias iniciais com base no modelo newtoniano e no dualismo cartesiano. Privilegiando a razão humana, investigam a natureza da informação, seu crescimento, obsolescência, difusão e propagação. De acordo com o paradigma físico a informação é representada por unidades, com características de “objetos” (BUCKLAND, 1991) que podem ser armazenados em algum lugar e transmitidos por canais, sendo que tanto a transmissão quanto a recepção não sofrem influências contextuais. A capacidade de compreensão da informação transmitida não é discutida, somente se a mesma “chegou a bom porto”. (SMIT, 2012, p. 88) Dessa maneira, o Paradigma Físico não valoriza o usuário no processo de recuperação da informação, não considerando suas percepções e interpretações. A recuperação da informação é mostrada como um processo mecânico no qual temos, por um lado a presença do Sistema de Informação/Base de Dados, do outro, o 31 usuário com o seu desejo de informação condizente com o seu objeto de pesquisa o qual, muitas vezes, não possui condições ou possibilidades de ser manifestado corretamente e, no centro, o profissional da informação (o intermediário humano) que tenta compreender e traduzir essa necessidade para realizar a busca bibliográfica. (ALMEIDA et al., 2007, p. 20) Não está focado na semântica dos dados, mas adequa-se perfeitamente a criação de sistemas computacionais. Há uma grande influência que marca o começo das pesquisas direcionadas ao sistema de recuperação de informação, marcada pelos termos de revocação (recall) e precisão (precision) dentro de um sistema de indexação. Torna-se evidente que, no campo da ciência da informação, o que esse paradigma exclui é nada menos que o papel ativo do sujeito cognoscente ou, de forma mais concreta, do usuário, no processo de recuperação da informação científica, em particular, bem como em todo processo informativo e comunicativo, em geral. (CAPURRO, 2003, p. 7) Ainda sobre o paradigma físico, é importante apresentar uma outra versão. A análise apresentada por Capurro sistematiza o tema e apresenta também o contexto histórico, mas é importante falar também sobre o ponto de vista apresentado por Geni Fernandes (2018, p. 130): Mas o uso do termo “paradigma físico” oculta que o campo se institucionalizou numa espécie de parceria entre o que podemos entender como duas abordagens, fazendo desaparecer suas diferenças em termos de propostas de pesquisa e de demandas de origem do campo. Também não inclui a Informátika soviética, onde os aspectos sociais e psicológicos concernentes a usuários de informação eram considerados relevantes na determinação do valor e das regularidades da informação. A CI foi construída por pesquisadores já envolvidos com questões de seleção, ordenamento e recuperação da informação. As relações entre estes pesquisadores nos Estados Unidos antecedem, mas intensificam-se, durante a segunda guerra mundial e foi mapeada por alguns autores (ver p.ex.: FARKAS-CONN, 1990, HEAPS, 1988). Já no âmbito soviético é mais difícil mapear interessados e áreas envolvidas na emergência da Informátika, tanto pela pouca literatura disponível quanto pelo modo de condução das políticas públicas do partido comunista. 32 3.1.2 Paradigma Cognitivo As limitações do paradigma anterior conduziram ao paradigma cognitivo, centrado no usuário. Pode-se considerar este momento “centrado-no-usuário”, mas sempre um usuário individual, isolado, não inserido numa dimensão coletiva. O leitmotiv deste paradigma é o sujeito produtor de conhecimento, visando seu bem-estar e o desenvolvimento da humanidade, tornado possível pelo desenvolvimento dos indivíduos. O paradigma cognitivo opõe-se, efetivamente, ao paradigma físico, mas continua pressupondo a existência de estoques informacionais. (SMIT, 2012, p. 89) Analisando este paradigma, torna-se perceptível as mudanças ocorridas em referência ao anterior. Se antes a ciência era construída de uma relação entre o sensorial, a racionalidade e a teorização a priori, agora ela além de ter o usuário como foco, entende que cada indivíduo percebe o conhecimento e a informação de forma subjetiva (FRANCELIN, 2017, p. 6). Além disso, é amplamente discutido a ideia de paradigmas cognitivos. Essa pluralidade do termo se daria em decorrência de uma possível classificação baseada também em uma pluralidade de correntes teóricas ao qual estaria relacionado. Sendo assim, é possível classificar um nível macro, que é o paradigma referencial na CI e o micro que seria os paradigmas aplicados e pode ser dividido em três: paradigma cognitivo behaviorista, paradigma cognitivo funcionalista, paradigma cognitivo estruturalista. Por isso que inicialmente o paradigma cognitivo foi capaz de tratar as problemáticas que já não o eram pelo paradigma físico, principalmente no que diz respeito a tratar sobre o usuário. A Ciência da informação passou a enxergar a existência desse usuário e a trabalhar de modo que o mesmo pudesse ser entendido. As necessidades, porém, passaram a ser outras. O usuário visto como indivíduo não tinhas as suas necessidades de informação e os processos sociais para que esta informação chegasse levados em consideração. O paradigma cognitivo limita-se por se sustentar precisamente na ideia de considerar a informação como algo separado do usuário que se localiza em um 33 mundo numérico, ou passando a ver esse usuário como um sujeito que inicialmente deixa de lado os condicionamentos sociais e materiais do existir humano. E por quais motivos o paradigma cognitivo não responde mais algumas questões/problemas levantadas pela CI, assim como há uma designação emergente de um paradigma social? Alguns fatores podem ser considerados: a) a necessidade de um paradigma que tenha como foco de estudos central o processo de construção COM o usuário e não apenas PARA o usuário (CARVALHO SILVA, 2012); b) o paradigma cognitivo relega a um plano inferior os processos sociais de produção, distribuição, intercâmbio e consumo de informação, indicado somente por seus efeitos nas representações de geradores de imagens atomizadas (FROHMANN, 1995); c) a CI necessita de um paradigma que não seja simplesmente pensado dos processos teóricos para a prática como uma espécie de ‘adivinhação das necessidades de informação e perspectivas de satisfação dos usuários’, mas de um processo que seja pensado a partir dos contextos práticos e empíricos para se fortalecer como fundamento teórico aplicável, viável e contíguo as necessidades de informação do cotidiano dos usuários; d) um novo paradigma deve ser pensado na possibilidade de incentivar uma autonomia dos usuários da informação em que tenham capacidade e motivação para decidir os processos construtivos de informação (pensar uma construção coletiva e plural de informação). (SILVA; FARIAS, 2013, p. 49-50) 3.1.3 Paradigma Social O paradigma social surge então desde a década de 90 como forma de resposta às problemáticas anteriores. Sua base filosófica está relacionada ao historicismo, a linguagem, a cultura e a experiências prévias que influenciam a percepção e o pensamento (FRANCELIN, 2017, p. 6). É o paradigma que prevalece hoje na Ciência da Informação, que hoje é vista como uma ciência social aplicada. Este considera a informação como um elemento prévio para a criação de conhecimento, tendo em vista a tríade dados, informação, conhecimento, já que dentro desta perspectiva a informação é a ação de algo que é obtido pelo sujeito (usuário) e é apenas ele quem vai distinguir o quanto essa informação pode ser relevante para seu fim, e junto a ela realizar um processo para criação de conhecimento. Torna-se evidente que o sujeito procura porinformações, elaborando perguntas de acordo com aquilo que tanto o contexto social quanto seus conhecimentos individuais permitem, determinando um escopo 34 dentro do qual a resposta será considerada útil, ou válida (SANTOS, 1987). O modo de formular a pergunta determina a resposta, inserindo tanto a busca de informação quanto sua apropriação e uso na relatividade contextual da qual decorrem. A Ciência da Informação, neste momento, se concebe, de fato, como uma ciência social, muito influenciada pelas tecnologias da informação e da comunicação (as TICs) e inserida nos propósitos da sociedade da informação. (SMIT, 2012, p. 89-90) A visão do usuário sobre questões sociais e seu conhecimento de mundo são levados em questão ao ponto de entender que esse sujeito é independente e capaz de recuperar, analisar e criar sua própria compreensão da informação com base no contexto cultural no qual se encontra, visto como local e global. De modo esquemático, a seguir Francelin (2017) apresenta a visão de informação em cada um dos paradigmas: físico, cognitivo e social. Quadro 1 – Conceito de informação na Ciência da Informação Fonte: Francelin (2017). Em síntese, cada um dos paradigmas abordou de uma maneira diferente o modo como olhar para o usuário da informação e para a própria informação. Mesmo que mudando a visão de acordo com o período e foco do paradigma, parece ficar claro que a Ciência da Informação trabalha em torno de problemas informacionais e, consequentemente, volta o seu olhar para maneiras de solucioná-los. 35 4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para coleta de dados realizou-se uma pesquisa exploratória nas revistas científicas nacionais e especializadas no campo da Museologia – “Museologia e Patrimônio” (Revista Eletrônica do Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio - PPG-PMUS Unirio/MAST) e “Museologia & Interdisciplinaridade” (vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília). E com revistas de qualis A14 no campo da Ciência da Informação – “Perspectiva em Ciência da Informação”, “Informação e Sociedade” e “Transinformação”, tendo em vista a quantidade significativa de periódicos, foi necessário criar um critério de seleção para este momento. A incorporação destes periódicos ocorreu pois as publicações da Museologia não se restringem aqueles dois periódicos, tendo artigos publicados na área de “Ciência da Informação”. Para coleta de artigos que abordassem o conceito de informação. Assim, a recuperação da informação ocorreu no item “busca” dos periódicos a partir do uso dos seguintes argumentos de busca: informação; informação AND Museologia; Informação AND museus. Essa seleção ocorreu devido o escopo constituir na discussão do conceito de informação na Museologia e na Ciência da Informação. Em seguida, realizou-se uma discussão do conceito de informação abordado no campo da Ciência da Informação no que diz respeito à essas definições de informação com relação aos conceitos extraídos dos artigos da Museologia. 4.1 Universo dos dados Para obtenção e seleção dos artigos foi realizada uma pesquisa nos periódicos específicos brasileiros da área de Museologia, “Museologia e Patrimônio” e “Museologia & Interdisciplinaridade” com o termo informação a princípio apenas no 4Qualis afere a qualidade dos artigos e de outros tipos de produção, a partir da análise da qualidade dos veículos de divulgação, ou seja, periódicos científicos. O Qualis Periódicos está dividido em oito estratos, em ordem decrescente de valor: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C. Sendo o A1 o estrato mais alto, de melhor avaliação. 36 título, e, posteriormente, em todos os campos passíveis de busca dentro dos periódicos, onde foram selecionados aqueles que apresentaram uma recorrência significativa do termo no texto e uma descrição em seu resumo onde fosse possível identificar que mesmo aparecendo pouco, o termo encaixava-se em um segmento de análise do termo de informação, passando a ideia de se tratar do foco da pesquisa. Quadro 2 – Artigos selecionados nos periódicos específicos da área de Museologia Museologia e Patrimônio Autores Edição Comunicação e informação de museus na Internet e o visitante virtual Rosane Carvalho v. 1, n. 1 (2008) A organização da informação como instrumento de preservação e acesso ao Museu Virtual da Coleção Etnográfica Carlos Estevão de Oliveira Geysa Galvão, Denis Bernardes v. 4, n. 2 (2011) A morte de um museu esquecido: o que perde a atual medicina legal sem o acesso à informação dos pioneiros Regina de qSa v. 10, n. 1 (2017) Itinerários epistemológicos da instituição e constituição da Informação em Arte no campo interdisciplinar da Museologia e da Ciência da Informação Lena Vania Pinheiro v. 1, n. 1 (2008) Museologia e Interdisciplinaridade Autores Edição Documentação e Informação no Contexto Museológico Ednaldo Soares v. 6, n. 11 (2017) O tratamento da informação no espaço museal: o museu histórico visconde de são leopoldo/rs e a coleção fotográfica sesquicentenário da imigração alemã Daniela Schmitt v. 5, n. 9 (2016) Teses de Artistas: relevância das informações como ferramenta para preservação da arte contemporânea Magali Melleu Sehn v. 5, n.10, (2016) Fonte: Autoria própria (2018). Enquanto que nas revista específicas da área de Ciência da Informação, com qualis A1, “Perspectiva em Ciência da Informação”, “Informação e Sociedade” e “Transinformação” buscou-se pela junção dos termos informação AND museologia, e depois informação AND museu em todos os campos passíveis de busca dentro das revistas percorrendo quase o mesmo percurso que nas revistas anteriores, onde foi levado em consideração a grande recorrência do termo “informação” e que de maneira clara fosse possível também identificar que tratavam disso com relação ao campo da Museologia ou ao museu. 37 Quadro 3 – Artigos selecionados nos periódicos específicos da área de Ciência da Informação Perspectiva em Ciência da Informação Autores Edição A Museologia na web: sistema de informação sobre patrimônio cultural na era digital Janaina Mello, Fabiano Luz, Marcia Montijano, Ângela de Andrade v. 20, n. 1 (2015) Museu virtual: um novo olhar para a informação e comunicação na Museologia Robson da Silva Teixeira v. 19, n. 4 (2014) O novo Museu e a Sociedade da Informação Mário Gouveia Junior v. 19, n. 4 (2014) A recuperação da informação e o conceito de informação: o que é relevante em mediação cultural? Bruno Cesar Rodrigues, Giulia Crippa v. 16, n. 1 (2011) Museus de ciência, divulgação científica e informação: reflexões acerca de ideologia e memória Daniel Maurício Viana de Souza v. 14, n. 2 (2009) Informação e Sociedade Autores Edição Práticas informacionais expositivas: um estudo sobre o Museu Casa de José Américo Tahis da Silva, Carlos de Azevedo Netto v. 23, n. 3 (2013) Sistemas de Informação, cyber cultura e digitalização do patrimônio sergipano: a museologia na web Janaina Mello, Marcia Montijano, Ângela de Andrade, Fabiano Luz v. 22, n. 2 (2012) Museu e suas tipologias: o webmuseu em destaque Fábio Lima, Plácida Santos v. 24, n. 2 (2014) TransInformação Autores Edição Museu, objeto e informação Durval de Lara Filho v. 21, n. 2 (2009) Re-interpretando os objetos de museu: da classificação ao devir Bruno Brulon v. 28, n. 1 (2016) Fonte: Autoria própria (2018). Alguns trabalhos posteriormente foram descartados por não se tratarem de artigos, mas sim de resumos de teses e dissertações ou resenhas. Constatou-se também artigos duplicados, isto é, publicados em mais de um periódico, os quais foram excluídos, mantendo-se o primeiro registro com a data mais antiga. Durante esse processo de análise dos títulos, resumos epalavras-chaves dos artigos, bem como a leitura dos mesmos, foi percebido que alguns não apresentavam realmente uma explicação sobre o termo “informação”, pois em alguns artigos o uso da palavra era constante. Concluiu-se que para uma melhor análise dos dados seria necessário ligar-se a pelo menos uma palavra-chave (ou termo) que descrevesse o artigo como um todo ou que se aproximasse das ideias transmitidas pelos autores, pela maneira com a qual construíam seus textos e explicavam sobre o uso da informação e como a compreendiam. http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/issue/view/123 http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/issue/view/123 http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/issue/view/92 http://portaldeperiodicos.eci.ufmg.br/index.php/pci/issue/view/77 http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/issue/view/1272 http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/issue/view/982 http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/issue/view/1393 http://www.ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/issue/view/1393 http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/transinfo/issue/view/78 http://periodicos.puc-campinas.edu.br/seer/index.php/transinfo/issue/view/330 38 5. EM FOCO: A INFORMAÇÃO NA MUSEOLOGIA No que tange à questão da informação, sob uma análise em termos etimológicos, a palavra informação - que vem do latim informare - significa "dar forma", "colocar em forma", o que remete aos sentidos de criação, apresentação e representação. (SOUZA, 2009, p. 160) Os artigos selecionados e analisados oriundos das revistas da área de Museologia trazem consigo uma ampla interpretação por parte de seus autores quanto ao que diz respeito do que é informação. Geralmente atrelada a algo dentro do conteúdo apresentado no artigo e que se desenrola levando em consideração a temática abordada, a fim de estabelecer ligações com o que é apresentado ao leitor. Pinheiro (2008) discute a informação em Arte, mencionando como essa informação é vista junto a uma descrição histórica, representação e também atrelada à documentação. A obra de arte é vista como fonte de informação, assim como os documentos sobre arte constituem dentro de “informação em arte”. Carvalho (2008) dá enfoque a comunicação, pois o museu é um espaço informacional, ou melhor, um “sistema de informação e comunicação”. Apresenta alguns autores que definem informação, falando também um pouco a respeito de sistemas de informação, mostrando que tanto a informação quanto a comunicação caminham juntos. Galvão e Bernardes (2011) fala a respeito do museu virtual e sistemas de informação, sinalizando principalmente objetos e coleções quando dentro do espaço museal, pois dentro de sua compreensão há informação contidas nos artefatos. E os objetos são fontes de informações que conformam os sistemas de informação, operando com as atividades de preservação, disponibilidade e identificação dos acervos informacionais. Sá (2017) destaca sobre o espaço do museu ser voltado para o estudo e pesquisa e não apenas como um espaço de arte. A informação é da ordem dos artefatos, que são tratados, organizados e disseminados, chamando atenção para o acesso à informação por meio das novas tecnologias. 39 Schmitt (2016) expõe a informação como sendo algo presente em fotografias, objetos e símbolos. Fala também a respeito de memória e documentação museológica e sobre recuperação da informação, embora realmente dê maior importância a memória e documentação. Sehn (2016) destaca a importância das informações contidas nas dissertações, teses, memoriais realizados por artistas que nem sempre são instrumentos de pesquisa dos profissionais que possuem a missão de conservar a arte contemporânea. Soares (2017) relaciona informação e comunicação, fala a respeito desta estar presente no objeto e explana a respeito das três definições de informação apresentadas por Buckland (1991). Apresenta um pouco do que seria documentação museológica, mas de maneira geral dá maior enfoque a comunicação. Enquanto os artigos analisados das revistas da área de Ciência da Informação embora também apresentem ampla definição do que seria informação, não necessariamente expõem isso de maneira clara, está muito atrelado ao contexto de como desenvolve-se o artigo. Assim, a informação não se apresenta como um conceito delimitado, sendo necessário interpretar o uso da palavra a partir do contexto de uso. Mello et al. (2015) não apresentam uma definição conceitual sobre informação, mas guiam o leitor para compreender a informação a partir da sua imbricação com os sistemas informacionais e gestão de documentos digitais com vistas a discussão do patrimônio cultural. Teixeira (2014) destaca o museu virtual, a capacidade de interação e comunicação de informações dentro deste ambiente. Relata a respeito do crescimento das Tecnologias de Informação e Comunicação, dando assim destaque aos procedimentos técnicos e a disseminação da informação científica. Gouveia Junior (2014) enfatiza o que seriam práticas informacionais, mas não apresenta uma definição isolada de informação. Relata também acerca de memória enquanto uma informação que seja passível de registro, gerando uma assimilação de que comunicação se liga a memória. 40 Rodrigues e Crippa (2011) destacam o que seria a recuperação de informação, informatividade, como oferta de sentido vinculada ao indivíduo dos sistemas de recuperação da informação, sendo a informação uma apropriação diferente para cada um dos usuários. A mediação também é discutida e é ressaltado o desafio do profissional da informação referente à informação relevante aos usuários dos museus de arte, tendo em vista as subjetividades que envolvem a definição de Arte Souza (2009) discorre sobre divulgação científica, informação científica e memória social de maneira interligada. Apresenta a informação como uma mediação entre mente e objeto, e que a informação está ligada ao social e sistemas de informação. Silva e Azevedo Netto (2013) como outros autores já apresentados, não traz uma definição isolada de informação, apenas gera uma compreensão de sua existência ligada com a temática do artigo de “práticas informacionais” a partir da exposição museológica e da informação como suporte da memória. Apresentam as instituições museológicas como produtoras de informação. Mello et al. (2012) ao longo do texto é definido somente sistemas de informação, e assim compreendemos que é sua opinião a respeito do que é informação está vinculada aos sistemas, em que os usuários buscam informação a partir de suas necessidades. Lima e Santos (2014) salienta uma ligação entre exposição e comunicação dentro do espaço museal, pois para os autores o acesso à informação foi facilitado com o desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação, focando inclusive na categoria do webmuseu. Expõe ainda o entendimento do museu como uma unidade de informação onde se desenvolve processos de organização, tratamento, armazenamento e recuperação da informação. Lara Filho (2009) foca nos fatos dos objetos possuírem informação, gerando uma busca pelo sentido e construção da informação diante disso. Aqui a informação é vista como um objeto de face social e subjetiva. Embora o foco seja o objeto 41 portador de informação, o fluxo, sentido e uso dessa informação também é levado em consideração. Brulon (2016) apresenta a informação como um objeto atrelado a um sistema de informação, não a define isoladamente, mas lhe apresenta em um contexto para que seja compreensível sua perspectiva de análise. 5.1 A Informação em diálogo com a Ciência da Informação Em primeiro lugar é preciso esclarecer que, na ótica da Ciência da Informação, o objeto “informação” é uma representação. Como é uma representação de conhecimento, que já é uma representação do real, ela se torna umarepresentação de representação. Por isso, a informação é um objeto complexo, flexível, mutável, de difícil apreensão, sendo que sua importância e relevância estão ligadas ao seu uso. Grande parte dos autores analisados enxerga a informação como conhecimento (OLIVEIRA, 2005, p. 18). Para uma melhor observação sobre como apresentam-se as definições que foram identificadas nos artigos estudados, toma-se como base o artigo de Buckland (1991) “Information as thing”, trazido como “Informação como coisa” e as três definições apresentadas pelo autor de “informação como processo”, “informação como conhecimento” e “informação como coisa” constituem a base de relacionamento com os artigos, ademais de outros autores da Ciência da Informação que possuem uma conceituação de informação similar ao que foi exposto nos artigos5. A “informação como processo” é entendida como o ato de informar, de maneira que pode ser entendida como próximo de outro conceito, o de comunicação. Assim, a informação como processo é entendida como ação, como a informação da ordem do intangível. Carvalho (2008), Soares (2017), Silva e Azevedo Netto (2013), em seus artigos dão um maior enfoque a comunicação, exposição ou prática que implique no processo de informar o agente, neste caso, o usuário e ou 5 Os autores da Ciência da Informação que foram citados para esta análise fazem parte de uma revisão de literatura a respeito do termo “informação”, publicada por Jessica Siqueira em 2011. Há uma multiplicidade de conceitos acerca da informação por autores da Ciência da Informação, por isso optou-se em selecionar uma revisão de literatura a fim de guiar a leitura, em vez de selecionar os autores. 42 visitante, a respeito de seu papel ativo e da apropriação da informação como ente intangível. Em alguns casos o documento pode até ser destacado como parte ou portador de informação, mas a principal maneira de transmitir informação é por meio da comunicação do que está em posse ou sendo exposto no museu. E dentro da visão de autores como Frohmann (2004), Martinez Comeche (2000) e Tálamo (2005), é que a comunicação e o ato informativo geram conhecimento, conforme sinalizou Siqueira (2011). A “informação como conhecimento” é a redução de incertezas e a geração de conhecimento com a recepção do que é transmitido. Deve-se levar em consideração que às vezes informação aumenta a incerteza, então neste caso é o entendimento ou esclarecimento com base no que foi comunicado, sendo também intangível. Os artigos Mello et al. (2012), Mello et al. (2015), Souza (2009), Lara Filho (2009), Gouveia Junior (2014), Rodrigues e Crippa (2011) dão enfoque ao virtual e aos sistemas de informação, mas não se concentram exclusivamente no sistema. Mesmo que em alguns casos seja visto a comunicação como principal elemento de transmissão, os autores aqui buscam discutir a importância da cultura e da memória cultural e social para a apropriação da informação pelos sujeitos. Diante de documentação histórica ou gestão de documentos, é por meio do conhecimento adquiridos antes ou melhorados após a recepção da informação que o usuário com acesso aquela informação a compreende e a pode destacá-la como sendo diferente das demais. Autores como Wersig e Windel (1985), McGarry (1999), Robredo (2005) entendem a informação como um redutor de incertezas e que diálogo com a situação ou contexto no qual o receptor da informação se encontra, esta é capaz de solucionar ou esclarecer sua dúvida inicial. A “informação como coisa” é principalmente atrelada a objetos, embora seja também um dado ou documento que podem ser considerados informativos e/ou portadores de informação. É necessária uma comunicação entre receptor e objeto, no sentido de que o receptor precisa ser informado, mas o principal é dizer que “algo” é portador de informação, sendo considerada tangível, materializada. 43 Nos artigos de Pinheiro (2008), Teixeira (2014), Lima e Santos (2014), Galvão e Bernardes (2011), Schmitt (2016), Sehn (2016), Sá (2017) e Brulon (2016) o principal foco dos autores é destacar que os objetos são portadores de informação e fontes de informação e/ou consulta documental, e vale-se ressaltar que mesmo diante de sistemas ou outros meios, a informação é aquela vinculada ao objeto/documento. O objeto possui um atributo informativo e dentro do contexto museal, por meio das exposições, os objetos transmitem informação. A informação é aquela que proveem dos objetos e a partir dela se opera com diversos processos museais, dentre eles a documentação tem um destaque maior. Autores como Le Coadic (2004) e Miranda (2003) deixam o conceito de informação atrelado ao registro, a um documento, necessariamente físico, que quando o receptor entra em contato torna-se capaz de identificar que existe informação e que esta é transmitida ao entrar em contato com o objeto, sem que haja o ato comunicativo como uma categoria de questionamentos explícita. Das categorias expostas “informação como processo”, “informação como conhecimento” e “informação como coisa” está última que mais se aproximam os autores dos artigos da Museologia, a informação é vista sobremaneira como um elemento da ordem dos documentos e que com eles opera-se uma diversidade de processos técnicos, que são discutidos dentro da documentação museológica. Todavia, vale destacar que as classificações operadas buscaram enquadrar os textos em suas características sobressalentes, pois foi possível notar a proximidade do conceito informação ora como coisa, ora como processo e ainda como conhecimento. 44 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi possível perceber que poucos são os textos que realmente discutem ou apresentam uma definição sólida do que é informação, e é mais fácil encontrar ao longo desses mesmos textos a exposição de locais ou meios onde a informação pode ser de fato vista ou analisada – pois ela existe –, mas não há realmente palavras que apresentem-se de maneira que seja possível defini-la conceitualmente. No que se refere às análises dos artigos encontrados é possível já a princípio informar que nem todos mostram-se esclarecedores quanto ao que seria informação ou por outras razões (seja até entender que o leitor já conhece o que significa tal palavra), apenas mencionam o termo, sem maiores explicações ou qualquer utilização de referência a outros autores, sejam estes da sua área de pesquisa ou não. A informação não é conceituada, mas aparece atrelada a diferentes contextos e relacionadas a diferentes outras palavras e podendo, num mesmo texto, trazer diferentes ligações com outros assuntos, pois na medida em que o conteúdo do artigo se desenvolve, o leitor entende que informação se assemelha a outros assuntos além do que já foi apresentado anteriormente, isto é, cabe ao leitor a interpretação da palavra informação. É visto também que dentro da construção da grande maioria dos textos é possível verificar que mesmo não havendo uma resposta definitiva ou mais assertiva para “o que é informação?”, ainda conseguimos encontrar e identificar “onde está a informação”, seja ao longo do texto com uma definição mais clara sobre este ponto apresentando uma ideia ou um objeto ou dentro de um espaço (o próprio museu, na maioria dos casos). De fato, a informação sobremaneira está vinculada aos objetos dos museus, sendo a partir da comunicação e da exposição como elemento de disseminação, que a informação aflora para o visitante. Verificou-se que havia grande quantidade de definições atreladas a conceituação do que é o museu (ambiente físico ou virtual) ou a Museologia, ou 45 relacionadas ao que seriam as coleções com as quais se trabalhava dentro do que seria o espaço museal, mas o termo informação quando empregado em alguns desses casos não era de fato conceituado,
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