Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
POLÍTICA URBANA E AMBIENTAL Autoria: Yara Campos Miranda Indaial - 2022 UNIASSELVI-PÓS 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Copyright © UNIASSELVI 2022 M672p Miranda, Yara Campos Política urbana e ambiental. / Yara Campos Miranda – Indaial: UNIASSELVI, 2022. 145 p.; il. ISBN 978-65-5646-519-7 1. Política urbana. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 710 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Jairo Martins Marcio Kisner Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................5 CAPÍTULO 1 Políticas Urbanas e o Meio Ambiente ......................................... 7 CAPÍTULO 2 O Estatuto da Cidade e as Perspectivas de Reforma Urbana ..................................................................... 55 CAPÍTULO 3 Políticas Setoriais Urbanas .................................................... 101 APRESENTAÇÃO Olá, aluno, tudo bem? Você sabia que grande parte da população mundial reside nas cidades? De acordo com dados da Organização das Nações Unidas - ONU (ONU, 2020) - 55% da população global, ou seja, são 4,3 bilhões de pesso- as! Imagine que todos precisam ter acesso a infraestrutura urbana, necessitando utilizar os serviços de mobilidade, saneamento, saúde, lazer, dentre tantas outras atividades que ocorrem no nosso cotidiano. Mas como podemos garantir que uma área urbana é capaz de promover a qualidade de vida das pessoas? É nesse momento que surge a necessidade de criação das políticas urbanas. De acordo com Villaça (1999), as políticas urbanas buscam compatibilizar o uso do solo urbano com o atendimento das necessidades do ser humano, levando em consideração as variáveis ambientais. Mas como o meio ambiente está rela- cionado com isso? Pense que, em nosso cotidiano, utilizamos água tratada para dessedentação e atividades domésticas, produzimos efluentes e resíduos, além do fato de que grande parte do que consumimos é produzido pelas indústrias, que também estão inseridas no perímetro urbano. Tudo isso é capaz de gerar impactos ambientais, principalmente quando não ocorre a regulação das atividades antrópicas. Quando se percebeu que existe uma relação direta entre a qualidade urbana e o meio ambiente, inúmeros me- canismos legais surgiram para direcionar as atividades humanas, de modo a mi- tigar possíveis alterações ambientais. Este é o caso da nossa própria Constitui- ção Federal de 1988 (BRASIL, 1988), a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6938/1981) (BRASIL, 1981) e o instrumento legal mais famoso da área urbana: O Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001) (BRASIL, 2001). Todos esses mecanismos legais buscam compatibilizar o uso dos recursos naturais. Em específico, considerando o Estatuto das Cidades (BRASIL, 2001), promulgado por meio da Lei 10.257/2001, temos instrumentos que são fundamen- tais na área urbana, tal como a concepção do Plano Diretor, leis de zoneamento urbano, estudos de impacto de vizinhança, dentre tantas outras diretrizes impor- tantes. Falando em ordenamento do solo urbano, será que podemos tratar nossas cidades como organismos isolados? Se você reside em uma cidade, provavel- mente já teve que utilizar serviços de transporte coletivo. Imagine as pessoas que moram em regiões metropolitanas das grandes capitais brasileiras: será que se planejarmos apenas a mobilidade de uma área urbana, sem considerar a influ- ência das demais, realizaremos planos coerentes? Não! Por isso é importante pensar em políticas setoriais que articulam e integram os inúmeros elementos de infraestrutura urbana. Com isso, inicialmente, você entenderá quais são as variáveis ambientais que estão inseridas nas cidades, bem como sua influência e relação com as nos- sas atividades cotidianas. Com isso, é possível traçar políticas e estratégias de ordenamento do solo que não levem em consideração apenas as variáveis eco- nômicas, mas também aspectos sociais e ambientais. Em um segundo momento, você entenderá o que é o Estatuto das Cidades e sua importância como legislação norteadora dos núcleos urbanos. Também serão abordados os conteúdos mínimos dos planos diretores, bem como os demais ins- trumentos e diretrizes que são trazidos por esse documento legal. Por fim, aprenderá a importância dos planos setoriais, que promovem um plane- jamento adequado da infraestrutura urbana. As políticas que regem esses planos são fundamentais para a garantia de sistemas integrados e articulados que cumpram o seu verdadeiro propósito: atender à população! Ao final de seus estudos, você será capaz de utilizar os documentos legais que regem as Políticas Urbanas e Ambientais para a concepção de planos plau- síveis, elaborados de acordo com as especificidades e aderentes a sua aplica- ção. Afinal, não adianta que uma política seja aplicável apenas no papel, não é mesmo? Para isso, estude, dedique-se, e não deixe de participar ativamente das atividades propostas. Bons estudos! CAPÍTULO 1 Políticas Urbanas e o Meio Ambiente A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem: � Assimilar os aspectos relacionados à urbanização urbana com os possíveis im- pactos ambientais. � Associar as políticas de planejamento no âmbito da gestão do solo urbano. � Reconhecer o papel das políticas ambientais para proteção do meio ambiente em áreas urbanas. � Identificar a função política social que visa garantir o direito à moradia adequada. � Saber utilizar os conceitos presentes nas políticas urbanas para a elaboração, gestão e monitoramento do solo urbano, visando garantir a proteção do meio ambiente. 8 Política Urbana e Ambiental 9 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Você já parou para pensar qual é a sua relação com o meio ambiente? Pre- cisamos dos recursos naturais para praticamente todas as nossas atividades co- tidianas: seja para preparar nosso alimento ou até mesmo visando ao lazer. E no ambiente urbano? Como as variáveis ambientais afetam nosso dia a dia? O processo de ocupação antrópica, desencadeado principalmente pela re- volução industrial, impulsionou o êxodo rural, contribuindo com a formação dos grandes centros urbanos. Todo esse fenômeno alterou a paisagem, impermeabi- lizando o solo, alterando o fluxo de corpos hídricos, retirando vegetação nativa, e até mesmo potencializando processos erosivos. Com isso, a qualidade ambiental das cidades foi se deteriorando, fazendo com que atualmente seja necessária a adoção de políticas públicas que busquem compatibilizar as atividades humanas com boas práticas ambientais. Mas como fazer isso? É nesse momento que surgem os mecanismos legais regulatórios, que pro- movem uma discussão acerca da temática, compatibilizando o uso dos recursos naturais e instruindo quanto à necessidade de planos integrados pautados no pla- nejamento urbano e regional. Nesse sentido, as políticas urbanas e ambientais devem caminhar juntas, de modo a permitir o desenvolvimento pautado em boas práticas ambientais. Como aplicar isso na prática? É nesse momento que se torna fundamental entender a dinâmica urbana, de modo a avaliar os impactos ambientais significa- tivos e traçar estratégias de mitigação. Por exemplo, no seu cotidiano, você pro- vavelmente gera resíduossólidos urbanos, seja quando adquire um novo produto, ou até mesmo se alimentando de itens industrializados. Já parou para pensar em todo o processo que existe para o descarte adequado? Primeiramente, ocorreu o planejamento da coleta seletiva, a qual atende a bairros diferentes, de acordo com a densidade populacional e a infraestrutura existente. Posteriormente, o material coletado pode ser descartado em aterros sanitários ou até mesmo ir para aterros controlados. Todo esse trâmite acarreta impactos ambientais, ou seja, alterações no meio. Como podemos diminuir esse passivo? Se você separar seu resíduo, já contribuirá muito, visto que, dessa for- ma, agrega-se valor ao “lixo”, aumentando-se a vida útil do aterro. Então, por que atualmente adotam-se os aterros sanitários e a coleta seletiva é incentivada? Jus- tamente devido à Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.351/2012) (BRA- SIL, 2012), que estabelece tais diretrizes e atribui a responsabilidade ao município para a adequação ambiental de seu processo. 10 Política Urbana e Ambiental O que podemos aprender com a reflexão proposta? Que as políticas públicas são fundamentais para a compatibilização dos recursos naturais. Essa mesma linha de raciocínio se aplica à definição de áreas que serão utilizadas para a ocupação urbana, visto que é preciso pensar de uma maneira holística, buscando compatibi- lizar os aspectos sociais, ambientais e econômicos, ordenando o meio urbano de maneira coerente, prezando sempre pela qualidade de vida da população. Nesse sentido, os municípios possuem um papel fundamental, uma vez que devem propor políticas de planejamento e ordenamento territorial. Você com certeza já ouviu falar do Plano Diretor, não é mesmo? Você sabia que cabe ao município a sua elaboração e execução? Juntamente com esse mecanismo de ordenamento territorial, temos os planos municipais de saneamento básico, de arborização urbana, resíduos sólidos, dentre tantos outros que norteiam as ativi- dades humanas nos municípios. Conseguiu notar como os elementos ambientais, sociais e econômicos de- vem ser levados em consideração? Neste capítulo, você irá entender todas as relações existentes entre o meio ambiente e a proposição de políticas públicas de ordenamento do solo, as quais fomentam legislações que buscam sempre propor o planejamento adequado, sendo que o maior beneficiário desse sistema deve ser o próprio habitante. 2 A URBANIZAÇÃO E OS IMPACTOS AMBIENTAIS Você já parou para pensar em todo o trajeto que percorremos até alcançar a dinâmica urbana que temos hoje? Foram inúmeros avanços, tanto no âmbito da ciência como na tecnologia e nas relações sociais. Anteriormente, o Brasil era considerado um país rural, no qual grande parte das pessoas residiam no campo, obtendo seu alimento por intermédio da agricultura familiar. Nas proximidades das igrejas, surgiam pequenos comércios, nos quais se vendiam produtos básicos como o sal, açúcar e farinha. A vida cotidiana era mar- cada por um ritmo lento, em que a troca de produtos e a interação social eram intensas, principalmente nos finais de semana. No entanto, todo esse cenário pitoresco sofreu uma grande mudança, princi- palmente a partir do século XVIII, com a chamada Revolução Industrial, na qual, com o advento da máquina a vapor, foi possível criar processos de produção em massa, o que culminou no fenômeno denominado êxodo rural, ou seja, grande 11 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 parte das pessoas que anteriormente moravam no campo passaram a residir em cidades em busca de melhores condições de vida. Nesse cenário de mudanças provenientes do advento tecnológico, juntamen- te com a possibilidade de melhorias na qualidade de vida, nota-se que o êxodo rural, no Brasil, ocorreu de maneira acelerada (Figura 1). FIGURA 1 – MAPA DE DENSIDADE PARA O PERCENTUAL (CORES) E NÚMERO (PONTOS) DE RESIDENTES RURAIS – MICRORREGIÕES BRASILEIRAS, 1991 E 2010 FONTE: Adaptada de Maia e Buainain (2015) Todo esse processo promoveu mudanças significativas nas áreas urbanas, as quais não foram projetadas e/ou planejadas para atender esse cenário. Nesse âmbito, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (IBGE, 2021) –, no território brasileiro, aproximadamente 85% da população reside em cidades (Figura 2), e apenas 15% na área rural. 12 Política Urbana e Ambiental FIGURA 2 – PERCENTUAL DE POPULAÇÃO RESIDENTE EM ÁREAS URBANAS NO BRASIL FONTE: <https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18313- populacao-rural-e-urbana.html>. Acesso em: 15 out. 2021. Além disso, a distribuição da população advinda da área rural não ocorreu de forma uniforme no território brasileiro e, juntamente com o crescimento popu- lacional, nota-se que os núcleos urbanos estão ficando cada vez maiores, sendo intensificado o processo de metropolização, ou seja, o surgimento de cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Segundo o Estadão (2010), “em 2025, 29 cidades terão mais de 10 milhões de habitantes no mundo. Hoje, são 25, segundo a rede de televisão americana CNN, que define a região metropolitana de São Paulo, com 20,1 milhões de habitantes, como “uma cidade construída sem planejamento, onde há centenas de favelas”. O lado positivo da cidade, completa a CNN, é ter se comprometido a reduzir as emissões de gases em 30% até 2012. A região metropolitana mais populosa é a de Tóquio, com 35,2 milhões de pessoas, mas supercidades cresce- rão mais no Brasil e na Índia. São Paulo aparece na classificação da CNN em 7.º lugar entre as megalópoles, atrás de Jacarta (22 milhões), Mumbai (21,2), Nova Délhi (20,9), Manila (20,7) e Nova York (20,6). A projeção é que, em 2030, São Paulo caia para 8º lugar, com 23,4 13 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 milhões de pessoas, ultrapassada pelo Cairo. A outra representante brasileira na lista é o Rio de Janeiro, hoje com 11,6 milhões, que está em 26.º lugar e em 2030 terá 13,6 milhões de habitantes.” Considerando a extensão territorial nacional, é possível afirmar que a região sudeste é a que apresenta a maior quantidade de pessoas residindo em núcleos urbanos. Não é difícil entender este percentual, uma vez que nessa região encon- tram-se cidades muito importantes no cenário nacional, tal como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, dentre tantas outras. A região que apresenta menores índices é o Norte, na qual destacam-se as capitais, como Manaus e Belém. Mas qual a relação da industrialização e do êxodo rural com o meio ambien- te? Toda essa ocupação ocorreu de maneira intensificada, ou seja, as áreas ur- banas não estavam preparadas para todo este contingente populacional que, de repente, passou a ocupar o espaço. Pense só, para que nós tenhamos condições adequadas de vida, precisamos de toda a infraestrutura urbana, como os sistemas de saneamento básico, mobi- lidade urbana, saúde, educação, espaços de lazer, moradia, dentre tantas outras necessidades. E como o planejamento urbano ainda era incipiente naquela épo- ca, iniciaram-se os conflitos que vivenciamos até a atualidade. Dessa forma, a partir desse processo intenso de ocupação, e muitas ve- zes mal planejado, temos uma série de alterações no meio: impermeabilização do solo, uso exacerbado da água, poluição atmosférica, contaminação ambien- tal, alteração de fluxos hídricos, extração de vegetação nativa, dentre tantos ou- tros agentes de degradação que transformaram a paisagem natural, dando lugar ao que conhecemos atualmente como paisagem urbana. Segundo Marcondes (1999), a deterioração ambiental é um processo que se acentuou a partir do sécu- lo XX, que conferiu um certo grau de artificialização aos ecossistemas. Diante desse cenário, os conflitos relacionados ao meio ambiente começa- ram a ser cada vez mais frequentes,ou seja, os rios impermeabilizados ou retifi- cados começam a inundar bairros e cidades (Figura 3), elevados índices de pre- cipitação também são responsáveis por processos de deslizamento, a poluição atmosférica acomete a saúde das pessoas, rios contaminados não permitem a captação de água para o abastecimento humano e todo esse caos desperta no poder público a necessidade de regulação das atividades humanas em prol de boas práticas ambientais. 14 Política Urbana e Ambiental FIGURA 3 – ENCHENTE NA MARGINAL TIETÊ, EM SÃO PAULO – SP FONTE: <https://www.flickr.com/photos/cbnsp/5085079870>. Acesso em: 28 out. 2021. Com isso, em 1981, surge o primeiro documento legal pautado especifica- mente no meio ambiente, conhecido como Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), regida pela Lei 6.938/1981, que contempla diretrizes e instrumentos de proteção ambiental, visando compatibilizar o uso dos recursos naturais, garantin- do assim o provimento destes para as futuras gerações (BRASIL, 1981). E por que essa política é tão importante para o planejamento urbano? Por- que é a legislação pioneira no que tange à compatibilização dos recursos natu- rais. Dentre os princípios da PNMA, podemos citar a racionalização dos recursos naturais, o zoneamento de atividades com potencial poluidor, o acompanhamento da qualidade ambiental, além da possibilidade de proteção das áreas de relevante interesse ecológico (BRASIL, 1981). Tais princípios irão fomentar os instrumentos da política, bem como outras legislações que surgiram posteriormente. Interes- sante, não é mesmo? Vale ressaltar que as legislações ambientais se apresentam como um me- canismo de controle ambiental e que podem ser utilizadas consorciadas a ins- trumentos de gestão ambiental, para que se possa criar o urbanismo ecológico (MARCONDES, 1999). Ainda, outro conceito fundamental trazido na PNMA é a própria definição de poluição. Você sabe o que significa? Segundo o artigo 3°: 15 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 “III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da popu- lação; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômi- cas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio am- biente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (BRASIL, 1981). É baseando-se nesse conceito que os estudos ambientais são focados, ou seja, todas as formas de poluição podem ser possíveis agentes de degradação ambiental e, dessa forma, alterar o meio. E qual a relação disto com o meio am- biente urbano? Pense só: se uma indústria polui um corpo hídrico lançando uma quantidade maior de efluentes do que o autorizado por sua licença ambiental, as alterações não ficarão restritas ao ambiente da empresa, ou seja, outras pessoas que utilizam aquele manancial também serão prejudicadas. Assim, é importante pensar nesses aspectos de modo a fiscalizar tais atividades para que todas as pessoas utilizem o recurso natural de maneira coerente. O licenciamento ambiental é um processo administrativo que pode ser exigido pelo órgão ambiental competente para atividades que utilizam os recursos naturais. Dessa forma, são elaborados estu- dos técnicos que buscam compatibilizar as atividades desenvolvidas com o menor impacto ambiental no meio. Falamos em utilizar os recursos de maneira coerente, mas como isso é pos- sível? É justamente por isso que no artigo 9° da Política Nacional do Meio Am- biente temos a definição dos instrumentos, que são os mecanismos nos quais se garante a efetivação de uma política. Nesse sentido, alguns são aplicados até atualmente no ambiente urbano. Você sabe quais são? Estão contidos no primeiro instrumento os padrões de qualidade ambiental. Apesar da política estabelecer essa variável, outras legislações complementares nos trazem os valores a serem seguidos pelas empresas e órgãos públicos. Por exemplo, temos a Resolução Conama 430, de 2011, que denota acerca dos pa- drões de lançamento de efluentes, ou seja, toda organização, lotada no meio ur- 16 Política Urbana e Ambiental bano ou rural, precisa atender a esses padrões para garantir seu licenciamento (BRASIL, 2011). Outro conceito importante é o do zoneamento ambiental. Você já ouviu falar a respeito desse conceito? De acordo com Dantas (2003), o zoneamento pode ser entendido como o estabelecimento de zonas homogêneas que facilitam o processo do planejamento urbano por possuírem características semelhantes. O termo não é restrito ao planejamento urbano, podendo também ser utilizado no ambiente rural. Em algum momento de sua trajetória, você já deve ter ouvido falar, por exem- plo, que um bairro é residencial, e dessa forma, não é possível construir uma empresa no local. Por que isso acontece? Por conta do zoneamento do solo do município, que deve ser elaborado por uma equipe técnica que busque avaliar o ambiente urbano e ordená-lo da melhor maneira possível. Interessante, não é? A partir do conceito proposto, podemos notar a importância desse instrumen- to no ordenamento do solo, não é mesmo? Porém, como definir o zoneamento, ou até mesmo os padrões de qualidade? É nesse momento que você precisa entender um conceito fundamental em qualquer estudo ambiental: a avaliação de impactos ambientais. Mas, primeiramente, o que é impacto ambiental? De acordo com Sánchez (2015), impacto ambiental é qualquer alteração, benéfica ou adver- sa em um local. Já o aspecto ambiental é o elemento que, ao interagir no meio, resulta em impactos ambientais, os quais poderão ser benéficos ou adversos. Ficou abstrato o conceito? Vamos a um exemplo prático para que você as- simile. Uma empresa pode lançar emissões atmosféricas a partir de seu proces- so produtivo. Esse “elemento” está sendo introduzido na atmosfera, certo? Então será o aspecto ambiental da atividade. E o que ele vai gerar? Existem várias pos- sibilidades, mas a principal é a alteração na qualidade do ar, que será o nosso impacto ambiental. Viu como ficou fácil? Será que um aspecto ambiental pode estar associado a apenas um impac- to ambiental? Imagine uma empresa que lança efluentes em desacordo com a legislação em um corpo hídrico. O Efluente seria o aspecto ambiental. Quantos impactos isso pode ocasionar? Vamos listar alguns: alteração da qualidade da água, incidência de mortalidade de peixes, contaminação hídrica, processos de eutrofização, proliferação de espécies generalistas, possibilidade de doenças na população etc. Viu só? Um único aspecto está associado a vários impactos am- bientais (Figura 4). 17 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 FIGURA 4 - EXEMPLO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS RELACIONADOS AO LANÇAMENTO DE UM EFLUENTE EM UM CORPO HÍDRICO FONTE: Adaptado de Pixabay (2021). Disponível em: <https://pixabay.com/pt/ vectors/morto-ecologia-efluente-peixe-lago-158707/>. Acesso em: 10 out. 2021. E qual a importância da Avaliação de Impactos Ambientais? Todo esse pro- cesso permite aos planejadores o entendimento da dinâmica do local, subsidian- do o diagnóstico adequado. Por isso, é fundamental o uso de ferramentas que permitam classificar os impactos ambientais mais significativos, tal como matrizes de impacto ambiental, checklists, dentre outras possibilidades (SÁNCHEZ, 2015). No processo de planejamento urbano, as políticas públicas devem estar pau- tadas em mitigar os impactos ambientais mais significativos. Isso não quer dizer que não precisamos resolver todos os passivos ambientais associados a um em- preendimento ou atividade. Porém, significa a necessidade de priorizar recursos de modo a compatibilizar a dinâmica urbana do local preservando os recursos naturais. E em um ambiente urbano? Comoesses impactos ambientais vão aparecer? Para facilitar o entendimento, vamos pensar em três variáveis distintas: água, solo e ar. Como você já compreendeu o conceito de impacto ambiental, fica mais fácil assimilar isso com as variáveis urbanas, uma vez que o que temos no ambiente urbano, na verdade, é a soma de impactos ambientais que acometem os meios bióticos e abióticos. Quando falamos da água, esse recurso é fundamental para todas as ativida- des humanas, uma vez que possui múltiplos usos para a sociedade. Marcondes (1999) salienta que é um elemento fundamental para a urbe, e sua importância notada desde os primórdios da humanidade. Pense só, utilizamos a água para a dessedentação, produção de alimentos, processos industriais, lazer, saneamento básico, dentre múltiplas funções. No entanto, quando nos deparamos com todas 18 Política Urbana e Ambiental essas possibilidades, é factível a necessidade de ordenamento desse recurso tão fundamental para a sobrevivência da humanidade. Porém, apesar de ser um re- curso importante, temos inúmeros impactos ambientais associados ao seu uso desordenado nos ambientes urbanos. Quer saber mais sobre isso? Para iniciarmos nossa abordagem, vamos iniciar com o ciclo da água no am- biente urbano: em geral, os municípios possuem regiões pertencentes a bacias hidrográficas e, em alguns casos, a área urbana pode estar ambientada em uma microbacia hidrográfica. E qual a importância dessa informação? As bacias hidro- gráficas são as unidades de planejamento de maior influência nos ciclos hidro- lógicos, responsáveis pelo abastecimento dos lençóis freáticos, direcionamento do escoamento superficial, bem como reabastecimento dos mananciais que são utilizados para captação de água para uso urbano. Consegue perceber a complexidade desse tema? Para compreender o fun- cionamento desse sistema, tem-se que, inicialmente, o recurso hídrico começa seu percurso a partir da precipitação. Porém, nas áreas urbanas, ao invés de se infiltrar no solo, como ocorre em uma área rural, inúmeras vezes será encaminha- da, por meio do escoamento superficial para as áreas de menor declividade. Isso ocorre devido à impermeabilização do solo urbano pela malha asfáltica, residên- cias, construções e demais infraestruturas que compõe a área urbana, com velo- cidade variando de acordo com a rugosidade do ambiente urbano. Quer saber mais sobre os problemas ocasionados pela imper- meabilização do solo urbano? No link a seguir, você acessará o es- tudo intitulado “Impactos da ocupação urbana na permeabilidade do solo: o caso de uma área de urbanização consolidada em Campina Grande – PB, escrito por Santos, Rufino e Barros (2017). Disponível em: https://bit.ly/3CgDpa2. Qual é a problemática disso? Já temos nosso primeiro impacto ambiental, a alteração do ciclo hidrológico da água. O acúmulo desse recurso nas áreas mais baixas gera inundações e alagamentos, desabrigando famílias e prejudicando toda a infraestrutura urbana. Além disso, quando não se cumpre o supracitado no Novo Código Florestal (Lei n. 12.651/2012) (BRASIL, 2012), os rios urbanos são cenário de ocupações desenfreadas, as quais expõem as margens e as áreas úmidas a atividades descontroladas, culminando em processos erosivos. 19 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 Você já parou para pensar no impacto que suas atividades oca- sionam no meio? Atualmente, temos uma medida utilizada para isso, que é conhecida como pegada ecológica, que contabiliza a quanti- dade de recursos naturais necessária para a manutenção de seus hábitos de vida. Legal, não? Quer calcular? Acesse no site da WWF Brasil: https://www.pegadaecologica.org.br/. Note que toda a pressão exercida nos corpos hídricos, seja pela imperme- abilização do solo, dificultando a infiltração, ou pelas ocupações irregulares das margens (Figura 5) acarretará impactos graves. No primeiro caso, tem-se o risco de processos erosivos dado o aumento da velocidade e volume do escoamento superficial, bem como carga superior ao limite do sistema de drenagem e micro- drenagem da cidade. Já no segundo caso, altera-se o curso natural devido à re- moção da mata ciliar, além de impactos na qualidade hídrica. FIGURA 5 – CORPO HÍDRICO COM OCUPAÇÃO INADEQUADA, PREJUDICANDO A DINÂMICA HÍDRICA FONTE: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Capivara_ rio_barigui.jpg>. Acesso em: 28 out. 2021. 20 Política Urbana e Ambiental Como já mencionado, o processo inicial de ocupação das áreas urbanas ocorria a partir da proximidade do corpo hídrico, onde eram instaladas as residên- cias. Tal fato ocorria por conta da facilidade de obtenção de água para as ativida- des humanas. Como estão localizadas em áreas de menor altitude, a ocupação das áreas no entorno acarreta o processo de escoamento de água para esses locais (devido à impermeabilização) e, com o aumento de volume associado a outros fatores, ocasionavam diversos transtornos. Não obstante, ainda, em vá- rias cidades é comum a retificação e canalização de corpos hídricos urbanos, na qual ocorre a alteração de seu fluxo natural, buscando “urbanizar” as áreas com o viés de melhorar aspectos como a mobilidade urbana. Todas essas modificações, além de alterarem a dinâmica biótica e abiótica do meio, também geram inúmeros problemas para o poder público, principalmente quando temos as variáveis mete- orológicas envolvidas, em especial, elevados índices de precipitação. Não raro, vê-se notícias sobre a crise hídrica, falta de abastecimento de água, enchentes, deslizamentos, dentre outros, os quais são diretamente influenciados pelas alterações no ciclo hidrológico urbano. Pode-se incluir também os proces- sos que promovem a degradação da qualidade do recurso natural pelo despejo de resíduos e lançamento de efluentes sem tratamento adequado ou, ainda, pelo carreamento de particulados e compostos poluentes presentes na atmosfera, ora pela precipitação, ora pelo escoamento. Ficou confuso? Você deve estar se perguntando qual a relação da atmosfera com a qualidade dos recursos hídricos! Sabe-se que as emissões atmosféricas geralmente possuem compostos que contribuem para a poluição ambiental. Em geral, ficam suspensos na atmosfera ou acumulados no solo quando a sua den- sidade for adequada. Em ambos, quando ocorre a precipitação, grande parte das partículas são direcionadas para o solo e carreadas para os corpos hídricos. Tal processo se dá, principalmente, quando as empresas não controlam suas emissões atmosféricas, ou seja, lançam poluentes nocivos, tais como os gases do efeito estufa (óxidos de nitrogênio, carbono e enxofre) sem o tratamento adequa- do na superfície. Como resultado, temos a alteração da qualidade do ar, do solo, da água, a incidência de doenças respiratórias na população, bem como a modifi- cação do microclima do local. Visando controlar todos esses impactos ambientais, em 2018, foi aprovada a Resolução Conama 491/2018, que dita especificamente acerca dos padrões de qualidade do ar (BRASIL, 2018). E qual a relação disso com as cidades? Toda a organização enquadrada por lei precisa controlar os poluentes de modo a atender o supracitado no licenciamento ambiental, visto que, dessa forma, garante-se a qualidade do ar urbana. 21 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 Até o momento, falamos sobre os impactos das cidades na água e no ar e percebemos que existe mais um ator diretamente afetado: o solo! Vamos, então, entender os impactos da urbanização nos solos das cidades? O solo é a base estrutural que permite a construção das moradias e demais estruturas que promovem a infraestrutura habitacional das populações. Porém, esse é o mesmo solo que é utilizado para a agricultura, pecuária e outras ativida- des de suma importância. Em geral, os maiores problemas relacionados aos solos urbanos são: imper-meabilização e erosão! Ambos possuem um denominador comum: mau planeja- mento. Quando a ocupação ocorre de forma desordenada, por vezes, tem-se o pro- cesso de impermeabilização já citado outrora. Essa pressão altera o fluxo natural do escoamento e poderá acelerar processos erosivos nas áreas de menor altitude. O processo erosivo pode ser considerado um impacto isolado? Não! Quando ocorre a erosão, as partículas desprendidas são carreadas para as áreas de me- nor altitude, ou seja, para os corpos hídricos, contribuindo com o assoreamento, bem como o processo de eutrofização. Isso ressalta a importância do ordenamen- to do solo urbano e o cumprimento das diretrizes estabelecidas no zoneamento ambiental, garantindo a qualidade ambiental urbana. O solo, associado a variáveis como o relevo e declividade, também são fato- res limitadores do crescimento urbano. O processo de ocupação territorial se dá prioritariamente em áreas de relevo plano a suavemente ondulado, justamente pela facilidade de mecanização. O que ocorre, no entanto, é que, atualmente, são poucas as áreas com características propícias disponíveis, o que acarreta a necessidade de expansão em novos espaços. Nesse sentido, ressalta-se ainda mais a necessidade do planejamento adequado, visto que o relevo se torna uma variável fundamental para o zoneamento coerente de uma região. Perceba que, sempre que tratamos de aspectos ambientais, os impactos afetam, mesmo que indiretamente, todas as vertentes, seja água, ar ou solo, e de forma sinérgica! Dessa forma, as políticas públicas de planejamento urbano precisam considerar o diagnóstico ambiental, social e econômico de uma área, pois assim é possível compatibilizar o crescimento das cidades com as limitações ambientais existentes. 1 – O processo de ocupação antrópica acarreta inúmeros impactos ambientais, os quais estão condicionados ao mau planejamen- 22 Política Urbana e Ambiental to urbano. Nesse contexto, torna-se fundamental o entendimento da importância da Avaliação de Impactos Ambientais (AIA), uma vez que essa ferramenta busca identificar os principais agentes de degradação de um ambiente, e dessa forma, formular soluções mitigadoras. Diante desse contexto, imagine que você trabalha na prefeitura de uma cidade de 50 mil habitantes no setor de licen- ciamento ambiental. Em uma das solicitações a serem analisadas, está o pedido de licença prévia de uma empresa do ramo têxtil que busca se instalar na cidade, tendo como variáveis a serem consi- deradas a possibilidade de geração de empresa. Contudo, o ramo é conhecido pela geração de efluentes, resíduos e emissões at- mosféricas. A partir do contexto apresentado, identifique os princi- pais impactos ambientais associados ao empreendimento. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3 POLÍTICAS DE PLANEJAMENTO E GESTÃO DO SOLO URBANO Vamos entender a respeito das políticas relacionadas à gestão do solo urba- no? O ordenamento do solo urbano é um assunto muito discutido na atualidade, uma vez que o solo é a base para toda e qualquer atividade humana. Porém, essa temática é recente, visto que, ao considerarmos os aspectos históricos, grande parte das cidades foram ocupadas de maneira desordenada, com a falta ou pou- cos estudos de direcionamento da ocupação urbana. Os resultados estão relacio- nados aos impactos ambientais urbanos. Com isso, podemos perceber que a cidade é produto da imposição de carac- terísticas da sociedade, as quais são ações abstratas que acabam por moldar o ambiente urbano, resultando em conflitos e demais ações que acabam por definir o espaço urbano (CORRÊA, 1989). 23 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 Para entender essa problemática, primeiramente é importante assimilar o processo de ocupação do solo urbano. No Brasil, o surgimento das cidades está associado à presença de templos religiosos, ou seja, inicialmente surgiam vilas nos arredores das igrejas, geralmente localizadas na área mais alta do terreno. Com o aparecimento dessas vilas, a cidade se desenvolvia de acordo com novas oportunidades relacionadas ao comércio ou indústrias. Outro fator interessante é a proximidade de recursos naturais, visto que, dado o pouco desenvolvimento tecnológico da época, era necessário o uso de corpos hídricos para as atividades cotidianas. Dessa forma, muitas cidades brasi- leiras cresceram nas margens de rios que subsidiavam o abastecimento público, irrigação de lavouras, dentre outras múltiplas funções. Mas o que podemos observar com isso? Que não havia inicialmente o orde- namento do solo urbano, ou seja, eram ocupadas as áreas com melhores con- dições de terreno ou com recursos naturais abundantes. Porém, quanto mais central o lote, maior a valorização do local, e tudo isso é incentivado pela especu- lação imobiliária. Esse processo acarretou o surgimento das primeiras periferias, ou seja, bairros distantes do centro que as pessoas com menor poder aquisitivo passam a ocupar por não conseguirem “espaço” no ambiente construído central. Dessa forma, os formatos de reestruturação econômica geraram fenômenos brutais de exclusão social e marginalização, o que traduziu em uma urbanização periférica. Isso influenciou diretamente nos padrões de ocupação do solo e da apropriação dos recursos ambientais (MARCONDES, 1999). A divisão de imóveis de acordo com a classe social ainda é patente no am- biente urbano, pois, em contraste com as áreas planejadas e arborizadas, têm-se imensas áreas urbanas que chamamos de “degradadas”, onde vive a maioria da população, que habitam locais sem condições mínimas de moradias, tais como cortiços e favelas. Isso é um dos sinais da segregação da urbe, refletindo também um problema social (CARLOS, 2007). Locais onde há valorização por características físicas, como praias, relevo, paisagem e lagoas, abrigam a população com maior status social. Assim, é possí- vel que os proprietários promovam estruturas de luxo, fazendo com que os bairros periféricos não recebam o mesmo tratamento. O relevo não favorável e a distân- cia do centro urbano fazem com que as demais áreas urbanas abriguem casas populares, construídas pelo governo, tornando oneroso o investimento na infraes- trutura necessária, prejudicando a vida da população (CORRÊA, 1989). Agora que vimos sobre o processo de valorização da cidade, vamos entender o que é um espaço urbano? De acordo com Corrêa (1989), o espaço urbano pode 24 Política Urbana e Ambiental ser definido como o conjunto de atividades que impõem diferentes usos de terra, que podem ser considerados centrais, onde há maior concentração de população e serviços, industriais, onde destacam-se estruturas para atividades industriais, e residenciais, onde o maior uso se dá a partir de moradias. Além disso, visando à qualidade de vida da população, é necessária a aquisição de áreas destinadas ao lazer e demais estruturas sociais, como escolas e hospitais, sendo estas inseridas por toda a cidade. A utilização do modelo extremo de centralização e padronização de hábitos urbanísticos, principalmente a partir de iniciativas do poder público, faz com que haja a criação de ambientes que não suprem a verdadeira necessidade do local, fazendo com que, independentemente do tamanho das cidades, haja uma repeti- ção dos erros cometidos nos grandes centros urbanos (LANDIM, 2004). O espaço urbano é, dessa forma, construído a partir de generalizações técni- cas que desrespeitam e desconsideram outras possíveis soluções mais adequa- das às características locais. A qualidade urbana se perde comlegislações mal- feitas, que desconsideram as reais necessidades dos bairros, acarretando uma série de problemas ambientais, sociais e econômicos. Atualmente, muito discute-se acerca da melhor forma de planejar as cidades, considerando a compatibilização do uso do solo de acordo com as múltiplas faces da cidade. Mas qual o processo histórico por trás do modelo que adotamos atual- mente? Os primeiros manifestos relacionados ao ordenamento do solo urbano ini- ciaram a partir da carta de Atenas, em 1933, que apresentou diversos princípios do urbanismo modernista, tendo como principais ideais: acabar com as doenças ocasionadas pela ausência do sol nos núcleos urbanos, inclusão da natureza nas cidades, princípio de zoneamento urbano; além da ordenação do tráfego urbano. A partir da Carta de Atenas, que é um marco teórico do urbanismo moder- no, houve maiores possibilidades de construções no ambiente urbano. Entre- tanto, é importante ressaltar que os aspectos presentes na carta possibilitam uma boa habitabilidade somente se forem respeitados os princípios básicos do documento, ou seja, separando edifícios e os intercalando com ambientes ver- des (DANTAS, 2003). Outro aspecto importante abordado na Carta de Atenas é o incentivo ao sur- gimento de leis e diretrizes urbanísticas que não priorizem apenas o uso do solo urbano, mas também a compatibilização de todas as atividades cotidianas da ci- dade. Justamente por isso, o documento é conhecido como um dos percursores das políticas urbanas utilizadas no planejamento urbano atual. 25 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 Dentre os pontos importantes trazidos na carta, destacam-se as funções ur- banísticas que toda a cidade deve possuir (Figura 6), sendo elas a garantia da habitação, ou seja, de condições ideais de moradia, considerando os aspectos relacionados ao deslocamento para o trabalho e o acesso à infraestrutura urbana. O lazer também é ressaltado, principalmente incentivando o uso da vegetação urbana, visto que esta também auxilia no conforto térmico dos citadinos. FIGURA 6 – PILARES DA CARTA DE ATENAS DE 1933 FONTE: Adaptado de Corrêa (1989) Diante dessa união entre urbanistas, mudanças passaram a ocorrer no mun- do como um todo, pautando principalmente a melhoria da qualidade do ambiente urbano. Marcondes (1999) complementa, afirmando que a reestruturação econô- mica, sofrida a partir da crise da década de 1970, fez com que houvesse a rede- finição das formas de gestão ambiental existentes, nas quais foram incorporados discursos de qualidade de vida aos citadinos. Porém, há uma discussão importante acerca da temática. O que é o parcela- mento do solo urbano? De acordo com Corrêa (1989), o conceito pode ser enten- dido como a divisão de uma parcela de terras em lotes independentes, tendo ge- ralmente a finalidade de edificação. Nesse contexto, para que isso seja possível, é importante levar em consideração a legislação vigente. Antes de adentrarmos nesse assunto, você precisa entender alguns concei- tos importantes que estão relacionados à temática. Gleba pode ser entendida como a área do terreno que ainda não foi loteada ou desmembrada, podendo ser composta de áreas 26 Política Urbana e Ambiental públicas e privadas. Já o lote é o terreno que já possui infraestrutu- ra básica, tendo as dimensões mínimas definidas pelos instrumentos urbanísticos vigentes. Mas como transformar a gleba em lotes? Jus- tamente a partir do loteamento. Anteriormente, não se possuíam mecanismos específicos que regulavam essa disciplina. Foi a partir desse contexto que surgiu a Lei n. 6766/1979, um instrumen- to legal que trata especificamente acerca do parcelamento do solo urbano. Nesse sentido, define diretrizes relacionadas à concepção de loteamentos, desmembra- mentos, bem como à necessidade de infraestruturas básicas para a proposição de qualquer projeto, sendo elas as vias de circulação, mecanismos de escoamento das águas pluviais, bem como a rede de abastecimento de água e soluções relaciona- das ao esgotamento sanitário e energia elétrica (BRASIL, 1979). Além das condições mínimas exigidas para os loteamentos, outro ponto im- portante é que a lei do parcelamento do solo também contempla as áreas nas quais não poderá ser proposto o parcelamento, sendo elas: Parágrafo único - Não será permitido o parcelamento do solo: I - em terrenos alagadiços e sujeitos a inundações, antes de to- madas as providências para assegurar o escoamento das águas; Il - em terrenos que tenham sido aterrados com material nocivo à saúde pública, sem que sejam previamente saneados; III - em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se atendidas exigências específicas das auto- ridades competentes; IV - em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação; V - em áreas de preservação ecológica ou naquelas onde a po- luição impeça condições sanitárias suportáveis, até a sua corre- ção (BRASIL, 1979, Art. 3°). Viu a importância de uma política pública na definição e ordenamento do solo urbano? Você deve estar imaginando o porquê de tais ambientes não poderem ser ocupados. Os motivos são relacionados aos fatores ambientais do terreno, ou seja, potencial de deslizamentos, alagamentos, inundações, contaminação am- biental, dentre outros. Será que qualquer área pode ser loteada? Não, ela precisa seguir algumas diretrizes específicas, como a própria implementação das infraestruturas neces- sárias para a moradia adequada. Um ponto muito importante é que cabe aos mu- nicípios a definição do perímetro urbano, bem como as possíveis áreas de expan- são urbana. Tudo deve ser pensado de modo a compatibilizar o crescimento das cidades com a oferta dos serviços básicos. 27 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 Ainda, a lei do parcelamento do solo define que nenhum terreno poderá ter área inferior a 125 m², com testada frontal de 5 metros, deixando uma faixa míni- ma não edificável de 15 metros ao longo das faixas de domínio público, tal como as rodovias (Figura 7). O valor pode ser diminuído por decreto municipal. FIGURA 7 – EXEMPLO DE FAIXA MÍNIMA NÃO EDIFICÁVEL EM UMA RODOVIA FONTE: <https://www.egr.rs.gov.br/lista/469/faixa-de-dominio>. Acesso em: 28 out. 2021. Outro ponto polêmico trazido pela Lei do Parcelamento do Solo é a desti- nação de parte da área particular para equipamentos públicos comunitários, tal como praças e áreas de lazer, tendo o percentual definido de acordo com a den- sidade populacional e as leis urbanísticas. Inicialmente, podemos ter uma inter- pretação equivocada que associa uma doação de área particular para o poder público. Porém, você já pensou em como seria se isso não existisse? Se todas as áreas forem imputadas como propriedades particulares, onde ficaria a infraestru- tura urbana? É justamente por isso que ocorre essa necessidade de regulação. Também é factível a necessidade do cumprimento de outras diretrizes legais, tal como o Novo Código Florestal (Lei n. 12.651/2012), que contempla as Áreas de Proteção Permanente (APP), Reserva Legal (RL), dentre aquelas de uso restri- to, conforme as características ambientais. Nesse sentido, geralmente divide-se a área a ser loteada de acordo com os percentuais permitidos (Tabela 1). Tabela 1 – Exemplo de quadro de áreas de um loteamento. TABELA DE ÁREAS Destinação Área % da área total Observações Área total 225.565,84 m² 100 Área líquida dos lotes 131.265,09 m² 58 28 Política Urbana e Ambiental Área Institucional 21.858,14 m² 10 Lotes 4 e 5 Área destinada ao sistema viário 54.450,96 m² 24 Áreas Verdes 17.450 96 m² 8 Lote 10 Fonte: Paraná (2019). Disponível em: https://urbanismo.mppr.mp.br/arquivos/ File/MANUALLOTEAMENTOFINAL.pdf. Acesso em: 15 out. 2021. Observe na tabela de áreas que temos alguns conceitos interessantes, tal como área institucional,sistema viário e áreas verdes, sendo ambas de uso co- mum (Figura 8). FIGURA 8 – EXEMPLO DE LOTEAMENTO SEGUINDO A DEFINIÇÃO DE ÁREAS OBRIGATÓRIAS FONTE: <https://urbanismo.mppr.mp.br/arquivos/File/guia_ parcelamento_web.pdf>. Acesso em: 15 out. 2021. Você sabe quais são as áreas obrigatórias? De acordo com a Lei de Par- celamento do solo (BRASIL, 1979), são as áreas institucionais, destinadas a equipamentos comunitários (praças, salões, equipamentos de educação, saúde), https://urbanismo.mppr.mp.br/arquivos/File/MANUALLOTEAMENTOFINAL.pdf https://urbanismo.mppr.mp.br/arquivos/File/MANUALLOTEAMENTOFINAL.pdf 29 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 áreas de arruamento, que englobam as ruas e vias de circulação, e as áreas ver- des, que são espaços de domínio público que desempenhem a função ecológica. Como comentado anteriormente, os percentuais de cada variável dependerão da legislação municipal vigente Para se ter uma noção, a cidade de Florianópolis, em Santa Catarina, denota que no mínimo 35% da área a ser loteada deve ser constituída das infraestrutu- ras necessárias para a qualidade e vida urbana (SANTA CATARINA, 2015). Ficou curioso? Pesquise acerca dos critérios adotados em seu município. E vai uma dica: Cada cidade poderá adotar parâmetros distintos, e justamente por isso, de- ve-se ler e verificar o processo de cada local. Para conhecer mais sobre o parcelamento urbano do solo em Santa Catarina, acesse: https://urbanismo.mppr.mp.br/arquivos/File/ guia_parcelamento_web.pdf. Esse documento é o Guia do Parcela- mento do Solo Urbano do estado, apresentando perguntas e respos- tas, bem como consultas e modelos que podem auxiliar no entendi- mento desse processo. Como funciona o processo de parcelamento do solo urbano? A Lei n. 6776/1979 (BRASIL, 1979) também fala acerca disso. Porém, vale ressaltar que, atualmente, também é necessário que a área contemple o licenciamento ambien- tal, o qual, dependendo do tamanho e das características, pode ser municipal ou estadual. Tudo se inicia pela própria definição das diretrizes urbanísticas pelo mu- nicípio. Dessa forma, é importante que se contemple uma lei de parcelamento e uso do solo, que determinará o uso do solo, traçado viário, percentual de áreas disponibilizadas para equipamentos urbanos e comunitários, dentre outras infor- mações pertinentes. A partir disso, o proprietário deve providenciar o projeto de ocupação do local de acordo com o supracitado nas legislações municipais, estaduais e federais. O início do processo também é marcado pela apresentação de documentos im- portantes, como a matrícula atualizada da gleba, a certidão negativa de tributos municipais, termos de garantia da execução das obras e as licenças ambientais. Aqui também é importante já possuir informações como as plantas, memorial des- critivo, cronograma de execução de obras e demais informações que garantam o pleno funcionamento do empreendimento. 30 Política Urbana e Ambiental Com isso, profissionais competentes devem avaliar o documento e aprová-lo, caso esteja condizente com as legislações pertinentes. Se isso ocorrer, a prefei- tura emitirá um decreto municipal que permitirá ao proprietário o registro imobili- ário no cartório de registro de imóveis (CRI). Cabe ao cartório a verificação dos documentos. Se houver uma não conformidade, o Ministério público ou o Juízo de Registro devem averiguar o ocorrido e tomar as medidas cabíveis. Todo esse pedido deve ser feito em até 180 dias, contados a partir da aprovação do projeto pelo decreto municipal. Se tudo estiver conforme, inicia-se o registro do parcelamento. Você sabia que só a partir desse momento os lotes podem ser comercializados? A partir des- se registro, abrem-se as matrículas dos lotes. Por isso, caso algum dia você for adquirir um terreno, é de suma importância verificar se já ocorre o número das matrículas, uma vez que isso garante a regularidade do lote. E após tudo isso, o que acontece? A verificação das obras. O município deve vistoriar o local. Caso tudo tenha sido executado de maneira condizente com o projeto aprovado, um profissional técnico emitirá um termo de vistoria, que condi- ciona a liberação do alvará de edificação. Se algo não ocorreu conforme o estipu- lado pelos critérios técnicos, ocorre a necessidade de adequação. Enquanto isso não for feito, o alvará não será emitido. O fluxograma de aprovação de projetos pode ser observado na figura a seguir (Figura 9). FIGURA 9 – ETAPAS DO PEDIDO DE PARCELAMENTO DO SOLO URBANO DE ACORDO COM A LEI N. 6766/1979 FONTE: A autora (2021) 31 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 Outra forma trazida pela legislação acerca do parcelamento do solo urba- no é o desmembramento. Você sabe o que significa? De acordo com a Lei n. 6766/1979 (BRASIL, 1979), o desmembramento é aquele que permite a subdivi- são de gleba em lotes destinados à edificação, no qual é possível o aproveitamen- to do sistema viário existente, ou seja, não é necessária a abertura de novas vias, ou prolongamento, modificação ou ampliação da infraestrutura já existente. O desmembramento é bastante comum nas áreas mais antigas dos núcleos urbanos, haja vista que, atualmente, os lotes estão cada vez menores, seguindo a recomendação mínima da legislação, que é de 125 m². Dessa forma, ao anali- sarmos as primeiras áreas ocupadas em uma cidade, era comum a ocorrência de terrenos de 400 m² a 500 m². Nesse caso, para que o proprietário consiga maior lu- cro, ele pode desmembrar o terreno. Por exemplo, se uma área possui 432 m², com extensão de 18 m por 24 m, é possível converter o lote em dois terrenos, que terão 216 m² cada. É possível também vender apenas parte do terreno, deixando-os em tamanhos distintos, desde que se cumpra a legislação federal e municipal existente. Vale ressaltar que o processo também precisa passar por aprovação muni- cipal e pelo registro de imóveis, sendo ambos os órgãos os responsáveis pela verificação do cumprimento dos requisitos legais aplicáveis. E quando um proprietário rural deseja lotear suas terras? Será que isso é possível? Sim, porém, para que uma área rural possa se transformar em urbana, ela deve estar definida no zoneamento da cidade, estando em consonância com o plano diretor. Além disso, deve seguir a Instrução INCRA 17 B/1980 (INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA, 1980). Falamos em vários momentos acerca da competência do município acerca do parcelamento do solo urbano. Porém, como isto é regulamentado na esfera municipal? Justamente a partir de Leis Municipais de Parcelamento do Solo. Toda política pública deve ser formulada a partir do entendimento da dinâmica do local. A implantação de leis de uso e parcelamento do solo prevê recuos laterais e frontais, assim como o dimensionamento mais rígido de largura de vias públi- cas e calçadas para pedestres, além da exigência de áreas livres e institucionais (LANDIM, 2004) Dessa forma, é necessária a realização de estudos técnicos que norteiem o uso e ocupação dos solos. Com isso, o intuito da prefeitura é normatizar as construções e definir a forma de ocupação de terrenos particulares. Com isso, o zoneamento pode ser feito de acordo com as características do meio urbano, compatibilizando assim o uso coerente do solo. As cartas de uso do solo são fundamentais para o estudo urbano e a delimi- tação das paisagens presentes. Com essa ferramenta, é possível inferir sobre a 32 Política Urbana e Ambiental qualidade ambiental urbana, e também planejar seu uso de acordo com o tipo de solo e demais características (NUCCI, 2008). De acordo com Marcondes (1999), para estudos urbanos, é necessário o en- tendimento da interação entre os níveis topográficos regionais e setoriais, as de- clividades, amplitudes topográficas, redes de drenagem, dados litológicos,clima e vegetação. Contudo, ainda há de se considerar as variáveis urbanísticas, enten- dendo assim a ligação entre elas. Entretanto, atualmente, as legislações que definem os padrões de ocupa- ção urbana muitas vezes acabam ficando restritas ao entendimento da configura- ção física da paisagem, não incorporando toda a problemática urbana. Com isso, ocorre uma homogeneização das técnicas propostas que não contribuem efetiva- mente com a melhoria da qualidade de vida das pessoas (LANDIM, 2004). Tal fato é resultado de diversos fatores, como a política de loteamentos, que, por meio da iniciativa privada recorta o solo em faixas, deixando alguns locais sem ocupação populacional; os baixos coeficientes de densidade estipulados pelos planejadores, visando evitar uma ocupação intensiva que prejudique a ca- pacidade de suporte da infraestrutura urbana; normas que regulamentam limites máximos de construção e excluem os mínimos; entre outros. Esses fatores de- sencadearam cidades com bairros de baixas densidade, o que aumenta o custo de moradia dos centros urbanos brasileiros e outras áreas com elevado contin- gente populacional, inflando os sistemas públicos de infraestrutura. Diante desse cenário, as políticas públicas devem ser pensadas para satis- fazer a necessidade local dos bairros, considerando as variáveis ambientais eco- nômicas e sociais. Além disso, a gestão deve ser equitativa e coerente com os planos propostos, para que estes se tornem efetivos. Nucci (2008) complementa, afirmando que, como as leis de mercado não são capazes de organizar o uso do solo com base na qualidade de vida da população, a lei de zoneamento não deve acompanhar essas tendências, mas, sim, se guiar por parâmetros rígidos que assegurem uma boa qualidade de vida a todos. Se isso não for feito, a maior parte da população terá que conviver com o mau plane- jamento urbano, que é incompatível com uma boa qualidade ambiental. 2 – O crescimento das cidades culminou em inúmeros processos que necessitam de legislações que direcionem a ocupação urbana, como é o caso da Lei n. 6766/1979, que dita acerca do parcela- mento do solo urbano. Nesse sentido, imagine uma situação hi- 33 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 potética na qual você trabalha no setor de regularização fundiária de um município de 50 mil habitantes e recebe um processo de loteamento urbano que consistirá em uma área de 300.565,84 m², sendo que 50% se localizam em uma área úmida da região, na qual já foram registrados alagamentos nos meses de maiores índices pluviométricos. O projeto não possui qualquer alusão a estratégias de mitigação da situação O proprietário garante que deixará os espaçamentos relacionados ao uso comum, porém, no documento, nota-se que lotes estarão inseridos na área com pos- sibilidade de inundação. Diante desse contexto, é possível apro- var o empreendimento? R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4 AS LEGISLAÇÕES MUNICIPAIS E A PROTEÇÃO AMBIENTAL A proteção do meio ambiente por meio de legislações específicas vem sendo discutida há muito tempo, principalmente quando ocorrem as catástrofes ambien- tais que culminam em acordos e tratados internacionais. Com isso, o Brasil possui inúmeros mecanismos legais que podem ser aplicados para a proteção ambiental. A década de 1980 foi marcada pelos questionamentos utilizados na gestão ambiental dos municípios, produzindo como indagação principal o papel do es- tado sobre a produção social do espaço. Segundo Marcondes (1999), o estado deve intervir no ambiente urbano visando amenizar a distribuição desigual de re- cursos, fazendo com que seja necessária a inclusão de instrumentos de análises habitacionais, visando interpor em casos de exclusão social. Nesse contexto, no Brasil, surge uma importante política pública, a Constitui- ção Federal de 1988 (BRASIL, 1988), que é considerada o principal documento legal na esfera nacional. De acordo com esse mecanismo, compete tanto à União como aos estados e municípios a proteção do meio ambiente, o combate à polui- 34 Política Urbana e Ambiental ção e a preservação dos meios bióticos e abióticos. Tal legislação define, em seu Artigo 30, a competência dos municípios: Art. 30. Compete aos Municípios: I – legislar sobre assuntos de interesse local; II – suplementar a legislação federal e a estadual no que cou- ber; III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV – criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de con- cessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI – manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental; VII – prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territo- rial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamen- to e da ocupação do solo urbano; IX – promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadu- al (BRASIL, 1988, Art. 30). Com essa definição, os municípios começaram a ter um papel fundamental no planejamento urbano, uma vez que é de competência da entidade municipal o planejamento, controle do uso, parcelamento e regulação da ocupação do solo urbano. Entretanto, vale ressaltar que, de acordo com Landim (2004), da mesma for- ma que a sociedade não é um elemento estático, a cidade também se muta e desenvolve segundo a dinâmica populacional, construindo novos espaços e modi- ficando a paisagem. Com isso, deve ser planejada considerando esse fato. Na atualidade, há uma gama de possibilidades de intervenção, fortalecendo assim a gestão ambiental e a racionalidade nas políticas de controle do espaço, tendo como consequência diversas ferramentas que podem ser empregadas na urbe. Contudo, como vivemos em um mundo dinâmico, este sempre sofre mu- danças, fazendo com que seja necessário um ciclo contínuo de desenvolvimento (MARCONDES, 1999). Então, qual é o papel do município na proteção ambiental? Seguindo as pre- missas da Constituição, o município pode, além de garantir o cumprimento das le- gislações na esfera federal e estadual, também executar e garantir o cumprimento das leis municipais. Ainda, o poder municipal pode ficar responsável pela autoriza- 35 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 ção da supressão da vegetação urbana, de acordo com as legislações específicas de cada estado, bem como o seu manejo adequado, além do controle de produção, comercialização e técnicas que envolvam a garantia da qualidade ambiental. No âmbito do licenciamento ambiental, a Lei complementar n. 140 de 2011 (BRASIL, 2011) trouxe um aspecto importante, afirmando que o órgão com com- petência para emitir licenças ambientais também pode fiscalizar, dando essa pos- sibilidade ao poder municipal. Nesse sentido, tal documento legal denota como competência comum os seguintes aspectos: Constituem objetivos fundamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, no exercício da competência comum a que se refere esta Lei Complementar: I – proteger, defender e conservar o meio ambiente ecologi- camente equilibrado, promovendogestão descentralizada, de- mocrática e eficiente; II – garantir o equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico com a proteção do meio ambiente, observando a dignidade da pessoa humana, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais; III – harmonizar as políticas e ações administrativas para evi- tar a sobreposição de atuação entre os entes federativos, de forma a evitar conflitos de atribuições e garantir uma atuação administrativa eficiente; IV – garantir a uniformidade da política ambiental para todo o País, respeitadas as peculiaridades regionais e locais (BRA- SIL, 2011, Art. 3º). E como garantir isso? É nesse momento que surge um assunto muito impor- tante acerca da temática, que são os instrumentos de cooperação institucional, abrangendo os consórcios públicos, convênios, acordos de cooperação técnica, fundos públicos e privados, dentre outros mecanismos que buscam viabilizar a adequação ambiental de municípios. Por que isso é importante? Devido ao fato de que grande parte dos municí- pios brasileiros indispõem de profissionais técnicos capacitados para fiscalizar e executar planos municipais relacionados ao meio ambiente. A partir de consór- cios, essa prática é facilitada, uma vez que permite que um conjunto de municí- pios atuem e compartilhem equipe técnica qualificada, ou métodos efetivos de controle da poluição ambiental. Interessante, não? No âmbito das competências no rol do licenciamento ambiental trazidas pela Lei Complementar 140/2011 (BRASIL, 2011), são definidas as áreas de abran- gência de acordo com as características das atividades a serem licenciadas. Por exemplo, compete à União o licenciamento ambiental de atividades localizadas em mais de dois estados. 36 Política Urbana e Ambiental Já ao município, as atividades de licenciamento ficam restritas aos empreen- dimentos que possam ocasionar impacto ambiental no âmbito regional, de acordo com as tipologias previamente definidas pelos Conselhos Estaduais do Meio Am- biente, condicionando essa escolha ao porte, potencial poluidor e natureza da ati- vidade. Além disso, cabe ao poder municipal o licenciamento de empreendimen- tos localizados em Unidades de Conservação Municipais, excetuando-se, nesse caso, as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) (BRASIL, 2011). Segundo a lei Complementar n. 140/11 (BRASIL, 2011, s.p) “Algumas atividades não são submetidas ao procedimento de licen- ciamento ambiental; no entanto, requerem a emissão de licenças e autorização específica do órgão ambiental competente, tais como uso e manejo de fauna silvestre, supressão e manejo da vegetação, transporte, por qualquer meio, e o armazenamento de madeira, le- nha, carvão e outros produtos ou subprodutos florestais oriundos de florestas de espécies nativas, transporte de produtos perigosos.” Outro aspecto trazido por essa legislação é a autorização de supressão ve- getal, bem como a aprovação de manejo. Com isso, de acordo com o artigo 9° da referida legislação, os órgãos ambientais municipais poderão aprovar a supressão e o manejo de vegetação nas Unidades de Conservação delimitadas e aprovadas pelo próprio município, exceto em APAs, bem como a retirada de vegetação e o manejo de florestas alocadas em empreendimentos licenciados ou autorizados na esfera municipal (BRASIL, 2011). E a fiscalização? Também é abordada de maneira interessante nessa legisla- ção, uma vez que ela denota a competência de fiscalizar do licenciador. Ou seja, se o órgão ambiental aprovou determinado empreendimento, este poderá atuar na fiscalização dele. Entretanto, isso não impede que demais entes federativos possam averiguar inconformidades. Vale ressaltar que, anteriormente, alguns aspectos relacionados ao licencia- mento eram norteados pela Resolução CONAMA 237/1997 (BRASIL, 1997), e a Lei Complementar 140/2011 (BRASIL, 2011) é, de certa forma, inovadora por finalmen- te regulamentar a competência dos entes federativos na proteção ambiental. Já falamos das competências envolvendo as secretarias do meio ambiente e os órgãos municipais. Agora, vamos entender a atuação destes no controle dos 37 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 passivos ambientais? Iniciaremos por um agente de degradação muito significati- vo: os resíduos sólidos urbanos. Nesse cenário, temos uma legislação muito importante, a qual foi aprova- da em 2010 após muitas discussões: a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), regida pela Lei n. 12.305/2010 e regulamentada pelo Decreto Federal n° 7.404/2010 (BRASIL, 2010), que dispõe acerca da gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. Nesse documento, é definida a articulação desde o ní- vel federal até o local (Figura 10). FIGURA 10 – HIERARQUIA ENTRE OS INSTRUMENTOS DE PLANEJAMENTO E GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS FONTE: <https://www.scielo.br/j/urbe/a/ SkvMCfYcYNpgKgdfnCp8fcT/?lang=pt#>. Acesso em: 15 out. 2021. E quais são os principais objetivos da PNRS? Podemos destacar a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental, estímulos que envolvem a não gera- ção, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos pautadas na disposição final adequada, o incentivo à reciclagem, bem como a gestão inte- grada dos resíduos (BRASIL, 2010). É nesse momento que se incluem as respon- sabilidades municipais. 38 Política Urbana e Ambiental Nesse contexto, seguindo o texto do documento legal, as principais respon- sabilidades destinadas aos municípios incluem a elaboração, implantação moni- toramento e revisão dos Planos Municipais de Gestão Integrada dos Resíduos Sólidos, citados nos artigos 18 e 19 da PNRS (BRASIL, 2010). Tal plano é exigido para que os municípios possam acessar os recursos des- tinados à limpeza pública e manejo de resíduos sólidos. Um ponto que é muito im- portante é a possibilidade de consórcios intermunicipais que permitem articulação regional. Tudo isso é especialmente importante quando consideramos que, no cenário nacional, temos inúmeros municípios com população inferior a 20 mil ha- bitantes, o que dificulta, no âmbito de recursos e profissionais técnicos, a gestão coerente dos resíduos sólidos urbanos. A lei também traz que esses municípios pequenos (até 20 mil habitantes) podem elaborar planos simplificados, desde que não estejam inseridos em áreas turísticas ou unidades de conservação. Interes- sante, não é? O prazo para essa adequação era 2 de agosto de 2012. Porém, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Resíduos (SNIR, 2021), em um levantamento realizado em 2017, demonstrou-se que 54,8% dos muni- cípios já possuíam o Plano Integrado de Resíduos Sólidos (PMIRS), sendo esse documento encontrado com maior frequência em cidades maiores, acima de 500 mil habitantes, onde esse índice atinge 83,3%. A região Sul do Brasil se destaca como a que possui mais municípios adeptos (78,9%), posteriormente, tem-se o Centro-Oeste (58,5%) e o Sudeste (56,6%). Vale ressaltar que a ideia é que esses planos sejam elaborados em um horizonte de atuação de 20 anos, sendo que, prioritariamente, devem ser revisados ou atualizados a cada quatro anos. Mas qual é o conteúdo mínimo para a elaboração desse documento? O con- teúdo básico é trazido pela própria Política Nacional de Resíduos Sólidos. No en- tanto, vale ressaltar que o nível de detalhamento irá depender das especificidades de cada região, bem como da possibilidade de consórcios e convênios. A estru- turação do documento segue as premissas básicas relacionadas à elaboração do diagnóstico do local, que deverá levar em consideração todas as especificidades do município, bem como as características da geração. Também é importante in- cluir a população nesse processo, de maneira a garantir uma gestão integrada. Por fim, a ideia é elaborar um plano de ação, que será a base para a implemen- tação de tudo o que foi planejado para a área em questão, conformeestipula o artigo 19 (BRASIL, 2010): Art. 19. O plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos tem o seguinte conteúdo mínimo: I – diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo território, contendo a origem, o volume, a caracte- rização dos resíduos e as formas de destinação e disposição 39 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 final adotadas; II – identificação de áreas favoráveis para disposição final am- bientalmente adequada de rejeitos, III – identificação das possibilidades de implantação de solu- ções consorciadas ou compartilhadas com outros Municípios, considerando, nos critérios de economia de escala, a proximi- dade dos locais estabelecidos e as formas de prevenção dos riscos ambientais; IV – identificação dos resíduos sólidos e dos geradores sujeitos a plano de gerenciamento específico nos termos do art. 20 ou a sistema de logística reversa na forma do art. 33, observadas as disposições desta Lei e de seu regulamento, bem como as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS; V – procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem adotados nos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, incluída a disposição final ambien- talmente adequada; VI – indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos; VII – regras para o transporte e outras etapas do gerencia- mento de resíduos sólidos de que trata o art. 20, observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS e demais disposições pertinentes da legislação federal e es- tadual; VIII – definição das responsabilidades quanto à sua implemen- tação e operacionalização, incluídas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos a que se refere o art. 20 a cargo do poder público; IX – programas e ações de capacitação técnica voltados para sua implementação e operacionalização; X – programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de re- síduos sólidos; XI – programas e ações para a participação dos grupos inte- ressados, em especial das cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda, se houver; XII – mecanismos para a criação de fontes de negócios, em- prego e renda, mediante a valorização dos resíduos sólidos; XIII – sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de cobrança desses serviços, XIV – metas de redução, reutilização, coleta seletiva e recicla- gem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequa- da; XV – descrição das formas e dos limites da participação do po- der público local na coleta seletiva e na logística reversa, res- peitado o disposto no art. 33, e de outras ações relativas à res- ponsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; XVI – meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito local, da implementação e operacionalização dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos de que trata o art. 20 e dos sistemas de logística reversa previstos no art. 33; 40 Política Urbana e Ambiental XVII – ações preventivas e corretivas a serem praticadas, in- cluindo programa de monitoramento; XVIII – identificação dos passivos ambientais relacionados aos resíduos sólidos, incluindo áreas contaminadas, e respectivas medidas saneadoras; XIX – periodicidade de sua revisão, observado prioritariamente o período de vigência do plano plurianual municipal. XIX – periodicidade de sua revisão, observado o período máxi- mo de 10 (dez) anos. Ainda nesse aspecto, dependendo do supracitado no órgão ambiental esta- dual competente, também cabe aos municípios a exigência do Plano de Gerencia- mento de Resíduos Sólidos (PGRS) para empreendimentos urbanos de impacto regional. O conteúdo desse documento é definido de acordo com o órgão munici- pal responsável. Como já citado anteriormente, é muito importante que o município busque parcerias para solucionar a problemática dos Resíduos Sólidos Urbanos, uma vez que, dessa forma, é possível mitigar os impactos ambientais que a destinação final inadequada acarreta no meio ambiente. Além dos resíduos sólidos urbanos, outras variáveis ambientais devem ser con- sideradas na esfera municipal, como é o caso da arborização urbana (Figura 11). Entende-se como arborização toda e qualquer vegetação inseri- da nas ruas e avenidas das cidades brasileiras. Parques e praças ve- getadas podem ser consideradas áreas verdes urbanas, sendo que, para isso, é necessário que sejam constituídas predominantemente por vegetação (BARGOS; MATIAS, 2011). 41 Políticas Urbanas e o Meio AmbientePolíticas Urbanas e o Meio Ambiente Capítulo 1 FIGURA 11 – ARBORIZAÇÃO URBANA EM UMA AVENIDA, COM DESTAQUE PARA O IPÊ BRANCO (TABEBUIA ROSEOALBA (RIDL.) SANDWITH) FONTE: <https://www.flickr.com/photos/ mercadanteweb/15052080149>. Acesso em: 14 jan. 2022. Temos inúmeros benefícios associados a essa variável urbana, tal como o conforto térmico por intermédio do sombreamento, embelezamento, melhoria da qualidade do ar, diversificação do ecossistema local, dentre outros. Contudo, caso a vegetação urbana não seja planejada de maneira coerente, ela poderá acarretar conflitos com os equipamentos públicos, tal como rompimento de calçadas e tubu- lações, interferências relacionadas a fiação elétrica etc. De acordo com Gonçalves e Paiva (2013), no planejamento urbano, a ar- borização é vista como um elemento secundário. O cenário brasileiro prioriza a construção da cidade no que tange a suas vias, loteamentos, sistemas de energia e saneamento, para depois preocupar-se com a vegetação urbana, fazendo com que esta seja implantada apenas quando a cidade já se encontra em pleno fun- cionamento. Assim, é comum a obtenção de problemas relacionados às arvores, pois estas não foram selecionadas de acordo com as técnicas necessárias, não compatibilizando com o ambiente em que estão inseridas. Diante desse cenário, é fundamental a elaboração de Planos de Arborização Urbana, nos quais se busca definir as diretrizes de planejamento, implementação e manejo da vegetação do município. A elaboração desses documentos não é uma tarefa fácil, uma vez que exige um levantamento de dados detalhados. Nesse caso, alguns municípios também adotam os consórcios como uma possibilidade. 42 Política Urbana e Ambiental De acordo com Basso e Correia (2014), só é possível maximizar os bene- fícios da presença da vegetação nas cidades a partir de estudos que subsidiem planos de arborização urbana, levando em consideração desde a concepção da muda ao seu plantio e manejo na malha. Além disso, as condições do ambiente urbano devem proporcionar às mudas o desenvolvimento adequado, para que, ao longo do tempo, seja possível explorar a estética e o conforto ambiental propor- cionado por elas. Mas qual é o conteúdo básico de um Plano de Arborização urbana? Isto irá depender do termo de referência do órgão ambiental competente. Consulte sem- pre esse documento para que você possa elaborar documentos condizentes com a legislação local. Contudo, a estrutura básica está elencada na figura abaixo (Fi- gura 12): FIGURA 12 – ESTRUTURA BÁSICA DE PLANOS DE ARBORIZAÇÃO URBANA FONTE: A autora (2021) Falando em vegetação, será que somente as árvores alocadas no meio urba- no são importantes? Não! Também temos as áreas de relevante interesse ecológi- co, que são as Unidades de Conservação. Tal disciplina é regulada pela Lei n. 9985/2000, que institui o Sistema Nacio- nal de Unidades de Conservação (SNUC) (BRASIL, 2000). Nesse sentido, as Uni- dades de Conservação podem ser de Uso Sustentável
Compartilhar