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LIVRO - HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

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HISTÓRIA 
CONTEMPORÂNEA
Professor Me. Rui Bragado Sousa
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; SOUSA, Rui Bragado.
 
 História Contemporânea. Rui Bragado Sousa.
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2016. Reimpresso em 2020.
 245 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. História. 2. Contemporânea. 3. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0206-5
 CDD - 22 ed. 901
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD
Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Direção Operacional de Ensino
Kátia Coelho
Direção de Planejamento de Ensino
Fabrício Lazilha
Direção de Operações
Chrystiano Mincoff
Direção de Mercado
Hilton Pereira
Direção de Polos Próprios
James Prestes
Direção de Desenvolvimento
Dayane Almeida 
Direção de Relacionamento
Alessandra Baron
Head de Produção de Conteúdos
Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli
Gerência de Produção de Conteúdos
Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de 
Materiais
Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais
Daniel F. Hey
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco
Design Educacional
Yasminn Zagonel
Iconografia
Amanda Peçanha dos Santos
Ana Carolina Martins Prado
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Robson Yuiti Saito
Revisão Textual
Keren Pardini
Ilustração
André Luís Onishi 
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando 
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capa-
zes de alcançar um nível de desenvolvimento compa-
tível com os desafios que surgem no mundo contem-
porâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialó-
gica e encontram-se integrados à proposta pedagó-
gica, contribuindo no processo educacional, comple-
mentando sua formação profissional, desenvolvendo 
competências e habilidades, e aplicando conceitos 
teóricos em situação de realidade, de maneira a inse-
ri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais 
têm como principal objetivo “provocar uma aproxi-
mação entre você e o conteúdo”, desta forma possi-
bilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos 
conhecimentos necessários para a sua formação pes-
soal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cres-
cimento e construção do conhecimento deve ser 
apenas geográfica. Utilize os diversos recursos peda-
gógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possi-
bilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente 
Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e en-
quetes, assista às aulas ao vivo e participe das discus-
sões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de 
professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
Professor Me. Rui Bragado Sousa
Possui graduação em História pela Universidade Estadual de Maringá (2011), 
especialização em Filosofia e mestrado em História Social (2014) pela mesma 
instituição. Tem experiência no ensino de História com ênfase em História 
Contemporânea e História das Religiões. Atua na rede pública do estado 
do Paraná como professor de História e no Ensino Superior, modalidade a 
distância, pelo Centro Universitário Cesumar - Unicesumar.
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SEJA BEM-VINDO(A)!
Estimado(a) aluno(a), é uma satisfação e ao mesmo tempo uma responsabilidade ofere-
cer a você um manual didático de História Contemporânea, seguramente um dos perí-
odos mais complexos, em que a humanidade evoluiu tecnologicamente, militarmente, 
cientificamente; mas, concomitante à evolução da técnica, houve retrocessos inima-
gináveis, guerras que elevaram ao absurdo o número de vítimas militares e civis. Um 
tempo que trouxe consigo o paradoxo evidente entre evolução econômica e retrocesso 
social. Eric Hobsbawm definiu bem o século XX como a “Era dos extremos”, mas a deno-
minação poderia ser aplicada a toda contemporaneidade (cronologicamente abordada 
de 1789 até o 11 de setembro de 2001). 
A partir dessa visão não linear da História é necessário estabelecer um método de análi-
se que interligue as cinco unidades do livro, um roteiro didático para organizar critérios 
de avaliação e estudo do período. Em síntese, vale a máxima de Walter Benjamin (1994), 
de que todo documento de cultura é também um documento de barbárie. A evolução 
da técnica traz consigo um índice reverso, o retrocesso da sociedade. É nesse ponto 
que o Positivismo fracassa como metodologia histórica (a ilusão de conhecer o passado 
“como de fato foi”), porque, na evolução da técnica, o positivismo só foi capaz de reco-
nhecer os progressos da técnica, não os retrocessos da sociedade. A estética social de 
Benjamin, crítico da modernidade, será o pressuposto para analisar o período em ter-
mos dialéticos e culturais, seguindo a tendência dos grandes centros e da intelligentsia 
antropofágica brasileira, que em outros tempos consumiu Lukács e Gramsci e, nos anos 
noventa, Edward Palmer Thompson. Assim, acreditamos estar levando ao(à) aluno(a) da 
Unicesumar o que está em destaque na historiografia nacional, aliado, é claro, à didática 
necessária.
Partindo das premissas da história cultural e de uma citação magnífica de Hobsbawm 
(1998, p. 87), de que “o historiador das ideias pode não dar o mínimo para economia, e o 
historiador econômico desprezar Shakespeare, mas o historiador social que negligenciaum dos dois não irá muito longe”, busca-se compreender as questões materiais, as lutas, 
as revoluções, as guerras, a fome como a produção cultural da era contemporânea, co-
nhecida também como o mundo das superestruturas. 
Na apreensão da História Social (econômica e cultural), a concepção dos historiadores 
da Nova Esquerda Inglesa (Hobsbawm, Thompson, George Rudé, Raymond Williams) 
fornece conceitos valiosos. Tal como descrito por Harvey Kaye (1989), essa escola resga-
ta a memória dos chamados vencidos em uma perspectiva “de baixo para cima”, isso é 
de vital importância para a compreensão de que os grandes protagonistas da História 
são as classes trabalhadoras, em um sentido etimológico da palavra “classes”, enquanto 
coletividade, como relações e processos históricos. Nesse sentido, as classes baixas tor-
nam-se ativas na formação da História, como sujeito e objeto histórico, mais que meras 
vítimas passivas, protagonistas no sentido de “fazer-se”, de Thompson (1987). Espera-se 
que assim surjam – nas palavras de George Rudé (1991) – os rostos na multidão, gente 
de carne e osso, e não apenas os termos teóricos e metodológicos, ou grandes reis, mi-
litares e sacerdotes, como na metodologia positivista.
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Na análise da cultura moderna, os conceitos de Edward Said (1995), em Cultura e Im-
perialismo, têm afinidade com a metodologia utilizada nesse trabalho. “Cultura de-
signa todas as práticas, como as artes de descrição, comunicação e representação, 
que têm relativa autonomia perante os campos econômico, social e político, e que 
amiúde existem sob formas estéticas” (SAID, 1995, p. 13). A cultura, nesse sentido, é 
uma forma de identidade, “uma espécie de teatro em que várias causas políticas e 
ideológicas se empenham mutuamente”. Concebida dessa maneira, a cultura “pode 
se tornar uma cerca de proteção: deixa a política na porta antes de entrar” (SAID, 
1995, p. 13-14).
O conceito de “circularidade cultural” formulado por Mikhail Bakhtin e consolida-
do por Carlo Ginzburg permite compreender a influência mútua entre as esferas 
econômicas e culturais e assim verificar o desenvolvimento moderno por meio do 
mito do Fausto, por exemplo. O Fausto representa, expressa e dramatiza o processo 
pelo qual, no fim do século XVIII e início do seguinte, um sistema mundial especi-
ficamente moderno vem à luz, diz Marshall Berman (1994). De forma semelhante, 
os poemas de Charles Baudelaire denunciam o caos e a desordem e consolidam a 
expressão le modernité. Nesse processo, é importante verificar a marcha das utopias 
e o seu revés, o cientificismo da segunda metade do século XIX, assim como a dege-
neração do darwinismo no esclerosado darwinismo social. No século XX, o cinema 
e as novas formas estéticas modernas também serão abordados em sintonia com os 
grandes eventos históricos, como a Primeira Grande guerra, a Revolução Russa, os 
fascismos e o holocausto. 
Para um leitor mais cético e crítico quanto a essa metodologia, podem-suscitar ain-
da os exemplos de Hiroshima e Auschwitz, maior e mais destacado campo de con-
centração nazista, como contrapontos à evolução natural e linear da história. A his-
tória progrediu? Caberá ao leitor e futuro(a) professor(a) a resposta a essa questão 
dúbia e espinhosa. Boa leitura!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
A ERA DAS REVOLUÇÕES: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À 
PRIMAVERA DOS POVOS (1789-1848)
15 Introdução
16 A Revolução Industrial 
22 Os Trabalhadores e a Formação da Classe Operária 
36 Revolução Francesa 
47 A Era Napoleônica e o Congresso de Viena (1814-1815) 
51 Considerações Finais 
UNIDADE II
MODERNIDADE E “PROGRESSO”(1848-1900)
63 Introdução
64 1848 – Da Primavera dos Povos ao Golpe 18 Brumário de Luís Bonaparte 
(A História se Repete?)
73 Do Socialismo Utópico ao Socialismo Cientítico: do Manifesto Comunista 
à Comuna de Paris (1848-1871)
87 Matrizes do Pensamento Moderno: Nacionalismo, Darwinismo, 
Positivismo
100 Da Revolução Industrial ao Imperialismo 
106 Considerações Finais 
SUMÁRIO
UNIDADE III
DA GUERRA À REVOLUÇÃO: PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E 
REVOLUÇÃO RUSSA
115 Introdução
116 Das Luzes à Escuridão: Origem e Causas da Primeira Guerra Mundial 
(1900-1914)
124 A Primeira Grande Guerra: O Teatro de Operações (1914-1918) 
131 “A Revolução que Abalou O Mundo”: A Revolução Russa (1917) 
140 Formação da União Soviética, do Socialismo E Suas Consequências 
145 Considerações Finais 
UNIDADE IV
TEMPOS DE BARBÁRIE: FASCIMO, NAZISMO E SEGUNDA GUERRA 
MUNDIAL (1919-1945)
155 Introdução
156 Da Reconstrução ao Caos: O Pós-Guerra até a Crise de 1929 
163 Ascensão do Fascismo: Autoritarismo e Totalitarismo 
168 Nazismo: Hitler e o Grotesco Terceiro Reich 
176 A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) 
185 Considerações Finais 
SUMÁRIO
11
UNIDADE V
DA GUERRA FRIA AO “FIM DA HISTÓRIA” (1945-2001)
195 Introdução
196 A Guerra Fria e o Isolamento da URSS 
205 A Guerra Fria no Terceiro Mundo 
212 A Guerra Fria na América Latina 
215 Globalização, Descolonização e Neoliberalismo 
222 A Queda do Muro de Berlim e o Fim do Socialismo Real 
230 Considerações Finais 
237 CONCLUSÃO
239 REFERÊNCIAS
245 GABARITO
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Professor Me. Rui Bragado Sousa
A ERA DAS REVOLUÇÕES: DA 
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À 
PRIMAVERA DOS POVOS (1789-
1848)
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Analisar a profunda transformação qualitativa na transição do século 
XVIII para o XIX.
 ■ Avaliar os avanços e retrocessos da Revolução Industrial e Francesa.
 ■ Compreender a motivação dos motins populares e a formação da 
classe operária moderna.
 ■ Verificar a ascensão da burguesia como classe dominante e os novos 
valores da modernidade.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Revolução Industrial
 ■ Os trabalhadores e a formação da classe operária
 ■ Revolução Francesa
 ■ A Era Napoleônica e o Congresso de Viena (1814-1815)
INTRODUÇÃO
Nesta unidade, estudaremos, em termos cronológicos, a primeira metade do 
século XIX. Em termos históricos, denomina-se História Contemporânea o perí-
odo marcado pelas formas de produção capitalistas (consolidado com a Revolução 
Industrial, no setor econômico, e com a Revolução Francesa, em termos polí-
ticos) que prevalecem até os dias atuais. O título é claramente uma paráfrase 
do clássico de Hobsbawm que abre a coleção das “Eras” (Revoluções, Capital, 
Impérios, Extremos). O que não significa que o único referencial será esse his-
toriador e sua metodologia. Pelo contrário, nosso foco visa estabelecer diálogo e 
discussão com as demais vertentes historiográficas e, sempre que possível, per-
mitir que o leitor retire suas próprias conclusões, com embasamento referencial.
Ainda, a título de introdução, é necessário definir o moderno conceito de 
Revolução. Nesse quesito, a chamada “história dos conceitos”, que tem no ale-
mão Reinhart Koselleck seu maior nome, é bastante relevante. Há, em geral, uma 
imprecisão conceitual da expressão por se tratar de um produto linguístico da 
modernidade. Escreve Koselleck (2006, p. 62): 
O conceito semântico de “revolução” varia desde os movimentos de 
deposição e/ou golpes políticos e sociais até inovações científicas deci-
sivas, podendo significar tudo ao mesmo tempo, ou apenas um desses 
sentidos exclusivamente.
Revolução significa, etimologicamente, o retorno ou mudança de trajetória, um 
movimento cíclico para os antigos. Com Copérnico e sua obra sobre as revolu-
ções dos corpos celestes, o termo torna-se um conceito físico-político. A partir 
de Condorcet (teórico e político francês), o conceito passa da ciência para a polí-
tica, com a obra da Revolução Francesa. 
Para Karl Marx (2010, p 146), há um nível de coincidência e interdependên-
cia entre revolução política e social: “toda revolução desfaz a velha sociedade; 
nesse sentido, ela é social. Toda revolução derruba o velho poder; nesse sentido, 
ela é política”. Mas WalterBenjamin (2012, p 129), o crítico da noção de pro-
gresso, inverte as premissas meramente evolucionistas do termo: “Marx disse que 
as revoluções eram as locomotivas da história. Mas talvez elas sejam um pouco 
diferente. Talvez as revoluções sejam a mão da espécie humana que viaja nesse 
Introdução
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A ERA DAS REVOLUÇÕES: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À PRIMAVERA DOS POVOS (1789-1848)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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trem puxando os freios de emergência”. Ou seja, parar um desenvolvimento 
catastrófico também não deixa de ser uma revolução.
Trata-se evidentemente de um conceito variável, mas, quanto aos obje-
tivos desta unidade, basta compreendê-lo como uma alteração, rompimento 
com as antigas formas de produção econômica (Revolução Industrial) e polí-
tica (Revolução Francesa). 
A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
O período de 1770 a 1848 marca uma transição, uma mudança súbita no padrão 
da evolução social e política. Descreve Geoge Rudé (1991, p. 3):
Para mencionar apenas algumas inovações, as fábricas urbanas, as 
ferrovias, os sindicatos estáveis, um movimento trabalhista, as ideias 
socialistas, bem como a nova Lei dos Pobres e uma força policial na 
Inglaterra, eram indícios de que uma nova era, longe de estar sendo 
criada, já havia surgido. 
No campo econômico, toda essa transformação, no que se convencionou chamar 
de “modernidade” ou era contemporânea, deve-se aos impactos da Revolução 
Industrial.
A definição conceitual de 
Revolução Industrial varia de 
acordo com a concepção de cada 
intérprete do tema. Mas, em linhas 
gerais, seguindo os passos de Paul 
Mantoux (1994) em obra clássica 
sobre o evento supracitado, tra-
ta-se de uma mudança radical na 
forma de produção de mercado-
rias, mudança esta que acarreta 
uma série de alterações na cadeia 
A Revolução Industrial
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produtiva, nos modos de produção e de trocas. A primeira revolução indus-
trial abarca o período de meados da segunda metade do século XVIII, de 1770 
até 1830. Essa fase restringe-se, em um primeiro momento, ao mercado têxtil, 
à produção de tecido que, na Inglaterra, funcionava como uma espécie de mola 
para o desenvolvimento da indústria moderna. A segunda fase da revolução 
eleva as invenções da primeira em âmbito mundial, não estará mais restrita à 
Grã-Bretanha e diverge também pela diversidade da produção, no mercado de 
transporte, ferrovias, navios a vapor, na indústria bioquímica e física, na medi-
cina, nos motores à combustão e, enfim, ao desenvolvimento dos combustíveis 
fósseis, o petróleo. No século XX, há o que alguns autores chamam de Terceira 
Revolução Industrial, no ramo bélico, nas telecomunicações e na informática. 
Mas, para os limites deste livro, analisaremos como tudo começou, isto é, por-
que ocorreu na Inglaterra e em meados do século XVIII. 
Paul Mantoux (1994) caracteriza a moderna indústria pelo fato de substi-
tuir a força muscular (manufatura) por forças motrizes inanimadas. A produção 
deixa de ser privilégio da mão humana (daí o termo manu-fatura), dos mestres 
de ofício e artesãos medievais e passa para as máquinas. As consequências que 
essa mudança traz ao corpo e à consciência humana são notáveis e é o objetivo 
geral desta unidade compreender esse processo no decorrer de dois séculos. Na 
segunda unidade, analisaremos conceitos como o “fetichismo da mercadoria” e 
a “coisificação do trabalhador”, em que as funções são tecnicamente invertidas. 
Mas, por hora, basta dizer que tal mudança brusca levou no máximo um século 
para ser consolidada, rompendo com a produção manual e o saber humano em 
uma tradição de milhares de anos que vem desde o homo faber e as toscas fer-
ramentas de pedra do período paleolítico.
Essa mudança radical ocorreu primordialmente no mercado de tecidos. 
Mantoux (1994) afirma que falar em Revolução Industrial é falar em algodão. 
Eric Hobsbawm, em Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo, afirma 
que, de 1750 a 1770, houve aumento de 76% das exportações de algodão, perí-
odo que o autor descreve como “a pista da decolagem industrial”. Enquanto o 
mercado interno proporcionava a fogueira, o comércio exterior ateou fogo à cen-
telha da industrialização. 
A ERA DAS REVOLUÇÕES: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À PRIMAVERA DOS POVOS (1789-1848)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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A origem da Revolução Industrial e os problemas a serem elucidados no 
decorrer desta unidade são: por que ter sido a Grã-Bretanha a primeira “oficina 
mecânica do mundo” e o motivo pelo qual essa revolução ocorreu em fins do 
século XVIII e não antes ou depois? A Inglaterra ingressou preparada na indus-
trialização, na segunda metade do século XVIII. Nesse período, já era um país 
desenvolvido, com acúmulo de capital e já havia feito a “reforma agrária” (o cer-
camento das terras comunais). A Inglaterra estava atrelada ao comércio marítimo 
mundial, configurando aquilo que Hobsbawm (1994, p. 48) descreveu como “um 
sistema de fluxos econômicos”, de comércio internacional, transferências de capi-
tal em nível mundial. “O capital para o desenvolvimento industrial foi fornecido, 
direta ou indiretamente, por mercadores, traficantes de escravos e piratas, cujas 
fortunas tinham sido acumuladas no ultramar”, afirma Christopher Hill (2003, 
p. 285), historiador das revoluções inglesas e contemporâneo de Hobsbawm. 
Por “Cercamento dos campos” compreende-se o processo pelo qual as ter-
ras comunais, de uso comum na Idade Média, passam a ser ocupadas pela 
“gentry” (nobres) e pelos “yeomen” (classe rica de pequenos proprietários). 
Os novos proprietários que surgiram após a Revolução Gloriosa (1688) ex-
pulsaram os camponeses dos campos, criando ao mesmo tempo um valor 
de produção para a terra e uma massa urbana utilizada pelos burgueses du-
rante a Revolução Industrial. 
Fonte: o autor.
A Revolução Industrial
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Convém lembrar que a supremacia inglesa nos mares deve-se aos famo-
sos “Atos de Navegação”, de Oliver Cromwell, publicado em 1651. Essa foi uma 
medida claramente protecionista, pois estabelecia que todos os navios a atra-
carem nos portos ingleses deveriam ser britânicos. A intervenção do Estado 
britânico fortaleceu a iniciativa privada e o desenvolvimento da burguesia daquele 
país; antes atrasado e suplantado pela Espanha e Holanda, doravante esses atos 
tomaram a dianteira do comércio marítimo mundial. Essa medida causou atri-
tos com países como a Holanda, que tentou inutilmente revogá-la por meio da 
guerra, sendo derrotada em 1654. A Inglaterra tornava-se soberana dos mares 
e, com isso, do comércio marítimo. Segundo a visão de Hobsbawm (1994, p. 
46), o governo britânico estava disposto a “subordinar toda a política externa a 
objetivos econômicos”. 
Quanto às causas naturais, fatores climáticos, geográficos e matérias-primas 
(como o carvão mineral), Hobsbawm (1994, p. 52) afirma que tais fatores “não 
atuam por si sós, mas apenas dentro de um dado quadro econômico, social e ins-
titucional”. O autor também ignora as questões exógenas (de fora para dentro), 
como, por exemplo, o ouro das Minas Gerais, utilizado largamente por Portugal 
para sanar as dívidas obtidas pelo intransigente acordo de Panos e Vinhos, o 
famoso Tratado de Methuen, de 1703. O desastroso acordo da compra de tecidos 
exclusivamente da Inglaterra em troca da venda de seus vinhos causou o faleci-
mento de sua já incipiente manufatura e a impossibilidade de industrialização. 
Uma questão instigante é que Hobsbawmnão aceita a Reforma Protestante 
como impulso para o desenvolvimento da Revolução Industrial. Ele discorda 
radicalmente da tese de Max Weber e de sua famosa obra A ética protestante 
e o espírito do capitalismo. Embora não cite o sociólogo alemão, Hobsbawm 
traz argumentos razoáveis para negá-lo. Trata-se de uma visão materialista (de 
que a base econômica ou material sobrepõe-se sobre o desenvolvimento cultu-
ral, a matéria influencia – ainda que não determine – a produção imaterial) em 
detrimento do mundo das ideias de Weber (de que o “espírito do capitalismo 
surgiu anteriormente ao desenvolvimento material”). Trata-se de uma eterna 
dialética da história, a tese materialista versus a antítese idealista, ou vice-versa. 
No final da unidade, há um texto indicado como leitura complementar que dis-
corre sobre essa complexa questão.
A ERA DAS REVOLUÇÕES: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À PRIMAVERA DOS POVOS (1789-1848)
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Para Hobsbawm (1994, p. 42), as pré-condições para a industrialização 
já existiam na Grã-Bretanha setecentista, ou podiam ser criadas facilmente. 
Eram condições como o acúmulo de capitais e a abundância de mão de obra e 
um mercado interno forte que resistiu à independência dos EUA e às guerras 
Napoleônicas e seu “bloqueio continental”. “O enigma está entre a obtenção do 
lucro e a inovação tecnológica”, ele completa. Certamente as inovações tecnológi-
cas contribuíram para a obtenção de lucros, e os lucros, obviamente, fomentaram 
novas inovações. É consenso entre os especialistas que a produção têxtil deu o 
impulso necessário para a revolução tecnológica, primeiro com o acúmulo de 
capitais e, depois, com o desenvolvimento de novos métodos mecânicos. Mas a 
passagem da manufatura para a indústria deve-se, também, à produção de fari-
nha de trigo e de cerveja, importantes pioneiros da modernização. A invenção 
da tiragem de cerveja sobre pressão foi um dos primeiros triunfos de Henry 
Maudslay, pioneiro da engenharia industrial. 
As inovações e invenções foram, assim, o pano de fundo da industrialização. 
Invenções na manufatura têxtil forneceram o impulso econômico e tecnológico 
da Revolução. A antiquada roca de fiar foi suplantada pela lançadeira volante 
(flying shuttle), criada em meados de 1730; o filatório (spinning Jenny) de 1760 
permitia ao artesão trabalhar com vários fios de uma só vez; em seguida veio 
o tear movido à força hidráulica (water frame), de 1769; finalmente, a “mula”, 
patenteada por Arkwright na década de 1780, funcionando com água ou vapor. 
A máquina a vapor de James Watt (1769) consolidou o ciclo de inovações e per-
mitiu que as indústrias fossem instaladas em qualquer localidade e não apenas 
próximo aos rios, para aproveitar sua energia hidráulica. Naturalmente as grandes 
reservas de carvão mineral na Inglaterra contribuíram para acelerar o processo.
Vimos, portanto, que apenas na Inglaterra havia as condições propícias ao 
desenvolvimento tecnológico, permitindo que esse pequeno país em território 
se tornasse “a oficina mecânica do mundo” e elevasse a Grã-Bretanha ao status 
de maior império marítimo e comercial dos oitocentos; processo decorrente da 
ampliação das trocas, da divisão do trabalho (ou racionalização do trabalho que, 
posteriormente, ocasionou a linha de montagem, onde cada trabalhador faz ape-
nas uma ínfima parcela do produto final) e da adoção de novas técnicas. Essa é 
a visão geral de Paul Mantoux (1994). 
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CONSEQUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
Uma vez compreendidas as causas desse processo, podemos enumerar as conse-
quências da Revolução Industrial: 1) Divisão do trabalho entre a população ativa 
de empregadores capitalistas, os donos dos meios de produção, e trabalhado-
res que nada possuíam senão sua força de trabalho, que a vendiam em troca de 
salários, ou proletários na descrição de Marx. 2) Os atos mecanizados e repeti-
tivos dos trabalhadores, a mistura de homem e máquina reduz o homem à mera 
condição de “autômato”. Voltaremos a essa questão do autômato na unidade III, 
sobre a ascensão do fascismo por meio da leitura do filósofo e historiador da cul-
tura Walter Benjamin. Por hora, basta lembrarmos do filme “Tempos Modernos”, 
de Charlie Chaplin, que traz uma crítica descritiva e satírica da transformação 
do homem em autômato. 3) Dominação de toda a economia, de toda a vida, 
pela procura e acumulação do lucro por parte dos capitalistas. 4) Transição do 
campo para a cidade.
Mas qual o impacto dessa mudança brusca na mentalidade dos homens? 
Como foi a adaptação da classe trabalhadora às inovações técnicas? A transfor-
mação dos modos de produção e consumo acarretou também numa mudança 
cultural, na alteração da própria noção de tempo histórico, de temporalidade, de 
experiência de vida. Basta pensarmos na transição do campo para a cidade, da 
população vivendo de acordo com o tempo da natureza, no ritmo de trabalho 
necessário apenas para a manutenção de seu sustento, daí em diante, condiciona-
dos ao ritmo da fábrica, na disciplina do relógio em vez do badalar dos sinos ou 
do canto do galo. Enfim, as consequências foram brutais e escapam da compre-
ensão de Paul Mantoux, que viu a exploração do trabalho infantil, as jornadas de 
doze horas ou mais como exploração pelos subordinados industriais “e não pelos 
capitalistas”. Como veremos, tal processo é um tanto mais complexo e carece de 
uma apreensão mais detalhada para ser compreendido. 
Figura 1: O trabalho de mineração é característico de regiões industriais na Inglaterra durante a Revolução Industrial
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OS TRABALHADORES E A FORMAÇÃO DA CLASSE 
OPERÁRIA
OS TRABALHADORES E A CONSCIÊNCIA DE CLASSE
Em artigo debatendo as obras e os críticos da obra de Thompson, Sidnei Munhoz 
(1993, p. 163) acredita que sua tese principal é que o processo de constituição 
de classe trabalhadora se dá “em decorrência do fato de as pessoas estabelece-
rem, em seu cotidiano, identidades e diferenças, sentindo-se como integrantes 
de um mesmo grupo ou de grupos antagônicos”. Em suma, a consciência que se 
produz no desenrolar da ação humana, em suas lutas e batalhas, propicia a for-
mação da classe, dotando-a de uma consciência, mesmo que embrionária, como 
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sentimento de “pertencimento” a uma determinada classe distinta e antagônica 
daquela dominante. Essa “experiência coletiva” é melhor analisada no clássico 
A formação da classe operária inglesa, também de Edward Thompson, bem 
como o papel de movimentos como o cartismo e o ludismo ou os “destruido-
res de máquinas”. 
No processo de formação de uma “consciência de classe” que diferenciava 
os trabalhadores urbanos da burguesia e da nobreza, esses motins tiveram uma 
função efetiva e simbólica. Na tentativa de manutenção dos direitos tradicio-
nais, destaca-se um movimento que ficou conhecido como Ludismo e os motins 
“Rebeca e Swing” [oscilação, balanço]. Rebeca e suas “filhas” vêm do livro de 
Gênesis 24.61: “E abençoaram Rebeca e disseram-lhe: que a tua semente possua 
a porta dos seus inimigos”. Os motins Rebeca no País de Gales, como os motins 
nos condados meridionais na Inglaterra, foram originados por várias causas, 
todas, porém, ligadas à dissolução dos velhos laços da aldeia. À medida que a 
indústria e a agricultura capitalista se desenvolviam, tanto o camponês como o 
tecelão do tear manual estavam inevitavelmente condenados. Os nomes dos heróislendários, Rebeca, Ned Ludd (daí decorre a denominação Ludismo) e mesmo 
o Capitão Swing, viveriam e cresceriam, como Robin Hood, no folclore. Seus 
efeitos, porém, não se repetiriam e não teriam maior futuro do que as classes 
cujos protestos expressaram por um breve momento (RUDÉ, 1991, p. 161-178).
Uma contribuição significativa de Hobsbawm está relacionada à tentativa de 
apreensão de como ocorreu o progresso político da consciência de classe. Nesse 
aspecto, a obra Os Trabalhadores, especificamente o capítulo intitulado “Os 
destruidores de máquinas”, é de vital pertinência. Nesse estudo, o autor rechaça 
mais uma vez a ortodoxia marxista que insistia em ver nos protestos de enfren-
tamento e quebra de máquinas uma rebelião desorganizada, sem liderança e que 
refletia a ignorância da multidão frente à mecanização inevitável. Hobsbawm 
(1981, p. 21-22) demonstra que, inversamente à opinião convencional, “é evi-
dente que a luta deles não foi uma simples luta contra o progresso técnico com 
tal”, mas sim uma tentativa coletiva de fazer pressão aos empregadores, traba-
lhadores extras e furadores de greve, além de garantir a solidariedade essencial 
entre os trabalhares. 
A ERA DAS REVOLUÇÕES: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À PRIMAVERA DOS POVOS (1789-1848)
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A organização dos motins e protestos, ainda que clandestina, pois os líde-
res, se descobertos, eram frequentemente condenados ao degredo ou mesmo à 
morte, teve como desdobramento maior a organização da classe operária em 
forma de partido, no movimento denominado Cartismo, derivado da Carta 
dos Povos (People’s Charter). Por volta de 1830 havia instituições de classe soli-
damente fundadas, como sindicatos, sociedades de auxílio mútuo, movimentos 
religiosos, organizações políticas, periódicos. A esse processo, Thompson cha-
mou de “fazer-se da classe operária” (making of). 
Apenas em 1824 os trabalhadores conquistaram o direito de livre associa-
ção. A partir daí as chamadas trade-unions se estenderam por toda a Inglaterra e 
a união trouxe as armas da luta necessária, como a greve ou breves paralisações 
do trabalho (turn-out). Mas, em geral, essas associações eram constantemente 
derrotadas pelos fura-greves e pela “lei de oferta e procura de homens”, isto é, a 
massa de desempregados substituía os grevistas. Concomitante ao enfrentamento 
aberto, ao incêndio de fábricas, aos motins, a classe trabalhadora organizou-se em 
termos políticos, por meio da “Carta do Povo”, que reivindicara ao Parlamento 
(Câmara dos Comuns) sua participação democrática. Em 1838, uma comissão 
da Associação dos Operários de Londres, tendo à frente William Lovett, definiu 
a Carta do Povo em seis pontos principais (THOMPSON, 1987):
1. Sufrágio universal para todos os homens adultos sadios e não condena-
dos por crimes.
2. Renovação anual do Parlamento.
3. Fixação de uma remuneração parlamentar a fim de que os próprios tra-
balhadores sem recursos fossem eleitos.
4. Eleições por voto secreto, para evitar a corrupção e intimidação pela 
burguesia.
5. Circunscrições eleitorais para assegurar as representações equitativas.
6. Abolição da lei que permitia a eleição apenas por renda àqueles que tinham 
propriedades de terras no valor de pelo menos 300 libras. 
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Naturalmente, esses direitos poderiam pôr em desordem a estrutura da então 
democracia inglesa. Uma frágil aliança com a burguesia – que se aproveitou 
de uma insurreição cartista em 1842 para fazer aprovar a revogação da Lei dos 
Cereais, uma tarifa alfandegária sobre a importação de cereais – causou o revés do 
movimento. Mas sob o lema “O nosso meio é o poder político; a nossa finalidade 
é a felicidade social”, o Cartismo persistiu na luta pela participação democrá-
tica, redução das jornadas (para 10 horas diárias) e manutenção dos salários e 
empregos em tempos de crise. “Em suma, embora o Cartismo refletisse os seto-
res mortais de uma sociedade agonizante, foi ainda mais a expressão das dores 
do parto de uma nova sociedade”, conclui George Rudé (1991, p. 207).
Ainda hoje, passados mais de duzentos anos dos primórdios da Revolução 
Industrial, há uma controvérsia acadêmica acerca dos impactos e da explora-
ção sofrida pelos operários. Por outro lado, há diversos historiadores otimistas 
e conservadores que afirmam que houve melhorias nas condições gerais dos 
trabalhadores com a industrialização. Eles defendem essa tese sob o argumento 
verídico de que a população praticamente duplicou em 50 anos nas cidades 
industriais (Manchester, Birminghan, Yorkshire) e, posteriormente, em toda a 
Inglaterra, bem como o padrão de vida do operário. 
Outros autores, como Thompson e Engels, no entanto, afirmam justamente 
o inverso, pautados nas jornadas de quatorze horas, no trabalho infantil e na 
ausência de qualquer direito político, a não ser aqueles conquistados à força. 
Engels compara o moderno trabalhador com o mito grego de Sífiso, a maldição 
do trabalho repetitivo, do eterno retorno. Na mitologia grega, Sífiso foi conde-
nado, por toda a eternidade, a rolar uma grande pedra de mármore com suas 
mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase 
alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de 
partida. Marx afirmou que o trabalhador tornou-se um mero “instrumento” ou 
uma cifra qualquer. Veja a citação de Thompson (1987, p. 25) e reflita sobre as 
reais condições de trabalho durante a Revolução Industrial:
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O escravo negro das Índias Ocidentais, mesmo trabalhando sob um sol 
tórrido, tem provavelmente uma brisa suave que às vezes o refresca, um 
pedaço de terra e tempo para cultivá-lo. O escravo fiandeiro inglês não 
desfruta do céu aberto e das brisas. Enclausurado em fábricas de oito 
andares ele não tem descanso até as máquinas pararem, e então retorna 
à sua casa, a fim de se recuperar para o dia seguinte.
MULTIDÃO, MOTINS E CULTURA POPULAR NA REVOLUÇÃO 
INDUSTRIAL
“A cultura popular é rebelde, mas o é em defesa dos costumes”
(Edward Thompson, Costumes em Comum, 1998, p. 308).
A historiografia dos movimentos sociais evoluiu positivamente a partir das publi-
cações de autores anglo-saxões como Eric Hobsbawm, Christopher Hill, Perry 
Anderson, Edward Thompson, Raymond Williams e do canadense George Rudé, 
que, em meados da década de 1950, com a criação de revistas como a Past and 
Present e, depois, a New Left Review,rompem com a ortodoxia marxista (vulgar) 
baseada no determinismo econômico sem, no entanto, perder a “luta de classes” 
de vista. Nas palavras de Ronaldo Vainfas (1997, p. 155), trata-se “de uma visão 
marxista da história cultural”. De acordo com esse historiador, o campo teórico 
da cultura popular em Thompson valoriza a resistência social e a luta de classes 
em conexão com as tradições, os ritos e o cotidiano das classes populares, em 
um contexto histórico de transformação. São inter-relações recíprocas entre os 
dois universos culturais que, de certo modo, escreve Vainfas, aproximam-se do 
conceito de circularidade formulado por Ginzburg. “Pois não existe desenvolvi-
mento econômico que não seja ao mesmo tempo desenvolvimento ou mudança 
de uma cultura” (THOMPSON, 1998, p. 304).
Em Costumes em comum, ao analisar os motins populares do século XVIII, 
Thompson (1998) afasta-se de interpretações tradicionais, nas quais as revoltas da 
“multidão” ou da “turba” seriam manifestações inconsequentes e niveladoras da 
“falta de consciência” da classe operária em formação. Defende a tese de que “a 
consciência e os usos costumeiros eram particularmentefortes no século XVIII”. 
Na verdade, alguns desses “costumes” eram de criação recente e representavam 
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as reivindicações dos novos “direitos” (THOMPSON, 1998, p. 13).
Nesse processo de transição para a economia capitalista de mercado, a ênfase 
da transformação recai sobre toda a cultura, a resistência à mudança e sua aceita-
ção também nasce da cultura, dos costumes tradicionais. “Essa cultura expressa 
os sistemas de poder, as relações de propriedade, as instituições religiosas etc., e 
não atentar para esses fatores simplesmente produz uma visão pouco profunda 
dos fenômenos e torna a análise trivial” (THOMPSON, 1998, p. 288-289).
Thompson veria o século XVIII como um período de crescente confrontação 
entre a economia de mercado inovadora fruto da Revolução Industrial, baseada 
no Laissez-faire (conceito liberal que estudaremos ao final desta unidade), e uma 
economia moral das plebes, fundamentada na tradição paternalista e no direito 
consuetudinário. “O modelo paternalista existia no corpo da lei estatuária, bem 
como no direito consuetudinário e no costume” (THOMPSON, 1998, p. 152).
É possível detectar em quase toda ação popular do século XVIII uma 
noção legitimadora (...) defendendo direitos tradicionais; e de que, em 
geral tinham o apoio e o consenso mais amplo da comunidade. De 
vez em quando esse consenso era endossado por alguma autorização 
concedida pela comunidade (THOMPSON, 1998, p. 152-155). 
Esses motins ou rebeliões não tinham como objetivo a destruição de bens mate-
riais (como ocorre posteriormente com o Ludismo), eram um movimento coletivo, 
pouco organizado, em que a ação principal não era o saque de celeiros nem o 
furto de grãos de farinha, mas fixar o preço. Esse processo estava enraizado na 
mentalidade das massas graças a uma construção histórica de longa duração, 
baseada no Book of Orders, que, desde o reinado de Elizabeth, garantia o abaste-
cimento mínimo de cereais à população por meio de magistrados que regulavam 
a distribuição, os estoques e até o preço dos grãos. Era, de fato, a intervenção e 
o controle do abastecimento por parte do Estado.
As ordens de 1630 não autorizavam explicitamente os juízes a fixar o 
preço, mas mandavam-nos cuidar do mercado e assegurar que os po-
bres fossem ‘abastecidos de cereais necessários [...] pelos preços mais 
razoáveis que se pudesse obter por meio da persuasão honesta aos juí-
zes’. O poder de fixar o preço dos grãos e de farinha ficava, numa emer-
gência, a meio caminho entre a imposição e a persuasão (THOMP-
SON, 1998, p. 177).
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No entanto esse modelo econômico baseado na regulamentação e no abasteci-
mento direto do produtor ao consumidor, sem a presença do intermediário ou 
do atravessador, foi paulatinamente suprimido no decorrer da segunda metade 
do século XVIII, concomitantemente à Revolução Industrial. O modelo pater-
nalista estava se rompendo em muitos pontos e a legislação contra a compra 
de mercadorias antecipadas fora revogada em 1772. Nesse período, o modelo 
paternalista tinha
uma experiência real fragmentaria. Nos anos de boa colheita e preços 
moderados, as autoridades caíam no esquecimento. Mas se os preços 
subiam e os pobres se tornavam turbulentos, o modelo era ressusci-
tado, pelo menos para produzir um efeito simbólico (THOMPSON, 
1998, p. 160).
Esse debate que culminou com a revogação da legislação contra as compras 
antecipadas assinalou uma vitória do laissez-faire, pois a liberdade ilimitada e 
irrestrita do comércio dos cereais era também o que Adam Smith pleiteava. Para 
Thompson (1998, p. 161), esse novo modelo econômico trazia consigo uma des-
moralização da teoria do comércio e do consumo:
Por ‘desmoralização’ não se sugere que Smith e seus colegas sejam 
imorais, ou que não se preocupassem com o bem público. O que se 
quer dizer é, antes, que a nova economia política havia sido limpa de 
imperativos morais inoportunos (...). A operação natural da oferta e da 
demanda maximizaria a satisfação de todos os grupos e estabeleceria o 
bem comum. O mercado nunca era mais bem regulado do que quando 
deixavam que se regulasse por si mesmo (grifo nosso).
Seguindo o mesmo raciocínio: 
Em alguns aspectos, o modelo de Smith se adaptava mais acuradamen-
te às realidades do século XVIII do que o modelo paternalista; e, em 
simetria e alcance de construção intelectual, era superior. Mas não se 
deve deixar de perceber o ar ilusório de validação empírica que o mo-
delo contém. Enquanto o primeiro apela a uma norma moral – ao que 
devem ser as obrigações recíprocas dos homens – o segundo parece 
dizer “é assim que as coisas funcionam, ou funcionariam se o Estado 
não interferisse” (THOMPSON, 1998, p. 162).
E prossegue Thompson (1998, p. 164) ainda no mesmo tom: “não apresentamos 
esses comentários para refutar Adam Smith, mas simplesmente para assinalar 
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pontos em que se deve ter cautela (...). Do modelo do laissez-faire, devemos dizer 
apenas que não é comprovado empiricamente”.
Dessa maneira, a partir da análise cultural das mudanças estruturais e qua-
litativas que ocorreram na passagem do século XVIII ao XIX, ou da sociedade 
agrária, paternalista, manufatureira para a sociedade industrial com economia 
de mercado, pode-se compreender o entrechoque dialético que ocorreu no inte-
rior daquela cultura em transformação. De um lado, os valores morais, religiosos, 
paternalistas, tradicionais embasados no costume de longa duração; de outro, 
uma cultura em rápida transformação.
A “economia moral” tinha como fundamento uma visão consistente e tra-
dicional das normas e obrigações sociais, das funções econômicas peculiares a 
vários grupos na comunidade, às quais, consideradas em conjunto, podem dizer 
que constituem a economia moral dos pobres. Ou, dito de outra maneira, por 
economia moral entende-se a série de relações de trocas entre grupos sociais e 
entre pessoas, nas quais o bem-estar e o mérito de ambos os interessados tem 
procedência sobre outras considerações como o lucro de um ou de outro. Em 
síntese, Thompson nega a associação vulgar e primária de que os motins foram 
ocasionados unicamente pela fome ou falta de alimentos como o pão. Não se trata 
de uma mera associação entre fome e revolta, falta de alimentos e revoluções; 
relação meramente espasmódica e instintiva. Trata-se, antes, da luta pela manu-
tenção dos costumes tradicionais e resistência aos novos ares da modernidade.
Com os trabalhos do canadense George Rudé, houve um avanço teórico na 
abordagem da multidão na história, da turba, enquanto organização consciente 
das massas e extremamente eficaz na busca de seus objetivos imediatos. Em 
A multidão na história, Rudé (1991) afirma que esses movimentos de massa 
são uma transição entre a jacquerie camponesa e os movimentos milenaristas 
do passado e a greve do futuro. Para Rudé (1991, p. 207), a forma específica de 
protesto foi o motim da fome, uma “expressão das dores do parto de uma nova 
sociedade”. Em suma, 
O que vimos foi uma rica variedade de motivos e crenças, através dos 
quais as questões econômicas e os apelos aos direitos consuetudinários 
existiam, lado a lado com novas concepções do lugar do homem na 
sociedade e a busca do milênio (RUDÉ, 1991, p. 252). 
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O motim, portanto, é aforma característica e frequente do protesto popular que, 
ocasionalmente, se transforma em rebelião ou revolução.
Tanto na França como na Inglaterra, a velha prática da intervenção oficial 
para proteger os pobres contra a alta dos preços e da fome tinha sido abandonada 
recentemente e estava ainda presente na memória popular – e muitas autorida-
des ainda defendiam os velhos métodos. Narra George Rude (1991, p. 50):
Em 1768, quando, entre a multidão que cercou a Câmara dos Lordes, 
havia pessoas que gritavam ‘que o pão e a cerveja estavam caros demais 
e que tanto valia morrer na forca como de fome’. Isso, porém, ocorreu 
num ano de greves e perturbações gerais, nas quais os fatores políticos 
tiveram um papel tão grande quanto a preocupação com o preço do 
pão [...]. Muitos assados, muito pudim de ameixas e cerveja forte, com 
3 horas de diárias de trabalho. 
Essas eram as necessidades básicas pelas quais o povo lutava. Friedrich Engels 
descreve ainda uma grande revolta contra o aumento do preço da cerveja na 
região da Bavária, que durou quatro dias e obrigou o rei a revogar o aumento.
O objetivo era realmente fixar o preço do alimento, do pão, da cerveja e até 
do dízimo. “Em muitas paróquias, o primeiro lugar visitado foi a casa do pároco, 
onde o ocupante era solicitado com cortesia, mas com firmeza, a reduzir os 
dízimos”. Em Sussex, os dízimos foram baixados de 1400 libras para 400 libras. 
“Párocos da Igreja Anglicana foram advertidos para que abrissem mão de seus 
dízimos” (RUDÉ, 1991, p. 174).
Se Thompson cunhou o termo “economia moral”, pode-se dizer que Raymond 
Williams trabalha na “fronteira da moral”, entre o campo e a cidade, o contraste 
entre a urbes e o rústico. A moral aqui apresentada está embasada no contexto 
da cultura, na série de valores e costumes que perpassam as mudanças históri-
cas e demoram para se adaptarem aos novos horizontes culturais e/ou religiosos. 
Contudo, ainda há em Williams um engajamento que o leva a ver as transfor-
mações abruptas do século XVIII com certo estranhamento, tendo em vista 
sua origem em uma Grã-Bretanha rural. É o olhar do observador surpreso e às 
vezes pasmo de que lembra Friedrich Engels em “A situação da classe trabalha-
dora na Inglaterra”.
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Por meio da metodologia que Williams chama de “retrospecção” ou escada 
rolante, ele compara diversas épocas literárias, de Homero a Aldoux Huxley, sem, 
todavia, perder o século XVIII de vista. Ele discorda da interpretação de autores 
(mesmo os socialistas) que caem no que ele denomina de “idealização do indus-
trialismo”. “A polidez do melhoramento tem como contraponto necessário a dura 
realidade do poder econômico, e uma ênfase moral diferente torna-se inevitá-
vel” (WILLIAMS, 1989, p. 231). Nesse sentido, é licito aceitar o termo “fronteira 
cultural” entre o campo e a cidade: 
A canção da terra, a canção do trabalho rural, a canção do amor por 
tantas formas de vida com as quais todos nós partilhamos nosso uni-
verso físico, é importante demais, comovente demais, para que abra-
mos mão dela sem resistência, numa traição odiosa, e a entreguemos à 
arrogância dos inimigos de todas as formas significativas e concretas de 
independência e renovação (WILLIAMS, 1989, p. 365).
No capítulo sobre os “Patrícios e Plebeus”, Edward Thompson (1998) examina 
as relações entre a gentry (nobres) e os trabalhadores pobres no século XVIII 
inglês e relativiza o termo “paternalismo”. De acordo com Thompson (1998, p. 
42), aquele século
testemunhou uma mudança qualitativa nas relações de trabalho (...) 
ficando todo o seu modo de vida menos marcado por uma posição 
de dependência do que tinha sido até então ou do que viria a ser nas 
primeiras décadas da disciplina da fábrica e do relógio [...] tinham es-
capado dos controles sociais da aldeia senhorial e ainda não estavam 
sujeitos à disciplina do trabalho fabril.
Em suma, foi uma fase de transição, uma fase predatória do capitalismo agrá-
rio e comercial, “e o próprio Estado estava entre os principais objetos da rapina” 
(THOMPSON, 1998, p. 42). 
A tese central de Thompson (1998) é – compartilhando a opinião de Marcos 
Antônio Lopes e Sidnei Munhoz (2010) – de que o controle da classe dominante 
no século XVIII se localizava primordialmente em uma “hegemonia cultural” e 
apenas secundariamente em uma expressão de poder econômico ou físico (mili-
tar). A resistência da populaça inglesa daquele período estava fundada em uma 
complexa trama que Thompson (1998) chamou de “reciprocidades paternalistas”, 
por intermédio da qual a gentry exercia o controle e a subordinação das plebes 
ao mesmo tempo em que as classes trabalhadoras impunham à aristocracia a 
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permanência dos costumes tradicionais. Assim, “longe de uma sociedade patriar-
cal segura de si, o que o século XVIII presencia é o velho paternalismo prestes 
a entrar em crise” (THOMPSON, 1998, p. 45).
Outro ponto fundamental trabalhado por Thompson em “Patrícios e Plebeus” 
é a contraposição teórica e metodológica de que o século XVIII representava 
um momento relativamente pacífico, sem contradições e lutas declaradas entre 
a plebe e a gentry.
A cultura plebeia não era certamente revolucionária, nem sequer uma 
cultura proto-revolucionária (no sentido de fomentar objetivos ulte-
riores que questionassem a ordem social). Contudo, tampouco deve 
descrevê-la como uma cultura deferente. Fomentava motins, mas não 
rebeliões; ações diretas, mas não organizações democráticas (THOMP-
SON, 1998, p. 62).
Nesse sentido, a insubordinação da plebe era uma inconveniência, não uma 
ameaça. O autor (1998, p. 68) não apresenta a Inglaterra do século XVIII como 
um teatro de terror cotidiano, mas adverte que “os historiadores mal começaram 
a avaliar o volume de violência anônima, normalmente acompanhada de cartas 
anônimas ameaçadoras”. Para Thompson (1998, p. 68), a tradição anônima, o 
teatro e contrateatro das classes antagônicas e, finalmente, a ação rápida e fugaz 
da multidão indicam que “no século XVIII, a resistência é menos articulada, 
embora frequentemente muito específica, direta e turbulenta”, considerando “a 
noção de reciprocidade gentry-multidão, de equilíbrio paternalismo-deferência”. 
TEMPO NATURAL E DISCIPLINA INDUSTRIAL
Por fim, resta analisar a mais profunda e sutil mudança atrelada à Revolução 
Industrial, a alteração da própria noção de temporalidade histórica. 
A crescente racionalização do mundo moderno – Renascimento, Reforma, 
Contrarreforma, Iluminismo – levou ao processo que o sociólogo Max Weber 
(1983) chamou de “desencantamento de mundo”. O tempo profano veio desa-
fiar o tempo sagrado cristão. Uma história desse mundo veio desafiar e conviver 
com a história universal sagrada. Deus não seria abandonado, mas não reinaria 
mais sozinho e de modo absoluto. O êxtase material desafia o êxtase religioso. 
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A rejeição da metafísica do mundo é revogada. A historicidade não mais é vista 
como um fardo, uma prova, uma pena. Emerge um novo personagem na his-
tória: o homem da cidade, o burguês, o comerciante, que avança pelos oceanos 
na conquista desse mundo. “Aquele diálogo bíblico entre Jesus e o demônio, em 
que este promete a Jesus todas as riquezas deste mundo em troca de sua alma e 
submissão, ganha uma nova versão” (REIS, 2006, p. 21-23). É provável que José 
Carlos Reis refira-se ao mito do Fausto nessa passagem.
A superação do tempo natural, presente desde o início da literatura, éanali-
sada por Edward Thompson no capítulo sobre “Tempo, disciplina de trabalho e 
capitalismo industrial”, em Costumes em Comum. A investigação de Thompson 
pressupõe uma distinção clara na concepção de tempo entre camponeses, peque-
nos artesãos e a ética do trabalho industrial, pois “o tempo agora é moeda, ninguém 
passa o tempo, e sim o gasta” (THOMPSON, 1998, p. 272). 
Antes da Revolução Industrial os sinos das igrejas davam o tom, mas a par-
tir de 1790 ocorreu uma difusão geral de relógios portáteis no exato momento 
em que a Revolução Industrial requeria maior sincronização do trabalho. Dessa 
forma, “o tempo sideral, com um único passo abandonou os céus para entrar nos 
lares” (THOMPSON, 1998, p. 268). Esse processo que impôs uma nova disci-
plina de tempo está situado na evolução da ética protestante, puritana, que teve 
no Metodismo operário um equivalente da teoria da predestinação, de Calvino; 
nesse ponto, Thompson aproxima-se de Weber de A ética protestante e o espí-
rito do capitalismo. Sua tese é que a Revolução Industrial consolidou uma nova 
experiência com a noção de tempo; por meio da ascese metodista e da disciplina 
da fábrica institui-se um novo ritmo de trabalho e de lazer. Todos perceberam 
que tempo é dinheiro. 
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José Carlos Reis (1994) afirma que, na Revolução Industrial, houve uma “revo-
lução epistemológica” quanto ao conceito de tempo histórico, uma mudança 
substancial. A primeira grande mudança na noção de “tempo” foi produzida 
pela religião ao romper com o mito – a religião opôs a profecia ao ritual, a sal-
vação futura contra a salvação na origem (na antiguidade). A segunda mudança 
foi realizada pela filosofia do século XVIII, ao romper com a religião, a filosofia 
opôs a utopia à escatologia, a demonstração racional à fé em uma profecia, um 
futuro humano, temporal, histórico, ao futuro divino, meta-histórico, eterno. Na 
perspectiva de José Carlos Reis (2006, p. 30),
êxtase profano (utopia) venceu o êxtase religioso (parusia) da outra 
vida eterna. O futuro não é mais o fim do mundo. Agora, a espera é 
outra: a realização da história, do progresso, como obra dos homens, 
que se tornaram competidores de Deus na criação do mundo. 
Dessa maneira, a “utopia substitui a profecia. No ‘fim da história’, a espera é outra: 
não mais o apocalipse, mas uma sociedade moral e racional” (REIS, 1994, p. 11).
Portanto, a perspectiva teológica do tempo histórico foi uma primeira 
revolução epistemológica: rompeu-se com a a-historicidade do mito, 
com circularidade supralunar grega e aceitou-se o tempo como irre-
versibilidade, singularidade, linearidade, sentido e finalidade. (...) Para 
Koselleck, a história era impensável, antes da Revolução Francesa, 
como podendo ser feita pelos homens. Fazer a história era uma ideia 
nova, moderna. Foi, portanto, uma segunda revolução epistemológica 
na compreensão do tempo e da história (REIS, 1994, p. 11).
A característica do “Metodismo” é o caráter sistemático, metódico da condu-
ta no sentido da obtenção da graça. “A teologia do metodismo, em virtude 
de seu oportunismo inescrupuloso, estava melhor preparada do que qual-
quer outra para servir de religião a um proletariado que não tinha qualquer 
razão para se sentir ‘eleito’, em função de sua experiência pessoal. Na sua 
teologia, Wesley parece ter dispensado os melhores elementos do Puritanis-
mo e selecionado, sem hesitação, os piores”.
Fonte: Thompson (1987, p. 240).
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O Iluminismo trouxe o pressuposto da disponibilidade da história à ação e ao 
homem, que seria então Deus sobre a Terra, livre, consciente e potente para rea-
lizar o futuro que ele desejasse. No capítulo sobre “O tempo de Deus e tempo 
dos homens”, Ivan Manoel (2004, p. 47) afirma que, na tradição católica, o tempo 
não pertencia ao homem, “o tempo trazia inscrito, como inerente a si, a marca 
da sacralidade. Por isso sua cadência era marcada pelo repicar dos sinos e pelo 
cantochão gregoriano. Dito de outra forma, “o reino de Deus era a bússola dos 
homens no tempo”. O pressuposto da Igreja era de que “o tempo de Deus e da 
natureza fora suplantado pelo relógio de bolso” (MANOEL, 2004, p. 47). Esse 
impacto temporal foi obra da Revolução Industrial.
“Antes dos relógios existirem, todos tinham tempo. Hoje todos têm relógios”.
Fonte: Eno T. Wanke.
Figura 2: “A Liberdade guiando o povo”, Eugène Delacroix, 1830.
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REVOLUÇÃO FRANCESA
“A crença de que a sociedade tradicional seja estática e imutável é um 
mito da ciência social vulgar. Não obstante, até um certo ponto de mu-
dança, ela pode permanecer ‘tradicional’: o modelo do passado continua 
a modelar o presente, ou assim se imagina” (Hobsbawm, Sobre História, 
1998, p. 57).
A escolha da epígrafe que abre este tópico sobre a Revolução Francesa não é de uma 
obra específica sobre tal evento, mas denota a possibilidade de mudança histórica, 
da transformação feita pelos homens. Como vimos anteriormente, na discussão 
sobre o tempo histórico, antes da Revolução Francesa, a História (com “H” mai-
úsculo) era impensável como obra dos homens. “A Revolução Francesa devolveu 
à terra a fé no impossível”, disse Edgar Quinet. A tradição cristã (sobretudo com 
Santo Agostinho, no século IV d.C.) consolidou o que pode ser denominado de 
“transcendência histórica”, o que ultrapassa os limites da experiência possível. 
Todavia, o declarado anticlericalismo dos franceses e, posteriormente, as dou-
trinas materialistas devolveram à História sua materialidade. 
Ainda, nas revoluções inglesas de 1742 e 1788, havia forte conotação religiosa. 
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Christopher Hill, seguramente o mais influente pesquisador da Revolução 
Gloriosa, tem uma tese polêmica e monumental sobre as representações, ora 
subversivas, ora conservadoras, da Bíblia inglesa e as revoluções do século 
XVII. Hill (2003, p. 264) demonstra que, mesmo na esfera secular, não havia 
separabilidade entre política e religião:
eu questionei se a Bíblia poderia ter sido, para a Revolução Inglesa, um 
equivalente de Rousseau para a Revolução Francesa ou de Marx para 
a Russa, isto é, uma fonte de estímulos intelectuais e de novas ideias 
críticas quanto às instituições existentes. Todavia, a Bíblia não produziu 
nenhuma filosofia política consensual. Ela foi usada como uma espécie 
de bagagem de citações que poderiam justificar qualquer coisa que um 
determinado indivíduo ou grupo desejasse.
Nas palavras de Karl Marx (apud HILL, 2003, p. 61): “Cromwell e o povo inglês 
tomaram seus discursos, paixões e ilusões do Antigo Testamento (...). Quando 
a transformação burguesa foi consumada, Locke suplantou Habacuque [profeta 
hebraico]”. A sólida argumentação de Hill não deixa dúvidas quanto à utiliza-
ção bíblica como representação, mesmo na esfera secular, em Hobbes, Locke, 
Milton, Newton, e, é claro, Oliver Cromwell. O próprio conceito de revolução 
social, segundo Hill, também surgiu nos anos 40 e 50 do século XVII, nasce em 
expressões bíblicas, tais como: “O mundo virado de ponta-cabeça” e na frase 
“derrubem, derrubem, derrubem” (Ezequiel 21.27). 
Essa introdução é importante para se pensar a racionalização da história que 
se segue à Revolução Francesa e devida também aos pensadores iluministas. O 
conceito de que a história é feita pelos homens de acordo com as circunstânciasque encontram (Marx) superou a doutrina do “espírito puro” de Hegel, (o mundo 
das ideias agindo na História independentemente da ação humana). Mas o pen-
samento idealista ainda se faria sentir nos pensadores do século XIX como Alexis 
de Tocqueville [1805-1859], em obra monumental sobre a grande Revolução, 
mas que em determinado momento afirma que “a Revolução resolveu repentina-
mente, por um esforço convulsivo e doloroso, sem transição, sem precauções, sem 
deferências, o que ter-se-ia realizado sozinho” (TOCQUEVILLE,1997, p. 68, grifo 
nosso). Tocqueville refere-se à queda do Antigo Regime, do poder aristocrático 
do Clero e Nobreza, que, como veremos, permaneceu em maior ou menor grau 
até a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em países como Rússia, Alemanha, 
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Áustria, Império Otomano. Sem embargo, a História não se faz “sozinha”. 
O saudoso filósofo Leandro Konder (2009) certa vez pensou em elucidar 
essa questão com uma metáfora engenhosa. Ele comparou a História à escada 
rolante, pois certamente ela tem um sentido, um ritmo, uma direção determi-
nada. Mas cabe ao homem ou à humanidade o processo de estacionar na escada 
rolante, descer ou acelerar o passo. A Revolução Francesa acelerou o processo 
de decadência do Ancien Régime em pelo menos um século. Hobsbawm (1995, 
p. 110) é categórico ao falar dessa dinâmica revolucionária: 
A revolução Francesa e os feitos de Napoleão abriram os olhos do mun-
do. Antes as nações não sabiam de nada, e as pessoas pensavam que 
os reis eram deuses sobre a terra e que tinham que dizer que tudo que 
eles faziam era bem feito. Devido a esta mudança, agora é mais difícil 
dominar o povo.
A análise política feita por Tocqueville em meados do século XIX ainda perma-
nece atual, mas não pode ser referência única na análise do fato marcante que 
dividiu a história. Soma-se ao político francês o denso trabalho de seu contem-
porâneo, o historiador Jules Michelet, e dos recentes estudos de François Furet, 
que o tornaram referência no tema. Enquanto Tocqueville aborda a obra polí-
tica da Revolução no clássico O Antigo Regime e a Revolução, Michelet foca um 
grupo social até então marginalizado em meados dos oitocentos, o povo. François 
Furet, por sua vez, ocupa-se em relativizar a oposição entre a burguesia ascen-
dente (o terceiro Estado) e a nobreza.
Na sua interpretação, o conflito era, pois, entre a sociedade civil e contra o 
Estado. Com a entrada das massas (novos agentes históricos), a elite perdeu o 
controle sobre a Revolução, ao menos na fase jacobina, radical. Nesse sentido, 
a Revolução não seria uma luta de classes, mas uma competição de discursos 
pela apropriação da legitimidade. Em síntese, François Furet critica a tese quase 
consolidada da Revolução Francesa como uma revolução burguesa, a tomada 
do poder político da aristocracia pela burguesia em ascensão. A tese inversa, isto 
é, a da revolução como obra da burguesia e da luta de classes, Furet desqualifica 
como “vulgata marxista” que explica tudo a partir da ótica econômica. 
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Para compreender essa trincheira de ideias, é preciso antes entender as diver-
sas fases da Revolução, a alternância de poderes entre radicais e conservadores, 
não apenas até o golpe do 18 brumário de Napoleão (9 de novembro de 1799), 
mas a reação absolutista em 1815 (A Sagrada Aliança) e a elevação de Carlos 
X ao trono, as novas ondas revolucionárias de 1830 e 1848 até a proclamação 
da terceira República em 1870. Mesmo sob o signo da Revolução durante todo 
o século XIX, pode-se dizer que a França, sobretudo, Paris, tornou-se a capital 
daquele século. Vejamos no Quadro 1 a cronologia dos fatos para depois inter-
pretar cada etapa desse movimento:
CRONOLOGIA DA REVOLUÇÃO FRANCESA
1789 Convocação dos “Estados Gerais”.
1789 Revolta do Terceiro Estado e tomada da Bastilha.
1789 a 
1791
Período de Monarquia Constitucional. Elaboração da Constituição em 1791 
e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, baseado em três prin-
cípios: liberdade, igualdade e fraternidade (Liberté, Egalité, Fraternité).
1791 Fuga do rei Luís XVI.
1792 a 
1795
Convenção Nacional ou período Jacobino com a ascensão de Robespierre 
ao poder. Intervalo mais conturbado da Revolução, em que a personagem 
principal foi a Guilhotina, denominando o que alguns teóricos chamaram de 
“Terror”. Mas foi também um ínterim revolucionário em termos de direitos: 
voto universal masculino, abolição da escravidão etc. Hobsbawm não aceita 
o termo “terror”, ele vê essa fase como “heroica”. 
1794 Deposição de Robespierre.
1795 a 
1799 Reação Termidoriana ou Diretório e a terceira Constituição.
1799 Consulado e o golpe do 18 de brumário de Napoleão.
Quadro 1: Cronologia da Revolução Francesa
Fonte: o autor. 
A ERA DAS REVOLUÇÕES: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À PRIMAVERA DOS POVOS (1789-1848)
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As causas imediatas da Grande Revolução já são bem conhecidas: fome, insatis-
fação popular, uma corte parasitária e, sobretudo, o Terceiro Estado (burguesia) 
desejoso de participar do jogo político. Mas essas condições já existiam, em maior 
ou menor grau, desde os setecentos. Assim como diversos pensadores teólogos 
tentaram reformar a Igreja antes de Lutero em 1517 (Jan Huss, John Wycliffe, 
Thomas Münzer) e acabaram queimados – à exceção de Wycliffe, que sobreviveu 
graças à proteção de nobres, mas seus restos mortais foram exumados e queima-
dos – os predecessores de Robespierre, assim como de Lutero, ainda sobreviviam 
dentro da lógica do Antigo Regime. Em 1789, porém, as condições tornaram-se 
insuportáveis, tanto em termos econômicos (a aristocracia tornou-se anacrônica, 
retrógrada) quanto culturais e políticos (foi necessário um século de bombar-
deios iluministas para abalar os pilares da aristocracia e do clero). 
Mas o moribundo Antigo Regime não morreria sem lutar, muito menos de 
causas naturais, como sustentou Tocqueville. Como vimos na introdução desta 
unidade, o que caracteriza o conceito de Revolução é acelerar determinado acon-
tecimento, rompendo com o anterior. Nesse sentido, é válida a observação de 
Tocqueville (1997, p. 44), quando afirma que a Revolução teve dois períodos dis-
tintos: “o primeira durante o qual os franceses parecem abolir tudo que pertenceu 
ao passado; e o segundo, onde nele vão retornar uma parte do que deixaram”. De 
fato a criação de um novo calendário, rompendo com a contagem de tempo a.C 
e d.C e a total supressão do clero foi paulatinamente relevada e restringiu ape-
nas a subordiná-lo ao Estado, como Henrique VIII já o fizera na Inglaterra em 
1534 nos Atos de supremacia. 
No entanto, sobre o novo calendário, Walter Benjamin (1994, p. 230) faz 
uma análise mais detalhada:
A Grande Revolução introduziu um novo calendário. O dia com o 
qual começa um novo calendário funciona como um acelerador his-
tórico. No fundo, é o mesmo dia que retorna sempre sob a forma dos 
dias feriados, que são os dias de reminiscência. Assim, os calendários 
não marcam o tempo como os relógios. Eles são monumentos de uma 
consciência histórica [...].
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A QUEDA DA BASTILHA (1789)
A queda da Bastilha em 14 de julho de 1789 marca o rompimento e a aceleração 
histórica, uma revolução de fato, e ainda é um feriado nacional dos franceses. A 
tomada da Bastilha não representou apenas uma mudança histórica no Estado 
francês, mas também na história da vida humana sob o Estado de direito.A queda da Bastilha foi interpretada por Walter Benjamin (2015) no recente 
livro intitulado “A hora das crianças”, uma coletânea de temas históricos desti-
nados ao público infantil e narrados pelo próprio filósofo na rádio, durante a 
República de Weimar na Alemanha. Mais que um exemplo pedagógico e primor 
didático, o estilo benjaminiano é uma aula de como lecionar História. Ele inicia 
a narrativa mostrando a importância da Bastilha para os interesses da aristocra-
cia, pois era uma prisão política, destinada aos inimigos do regime, aos crimes 
contra a segurança do Estado, conspirações e não um mero presídio para crimi-
nosos comuns. A Bastilha foi construída entre 1369 e 1383. Seus muros tinham 
mais de 400 anos quando a revolução os levou abaixo. 
A ERA DAS REVOLUÇÕES: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À PRIMAVERA DOS POVOS (1789-1848)
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A narrativa de Benjamin ganha um ar de mistério (e cativa o leitor) quando 
demonstra como funcionava a Bastilha, por meio da lenda (possivelmente verí-
dica) do homem da máscara de ferro. Um prisioneiro de origem nobre que trazia 
no rosto uma máscara negra e havia ordem para executá-lo imediatamente caso 
revelasse quem era. Tanto suspense levou inúmeros pesquisadores a buscar a ori-
gem do suposto nobre e alguns chegaram à hipótese de se tratar de James Scott, 
o duque de Monmouth, filho de Carlos II e inimigo de James II, então rei da 
Inglaterra. Derrotado em 1685 e acusado de conspiração, foi executado naquele 
mesmo ano. Mas logo correu o boato de que o homem executado era na ver-
dade um oficial do duque de Monmouth que havia dado a vida para salvar a do 
seu senhor. O verdadeiro duque teria escapado para a França, porém ali teria 
sido detido por Luis XIV e enclausurado na Bastilha. Havia ordens para que o 
prisioneiro fosse imediatamente morto caso revelasse sua identidade e, quando 
finalmente pereceu, sua cabeça foi separada do corpo e seu rosto desfigurado, 
além de todo o cuidado para queimar toda sua roupa de cama e eliminação de 
qualquer vestígio da cela onde havia habitado.
Não havia qualquer direito político ou civil aos prisioneiros da Bastilha, mui-
tos eram presos na calada da noite e só após anos saberiam ou não do motivo de 
sua prisão. Os poucos que saíam ainda com vida do local assinavam um termo 
de compromisso que os proibia de revelar uma palavra sequer do que tinham 
visto e ouvido ali dentro. Em um local onde todo contato era proibido, os pri-
sioneiros se desdobravam para inventar formas de comunicação entre si. Alguns 
prisioneiros criaram uma forma de alfabeto através de pancadas na parede, outros 
ensinaram um cão a levar e trazer bilhetes escritos entre os corredores.
“Todas essas coisas demonstram o quanto a Bastilha era uma ferramenta 
do poder, e o quanto ela não era um instrumento do direito”, conclui Benjamin 
(2015, p. 169). Portanto, o que caiu, no histórico 14 de julho de 1789, não foi 
meramente uma prisão secular, um depósito de armas ou os muros de uma for-
taleza, mais que isso, foi uma instituição que ruiu como um castelo de cartas, 
bastando derrubar a primeira peça. Daí em diante, novos intendentes foram esco-
lhidos, a nova Constituição aboliu os privilégios feudais, as terras da Igreja foram 
confiscadas pelo Estado e os clérigos subordinados à França e não mais a Roma. 
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A FASE RADICAL: OS JACOBINOS (1791-1794)
Em 1792, a ameaça de invasão externa das monarquias absolutistas como Prússia 
e Áustria e a situação desoladora pela fome dos sans-culottes (literalmente “sem 
calças” ou maltrapilhos) tornaram a revolução mais radical. O grupo liderado por 
Marat, Danton e Robespierre assumiu o controle, eram chamados de jacobinos. 
A origem da palavra “jacobino” deve-se ao fato de seus representantes reu-
nirem-se no convento de São Tiago, dos dominicanos. Tiago em latim é Jacob, 
daí a denominação que é ao mesmo tempo uma ideologia e um poder, um sis-
tema de representações que denota a ala mais radical da baixa burguesia. Decorre 
desse período a clássica separação entre direita e esquerda na política, enquanto 
os radicais sentavam-se à esquerda do Parlamento, em oposição aos Girondinos, 
ala conservadora da burguesia que ficava à direita. 
No mesmo ano, o rei Luís XVI foi condenado por traição à Revolução, acu-
sado de conspiração com a Áustria, e a personagem característica do período 
Jacobino entrou em ação: a guilhotina. Em 21 de janeiro de 1793, o rei foi exe-
cutado e sua famosa rainha Maria Antonieta – que ficou eternizada pelo desdém 
aos pobres na conhecida frase “se não tem pão que comam brioches” – teve o 
mesmo destino. Robespierre, agora na dianteira da Revolução, enfrentaria dois 
fortes adversários, a ala radical de Danton e Marat (guilhotinados) e a contrarre-
volução conservadora dos camponeses da região de Vendeia (partidários ainda 
da monarquia) e da alta burguesia. Ele acabou isolado, mesmo vencendo as ame-
aças de invasão externa. 
A República Jacobina (1792-1794) foi a etapa mais radical e popular da 
Revolução. Para malograr o apoio do campesinato, diversas leis foram aprovadas 
para suprimir os direitos feudais, sem indenização. Nas cidades, para garantir o 
apoio dos sans-culottes, o preço dos alimentos foi tabelado e foram aprovadas leis 
rigorosas contra os especuladores. No campo político, houve nova Declaração dos 
direitos do homem e do cidadão, mais radical que em 1789. A nova Constituição 
de julho de 1793 reforçou o poder Legislativo, eleito pelo sufrágio universal, além 
da abolição da escravidão nas colônias. Por esses fatos, é lícito aceitar o termo de 
Hobsbawm, o “período heroico”, como contraponto ao senso-comum, o “terror”.
A ERA DAS REVOLUÇÕES: DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL À PRIMAVERA DOS POVOS (1789-1848)
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Alguns historiadores, como Hannah Arendt, afirmam que, na fase do “terror” 
jacobino, a Revolução Francesa desviou-se do ideal libertário no plano político 
para tornar-se uma revolução social, ao assumir o movimento de libertação das 
massas. Veja-se o discurso do próprio Robespierre em sua “Teoria do governo 
revolucionário”, de 1793 (ROBESPIERRE, online):
O princípio do governo constitucional é conservar a República; a do 
governo revolucionário é fundá-la. O governo constitucional se ocupa 
principalmente da liberdade civil; o governo revolucionário da liberda-
de pública. Sob o regime constitucional é suficiente proteger os indiví-
duos dos abusos do poder público; sob o regime revolucionário, o pró-
prio poder público está obrigado a defender-se contra todas as facções 
que o ataquem. O governo revolucionário deve aos bons cidadãos toda 
a proteção nacional; aos inimigos do povo não lhes deve senão a morte.
A FASE CONSERVADORA: O DIRETÓRIO (1795-1799)
Em 1794, o golpe do 9 Termidor, pelo novo calendário francês (ou 27 de julho), 
marcou a reviravolta conservadora dos girondinos e a deposição de Robespierre. 
Uma nova Constituição foi elaborada com voto censitário, por renda, a escravidão 
foi retomada, marginalizando novamente as classes baixas. O período conser-
vador ou Diretório (1795-1799) consolidou a alta burguesia como nova classe 
dominante, barrou a tentativa de radicalização pelos remanescentes jacobinos 
liderados por Graco Babeuf na chamada “Conspiração dos Iguais”. Babeuf foi 
denunciado antes mesmo da eclosão da revolta, sem apoio popular acabou na 
guilhotina após tentativa falha de suicídio. Suas ideias socialistas, porém, continu-
aram vivas durante todo o século seguinte. Em vez de radicalização, despotismo 
(pouco esclarecido) de Napoleão Bonaparte.
Bonaparte domou o gênio da Revolução, escreveu Tocqueville (1997). O 
gênio militar de Napoleão é evidente, assim

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