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Padrão de atividades do sagüi Callithrix jacchus na Caatinga

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Ismênia Gurgel Martins 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Padrão de atividades do sagüi 
Callithrix jacchus numa área de 
Caatinga 
 
 
 
 
 
 
 
Natal 
2007 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Divisão de Serviços Técnicos 
Catalogação da Publicação na Fonte UFRN/Biblioteca 
 Central Zila Mamede 
 
 
 
Martins, Ismênia Gurgel. 
 Padrão de atividades do sagüi callithrix jacchus numa área de 
caatinga / Ismênia Gurgel Martins. – Natal, RN, 2007. 
 56 f 
 
 Orientadora : Maria de Fátima Arruda. 
 
 Dissertação (Mestre). Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em 
Psicobiologia. 
 
1. Sagüi – callithrix jacchus - Dissertação. 2. Comportamento 
animal – Dissertação. 3.Caatinga – Dissertação. I. Arruda, Maria de 
Fátima. II. Título. 
RN/UF/BCZM CDU 599.821 
ISMÊNIA GURGEL MARTINS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PADRÃO DE ATIVIDADES DO SAGUI Callithrix jacchus 
NUMA ÁREA DE CAATINGA 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada à Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, para 
obtenção do título de Mestre do Programa 
de Pós-Graduação em Psicobiologia. 
 
Orientadora: Profª. Maria de Fátima 
Arruda (arruda@cb.ufrn.br). 
 
 
 
 
 
 
Natal 
2007 
 
 
Título: PADRÃO DE ATIVIDADES DO SAGÜI Callithrix jacchus 
NUMA ÁREA DE CAATINGA 
 
 
 
 Autora: Ismênia Gurgel Martins 
 
 Data da defesa: 11 de setembro de 2006 
 
 
 
 Banca Examinadora: 
 
 
___________________________________________________ 
 Profª Simone Almeida G. L. costa 
 Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, RN. 
 
___________________________________________________ 
 Profº Arrilton Araújo 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN. 
 
___________________________________________________ 
 Profª Maria de Fátima Arruda 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Luz de Deus faz maravilhas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Sou grata a Deus pelo profundo mecanismo da criação, da evolução e da prosperidade 
de todas as coisas e por ter me dado a permissão de ter chegado ate aqui. 
 
A meus pais Rita Gurgel e Francisco Sales pela vida, em especial à minha mãe, por ser 
uma mulher maravilhosa, forte e presente em todos os momentos de minha vida. 
 
A Fátima Arruda, por ter aceitado em me orientar no estudo do Comportamento 
Animal, obrigada pela confiança e ajuda na minha vida acadêmica. 
 
Simone, grata estou com sua presença em mais uma etapa da minha vida acadêmica, 
pois tudo começou com o nosso trabalho na especialização. Você é responsável por este passo 
à frente e aqui estou concluindo mais um capítulo. 
 
A você Arrilton, obrigada por mais estar mais uma vez contribuindo com o meu 
trabalho e no meu crescimento profissional. 
 
Aos primatas Neotropicais que vivem no IBAMA-AÇU, que além de terem 
contribuído para a existência deste trabalho me proporcionou momentos maravilhosos de 
superação. 
 
Ao Filósofo Damião Dantas e família e ao “irmão” José Fernandes e família pela 
confiança em ajudar-me sempre, pelo cuidado carinho e compreensão em todas as etapas da 
minha pesquisa. Aos funcionários Canindé e “Chiquinho” pela amizade e apoio. 
 
Meus agradecimentos a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em especial 
aos Professores do Departamento de Fisiologia pelas informações valiosas e ao IBAMA pelo 
apoio e infra-estrutura na realização deste estudo. 
 
Aos meus irmãos Dário e Érico que são tudo pra mim e sempre estiveram do meu 
lado, em especial a Dário que foi o maior incentivador desta jornada no meu aprimoramento 
acadêmico. 
 
Ao meu noivo e amigo Paulo Henrique, pelo amor, otimismo e paciência nos 
momentos difíceis dessa longa caminhada. 
 
Aos colegas de classe Fabiana, Yalkiria, Ernani, Fernando, que se mostraram 
verdadeiros amigos. A Val e a Eric pelas informações e ajudas valiosas, meu muito obrigada. 
 
As minhas verdadeiras amigas da UERN Cristiane, Camila e Alininha, pela ajuda no 
trabalho de campo, força e companhia nos momentos de incertezas. 
 
A minha maravilhosa amiga de graduação e trabalho do PROFORMAÇÃO Marília, 
obrigadas pelos nossos encontros descontraídos e alegres. 
 
RESUMO 
 
Callithrix jacchus é um primata da família Callitrichidae que vive em grupos sociais. 
Pode ser encontrado em vários tipos de habitat, cujas fisionomias e comunidades 
florísticas distintas estão intrinsecamente relacionadas com a ecologia comportamental 
e relações sociais. Nosso objetivo foi descrever as relações sociais e hábitos 
alimentares do sagüi Callithrix jacchus no Bioma Caatinga. Observamos um grupo de 
sagüi na Floresta Nacional de Açu-IBAMA/RN, composto no início do estudo por 
cinco animais adultos, 2 fêmeas e 3 machos. Foi registrado o nascimento de 5 filhotes 
ao longo do estudo. A técnica de amostragem foi o animal focal, ao longo de 11 
meses, uma vez/semana, com registro das seguintes categorias comportamentais: 
catação social, contato, proximidade, forrageio, ingestão, locomoção e descanso. O 
forrageio foi a atividade mais realizada pelos animais, sendo significativamente mais 
freqüente na seca. Já a catação social, foi significativamente mais elevada no período 
chuvoso, e com os maiores índices entre os reprodutores. Esse mesmo padrão foi 
observado com relação a proximidade. O alimento mais ingerido pelo grupo foi o 
exsudado, sendo mais expressivo no período chuvoso. A espécie vegetal mais 
procurada foi o limão Cirus limon e a jurema branca Pitecolobium foliolosum. Quando 
comparada a ingestão de frutos e insetos ao longo das estações, foram observados 
níveis mais elevados no período seco. O padrão de atividades do grupo foi de um 
modo geral, semelhante ao registrado em grupos estudados em ambiente de Mata 
Atlântica, o que indica a flexibilidade da espécie, que sobrevive e se reproduz em 
ambientes tão diferentes física e biologicamente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
Callithrix jacchus, as the other species in the family Callitrichidae, lives in social 
groups. The groups cam be found in different habitats, whose distinct floristic 
physiognomies and communities are intrinsically related to their behavioral ecology 
and social relations. Our objective was to describe the social relations and feeding 
behavior of Callithrix jacchus in the Bioma Caatinga. We observed a group at the 
FLONA (National Forest – IBAMA), in Açu-RN, in northeastern Brazil, compose of 
five adults (2 females and 3 males) at the beginning of the study. The birth of five 
animals was registered along the study. The following behavioral categories were 
registered along eleven months, once a week, through instantaneous focal animal 
sampling: social grooming, contact, proximity, foraging, feeding, locomotion and rest. 
Foraging presented the highest levels comparing to other activities, and was more 
frequent in the dry season. Social grooming was the second more frequent activity, 
with higher levels in the rainy season, and between the reproductive couple. We found 
similar results for proximity. The most explored feeding item was the gum, specially 
in the rainy season. The most explored species for exudates feeding were Cirus limon 
(limão) and Pitecolobiun foliolosum (jurema branca). The comparision of fruit and 
insect ingestion between the seasons showed higher percentage for both in the dry 
season. The general activity pattern was similar to what is registeded in groups the 
inhabit the Atlantic Forest. These results indicate the flexibility of the species which 
survives and reproduces in such physically and biologically differentenvironments. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 
1.1 - Padrão de atividade....................................................................... 
1.2 - Comportamento alimentar............................................................ 
1.3 - Interações sociais.......................................................................... 
1.4 - O bioma caatinga.......................................................................... 
 
1 
3 
4 
6 
8 
2. OBJETIVOS............................................................................................ 
2.1 – Geral............................................................................................. 
2.2 – Específicos................................................................................... 
 
10 
10 
10 
3. MÉTODO................................................................................................. 
3.1 - Local de estudo................................................................................. 
3.2 - Grupo de Estudo............................................................................... 
3.3 - Captura e Marcação dos Animais..................................................... 
3.4 - Observação Comportamental............................................................ 
3.5 - Registro de Utilização da Área......................................................... 
3.6 - Análise Estatística dos Dados........................................................... 
11 
11 
14 
16 
16 
18 
18 
 
4. RESULTADOS........................................................................................ 
4.1 - Padrão de Atividade do Grupo.......................................................... 
4.2 - Padrão de ingestão do grupo............................................................. 
4.3 - Utilização da área.............................................................................. 
4.4 - Interação Social................................................................................. 
21 
21 
23 
27 
28 
5. DISCUSSÃO............................................................................................ 
 
30 
6. CONCLUSÕES....................................................................................... 
 
43 
7. BIBLIOGRAFIA..................................................................................... 44 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figura 01 Mapa da região oeste do Estado do Rio Grande do Norte, destacando a 
área da Flona-Açu (IBAMA) no município de Açu-
RN.........................................................................................................12 
 
Figura 02 Representação da área utilizada no estudo (IBAMA/Flona-
Açu).......................................................................................................13 
 
Figura 03 Grupo Bosque: B1, fêmea subordinada forrageando, com a metade da 
cauda inferior pintada; B2, fêmea reprodutora alimentando-se com 
inseto, com os tufos tingidos; B3, macho reprodutor com colar de 
identificação (seta); B4, macho adulto subordinado com colar de 
identificação (seta); B5, macho juvenil (início do estudo) em repouso, 
com as patas posteriores e metade da cauda superior 
tingida....................................................................................................15 
 
Figura 04 Representação da área de uso de Callithrix jacchus, na FLONA-Açu. O 
Ponto 005 representa a Entrada Principal da FLONA. O Ponto 006 
representa o limite direito inferior da área de uso. O Ponto 007 
representa o final da trilha 1. O Ponto 008 representa o final da trilha 2. 
O Ponto 009 representa o limite esquerdo inferior da área de uso. O 
Ponto 010 representa o limite esquerdo superior da área de uso. O 
Ponto 011 representa o limite direito superior da área de uso. Toda essa 
área é composta de vegetação nativa da caatinga. POMAR: área com 
árvores frutíferas e pouca vegetação nativa da caatinga, situada nos 
limites inferior dos pontos 006 a 
011.........................................................................................................20 
 
Figura 05 Padrão de atividade de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma 
Caatinga) no período de março/05 a fevereiro/06.................................22 
 
Figura 06 Padrão de atividade de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma 
Caatinga), durante a estação chuvosa (mar-jul/2005) e seca (ago/2005-
jan/2006). Rep: repouso; For: forrageio; Loc: locomoção; Ing: ingestão; 
 
Cat: catação. As linhas contínuas acima das barras indicam diferenças 
significativas na variável entre as estações chuvosa e seca. (*) indica 
níveis significativamente mais elevados...............................................22 
Figura 07 Perfil alimentar de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma 
Caatinga), no período de mar/2005 a jan/2006.....................................24 
 
Figura 08 Perfil alimentar de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma 
Caatinga), durante a estação chuvosa (mar-jul/2005) e seca (ago/2005-
jan/2006)................................................................................................24 
 
Figura 09 Árvores de exsudado e fruto utilizados na dieta de Callithrix jacchus 
em ambiente natural (Bioma Caatinga), no período de mar/2005 a 
jan/2006.................................................................................................26 
 
Figura 10 Espécies vegetais utilizadas para a gomivoria de Callithrix jacchus em 
ambiente natural (Bioma Caatinga), no período de março/05 a 
janeiro/06...............................................................................................26 
 
Figura 11 Árvores de frutos utilizados na dieta de Callithrix jacchus em ambiente 
natural (Bioma Caatinga), no período de mar/2005 a jan/2006............27 
 
Tabela I Composição do Grupo Callithrix jacchus estudado (FEV/2006).........14 
Tabela II Matrix da interação de catação (catação feita e catação recebida) 
realizada pelos animais adultos do grupo..............................................28 
 
Tabela III Matrix da interação de contato e proximidade (distância máxima de 
2matros) entre os animais adultos do grupo..........................................29 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 1 
1. INTRODUÇÃO 
 
Os aspectos comportamentais e morfológicos dos primatas são produtos do 
processo evolutivo que selecionou as características que beneficiaram a aptidão dos 
indivíduos (Strier, 1999). A aptidão caracteriza-se pela representação gênica que os 
membros de uma geração parental contribuem para a descendência futura. 
 Cada indivíduo empenha-se em elevar ao máximo sua contribuição genética 
às gerações seguintes, empenho que pode ser medido através do esforço reprodutivo 
individual (Strier, 1999). Diante dessa condição, fêmeas e machos desenvolvem 
ações que visam aumentar a probabilidade de sobrevivência de seus filhos e de gerar 
outros (Alcock, 2001). 
 Os primatas apresentam um longo período de imaturidade, implicando em 
grande investimento parental (Webb, Houston, McNamara & Székely, 1999). Na 
maioria dos primatas, a mãe é o principal responsável pelo cuidado no princípio de 
vida dos filhotes. Posteriormente, há grande variabilidade no que diz respeito à 
participação dos membros do grupo social nessa atividade. 
 Em primatas, a evolução de grupos multi-machos e multi-fêmeas foi associada 
à evolução de altos níveis de tolerância social (Blanckenhorn, 1990). Os grupos 
sociais mostram coesão duradoura, coordenação das atividades entre os membros do 
grupo e separação espacial em relação a indivíduos extra-grupo (Fedigan, 1992). 
Dentro das sociedades dos primatas, alguns indivíduos, especialmente os machos 
adolescentes deixam seu grupo para juntar-se a outros. Muitos indivíduos são 
membros permanentesdo grupo e mostram hostilidade a estranhos. Algumas 
espécies formam associações temporárias e viajam em pequenos bandos. O que 
refletem suas características comportamentais e ecológicas, tais como, sistema de 
acasalamento, diferença entre sexos, habitat e alimentação (Fedigan, 1992). 
 Dentre as diversas famílias da Ordem Primata, a Callitrichidae é atualmente 
composta pelos gêneros Cebuella, Callithrix, Saguinus, Leontopithecus, Callimico e 
Mico (Rylands et al., 2000). Estes apresentam massa corporal variando de 119 a 
750g (Leutenegger, 1973; Yamamoto, 1991; Araújo et al, 2000), cauda longa e não 
preênsil. 
 2 
Algumas características morfológicas e comportamentais desses primatas são 
a geração de gêmeos, exceto em Callimico, ausência do terceiro molar, órbita ocular 
presa no crânio, modificação das unhas, manutenção da forma preênsil do hálux e a 
redução no tamanho do corpo (Stevenson & Rylands, 1988), que se apresentam como 
resultado de um processo de especialização ecológica. 
Podemos encontrar Callithrix ocupando diferentes habitats, como a costa 
Atlântida do Brasil, a Caatinga do nordeste do Brasil e o Cerrado central do Brasil 
(Stevenson & Rylands, 1988; Coimbra-Filho, 1984). Colonizar um novo habitat 
depende da distribuição e abundância espacial e temporal dos recursos alimentares, 
bem como da disponibilidade de uma vegetação que forneça abrigo contra 
predadores e diminua a competição, especialmente com outros primatas. 
As espécies de Callitrichidae se alimentam de três itens básicos - frutos, 
insetos e goma, podendo incluir na dieta flores, brotos, ovos de aves e pequenos 
vertebrados (Sussman & Kinzey, 1984; Rylands & Faria, 1993). Cada um desses 
itens alimentares requer diferentes estratégias de forrageio e técnicas de exploração. 
Callithrix, Mico e Saguinus ocupam preferencialmente nichos insetívoros e 
frugívoros em manchas de matas secundárias ou fragmentadas; Leontopithecus 
ocorre em florestas primárias, alimentando-se de presas e frutos; Cebuella ocupa 
nichos insetívoros e gomívoros de florestas inundadas (Rylands, 1996). Callimico 
são comumente encontrados em florestas secundárias, explorando os níveis baixos da 
mata próximo ao solo, alimentando-se basicamente de invertebrados e frutos 
(Fleagle, 1988). 
Os gêneros Callithrix e Cebuella desenvolveram dentição que lhes permite 
fazer furos em árvores para extração de exsudado. (Rylands & Faria, 1993). Por 
outro lado, Saguinus, Leontopithecus e Mico apresentam caninos inferiores maiores e 
incisivos em forma de espátula o que dificulta tal exploração, sendo assim 
considerados comedores oportunistas de goma. Dessa forma, alimentam-se da goma 
que exsuda dos vegetais em conseqüência da ação dos insetos, roedores e outros 
animais (Garber, 1984; Rylands, 1984). De acordo com Ferrari & Lopes Ferrari 
(1989), as mudanças sazonais na abundância dos recursos influenciam marcadamente 
a ecologia comportamental dos grupos de calitriquideos. 
 3 
1.1 - Padrão de atividade 
 
O padrão de atividade representa a descrição quantitativa das respostas a uma 
variedade de fatores que influenciam a sobrevivência e o sucesso reprodutivo 
(Defler, 1995). As características individuais que podem influenciar no padrão de 
atividade incluem sexo, idade, peso e estado fisiológico (Fragaszy, 1990, Miller & 
Dietz, 2005). As características do grupo incluem o tamanho e a composição e as 
características ambientais incluem o risco de predação e disponibilidade de recursos 
(Fragaszy, 1990). 
Os primatas vivem em ambientes complexos e variáveis. O tamanho da área 
de uso entre populações da mesma espécie e diferentes espécies pode ser 
compreendido com base na distribuição dos recursos alimentares, ciclos sazonais e 
áreas de dormir. Assim muitos primatas restringem suas atividades a ambientes 
particulares, que freqüentemente são englobadas em quatro categorias principais: 
descaso, deslocamento, alimentação e atividade social (Dunbar, 1988). 
 Hawkins (1992), estudando o padrão diário de um grupo de macaco de cheiro 
Saimiri sciureus, observou que o deslocamento dos animais apresenta uma relação 
com as condições climáticas. Nos dias de sol, os animais se deslocavam mais que nos 
dias chuvosos e o aumento da temperatura também aumentava a freqüência de 
deslocamento. O estudo com um grupo de bugios pretos Allouata caraya, mostrou 
resultados semelhantes, quanto maior a temperatura média diária, maior a 
percentagem de tempo dedicado à alimentação e maior a locomoção (Bicca-Marques, 
1993). Wallace (2005), observando o padrão sazonal de Ateles chamek, verificou que 
em geral os indivíduos gastam 75-90% do seu tempo forrageando e alimentando-se 
de frutas e o restante do dia passam realizando as demais atividades 
comportamentais. 
 A distribuição das atividades de Callithrix jacchus, ao longo do dia segue um 
padrão determinado pela exploração de exsudado no início e fim do dia, o descanso 
no meio do dia e forrageio no restante do tempo (Alonso & Langguth, 1989). Uma 
estimativa do tempo em diferentes atividades nessa espécie foi 11% em movimento, 
24% em forrageio, 15% em atividade social, 27% em alimentação e 18% em repouso 
 4 
(Alonso & Langguth, 1989). O tempo gasto alimentando-se de frutos, flores ou 
exsudados gradualmente diminui de manhã e aumenta durante à tarde. O padrão de 
atividades para a espécie não é rígido e pode sofrer alterações em função das 
condições bióticas e abióticas do habitat no qual determinada população está 
inserida, assim como da dinâmica social. 
Digby & Barreto (1996) estudaram três grupos de C. jacchus, um que habitava 
uma área de plantação experimental com características de pomar e dois que 
habitavam uma área de mata atlântica secundária. O padrão de atividades foi 
equivalente nos três grupos, não tendo sido encontradas diferenças entre os registros 
de descanso, locomoção e comportamentos sociais entre os grupos. Apenas, foram 
registrados níveis reduzidos de forrageio e alimentação na área de plantação 
experimental com relação aos demais grupos. Nascimento (1997), estudando um 
grupo de C. jacchus, que habitava uma área de mata atlântica comparou o padrão 
geral de atividade do grupo após o nascimento de três proles consecutivas. Pode-se 
verificar que as atividades que mais se destacaram ao longo dos três 
acompanhamentos foram o parado e o forrageio. 
 Observando o comportamento em grupos selvagens de C. jacchus, Cavalcanti 
(2002) verificou que os perfis de atividades diárias foram semelhantes ao longo de 
todo o estudo. A autora destaca que a atividade que ocupou a maior parte do tempo 
dos indivíduos desses grupos foi o forrageio (com valores médios em torno de 50%), 
ingestão (15%), embora tenha variado bastante em função do mês e do grupo 
estudado. A seguir, destacou-se a atividade social, com valores médios de 13,6%. A 
variação de tempo gasto em cada atividade ocorreu em função da estrutura e 
composição ambiental, que mostrou uma variação no padrão geral para os três grupos 
estudados, o qual influenciou a atividade social, sendo mais elevada quando o 
forrageio e a ingestão de alimentos foi reduzida. 
 
1.2 - Comportamento alimentar 
 
A busca do alimento é uma atividade indispensável na vida dos primatas e tem 
influência sobre tudo o que eles fazem (Oates, 1987). Supõe-se dessa forma que os 
 5 
animais deverão estar envolvidos na maior parte do seu período de atividade na 
procura e ingestão do alimento. 
O tipo de dieta determina quanto o animal deverá investir na procura e 
aquisição do alimento a fim de equilibrar os custos e benefícios relacionados com o 
forrageio. Também está relacionado com outros aspectos do padrão de atividade 
diária, entre eles, o tamanho da área de uso, área diária percorrida e tamanho do 
grupo (Fleagle, 1988). 
 Investigação sobre os compostos químicos presentes na dieta dos primatas tem 
promovido um entendimento úniconas estratégias de forrageio, facilitando a 
avaliação das explicações socioecológicas da organização social (Chapman et al, 
2003). Esses autores investigando a variação nos valores nutricionais dos alimentos 
dos primatas sugerem que há considerável diversidade dos nutrientes ingeridos por 
Colobus guerezai entre as árvores e área visitada. 
 Todas as espécies de primatas diurnos são forrageadores sociais e viajam na 
busca de recursos como membros de um grupo social, no qual os indivíduos 
empregam diferentes estratégias para localizar áreas de alimentação (Bicca-Marques 
& Garber, 2005). Os diferentes tipos de alimento ingeridos pelos primatas indicam as 
estratégias de forrageamento. Assim dentro de uma categoria alimentar, tais como 
frugivoria, diferentes espécies podem apresentar diversas estratégias de 
forrageamento dentro de um mesmo tipo de habitat (Garber, 1987). Estas diferenças 
nas áreas de alimentação demonstram as ricas adaptações dos primatas. 
 A utilização dos recursos está relacionada em parte ao tamanho corporal e das 
necessidades metabólicas e nutricionais (Strier, 1999). Pequenos animais apresentam 
altas taxas metabólicas, necessitando de uma dieta rica em nutrientes e altamente 
energética por unidade de peso (Garber, 1987). 
Diferenças fundamentais quanto às necessidades nutricionais, digestibilidade, 
abundância, distribuição e disponibilidade sazonal dos recursos alimentares, atuam 
diretamente no padrão de alimentação dos primatas (Sussman, 1987). As 
necessidades de cada animal podem ser diferentes em função do sexo, idade e até 
mesmo da fase reprodutiva e em decorrência das mudanças fisiológicas e 
necessidades nutricionais (Lopes, 2002). O alimento é especial para as fêmeas 
 6 
primatas em decorrência dos custos associados com a reprodução, gestação interna e 
a lactação (Strier, 1999). Dessa forma é importante um balanço adequado dos 
nutrientes/energia, cuidado aos filhotes e estratégias eficientes de ingestão alimentar. 
 O acesso ao alimento pelos calitriquideos aponta para uma diferença 
intersexos, apresentando a fêmea uma tendência ao acesso preferencial aos itens 
alimentares (Maier et al, 1982; Box, 1997), tendo em vista que a reprodução em 
calitriquídeos é bastante custosa para fêmeas reprodutoras. As fêmeas reprodutoras 
do Callithrix jacchus, em ambiente natural são agressivas com os demais do grupo, 
no que se refere a manter a prioridade de acesso alimentar (Araújo, 1996). Isto pode 
ser visto como uma estratégia para manter seu desempenho reprodutivo, uma vez que 
a disponibilidade de recursos exerce uma influência significativa nas variações de 
fecundidade das fêmeas. 
 Cavalcanti (2002), analisando o comportamento alimentar de três grupos de C. 
jacchus, concluiu que essa espécie apresenta perfil exsudatívoro-frugívoro em 
ambientes que quase não sofreram ação antrópica, em função de sua flexibilidade de 
dieta. O comportamento de modo geral, torna-se frugívoro-insetívoro em ambientes 
degradados, podendo apresentar variação nas estratégias de busca do alimento de 
acordo com mudanças no tipo de recurso. 
 
1.3 - Interações sociais 
 
O estudo do comportamento afiliativo, como a catação, tem sido descrito em 
algumas espécies. Para o indivíduo, a catação mantém e estabelece a relação social, 
reduz a tensão e previne a agressão (Lazaro-Perea et al, 2000). 
 Algumas características da organização social dos primatas são refletidas no 
padrão de catação. Ahumada (1992), estudando um grupo de Ateles geoffroyi em 
ambiente natural, observou que as fêmeas catam mais os juvenis, machos catam mais 
outros machos, juvenis catam mais outros juvenis. Por outro lado, as fêmeas recebem 
mais catação de outras fêmeas; machos de outros machos; juvenis recebem mais das 
fêmeas. Estes dados sugerem que as interações da catação parecem refletir os laços 
afiliativos mãe-filhote e a relação idade/sexo dos animais envolvidos. Uma vez que 
 7 
os juvenis apresentam um longo período de dependência, os machos são filopátricos 
e a dispersão é feita palas fêmeas. 
 O padrão de catação pode variar dependendo não somente do sistema social, 
mas também das condições ecológicas que podem afetar a defesa dos recursos em 
diferentes espécies. O estudo de duas populações de babuínos com diferentes padrões 
de relações de dominância mostra que o padrão de catação muda dentro das espécies 
quando o balanço entre subordinados e dominantes variam (Barrett et al, 1999). 
 Nas espécies de primatas em que as fêmeas migram do grupo natal, a teoria da 
seleção de parentesco sugere que os machos podem associar-se preferencialmente 
com outros, sendo mais afiliativos e cooperativos do que com as fêmeas (Fiore & 
Fleischer, 2005). 
Nos grupos sociais, a freqüência e a duração da catação variam de acordo com 
o sexo, idade, condições reprodutivas, posição hierárquica e grau de parentesco entre 
os animais. Em grupos de chimpanzés, a catação concentra-se em regiões corporais 
que são inacessíveis ao próprio animal. Essa atividade promove um benefício 
biológico essencial que compreende a remoção de ectoparasitas, mas também requer 
pouco custo energético. Entre os chimpanzés essa atividade atua como uma 
reciprocidade para futuras cópulas, acesso aos infantes e suporte para o combate 
(Nishida, 1988). As fêmeas tendem a se acasalar com machos que têm mostrado alta 
freqüência de afiliação, como a catação. A catação é uma atividade social também 
importante em Callithrix jacchus, sendo realizado predominantemente pelo casal 
reprodutor (Woodcock, 1978; Albuquerque, 1998). Os animais dominantes são 
apontados como os principais parceiros dos animais não reprodutivos na catação. Os 
quais preferem interações sociais com os dominantes como forma de criar laços 
sociais e permanecer no grupo (Digby, 1995a). 
Em grupos familiares de Callithrix jacchus o pai faz mais catação nos filhotes 
do que a mãe e os machos tendem a fazer mais catação do que as fêmeas (Silva & 
Sousa, 1997; Yamamoto, 1991), sendo estas mais freqüentemente receptoras da 
catação (Azevedo et al, 2001). As interações de catação da fêmea reprodutora 
alteram-se de acordo com seu estado reprodutivo. Durante a gravidez, as freqüências 
de catação recebidas pela fêmea de C. jacchus aumentam próximo ao parto e durante 
 8 
o estro pós-parto (Woodcock, 1978; Dixson & Lunn, 1987; Barreto, 1996, Sousa, 
1999; Busch, 2000). 
 Em relação ao padrão de catação entre fêmeas de sagüi no mesmo grupo 
familiar em ambiente natural, Lazaro-Perea et al (2004) investigaram a relação entre 
a estrutura social e a catação entre fêmeas. Constataram que as fêmeas reprodutoras 
cataram mais as não-reprodutoras e houve baixos índices de agonismo. Os autores 
sugerem que em grupos com sistemas de reprodução cooperativa, as fêmeas 
reprodutoras podem usar a catação como um incentivo para as ajudantes ficarem no 
grupo. 
 
1.4 - O Bioma Caatinga 
 
 Ecorregião semi-árida exclusivamente brasileira compreende cerca de 12% do 
território nacional incluindo as áreas de transição para outros biomas (IBAMA, 
SEMACE, IDEMA, SUDEMA, IMA, ADEMA & CRA, 2000). A caatinga tem uma 
fisionomia de deserto, com índices pluviométricos muito baixos, durante o ano. A 
região da caatinga está submetida a ventos fortes e secos, que contribuem para a 
aridez da paisagem nos meses de seca. 
 A vegetação da caatinga é constituída de espécies lenhosas e herbáceas de 
pequeno porte, geralmente dotadas de espinhos e caducifólias que perde suas folhas 
no início da estação seca para reduzir a perda da água por transpiração (Sampaio & 
Rodal, 2000) e de cactáceas e bromeliáceas (Kiill et al, 2000). A diversidade, 
freqüência e dominância das espécies são determinadas pelas variações topográficas, 
tipo de solo e pluviosidade. 
 As espécies vegetais da caatinga apresentam três estratos: arbóreo (8 a 12 
metros), arbusto (2 a 5 metros) e herbáceo (abaixode 2 metros) (Kiill et al, 2000). A 
flora dos sertões é constituída por espécies de longa história da adaptação ao calor e à 
seca, é incapaz de reestruturar-se naturalmente se máquinas forem usadas para alterar 
o solo. A degradação é, portanto, irreversível na caatinga. 
O aspecto geral da vegetação na seca é de uma mata espinhosa e agreste. 
Algumas poucas espécies de plantas da caatinga não perdem as folhas na época da 
 9 
seca. Entre estas se destaca o juazeiro, uma das plantas mais típicas desse 
ecossistema. Ao caírem às primeiras chuvas no fim do ano, a caatinga perde seu 
aspecto rude e torna-se rapidamente verde e florida. Além das cactáceas, com o 
Cereus (mandacaru e facheiro) e Pilocereu (xiquexique), também apresenta muitas 
leguminosas (mimosa, acácia e imburana). 
 Análises da mastofauna da caatinga têm revelado uma baixa incidência de 
endemismo, com uma mastofauna relativamente restrita a algumas espécies (Willig 
& Mares, 1989). Os mamíferos são de pequeno porte, sendo os roedores os mais 
abundantes, e as espécies encontrados em maior número são aquelas que apresentam 
comportamento migratório na época da seca (Kiill et al, 2000). Um levantamento 
realizado por Oliveira, Gonçalves & Bonvicino (2003) permitiu listar 143 mamíferos 
para a região da caatinga, dentre eles espécies de primatas (guariba: Alouatta 
belzebue, A. ululata e A. caraya; macaco-prego: Cebus apella; sauá: Callicebus 
barbarabrownae; sagüi: Callithrix jacchus e C. penicillata). 
Dentre os primatas, C. jacchus pode ser encontrado em vários tipos de habitat, 
cujas fisionomias e comunidades florísticas distintas estão intrinsecamente 
relacionadas com a ecologia comportamental e relações sociais. Há, no entanto, uma 
lacuna de registro sistemático dessa espécie em vegetação de Caatinga, com relação 
aos aspectos sócio-ecológicos, tais como o nicho alimentar, reprodução e relações 
sociais. 
 Neste contexto, estudar primatas neotropicais em um ambiente físico e 
biológico diferente daquele onde a espécie tem sido comumente estudada torna-se de 
fundamental importância, pois a resposta a essas adaptações pode trazer 
contribuições para melhor compreensão da flexibilidade do comportamento desta 
espécie. 
 
 
 
 
 
 
 10 
2. OBJETIVOS 
 
2.1 - Geral: 
 
- Descrever o padrão de atividades do grupo de sagüi Callithrix jacchus no Bioma 
Caatinga. 
 
2.2 - Específicos: 
 
- Registrar as atividades dos indivíduos do grupo da saída da árvore de dormir até o 
retorno à mesma nas estações seca e chuvosa; 
- Registrar as interações sociais intragrupo nas estações seca e chuvosa; 
- Registrar o comportamento alimentar; 
- Registrar as modificações na composição do grupo, por nascimentos, entrada ou 
saída de animais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 11 
3. MÉTODO 
 
3.1 - Local de Estudo 
 
A Floresta Nacional (FLONA) de Açu (5° 34’ 20” S e 16° 54’ 33” W) é uma 
Unidade de Conservação Federal (IBAMA), situada no sudoeste do sítio urbano de 
Açu, na região central do Rio Grande do Norte (figura 01). 
 A FLONA confronta-se ao norte, leste e oeste com propriedades particulares 
cujas atividades econômicas são voltadas para a pecuária, especificamente a 
caprinocultura, e ao sul, com a Avenida Senador João Câmara, localizada no Bairro 
Alto de São Francisco na cidade do Açu. 
 A Unidade em questão foi criada na década de 50 através de Decreto Federal 
Nº 1.175 de 19 de agosto de 1950, instituindo a criação do Horto Florestal de Açu. 
Seu funcionamento teve início após aprovação das leis municipais de Açu de Nº 
04/52 e 07/52 e do Decreto Lei que criou o ex – IBDF em 28 de fevereiro de 1967. 
Posteriormente foi regulamentado a doação da área de 215,25 hectares da FLONA, 
com anexação da Lagoa do Piató. 
 Compreende uma área de caatinga do tipo arbóreo arbustivo, sendo que sua 
vegetação vem sendo preservada desde 1950 (Ferreira, 1988). Os arbustos presentes 
são vegetais lenhosos que começam a esgalhar desde a sua base compondo os 
maciços florestais da zona seca. Alguns levantamentos preliminares foram feitos para 
execução do plano de manejo da FLONA/IBAMA, dentre eles o da mastofauna 
(Feitosa, 2004), com registros de 07 espécies e 03 gêneros de mamíferos não-
voadores, representadas por espécies noturnas e diurnas, incluindo o sagüi (Martins, 
2004), estando algumas espécies de mamíferos ameaçadas de extinção. 
Levantamento preliminar da herpertofauna da unidade registrou 19 espécies 
distribuídas em 15 famílias (Rodrigues, 2004). Quanto à composição da ornitofauna, 
foram catalogadas 59 espécies de aves (Oliveira, 2004), pertencentes a 15 ordens e 
27 famílias. 
 Localiza-se geograficamente em uma região de clima semi-árido, onde a 
temperatura média do mês mais quente é superior a 29°C e a média do mês mais frio 
 12 
não é inferior a 26°C. A precipitação pluviométrica média anual atinge 704 mm, 
sendo o clima do tipo BSwh´, segundo a classificação de Köppen (região mais quente 
com estação chuvosa no outono), ou seja, clima muito quente e semi-árido. O solo 
predominante é do tipo litólico, com cascalho de quartzo arredondado e areia 
quartzosa (IBAMA, 2001). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 01: Mapa da região oeste do Estado do Rio Grande do Norte, destacando a área da 
Flona-Açu (IBAMA) no município de Açu-RN. Foto: Gláucio Fabrizio. 
 
 
 
 13 
A área utilizada no estudo está situada ao sul na FLONA (figura 02), próximo 
à entrada principal, onde há toda a infra-estrutura para as atividades administrativas 
da instituição, alojamentos, trilhas escolares para fins de educação ambiental e 
pesquisas científicas. 
 A reserva tem uma área de 518 hectares. Esta área possui espécies vegetais 
como o angico, Anadenathera colubrina, aroeira, Myracrodruon urundeuva, 
catingueira, Caesalpinia pyramidales, coqueiros Coccos nucífer, cumaru, Amburana 
cearensis, feijão-brabo, Capparis flexuosa, goiabeira, Psidium guajava, juazeiro, 
Zizyphus joazeiro, Juca, Caesalpinea ferrea, jurema branca, Mimosa verrucosa, 
limão Cirus limon, mangueira, Mangifera indica, pau-d’arco, Tabebuia impetiginosa, 
pereiro, Aspidosperma pyrifolium, pinha Anona sp, sabiá, Mimosa caesalpiniaefolia e 
timbaúba, Enterolobium contortisiliquum. 
 A FLONA é considerada uma área muito importante para a conservação da 
flora e fauna da Caatinga, em especial os primatas, devido à sua extensão de 
ambientes naturais preservados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 02: Representação da área utilizada no estudo (IBAMA/Flona-Açu). 
 
 
 
 
 
 14 
3.2. Grupo de Estudo 
 
O acompanhamento do grupo teve início em novembro de 2004. No entanto, 
os animais foram capturados e marcados em março de 2005, quando o grupo passou 
a ser chamado de grupo do Bosque (figura 03) e foi iniciada a coleta de dados. Era 
composto então por sete indivíduos, o casal reprodutor B2 e B3, um macho adulto B4 
e a fêmea adulta B1, o macho infante B5 e o casal de filhotes, com data estimada de 
nascimento em fevereiro de 2005 (Tabela I). O nascimento da prole que se seguiu, 
ocorreu em julho de 2005, sendo de filhote único. Uma terceira prole, desta vez de 
gêmeos, nasceu em dezembro do mesmo ano. O grupo passou a ter, no final do 
período de estudo 10 indivíduos. 
 
Tabela I – Composição do Grupo em janeiro de 2006. 
COMPOSIÇÃO DO 
GRUPO1 
 
SEXO 
 
NASCIMENTO 
CLASSE DE 
IDADE2 
B1 
B2 
B3 
B4 
B5 
- 
- 
- 
- 
- 
F 
F 
M 
M 
M 
M 
F 
F 
M 
F 
? 
? 
? 
? 
? 
02/05 
02/05 
07/05 
12/05 
12/05 
Adulto 
Adulto 
Adulto 
Adulto 
Adulto 
Subadulto 
Subadulto 
Juvenil 
Infante 
Infante 
1B1 fêmea adulta subordinada; B2 fêmea adulta reprodutora; B3 macho adulto reprodutor; 
B4 macho adulto subordinado; B5 macho juvenil. 2Classes de idade segundo Yamamoto 
(1993). 
 
 
 15 
 
 
Figura 03: Grupo Bosque: B1, fêmea subordinada forrageando, com a metade dacauda 
inferior pintada; B2, fêmea reprodutora alimentando-se com inseto, com os tufos tingidos; 
B3, macho reprodutor com colar de identificação (seta); B4, macho adulto subordinado com 
colar de identificação (seta); B5, macho juvenil (início do estudo) em repouso, com as patas 
posteriores e metade da cauda superior tingida. 
 
 
 
 
B2 B1 
B3 B4 
B5 
 16 
3.3 - Captura e Marcação dos Animais 
 
A primeira etapa do processo de captura consistiu na habituação dos animais à 
presença de uma armadilha em sua área de uso, para onde foram atraídos através de 
frutos da época, utilizados como iscas. As armadilhas continham cinco 
compartimentos individuais, permitindo a captura de animais separadamente. 
Capturados, os animais foram levados para o laboratório e, ainda na armadilha, 
anestesiados, exceto os infantes com até 2 meses de idade, utilizando-se o Ketalar – 
50 mg/ml, em doses variando de 0,02 a 0,04 ml de acordo com a idade do animal. 
Inicialmente, foi verificado se o animal possuía marcas naturais. 
Posteriormente, foi realizada na parte interna da coxa uma tatuagem, a seguir, a 
biometria, a avaliação das condições físicas, e nas fêmeas adultas, em particular, a 
sua condição reprodutiva. 
Ao final do processamento, efetuou-se a marcação na pelagem do animal. Essa 
marca foi feita através de pinturas com ácido pícrico (que produz uma cor amarelada 
que contrasta com o pêlo predominantemente cinza da espécie) na pelagem; colar de 
três contas coloridas (figura 03), sendo a primeira vermelha para identificar os 
animais do grupo, e as demais de cores sortidas para distinção entre os indivíduos. 
Realizou-se também a tricotomia do pêlo da cauda dos animais. Essas marcas 
geralmente desaparecem após três ou quatro meses, já o colar pode ser visualizado 
com binóculo e raramente é perdido, garantindo a existência de uma marca externa 
mesmo após o desaparecimento das marcas no pêlo. 
 
3.4. Observação Comportamental 
 
3.4.1 - Técnicas utilizadas 
 As observações iniciavam em torno das 05:00 h, quando os animais saiam da 
árvore de dormir e finalizavam quando os mesmos retornavam para a mesma, por 
volta das 17:30 h, tendo como sujeitos do estudo os adultos do grupo. Foi utilizado o 
método animal focal, sendo a seqüência de focais estabelecida a partir de sorteio 
previamente às observações do dia. Cada animal era seguido durante o período de 15 
 17 
minutos, com registro instantâneo a cada minuto. Uma vez concluído um focal, 
iniciava-se o seguinte, tendo como base a seqüência do sorteio. Cada animal era 
amostrado três vezes ao longo do dia. Além deste tipo de amostragem, foram feitos 
registros ad libitum. 
 
3.4.2 - Atividades comportamentais registradas 
 As categorias comportamentais consideradas neste trabalho foram: 
1. Catação social: quando um animal realizava limpeza da pelagem de 
indivíduos do grupo, utilizando as mãos ou a boca. A catação foi dividida em: 
� Receber: limpeza da pelagem do corpo de um indivíduo por outro animal; 
� Fazer: quando um animal realizava limpeza da pelagem de um outro 
indivíduo. 
2. Contato: quando um animal permanecia parado em contato físico com outro 
(s) membro do grupo. 
3. Proximidade: quando os animais estavam a uma distância inferior a 2m do 
animal focal sem que houvesse contato físico. 
4. Forrageio: procura de itens alimentares, no qual o animal se deslocava 
lentamente utilizando as mãos para a manipulação de itens ou captura de 
insetos, bem como a perfuração das árvores para a extração do exsudado. 
5. Ingestão de alimentos: quando o animal introduzia algum item alimentar na 
boca e o ingeria, lambia ou mordia. Era anotado o tipo de alimento ingerido 
(fruto, exsudado ou inseto). 
6. Locomoção ou deslocamento: quando o animal deslocava-se de um ponto 
para outro a uma distância mínima de 2m; diferencia-se do forrageio porque 
nessa atividade os animais não param para examinar o ambiente em busca de 
alimento. 
7. Descanso ou repouso: quando o animal estava imóvel, às vezes realizando 
varredura visual do ambiente, com postura relaxada, apresentando os 
membros estendidos. 
 
 18 
8. Outras Atividades: atividades que ocasionalmente ocorreram 
concomitantemente às atividades principais. Incluíram-se neste caso as 
categorias comportamentais sexuais (Cópula e tentativa de cópula) e a 
agonísta (agressão), com registros ad libitum. 
 
3.5 - Registro de Utilização da Área 
 
Para obtenção dos dados referentes à área de uso do grupo, foram 
identificadas as árvores utilizadas pelos animais ao longo do dia, tendo como 
referência o percurso diário nas trilhas ali abertas em função do deslocamento dos 
animais na área (figura 04). O registro foi realizado com o auxílio de um “mapa” 
esboçado durante o período de observação dos animais. 
 Apesar de não ter sido realizado um estudo fenológico, era anotado o tipo de 
recurso utilizado dentro da área, fazendo um levantamento quando possível das 
espécies vegetais utilizadas como fonte de alimento (fruto e exsudado) e o local de 
dormida. 
 
3.6 - Análise Estatística dos Dados 
 
 Para a análise dos dados das categorias comportamentais (repouso, forrageio, 
locomoção, ingestão e catação), bem como para o padrão de ingestão (fruto, 
exsudado, inseto) quanto as estações do ano (chuvosa e seca), utilizou-se o teste U de 
Mann-Whitney. Esse teste estatístico não-paramétrico compara se uma amostra de 
dois grupos independentes foi ou não extraída de uma mesma população. Podendo-se 
identificar assim se houve ou não diferenças estatísticas na freqüência observada nas 
estações analisadas (chuvosa e seca). A estação chuvosa compreendeu os meses de 
março a julho de 2005 e a estação seca, os meses de agosto de 2005 a janeiro de 
2006. 
Para a análise dos comportamentos de fazer e receber catação, assim como o 
comportamento de contato/proximidade (analisados como uma variável única) 
utilizou-se o teste não-paramétrico de Friedman. O objetivo foi testar a hipótese de 
 19 
que algum comportamento foi mais praticado em relação aos demais, considerando o 
grupo do animal analisado. Nos casos onde foi rejeitada a hipótese de igualdade, 
usou-se o teste de Wilcoxon para comparar os diversos animais dois a dois. A 
justificativa para utilização destes testes (Friedman e Wilcoxon) se dá pelo fato dos 
comportamentos serem relacionados, ou seja, a unidade observacional (sagüi) ser a 
mesma para cada comportamento estudado. 
Todos os dados utilizados na análise estatística foram coletados com e técnica 
animal focal. Para análise estatística foram utilizados os softwares Microsoft Excel 
2000 e o Statistica 6.0. A significância para todos os testes estatísticos aplicados foi 
igual a 5%. 
 20 
 
Figura 04 - Representação da área de uso de Callithrix jacchus, na FLONA-Açu. O Ponto 005 
representa a Entrada Principal da FLONA. O Ponto 006 representa o limite direito inferior da área de 
uso. O Ponto 007 representa o final da trilha 1. O Ponto 008 representa o final da trilha 2. O Ponto 
009 representa o limite esquerdo inferior da área de uso. O Ponto 010 representa o limite esquerdo 
superior da área de uso. O Ponto 011 representa o limite direito superior da área de uso. Toda essa 
área é composta de vegetação nativa da caatinga. POMAR: área com árvores frutíferas e pouca 
vegetação nativa da caatinga, situada nos limites inferior dos pontos 006 a 011. 
 21 
4. RESULTADOS 
 
4.1 - Padrão de Atividade do Grupo 
 
O padrão diário de atividades do grupo de Callithrix jacchus ao longo dos 
meses de observação, apresentou variações (figura 05). O forrageio foi, de um modo 
geral, a atividade predominante com uma porcentagem média de 46,7% do tempo, 
variando os percentuais entre 31,6% (março) e 59,9% (outubro). Quanto à ingestão 
14,1%, os meses com maior número de registros foram junho, julho e agosto, não 
tendo havido necessariamente coincidência com o perfil do forrageioao longo do 
período de estudo. 
A segunda atividade mais freqüente foi o repouso, com um percentual médio 
em torno de 22,4%. O mês com maior expressão deste comportamento foi dezembro 
(46%), tendo havido em contrapartida uma redução nos níveis de locomoção, 
ingestão e catação (figura 05). 
 Na catação, foram registradas variações ao longo do estudo. O mês de maior 
índice correspondeu a maio com 28%. A partir de agosto, foi observada uma 
tendência à redução na expressão desse comportamento atingindo um menor 
percentual em janeiro. Mesmo assim, destacamos níveis elevados em novembro 
(20,1%), mês que antecedeu o nascimento de filhotes. 
A atividade de locomoção foi menos freqüente em relação às demais, 
apresentando um percentual médio em torno de 3,9% ao longo de todo período de 
estudo. 
Ao analisarmos o padrão de atividades durante as estações chuvosa e seca, 
observou-se diferença significativa na expressão de dois dos cinco comportamentos 
analisados: forrageio e catação (figura 06). Comparando o forrageio entre as 
estações, verificamos que a atividade foi significativamente mais expressiva (teste U 
de Mann-Whitney:p=0,0000) na estação seca. A catação, ao contrário, foi 
significativamente mais elevada no período chuvoso (teste U de Mann-
Whitney:p=0,0036), e abrangeu todos os membros do grupo. 
 
 22 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 05 – Padrão de atividade de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma 
Caatinga) no período de mar/2005 a jan/2006. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 06 - Padrão de atividade de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma 
Caatinga), durante a estação chuvosa (mar-jul/2005) e seca (ago/2005-jan/2006). Rep: 
repouso; For: forrageio; Loc: locomoção; Ing: ingestão; Cat: catação. As linhas contínuas 
acima das barras indicam diferenças significativas na variável entre as estações chuvosa e 
seca. (*) indica níveis significativamente mais elevados. 
 
0
20
40
60
80
100
Rep For Loc Ing Cat
 P
o
rc
e
n
ta
g
e
m
Chuvosa Seca
*
*
0%
20%
40%
60%
80%
100%
mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan
P
o
rc
e
n
ta
g
e
m
REPOUSO FORRAGEIO LOCOMOÇÃO INGESTÃO CATAÇÃO
 
 23 
4.2 – Padrão de ingestão do grupo 
 
Durante o período de estudo (figura 07), o grupo ingeriu diferentes itens 
alimentares, os quais foram agrupados em três tipos: fruto, exsudado e inseto. O 
alimento mais ingerido por todo o grupo foi o exsudado (média percentual de 
45,4%), seguido do fruto (39,2%). Os recursos de origem animal (15,4%) foram 
ingeridos em menor proporção. 
A ingestão do exsudado apresentou dois picos, sendo o primeiro nos meses de 
junho (51,1%), julho (65,4%) e agosto (56,9%), coincidindo com níveis mais 
reduzidos na ingestão do fruto. O segundo pico ocorreu nos meses de janeiro 
(63,35%) e março (46,8%), quando foram observados os menores índices de 
consumo do inseto (figura 07). 
O consumo de frutos a partir de março apresentou uma tendência a reduzir, 
atingindo o menor consumo em agosto (16%) (figura 07). A partir de setembro, 
houve um aumento no consumo desse item, tendo sido registrados os níveis mais 
elevados em outubro (74%) e dezembro (61%). 
Nesse grupo, o recurso de origem animal mais consumido foram os insetos, os 
quais estiveram presentes nos onze meses de estudo, sendo seu consumo mais 
expressivo no mês de abril, maio, agosto e dezembro. Entretanto nos meses de março 
e abril foi observada a ingestão de ovos de pássaros e em dezembro a ingestão de 
lagartixa. 
A comparação entre as estações chuvosa e seca na ingestão de cada um dos 
itens alimentares não apontou diferença significativa, apenas tendências (figura 08). 
No período chuvoso, o consumo de exsudado foi mais expressivo, quando 
aparentemente houve uma maior produção de exsudado. Por outro lado, quando 
comparadas a ingestão do fruto e a de presa animal ao longo das estações, em ambos 
foram observados níveis mais elevados no período seco. 
 
 
 
 
 24 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 07 - Perfil alimentar de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma Caatinga), no 
período de mar/2005 a jan/2006. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 08 - Perfil alimentar de Callithrix jacchus em ambiente natural (Bioma Caatinga), 
durante a estação chuvosa (mar-jul/2005) e seca (ago/2005-jan/2006). 
 
 
 
 
 
0%
20%
40%
60%
80%
100%
mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan
P
o
rc
e
n
ta
g
e
m
Fruto Exsudado Presa animal
 
0
20
40
60
80
100
Fruto Exsudado Presa animal
P
o
rc
e
n
ta
g
e
m
Chuvosa Seca
 
 25 
O limão Cirus limon (Rutáceas) foi à fonte mais procurada pelo grupo, com 
uma porcentagem de 56% (figura 09). Em seguida, tivemos a jurema branca Mimosa 
verrucosa (Leguminosae-Mimosoideae) (16%). Com níveis ainda mais reduzidos de 
procura, identificamos o angico Anadenathera colubrina (Leguminosae-
Mimosoideae) (8%), caju Anacardium occidentale (Anacardiaceae) (5%), cumaru 
Amburana cearensis (Leguminosae-Papilionoideae) e a catingueira Caesalpinia 
pyramidales, (Leguminosae) ambas com 4%, e outras espécies com uso ocasional 
(7%). 
Na análise ao longo dos meses de estudo (figura 10), verificamos que a jurema 
branca Mimosa verrucosa (Leguminosae-Mimosoideae) foi ingerida em todos os 
meses, porém o maior consumo foi registrado nos meses de maio (48,1%), outubro 
(38,4%), e dezembro, quando atingiu o pico máximo (100%). O cumaru, Amburana 
cearensis (Leguminosae-Papilionoideae) foi ingerido principalmente em junho (11%) 
e novembro (15%). Os animais ingeriram o exsudado da catingueira Caesalpinia 
pyramidales (Leguminosae) basicamente entre maio e setembro, sendo maio, o mês 
de maior exploração, com 33,3%. O limão Cirus limon (Rutáceas) foi consumido em 
quase todos os meses do estudo, em geral, com valores acima de 50%, exceto em 
junho, outubro, novembro e janeiro, quando outros itens foram mais explorados. O 
consumo do angico Anadenathera colubrina (Leguminosae-Mimosoideae) esteve 
concentrado apenas em junho (59,8%) e a exploração realizada em uma única árvore. 
O exsudado do caju Anacardium occidentale (Anacardiaceae) foi consumido em 
cinco meses, atingindo valores mínimos em janeiro (1,2%) e máximos em novembro 
(35%), sendo esse consumo concentrado em uma única árvore. Outras espécies 
vegetais nativas da caatinga foram consumidas em menor quantidade ao longo de 
todos os meses de estudo, as quais somadas variaram entre 1% e 31%. 
Quanto à ingestão de frutos, observou-se que a goiaba Psidium guajava 
(Myrtaceae) (48%) e a manga Mangifera indica (Anacardiaceae) (38%) foram os 
mais consumidos (figura 09). Com níveis ainda mais reduzidos de ingestão, 
identificamos a pinha Anona sp. (Anonaceae) (9%) e o caju Anacardium occidentale 
(Anacardiaceae) (5%). 
 26 
Ao longo dos meses (figura 11) verificou-se que a goiaba Psidium guajava, 
quando presente, foi, de um modo geral, o fruto mais procurado pelos animais, 
exceto em agosto, quando começou a frutificação da manga. Por outro lado, a manga 
Mangifera indica foi ingerida em todos os meses, porém em maior quantidade nos 
meses entre agosto e dezembro, atingindo a ingestão máxima em novembro (100%). 
O caju Anacardium occidentale foi ingerido nos meses de setembro e outubro em 
proporções equivalentes. Quanto à pinha Anona sp, foi observado consumo máximo 
em dezembro (57%). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 09 – Árvores de exsudado e fruto utilizados na dieta de Callithrix jacchus em 
ambiente natural (Bioma Caatinga), no período de mar/2005 a jan/2006. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 10 - Espécies vegetais utilizadas para a gomivoria de Callithrix jacchus em 
ambiente natural (Bioma Caatinga), no período de março/05 a janeiro/06. 
0%
20%
40%
60%
80%
100%
mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan
P
o
rc
e
n
ta
g
e
m
Limão Jurema Catingueira Cumarú A ngico Caju Outros
 
Exsudado56%
16%
4%
4%
8%
5%
7%
Limão Jurema Catingueira Cumarú
Angico Caju Outros
Fruto
48%
38%
9%
5%
Goiaba Manga Pinha Cajú
 
 27 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 11 - Árvores de frutos utilizados na dieta de Callithrix jacchus em ambiente natural 
(Bioma Caatinga), no período de mar/2005 a jan/2006. 
 
4.3 – Utilização da área 
 
 A área domiciliar apresentou diferenças quanto à composição florística e o 
tipo de recurso utilizado (figura 04). 
A área de caatinga utilizada pelo grupo era caracterizada por árvores de 
tamanhos bastante variados, entre elas, algumas de grande porte como a catingueira, 
timbaúba e cumaru. Essas foram utilizadas principalmente como árvores de dormir. 
Plantas arbustivas, geralmente com troncos finos e pouca folhagem quando 
ramificadas, foram utilizadas principalmente para a gomivoria. Herbáceas, as quais 
se ramificavam desde a base, foram utilizadas principalmente durante o forrageio e a 
procura de insetos. 
Uma segunda área utilizada foi a de pomar, situada atrás das dependências 
físicas da FLONA, onde eram encontradas árvores frutíferas, exploradas diariamente 
pelo grupo, sendo o local onde os animais passavam a maior parte do seu tempo. 
Devido a problemas quanto à marcação de trilhas, não foi possível fazer uma 
estimativa precisa dos locais que foram mais utilizados durante as estações chuvosa e 
seca. 
0%
20%
40%
60%
80%
100%
mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan
P
o
rc
e
n
ta
g
e
m
Goiaba Manga Pinha Cajú
 
 28 
4.4 – Interação Social 
4.4.1 – Catação 
 
 Os resultados mostraram que todos os indivíduos se envolveram nesta 
atividade, entretanto os maiores índices de catação ocorreram entre os reprodutores 
(B2-fêmea e B3-macho) (Tabela II). Estes animais foram considerados os 
reprodutores do grupo com base no registro de cópulas, que só foi registrada entre 
eles, em março de 2005 (pariu em julho) e em janeiro de 2006 (pariu em junho). O 
macho reprodutor foi o indivíduo que mais catou a fêmea reprodutora (Teste de 
Wilcoxon: p= 0,0000) e por ela foi catado (Teste de Wilcoxon: p= 0,0000). 
 Considerando as interações macho-macho, o dominante (B3) interagiu 
significativamente mais com o adulto subordinado (B4), tanto fazendo quanto 
recebendo catação (Teste de Wilcoxon: p= 0,0000 e p= 0,0001, respectivamente). 
Quanto à catação entre a fêmea reprodutora (B2) e a não-reprodutora (B1) foi bem 
menos freqüente, não sendo observada diferença significativa na interação entre elas. 
 
Tabela II: Matriz de interação do comportamento de catação feita e recebida pelos 
animais adultos do grupo. 
 
 Recebe B1 B2 B3 B4 B5 TOTAL 
 Faz 
 
B1 - 8 6 4 16 34 
B2 10 - 206 6 5 227 
B3 41 194 - 128 25 388 
B4 1 21 95 - 10 127 
B5 32 11 30 23 - 96 
 
B1 (fêmea adulta subordinada); B2 (fêmea adulta dominante); B3 (macho adulto 
dominante); B4 (macho adulto subordinado); B5 (macho adulto subordinado). 
 
 
 
 
 
 29 
4.3.2 - Proximidade 
 
 Com base na tabela III, que apresenta a matriz de proximidade, verificamos 
que o casal reprodutor (B3-macho e B2-fêmea) teve mais vezes um ao outro como o 
animal mais próximo (Teste de Wilcoxon: p= 0,0011). 
 Quanto aos animais subordinados a fêmea B1 ficou significativamente mais 
próxima de B5 (Teste de Wilcoxon: p= 0,0008). O macho subordinado B4 esteve 
sempre significativamente próximo da fêmea reprodutora (B2) (Teste de Wilcoxon: 
p= 0,0033). 
 
Tabela III: Matriz da interação do comportamento de proximidade (distância 
máxima de 2 metros) entre os animais adultos do grupo. 
 
 Proximidade 
 B1 B2 B3 B4 B5 TOTAL 
Animal 
 Focal 
 
B1 - 207 241 263 408 1119 
B2 234 - 463 301 254 1252 
B3 307 496 - 300 370 1473 
B4 193 401 358 - 236 1188 
B5 379 301 344 298 - 1322 
 
B1 (fêmea adulta subordinada); B2 (fêmea adulta dominante); B3 (macho adulto 
dominante); B4 (macho adulto subordinado); B5 (macho adulto subordinado). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 30 
5. DISCUSSÃO 
 
 Os resultados aqui encontrados nos permitem indicar que o sagüi C. jacchus 
habitando a caatinga nordestina, desenvolve um padrão de atividades semelhante 
daqueles que habitam regiões de mata atlântica. O forrageio ocupa a maior parte do 
tempo destes, seguido pelo repouso, ingestão, catação e locomoção. A comparação 
com os dados citados na literatura mostra que as adaptações dos sagüis ao ambiente 
refletem-se claramente no ciclo de suas atividades diárias. Estas por sua vez, podem 
trazer contribuições para melhor compreensão da flexibilidade do comportamento 
desta espécie. 
Verificamos que o forrageio efetuado pelos sagüis ocupou cerca de 47% do 
tempo de atividade dos animais independente da área, sendo intensificada 
significativamente no período seco. Assim como em nosso estudo, Cassimiro (2003) 
e Cavalcanti (2002) verificaram que os grupos de C. jacchus em área de mata 
atlântica investiram mais tempo no forrageio, com a ingestão dos alimentos 
conseguidos nessa procura. Alonso & Langguth (1989) e Digby & Barreto (1996) 
descrevem o mesmo padrão de atividade, tendo o forrageio e a alimentação como 
atividades principais dos animais adultos, em sítios diferentes de mata atlântica. O 
fato dos animais ocuparem a maior parte do seu tempo forrageando está relacionada 
com a obtenção dos recursos necessários para sua sobrevivência (Giraldeau & 
Caraco, 2000). 
Nos sagüis que estudamos na FLONA Açu, o forrageio estendeu-se desde o 
chão até a copa das árvores, aproximadamente 12 metros de altura, parte delas com 
folhas presentes apenas no período chuvoso. Os arbustos e emaranhados de cipós 
também eram inspecionados. O forrageio realizado nos arbustos parecia proporcionar 
uma melhor possibilidade de investigação do solo, onde está presente a maioria dos 
ortópteros (bicho-pau, gafanhotos e grilos) capturados e ingeridos. Ao forragear nos 
galhos e folhas, os indivíduos se deslocavam lentamente, atentos a movimentos nas 
folhagens, manipulando o substrato, revirando folhas, arrancando cascas nos galhos e 
inspecionando buracos. Nos troncos, os sagüis manipulavam apenas as cascas 
 31 
frouxas, permanecendo parados na maior parte do tempo, olhando em volta e 
saltando sobre as presas quando eram avistadas. 
Esse padrão também foi observado por Cavalcanti (2002) ao estudar C. 
jacchus em ambiente alterado de mata atlântica. Isso reflete mais uma vez a 
flexibilidade destes animais, uma vez que os ambientes são muito diferentes, 
principalmente quanto à composição vegetal. Araújo (1996), estudando um grupo 
que vivia em plantação experimental, encontrou que os animais utilizaram 
freqüentemente, o extrato médio (2-10 metros de altura) no forrageio. Já o extrato 
inferior (0-2 metros) foi utilizado com menor freqüência. Em contraste, o grupo que 
vivia no fragmento de mata atlântica forrageou, preferencialmente, entre 0-6 metros 
de altura. Segundo o autor, a altura do forrageio depende das características do 
ambiente.Porter (2001) estudando as técnicas utilizadas por Callimico goeldii no 
forrageio de insetos, observou que, ao contrário de Saguinus fuscicollis, eles não 
forrageiam nos buracos e cavidades das árvores, e utilizam as garras como técnica de 
captura, ao explorar diversos extratos arbóreos na procura de insetos. Bicca-Marques 
(1999) e Peres (1993) ao estudar Saguinus fuscicollis, verificaram que a maneira de 
forragear presas nesta espécie era manipulativa e ocorria em substratos altos e 
médios da floresta, com exploração de microhabitats de floresta. Esses primatas 
demonstraram uma procura visual das presas móveis expostas nas folhagens, com um 
padrão semelhante ao observado para Callithrix jacchus quando forrageava nos 
troncos das árvores, uma vez que nesta espécie a atividade manipulativa é 
exploratória (Varella & Yamamoto, 1991). 
Nossos resultados demonstraram que o repouso foi a segunda atividade 
realizada pelos animais. Isso também é relatado com relação a dois (grupo PB e ES) 
dos três grupos de C. jacchus estudados por Cassimiro (2003). Por outro lado, o 
mesmo padrão não foi observado pela pesquisadora para o terceiro grupo (TR), que 
teve como segunda atividade à locomoção. Provavelmente isso se justifica pelo fato 
daquele grupo ocupar uma área mista, onde se fazia necessário um maior 
deslocamento para obtenção dos recursos, o que não ocorria nos outros dois grupos 
que tinham áreas com apenas uma característica florística. 
 32 
 Segundo Alonso & Langguth (1989), o repouso é mais acentuado no período 
de meio-dia (12:00h às 14:00h), as horas mais quentes do dia, favorecendo os 
comportamentos de socialização, como a catação. Em Ateles chamek selvagem, foi 
observado padrão semelhante, com os animais permanecendo em repouso mais 
intensamente por volta das 12:00-14:00 horas. Esse padrão deveu-se principalmente 
às condições ambientais, ou seja, elevada temperatura e alta umidade (Wallace, 
2001). Em nossa pesquisa, após este intervalo, registrava-se um novo aumento de 
forrageio, exploração de exsudados vegetais e frutos até o deslocamento para a 
árvore de dormir, quando se encerrava a atividade diária. Os locais utilizados para o 
descanso diurno estiveram sempre associados às áreas onde os animais previamente 
tinham comido. As árvores escolhidas para o descanso eram sempre árvores de frutos 
(mangueira Mangifera indica) e de goma (sabiá Mimosa caesalpiniaefolia). 
O padrão de repouso do Callithrix geoffroyi habitando a floresta Atlântica 
pode estar relacionado ao grande consumo do exsudado, uma vez que os maiores 
índices de repouso compreenderam o período chuvoso, quando havia maior 
disponibilidade desse recurso. Outro fator que pode ter contribuído para esse padrão 
foi à concentração de árvores próximas umas das outras (Passamani, 1998). 
 Em nosso trabalho, a locomoção apresentou níveis mais reduzidos quando 
comparada às demais atividades. Esteve relacionada principalmente com o forrageio 
e com a dispersão dos animais dentro da área domiciliar, a qual apresentava uma 
distribuição homogênea em sua vegetação. Analisando o padrão de atividade 
realizada por grupos de C. jacchus em mata atlântica, Cassimiro (2003) observou que 
o comportamento de locomoção mostrou índices variados para os diferentes grupos. 
Sugeriu que a expressão da atividade sofre influências particulares de cada área, 
tendo como base a relação entre seu tamanho e a forma como estão disponíveis 
sazonalmente os recursos dentro da mesma. Em estudo sobre a influência da presença 
de filhotes e do tamanho do grupo nas atividades diárias de um grupo silvestre de 
sagüis, Nascimento (1997) registrou que no período com filhotes dependentes, o 
deslocamento tendeu a ser menor. 
 Em Saguinus mystax e S. fuscicollis no Peru, Garber (1993) verificou que não 
houve variação significativa para a atividade de locomoção ao longo das estações 
 33 
seca e chuvosa, assim como na nossa pesquisa. Também, Passamani (1998) 
demonstra que em Callithrix geoffroyi, o tempo gasto na locomoção não apresentou 
diferença significativa entre as estações. O principal pico dessa atividade seria no 
final da tarde, quando o grupo dirigia-se para sua árvore de dormir. 
Os nossos resultados nos permitem destacar que os sagüis ingeriram frutos, 
exsudados e insetos diariamente, sendo fácil observar os itens ingeridos, exceto 
pequenos insetos na copa das árvores e nos arbustos próximos ao chão. Em estudo 
realizado por Ferrari (1991) com Callithrix aurita, C. geoffroyi e C. flaviceps 
habitando na floresta Atlântica, e por Rylands (1981) com C. humeralifer na 
Amazônia, foi observado um aumento no consumo de goma na estação seca. Já na 
estação chuvosa ocorreu uma maior ingestão de frutos, mais abundantes nessa 
estação, sendo a goma incluída na dieta em menor quantidade. Essa variação teve 
uma estreita relação com o padrão de sazonalidade do ambiente. 
Semelhante ao observado com as espécies de Callithrix citadas acima, Castro 
et al (2000) mostraram que o consumo de goma em C. jacchus diminuiu em função 
do aumento da disponibilidade de frutos, na estação chuvosa. Na estação seca, os 
frutos, exsudados e insetos foram consumidos igualmente. Esse mesmo padrão foi 
verificado para C. jacchus na Floresta Atlântica costeira (Scanlon et al, 1991) e para 
C.penicillata em áreas do cerrado no Distrito Federal (Vilela & Faria, 2002). 
O padrão de ingestão do grupo em ambiente de caatinga não foi semelhante ao 
dessas espécies, ou seja, durante o período seco os animais ingeriram mais o fruto e o 
inseto. É importante destacarmos a presença de um bosque no limite da área de 
caatinga, onde o grupo passava grande parte do período de atividades, no qual eram 
encontradas árvores frutíferas exóticas, irrigadas diariamente, algumas delas com 
maior disponibilidade de frutos na estação seca e bastante exploradas pelos sagüis. Já 
no período chuvoso, a ingestão mais intensa foi do exsudado, provavelmente devido 
ao aumento da água presente no solo o que intensifica a troca de substâncias, 
conseqüentemente o fluxo de exsudado. 
No ambiente árido, como a caatinga, durante a seca as espécies vegetais são 
adaptadas para evitar a perda d’agua. Mesmo assim, é importante destacar que o 
exsudado foi um recurso que os sagüis exploraram o ano inteiro, sendo uma boa 
 34 
fonte de energia e de sais minerais para os organismos capazes de metabolizá-los 
(Melo et al, 1997). Algumas espécies vegetais foram consumidas em meses bastante 
específicos, como por exemplo, o Angico Anadenathera colubrina (Leguminosae-
Mimosoideae), na qual os animais exploraram seu exsudado somente em junho. 
Em algumas espécies do gênero Callithrix, como C. penicillata, C. kuhli, C. 
humeralifer, C. flaviceps, C. geoffroy, C. aurita, C. melanura e C. jacchus, foi 
observada a exploração de goma em espécies vegetais das famílias Anacardiaceae, 
Mimosaceae, Meliaceae, Combrataceae, Leguminosae e Vochysiaceae (Stevenson & 
Rylands, 1988; Alonso & Langguth, 1989; Araújo, 1996). Cavalcanti (2002) ao 
analisar o comportamento alimentar do C. jacchus em mata Atlântica secundária e 
numa área de plantação, verificou que as duas únicas espécies vegetais incluídas na 
dieta dos animais para o consumo de exsudado pertencem à família Anacardiaceae 
estando uma espécie situada na área de mata (Tapirira guianensis) utilizada pelos 
três grupos e outra na área de plantação (Anacardium occidentale) utilizada por dois 
grupos. Ainda nesse trabalho, a pesquisadora constatou que houve uma concentração 
no consumo do exsudado de um cajueiro localizado na parte central de sua área, no 
período em que os frutos estavam escassos. Alonso & Languth (1989), Araújo (1996) 
e Castro et al (2000) relatam a ingestão de exsudados nas espécies vegetais 
anacardiáceas citadas acima. 
No estudo realizado por Garber (1984), os exsudados das espécies 
Anacardium excelsum e Spondias mombim (Anacardiaceae)foram avaliados. A 
análise química dos exsudados do Anacardium excelsum mostrou a presença de 
diversos minerais, em particular o cálcio, com uma relação de cácio: fósforo de 31:1. 
Saguinus fuscicollis e S. labiatus, em particular, consomem exsudados de poucas 
espécies vegetais (Garber, 1993) particularmente durante a estação seca (Lopes & 
Ferrari, 1994). 
No presente estudo, mesmo quando havia uma concentração de exemplares de 
uma mesma espécie vegetal numa determinada área, ocorria uma seletividade com 
relação às árvores utilizadas pelos animais para a gomivoria. Se os sagüis selecionam 
árvores exsudativas, é de se esperar que eles as escolham de acordo com a sua 
distribuição, a taxa de exsudação e o valor nutritivo da goma (Scanlon et al, 1991). 
 35 
C. aurita, em Monte Belo (Minas Gerais) explora o exsudado principalmente da 
Acácia paniculata o que indica o uso do recurso alimentar que se encontra em 
abundância (Martins & Setz, 2000). Miranda & Faria (2001) estudando os aspectos 
ecológicos do C. penicillata no Cerradão do Brasil Central, analisou as espécies 
arbóreas e arbustivas utilizadas como alimento. De acordo com os autores, o uso de 
exsudado de Vochysiaceae e Araliaceae na estação chuvosa pode ser devido à alta 
densidade de indivíduos destas espécies nas áreas de vida dos grupos e, 
conseqüentemente, a maior facilidade de acesso e uso das mesmas. A maior 
facilidade de acesso foi também observada para a espécie em estudo, pois apesar de 
existirem apenas dois exemplares do limão Cirus limon na área de pomar era de fácil 
acesso. A clara preferência pelo exsudado do limão Cirus limon (Rutáceas) e a 
jurema branca Mimosa verrucosa (Mimosoideae) em relação aos exsudados das 
demais árvores pode ser devido a uma maior palatabilidade, conteúdo nutricional ou 
pela facilidade de roer e exsudação. 
 Scanlon et al (1991) relata que os saguis da Floresta Atlântica costeira 
utilizam árvores de todos os tamanhos. A porcentagem de árvores maiores com 
lesões produzidas pelos sagüis foi maior que a de árvores menores. As maiores 
também foram visitadas mais freqüentemente. Os nossos dados não evidenciaram o 
mesmo padrão para C. jacchus na caatinga. Apesar de não ter conduzido um 
levantamento da distribuição das árvores na área de estudo, bem como da medição do 
diâmetro, foi possível verificar que as duas espécies vegetais mais utilizadas para a 
gomivoria (limão e jurema branca) eram arbustos, apesar de na mesma área haver 
árvores de grande porte com troncos largos. 
O consumo freqüente de frutos pelos animais como fonte de carboidratos não 
estruturais de diversas espécies pode ser explicado pela necessidade de uma dieta 
nutricional balanceada (Aguiar et al, 2003). Apesar de ser um dos principais itens na 
dieta de Callithrix, o consumo de frutos não variou significativamente entre as 
estações, embora tenhamos verificado um pequeno aumento durante o período seco. 
Embora não tenhamos realizado um estudo fenológico das árvores utilizadas no 
consumo de frutos, foi possível verificar que as espécies ingeridas pelo grupo de 
sagüis apresentaram uma seqüência nos períodos de frutificação, ou seja, o término 
 36 
da frutificação em algumas espécies coincidiu com o início desse evento biológico 
em outras. Isso permitiu o grupo consumir frutos em ambas estações. 
 Com relação ao efeito da sazonalidade na produção de frutos e sobre o 
consumo realizado pelos animais Stevenson & Rylands (1988) verificaram que 
Callithrix humeralifer apresenta um padrão marcadamente sazonal. De forma 
semelhante, Ferrari & Lopes-Ferrari (1989) evidenciaram que a sazonalidade de 
recursos ocorre de modo bastante marcante. A sazonalidade na produção de frutos é 
maior em áreas de mata secundária ou que sofreram ação antrópica, onde 
normalmente a diversidade de espécies vegetais é menor que em áreas de mata 
primária. 
 As frutas são componentes importantes na dieta de Saguinus fuscicollis, S. 
labiatus e Callimico goeldii (Porter, 2001). Este autor discute que durante o início da 
estação seca, ambos primatas consomem frutas de espécies vegetais variadas. Peres 
(1993) relata que Saguinus fuscicollis, S. mystax dedicaram a maior parte do tempo 
de alimentação ao fruto maduro, sendo esses sempre maduros, pequenos, amarelos 
ou vermelhos e espacialmente agrupados. 
No nosso estudo, o grupo apresentou um elevado índice no consumo de frutos 
da goiaba Psidium guajava. Este fato deve-se provavelmente a alta disponibilidade 
dos mesmos durante a estação chuvosa. Por outro lado, o fruto da manga foi 
consumido em ambas as estações, porém em maiores proporções no período seco. 
Para consumir os frutos de mangueira os sagüis seguravam com as duas mãos, 
faziam um furo na casca até atingir a polpa quando começavam a lamber, mastigar e 
ingeri-la retirando-a com os dentes. Já na ingestão do fruto da goiabeira, que eram 
menores e com cascas mais finas, os animais faziam furos lambendo e ingerindo a 
polpa e jogando fora as sementes. Frutos pequenos avermelhados também foram 
consumidos, localizados na área de caatinga. O manuseio era rápido e os animais 
utilizavam as mãos para segurar os cachos ou inflorescência, coletando-os 
diretamente com a boca, mastigando-os e engolindo-os, descartando as sementes. 
Entretanto não foi possível identificar a espécie vegetal em decorrência da não 
realização do estudo fenológico. 
 37 
O terceiro item importante da dieta dos sagüis foram presas animais. Entre os 
itens de origem animal, tivemos larvas de insetos, pequenos lagartos e ovos de 
pássaros, entretanto destacaram-se os insetos pela sua maior representatividade. 
Barker et al (1998) comenta que os insetos e outros invertebrados contêm altos níveis 
de proteínas, lipídios e fósforo e que invertebrados no estágio larval contém 
significativamente mais gordura do que na fase adulta. Verificamos que os ortópteros 
representaram a maioria dos insetos consumidos pelos sagüis. Os ortópteros são 
freqüentemente citados como sendo o principal grupo de insetos consumidos por 
Callitrichidae (Stevenson & Rylands, 1988). As presas eram freqüentemente caçadas 
sobre os galhos, troncos, frestas dos caules, folhas verdes, secas ou mortas, bem 
como nos emaranhados de cipós e no solo. Esses mesmos comportamentos e posturas 
são descritos por Alonso & Langguth (1989) e Cavalcanti (2002) para Callithrix 
jacchus em áreas distintas de mata atlântica, com características climáticas 
semelhantes. 
 Invertebrados também foram de suma importância na alimentação de C. 
penicillata em áreas do cerrado, sendo uma fonte de recursos contínuos e abundantes 
durante todo e ano (Vilela & Faria, 2002). 
Com relação ao nascimento de filhotes em nossa pesquisa, parece estar 
associado com a sazonalidade da composição florística, abundância de frutos, goma, 
néctar e presa animal. Martins e Setz (2000) discutem que o nascimento da prole de 
C.aurita ocorreu durante estação seca, período de grande disponibilidade de frutos. 
Bitetti (1997) mostrou que em Cebus apella nigritus, Iguazú (Argentina), os 
nascimentos são sazonais, coincidindo com os picos de disponibilidade de frutos e 
insetos. Essa relação entre alimento e nascimento de filhotes em C. jacchus foi 
observada por Nascimento (1997). Nesse estudo, o nascimento da primeira prole no 
grupo recém-estruturado, no qual havia apenas 3 adultos, potenciais cuidadores, 
coincidiu com o elevado consumo dos frutos. Os três cuidadores permaneciam a 
maior parte do tempo numa pequena área de mata próximos a duas Cacropia 
adenobus (embaúba), item alimentício bastante consumido pelos sagüis nesse 
período de estudo. Aparentemente, devido à abundância e facilidade de obtenção, 
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logo se saciavam e permaneciam parados por prolongados períodos de tempo, 
minimizando a demanda energética e a possibilidade do risco de predação. 
No nosso estudo, ocorreram três partos da fêmea reprodutora

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