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Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Flávio César Bezerra da Silva (Organizadores) processo de formação-intervenção (RE)SSIGNIFICANDO A PRÁTICA DA ENFERMAGEM OBSTÉTRICA processo de formação-intervenção (RE)SSIGNIFICANDO A PRÁTICA DA ENFERMAGEM OBSTÉTRICA Prefácio Kleyde Ventura de Souza Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Flávio César Bezerra da Silva (Organizadores) gráfica e editora Natal, 2019 processo de formação-intervenção (RE)SSIGNIFICANDO A PRÁTICA DA ENFERMAGEM OBSTÉTRICA gráfica e editora Editora Revisão Projeto gráfico, capa e diagramação eletrônica Rejane Andréa Matias Alvares Bay Ricardo Alexandre de Andrade Macedo Joyce Urbano Rodrigues Caule de Papiro Caule de Papiro gráfica e editora Rua Serra do Mel, 7989, Cidade Satélite Pitimbu | 59.068-170 | Natal/RN | Brasil Telefone: 84 3218 4626 www.cauledepapiro.com.br Catalogação da Publicação na Fonte. Bibliotecária/Documentarista: Rosa Milena dos Santos - CRB 15/847 R331 (Re)ssignificando a prática da enfermagem obstétrica: processo de formação-intervenção / Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho; Flávio César Bezerra da Silva (Orgs.). – Natal: Caule de Papiro, 2019. 344 p. : il. ISBN 978-85-92622-69-5 1. Enfermagem obstétrica. 2. Cuidados de enfermagem. 3. Gravidez. I. Silva, Flávio César Bezerra da. II. Título. RN CDU: 618.2-083 AGRADECIMENTOS Organizar uma obra como esta, a qual assume importância para a Enfermagem Obstétrica em nível Local, com repercussões Regional e Nacional, certamente requer seriedade, empenho e reconhecimento na Obstetrícia enquanto área onde há cooperação e participação entre categorias profissionais. Isto assume relevância, sobre- tudo porque a assistência obstétrica prestada pelas equipes de enfermagem e medicina é destinada às mulheres gestantes, parturientes e puérperas com extensão às suas famílias. Assim, o interesse em compartilhar experiências e pro- duções científicas decorrentes do Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica – Rede Cegonha III surgiu com a intenção de despertar nos profissionais da obstetrícia o entendimento de que é possível transformar cenários da assistência ao parto e nascimento. Nessa linha de considerações, se faz necessário desenvolver o modelo de atendimento cooperativo Inter equipes dos profissionais de saúde, mediante compreensão de que práticas baseadas em evidências científicas precisam ser consideradas e inseridas na cena do trabalho de parto e parto em prol da mudança de paradigma da obstetrícia. Diante do exposto, agradecemos mui respeitosamente ao Ministério da Saúde por financiar um Curso de Especialização o qual assume relevância para contribuir com a mudança do modelo assistencial na obstetrícia. Também se faz pertinente sermos gratos à Escola de Enfermagem da UFMG pela parceria e troca de experiência na condução dos Cursos CEEO I e CEEO II, à Pós-Graduação da UFRN e à Escola de Saúde da UFRN por acreditar na condução de mais uma especialização obstétrica e por cooperar em todas as necessidades administrativas e de espaços acadêmicos para a formação de mais 14 enfermeiros obstétricos. Ademais, agradecemos à disponibilidade de assessoria da ABENFO Nacional, e seccional do RN, ABEN seccional, COREN-RN, Secretaria de Saúde Pública do RN, Secretaria Municipal de Saúde de Natal e de São José de Mipibu; a credibilidade em disponibilizar espaços para estágios, a exemplo do Hospital Universitário Ana Bezerra – Santa Cruz-RN, Maternidade Divino Amor – Parnamirim-RN e Hospital Regional Monsenhor Antônio Barros – São José de Mipibu–RN. Outrossim, nossos agradecimentos às equipes de docentes, gestores de instituições de saúde parceiras do CEEO III, equipes de profissionais de saúde, funcionários que contribuíram para conduzirmos em conjunto a especialização e a todas as gestantes, parturientes, puérperas e seus recém-nascidos por terem sido per- sonagens centrais de importância no processo de aprendizagem dos novos enfermeiros obstétricos especializados pelo CEEO III. SUMÁRIO PREFÁCIO...11 Capítulo 1 – EXPERIÊNCIA EXITOSA NA COORDENAÇÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM OBSTÉTRICA - REDE CEGONHA III PELA UFRN POR MEIO DO PROCESSO DE FORMAÇÃO-INTERVENÇÃO...15 Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Flávio César Bezerra da Silva Capítulo 2 – CLASSIFICAÇÃO DE ROBSON NA REDUÇÃO DAS TAXAS DE CESARIANA...23 Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos Capítulo 3 – IMPLEMENTAÇÃO DO PARTOGRAMA NO CENÁRIO DO TRABALHO DE PARTO DA MATERNIDADE LEIDE MORAIS...43 Francisca Marta de Lima Costa Souza Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Flávio César Bezerra da Silva Capítulo 4 – IMPLEMENTAÇÃO DO PARTOGRAMA NO PROCESSO DO TRABALHO DE PARTO NA MATERNIDADE DR. ARAKEN IRERÊ PINTO...63 Rayza Régia Medeiros dos Santos de Oliveira Maria Cláudia Medeiros Dantas de Rubim Costa Capítulo 5 – IMPLEMENTAÇÃO DO BALANÇO PÉLVICO TIPO “CAVALINHO” NA MATERNIDADE PROFESSOR LEIDE MORAIS NO MUNICÍPIO DE NATAL/RN...85 Marcela Cabral de Souza Araújo Lima Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Flávio César Bezerra da Silva Capítulo 6 – IMPLEMENTAÇÃO DO USO DO BALANÇO PÉLVICO TIPO “CAVALINHO” NA MATERNIDADE DR. ARAKEN IRERÊ PINTO – NATAL/RN...105 Eduardo Antonio de França Mota Maria Lúcia Azevedo Ferreira de Macêdo Capítulo 7 – IMPLEMENTAÇÃO DA MASSAGEM COM AROMATERAPIA DURANTE O TRABALHO DE PARTO NA MATERNIDADE LEIDE MORAIS...129 Erica Danielle Sousa de Macedo Flávio César Bezerra da Silva Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Capítulo 8 – IMPLEMENTAÇÃO DO USO DA BOLA SUÍÇA DURANTE O TRABALHO DE PARTO NA MATERNIDADE ARAKEN IRERÊ PINTO...157 Cristiane Meirice Marques da Silva Ana Cristina Araújo de Andrade Galvão Capítulo 9 – IMPLANTAÇÃO DA MÚSICA COMO ALTERNATIVA TERAPÊUTICA NÃO MEDICAMENTOSA EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA...181 Alcione Félix de Medeiros Simone Pedrosa Lima Capítulo 10 – IMPLANTAÇÃO DA MÚSICA NO TRABALHO DE PARTO E PARTO NO HOSPITAL MATERNIDADE ALMEIDA CASTRO NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ/RN...201 Andressa Pascale Rosado dos Anjos Saraiva Elisângela Franco de Oliveira Cavalcante Capítulo 11 – IMPLEMENTAÇÃO DO ALEITAMENTO MATERNO NA PRIMEIRA HORA DE VIDA NA MATERNIDADE ARAKEN IRERÊ PINTO...229 Rosicler Cristine Cottin Severiano Albuquerque Flávio César Bezerra da Silva Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Capítulo 12 – IMPLEMENTAÇÃO DA AMAMENTAÇÃO NA PRIMEIRA HORA DE VIDA DO RECÉM-NASCIDO NA MATERNIDADE DIVINO AMOR EM PARNAMIRIM/RN...259 Renata Silva de Oliveira Teixeira Campos Juliana Teixeira Jales Menescal Pinto Capítulo 13 – IMPLANTAÇÃO DO PROTOCOLO DE ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO NO HOSPITAL DO SERIDÓ – CAICÓ/RN...281 Juliana Sabino de Oliveira Cleonice Andréa Alves Calvacante Capítulo 14 – IMPLANTAÇÃO DE PROTOCOLO OPERACIONAL PADRÃO PARA O CONTATO PELE A PELE ENTRE MÃE E RECÉM- NASCIDO NA PRIMEIRA HORA DE VIDA NA MATERNIDADE DIVINO AMOR...297 Bruna Lorena de Figueiredo Freire Eliane Santos Cavalcante Capítulo 15 – IMPLEMENTAÇÃO DO PROTOCOLO PARA O MANEJO DA HEMORRAGIA PÓS-PARTO NO HOSPITAL REGIONAL MONSENHOR ANTÔNIO BARROS EM SÃO JOSÉ DE MIPIBU/RN...323 Chirley Carvalho da Cunha Araújo Izaura Luzia Silvério Freire 11 PREFÁCIO Kleyde Ventura de Souza Professora Associada da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Presidente da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras – ABENFO nacional (gestões 2015-2017 e 2018-2020). Coordenadora Nacional da Rede de Internacional de Enfermagem Saúde da Mulher e Neonatal – SaMuNeo. Nas últimas décadas avanços importantes têm sido observados no contexto sanitário brasileiro. Entretanto, a redução da mortalidade materna e infantil, especialmente, no componente neonatal coloca-se como preocupação mundial e por esta razão reafirmada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). No Brasil, a redução destas mortes à níveisaceitáveis até 2030 se apresenta como um desafio a ser assumido por todos(as), sejam, profissionais e gestores de serviços de saúde, pesquisadores(as) e professores(as) destes campos, formuladores de políticas públicas e tomadores de decisão, entidades científicas e conselhos profissionais, sociedade organizada e a comunidade em geral, as mulheres e suas famílias, entre outros. Este desafio é ainda maior, por conta do atual modelo de atenção obstétrica e neonatal, em que prevalece a ideia de que o processo de parto/nascimento é compreendido como uma questão 12 Prefácio médica, as gestações como potencialmente patológicas e o corpo da mulher imperfeito, necessitando de múltiplas intervenções e reparos. Ressalta-se que há décadas esta realidade vem se mantendo e que caminha em direção oposta as diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS), que reconhecem o parto como evento natural e que necessita de cuidados. Especificamente, em relação aos desafios da redução de mortes evitáveis, como as de mulheres e seus bebês em razão da gestação, parto ou puerpério, acrescentam-se outros, tais como: a mudança de modelo de atenção e de formação da força de trabalho, a redução das altas taxas de cirurgias cesarianas desnecessárias, a superação da violência obstétrica/violência institucional, a incorporação/implementação de práticas baseadas em evidências guiadas por um cuidado centrado na mulher e na sua família, de modo a fortalecer autonomia e protagonismo no seu cuidado, além do compromisso com a garantia de seus direitos sexuais e reprodutivos. Vale destacar que a transformação do modelo da atenção obstétrica em nosso País guarda íntima relação com o fortaleci- mento do Sistema Único de Saúde (SUS), entre outras razões, pelo seu papel de ordenador da formação e de sua capacidade instalada para mobilização de agentes de saúde e usuários(as), visibilidade de pautas e indução de políticas. Em 2011, o Ministério da Saúde (MS) lançou a Rede Cegonha (RC), normatizada pela Portaria nº 1.459, com o objetivo de ampliar o acesso e melhorar a qualidade da atenção pré-natal, a assistência ao parto e ao puerpério e a assistência à criança com até 24 meses de vida. Esta iniciativa trouxe para o cenário da atenção obstétrica e neonatal a retomada da formação de enfermeiras obstétricas, reconhecidas como um quadro estratégico para a 13Kleyde Ventura de Souza mudança de modelo, com financiamento do Ministério da Saúde (MS), portanto, como política pública. Desde o lançamento da RC até a atualidade cerca de 3 mil enfermeiras foram formadas e/ou capacitadas, ao que denominamos de “segunda onda” de formação em Enfermagem Obstétrica, com financiamento público, agora, em três modalidades; entre essas, duas configuradas como novas: a Residência em Enfermagem Obstétrica (REO) e o Curso de Aprimoramento para Enfermeiras Obstétricas (CAEO),além dos Cursos de Pós-Graduação lato sensu - Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica – CEEO/RC, que se manteve como àquela já desenvolvida nos anos de 1999-2005. Esta última modalidade ganhou uma nova configuração. Sua realização se deu pela criação de uma rede nacional de formação em enfermagem obstétrica, em que participaram Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) de todas as regiões do Brasil, serviços com modelos marcados pela humanização da assis- tência e com o apoio da Associação Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiros Obstetras - ABENFO Nacional e suas Seccionais. Participaram ativamente deste processo, a Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, na coordenação desta rede de formação e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, representada pelos organizadores deste livro. Nesta experiência, então, colocou-se em perspectiva a ampliação de horizontes de formação, em que tão importante quanto o incremento e fortalecimento da força de trabalho, é potencializar a rede de sujeitos com maior capacidade de intervir nos modos de cuidar, de organizar-gerir o trabalho, comprometida com (re)significações dos sentidos de parir, nascer viver e cuidar. E, como um dos frutos desta rede nacional de formação, orientada pelo referencial de formação-intervenção-avaliação, 14 Prefácio materialize-se esta obra que nos brinda com os produtos origi- nados dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), desenvolvi- dos pelas(os) especializandas(os), que seguindo a proposta de interferência no trabalho, foram convocadas ( e aceitaram!) a se debruçarem na exploração analítica das suas realidades de trabalho. Assim, esta obra, tomada numa perspectiva estico-estético- -política, concretiza o que pode haver de potência na articulação de produção de conhecimento, práticas de atenção e de gestão, produção de saúde e produção de sujeitos de modo indissociável. Comemoremos e saudemo-nos a todos(as) pela ousadia!!! 15 CAPÍTULO 1 EXPERIÊNCIA EXITOSA NA COORDENAÇÃO DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENFERMAGEM OBSTÉTRICA - REDE CEGONHA III PELA UFRN POR MEIO DO PROCESSO DE FORMAÇÃO- INTERVENÇÃO Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Enfermeira Obstétrica, Doutora em Ciências da Saúde, Professora da ESUFRN, Coordenadora do CEEO III – UFRN. Flavio Cesar Bezerra da Silva Enfermeiro Obstétrico, Doutor em Enfermagem, Professor da ESUFRN, Vice Coordenador do CEEO III – UFRN. 16 Experiência exitosa na Coordenação do Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica - Rede Cegonha III pela UFRN por meio do processo de formação-intervenção O Cenário de assistência obstétrica no âmbito de maternidades públicas do estado do Rio Grande do Norte historicamente se apresenta por meio de condutas prevalentemente intervencionistas. Esta realidade decorre de um modelo cartesiano estabelecido em instituições hospitalares responsáveis por prestar atendimentos voltados ao Parto e Nascimento na região nordeste do Brasil. A realidade citada anteriormente poderia desmotivar a mobilização da categoria da enfermagem obstétrica no sentido de propor estratégias de práticas não invasivas em consonância com o conhecimento científico da evolução do trabalho de parto e parto. No entanto, a expertise obstétrica e a experiência de docentes da obstetrícia atuantes na formação na Escola de Saúde da UFRN (ESUFRN) sempre considerou a existência de mudanças no paradigma Assim, diante do potencial de transformação de uma situação estabelecida no campo da assistência obstétrica, os enfermeiros obstétricos e responsáveis por conduzir a formação na área da saúde da mulher na ESUFRN depositaram confiança em contribuir com a inserção de profissionais enfermeiros espe- cializados em obstetrícia. Pois, estes são atores importantes e necessários para atingir a meta de ofertar às mulheres e famílias possibilidades diferenciadas em prol de conduzir a experiência de parir de maneira mais suave e humanística. 17 Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Flávio César Bezerra da Silva Imbuídos desse entendimento, a condução de cursos de especialização em enfermagem obstétrica financiados pelo Ministério da Saúde (MS) tem acontecido desde o ano de 2002 sob a coordenação local de docente da ESUFRN. O desafio em assumir a coordenação naquela época foi instigador na busca de compreender melhor as particularidades existentes entre categorias profissionais atuantes em concomitância no contexto da assistência ao planejamento reprodutivo, prevenção de câncer de colo de útero, pré-natal e ao parto normal. Ademais, o conheci- mento existente e o adquirido serviram como energia propulsora de traçar planejamentos e parcerias com vistas a assumir novas turmas de especialização em prol de paulatinamente fortalecer a enfermagem obstétrica entre os profissionais de saúde e junto à comunidade. Em meio a esse movimento de investir na possibilidade de superar obstáculos os quais a população feminina vivencia no contexto obstétrico, no ano de 2011 foi instituída a Rede Cegonhaorganizada a partir dos componentes: pré-natal, parto e nascimento, puerpério e atenção integral à saúde da criança (BRASIL, 2011). Visto que a Rede Cegonha direcionou atenção e investi- mento em desenvolver atividades para fortalecer redes de atenção à saúde materna em desenvolvimento nos estados brasileiros, e por existirem necessidades de formação de profissionais enfer- meiros especialistas na obstetrícia no Brasil, no ano de 2012 houve um movimento importante. Neste ano, o MS designou valor financeiro para desenvolver um novo modelo de especialização em prol de atingir as cinco regiões do país no intuito de especializar maior número de enfermeiros obstétricos os quais estivessem em formação conjuntamente em todo o Brasil. 18 Experiência exitosa na Coordenação do Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica - Rede Cegonha III pela UFRN por meio do processo de formação-intervenção Mobilizados por esta disponibilidade governamental, algu- mas Instituições Federais de Ensino foram convidadas a fazer parte da construção de um Curso de Especialização que conseguisse abranger a dimensão proposta pelo MS., Apesar de algumas Universidades terem se interessado em promover a especialização, houve dificuldades organizacionais, as quais influenciaram o direcionamento a uma condução centralizada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Isto se deu por causa da expe- riência da UFMG em já ter desenvolvido anteriormente turmas de especialização na área da enfermagem obstétrica. Então, mediante a Coordenação Central assumida pela UFMG, houve reuniões entre diversas Universidades parceiras, e esses encontros terminaram por produzir uma formatação de Curso de Especialização com Carga Horária e Matriz Curricular voltada para aproveitar os potenciais de cada realidade onde a especialização viesse a acontecer. Assim, após ajustes decor- rentes de sugestões e experiências entre todas as Universidades parceiras, no ano de 2014, deu-se o lançamento do edital para o Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica – Rede Cegonha I (CEEO I). Vale ressaltar que o CEEO I finalizou no ano de 2016 e pela visibilidade na formação dos enfermeiros obstétricos no âmbito nacional, o MS financiou outros Cursos na mesma formatação anterior. Com isso, o CEEO II veio a iniciar novas turmas nas cinco regiões do Brasil no ano de 2016 e utilizou o recurso metodoló- gico estratégico – Formação-Intervenção, o qual foi utilizado incialmente no CEEO I. Mediante esse cenário, durante o desenvolvimento das aulas teóricas e teórico-práticas em todo o Brasil, fortaleceu-se a necessidade de melhorar a proposta de Trabalhos de Conclusão de 19 Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Flávio César Bezerra da Silva Curso na modalidade de intervenção. Pois, segundo Santos Filho (2010), o processo de transformação de práticas institucionaliza- das na área de saúde requer processo de formação-intervenção. Nessa configuração, todos os envolvidos (gestão, profissionais de saúde de todas as categorias, população assistida e profissional em fase de especialização) conseguem mais facilmente observar as ações acontecendo. Na sequência dessa observação, a avaliação pode ser naturalmente desenvolvida, bem como a adesão se torna maior, e com isso, a mudança do paradigma se torna mais célere. Mas, ainda segundo Santos Filho (2010), faz-se necessário considerar três objetos/focos de intervenção durante a especialização, para que o processo da intervenção seja potencializado e possa ser monitorado e contínuo. Nessa linha de considerações, os modelos recomendados por Santos Filho (2010) consideram a necessidade de articular o processo de formação-intervenção-avaliação como bases estruturantes as quais contribuem em prol de compreender e direcionar o processo de formação-intervenção. Para tanto, con- sidera-se como o objeto/foco 1 o uso de conteúdos e estratégias pedagógico-metodológicas no Curso; no tocante ao objeto/foco 2, este diz respeito aos sujeitos/equipes (estudantes) no contexto da formação e do processo de trabalho; o objeto/foco 3 envolve as repercussões da formação para a dinâmica dos serviços e as práticas de atenção e gestão, levando em consideração as mudanças geradas para os usuários. A experiência em coordenar os cursos de especializa- ção CEEO I e CEEO II no âmbito da ESUFRN, em parceria com a Coordenação Geral da UFMG suscitou trocas de saberes e articulações de estratégias potenciais ao longo de quatro anos. 20 Experiência exitosa na Coordenação do Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica - Rede Cegonha III pela UFRN por meio do processo de formação-intervenção Aliado a isto, foi possível constatar êxitos na transformação do cenário obstétrico das maternidades de origem de atuação dos especializandos decorrentes das intervenções das duas primeiras turmas conduzidas na UFRN. Ao concluir o CEEO II, fez-se necessário descentralizar a coordenação dos cursos de especialização no Brasil, visto que as duas experiências anteriores atingiram o objetivo de dissemi- nar a formatação do processo avaliação-formação-intervenção em cada Instituição Federal que desenvolveu a especialização. Vale destacar que o MS manteve o financiamento para um novo curso, o CEEO III, no entanto priorizou dez localidades, as quais apresentaram potencial produtivo e cumprimento às exigências em nível acadêmico e administrativo. Assim, a ESUFRN foi contemplada para desenvolver a espe- cialização CEEO III, onde a coordenação assumiu sua autonomia por reconhecimento e manteve o padrão dos cursos anteriores, CEEO I e CEEO II, construído em parceira com a UFMG e demais Universidades do Brasil. No escopo da condução da especializa- ção manteve-se o olhar científico condutor dos enfermeiros em especialização com destaque para o projeto político pedagógico do CEEO III manteve a preocupação em utilizar como base de formação as competências essenciais para o desenvolvimento da obstetrícia. Considerando as competências, os enfermeiros em especia- lização foram conduzidos e orientados durante as aulas teóricas, teórico-práticas em laboratórios e práticas nos ambientes de estágio sobre a necessidade de adquirir conhecimentos, habi- lidades na destreza psicomotora e atitudes envolvendo comu- nicação e tomada de decisão. Para desenvolver articulação das competências citadas, o CEEO III seguiu as orientações contidas 21 Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Flávio César Bezerra da Silva na publicação da OPAS (2014) eu apresenta o conjunto de ferra- mentas para o fortalecimento da obstetrícia. Soma-se ainda que, dentre diversas temáticas conside- radas relevantes na formação de especialistas da enfermagem obstétrica, as boas práticas de atenção ao parto e nascimento estiveram presentes em nível teórico, teórico-prático e prático durante todas as disciplinas as quais estivessem ligadas dire- tamente ao processo da assistência da gestante, parturiente, puérpera e recém-nascido. Nesse sentido, as categorias A, B, C, D foram abordadas tendo como respaldo o documento produzido pela OMS (1996), bem como as recomendações dispostas nas diretrizes nacionais de atenção ao parto normal. Em ambos documentos citados, o estímulo ao uso de méto- dos não farmacológicos de alívio da dor (MNFAD) é incentivado para que profissionais de saúde responsáveis por conduzir o processo de parto mediante conhecimento científico e prático da evolução do trabalho de parto, situação clínica e obstétrica da mulher. Seguindo os esclarecimentos, e não existindo agravos ou diagnóstico de distócias, os MNFAD podem e devem ser inseridos na assistência prestada a parturiente e risco habitual. Em meio ao processo de especialização e as temáticas relevantes para promover experiências exitosas na absorção do conhecimento, destaca-se também que o processo avaliação- -formação-intervenção existente nos cursos CEEO I e CEEO II repercutiu em nível profissionaldos egressos, institucional de cada maternidade onde a intervenção ocorreu e em nível gerencial. Ademais, considerando que os enfermeiros que concluí- ram a especialização no CEEO III mantiveram o compromisso e empenho em realizar intervenções que viessem a transformar problemáticas dos seus cenários de atuação, a coordenação do 22 Experiência exitosa na Coordenação do Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica - Rede Cegonha III pela UFRN por meio do processo de formação-intervenção CEEO III – ESUFRN organizou produções decorrentes dos TCCs desenvolvidos pelos enfermeiros especialistas em enfermagem obstétrica da terceira turma que finalizou no mês de julho de 2019. A seguir, encontram-se capítulos os quais foram sequen- ciados considerando temáticas afins com o processo do parto e nascimento. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.459, de 24 de junho de 2011. Institui, no âmbito do Sistema Único da Saúde, - SUS – a Rede Cegonha. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal: versão resumida [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2017. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Maternidade segura. Boas práticas de atenção ao parto e nascimento. Genebra: OMS, 1996. ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DA SAÚDE. Centro Latino-Americano de Perinatologia, Saúde da Mulher e Reprodutiva. Conjunto de ferramentas para o fortalecimento da parteria nas Américas. Montevidéu: CLAP/SMR, 2014. (CLAP/SMR. Publicação Científica, 1599-03). SANTOS FILHO, S. B. O Curso de Especialização em enfermagem Obstétrica como formação- intervenção e a dimensão transversal do planejamento, monitoramento e avaliação (PM&A). Material apresentado em seminário matricial do CEEO. Belo Horizonte, 2010. 23 CAPÍTULO 2 CLASSIFICAÇÃO DE ROBSON NA REDUÇÃO DAS TAXAS DE CESARIANA Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Enfermeira Obstétrica especializada no Curso de Especialização em Obstetrícia III – Rede Cegonha pela UFRN (CEEO III-UFRN) no ano de 2019. Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos Doutora em Enfermagem, Professora do Departamento de Enfermagem da UFRN, Enfermeira Obstetra do HUAB, orientadora da EO egressa do CEEO III -UFRN. 24 Classificação de Robson na redução das taxas de cesariana O momento do nascimento é singular na vida da mulher, pois trata de decisões determinantes em vários aspectos, como por exemplo a via de parto. Assim, o protagonismo da mulher e sua autonomia devem ser consideradas nas estratégias envolvidas para redução da mor- bidade e mortalidade materna (FIOCRUZ, 2015). A assistência humanizada é um direito da parturiente. Para tanto, é fundamental que a mulher tenha conhecimento das características do parto normal e cesariana, contribuindo para o entendimento de suas indicações, benefícios e riscos envolvidos (UNICEF, 2017). O parto normal pode ser conceituado como aquele de início espontâneo, de risco habitual, mantendo-se assim até o nascimento. A criança nasce naturalmente, em apresentação cefálica de vértice, entre as 37 e as 41 semanas completas de gravidez. Já a cesárea é uma cirurgia para retirada do bebê através do abdômen da mãe, mas, como toda cirurgia, acarreta riscos. A recuperação também leva mais tempo do que com o parto vaginal (WHO, 2017). De acordo com a OMS (2015), trata-se de uma intervenção efetiva para salvar a vida de mães e bebês, porém apenas quando indicada por motivos médicos. É importante considerar que, para fazer uma correta avaliação da necessidade deste procedimento, deve-se buscar considerações sobre os recursos de saúde dispo- níveis (NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH, 2006). 25 Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos Estudos mostram que o crescimento contínuo de cesarianas é uma realidade do Brasil e do mundo, e que o aumento deste procedimento cirúrgico tem tomado proporções epidêmicas. Têm sido apontados vários fatores para esse acréscimo, a saber: gravidez de alto risco, diminuição do parto vaginal após cesariana, a obesidade e o aumento da idade materna. Trata-se de um pro- blema de saúde pública e tem motivado discussões em virtude dos potenciais riscos maternos e perinatais (ALMEIDA et al., 2014). A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece taxa de cesariana entre 10 a 15%, no entanto, o Brasil é o 2º país no mundo em realização deste procedimento com percentual de 57% na rede pública. Já no âmbito privado representa 84% dos partos. O Nordeste ocupa o 4º lugar no ranque com taxa de 51% e o Rio Grande do Norte pioneiro na região com taxa de 60% (UNICEF, 2017). Esse crescimento tem provocado muitas preocupações, tanto para os governantes quanto aos profissionais de saúde envolvidos com o processo do parto e nascimento, tendo em vista os fatores relacionados aos riscos para o binômio (mãe e filho) quando ocorre de forma desnecessária. Além disso, se deve considerar os custos gerados ao sistema de saúde (OMS, 2015). No intuito de combater essa problemática, foram lançadas várias iniciativas, dentre as quais se pode destacar a Classificação de Robson, que consiste em instrumento padrão que deverá ser utilizado, pois permite avaliar, monitorar e comparar as taxas de cesáreas. Trata-se de um método de análise baseado nas características obstétricas (WHO, 2017). Além disso, proporciona uma matriz adequada para a aná- lise, comparação e auditoria da taxa de cesarianas. Compreende um sistema simples, reprodutível, relevante do ponto de vista 26 Classificação de Robson na redução das taxas de cesariana clínico, robusto, padronizado e fácil de implementar. Os grupos encontram-se cuidadosamente definidos, são prospectivamente identificados, totalmente inclusivos, mutuamente exclusivos e baseiam-se em características obstétricas que são colhidas de rotina em todas as maternidades, como: Paridade (nulípara ou multípara com e sem cesárea anterior), Início do parto (espon- tâneo, induzido ou cesárea antes do início do trabalho de parto); Idade gestacional (pré-termo ou termo); Apresentação/situação fetal (cefálica, pélvica ou transversa); e Número de fetos (único ou múltiplo). Os 10 grupos baseiam-se nas características da grávida, da gestação e da conduta, face ao trabalho de parto e não na indicação conducente à cesariana (VERÍSSIMO et al., 2013; CLODE, 2017). Diante do uso da Classificação de Robson, a OMS espera alcançar resultados relevantes que influenciarão positivamente as taxas de cesariana das instituições por meio da identificação e análise dos grupos de mulheres que mais influenciam as taxas de cesariana daquele local; comparação dos resultados entre institui- ções diferentes, observação das práticas desenvolvidas em cada grupo; verificação da postura de instituições com resultados mais desejáveis; avaliação da eficácia de estratégias ou intervenções para otimizar a indicação de cesariana; avaliação da qualidade dos cuidados e de práticas de gestão clínica, a partir da análise dos resultados por grupos de mulheres; avaliação da qualidade dos dados coletados a partir da Classificação de Robson, para possibilitar a sensibilização de colaboradores envolvidos no processo e formulação de estratégias de melhorias (NAKAMURA et al., 2016; WHO, 2017). A situação apresentada em nível mundial e no Brasil tam- bém é uma realidade vivenciada no hospital em questão, onde 27 Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos a taxa de cesariana é de aproximadamente 49%, tornando-se necessário intervir no referido serviço, com vistas à redução do indicador. Sabe-se que a instituição em questão passou no último ano por mudança considerável no aumento da complexidade em decorrência da abertura da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal(UTIN). Esse fato pode ter favorecido o aumento deste percentual, no entanto, se faz necessário buscar instrumentos que possam subsidiar a análise e monitoramento do indicador, a partir do perfil das parturientes que procuram atendimento neste serviço. Nessa perspectiva, este estudo teve como objetivo geral implantar a Classificação de Robson no hospital em apreço com vistas ao monitoramento e redução das taxas de cesarianas nos grupos 1 e 3. Destaca-se que o grupo 1 é formado por mulheres nulíparas com gestação simples, feto em apresentação cefálica, ≥ 37 sema- nas, em trabalho de parto espontâneo. O grupo 3 compreende multíparas, sem cicatriz uterina prévia, com gestação simples, feto em apresentação cefálica, ≥ 37 semanas, com trabalho de parto espontâneo (WHO, 2017). Contudo realizou-se a implantação de uma ferramenta informatizada capaz de facilitar a implementação da referida classificação. Espera-se que tal intervenção possibilite reduzir as cesarianas nos grupos 1 e 3, já que se trata de grupos com perfil obstétrico favorável ao parto Normal. Além disso, a implantação desta intervenção trará também contribuições importantes para enfermagem obstétrica, pois de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde os grupos 1 e 3 da Classificação de Robson ressalta a atuação deste profissional. Fato este que irá reforçar a autonomia do mesmo na assistência ao parto e nascimento. 28 Classificação de Robson na redução das taxas de cesariana OBJETIVOS Objetivo geral Implantar a Classificação de Robson no hospital em apreço com vistas ao monitoramento e redução das taxas de cesarianas nos grupos 1 e 3. Objetivos específicos » Sensibilizar gestores e equipe assistencial sobre a impor- tância de implantação da Classificação de Robson; » Construir uma ferramenta a ser utilizada para captar dados obstétricos necessários para classificação dos grupos; » Capacitar a equipe assistencial bem como graduandos e residentes de medicina e multiprofissional a respeito da temática; » Implantar formulário de admissão para identificar os grupos 1 e 3; » Validar Manual sobre a utilização da Classificação de Robson; » Padronizar o uso da classificação de Robson como ferra- menta institucional. 29 Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos METODOLOGIA Cenário da intervenção Trata-se de um hospital de pequeno porte e perfil assis- tencial materno-infantil com atendimento pautado nas diretrizes da Política de Humanização. Público-alvo O público envolvido na intervenção incluiu 18 gestores, 25 enfermeiros, 18 residentes de ginecologia e obstetrícia e enfermagem e 22 médicos obstetras. Os referidos profissionais atuam prioritariamente nos seguintes setores: Pré-Parto, Parto e Puerpério (PPP), Centro Cirúrgico e Acolhimento e Classificação de Risco. Logo os beneficiários diretos foram a equipe de saúde envolvidos na assistência ao parto e nascimento desta instituição e os benificiários indiretos as parturientes que passaram a receber uma assistência obstétrica mais qualificada e humanizada e livre de intervenções desnecessárias. Metas e estratégias metodológicas A intervenção foi desenvolvida em etapas na perspectiva de sensibilizar 80% dos gestores do Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB). Para tanto, foi realizada uma reunião em 18 de fevereiro de 2019 com a equipe gestora do serviço, afim de destacar os possíveis benefícios para instituição mediante a implantação da Classificação de Robson. Tendo em vista o vínculo da instituição com a Rede Cegonha, projeto Apice On, bem como sua inserção no Modelo Humanístico do Cuidado Obstétrico, considerou-se um momento de grande 30 Classificação de Robson na redução das taxas de cesariana importância para o desenvolvimento da intervenção, uma vez que todos os envolvidos se mostraram sensíveis em colaborar para o sucesso da proposta apresentada. A segunda etapa consistiu na construção de uma ferra- menta informatizada com a colaboração da equipe da Tecnologia da Informação, com objetivo de facilitar futuramente a coleta, avaliação e monitoramento dos dados. Tal instrumento permitirá a realização da Classificação de Robson de maneira mais célere, colaborando para torná-lo um processo institucional. Para isso, foi realizada uma oficina que envolveu a equipe interdisciplinar: enfermeiro, estatístico, técnico em informática, fato que possibilitou a elaboração de um Google docs, com per- guntas pré-elaboradas e com formulas que serão capazes de classificar cada mulher em um dos dez grupos de Robson, de maneira ágil e segura. Esta oficina aconteceu no auditório do HUAB em agosto de 2018. O referido instrumento elaborado poderá futuramente ser alimentado com as informações da Declaração de Nascido Vivo ou relatórios do Sistema de Informação de Nascido Vivo (SINASC) e permitirá o diagnóstico, prospectivo ou realizado em tempo real, dessa maneira facilitará a identificação do perfil obstétrico da clientela do referido serviço. Posteriormente aconteceu em 21 de março de 2019, ofi- cina para colaboradores e residentes que atuam na assistência ao parto e nascimento. Durante a explanação a respeito da Classificação de Robson foi apresentada a ferramenta construída e as possibilidades de tratamento de dados que a mesma poderá proporcionar, facilitando a operacionalização da coleta, avaliação e monitoramento dos dados. Este momento teve como produto o Manual de orientação sobre implantação da Classificação de 31 Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos Robson no HUAB, o qual foi validado pelos profissionais presentes com expertises na área obstétrica. Foram utilizadas pastas contendo caneta, bloco de anota- ções e a programação da oficina. Além de Datashow e computador para explanação de slides com conteúdo teórico e audiovisual. Após a calorosa discussão dessa etapa da intervenção sentiu- -se a necessidade de se identificar na admissão da parturiente quem são as pacientes que possivelmente serão classificadas nos grupos 1 e 3. Para tanto, foi elaborada uma ficha de admissão, construída por uma equipe multidisciplinar (APÊNDICE D) no intuito de classificar a parturiente no ato da admissão, de modo a direcionar os referidos grupos para a assistência ao parto pela Enfermagem Obstétrica. Vale ressaltar que o instrumento foi aprovado e implan- tado no prontuário institucional após capacitação da equipe de enfermeiros da Classificação de Risco que ocorreu no mês Abril. O instrumento foi essencial para o sucesso da intervenção bem como para futuras etapas de monitoramento, uma vez que per- mitirá a identificação prévia dos grupos 1 e 3, além de fortalecer a atuação do enfermeiro obstetra nesses grupos. Acompanhamento avaliativo do projeto O Processo de avaliação do projeto de intervenção se deu por meio das etapas de testes realizadas com o instrumento construído, para avaliação da sua eficácia no desenvolvimento da referida proposta. 32 Classificação de Robson na redução das taxas de cesariana RESULTADOS E DISCUSSÃO Esta intervenção possibilitou a implantação de uma fer- ramenta informatizada capaz de classificar de maneira ágil as clientes em um dos dez grupos da Classificação de Robson, tal instrumento será fundamental para o desenvolvimento de um diagnóstico da instituição, pois permitirá a institucionalização do processo, e futuramente a avaliação e monitoramento dos indicadores gerados, para que, a partir de então, tenha-se um conhecimento em qual grupo a taxa de cesariana tem maior impacto, possibilitando dessa maneira um feedback para equipe e um planejamento de melhoria. Nessa abordagem, destaca-se que a referida especialização possibilitou além disso, o aprofundamento do conhecimento em relação à temática contribuindo também para a transformação pessoal e profissional da especializada responsável pela inter- venção apresentada em virtude doenvolvimento e compromisso mútuo dos preceptores e discentes, que possibilitou o comparti- lhamento de dúvidas, inquietações e reflexões tendo como ponto de partida as atividades desenvolvidos em cada encontro, que não se limitou a um processo unilateral e linear de transmissão de conhecimento e sim em focos de intervenção de análise que de acordo com Santos Filho (2010) são: Foco 01: estratégias pedagógicas/ metodológicas; Foco 2: sujeitos envolvidos; Foco 3: transformação da realidade e do especializando. Agora, findado esse momento, desencadeou-se empenho em escrever essa trajetória, que será agora exposta em focos, de tal modo que possa ser compreensível a quem a ela tiver acesso. Foco 01: estratégias pedagógicas/ metodológicas o Curso de Especialização em Obstetrícia III (CEEO III) aconteceu por meio 33 Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos de estratégias de ensino que foram além da educação tradicional e colocou alunos enquanto sujeitos integrantes, ativos, críticos e reflexivos, despertando a capacidade de transformar a própria realidade. É possível destacar que em todos os momentos foi visto a preocupação dos professores e preceptores em tratar os temas com embasamento cientifico atualizado, fato este que contribuiu demasiadamente para aquisição de conhecimento dos especializados, e despertou, desde o princípio, a necessidade de buscar atualização nos conteúdos discutidos durante o percurso de ensino-aprendizagem. Diante dessas considerações, é possível afirmar que o curso em apreço, ampliou as minhas competências. Desta maneira, possibilitou a capacidade de articular, mobilizar valores, conhe- cimentos e habilidades indispensáveis para o desenvolvimento das atividades inerentes ao trabalho de forma eficiente e eficaz, conforme ressalta a Resolução CNE/CEB Nº 04/99 (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 1999). Foco 2: sujeitos envolvidos: a transformação enquanto especializandos e atores envolvidos nesse processo pode ser percebida logo no princípio, pois a maneira como foi conduzido a formação fez imergir cada um na enfermagem obstétrica, tomando o cenário de atuação como fonte de inspiração para intervenções que seriam pensadas a partir do saber que estava se construindo. Desenvolver um olhar crítico, reflexivo e construtivo, foi fundamental para o alcance dos objetivos traçados para cada projeto de intervenção, de modo a fazer a diferença mesmo que inserido em realidades onde o protagonismo do enfermeiro obs- tetra já fosse realidade. Isto foi um desafio, pois era necessário um projeto de intervenção ousado que buscasse a melhorias de um processo de trabalho que já considerado bom. 34 Classificação de Robson na redução das taxas de cesariana Importante destacar que a modificação da realidade foi alcançada mediante um saber coletivo, que por sua vez motivou a articulação entre gestão, profissionais e especializandos, todos focados na melhoria do processo e no desenvolvimento do pro- tagonismo do enfermeiro obstetra e seu potencial na otimização das boas práticas de atenção ao parto e nascimento. Esse saber coletivo, a heterogeneidade de um grupo reserva grandes possibilidades de crescimento e transformação. E foi exa- tamente assim que se sucedeu a participação dos alunos no curso bem como dos sujeitos envolvidos na intervenção. Observa-se que se adquiriu autoconfiança e desenvolveram-se competências fundamentais para trabalhar em equipe. Diante dessas conside- rações, destaca-se que a especialização proporcionou a chance de conhecer melhor e descobrir pontos fracos e melhorá-los a cada dia. Além disso, possibilitou o fortalecimento da escuta mais qualificada e atitude mais coletiva, competências fundamentais para o exercício da cidadania e o trabalho em equipe. Quanto mais o curso se desenvolvia, mais o sentimento de grupo foi se sedimentando aliado a uma profunda mudança na visão sobre cada temática estudada, além de aprender a conviver e a trabalhar juntos bem como na necessidade de desenvolver e colaborar na transformação das pessoas e da vivência prática. Foco 3: transformação da realidade e do especializando: as boas práticas de atenção ao parto e nascimento nos cenários onde existe a presença do enfermeiro obstetra é uma realidade, assim fica clara que a especialização em obstetrícia oportuniza cada vez mais a modificação destes cenários e autonomia des- tes profissionais, uma vez que permite a ampliação do saber embasado em evidencias cientificas, fazendo com que cada um 35 Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos dos envolvidos que passou por esse processo possa ser agente de mudança dentro do cenário de trabalho no qual está inserido. Importante ressaltar que os produtos da intervenção foram apresentados aos gestores da instituição bem como aos médicos, enfermeiros obstetras e residentes, no intuito de sensibilizá-los a respeito da importância da implantação da Classificação de Robson no serviço. Na ocasião, vislumbrou-se a relevância de se trabalhar nos grupos 1 e 3 tendo em vista que correspondem aos grupos absolutamente favoráveis ao parto normal. Com vistas a deixar claro, a seguir encontram-se as figuras de número 1 a 4 contendo os produtos decorrentes da presente intervenção apresentada. Vale destacar que houve produtos decorrentes desta intervenção conforme Figuras citadas. Figura 1 – Ficha de espelho gerada com resultado da Classificação de Robson a partir do preenchimento do Google Docs Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019. 36 Classificação de Robson na redução das taxas de cesariana Figura 2 – Ferramenta construída que possibilitará classificar as mulheres segundo Robson Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019. Figura 3 – Manual de orientação para Classificação de Robson Fonte: Elaborado pelas autoras, 2019. 37 Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos Figura 4 – Ficha que possibilitará a estratificação de risco para parto Normal com identificação dos grupos 1 e 3 Para obter acesso a estes produtos se faz necessário acessar o endereço eletrônico da página da Escola de Saúde da UFRN, a saber: <http://escoladesaude.ufrn.br/?page_id=8156>. Os próximos passos consistem no monitoramento e avalia- ção do indicador bem como no estabelecimento de novas estraté- gias com vistas à redução das taxas de cesarianas desnecessárias e assim colaborar para o fortalecimento do Modelo Humanístico do Cuidado. 38 Classificação de Robson na redução das taxas de cesariana CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento do referido projeto permitiu a implan- tação da Classificação de Robson no serviço. Espera-se que o referido processo não só torne a classificação institucional, como também proporcione uma avaliação e monitoramento dos dados, e consequentemente a redução das taxas de cesariana especial- mente nos grupos 1 e 3 que são prioritários para o parto normal. Diante dos resultados apresentados, é possível afirmar, que ao longo dessa caminhada, houve participação em várias atividades, que culminaram com a superação das expectativas que consistiam inicialmente em trocar experiências com os colegas e aprender novas estratégias e ferramentas que viessem a contribuir de forma significativa para a melhoria do serviço. O desenvolvimento dos projetos de intervenção pensados para cada serviço, foi fundamental, funciona como impulso inicial para transformação de um ponto da realidade que precisa ser melhorado, e envolve muitos atores da instituição em um só objetivo, fato este que é essencial para modificação ou melhoria de um processo de trabalho. Nessa abordagem pode-se afirmar que ser aluno do CEEO III foi essencial para o crescimento profissional, pois passou-se a entender a obstetrícia como ciência, permitindo o desenvolvi- mento de um trabalho com mais autonomia e segurança. Além disso, o fato de fazerparte de uma instituição onde já existe o protagonismo do enfermeiro obstetra na assistência ao parto e nascimento foi ainda mais desafiador, e fez pensar em intervir em um processo que envolve não só o enfermeiro obstetra mais todos os atores que assistem o parto. Assim, “reduzir taxa de cesariana” foi desafiador a princípio. Para isso, trabalhei com 39 Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos o objetivo de implantar a Classificação de Robson no serviço, envolvendo nessa ação diversos atores e buscando o apoio da gestão, já que se trata de um processo estruturante, contínuo e com resultados para médio e longo prazo. É relevante destacar que não se esperava aprender tanto e o quanto este novo conhecimento iria contribuir, de forma tão significativa, para a reformulação das práticas profissionais, pessoais e melhoria do serviço. Pode-se afirmar que na atualidade, há maior fortalecimento e alicerce para multiplicar esse aprendizado para outras pessoas. Assim, cabe estacar o reconhecimento ao CEEO III pela existência de planejamento pedagógico que estabelece sequência e conteúdo que visam alcançar objetivos referentes à aquisição de conhecimentos, competências, destrezas, habilidades, atitudes, capacidade de saber ser, fazer e conviver. O curso, deste modo, se converteu em contexto de apren- dizagem, com potencialidade que favoreceu o aperfeiçoamento pessoal e profissional. Deste modo, corrobora-se com Joyce e Clift, apud García (1999), quando afirmam que a influência mais importante de um curso de formação é estimular a capacidade para aprender e o desejo de exercer esse conhecimento. Ressalta-se que ao ingressar no curso, a especializando autora do presente trabalho alimentava a expectativa de se tornar um profissional melhor, de encontrar novos caminhos, novas possibilidades de atuação. Afirma-se que foi além das expectativas, uma vez que desencadeou um significativo processo de mudança, responsável por redimensionar concepções e busca contínua com vistas à transformação da práxis. 40 Classificação de Robson na redução das taxas de cesariana REFERÊNCIAS ALMEIDA, Daniela et al. Análise da taxa de cesarianas e das suas indicações utilizando a classificação em dez grupos. Nascer e Crescer, Porto, v. 23, n. 3, p. 134-139, set. 2014. CLODE, N. A classificação de Robson. Apenas uma forma de classificar cesarianas? Acta Obstet Ginecol Port., v. 11, n. 2, p. 80-2, 2017. FUNDAÇÃO OSVALDO CRUZ - FIOCRUZ. Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Saúde Pública, 2015. Disponível em: <http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/ informe/site/arquivos/anexos/nascerweb.pdf>. Acesso em: 20 ago. 2018. FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA - UNICEF. Quem espera, espera. Nova Iorque: UNICEF, 2017. GARCÍA, M. C. Formação de professores: para uma mudança educativa. Porto: Porto Editora, 1999. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CEB Nº 04/99.institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico. Brasília, DF, 1999. NAKAMURA-PEREIRA, M. et al. O uso da classificação de Robson para avaliar a taxas de cesariana no Brasil: o papel da fonte de pagamento para o parto. Reprod Health., v. 13, n. 3, 2016. NATIONAL INSTITUTES OF HEALTH. NIH State-of-the-Science Conference Statement on cesarean delivery on maternal request. NIH Consens. StateSci. Statements, v. 23, n. 1, p. 1-29, 2006. Disponível em: <https://consensus.nih. gov/2006/cesareanstatement.pdf>. Acesso em: 20 out. 2018. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE - OMS. Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas. Genebra: Organização Mundial de Saúde, 2015. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/161442/3/ WHO_RHR_15.02_por.pdf>. Acesso em: 20 set. 2018. 41 Carlla Cilene Alves Dantas Petrônio Flávia Andréia Pereira Soares dos Santos SANTOS FILHO, S. B. O Curso de Especialização em enfermagem Obstétrica como formação- intervenção e a dimensão transversal do planejamento, monitoramento e avaliação (PM&A). Material apresentado em seminário matricial do CEEO. Belo Horizonte, 2010. VERÍSSIMO, C. A. et al. Implementação do 10-group Classification System: compreender o parto por cesariana. Acta Obstet Ginecol Port. v. 7, n. 1, p. 3-7, 2013. WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO. Robson Classification: Implementation Manual. Geneva: World Health Organization, 2017. p. 1-56. 43 CAPÍTULO 3 IMPLEMENTAÇÃO DO PARTOGRAMA NO CENÁRIO DO TRABALHO DE PARTO DA MATERNIDADE LEIDE MORAIS Francisca Marta de Lima Costa Souza Enfermeira Obstétrica especializada no Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica III – Rede Cegonha pela UFRN (CEEO III – UFRN) no ano de 2019, Doutora em Enfermagem. Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho Enfermeira Obstétrica, Doutora em Ciências da Saúde, Orientadora da EO egressa do CEEO III – UFRN, Coordenadora do CEEO III – UFRN. Flávio César Bezerra da Silva Enfermeiro Obstétrico, Doutor em Enfermagem, Coorientador da EO egressa do CEEO III – UFRN, Vice Coordenador do CEEO III – UFRN. 44 Implementação do partograma no cenário do trabalho de parto da Maternidade Leide Morais A qualidade do atendimento prestado à mulher no período gravídico-puerperal é, por vezes, avaliada a partir da mortalidade materna e infantil, sendo as avaliações do processo de cuidado realizadas em menor escala. Porém tais avaliações são relevantes uma vez que possibilitam verificar se as práticas realizadas no âmbito institucional estão em consonância com as evidências científicas disponíveis, assim como o seu impacto na qualidade da assistência prestada (SANDIN- BOJO; HASHIMOTO; KANAL, et al., 2012). Levando em consideração a importância de prever impac- tos, uma das ferramentas possível de ser utilizada para avalia- ção do processo de cuidar é o partograma, recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1994, como instru- mento de avaliação da qualidade da assistência ao parto. O instru- mento indica as possíveis complicações maternas e fetais durante o trabalho de parto, possibilita tomada de decisão apropriada para os desvios da normalidade e contribui na redução da morbidade e mortalidade materna e neonatal (DALAL; PURANDARE, 2018). Cabe ressaltar que a implementação do partograma foi sugerida para todas as maternidades do mundo, principalmente nos países de baixa renda (LIMA; LEITE; DUARTE, et al., 2017). Porém, estudo realizado em onze maternidades do Estado de Sergipe, sobre as práticas e intervenções obstétricas em mulheres, evidenciou que o partograma estava preenchido em apenas 39,4% dos prontuários, revelando que as boas práticas obstétricas são 45 Francisca Marta de Lima Costa Souza - Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho - Flávio César Bezerra da Silva pouco utilizadas e intervenções desnecessárias são frequentes (PRADO; MENDES; GURGUEL, et al., 2017). Nessa linha de raciocínio, segundo Dalal, Purandrade (2018), apesar de décadas de treinamento e investimento, as taxas de implementação e a capacidade de usar corretamente o partograma permanecem baixas. No entanto, o uso competente da ferramenta, pode salvar vidas maternas e fetais, pois permite o monitorado de perto e a identificação precoce das alterações. Ademais, na esfera das políticas públicas de saúde, o Ministério da Saúde (MS) lança a Rede Cegonha em 2011 por meio da Portaria nº 1.459, como uma rede de cuidados que visa entre outros objetivos, a mudança do modelo de assistência ao parto e nascimento, fundamentada nos princípios da humanização e em consonância com o documento da OMS de 1996: “Boas práticas de atenção ao parto e nascimento”, elencando em um dos com- ponentes “parto e nascimento”, o monitoramento cuidadoso do progresso do parto por meio do uso do partograma, classificada na categoria A:“Práticas demonstradamenteúteis e que devem ser estimuladas”(BRASIL, 2011). Tendo em vista o contexto anteriormente citado, este trabalho tem sido direcionado a implementação do partograma na assistência ao parto e nascimento, ofertada na Maternidade Leide Morais (MLM), a qual atua a especializanda desta inter- venção. Embora o serviço em questão tenha estrutura física que propõe mudança de modelo assistencial, caracterizada por suítes pré-parto, parto e pós-parto (PPP), com objetivo de ofertar um ambiente de cuidados que favoreça a realização das boas práticas de atenção ao parto e nascimento, e implantado algumas das principais diretrizes da Rede cegonha, como a garantia do acompanhante no PPP e o acolhimento com classificação de risco, 46 Implementação do partograma no cenário do trabalho de parto da Maternidade Leide Morais se faz necessário, o aprimoramento nas práticas assistenciais, fundamentadas em evidências científicas, com o propósito de diminuir as intervenções desnecessárias e a alta taxa de parto cirúrgico. No tocante as práticas demonstradamente úteis que devem ser estimuladas, bem como as práticas baseadas em evidencias científicas, entre outras limitações, observa-se na instituição o acompanhamento da parturiente sem o preenchimento do partograma. Dos 4.154 partos ocorridos no período de janeiro de 2017 a junho de 2018, 41% (1.737) foram partos cirúrgicos e apenas 1,5% (63) de todos os partos ocorridos no recorte de tempo especificado tinham o partograma preenchido, com ressalva a observação de que os registros referentes às informações ao exame obstétrico estavam incompletos. Diante o exposto, e na perspectiva de contribuir com a solução da problemática, foi proposta a capacitação da equipe multiprofissional quanto ao preenchimento do partograma e a elaboração do procedimento operacional padrão sobre a temá- tica, pensando na redução das intervenções desnecessárias, os partos cesáreos, os riscos de óbito fetal intraparto e melhoria da qualidade da assistência. OBJETIVOS Objetivo geral Implementar o partograma no cenário do trabalho de parto na Maternidade Leide Morais. 47 Francisca Marta de Lima Costa Souza - Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho - Flávio César Bezerra da Silva Objetivos específicos Sensibilizar a gestão para implementar o partograma no processo do trabalho de parto na Maternidade Leide Morais; Sensibilizar a equipe multiprofissional em relação à impor- tância do preenchimento do partograma e seu significado como ferramenta de monitoramento do processo de trabalho de parto; Capacitar os enfermeiros e médicos para o preenchimento completo do partograma; Elaborar o procedimento operacional padrão quanto ao preenchimento do partograma pelos enfermeiros obstetras e médicos obstetras. METODOLOGIA Apresentação do serviço A Maternidade Profº Leide Morais (MLM), localizada no bairro de Nossa Senhora da Apresentação, Zona Norte de Natal no Rio Grande do Norte, foi construída em 2008 com recurso do Governo Federal em parceria com a Prefeitura Municipal de Saúde do Natal/RN, e inaugurada em março de 2009. O serviço dispõe em sua estrutura física: um pronto aten- dimento com 03 leitos, 11 suítes pré-parto, parto e pós-parto (PPPs), 26 leitos de alojamento conjunto para puérperas e 02 leitos para mulheres em processo de abortamento, assim como, uma Central de Material e Esterilização (CME), Centro Cirúrgico (CC), posto de coleta de aleitamento materno, sala de classifica- ção de risco, sala de vacina, farmácia, laboratório para exames clínicos e setor de ultrassonografia. A instituição possui em seu 48 Implementação do partograma no cenário do trabalho de parto da Maternidade Leide Morais quadro geral 387 funcionários de nível superior e médio, como: enfermeiros generalistas e obstetras, assistente social, médicos obstetras, pediatras, fonoaudiólogas, técnicos em enfermagem, farmacêutico, entre outros para assistência direta e indireta das díades (mãe/filho) e mulheres em processo de abortamento nos 38 leitos distribuídos na Maternidade. A instituição é de risco habitual e referência na assistência ao parto humanizado, vaga sempre para todas as usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) que moram no Município de Natal. Realiza em média 220 partos por mês, 56% normais e 44% por intervenção cirúrgica. A Leide Morais tem vinculação com as maternidades de alto risco e a Atenção Primária em Saúde de Natal com vistas a asse- gurar as parturientes e puérperas o conjunto de ações e serviços que necessitam, com efetividade e eficiência. As parturientes atendidas na Maternidade que são classificadas como alto risco ou evoluem com complicações como pré-eclampsia, eclampsia entre outras, são transferidas para a Maternidade referência no Hospital José Pedro Bezerra. Em 2015 iniciou o grupo de vinculação das gestantes na Maternidade, onde as mulheres grávidas têm a oportunidade de conhecerem o local do parto, sanarem as dúvidas quanto ao parto e o uso das medidas não farmacológicas ofertadas pela equipe. Desde 2017, a equipe tem participado de treinamentos com o objetivo de conquistar a Certificação do Selo Iniciativa Hospital Amigo da Criança e Cuidado Amigo da Mulher. Ademais, a possibilidade da abertura do Centro de Parto Normal (CPN), para os enfermeiros obstetras realizarem os partos, tem sido discutido pelos gestores atuais. A maternidade aderiu à Rede Cegonha e foi beneficiada com verba para ambiência do Serviço. 49 Francisca Marta de Lima Costa Souza - Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho - Flávio César Bezerra da Silva Público alvo O projeto de intervenção teve como público alvo a equipe de enfermagem (enfermeiros e técnicos de enfermagem) e equipe médica que assistem as mulheres em trabalho de parto. Estes poderão colaborar para resolução da problemática identificada a partir do diagnóstico situacional da Maternidade Leide Morais, que foi a falta de preenchimento do partograma nos prontuários das parturientes. Para isso, a discussão sobre a abertura e preenchimento do partograma foi realizado um Curso de Extensão com carga horária de 30 horas, na Maternidade Leide Morais. Esse momento oportunizou também discussão sobre as medidas não farmaco- lógicas como o balanço pélvico do tipo cavalinho e a massagem com aromaterapia. Indiretamente as parturientes que forem admitidas e assis- tidas na instituição receberão os benefícios do monitoramento do partograma em tempo oportuno, e com isso serão beneficiadas na expectativa de minimizar intervenções desnecessárias, e melhorar a condução do trabalho de parto pelos profissionais da assistência obstétrica. RESULTADOS Com vistas a descrever os resultados, se faz necessário ter maior atenção ao processo mais ativo da intervenção apresentada. Assim, em essência, as estratégias metodológicas da intervenção foram desenvolvidas em seis etapas: sensibilização da gestão; sensibilização dos profissionais (enfermeiros, técnicos e médicos); curso de extensão: “Boas práticas de atenção ao parto e nasci- mento: condutas imprescindíveis para a evolução do processo 50 Implementação do partograma no cenário do trabalho de parto da Maternidade Leide Morais de trabalho de parto da parturiente”, com ênfase nos conteúdos: partograma, balanço pélvico do tipo cavalinho e aromaterapia, com duração de 30 horas; elaboração do procedimento operacional padrão (POP) (Figura 1), aquisição de display; e a ficha avaliativa da Maternidade Leide Morais complementar ao partograma de Friedman sobre uso de métodos não farmacológicos (Figura 2). Figura 1 – Procedimento operacional padrão para abertura do partograma Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. 51 Francisca Marta de Lima Costa Souza - Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho - Flávio César Bezerra da Silva Para obter acesso a este produto se faz necessário acessar o endereço eletrônico da página da Escola de Saúde da UFRN, a saber: <http://escoladesaude.ufrn.br/?page_id=8156>.Figura 2 – ficha avaliativa da Maternidade Leide Morais, complementar ao partograma de Friedman sobre uso de métodos não farmacológicos Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. Durante o curso de extensão foram destacadas as melho- res evidências científicas referentes à efetividade dos temas discutidos, fazendo um resgate das experiências vivenciadas no Curso de Especialização de Enfermagem em Obstetrícia da Rede 52 Implementação do partograma no cenário do trabalho de parto da Maternidade Leide Morais Cegonha III, aliadas com as práticas nos serviços; elaboração do POP; preenchimento do partograma. Para alcançar o interesse e adesão ao projeto, primeiro foi realizado uma apresentação quanto a proposta da intervenção, à equipe de gestores no mês de outubro de 2018, destacando os possíveis benefícios para a instituição, tendo em vista seu vínculo com a Rede Cegonha e potencial para a melhoria dos indicadores da área obstétrica do hospital. A segunda etapa ocorreu no mês de novembro de 2018, com o propósito de sensibilizar a equipe multiprofissional quanto à importância do partograma, seu preenchimento e efetividade no cenário do trabalho de parto. Para isso, realizou-se roda de con- versa durante o plantão no posto de enfermagem da Maternidade. No terceiro momento, foi realizado um curso de extensão em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), nos meses de janeiro e fevereiro de 2019, cujo público alvo foram os enfermeiros, técnicos em enfermagem e médicos. O evento aconteceu no auditório da Maternidade Leide Morais. Participaram 52 profissionais, sendo 10 enfermeiros e 42 técnicos em enferma- gem. Todos os participantes receberam material didático, pastas contendo pasta, caneta, bloco de anotações, partograma, caso clínico e a programação do curso. Utilizou-se data show e compu- tador para o conteúdo teórico, após foi organizado grupos para avaliação de caso clínico e preenchimento do partograma. Inicialmente, utilizou-se a metodologia ativa do tipo sala de aula invertida para a discussão do tema. A programação iniciou com acolhimento e boas-vindas e posteriormente aconteceu uma atividade no intuito de resgatar o conhecimento dos profissionais quanto à temática. Para isso, foi disponibilizado um caso clínico para preenchimento do partograma. A turma foi dividida em 53 Francisca Marta de Lima Costa Souza - Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho - Flávio César Bezerra da Silva três grupos, onde houve disponibilidade de 30 minutos para a atividade, após essa etapa sucedeu-se apresentação dos casos e aula expositiva esclarecendo as dificuldades elencadas pelos grupos quanto ao preenchimento do instrumento. Destacou-se como complexo a representação da descida da apresentação fetal nos planos de DeLee ou Rodge e avaliação da pelve (promotório atingível ou inatingível; sacro normal ou saliente; cóccix móvel ou fixo; espinhas ciáticas salientes ou planas; ângulo subpúbico: maior que 90 graus). Por conseguinte, foi posto na apresentação os índices de partos normais versos cesarianos referentes ao ano de 2017 a 2018, fazendo a correlação com a recomendação da OMS e as políticas públicas voltadas à saúde da mulher. O quarto momento foi apresentado o POP referente à abertura e preenchimento do partograma construído e avaliado pelos enfermeiros obstetras, que será usado para consulta da equipe de plantão. O quinto ponto foi à demonstração da ficha avaliativa da Maternidade Leide Morais, complementar ao partograma de Friedman sobre uso de métodos não farmacológicos. E por último a apresentado a aquisição dos displays que foram fixados nas suítes PPPs. Segue os dados consolidados no quadro 1 referente aos resultados. Quadro 1 – Estratégias metodológicas desenvolvidas ao longo da especialização para obtenção dos resultados FASES PÚBLICO ALVO PERÍODO LOCAL METO- DOLOGIA UTILIZADA MATERIAL NECES- SÁRIO 1ª -sensi- bilização da gestão Direção, adminis- tração de recursos humanos e gerência de enfer- magem 16/10/2018 Mater- nidade Leide Morais Apresentação do projeto por meio de uma exposição dialogada. Projeto impresso 54 Implementação do partograma no cenário do trabalho de parto da Maternidade Leide Morais 2º - sensi- bilização da equipe multipro- fissional Enfer- meiros, técnicos em enfer- magem e médicos 05, 14, 19 e 23/11/2019 Mater- nidade Leide Morais Roda de con- versa no posto de enfermagem Partograma impresso 3ª Curso de extensão: “Boas práticas de atenção ao parto e nascimento: condutas imprescin- díveis para a evolução do processo do trabalho de parto da parturiente” Enfer- meiros, técnicos em enfer- magem e médicos 31/01/2018 13/02/2018 28/02/2018 Mater- nidade Leide Morais -Dinâmica de interação em equipe -Preenchimento do partograma por meio de caso clínico; -Aula expositiva e dialogada sobre parto- grama baseado em evidências científicas; -Lanche - Encerramento 15min 30min 1 h e 30 min 30 min. 4ª Constru- ção do Pro- cedimento Operacional Padrão referente ao preenchi- mento do partograma Enfer- meiros obstetras Fevereiro/ 2019 Mater- nidade Leide Morais Roda de conversa com os enfermeiros obstetras. 60 min 5º - Aqui- sição de Display para fixação dos partogra- mas nas portas das suítes PPPs. A especia- lizanda Fevereiro /2019 Mater- nidade Leide Morais Ideia aprovada pela direção. Foi utilizado dinheiro do bazar para com- pra dos displays, os quais já estão fixos nas portas das suítes PPPs. 6º Ficha avaliativa da Maternidade Leide Morais comple- mentar ao partograma de Friedman sobre uso de métodos não farma- cológicos A especia- lizanda Fevereiroq /2019 Mater- nidade Leide Morais Ficha aprovada pela equipe mul- tiprofissional 55 Francisca Marta de Lima Costa Souza - Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho - Flávio César Bezerra da Silva Dessa maneira foi possível contemplar a articulação entre os focos 1, 2 e 3 (Figura 3) proposto na especialização. O primeiro foco diz respeito às estratégias metodológicas contidas nas conduções da formação em nível teórico e prático utilizadas ao longo do curso. A partir das estratégias metodológicas do curso foi possível: realizar o levantamento do diagnóstico situacional do município de Natal e da instituição em que a especializanda relatora deste trabalho atua profissionalmente como enfermeira; reconhecer as situações problemas existentes na maternidade local de vínculo da especializanda, as quais pudessem ser trabalhadas em prol de resolutividade mediante um projeto de intervenção. Na sequência, foi possível utilizar estratégias baseadas em melhores evidências científicas, as quais embasassem o uso de boas práticas do parto e nascimento de tal maneira que surgiu a necessidade de realizar um curso de extensão, em parceria com outras especializandas da especialização ora vivenciada, para instrumentalizar a equipe multiprofissional da Maternidade Leide Morais. O segundo foco destaca os sujeitos envolvidos no processo, que diretamente dizem respeito à especializanda instituidora da intervenção ora apresentada cuja repercussão imediata diz respeito ao envolvimento dos profissionais (enfermeiros, técnicos em enfermagem e médicos), os quais têm sido coparticipes no processo de implementações das intervenções e subsequentes transformações da práxis na obstetrícia e indiretamente as partu- rientes que são admitidas para assistência ao parto e nascimento, as quais têm sido conduzidas com mais afinco pela inserção mais segura dos métodos não farmacológicos. E por último, o terceiro foco, se refere às repercussões positivas decorrentes das implementações supracitadas e 56 Implementação do partograma no cenário do trabalho de parto da Maternidade Leide Morais transformações que têm ocorrido na esfera das assistências obstétricas e na presença da gestãocom mais afinco no aspecto de preservação e incentivo em prol de fortalecer as intervenções propostas incialmente e com isso melhorar a dinâmica do serviço. Figura 3 – Articulação entre os focos 1, 2 e 3 Fonte: Elaborado pelos autores, 2019. Acompanhamento avaliativo Para avaliar a implementação do partograma será monito- rado os prontuários e ofertado a equipe ajuda no preenchimento da ferramenta quando for necessário. Para isso, a especializanda fará um levantamento dos prontuários para avaliar se os parto- gramas estão sendo preenchidos e disponibilizará os resultados para gestão e a equipe multiprofissional. 57 Francisca Marta de Lima Costa Souza - Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho - Flávio César Bezerra da Silva CONSIDERAÇÕES FINAIS O Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica III da Rede Cegonha resultou na transformação do olhar profissio- nal e humano, despertando o interesse de colocar em prática os conhecimentos adquiridos e compreender a capacidade e autonomia profissional do enfermeiro obstetra no cenário do trabalho de parto. Os encontros teóricos e práticos comprovaram e subsi- diaram o quanto é possível prestar uma assistência obstétrica humanizada, com tecnologias não invasivas, eficazes, de fácil aplicabilidade e viáveis nas ações e serviços de saúde, princi- palmente no Sistema Único de Saúde, tendo em vista o grupo de profissionais de saúde que atuam e acreditam nessa política universal e equânime. Pensar em mudanças bruscas na prática obstétrica poderia ser um projeto bem ambicioso, mas a intenção tem sido sensibilizar, fornecer opções e técnicas que possibilitem a transformação de condutas profissionais voltadas ao trabalho de parto com o intuito de reduzir as intervenções desnecessárias, assim como o número de cesáreas, por meio de ferramentas eficazes e métodos que auxiliem efetivamente na evolução natural do nascimento. No âmbito da formação, o desenvolvimento do aprendi- zado relacionado aos conteúdos teóricos, construção/ajustes do trabalho de conclusão de curso concatenados aos estágios de assistência ao parto e nascimento, ao recém-nascido e às parturientes em situação de alto risco abrangeu olhar atento da enfermeira relatora especializanda deste trabalho. Pois, em meio a todo o percurso traçado desde o início do CEEO III, houve o des- pertar do interesse em melhor conduzir a inserção do partograma 58 Implementação do partograma no cenário do trabalho de parto da Maternidade Leide Morais no cenário da maternidade de atuação. Mediante esse interesse em atuar mais direcionada a esta transformação da realidade do serviço, aliado aos instrumentos disponibilizados no curso e sobretudo durante as avaliações de evolução do trabalho de parto, o uso do partograma se apresentou como exercício de aprendizagem e empoderamento da especializanda executora do relatório ora apresentado. Quanto ao curso de extensão na Instituição de lotação da especializanda, “Boas práticas de atenção ao parto e nascimento: condutas imprescindíveis para a evolução do processo de trabalho da parturiente” foi planejado e executado com vistas ao aprimo- ramento da equipe multiprofissional da Maternidade Leide Morais. A ação educativa não só proporcionou a sensibilização dos profissionais, mas esclareceu por meio de evidências científicas que o preenchimento do partograma reduz as intervenções des- necessárias, as indicações de cesáreas e contribuirá com as ações que tangem o alcance dos objetivos do milênio. Nesse mesmo curso de extensão houve a participação de duas outras especializandas, as quais sensibilizaram da equipe quanto aos métodos não farmacológicos: massagem com aromate- rapia e o uso do balanço pélvico do tipo cavalinho. Esse momento também oportunizou elementos importantes para elaboração POP, adaptação do partograma e acréscimo dos métodos não farma- cológicos de alívio da dor no verso do instrumento. É importante deixar registrado que as atividades citadas foram bem aceitas pela gestão e profissionais que participaram do curso. Apesar do curso de extensão também ter sido destinado aos médicos da instituição, por atualmente serem eles que conduzem os partos na Maternidade Leide Morais, não tivemos a participação de nenhum médico obstetra, porém, tivemos a participação de 59 Francisca Marta de Lima Costa Souza - Jovanka Bittencourt Leite de Carvalho - Flávio César Bezerra da Silva enfermeiros generalistas e obstetras, e técnicos em enfermagem, atores que vem contribuindo com as mudanças no cenário do parto, empoderando a mulher a ser a protagonista no processo do trabalho de parto. Vale ressaltar que a intervenção ora apresentada não se encerra aqui, pois certamente demandará de tempo para que os resultados sejam consolidados no serviço mediante a aceitação e preenchimento do partograma e consequentemente na redução das intervenções desnecessárias. Acredita-se que a semente da transformação foi plantada e a sensibilização acerca da impor- tância da temática foi desencadeada. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Recomendações assistenciais para prevenção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica. Estratégias Zero Morte Materna por hemorragia pós-parto. Manual Técnico. 2018. Disponível em: <http://iris.paho.org/xmlui/bitstream/handle/123456789/34879/ 9788579671241-por.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 10 ago. 2018. ______. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde. 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