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EvoluAAúo-de-uma-ideia--1789-1914--O-antigo-regime--DOYLE--William-

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R flN C iP loS
William Doyle
AMIGO
Tradução de
Lólio Lourenço de O liveira
editora rffiea
Direção
Benjam in Abdala Junior 
S am ira Youssef Cam pedel li 
Preparação de texto 
Sérgio Roberto Torres
Edição de arte (miolo) 
M ilton Takeda 
Divina Rocha Corte 
Com posição/Paginação em vídeo 
M arco Antonio Fernandes
Capa
Ary Norm anha
Antonio Ubirajara Dom iencio
© W illiam Doyle 1986
Títu lo do orig inal em inglês: The Ancien Regim e 
Publicado por M A C M ILLA N EDUCATION LTD 
Houndm ills, Basingstoke, H am pshire RG21 2XS and London
IS8N 85 08 03981 6
1991
Todos os direitos reservados 
Editora Á tica S.A. — Rua Barão de Iguape, 110 
Tel.: (PABX) 278-9322 — C aixa Postal 8656 
End. Te legráfico “ Bom livro” — São Paulo
Nota sobre as referências
As referências bibliográficas são citadas entre colche­
tes, segundo a respectiva numeração na “ Bibliografia 
comentada” ; quando necessário, a referência a páginas é 
indicada por dois-pontos após o número da referência 
bibliográfica.
Prefácio
Não se visa com este ensaio nem a relatar o que foi o 
Antigo Regime, nem a analisá-lo. Sua meta é descrever e 
discutir o modo como o Antigo Regime tem sido pensado 
e como se tem escrito a respeito dele desde que os revolucio­
nários franceses cunharam essa expressão. A seu ver, o sig­
nificado dela era evidente por si mesmo. Contudo, o debate 
e as discussões subseqüentes ampliaram aquele significado 
para muito além do que quer que seus criadores tenham 
sonhado, de tal modo que a idéia de Antigo Regime se tor­
nou extremamente elástica. Os historiadores têm discor­
dado, muitas vezes radicalmente, a respeito do que ele 
foi, de onde atuava, como funcionava, quando começou e 
quando terminou. Freqüentemente, os estudantes não têm 
consciência da ampla gama de questões que estão deixando 
de tratar toda vez que utilizam essa expressão aparente­
mente fácil de compreender. O que se segue é uma tenta­
tiva de guiá-los através desse campo minado intelectual até 
agora não-mapeado: de explicar como o conceito de Antigo 
Regime se originou e se desenvolveu até chegar a nosso 
século, e por que os historiadores continuam a considerá- 
lo um quadro de referência frutífero, ainda que problemá­
tico, para se refletir a respeito da época pré-moderna.
1
Evolução de uma 
idéia, 1789-1914
O Antigo Regime — Ancien Régime — foi uma cria­
ção da Revolução Francesa. Era o que os revolucionários 
pensavam estar destruindo em 1789 e nos anos a seguir. 
Antes daquele momentoso ano, ninguém pensava em si 
mesmo como vivendo sob algo chamado Antigo Regime. 
Ancien significa, mais precisamente, “ antigo” , antes do 
que “ velho” ; e não pode haver um regime antigo antes que 
haja um regime novo.
Os historiadores divergem quanto ao momento em que 
a velha ordem terminou e a nova começou. Os que viviam 
naquela época também não estavam certos quanto a isso. 
A primeira vez em que se utilizou a expressão Antigo Regime 
parece ter sido em 1788; quem o fez foi um nobre panfletá­
rio, ao prenunciar as glórias de um novo regime que have­
ria de erguer-se em torno dos Estados-Gerais. As eleições 
para esse organismo, na primavera de 1789, pareceram 
uma sólida evidência de que de fato raiava a nova aurora, 
e eram encontrados alguns eleitores do clero fazendo refe­
rência às condições sob as quais haviam vivido até então, 
como o “ regime antigo” . Assim que os Estados-Gerais se 
reuniram, que se transmutaram na Assembléia Nacional
10
Constituinte e que sobreviveram a suas primeiras crises, 
em julho e outubro de 1789, os deputados começaram a 
referir-se regularmente em seus discursos e decretos ao 
regime “ precedente” , ou simplesmente ao regime velho 
{vieux) [40: 10-6\. No início de 1790, contudo, Antigo 
Regime tornara-se a expressão padrão para o que havia 
vigorado antes da Revolução. Em 1792, a expressão Ancient 
Regime, uma tradução direta ainda que não inteiramente 
precisa, era utilizada em inglês para exprimir a mesma coisa.
Definições iniciais
Que espécie de regime as pessoas de 1789 julgavam 
estar substituindo? É evidente que, ao utilizar pela primeira 
vez essa nova expressão, tinham em mente duas coisas dife­
rentes, ainda que interligadas.
O primeiro significado era político. O Antigo Regime 
fora um sistema de governo. Ainda hoje, muitos dicioná­
rios dão por suficiente essa definição. As características 
básicas do governo do Antigo Regime, segundo pensavam 
os revolucionários, eram que o rei governava com poder 
arbitrário e sem instituições representativas. Na monarquia 
absoluta, levada ao augè do refinamento em fins do século 
XVII por Luís XIV — e tendo mudado pouco desde então 
—, toda a soberania, toda a autoridade e todo o poder esta­
vam concentrados na pessoa do rei; e por seu exercício ele 
não era responsável perante ninguém, exceto Deus. Sob 
um governo desse tipo, acreditavam as pessoas de 1789, 
ninguém possuía direito algum, nenhuma pessoa ou pro­
priedade estava segura, e não havia regras ou leis ajustadas 
que estabelecessem limites à condução dos assuntos públi­
cos. As pessoas lembravam-se do modo como, em novembro 
de 1787, Luís XVI, pego desprevenido, declarara que o que 
era legal, era o que ele desejava. A maioria ainda acredi­
tava, em 1789, que as tendências despóticas do velho governo
11
provinham mais das ambições desenfreadas dos conselhei­
ros, ministros e representantes do rei, do que das próprias 
tendências do monarca. Parco, porém, era o consolo que 
isto oferecia. Durante as lutas e debates políticos que cul­
minaram no colapso do velho governo, no verão de 1788, 
as pessoas começaram a falar da necessidade de uma cons­
tituição para regulamentar todos esses assuntos de maneira 
permanente. Elas tinham conhecimento de que, naquele 
exato momento, os norte-americanos estavam elaborando 
precisamerite um documento desse tipo. E a 7 de julho de 
1789, antes mesmo da queda da Bastilha, a recém-instituída 
Assembléia Nacional declarava-se um organismo com poder 
constituinte. À constituição que ela finalmente veio a produ­
zir, em setembro de 1791, pretendia encarnar o oposto de 
tudo quanto havia sido o Antigo Regime. Ela cultuava: a 
soberania da nação; o império da lei; a separação dos pode­
res; o governo eletivo, representativo; e uma ampla gama 
de garantias de direitos individuais.
Porém, essa imagem negativa do Antigo Regime não 
era simplesmente um conjunto de princípios políticos. Desde 
bem o início, a Revolução Francesa estivera igualmente preo­
cupada com questões sociais. Exatamente dois meses depois 
que os Estados-Gerais se haviam reunido pela primeira vez, 
na famosa sessão da noite de 4 de agosto, os deputados 
puseram abaixo toda uma série de instituições sociais e eco­
nômicas básicas. Essas revogações, juntamente com muitas 
outras que se seguiram no correr de 1790 e 1791, foram 
consideradas tão fundamentais, que foram elas também 
incorporadas à constituição. A Assembléia Nacional, decla­
rava o preâmbulo:
abole irrevogavelm ente as institu ições que feriam a liber­
dade e a igualdade de direitos.
D eixa de existir quer nobreza, quer pariato, ou distin­
ções hereditárias, ou distinções de ordens, pu regime feudal, 
ou justiça privada, ou quaisquer dos títu los, denom inações 
ou prerrogativas daí derivados, ou qualquer ordem de cavala-
12
ria, ou quaisquer corporações ou condecorações para as 
quais se exigiam provas de nobreza, ou que im plicavam dis­
tinções de nascim ento, ou qualquer outra superioridade que 
não a de funcionários públicos no exercício de seus deveres.
Deixam de existir venalidade ou hereditariedade de car­
gos públicos.
Deixam de existir, para qualquer parte da nação e para 
qualquer indivíduo, qualquer privilégio ou exceção em rela­
ção à lei comum de todos os franceses.
Deixam de existir guildas, ou corporações de profis­
sões, artes e ofícios. ____
A lei não m ais reconhece quaisquer juram entos relig io­
sos ou qualquer outro com prom isso contrário aos direitos 
naturaisou à constitu ição.
Assim, o Antigo Regime foi também uma forma de 
sociedade. Fora dominado pelas “ ordens privilegiadas” 
do clero e da nobreza, que haviam estado isentas de mui­
tos dos encargos comuns, mas haviam monopolizado todos 
os poderes e vantagens públicos. As oligarquias privilegia­
das, autoperpetuadas, haviam, na verdade, transformado 
o conjunto da sociedade pré-revolucionária numa selva caó­
tica e irracional de casos especiais, exceções e desigualda­
des. No início de 1790, um outro termo foi amplamente 
utilizado para descrever tudo isso: aristocracia. E a mani­
festação mais flagrantemente irracional da aristocracia 
havia sido o feudalismo, ou “ regime feudal” , aquele sis­
tema em cuja vigência senhores feudais, que não eram 
donos da terra, podiam arrecadar tributos e obter favores 
de pessoas que o eram. Para aquela maioria de franceses 
que era camponesa, o desaparecimento do feudalismo foi 
talvez a mais fundamental das mudanças que separaram o 
velho regime do novo — muito embora o “ tempo dos 
senhores” devesse permanecer na memória popular até o 
início do século XX [40: 17].
A ideologia da Revolução Francesa não nasceu de 
uma só vez. Desenvolveu-se e refinou-se acompanhando a 
marcha dos acontecimentos. O mesmo se deu com o con­
13
ceito de Antigo Regime dos revolucionários. O mais 
momentoso progresso a ter lugar após as mudanças iniciais 
de 1789 foi a querela com a Igreja Católica que se tornou 
pública com o malfadado juramento de lealdade imposto 
ao clero em novembro de 1790. O sentimento anti-religioso 
fora pequeno, em 1789, mas o anticlericalismo havia sido 
considerável. Este se manifestara na abolição dos dízimos, 
no confisco e revenda das propriedades da Igreja, na aboli­
ção do monasticismo e, finalmente, na tentativa de reorga­
nizar completamente a Igreja francesa na Constituição Civil 
do Clero. Muitos clérigos encararam também a introdução 
da tolerância para com os protestantes como uma agressão 
à Igreja. Fosse essa ou não a intenção, a política eclesiás­
tica da Assembléia Constituinte constituiu certamente um 
repúdio a um Antigo Regime no qual uma Igreja Católica, 
abastada e controlada pelos nobres, desfrutara do monopó­
lio da veneração pública e dominara o atendimento tanto 
da educação quanto da assistência aos pobres. Esse repúdio 
tornou-se mais determinado depois que muitos clérigos se 
recusaram ao juramento de 1790 e que, finalmente, o papa 
condenou publicamente a Revolução. Em 1794, muitas 
regiões da França foram assoladas por um movimento de 
“ descristianização” e o Estado recusou-se a reconhecer 
qualquer associação religiosa. Até mesmo os revolucioná­
rios que deploravam essas posições extremadas passaram a 
encarar o Antigo Regime como uma época de superstição 
e de fanatismo. Evidentemente, este era, então, um terceiro 
significado: o Antigo Regime foi um modo de organização 
religiosa e espiritual, tanto quanto política e social.
O ataque à religião estabelecida tornou a Revolução 
um assunto mais do que meramente francês. A Igreja Cató­
lica Romana era um organismo internacional e uma agres­
são contra ela nessa escala não podia deixar de ter repercus­
sões internacionais. O impulso inicial dos revolucionários 
havia sido viver em paz com o mundo exterior e renunciar
14
ao uso da força nas relações internacionais. Os governos 
estrangeiros, de sua parte, estavam na maioria muito satis­
feitos em manter-se afastados e assistir à França chafurdar 
num caos sem remédio. Porém, o ato mesmo de racionali­
zar o país levou os revolucionários a entrar em conflito com 
autoridades estrangeiras, algumas das quais gozavam de 
direitos soberanos sobre encraves dentro da França. Uma 
dessas autoridades era o papa, em Avignon, e a solicitação 
bem-sucedida de seus súditos para se incorporarem à França 
complicou ainda mais suas relações com o novo regime. 
Os príncipes alemães também gozavam de direitos na Alsá- 
cia, que foram contestados pelas novas doutrinas de sobera­
nia nacional da França. Depois da frustrada tentativa de 
Luís XVI de emigrar, em junho de 1791, os monarcas 
estrangeiros começaram a ter um interesse mais sério por 
seu destino e, quando o imperador e o rei da Prússia deixa­
ram claras suas preocupações na declaração de Pillnitz 
(agosto de 1791) e ofereceram franca hospitalidade aos aris­
tocratas émigrés franceses, tornou-se cada vez mais evidente 
que o Antigo Regime ainda podia ser restaurado mediante 
maquinações estrangeiras. A França foi à guerra em abril 
de 1792 para evitar isso, e o primeiro resultado da guerraj 
foi pôr abaixo a monarquia. Assim, quando os exércitos 
franceses assumiram finalmente a ofensiva naquele outono, 
fizeram-no em nome de uma república e contra os monar-j 
cas e todas as instituições que os apoiavam. Oferecendo 
“ fraternidade e ajuda a todos os povos que desejem recupe­
rar sua liberdade” , convocavam os súditos a que se revol­
tassem por toda parte. Com o lema “ Guerra aos castelos, 
paz aos casebres” , identificaram-se com as revoluções sociais 
onde quer que fossem. Em dezembro, os generais franceses 
receberam instruções para instalar novas autoridades nos 
territórios ocupados e cuidar da eleição de pessoas “ fiéis à 
liberdade e à igualdade, e que renunciassem a privilégios” . 
O feudalismo devia ser destruído; e as terras da Igreja, con­
fiscadas. Em outras palairjas, o Antigo Regime passava a
15
ser encarado como um fenômeno não simplesmente francês. 
Podia ser encontrado onde quer que houvesse reis, nobres, 
privilégios, feudalismo e propriedades eclesiásticas. E isto 
representava a maior parte da Europa.
A polarização de opiniões
A objetividade histórica não teve nenhum papel na 
definição inicial do Antigo^Regime. Os revolucionários defi­
niam-no a fim de condena-lo. Isto estabeleceu um padrão 
para grande parte da discussão subseqüente sobre ele como 
fenômeno histórico, até mesmo entre respeitáveis especialis­
tas. O que eles pensavam sobre o Antigo Regime dependia, 
em muito, do que pensavam da Revolução. A primeira rea­
ção de espectadores desinformados, ou mesmo informa­
dos, era supor que os representantes eleitos da nação fran­
cesa sabiam sobre o que estavam falando. Se condenavam 
e rejeitavam tão veementemente o Antigo Regime, este cer­
tamente havia merecido isso, e havia sido o que eles diziam. 
Desse modo, a princípio a maneira como os revolucioná­
rios pintavam o governo, a sociedade e a Igreja que estavam 
demolindo conseguiu ampla aceitação. Até mesmo Arthur 
Young, o viajante inglês que, mais do que qualquer outro, 
assistira aos estertores do Antigo Regime, admitiu, em 1791, 
que “ será muito difícil que se tente insistir em que uma 
revolução não fosse absolutamente necessária para o bem- 
estar do reino” . Contudo, poucos anos depois, modificaria 
sua opinião de maneira bastante radical. A essa altura, 
havia-se chegado a extremos que nenhuma opressão ante­
rior parecia justificar. Ao lado disso, a essa altura também, 
o Antigo Regime começara a encontrar defensores.
O primeiro, e maior deles, foi Edmund Burke. Suas 
Reflectións on the Revolution in France, de 1790, consis­
tiam, principalmente, numa refutação indignada da idéia 
de que a liberdade inglesa e a liberdade proclamada pela
16
Revolução Francesa tivessem algo em comum. Enquanto 
os ingleses edificaram com base nas instituições que haviam 
herdado, os franceses haviam repudiado globalmente as 
suas, e desse modo as reformas destes eram desprovidas 
de raízes. Melhor teriam feito se modificassem e emendas­
sem o Antigo Regime, no qual “ dispunham dos elementos 
de uma constituição quase tão boa quanto se podia dese­
jar” . Era bem verdade que faltavam nele as instituições 
representativas da Inglaterra, mas essas poderiam ter sido 
introduzidas sem as convulsões sociais que realmente ocor­
reram. Apesar de todos os seus abusos, a velha monarquia 
fora “ um despotismo antes na aparência do que na realida­
de” e se havia mostrado, quando menos, disposta a dar 
apoio areformas, sob o governo de Luís XVI.
Houvera muito exagero a respeito dos privilégios de 
que desfrutavam a nobreza e o clero; sua conduta havia 
sido honrada e civilizada, e não marcada por quaisquer “v í-, 
cios incorrigíveis” . Em todo caso: “ Receber honras e até 
mesmo privilégios conforme as leis, opiniões e costumes 
arraigados de nosso país, originários dos preconceitos de 
séculos, nada tem que provoque horror e indignação em 
quem quer que seja” . Mais do que tudo, Burke escandali­
zava-se com o ataque à Igreja, o qual, de fato, apenas 
começava no momento em que ele escreveu. A religião ofi­
cial, perfeita com todos os seus dons independentes, consti­
tuía, a seu ver, um dos fundamentos de qualquer sociedade 
bem equilibrada: “ Sabemos, e mais do que isso, sentimos 
intimamente que a religião é a base da sociedade civil e a 
fonte de todo bem e de todo conforto” .
O que isso significava é que a Revolução havia des-| 
truído um Estado, uma sociedade e uma instituição religiosa 
que eram fundamentalmente sadios e fortes: talvez necessi­
tando alguma reforma, mas não destruição. Isto punha 
Burke diante do problema de por que, nesse caso, tinha 
havido uma revolução. A resposta que deu a isso foi uma
17
resposta que iria continuar repercutindo pela historiografia 
do Antigo Regime até os dias de hoje. Houvera uma cons­
piração. A mente dos franceses havia sido corrompida pelos 
escritos de uma “ cabala literária” que “ alguns anos antes 
havia montado algo parecido com um plano completo para 
a destruição da religião cristã” . Esses escritores haviam-se 
aliado ao “ interesse monetário” de plutocratas sem raízes 
— que miravam, com cobiça, as enormes propriedades da 
Igreja e, com inveja, o prestígio social da nobreza — para 
pôr abaixo e saquear a preciosa herança de séculos de 
desenvolvimento histórico da França. Variantes da teoria 
conspiratória da Revolução Francesa proliferaram também 
por toda a década de 1790 na França, Alemanha, Escócia 
e alhures [16], mas poucos de seus defensores dedicaram 
muito tempo à discussão da natureza do Antigo Regime. 
Admitiam suas virtudes como evidentes por si mesmas, 
pois, ao contrário de Burke em 1790, se dirigiam em grande 
parte a um público que já tinha posição tomada. A Revolu­
ção era o mesmo que saque, violência, carnificina irracio­
nal e caos. Era totalmente desnecessário salientar que o 
Antigo Regime fora uma época de tranqüilidade, ordem, 
subordinação, respeito pela propriedade e reverência à reli­
gião.
Contudo, isto significava aceitar, da versão que os 
revolucionários tinham das coisas, uma parte maior do que 
seus detratores gostariam de ter admitido. Ambas as ver­
sões dependiam do pressuposto de que 1789 assinalara uma 
ruptura fundamental na história da França; de que não 
havia continuidade, e nada de comum entre o que prece­
dera a grande convulsão social e o que a ela se seguira. O 
mais importante de todos os admiradores do Antigo Regime, 
o próprio Napoleão, tinha certamente essa opinião. Essa a 
razão por que seu regime foi marcado por uma deliberada 
tentativa de trazer de volta os traços mais proeminentes 
da era pré-revolucionária — Igreja, monarquia, corte e 
nobreza. Seu objetivo era, bem conscientemente, harmoni­
18
zar a velha França com a nova. Essa política foi extrema­
mente controvertida, mas não fez progredir o debate histó­
rico a respeito do Antigo Regime. Qualquer espécie de 
debate era abafado ao tempo de Napoleão. Somente depois 
de 1815 é que os estereótipos da década de 1790 começaram 
a ser modificados.
Mesmo então, a preocupação principal era com a 
Revolução, e a discussão sobre o Antigo Regime continuava 
a ser um subproduto. Muito embora os Bourbons não 
pudessem ter sido reintegrado^ se não aceitassem grande 
parte de tudo quanto se fizera desde 1789, nem eles, nem 
os émigrés, que com eles voltaram, sentiram-se constrangi­
dos a gostar daquilo. Nem fizeram segredo algum de sua 
entranhada preferência pelo Antigo Regime. Afinal de con­
tas, sua própria reivindicação de legitimidade, bem como 
seus modelos sociais, políticos e espirituais provinham 
daquela época. Nessa atmosfera hostil, os adeptos do legado 
revolucionário punham-se na defensiva e, pela primeira vez, 
começaram a argumentar que a Revolução havia sido tanto 
parte das tradições francesas quanto um repúdio a elas [11]. 
Os monarquistas exaltavam os poderes dos ancestrais do 
rei restaurado; os aristocratas, as proezas dos antepassados 
dos émigrés que haviam regressado; e os clérigos, a autori- 
' dade cristã da velha Igreja galicana. Enquanto isso, os 
liberais afirmavam que a liberdade não era novidade para 
a França em 1789. Uma tradição de liberdade remontava 
às brumas frânciças, e a Revolução apenas a reafirmara 
após um século e meio de despotismo real, tirania aristocrá­
tica e fanatismo clerical. Isso implicava que o Antigo Regime 
não era algo de imóvel e de imutável. Desenvolvera-se, ainda 
que de maneira indesejável; e, longe de ser tranqüiía, orde­
nada e respeitosa, sua história foi tumultuada e cheia de 
conflitos, na verdade tão espetaculares e horríveis quanto 
os da Revolução. Ainda que lançada, fora de sua rota, em 
excessos que poucos se interessavam em defender, a Revolu­
ção fora uma tentativa sincera de restaurar e salvaguardar
19
a tradição francesa de liberdade, dotando a nação de uma 
constituição. Ao que alguns conservadores replicavam 
dizendo ser absurdo afirmar que não houvera uma consti­
tuição ao tempo do Antigo Regime. As realizações do 
Estado pré-revolucionário provavam o contrário.
.. Nisso tudo se encontram as sementes de uma avaliação 
mais elaborada do Antigo Regime como fenômeno histórico. 
Nem todas elas germinaram imediatamente, e de fato, preci­
sariam ser fertilizadas com novas pesquisas antes que o fizes­
sem. Dos que discutiram esses assuntos entre a restauração 
e a revolução de 1848, foram poucos os que fizeram alguma 
pesquisa original, especialmente sobre o Antigo Regime. 
Afinal de contas, ele constituía apenas a introdução à sua 
verdadeira preocupação. A exceção foi Joseph Droz [10], 
que em 1839 começou a elaborar o primeiro estudo sério 
sobre a queda da velha ordem. É bem verdade que seu obje­
tivo ainda era polêmico: Droz pretendia refutar o que, na 
época, era a louvação mais popular da inevitabilidade da 
Revolução, a feita por François Mignet [9]. Seu argumento 
básico se tornaria clássico: que a Revolução poderia ter sido 
evitada se as ordens privilegiadas, egoístas e sem visão, hou­
vessem se agrupado em apoio a um monarca reformador, 
em vez de obstruir seus planos. O livro de Droz foi fruto 
de 28 anos de reflexão e leitura, notavelmente pormenori­
zado e bem informado, bem como sereno em seu julga­
mento. Infelizmente, seu impacto foi abafado em meio a 
uma reativação generalizada do entusiasmo pela tradição 
revolucionária que marcou os últimos insípidos anos da 
monarquia de julho. Os anseios românticos, que transforma­
ram em grandes best-sellers as histórias da Revolução de 
Michelet ou de Louis Blanc, não encontraram atrativo algum 
no Antigo Regime, uma “ dessas eras de decadência em que 
nenhum ideal cresce ou floresce” (Carlyle). Somente depois 
de 1848, quando mais uma vez se tentara a revolução e, 
uma vez mais, dera errado, foi que as virtudes de uma aná­
lise mais tranqüila recuperaram parte de sua atração.
20
Rumo a uma análise acadêmica
O estudo acadêmico sério do Antigo Regime teve iní­
cio em 1856. Esse foi o ano da publicação de UAncien 
Régime et la Révolution Française, de Alexis de Tocqueville. 
Não que o objetivo desse político liberal desiludido fosse 
fundamentalmente acadêmico. Ele escreveu, não para com­
preender o passado, mas sim sua própria época. Contudo, 
isto por si só implicava compreender melhor o passado, e 
para consegui-lo Tocqueville foi mais além das memórias 
e das polêmicas revolucionárias, que até então constituíam 
as fontes principais para a história do Antigo Regime. Foi 
aos arquivos, até mesmo aosarquivos provinciais. É bem 
verdade que ali despendeu apenas alguns meses, e que o 
que encontrou confirmou, em grande medida, idéias suas 
e serviu para rechear idéias cujas linhas básicas já tinha 
em mente há duas décadas [1; 3]. Não obstante, indicou o 
caminho de tesouros não-explorados que, até hoje, estão 
sendo garimpados pelos historiadores. Tocqueville foi além 
dos historiadores liberais da restauração na minimização 
da ruptura de 1789. Segundo ele, a Revolução meramente 
fortaleceu e completou certo número de tendências subja­
centes de longo prazo da sociedade francesa. Considerava 
que a tendência inevitável da história moderna era na dire­
ção da igualdade. O perigo era que ela abrisse o caminho 
para o despotismo e para a destruição da liberdade. Esse 
perigo fora aumentado incomensuravelmente pela Revolu­
ção, que, muito longe de instaurar a liberdade, havia feito 
desaparecer a maioria das instituições mediante as quais ela 
funcionava, abrindo desse modo o caminho para o despo­
tismo desenfreado de Napoleão. A centralização, que Toc­
queville e seus contemporâneos liberais culpavam por mui­
tos dos males da França do século XIX, não constituía, 
na verdade, nada de novo. Fora um traço fundamental do 
Antigo Regime. Igualmáite fundamental, porém, haviam
21
sido os obstáculos que a ela se interpunham, vestígios da 
liberdade mais completa da Idade Média, sob a forma de 
privilégios, imunidades, direitos consagrados pelo uso, e 
instituições independentes, tais como o clero e os tribunais 
de justiça. O despotismo jamais fora inteiramente bem-suce­
dido em aboli-los. Essa foi a tarefa histórica da Revolução, 
cuja força motora, o impulso para a igualdade, era o 
impulso da própria história.
Essa interpretação, muito embora fosse um panfleto 
desassombrado para a própria época de Tocqueville, impli­
cava que o Antigo Regime era algo a ser compreendido, 
em vez de atacado ou defendido. Era um tema merecedor 
de estudo de pleno direito; pois afinal de contas tinha 
havido homens vivendo sob, reconhecivelmente, a mesma 
organização do Estado e da sociedade durante vários sécu­
los antes de 1789, e durante essa época, como na década , 
de 1790, o curso da história fluíra com igual força, ainda 
que menos espetacularmente. Para Tocqueville, o Antigo , 
Regime era a Idade Média em ruínas. E isso não foi pecu­
liar à França. A maior parte da Europa possuía exatamente 
as mesmas instituições, fragmentos daquilo que ele situou 
no século XIV como “ a velha constituição da Europa” [18: 
cap. 4}. Grande parte do livro foi dedicado a investigar por 
que, se as instituições européias eram tão uniformes, a 
Revolução que iria finalmente destruí-las, e nivelar os des­
troços, ocorreu primeiro na França. Essa indagação condu­
ziu Tocqueville para dentro de áreas de investigação mal 
tocadas por seus predecessores, mas que têm constituído o 
centro da preocupação dos historiadores que se seguiram. 
Ele foi o primeiro a estudar de que modo o governo doí 
Antigo Regime realmente funcionava fora dos corredores 
de Versalhes. Foi o primeiro a olhar por trás da pintura 
da sociedade e das instituições francesas feita pelos homens 
de 1789 e á perguntar até que ponto ela era precisa. Foi o 
primeiro a prestar atenção ao caráter econômico da velha 
ordem, a qual, afirmou, terminou num esplendor de pros­
22
peridade. O relato que fez de todas essas coisas foi muito 
corrigido e modificado por pesquisas posteriores, mas não 
sua avaliação da importância delas. Contudo, sua resposta 
final à pergunta que o havia levado a tratar delas condu­
ziu-o de volta a suas preocupações originais mais gerais. 
A derrubada do Antigo Regime começou na França porque 
ali o governo centralizado havia excluído todo mundo de 
qualquer voz ativa ou experiência nos assuntos públicos, e 
com isso privado as pessoas de qualquer senso de dever 
público. Nessas circunstâncias, elas se deixaram seduzir 
pelos sonhos impraticáveis do Iluminismo, que lhes ofere­
ceu um desprezo fatal pelas instituições existentes. Assim, 
curiosamente, o estudo pioneiro de Tocqueville terminou 
muito perto da idéia de Burke de que a Revolução resultou 
de um complô filosófico.
As teorias conspiratórias exerceram evidente atração 
sobre todos os que encontravam algo a admirar no Antigo 
Regime. Para Tocqueville, esse algo foram ôs vestígios de 
uma antiga liberdade. Para Hyppolite Taine, foram a ordem 
e os frutos de um crescimento orgânico. Escrevendo umà 
geração depois de Tocqueville, Taine foi mais um liberal 
desiludido. Partidário da revolução de 1848 na juventude, 
tornara-se, com o passar dos anos, cada vez mais hostil a 
idéias democráticas, e sua aversão foi legitimada pelos 
excessos da Comuna de 1871. Ele veio para a história tar­
diamente, quando já tinha assegurada sua reputação como 
crítico literário e psicólogo. O objetivo de Les origines de 
la France contemporaine (1875-93) era buscar explicar por 
que a França se havia dotado de treze constituições em 
oitenta anos e, no entanto, estava ainda insatisfeita. Taine 
considerou que a resposta estava em haver-se abandonado 
irresponsavelmente o Antigo Regime, em 1789; e o primeiro, 
melhor e mais famoso volume de sua obra foi dedicado 
ao estudo desse regime. Como Tocqueville, recorreu aos 
arquivos, e o livro foi dedicado aos arquivistas e bibliotecá­
rios que o haviam ajudado. Porém recorreu a eles mais
2:
em busca de colorido do que de novas informações, uma 
vez que sabia basicamente o que pensava antes de começar. 
Como Burke, com quem defrontara em sua extensa leitura 
da literatura inglesa, acreditava que toda sociedade tem seu 
caráter peculiar, produto de uma evolução singular. Isso 
não exclui a evolução futura, mas abandonar em bloco a 
herança do passado era atrair a má sorte e abrir as portas 
para a espécie de anarquia que se viu na França após 1789. 
Taine não aprovava mais do que Tocqueville o Antigo 
Regime como um todo. Via muito bem que continha mui­
tas injustiças, desigualdades e ineficiências. Mas era um cres­
cimento natural e mantinha os homens dentro das normas; 
e essas qualidades contrabalançavam todos os seus defei­
tos. Ele podería ter continuado a evoluir; porém em 1789 
os franceses tomaram a trilha errada, induzidos a abando­
nar inteiramente sua herança sob a liderança de uma mino­
ria instruída, seduzida pelo “ espírito clássico” e pelo hábito 
de pensar em categorias racionais e abstratas representadas 
pelo Iluminismo. A razão lhes ensinava que tudo pode ser 
mudado e, de imediato, posto em ordem; mas “ em história, 
melhor é ir em frente do que começar novamente” [19: 55] 
e a derrubada do Antigo Regime apenas liberou as energias 
maníacas de uma massa ignara decidida a destruir toda a 
ordem e toda a propriedade. Assim, o Antigo Regime era 
perfeitamente viável, mas foi subvertido. Taine apresentou 
pouca evidência nova em apoio às suas opiniões, ao contrá­
rio de Tocqueville. Expressou-se, porém, em estilo brilhante, 
e sua denúncia da Revolução atraiu todos aqueles a quem 
desgostava a Terceira República, numa época em que polí­
ticos republicanos, para não falar em historiadores, procu­
ravam defender a legitimidade do regime mediante ruido­
sos apelos às tradições revolucionárias [12]. Taine não era 
católico, mas seus argumentos seduziram os defensores da 
Igreja oficial e os que se opunham à separação entre a 
Igreja e o Estado. Também não era monarquista, mas os 
que acreditavam na Restauração encontraram alento na
24
idéia de que a monarquia era a forma natural de governo 
que evoluíra em solo francês. Mais tarde, quando já havia 
morrido há muito tempo, fascistas, anticomunistas e extre­
mistas de direita acolheriam alegremente o realce que dera 
à ordem e à autoridade, bem como seu desprezo pela popu-i 
laça.
Tocqueville e Taine deram origem a importantes tradi­
ções na interpretação do Antigo Regime, as quais têm 
influenciado profundamente os historiadores até os dias 
de hoje. Há também uma terceira tradição, quesurpreen­
dentemente demorou para instaurar-se, mas que talvez cons­
titua a mais influente de todas nos dias que correm. Trata- 
se da interpretação econômica; e remonta a Marx. Para 
Marx, o progresso fundamental da história moderna fora 
a substituição do modo feudal de produção pelo modo capi­
talista. Em termos sociais, isto significou que a burguesia 
suplantou a velha aristocracia fundiária no topo da socie­
dade. Não foi um processo tranquilo, mas sim pontuado 
por lutas violentas toda vez que a burguesia havia acumu­
lado poder econômico suficiente para assumir a autoridade 
política. A Revolução Francesa foi o exemplo extremo desse 
tipo de lutas, quando o feudalismo foi finalmente erradi­
cado na França após a tomada do poder pela burguesia. 
Algo semelhante a essa interpretação havia ocorrido a um 
dos líderes revolucionários de 1789, Barnave, embora só 
viesse a ser publicado em 1843, quando seu impacto foi 
muito pequeno [21]. Tocqueville, como vimos, tocou em 
aspectos econômicos do Antigo Regime, mas não prosse­
guiu nisso. Coube a Jean Jaurès, em sua Histoire socialisíe 
de la Révolution Française (1901-4) [20], popularizar a opi­
nião de que a mais importante característica da velha ordem 
foi sua estrutura econômica característica. Era a etapa de 
decadência do feudalismo, quando o poder da antiga nobreza 
estava sendo minado por outros grupos que adquiriam uma 
porção de terra e quando meios mais eficientes de organi­
zar a produção ganhavam força pelo progresso do capita-
25
lismo. Jaurès acompanhou Tocqueville na ênfase à prospe­
ridade dos últimos anos do Antigo Regime. Isso demons­
trava a confiança do capitalismo às vésperas de sua vitória 
final. Porém, sua tentativa de realçar os fatores econômi­
cos o fez perceber o quão maldocumentados eram eles, e 
ele fundou uma série para a publicação de documentos eco­
nômicos importantes relacionados com a Revolução.
Inevitavelmente, muitos deles continham também 
informações sobre o Antigo Regime, e haveriam de contri­
buir em muito para aguçar as perspectivas dos historiado­
res do século XX ao escreverem sobre a época pré-revolu­
cionária. Essas perspectivas são o assunto do restante deste 
estudo.
3
Os limites do 
Antigo Regime
O Antigo Regime foi um fenômeno europeu; uma etapa 
na evolução política, econômica, social e cultural da Europa. 
Mas o que era a Europa? Os próprios geógrafos apenas a 
estenderam até os Urais no correr do século XVIII; e pode­
ria justificar-se a exclusão da Rússia, com sua religião carac­
terística e sua estrutura política e social semi-asiática, de 
qualquer definição do Antigo Regime em âmbito europeu 
— pelo menos até o século XVIII, quando aquele regime, 
no oeste, já começava a desintegrar-se [109; 118]. E nin­
guém admitiria a inclusão dos Bálcãs dominados pelos tur­
cos. Tem-se afirmado, algumas vezes, que as colônias euro­
péias na América, antes da independência, faziam parte 
do Antigo Regime do continente metropolitano [124; 129]; 
e há, por certo, determinados sentidos em que elas se vincu­
lavam. Essas colônias foram instituídas e controladas por 
Estados do Antigo Regime; a riqueza que ajudaram a pro­
duzir influenciou profundamente o desenvolvimento econô­
mico e social de seus países de origem; muitas de suas insti­
tuições eram réplica de modelos europeus; e a consecução 
de sua independência esteve indissoluvelmente ligada à 
desintegração do Antigo Regime na Europa. Contudo, as
64
condições coloniais — geográficas, climáticas e raciais 
— levaram a que, desde o início, os modelos europeus tives­
sem de ser modificados a ponto de quase se tornarem irre­
conhecíveis, e as diferenças disso resultantes não diminuí­
ram com o correr do tempó. Esta a razão por que a inde­
pendência, quando aconteceu, pareceu uma coisa tão lógica. 
Por isso, provavelmente é melhor pensar sobre o começo 
da vida colonial moderna antes como um produto do que 
como parte integrante do Antigo Regime. Ela se encontra 
fora de seus limites geográficos.
Mesmo sendo um produto do Antigo Regime, contudo, 
a colonização deve ter-se originado dentro de seus limites 
cronológicos. Isto significa que o Antigo Regime deve ter 
começado, o mais tardar, antes de 1492.
Inícios
As pessoas do século XVIII, entre as quais não eram 
exceção os franceses de 1789, pensavam no mundo moderno, 
o mundo no qual haviam nascido, como tendo início por 
volta de 1500. No espaço de meio século antes ou depois 
dessa data, o Renascimento despertou um espírito de inves­
tigação ao qual o Iluminismo remontava sua própria ascen­
dência; a imprensa foi inventada; a América foi descoberta 
e abriu-se uma nova rota marítima para o oriente; os tur­
cos assumiram o controle do sudeste europeu; e a Reforma 
estilhaçou a unidade da Igreja. Essas mudanças pareciam 
separar definitivamente a Idade Moderna da Idade Média. 
Os homens estavam conscientes de ainda estar convivendo 
com suas conseqüências. Esse ponto de vista persiste na 
rotulação convencional dos anos entre cerca de 1500 e 1800 
como período early modem. (Na França, ele é chamado 
período moderno. A história, a partir de 1789, é conhecida 
como contemporânéá.)
65
Mas alguns dos traços principais da vida européia nesse 
período datam de muito antes do século iniciado em 1500. 
A Igreja Católica tinha suas raízes na Antigüidade; e os prin­
cípios organizacionais, geográficos e econômicos em que ela 
ainda se baseava em 1789 estavam todos eles bem-estabeleci- 
dos antes do ano 1000. Assim também o domínio da socie­
dade por uma nobreza fundiária: várias das nobrezas do 
século XVIII remontavam sua autoridade à conquista nos 
primórdios da época medieval, nem sempre sem alguma jus­
tificação [123]. E o feudalismo, como forma de organização 
econômica, estava plènamente desenvolvido; dirão alguns 
que já em decadência, muito antes do século XV. Conside­
rações dessa espécie têm levado alguns historiadores a aban­
donar ou, pelo menos, a tratar como secundária a divisão 
do segundo milênio d.C. em período medieval e período 
early modem. Para os marxistas, o Antigo Regime é, antes 
de mais nada, o tempo do modo de produção feudal. Nesse 
sentido, ele começou, ou surgiu, em toda a plenitude, logo 
depois do Império Carolíngio, no século IX [104]. Poucos 
não-marxistas iriam tão longe assim. Mas Dietrich Gerhard 
[118], que considera que as instituições básicas da Europa 
(com a exclusão da Rússia e dos Bálcãs) perduraram imutá­
veis por quase oito séculos, acredita que elas se “ cristaliza­
ram” entre os séculos XI e XIII. Foi então que as invasões 
terminaram, a população começou a crescer e nova tecnolo­
gia foi introduzida nos transportes, construções e moinhos. 
Os Estados monárquicos começaram a surgir e a pôr ordem 
em grandes extensões do continente e, copi maior segurança, 
foi retomada a urbanização após séculos de recuo. Foi tam­
bém durante esse período que a organização em Estados 
ou ordens hereditários e funcionais passou a caracterizar a 
sociedade. Nesse entretempo, a onipresença de uma Igreja 
poderosa e autoconfiante proporcionou à Europa um senti­
mento de unidade que a tudo recobria.
Essa interpretação, por sua vez, é muito influenciada 
pela obra dos historiadores econômicos franceses não-
66
marxistas (ou ex-marxistas), a chamada Escola dos Annales. 
Para eles, o movimento populacional é o motor mais fun­
damental da história e eles se sentem capazes de situar o 
ponto inicial do velho regime demográfico, pelo menos com 
boa dose de precisão. Ele começa com a Peste Negra de 
meados do século XIV; a primeira e a maior epidemia da 
espécie que só irá desaparecer no decorrer do século XVIII. 
Alastrando-se a partir do leste, foi a precursora da “unifi­
cação microbiana” do mundo que iria manter limitados 
os níveis de população durante trezentos anos [89; 109]. 
Tocqueville, abordando a história de uma perspectiva muito 
diferente, enxergava também o século XIV como o ponto 
inicial a partir do qual se poderia traçar a longa decadência 
da liberdadeque foi a essência do Antigo Regime.
Poucos historiadores do regime francês original, que 
deu nome a todos os demais Antigos Regimes, foram tão 
longe assim. A monarquia absoluta e a fragilidade das ins­
tituições representativas que era seu corolário não podem 
ser encontradas na França muito antes das últimas décadas 
do século XV [27; 58] — muito embora possa haver quem 
afirme que não foi antes de meados do século XVII que o 
triunfo daquela e a derrota das outras se tornaram irrevogá­
veis [59; 64]. Assuntos esses que se mantiveram sem solu­
ção por todo o agitado século transcorrido da morte de 
Henrique II (1559) até a maioridade de Luís XIV (1661). 
A Igreja galicana atacada pela Revolução, por mais antigo 
que fosse seu modelo econômico e organizacional, pouco 
mais tinha em comum com sua antepassada medieval. Sua 
relação com o rei e com o papa havia sido transformada 
em 1516 pela Concordata de Bolonha, e seu ponto de vista 
sobre o mundo fora profundamente marcado, ainda no 
século XVI, pela experiência da Reforma e da Contra- 
Reforma. E a mais fundamental de todas as instituições 
sociopolíticas destruídas em 1789, a venalidade dos cargos, 
também se tornou muito difundida no sécíilo XVI. É bem 
verdade que a venalidade na vida pública começou a lançar
raízes no século XV e que a plena hereditariedade dos car­
gos não foi institucionalizada antes de 1604. Quando, porém, 
Francisco I criou o departamento das Parties Casuelles, em 
1522, para tratar da renda advinda da venalidade, era evi­
dente sua importância tanto para o governo quanto para a 
sociedade, e ela devia manter-se dominante até 1789 [74].
A maioria dos historiadores da França concordaria, 
por isso, que a expressão Antigo Regime é adequada para 
descrever os séculos XVI e XVII, bem como o século XVIII. 
A única exceção recente é BettyJJêhrens. A seu ver, o que 
as pessoas de 1789 pensavam estar abolindo era um sistema 
repleto de abusos. “ Implícita nessa expressão” , continua 
ela, com lógica questionável, “ é, pois, a idéia de decadên­
cia” [36: 10]. Consequentemente, o Antigo Regime foi ape­
nas aquela época durante a qual as pessoas estavam cons­
cientes de que as coisas não podiam perdurar. Esse senti­
mento a autora só consegue encontrar depois de 1748, 
quando a Inglaterra começou a progredir na competição 
internacional e a crítica do Iluminismo aos costumes vigen­
tes começou a ter algum impacto. Porém, continua sendo 
discutível que a permanência do poder britânico ou a derru­
bada da ordem existente parecesse de qualquer maneira pro­
vável a seus contemporâneos.
Pierre Goubert, a mais eminente autoridade francesa 
sobre o Antigo Regime dos últimos tempos, descarta a 
sugestão de que ele só tenha começado em 1748 como um 
“ erro de interpretação inaceitável sequer por parte de um 
estudante de primeiro ano” [40]. Para Goubert, 1748, longe 
de ser o começo do Antigo Regime, mais parecia ser o fim 
ou, pelo menos, o começo do fim.
Fins
A'Revolução Francesa terminou, para sempre, com 
uma singular combinação de características políticas, sociais,
econômicas e culturais que dera à França seu caráter distin­
tivo desde o século XVI. Poucos de seus contemporâneos 
anteviram o cataclisma antes que ele acontecesse, e nenhum 
deles predisse ou imaginou sua escala arrasadora e seu cará­
ter desordenado. Mas com visão retrospectiva, os historia­
dores podem ver que o Antigo Regime vinha sofrendo pres­
sões sem precedentes desde meados do século XVIII [40: 
vol. 2]. A competição internacional consumia além dos limi­
tes os recursos do Estado e sobrecarregava seu sistema 
financeiro. Um público leitor instruído, em expansão, enca­
rava tudo com confiança cada vez menor, questionando e 
discutindo todas as opiniões convencionais sobre qualquer 
assunto que se possa imaginar. A população crescia a níveis 
nunca antes atingidos e, enquanto se ampliava a distância 
entre ricos e pobres, perdiam importância as velhas divi­
sões de status entre os ricos nas camadas superiores da 
sociedade. A Revolução resultou de algumas dessas tendên­
cias e simplesmente coincidiu com outras [43]. Mas foram 
elas, e ainda outras como elas, que, de maneira eficiente, 
levaram o Antigo Regime ao fim, muito mais do que qual­
quer conjunto de decretos revolucionários.
Algumas dessas tendências mais profundas, por outro 
lado, levaram muito tempo depois da Revolução para se 
concretizar. Isso ajuda a explicar o fato de que muitas das 
características do Antigo Regime que os homens de 1789 
tentaram abolir voltaram à tona quando terminaram as 
sublevações de 1790. Entre elas, a mais evidente foi a pró­
pria monarquia. A Revolução levou três anos para tornar- 
se republicana, e a França viria a ser uma república apenas 
durante dezesseis dos 81 anos entre 1789 e 1870. Mesmo 
após a instauração da Terceira República, os partidos 
monárquicos continuaram fortes por muitos anos. Nem 
mesmo a monarquia absôluta desapareceu para sempre em 
1789. A autoridade do imperador Napoleão foi, de fato, 
muito mais ampla do que qualquer coisa de que os reis 
Bourbons haviam desfráfado; e seu sobrinho, Napoleão III,
quase não sofria qualquer limitação constitucional. Mesmo 
a monarquia parlamentar da Restauração detinha poderes 
que teriam chocado os constituintes de 1789. Foi isso que 
Tocqueville quis dizer ao afirmar que a função histórica 
da Revolução foi remover os obstáculos remanescentes do 
caminho do despotismo. Os homens de 1789 haviam bus­
cado limitar o poder do Estado dentro de limites claros e 
inflexíveis. Eliminaram de vez antigos limites, convencidos 
de que eram inadequados. Inadequados ou não, eles se 
mostraram impossíveis de substituir. Traços de algumas 
outras instituições, supostamente extintas em 1789, na ver­
dade voltaram a aparecer mais tarde. A carreira jurídica 
veio a poder reviver certa forma de venalidade para deter­
minados cargos. A tributação indireta e os monopólios esta­
tais, execrados e condenados pelos revolucionários de pri­
meira hora, começaram a retornar dissimuladamente já ao 
tempo do Diretório. Pela Concordata de 1801, Napoleão 
voltou a instaurar uma Igreja Católica estatal que só viria 
a perder seu caráter oficial em 1905. Em todas essas esfe­
ras, e em muitas outras também, a Revolução não demons­
trou constituir a ruptura definitiva com a velha ordem polí­
tica e institucional que seus participantes pretendiam. Con­
tudo, nenhuma das instituições que sobreviveram, ou res­
suscitaram mais tarde, fizeram-no intactas ou sem qualquer 
transformação. Não passavam de sombras do que haviam- 
sido, e já não existia grande parte do contexto dentro do 
qual haviam anteriormente funcionado. Por isso, parece 
ainda razoável concluir que o Antigo Regime político da 
França realmente se extinguiu com a Revolução.
Parece bem menos evidente que a Revolução tenha 
representado uma ruptura social equivalente. É certo que 
ela abandonou o quadro legal das ordens no qual a socie­
dade francesa estava oficialmente organizada. Aboliu-se a 
nobreza; aboliu-se o privilégio. Contudo, Napoleão criou 
uma nova nobreza, e ao tempo da Restauração o que sobrara 
da antiga nobreza desfrutou de uma existência tranqüila.
70
Os títulos são ainda regularmente ostentados na França de 
hoje. Porém, com a abolição da venalidade, a nobreza tor­
nou-se o que nunca havia sido antes: uma casta fechada, 
impenetrável a não ser por usurpação. Assim como se deu 
com os resíduos políticos do século XIX, as continuidades 
superficiais dissimularam transformações mais profundas. 
A mais profunda de todas, contudo, antecedeu a Revolu­
ção em pelo menos meio século — o surgimento de uma 
elite social unificada de proprietários fundiários que o 
mundo pós-revolucionário chamaria de os Notables. Ao 
abolir a atração contrária dos cargos venais e pondo à venda 
quantidades sem precedentes de terras confiscadas da Igreja 
e dos émigrés numa época de ruína econômica, a Revolu­
ção meramente confirmou e acelerou a consolidação desse 
grupo de proprietáriosde terras [71]. O comércio e a indús­
tria mereciam tão pouco prestígio social no início do século 
XIX quanto haviam merecido desde os tempos mais longín­
quos. Neste sentido, será mais apropriado encarar a predo­
minância dos Notables como a última fase da velha ordem 
do que como a primeira de uma nova ordem. A velha 
nobreza terá sido absorvida em uma entidade mais ampla, 
mas a perspectiva e os valores desse grupo maior ainda pro­
vinham, em grande medida, dos grupos dos nobres. Ape­
nas quando os proprietários de terra deixaram de gozar 
automaticamente de preferência é que se pôde dizer que 
desapareceu o Antigo Regime social.
Isto só poderia acontecer quando a economia como 
um todo se houvesse transformado. Hoje em dia, em geral 
se concorda que, nessa esfera, a Revolução Francesa não 
fez absolutamente diferença alguma. A supressão dos emba­
raços econômicos pelos homens de 1789 foi, como diz 
Pierre Goubert [40], “ permissiva, não decisiva” . A maior 
de todas essas supressões, a abolição do “ feudalismo” , é 
encarada hoje em dia como tendo sido menos definitiva 
do que outrora se pensou, graças a persistentes resíduos e 
à tendência dos senhofes feudais de se ressarcirem das per­
das mediante aluguéis mais altos. Nesse meio-tempo, a 
Revolução destruiu a vida econômica e levou o comércio 
ultramarino francês à quase total destruição. Até a década 
de 1840, a economia da França permanecia apática e preca­
tada, e sua estrutura poúco se alterou desde os anos de 
expansão de meados do século XVIII. O que a transformou 
foi o advento das ferrovias, que rompeu com o velho 
modelo agrícola regional, criou um mercado nacional e deu 
enorme estímulo à indústria pesada pela demanda por car­
vão, ferro e aço [92], Foi isto que realmente deu fim ao 
Antigo Regime econômico, o que aconteceu entre í 840 e 
1870. Somente então a produtividade agrícola começou a 
elevar-se acima de níveis antiqüíssimos, as cidades começa­
ram a atingir dimensões sem precedentes, e a produção 
fabril moderna começou a ser vista como a norma indus­
trial. E também foi somente então que o prestígio da pro­
priedade fundiária começou a debilitar-se, e que a França 
dos Notables, de tendência monárquica, começou a recuar 
diante das forças populares do republicanismo democrático.
Todas essas mudanças têm também uma dimensão cul­
tural. O impacto cultural da Revolução, com sua investida 
contra os costumes e hábitos locais, sua linguagem e seu 
imaginário nacional, e sobretudo sua tentativa de descristia- 
nização, não pode jamais ser subestimado. O debate a res­
peito do múltiplo legado da Revolução iria dividir a elite 
instruída do país por todo um século. Contudo, quando a 
sublevação terminou, muita coisa continuou como antes. 
O, catolicismo iria ser a religião da imensa maioria dos fran­
ceses até a Terceira República. De um modo ou de outro, 
o avanço constante da educação básica não foi perturbado 
pelo turbilhão revolucionário. O processo estava pratica­
mente completado na década de 1880 [98]. No mundo do 
trabalho, não foi senão por volta desse mesmo período que 
os valores, hábitos e atitudes pré-industriais dos artesãos e 
camponeses começaram a se desvanecer [101].
72
Sob todos esses aspectos, pode-se afirmar que o Antigo 
Regime mais profundo, não-político, realmente não morreu 
até a segunda metade do século XIX, e que, se alguma revo­
lução política foi decisiva, teria sido a de 1848 e não a de 
1789. Poderá dizer-se o mesmo sobre a Europa como um 
todo? Sob um aspecto básico, o fim do Antigo Regime 
europeu era visível a partir da década de 1730. Pois foi 
durante aquela década que começou o crescimento implacá­
vel da população, que continua até hoje. Em quase todos 
~usrpaíses da Europa, os nascimentos começaram a superar 
as mortes, à medida que a fome e as epidemias se tornaram 
menos freqüentes e se aperfeiçoou o manejo humano do 
meio ambiente. Uma característica demográfica ainda mais 
moderna, o controle generalizado da natalidade, surgiu 
pela primeira vez na França cinqüenta anos depois, mas 
não se disseminou pelo continente todo senão após mais 
de um século. Precocidade econômica de outra espécie foi 
visível na Inglaterra antes do fim do século XVIII, ao pôr- 
se em marcha a Revolução Industrial. Com exceção da Bél­
gica, nada de comparável seria visto nos países continentais 
até a década de 1840, quando, como na França, o impacto 
das ferrovias mostrou ser decisivo [128]. A essa altura, o 
feudalismo no interior e a servidão, sua manifestação mais 
espetacular, esboroavam por toda parte. Alguns vestígios 
persistiram até o século XX adentro, mas no final da década 
de 1860 a imensa maioria do campesinato europeu estava 
livre [107]. Então o caminho estava aberto, afirma Jerome 
Blum, o historiador dessa emancipação, para que uma 
sociedade de classes moderna substituísse a velha sociedade 
das ordens. Contudo, parece incerto que isso tenha real­
mente acontecido muito antes de 1914; e a evidência que 
faz com que ele seja tão cauteloso convenceu pelo menos 
um outro historiador de que o Antigo Regime permanecia 
vivo, ainda que não perfeitamente saudável, em anos avan­
çados do século XX. A industrialização, a urbanização e a 
ascensão de uma burguçsia capitalista favorável a um
n
governo representativo certamente tiveram progresso espe­
tacular no decorrer do século XIX. Porém, Arno J. Mayer 
afirma [122] que, até 1914, a agricultura ainda era o ele­
mento predominante na economia européia, que a maior 
parte dos europeus continuava sendo de habitantes rurais 
e que, em sua maioria, os países ainda eram governados 
por monarcas e aristocracias cujo poder tinha suas raízes 
na terra e nas obrigações. Nesse sentido o Antigo Regime 
persistiu, e seus representantes estavam decididos a não 
desistir de seu poder em favor ̂ e novas forças. A militariza­
ção da Europa na geração anterior a 1914 refletiu essa 
determinação e, naquele ano, as ordens dirigentes de todos 
os lados encaravam a guerra como um modo de salvar e 
fortalecer sua autoridade ameaçada. Cometeram um erro 
de avaliação. O ano de 1914 assistiu ao início da “ guerra 
dos trinta anos do século XX* * e foi esse conflito que, afi- 
nãb destruiu o Àntigo Regime.
O que quer que pense dessa estimulante afirmação 
[132], a maioria dos historiadores de hoje certamente con­
cordará que o Antigo Regime não terminou subitamente, 
mas que foi se exaurindo no correr de diversas gerações. 
Isso teria entristecido os homens de 1789, cuja intenção era 
estraçalhá-lo com alguns golpes rápidos. E certamente fica­
riam consternados em pensar que, duzentos anos depois 
que eles o condenaram à morte, sua derradeira agonia esta­
ria ainda na memória dos vivos.
4
Bibliografia comentada
Esta bibliografia não tem a menor pretensão de ser abran­
gente. Simplesmente relaciona todas as obras citadas no texto, 
ao lado de outras não diretamente citadas, mas também de impor­
tância fundamental para o estudo do Antigo Regime. As bibliogra­
fias e notas de rodapé das obras abaixo relacionadas são ricas de 
citações para a orientação de leitores interessados em ir mais fundo 
nesse estudo.
Sempre que existam, são mencionadas as edições inglesas 
de obras francesas.
Os historiadores e o Antigo Regime
[1] R. Herr, Tocqueville an d the O ld R egim e (1962). Fundamen­
tal para a compreensão da abordagem do maior historiador 
do Antigo Regime.
[2] H. Brogan, T ocqueville (1973). Uma útil introdução.
[3] F. Furet, In terpreting the French R evo lu tion (1981). Contém 
um ensaio importante sobre Tocqueville, bem como uma 
famosa polêmica contra as interpretações marxistas sobre o 
fim do Antigo Regime.
[4] A. Cobban, “Hippolyte Taine, historian of the French Revo­
lution” , H isto ry , LIII (1968).
[5] ___ , H istorians an d the causes o f the French R evo lu tion
(1946). Reproduzido em A sp ec ts o f the French R evolu tion 
(1968).
[6] J. McManners, “The historiography of the French Revolu­
tion” , in A. Goodwin (org.), N ew C am bridge M odern H is­
to ry , VIII, The A m erican a n d French R evo lu tio n s 1763-93 
(1965).
[7] A. Gérard, L a R évo lu tion Française: m yth es e t in terpréta­
tions, 1789-1970 (1970).
[8] C. Mazauric, Sur la R évo lu tion Française (1970). Polêmica 
marxista em resposta à crítica revisionista.
[9] F. Mignet, H isto ire d e la R évo lu tion Française (1824). 
Começa com o Antigo Regime do ponto de vista liberal revo­
lucionário.
[10]F. X. J. Droz, H isto ire du règne d e L ou is X V I p en d a n t les 
années où Ton p o u va it p réven ir ou d iriger la R évo lu tion 
Française (1839-42), 3 v.
£11] S. Mellon, The p o litica l uses o f h istory: a s tu d y o f h istorians 
o f the French R estora tion (Nova York, 1958). Coloca [9] 
dentro do con tex to .
[12] P. Farmer, France review s its revo lu tion ary origins. Social 
p o litic s a n d h istorical opin ion in the Third R ep u b lic (1944).
[13] J. H. M. Salmon, “Venality of office and popular sedition 
in seventeenth century France: a review of a controversy” , 
P a st an d P resen t, 37 (1967).
[14] A. Arriaza, “Mousnier, Barber and the ‘society of orders’ ” , 
P a st and P resen t, 89 (1980).
[15] R. C. Mettam, “ Two-dimensional history: Mousnier and 
the Ancien Régime” , H isto ry , LXVI (1981).
[16] J. M. Roberts, The m yth o lo g y o f the secret societies (1972). 
Examina algumas teorias conspiratórias do final do Antigo 
Regime.
[17] ___ , “The French origins of the ‘right’” , Transactions
o f the ro ya l h istorical soc ie ty , 5. série, 23 (1973).
O Antigo Regime na França
Obras gerais
[ 18] A. de Tocqueville, The A ncien R égim e an d the French R evo ­
lution (1875, e muitas edições desde então). O sempre frutí­
fero ponto de partida de todos os estudos.
76
[ 19] H. Taine, L es origines de la France contem poraine. L ‘Ancien 
R égim e (1876; trad. inglesa, 1896). Básico para compreender 
muitas obras do início do século XX.
[20] J. Jaurès, H isto ire soc ia lis te d e la R évo lu tio n Française. 
L a C on stitu an te (1903; nova ed., 1939). A obra fundamen­
tal da interpretação de esquerda do Antigo Regime e da Re­
volução.
[21] A. J. M. P. Barnave, Introduction à la R évo lu tion Française, 
F. Rude (org.) (I960). Redescoberta pelos historiadores mar­
xistas um século depois de sua publicação inicial, em 1843. 
Antes uma curiosidade histórica do que uma análise aceitável.
[22] A. Cherest, L a chu te de l ’A n cien R ég im e (1787-1789) 
(1884-6), 3 v.
[23] F. Funck-Brentano, The O ld R eg im e in France (1926; trad. 
ingl., 1929). A menos abrasiva das interpretações de direita.
[24] P. Gaxotte, T h e French R évo lu tion (1928; trad. ingl., 1932). 
A mais popular das interpretações de direita; não de um aca­
dêmico.
[25] M. Marion, D ictionnaire des in stitu tions d e la France aux 
X V IIe e t X V IIIe siècles (1923; reed., 1968). Obra de referên­
cia fundamental, ainda que muito tendenciosa.
[26] P. Sagnac, L a fo rm a tio n de la so c ié té fran ça ise m odern e 
(1945-6), 2 v.
[27] H. Méthiver, L ’A n cien R ég im e (1961).
[28] ____, L e siècle de L o u is X I I I (1964).
[29] ___ , L e siècle d e L o u is X I V (1950).
[30] ___ , L e siècle de L o u is X V (1965).
[31] ___ , L a f in d e l ’A n cien R ég im e (1970). Livros extrema­
mente esquemáticos. Tendência de direita. Recentemente 
(1983) reeditados num só volume.
[32] R. Mousnier, The in stitu tions o f France under the abso lu te 
m onarchy 1598-1789 (1974 e 1980; trad. ingl., 1980 e 1983), 
2 v. Enorme, desconjuntado, muito decepcionante concei- 
tualmente, mas rico de informações.
[33] A. Soboul, L a France à la veille d e la R évo lu tion . É co n o ­
m ie e t so c ié té (1961). A mais recente interpretação de es­
querda.
[34] A. Cobban, “ The myth of the French Revolution” (1955). 
Reproduzido in A sp e c ts o f the French R evo lu tion (1968). 
Ponto de partida do moderno debate sobre a Revolução e 
suas origens.
[35] ___ , The so c ia l in terpreta tion o f the French R evo lu tion
(1964). A mais importante investida de meados do século 
contra as interpretações predominantes da Revolução e de 
suas origens.
[36] C. B. A. Behrens, The A ncien R égim e (1967). Desproposi­
tado, mas estimulante e bem-ilustrado.-------
[37] R. Mandrou, In trodu ction à la France m odern e (1500-1640). 
E ssai de p sych o lo g ie h istorique (1961). Na época, uma abor­
dagem pioneira.
[38] ___ , L a France aux X V IIe e t X V IIIe siècles (1967). Suma­
ria a obra de toda uma geração, nem sempre com muita coe­
rência.
[39] D. Richet, L a France m oderne: l ’esprit des institu tions (1973). 
Ensaio sério.
[40] P. Goubert, L ’A ncien R égim e I: L a so c ié té (1962; trad, ingl., 
1973). L ’A ncien R ég im e II: L es p o u vo irs (1973). Sem som­
bra de dúvida, o melhor estudo moderno. Refinado, huma- 
nístico, bem-informado.
[41] P. Goubert e D. Roche, L es fran ça is e t l ’A n cien R ég im e 
(1984), 2 vs. Revisão ilustrada e prodigamente produzida 
de [40].
[42] G. Cabourdin e J. Viard, L exique h istorique d e la France 
d ’A ncien R ég im e (1978). Obra de referência útil. Mais atua­
lizada do que [25],
[43] W. Doyle, Origins o f the French R evo lu tion (1980). Contém 
uma introdução bibliográfica.
[44] W. G. Runciman, “Unnecessary revolution: the case of 
France” , Journal o f European S ocio logy, XXIV (1983).
Aspectos politicos
[45] M. Antoine, L e conseil du R o i sous le règne d e L ou is X V 
(1970).
78
[46] R. Bonney, P o litica l change in France under R ichelieu an d 
M azarin 1624-1661 (1978).
[47] J. F. Bosher, “ Cham bres d e ju stice in the French monarchy” ,
in ____ , (org.), French go vern m en t a n d so c ie ty 1500-1850.
E ssays in m em o ry o f A lfre d C obban (1973).
[48] ____ , French Finances 1770-1795. F rom business to bureau­
cracy (1970).
[49] A. Cobban, “ The p a rlem en ts of France in the eighteenth 
century” . Reproduzido in A sp e c ts o f the French R evo lu tio n 
(1968).
[50] W. Doyle, “The parlements of France and the breakdown 
of the old regime, 1770-1788” , French H istorica l S tu d ies 
(1970). Interpretação contrária a [49].
[51] J. Egret, L o u is X V et l ’o p p o sitio n parlam en ta ire 1715-1774 
(1970).
[52] J. Flammermont, L e chancelier M aupeou e t les pa rlem en ts 
(1883).
[53] P. Gaxotte, L ou is X V an d his tim es (1934; trad, ingl., 1934).
[54] E. Glasson, L e p a rlem en t de Paris. Son rôle p o litiq u e depu is 
le règne d e Charles V I I ju s q u ’à la R évo lu tion (1901). 2 vs.
[55] A. N. Hamscher, The p a rlem en t o f P aris a fte r the F ronde 
(1976).
[56] J. M. Hayden, France an d the E states General o f 1614 (1974).
]57] L. Laugier, Un m inistère re fo rm a tem sou s L ou is X V . L e
triunvirat (1975). Forte tendência de direita.
[58] P. S. Lewis, “The failure of the French medieval estates” , 
P a st a n d P resen t, 23 (1962).
[59] J. Russell Major, R epresen ta tive govern m ent in early m odern 
France (1980).
[60] R. Mousnier, L a vénalité des o ffices so u s H enri I V e t L ou is 
X III (2. ed., 1971). A mais importante obra de Mousnier. 
Sobreviverá às demais.
[61] ___ , L e conseil du ro i d e L ou is X I I à la R évo lu tion (1970).
Ensaios reunidos.
[62] ___ , L a p lu m e, la fa u c ile e t le m arteau (1970). Ensaios
reunidos.
[63] F. Olivier-Martin, L ’organisation co rpora tive d e la France 
sou s l ’A n cien R ég im e (1938).
[64] G. Pagès, L a m onarch ie d ’A ncien R ég im e en France (1928). 
Obra básica do estudo moderno sobre a monarquia do 
Antigo Regime.
[65] D. Parker, The m aking o f French abso lu tism (1983). Útil 
levantamento atualizado. Bom sobre as origens medievais.
[66] B. Pocquet, L e d u c d ’A igu illon e t la C h alo ta is (1900), 3 vs.
[67] D. Richet, “Autour des origines idéologiques lointaines de 
4a-R-évolution:élites et despotisme” , A n n a les E S C (1967). 
Artigo criativo sobre a evolução da idéia dos N otab les.
[68] J. H. Shennàn, The pa rlem en t o f P aris (1968).
[69] G. V. Taylor, “ Revolutionary and non-revolutionary con­
tent in the cahiers de 1789. An interim report” , French H is­
torical S tu d ies (1973).
Aspectos sociais
[70] B. Behrens, “Nobles, privileges and taxes in France at the 
end of the Ancien Régime” , Econ H R , XV (1962-3). Impor­
tante obra do revisionismo inicial em inglês.
[71] G. Chaussinand-Nogaret, Une histo ire des élites, 1700-1848 
(1975).
[72] ___ , The French N o b ility in the eigh teenth century. F rom
feu da lism to E n ligh tenm ent (1976; trad, ingl., 1985).
[73] E. Coornaert, L es corpora tion s en France avan t 1789 (1941).
[74] W. Doyle, “The price of offices in eighteenth century Fran­
ce” , H istorica l Journal (1984).
[75] G. Duby, The three orders: fe u d a l so c ie ty im agined (1979; 
trad, ingl., 1980).
[76] G. Ellis, “ Rhine and Loire: Napoleonic elites and social 
order” , in G. Lewis e C. Lucas (orgs.), B eyo n d the Terror. 
Essays in French regional and social history, 1794-1815 (1983).
[77] F. L. Ford, R o b e an d sw ord. The regrouping o f the French 
aristocracy a fte r L ou is X I V (1953).
[78] R. Forster, “ The French Revolution and the ‘new’ elite, 
1800-50” , in J. Pelenski (org.), The A m erican a n d E uropen 
Revolutions, 1776-1848 (1980).
80
[79] C. Loyseau, C inq livres du d ro it des offices, su iv is du livre 
des seigneuries e t celui des ordres (1610). Tratado do século 
XVII em que Mousnier se baseou largamente.
[80] C. Lucas, “Nobles, bourgeois, and the origins of the French 
Revolution” , P a s t an d P resen t (1973). Reproduzido em D. 
Johnson (org.), French so c ie ty an d the R evo lu tio n (1976).
[81] R. Mousnier, S ocia l hierarchies (1969; trad, ingl., Londres, 
1973).
[82] ___ , “ Recherches sur les soulèvements populaires en
France avant la Fronde” , R evu e d ‘h isto ire-m odern e e t con ­
tem pora in e , IV (1958).
[83] ___ , P easant uprisings in seventeen th cen tu ry France, R u s­
sia a n d China (1967; trad, ingl., 1971).
[84] G. Pagès, “ La vénatilé des offices dans l’ancienne France” , 
R evu e H istoriqu e , CLXIX (1932).
[85] B. Porchnev, L es sou lèvem en ts p o p u la ires d e 1623 à 1648 
(1963).
Aspectos econômicos
[86] J. Dupâquier, L a p o p u la tio n fran ça ise aux X V I I e e t X V IIIe 
siècles (1979). Resumo acessível das pesquisas mais recentes.
[87] C. E. Labrousse, E squisse du m ou vem en t des p r ix e t des 
revenus en France au X V IIIe siècle (1933), 2 vs.
[88] ___ , L a crise d e l'écon om ie fran ça ise à la f in de l ’A n cien
R égim e (1944). Duas obras básicas para todo o estudo 
moderno.
[89] E. LeRoy Ladurie, “History that stands still” , in The m ind 
a n d m eth o d o f the h istorian (1981). Uma investida contra 
[91].
[90] H. Liithy, L a banque p ro te s ta n te en France d e la révocation 
de l ’É d it de N an tes à la R évo lu tion (1959), 2 vs.
[91] M. Morineau, L es fau x -sem b la n ts d ’un dém arrage écon om i­
que. A gricu ltu re e t dém ograph ie en France au X V I I I e siècle 
(1971). Uma interpretação èontestadora. Controvertida. Ata­
cada por [89].
[92] R. Price, A n econ om ic h isto ry o f m odern France 1730-1914 
(1981).
81
[93] F. Simiand, R echerches anciennes e t nouvelles su r le m o u ve­
m en t général d es p r ix du X V I e au X I X e siècle (1932).
[94] G. V. Taylor, “Types of capitalism in eighteenth century 
France” , E H R (1964).
[95] ___ , “Noncapitalist wealth and the origins of the French
Revolution” , A m erican H R , LXXII (1967). O artigo de 
maior influência no debate sobre as origens da Revolução.
Aspectos culturais
[96] R. Darnton, “The high Enlightenment and the low life of 
literature in pre-revolutionary France” , P a st an d P resen t, 
51 (1971).
[97] ___ , The business o f E nlightenm ent. A publish ing h istory
o f the E ncyclopédie, 1775-1800 (1979).
[98] F. Furet e J. Ozouf, R eading and writing. L iteracy in France 
fro m Calvin to Jules Ferry (1977; trad, ingl., 1982).
[99] N. Hampson, W ill and C ircum stance. M ontesqu ieu , R o u s­
seau and the French R evolu tion (1983).
[100] J. Quéniart, L es hom m es, l ’Église e t D ieu dans la France 
du X V IIIe siècle (1978).
[101] W. M. Reddy, The rise o f m arket culture. The textile trade 
an d French society, 1750-1900 (1984). Brilhante tese sobre 
o ponto de vista dos trabalhadores do Antigo Regime e sua 
persistência.
[102] D. Roche, Le siècle des lum ières en P rovince. A cadém ies et 
académiciens provinciaux, 1680-1789 (1978), 2 vs.
[103] M. Vovelle, Piété baroque et déchristianisation en P rovence 
au X V IIIe siècle (1973).
O Antigo Regime para além da França
[ 104] P. Anderson, Passages fro m A n tiq u ity to feu da lism (1974). 
Primeira parte de uma reinterpretação marxista, brilhante 
mas controvertida, do impetuoso movimento da história 
européia moderna.
[105]— —, Lineages o f the absolutist S ta te (1974). Segunda parte 
de [104].
82
[106] M. Beloff, The age o f abso lu tism , 1660-1815 (1954).
[107] J. Blum, The en d o f the o ld order in rural E u rope (1978).
[108] F. Braudel, The M editerranean an d the M editerranean w orld 
in the age o f P h ilip I I (1949; trad, ingl., 1973), 2 v. Uma 
das mais importantes obras de história deste século. Pulula 
de idéias para enfrentar as questões propostas pelo Antigo 
Regime.
[109] ___ , C iviliza tion an d capita lism , 15th-18th cen tu ry (1979;
trad, ingl., 1981-4):
( \ ) -The structures o f everyd a y life (1981);
(2) The wheels o f com m erce (1982);
(3) The p ersp ec tive o f the w o r ld (1984).
O testamento de Braudel. Excitante e brilhantemente estimu­
lador. A melhor introdução para a história económica do 
início da era moderna.
[110] R. Brenner, “Agrarian class structure and economic deve­
lopment in pre-industrial Europe’’, P a st a n d P resen t, 70 
(1976) e
[111] Symposium, P a st an d P resen t, 97 (1982).
[ 112]P. Burke, P opu lar culture in early m odern E u rope (1978). 
Levantamento pioneiro.
[113] A. Corvisier, A rm ie s an d so c ie ty in E u rope f r o m 1494 to 
1789 (1976; trad, ingl., 1979).
[114] R. Davis, The rise o f the A tla n tic econom ies (1973).
[ 115] J. Delumeau, C atholicism betw een L u th er a n d Voltaire: a 
new view o f the C ou n ter-R eform ation (1971; trad, ingl., 
1977). Resumo excelente de obras recentes, com vasta biblio­
grafia.
[116]W. Doyle, The o ld E uropean order, 1660-1800 (1978).
[ 117] M. W. Flinn, The E uropean dem ograph ic system , 1500-1820 
(1981).
[ 118]D. Gerhard, O ld E urope. A s tu d y in con tin u ity , 1000-1800 
(1981).
[119] H. Kamen, E uropean soc ie ty , 1500-1700 (1984).
[120] P. Laslett, The w o rld we have lo s t (1965, 3. ed., 1983).
[121] R. Mandrou, L ’E u ro p e “a b so lu tis te” , 1649-1775 (1977, 
nova ed. 1980, intitulada L a raison du p rin ce).
[122] A. J. Mayer, The persisten ce o f the O ld R egim e. E u rope 
to the G reat W ar (1981). A versão recente mais controver­
tida do fim do Antigo Regime.
[123] J. Meyer, N oblesses e t p o u v o irs dans l ’E u rope d ’A n cien 
R égim e (1973).
[124] R. R. Palmer, The age o f the dem ocra tic revo lu tion (I) The 
Challenge (1959).
[125] L. Réau, L ’E urope fran ça ise au siècle des lum ières (1951).
[126] M. Roberts, “The military revolution, 1560-1660“ , in E ssays 
in Sw edish H isto ry (1967).
[127] A. Sorel, E urope and the French R evolu tion (1885; trad, 
ingl., v. 1, orgs. A. Cobban e J. W. Hunt, 1969).
[ 128] C. Trebilcock, The industria liza tion o f the con tinen ta l 
po w ers (1981).
[129] I. Wallerstein, The m odern w orld-system (1974-80), 2 vs. 
Síntese fascinante da história econômica do início da era 
moderna. Profunda influência sobre[109].
[130] E. N. Williams, The A n cien R égim e in Europe. G overn ­
m en t and S ociety in the m ajor sta tes, 1648-1789 (1970).
[131] M. Raeff, The w ell-ordered p o lice sta te: social and in stitu ­
tional change through the law in the Germ anies and Russia, 
1600-1800 (1983).
[132] G. Eley e D. Blackbourn (orgs.), The pecu liarities o f G er­
man history: bourgeois socie ty a n d p o litic s in nineteenth cen­
tury Germ any (1984). Levanta dúvidas importantes a respeito 
de [122].
[133] C. B. A. Behrens, Society, govern m en t an d the E nlighten­
ment. The experiences o f eighteenth century France a n d P rus­
sia (1985). Comparações úteis e incomuns.

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