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- -1 ABORDAGENS SOCIOPSICOLÓGICAS DA VIOLÊNCIA E DO CRIME FUNDAMENTOS DE PSICOLOGIA SOCIAL - -2 Olá! Ao final desta aula, você será capaz de: 1 - Conceituar o que é percepção social; 2 - Reconhecer os aspectos psicológicos implicados nas relações interpessoais; 3 - Identificar o que preconceito e como ele afeta o comportamento discriminatório. 1 Como percebemos o mundo e as outras pessoas? Você já parou para pensar o que influencia a nossa percepção das coisas? E por que as pessoas percebem a mesma coisa de formas diferentes e muitas vezes contrárias? Como duas pessoas podem possuir percepções diferentes de um mesmo acontecimento? A Psicologia vem se debruçando há muito tempo para entender os processos psicológicos que interferem na percepção de coisas e pessoas e uma das conclusões é que o nosso processo de socialização, ou seja, a forma como introjetamos os valores prescritos pela sociedade, desde o momento do nascimento, irá influenciar a construção de ideias sobre o mundo que, consequentemente, irão afetar a nossa percepção sobre os acontecimentos. 2 O convívio social Retomando aulas anteriores, verificamos como o convívio social foi importante para a evolução humana e para que o homem se tornasse a espécie dominante do planeta. Constatamos ainda, como, a partir da organização da espécie humana em grupos, ocorre o processo de construção da cultura e a importância do processo de para a sua transmissão.socialização - -3 No contato com o ambiente social, construímos uma ideia de quem nós somos, o nosso autoconceito e tendemos a categorizar o ambiente de forma a facilitar nossa relação com ele. Por exemplo: classificamos as pessoas e os grupos através de rótulos (sexo, idade etc.): fulano é agressivo; mulheres são emotivas; velhos são conservadores. 3 Autoconceito O nosso autoconceito é a imagem que construímos de nós mesmos a partir da comparação com outras pessoas e é de extrema relevância para diversas situações sociais envolvendo nosso contato/relação com o meio externo. Exemplo: uma pessoa que acha que possui muito conhecimento, em determinado assunto, não se preocupará em falar sobre tal temática para uma plateia. Por outro lado, um estudante poderá ficar nervoso na apresentação de um trabalho para um professor se acha que não está dominando o conteúdo da matéria ou se o professor tem fama de “mau”. Neste sentido, a forma como nos percebemos, ou seja, aquilo que pensamos de nós mesmos afetará a forma como percebemos a realidade à nossa volta e como percebemos as outras pessoas. Saiba mais O processo de socialização do homem é constituído por uma intensa troca social, um vivo intercâmbio entre pessoas e estímulos sociais (escola, família, outras instituições, classes, grupos étnicos etc.) e, nessa interação, coletamos, processamos e chegamos a determinados julgamentos sobre esta informação. Saiba mais O autoconceito refere-se à ideia que temos sobre o nosso complexo e multifacetado “eu”. É formado através da percepção de nós mesmos, da comparação com outras pessoas e da percepção de como nos relacionamos com outras pessoas. Esta percepção estará impregnada por características tais como: sexo, hábitos, ideias sobre o mundo, atributos físicos, posicionamento político, estado civil etc. - -4 4 Fatores que influem no processo perceptivo A Psicologia distingue alguns processos que afetam a nossa percepção sobre a realidade. • Seletividade perceptiva Ocorre quando percebemos apenas uma parte da realidade. Uma situação em que a seletividade é evidenciada acontece na percepção predominante de coisas boas naquelas pessoas de quem gostamos e na percepção predominante de aspectos ruins naqueles de quem não gostamos. Exemplo: os amigos têm limitações e os inimigos defeitos. A seletividade perceptiva também pode ser observada na tendência que um grupo de pessoas possui em perceber somente características negativas com relação a outro grupo com o qual não possui afinidade. Neste sentido a percepção de características negativas acaba alimentando crenças que fortalecem o preconceito de uns contra os outros. • Fatores contemporâneos Refere-se a elementos situacionais relativos ao contexto ou estados psicológico/fisiológico do percebedor em um determinado momento, tais como: fome, sede, cansaço, pobreza, depressão etc. Exemplo: o empregado ansioso com medo de perder o emprego percebe, em comportamentos irrelevantes de seu chefe, sinais de descontentamento e de possível perda do emprego. • Experiência prévia Refere-se à facilidade na percepção de circunstâncias que já tenhamos vivenciado anteriormente. Exemplo: ao andar em um shopping center conhecido, nós achamos mais facilmente as lojas devido à familiaridade do meio do que em um shopping onde nunca fomos. • Defesa perceptiva Refere-se a um bloqueio na conscientização de estímulos emocionalmente perturbadores. Exemplo: quando alguém realiza uma crítica contra algum comportamento que tivemos e não percebemos a crítica. • Condicionamento Refere-se à facilidade de perceber circunstâncias a partir das consequências que aquela determinada situação ou experiência proporcionou à pessoa. • • • • • - -5 • Acentuação perceptiva Ocorre quando percebemos algo como maior em função de seu valor subjetivo. Exemplo: quando uma pessoa que amamos nos trata mal sentimos o fato como maior do que quando um desconhecido nos trata da mesma forma. 5 A percepção de pessoas A percepção de coisas ocorre de forma diferente do processo de percepção de pessoas porque como nós, os outros também são capazes de perceber e porque temos a tendência de julgar as intenções aos outros. Os processos que afetam a percepção de outras pessoas são: • Precisão no julgamento deoutrem Desde o início da humanidade parece que construímos certas formas para julgarmos/entendermos os sentimentos, as emoções e as intenções alheias. Apesar dos erros de julgamento, parece que todos os seres humanos constroem uma “teoria implícita da personalidade” para entender o comportamento de outras pessoas e saber lidar com elas. Não há dúvidas de que certas pessoas parecem ter mais habilidades do que outras nesse processo. Entretanto, um grande problema é a inexistência de um critério geral que determine a veracidade de nossos julgamentos sobre outrem. Se de um lado a avaliação e o julgamento são importantes para a interação social, por outro podem gerar preconceitos e discriminação. • A primeira impressão é a quefica O processo de percepção e de julgamento relativo às pessoas também são fortemente influenciados pelas primeiras impressões ou informações que obtemos delas. Tais impressões, corretas ou não, alimentam nossas crenças sobre elas e direcionam nossos comportamentos na interação com esse indivíduo. Então, os seres humanos formam um julgamento sobre como as pessoas são, a partir do processamento das informações e impressões que os atingem, na forma de um todo coerente e estruturante, que tenha um sentido e um significado para cada um. É devido a esta lógica que temos a tendência de reforçar as características positivas nas pessoas de quem gostamos e de reforçar os elementos negativos naquelas que não temos afinidade. • • • - -6 Nesta construção de uma ideia sobre uma pessoa, somos fortemente influenciados pelos “esquemas sociais” que funcionam como bases de ideias mentais a partir das quais estruturamos, organizamos e assimilamos novas informações que recebemos do meio. Exemplo: possuímos esquemas sociais sobre profissões (engenheiros, médicos, políticos, artistas), sobre nós mesmos (tímido, extrovertido, alegre), sobre o comportamento predominante em determinados grupos (religiosos, torcidas) etc. Ou seja, sabemos como identificar um médico e o que esperar dele e, a partir desta ideia, nos comportamos de determinada forma. Da mesma forma, temos expectativas específicas sobre uma pessoa tímida ou alegre, sobre um padre ou um político. Portanto, um esquema social funciona como uma categoria(ou etiqueta) a partir da qual atribuímos algumas particularidades às coisas e/ou pessoas, e que nos permite lidar com a realidade. A função deste processo psicológico está em saber como proceder diante das expectativas com relação àquele ou aquilo que tem determinada “etiqueta”. Neste sentido, quando somos apresentados a uma pessoa imediatamente ativamos esquemas sociais relativos às características dela e, com base nisso, formamos nossas primeiras impressões que vão determinar o reforço de características positivas e/ou negativas sobre o indivíduo. Resumindo, ao nos relacionarmos com alguém, temos a tendência em formar uma série de impressões interligadas e coerentes sobre esta pessoa, que são parte nas primeiras impressões que ela nos causa e parte nas expectativas que nossos esquemas nos fornecem, compondo uma espécie de “teoria da personalidade” sobre ela. Após a formação desta “teoria”, buscamos avidamente elementos que a confirmam e “fechamos os olhos” para aquilo que vai de encontro com o que pensamos. 6 Preconceito, estereótipo e discriminação Historicamente, a ideia de se problematizar o preconceito, enquanto fenômeno social surge, na década de 1920, pois até então, partia-se da premissa de que haviam efetivamente diferenças genéticas relacionadas às raças humanas, onde umas seriam inferiores as outras. Tais teorias científicas justificavam o preconceito a partir de causas evolutivas, limitações da capacidade intelectual ou um excessivo ímpeto sexual. Saiba mais Esquemas sociais são coleções organizadas de crenças e de sentimentos acerca de algum aspecto do mundo. - -7 A partir dos anos 1930, o preconceito passa a ser encarado como injustificado ou irracional, sendo influenciado por normas sociais e produto de interesses grupais ou como inevitável consequência do processo de categorização social. Explicitando: a partir daí, as teorias sobre a incapacidade ou a inferioridade de outras raças começam a ser entendidas como um fenômeno social com o objetivo de submeter tais pessoas aos grupos dominantes. Então, preconceito, estereótipo, discriminação, racismo, sexismo ou segregacionismo dizem respeito a atitudes ou comportamentos negativos direcionados a indivíduos ou grupos, baseados em um julgamento prévio que é mantido mesmo diante dos fatos que o contradigam. Os são considerados crenças acerca de certos atributos (geralmente traços de personalidade) ouestereótipos sobre comportamentos costumeiros de grupos ou pessoas. Estas crenças sobre características de pessoas que atribuímos aos indivíduos ou grupos constituem a do preconceito.base cognitiva 6.1 Preconceito e discriminação O preconceito e a discriminação, apesar de estarem vinculados, não são a mesma coisa. Preconceito: O preconceito pode ser definido como ideias e sentimentos hostis ou negativos com relação a um determinado grupo, não levando necessariamente a atos ou a comportamentos persecutórios ou violentos. Discriminação: Já a discriminação pode ser considerada como o comportamento consequente do preconceito, como por exemplo, expressões verbais hostis, condutas agressivas etc. Saiba mais Os estereótipos podem ser corretos ou incorretos, positivos, negativos ou neutros. Entretanto devemos considerar que, apesar de, em um primeiro momento, facilitarem nossa reação diante do mundo, podem levar a generalizações incorretas e indevidas, principalmente quando não se consegue perceber os traços e as características individuais que estão por trás dos estereótipos. Este comportamento pode gerar relações conflituosas e comportamentos inadequados e desarmônicos. Base cognitiva é a base de ideias, informações. - -8 6.2 Causas do preconceito Vejamos algumas das causas do preconceito. Competição e conflitos políticos e econômicos: Conflitos ligados ao status social, ao poder político, ao acesso a recursos limitados e ao desemprego fornecem fermento para a hostilidade, onde podem surgir tentativas de depreciar o grupo adversário, inclusive através de estimulação de crenças preconceituosas. “Bode expiatório”: Esta hipótese prega que indivíduos, quando frustrados ou infelizes, tendem a deslocar sua agressividade para grupos que não possuem poder e por quem nutrem sentimentos de repulsa. - -9 Fatores de personalidade: Algumas pessoas, em função do tipo de educação recebida em casa, estariam mais predispostas a se tornarem preconceituosas. Estudos na Rússia, África do Sul e Estados Unidos confirmam que pessoas com a personalidade autoritária são predispostas a manifestação de preconceitos e discriminação. Este tipo de personalidade pode ser resultado de uma educação muito disciplinar e punitiva, com pais manipuladores de manifestação de afeto para conseguirem respostas de obediência. Isto tornaria as crianças inseguras, dependentes e muito ambivalentes para com seus próprios pais (amor e ódio). Tal ódio reprimido afloraria mais tarde dirigido a grupos minoritários e desprotegidos. Personalidade autoritária é o conjunto de traços adquiridos que tornariam a pessoa mais rígida em suas opiniões, intolerante para qualquer demonstração de fraqueza (em si ou nos outros) pronta a adotar valores convencionais, desconfiada, propensa a tomar ou pregar medidas de caráter punitivo e a dedicar respeitosa submissão a figuras de autoridade de seu próprio grupo e clara rejeição aos que não pertencem ao seu ciclo restrito de relações. Aprendizagem Social: Enfatiza que estereótipos e preconceitos fariam parte de um pacote maior de normas sociais, que seriam as crenças de um determinado grupo sobre os comportamentos corretos e incorretos, aceitáveis e permitidos. Tais crenças e comportamentos seriam transmitidos de geração a geração através da educação familiar, escolar, nos grupos na mídia etc. Conformidade com o grupo: Neste caso, as pessoas de tanto vivenciarem relações de desigualdade entre os grupos, sexos etc., passam a naturalizar tais comportamentos, conformando-se com a situação reinante. Na conformidade, cedemos à pressão social para sermos aceitos, para não sofrermos punições ou por realmente acreditarmos na veracidade das crenças disseminadas no nosso meio cultural. O que vem na próxima aula Na próxima aula, você vai estudar: • A perspectiva sociológica sobre a violência; • Como o contexto social e político afetam a violência; • A mudança na percepção social da violência e do crime no Brasil. CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Entendeu como ocorre a percepção da realidade e das pessoas; • Aprendeu que fatores afetam a percepção humana; • Compreendeu a diferença entre preconceito e discriminação; • Reconheceu os fatores que geram o preconceito. • • • • • • • - -10 • Reconheceu os fatores que geram o preconceito.• Olá! 1 Como percebemos o mundo e as outras pessoas? 2 O convívio social 3 Autoconceito 4 Fatores que influem no processo perceptivo Seletividade perceptiva Fatores contemporâneos Experiência prévia Defesa perceptiva Condicionamento Acentuação perceptiva 5 A percepção de pessoas Precisão no julgamento deoutrem A primeira impressão é a quefica 6 Preconceito, estereótipo e discriminação 6.1 Preconceito e discriminação 6.2 Causas do preconceito O que vem na próxima aula CONCLUSÃO
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