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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E ENGENHARIA DE MATERIAIS COMPÓSITOS PORTLAND-BIOPOLÍMERO PARA CIMENTAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO ULISSES TARGINO BEZERRA Natal-RN OUTUBRO/2006 3 COMPÓSITOS PORTLAND-BIOPOLÍMERO PARA CIMENTAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO 5 Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Bezerra, Ulisses Targino Compósitos Portland-biopolímero para cimentação de poços de petróleo / Ulisses Targino Bezerra. – Natal, RN, 2006. 287 p. Orientador: Antonio Eduardo Martinelli Co-orientadora: Dulce Maria de Araújo Melo Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia dos Materiais. 1. Cimento Portland - Tese. 2. Biopolímero - Tese. 3. Cimentação de poços – Tese. 4. Modelagem de bainha – Tese. I. Martinelli, Antonio Eduardo. II. Melo, Dulce Maria de Araújo. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 666.942 4 ULISSES TARGINO BEZERRA COMPÓSITOS PORTLAND-BIOPOLÍMERO PARA CIMENTAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais, do Centro de Ciências Exatas e da Terra, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Ciência e Engenharia de Materiais. Área de Concentração: Polímeros e Compósitos Orientador: Dr. Antonio Eduardo Martinelli Co-orientadora: Drª. Dulce Maria de Araújo Melo Natal-RN OUTUBRO/2006 6 COMPÓSITOS PORTLAND-BIOPOLÍMERO PARA CIMENTAÇÃO DE POÇOS DE PETRÓLEO ULISSES TARGINO BEZERRA DATA DA DEFESA: ______________________________________________ ORIENTADORES: Dr. Antonio Eduardo Martinelli (principal) ______________________________________________ Drª. Dulce Maria de Araújo Melo (co-orientadora) ______________________________________________ 01°°°° MEMBRO DA BANCA: Dr. Hélio Scatena Junior ______________________________________________ 02°°°° MEMBRO DA BANCA: Dr. Josealdo Tonholo (examinador externo) ______________________________________________ 03°°°° MEMBRO DA BANCA: Dr. Marcus Antônio de Freitas Melo ______________________________________________ 04°°°° MEMBRO DA BANCA: Dr. Alexandro Diógenes Barreto (examinador externo) ______________________________________________ 7 A organização da matéria viva, que apenas conseguimos idealizá-la em nossos cérebros e é muito mais forte do que o discurso, não passa da estaticidade se não conseguimos perceber que a existência supera infinitamente a categoria do natural. “... volto-me para o meu espírito. É a ele que compete encontrar a verdade. Mas como? Incerteza grave, cada vez que o espírito se sente ultrapassado por si próprio; quando ele, o pesquisador, é ao mesmo tempo o terreno obscuro onde deve procurar e onde toda a sua bagagem não lhe servirá de nada. Procurar? Não só: criar. Está perante qualquer coisa que ainda não existe e que só ele pode realizar, depois trazer à luz” (Marcel Proust, À procura do tempo perdido, 1913-1927). 8 DEDICATÓRIA Há quem saiba que dia é o melhor para cada coisa. Minha mãe é assim. “Deus não deveria permitir que os cientistas e poetas morressem”, frase do meu pai. Eu e meus quatro irmãos não podemos nos queixar dos pais que Deus nos deu. Se meus filhos, Lucas e Maria Letícia, compreenderem quem são e como são os meus pais, não precisarei me preocupar com os seus futuros. Seus nomes: Alice e Tupan. 9 AGRADECIMENTOS Antonio Eduardo Martinelli Carlos Bittemilher de Araújo Dulce Maria de Araújo Melo Enguelberto de Medeiros Rodrigues Érika Pinto Marinho Flank Melo de Lima Hélio Scatena Junior Laboratório de Cimentos - LABCIM Lucineide Balbino da Silva Marcus Antônio de Freitas Melo Normando Perazzo Barbosa Roseane Aparecida Brito Salustiano Miguel Souza Alves Túlio Wagner Jacinto 10 RESUMO A cimentação de poços é prática comum na indústria do petróleo. Poços antigos que apresentam baixo rendimento passam a produzir mais quando se adota o processo de recuperação secundária. Um dos procedimentos que pode ser adotado nestes poços é a introdução de vapor d’água sob pressão para que o petróleo tenha sua viscosidade reduzida e flua com mais facilidade para os poços da circunvizinhança. A temperatura elevada provoca fissuração nas bainhas dos poços e conseqüente perda de estanqueidade devido ao caráter rígido das bainhas de cimento Portland. Compósitos de cimento Portland aditivados com biopolímero foram analisados com relação a três aspectos: propriedades mecânicas previstas nas normas da ABNT e específicas para a indústria do petróleo; propriedades reológicas também previstas em norma e avaliação numérica por elementos finitos simulando bainhas de poços de petróleo. As pastas foram preparadas seguindo planejamento fatorial prévio, com variação de três fatores: idade do cimento Portland, concentração de biopolímero e fator água/cimento. Os resultados mostraram que a presença do biopolímero elimina formação de água livre; funciona como acelerador de pega, reduzindo o tempo de espessamento; aumenta as resistências à compressão e à tração em até 30 % e a tenacidade-resiliência em até 30 %. A análise por elementos finitos mostrou que a ordem de grandeza das tensões despertadas pela temperatura no fundo do poço chega a ser 10 e 100 vezes superior às resistências à compressão e à tração, respectivamente, das pastas ensaiadas em laboratório. Isto levou à constatação de que os ensaios não confinados de propriedades mecânicas não conseguem medir o comportamento real das pastas, sendo necessária a adaptação dos mesmos para a condição confinada. Um ensaio alternativo é proposto por meio de um equipamento (SCERB) que simula as condições de fundo de poço. Palavras-chave: cimento Portland; biopolímero; cimentação de poços; modelagem de bainha. 11 ABSTRACT The oil production in mature areas can be improved by advanced recovery techniques. In special, steam injection reduces the viscosity of heavy oils, thus improving its flow to surrounding wells. On the other hand, the usually high temperatures and pressures involved in the process may lead to cement cracking, negatively affecting both the mechanical stability and zonal isolation provided by the cement sheath of the well. The addition of plastic materials to the cement is an alternative to prevent this scenario. Composite slurries consisting of Portland cement and a natural biopolymer were studied. Samples containing different contents of biopolymer dispersed in a Portland cement matrix were prepared and evaluated by mechanical and rheological tests in order to assess their behavior according to API (American Petroleum Institute) guidelines. FEM was also applied to map the stress distribution encountered by the cement at bottom hole. The slurries were prepared according to a factorial experiment plan by varying three parameters, i.e., cement age, contents of biopolymer and water-to-cement ratio. The results revealed that the addition of the biopolymer reduced the volume of free water and the setting time of the slurry. In addition, tensile strength, compressive strength and toughness improved by 30% comparing hardened composites to plain Portland slurries. FEM results suggested that the stresses developed at bottomhole may be 10 to 100 times higher than the strength of the cement as evaluated in the lab by unconfined mechanical testing. An alternative approach is proposed to adapt the testing methodology used to evaluate the mechanical behavior of oilwell cement slurries by simulating the confined conditions encountered at bottomhole. Key-words:Portland cement; biopolymer; well cementing; structural sheath model. 12 SUMÁRIO BANCA EXAMINADORA EPÍGRAFE DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS 1 INTRODUÇÃO 018 1.1 OBJETIVOS 024 1.1.1 Objetivo geral 024 1.1.2 Objetivos específicos 024 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 026 2.1 Cimentos 026 2.2 Cimento Portland 029 2.3 Tipos e classes de cimento Portland 030 2.4 Composição potencial de Bogue e composição otimizada 035 2.5 Hidratação do cimento Portland 040 2.5.1 Reação de hidratação do silicato tricálcico (alita) 041 2.5.2 Reação de hidratação do silicato dicálcico (belita) 044 2.5.3 Reação de hidratação do aluminato tricálcico (celita) 046 2.5.4 Reação de hidratação do ferro-aluminato tetracálcico (brownmilerita) 047 2.6 Hidratação do cimento Portland em temperatura elevada 049 2.7 Cimentação de poços 055 13 2.7.1 Tipos de cimentação 059 2.7.1.1 Cimentação primária 060 2.7.1.2 Cimentação secundária 060 2.7.2 Objetivos das operações de cimentação na completação 063 2.7.2.1 Correção de cimentação primária 063 2.7.2.2 Tamponamento de canhoneados 064 2.7.2.3 Reparos de vazamentos no revestimento 066 2.7.3 Aditivos para cimentação 067 2.8 Injeção de água e de vapor d’água 072 2.9 Adições poliméricas 076 2.9.1 Biopolímero 083 2.10 Resistência à tração 084 2.11 Microestrutura 089 2.12 Reologia do cimento Portland 090 3 METODOLOGIA 093 3.1 Materiais utilizados 093 3.2 Cálculo de pasta 094 3.3 Preparação das pastas cimentantes 095 3.4 Mistura 095 3.5 Homogeneização da pasta 096 3.6 Ensaios reológicos 097 3.7 Conteúdo de água livre 099 3.8 Resistência à compressão 099 3.9 Resistência à tração 100 3.10 Módulo de elasticidade na compressão e na tração 100 3.11 Difração de raios X 101 3.12 Microscopia eletrônica de varredura 101 3.13 Método dos elementos finitos 101 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 104 4.1 Características físico-químicas 107 4.1.1 Composição otimizada das 34 bateladas e das bateladas 23 e 34 109 14 4.1.2 Quantidade de água necessária para hidratar o cimento Portland especial 120 4.2 Análise termogravimétrica do biopolímero e do cimento Portland especial 121 4.3 Propriedades mecânicas 123 4.3.1 Resistência à compressão 123 4.3.2 Módulo de elasticidade na compressão 129 4.3.3 Resiliência na compressão 135 4.3.4 Resistência à tração 140 4.3.5 Módulo de elasticidade na tração 145 4.3.6 Resiliência na tração 150 4.3.7 SCERB - Simulador de Contração e Expansão Radial de Bainha 156 4.4 Comportamento reológico 166 4.4.1 Modelo de Bingham, de Potência e de Herschel-Bulkley 166 4.4.2 Viscosidade plástica e limite de escoamento 168 4.5 Água livre ambiente 172 4.6 Volume de filtrado 175 4.7 Tempo de espessamento 177 4.8 Correlações 182 4.8.1 Resistência à compressão e à tração 183 4.8.2 Módulo de elasticidade na compressão e na tração 184 4.8.3 Resiliência na compressão e na tração 185 4.9 Avaliação de fases formadas por difração de raios X 186 4.10. Morfologia das pastas endurecidas através de microscopia eletrônica de varredura 193 5 CONCLUSÕES 199 6 RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 203 6.1 Classificação das pastas aditivadas com polímero 203 6.2 Sugestão para a norma NBR 9831 203 6.3 Ensaio de estabilidade 204 6.4 Ordem de mistura 204 15 6.5 Volume de filtrado 204 6.6 Rugosidade da tubulação de revestimento 205 6.7 FAC 206 6.8 Módulo de elasticidade e resiliência 206 6.9 Modelo de Herschel-Bulkley 206 7 ANEXOS 207 7.1 Método dos efeitos fixos 207 7.2 Resultados totais das propriedades mecânicas 213 7.2.1 Resistência à compressão 214 7.2.2 Módulo de elasticidade na compressão 222 7.2.3 Resiliência na compressão 230 7.2.4 Resistência à tração 238 7.2.5 Módulo de elasticidade na tração 246 7.2.6 Resiliência na tração 254 7.3 Projeto do SCERB Simulador de Contração e Expansão Radial de Bainha 262 8 GLOSSÁRIO 263 REFERÊNCIAS 273 16 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Problemas recorrentes nas cimentações. 019 Figura 2. Divisões do anular e suas interfaces. 020 Figura 3. Interface formação-pasta de cimento Portland. 021 Figura 4. Representação de mudanças de fases do cimento Portland aquecido em função da fração C/S. 053 Figura 5. Esquema de perfuração, colocação da tubulação e cimentação de um poço de petróleo. 057 Figura 6. Tipos de poços de petróleo. 058 Figura 7. Produção de petróleo em duas zonas distintas. 059 Figura 8. Excentricidade do liner devido à sua difícil centralização. 064 Figura 9. Visualização esquemática do efeito estéreo. 072 Figura 10. Esquema de injeção de fluido. 073 Figura 11. Distribuição de poços em forma de malha. 073 Figura 12. Conjunto injetor de poliuretana (tubulações de poliol e diisocianato). 077 Figura 13. Introdução da tubulação de poliuretana fixada externamente na perfuratriz. 078 Figura 14. Pasta de cimento endurecida e impregnada por poliuretana formando pelotas. 078 Figura 15. Misturador de palheta Chandler, Modelo 80-60 com controlador de velocidade. 096 Figura 16. Consistômetro atmosférico e componentes da célula. 097 Figura 17. Viscosímetro rotativo de cilindros coaxiais. 098 Figura 18. Aspecto visual de corpos-de-prova com cimento Portland especial (a) e CP II Z (b). 119 Figura 19. Análise termogravimétrica do biopolímero. 122 Figura 20. Análise termogravimétrica do cimento Portland especial. 123 Figura 21. Resistência à compressão das pastas. 124 17 Figura 22. Variação linear da resistência à compressão 8 h batelada 23. 125 Figura 23. Variação linear da resistência à compressão 8 h batelada 34. 126 Figura 24. Variação linear da resistência à compressão 7 d batelada 23. 127 Figura 25. Variação linear da resistência à compressão 7 d batelada 34. 128 Figura 26. Módulo de elasticidade na compressão das pastas. 130 Figura 27. Variação linear do módulo de elasticidade na compressão 8 h batelada 23. 131 Figura 28. Variação linear do módulo de elasticidade na compressão 8 h batelada 34. 131 Figura 29. Variação linear do módulo de elasticidade na compressão 7 d batelada 23. 132 Figura 30. Variação linear do módulo de elasticidade na compressão 7 d batelada 34. 132 Figura 31. Resiliência na compressão das pastas. 135 Figura 32. Variação linear da resiliência na compressão 8 h batelada 23. 136 Figura 33. Variação linear da resiliência na compressão 8 h batelada 34. 136 Figura 34. Variação linear da resiliência na compressão 7 d batelada 23. 137 Figura 35. Variação linear da resiliência na compressão 7 d batelada 34. 137 Figura 36. Resistência à tração das pastas. 140 Figura 37. Variação linear da resistência à tração 8 h batelada 23. 141 Figura 38. Variação linear da resistência à tração 8 h batelada 34. 141 Figura 39. Variação linear da resistência à tração 7 d batelada 23. 142 Figura 40. Variação linear da resistência à tração 7 d batelada 34. 142 Figura 41. Módulo de elasticidade na tração das pastas. 145 Figura 42. Variação linear do módulo de elasticidade na tração 8 h batelada 23. 146 Figura 43. Variação linear do módulo de elasticidade na tração 8 h batelada 34. 146 Figura 44. Variação linear do módulo de elasticidade na tração 7 d batelada 23. 147 Figura 45. Variação linear do módulo de elasticidadena tração 7 d batelada 34. 147 Figura 46. Resiliência na tração das pastas. 151 Figura 47. Variação linear da resiliência na tração 8 h batelada 23. 152 Figura 48. Variação linear da resiliência na tração 8 h batelada 34. 152 Figura 49. Variação linear da resiliência na tração 7 d batelada 23. 153 18 Figura 50. Variação linear da resiliência na tração 7 d batelada 34. 153 Figura 51. Modelagem da bainha pelo MEF. 157 Figura 52. Trecho mostrando concentração de tensão na interface interna. 160 Figura 53. Nervuras na tubulação de revestimento. 161 Figura 54. Análise termogravimétrica da poliuretana da PROQUINOR. 163 Figura 55. Curvas de tempo de espessamento e consistência das pastas. 178 Figura 56. Correlação resistência à tração e à compressão das pastas. 184 Figura 57. Correlação módulo de elasticidade na tração e na compressão das pastas. 185 Figura 58. Correlação resiliência na tração e na compressão das pastas. 186 Figura 59. Difratograma do clínquer. 187 Figura 60. Difratograma do cimento Portland especial. 189 Figura 61. Difratograma da pasta 6 de ref. 191 Figura 62. Difratograma da pasta 9. 192 Figura 63. MEV da pasta 6 de ref. sem a presença do biopolímero (elétrons secundários). 193 Figura 64. MEV da pasta 6 de ref. sem a presença do biopolímero (elétrons retro- espalhados). 194 Figura 65. MEV da pasta 6 (elétrons secundários). 195 Figura 66. MEV da pasta 6 (elétrons retro-espalhados). 195 Figura 67. MEV da pasta 9 evidenciando a presença de biopolímero (elétrons secundários). 196 Figura 68. MEV da pasta 9 evidenciando a presença de biopolímero (elétrons retro- espalhados). 196 Figura 69. MEV da pasta 9, pontes de ligação na fratura (elétrons secundários). 197 Figura 70. MEV da pasta 9, pontes de ligação na fratura (elétrons retro-espalhados). 197 Figura 71. MEV da pasta 9, envolvimento do C-S-H II (elétrons secundários). 198 Figura 72. MEV da pasta 9, envolvimento do C-S-H II (elétrons retro-espalhados). 198 Figura 73. Variação linear da resistência à compressão 8 h. 214 Figura 74. Variação linear da resistência à compressão 12 h. 214 Figura 75. Variação linear da resistência à compressão 1 d. 215 Figura 76. Variação linear da resistência à compressão 3 d. 215 19 Figura 77. Variação linear da resistência à compressão 7 d. 216 Figura 78. Variação linear do módulo de elasticidade na compressão 8 h. 222 Figura 79. Variação linear do módulo de elasticidade na compressão 12 h. 222 Figura 80. Variação linear do módulo de elasticidade na compressão 1 d. 223 Figura 81. Variação linear do módulo de elasticidade na compressão 3 d. 223 Figura 82. Variação linear do módulo de elasticidade na compressão 7 d. 224 Figura 83. Variação linear da resiliência na compressão 8 h. 230 Figura 84. Variação linear da resiliência na compressão 12 h. 230 Figura 85. Variação linear da resiliência na compressão 1 d. 231 Figura 86. Variação linear da resiliência na compressão 3 d. 231 Figura 87. Variação linear da resiliência na compressão 7 d. 232 Figura 88. Variação linear da resistência à tração 8 h. 238 Figura 89. Variação linear da resistência à tração 12 h. 238 Figura 90. Variação linear da resistência à tração 1 d. 239 Figura 91. Variação linear da resistência à tração 3 d. 239 Figura 92. Variação linear da resistência à tração 7 d. 240 Figura 93. Variação linear do módulo de elasticidade na tração 8 h. 246 Figura 94. Variação linear do módulo de elasticidade na tração 12 h. 246 Figura 95. Variação linear do módulo de elasticidade na tração 1 d. 247 Figura 96. Variação linear do módulo de elasticidade na tração 3 d. 247 Figura 97. Variação linear do módulo de elasticidade na tração 7 d. 248 Figura 98. Variação linear da resiliência na tração 8 h. 254 Figura 99. Variação linear da resiliência na tração 12 h. 254 Figura 100. Variação linear da resiliência na tração 1 d. 255 Figura 101. Variação linear da resiliência na tração 3 d. 255 Figura 102. Variação linear da resiliência na tração 7 d. 256 20 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Tipos e aplicações de cimentos. 026 Tabela 2. Tipos de cimento Portland para uso na construção civil normalizados pela ABNT. 031 Tabela 3. Classes de cimento Portland destinados a poços de petróleo normalizados pela API. 031 Tabela 4. Tipos de cimento Portland normalizados pela ASTM. 032 Tabela 5. Equivalência entre cimentos americanos e brasileiros. 033 Tabela 6. Correspondência entre cimentos ASTM, NBR e API. 034 Tabela 7. Principais fases cristalinas do cimento Portland. 035 Tabela 8. Variações das equações de Bogue. 037 Tabela 9. Principais produtos da hidratação do cimento Portland em ordem de importância. 040 Tabela 10. Massas atômicas dos principais elementos químicos do cimento Portland. 043 Tabela 11. A reação pozolânica. 051 Tabela 12. Correlações entre resistências à tração e à compressão de concretos. 088 Tabela 13. Composições das pastas preparadas com biopolímero, batelada 23. 094 Tabela 14. Composições das pastas preparadas com biopolímero, batelada 34. 095 Tabela 15. Estrutura do planejamento fatorial. 105 Tabela 16. Composição química e potencial do cimento Portland especial. 107 Tabela 17. Características físicas do cimento Portland especial. 108 Tabela 18. Massa específica do cimento Portland especial. 108 Tabela 19. Dados das bateladas. 109 Tabela 20. Substituições na alita. 110 Tabela 21. Substituições finais na alita. 111 Tabela 22. Substituições finais na belita. 112 Tabela 23. Substituições finais na celita. 112 21 Tabela 24. Substituições finais na ferrita. 113 Tabela 25. Massa específica das fases do clínquer. 115 Tabela 26. Resumo das fases do clínquer do cimento Portland especial. 120 Tabela 27. Resultados de resistência à compressão para 8 h [MPa]. 126 Tabela 28. Resumo dos parâmetros estatísticos para compressão para 8 h. 127 Tabela 29. Resultados de resistência à compressão para 7 d [MPa]. 128 Tabela 30. Resumo dos parâmetros estatísticos para compressão para 7 d. 129 Tabela 31. Resultados de módulo de elasticidade na compressão para 8 h [MPa]. 133 Tabela 32. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na compressão para 8 h. 133 Tabela 33 Resultados de módulo de elasticidade na compressão para 7 d [MPa]. 134 Tabela 34. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na compressão para 7 d. 134 Tabela 35. Resultados de resiliência na compressão para 8 h [MPa]. 138 Tabela 36. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na compressão para 8 h. 138 Tabela 37. Resultados de resiliência na compressão para 7 d [MPa]. 139 Tabela 38. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na compressão para 7 d. 139 Tabela 39. Resultados de resistência à tração para 8 h [MPa]. 143 Tabela 40. Resumo dos parâmetros estatísticos para tração 8 h. 143 Tabela 41. Resultados de resistência à tração para 7 d [MPa]. 144 Tabela 42. Resumo dos parâmetros estatísticos para tração para 7 d. 144 Tabela 43. Resultados de módulo de elasticidade na tração para 8 h [MPa]. 148 Tabela 44. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na tração para 8 h. 148 Tabela 45. Resultados de módulo de elasticidade na tração para 7 d [MPa]. 149 Tabela 46. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na tração para 7 d. 149 Tabela 47. Resultados de resiliência na tração para 8 h [MPa]. 154 Tabela 48. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na tração para 8 h. 154 22 Tabela 49. Resultados de resiliência na tração para 7 d [MPa]. 155 Tabela 50. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na tração para 7 d. 155 Tabela 51. Classificação da tubulação de revestimento. 156 Tabela 52. Geometrias e tubulação consideradas. 156 Tabela 53. Parâmetros adotados para o modelo. 158 Tabela 54. Tensões de origem térmica despertadas na bainha. 159 Tabela 55. Comparação entre os modelos reológicos de Bingham e de Potência. 167Tabela 56. Resultados de viscosidade plástica [Pa.s]. 169 Tabela 57. Resumo dos parâmetros estatísticos adotados para viscosidade plástica. 169 Tabela 58. Resultados de limite de escoamento [Pa]. 171 Tabela 59. Resumo dos parâmetros estatísticos adotados para limite de escoamento. 171 Tabela 60. Resultados de água livre [ml]. 173 Tabela 61. Resumo dos parâmetros estatísticos adotados para água livre. 174 Tabela 62. Resultados de perda de filtrado [ml/30 min]. 176 Tabela 63. Resumo dos parâmetros estatísticos adotados para perda de filtrado. 177 Tabela 64. Resultados de tempo de espessamento (100 Uc) [min]. 179 Tabela 65. Resumo dos parâmetros estatísticos adotados para tempo de espessamento. 180 Tabela 66. Resultados de tempo de bombeabilidade (50 Uc) [min]. 180 Tabela 67. Resumo dos parâmetros estatísticos adotados para tempo de bombeabilidade. 181 Tabela 68. Resultados de consistência inicial máxima (15 min a 30 min) [Uc]. 181 Tabela 69. Resumo dos parâmetros estatísticos para a consistência inicial máxima [Uc]. 182 Tabela 70. Ângulos de difração do clínquer [2 θθθθ]. 188 Tabela 71. Ângulos de difração do cimento Portland especial [2 θθθθ]. 190 Tabela 72. Ângulos de difração da pasta 6 de referência [2 θθθθ]. 192 Tabela 73. Ângulos de difração da pasta 9 [2 θθθθ]. 192 Tabela 74. Resultados gerais das pastas preparadas com biopolímero. 201 23 Tabela 75. Resumo dos parâmetros estatísticos adotados para cada tipo de experimento. 213 Tabela 76. Resultados de resistência à compressão para 8 h. 217 Tabela 77. Resumo dos parâmetros estatísticos para compressão para 8 h. 217 Tabela 78. Resultados de resistência à compressão para 12 h [MPa]. 218 Tabela 79. Resumo dos parâmetros estatísticos para compressão para 12 h. 218 Tabela 80. Resultados de resistência à compressão para 1 d [MPa]. 219 Tabela 81. Resumo dos parâmetros estatísticos para compressão para 1 d. 219 Tabela 82. Resultados de resistência à compressão para 3 d [MPa]. 220 Tabela 83. Resumo dos parâmetros estatísticos para compressão para 3 d. 220 Tabela 84. Resultados de resistência à compressão para 7 d [MPa]. 221 Tabela 85. Resumo dos parâmetros estatísticos para compressão para 7 d. 221 Tabela 86. Resultados de módulo de elasticidade na compressão para 8 h [MPa]. 225 Tabela 87. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na compressão 8 h. 225 Tabela 88. Resultados de módulo de elasticidade na compressão para 12 h [MPa]. 226 Tabela 89. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na compressão para 12 h. 226 Tabela 90. Resultados de módulo de elasticidade na compressão para 1 d [MPa]. 227 Tabela 91. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade para compressão para 1 d. 227 Tabela 92. Resultados de módulo de elasticidade na compressão para 3 d [MPa]. 228 Tabela 93. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na compressão para 3 d. 228 Tabela 94. Resultados de módulo de elasticidade na compressão para 7 d [MPa]. 229 Tabela 95. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na compressão para 7 d. 229 Tabela 96. Resultados de resiliência na compressão para 8 h [MPa]. 233 Tabela 97. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na compressão para 8 h. 233 Tabela 98. Resultados de resiliência na compressão para 12 h [MPa]. 234 24 Tabela 99. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na compressão para 12 h. 234 Tabela 100. Resultados de resiliência na compressão para 1 d [MPa]. 235 Tabela 101. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na compressão para 1 d. 235 Tabela 102. Resultados de resiliência na compressão para 3 d [MPa]. 236 Tabela 103. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na compressão para 3 d. 236 Tabela 104. Resultados de resiliência na compressão para 7 d [MPa]. 237 Tabela 105. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na compressão para 7 d. 237 Tabela 106. Resultados de resistência à tração para 8 h [MPa]. 241 Tabela 107. Resumo dos parâmetros estatísticos para tração 8 h. 241 Tabela 108. Resultados de resistência à tração para 12 h [MPa]. 242 Tabela 109. Resumo dos parâmetros estatísticos para tração 12 h. 242 Tabela 110. Resultados de resistência à tração para 1 d [MPa]. 243 Tabela 111. Resumo dos parâmetros estatísticos para tração 1 d. 243 Tabela 112. Resultados de resistência à tração para 3 d [MPa]. 244 Tabela 113. Resumo dos parâmetros estatísticos para tração 3 d. 244 Tabela 114. Resultados de resistência à tração para 7 d [MPa]. 245 Tabela 115. Resumo dos parâmetros estatísticos para tração 7 d. 245 Tabela 116. Resultados de módulo de elasticidade na tração para 8 h [MPa]. 249 Tabela 117. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na tração para 8 h. 249 Tabela 118. Resultados de módulo de elasticidade na tração para 12 h [MPa]. 250 Tabela 119. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na tração para 12 h. 250 Tabela 120. Resultados de módulo de elasticidade na tração para 1 d [MPa]. 251 Tabela 121. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na tração para 1 d. 251 Tabela 122. Resultados de módulo de elasticidade na tração para 3 d [MPa]. 252 25 Tabela 123. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na tração para 3 d. 252 Tabela 124. Resultados de módulo de elasticidade na tração para 7 d [MPa]. 253 Tabela 125. Resumo dos parâmetros estatísticos para módulo de elasticidade na tração para 7 d. 253 Tabela 126. Resultados de resiliência na tração para 8 h [MPa]. 257 Tabela 127. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na tração para 8 h. 257 Tabela 128. Resultados de resiliência na tração para 12 h [MPa]. 258 Tabela 129. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na tração para 12 h. 258 Tabela 130. Resultados de resiliência na tração para 1 d [MPa]. 259 Tabela 131. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na tração para 1 d. 259 Tabela 132. Resultados de resiliência na tração para 3 d [MPa]. 260 Tabela 133. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na tração para 3 d. 260 Tabela 134. Resultados de resiliência na tração para 7 d [MPa]. 261 Tabela 135. Resumo dos parâmetros estatísticos para resiliência na tração para 7 d. 261 26 LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS ABCP Associação Brasileira de Cimento Portland ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ACI American Concrete Institute AIP Argamassa de cimento Portland Impregnada com Polímero AMP Argamassa Modificada com Polímero ANSI American National Standards Institute AP Argamassa Polímero API American Petroleum Institute ASTM American Society for Testing and Materials BS British Standard C3A Aluminato tricálcico (celita) C2S Silicato dicálcico (belita) C3S Silicato tricálcico (alita) C4AF Ferroaluminato tetracálcico (ferrita) CCB Coeficiente de correlação de Bingham CCP Coeficiente de correlação de potência CEB Comité Euro-international du Béton CEN Comité Européen de Normalisation CH Hidróxido de cálcio (portlandita) CIP Concreto Impregnado com Polímero CML Concreto Modificado com Látex CP Concreto Polímero CPCP Concreto Polímero de Cimento Portland CPE Cimento Portland Especial CPP Compósito de Pasta Polímero C-S-H Silicato cálcico hidratado DIN Deutsches Institut für Normung 27 Ec Módulo de elasticidade na compressão EM European Norm Et Módulo de elasticidade na tração FAC Fator água/cimento FBC Fator biopolímero/cimento FSC Fator de saturação de cal Gf Gel final Gi Gel inicial IBRACON Instituto Brasileiro do Concreto ICM Índice de comportamento ICN Índice de consistência ICPIC International Congress on Polymers in Concrete ISO International Organisation for Standardisation LABCIM Laboratório de Cimentos da UFRN-PETROBRAS, Natal-RN LE Limite deescoamento MA Módulo de alumina MS Módulo de sílica NBR Norma Brasileira Registrada PETROBRAS Petróleo Brasileiro Sociedade Anônima NISTIR National Institute of Standards and Technology PIP Pasta Impregnada com Polímero PMP Pasta Modificada com Polímero PP Pasta Polímero PU Poliuretana Rc Resiliência na compressão Rt Resiliência na tração SBR Resina de estireno-butadieno SI Sistema Internacional de unidades SPE Society of Petroleum Engineers VP Viscosidade plástica σσσσc Resistência à compressão σσσσr Resistência à tração na flexão em quatro pontos 28 σσσσt Resistência à tração por compressão diametral 18 1 INTRODUÇÃO Este trabalho tratou da aplicação de uma adição polimérica que atendesse às necessidades da indústria do petróleo com relação ao comportamento das pastas durante seu bombeio (cimentação) e depois de endurecidas, quando submetidas a ciclos de injeção de vapor d’água. O cimento Portland especial é uma alternativa encontrada pela indústria do petróleo da região de Mossoró-RN para a cimentação de poços sem a necessidade de utilização do cimento Portland classe G, que apresenta custo mais elevado. Na cimentação de poços é comum a ocorrência de falhas, na forma de fissuras e/ou presença de vazios na pasta (Figura 1), que implicam na necessidade de cimentações para correção posteriores, o que dificulta e encarece a exploração do petróleo. Estes problemas tem se tornado recorrentes devido à idade avançada de alguns poços e à presença de óleo pesado que dificultam o processo de produção. Nestes casos, adota-se o processo de injeção de vapor para manter produções satisfatórias. Apesar do cimento Portland apresentar excelente comportamento químico diante das condições de poço, seu comportamento mecânico não é satisfatório quando tensões de tração e de compressão são despertadas. Assim, vários materiais estão sendo pesquisados na região de Mossoró-RN com o objetivo de otimizar as propriedades mecânicas do cimento Portland. Alguns são caracterizados por adições ao cimento Portland e outros são cimentos alternativos, como é o caso dos geopolímeros, que são materiais inorgânicos obtidos pela polimerização de sistemas de silicatos e hidróxidos (MARINHO, 2004). Outras opções avaliadas incluem cimento espumado com nitrogênio, cimento com látex sintético e cimento com adição de escória de alto forno. 19 região com boa cimentação região com forte perda de filtrado região não cimentada formação disposta em camadas região com contaminação por gases Figura 1. Problemas recorrentes nas cimentações (adaptado de THOMAS, 2001). A exploração de petróleo e gás natural é caracterizada atualmente por possuir tecnologia própria desenvolvida prioritariamente ao longo do século passado. No caso dos poços mais antigos, onde a vazão de petróleo sofre natural diminuição, é necessário que se realize um processo denominado de recuperação secundária. Este consiste em se escolher um ou mais poços, dentre um conjunto de poços pertencentes a uma mesma área e sacrificá-lo injetando-se vapor d’água aquecido sob alta pressão, de modo que os demais poços passem a apresentar escoamento maior de petróleo aumentando, assim, sua produção. Durante este processo, que geralmente é cíclico, as tubulações de revestimento do poço sacrificado são submetidas a dilatações e contrações sucessivas que acabam por danificar o seu anular, que constitui o espaço compreendido entre a formação rochosa e o tubo de revestimento. No caso dos poços com profundidades superiores a 4000 m, este problema pode ser agravado em função do conseqüente aumento de temperatura de fundo de poço. Portanto, além dos ciclos de injeção de vapor d’água, a elevação da temperatura do fundo do poço contribui para o aumento do processo de deterioração dos anulares por meio de fissuras. Para que não ocorra vazamento de petróleo, gás natural e/ou água para a formação rochosa ou superfície, os poços 20 devem ter as suas tubulações de revestimento seladas lateralmente em determinadas zonas, denominadas zonas de isolamento. Os anulares, que também possuem a função de comunicar estabilidade à tubulação de revestimento, são preenchidos, no ato da cimentação, por uma pasta cimentante que possui três regiões distintas (Figura 2). formação rochosa interface formação rochosa - bainha bainha de pasta de cimento interface bainha - tubulação tubulação de revestimento Figura 2. Divisões do anular e suas interfaces. Na primeira região, ao ser bombeada, a pasta se hidrata em contato direto com a formação rochosa, ocorrendo uma mistura de cimento Portland com algumas partículas desprendidas da formação rochosa e a própria formação rochosa sã. Assim como no concreto, os problemas desta interface estão relacionados à denominada zona de transição (MEHTA e MONTEIRO, 1994 e AÏTCIN, 2000), que é a camada compreendida entre a pasta de cimento e os agregados (Figura 3). Esta zona é conhecida como sendo responsável pela limitação da resistência mecânica dos concretos (MEHTA e MONTEIRO, 1994 e QUEIROGA, 2000), devido ao acúmulo de fases hidratadas pouco nobres do cimento Portland. A dificuldade de se avaliar esta camada in loco levou esta pesquisa à uma análise teórica através da modelagem por elementos finitos. 21 Figura 3. Interface formação-pasta de cimento Portland (QUEIROGA, 2000). A segunda camada, a bainha em si, parte intermediária da espessura do anular, em princípio, não recebe partículas provenientes da formação rochosa, embora isto possa ocorrer em menor intensidade do que na região da interface formação rochosa - bainha. Por fim, a interface bainha - tubulação de revestimento, que é a mais diretamente atingida pelo efeito da variação de temperatura durante a injeção de vapor, também foi avaliada por meio de modelagem por elementos finitos, onde se avaliou a ordem de grandeza das tensões despertadas na bainha e suas trajetórias. De um modo geral, uma pasta para cimentação de poços deve apresentar as seguintes características básicas: - propriedades térmicas adequadas para se adaptar aos ciclos de injeção de vapor sem apresentar fissuração significativa, principalmente na interface bainha - tubulação de revestimento; - comportamento elasto-plástico superior ao da pasta de referência de cimento Portland para acompanhar as dilatações e contrações provenientes da tubulação de revestimento e - baixa permeabilidade para evitar que agentes agressivos da formação rochosa e o próprio petróleo e/ou gás natural provoquem corrosão na tubulação de revestimento de aço. Nos poços da região Nordeste e, em particular, nos campos de Mossoró-RN, o emprego da técnica de injeção de vapor faz com que as operações de cimentação secundária (correções das 22 cimentações primárias) sejam freqüentes, em função do surgimento de fissuras nas bainhas dos poços. A importância da especificação do local físico de abrangência da pesquisa se deve ao fato da especificidade das formações rochosas daquela região. É evidente que formações rochosas distintas poderão não interagir da mesma forma com a pasta polimérica formulada, gerando resultados possivelmente diferentes dos obtidos nesta pesquisa. A região da cidade de Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte, Brasil, é possuidora de bacia petrolífera com campos de petróleo expressivos de óleo e gás natural. Em linhas gerais, a produção atual da região é de 80000 barris por dia de petróleo (dos quais 85 % são provenientes de campos terrestres) e 3500000 m³ por dia de gás natural (ANUÁRIO ESTATÍSTICO BRASILEIRO DO PETRÓLEO E DO GÁS NATURAL 2002, 2002). Isto eleva o estado do Rio Grande do Norte à condição de segundo maior produtor de petróleo do país e primeiro em produção terrestre. Atualmente, depois da água, o segundo material mais consumido pela civilização é o concreto (HELENE, 1992). Esta constatação,levantada pela primeira vez por BRUNAUER e COPELAND (1964, apud MEHTA e MONTEIRO, 1994), reflete a importância econômica deste material para a ciência e a tecnologia. GRANATO e PAULON (2002) citam estimativa de que seu consumo mundial é da ordem de 6 Gkg por ano, o que significa um consumo anual aproximado de 1000 kg por ser humano. Considerando que o cimento Portland é o material mais nobre do concreto (compósito de grandes partículas, CALLISTER, 1999) e que o mesmo representa, em média, a oitava parte do concreto, pode-se chegar a um cálculo simples que revela um consumo de 125 kg de cimento Portland por ser humano vivo, em função do seu dual valor econômico. Se por um lado o cimento Portland implica na movimentação de grandes volumes de capital (investimento em fábricas, logística, marketing, transporte, etc.), por outro é um dos materiais mais acessíveis (KELLY and MILEIKO, 1983) até pelas populações de baixa renda que o utilizam cotidianamente nas mais diversas aplicações. Existem diversas variedades de cimento, de acordo com suas matérias-primas de fabricação. Assim, o cimento tipo Portland, invariavelmente, está presente em quase todas as aplicações de engenharia da humanidade. A exploração de poços de petróleo não é diferente da prática da engenharia, pois também emprega o cimento Portland na cimentação dos anulares dos poços, local onde são necessários isolamento, estabilidade e vedação. 23 Algumas das razões que motivaram a realização desta pesquisa foram: a) A civilização atual necessita otimizar a exploração de petróleo por meio da redução de seus custos operacionais e por meio do aumento do fator de recuperação de petróleo; b) O material mais accessível para a cimentação de poços, em função de suas características tecnológicas e econômicas é o cimento Portland; c) O risco de contaminação durante a produção pelo anular deve ser reduzido por meio do aumento da integridade física das bainhas e d) Condições de contorno significativamente diferentes entre os corpos-de-prova não confinados ensaiados em laboratório e a bainha confinada no fundo do poço. A exploração de poços antigos de petróleo e gás, que estão próximos de sua depletação, é realizada através da operação denominada recuperação secundária. Quando um determinado poço apresenta falhas em sua cimentação é necessário que seja realizada a operação de cimentação secundária. Esta, por sua vez, é caracterizada pela repetição do processo de cimentação, ou seja, introduz-se a tubulação de bombeio dentro da tubulação de revestimento e injeta-se a pasta de cimento Portland para correção das falhas detectadas, com a conseqüente interrupção da produção de petróleo. O aumento do fator água/cimento, ou fator água/material cimentante provoca a redução das boas propriedades que o cimento Portland possui (MEHTA e MONTEIRO, 1994 e NELSON et al, 1990). Além disso, a indústria do petróleo ainda não dispõe de um material único que apresente baixa viscosidade e propriedades mecânicas satisfatórias, tais como, altas resistência à tração, tenacidade e resiliência, efeito Poisson reduzido, etc. Para que o cimento Portland especial passasse a apresentar propriedades mais adequadas quando endurecido, introduziu-se um biopolímero na pasta com a finalidade de avaliar o seu desempenho. 24 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo geral O objetivo geral desta pesquisa foi o de desenvolver uma pasta cimentante aditivada com um biopolímero, que apresentasse desempenho superior às pastas de referência à base de cimento Portland especial, quando submetida a ciclos de injeção de vapor típicos do cotidiano de exploração de poços de petróleo e gás natural em que se emprega a recuperação secundária como forma de aumento da produção de petróleo. A busca desta pasta esteve intimamente relacionada à procura de um material que apresentasse maiores tenacidade e resiliência que uma pasta de referência, quando submetida a ensaios de tração. Assim, procurou-se um material com comportamento mais elasto-plástico, com predomínio do comportamento elástico sobre o plástico. Entendendo-se finalidade como sendo uma conseqüência do objetivo geral, esta pesquisa procurou promover situações em que fossem reduzidas as intervenções necessárias para correção de poços que apresentam falhas, reduzindo, conseqüentemente, os custos da explotação e exploração de petróleo. 1.1.2 Objetivos específicos Os objetivos específicos foram: a) Comparar as propriedades de resistência à compressão e à tração para os tempos de 8 h, 12 h, 1 d, 3 d e 7 d da pasta de referência com pastas com biopolímero; b) Comparar o comportamento da pasta de referência com pastas com biopolímero em relação às propriedades reológicas, tempo de espessamento, volume de filtrado e formação de água livre; c) Analisar a microestrutura da pasta de referência com pastas com biopolímero; 25 d) Verificar a interação física entre a pasta com biopolímero e a formação rochosa por meio do modelo matemático utilizando o método dos elementos finitos e e) Propor um simulador de contração e expansão radial de bainha. 26 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Cimentos Existe uma significativa variedade de cimentos disponíveis no mercado mundial, cada um com características específicas voltado também para aplicações específicas. Alguns destes cimentos disponíveis são os citados na Tabela 1 que não pretende ser exaustiva, mas permite que se tenha uma boa idéia da diversidade e disponibilidade de cimentos existentes no mundo (MARONNA e PRISZKULNIK, 2001; MEHTA e MONTEIRO, 1994; HEWLETT et al, 2004; TAYLOR, 2003; MUNTEAN, 2000; DANTAS apud FREIRE e BERALDO, 2003). Tabela 1. Tipos e aplicações de cimentos. Tipos de cimentos Campos de aplicações / característica - cimento Portland Concreto, argamassa e pasta em geral - cimento Portland composto Durabilidade - cimento Portland modificado Construções específicas - cimento Portland pozolânico Barragens - cimento Portland hidrofóbico Áreas molhadas - cimento de aluminato de cálcio, cimento fondu, cimento com alto teor de alumina ou cimento aluminoso Refratários - cimento Sorel ou cimento a base de óxido e cloreto de magnésio Refratários - cimento a base de óxido e sulfato de magnésio Refratários - cimento a base de óxido e cloreto de zinco Maior resistência à corrosão - cimento a base de óxido e cloreto de alumínio Aceleração de pega - cimento a base de fosfato-silicoso Refratários - cimento a base de hexametafosfato de sódio Controle de trabalhabilidade - cimento a base de fosfato e cálcio Reconstituição óssea - cimento a base de fosfato de zinco Maior resistência à corrosão - cimento a base de fosfato de magnésio Refratários 27 Cont. Tabela 1. Tipos de cimentos Campos de aplicações / característica - cimento a base de fosfato de magnésio e amônia Refratários - cimento a base de tripolifosfato de magnésio Refratários - cimento a base de óxido de magnésio Refratários - cimento a base de fosfato de cálcio Reconstituição óssea - cimento branco Acabamento decorativo - cimento colorido Acabamento decorativo - cimento expansivo (K, M, S e O) Retração - cimento de pega e endurecimento rápidos Controle de pega - cimento com clínquer de fluoraminato de cálcio, cimento de pega regulada ou cimento de tamponamento Controle de pega - cimento com elevada resistência inicial Fundações - cimento de alvenaria Alvenaria - cimento com alto teor de ferro Alta resistência a sulfatos - cimento Portland para cimentação de poços de petróleo Cimentação de poços de petróleo - cimento ártico ou cimento Portland para cimentação de poços de petróleo com cloreto de sal para aplicações em áreas frias Regiões frias onde é necessária a aceleração da pega - cimento para pintura Selantes para impermeabilização - cimento produzido com baixo consumo de energia Questões ambientais - cimentorico em belita Resistência mecânica - cimento rico em belinita Resistência mecânica - cimento rico em alita Controle de pega - cimento rico em alinita Controle de pega - cimento a base de ferrita Resistência à corrosão - cimento a base de higrogranada (hydrogarnet) Cimentos de pega rápida e expansivos - cimento a base de polímeros Recuperação de estruturas - cimento Portland com polímero Necessidade de maior resistência à tração 28 Cont. Tabela 1. Tipos de cimentos Campos de aplicações / característica - cimento Portland impregnado com polímero Impermeabilização e recuperação - cimento termoplástico Resistência à tração - cimento a base de cal Acabamento - cimento a base de gesso Acabamento - cimento a base de minerais orgânicos Resistência mecânica - cimento a base de geopolímero Pastas em geral alternativas - cimento a base de aluminosilicatos Refratários - cimentos sem água para hidratação Aplicações específicas - cimento a base de boratos Aplicações específicas - cimento a base de estrôncio Aplicações específicas - cimento a base de bário Aplicações específicas - cimento a base de germânio Aplicações específicas - cimento a base de chumbo Aplicações específicas - cimento a base de estanho Aplicações específicas - cimento Portland sem adição de gesso Controle de pega - cimento ultrafino Aceleração de pega - cimento com pós reativos Alta resistência mecânica Destes tipos de cimento, o Portland domina o mercado mundial devido ao seu custo ser inferior ao custo dos demais cimentos disponíveis e também às suas propriedades. Isto não significa dizer que os demais tipos de cimentos sejam inferiores ao Portland. A explicação para este consumo preponderante está no fato do cimento Portland ter sido criado a mais tempo que os outros, o que fez com que todo um setor industrial se desenvolvesse, com a conseqüente redução de custos devida ao grande volume de produção. É interessante observar que muitos dos tipos de cimento são variações do Portland. Este é o caso, por exemplo, dos cimentos para cimentação de poços de petróleo, que são Portland’s com baixa concentração de C3A e grãos com dimensões maiores que aquelas dos cimentos Portland comuns. 29 2.2 Cimento Portland Um dos melhores relatos sobre a história do cimento Portland é encontrado na publicação Leas’s Chemistry of Cement and Concrete, dos pesquisadores FREDERICK LEA e CECIL DESCH (HEWLETT et al, 2004). Esta obra, publicada em sua primeira edição no ano de 1935, apresenta conceitos gerais sobre o tema e aprofunda vários deles, constituindo-se em literatura de referência para aqueles que pretendem aprofundar seus conhecimentos na química e tecnologia do cimento Portland. Para uma leitura mais rápida, a história do cimento Portland pode ser vista na excelente e didática revisão bibliográfica da dissertação do pesquisador VALDIR APARECIDO ZAMPIERI, intitulada Mineralogia e mecanismos de ativação e reação das pozolanas de argilas calcinadas (ZAMPIERI, 1989). O cimento Portland, patenteado por JOSEPH ASPDIN em 21 de outubro de 1824 (HEWLETT et al, 2004), tem sido utilizado pelo homem a quase dois séculos e se mostra como um dos materiais de maior consumo da humanidade atual, conforme dedução obtida a partir das pesquisas de BRUNAUER e COPELAND (1964 apud MEHTA e MONTEIRO, 1994). Construções executadas a partir de cimentos rudimentares equivalentes ao cimento Portland atestam a existência de materiais de construção duráveis que desafiam o tempo e o entendimento do homem sobre o porquê de suas formulações terem sido perdidas entre os séculos III e XVIII, só sendo recuperadas com os trabalhos de JOHN SMEATON em 1756 (HEWLETT et al, 2004) e, um pouco depois, por JOSEPH ASPDIN em 1824. Após a concretização dos trabalhos desenvolvidos por JOHN SMEATON, JOSEPH ASPDIN e diversos outros pesquisadores nos séculos XVIII e XIX, o século XX caracterizou-se pelo desenvolvimento da química da fabricação do cimento Portland em todos os continentes. A indústria cimenteira domina, atualmente, a tecnologia da fabricação do cimento Portland sob seus diversos aspectos. Equipamentos modernos garantem a produção de diversos tipos de cimentos com controle rigoroso de qualidade. Resta ainda, porém, o domínio sobre o processo de hidratação do cimento Portland que depende fortemente da termodinâmica envolvida no processo de produção. É sabido que o cimento anidro reage com a água se hidratando e formando compostos com boa resistência mecânica e excelente resistência ao intemperismo, principalmente o físico representado pela ação da água sob suas mais diversas formas. No entanto, a cinética desta reação ainda não é totalmente conhecida, muito menos controlada. Este fato é responsável pela dispersão de valores obtidos nas pesquisas que empregam o cimento portland como material 30 de estudo. Esta característica do cimento pode ser percebida em texto de AÏTCIN (2000), quando ele afirma que o comportamento do concreto, se ainda não foi adequadamente entendido pela análise de sua microestrutura, provavelmente o será quando sua nanoestrutura assim o for estudada. Entenda-se, aqui, o concreto como sendo um material cujo aglomerante hidráulico básico é o cimento Portland, e, portanto, o mesmo tipo de afirmação pode ser feito em relação a este material que tanta variabilidade de resultados apresenta após a ocorrência do processo de hidratação. 2.3 Tipos e classes de cimento Portland Tratando-se da variedade de cimentos Portland, encontram-se no mercado vários tipos de cimento em função dos compostos que são empregados no seu fabrico. Os cimentos utilizados no Brasil são normalizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e são classificados em dois grandes grupos: - Cimentos de uso geral para emprego na construção civil e - Cimentos especiais para cimentação de poços de petróleo. As tabelas 2, 3, 4 e 5 seguintes mostram: os diversos tipos de cimento Portland normalizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), pelo American Petroleum Institute (API), pela American Society for Testing and Materials (ASTM) e equivalência entre cimentos americanos e brasileiros, respectivamente. Os cimentos Portland classificados pela API não são divididos em tipos, mas em classes que devem ser atendidas de acordo com a profundidade do poço de petróleo. 31 Tabela 2. Tipos de cimento Portland para uso na construção civil normalizados pela ABNT (normas indicadas da ABNT). Classe de Composição básica (% em massa) Sigla Denominação Cimento Portland Norma da ABNT resistência (MPa) Clínquer + gesso Escória Pozolana Calcário (filler) CPI Comum NBR-5732 25-32-40 100 - - - CPI-S Comum com Adição NBR-5732 25-32-40 95-99 1-5 1-5 1-5 CPI-RS Resistente a Sulfatos NBR-5737 CPI-S RS Resistente a Sulfatos NBR-5737 CPII-E Composto com Escória NBR-11578 25-32-40 56-94 6-34 - 0-10 CPII-Z Composto com Pozolana NBR-11578 25-32-40 76-94 - 6-14 0-10 CPII-F Composto com Filler NBR-11578 25-32-40 90-94 - - 6-10 CPII-E RS Resistente a Sulfatos NBR-5737 CPII-Z RS Resistente a Sulfatos NBR-5737 CPII-F RS Resistente a Sulfatos NBR-5737 CPIII de Alto Forno NBR-5735 25-32-40 25-65 35-70 - 0-5 CPIII-RS Resistente a Sulfatos NBR-5737 CPIV Pozolânico NBR-5736 25-32 45-85 - 15-50 0-5 CPIV-RS Resistente a Sulfatos NBR-5737 CPV-ARI de Alta Resistência Inicial NBR-5733 ARI 95-100 - - 0-5 Tabela 3. Classes de cimento Portland destinados a poços de petróleo normalizados pela API (NELSON et al, 1990). Classe Composição potencial típica das fases (%) Superfície específica Intervalo de profundidade C3S β-C2S C3A C4AF (m²/kg) recomendado (m) A 45 27 11 8 160 0,0 - 1 828,8 B 44 31 5 13 160 0,0 - 1 828,8 C 53 19 11 9 220 0,0 - 1 828,8 D 28 49 4 12 150 1 828,8 - 3 048,0 E 38 43 4 9 150 3 048,0 - 4 267,2 F - - - - - 3 048,0- 4 876,8 G 50 30 5 12 180 0,0 - 2 438,4 H 50 30 5 12 160 0,0 - 2 438,4 J - - - - - 3 657,6 - 4 876,8 32 Tabela 4. Tipos de cimento Portland normalizados pela ASTM (SOMAYAJI, 2001). Teores dos componentes básicos (%) C3S βC2S C3A C4AF + 2C3ATipo (máx.) (mín.) (máx.) (máx.) Empregos I - - - - Uso geral sem propriedades requeridas IA - - - - Idem, com incorporador de ar II - - 8 - Uso geral com moderada resistência a sulfatos e moderado calor de hidratação IIA - - 8 - Idem, com incorporador de ar III - - 15 - Quando é requerida alta resistência inicial IIIA - - 15 - Idem, com incorporador de ar IV 35 40 7 - Quando é requerido baixo calor de hidratação V - - 5 25 Quando é requerida alta resistência a sulfatos 33 Tabela 5. Equivalência entre cimentos americanos e brasileiros (MEHTA e MONTEIRO, 1994). Denominação Americana Tipo sigla Norma americana Denominação brasileira Tipo sigla Norma brasileira Portland I ASTM C150 Portland comum CPI NBR 5732 - - - Portland comum com adição CPI-S NBR 5732 Slag-Modified Portland I (SM) ASTM C595 Portland composto com escória CPII-E NBR 11578 Pozzolan-Modified Portland I (MP) ASTM C595 Portland composto com pozolana CPII-Z NBR 11578 - - - Portland composto com filler CPII-F NBR 11578 Portland Blastfurnace Slag IS ASTM C595 Portland de alto forno CPIII NBR 5735 Portland Pozzolan IP ASTM C595 Portland pozolânico CPIV NBR 5736 Portland with High Early Strengh III ASTM C150 Portland de alta resistência inicial CPV-ARI NBR 5733 Portland with Moderate Sulphate Resistance II ASTM C150 Portland resistente a sulfatos CPI RS NBR 5737 Portland with High Sulphate Resistance V ASTM C150 Portland resistente a sulfatos CPI-S RS NBR 5737 Slag Modified Portland- Moderate Sulphate Resistance I (SM) MS ASTM C595 Portland resistente a sulfatos CPII-E RS NBR 5737 Pozzolan-Modified Portland- Moderate Sulphate Resistance I (MP) MS ASTM C595 Portland resistente a sulfatos CPII-Z RS NBR 5737 - - - Portland resistente a sulfatos CPII-F RS NBR 5737 Portland Blastfurnace Slag- Moderate Sulphate Resistance IS (MS) ASTM C595 Portland resistente a sulfatos CPIII RS NBR 5737 Portland Pozzolan-Moderate Sulphate Resistance IP (MS) ASTM C595 Portland resistente a sulfatos CPIV RS NBR 5737 A diferença entre os cimentos de uso geral e os destinados para cimentação de poços de petróleo está associada ao controle adotado no processo de fabricação e aos teores dos quatro componentes básicos do cimento Portland anidro, a saber, C2S, C3S, C3A e C4AF. Observe-se que as classes de cimento Portland especificadas pela API não se referem a cimentos diferentes dos especificados pelas normas americanas ou brasileiras. Alguns destes cimentos, inclusive, se 34 enquadram nas classes da API. A Tabela 6 abaixo mostra algumas correspondências existentes entre os cimentos brasileiros e americanos (NELSON, 1994 e THOMAS, 2001). Tabela 6. Correspondência entre cimentos ASTM, NBR e API. Tipo ASTM Tipo NBR Classe API correspondente I CPI A - CPI-S A IA - A II CPI-RS B IIA - B V CPI-S RS - I (SM) CPII-E - I (MP) CPII-Z - - CPII-F - I (SM) RS CPII-E RS - I (MP) RS CPII-Z RS - - CPII-F RS - IS CPIII - IS (MS) CPIII-RS - IP CPIV - IP (MS) CPIV-RS - III CPV-ARI C IIIA - C Alguns dos cimentos que não apresentam correspondência com as classes da API podem ser enquadrados nas mesmas, desde que ensaios de caracterização sejam realizados e se atendam às exigências desta norma. Por exemplo: é bastante provável que o CPIV-RS brasileiro, equivalente ao IP (MS) americano, possa se enquadrar na classe G da API, pois este cimento apresenta alta quantidade de pozolana, baixo teor de C3A e alta resistência a sulfatos. Evidentemente, os ensaios da API devem ser realizados para se verificar a correspondência entre os dois tipos e a classe API correspondente. 35 2.4 Composição potencial de Bogue e composição otimizada Os cimentos tipo Portland são fabricados a partir de misturas de calcário, argila e outros compostos de menor importância de acordo com a finalidade que se deseja. No final do processo, o cimento Portland anidro apresenta quatro fases cristalinas principais: alita, belita, celita e ferrita ou brownmilerita (MORELLI, 2000), que são apresentadas em maiores detalhes na Tabela 7 (LU et al, 1993, MINDESS et al, 1981 e YOUNG et al, 1987 apud GARBOCZ, 1994). Tabela 7. Principais fases cristalinas do cimento Portland. Fase cristalina Fórmula química Simbologia da indústria do cimento Massa específica [kg/m³] Volume molar [m³/Mmol] Silicato tricálcico 3CaO SiO2 C3S (alita) 3 210 71,0 Silicato dicálcico 2CaO SiO2 C2S (belita) 3 280 52,4 Aluminato tricálcico 3CaO Al2O3 C3A (celita) 3 030 89,1 Ferroaluminato tetracálcico 4CaO Al2O3 Fe2O3 C4AF (brownmilerita) 3 730 128,0 Em termos de propriedades físicas e composição mineralógica, a diferença entre os diversos tipos de cimento Portland está relacionada ao seu grau de finura e aos teores dos seus quatro compostos principais. É evidente que a termodinâmica envolvida no processo de fabricação do clínquer influencia as propriedades do cimento Portland resultante, mas as duas características primeiras mostram-se como as mais significativas na indústria cimenteira. Um cimento com baixo grau de moagem, ou seja, pequena superfície específica, apresentará pega lenta, pois a cinética de hidratação será, também, mais lenta; um cimento com alto teor de C3A apresentará rápida cinética de hidratação, etc. Observe-se que não são compostos diferentes que determinam as propriedades do cimento Portland, mas a finura e a proporção de cada uma de suas quatro fases principais. No entanto, não se pretende dizer, aqui, que adições e aditivos incorporados ao cimento Portland não são capazes de modificar suas propriedades, eles podem até ser utilizados, mas geralmente o são com a finalidade de otimizar alguma propriedade desejada. O processo de fabricação do clínquer do cimento Portland é controlado através de diversas formas. O método mais empregado é a análise de três fatores obtidos em função dos seus teores de óxidos (TAYLOR, 2003), são eles: fator de saturação de cal (FSC), módulo de sílica (MS) e módulo de alumina (MA), dados pelas seguintes equações (GOMES, 1988): 36 FSC = CaO/(2,8 SiO2 + 1,2 Al2O3 + 0,65 Fe2O3) ⇒ 0,95 a 1,10 (valores limite) MS = SiO2/(Al2O3 + Fe2O3) ⇒ 1,70 a 3,10 (valores limite) ⇒ 2,40 a 2,70 (valores ideais) MA = Al2O3/Fe2O3 ⇒ 1,20 a 3,20 (valores limite) ⇒ 1,40 a 1,60 (valores ideais) Segundo TAYLOR (2003), valores típicos do FSC para clínqueres modernos estão compreendidos entre 0,92 e 0,98. Para valores limites do MS tem-se 2,0 a 3,0 e para o MA tem-se 1,0 a 4,0. Estes números divergem dos indicados por GOMES (1988), mas indicam uma ordem de grandeza do que se espera encontrar em um clínquer que ainda será produzido. A composição final que um determinado clínquer apresentará dependerá de vários fatores, tais como a termodinâmica envolvida no processo de preparação e queima no forno rotativo, a natureza dos minerais componentes da matéria-prima, a presença de impurezas, etc. Duas formas simples e práticas de se estimar as fases principais que um clínquer possuirá, foram criadas por R. H. Bogue em 1929 e 1947. A segunda, de 1947, mais prática e menos precisa, utiliza os três fatores anteriores e, por meio de um gráfico (ZAMPIERI, 1989), determina o valor de cada uma das quatro fases. A primeira forma, de 1929, menos prática e mais precisa, determina as quatro fases por meio das equações de Bogue, em função da quantidade dos quatro principais óxidos presentes na matéria-prima do cimento Portland, que são a cal, a sílica, a alumina e a ferrita. A ASTM introduziu algumas modificações nas equações originais de Bogue atravésda norma ASTM C 150-94 (HEWLETT et al, 2004). Outros autores também mostram variações, não só nas constantes que multiplicam os teores de óxidos, mas também na forma como as equações são utilizadas e, até mesmo, no próprio ato de tradução das equações originais para a língua portuguesa. A Tabela 8 seguinte mostra algumas das variações das equações. 37 Tabela 8. Variações das equações de Bogue. Índice multiplicador Fase cristalina Autor C3S β-C2S C3A C4AF Bogue, 1955 apud Mehta et al, 1994 + 4,071 - - - ASTM C 150-94 + 4,071 - - - Bogue apud Taylor, 2003 + 4,0710 - - - Gomes, 1988 + 4,07 - - - CaO ABNT NBR 9831, 1993 + 4,07 - - - Bogue, 1955 apud Mehta et al, 1994 - 7,600 + 2,867 - - ASTM C 150-94 - 7,600 + 2,867 - - Bogue apud Taylor, 2003 - 7,6024 + 2,8675 - - Gomes, 1988 - 7,60 + 2,87 - - SiO2 ABNT NBR 9831, 1993 - 7,60 - - - Bogue, 1955 apud Mehta et al, 1994 - 6,718 - + 2,650 - ASTM C 150-94 - 6,718 - + 2,650 - Bogue apud Taylor, 2003 - 6,7187 - + 2,6504 - Gomes, 1988 - 6,72 - + 2,65 - Al2O3 ABNT NBR 9831, 1993 - 6,72 - + 2,65 - Bogue, 1955 apud Mehta et al, 1994 - 1,430 - - 1,692 + 3,043 ASTM C 150-94 - 1,430 - - 1,692 + 3,043 Bogue apud Taylor, 2003 - 1,4297 - - 1,6920 + 3,0432 Gomes, 1988 - 1,43 - - 1,69 + 3,04 Fe2O3 ABNT NBR 9831, 1993 - 1,43 - - 1,69 + 3,04 Bogue, 1955 apud Mehta et al, 1994 - - 0,7544 - - ASTM C 150-94 - - 0,7544 - - Bogue apud Taylor, 2003 - - 0,7544 - - Gomes, 1988 - - 0,754 - - C3S ABNT NBR 9831, 1993 - - - - Bogue, 1955 apud Mehta et al, 1994 - - - - ASTM C 150-94 - - - - Bogue apud Taylor, 2003 - - - - Gomes, 1988 - - - - SO3 ABNT NBR 9831, 1993 - 2,85 - - - Pode-se observar que alguns dos índices multiplicadores são iguais e outros mudam conforme critérios provenientes da experiência com a aplicação das equações originais de Bogue. 38 Outra forma de utilização das equações tradicionais de Bogue pode ser feita através do Nomograma de Bogue encontrado, por exemplo, em PETRUCCI e PAULON (1982), trata-se de uma aplicação gráfica das equações de Bogue com precisão bastante questionável. Através de métodos mais precisos, como a difração por raios X quantitativa e, mais comumente, a microscopia ótica de luz refletida (ASTM, C 1356 - 96, 2001), é possível se determinar com mais exatidão as fases presentes no clínquer e, por meio de comparação, verificar se os resultados são equivalentes aos obtidos através da equação de Bogue. Sobre a técnica de quantificação de fases por meio da difração por raios X, alguns métodos já foram desenvolvidos em função da comparação da intensidade de difração de cada fase presente no composto com padrões de intensidade puros preparados com cada fase isoladamente. Estes métodos baseiam-se, geralmente, nas proposições de KLUG e ALEXANDER (1954 apud KIHARA et al, 1983), que desenvolveram uma equação que correlaciona a intensidade da raia de um determinado mineral com sua concentração, massa específica, coeficiente de absorção de massa e coeficiente de absorção de massa da matriz que o envolve, etc. (KIHARA et al, 1983). Esta metodologia, otimizada posteriormente, já apresenta variações, como são os casos do método das adições, do método do padrão interno, do método do padrão externo, do método da medida direta da altura ou área de um pico de difração em comparação com curva pré-calibrada (PIETROLUONGO e VEIGA, 1982) e de um quinto método obtido a partir da combinação dos dois últimos (KIHARA et al, 1983). Quando Bogue concebeu suas equações, ele partiu das seguintes premissas (ABCP; TAYLOR, 2003): a) A temperatura de queima do clínquer é de 2000ºC; b) Os compostos C3S, C2S, C3A e C4AF a serem queimados são puros; c) Existe uma perfeita combinação entre os óxidos e d) As reações ocorrem em equilíbrio estequiométrico. No entanto, os clínqueres geralmente são queimados em temperaturas entre 1400ºC e 1500ºC e não contêm apenas as quatro fases principais, pois sempre estão presentes alguns 39 compostos, tais como MgO, Na2O, P2O5, K2O, Ti2O, Mn2O3, SO3, CaO livre, etc., que interferem nos valores finais das quatro fases e na própria temperatura de queima. Assim, as equações de Bogue, modificadas ou não, geralmente apresentam discrepâncias em relação aos seguintes pontos (ABCP; DELOYE, 1970 apud ABCP; ALDRIDGE and EARDLEY, 1973 apud ABCP; TAYLOR, 2003): a) A soma dos silicatos C3S e C2S é inferior à soma obtida por microscopia ótica e/ou difração por raios X quantitativa. Esta diferença pode chegar a 14 %; b) A soma da fase intersticial (C3A + C4AF) é superior à soma obtida por microscopia ótica e/ou difração por raios X quantitativa; c) A cal livre obtida por microscopia ótica e/ou difração por raios X quantitativa é inferior ao valor obtido pelas equações de Bogue e d) Os valores de CaO livre e MgO obtidos diretamente da análise química são superiores aos observados por microscopia ótica e/ou difração por raios X quantitativa. Estas diferenças estão relacionadas à incorporação, por substituição, das impurezas nas redes cristalinas das quatro fases principais e ocorrência de reconversões de fases durante o resfriamento do clínquer (ABCP; TAYLOR, 2003). Isto comprova que o princípio adotado nas equações de Bogue não é correto, pois as fases não são puras no clínquer final. Dessa forma, a composição do clínquer obtida através das equações de Bogue é denominada de composição potencial do clínquer, em função de não apresentar precisão, no entanto, para fins práticos e clínqueres de cimentos Portland comuns as equações de Bogue são utilizadas sem maiores transtornos. Este não é o caso, no entanto, dos cimentos destinados para a cimentação de poços de petróleo, que apresentam impurezas maiores que os cimentos Portland comercializados na indústria da construção civil. A preocupação com o controle de qualidade do clínquer que será produzido está sempre relacionada à determinação prévia das quatro fases principais. A microscopia ótica e a difração de raios X quantitativa são técnicas importantes e precisas, mas só podem ser utilizadas após o clínquer estar pronto. Assim, mais recentemente, YAMAGUCHI e 40 TAKAGI (1969 apud TAYLOR, 2003), TAYLOR (1989 apud TAYLOR, 2003) e HARRISSON, TAYLOR e WINTER (1985 apud TAYLOR, 2003) propuseram uma forma mais precisa de se determinar a composição do clínquer em função dos seus óxidos a partir da resolução de sistemas de equações lineares, com quatro incógnitas representando as porcentagens de cada uma das fases e quatro equações representando a influência de cada um dos quatro principais óxidos constituintes da matéria-prima do clínquer (CaO, SiO2, Al2O3 e Fe2O3) com seus teores devidamente corrigidos em função das impurezas presentes em sua matéria-prima. Este procedimento foi utilizado no item 4.1 Características físico-químicas e apresentou coerência maior que os resultados obtidos pelas equações de Bogue, principalmente em relação aos teores de C3A e C4AF. 2.5 Hidratação do cimento Portland Um fator importante quando se lida com o bombeio de pastas de cimento Portland em poços de petróleo refere-se às suas reações de hidratação em temperaturas elevadas, pois o cimento Portland foi desenvolvido, acidentalmente, para ser empregado em temperaturas próximas à temperatura ambiente (5ºC a 40ºC). Sob tais condições, ou seja, temperatura ambiente, o cimento Portland se hidrata e gera os produtos constantes da Tabela 9 (LU et al, 1993, MINDESS et al, 1981 e YOUNG et al, 1987 apud GARBOCZ, 1994). Tabela 9. Principais produtos da hidratação do cimento Portland em ordem de importância. Fase Simbologia da indústria do cimento Massa específica [g/cm³] Volume molar [cm³/mol] Silicato cálcico hidratado C-S-H 1,85 124,0 Hidróxido de cálcio CH 2,24 33,1 Etringita C6AS3H32 1,75 715,0 Monossulfato C4ASH12 1,99 313,0 Hidrogranada C3AH6 2,52 150,0 Hidróxido de ferro FH32,20 95,2 A hidratação do cimento Portland depende de vários fatores e as condições em que a mesma ocorre determina boa parte do comportamento à fissuração da pasta endurecida. A adição de sulfato de cálcio, que tem a função de controlar a pega do cimento Portland, atua retardando a 41 reação do C3A, que é a fase que apresenta cinética mais rápida. Quando em contato com a água, o sulfato de cálcio forma uma película de etringita ao redor do C3A que funciona como uma blindagem, evitando que o mesmo se hidrate rapidamente. Com o passar do tempo, como a etringita é expansiva, a película é rompida e a água volta a entrar em contato com o sulfato de cálcio restante, até que este seja totalmente consumido, quando então a água irá reagir com o C3A, gerando as fases hidrogranada e monossulfato hidratado, conferindo rigidez à pasta (MORELLI, 2000). As reações químicas de hidratação dos quatro compostos básicos do cimento Portland não são precisamente conhecidas, pois fatores como temperatura, presença de álcalis, pressão, umidade relativa do ar, superfície específica, relação água/cimento, etc (MEHTA e MONTEIRO, 1994; HEWLETT et al, 2004; TAYLOR, 2003) podem fazer com que uma determinada fase interaja de forma distinta com a água, resultando em produtos de hidratação com variações em sua resistência mecânica, cristalinidade, permeabilidade, etc. As fases dos clínqueres produzidos raramente se apresentam em suas formas estequiométricas, daí as reações de hidratação não ocorrerem também de forma estequiométrica (MORELLI, 2000). Além disso, existem controvérsias quanto à quantidade de água necessária para se hidratar o cimento Portland. Alguns autores, como MORELLI (2000), afirmam que a quantidade de água necessária para se hidratar completamente o cimento Portland varia de 35 % a 40 % (fator – água/cimento de 0,35 a 0,40) em relação à massa de cimento anidro. Outros, como MEHTA e MONTEIRO (1994), NEVILLE (1997), TAYLOR (2003) e HEWLETT et al (2004), posicionam este valor em torno de 25 %, que é significativamente menor que 35 % - 40 % (28,57 % a 37,50 %, em relação aos valores de MORELLI (2000)). As reações de hidratação dos quatro compostos básicos do cimento Portland consomem quantidades de água diferentes. De um modo geral, estas quantidades são as descriminadas nos itens seguintes. 2.5.1 Reação de hidratação do silicato tricálcico (alita) Segundo MEHTA e MONTEIRO (1994), NEVILLE (1997), BRUNAUER (1962 apud BAZĂNT and KAPLAN, 1996) e CZERNIN (1962 apud BAZĂNT and KAPLAN, 1996) o silicato tricálcico se hidrata conforme a seguinte reação. 42 a) Simbologia da indústria do cimento 2C3S + 6H ⇒ C3-S2-H3 + 3CH Uma expressão mais elaborada para esta fórmula é encontrada em HEWLETT et al (2004) que introduz os parâmetros m e n e vincula a validade da expressão à superfície específica do cimento Portland. Eis a expressão: C3S + (3 + m - n) H ⇒ n C-S-m H + (3 - n ) CH Esta expressão é válida para cimentos Portland com superfície específica entre 300 m²/kg e 500 m²/kg. Os valores dos parâmetros m e n são geralmente 1,5 para ambos, isto significa dizer que, havendo a substituição dos mesmos, a expressão passa a ser idêntica a de Neville juntamente com Mehta e Monteiro. A novidade é exatamente a dependência da hidratação à superfície específica do cimento Portland. É interessante observar que o futuro espera uma expressão, não só para o silicato tricálcico, mas para todos os compostos do cimento Portland, que contemple as variáveis que influenciam o processo. Assim, a hidratação do cimento Portland será mais bem conhecida quando uma determinada expressão depender da variação de temperatura de cura, da superfície específica, da umidade relativa do ar, etc. b) Substituindo pela simbologia da química, tem-se: 2[(CaO)3 SiO2] + 6H2O ⇒ (CaO)3 . (SiO2)2 . (H2O)3 + 3[CaO . H2O] c) Considerando as massas atômicas dos elementos químicos dados na Tabela 10 (CALLISTER JR., 1999). 43 Tabela 10. Massas atômicas dos principais elementos químicos do cimento Portland. Elemento químico Massa atômica (u.m.a.) Hidrogênio 1,008 Oxigênio 15,999 Alumínio 26,982 Silício 28,086 Enxofre 32,060 Cálcio 40,080 Ferro 55,847 Substituindo em cada molécula isoladamente, tem-se: CaO = 56,079 u.m.a.; SiO2 = 60,084 u.m.a.; H2O = 18,015 u.m.a.; Al2O3 = 101,961 u.m.a.; Fe2O3 = 159,691 u.m.a.; S = 96,056 u.m.a. d) Substituindo nos dois membros da expressão de Neville, Mehta e Monteiro, tem-se: 1º membro: 2 (3 x 56,079 + 60,084) + 6 x 18,015 = 564,732 u.m.a. 2º membro: 3 x 56,079 + 2 x 60,084 + 3 x 18,015 + 3 x (56,079 + 18,015) = 564,732 u.m.a. e) Considerando que para a hidratação de duas moléculas de silicato tricálcico são necessárias seis moléculas de água, a relação água/cimento é expressa por: 6 H = 108,09 u.m.a. 2 C3 S = 456,642 u.m.a. a/c = 108,09/456,642 = 0,2367 Isto significa dizer que são necessários 23,67 % de água em relação à massa de C3S do cimento Portland para que ocorra sua completa hidratação. Este número é importante em função da quantidade de água que deve ser misturada ao cimento no ato da preparação das pastas. As possíveis situações que podem acontecer são: 44 a) Quantidade de água inferior a 23,67 % - neste caso, o C3S não será totalmente hidratado e a qualidade da bainha estará comprometida, podendo apresentar propriedades mecânicas e principalmente reológicas inadequadas; b) Quantidade de água igual a 23,67 % - teoricamente esta quantidade é a necessária para a hidratação do C3S do cimento Portland. No entanto, a trabalhabilidade da pasta, quantificada por seus parâmetros reológicos, será muito baixa e a mesma não será passível de bombeio. Esta quantidade, tanto para aplicações em cimentação de poços de petróleo, como para aplicações na construção civil se mostra, na prática, inconveniente para emprego, pois a pasta se torna excessivamente viscosa e c) Quantidade de água superior a 23,67 % - a priori, pode-se imaginar que uma quantidade superior de água resolveria os problemas das duas situações anteriores, no entanto, não tem sido esta a solução. O excesso de água em si não provoca dano à pasta. O problema está relacionado ao espaço ocupado pelo mesmo. Quando o cimento Portland é hidratado a água em excesso sai do seu interior dando origem a uma quantidade de vazios significativa que facilitará a propagação do processo de fissuração (MEHTA e MONTEIRO, 1994). Além disso, o excesso de água pode influenciar na reação do C3S. As seis moléculas de água necessárias para hidratar as duas moléculas de C3S podem variar em função da temperatura, umidade relativa do ar, pressão, superfície específica, presença de sulfato de cálcio (gesso), etc. Assim, a quantidade de água que deve ser adicionada ao cimento Portland não é de fácil determinação, pois depende da finalidade que se deseja. 2.5.2 Reação de hidratação do silicato dicálcico (belita) Segundo HEWLETT (2004), MEHTA e MONTEIRO (1994), BRUNAUER (1962 apud BAZĂNT and KAPLAN, 1996), CZERNIN (1962 apud BAZĂNT and KAPLAN, 1996) e NEVILLE (1997) o silicato dicálcico se hidrata conforme as seguintes reações. 45 a) Simbologia da indústria do cimento 2 C2S + 4 H ⇒ C3-S2-H3 + CH b) Substituindo pela simbologia química, tem-se: 2[(CaO)2 SiO2] + 4 H2O ⇒ (CaO)3 . (SiO2)2 . (H2O)3 + CaO . H2O c) Substituindo os pesos atômicos nos dois membros da fórmula, tem-se: 1º membro: 2 (2 x 56,079 + 60,084) + 4 x 18,015 = 416,544 u.m.a. 2º membro: 3 x 56,079 + 2 x 60,084 + 3 x 18,015 + 56,079 + 18,015 = 416,544 u.m.a. d) Considerando que para a hidratação de duas moléculas de silicato dicálcico são necessárias quatro moléculas de água, a relação água/cimento é expressa por: 4 H = 72,060 u.m.a. 2 C2S = 344,484 u.m.a. a/c = 72,060/344,484 = 0,2092 Isto significa dizer que são necessários 20,92 % de água em relação à massa de C2S para
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