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Implicacoessanitariasdipteros-Medeiros-2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA 
CENTRO DE BIOCIÊNCIAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA PARASITÁRIA 
 
 
 
 
 
JUCÉLIA ROSSANA DE MEDEIROS 
 
 
 
 
 
IMPLICAÇÕES SANITÁRIAS DE DÍPTEROS (DIPTERA: MUSCOMORPHA) 
ASSOCIADOS À FEIRA LIVRE NO MUNICÍPIO DE TORITAMA - PE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2021 
 
JUCÉLIA ROSSANA DE MEDEIROS 
 
 
 
 
 
 
 
 
IMPLICAÇÕES SANITÁRIAS DE DÍPTEROS (DIPTERA: MUSCOMORPHA) 
ASSOCIADOS À FEIRA LIVRE NO MUNICÍPIO DE TORITAMA - PE 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado do Curso de 
Programa de Pós-Graduação em Biologia 
Parasitária, para obtenção do Título de Mestre 
em Biologia Parasitária na área de - Interação 
Parasito/Hospedeiro e Bioecologia de 
Vetores. 
 
 
 
 
 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Taciano de Moura Barbosa (UFRN) 
Coorientadora: Profa. Dra. Renata Antonaci Gama (UFRN) 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2021 
 
JUCÉLIA ROSSANA DE MEDEIROS 
 
 
 
 
IMPLICAÇÕES SANITÁRIAS DE DÍPTEROS (DIPTERA: MUSCOMORPHA) 
ASSOCIADOS À FEIRA LIVRE NO MUNICÍPIO DE TORITAMA - PE 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado do Curso de 
Programa de Pós-Graduação em Biologia 
Parasitária, para obtenção do Título de Mestre 
em Biologia Parasitária na área de - Interação 
Parasito/Hospedeiro e Bioecologia de 
Vetores. 
 
 
APROVADA EM 25/05/2021. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Taciano de Moura Barbosa 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
(Orientador) 
 
 
________________________________________________________________ 
Prof. Dra. Carla de Lima Bicho 
Universidade Estadual da Paraíba 
(Membro Externo) 
 
 
________________________________________________________________ 
Prof. Dr. Magno Augusto Zazá Borges 
Universidade Estadual de Montes Claros 
 (Membro Externo) 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Leopoldo Nelson - -Centro de Biociências 
– CB 
Medeiros, Jucélia Rossana de. 
 Implicações sanitárias de dípteros (Diptera: muscomorpha) 
associados à feira livre no munícipio de Toritama - PE / Jucélia 
Rossana de Medeiros. - 2021. 
 75 f.: il. 
 
 Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte, Centro de Biociências, Programa de Pós-Graduação em 
Biologia Parasitária. Natal, RN, 2021. 
 Orientador: Prof. Dr. Taciano de Moura Barbosa. 
 Coorientadora: Prof. Dra. Renata Antonaci Gama. 
 
 
 1. Dípteros muscóides - Dissertação. 2. Feiras livres - 
Dissertação. 3. Musca domestica - Dissertação. 4. Sinantropia - 
Dissertação. 5. Insetos vetores - Dissertação. I. Barbosa, 
Taciano de Moura. II. Gama, Renata Antonaci. III. Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. 
 
RN/UF/BSCB CDU 597.77 
 
 
 
 
Elaborado por KATIA REJANE DA SILVA - CRB-15/351 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todas as crianças que não viveram o 
bastante para conhecer a magia dos insetos. 
Dedico. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço a Deus, a força que me motiva a acordar e me manter firme todos 
os dias de minha vida; 
À minha família – minha mãe, Rita de Cássia, meu pai, João Batista, minha 
irmã, Juliana e aos meus sobrinhos, Maria Luísa, Miguel e Moisés, por todo amor e 
cuidado que me doam diariamente, pelo suporte emocional que me foi necessário 
nessa trajetória, pelos momentos de felicidade e de tristeza compartilhados, pelo 
porto seguro que envolve o nosso lar, e especialmente por serem minhas maiores 
inspirações na persistência e no afeto. 
Ao meu Mateus Vinícius, que protege meus passos e pensamentos, com suas 
asas de anjo, aonde quer que eu vá; 
Ao meu orientador, Taciano Barbosa, por todo aprendizado que este me 
proporcionou, todo o conhecimento que me foi compartilhado, sobretudo, por ser um 
grande amigo, pelas palavras que me confortaram e pelos abraços que me 
acolheram em meus momentos difíceis; 
À minha coorientadora, Renata Antonaci, por ser meu exemplo de professora 
de longa data, por me acolher em seu laboratório, por me apresentar e me tornar 
amante da sua paixão pelos insetos; 
À minha amiga e colega de trabalho, Jéssica Jales, pelo apoio indispensável 
que foi necessário para a realização desse trabalho e de muitos outros, por todo o 
tempo e palavras que me foram destinadas e por todas as risadas que tornaram 
nossos momentos incríveis; 
Aos meus velhos e presentes amigos - Wilo, Wictor, Clara e Aline, por 
estarem comigo todos os dias, por permitirem que meu caminhar seja mais leve, por 
serem ótimos ouvintes, pelos conselhos, e pela graça de compartilhar cada 
momento de alcance e felicidade juntos; 
À Marta Geruza e Neide Pontes da MNrações, pelo suporte logístico nas 
coletas em campo, à Alcicleia Marinho, por todo apoio e disponibilidade na triagem 
do material, e ao Dr. Diego Fachin pelo auxílio nas identificações, 
À CAPES pelo financiamento da bolsa de pós-graduação; 
 
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte e ao Programa de Pós-
Graduação em Biologia Parasitária por todo o conhecimento e oportunidades de 
crescimento acadêmico que me foram oferecidos. 
Por fim, agradeço a todos que contribuíram direta e indiretamente para a 
conclusão deste mestrado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
A ordem Diptera constitui um grupo diverso de insetos, possui distribuição 
cosmopolita e alta capacidade de colonizar diferentes tipos de ambientes. Nesta 
ordem, encontram-se os representantes muscóides que têm alta capacidade de se 
adaptarem ao ambiente modificado pelo homem – ambientes sinantrópicos. 
Adicionalmente, apresentam alta relevância médico-sanitária, uma vez que estão 
relacionados a transmissão de patógenos. Nesse contexto, é sabido que ambientes 
antrópicos (e.g. feiras livres) com alta circulação humana e oferta de alimentos 
podem influenciar diretamente na composição e estrutura das assembleias de 
dípteros muscóides, uma vez que proporciona a oferta de instalações e abundância 
de alimento para as moscas. Sendo assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar o 
efeito das feiras livres na composição e estrutura das assembleias de moscas com 
importância sanitária em ambiente urbano de Toritama - Pernambuco. Além disso, 
analisou-se também a presença de ovos de helmintos e cistos de protozoários na 
superfície corpórea desses insetos. Para tal, foram realizadas coletas de dípteros 
em 2 pontos amostrais na área comercial da cidade de Toritama, sendo as moscas 
capturadas a partir de armadilhas adesivas, antes e depois da ocorrência das feiras 
livres. Na análise parasitológica foi realizado o método de HPJ. Ao longo do estudo, 
foram coletados 7.780 espécimes pertencentes a seis famílias de dípteros e uma 
riqueza de 14 espécies. Muscidae foi a família mais representativa com 96,98% de 
todas as moscas capturadas, seguida de Sarcophagidae (1,99%), Phoridae (0,53%), 
Calliphoridae (0,42%), Fanniidae (0,03%), e Stratiomyidae (0,02%). Muscidae 
também foi o táxon mais diverso com o registro de quatro espécies, seguido de 
Sarcophagidae (3 spp.), Calliphoridae (2 spp.), Phoridae (2 spp.), Stratiomyidae (2 
spp.) e Fanniidae (1 spp.). Além disso, observou-se que a presença da feira 
influenciou na estrutura das assembleias, sendo essa mais abundante após a 
ocorrência das feiras (H = 6.56; df = 1; P < 0,01). Em relação a composição das 
assembleias, 50% das espécies foram comuns aos dois tratamentos, com destaque 
para as espécies dominantes Musca domestica e Megaselia scalaris. Não foram 
encontradas estruturas parasitológicasnas amostras analisadas. Dessa forma, as 
contribuições deste estudo revelam que feiras livres podem modular a estrutura e 
composição das assembleias de moscas em ambientes urbanos, inclusive podendo 
 
oferecer riscos à saúde, tendo em vista, que espécies de importância médica estão 
relacionadas a este ambiente. 
 
Palavras-chave: Dípteros muscóides. Feiras livres. Musca domestica. Sinantropia. 
Insetos vetores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The order Diptera is a diverse group of insects, has a cosmopolitan distribution and a 
high capacity to colonize different types of environments. In this order, there are 
muscoid representatives who have a high capacity to adapt to the environment 
modified by humans - synanthropic environments. Additionally, they have high 
medical and sanitary relevance, since they are related to the transmission of 
pathogens. In this context, it is known that anthropic environments (e.g. street fairs) 
with high human circulation and food supply can directly influence the composition 
and structure of muscoid diptera assemblies, since it provides the facilities offers and 
abundance of food for flies. Therefore, the objective of this work was to evaluate the 
effect of street fairs on the composition and structure of assemblies of flies with 
sanitary importance in an urban environment in Toritama - Pernambuco. In addition, 
the presence of helminth eggs and protozoan cysts on the body surface of these flies 
was also analyzed. To this end, collections of diptera were carried out in 2 
commercial spots in the town of Toritama, and the flies were captured from sticky 
traps before and after the occurrence of street fairs. In the parasitological analysis, 
the HPJ method was performed. Throughout the study, 7.780 specimens belonging 
to six Diptera families and a wealth of 14 species were collected. Muscidae was the 
most representative family with 96.98% of all flies caught, followed by Sarcophagidae 
(1.99%), Phoridae (0.53%), Calliphoridae (0.42%), Fanniidae (0.03%) and 
Stratiomyidae (0.02%). Muscidae was also the most diverse taxon with the 
registration of four species, followed by Sarcophagidae (3 spp.), Calliphoridae (2 
spp.), Phoridae (2 spp.), Stratiomyidae (2 spp.) and Fanniidae (1 spp.). In addition, it 
was observed that the presence of the street fair influenced the structure of the 
assemblies, which was more abundant after the occurrence of the street fairs (H = 
6.56; df = 1; P <0.01). Regarding the composition of the assemblies, 50% of the 
species were common to both treatments, with emphasis on the dominant species 
Musca domestica and Megaselia scalaris. No parasitological structures were found in 
the analyzed samples. Thus, the contribution of this study reveal that street fairs can 
modulate the structure and composition of fly assemblies in urban environments, 
including be able to offer health risks, considering that species of medical importance 
are related to this environment. 
 
Keywords: Muscoid diptera. Street fairs. Musca domestica. Synanthropy. Insect 
vectors. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
 
Figura 1 –Calliphoridae. Fonte: BARBOSA, 2019 ..................................................... 18 
 
Figura 2 – Fanniidae. Fonte: BARBOSA, 2019. ........................................................ 19 
 
Figura 3 – Sarcophagidae. Fonte: BARBOSA, 2019 ................................................. 20 
 
Figura 4 –Muscidae. Fonte: BARBOSA, 2019 ........................................................... 21 
 
Figura 5 – A) Localização do município de Toritama no estado de Pernambuco e B) 
Parque das feiras em dias de feiras livres. Fonte: Adaptado de Google Maps e 
Agreste Notícia, 2020. ............................................................................................... 29 
 
Figura 6 – Armadilha Adesiva - Ratoeira Adesiva Cola Rato. Fonte: Agro e Pets, 
2020. ......................................................................................................................... 30 
 
Figura 7 – Técnica de HPJ – Sedimentação espontânea. A) Frasco de Borrel com 
amostra, água e bastão, B) Cálice com a gaze e transferência da amostra com o 
auxílio do bastão e C) Cálice com o sedimento para exame e líquido sobrenadante 
Fonte: NEVES, 2005. ................................................................................................ 32 
 
Figura 8 – Distribuição das espécies de dípteros por tratamentos (Pré-feira e Pós-
feira) em ambiente urbano do Agreste pernambucano, Toritama, PE. Fonte: Autoria 
Própria ....................................................................................................................... 37 
 
Figura 9 – Ranking de dominância das espécies de dípteros. A) antes da ocorrência 
da feira livre e B) após ocorrência da feira livre. Fonte: Autoria Própria ................... 38 
 
Figura 10 – Ordenação por escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS), 
usando a similaridade de Bray-Curtis, das 12 amostras baseando-se na abundância 
das espécies de Diptera e utilizando o fator nível de ocorrência da feira. Fonte: 
Autoria Própria .......................................................................................................... 38 
 
 
Figura 11 – Efeito de feira livre na razão sexual da assembleia de dípteros de 
importância sanitária. Fonte: Autoria Própria ............................................................ 39 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
 
Tabela 1 – Abundância absoluta (N), frequência relativa (%) e dominância das 
espécies de dípteros presentes em feira livre da cidade de Toritama – PE em 
abril/maio de 2020. Fonte: Autoria Própria. .............................................................. 34 
 
Tabela 2 – Abundância absoluta (N) e frequência relativa (%) das espécies de 
dípteros nos tratamentos pré-feira livre e pós-feira livre na cidade de Toritama – PE 
em abril/maio de 2020. Fonte: Autoria Própria. ........................................................ 36 
 
Tabela 3 – Dípteros de importância médica em Toritama – Agreste Pernambucano. 
Fonte: Autoria Própria. ............................................................................................. 40 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
 
A. orientalis – Atherigona orientalis 
APL – Arranjo Produtivo Local 
C - Constância 
ºC – Grau celsius 
C. albiceps – Chrysomya albiceps 
C. megacephala – Chrysomya megacephala 
C. putoria – Crysomya putoria 
D - dominante 
DF – Grau de Liberdade 
E. coli – Escherichia coli 
E.g. – Exempli Gratia 
et al. – E colaboradores 
F. pusio – Fannia pusio 
h – Horas 
H’ – Índice de Shannon 
H. illucens – Hermetia illucens 
HPJ – Hofman, Pons and Janer 
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
IPM – Intervalo Pós Morte 
J – Equabilidade de Pielou 
 
Km² - Quilômetro quadrado 
L. cuprina – Lucilia cuprina 
L. eximia – Lucilia eximia 
LD – Limite de Dominância 
Log – Logaritmo 
M. domestica – Musca domestica 
M. scalaris – Megaselia scalaris 
Mm – Milímetro 
N – Número Amostral 
NMDS – Escalonamento Multidimensional Não-Métrico 
OMS – Organização Mundial da Saúde 
OPS - Organización Panamericana de la Salud 
P – Probabilidade de Significância 
P = Número de Coletas 
P. (S.) lambens – Peckia (Sarcodexia) lambens 
PE - Pernambuco 
S. calcitrans – Stomoxys calcitrans 
S. nudiseta – Synthesiomyia nudiseta 
S. (L.) ruficornis – Sarcophaga (Liopygia) ruficornisSMG – Secretaria Municipal de Governo 
Sp. - Espécie 
Spp. – Espécies 
T. (S.) occidua – Tricharaea (Sarcophagula) occidua 
 
χ2 yates – Qui-quadrado 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 18 
1.1 DIVERSIDADE E SINANTROPIA DE DÍPTEROS MUSCÓIDES .............. 18 
1.2 DÍPTEROS MUSCÓIDES E SUA IMPORTÂNCIA MÉDICO-VETERINÁRIA
 .................................................................................................................. 24 
1.3 DÍPTEROS MUSCÓIDES EM AMBIENTES ANTROPIZADOS ................ 26 
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 29 
2.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................... 29 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................... 29 
3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 30 
3.1 ÁREA DE ESTUDO .................................................................................. 30 
3.2 COLETA E IDENTIFICAÇÃO DOS ESPÉCIMES ..................................... 31 
3.3 ANÁLISE DA PRESENÇA DE OVOS DE HELMINTOS E CISTOS DE 
PROTOZOÁRIOS ........................................................................................... 33 
3.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA ........................................................................... 34 
4 RESULTADOS ....................................................................................................... 36 
4.1 DIVERSIDADE DE DIPTERA ................................................................... 36 
4.2 EFEITO DE FEIRA LIVRE SOBRE AS ASSEMBLEIAS DE DÍPTEROS .. 37 
4.3 ESPÉCIES DE DÍPTEROS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA EM TORITAMA - 
PE ................................................................................................................... 41 
5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 44 
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 52 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53 
 
 
 
 
 
18 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
1.1 DIVERSIDADE E SINANTROPIA DE DÍPTEROS MUSCÓIDES 
 
 
A ordem Diptera constitui um grupo vasto e diverso dentre os insetos, possui 
distribuição cosmopolita e tem grande capacidade de colonizar qualquer tipo de 
hábitat, inclusive ambientes aquáticos. Esse último sendo de extrema importância 
para o desenvolvimento da fase larval de algumas espécies (e.g. os Culicidae) 
(COURTNEY e MERRITT, 2008). Na literatura estão descritas aproximadamente 
188 famílias, 11 mil gêneros e 160 mil espécies de Diptera (THOMPSON, 2020), 
incluindo os representantes muscóides, que por sua vez, possuem alta capacidade 
de se adaptarem ao ambiente modificado pelo homem – antropogênico. Sendo 
assim, muitos táxons são ditos sinantrópicos, isto é, capazes de colonizarem 
ambientes antrópicos, bem como, de serem vetores de doenças ao homem e aos 
animais domésticos (POLVONY, 1971). 
A sinantropia pode ter caráter obrigatório/endófilo, que abrange os indivíduos 
estritamente antrobiocenos, e facultativo/exófilo, que compreende aqueles que não 
necessitam obrigatoriamente dessa relação para seu desenvolvimento (POLVONY, 
1971). Schoof, Mail e Savage (1954) afirmam que dentro desse ambiente 
sinantrópico, o grau de saneamento das zonas residenciais é um fator importante na 
existência de focos de criação de moscas, uma vez que áreas com o elevado padrão 
socioeconômico possuem menor quantidade de substratos que permitem a 
proliferação desses insetos. 
Nesse contexto, os detritos e excrementos resultantes da presença humana e 
animal, tanto em meio urbano quanto em meio rural, influenciam diretamente na 
composição e estrutura das assembleias de dípteros (NUORTEVA, 1963; 
LINHARES, 1981a, b). Consequentemente, pode-se afirmar que a constante 
transformação do ambiente urbano, isto é, as alterações radicais na fauna e na flora 
e o acúmulo de material orgânico, resulta na adaptação de muitas espécies de 
insetos (GREGOR e POVOLNY, 1961; NUORTEVA, 1971). Tais modificações 
podem ser favoráveis para espécies que se beneficiam das condições criadas pelo 
19 
 
homem, sendo nesses ambientes, mais comum a presença de espécies de moscas 
sinantrópicas (NUORTEVA, 1963). 
Além disso, as mudanças antrópicas (e.g. urbanização) podem favorecer o 
sucesso de espécies exóticas, como observado para ilhas oceânicas do Nordeste do 
Brasil (CARMO e VASCONCELOS, 2016) e áreas litorâneas (BARBOSA et al., 
2017). Nesse último estudo é registrada a alta abundância de espécies do gênero 
Chrysomya (Robineau-Desvoidy, 1830), pertencente à família Calliphoridae, que foi 
introduzido no Brasil na década de 1970 (GUIMARÃES, PRADO e LINHARES, 
1978). Ribeiro (1998) ainda relatou em seus estudos que a introdução de moscas do 
gênero Chrysomya no Brasil resultou diretamente na diminuição da frequência de 
Cochliomyia macellaria (Fabricius, 1775), uma espécie nativa da região Neotropical. 
Entretanto, espécies de Calliphoridae não são as únicas a se beneficiarem 
das condições insalubres dos ambientes urbanos e rurais. Outras espécies de 
dípteros muscóides são positivamente influenciadas pela ação antrópica, tais como 
as das famílias Sarcophagidae, Fanniidae e Muscidae, pois o ambiente antrópico 
apresenta disponibilidade de alimentos e é propício ao desenvolvimento dos ovos, 
larvas e pupas (LINHARES, 1981a, b). Essa associação com ambientes habitados, 
somada a importância sanitária, tem despertando o interesse de pesquisadores e 
muitos estudos sobre sinantropia de Diptera vêm sendo conduzidos (e. g. 
FERREIRA 1979, LINHARES 1981a, b; DIAS, NEVES e LOPES, 1984, D’ALMEIDA, 
1984; YEPES-GUARISAS et al., 2013; BARBOSA et al., 2017; SOUSA et al., 2020). 
Os estudos supracitados tem focado em famílias diversas e comuns em 
muitos ambientes brasileiros, como Calliphoridae, Fanniidae, Muscidae e 
Sarcophagidae. Calliphoridae apresenta distribuição mundial, com mais de 1.000 
espécies descritas em aproximadamente 150 gêneros (VARGAS e WOOD, 2010). 
No Brasil, é comumente relatada a presença dos gêneros Chrysomya, Cochliomyia 
(Townsend, 1915) e Lucilia (Robineau-Desvoidy, 1830) associados a material em 
decomposição (CARVALHO et al., 2000; ROSA et al., 2011; VASCONCELOS et al., 
2016; BARBOSA et al., 2017; JALES et al., 2020). Essa família apresenta interesse 
ecológico, forense, econômico, além de importância médica (BORROR e DELONG, 
1988). 
Prado e Guimarães (1982) relataram que os califorídeos Chrysomya albiceps 
(Wiedemann, 1819), Chrysomya putoria (Wiedemann, 1830) e Chrysomya 
megacephala (Fabricius, 1794) (Figura 1) quando introduzidas no Brasil, se 
20 
 
distribuíram amplamente em abrigos de animais domésticos e habitações humanas, 
demonstrando-se ainda como um dos principais gêneros de ambientes urbanos em 
algumas regiões do país (GUIMARÃES, PRADO e BURALLI, 1979). 
 
 
Figura 1 – Calliphoridae. Fonte: BARBOSA, 2019. 
 
Além disso, foi visto que C. megacephala e C. albiceps são capazes de 
colonizar vários habitats (e. g. ambientes de Cerrado, Mata Atlântica, Floresta 
Amazônica, Caatinga, urbanos e agroecossitemas) (ROSA et al., 2011; ALVES et 
al., 2014; BARBOSA e VASCONCELOS, 2015; CARMO e VASCONCELOS, 2016; 
SOUSA et al., 2016; JALES et al., 2020). Essa observação revela a alta capacidade 
de dispersão dos dípteros, considerando sua adaptabilidade a diferentes ambientes, 
característica que é de extrema relevância para uma colonização eficiente (PRINCE 
e WALDBAUER, 1975). 
Por outro lado, a famíliaFanniidae (Figura 2) é um táxon pequeno que possui 
quatro gêneros e cerca de 320 espécies, as quais apresentam ampla distribuição, 
exceto nos polos hemisféricos (PAPE, BICKEL e RUDOLF, 2009). Suas larvas têm 
hábito saprófago e comumente desenvolvem-se em matéria orgânica animal e 
vegetal, substratos como fezes e fungos, além de estarem associadas a ninhos de 
21 
 
abelhas. Os adultos estão associados a área de florestas em arbustos e flores 
(MALLOCH, 1934; CHILLCOTT, 1958, 1961; HOLLOWAY, 1984). 
A família aparece habitando ambientes peri-domicialiares, pois algumas 
espécies como Fannia canicularis (Linnaeus, 1761) e Fannia scalaris (Fabricius, 
1794) já foram relatadas como sinantrópicas (COURI e CARVALHO, 2005a). 
Linhares (1981b) aponta também Fannia pusio (Wiedemann, 1830) em seus estudos 
sobre sinantropia. 
 
 
Figura 2 – Fanniidae. Fonte: BARBOSA, 2019. 
 
Sarcophagidae (Figura 3) possui cerca de 3.100 espécies descritas (PAPE, 
BLAGODEROV e MOSTOVSKI, 2011), e apresenta indivíduos vivíparos e 
ovovivíparos de significativa importância sanitária e forense (GREENBERG, 1973; 
LOPES e LEITE, 1989; BARBOSA et al., 2009). A família possui ampla plasticidade 
alimentar, mantendo hábitos alimentares coprófagos, necrófagos e 
parasitorides/predadores de insetos (PAPE e DAHLEM, 2010). 
Algumas espécies de sarcofagídeos também se fazem presentes por serem 
frequentemente encontradas em área habitadas, tais como: Peckia (Squamatodes) 
trivittata (Curran, 1927), Peckia (Peckia) chrysostoma (Wiedemann, 1830), 
Tricharaea (Sarcophagula) occidua (Fabricius, 1794), Ravinia belforti (Prado & 
Fonseca, 1932), Sarcophaga (Liopygia) ruficornis (Fabricius, 1794), Sarcophaga 
(Bercaea) haemorrhoidalis (Fallén, 1816) (LINHARES, 1981a; DIAS, NEVES e 
LOPES, 1984; OLIVEIRA, MELLO e D’ALMEIDA, 2002). 
22 
 
 
 
Figura 3 – Sarcophagidae. Fonte: BARBOSA, 2019. 
 
A família Muscidae (Figura 4), com mais de 4.500 espécies descritas, sendo 
843 registradas para a região Neotropical, inclui espécimes com hábitos necrófagos, 
saprófagos, e também predador (CARVALHO et al., 2005; COURI e CARVALHO, 
2005b). Além disso, é a família da representante mais conhecida e comum em 
ambientes humanos, a Musca domestica (Linnaeus, 1758). 
Dos representantes muscídeos, algumas espécies são consideradas 
altamente antropizadas, tais como Ophyra chalcogaster (Wiedemann, 1824), Ophyra 
aenescens (Wiedemann, 1830), Synthesiomyia nudiseta (Van Der Wulp, 1883), 
Atherigona orientalis (Schiner, 1868) e Musca domestica (LINHARES, 1981b; 
D’ALMEIDA, 1992). Dentre elas, esta última destaca-se por suas características 
endófilas, pela grande abundância em ambientes antrópicos, plasticidade alimentar, 
alto poder reprodutivo, e capacidade de proliferar-se tanto em meio urbano quanto 
em meio rural (WEST, 1951; OPS, 1962; OMS, 1986; SÁNCHEZ-ARROYO, 1998; 
NAKANO e LEITE, 2000; MARCHIORI et al., 2007). 
 
23 
 
 
Figura 4 –Muscidae. Fonte: BARBOSA, 2019. 
 
Alguns sítios antrópicos já foram citados como favoráveis ao desenvolvimento 
de dípteros sinantrópicos, dente eles estão os criadouros e abatedouros de animais, 
os depósitos de resíduos urbanos, as feiras livres e os mercados de varejo 
(CUNNINGHAM et al., 1955; SAVAGE e SCHOOF, 1955; SILVERLY e SCHOOF, 
1955; PRINS, 1979). 
Fattorini (2011) demonstrou que o crescimento urbano exagerado influencia 
negativamente nos grupos de Insecta, considerando que esses sofrem um declínio 
da riqueza ecológica frente a antropização. Montoya, Sánchez e Wolff (2009) 
acrescentam que há um aumento da abundância de espécies exóticas, como as 
moscas do gênero Chrysomya, que possuem notável capacidade adaptativa e 
habilidade competitiva, capaz de deslocar espécies nativas (MARCHIORI et al., 
2000; CARMO e VASCONCELOS, 2016), fato que colabora com a redução da 
riqueza. Sendo assim, conclui-se que a intervenção humana causa mudanças 
irreversíveis à biodiversidade, tendo em vista que os ambientes urbanos são 
propícios ao desenvolvimento de espécies exóticas e sinantrópicas e, 
consequentemente, contribuem para a sua dispersão aos ecossistemas 
circundantes (SCHOWALTER, 2006). 
 
 
24 
 
1.2 DÍPTEROS MUSCÓIDES E SUA IMPORTÂNCIA MÉDICO-
VETERINÁRIA 
 
 
As moscas possuem grande relevância no que diz respeito ao campo médico-
veterinário, pois atuam como vetores mecânicos de microrganismos que são 
carreados no corpo, nas pernas, peças bucais e fezes desses insetos 
(GREENBERG, 1973, KEIDING, 1986; PAIVA, 1994). Podem ainda causar miíases 
– lesões decorrentes da infestação de larvas de moscas biontófagas e/ou 
necrófagas em órgãos e tecidos do homem e de animais vertebrados (ZUMPT, 
1965; REY, 1991; GUIMARÃES e PAPAVERO, 1999). Também estão 
constantemente associadas à importunação animal e humana, não só pela 
deambulação, mas também pela capacidade hematofágica que algumas espécies 
possuem (NEVES, 2005). 
Os picos populacionais de moscas sinantrópicas já foram relacionados ao 
aumento da incidência de algumas doenças infecciosas, como a poliomielite nos 
Estados Unidos e Finlândia (SABIN e WARD, 1941; NUORTEVA, 1958), disenterias 
na Hungria (ARADI e MIHÀLYI, 1971) e tracoma no norte da África (TAYLOR, 1988), 
demonstrando assim o relevante papel desses insetos na disseminação de agentes 
causadores de doenças infecciosas. Kappel et al. (2013) ressaltam o papel dos 
dípteros muscóides no transporte de patógenos de áreas infectadas para áreas não 
infectadas. Os autores acrescentam que isso se deve à capacidade de 
movimentação e acesso ilimitado desses insetos a depósitos de resíduos, fezes 
humanas e animais, feridas abertas e instrumentos médicos contaminados 
provenientes de ambientes hospitalares. 
Greenberg (1971) ainda aponta a importância dos dípteros caliptrados tanto 
para o estudo de sinantropia quanto por sua relevância médico-sanitária, tal como as 
moscas da família Calliphoridae que são conhecidas como causadoras de miíases 
humanas, além de apresentarem hábitos necrófagos e coprófagos (DHARNE et al., 
2008; YEPES-GAURISAS et al., 2013). Chrysomya putoria já foi associada a 
transmissão de bactérias causadoras de diarreia, poliovírus tipo I e III, vírus 
coxsackie e Giardia lamblia (Lambl, 1859) (OLIVEIRA, MELLO e QUEIROZ, 2007; 
LINDSAY et al. 2012), enquanto C. megacephala apresenta-se como uma 
importante transmissora de ovos de helmintos (SUKONTASON et al. 2007). 
25 
 
Na família Muscidae, Musca domestica é considerada a espécie de maior 
interesse sanitário, podendo carrear patógenos causadores da febre tifóide, mastite 
bovina, cólera, disenteria infantil, além de ovos de helmintos como Taenia ssp. 
(Linnaeus, 1758) e Dipylidium caninum (Linnaeus, 1758) (GREENBERG, 1964; 
GREENBERG, 1971; MINSAP, 1974; FREITAS et al., 1981; OPS/OMS, 1994; 
AXTELL, 1999). Esse destaque serve de alerta, uma vez que a espécie é muito 
comum nos ambientes domésticos. 
Santos (2005) demonstrou que muitas cidades brasileiras, bem como em 
outras regiões do mundo, apresentaram o aumento da incidência de doenças 
entéricas frente a elevada densidade de algumas espécies de moscas, 
principalmente M. domestica e C. megacephala. Tal fato é observado de forma mais 
prevalente nos países em desenvolvimento em agregados urbanos e periferias. 
Nesses locais, a escassez de saneamento básico é tida como um dos fatores para 
essas infecções, já que a ausência do tratamento de água facilita a disseminação de 
parasitos intestinais de transmissão fecal-oral (GREENBERG, 1971; 1973; KEIDING, 
1986; 1991; QUEIROZ, 1986; MARICONI, GUIMARÃES e BERTI, 1999; SMG-RIO 
SCZ, 2001; SANTOS, 2005; 2006). 
Por outro lado, o potencial médico de Fanniidae e Sarcophagidae ainda é 
pouco explorado e conhecido. Dentre os fanídeos, sabe-se que F. scalaris e F. 
canicularis estão relacionadas a casos de miíases urogenitais, uma vez que as 
fêmeas dessa espécie são fortemente atraídas por urina e excreçõespurulentas 
provenientes de infecções urogenitais (ZUMPT, 1965; PEREZ-EID e MOUFFOK, 
1999). Para Sarcophagidae, Pessoa (1967) aponta que as moscas dessa família 
possuem tanto importância clínica por estarem associadas às miíases, quanto 
interesse médico forense, considerando que suas larvas fazem parte da fauna e 
sucessão entomológica cadavérica. Além disso, espécies comuns no Brasil como S. 
(L.) ruficornis e Peckia (Sarcodexia) lambens (Wiedemann, 1830) têm sido 
comumente relatada causando miíases em humanos (BERNHARDT et al., 2019; 
FRANCESCONI e LUPI 2012). Cabe ainda destacar que ambas as espécies têm 
sido encontradas bem distribuídas em ambientes dos estados de Pernambuco, 
Paraíba e Rio Grande do Norte (BARBOSA et al. 2019; JALES et al. 2020). 
Portanto, inventários faunísticos podem auxiliar a desvendar a riqueza de 
espécies em ambientes urbanos, e auxiliar em programas de controle e 
monitoramento desses insetos, evitando possíveis problemas de saúde pública. 
26 
 
1.3 DÍPTEROS MUSCÓIDES EM AMBIENTES ANTROPIZADOS 
 
 
Os insetos são influenciados pelo ambiente, uma vez que as características 
ambientais e locais podem favorecer ou inibir o desenvolvimento de determinadas 
espécies (LARA, 1995). A urbanização, por exemplo, altera o ambiente natural de 
forma a modificar a estrutura populacional de determinadas espécies e favorecer a 
introdução e o desenvolvimento de outras espécies, elevando a proliferação de 
vetores e de agentes patogênicos (FRANKIE e EHLER, 1978). 
Schoof e Savage (1955) apontam que a composição da comunidade de 
dípteros muscóides é influenciada por fatores, como a disposição de estímulos 
atrativos presentes em ambientes insalubres. Quaterman, Mathis e Kilpatrick (1954) 
demonstram que a dispersão das populações de moscas localizadas próximos às 
cidades é influenciada pela presença de locais para postura de ovos/larvas e criação 
dos imaturos (e. g. lixo e esgotos), uma vez que a disposição desses locais fornece 
substratos de alimentação e desenvolvimento de imaturos, propiciando o aumento 
das populações (SILVERLY e SCHOOF, 1955). Dessa forma, ambientes com alta 
ação antrópica proporcionam a oferta de instalações e abundância de alimento para 
algumas espécies das famílias Muscidae, Fanniidae, Calliphoridae e Sarcophagidae 
(SANTOS, 2006). 
 De acordo com Rodrigues-Guimarães et al. (2004), o substrato mais atraente 
para os dípteros caliptrados é a matéria orgânica animal e/ou vegetal em 
decomposição. Substâncias em processo de fermentação, decomposição, sangue e 
feridas são substratos fortemente atraentes para o desenvolvimento de califorídeos, 
de maneira que esses insetos podem ser comumente encontrados em abatedouros, 
estábulos de gado leiteiro, frigoríficos, aviários, plantas em decomposição, lixo 
doméstico, feiras livres, curtumes, aterros sanitários e lixão a céu aberto, e em frutos 
caídos (HALL, 1948; GUIMARÃES, PRADO e LINHARES, 1978; BORROR e 
DELONG, 1988). 
A presença desses insetos nos ambientes supracitados, além de causar 
importunação social, leva a perdas econômicas de pescados, devido à ovipostura 
em tal substrato (NEVES, 2005), e do comércio de lã, decorrente principalmente da 
infestação do califorídeo da espécie C. megacephala (FARKAS, HALL e KELEMEN, 
1997; TELLAM & BOWLES, 1997). Por outro lado, Povolny e Stanek (1972) 
27 
 
demonstraram que há preferência de espécies da família Sarcophagidae por fezes, 
carne em decomposição e frutas, ambientes estes propícios a contaminação por 
microrganismos. 
Cabe ressaltar que a alta plasticidade alimentar e a capacidade de dispersão 
dos dípteros muscóides permitem que esses insetos transitem em grandes 
quantidades por áreas urbanas com condições insalubres, como exemplo, feiras 
livres. Essas feiras constituem espaços de exposição e armazenamento inadequado 
de produtos, com baixas condições de higiene, e com uma fauna composta de 
dípteros, aves e animais domésticos, condições que tornam esse complexo 
ambiental favorável a proliferação de patógenos e transmissão de doenças 
infecciosas (BOUAMAMAA et al. 2010; BARREIRO et al. 2013; LIU et al. 2013; 
BLAAK et al. 2014; CHAIWONG et al. 2014; SOARES, MENDES e MESSIAS, 2014). 
Dessa forma, é de extrema importância inventariar a diversidade faunística de 
dípteros muscóides presentes em feiras livres, em especial, nas cidades do agreste 
de Pernambuco, onde feiras livres são comuns e concentram milhares de 
consumidores. Embora, Pernambuco tenha uma alta diversidade de dípteros 
sarcosaprófagos nos ambientes de Caatinga (VASCONCELOS et al., 2016) e 
ambientes urbanizados (BARBOSA et al., 2017), pouco se sabe da diversidade em 
espaços urbanos com alta disponibilidade de recursos alimentares, como as feiras 
livres. 
Além disso, estudos nesse contexto podem auxiliar na compreensão dos 
dípteros como dispersores de microrganismos nesses ambientes. Guerra, Oliveira e 
Madureira (2019) identificaram espécies de enterobactérias e estafilococos em 
moscas da espécie M. domestica, bem como, em moscas pertencentes as famílias 
Stratiomyidae e Calliphoridae capturadas em uma feira-livre no município de Teixeira 
de Freitas – Bahia (Brasil), atribuindo tal aspecto à exposição de alimentos nesses 
ambientes. 
Todos esses fatores aqui apresentados nos levam a acreditar que feiras livres 
possuem características necessárias para a modulação populacional das 
assembleias de moscas sarcosaprófagas, devido à abundante oferta de alimentos, 
presença de animais domésticos e de resíduos orgânicos em grande escala devido 
o trânsito constante de pessoas. Dessa forma, tais ambientes se tornam um cenário 
importante para inventários da diversidade de dípteros sarcosaprófagos, bem como, 
sobre o potencial sanitário da fauna encontrada. 
28 
 
Portanto, estudos como este fazem-se necessários para que a população se 
atente ao alimento consumido, no que diz respeito a higienização e condições da 
matéria-prima, considerando que a associação de moscas e produtos alimentícios 
pode conferir efeitos negativos a saúde humana. Além disso, é necessário que a 
população se torne consciente da influência antrópica frente a comunidade de 
insetos ao nosso redor, incluindo os representantes muscóides, uma vez que podem 
ser vetores mecânicos de doenças e provocar miíases (ZUMPT, 1965; 
GREENBERG, 1971, GUIMARÃES, PAPAVERO e PRADO, 1983). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
29 
 
2 OBJETIVOS 
 
 
2.1 OBJETIVO GERAL: 
 
 
Avaliar o efeito das feiras livres na composição e estrutura das assembleias 
de moscas com importância sanitária na cidade de Toritama - Pernambuco. 
 
 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 
 
 
a) Analisar a abundância, riqueza e dominância dos dípteros antes e após as 
feiras livres; 
 
 
b) Analisar a presença de ovos de helmintos e cistos de protozoários na 
superfície corporal das moscas coletadas; 
 
 
c) Identificar a ocorrência de espécies com potencial para provocar miíases 
e/ou atuar como vetores mecânicos de patógenos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
3 MATERIAIS E MÉTODOS 
 
 
3.1 ÁREA DE ESTUDO 
 
 
A cidade de Toritama (Figura 5a), conhecida como a capital do jeans, é o 
segundo maior polo brasileiro na confecção de peças do vestuário em jeans. 
Localizada no Agreste Pernambucano (Brasil), entre as coordenadas 08°0’24”S e 
36°03’24”O, tendo como municípios limítrofes as cidades de Caruaru e Santa Cruz 
de Capibaribe. Ocupa uma área equivalente a 25.704 Km² com uma população 
composta por 44.254 habitantes que, por sua vez, encontram-se em sua maioria 
concentrados na zona urbana (GOVERNO MUNICIPAL TORITAMA, 2020a). 
A vegetação predominante é caatinga hipoxerófica, arbustiva, com árvores e 
arbustos entremeados de cactáceas e bromeliáceas. O clima prevalecente é árido e 
semiárido, de alta sensação térmica, com chuvas no outonoe inverno. Possui um 
dos índices pluviométricos mais baixos do agreste pernambucano, equivalente a 
uma média anual de 550,00 mm, tendo máxima de 907,40 mm e um mínimo de 
188,40 mm. No verão, a temperatura mínima é de 25°C e a máxima de 35°C, 
enquanto que no inverno, a temperatura média é de 20°C (CPRM/PRODEEM, 
2005). 
A principal atividade econômica é a fabricação de jeans industrial, uma 
atividade que se proliferou rapidamente pela região, sendo que hoje responde por 
15% de toda confecção em jeans no Brasil (GOVERNO MUNICIPAL TORITAMA, 
2020b). Juntamente com Surubim, Santa Cruz do Capibaribe e Caruaru (conhecida 
nacionalmente pela Feira de Sulanca) integram o Arranjo Produtivo Local (APL), que 
movimenta a economia microrregional, e gera cerca de 120 mil empregos diretos e 
360 mil empregos indiretos (SEBRAE, 2019). Além do mais, o município conta com 
feiras livres aos finais de semana, onde há a comercialização de carnes e frutos 
sendo realizada em extensos galpões cobertos (mercados públicos), além de 
barracas dispostas na área externa a esses galpões (Figura 5b). 
 
31 
 
 
Figura 5 – A) Localização do município de Toritama no estado de Pernambuco e B) Parque das feiras 
em dias de feiras livres. Fonte: Adaptado de Google Maps e Agreste Notícia, 2020. 
 
Cabe ainda ressaltar que o preço baixo e a alta qualidade dos produtos 
atraem consumidores de diversas regiões, gerando um PIB per capita de 14.131,28 
mil (IBGE, 2020). É sabido ainda que 80% dos investidores são de diferentes 
estados e cidades e o crescimento é inevitável, porém apesar do grande 
crescimento turístico e comercial varejista, a cidade parece não acompanhar tal 
desenvolvimento, tendo em vista, que a notável falta de infraestrutura leva a uma 
desorganização urbana (SEBRAE, 2019; ESTEVES, 2020). 
 
 
3.2 COLETA E IDENTIFICAÇÃO DOS ESPÉCIMES 
 
 
Os dípteros foram coletados em seis expedições entre abril e maio de 2020, 
tal período é caracterizado por maior precipitação chuvosa, que ocorre em meados 
de fevereiro a agosto (WEATHER SPARK, 2021). 
Para a captura das moscas adultas foi utilizada uma armadilha adesiva – 
American Pets© (Figura 6). A armadilha é de fácil manuseio e pode ser posta em 
32 
 
qualquer local; consiste em uma superfície retangular de papelão completamente 
preenchida por uma cola atóxica, sem odor e que não prejudica o meio ambiente. 
(AMERICAN PETS, 2019). 
 
 
Figura 6 – Armadilha Adesiva - Ratoeira Adesiva Cola Rato. Fonte: Agro e Pets, 2020. 
 
A captura do inseto é feita no momento do pouso, ou seja, quando as moscas 
pousam sobre o cartão com cola em busca de descanso ou para analisar o 
ambiente, acabam ficando presas à cola. Tal método foi escolhido considerando o 
ambiente de coleta, pois trata-se de um centro urbano e comercial de considerável 
movimentação humana, tornando inviável a utilização de armadilhas suspensas com 
iscas animais (FERREIRA, 1978) que exalariam um odor desagradável devido ao 
processo de decomposição da isca. 
A captura ocorreu em ponto comercial localizado próximo a feira livre, tendo 
sido selecionados dois pontos amostrais com uma distância aproximada de 100 
metros entre esses. Os locais de coleta foram escolhidos baseando-se em sua 
caracterização de espaço, isto é, ambos possuíam a mesma disponibilidade 
alimentícia (casa de ração veterinária), com temperatura de 25±2ºC e umidade 
relativa do ar de 55±5%. As armadilhas eram postas dentro da casa de rações, 
postas à 1 metro de altura do solo, sobre as prateleiras das instalações. Este design 
permitiu a obtenção de 12 amostras independentes ao logo do estudo, com seis 
amostras coletadas antes da realização da feira livre e seis amostras após a feira. 
As feiras livres aconteciam durante os fins de semana (sábado e domingo), e 
as armadilhas eram expostas por 48h ininterruptas, isto é, em dois dias 
33 
 
antecedentes ao fim de semana, as armadilhas eram instaladas, caracterizando 
assim, a coleta antes da feira; após a ocorrência da feira, novas armadilhas eram 
instaladas, permanecendo em exposição por dois dias, a fim de avaliar a influência 
das feiras na diversidade de moscas. 
Posteriormente, os cartões de coleta foram analisados e as moscas retiradas. 
Para auxiliar na retirada das moscas foi utilizado óleo mineral (AMERICAN PETS, 
2019), que permitiu a remoção das moscas, de forma a preservar caracteres 
morfológicos imprescindíveis à identificação taxonômica do espécime. Todos os 
espécimes foram armazenados em potes contendo álcool 70% e levados ao 
Laboratório de Insetos e Vetores- LIVe (UFRN) para serem triados e identificados. A 
identificação foi feita utilizando-se microscópio estereoscópico, a partir de chaves 
taxonômicas específicas (CARVALHO e RIBEIRO, 2000; CARVALHO e MELLO-
PATIU, 2008) e devidamente confirmada por especialistas. 
Vale destacar que a chave taxonômica de Carvalho e Mello-Patiu (2008), para 
identificação de dípteros da família Sarcophagidae, baseia-se exclusivamente em 
características morfológicas da genitália masculina, sendo necessária, a exposição 
de tal estrutura no momento a ser identificado, tal particularidade impossibilita a 
identificação dos espécimes fêmeas a partir dessa técnica. 
 
 
3.3 ANÁLISE DA PRESENÇA DE OVOS DE HELMINTOS E CISTOS DE 
PROTOZOÁRIOS 
 
 
Para a análise da presença de ovos de helmintos e cistos de protozoários foi 
realizada uma adaptação da técnica de HPJ – Hoffman, Pons e Janer ou Lutz, que 
consiste na sedimentação espontânea de ovos de helmintos e cistos de protozoários 
no fundo de um cálice de sedimentação de vidro (Figura 7), e posterior observação 
da possível presença de ovos neste sedimento, tal análise é feita em um 
microscópio óptico (HOFFMAN, PONS e JANNER, 1934). 
34 
 
 
Figura 7 – Técnica de HPJ – Sedimentação espontânea. A) Frasco de Borrel com amostra, água e 
bastão, B) Cálice com a gaze e transferência da amostra com o auxílio do bastão e C) Cálice com o 
sedimento para exame e líquido sobrenadante Fonte: NEVES, 2005. 
 
Na realização da técnica foi feita a aposição de uma gaze cirúrgica dobrada 
em quatro partes sobre um cálice de sedimentação, em seguida, o álcool dos potes 
em que as moscas foram acondicionadas foi despejado sobre a gaze. Após 2h 
necessárias para a sedimentação, o sobrenadante foi descartado e o sedimento foi 
homogeneizado. Para a preparação das lâminas destinadas a análise, uma gota do 
sedimento foi retirada com o auxílio de uma pipeta de Pasteur e corada com lugol. 
Posteriormente foi analisada em um microscópio nas objetivas de 10x e 40x. 
A confecção das lâminas foi realizada em triplicata para cada pote de 
acondicionamento de moscas - amostra, de forma a garantir, uma maior segurança 
no resultado da análise. 
 
 
3.4 ANÁLISE ESTATÍSTICA 
 
 
A assembleia de dípteros foi caracterizada por meio da abundância absoluta, 
frequência relativa, riqueza de espécies e dominância. Para a dominância foi 
35 
 
realizado o cálculo limite de dominância a partir da equação: LD = (1/S) x 100, no 
qual LD corresponde ao limite de dominância e o S corresponde ao número total de 
espécies, sendo as espécies classificadas como dominantes (D) quando as 
frequências são superiores ao LD, e consideradas não-dominantes quando o LD é 
superior às frequências (SILVEIRA NETO et al., 1976). 
A diversidade por tratamento (antes e após a realização da feira livre) foi 
obtida a partir do índice de Shannon – Wiener, enquanto o índice de equitabilidade 
foi utilizado o modelo proposto por Pielou (MAGURRAN, 1988). Também foi 
construído um ranking de dominância, utilizando a frequência relativa das espécies 
para os tratamentos. Tal método possibilitou a observação gráfica da interação de 
dominância entre as espécies por ambientes. 
As diferenças da abundância e riqueza sob o fator (presença ou ausência da 
feira) foram acessadas por meio da análise de variância (Kruskal-Wallis).Para 
avaliar a razão sexual foi utilizado o teste do Qui-quadrado. Os dados de abundância 
por ambiente ainda foram transformados, em log (X+1), para a obtenção da matriz 
de similaridade e a partir do índice de Bray-Curtis foi realizada a análise de 
agrupamento nMDS para avaliar o quão similar são as áreas amostradas. Todas as 
análises estatísticas foram conduzidas no programa estatístico Biostat 5.0, bem 
como, as análises ecológicas, no Primer 6.0, com nível de significância de 0,05%. 
Para a construção dos gráficos e montagem das tabelas foi utilizado o programa 
Excel/2019 do pacote Microsoft Office. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
4 RESULTADOS 
 
 
4.1 DIVERSIDADE DE DIPTERA 
 
 
Ao fim das expedições foi registrado um total de 7.780 espécimes 
pertencentes a seis famílias de dípteros e uma riqueza de 14 espécies. Muscidae foi 
a família mais representativa com 96,98% de todas as moscas capturadas, seguida 
de Sarcophagidae (1,99%), Phoridae (0,53%), Calliphoridae (0,42%), Fanniidae 
(0,03%), e Stratiomyidae com 0,02% dos representantes. Muscidae além de ser o 
táxon mais abundante também foi o mais diverso com o registro de quatro espécies, 
seguido de Sarcophagidae (3 spp.), Calliphoridae, Phoridae e Stratiomyidae com 
duas espécies cada, e Fanniidae com uma espécie (Tabela 1). 
 
Tabela 1 – Abundância absoluta (N), frequência relativa (%) e dominância das espécies de dípteros 
presentes em feira livre da cidade de Toritama – PE em abril/maio de 2020. 
 
Famílias/Espécies N % Dominância 
Calliphoridae 
Lucilia cuprina 19 0,24 Dominante 
Lucilia eximia 14 0,18 Dominante 
Fanniidae 
 
 
Fannia pusio 2 0,03 Não-dominante 
Muscidae 
 
 
Atherigona orientalis 3 0,04 Não-dominante 
Musca domestica 7.537 96,88 Dominante 
Stomoxys calcitrans 1 0,01 Não-dominante 
Synthesiomyia nudiseta 6 0,08 Dominante 
Phoridae 
 
 
Megaselia scalaris 37 0,48 Dominante 
Phoridae sp. 4 0,05 Não-dominante 
Sarcophagidae 
 
 
Peckia (Sarcodexia) lambens 3 0,04 Não-dominante 
Sarcophaga (Liopygia) ruficornis 4 0,05 Não-dominante 
Tricharaea (Sarcophagula) occidua 8 0,10 Dominante 
Sarcophagidae spp.(♀) 140 1,80 - 
Stratiomyidae 
 
 
Hermetia illucens 1 0,01 Não-dominante 
Ptecticus sp. 1 0,01 Não-dominante 
Total 7.780 100 
Fonte: Autoria Própria 
37 
 
 
 
Em Muscidae, as espécies registradas foram de quatro gêneros distintos. 
Musca domestica foi a espécie mais abundante com 96,85% dos indivíduos 
amostrados, seguida por S. nudiseta (0,08%), A. orientalis (0,04%) e Stomoxys 
calcitrans (Linnaeus, 1758), com 0,01% dos espécimes coletados. Para 
Sarcophagidae, as três espécies também foram de gêneros diferentes (Tabela 1). 
Tricharaea (Sarcophagula) occidua apresentou a maior abundância dentro dessa 
família com 0,10% dos espécimes coletados, seguida por S. (L.) ruficornis (0,05%) e 
P. (S.) lambens (0,04%). Todavia, vale ressaltar que a alta abundância da família 
Sarcophagidae deu-se devido aos 140 espécimes fêmeas coletadas, os quais não 
foram identificados a nível de espécie (Tabela 1). 
As duas espécies registradas de Calliphoridae foram do gênero Lucilia, 
(Lucilia cuprina (Wiedemann, 1830) e Lucilia eximia (Wiedemann, 1819)). Phoridae, 
terceira família em ordem de abundância, foi representada principalmente por 
Megaselia scalaris (Loew, 1866). A família Stratiomyidae, embora seja a menos 
abundante, apresentou o registro de duas espécies Hermetia illucens (Linnaeus, 
1758) e Ptecticus sp. (Loew, 1855) Para Fanniidae, todos os espécimes coletados 
foram da espécie Fannia pusio (Wiedemann, 1830). 
 Quanto à dominância das espécies, observou-se que o valor do limite de 
dominância foi correspondente a 0,06 (LD = 1/15). Sendo assim, de modo geral, as 
espécies M. domestica, M. scalaris, L. cuprina, L. eximia, T. (S.) occidua e S. 
nudiseta, foram classificadas como dominantes e as demais espécies foram não 
dominantes (Tabela 1). 
 
 
 4.2 EFEITO DE FEIRA LIVRE SOBRE AS ASSEMBLEIAS DE DÍPTEROS 
 
 
Quando o fator feira livre é considerado, nota-se que a assembleia após a 
ocorrência da feira é mais abundante (H = 6.56; df = 1; P < 0,01) (Tabela 2). 
Todavia, não houve diferenças estatísticas na riqueza de espécies (H = 0.42; df = 1; 
P > 0,05), embora a composição das assembleias seja distinta nos tratamentos, com 
cinco espécies ocorrendo exclusivamente antes da feira e duas espécies após a 
38 
 
ocorrência da feira. Cabe ainda destacar que 50% das espécies foram comuns aos 
dois tratamentos, com destaque para as espécies dominantes M. domestica e M. 
scalaris (Figura 8). 
Os valores de diversidade e equitabilidade também variaram entre os 
tratamentos, sendo os valores observados antes da ocorrência da feira (H’ =2.2; J = 
088) mais elevados que depois das feiras (H’ =1.8; J = 0,84). Além disso, em ambos 
tratamentos a espécie M. domestica foi dominante e representa acima de 90% de 
todos os adultos amostrados (Figura 9). A análise de escalonamento 
multidimensional não-métrico (NMDS) a partir dos dados de abundância mostrou 
haver uma tendência de agregação das amostras do tratamento pós-feira com 
similaridade acima de 75% (Figura 10). 
 
Tabela 2 – Abundância absoluta (N) e frequência relativa (%) das espécies de dípteros nos 
tratamentos pré-feira livre e pós-feira livre na cidade de Toritama – PE em abril/maio de 2020. 
 
Famílias/Espécies 
Tratamento 
Pré-feira Pós-feira 
N % N % 
Calliphoridae 
 
Lucilia cuprina 7 0,20 12 0,28 
Lucilia eximia 5 0,15 9 0,21 
Fanniidae 
 
Fannia pusio - - 2 0,05 
Muscidae 
 
Atherigona orientalis 3 0,09 - - 
Musca domestica 3.295 95,81 4.242 97,72 
Stomoxys calcitrans - - 1 0,02 
Synthesiomyia nudiseta 4 0,12 2 0,05 
Phoridae 
 
Megaselia scalaris 26 0,76 11 0,25 
Phoridae sp. 4 0,12 - - 
Sarcophagidae 
 
Peckia (Sarcodexia) lambens 3 0,09 - - 
Sarcophaga (Liopygia) ruficornis 2 0,06 2 0,05 
Tricharaea (Sarcophagula) occidua 6 0,17 2 0,05 
Sarcophagidae spp. (♀) 82 2,38 58 1,34 
39 
 
Atherigona orientalis 
Peckia (Sarcodexia) 
lambens 
Ptecticus sp. 
Hermetia illucens 
Phoridae sp. 
 
 
 
 
Fannia pusio 
Stomoxys 
calcitrans 
 
 
Lucilia cuprina 
Lucilia eximia 
Megaselia scalaris 
Musca domestica 
Sarcophaga 
(Liopygia) ruficornis 
Synthesiomyia 
nudiseta 
Tricharaea 
(Sarcophagula) 
occidua 
 
T. occidua 
 
 
Pré-feira livre Pós-feira livre 
Stratiomyidae 
 
Hermetia illucens 1 0,03 - - 
Ptecticus sp. 1 0,03 - - 
Total Geral 3.439 100 4.341 100 
Fonte: Autoria Própria 
 
 
 
 
Figura 8 – Distribuição das espécies de dípteros por tratamentos (Pré-feira e Pós-feira) em ambiente 
urbano do Agreste pernambucano, Toritama, PE. Fonte: Autoria Própria 
 
 
40 
 
 
Figura 9 – Ranking de dominância das espécies de dípteros. A) antes da ocorrência da feira livre e B) 
após ocorrência da feira livre. Fonte: Autoria Própria 
 
 
 
Figura 10 – Ordenação por escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS), usando a 
similaridade de Bray-Curtis, das 12 amostras baseando-se na abundância das espécies de Diptera e 
utilizando o fator nível de ocorrência da feira. Fonte: Autoria Própria 
 
41 
 
A presença da feira livre também influenciou no aumento dos espécimes, 
tanto de fêmeas, quanto de machos (Figura 11). Ademais, o teste do qui-quadrado 
revelou que a abundância das fêmeas diferiu estatisticamente (χ2 yates = 111.87; df = 
1; P < 0,01), sendo significativamente maior após a feira; entretanto não foi vista 
diferença significativa para os machos (χ2 yates = 2.67; df = 1; P < 0,05). 
Vale destacar, a superioridade na abundância de fêmeas quando comparada 
a abundância de machos tanto antes quanto após a feira. 
 
 
Figura 11 – Efeito de feira livre na razão sexual da assembleia de dípteros de importância sanitária. 
Fonte: Autoria Própria 
 
 
4.3 ESPÉCIES DE DÍPTEROS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA EM TORITAMA - 
PE 
 
 
As espécies identificadasneste levantamento que possuem importância 
médica são Lucilia cuprina e Lucilia eximia (Calliphoridae), Fannia pusio (Fanniidae), 
Megaselia scalaris (Phoridae), Atherigona orientalis, Musca domestica, Stomoxys 
calcitrans e Synthesiomyia nudiseta (Muscidae) e Peckia (Sarcodexia) lambens, 
Sarcophaga (Liopygia) ruficornis e Trichaerea (Sarcophagula) (Sarcophagidae) 
(Tabela 3). 
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
Fêmea Macho
F
re
q
u
ê
n
c
ia
Efeito de feira livre na razão sexual da assembleia 
de dípteros
Antes
Depois
* 
42 
 
Entretanto, nas buscas parasitológicas realizadas nos potes em que as 
moscas coletadas foram acondicionadas, não foram encontrados cistos de 
protozoários ou ovos de helmintos nas amostras analisadas. 
 
Tabela 3 – Dípteros de importância médica em Toritama – Agreste Pernambucano. 
DÍPTEROS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA NO AGRESTE PERNAMBUCANO 
Família/Espécies 
Vetor mecânico 
de patógenos 
Agente de 
miíases Referência 
Calliphoridae 
Lucilia cuprina X X 
Greenberg (1971; 1973), Guimarães e 
Papavero, (1999), Maldonado e 
Centeno (2003). 
Lucilia eximia X X 
 
Leite, Madeira e Guimarães (1983), 
Madeira, Silveira e Pavan (1989), 
Moretti e Thyssen (2006). 
Fanniidae X X 
Fannia pusio X X Espindola e Couri (2004). 
Muscidae 
Atherigona orientalis X Oliveira, Mello e D'Almeida (2002). 
Musca domestica X X 
Zumpt (1963), Greenberg (1964; 
1971; 1973), MINSAP (1974), Freitas 
et al. (1981), Burgess e Davies 
(1991), Ribeiro et al. (1993), 
OPS/OMS (1994), Rodriguez e Leite 
(1997), Axtell (1999), Riyaz, Riyaz e 
Anoop (2004), Chaiwong et al. (2014), 
Gupta et al. (2014), Zurek e Gosh 
(2014). 
Stomoxys calcitrans X 
Berberian (1938), Hawkins et al. 
(1973), Philpoot e Ezeh (1978), Foil et 
al. (1983), Mattos Jr. (1986), Moraes 
et al. (2004). 
Synthesiomyia 
nudiseta X 
Greenberg (1971). 
Phoridae 
43 
 
Megaselia scalaris X X 
Prawirodisastro e Benjamin, 1979; 
Trape, Vattier-Bernard e Trovillet, 
1982; Singh et al., 1988; Meinhardt e 
Disney, 1989; Singh e Rana, 1989. 
Sarcophagidae 
Peckia (Sarcodexia) 
lambens X X 
Marchiori, Pereira e Filho (2003), 
Fernandes, Pimenta e Fernandes 
(2009). 
Sarcophaga 
(Liopygia) ruficornis X 
Sreevatsa et al. (1990), Ferraz et al. 
(2010). 
Tricharaea 
(Sarcophagula) 
occidua X 
Greenberg (1973). 
Fonte: Autoria Própria 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
5 DISCUSSÃO 
 
 
 A cidade de Toritama está inserida em uma matriz de Caatinga, ambiente 
conhecido como semiárido e com condições climáticas extremas, por exemplo, 
escassez hídrica e altas temperaturas. Embora haja essas limitações, a região 
urbana amostrada demonstrou uma riqueza de espécies similar a outros estudos 
com dípteros muscóides (CRUZ et al., 2017; MARCHIORI et.al., 2000; LABUD, 
SEMENAS e LAOS, 2003; LOPES, 2016). 
Além disso, os resultados revelaram que feiras livres atuam como um fator 
modulador das assembleias de moscas, sendo essa ideia corroborada pelos 
seguintes fatos: I) há uma influência na composição das assembleias, sendo esta 
geralmente composta por espécies sinantrópicas; II) as assembleias são mais 
densas após a ocorrência das feiras livres, isto foi associado ao fato da feira 
proporcionar sítios de alimentação e desenvolvimento temporário para as fases 
imaturas das espécies sinantrópicas (e.g. restos de vegetais ou lixo) e III) as 
assembleias antes da feira apresentam valores de diversidade e equitabilidade 
maiores, o que revela maior equilíbrio na distribuição dos táxons. Tais resultados 
sugerem que o aumento da atividade antrópica, causada pelos consumidores 
dessas feiras livres, pode ter causado uma diminuição na diversidade, como já 
relatado na literatura (FOLGARAIT, 1998; KEARNS, 2001). Vale ressaltar também 
que o NMDS demonstrou que as amostras após as feiras livres são mais similares, e 
apresentam uma tendência ao agrupamento, provavelmente devido ao fato dessas 
serem menos diversas e compostas por alto número de espécimes de M. domestica. 
 O fato de M. domestica ser dominante no estudo reforça a característica 
cosmopolita e pode estar relacionada ao aspecto eussinantrópico e endófilo da 
espécie, que utiliza diversos meios como substrato de criação, tais como fezes e 
matéria orgânica animal e vegetal em decomposição, além de ser uma das mais 
importantes como vetor de microrganismos patogênicos (GREENBERG, 1973). 
Cabe ainda ressaltar que adultos de M. domestica são marcadamente 
abundantes em ambientes intradomiciliares e peridomiciliares, feiras livres, unidades 
de alimentação, comércio de alimentos, ambiente interno de indústrias de produção 
e processamento de alimentos (GREENBERG, 1971; 1973; KEIDING, 1986; 1991; 
QUEIROZ, 1986; MARICONI, GUIMARÃES e BERTI, 1999; SMG-RIO SCZ, 2001; 
45 
 
SANTOS, 2005; 2006), podendo oferecer risco a saúde humana e animal, uma vez 
que suas larvas já foram descritas como causadoras de miíases intestinais por 
ingestão de comida ou bebida contaminadas (ZUMPT, 1963), miíase nasofaríngea 
em uma criança (RIYAZ, RIYAZ e ANOOP, 2004) e miíase cutânea em úlcera 
profunda em um paciente diabético (BURGESS e DAVIES, 1991). 
Além disso, M. domestica pode ser um vetor forético de ovos de outra espécie 
com alta importância médica, Dermatobia hominis (Linnaeus Jr., 1781) (RIBEIRO et 
al., 1993, RODRIGUEZ e LEITE, 1997). Estando relacionada também à transmissão 
de bactérias patogênicas tais como Aeromonas hydrophila (Chester, 1901), 
Citrobacter freundii (Braak, 1928), Pantoea agglomerans (Ewing e Fife, 1972), 
Klebsiella oxytoca (Flügge 1886), Klebsiella pneumoniae (Schroeter, 1886), 
Burkholderia pseudomallei (Whitmore, 1913), Escherichia coli (Migula, 1895), 
Morganella morganii (Fulton, 1943), Enterobacter cloacae (Jordan, 1890) e Proteus 
mirabilis (Hauser, 1885) (CHAIWONG et al. 2014), E. coli O157:H7 (ZUREK e 
GOSH, 2014), Acinetobacter spp. (Brisou e Prévot, 1954), Bacillus spp. (Cohn, 
1872), Enterococcus spp. (Thiercelin e Jouhaud, 1903), Myroides spp. (Vancanneyt 
et al. 1996), Providencia spp. (Ewing, 1962), Staphylococcus spp. 
(Rosenbach, 1884), Clostridium spp. (Prazmowski, 1880), Klebsiella spp. (Trevisan, 
1885) e Serratia spp. (Bizio, 1823) (GUPTA et al., 2014). 
Musca domestica ainda foi apresentada na Instrução Normativa - IBAMA nº 
141 (19/12/2006) como espécie que se enquadra em sinantrópica nociva, tal fato 
justifica uma maior atenção para com o controle dessas moscas. Entretanto, esse 
manejo é dificultado devido à capacidade dessa espécie de desenvolver resistência 
aos inseticidas, o que aumenta o preço do controle químico (KEIDING, 1999). 
Synthesiomyia nudiseta é outra espécie cosmopolita que merece atenção, 
uma vez que está distribuída amplamente na região Neotropical (CARVALHO et al., 
2005), possui hábitos alimentares necrófagos (BOHART e GRESSIT, 1951; 
SKIDMORE, 1985) e é um importante indicador forense, principalmente para 
estimativa do IPM (intervalo pós-morte) (FREIRE, 1914; JIRÓN, VARGAS e 
VARGAS-ALVARADO, 1983; LORD, ADKINS e CATTS, 1992; OLIVEIRA-COSTA, 
MELLO-PATIU e LOPES, 2001; KRÜGER et al., 2002). 
Adicionalmente, S. nudiseta já foi relatada como agente vetor mecânico de 
poliovírus, E. coli e Shigella dysenteriae (Shiga, 1898) (GREENBERG, 1971) que 
podem contaminar humanos. Além do mais, a espécie apresenta características 
46 
 
comportamentais interessantes, já que pode exercer atividade predatória das larvas 
de outras espécies (SKIDMORE, 1985) e assim competir com outros táxons. Embora 
tenha ocorrido em baixa abundância no presente estudo, a espécie vem sendo 
comumente amostrada em estudos conduzidos no estado do Pernambuco 
(SOARES, MENDES e MESSIAS, 2014; BARBOSA, 2015). A presença da espécie 
em áreas urbanas confirma a capacidade sinantrópica desse inseto, a qual foi 
destacada em estudos realizados em centros urbanos no Brasil (LINHARES,1981b; 
D'ALMEIDA, 1992; MENDES e LINHARES, 1993; CARVALHO, MOURA e RIBEIRO, 
2002; LEANDRO e D'ALMEIDA, 2005). 
O fato de o estudo ter sido realizado em ambientes altamente antropizados, 
com presença de grandes feiras livres ainda influenciou na composição da 
assembleia de Sarcophagidae, família essa que já fora mencionada em um estudo 
realizado no semiárido Pernambucano (CRUZ et al., 2017). No presente estudo, 
Sarcophagidae foi a segunda família mais abundante, porém foram registradas 
apenas três espécies, as quais são relatadas como sinatrópicas e com forte 
preferência por ambientes antropizados (DIAS, NEVES e LOPES, 1984; YEPES-
GAURISAS et al. 2013; BARBOSA, 2019). 
Dentre as espécies registradas, Peckia (Sarcodexia) lambens, é um potencial 
vetor de patógenos como vírus, bactérias, protozoários e helmintos (MARCHIORI, 
PEREIRA e FILHO, 2003). Fernandes, Pimenta e Fernandes (2009) ainda 
registraram essas espécies ocasionando casos de miíases humanas no estado do 
Goiás (Brasil). Já S. (L.) ruficornis é um táxon comum causador de miíases 
facultativas, uma vez que esses indivíduos são frequentes em pacientes com lesões 
ulcerativas (SREEVATSA et al. 1990). No Brasil, essa espécie juntamente com C. 
megacephala e M. domestica foram encontradas em um caso de miíase por 
coinfestação na cabeça de um paciente (FERRAZ et al., 2010). Porém, ainda há 
escassez sobre o potencial da espécie como vetor mecânico de microrganismos. 
Por outro lado, Tricharaea (Sarcophagula) occidua já foi encontrada 
contaminada superficialmente por protozoários, o que indica que essa espécie pode 
ser um potencial carreador de agentes etiológicos, e consequentemente causar 
prejuízos à saúde humana (GREENBERG, 1973). Não há casos dessa espécie 
provocando miíases, isto provavelmente devido ao fato de serem relatadas como 
coprófagas (OLEA et al., 2016). Dessa forma, cabe destacar que em ambientes 
urbanizados todas as espécies da família Sarcophagidae coletadas no presente 
47 
 
estudo apresentam alguma importância médica e podem causar danos à saúde 
humana e animal, em especial S. (L.) ruficornis e P. (S.) lambens que têm sido 
comumente relatadas causando miíases em humanos (BERNHARDT et al., 2019; 
FRANCESCONI e LUPI 2012). 
Quanto aos califorídeos, apenas Lucilia eximia e Lucilia cuprina foram 
registradas, tal como a análise faunística de Figueiredo (2016) no jardim botânico do 
Rio de Janeiro. Embora Ferraz, Gadelha e Aguiar-Coelho (2010) e Gadelha et al. 
(2015) ressaltem a influência do gênero Chrysomya no Brasil sobre o deslocamento 
de moscas do gênero Lucilia para áreas interiorizadas na mata, alguns estudos 
registram a ocorrência de L. eximia em ambientes antropizados (D’ALMEIDA, 1982; 
WOLFF, 2015). Outros autores destacam a capacidade de adaptação de L. eximia 
em diferentes ambientes, antrópico e não antrópico (FERREIRA, 1978; FURUSAWA 
e CASSINO, 2006; KOSMANN, 2013). Além disso, Bohart e Gressitt (1951) apontam 
L. cuprina como uma espécie capaz de desenvolver-se em diferentes substratos, 
tais como carcaças de animais e lixos urbanos, enfatizando sua relação íntima com 
o ambiente antropizado. 
 Lucilia cuprina já foi coletada em carcaças em decomposição e utilizada no 
cálculo de estimativa do IPM, evidenciando seu potencial forense (ANDRADE et al., 
2005; HUNTINGTON, HIGLEY e BAXENDALE, 2007; BIAVATI, SANTANA e 
PUJOL-LUZ, 2010). Essa espécie possui grande importância sanitária, tendo em 
vista que são vetores de patógenos e causadora de miíases em humanos e animais 
(GREENBERG, 1971, 1973; GUIMARÃES e PAPAVERO, 1999; MALDONADO e 
CENTENO, 2003). Lucilia eximia também esteve associada a casos de míiases 
secundárias em humanos (MADEIRA, SILVEIRA e PAVAN, 1989) e míiases 
primárias em animais, além da capacidade de atuar como vetor de microrganismos 
patogênicos, tanto para o homem quanto para os animais (LEITE, MADEIRA e 
GUIMARÃES, 1983; MORETTI e THYSSEN, 2006). 
Curiosamente, no presente estudo foi observada a ausência de Chrysomya, 
gênero que tem sido comumente encontrado e dominante em outros ambientes no 
estado do Pernambuco (VASCONCELOS, BARBOSA e OLIVEIRA, 2015; CARMO e 
VASCONCELOS, 2016). A ausência do gênero pode estar relacionada ao tipo de 
armadilha utilizada no presente estudo, uma vez que essas moscas são fortemente 
atraídas por carcaças, alimentando-se de matéria orgânica animal em decomposição 
(NORRIS, 1965), e para tal é recomendada a armadilha desenvolvida por Ferreira 
48 
 
(1978), que utiliza iscas animais ou vegetais para atração e consequentemente 
captura desses dípteros muscóides. 
A espécie Megaselia scalaris, já foi identificada como sinantrópica 
(BORGMEIER, 1968), além disso, a ocorrência dessa espécie no presente trabalho 
corrobora com achados anteriores no estado do Pernambuco (VASCONCELOS, 
SOARES e COSTA, 2014; CRUZ et al., 2017). A presença dessa espécie também 
pode estar relacionada a sua plasticidade alimentar como espécie polífaga, 
saprófaga e necrófaga (FURUKAWA e KANEKO 1981, BROWN, 1996; 
TUMRASVIN, SUCHARIT e VUTIKES, 1997, KOLLER et al., 2003, DISNEY, 2008). 
Essa última característica atribui importância forense a essa espécie, principalmente 
no que diz respeito ao cálculo do IPM, e as análises toxicológicas realizadas a partir 
de formas imaturas desse inseto (SINGH e RANA, 1989; MILLER et al., 1994; 
GREENBERG e WELLS, 1998; CARVALHO et al., 2000; VASCONCELOS, 
SOARES e COSTA, 2014). 
Adicionalmente, a capacidade de M. scalaris de desenvolver-se em fezes já a 
relacionou como transmissora de Vibrio cholerae (Pacini, 1854), agente etiológico da 
cólera, bem como várias afecções intestinais (PRAWIRODISASTRO e BENJAMIN, 
1979). Essa espécie já esteve relacionada a diversos casos de miíases primárias, 
miíases intestinais no Congo e na Índia (TRAPE, VATTIER-BERNARD e 
TROUILLET, 1982; SINGH et al., 1988) e miíases urogenitais na Índia (MEINHARDT 
e DISNEY, 1989; SINGH e RANA, 1989), que a coloca como de alto interesse 
médico. 
As demais espécies, A. orientalis, F. pusio, S. calcitrans, H. illucens e 
Ptecticus sp. também foram observadas nas coletas, sendo as três primeiras 
atraídas por uma variedade de substratos, tais como, carcaças de animais, fezes e 
vegetais em decomposição (BOHART e GRESSIT, 1951; POVOLNY, 1971; 
MARICONI, GUIMARÃES e BERTI, 1999; COURI e CARVALHO, 2005a). 
Atherigona orientalis pode ser amplamente encontrada em regiões tropicais e 
subtropicais, tanto em fezes humanas como também em vários frutos e legumes em 
decomposição (HIBBARD e OVERHOLT, 2013; GRZYWACZ e PAPE, 2014). Embora 
em baixa abundância, essa espécie merece atenção, pois já foram encontrados 
ovos de helmintos na sua superfície corpórea em um estudo realizado no Brasil 
(OLIVEIRA, MELLO e D’ALMEIDA, 2002). 
49 
 
Fannia pusio só ocorreu nas amostras após a feira, sendo esta espécie 
considerada um vetor forético de Dermatobia hominis – agente de míiase 
furunculosa, podendo causar danos à saúde humana e animal, provocando prejuízo 
econômico (ESPINDOLA e COURI, 2004). 
A aparição de Stomoxys calcitrans nesse estudo merece relevância, uma vez 
que podem causar altos prejuízos econômicos, tendo em vista, seu potencial como 
vetor de microrganismos patogênicos aos animais domésticos (MACEDO, 
CHAABAN e MOYA BORJA, 2005). A baixa abundância dessa espécie pode estar 
associada ao fato de o local de coleta ser um centro urbano, uma vez que é uma 
mosca de área rural e muito comum nos estábulos. É uma mosca estritamente 
hematófaga, sendo a única espécie com tal característica alimentar coletada nesse 
estudo, além de ser um importante veiculador de protozoários, helmintos, riquétsias, 
bactérias, fungos e vírus (BERBERIAN, 1938; HAWKINS et al., 1973; PHILPOOT e 
EZEH, 1978; FOIL et al., 1983; MATTOS Jr., 1986). Moraes et al. (2004) ainda 
isolaram Escherichia coli, Staphylococcus spp. coagulase (+), Bacillus spp., 
Staphylococcus saprophyticcus(Fairbrother, 1940), Enterobacter agglomerans 
(Ewing e Fife, 1972) e Shigella spp. (Castellani e Chalmers, 1919) no corpo desses 
insetos em uma propriedade leiteira do Rio de Janeiro, Brasil. 
Ao longo do estudo houve também uma prevalência quantitativa de fêmeas 
em relação aos machos para ambos os tratamentos, sendo esse um padrão comum 
nos estudos com dípteros, como visto por D’almeida e Lopes (1983), Lomônaco 
(1987), Marilius et al. (1990), Paraluppi e Castellón (1994), Carraro (1995), Santos 
(1995), Marinho (2000), Azevedo (2001), Boonchu et al. (2003), Marinho et al. 
(2006), e Barbosa (2015). Além disso, o número de fêmeas foi estatisticamente 
maior após a feira, o que pode indicar uma maior busca por sítio de postura, tendo 
em vista que essa ideia encontra suporte na teoria de que o aumento de recursos 
efêmeros no ambiente implica na procura de substratos de oviposição e manutenção 
dos criadouros (MARICONI, GUIMARÃES e BERTI, 1999; SMG-RIO/SCZ, 2001; 
SANTOS, 2005; 2006). 
Quanto a análise parasitológica realizada no presente estudo, a ausência de 
estruturas parasitológicas de importância médica no HPJ, pode estar relacionada a 
baixa incidência de geo-helmintíases no estado do Pernambuco. Segundo o Boletim 
Epidemiológico do Ministério da Saúde (2021), em uma análise que se estende dos 
anos de 2015 a 2019, demonstrou que apenas 2,5% da população avaliada estava 
50 
 
acometida por ascaridíase, 0,6% por ancilostomíase (sendo esse, o menor índice 
dentre todos os estados brasileiros avaliados) e 0,9% por tricuríase. Contudo, o 
método utilizado na coleta dos espécimes pode ter interferido na coleta de estruturas 
parasitológicas, uma vez que há a possibilidade de essas terem ficado aderidas a 
cola da armadilha. 
É importante salientar que o efeito das feiras no aumento da abundância da 
dipterofauna encontrada é de extrema relevância para a sociedade, posto o papel 
das moscas na dispersão de patógenos relatado nesse e nos demais estudos. 
Soares, Mendes e Messias (2014), em seu trabalho realizado nas feiras livres da 
cidade de Petrolina - PE, constataram que a disposição e o armazenamento dos 
produtos comercializados eram impróprios e deficientes, e que tais aspectos aliados 
a condições precárias de higiene são decisivos na proliferação de vetores. 
Sendo assim, um manejo adequado desses recursos orgânicos é cabal na 
diminuição da incidência de vetores, e consequentemente da transmissão de 
doenças (BIDAWID et al., 1978; WIEST e SANTURIO, 2002). Chavasse et al. (1999) 
relatam que o controle da população de moscas em vilarejos no Paquistão acarretou 
na redução de 23% dos casos de diarreia infantil. Emerson et al. (1999) também 
mostraram que o controle de moscas realizado em vilarejos de Gâmbia refletiu em 
75% na diminuição de novos casos de tracoma e de 22 a 26% dos casos de diarreia. 
Adicionalmente, a conscientização da população para a importância da 
limpeza das áreas de feiras pode futuramente auxiliar no controle das espécies de 
moscas (inclusive os táxons altamente sinantrópicos, como M. domestica)), a fim de 
evitar toxinfecções alimentares, ao impedir o contato dos produtos de consumos 
com os esses insetoss, e de certa forma, diminuir a transmissão de doenças (SMG-
RIO/SCZ, 2001). 
Dessa forma, devemos nos alertar para o controle desses insetos de 
importância sanitária nos ambientes urbanos, uma vez que o manejo químico já não 
é a solução mais adequada, tendo em vista que o uso de inseticidas não controla a 
população de moscas de maneira eficaz a longo prazo, além de contribuir no 
aparecimento de linhagens de espécies de moscas resistentes aos inseticidas 
(CARVALHO et. al., 2003). Algumas técnicas alternativas já foram anteriormente 
apresentadas, tais como saneamento básico, aterro sanitário, compostagem, 
reciclagem e coleta seletiva (DIAS, GABRIEL FILHO e GUIMARÃES, 2014). Além do 
mais, a armadilha adesiva demonstrou ser uma boa alternativa de controle para 
51 
 
ambientes onde há circulação de pessoas, uma vez que, após as coletas, os 
comerciantes das áreas de coleta (casas de rações) resolveram utilizá-las para 
diminuir a quantidade de moscas em seus pontos comerciais. 
Portanto, esse estudo demonstrou empiricamente que ações antrópicas de 
grandes extensões, por exemplo, feiras livres podem interferir na composição e 
estrutura das assembleias favorecendo espécies sinantrópicas de importância 
médica e veterinária. Contudo, outros estudos fazem-se fundamentais para uma 
maior compreensão dessa dinâmica complexa, em especial sobre o verdadeiro 
papel das moscas como dispersores de microrganismos, a fim de promover 
maneiras de controle eficazes, e consequentemente diminuir a transmissão e a 
incidência de doenças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
52 
 
6 CONCLUSÃO 
 
 
Por fim, conclui-se que: I) feiras livres exercem influência nas assembleias de 
dípteros, causando uma diminuição na diversidade de espécies; II) os ambientes 
urbanos são diversos, com uma riqueza de 14 espécies, porém dominado por 
espécies sinantrópicas (e.g. Musca domestica) e com alto potencial médico e 
veterinário; III) as condições deixadas pelas feiras livres (lixos e restos de alimentos) 
proporcionam uma maior abundância de fêmeas, uma vez que estas criam ótimos 
sítios de alimentação e criação dos imaturos e IV) a assembleia aqui descrita 
apresenta espécies de grande importância médica/veterinária pertencentes as 
famílias Calliphoridae, Fanniidae, Muscidae, Phoridae e Sarcophagidae capazes de 
ocasionar problemas a saúde da população local. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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