Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Saliva • A saliva total é uma mistura da secreção das glândulas salivares maiores e menores que banha os dentes • Possui uma composição compatível com a integridade do mineral dos dentes; • Sua concentração de íons minerais, cálcio e fosfato, e seu pH, que espelham os mesmos no plasma sanguíneo, tornam a saliva supersaturada em relação aos minerais dentais. • A saliva total tem sempre função protetora dos tecidos minerais, e nunca é produzida com pH capaz de causar sua dissolução, embora haja diferença de pH na saliva secretada pelas diferentes glândulas salivares. • O pH salivar apenas abaixa logo após o consumo de produtos ácidos (nesse caso, o pH da mistura saliva + resíduo do produto na cavidade bucal é que é baixo), ou raramente em situações de baixíssimo fluxo salivar, quando há estagnação de ácidos produzidos no biofilme dental na cavidade bucal. Fluido • Ele representa a porção líquida que permeia as células e a matriz do biofilme dental e é a solução • Responsável pelas trocas iônicas com o mineral dental. • A composição do fluido do biofilme é diferente da composição da saliva, • Quando há exposição do biofilme a açúcares fermentáveis, os microrganismos produzem ácidos pela sua fermentação, que baixam o pH do fluido do biofilme; como consequência, minerais dentais se dissolvem e ocorre um aumento da concentração de íons minerais no fluido. • Assim, toda troca iônica que ocorre entre o dente e o biofilme está, de fato, ocorrendo entre o dente e o compartimento líquido do biofilme POR QUE O MINERAL DA ESTRUTURA DENTAL DISSOLVE EM BAIXO PH? A equação abaixo representa esse equilíbrio entre o sólido (o qual sempre está em excesso - n) e os íons em solução: • O equilíbrio químico descrito acima será sempre mantido, de tal forma que um excesso de íons na solução, causará a precipitação de minerais; a redução na atividade dos íons em solução causará a dissolução do sólido, para manter o equilíbrio • A principal alteração que ocorre na cavidade bucal e perturba o equilíbrio entre o mineral e os fluidos bucais é a redução do pH. • O efeito do pH na solubilidade da hidroxiapatita está demonstrado abaixo: Explicação: • Por possuir íons constituintes que podem captar H+ (próton), ou seja, que reagem com H+, a solubilidade da hidroxiapatita é muito influenciada por oscilações de pH. • A concentração total de fosfato inorgânico (P1) no meio não sofre qualquer alteração quando o pH diminui ou aumenta, mas muda a proporção das diferentes formas de fosfato por interconversão, ganhando ou perdendo H+ • Assim, quando há queda de pH, a concentração de PO/ (fosfato totalmente dissociado), o íon comum do produto de solubilidade da hidroxiapatita, se transforma nas formas menos dissociadas de fosfato. • Essa subsaturação momentânea do meio fará com que mais hidroxiapatia se dissolva para manter o equilíbrio Apresenta a concentração das formas de íons fosfato e ácido fosfórico em função do pH. Além disso, a hidroxila também diminui sua atividade à medida que o pH abaixa. Dessa forma, uma simples alteração do pH (mesmo que a OS FLUIDOS BUCAIS: SALIVA E FLÚIDO DO BIOFILME DENTAL concentração de cálcio e fósforo não tenha se alterado) causa um imenso aumento na solubilidade da hidroxiapatita O DESENVOLVIMENTO DE LESÓES DE CÁRIE E SUA REMINERALIZAÇÃO • Considerando a solubilidade do mineral dental em meio ácido, é evidente que este irá sofrer alterações em virtude da nossa dieta. • Quer seja pela ingestão de bebidas e alimentos ácidos quer seja pela fermentação ácida de açúcares no biofilme dental, a estrutura mineral pode gradativamente se solubilizar para o meio, levando ao aparecimento de Lesões de cárie ou erosão. • As Lesões de cárie em esmalte são, em geral, subsuperficiais, havendo uma maior desmineralização no interior do esmalte que na superfície. Elas se iniciam por uma desmineralização dos cristais de hidroxiapatita biológica localizados na superfície do esmalte, resultando clinicamente em aspecto poroso e com perda de brilho. • Elas são caracterizadas por uma desmineralização acentuada da subsuperfície, enquanto a camada superficial do esmalte, embora não esteja íntegra (já que apresenta diversas áreas atacadas pelo ácido), ainda não sofreu perda estrutural (cavitação). • A Lesão de desmineralização ocorre quando o meio está subsaturado em relação ao mineral dental, porém apenas parcialmente. • Soluções ácidas induzem a formação de lesões subsuperficiais quando estão 50% saturadas em relação ao mineral dental • De fato, no biofilme dental exposto a açúcares fermentáveis, o pH do fluido do biofilme diminui, porém, as concentrações de cálcio e fósforo não (estas, inclusive, aumentam como resultado da dissolução dos primeiros minerais) • Assim há uma tendência de dissolução mineral, porém ela não é tão forte (já que o meio está parcialmente saturado em relação ao mineral dental), resultando em uma saída mais "lenta" dos íons do mineral dental, que acabam por se reprecipitar na superfície, durante o processo de saída da estrutura dental. • A perda mineral em dentina também apresenta um padrão subsuperficial, como o esmalte. Neste caso, porém, não se forma uma lesão branca, mas, devido à presença de colágeno na dentina, ocorre um amolecimento superficial, resultando em uma lesão que apresenta consistência de couro. • As regiões do cristal de hidroxiapatita que possuem carbonato são as mais instáveis e, portanto, as primeiras a se dissolver quando o fluido circundante se torna subsaturado. Ou seja, o mineral dental perde primeiro suas porções mais solúveis • Em contrapartida, a reprecipitação de minerais ativada pelo fluoreto, incorpora nos cristais porções menos solúveis contendo fluoreto. Assim, as lesões incipientes de cárie se tornam mais ricas em fluoreto e pobres em carbonato do que o esmalte hígido inicial. Dessa forma, pode-se dizer que uma lesão de cárie é mais resistente à desmineralização futura do que o esmalte hígido. • As lesões incipientes em esmalte e dentina podem sofrer cavitação. A consequência é uma aceleração do processo de dissolução mineral, gerada pela maior capacidade de reter biofilme da cavidade em relação à superfície não cavitada. • Quando se trata de cárie em esmalte, a cavitação até a dentina subjacente resulta também em uma aceleração do processo, já que, esta é mais solúvel do que o esmalte • Por outro lado, essas lesões podem também sofrer remineralzação. (reversão) • Na lesão incipiente em esmalte, há uma área superficial porosa, que permite a entrada de ácido e a saída de minerais da região subsuperficial. Esses poros resultam clinicamente no aspecto opaco e rugoso da lesão de mancha branca ativa. Uma vez que o processo de cárie seja controlado (controle do biofilme dental, p. ex.), ocorrerá tanto a remineralização), como também a abrasão dessa superfície pela escovação, resultando em um aspecto brilhante e endurecido • Na região subsuperficial, a mais desmineralizada, ocorre a dissolução total de diversos cristais de hidroxiapatita. Isso, inclusive, explica o aspecto branco da lesão. Os cristais totalmente dissolvidos da região subsuperficial da lesão raramente se formarão novamente; a remineralização é possível quando o meio se torna supersaturado em relação aos minerais (exposição à saliva, utilização de terapias com fluoreto) é resultado da deposição mineral em cristais ainda presentes, parcialmente dissolvidos. • Essa remineralização não resulta em cristais tão perfeitos como aqueles inicialmente presentes pelo processo de mineralização biológica, mas sim em uma precipitação menos ordenada sobre os cristais já presentes. • Independentementedo tipo de remineralização no nível ultraestrutural, clinicamente haverá uma redução do tamanho da mancha branca e de seu aspecto branco. Infelizmente, se a lesão for muito extensa, ela apenas diminuirá de tamanho, mas não desaparecerá totalmente, ficando como uma cicatriz do processo de cárie. • O processo de remineralização da dentina resulta em endurecimento da lesão ativa, o que muitas vezes pode ser acompanhada de pigmentação da lesão, por pigmentos oriundos da alimentação (sem qualquer sequela clínica). FLUORAPATITA E FLUORETO DE CÁLCIO: REAÇÃO DO FLUOR COM O MINERAL DENTAL • O mineral da estrutura dental, quando exposto pela primeira vez à cavidade bucal, irá gradativamente reagir com os fluidos bucais, ganhando ou perdendo minerais isso torna a superfície do esmalte gradativamente mais resistente, fenômeno conhecido como maturação pós- eruptiva. • Essa maturação ocorre naturalmente, pela dissolução de minerais mais solúveis e precipitação de minerais menos solúveis, e a implicação clínica dela é que um dente recém-irrompido é mais suscetível à desmineralização do que um que já está há anos na boca • Além das trocas com os íons presentes nos fluidos bucais (saliva, fluido do biofilme), o mineral da estrutura dental reage com produtos contendo alta concentração de fluoreto. Este é o princípio que embasa a utilização de meios profissionais de uso de fluoreto. • Quando o mineral dental é exposto a produtos· com concentração superior a 100 ppm (partes por milhão) de fluoreto, pode ocorrer reação da hidriapatita biológica com o fluoreto, embora essa reação seja clinicamente relevante apenas para os produtos de uso profissional, como géis, mousses e vernizes fluoretados, que possuem concentração de fluoreto variando de 9.000 a 20 • O resultado da reatividade do fluoreto com o esmalte ou dentina é a formação de dois produtos de reação: o fluoreto firmemente ligado (fluorapatita) e o fluoreto fracamente ligado (tipo fluoreto de cálcio). • O fluoreto firmemente ligado representa a reação do fluoreto com o mineral dental a nível ultraestrutural, incorporando-se no mineral na forma de fluorapatita. Novamente, não há a formação de novos cristais de fluorapatita no dente, mas sim a incorporação do íon flúor aos cristais preexistentes. • Já o fluoreto fracamente ligado é resultado da reação do fluoreto com íons cálcio, formando precipitações sobre a superfície dental e no interior de Lesões de cárie de um mineral tipo fluoreto de cálcio ("CaF2 "). Esses dois produtos de reação também podem ser chamados, respectivamente, de "F in" (incorporado ao mineral dental) e "F on" (formado sobre a superfície). • Já a fluorapatita permanece incorporada ao mineral dental, mas, assim como a incorporação gradativa de íons flúor que acontece no mineral dental, tem pouca repercussão clínica positiva. Dessa forma, a aplicação de produtos com alta concentração de fluoreto objetiva, principalmente, a formação de reservatórios lábeis de ("CaFz"). A importância desse reservatório de fluoreto está exemplificada • A reatividade do mineral dental com o fluoreto varia de acordo com o substrato; assim, é maior a formação em dentina (mais reativa) do que em esmalte (FIG. 2.7); também é maior a formação no esmalte com lesão de cárie (mais poroso) do que no hígido (FIG. 2. a). • Há também diferenças entre os produtos utilizados, uma vez que produtos ácidos (capazes de retirar íons cálcio da superfície dental para reação com o fluoreto) são mais reativos em relação aos neutros.
Compartilhar