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UNIVERSIDADE FEREDAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA AVALIAÇÃO DO DESGASTE TRIBOQUÍMICO DE AGULHAS DOS BICOS INJETORES EM MOTORES DIESEL OPERANDO COM BIODIESEL LEONARDO CHAGAS DA SILVA NATAL 2015 LEONARDO CHAGAS DA SILVA AVALIAÇÃO DO DESGASTE TRIBOQUÍMICO DE AGULHAS DOS BICOS INJETORES EM MOTORES DIESEL OPERANDO COM BIODIESEL Dissertação apresentada ao programa de pós- graduação em Engenharia Mecânica, do Centro de Tecnologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Engenharia Mecânica. Área de Concentração: Tecnologia de Materiais Orientadora: Profª. Drª. Salete Martins Alves Co-Orientador: Prof. Dr. João Telésforo Nóbrega de Medeiros NATAL 2015 AVALIAÇÃO DO DESGASTE TRIBOQUÍMICO DE AGULHAS DOS BICOS INJETORES EM MOTORES DIESEL OPERANDO COM BIODIESEL Dissertação apresentada em 06 de agosto de 2015 ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da UFRN, como requisito para conclusão de mestrado na área de concentração de Tecnologia de Materiais. Banca Examinadora _________________________________________________________ SALETE MARTINS ALVES – PPGEM – UFRN Presidente da Comissão – Orientadora _________________________________________________________ JOÃO TELÉSFORO NÓBREGA DE MEDEIROS – PPGEM – UFRN Examinador Interno _________________________________________________________ ROBERTO SILVA DE SOUSA Examinador externo – IFRN Catalogação da Publicação na Fonte. Bibliotecária Verônica Pinheiro da Silva – CRB-15/692. Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Silva, Leonardo Chagas da. Avaliação do desgaste triboquímico de agulhas dos bicos injetores em motores diesel operando com biodiesel / Leonardo Chagas da Silva. – Natal, RN, 2015. 115f. : il. Orientadora: Salete Martins Alves. Co-orientador: João Telésforo Nóbrega de Medeiros. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica. 1. Lubrificação – Dissertação. 2. Oxidação – Dissertação. 3. Scuffing – Dissertação. 4. Common Rail – Dissertação. 5. Desgaste – Dissertação. 6. Biocombustível – Dissertação. I. Alves, Salete Martins. II. Medeiros, João Telésforo Nóbrega de. III. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título. CDU 621.89 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Deus, pela oportunidade da vida e a sustentabilidade até o dia de hoje. Aos meus pais, Jone e Edilma por tudo que fizeram nesta vida por mim e por todo o apoio para a conclusão deste curso, serei eternamente grato a vocês. À minha irmã Elizete e Ricardo, seu marido, pelos incentivos e por estarem ao meu lado. Aos meus sobrinhos Davi e Ester, pelos momentos de descontração e alegrias, que serão entendidos futuramente. A todos os meus familiares e amigos que tenho certeza, torcem muito por mim. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por ter me concebido a oportunidade da vida e por tudo que Ele me proporciona para poder da melhor forma desfrutá-la, com base em tudo que Ele nos ensina. Ao meu pai, Jone, meu grande amigo, a quem me incentivou e enveredar pelos caminhos da mecânica e a minha mãe Edilma, que sempre deu todo apoio e suporte para que aqui eu chegasse. À minha irmã, Elizete e seu esposo Ricardo, que sempre me apoiaram e deram suporte em muitas horas difíceis. A Davi e Ester em especial, pela parceria nas horas de lazer. À minha orientadora, Professora Salete Martins Alves, por todas as horas de dedicação, orientação, paciência, amizade e pela incrível capacidade de incentivar a buscar o melhor para o trabalho e ao crescimento acadêmico. Ao meu co-orientador, Professor João Telésforo Nobrega Medeiros pelas orientações, sugestões e visões a longo prazo do trabalho, tendo sempre como meta, o engrandecimento do mesmo. Ao Professor Manoel Fernandes de Oliveira Filho, pela figura de amigo, nas horas de humor, pai, nas horas de inúmeros conselhos e profissional, nas horas de ciências e parcerias. Ao Professor Eduardo Lins de Barros Neto, pela contribuição do conhecimento e auxílio na execução do projeto. Aos técnicos, Francisco Paulino, pelo apoio às mudanças mecânicas realizadas na bancada. Cristiane, por tudo que precisei de auxílio no laboratório. Kátia, pela qualidade e agilidade na obtenção das imagens de MEV, e Camila pela competência e os inúmeros auxílios que me fora dado no desenvolvimento do projeto, para que enfim ele pudesse ser realizado. Aos amigos, Adalberto, Daniel, Luiz e Ramón, pela dedicação a infindáveis horas de companheirismo, ensaios e aprendizado compartilhados na área técnica. Aos amigos do IFRN, Marcelo Marques, José de Anchieta, Neemias Silva, Jorge Magner, Gabriela Bruno, Roberto Silva e Tadeu Félix, pelos inúmeros apoios a quem me fora dado. Às reuniões científicas e amigos, em especial a Aline Cristina, Ana Emilia, Erinéia Kaká e Franklin Kaic e Valdicleide Melo, que pude construir no Grupo de Estudo de Tribologia, GET na UFRN. Aos amigos mecânicos, Valdeque, Ewerton, Hélio, Jamilson e Paulo, que fizeram a parceria, concordaram e me auxiliaram a responder os questionamentos na realização da entrevista. “Todo contato deixa uma marca”. Edmond Locard. SILVA, L.C. (2015). Avaliação do desgaste triboquímico de agulhas dos bicos injetores em motores diesel operando com. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2015. RESUMO No sistema de alimentação de combustível dos motores do ciclo diesel, o bico injetor é uma peça chave para determinar o desempenho e o nível de emissões que esses motores geram. Têm sido feitas mudanças significativas na composição dos combustíveis, nas legislações que regulamentam as emissões de poluentes e, em uma escala bem menor, há alguns estudos detalhados do impacto dessas mudanças nos componentes dos motores, como por exemplo, o bico injetor. O presente estudo teve como objetivo avaliar os principais mecanismos de falhas que atuam nos componentes de um bico injetor, em particular, na agulha do injetor, situada na ponta do bico. Este trabalho foi dividido em três etapas: na primeira delas, foi feito um estudo de campo, com visitas às oficinas mecânicas especializadas na manutenção do sistema de injeção diesel, para elaboração de um relatório sobre as problemáticas encontradas neste sistema. Na segunda, realizaram-se ensaios em uma bancada contendo um grupo motor-gerador, onde foram avaliados dois biocombustíveis: B6 e B6 aditivado, a fim de levantar parâmetros de desempenho dos biodieseis, que permitissem avaliar o desgaste qualitativo da superfície dessas agulhas. Por fim, a última etapa consistiu da análise microscópica da superfície desgastada das agulhas do bico injetor, estas foram analisadas por microscopia eletrônica de varredura (MEV), Energy Dispersive Spectroscopy (EDS) e por espectroscopia Raman. O motorque utilizou o B6 apresentou melhor desempenho em consumo específico e temperatura de funcionamento do bico injetor mais baixa em comparação com o motor que utilizou B6 aditivado. Além disso, também foi possível observar a presença do fenômeno do scuffing no guia da agulha do primeiro motor e pits de oxidação na mesma região da agulha do bico injetor que utilizou B6 aditivado. Palavras-chave: Agulha do bico injetor, Biodiesel aditivado, Scuffing, Oxidação SILVA, L.C. (2015). Qualitative evaluation of wear's tribochemical in the injector's needle of diesel’s cycle engines supplied by different biodiesels. Dissertation (Master's degree) – Federal University of Rio Grande do Norte, Natal, 2015. ABSTRACT The injector nozzle of the fuel injection system of the diesel engines is decisive to determine the engine's performance and the emissions levels. It was made many significant changes on the fuels' composition, in the legislations that regulate the pollutants’ emission and, in a smaller scale, there were some detailed studies of the impact of those changes in the engines' components, such as injector nozzle. This study aims to evaluate the main failure mechanisms that act on an injector nozzle components, in particular, on the nozzle’s needle, that is located in the tip of the nozzle. This study was divided in three stages: at the first one, it was made a field study with technical visits in mechanical repair shops specialized on diesel injection system’s maintenance, to perform a report about the problems found on this type of system. At the following step, it was performed tests in a test rig equipped with a stationary engine and a dynamometer where the following types of biodiesel were tested: B6 and additivated B6 were tested with the purpose to obtain performance parameters of the fuels that allow to qualitatively evaluate the nozzle's needles surface wear which were analyzed through Scanning Electrons Microscopy (SEM), Energy Dispersive X-Ray Diffraction (EDS) and Raman. The engine where was used B6 showed better performance in specific consumption and operating temperature of the nozzle’s needle lower than that founded motor where additivated B6 was used. Moreover, it was also possible to observe the presence of scuffing phenomenon in the first engine needle guide and oxidation pits in the same nozzle’s needle region which used B6 additivated. Keywords: Injector nozzle needle, Additivated biodiesel, Scuffing, Oxidation LISTA DE FIGURAS E QUADROS Figura 1 – Produção de motores no MERCOSUL .................................................................. 21 Figura 2 – Componentes do sistema de injeção de combustível de um motor diesel common rail – (1) Eletro-injetores; (2) Bomba de alta pressão; (3) ECM; (4) Tubo rail ........... 22 Figura 3 – Evolução da pressão injeção do sistema de injeção diesel..................................... 22 Figura 4 – Princípio do fluxo de funcionamento da ECM ...................................................... 23 Figura 5 – Visão geral do sistema common rail ...................................................................... 24 Figura 6 – Aplicação da válvula EGR e SCR ......................................................................... 25 Quadro 1 – Materiais usados na composição dos componentes do sistema de injeção em motores diesel ............................................................................................................... 26 Figura 7 – Ponta e agulha do bico injetor diesel ..................................................................... 27 Figura 8 – Componentes do bico injetor common rail utilizado em veículos leves................ 28 Figura 9 – Sequência de injeção de um bico injetor ................................................................ 29 Quadro 2 – Principais causas, falhas e prevenções do sistema common rail .......................... 30 Figura 10 – Cronograma para implantação do diesel de baixo teor de enxofre ...................... 33 Figura 11 – Sede da vedação feita pela esfera (a) Desgaste normal, homogêneo. (b) Peça sob desgaste irregular, de forma abrasiva ........................................................................... 34 Figura 12 – Sede de vedação do disco intermediário da válvula piloto .................................. 34 Figura 13 – (a) Início da trinca na ponta do injetor; (b) Colapso total da ponta do bico, devido a não formação do colchão hidráulico .......................................................................... 35 Figura 14 – Depósito de coque na ponta do injetor ................................................................. 36 Quadro 3 – Mecanismos de falha de um injetor common rail ................................................ 37 Figura 15 – Seção longitudinal da ponta (cilindro) de um bico injetor ................................... 48 Figura 16 – Ponta da agulha na sede da ponta do bico ............................................................ 49 Quadro 4 – Aços aplicados em agulhas de bicos injetores ..................................................... 49 Figura 17 – Trinca na superfície externa do injetor ................................................................ 53 Figura 18 – Ponta de um bico injetor com presença de trincas ............................................... 54 Figura 19 – Ponta de um bico injetor com presença de depósitos .......................................... 55 Figura 20 – Comparativo desgaste adesivo nas pontas de bicos injetores, fazendo uso de diesel puro com B20 de Jatropha .................................................................................. 56 Figura 21 – Curva de Stribeck: Regimes de lubrificação no deslizamento lubrificado .......... 57 Figura 22 – Região de ocorrência do scuffing ......................................................................... 58 Figura 25 – Principais pontos de ocorrência de corrosão na ponta do bico injetor ................. 60 Quadro 5 – Etapas de realização dos experimentos ................................................................ 61 Quadro 6 – Identificação dos mecânicos................................................................................. 62 Quadro 7 – Lista de perguntas aplicadas no questionário ....................................................... 63 Figura 26 – Bancada HFRR para avaliação de lubricidade das amostras ............................... 66 Figura 27 – Esquema simplificado da montagem da bancada ................................................ 70 Quadro 8 – Especificações técnicas do motor ......................................................................... 70 Figura 28 – (a) Curva de desempenho do motor BD 5.0. (b) Motor instalado na bancada dinamométrica .............................................................................................................. 71 Quadro 9 – Parâmetros avaliados em ensaios, meios de medição e equipamentos de obtenção ...................................................................................................................................... 71 Figura 29 – Bancada de ensaio dinamométrica ....................................................................... 72 Quadro 10 – Respostas do questionário .................................................................................. 77 Figura 30 – Pontas dos bicos injetores coletados na oficina ................................................... 80 Figura 31 – Região do guia das agulhas - (a) ponta do bico 1; (b) ponta do bico 2; (c) ponta do bico 3; (d) ponta do bico 4 ....................................................................................... 81 Figura 32 – Espectros do FT-IF do B6 e B6 aditivado ........................................................... 85 Figura 33 – Ensaio de lubricidade HFRR: (a) Formação defilme para o B6 e B6 aditivado; (b) Coeficiente de atrito para B6 e B6 aditivado .......................................................... 86 Figura 34 – Valores de diâmetro da escara de desgaste dos biodieseis, em (a) do B6 e em (b) o B6 aditivado ............................................................................................................... 87 Figura 35 – Gráfico de consumo específico em função da variação de potência.................... 89 Figura 36 – Histograma de consumo específico em função da variação de potência ............. 89 Figura 37 – Temperaturas dos bicos injetores em funcionamento com B6 e B6 aditivado, medidos por termopar ................................................................................................... 91 Figura 38 – Temperatura no bico injetor medido por termopar para o B6 e B6 aditivado ..... 92 Figura 39 – Temperaturas do bico injetor em funcionamento com B6, obtida por câmera termográfica .................................................................................................................. 92 Figura 40 – Temperaturas do bico injetor em funcionamento com B6 aditivado, obtida por câmera termográfica ..................................................................................................... 93 Figura 41 – Avaliação visual do estado inicial e final das agulhas em função dos respectivos biodieseis utilizados ...................................................................................................... 94 Figura 43 – Agulha utilizada no ensaio com B6 ..................................................................... 95 Figura 44 – Pontas dos bicos injetores utilizados nos ensaios com B6 e B6 aditivado .......... 96 Figura 45 – Faixa de ensaio de microdureza ........................................................................... 97 Figura 46 –MEV da (a) Agulha na condição nova 40X – corpo da agulha; (b) Agulha na condição nova 400X – corpo da agulha; (c) Agulha na condição nova 1000X – corpo da agulha; (d) Agulha na condição nova 2000X – corpo da agulha ............................. 99 Figura 47 – MEV da agulha após 150h em serviço nas condições (a) Amostra sem aditivo 40X – corpo da agulha; (b) Amostra sem aditivo 400X – corpo da agulha; (c) Amostra sem aditivo 1000X – corpo da agulha; (d) Amostra sem aditivo 2000X – corpo da agulha; (e) Amostra sem aditivo 4000X – corpo da agulha (f) Amostra sem aditivo 5000X – corpo da agulha ............................................................................................ 100 Figura 48 – (a) Região da agulha sem aditivo após 150h de ensaio, em análise por EDS. (b) Espectro da região analisada ....................................................................................... 101 Figura 49 – MEV da agulha após 150h em serviço nas condições (a) Amostra com aditivo 40X – corpo da agulha (b) Amostra com aditivo 400X – corpo da agulha (c) Amostra com aditivo 1000X – corpo da agulha (d) Amostra com aditivo 2000X – corpo da agulha (e) Amostra com aditivo 3000X – corpo da agulha (f) Amostra com aditivo 6000X – corpo da agulha ............................................................................................ 103 Figura 50 – (a) Região da agulha com aditivo, em análise por EDS. (b) Espectro da região analisada ..................................................................................................................... 104 Figura 50 – (a) Região de análise da espectroscopia da amostra sem aditivo; (b) Banda espectroscópica ........................................................................................................... 105 Figura 52 – (a) Região de análise da espectroscopia da amostra aditivada; (b) Banda espectroscópica ........................................................................................................... 106 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Principais propriedades físico-química dos aditivos. ............................................ 63 Tabela 2 – Condições de ensaio HFRR ................................................................................... 67 Tabela 3 – Dados de caracterização dos ensaios ..................................................................... 73 Tabela 4 – Caracterização das pontas dos bicos injetores coletados na oficina ...................... 80 Tabela 5 – Propriedades dos combustíveis .............................................................................. 84 Tabela 6 – Avaliação do consumo específico dos combustíveis utilizados durante a realização dos ensaios .................................................................................................................... 88 Tabela 7 – Avaliação da temperatura do bico injetor em função dos combustíveis utilizados durante a realização dos ensaios ................................................................................... 91 Tabela 8 – Resultado de microdureza, em HV, na superfície das agulhas dos bicos injetores97 Tabela 9 – Resumo dos resultados da composição química em porcentagem do peso dos elementos presente na superfície da liga .................................................................... 101 Tabela 10 – Resumo dos resultados da composição química em porcentagem do peso dos elementos presente na superfície da liga .................................................................... 104 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas; AISI – American Iron and Steel Institute; ANP – Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis; ANSI – American National Standards Institute; ASM – American Society Metal; ASTM – American Society for Testing and Materials; B10 – Biodiesel a 10% de óleo transesterificado; B20 – Biodiesel a 20% de óleo transesterificado; B5 – Biodiesel a 5% de óleo transesterificado; B6 – Biodiesel a 6% de óleo transesterificado; B7 – Biodiesel a 7% de óleo transesterificado; BD – Branco Diesel; CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente; CNPE – Conselho Nacional de Política Energética; CRS – Common Rail sistem; CRI – Common Rail Injector; DIN – Instituto Alemão para Normalização (Deutsches Institut für Normung); DPF – Diesel Particulate Filter; ECM – Engine Control Module; ECU – Eletronic Central Control; EDS – energy dispersive spectroscopy; EGR – Exhaust Gas Recirculation; EURO 6 – Norma Europeia de padrão de emissões, nível 6. FISPQ – Ficha de Informações e de Segurança de Produto Químico; FRX – Fluorescence X-ray FUV – Espectrômetro por Fluorescência de Ultravioleta; GET – Grupo de Estudos da Tribologia e Integridade Estrutural; HC – Hidrocarbonetos; HFRR – High Frequency Reciprocating Test Rig; HPCR – High Pressure Common Rail; IC – Ignição por compressão; ISO – International Organization for Standardization; LCL – Laboratório de Combustíveis e Lubrificantes do departamento de Química; MCI – Motor de Combustão Interna; MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura; MERCOSUL – Mercado Comum do Sul; MME – Ministério de Minas e Energias; MO – Microscopia Óptica; NBR – Denominação de Norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas; NC – Número de Cetano; NOX - Óxidos de Nitrogênio; NTI – Núcleo Tecnológico Industrial; NUPEG II – Núcleo de Pesquisa em Petróleo e Gás II; PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S.A.; PNPB – Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel; ppm – partes por milhão (0,01 %); S1800 – Diesel com Teor de Enxofre de 1800 ppm; S500 – Diesel com Teor de Enxofre de 500 ppm; S50 – Diesel com Teor de Enxofre de 50 ppm; S10 – Diesel com Teor de Enxofre de 10 ppm; SAE – Society of Automotive Engineers International; SOx – Óxidos de enxofre; UIS – Unit Injector System; UPS – Unit Pump System; ULSD – Diesel com ultrabaixo teor de enxofre (Ultra-Low Sulfur DieselFuel); SUMÁRIO I – INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 17 1.1. OBJETIVOS GERAL ...................................................................................................... 19 1.1.1. Objetivos Específicos .......................................................................................... 19 II – REVISÃO DA LITERATURA ...................................................................................... 20 2.1. DESCRIÇÃO DOS SISTEMAS DE INJEÇÃO .............................................................. 20 2.1.1. Funcionamento da Agulha do Bico Injetor ....................................................... 27 2.2. PROBLEMAS NOS SISTEMAS DE INJEÇÃO ............................................................ 28 2.3. UTILIZAÇÃO DO BIODIESEL NO MCI POR COMPRESSÃO ...................................... 38 2.3.1. Consolidação do Biodiesel como Alternativa Energética ................................ 39 2.3.2. Aspectos Físico-Químicos dos biodieseis ........................................................... 41 2.3.2.1. Poder calorífico................................................................................................ 42 2.3.2.2. Viscosidade ...................................................................................................... 43 2.3.2.3. Índice de acidez ............................................................................................... 44 2.3.2.4. Teor de enxofre ................................................................................................ 44 2.3.2.5. Ponto de fulgor ................................................................................................ 45 2.3.2.6. Massa Específica ............................................................................................. 45 2.3.2.7. Índice de Cetano .............................................................................................. 46 2.3.2.8. Lubricidade ...................................................................................................... 46 2.3.2.9. Aditivos ........................................................................................................... 47 2.4. TRIBOLOGIA E ESTRUTURA DO SISTEMA AGULHA-BICO ................................ 47 2.4.1. – Cilindro e agulha do bico injetor .................................................................... 48 2.4.2. Contato mecânico e mecanismos de desgaste do par tribológico .................... 50 2.4.2.1. – Falhas no bico injetor por Cavitação ............................................................ 51 2.4.2.2. – Falha no bico injetor por trincas ................................................................... 52 2.4.2.3. – Falha no bico injetor por depósitos............................................................... 54 2.4.2.4. – Falha no injetor por scuffing ......................................................................... 56 2.4.2.5. – Falha no injetor por oxidação ....................................................................... 58 III - MATERIAIS ................................................................................................................... 61 E MÉTODOS .......................................................................................................................... 61 3.1 ESTUDO DE CASO EM OFICINAS ..................................................................................... 62 3.2. COMBUSTÍVEIS ANALISADOS ................................................................................. 63 3.2.1. Aquisição do biodiesel e sua Aditivação ............................................................ 63 3.2.2. Caracterização Físico-Química dos Biodieseis ................................................. 64 3.2.2.1. Massa Específica a 20 °C ................................................................................ 64 3.2.2.2. Viscosidade cinemática a 40°C ....................................................................... 64 3.2.2.3. Índice de Cetano .............................................................................................. 65 3.2.2.4. Ponto de Fulgor ............................................................................................... 65 3.2.2.5. Teor de Enxofre ............................................................................................... 65 3.2.2.6. Caracterização química por FT-IR .................................................................. 66 3.2.2.7. Corrosividade ao Cobre ................................................................................... 66 3.2.2.8. Lubricidade ...................................................................................................... 66 3.2.2.9. Volatilidade ..................................................................................................... 67 3.2.2.10. Índice de acidez ............................................................................................. 67 3.2.2.11. Poder calorífico.............................................................................................. 68 3.3. ENASIOS NA BANCADA DINAMOMÉTRICA .......................................................... 69 3.3.1. Motor Estacionário ............................................................................................. 70 3.3.2. Sistema de Aquisição e Análise de Dados ......................................................... 71 3.3.3. Ensaio na Bancada Dinamométrica .................................................................. 72 3.4. ANÁLISE E CARACTERIZAÇÃO DAS AGULHAS DOS BICOS INJETORES ................ 73 3.4.1. Análise visual ....................................................................................................... 74 3.4.2. Microdureza......................................................................................................... 74 3.4.3. MEV, EDS e Raman ........................................................................................... 74 IV – Resultados e Discussão ................................................................................................... 76 4.1. ANÁLISE DO ESTUDO DE CASO ............................................................................... 76 4.2. CARACTERIZAÇÃO DOS BIODIESEIS ..................................................................... 83 4.2.1. Caracterização Físico-Química dos Biodieseis ................................................. 83 4.2.2. Caracterização qualitativa por FT-IR .............................................................. 85 4.2.3. Análise Tribológica dos Biodieseis ..................................................................... 86 4.2.4. Corrosividade ao Cobre dos Biodieseis ............................................................. 88 4.3. - AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOS MOTORES ................................................ 88 4.3.1. – Avaliação do Consumo Específico .................................................................. 88 4.3.2. – Avaliação da temperatura no bico .................................................................. 90 4.4. AVALIAÇÃO DAS AGULHAS..................................................................................... 93 4.4.1 Inspeção visual ...................................................................................................... 93 4.4.2 Microdureza.......................................................................................................... 97 4.4.3. MEV e EDS .......................................................................................................... 98 4.4.3.1. Análise de MEV na agulha do bico injetor novo............................................. 98 4.4.3.2. Análise de MEV e EDS na agulha do bico injetor sem o uso do aditivo ...... 100 4.4.3.3. Análise de MEV e EDSna agulha do bico injetor com o uso do aditivo ...... 102 4.4.4. Espectroscopia vibracional RAMAN .............................................................. 105 4.4.4.1. Espectroscopia Vibracional Raman na agulha do bico injetor sem aditivo .. 105 4.4.4.2. Espectroscopia Vibracional Raman na agulha do bico injetor com aditivo .. 106 V – Conclusões ...................................................................................................................... 107 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 109 17 I – INTRODUÇÃO O inevitável risco de esgotamento das reservas de petróleo, a preocupação com a preservação ambiental e o aumento incessante da frota de veículos automotores movidos por combustíveis de origem fóssil, têm impulsionado as pesquisas de desenvolvimento de novos combustíveis. A busca e o emprego de novas fontes energéticas provenientes de recursos renováveis possibilitam o equilíbrio de matrizes energéticas e o desenvolvimento de setores que geram matéria prima para seu uso. Em meio as grandes crises do petróleo, as décadas de setenta e oitenta foram de certa forma, marcadas principalmente pela corrida de pesquisas na área de combustíveis renováveis em diversos países do mundo. Ao passar dos anos, em contraponto ao que se o correu no passado, quando os combustíveis vegetais foram substituídos pelos de origem fóssil, devido sua abundância e seu preço baixo vêm-se retomando a utilização dos combustíveis renováveis pelo alto custo que se tem nos dias atuais para o uso dos combustíveis fósseis. Contudo, constantemente estes combustíveis têm sido modificados quimicamente para melhorar suas propriedades e proporcionar desempenho similar ou superior aos combustíveis fósseis (ABREU et al., 2005). Neste aspecto, o Brasil tem se destacado no cenário mundial, quando se trata de desenvolvimento, melhoria e inserção de novos combustíveis na sua matriz energética. Este combustível inserido na matriz energética brasileira – o Biodiesel - chamado no início da sua comercialização de “diesel verde” é um combustível firmado como promissor, que pode ser utilizado ainda combinado com diesel convencional ou in natura. Carrega-se com ele, a esperança de ser menos poluente, devido sua origem renovável, como também um rendimento próximo ao diesel e que acima de tudo possa substituí-lo gradativamente em suas aplicações (ITURRA, 2003). Outro aspecto importante a ser considerado em relação ao ponto de vista das questões ambientais e a sua utilização, é a de não provocar a degradação do meio ambiente (comparado ao diesel derivado do petróleo) quanto as suas emissões, devido ao biodiesel não possuir enxofre em sua composição. 18 No entanto, alguns estudos têm verificado alterações nos motores com o uso desses combustíveis, a exemplo os estudos de Corrêa et al., (2008), que detectaram com o uso das blendas B5, B10, B20 de éster etílico de óleo de girassol com diesel alteração no desempenho do motor, com redução máxima de 2,2% na potência e aumento máximo de 7,3%, no consumo específico. Deve-se observar também que os sistemas de alimentação dos motores evoluíram. Aumentaram às pressões, as velocidades e os esforços entre os componentes, em especial, as bombas foram as que passaram por maiores mudanças. Estas passaram a trabalhar com uma ordem de grandeza a mais de pressão, com reduções das folgas, e equipadas com sensores e atuadores eletrônicos. No entanto, com toda essa mudança, deve-se existir a preocupação sobre a compatibilidade de materiais usados atualmente nesse sistema em relação ao biodiesel. Em termos de compatibilidade de funcionamento, Filipovic et al., (2014) afirma, que quando utilizada uma proporção abaixo de 20% de biodiesel na mistura, é dispensável qualquer ajuste na vazão da bomba injetora, podendo assim ser mantida a mesma vazão, assim, então, mantendo a pressão de injeção, garantindo uma mistura (ar-combustível) próxima da estequiométrica, resultando em um nível satisfatório de emissões dos gases de exaustão. Entretanto, para uma proporção acima dos 20% de biodiesel na mistura, faz-se necessário um ajuste geométrico no pistão da bomba de alta pressão, a fim de estabelecer vazão de combustível que a mesma fornece, de modo que um maior volume de combustível seja enviado aos bicos, estabelecendo a perda de energia (química) referente à mudança do combustível. Ainda de acordo com Filipovic et al., (2014), o aumento da blenda de biodiesel no combustível requer também que outros ajustes mecânicos no sistema de injeção de combustível sejam feitos. O principal é descrito como a otimização do ângulo de pré-injeção, com o objetivo de obter o ponto correto de injeção, melhorando a eficiência de pulverização do biodiesel na câmara de combustão do motor, adequando-se aos níveis de emissões de poluentes dos gases de descarga. Esta correção do ângulo de injeção se faz importante em motores com maior percepção do ângulo de pré-injeção de combustível, enquadrando-se os motores com unidades injetoras. O biodiesel tem características químicas diferentes do diesel, podendo interagir com materiais de forma diferente, com isso, surgem novos mecanismos de falhas no sistema de injeção, que necessitam ser entendidos permitindo que o sistema seja aprimorado. No entanto, 19 é necessário classificar e quantificar estas falhas de acordo com parâmetros ligados às propriedades físico-químicas do combustível, performance do combustível no subsistema de injeção, tratamento da superfície dos materiais envolvidos, critérios de manutenção e tribologia do sistema (FAZAL et al., 2011). Gonsalves et al., (2012) investigou através de simulações utilizando método de elementos finitos, três hipóteses sobre o fenômeno do scuffing na agulha do bico injetor de motores do ciclo Diesel. Estes autores consideraram que dentro de todas as condições analisadas, a hipótese mais provável para o scuffing na agulha, está relacionada à presença de partículas contaminantes no diesel. Ressaltando que tais partículas alteram significativamente a pressão de contato entre a agulha e sua sede de trabalho, aumentando consideravelmente a densidade de energia de contato da área. Portanto, o presente estudo, tem-se como principal objetivo, entender e avaliar os motivos de algumas falhas ocorridas no sistema de injeção. Pretende-se encontrar uma relação entre os agentes e os mecanismos de desgaste que atuam nos pares tribológicos de componentes do sistema de injeção diesel, em especial no par: agulha – ponta do bico injetor. Através de ensaios utilizando um combustível padrão, encontrado nos postos de combustíveis, e outro quimicamente modificado, será possível avaliar a compatibilidades destes com o par tribológico estudado. Também será possível comparar estes resultados com os obtidos em relatos de campo. 1.1. OBJETIVO GERAL Avaliar o desgaste qualitativo das agulhas de bicos injetores de um motor do ciclo diesel, utilizando biocombustíveis B6 e B6 aditivado, aferindo suas compatibilidades com os materiais utilizados neste sistema. 1.1.1. Objetivos Específicos Associar um estudo de campo em contraposição aos moldes experimentais; Caracterizar as propriedades físico-químicas dos biocombustíveis utilizados; Monitorar parâmetros de desempenho do bico injetor e do motor; Estudar os mecanismos de desgaste no guia agulha do bico injetor. 20 II – REVISÃO DA LITERATURA 2.1. DESCRIÇÃO DOS SISTEMAS DE INJEÇÃO Dada a evolução dos motores de combustão interna, desde os seus primórdios com os motores de Huygens e de Leonardo da Vinci por volta da segunda metade do século XVII (MARTINS, 2005), passando por inovações como os motores a ar, a água e de combustão interna atmosféricos,os grandes gargalos dessas invenções foram desenvolvidos em paralelo, sendo os maiores, a parte de sistema de arrefecimento, ignição e injeção (armazenamento, condução, mistura e injeção). O progresso do sistema de injeção de combustível partiu da mudança dos primeiros combustíveis, de quando eram a gás e passaram a serem combustíveis líquidos, os quais são mais fáceis de serem transportados e armazenados. A peça chave que respondia pela evaporação e mistura com o ar para a melhoria do desempenho da queima, era o carburador. No princípio, os carburadores eram de superfície e evoluíram até chegar os de spray, utilizando o princípio de Venturi. Em seguida, surgiu o conjunto de injeção eletrônica, composto por eletro injetores, sensores, central e etc., e somente na década de 90 o sistema eletrônico de injeção foi implantado para os motores diesel. Sistema este que em pouco tempo com o advento da crescente tecnologia, evoluiu de forma exponencial (MARTINS, 2005). Segundo Reis et al., (1999), após o motor diesel ter chegado aos Estado Unidos em 1899 por Adolphus Buchs, o progresso de seu aperfeiçoamento técnico se deu de forma mais rápida. Foi nesse período que a patente de Diesel (em 1910) teve seus prazos de validade expirados, abrindo espaço para Robert Bosch e Frantz Lang, nos anos 20, aperfeiçoaram o sistema de injeção de combustível com a aplicação da bomba de pistão com ranhuras, que eleva a pressão, tornando os motores desse ciclo, muito eficientes e com alto nível de confiança. 21 Atualmente, por trazer muito mais benefícios, como: diminuição de ruído oriundos da antiga unidade injetora mecânica, menor vibração, melhoria no consumo, esse tipo de sistema é destaque nesse cenário mundial e vem substituindo de tal maneira o sistema mecânico, pela redução no nível de emissões exigido pelo mercado e por legislações mundiais. Este sistema é mais tecnológico, trabalha com pressões mais altas de injeção, curvas calibradas de injeção exata e dosagem extremamente precisas do volume do combustível, entretanto, por enquanto traz uma elevação nos custos finais do produto (KEGL, 2008). Hoje por exigências das atuais normas EURO 6 na Europa e CONAMA P7 no Brasil, que ditam sobre o controle e qualidade no padrão de emissões de poluentes e material particulado emitidos pelos motores diesel, impõem aos fabricantes de motores diesel, o uso de sistemas mais eficientes que atendam as normas para poderem entrar em circulação e também serem concorrentes. Com todas essas modificações e restrições ambientais, somente os sistemas mais modernos de injeção são capazes de atender a tais requisitos. Os sistemas anteriores ao eletrônico e aos semi eletrônicos estão sendo abolidos, com a tendência de serem extintos, devido a não atender às exigências. Essa diminuição pode ser vista através do gráfico na Figura 1, na qual se reporta um quadro de produção de motores com os sistemas de injeção eletrônica atualmente mais utilizados são: CRS (Common Rail Injector) é o mais difundido, UIS (Unit Injector System) e UPS (Unit Pump System). Figura 1 – Produção de motores no MERCOSUL Fonte: Adaptado de Robert Bosch (2011) 0 100 200 300 400 500 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 (x1000) Mecânicos UIS UPS Common Rail 22 O sistema de Injeção Eletrônica, como é mostrado na Figura 2, possui uma central chamada de ECM (Engine Control Module), Módulo de Controle do Motor, que funciona como se fosse a ECU dos veículos Otto. Ela é quem faz toda a parte de controle de abertura e fechamento dos bicos e análise de dados recebidos pelos diversos sensores. Figura 2 – Componentes do sistema de injeção de combustível de um motor diesel common rail – (1) Eletro-injetores; (2) Bomba de alta pressão; (3) ECM; (4) Tubo rail Fonte: Adaptado de HUMMEL et al., (2004) O sistema de injeção Common Rail pode ser entendido como Unidade de Conduto Comum, onde difere dos sistemas convencionais, pois trabalha com pressão modulada em motores de injeção direta. Ele trabalha com combustível pressurizado dentro de um rail (tubo distribuidor) independentes da rotação do motor e do volume de combustível que estão contidos dentro do rail a ser injetado (SOUZA, 2010). Fica clara a evolução do aumento da pressão de injeção mostrada pelo gráfico da Figura 3. Alguns fabricantes de componentes, como a DELPHI, a pressão máxima atingida hoje é de 2500 bar, porém logo essa pressão subirá para 3000 bar, proporcionando uma melhor atomização do combustível, melhorando a queima e minimizando a necessidade de pós tratamento dos gases de escape (GRAHAM et al., 2014). Figura 3 – Evolução da pressão injeção do sistema de injeção diesel 23 Fonte: Adaptado de BLAU, (2011) Alguns gargalos que eram encontrados no sistema mecânico, como: a possibilidade de pré-injeção, injeção principal e pós-injeção com controle de volume de injeção, foram sanados com esse sistema. Para uma injeção com parâmetros precisos, o injetor necessita estar sempre sob alta pressão. Nesse caso, o módulo de controle eletrônico (ECM) mantém através de cálculos, o momento e a quantidade correta de combustível a ser injetados. A ECM obedece a curvas de rotação x torques previamente programados, adaptando-se a cada regime de funcionamento com a otimização da pressão de injeção em baixas rotações e na faixa certa de torque. Toda parte de adequação do motor em quaisquer situações é feita através de algoritmos simplificados (BOSCH, 2005). É através de sensores como: de pressão; temperatura do ar de admissão; temperatura do liquido de arrefecimento; posição do pedal do acelerador; pressão do rail (tubo onde há o acumulo de combustível); posição do motor (comando de válvulas); pressão atmosférica; rotação do motor (árvore de manivelas – virabrequim), entre muitos outros, que a central eletrônica recebe informações constantes e instantâneas do funcionamento do motor e do veículo, como se esboça na Figura 4 de funcionamento do sistema. Figura 4 – Princípio do fluxo de funcionamento da ECM 24 Com os dados obtidos, a central eletrônica tem condições de exercer controle, comando e a regulagem sobre o modo de utilização do motor. A Figura 5 representa o fluxo do combustível e a destruição espacial dos componentes do sistema de injeção common rail. Figura 5 – Visão geral do sistema common rail Outro ponto a ser observado é o percurso do contato do combustível sobre os circuitos dos subsistemas no veículo. O subsistema de alimentação de combustível tem por função retirar o combustível do tanque e jogá-lo para os injetores de vários cilindros. O circuito é 25 composto pelo tanque, bomba de baixa pressão, filtro de combustível preliminar, bomba de alta pressão, tubo rail, linhas de conexão e eletro-injetores. Partindo do tanque, bomba de baixa pressão fornece combustível para a bomba de alta, passando antes pelo filtro. A bomba de alta pressão carrega o tubo rail e as linhas de alta pressão até os bicos injetores de combustível (BOSCH, 2005). No tubo rail e nas linhas de conexões, há menos dependência do combustível para lubrificação, no entanto, existem alguns componentes com pares tribológicos atuando, onde, o próprio combustível proporciona a lubricidade (por exemplo, bomba de alta pressão, injetores, pistão e cilindro). Uma vez injetado na câmara, o combustível segue para combustão, onde será queimado (HASEEB et al., 2010). Este subsistema é constituído por elementos como bloco do motor, camisa do cilindro (em alguns casos), cabeçote, válvulas de admissão e de exaustão, pistão, anéis de segmento, pino do pistão e biela. O papel do pistão é comprimir o ar dentro do cilindro, fazendo com que a temperatura se eleve acima de 500ºC (MARTINS, 2005). O pistão tem diâmetro menor que a camisa docilindro, e para minimizar o espaço entre o pistão e a mesma, anéis de segmento são instalados nele, para que haja vedação em torno do êmbolo. Logo após a queima, o subsistema responsável em conduzir os gases queimados para fora é o sistema de escape do motor, que consiste em coletor, conversor catalítico e silenciador. Após a combustão, os gases saem da câmara, passando para o coletor, e em seguida através do sistema de recirculação de gases (EGR), parte dos gases retorna à câmara para ser novamente queimado, para redução da fumaça, logo mais esses gases escoam para o conversor catalítico e silenciador. A aplicação das válvulas ERG e SCR estão esquematizadas na Figura 6. Após esse processo, os gases estarão na atmosfera (HASEEB et al., 2010). Figura 6 – Aplicação da válvula EGR e SCR 26 A importância de se conhecer o fluxo de combustível em diferentes subsistemas é observar o contato do combustível com uma grande variedade de materiais metálicos e não metálicos. Materiais metálicos incluindo aço, ferro fundido, ligas de alumínio e ligas de cobre. Como não metálicos mais comuns estão elastômeros, plásticos, tintas, papeis etc. O combustível entra em contato com estes materiais sob temperatura, velocidade, carga e estados físicos diferentes, sendo assim, provocando possíveis corrosão, desgaste e degradação desses materiais. A seguir no Quadro 1 é mostrado as principais partes e materiais do quais elas se constituem. Quadro 1 – Materiais usados na composição dos componentes do sistema de injeção em motores diesel Principais partes Componentes Materiais Tanque de combustível Alojamento Vedação Aço, plástico, pintura, revestimento Elastômero, papel, cortiça, cobre Bomba de alimentação de combustível Liga de alumínio, liga de ferro, liga de cobre Linha de combustível Alta pressão Baixa pressão Aço Plásticos, borracha Filtro de combustível Cartucho do filtro Alojamento Papel Alumínio, plástico Bomba de combustível Liga de alumínio, liga de ferro, liga de cobre Injetor de combustível Aço inoxidável Cilindro Parte superior do Cilindro Ferro fundido cinzento, alumínio fundido, alumínio forjado Cilindro Ferro fundido cinzento, aço, alumínio fundido 27 Cilindro linear Ferro fundido cinzento, alumínio Válvulas Aço Partes do pistão Pistão Alumínio fundido em areia, alumínio fundido em cera perdida, alumínio forjado, ferro fundido cinzento Pino do pistão Aço Anéis do pistão Ferro fundido especial, aço Casquilho Liga de cobre Biela Aço, liga de alumínio Sistema de escape Coletor de escape Ferro fundido Cano de escape Aço com revestimento galvânico Conversor catalítico Aço inoxidável, fibra cerâmica fibra de alumínio Silencioso Aço com revestimento galvânico Fonte: Adaptado de HASEEB et al., (2010). 2.1.1. Funcionamento da Agulha do Bico Injetor Quanto ao tocante ao funcionamento da agulha do injetor, a mesma funciona como uma válvula para o controle de injeção pelo orifício de injetor. Sua posição de trabalho é normalmente fechada, estando submetida por uma força de uma mola e uma contra força de pressão do fluido para que fique sempre numa posição de fechamento do orifício. Enquanto há pressão da mola sobre a agulha, a sede do orifício estará fechada, o combustível passa apenas quando o solenóide é acionado. Quando isso acontece a agulha sobe, fazendo com que permita passagem do combustível pelo orifício calibrado e decaia a pressão onde a mola está alojada, fazendo com que a mesma retorne à sua posição normalmente fechada, configurando um movimento alternado (reciprocating), além do movimento rotativo que os fabricantes afirmam existir na agulha do bico injetor (informação verbal)1. Para uma melhor visualização dos elementos citados no texto, as Figuras 7 e 8 mostram a ponta do bico e o bico injetor, com as devidas indicações de seus componentes. Figura 7 – Ponta e agulha do bico injetor diesel 1 Informação fornecida por Hailton Viana no Curso de Reparos de Bicos Injetores (TECNOMOTOR), em Natal/RN, em agosto de 2013. 28 Fonte: Adaptado de Bosch (2014) Figura 8 – Componentes do bico injetor common rail utilizado em veículos leves Fonte: Adaptado de VIANA (2013) 2.2. PROBLEMAS NOS SISTEMAS DE INJEÇÃO Injetores diesel common rail modernos podem injetar uma, duas, três, cinco, até sete vezes por ciclo de motor, assim trazendo um efeito multiplicativo do desgaste do injetor em relação ao sistema antigo, de unidade injetora de diesel. Os sistemas de injeção diesel mais antigos usavam cerca de 1/3 a 1/2 da pressão de combustível dos motores modernos, como 29 também enviavam o combustível através de passagens e orifícios muito maiores (informação verbal)2. Sabe-se que bicos injetores e bombas são elementos que trabalham sobre os regimes: marcha lenta, carga parcial e carga total, sendo eles concernentes à altas pressões e elevadas temperaturas. E para o bom funcionamento dos mesmos é necessário que todos os componentes estejam íntegros e ajustados. Os ajustes nos pares tribológicos atuantes nesse sistema são da ordem de micrometros. Importa avaliar o estado de desgaste nos componentes, por menor que seja a falha, sendo assim é necessário estarem dentro das faixas de tolerância admitidas pelos fabricantes para poder operar dentro dos regimes correto de trabalho. Um agravante disso tudo é que atualmente a alimentação do sistema é feita utilizando diesel de ultrabaixo teor de enxofre (ULSD), o que dificulta a lubrificação dos pares tribológicos desse sistema. Porém, se a manutenção for feita adequada e periodicamente, junto à preocupação de utilizar um combustível de qualidade, alguns problemas podem ser evitados, podendo assim usufruir-se da confiabilidade do sistema e assegurar uma vida em serviço de milhares de quilômetros sem problemas. Mesmo que toda parte eletrônica de sensores esteja em perfeitas condições de funcionamento, faz-se necessário que os atuadores finais, no caso os bicos injetores, estejam dentro dos parâmetros de ajustes especificados pelo fabricante. Quando isso não acontece, parte do funcionamento, seja ele o retorno do óleo diesel ao tanque, o tempo de injeção, o débito e ou estanqueidade, ficam comprometidos, tornando a combustão incompleta e contaminando os gases que vão para a atmosfera (informação verbal)3. O bico injetor é o componente responsável pela pulverização do combustível na câmara. Pulverização que é sempre bastante estudada, com o intuito de encontrar a melhor forma de misturar o combustível injetado com o ar dentro do cilindro, visando menor emissão de gases poluidores e economia de combustível (MARTINS, 2005). A Figura 9 retrata a sequência de injeção e relação ao tempo de injeção, com um injetor de sete furos em seu bico. Figura 9 – Sequência de injeção de um bico injetor 2 Informação fornecida por Hailton Viana, no Curso de Reparos de Bicos Injetores Common Rail (TECNOMOTOR), em Natal/RN, em agosto de 2013. Informação fornecida por Hailton Viana, no Curso de Reparos de Bicos Injetores Common Rail (TECNOMOTOR), em Natal/RN, em agosto de 2013. 30 Fonte: INSTITUTO MOTORI. Disponível em: <http://www.im.cnr.it/IM/?page_id=431> acesso em: set. 2013 Para que o bico apresente um bom funcionamento, é necessário garantir que algumas de suas partes estejam em boas condições de funcionamento, como por exemplo, a carcaça não estar rachada, a agulha está com a folga adequada, que a esfera vede a sua sede, entre outros. Segundo a Exergy Engineering (2012), pode-se dizer que os injetores de diesel tendem a apresentar falhas por causa de duas razões principais; a primeira tem a ver com a robustez da estrutura injetora e a segundatem a ver com a qualidade do combustível que atravessa o injetor. Dentre essas causas relacionadas às propriedades mecânicas, pode-se desmembrá-las em cinco mais específicas, sendo elas citadas no Quadro 2. Quadro 2 – Principais causas, falhas e prevenções do sistema common rail FALHA INDICAÇÕES CAUSAS PREVENÇÃO E REPARO 31 Vazamento interno ou Alto fluxo de retorno Dificuldade na hora da partida Código de baixa pressão no rail Sulcos na sede da esfera, que funciona como válvula Vazamento de tubos de alimentação Selagem de alta pressão interna danificada Folga incorreta da agulha do bico Corpo do bico rachado Corpo do injetor rachado Manter sistema de combustível limpo, mudar filtros de combustível, comprar combustível a partir de fontes confiáveis Evite a afinação excessivamente agressiva do sistema, que aumenta de pressão e pulso do injetor; e não remova os dispositivos de limitação de pressão do sistema Não utilizar componentes de injeção de remanufaturados ou que não são devidamente projetados ou fabricados artesanalmente. Utilize apenas os bicos genuínos, pois eles são feitos para ter uma resistência superior à quebra. Não fazer montagem entre bicos de séries diferentes. Cada bico é compatível apenas com outro da mesma série. Sem injeção O combustível é adicionado ao cilindro porque A ECM “pensa” que o injetor de combustível não tem fluxo suficiente. A ECM toma a decisão de injetar com base na velocidade de rotação do virabrequim, porém não há fluxo no injetor suficiente, fazendo com que o motor não funcione. Corpo e/ou bocal da agulha engripado Detritos ou oxidação no plugue elétrico do bico Bobina ruim Perda de compressão do cilindro ou outro problema mecânico Manter sistema de combustível limpo, mudar filtros, comprar de combustível a partir de fontes confiáveis; Não utilizar peças de reposição do sistema que têm rebarbas metálicas; Evitar unir todas as linhas retornos de bombas de alta pressão, de injetores e rail a uma única linha de retorno; Excesso de injeção Fumaça excessiva em marcha lenta e má queima; Débito alto no cilindro, o que significa que a rotação do motor vai aumentar mais do que o normal; Temperatura dos gases de escape excessiva; Danos ao motor pela alta temperatura Desgaste na sede da esfera do injetor ou fraco corte da injeção; Assento da agulha do bico desgastado ou danificado; Detritos no sistema de controle da agulha injetor, que a mantém a agulha aberta; Detritos em bico assento agulha mantendo-a aberta; Substitua os injetores gastos e de alta quilometragem; Substituir as pontas desgastadas; Mantenha o sistema de combustível limpo e mudança periódica dos filtros; Não use componentes remanufaturados para esta aplicação. 32 devido excesso de combustível no cilindro. Bico rachado por sobre pressão, ou bico superaquecido por instalação inadequada de injetor. Taxa incorreta de injeção Falha no funcionamento e desbalanceamento nos cilindros Variação de temperatura dos gases de escape Baixo fluxo no bocal do injetor Baixa elevação da agulha do bico Bico conectado parcialmente Ponta dos bicos escovados Manter sistema de combustível limpo. Fazer a manutenção de filtros periodicamente; Utilizar combustível a partir de fontes confiável; Rejeitar todas as peças de reposição do sistema de combustível que tenham mau acabamento; Não use componentes remanufaturados para esta aplicação ou fora de aplicações padrões; Nunca limpar os bicos com uma escova de aço. Tempo da duração de injeção incorreta Falha no funcionamento e desbalanceamento nos cilindros Danos no pistão Variação na temperatura dos gases de injeção entre os cilindros Desgaste no assentamento da esfera Montagem incorreta do injetor (torques e/ou variações no comprimento dos calços) Elevado aumento na agulha do injetor, para aumento do débito Substituir os injetores desgastados; Fazer todos os testes com os injetores; Adquiri-los de uma fonte confiável. Fonte: Adaptado de EXERGY ENGINEERING Disponível em: <http://www.trucktrend.com/how-to/expert-advice/1211dp-why-diesel-fuel-injectors-fail/> acesso em: set. 2013. De acordo com Afton (2011), existem três principais causas de falha do injetor associados às propriedades do combustível: desgaste em excesso, abrasão e depósitos. Quando se trata de desgastes moderados e severos, logo se levanta a questão de como e o quanto esses componentes estão sendo lubrificados. É sabido que antes de 13 de janeiro de 2005, o diesel encontrado nos postos do Brasil, era diesel puro (sem mistura com biodiesel) (QUESSADA, 2007) e continham quantidades relativamente grandes de enxofre. Este enxofre, assim como nitrogênio e oxigênio, é encontrado no óleo em bruto, que logo é refinado, diminuído em suas partes para ser usado nesses motores. O enxofre no combustível é utilizado como um lubrificante natural. Ele quem é responsável pela redução do atrito, limpeza e refrigeração dos componentes do sistema de injeção (FARIAS, 2010). 33 O biodiesel de ultrabaixo teor de enxofre (ULSD - Ultra-Low-Sulfur Diesel) foi gradualmente introduzido no Brasil sendo pelo principal motivo a redução de SOx e NOx (e outros componentes) responsável por diversos problemas ambientais, e também por causa do excesso de falhas nos filtros de limpeza particulados diesel (DPF) (GUARIEIRO, 2011). A diminuição do enxofre contido no diesel, controlado por padrões rigorosos das normas mundiais que regulamentam o controle de emissões, têm como maiores vilões, os poluentes CO, NOx, HC e o enxofre, que vem decaindo a cada nova regulamentação de limitação do seu teor na mistura, como mostra o cronograma para implantação do diesel de baixo teor de enxofre na Figura 10. Figura 10 – Cronograma para implantação do diesel de baixo teor de enxofre Fonte: PETROBRAS (2013). Disponível em: <http://sites.petrobras.com.br/minisite/assistenciatecnica/perguntas.asp> acesso em: out. 2013. Esta diminuição do teor de enxofre tem impacto direto na redução de lubricidade da blenda do combustível. Entretanto, com a majoração do uso do biodiesel, essa lubricidade pode ser restabelecida e permitir o uso contínuo da mistura. Por apresentar maior viscosidade, o biodiesel proporciona maior lubricidade que o diesel, e tem-se observado redução no desgaste das partes móveis do motor. O biodiesel também possui estruturas moleculares mais simples que o seu precursor, os triglicerídeos, logo, a sua viscosidade é comparativamente menor que estes, apresentando maior eficiência de queima, reduzindo significativamente a deposição de resíduos nas partes internas do motor (LÔBO e FERREIRA, 2009). Outra potencial falha é causada pela qualidade do combustível, ou ainda pela presença de algumas impurezas (da ordem de mícron) que podem passar até mesmo pelos mais estreitos filtros do veículo. O diesel mineral de baixa qualidade, por exemplo, provoca a incrustação de resíduos sólidos nas linhas de condução do combustível. Um possível e posterior uso do biodiesel pode limpar essas linhas, porém entupindo o filtro, necessitando de 34 uma reposição (também não onerosa). Misturas biodiesel/diesel com concentração do primeiro abaixo de 20%, não apresentam esses inconvenientes. Se o combustível contém uma grande quantidade de partículas pequenas e insolúveis, mesmo que refinado e filtrado diversas vezes, ao longo do tempo estarão dentro e atritando nos injetores, durante a operação normal do motor, trazendo consequências significativas, como alteração do funcionamento do injetor e do padrãode pulverização de combustível, reduzindo o desempenho do motor e em casos mais graves, pode até levar à ineficiência total do injetor (AFTON, 2011). A consequência da passagem dessas partículas por componentes internos do injetor é mostrada na Figura 11. Figura 11 – Sede da vedação feita pela esfera (a) Desgaste normal, homogêneo. (b) Peça sob desgaste irregular, de forma abrasiva (a) (b) Fonte: Fotos de Hailton Viana para o curso de Reparos de Bicos Injetores Common Rail, (TECNOMOTOR), (2013). A Figura 12 mostra um componente do bico injetor, conhecido por disco intermediário, que trabalha sob funcionamento severo. Assim como a agulha, esse componente faz o papel de vedação, entretanto, o disco trabalha com sistema de vedação plana, ocorrendo desgaste abrasivo na superfície, causando alteração no tempo de injeção. Figura 12 – Sede de vedação do disco intermediário da válvula piloto 35 Fonte: Fotos de Hailton Viana para o curso de Reparos de Bicos Injetores Common Rail (TECNOMOTOR), (2013) A agulha por sua vez trabalha com vedação cônica, porém devido seu tipo de movimento (reciprocating e rotativo) há uma combinação de desgaste acelerada, causando redução do diâmetro da extremidade oposta à ponta, fazendo com que o retorno de combustível se eleve e injete menos combustível na câmara. Em paralelo a isso, pode ocorrer a alteração do ângulo da ponta da agulha, causando desgaste maior por promover o contato direto com o encaixe (sede de vedação), além da folga que é gerada, pois a ponta fica tocando a sede, podendo chegar ao ponto de a ponta romper, ficar à mostra, ou formar trincas, como é visto em exemplo nas imagens da Figura 13 (b). Isso é atribuído a má qualidade do combustível, que por não ser capaz de atuar como um amortecedor (colchão hidráulico) na sede de vedação, permite o impacto entre as superfícies, acarretando na degola por completa da ponta do bico injetor, trazendo sérios danos ao motor (BOSCH, 2014). Figura 13 – (a) Início da trinca na ponta do injetor; (b) Colapso total da ponta do bico, devido a não formação do colchão hidráulico (a) (b) Fonte: (a) Diesel Power (2012). (b) foto de Hailton Viana para o curso de Reparos de Bicos Injetores Common Rail (TECNOMOTOR), (2013) Como dito anteriormente, boas práticas de manutenção como o uso de uma boa filtragem de combustível e consumindo um combustível de um fornecedor de confiança, pode reduzir danos causados por abrasão, erosão e cavitação. 36 Por fim, é importante considerar quando se discute a causa da falha de um injetor relacionado ao combustível, a Afton (2011) afirma que, hoje, a principal razão para o um colapso do injetor é devido ao acúmulo excessivo de depósitos. Existindo dois tipos principais destes depósitos: os externos ao injetor e depósitos no interior dos injetores. Os depósitos externos ao injetor são geralmente causados pela má queima do combustível (queima incompleta), que se acumula em torno dos furos do injetor. Estes depósitos são referenciados na literatura como depósitos de coque. Na maioria dos casos, esses depósitos não levam à insuficiência do injetor, porém, eles podem acumular o suficiente para perturbar a atomização do combustível, Figura 14. Esta má formação da nuvem de pulverização gera, consequentemente, uma má queima de combustível e menor eficiência. Este problema é frequentemente observado pelo operador do veículo como uma perda perceptível de potência e um maior gasto de combustível. Figura 14 – Depósito de coque na ponta do injetor Atualmente, há aditivos detergentes que são usados para ajudar a controlar esses depósitos externos e restaurar o injetor. Eles apresentam sucesso no uso para a perda de energia e melhor economia de combustível, resgatando novamente uma maior eficiência ao veículo. Com toda mudança do sistema de injeção, que partiu do mecânico com pressões de 200, 300 bar e folgas um pouco mais abrangentes, para o common rail, que trabalha com até 2500 bar e tolerâncias da ordem de 2 a 4 micrometros (QU, 2005), um novo tipo de depósito (semelhante ao coque) vem surgindo no interior dos injetores. Estes depósitos são leves, com aparência acinzentada e se formam nas partes internas, nas agulhas injetoras pelo movimento reciprocating, em praticamente qualquer tipo de injetor do sistema common rail e nas agulhas dos bicos. 37 Eles normalmente só causam problemas operacionais nos motores mais novos com sistemas mais precisos e com alta pressão injeção (HPCR – high pressure common rail), devido ao depósito de materiais nesses microespaços, sendo principalmente na ponta agulha do injetor, impedindo a vedação interna na linha de contato (sede) da agulha, deixando de garantir a estanqueidade na ponta, fazendo com que o bico venha a gotejar, como também podendo acarretar a obstrução dos orifícios de injeção, ou seja, levando a um fraco desempenho do motor e uma combustão incompleta, Afton, (2011). Em casos extremos, esses depósitos podem levar à degola completa da ponta do injetor ou travamento das agulhas injetoras, especialmente depois que o veículo for desligado quando o motor estiver frio. Assim como os depósitos externos, os internos podem ter os mesmos sintomas, ou seja, potência perdida e aumento do consumo de combustível. Por serem os atuadores finais do sistema, nos casos mais graves, o sistema trava e levam à paralisação total do veículo, acarretando num elevado custo de manutenção. Outros pontos a serem observados nas falhas mecânicas de um injetor estão relatados no Quadro 3. Quadro 3 – Mecanismos de falha de um injetor common rail A sede da esfera corrói, fazendo com que haja o fluxo indesejado de retorno. Isso faz com que o motor não dê partida. Se a erosão aumenta muito, o injetor perde a capacidade de estanqueidade. A cavitação na ponta da agulha/bico provoca falta de estanqueidade. Isso acarreta numa baixa economia de combustível e uma fumaça branca azulada em marcha lenta. 38 Acúmulos de debris na sede da esfera. Isso pode fazer com que a vareta do injetor permaneça acionada, tornando-a aberta constantemente. Fonte: Adaptado de How a Common Rail Diesel Injector Works and Common Failure Points - Engineered Diesel. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=NUvWnOd5lFw>. Aacesso em: 15/12/2014) 2.3. UTILIZAÇÃO DO BIODIESEL NO MCI POR COMPRESSÃO O histórico de aplicação dos primeiros combustíveis nos motores do ciclo diesel, foi utilizando óleos vegetais, na apresentação desse tipo motor na Feira de Exposição Mundial de Paris, no início do século XX. Posteriormente passando para o uso do diesel e recentemente o mesmo tem sido misturado com biodiesel para diminuir a poluição atmosférica e a dependência do petróleo. Da sua criação aos dias atuais, o mesmo é motivo de muitas discussões e polêmicas, principalmente a respeito da sua eficiência global. Com isso, experiências vêm sendo realizadas em diversos países, objetivando nos principais casos, a melhor composição (da blenda biodiesel com diesel) que fornecerá bom desempenho, considerando; A compatibilidade com os materiais utilizados nos subsistemas do motor; A eficiência energética global de cada composição de óleo utilizado. Pode-se listar como as principais vantagens do uso de óleo diesel em motores: - Excelente rendimento térmico dos motores projetados para esse combustível, em torno de 30% a 38%; - Baixo índice de quebra, fácil manutenção e grande disponibilidade em peças de reposição desses motores; - Uso satisfatório nos mais diversificados tipos de terreno e clima; - Utilização global, com tecnologia desenvolvida permitindoexcelente o uso em diversos segmentos; - Excelente aplicabilidade em veículos de transporte de cargas; - Alta concentração de energia, permitindo a aplicação em veículos de grande porte, sem aumento demasiado de peso. 39 Entretanto, percebe-se através e da literatura técnica que sempre existiu a busca e dedicação pelo aprimoramento do uso combinado de óleos vegetais, diesel, biodiesel e outras combinações. No entanto, é de admirar-se com a diversidade de conceitos e conclusões feitas pelos pesquisadores, especialistas e curiosos do mundo inteiro. De certo, o que mais pode ser visto na literatura, são verdadeiras contradições. Estas podem ser explicadas pelos diferentes modos de pesquisa, modo de preparação e fontes de combustíveis e estágio de aperfeiçoamento dos motores, justificado pelas épocas em que foram feitos tais ensaios. 2.3.1. Consolidação do Biodiesel como Alternativa Energética A demanda por combustíveis renováveis está se expandindo rapidamente nos últimos anos. Bem no início do século passado, as indústrias direcionaram trabalhos de desenvolvimento do motor para utilização com diesel à base de óleo cru de petróleo. De início, por consequência das seguidas crises energéticas que o mundo passou, despertou-se a necessidade de novas fontes alternativas de energia, com parâmetros que fossem ambientalmente sustentáveis e seguros para sua utilização. Nos dias atuais, procuram-se as melhores adequações a novos combustíveis que substituem os derivados do petróleo (MELO, 2009). Uma alternativa positiva encontrada para uso nos motores do ciclo Diesel, que respondem na maior parte, pela malha pesada de rodoviários, transporte e setor agrícola, a estrutura energética que melhor se adaptou foi uma blenda, composta por biodiesel (oriundo de fontes vegetais e animais) e diesel (do petróleo), formando assim uma fração para utilização nestes motores. Em termos ambientais, a ampliação do uso do biodiesel reduz a participação do óleo diesel na matriz energética, um combustível eminentemente fóssil, o que significa a diminuição das emissões de poluentes veiculares nos centros urbanos e nas rodovias. Trata-se de um combustível biodegradável originado a partir de óleos de origem animal ou vegetal, obtido através de processos a partir de reações químicas com álcool de cadeia curta, na presença de um catalisador, conhecidos por craqueamento e reação de transesterificação (OLIVEIRA FILHO, 2011). O surgimento efetivo do biodiesel como fonte alternativa de energia foi em meados dos anos 80, justificando as crises no mercado mundial de petróleo ocorridas nas décadas de 70, junto ao aumento da demanda de energia e aliada ao consentimento ambiental da 40 população (GUERRA e FUCHS, 2009). Desde 2003, na União Europeia, os óleos vegetais são biocombustíveis reconhecidos e regulamentados, sendo amplamente utilizados no setor de transporte (GUERRA e FUCHS, 2010). Os biocombustíveis são uma realidade global, com milhares de países adeptos aplicando esse novo modelo em seus veículos que circulam em vários continentes, e com essa visão, há a tendência do aumento com a conscientização da população e interesse de empresas e governos. Como exemplo desses biocombustíveis pode se destacar o álcool, o biodiesel, o biogás e o óleo vegetal, usados nos dias atuais. A utilização do óleo vegetal para a obtenção do biodiesel se tornou uma das mais importantes opções, reconhecida por muitos países, por apresentar atrativos como minimização dos impactos ambientais, em comparação com os combustíveis fósseis, além do incentivo a economia e fonte de renda (GUERRA e FUCHS, 2010). A diversidade de plantas oleaginosas em que o óleo pode ser extraído é enorme, a exemplo estão espécies como: dendê, macaúba, babaçu, tucum, coco, buriti, noz-peçan, castanha, macadâmia, pinhão, amendoim, soja, canola, nabo forrageiro, pinhão-manso, tungue, girassol, algodão, linhaça, gergelim, crambe, cártamo, nim e moringa, dentre muitas outras (COSTA et al., 2006). Graças à sua diversidade climática, de solos e a grande biodiversidade, o Brasil por se tratar de um país de dimensões continentais, é capaz de apresentar uma enorme diversidade de oleaginosas que são fontes de matéria prima para produção de óleo vegetal, alimentado assim a necessidade local e boa parte da população mundial. O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) inseriu um novo combustível na matriz energética nacional. O trabalho multidisciplinar, envolvendo governo, instituições de pesquisa, indústrias e a sociedade, permitiu que desde 2008, em função da Lei n. 11.097, de 13 de janeiro de 2005, todo óleo diesel nacional disponível ao consumidor final é acrescido de biodiesel. Em janeiro de 2005 alcançou-se a mistura de 5%. (FONTES JUNIOR, 2011). Essa mistura é denominada óleo diesel B5. Em 01 de junho de 2014 entrou a mistura de 6%. A partir do mês de novembro de 2014, de acordo com o Ministério de Minas e Energias (MME) e o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) o biodiesel passou a ser comercializado com 7% de inserção no diesel, sendo agora o B7 S-10. O B7, além de corrigir a lubricidade do óleo diesel, reduz os níveis de emissão dos veículos referente ao teor de enxofre. Os combustíveis comercializados ao consumidor final, 41 possuem 10 mg/kg de enxofre (S10) denominado de “diesel ultra-baixo teor de enxofre (ULSD)”, 500 mg/kg de enxofre (S500) e 1.800 mg/kg de enxofre (S1800). O diesel para comercialização, além dos 7% de biodiesel, recebe também aditivos em sua composição. Esses aditivos aprimoram algumas características, visando maior desempenho do combustível (ANP, 2014). Com relação ao diesel ultra-baixo teor de enxofre (ULSD), seu uso tem sido obrigatório em centros urbanos, tendo em vista o benefício como redução dos desgastes nos cilindros e anéis de segmento, depósitos de coque no motor, emissões de NOx e material particulado, aumento da vida útil dos tanques, linhas e partes internas do motor, entre outros. Entretanto, a minoração do enxofre leva consigo algumas vantagens a respeito da lubrificação das partes móveis. Com isso, é necessária a incorporação de aditivos (SCHÄFER, 2001). Mesmo assim, em sua composição natural, o biodiesel oferece um número de vantagens distintas. Apresenta uma excelente lubricidade, algo que é benéfico aos componentes e que se destaca devido à atual política de redução do enxofre; É biodegradável, não tóxico, porém por conta do diesel em sua composição ainda emite gases nocivos à saúde; tem maior ponto de fulgor, provoca redução de emissões (KNOTHE, 2008). Porém, ele também apresenta algumas características desfavoráveis, como instabilidade oxidativa, alta geração de glicerina, durabilidade do óleo não mais que seis meses, propriedades pobres à baixa temperatura, sendo necessárias possíveis mudanças nos sistemas eletrônicos dos motores para receber o biodiesel acima de B20, além de fornecer um pouco menos potência e torque, acarretando em um maior consumo de combustível (DEMIRBAS, 2007). 2.3.2. Aspectos Físico-Químicos dos biodieseis Os aspectos físico-químicos dos combustíveis têm consideráveis influências sobre o funcionamento do motor, em especial os do ciclo Diesel, devido a estes estarem diretamente relacionados ao consumo, potência, eficiência, emissões e, sintetizando estes parâmetros, durabilidade, confiabilidade e vida em serviço do motor. Desse modo, a escolha para utilização de uma fonte energética, no geral, deve-se considerar fatores econômicos, técnicos, sociais, ambientais e por fim, políticos. O biodiesel é um combustível de composição complexa. A sua estrutura e propriedades físico-químicas dependem diretamente dos processos de obtenção da sua origem 42 (animal ou vegetal) e da origem da fonte de petróleo. A blenda de biodiesel e diesel comercializada
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