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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS EMILY CAROLINE BEZERRA ALEXANDRE Formulação de tintas para células solares orgânicas de alta eficiência através de parâmetros de solubilidade de Hansen Natal-RN 2020 EMILY CAROLINE BEZERRA ALEXANDRE Formulação de tintas para células solares orgânicas de alta eficiência através de parâmetros de solubilidade de Hansen Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais, do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Engenharia de Materiais. Orientador: Prof. Dr. Mauricio Roberto Bomio Delmonte Natal-RN 2020 FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede Alexandre, Emily Caroline Bezerra. Formulação de tintas para células solares orgânicas de alta eficiência através de parâmetros de solubilidade de Hansen / Emily Caroline Bezerra Alexandre. - 2020. 63 f.: il. Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia de Materiais, Natal, RN, 2020. Orientador: Prof. Dr. Mauricio Roberto Bomio Delmonte. 1. Células solares orgânicas - Monografia. 2. Parâmetros de solubilidade de Hansen - Monografia. 3. Formulação de tintas - Monografia. 4. Solventes verdes - Monografia. I. Delmonte, Mauricio Roberto Bomio. II. Título. RN/UF/BCZM CDU 66.061 FOLHA DE APROVAÇÃO Assinaturas dos membros da comissão examinadora que avaliou e aprovou a Monografia do(a) candidato(a) Emily Caroline Bezerra Alexandre, realizada em 11.11.2020. BANCA EXAMINADORA: ______________________________________________________ Professor Doutor Mauricio Roberto Bomio Delmonte - Orientador UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) _______________________________________________________ Professora Doutora Fabiana Villela da Mota - Avaliadora 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) _______________________________________________________ Mestre Anderson de Azevedo Gomes Santiago - Avaliador 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (UFRN) DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus pais por terem me proporcionado uma educação de qualidade durante toda minha vida AGRADECIMENTOS A Deus, o autor da vida, por me ajudar a ultrapassar todos os obstáculos encontrados ao longo do curso. Aos meus pais Iza e Malco pelo apoio e incentivo que serviram de alicerce para as minhas realizações. E ao meu irmão Malco Junior pela amizade e atenção dedicadas quando sempre precisei. Ao meu orientador professor Dr. Mauricio Bomio que apesar da intensa rotina de sua vida acadêmica aceitou me orientar nesta monografia. Obrigada pela confiança em mim depositada. A professora Dr. Derya Baran por ter me acolhido em seu grupo de pesquisa na KAUST e por todo o suporte para a realização deste projeto. Assim como, a todos do OMEGA-Lab, em especial, ao meu supervisor Daniel Corzo, obrigada pelas contribuições dadas durante todo o processo. Ao professor Dr. Nicolau Apoena sua dedicação e atenção foram essenciais para que esta graduação fosse concluída satisfatoriamente. A todos os meus professores do curso de Engenharia de Materiais da UFRN pela excelência da qualidade técnica de cada um. A todos os meus amigos do curso de graduação que compartilharam dos inúmeros desafios que enfrentamos, sempre com o espírito colaborativo. Em especial aos amigos que fiz no LabPol. A King Abdullah University of Science and Technology, por uma das melhores experiências da minha vida e por ter arcado com a realização deste projeto. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por ter me dado a chance e todas as ferramentas que me permitiram chegar ao final desse ciclo de maneira satisfatória. RESUMO Neste trabalho, determinou-se os parâmetros de solubilidade do polímero doador (PTB7-Th) e do aceitador não fulereno (IEICO-4F), bem como de seu sistema de heterojunção em volume (BHJ) PTB7-Th:IEICO-4F usado como camada fotoativa em células solares orgânicas (OSCs). Primeiro calculou-se os parâmetros de solubilidade de Hansen (HSP) dos materiais doadores e aceitadores por meio do método de gradiente de solvente binário, seguindo uma escolha cuidadosa do sistema de mistura de solventes de dois componentes, em que variou-se a composição das misturas solvente-não solvente. A transição da solubilidade para a não-solubilidade permitiu a triagem exata dos limites de solubilidade em diferentes direções das coordenadas do HSP e a determinação precisa da esfera de Hansen para o PTB7-Th e o IEICO-4F. Além disso, investigou-se a eficiência na fabricação de dispositivos orgânicos utilizando solventes verdes na formulação das tintas, um passo necessário para sua comercialização. Relacionou-se as eficiências de conversão de energia (PCE) do doador-aceitador e a morfologia da superfície para a formulação com base no sistema de solventes não halogenado 1,2-xileno:tetralina com os solventes de referência halogenados, clorobenzeno, o-diclorobenzeno e 1-cloronaftaleno. Em particular, o sistema não halogenado atingiu o PCE de 9,8%. Palavras-chave: células solares orgânicas, parâmetros de solubilidade de Hansen, formulação de tintas, solventes verdes. ABSTRACT In this project, we determined the solubility parameters of the donor polymer (PTB7-Th) and the non-fullerene acceptor (IEICO-4F), as well as its PTB7-Th:IEICO-4F bulk heterojunction (BHJ) blend used as a photoactive layer in organic solar cells (OSCs). We first calculate the Hansen solubility parameters (HSP) of the donor and acceptor materials using the binary solvent gradient method, following a careful choice of the two-component solvent mixing system, where we vary the composition of the solvent-non-solvent mixtures . The transition from solubility to non-solubility allowed the exact screening of the solubility limits in different directions of the HSP coordinates and the precise determination of the Hansen sphere for PTB7-Th and IEICO-4F. In addition, we continue investigating the efficiency in the manufacture of organic devices using green solvents in the formulation of inks, a necessary step for their commercialization. We related the power conversion energy (PCE) of the donor-acceptor and the surface morphology for the formulation based on the non-halogenated solvent system 1,2-xylene:tetralin with the halogenated reference solvents chlorobenzene, o-dichlorobenzene and 1-chloronaphthalene. In particular, the non-halogenated system achieved a PCE of 9.8%. Keywords: organic solar cells, Hansen solubility parameters, ink formulations, green solvents. LISTA DE FIGURASFigura 1: Esquema da arquitetura de células solares invertidas utilizada neste estudo e estruturas químicas dos componentes que formam a camada fotoativa.................................................................................................................... 01 Figura 2: Característica J-V de uma célula solar (curva preta) e curva de potência (curva vermelha)....................................................................................................... 06 Figura 3: O esquema representa a arquitetura fotovoltaica orgânica na configuração de bicamada e BHJ…………………………………...…............................................. 09 Figura 4: Esquemas simplificados representam os principais processos de captação de luz em eletricidade em fotovoltaicos orgânicos com BHJ……………..………………….…………………. ................................................. 11 Figura 5: As pilhas usadas em uma célula OPV convencional e invertida, em que as camadas não são dimensionadas..……………………............................................. 12 Figura 6: Estruturas químicas dos doadores de polímero (azul) e aceitadores (preto)................…………………….……………….................................................... 13 Figura 7: Detalhamento esquemático de como o semicondutor orgânico processado por solução se combina com a morfologia da camada BHJ….……........................ 14 Figura 8: categorias gerais de solventes usados na fabricação de células solares com estrutura BHJ com exemplos representativos.………………….........…………………………...………..…..…......... 16 Figura 9: Frascos contendo misturas saturadas de PTB7-Th com variadas concentrações de clorobenzeno e não solvente diiodometano............................... 24 Figura 10: Solubilidade das misturas de solventes para o PTB7-Th...…...…....…... 27 Figura 11: Solubilidade das misturas de solventes para o IEICO-4F...…...….......... 28 Figura 12: Diagrama HSP do PTB7-Th pelo método do gradiente de solvente binário com limite de solubilidade de 10 mg ml-1................................................................. 31 Figura 13: Diagrama HSP do IEICO-4F pelo método do gradiente de solvente binário com limite de solubilidade de 10 mg ml-1....………………..…..............……....................................................................... 31 Figura 14: Esfera de HSP para a blenda PTB7-Th:IEICO-4F pelo método do gradiente binário com o limite de solubilidade de 10 mg mL-1....……..…...................................................................................…................... 32 Figura 15: Aspectos visuais das células solares produzidas..…..……...…............. 34 Figura 16: Curvas J – V da blenda PTB7-Th:IEICO-4F fabricadas a partir de tintas à base de CB:CN, CB, DCB e 1,2-xileno:tetralina (1:1)....…….……...…...…….......... 35 Figura 17: Curvas da eficiência quântica externa (EQE) de dispositivos da blenda PTB7-Th:IEICO-4F fabricadas a partir de tintas à base de CB:CN, CB, DCB e 1,2-xileno:tetralina (1:1).....…………………....…..………………….………............... 35 Figura 18: Imagens AFM de PTB7-Th:IEICO-4F processado na estrutura BHJ...... 37 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Valores HSP para as blendas de CB e não solvente PC para PTB7-Th:IEICO-4F................................................................................................... 28 Tabela 2: Valores HSP para as blendas de CB e não solvente AO para PTB7-Th:IEICO-4F................................................................................................... 29 Tabela 3: Valores HSP para as blendas de CB e não solvente DIM para PTB7-Th:IEICO-4F................................................................................................... 30 Tabela 4: HSP dos semicondutores orgânicos PCE10 e 4F determinados pelo método do gradiente binário……………………………............................................................................... 31 Tabela 5: Propriedades de solventes para os solventes e aditivos de solventes selecionados (HSP).................................................................................................. 33 Tabela 6: Parâmetros fotovoltaicos da blenda PTB7-Th:IEICO-4F de arquitetura invertida com extraído das curvas J-V a 100 mW cm-2 de iluminação................................................................................................................ 35 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AFM - Microscópio de força atômico Ag - Prata Al – Alumínio AO – Ácido Oleico BHJ - Heterojunção em massa CB - Clorobenzeno CdTe - Telureto de cádmio CF - Clorofórmio CN - 1-Cloronaftaleno cP - Centipoise CZTS - Cobre-zinco-estanho-seleneto DCB - o-Diclorobenzeno DIM - Diiodometano EQE - Eficiência quântica externa ETL - Camada de transporte de elétrons FA - Aceitador de fulereno FF - Fator de preenchimento GIGS - Selênio-cobre-índio-gálio GIWAXS - Dispersao da incidencia de raios X de grande ângulo HOMO - Orbital molecular mais alto ocupado HSP - Parâmetros de solubilidade de Hansen HTL - Camada de transporte de vazios IEICO-4F - 2,2'-[[4,4,9,9-Tetrakis(4-hexilfenill)-4,9-di-hidro-s-indaceno[1,2-b:5,6-b']ditiofeno-2,7-d iil]bis[[4-[(2-etil-hexil)oxi]-5,2-tiofenedil]metilidino(5,6-difluoro-3-oxo-1H-indeno-2,1(3H )-diilideno)]]bis[propanodinitrilo] IPA - Álcool isopropílico IQE - Eficiência quântica interna ITO - Óxido de índio e estanho IUPAC - União internacional de química pura e aplicada Jsc - Densidade de corrente de curto-circuito LUMO - Orbital molecular mais baixo ocupado MoOx -Óxido de molibdênio NFA - Aceitador não fulereno NIR - Próximo ao infravermelho NP - Nanopartículas OPV - Energia fotovoltaica orgânica processável por solução OSC - Célula solar orgânica PC - Carbonato de propileno PCBM - Éster metílico do ácido fenil-C61-butírico PC61BM - Ácido fenil-C61-butírico PC71BM - ácido fenil-C71-butírico PCE - Eficiência de conversão de energia PEDOT:PSS - Poli(3,4 etilenodioxitiofeno):Poli(estireno sulfonato) Pmax - Potência máxima PTB7-Th, PCE10 - Poli[4,8-bis(5-(2-etilhexil)tiofeno-2-yl)benzo[1,2-b;4,5-b']tiofeno-2,6-diil-alt-(4-(2-etilhe xil)-3-fluorotieno[3,4-b]tiofeno-)-2-carboxilato-2-6-diil)] P3HT - Poli(3-hexiltiofeno-2,5-diil) RED - Diferença de energias relativas Tetralina - Tetra-hidronaftaleno Voc - Tensão de circuito aberto ZnO - Óxido de Zinco SUMÁRIO 1 Introdução 1 2 Objetivos 3 3 Revisão da literatura 4 3.1. Teoria da tecnologia fotovoltaica 4 3.2. Mecanismo das células solares 5 3.3. Teoria das células orgânicas fotovoltaicas 8 3.3.1. O mecanismo do fenômeno fotoelétrico orgânico 9 3.4. Arquitetura das células fotovoltaicas orgânicas 12 3.5. Materiais orgânicos de células solares orgânicas 12 3.6. Escolha do solvente 14 3.6.1. Transição para solventes verdes 15 3.7. Solubilidade 17 3.7.1. Parâmetros de solubilidade de Hansen 18 3.8. Técnicas de deposição 21 3.8.1. Técnicas de revestimento e impressão 21 3.8.2. Evaporação térmica 22 4 Materiais e metodologia experimental 23 4.1. Materiais utilizados e formulação das tintas das células solares orgânicas 23 4.2. Limite de solubilidade do PTB7-Th e IEICO-4F 23 4.3. Cálculos HSP 25 4.4. Fabricação das células solares orgânicas 25 4.5. Técnicas de caracterização utilizadas 26 5 Resultados e discussões 27 5.1. Método de gradiente de solvente binário para determinar o HSP do PTB7-Th e IEICO-4F 27 5.2. Diagramas de Hansen28 5.3. Formulação das tintas para os dispositivos 33 5.4. Análise estética das células solares 33 5.5. Performance dos dispositivos 34 5.6. Análise da morfologia de superfície 36 5.7. Identificação de alternativas de solventes verdes 37 6 Conclusão 39 https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.30j0zll https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.30j0zll https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1t3h5sf https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.2s8eyo1 https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.17dp8vu https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.3rdcrjn https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.26in1rg https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.26in1rg https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1ksv4uv https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.44sinio https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.2jxsxqh https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.z337ya https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.3j2qqm3 https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1y810tw https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.4i7ojhp https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.2xcytpi https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1ci93xb https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1ci93xb https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1ci93xb https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1ci93xb https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1ci93xb 7 Estudos futuros 40 8 Referências bibliográficas 41 Apêndice A 45 Apêndice B 46 https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1ci93xb https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1ci93xb https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1ci93xb https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.1ci93xb https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.3whwml4 https://docs.google.com/document/d/1iiBLDwtsI-aUVNnnoTHszQwXplrPtAwpeuagjqN2SOM/edit#heading=h.3whwml4 1 1. INTRODUÇÃO A necessidade de fontes de energia renováveis baratas, como o potencial fornecido pela energia do sol, continua a incentivar novas abordagens para dispositivos fotovoltaicos eficientes e de baixo custo [1]. A energia fotovoltaica orgânica processada por solução (OPV) ganhou grande interesse de pesquisa nos últimos anos e está se estabelecendo lentamente como uma das promissoras tecnologias fotovoltaicas de baixo custo, leveza e flexibilidade. As OPVs, também conhecidas como células solares hetero juncionais em volume (BHJ), compreendem uma camada fotoativa, que consiste em uma mistura parcialmente separada em fase de um doador de elétrons, geralmente um polímero orgânico, e um aceitador de elétrons, geralmente um derivado de fulerenos ou receptores não-fulerenos (NFAs) [1]. Em uma célula típica de OPV, a camada fotoativa, na qual os semicondutores orgânicos, doadores e aceptores, são misturados no nível molecular para formar a BHJ, é limitada entre dois materiais condutores (eletrodos), como é ilustrado na figura 1a [1,2]. Figura 1 - a) Esquema da arquitetura de células solares invertidas utilizada neste estudo e b) Estruturas químicas dos componentes que formam a camada fotoativa [3, 4]. Fonte: Song (2019). Para alcançar o desempenho do dispositivo OPV, é necessário controlar o grau de separação de fases entre os componentes doador e aceitador [3]. Assim 2 como, um design de tinta adequado para formulações de múltiplos componentes precisa respeitar vários objetivos de design bastante interdisciplinares: (i) solubilidade suficiente para dissolver os componentes individuais, (ii) um design cuidadoso das propriedades reológicas e da energia superficial das tintas, (iii) cinética de secagem adequada e, finalmente, (iv) a capacidade integrada de formar a microestrutura correta [4,5]. Além dos objetivos técnicos acimas citados, a incorporação de sistemas de solventes não perigosos, mostra-se como um importante critério de decisão. Atualmente, solventes halogenados, como clorobenzeno (CB), o-diclorobenzeno (DCB) ou clorofórmio (CF), são os sistemas de solventes padrão para processamento em laboratório [5]. No entanto, a toxicidade desses solventes limita a industrialização da tecnologia fotovoltaica. Consequentemente, substituir esses solventes altamente tóxicos por solventes relativamente ecológicos ou verdes é uma tarefa urgente para o campo das OPV [6, 7]. Os parâmetros de solubilidade de Hansen (HSP, em inglês Hansen solubility parameters) surgiram como um método semi-empírico prático de classificar uma variedade de tipos de moléculas (polímeros, macromoléculas, solventes, aditivos) e prever a solubilidade de macromoléculas [6]. Neste trabalho, investigou-se um método alternativo determinado por Machui et al. [5] para determinar os parâmetros de solubilidade de Hansen de semicondutores orgânicos e demonstrou-se o potencial desse método para o polímero doador e PTB7-Th e para o polímero aceitador não-fulereno IEICO-4F, as estruturas químicas de PTB7-Th e IEICO-4F, as quais são mostradas na Figura 1b. Por fim, realizou-se o estudo do sistema polimérico PTB7-Th:IEICO-4F utilizado na fabricação da camada fotoativa das OSCs juntamente com os solventes puros CB, CN e DCB, utilizados separadamente. Assim como, fabricou-se o sistema de solventes composto por CB:CN. Os solventes puros CN e CB (utilizados separadamente) serviram para a investigação e comparação dos efeitos da adição do CN no CB utilizados no sistema de mistura CB:CN. E finalmente, utilizou-se os solventes 1,2-xileno:tetralina, utilizados como promissor sistema de solventes não-halogenados que mostrou-se uma alternativa aos solventes halogenados CN, CB, e DCB. 3 2 OBJETIVOS Os objetivos deste trabalho, foram o desenvolvimento e design de tintas para as células solares orgânicas livres de fulereno baseadas no sistema contendo o polímero doador PTB7-Th e o polímero NFA IEICO-4F. Objetivos específicos. a) Encontrar o limite de solubilidade de cada polímero em estudo utilizando um conjunto de um solvente (CB) e três não-solventes (ácido oleico, propileno de carbonato e diiodometano); b) Determinar parâmetro de solubilidade de Hansen por intermédio do método do gradiente binário; c) Manipular o software Hansen SolubilityParameters in Practice (HSPiP) para desenvolver as esferas de solubilidade do espaço Hansen; d) Fabricar dispositivos fotovoltaicos orgânicos em que sua camada ativa utiliza-se de um estudo de transição de solventes halogenados para não halogenados; e) Caracterizar as células solares orgânicas quanto a suas propriedades elétricas e morfologia de superfície. 4 3 REVISÃO DA LITERATURA 3.1 Teoria da tecnologia fotovoltaica Uma célula solar, ou célula fotovoltaica, é um dispositivo elétrico que converte a luz solar, ou uma luz artificial, diretamente em eletricidade mediante o efeito fotovoltaico, fenômeno físico e químico capaz de gerar tensão e corrente elétrica em um material após a exposição à luz. A célula solar cujas características elétricas, como corrente, tensão ou resistência, variam quando expostas à luz [8]. Para o entendimento da tecnologia fotovoltaica, é necessário introduzir o efeito fotovoltaico [8]. Através do efeito fotovoltaico tem-se a criação de corrente elétrica correspondente em um material após este ser exposto à energia luminosa. Ao receber fótons de radiação eletromagnética, os elétrons da banda de valência podem saltar para a banda de condução, produzindo uma corrente elétrica no interior da estrutura cristalina do semicondutor. A energia de um fóton é dada por: E = hv (1) Em que, h é a constante de Planck e v é a frequência da luz. Duas camadas de semicondutores (junção n-p) são responsáveis pela estrutura básica de uma célula solar, sendo uma camada contendo um semicondutor do tipo p (carga positiva) e outra contendo um um semicondutor do tipo n (carga negativa), que irão gerar corrente elétrica quando expostas à radiação solar [2]. As atuais tecnologias de células solares podem ser divididas em três gerações. A primeira geração, baseadas na junção n-p, são as células solares baseadas em material de silício cristalino [10–12], que é um dos semicondutores mais utilizados e disponíveis comercialmente. Atualmente, as células solares de silício representam cerca de 94% de todo o mercado fotovoltaico [13]. A segunda geração consiste em outros semicondutores de película fina, como telureto de cádmio (CdTe), selênio-cobre-índio-gálio (GIGS) ou semicondutores de cobre-zinco-estanho-seleneto (CZTS) [14–16]. Essas tecnologias receberam grande atenção devido ao seu gap óptico de fácil ajuste [17,18]. No entanto, esses processos de deposição de filmes finos exigem alta temperatura e condições de vácuo, que dependem fortemente de técnicas de alta tensão, alta temperatura, deposição química de vapor ou deposição 5 de plasma [19]. Além disso, a preparação dessas células solares de película fina promovem grandes impactos ambientais, como vazamento de elementos tóxicos (Cd, Se, etc.) [20-22]. Desde a década de 1990, cientistas e pesquisadores lançaram a terceira geração de tecnologia fotovoltaica, que é baseada em semicondutores processáveis por solução (como semicondutores híbridos orgânicos e orgânico/inorgânicos de perovskita híbrida) [23-25]. Os principais representantes são as células solares orgânicas, células solares sensibilizadas por corantes e células solares híbridas orgânico-inorgânicas de perovskita e também englobam estruturas mais complexas como as células tandem (ou multi-junção) [26]. Com vantagens incluindo baixo custo, atóxica e leves, as células solares orgânicas (OSCs) exibem uma ótima perspectiva como candidata promissora de células solares processáveis por solução [26]. Mais interessante, algumas soluções de baixa temperatura, como revestimento por rotação, rolo a rolo, lâminas médicas, jato de tinta e impressão de fenda, ampliam a compatibilidade com substratos flexíveis e, assim, maximizam a aplicabilidade para fabricação em grande escala [26-28]. Algumas tecnologias de solution-casting a baixa temperatura (<150oC), como spin coating, rolo a rolo, doctor-blading, ink-jet e slot-die printing, ampliam a compatibilidade com substratos flexíveis e, assim, maximizam a aplicabilidade para fabricação em larga escala [26-28]. No futuro, os módulos OSC podem ter um potencial para ser amplamente utilizado em aplicações comerciais, como energia fotovoltaica integrada em edifícios, estufas e energia fotovoltaica integrada em automóveis [24]. O progresso recente em eficiência de conversão de energia elevou esse campo da escala de laboratório para a comercialização viável. Os melhores desempenhos certificados na pesquisa de células solares orgânicas, com o desenvolvimento de novos materiais aceitadores eletrônicos, o PCE cresceu de 10% em 2015 para 16,5% em 2019 [26, 29]. 3.2 Mecanismo das células solares O mecanismo de funcionamento das células solares pode ser dividido em três processos básicos: 6 1) Pelo efeito fotovoltaico, as cargas transportadoras foto-geradas são geradas pelos materiais semicondutores com a formação de uma estrutura de junção [26]. 2) As cargas transportadoras geradas são separadas e transportadas na estrutura de heterojunção [26]. 3) As cargas transportadoras serão coletadas com os contatos elétricos [26]. Existem quatro parâmetros principais que podem ser usados para caracterizar a qualidade de uma célula solar: A potência máxima (Pmax), a densidade de corrente de curto circuito (Jsc), a tensão de circuito aberto (Voc) e o fator de preenchimento (FF), ao quais são expressos na Figura 2. Figura 2 - Característica tensão-corrente de uma célula solar (curva preta) e curva de potência (curva vermelha) Fonte: Song (2019) Para medir de forma confiável as características tensão-corrente, é importante testar as características das células solares em condições de teste padrão, que é a correspondência espectral AM 1,5 G e irradiância a 100 mW/cm2. Além disso, a temperatura operacional da célula solar deve ser constante a 25oC [26]. Quando uma carga é conectada entre os eletrodos da junção p-n iluminada, apenas uma fração da corrente fotogerada flui através do circuito externo [26]. 7 Portanto, é possível descrever o comportamento da junção sob tensão aplicada com a equação 2 abaixo: 𝐼 = 𝐼𝑜(𝑒𝑥𝑝(𝑞𝑣/𝑘𝑇−1))−𝐼𝑔𝑒𝑛 −𝐼𝑝ℎ (2) em que, Io é a corrente de saturação escura, V é a tensão do diodo, n é o fator de idealidade do diodo, k é a constante de Boltzmann, q é a carga elementar, T é a temperatura absoluta e Igen é a corrente de geração térmica e a corrente fotogerada Iph [26]. Deve-se enfatizar que I representa a corrente, com o qual, precisa-se dividir esse valor pela área da célula para obter a densidade de corrente J. Então Jsc representa a densidade de corrente em curto-circuito, mostrada na Figura 2 [26]. Jsc é o valor máximo de densidade de corrente que pode ser obtido em um dispositivo sem a aplicação de tensão (V = 0), quando o dispositivo está submetido a uma iluminação. A tensão de circuito aberto é a tensão na qual nenhuma corrente flui através do circuito externo. O Voc depende da densidade de corrente fotogerada e da saturação escura e pode ser calculado a partir da equação 3 [26]:𝑉𝑜𝑐 = (𝑘𝑇/𝑞)𝑙𝑛[(𝐽𝑝ℎ/𝐽𝑜)+1] (3) Enquanto Jph normalmente sofre uma pequena alteração uma vez que a estrutura da heterojunção for estabelecida, o principal efeito real no Voc é a corrente de saturação Jo, pois esse valor pode mudar em ordens de magnitude devido ao processo de recombinação diferente. A quantidade de energia elétrica que pode ser extraída de uma célula fotovoltaica é proporcional à razão entre a potência máxima fornecida pelo dispositivo e a potência nominal do mesmo. Esta razão é chamada de fator de preenchimento (FF) e é representada pela expressão [26]: 𝐹𝐹 = (𝐽𝑚𝑝𝑝 × 𝑉𝑚𝑝𝑝)/ (𝐽𝑠𝑐 × 𝑉𝑜𝑐) (4) em que, Jmpp e Vmpp são os valores de corrente e tensão no ponto de potência máximo, respectivamente. A eficiência de conversão de energia (PCE) em termos de fator de preenchimento pode ser calculada a partir das curvas J-V com a equação 5 abaixo [26]: 8 𝑃𝐶𝐸 = (𝐽𝑠𝑐 × 𝑉𝑜𝑐 ×𝐹𝐹)/𝑃𝑖𝑛 (5) em que, Pin é a potência da luz recebida. Normalmente, configuramos esse valor para 100 mW/cm2. A resposta espectral, é obtida pela medida da resposta elétrica do dispositivo sob iluminação monocromática em vários comprimentos de onda, ou seja, é a medida de Jsc em função do comprimento de onda. A razão entre a fotocorrente medida e a intensidade de luz monocromática que incide no dispositivo é dada pela eficiência quântica externa (EQE). Portanto, essa quantidade é a razão entre o número de portadores de cargas e o número de fótons que incide na camada fotoativa da OSC para cada comprimento de onda. 3.3 Teoria das células orgânicas fotovoltaicas Uma célula solar orgânica é um tipo de célula solar em que a camada absorvente é baseada em semicondutores orgânicos - normalmente polímeros conjugados ou moléculas pequenas. As camadas fotoativas oferecem o potencial de métodos de deposição economicamente eficientes e econômicos, como o processamento da solução [30]. As OPVs consistem em misturas de polímeros doadores e aceptores de elétrons ou pequenas moléculas orgânicas que são fundidas em filmes finos a partir de solventes orgânicos e separam-se espontaneamente em pequenos domínios quase puros [31]. A camada ativa fotovoltaica orgânica é projetada a partir de uma combinação de materiais doadores (D) e aceptores (A). No entanto, mais de um doador ou aceitador pode ser usado, como em sistemas ternários ou quaternários [32]. Nos estágios iniciais da energia fotovoltaica orgânica, uma bicamada empilhada de materiais doadores e aceptores puros era usada como camada ativa, como mostra a Figura 3a [33]. No entanto, a eficiência dos dispositivos permaneceu muito baixa devido ao curto comprimento de difusão do exciton que limita significativamente a extração de cargas na configuração de bicamada [32]. Figura 3 - O esquema representa a arquitetura fotovoltaica orgânica na configuração de bicamada e configuração BHJ em (a) e (b), respectivamente. As fases de doador e aceitador são representadas em verde escuro e vermelho, respectivamente. 9 Fonte: Abdelsamie (2016), Gebhardt (2015). Para superar esse problema, o conceito de heterojunção em volume foi introduzido no qual a camada ativa é formada a partir de uma rede interpenetrante de domínios doadores e aceptores com escalas de comprimento comparáveis ao comprimento típico de difusão dos éxcitons, como mostra a Figura 3b [33]. As camadas ativas da BHJ podem ser fabricadas por processamento de solução, no qual os materiais D&A são misturados em soluções de um determinado solvente ou co-solventes e podem ser separados parcialmente em fase durante a secagem do solvente [32]. OSCs formadas por BHJ, em que uma mistura de um doador de polímero (por exemplo, P3HT) e um aceptor de fulereno (por exemplo, PCBM) é inserida entre um ânodo transparente de óxido semicondutor óxido de índio e estanho (ITO) e um metal (Al, Ag ou Au) têm atraído considerável atenção em todo o mundo. Os OSCs da BHJ já demonstraram alta eficiência de conversão de energia (PCEs) de 7 a 13% [34]. 3.3.1 O mecanismo do fenômeno fotoelétrico orgânico A célula OPV, como já dito, é formada por uma camada absorvente que é baseada em semicondutores orgânicos. Para que os materiais orgânicos se tornem condutores ou semicondutores, é necessário um alto nível de conjugação (alternando ligações simples e duplas). A conjugação da molécula orgânica resulta na deslocalização dos elétrons associados às ligações duplas em todo o comprimento da conjugação. Esses elétrons têm energias mais altas do que outros 10 elétrons na molécula e são equivalentes aos elétrons de valência em materiais semicondutores inorgânicos [35]. No entanto, em materiais orgânicos, esses elétrons não ocupam uma banda de valência, mas fazem parte do que é chamado de ‘’orbital molecular de ocupação mais alta’’ (HOMO, em inglês highest occupied molecular orbital). Assim como nos semicondutores inorgânicos, existem níveis de energia desocupados em energias mais altas. Em materiais orgânicos, o primeiro é chamado de orbital molecular mais baixo e desocupado (LUMO, em inglês lowest unoccupied molecular orbital) [35]. Entre o orbital molecular mais alto ocupado (HOMO) e o menor orbital molecular desocupado (LUMO) da célula solar existe uma lacuna de energia, geralmente chamada de lacuna de banda do material. Com o aumento da conjugação, o intervalo de banda se tornará pequeno o suficiente para que a luz visível excite um elétron do HOMO ao LUMO [35]. Como em outras tecnologias fotovoltaicas, o objetivo de um OPV é gerar eletricidade a partir da luz solar. Isso é alcançado quando a energia da luz é igual ou maior que a banda proibida, levando à absorção e excitação de um elétron - do HOMO ao LUMO. O elétron excitado deixará para trás um espaço carregado positivamente conhecido como 'buraco'. Devido às cargas opostas do buraco e do elétron, elas se atraem e formam um par de elétrons-buraco, também conhecido como 'exciton' [35]. Em seguida, o exciton será separado na interface do doador e do aceitador. Isso acontece por duas razões: (1) a constante dielétrica baixa do material doador orgânico faz com que o par elétron-buraco seja ligado pelas forças de Coulomb; (2) as ligações covalentes nas moléculas orgânicas restringem e localizam espacialmente a função de onda eletrônica [26]. Os principais processos que governam a função OPV podem ser resumidos nas seguintes etapas sucessivas e mostrado na Figura 4 [32, 36]: 1) Absorção de luz que resulta na geração de estados excitados (éxcitons), que são pares elétron-buraco ligados por interação de Coulomb: A luz com níveis de energia altos o suficiente será absorvida pelo OSC e excita os elétrons do HOMO ao LUMO para formar um exciton. Se a energia da luz absorvida for maior que o intervalo da banda, o elétron vai passar para um nível de energia mais alto que o LUMO e decairá. Esse processo é conhecido como 11 "termização", durante o qual a energia é perdida como calor. A termização é um mecanismoessencial de perda de energia em energia fotovoltaica [32]. 2) Difusão do éxciton para uma interface doador-aceitador: Uma vez formado, o exciton difunde-se para a interface doador-aceptor, onde o deslocamento entre os níveis de LUMO conduzirá à dissociação do éxciton. Isso deve ocorrer dentro de um certo período de tempo. Caso contrário, o elétron excitado retornará ao estado de energia vazio, um processo conhecido como 'recombinação' [32]. 3) Dissociação do éxciton através desta interface: Na interface, o elétron se moverá para o material aceptor e o buraco permanecerá no doador. Quando a distância entre o par aumenta, a atração diminui. Eventualmente, a energia de ligação entre eles é superada pela energia térmica e um estado de carga separada é formado. Enquanto o par elétron-buraco ainda é atraído no estado de transferência de carga, pode ocorrer recombinação na interface entre os dois materiais [32]. A dissociação do éxciton acontece em regiões de alto campo elétrico, normalmente identificadas nas interfaces polímero/metal ou em outros centros de dissociação formados por impurezas com uma eletroafinidade maior que a do polímero. 4) Transporte de carga: Os portadores de carga serão difundidos para os eletrodos apropriados (isto é, os buracos para o ânodo e elétrons para o cátodo) através das camadas interfaciais [32]. Figura 4 - (a) e (b) Esquemas simplificados representam os principais processos de captação de luz em eletricidade em fotovoltaicos orgânicos com BHJ. Fonte: Gebhardt (2015). 12 3.4 Arquitetura das células fotovoltaicas orgânicas A maioria dos OPVs usados na pesquisa moderna são células BHJ processadas por solução, onde a arquitetura pode ser classificada como convencional ou invertida, dependendo da orientação dos eletrodos como visto na figura 5 a seguir. Figura 5 - As pilhas usadas em uma célula OPV convencional e invertida, em que as camadas não são dimensionadas. Fonte: Nakano (2017) O transporte do portador de carga é facilitado pelas camadas interfaciais de transporte de buracos e elétrons em ambos os lados da camada ativa. Uma camada típica de transporte de buracos denomina-se hole transport layer (HTL) enquanto uma camada típica de transporte de elétrons electron transport layer (ETL). Essas camadas promovem o transporte de um tipo de transportador de carga através de um posicionamento favorável do nível de energia, além de desencorajar o transporte do outro transportador. Como tal, o HTL é conhecido como camada de bloqueio de elétrons e vice-versa [37]. 3.5 Materiais orgânicos de células solares orgânicas A camada ativa do dispositivo fotovoltaico orgânico compreende um semicondutor doador de elétrons que absorve luz, tipicamente um polímero, e um aceitador de fulereno (aceitadores de fulereno, FAs) que aceita elétrons que formam heterojunções em volume em dispositivos (exemplos de estruturas químicas de doadores e aceitadores são fornecidas na Figura 6) [31]. No entanto, o foco no 13 desenvolvimento de OSCs mudou recentemente para aceitadores orgânicos de não-fulereno (AGNs) devido a várias propriedades atraentes dos AGNs [38]. No campo da energia fotovoltaica orgânica, há um interesse crescente no desenvolvimento de novos materiais aceptores de elétrons [39]. O OPV livre de fulereno está avançando, impulsionado pela necessidade de encontrar aceptores alternativos que superem os altos custos sintéticos, absorção óptica limitada, baixa interação de bandgap e instabilidade morfológica dos aceitadores baseados em fulereno. Holliday et al. reportou o alcance de PCE de até 6,4%, a mais alta relatada para células solares formadas pelo homopolímero P3HT, um dos polímeros mais amplamente utilizados na pesquisa OPV, isentos de fulereno [40]. Figura 6 - Estruturas químicas dos doadores de polímero (azul) e aceitadores (preto). Fonte: Mcdowell (2018) 14 3.6 Escolha do solvente Um dos principais desafios da pesquisa em OSC é determinar quais estruturas moleculares, morfologia de mistura e condições de deposição levam às maiores eficiências de conversão de energia. Um importante parâmetro para o ajuste da morfologia da BHJ é a escolha do solvente. Para a estrutura da BHJ, a solubilidade e miscibilidade do doador e do aceitador devem ser levadas em consideração juntas, o que limita a seleção de um solvente [32]. Nas OPVs, a organização BHJ se desenvolve principalmente durante a evaporação do solvente, mas a morfologia final pode ser manipulada pelo uso de aditivos, tratamentos pós-deposição ou ambos. Uma possível via para a formação de BHJ é mostrada na Figura 7, onde a cristalização de doadores é iniciada usando um solvente de secagem lenta como aditivo. Uma separação de fase adicional pode ser promovida pelo recozimento térmico subsequente [44]. Figura 7 - Detalhamento esquemático de como o semicondutor orgânico processado por solução se combina com a morfologia da camada BHJ. Fonte: Li (2018) Os principais aspectos que devem ser considerados ao selecionar um solvente envolvem aspectos termodinâmicos, como a solubilidade dos materiais D/A no solvente, as interações mútuas entre o solvente/D/A, os aspectos cinéticos, como o ponto de ebulição e a pressão de vapor do solvente além das condições de 15 revestimento que definem a cinética de secagem [32] e a capacidade interna de formar a microestrutura correta. Vários estudos consideraram o papel da cinética de secagem que determina com que rapidez ocorre a transformação da solução em estado sólido. Os solventes voláteis com baixos pontos de ebulição tendem a evaporar mais rapidamente do que os solventes de alto ponto de ebulição. Um estudo relatou a dependência do tamanho do cristal P3HT no sistema P3HT:PCBM com estrutura BHJ revestidas de CF, tolueno, CB e o-xileno, mostrando que os tamanhos dos cristalitos P3HT eram maiores para solventes com maior ponto de ebulição [41]. Como diretrizes gerais, o solvente deve ser capaz de solubilizar todos os componentes presentes na camada do sistema para formar camadas contínuas com a espessura desejada e molhar a superfície dos substratos desejados [41]. Em um dispositivo ideal e conceitual BHJ, os materiais orgânicos doadores e aceptores são depositados em solução de um solvente comum para formar filmes finos com redes interpenetrantes de materiais doadores e aceitadores da ordem de 10 a 20 nm [43]. Embora o campo das OPVs esteja se desenvolvendo rapidamente e o PCE recorde tenha sido aumentado em até 11%, os OPV ainda são processados por solventes halogenados, como clorobenzeno, o-diclorobenzeno ou clorofórmio, que são os sistemas padrão de solventes para processamento em laboratório devido à sua excelente solubilidade para polímeros e moléculas conjugados. No entanto, esses sistemas são prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. Além disso, o uso desses solventes halogenados altamente tóxicos aumenta a dificuldade e o custo da fabricação de dispositivos, limitando, sem dúvida, a industrialização da tecnologia OPV [44]. 3.6.1 Transição para solventes verdesSubstituir solventes altamente tóxicos por solventes relativamente ecológicos ou verdes é uma tarefa urgente para o campo OPV. Há um grande número de solventes orgânicos e a toxicidade de cada solvente varia de acordo com sua estrutura química. Solventes verdes são líquidos que possuem uma toxicidade muito baixa e não devem ser prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente [44]. Em vários estudos mostrou-se que, de fato, solventes não halogenados e não aromáticos podem ser usados para fabricar OSCs com PCEs maiores que 5%. 16 Nesse estágio inicial da conscientização ambiental, solventes como tolueno, xilenos e dissulfeto de carbono são atualmente relatados como "verdes" na literatura da OSC, apesar de sua toxicidade [41]. Os semicondutores orgânicos contêm um alto conteúdo de subunidades aromáticas conjugações-pi dentro de suas estruturas químicas. Esse requisito estrutural, combinado com a regra "semelhante dissolve semelhante", talvez seja o motivo pelo qual os solventes aromáticos e/ou halogenados tenham sido as primeiras escolhas para a fabricação de dispositivos [41]. Os solventes ambientalmente benignos, por outro lado, são tipicamente de natureza não aromática e polar, apresentando desafios à solvatação e evolução estrutural da solução de semicondutores orgânicos. A figura 8 organiza possíveis solventes para o processamento de OSC em uma hierarquia, variando de aromático halogenado perigoso (inferior) a polar (superior). As tecnologias de aprimoramento das OPVs dependem em parte do desenvolvimento de rotas de fabricação de soluções que maximizam o uso de solventes verdes [41]. Figura 8 - categorias gerais de solventes usados na fabricação de células solares com estrutura BHJ com exemplos representativos. Fonte: Mcdowell (2017) Para ter sucesso, um solvente verde também deve promover a separação de fases, com uma escala de comprimento de aproximadamente 20 a 30 nm, e a organização dos componentes da BHJ durante a evaporação. Além disso, os solventes verdes devem atender aos seguintes requisitos: (1) proporcionar 17 solubilidade suficiente para materiais das camadas ativas (10 mg/ml) e (2) possuir os parâmetros de solubilidade de Hansen (HSP, em inglês Hansen Solubility Parameters), ponto de ebulição e pressão de vapor de saturação adequados [44]. A seguir são citados recentes avanços nas categorias gerais utilizadas na fabricação de OSC. 1. Aromáticos e não halogenados: Foram alcançados sucessos usando solventes aromáticos não halogenados, como trimetilbenzeno e o-xilenos. PTB7:PC70BM alcançou PCEs de 6,6 e 7,4% de anisol e o-xilenos, respectivamente, que são comparáveis aos PCEs obtidos quando fundidos de CB e DIO [44, 45]. 2. Não halogenado e não aromático: Eficiências de 6,6% foram relatadas para PCDTBT: PC70BM usando uma mistura binária de solventes de acetona e dissulfeto de carbono [46]. 3. Cetonas, ésteres, álcoois e água: O desafio final para o processamento de OSCs com solvente verde é a deposição de solventes polares. Inicialmente, os esforços se concentraram na engenharia de cadeia lateral para solubilizar a água os materiais dos doadores [41]. 3.7 Solubilidade De acordo com a IUPAC a solubilidade é a composição analítica de uma solução saturada expressa em proporção de um soluto designado em um solvente designado. Na solubilidade, o caráter polar ou apolar de uma substância influi principalmente, pois devido à polaridade, estas substâncias serão mais ou menos solúveis. Dessa forma, semelhante dissolve semelhante, ou seja, substâncias polares tendem a se dissolver em líquidos polares e substâncias apolares, em líquidos apolares. Além de depender da natureza do soluto e do solvente, a solubilidade depende da temperatura e da pressão às quais o sistema é submetido. Trata-se da tendência do sistema em alcançar o valor máximo de entropia [47]. Em laboratório, a solubilidade é medida, geralmente, adicionando-se um soluto específico a um solvente até que este comece a ser saturado e/ou fique turvo. Existem outras maneiras mais automatizadas de fazer essa medição, como o https://pt.wikipedia.org/wiki/Temperatura https://pt.wikipedia.org/wiki/Press%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Entropia 18 Technobis Crystal 16, no qual é possível medir a solubilidade de um componente em quatro solventes diferentes ao mesmo tempo, usando sensores de turbidez. Os parâmetros de solubilidade são chamados de parâmetros de energia de coesão, pois são derivados da energia necessária para converter um líquido em um gás. A energia da vaporização é uma medida direta da energia total (coesa) que mantém as moléculas do líquido unidas. Todos os tipos de ligações que mantêm o líquido unido são quebrados por evaporação [6]. O design das formulações de tintas para fabricação das camadas ativas das OSCs, requer uma rotina de otimização multiparamétrica. O parâmetro de inicio mais importante para essa rotina é o conhecimento da solubilidade dos semicondutores individuais. A análise da solubilidade dos semicondutores orgânicos é, portanto, o primeiro passo na jornada para a formulação de tintas semicondutoras altamente eficientes para a aplicação OSC [42]. 3.7.1 Parâmetros de solubilidade de Hansen O efeito da solubilidade na morfologia em nanoescala de várias misturas de D/A e sua relação com as propriedades químicas intrínsecas dos compostos moleculares são um fator chave no estudo da solubilidade de vários materiais fotovoltaicos orgânicos. O termo parâmetro de solubilidade foi usado pela primeira vez por Hildebrand e Scott. O parâmetro de solubilidade de Hildebrand é definido como a raiz quadrada da densidade de energia coesa [6], que é uma característica das interações intermoleculares em um líquido ou sólido puro: δ = (E / V)1/2 (6) O parâmetro de solubilidade de Hildebrand (δ), definido pela equação 6, prevê que solventes e compostos orgânicos com densidade de energia coesa semelhante (E / V) seriam mais miscíveis [6]. No entanto, essa definição de parâmetro de solubilidade é incompleta devido ao fato de existir mais de um modo de interação entre compostos químicos. Isso inclui forças de van der Waals, interações dipolo-dipolo, ligação de hidrogênio, dipolo eletrostático, induzido e considerações geométricas [6]. Em 1967, Charles Hansen propôs que cada tipo de interação pudesse receber um parâmetro individual e formulou três parâmetros de solubilidade para a 19 avaliação de polímeros. Os três parâmetros de solubilidade de Hansen correspondem às três forças mais dominantes que governam os polímeros orgânicos: dispersão de London, dipolo-dipolo e ligação de hidrogênio [43]. As mais gerais são as interações não polares. Estes são derivados de forças atômicas e também foram chamados de interações de dispersão na literatura. Estas são forças intermoleculares fracas relacionadas à polarização temporária de moléculas e dependem do número de elétrons e do tamanho da molécula. Como as moléculas são construídas a partir de átomos, todas as moléculas contêm esses tipos de forças atraentes [6]. As interações dipolo permanente causam um segundotipo de energia de coesão, a energia coesiva polar. Essas são interações inerentemente moleculares e são encontradas na maioria das moléculas em uma extensão ou outra. O momento dipolar é o principal parâmetro usado para calcular essas interações. Trata-se de moléculas com um grau de separação de carga, criando um dipolo e atraindo-se eletrostaticamente. O mais polar dos solventes inclui aqueles com parâmetros de solubilidade total relativamente altos que não são particularmente solúveis em água, como nitroparafinas, carbonato de propileno e fosfato de tri-n-butil [6]. A terceira principal fonte de energia coesa é a ligação de hidrogênio. A ligação de hidrogênio é uma interação molecular e se assemelha às interações polares a esse respeito. A base desse tipo de energia coesa é a atração entre as moléculas por causa das ligações de hidrogênio, dependente da alta diferença de eletronegatividade com átomos de oxigênio, flúor e nitrogênio. Álcoois, glicóis, ácidos carboxílicos e outros materiais hidrofílicos têm parâmetros de alta ligação de hidrogênio [6]. Os HSP são parâmetros físico-químicos e são amplamente utilizados para estimar o tipo de forças interativas responsáveis pela compatibilidade entre materiais. A base do HSP é a suposição de que a energia coesa (E) pode ser dividida em três partes correspondentes à dispersão atômica (Ed), interações dipolares moleculares (Ep) e interações de ligação de hidrogênio (Eh). Da mesma forma, o parâmetro de solubilidade total pode ser dividido em três componentes correspondentes aos diferentes tipos de interações moleculares acima mencionados: dispersão (δd), polar (δp) e ligação de hidrogênio (δh) [6]. 20 A equação básica que governa a atribuição dos parâmetros de Hansen é que a energia total da coesão, E, deve ser a soma das energias individuais que a compõem. como mostra a equação 11 [6]. E = ED + EP + EH (11) Dividindo a equação 11 pelo volume molar, obtém-se o quadrado do parâmetro de solubilidade total (ou Hildebrand) como a soma dos quadrados dos componentes Hansen D, P e H [6]. E/V = ED / V + EP / V + EH / V (12) δ2 = δ2D + δ2P + δ2H (13) A seleção correta do solvente é crítica para obter uma solução homogênea do polímero e solvente para solubilizar o polímero de interesse. Os valores de HSP quantificam o grau de ‘semelhança'' descrevendo o solvente e o soluto usando três parâmetros. As propriedades de solubilidade são plotadas em um sistema de coordenadas tridimensional, chamado espaço de Hansen, com os três parâmetros Hansen como eixo x, y e z. Portanto, a distância que separa duas moléculas no espaço Hansen deve ser inversamente proporcional à sua miscibilidade (isto é, moléculas que são miscíveis devem estar próximas umas das outras no espaço Hansen). Essa distância é denominada raio de interação, Ra, definida via equação 14. Com δD2 sendo o componente dispersivo do solvente, δD1 o componente dispersivo do soluto, δP e δH representam o componente polar e a ligação de hidrogênio, respectivamente. Além disso, a, b e c são usados como fatores de ponderação. Configurações de a=4 e b=c=1 foram sugeridas por Hansen com base em testes empíricos. Outros fatores de ponderação convertem o esferóide Hansen em um elipsóide [7]. (Ra)2 = a(δD2- δD1)2 + b(δP2- δP1)2 + c(δH2- δH1)2 (14) A extensão em que dois materiais serão misturados pode ser estimada pela diferença de energia relativa (RED), conforme definido pela equação 15, em que R0 é o raio de solubilidade ou o raio da esfera na qual são encontrados bons solventes. 21 Espera-se que dois materiais com um RED próximo de zero se misturem ou se dissolvam; um RED próximo de 1 implica miscibilidade intermediária, enquanto valores maiores de RED indicam que os dois materiais não devem se misturar bem. [43]. RED = RA/R0 (15) As coordenadas HSP de um soluto são determinadas pela análise da solubilidade desse soluto em uma série de solventes com parâmetros Hansen conhecidos. A colocação de um esferóide no espaço de solubilidade identifica o volume de solubilidade desse soluto. O volume de solubilidade de um soluto é definido por um esferóide, com o centro da esfera sendo os três parâmetros Hansen e o raio da esfera R0 abrangendo o regime no qual o soluto está sendo dissolvido. [43]. O HSP já foi aplicado com sucesso em diferentes sistemas de materiais, como compósitos de polímeros / nanotubos de carbono de paredes múltiplas, óleos minerais naftênicos, resistências a feixes de elétrons negativos (por exemplo, hexametil acetoxi cálice (6) areno) e revestimentos de polímeros pré-cerâmicos do tipo polissiloxano preenchidos e não preenchidos [7]. 3.8 Técnicas usuais de deposição das camadas orgânicas 3.8.1 Técnicas de revestimento e impressão Para fazer a deposição de polímeros ou moléculas em solução, utiliza-se técnicas como o doctor blading, screen printing, inkjet printing ou o spin coating. Para se obter um tinta apropriada, várias propriedades devem ser consideradas e ajustadas como viscosidade, tensão superficial, energia superficial ou volatilidade. Além disso, a otimização da tinta varia para cada técnica específica de impressão ou revestimento. O representante mais prolífico, o spin coating, tem desempenhado um papel dominante no desenvolvimento de energia fotovoltaica orgânica. Spin Coating é uma técnica simples de criação de filmes finos, consistindo na deposição de uma dada quantidade de uma solução num substrato que se encontra na horizontal. Este roda a altas velocidades dispersando o líquido devido à força centrífuga, resultando numa cobertura uniforme do substrato. Finalmente o líquido 22 solidifica devido à evaporação do solvente. A velocidade de rotação do substrato, o tempo de rotação e a viscosidade do líquido são alguns dos factores que influenciam a espessura final do filme [45]. O revestimento Doctor-blade é uma rota de fabricação de filmes finos de alto rendimento compatível com rolo a rolo com pouco desperdício de solução e é considerado um método mais escalável para a fabricação de OSCs do que o spin coating. Onde o substrato a ser revestido fica parado e a lâmina em movimento ou vice versa. A velocidade da lâmina e a viscosidade da solução influenciam a espessura final do filme. 3.8.2 Evaporação térmica Nesta técnica de deposição, os substratos são colocados numa câmara, onde habitualmente, são atingidos níveis de vácuo de 10-6 mbar com o objectivo de reduzir os contaminantes como o oxigénio e a água, que são as principais fontes de degradação dos materiais orgânicos. Quando for necessário reduzir ainda mais os níveis de contaminantes, faz-se a evaporação em muito alto vácuo (10-9 mbar) ou introduz-se um gás inerte na câmara de evaporação [45]. A estes níveis de vácuo o caminho livre médio dos átomos evaporados é da mesma ordem de grandeza das dimensões da câmara, pelo que as partículas viajam em linha recta da fonte de evaporação até ao substrato e paredes dacâmara. Trata-se de um processo vantajoso por sua simplicidade (isto é, evaporação de inúmeras camadas ou co-evaporação de vários compostos diferentes), homogeneidade dos filmes depositados, deposição em alta velocidade e seu controle preciso da espessura do filme. O consumo desnecessário do material e a não uniformidade da taxa de deposição são os principais inconvenientes. A técnica é compatível com rolo a rolo e é amplamente utilizada para a deposição de pequenos filmes moleculares orgânicos [3]. 23 4 MATERIAIS E METODOLOGIA EXPERIMENTAL 4.1 Materiais utilizados e formulação das tintas das células solares orgânicas Os substratos de vidro revestidos com ITO foram adquiridos da Xin Yan Technology HK. PTB7-Th e IEICO-4F foram adquiridos na 1-Materials Inc. Todos os solventes, aditivos e outros produtos químicos foram adquiridos da Sigma-Aldrich e usados como recebidos. Para a camada fotoativa formulou-se quatro tintas diferentes, sendo elas: 1) 20 mg de PTB7-Th e IEICO-4F foram misturados em uma proporção de doador e aceitador (1:1, w:w) e dissolvidos em 1 ml de clorobenzeno com 4% de cloronaftaleno em volume; 2) Clorobenzeno puro com PTB7-Th:IECO-4F (1:1, w:w) na concentração de 20 mg/ml. 3) Diclorobenzeno puro com PTB7-Th:IECO-4F (1:1, w:w) na concentração de 20 mg/ml. 4) 20 mg de PTB7-Th e IEICO-4F foram misturados em uma proporção de doador e aceitador (1:1, w:w) e dissolvidos em um sistema 1,2-xileno:tetralina (1:1) contendo 50% em volume de cada. Para a tinta sol-gel ZnO, misturou-se acetato de zinco desidratado em etanolamina e em uma solução de metoxietanol. Para a camada realizada por evaporação termal utilizou-se MoOx e Ag adquiridos da Alfa e Kurt Lesker, respectivamente. 4.2 Limite de solubilidade do PTB7-Th e IEICO-4F Os parâmetros de solubilidade de Hansen do PTB7-Th e do IEICO-4F foram determinados pelo método do gradiente binário desenvolvido por Machui et al.[6]. De acordo com esse método, primeiro a solubilidade do PTB7-Th e do IEICO-4F são testadas separadamente em misturas binárias de solventes que consistem em um bom solvente (CB) e um não solvente (ácido oleico, diiodometano e carbonato de propileno). Até onde sabe-se, esses sistemas de solventes são miscíveis Foram designadas três séries de misturas de solventes e não solvente, cada uma consistindo em uma fração clorobenzeno X/(X+Y) e uma fração não solvente 24 Y/(X+Y), enquanto X+Y é igual a 100%. Os três não solventes foram escolhidos de modo a representar uma variação de uma coordenada predominantemente dentro do espaço Hansen, isto é, a contribuição de hidrogênio, polar ou dispersa. Encontrou-se o limite de solubilidade para cada semicondutor orgânico usando diferentes concentrações de clorobenzeno e não solventes, variando o conteúdo dos frascos entre 0 a 100 vol.-% de CB e 100 a 0 vol.-% dos nao solventes. E em cada frasco adicionou-se 0,5 mg do soluto, depois colocou-se para misturar em uma placa vibratória a 70oC com agitador magnético por 10 minutos. Após 10 minutos, esperou-se 5 minutos para confirmar visualmente se a mistura estava saturada ou não. Se a mistura estava saturada (verificando se o soluto não foi dissolvido no frasco), encontrou-se o limite de solubilidade do PTB7-Th para essa mistura de solvente/não solvente. Se o soluto dissolveu-se na mistura significa que houve que continuar adicionando 0,5 mg do soluto e repetir o processo até encontrar-se o limite de solubilidade do mesmo. Na figura 9, tem-se frascos com as misturas saturadas, ou seja, atingiu-se os limites de solubilidade, de PTB7-Th e CB:DIM, com diferentes concentrações em volume. As etapas citadas acima foram realizadas igualmente para as demais misturas de PTB7-Th com as concentrações de CB e nao solventes determinadas. Assim como, realizou-se o mesmo método para o semicondutor orgânico IEICO-4F. Figura 9 - Frascos contendo misturas saturadas de PTB7-Th (também chamado de PCE10) com variadas concentrações de clorobenzeno e não solvente diiodometano. Fonte: próprio autor. Os valores dos limites de solubilidade encontrados para os dois polímeros em estudo, foram utilizados para encontrar os valores dos parâmetros de solubilidade de Hansen e assim construídas esferas de solubilidade de Hansen para a 25 determinação de quais sistemas de solventes possuem maior eficácia de utilização na formulação de tintas para a camada fotoativa orgânica. 4.3 Cálculos HSP Os parâmetros de solubilidade Hansen para o PTB7-Th e IEICO-4F foram obtidos usando o software de simulação Hansen Solubility Parameters in Practice (HSPiP) desenvolvido por Abbot, Hansen e Yamamoto [48]. O limite de solubilidade de 10 mg mL-1 é usado para separar os valores de solubilidade em "bom" (Pontuação = 1) e "ruim" (Pontuação = 0). Essa concentração foi escolhida para atender aos critérios de tinta para uma viscosidade mínima da tinta e para atingir uma espessura de camada ativa suficiente com os parâmetros de processamento escolhidos. O programa avalia os dados de entrada usando uma função de qualidade de ajuste no formato [5]: DATAFIT = (A1A2...An)1/n com n sendo o número de solventes Ai = e-(error distance)i Onde o ‘‘error distance’’ é a distância do solvente em erro ao limite da esfera. Ai será um 1 para bom solvente dentro da esfera e mal solvente fora da esfera. As pontuações foram fornecidas no software HSPiP, que utilizou a função de qualidade de ajuste para gerar uma esfera de solubilidade sendo centro dessa esfera o HSP do material. 4.4 Fabricação das células solares orgânicas O procedimento de limpeza dos substratos de vidro revestido com ITO foi realizado em detergente, água deionizada, acetona e IPA por sonicação por 10 minutos cada, seguido de um tratamento com plasma de oxigênio para remover qualquer resíduo orgânico e melhorar a molhabilidade do substrato. Os dispositivos de referência na configuração invertida tinham uma célula (vidro/ITO/ZnO/PTB7-Th:IEICO-4F/MoO3/Ag) e fabricados da seguinte maneira. Primeiro, a solução sol-gel de ZnO foi revestida por spin coating a 4000 RPM por 30s e recozida a 200oC por 10 minutos. A camada fotoativa foi revestida por blade 26 coating a 50oC a 10 mm/s e recozida a 140oC por 5 minutos. Por fim, 7 nm de MoO3 e 100 nm de prata foram depositados em áreas específicas através de uma máscara de sombra a uma pressão inferior a 2x10-6 Pa por evaporação térmica . 4.5 Técnicas de caracterização utilizadas As curvas de densidade-tensão de corrente (J-V) foram obtidas simulando o espectro solar na iluminação AM 1,5 por meio de um motor de 21 LEDs (Wavelabs Sinus-70) e fazendo uma varredura de tensão de -1V a 1V enquanto media a corrente resultante com um medidor de fonte Keithley 2400. As imagens AFM foram capturadas usando o solver-next SPM (NT-MDT) equipado com um cantilever OTESPA (Bruker). As medidas de eficiência quântica externa (EQE) foram realizadas iluminando o dispositivo com luz monocromática fornecida por uma lâmpada de arco de xenônio em combinação com um monocromador de gradedupla. O número de fótons incidentes na amostra foi calculado para cada comprimento de onda usando um fotodiodo de silício calibrado pelo National Institute of Standards and Technology. 27 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 5.1 Método de gradiente de solvente binário para determinar o HSP do PTB7-Th e IEICO-4F A solubilidade absoluta de PTB7-Th nas três séries de concentração (CB e nao solventes) foi determinada e resumida na figura 10. Duas diferentes tendências são observadas. O sistema de mistura ácido oleico/CB e carbonato de propileno/CB mostraram um aumento acentuado da solubilidade apenas com o maior conteúdo de CB. Ou seja, a adição de carbonato de propileno ou ácido oleico diminuiu drasticamente a solubilidade de PTB7-Th nesses sistemas binários. Uma tendência diferente foi observada para as misturas DIM/CB. Em que, a solubilidade do PTB7-Th aumentou ligeiramente com o teor de CB. É importante notar que a solubilidade do PTB7-Th no DIM puro já é uma ordem de magnitude superior à do carbonato de propileno e ácido oleico. Geralmente, sistemas solventes não miscíveis mostram uma dependência linear da solubilidade na composição do solvente. No entanto, testes simples de miscibilidade com solventes mostraram que todos os binários investigados para este projeto são totalmente miscíveis e nenhuma separação de fases foi detectada. Portanto, sugerem-se interações específicas do solvente para dominar a mudança drástica na solubilidade. Todos os dados aqui relatados foram obtidos à temperatura ambiente. Figura 10 - Solubilidade das misturas de solventes para o PTB7-Th. Fonte: próprio autor 28 Em seguida, a solubilidade do IEICO-4F em misturas binárias foi investigada. Os três não solventes selecionados para as investigações IEICO-4F ainda são os mesmos do PTB7-Th, sempre misturados no CB em um raio entre 0% e 100%. A solubilidade de IEICO-4F em função das composições é representada na figura 11. Novamente, uma diminuição distinta da solubilidade é observada com a adição de 25% do não solvente. Figura 11 - Solubilidade das misturas de solventes para o IEICO-4F. Fonte: próprio autor 5.2 Diagramas de Hansen Os parâmetros de solubilidade de Hansen do PTB7-Th e IEICO-4F foram determinados pelo método de gradiente de solvente binário, As tabelas 1, 2 e 3 sumarizam os valores de HSP, coordenadas δD, δP, δH, resultantes pelo método do solvente binário que deram origem as esferas de Hansen para cada polímero e para a blenda polimérica. As tabelas trazem as misturas de solventes (em raio de volume) utilizadas para encontrar os limites de solubilidade de cada polímero. Tabela 1 - Valores HSP para as blendas de CB e não solvente PC para PTB7-Th:IEICO-4F. PC:CB (vol.-%/vol.-%) δD (MPa1/2) δP (MPa1/2) δH (MPa1/2) 100:00 20.0 18.0 4.1 90:10 19.9 16.6 3.9 29 Tabela 2 - Valores HSP para as blendas de CB e não solvente AO para PTB7-Th:IEICO-4F. 80:20 19.8 15.3 3.7 70:30 19.7 13.9 3.5 60:40 19.6 12.5 3.3 50:50 19.5 11.2 3.1 40:60 19.4 9.8 2.8 30:70 19.3 8.4 2.6 20:80 19.2 7.0 2.4 10:90 19.1 5.7 2.2 0:100 19.0 4.3 2.0 AO:CB (vol.-%/vol.-%) δD (MPa1/2) δP (MPa1/2) δH (MPa1/2) 100:00 16.0 2.8 6.2 90:10 16.3 3.0 5.8 80:20 16.6 3.1 5.4 70:30 16.9 3.3 4.9 60:40 17.2 3.4 4.5 50:50 17.5 3.6 4.1 40:60 17.8 3.7 3.7 30:70 18.1 3.9 3.3 20:80 18.4 4.0 2.8 10:90 18.7 4.2 2.4 0:100 19.0 4.3 2.0 30 Tabela 3 - Valores HSP para as blendas de DIM e não solvente PC para PTB7-Th:IEICO-4F. O centro da esfera representa os HSPs do PTB7-Th e do IEICO-4F. O HSP do PTB7-Th e do IEICO-4F, tabulados na tabela 4, foram calculados através dos valores HSP de cada blenda de solvente/não solvente listadas anteriormente, incluindo as coordenadas δD, δP, δH e R0, onde R0 é o raio da esfera de solubilidade no espaço hansen. A esfera HSP para PTB7-Th foi plotada na figura 12 e a esfera HSP para o IEICO-4F na figura 13, pelo método do gradiente do solvente binário. E a tabela 4 mostra os valores de HSP para cada polímero em questão e para a blenda PTB7-Th:IEICO-4F. Em geral, a esfera de solubilidade de um material, como mostrado na Figura 12 e 13, descreve a adequação de um solvente para dissolver o material em consideração. Os pontos azuis representam os bons solventes localizados no interior e os pontos vermelhos os maus solventes localizados fora da esfera. DIM:CB (vol.-%/vol.-%) δD (MPa1/2) δP (MPa1/2) δH (MPa1/2) 100:00 22.0 3.9 5.5 90:10 21.7 3.9 5.2 80:20 21.4 4.0 4.8 70:30 21.1 4.0 4.5 60:40 20.8 4.1 4.1 50:50 20.5 4.1 3.8 40:60 20.2 4.1 3.4 30:70 19.9 4.2 3.1 20:80 19.6 4.2 2.7 10:90 19.3 4.3 2.4 0:100 19.0 4.3 2.0 31 Tabela 4 - HSP dos semicondutores orgânicos PTB7-Th e IEICO-4F determinados pelo método do gradiente binário. Uma redução do limiar de solubilidade resulta em uma esfera de solubilidade aumentada. Ou seja, escolhe-se o solvente onde com a sua adição irá diminuir o limite de solubilidade da mistura e assim diminuir a quantidade de soluto utilizado. Figura 12 - Diagrama HSP do PTB7-Th pelo método do gradiente de solvente binário com limite de solubilidade de 10 mg ml-1. O centro da esfera representa os HSPs de PTB7-Th e a superfície o limite de solubilidade auto-definido de 10 mg/mL. Fonte: próprio autor Figura 13 - Diagrama HSP do IEICO-4F pelo método do gradiente de solvente binário com limite de solubilidade de 10 mg ml-1. O centro da esfera representa os HSPs de IEICO-4F e a superfície o limite de solubilidade auto-definido de 10 mg/mL. Semicondutores orgânicos δD(MPa 1/2) δP(MPa 1/2) δH(MPa 1/2) R0 PTB7-Th 19.31 4.08 2.68 1.3 IEICO-4F 19.5 4.92 3.21 2.4 PTB7-Th:IEICO-4F 19.405 4.5 2.945 1.85 32 Fonte: próprio autor Além dos cálculos individuais dos parâmetros de solubilidade de Hansen de cada polímero, calculou-se também através dos resultados individuais de cada polímero, os parâmetros dispersivos, polares e de ligações de hidrogênio para a blenda PTB7-Th:IEICO-4F com o limite de solubilidade de 10 mg mL-1. O HSP da blenda pode ser observado na tabela 4 acima já citada. Esses parâmetros formam o centro da esfera do espaço de Hansen representado na figura 14. Figura 14 - Esfera de HSP para a blenda PTB7-Th:IEICO-4F pelo método do gradiente binário com o limite de solubilidade de 10 mg mL-1. Fonte: próprio autor 33 5.3 Formulação das tintas para os dispositivos O CB foi escolhido para comparação com a blenda de solventes CB:CN para investigação do vertical phase separation. O solvente DCB foi escolhido devido a sua viscosidade ser localizado na faixa imprimível para células solares impressas pela tecnologia inkjet. Avançando um passo em direção ao desenvolvimento de tintas ecológicas, focou-se na integração de solventes não halogenados com o sistema PTB7-Th:IEICO-4F. Nesta fase de conscientização ambiental, solventes como xilenos são relatados como "verdes" na literatura OSC, apesar de sua toxicidade [41, 44]. Foram escolhidos solventes não halogenados de interesse 1,2-xileno e tetralina, como substitutos de solventes halogenados
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