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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS CURSO DE GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO MATHEUS GUEDES VIEIRA AS ASSEMBLEIAIS LEGISLATIVAS E O FORTALECIMENTO DA TRANSPARÊNCIA PÚBLICA: INVESTIGANDO PORTAIS ELETRÔNICOS DAS ASSEMBLEIAS LEGISLATIVAS DO NORDESTE BRASILEIRO Natal, 2017 MATHEUS GUEDES VIEIRA AS ASSEMBLEIAIS LEGISLATIVAS E O FORTALECIMENTO DA TRANSPARÊNCIA PÚBLICA: INVESTIGANDO PORTAIS ELETRÔNICOS DAS ASSEMBLEIAS LEGISLATIVAS DO NORDESTE BRASILEIRO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Coordenação do curso de graduação em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Administração. Orientador: Thiago Ferreira Dias, Dr. Natal, 2017 Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA Vieira, Matheus Guedes. As assembleias legislativas e o fortalecimento da transparência pública: investigando portais eletrônicos das assembleias legislativas do nordeste brasileiro / Matheus Guedes Vieira. - 2017. 117f.: il. Monografia (Graduação em Administração) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Ciências Administrativas. Natal, RN, 2017. Orientador: Prof. Dr. Thiago Ferreira Dias. 1. Administração Pública - Monografia. 2. Assembleias Legislativas – Monografia. 3. Lei de Acesso à Informação – Monografia. 4. Transparência - Monografia. I. Dias, Thiago Ferreira. II. Título. RN/BS/CCSA CDU 352 MATHEUS GUEDES VIEIRA AS ASSEMBLEIAS LEGISLATIVAS E O FORTALECIMENTO DA TRANSPARÊNCIA PÚBLICA: INVESTIGANDO PORTAIS ELETRÔNICOS DAS ASSEMBLEIAS LEGISLATIVAS DO NORDESTE BRASILEIRO Monografia apresentada e aprovada em 5 de Dezembro de 2017, pela banca examinadora composta pelos seguintes membros: ______________________________________ Thiago Ferreira Dias, Prof. Dr. Orientador _______________________________________ Hironobu Sano, Prof. Dr. Examinador ________________________________________ Marcos Fernando de Machado Medeiros, Prof. Dr. Examinador Natal, 5 de Dezembro de 2017. AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pela força e mesmo pelas perguntas sem respostas. Apesar de não ter tantas respostas a seu respeito e a respeito de sua lógica, aprendi que são as perguntas que nos movem. Minha gratidão aos meus pais, sem os quais meus sonhos não poderiam se concretizar. Como diz a canção, “nunca [...] vou estar sozinho. Por onde ando reconheço o destino. Por onde olho eu tenho esperanças. Por onde inclino a minha direção, tenho vocês.” Agradeço à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, berço do conhecimento, ambiente no qual pude crescer intelectualmente. Ao corpo docente do Curso de Administração pela preocupação em formar profissionais e cidadãos sensíveis às demandas da sociedade. Ao meu orientador, Professor Thiago, por sua postura transparente, clara e didática ao longo desses quatro anos de graduação e, em especial, neste momento de trabalho árduo, me ajudando a construir este trabalho de conclusão de curso. Gratidão, também, aos meus amigos e familiares, de perto e de longe, que torcem pelo meu êxito profissional e pessoal. Finalmente, dedico este trabalho a todos que acreditam e lutam por uma sociedade mais equilibrada, consciente e coerente. Obstaculizar a comunicação é transformar os homens em quase “coisa” e isso é tarefa e objetivo dos opressores, não dos revolucionários. (Paulo Freire) SUMÁRIO 1 PARTE INTRODUTÓRIA ................................................................................................. 13 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA ........................................................................ 14 1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA ............................................................................................ 15 1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 16 2 REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................................. 17 2.1 NOVOS CONCEITOS EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA............................................ 17 2.1.1 As relações entre Accountability e Transparência no novo contexto democrático .. 17 2.1.2 A lei de Acesso à Informação e os avanços de Governo Aberto e Eletrônico ........... 24 3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 33 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................. 33 3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA ............................................................................................ 34 3.3 DADOS E INSTRUMENTO DE COLETA ...................................................................... 35 3.4 FORMA DE ANÁLISE E TRATAMENTO ESTATÍSTICO ........................................... 39 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................................... 42 4.1 PANORAMA INDIVIDUAL ........................................................................................... 43 4.1.1 Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte ........................................................ 43 4.1.2 Assembleia Legislativa do Ceará.................................................................................. 47 4.1.3 Assembleia Legislativa de Pernambuco ...................................................................... 52 4.1.4 Assembleia Legislativa de Sergipe ............................................................................... 60 4.1.5 Assembleia Legislativa do Maranhão .......................................................................... 67 4.1.6 Assembleia Legislativa da Bahia .................................................................................. 72 4.1.7 Assembleia Legislativa da Paraíba .............................................................................. 73 4.1.8 Assembleia Legislativa do Piauí ................................................................................... 80 4.1.9 Assembleia Legislativa do Alagoas .............................................................................. 86 4.2 PANORAMA GERAL SOB A ÓTICA DAS DIMENSÕES ............................................ 93 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 96 REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 98 APÊNDICES ......................................................................................................................... 105 RESUMO O reconhecimento do acesso à informação pública enquanto direito fundamental está presente em um amplo leque de normas jurídicas – constitucional e infraconstitucionais – na perspectiva de fortalecer o controle social. Neste sentido, leis como a de Acesso à Informação, surgiram buscando orientar de maneira mais específica sobre as obrigações às quais os componentes da Administração Pública estão submetidos no que diz respeito à prestação de contas dos atos praticados na administraçãodos bens públicos. O presente trabalho busca, portanto, a partir do seu caráter quantitativo e qualitativo, contribuir com um estudo a respeito da realidade dos portais eletrônicos do Legislativo, com objetivo de perceber como se dá o grau da transparência e o accountability pelas Assembleias Legislativas. Na perspectiva de se investigar, sobretudo, a transparência ativa das assembleias legislativas do nordeste brasileiro, a partir de uma pesquisa exploratória e descritiva, se estruturou um instrumento de avaliação próprio baseado no Índice de Transparência do Poder Legislativo (BRASIL, 2012). Por meio deste instrumento e de um levantamento, investigou-se uma série de aspectos a respeito de transparência pública e qualidade da informação, considerando-se as exigências da Lei de Acesso à Informação e outras leis que tratam do tema. Ficou evidente que os portais eletrônicos da referida amostra ainda precisam percorrer um razoável caminho para seguir as exigências da legislação pertinente e preceitos gerais da literatura a respeito de transparência, accountability, governo eletrônico e qualidade da informação. Aspectos importantes como informações íntegras, atualização, acesso ágil e sem barreiras, formatos de documentos variados ainda precisam ser melhores trabalhados nas políticas de transparência das instituições. Além disso confirmou-se as ideias de Torres (2004) uma vez que a mera disponibilização de informação não se configura no único desafio no fortalecimento da democracia e da Administração Pública. Desafios mais expressivos foram observados nos portais das assembleias nordestinas e dizem respeito a como a informação é posta no sentido de facilitar o processamento dela pelo maior número de pessoas que compõe a sociedade civil. PALAVRAS-CHAVES: Administração Pública. Assembleias Legislativas. Lei de Acesso à Informação. Transparência. ABSTRACT The recognition of access to public information as a fundamental right is present in a wide range of legal norms - constitutional and infraconstitutional - from the perspective of strengthening social control. In this sense, laws such as Access to Information have emerged seeking to provide more specific guidance on the obligations to which the Public Administration components are subject regarding the accountability of the acts practiced in the administration of public property. This study aims, therefore, from its quantitative and qualitative feature, to contribute to a study about the reality of the legislative´s eletronic portals, in order to perceive how does the degree of transparency and accountability by the Legislative Assemblies happens. From the perspective of investigating especially the active transparency of legislative assemblies in Brazilian northeastern, from exploratory and descriptive research was structured its own assessment tool based on the Legislative Branch Transparency Index (FEDERAL SENATE, 2012). Through this instrument and a survey, a series of aspects were investigated regarding public transparency and information quality, considering the requirements of the Law on Access to Information and other laws that deal with the subject. It became evident that the electronic portals of the referred sample still need to go through a reasonable way to follow the relevant legislation requirements and general precepts of the literature regarding transparency, accountability, e-government and information quality. Important aspects such as honest and up- to-date information, agile and barrier-free access to varied document formats still need to be better handled in institutions' transparency policies. Furthermore, the ideas of Torres (2004) were confirmed, since the mere provision of information is not the only challenge in strengthening democracy and public administration. More expressive challenges have been observed in the portals of the Northeastern assemblies and concern how the information is placed in effort to facilitate its processing, by the greater number of people that compose the civil society. KEYWORDS: Public Administration. Legislative Assemblies. Access to information´s law. Transparency. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Portal da Transparência da ALRN ............................................................................ 43 Figura 2- Informações sobre Audiências Públicas na ALRN................................................... 45 Figura 3- Acesso a Informações sobre Licitações na ALRN ................................................... 46 Figura 4- Informações sobre Folha de Pagamento (ALCE) ..................................................... 49 Figura 5- Plano de Cargos e Salários (ALCE) ......................................................................... 50 Figura 6 - Instrumento para avaliar seções do portal eletrônico (ALCE) ................................ 51 Figura 7- Agenda da Alepe ....................................................................................................... 52 Figura 8 - Serviço de Informação ao Cidadão da Alepe........................................................... 53 Figura 9 - Tabelas de Remuneração da Alepe .......................................................................... 55 Figura 10 - Despesas na Alepe ................................................................................................. 56 Figura 11 - Portal de Compras da Alepe .................................................................................. 57 Figura 12 - Demonstrativo de Licitações (Alepe) .................................................................... 58 Figura 13 - Listagem de Servidores (Alepe) ............................................................................ 59 Figura 14 - Página de Enquetes (Alepe) ................................................................................... 60 Figura 15 - Folha de Pagamento da ALSE ............................................................................... 61 Figura 16 - Demonstrativo da Receita (ALSE) ........................................................................ 62 Figura 17 - Formulário para pedido de acesso à informação (ALSE) ...................................... 63 Figura 18 - Seção sobre Audiências Públicas (ALSE) ............................................................. 64 Figura 19 - Seção para Participação Popular (ALSE) .............................................................. 65 Figura 20 - Demonstrativo da despesa de pessoal (ALSE) ...................................................... 66 Figura 21 - Seção sobre audiências públicas (ALMA)............................................................. 67 Figura 22 - Seção sobre Relatórios de Gestão Fiscal (ALMA) ................................................ 69 Figura 23 - Seção Ouvidoria (ALMA) ..................................................................................... 70 Figura 24 - Informações sobre Acessibilidade (ALMA) .......................................................... 71 Figura 25 - Folha de pagamento (ALMA)................................................................................ 71 Figura 26 - Execução orçamentária por grupo de despesas (ALBA) ....................................... 72 Figura 27 - Seção sobre transparência (ALBA) ....................................................................... 73 Figura 28 - Agenda de plenário e eventos (ALPB) .................................................................. 74 Figura 29 - Serviço de Solicitação de Informação (ALPB)...................................................... 75 Figura 30 - Sistema de atendimento ao cidadão (ALPB) ......................................................... 76 Figura 31 - Sistema de atendimento ao Cidadão (ALPB) ........................................................77 Figura 32 - Dúvidas frequentes (ALPB)................................................................................... 77 Figura 33 - Tabela de cargos efetivos (ALPB) ......................................................................... 78 Figura 34 - Página inicial do portal da ALPB .......................................................................... 79 Figura 35 - Seção do gabinete online (ALPB) ......................................................................... 80 Figura 36 - Página inicial do portal da ALPI ............................................................................ 81 Figura 37 - Folha de pagamento (ALPI) .................................................................................. 82 Figura 38 - Seção sobre remuneração dos servidores (ALPI) .................................................. 83 Figura 39 - Solicitação de informações para acesso de seção sobre remuneração dos servidores (ALPI) ....................................................................................................................................... 84 Figura 40 - Contracheque individual de servidora da ALPI ..................................................... 85 Figura 41 - Agenda legislativa (ALAL) ................................................................................... 87 Figura 42 - Remuneração parlamentar (ALAL) ....................................................................... 88 Figura 43 - Relação nominal efetivos e comissionados (ALAL) ............................................. 89 Figura 44 - Seção sobre licitações (ALAL) .............................................................................. 90 Figura 45 - Extrato de diário oficial (ALAL) ........................................................................... 91 Figura 46 - Informações sobre acessibilidade (ALAL) ............................................................ 92 LISTA DE QUADRO Quadro 1 - Dimensões da Accountability Democrática ........................................................... 20 Quadro 2 - Linha do tempo sobre marcos de Governo Aberto no Brasil ................................. 28 Quadro 3 - Formatos de Arquivos Eletrônicos ......................................................................... 31 Quadro 4 - Transparência por Níveis. ...................................................................................... 40 Quadro 5 - Matriz resumo da fórmula de cálculo do Índice para medir a transparência das Assembleias Legislativas .......................................................................................................... 40 Quadro 6 - Ranking geral por Índice e Nível Geral de Transparência ..................................... 42 Quadro 7 - Panorama geral sob a ótica das dimensões ............................................................. 93 13 1 PARTE INTRODUTÓRIA O reconhecimento do acesso à informação pública enquanto direito fundamental está presente em um amplo leque de normas jurídicas – constitucional e infraconstitucionais – na perspectiva de fortalecer o controle social. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu normas a respeito da transparência na Administração Pública. O caput do artigo 37 estabelece, por exemplo, o princípio da publicidade dentre outros quatro, que devem ser seguidos por todos os que compõem a Administração Pública. O inciso LX do artigo 5, versa, inclusive, que “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem”. Em 2011 outro grande avanço em direção à valorização da transparência ocorreu a partir da publicação da Lei n.º 12.527 de 18 de novembro. Essa lei, chamada de Lei de Acesso à Informação, surgiu como uma possibilidade de aprofundar aspectos tratados genericamente na Carta Magna. Seus dispositivos buscam orientar de maneira mais específica sobre as obrigações às quais os componentes da Administração Pública estão submetidos no que diz respeito à prestação de contas dos atos praticados na administração dos bens públicos. De maneira geral, é perceptível que a transparência e a disponibilização da informação pelas instituições públicas potencializam, entre outros, dois grandes avanços: fragilizar o histórico problema da corrupção e aperfeiçoar continuamente as ações estatais. Nesta perspectiva, o presente trabalho busca contribuir com um estudo a respeito da realidade dos portais eletrônicos do Legislativo, com objetivo de perceber como se dá o accountability pelas Assembleias Legislativas. Entende-se que a Lei citada não é tão recente e que não é a precursora na exigência de prestação de contas. Valendo-se do que se exige a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Responsabilidade Fiscal de 2000, a qual já contempla, desde o início da década, parte das exigências presentes na Lei de Acesso à Informação, o argumento de que as Assembleias Legislativas não possuíram tempo para se adaptar não apresenta consistência. 14 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA O final da década de 1970 marca a fase na qual a reforma do Estado se materializou em diversos países. Neste novo cenário, ocorre a implementação de práticas e novas ferramentas oriundas da ótica de administração privada no setor público. No caso brasileiro, o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado marca o momento de mudanças de tendências administrativas burocráticas rumo a possibilidades de melhorias na performance do Estado. No Brasil, a reforma do Estado iniciou em um momento de histórica crise econômica, cujo ápice se deu em 1990 a partir do cenário de hiper inflação à época. A partir desse marco, a reforma do Estado se coloca como alternativa de solução do problema com inflação. Baseado em experiências internacionais, tais quais o modelo gerencial inglês à época, o modelo gerencial brasileiro vem se consolidando, apesar de críticas, juntamente com os avanços tecnológicos da rede mundial de computadores. Os teóricos que debatem essas mudanças vêm discutindo as afinidades de características do modelo de administração privada e do modelo de administração pública. Sem desprezar, neste debate, aspectos essenciais aos ideais de participação política, valores como o de transparência se mantém na perspectiva de proteger a sociedade de práticas nocivas à democracia, como o clientelismo e o corporativismo. (ABRÚCIO, 2010) A importância da Transparência não ficou na seara do debate e se materializou em um amplo leque de leis em vários países nas últimas décadas do século XX e início do século XXI. O Brasil sancionou a Lei 12.527 em novembro de 2011 e se tornou o 89º país dotado de uma Lei de Acesso à Informação. (ANGELICO, 2012). O cenário que vem sendo construído a partir das normas jurídicas supracitadas e pela influência da Reforma do Estado impõe a necessidade de se investigar se a Transparência está se materializando nos portais eletrônicos das instituições, órgãos e entidades que compõem a administração pública. 15 1.2 OBJETIVOS DA PESQUISA a) Geral Analisar como a Transparência se materializa nos portais eletrônicos das Assembleias Legislativas à luz do ordenamento jurídico brasileiro e da literatura especializada. b) Específicos Verificar a transparência ativa dos portais eletrônicos das Assembleias Legislativas Estaduais da Região Nordeste; Analisar a Situação de Cada Casa Legislativa por Nível de Transparência, (da mais transparente à menos transparente, de acordo com o instrumento considerado no trabalho); Evidenciar pontos fortes e fracos de cada casa legislativa no que tange aos vários pontos de transparência mensurados pela metodologia do presente trabalho e pela legislação. 161.3 JUSTIFICATIVA É notório que a crença na democracia e na cidadania perpassa a transparência de dados e de informações públicas. Tendo como respaldo autores como Prado, Ribeiro e Diniz (2012), percebe-se que há a necessidade de aprofundar a discussão a respeito do grau de transparência para entender a efetividade desse ambiente de prestação de contas públicas a partir do uso de portais na Internet. Esse grau de transparência governamental apresenta grande importância para que a Administração Pública se profissionalize e a democracia se consolide. (MICHENER; MONCAU; VELASCO, 2014) Além disso, como afirma Torres (2004), a disponibilização de informação neste cenário de transparência não se mostra como o desafio principal no fortalecimento da democracia. É necessário focar em um novo problema emergindo e geralmente negligenciado por boa parte da bibliografia especializada. Fala-se que não se identifica dificuldades consideráveis que digam respeito a criar e divulgar informação e que desafios mais expressivos dizem respeito a como a informação é posta, na perspectiva de facilitar o processamento dela pelo maior número de pessoas que compõe a sociedade civil. É necessário, também, que a análise de transparência vá além da generalidade e focalize na atuação de setores específicos, considerando-se critérios de análise igualmente específicos e aprofundados. Analisar a transparência sob a ótica do Poder Legislativo se apresenta como uma pertinente necessidade para entender se o papel1 do Legislativo no regime democrático, estabelecido na Constituição Federal, apresenta coerência de maneira prática; considerando-se não só os dispositivos gerais da legislação, mas também tratar de uma análise que personalize a atuação desta instituição tanto quanto a sua atividade fim quanto como órgão público em geral. Ainda se frisa que também se optou por investigar o tema uma vez que o pesquisador almeja ingressar no serviço público. Logo, buscou-se aprofundar a respeito de tema que impacte a qualidade da atuação das instituições públicas na perspectiva de tornar-se um profissional mais qualificado para a posse em um eventual cargo público e, nesse sentido, buscar fortalecer, além disso, seu lado cidadão nesse novo momento da democracia brasileira. 1 Segundo o Art. 71 da Constituição Federal de 1988, cabe ao Congresso Nacional o controle externo, ou seja, cabe a ele o controle da atuação do Poder Executivo. Logo, é coerente que sua atuação também esteja sob crivo do controle da sociedade como um todo, visto a dimensão de sua responsabilidade. O referido artigo cita, de maneira mais específica, com frases iniciadas em verbos, que o Congresso apresenta papel fundamental no novo contexto democrático já que “aprecia”, “julga”, “inspeciona”, “fiscaliza”, “aplica” sanções, “susta” atos impugnados, dentre outras ações. 17 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 NOVOS CONCEITOS EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2.1.1 As relações entre Accountability e Transparência no novo contexto democrático Accountability constitui-se em um termo novo, cuja complexidade ainda impede a tradução para o português. Campos (1990), iniciara o debate em solo brasileiro no início dos anos 1990 quando o tema já era assunto de discussão em contexto norte-americano. Sua angústia na busca de um entendimento do conceito em língua brasileira surgiu durante a experiência do seu master of public administration nos Estados Unidos da América já na década de 1970, quando ouviu pela primeira vez o termo. Sabe-se que à época o Brasil vivia o ápice da ditadura militar, quando o foco era a luta contra o estado autoritário e qualquer discussão a respeito do conceito accountability era evidentemente inviável. A publicação do importante trabalho de Campos só ocorreu na década de 1990, momento no qual a sociedade vivia um contexto mais democrático propiciado pelo fim do regime militar, mas ainda aquém de uma cultura de accountability estabelecida. Essa preocupação mais tardia na literatura brasileira sobre o conceito diante da discussão já estabelecida na democracia americana torna clara a associação entre accountability e cidadania organizada, explicada quando observada as diferenças de estágios de desenvolvimento político entre esses países. Campos (1990) é incisivo ao afirmar que: o desenvolvimento da consciência popular é a primeira pré- condição para uma democracia verdadeiramente participativa e, portanto, para a accountability do serviço público. (CAMPOS, 1990, p. 6) Esse desenvolvimento de consciência popular mais apurado na democracia liberal e participativa praticada nos EUA favorece a accountability na medida em que desde muito cedo estabelece de maneira clara e ampla o papel de cada cidadão diante do funcionamento da sociedade, sem se restringir apenas à participação do eleitor em momentos de escolha de representantes eletivos. 18 Esse papel se materializa na atuação da sociedade em espaços organizados e amadurecidos de participação como as associações de pais e professores, associações de consumidores, comitês de vizinhança, associações profissionais, sindicatos, comunidades eclesiais, etc. Nesses espaços ocorrem discussão, consolidação, tradução em demandas das necessidades, as quais são canalizadas para os órgãos públicos competentes. Essas organizações assumem um papel provocador da burocracia e cobram dos servidores públicos as obrigações para com a sociedade. Quatro valores da cultura americana ficam expostos nesta conjuntura: descontentamento, autoconfiança, postura ativa e independência. Fala-se em independência uma vez que a maneira de financiamento dessas associações se dá por meio de contribuições regulares pagas pelos participantes e por recursos levantados na própria comunidade, sem auxílios governamentais (CAMPOS, 1990). Campos (1990) afirma que, ao contrário do cenário americano, a falta de posicionamento político no Brasil apresenta-se como reflexo da falta de organização da sociedade civil associada à falta de transparência nas intuições e do governo. Falando sobre o conceito em si, Campos (1990), fundamentado em discussões na pós- graduação e em pesquisa em dicionários americanos, apontou para a relação entre o termo e palavras como “responsabilidade” e “obrigação”. Sem esgotar a discussão, a autora elucida uma compreensão basilar sobre o conceito ao associá-lo com a responsabilidade por parte de uma pessoa ou organização diante de outras, normalmente que se encontram ambiente externo. Segundo a mesma autora, essa pessoa ou organização são responsáveis por algo ou algum desempenho e estão sujeitos a penalidades caso não cumpram alguma diretriz legítima, ou seja, podendo se tornar “irresponsáveis”. Vinte anos após os escritos iniciais de Campos (1990), Pinho (2009), se prontifica a buscar se há uma palavra que traduza fielmente o conceito em português. Muitas mudanças são observadas nesse novo momento na sociedade brasileira: nova Constituição Federal é elaborada, a democracia se consolida e ocorrem reformas no aparelho do Estado. Todas as mudanças ocorrem sob o argumento de trazer mais eficiência à administração pública brasileira. Tais mudanças se constituíram como campo fértil para que o ambiente acadêmico aprofundasse mais a análise dessas mudanças e a aproximação com o conceito de accountability. Pinho (2009), entretanto, chega a uma conclusão de que não há uma única palavra capaz de traduzir o termo, mas evidencia um entendimento mais aprofundado sobre o tema. Na maior parte dos estudos investigados, a palavra accountability tem sido normalmente associada com o termo “responsabilização”. De maneira geral, o autor define o termo como: 19 a responsabilidade, a obrigação e a responsabilização de quem ocupa um cargo em prestar contas segundo os parâmetros da lei, estandoenvolvida a possibilidade de ônus, o que seria a pena para o não cumprimento dessa diretiva. (PINHO, 2009, p. 1348) Ainda em termos conceituais, mais recentemente, Prado, Ribeiro e Diniz (2012) associam accountability ao ato de prestação de contas e relacionam essa prática de prestar contas com o baixo custo de publicação eletrônica e com o a possibilidade de uma governança mais aberta e uma transparência mais ampla. Logo, percebe-se que os autores apontam um relação direta entre os conceitos de accountability e transparência. Para se entender mais profundamente a ideia de accountability é importante considerar as duas dimensões apontadas por O’Donnel (1998): horizontal e vertical. A primeira é representada pela habilidade de fiscalizar e de aplicar sanções por parte das agências estatais e por meio da fiscalização mútua entre os Poderes (checks and balances). Enquanto que a segunda é representada pelo processo eleitoral, no qual a sociedade controla de forma ascendente, por meio do voto em representantes, pelas ferramentas de democracia semi-direta (cita-se os plebiscitos) ou, não menos importante, ela execução do controle social – exemplificado pelos conselhos de usuários de serviços públicos, conselhos gestores de políticas públicas, orçamento participativo, dentro outros. Sem desconsiderar a perspectiva de O’Donnel (1998), é válido associar a percepção mais detalhada de accountatibilty abordada por Abrúcio e Loureiro (2004), composta por três dimensões: o processo eleitoral, o controle institucional durante o mandato e as regras estatais intertemporais. O quadro sintetiza o que os autores consideram como “accountability democrática”: 20 Quadro 1 - Dimensões da Accountability Democrática Fonte: Abrúcio e Loureiro (2004, p. 7) É notório que as premissas de Campos (1990) se solidificaram ao longo do tempo e se materializaram nas condições que compõe a ideia de Accountability Democrática cunhada por Abrúcio e Loureiro (2004). Formas de Accountability Instrumentos Condições Processo Eleitoral • Sistema eleitoral e partidário • Debates e formas de disseminação da informação • Regras de Financiamento de Campanhas • Justiça eleitoral • Direitos políticos básicos de associação, de votar e ser votado • Pluralismo de idéias (crenças ideológicas e religiosas) • Imprensa livre e possibilidade de se obter diversidade de informações • Independência e controle mútuo entre os Poderes Controle Institucional durante o Mandato • Controle Parlamentar (controles mútuos entre os Poderes, CPI, argüição e aprovação de altos dirigentes públicos, fiscalização orçamentária e de desempenho das agências governamentais, audiências públicas etc.), • Controle Judicial (controle da constitucionalidade, ações civis públicas, garantia dos direitos fundamentais etc.) • Controle Administrativo-Procedimental (Tribunal de Contas e/ou Auditoria Financeira) • Controle do Desempenho dos Programas Governamentais • Controle Social (Conselho de usuários dos serviços públicos, plebiscito, Orçamento participativo etc.) • Transparência e fidedignidade das informações públicas • Burocracia regida pelo princípio do mérito (meritocracia) • Predomínio do império da lei • Existência de mecanismos institucionalizados que garantam a participação e o controle da sociedade sobre o Poder Público • Criação de instâncias que busquem o maior compartilhamento possível das decisões (“consensualismo”) Regras estatais Intertemporais • Garantias de direitos básicos pela Constituição (cláusulas pétreas) • Segurança contratual individual e coletiva • Limitação legal do poder dos administradores públicos • Acesso prioritário aos cargos administrativos por concursos ou equivalentes • Mecanismos de restrição orçamentária • Defesa de direitos intergeracionais 21 Abrúcio e Loureiro (2004) evidenciam, em mesma direção, a transparência e fidedignidade das informações públicas e o predomínio do império da lei como condições indispensáveis para a validar as diferentes faces de accountability no cenário democrático. Essa transparência, segundo os autores, não é tudo no fortalecimento da accountability durante os mandatos, entretanto, se configura como condição básica para validar os instrumentos considerados, uma vez que informações confiáveis, relevantes e oportunas são imperativas para que atores políticos e sociais consigam lançar mão de mecanismos de responsabilização. As ideias de Abrúcio e Loureiro encontram afinidades com as de Matias-Pereira (2009) quando afirma que para o estabelecimento de transparência em um país democrático, como o Brasil, torna-se necessário criar instituições de controle que garantam a coisa pública. Segundo o mesmo autor, o empenho para disponibilizar para a sociedade informações de caráter orçamentário, financeiro, de pessoal, de compras, previdenciário, dentre outros, iniciou quando o Plano Diretor da Reforma do Estado foi aprovado em 1995. A partir desse marco, percebe-se a preocupação em organizar dados com o auxílio de recursos tecnológicos, incluindo-se os sistemas produzidos e a Internet como ferramentas de transparência governamental. Entretanto, Prado, Ribeiro e Diniz (2012, p.16) evidenciam a accountability nas ações de governo como um “elemento crítico” da Reforma do Estado. Esse aspecto crítico surge a partir das tentativas de modernização das máquinas públicas. Em meio ao debate a respeito da melhor maneira de se administrar a máquina pública - paradigmas tradicionais versus paradigmas modernos de administração pública -, autores como Behn (1998) apontam uma pertinente preocupação de que práticas oriundas de paradigmas mais recentes de gestão, cujo foco está em performance, eficiência e eficácia, fragilizem conceitos importantes à democracia, tais quais o de accountability, e consequentemente de transparência. Como expõem Abrúcio e Loureiro (2004), neste cenário de reforma do Estado, o aperfeiçoamento das instituições estatais precisa abranger a melhoria do desempenho dos programas governamentais, sem inviabilizar a questão da transparência e da responsabilização do Poder público diante da sociedade. Do quadro 1 depreende-se, ainda, respostas a indagações levantados por Campos (1990). Seus questionamentos estavam relacionados não somente à tradução do termo ao português, mas também relacionados à seara de legitimação de poder, na perspectiva de se entender a quem cabia o exercício da accountability, seria “um cliente, um eleitor, um burocrata de nível mais elevado, um legislador, um tribunal?” (CAMPOS, 1990, p. 4) 22 Diante do entendimento de Accountability democrática de Abrúcio e Loureiro (2004) entende-se que há um amplo espectro de pessoas e instituições reponsável por “exercitar” a prática de accountability: eleitores, legisladores tribunais etc. O quadro 1 destaca, também, que há diversos mecanismos e instrumentos para fortalecer o entendimento de Campos (1990) ao apontar accountability como questão de democracia. Segundo o autor, há uma relação diretamente proporcional entre o estágio democrático e o nível de interesse pela accountability. Ou seja, já não cabe mais controles monocráticos sobre instituições públicas uma vez que são limitados no que diz respeito ao controle da corrupção, de condutas aéticas e arbitrárias no poder. Quando toda a autoridade se concentra demasiadamente e caracteriza uma accountability ascendente (upward accountability), há a possibilidade de que interesses de minorias detentoras do poder fragilizem valores democráticos. Percebe-se, portanto, que o entendimento sobre Accountability e Transparência torna os conceitos bastante relacionados, mas não sinônimos. O primeiro pressupõe a existência de transparência, enquanto que o segundo apresenta uma maior amplitude na medida em que alcança não apenas a prestação de contase a publicidade das ações dos governos, mas, também, a existência de mecanismos institucionais de controle da administração pública que resulta na responsabilização legal sob a qual agentes públicos estão submetidos. A transparência das informações públicas, por sua vez, consiste em uma etapa da accountability, assim como o ato de prestar contas e de responsabilizar agentes públicos. (PRADO; RIBEIRO; DINIZ, 2012) Diante do que já foi exposto, para ratificar a complexidade dos conceitos e dos marcos temporais mencionados, Campos (1990) já apontava que accountability não está relacionado apenas a aspectos de desenvolvimento organizacional ou de reforma administrativa. Segundo o autor, criar mecanismos de controle burocrático não tem mostrado efetividade na responsabilização dos servidores públicos. Torres (2009), nesta direção, afirma que para a responsabilização dos gestores públicos ser efetiva, as informações colocadas em transparência não devem ser brutas e, tampouco, o banco de dados desorganizados. Ele afirma que informações técnicas em excesso, aleatória e em demasia dão margem para que autoridades mal-intencionadas inviabilizem o controle social e, por conseguinte, o estabelecimento de uma Accountability. Torres (2004) relembra que a má intenção de autoridades apresenta exemplo claro na assembleia legislativa de Minas Gerais, durante a gestão de 1999 e 2000, quando foi descoberta a tentativa de confundir a sociedade civil por meio de informações publicadas, mas de maneira manipulada. Durante esse período, a casa foi presidida pelo deputado Anderson Adauto, que na 23 tentativa de aumentar o salário de deputados em até 5 vezes mais do que o subsídio de deputados federais, executou uma série de manobras, que possibilitou ao presidente da Assembleia receber salários de até R$ 95 mil por mês. Na tentativa de fugir do controle social, as decisões que elevaram os salários não eram publicadas no Diário Oficial de maneira clara. O chamado “decreto secreto”2 propiciou esse aumento de salário por meio da seguinte informação: é tomada a deliberação da Mesa nº 1.773, que altera a deliberação da Mesa nº 1.674, de 1999, de modo a restabelecer o anexo único da deliberação da Mesa nº 1.555, de 1998, que trata do fundo fixo. (TORRES, 2004, p. 56) Este fato, dentre tantos ainda recorrentes, evidencia que a crise de credibilidade diagnosticada por Camargo (apud Campos, 1990) mantêm-se viva. É notória a falta de confiança nas instituições por parte da sociedade e a relação intrínseca entre essa desconfiança e a crise econômica, enquanto reflexos da crise política. O autor explana fatores históricos influenciadores desse cenário: a influência de duas décadas de ditadura no isolamento da sociedade civil e de outras instituições; a resistência de práticas atreladas ao modelo tecnocrático de formulação e implementação de políticas, enfraquecendo mecanismos de controle e o envolvimento da maioria no debate político e, não menos importante, a clara escassez de informação - ou a má informação deliberada – no processo de alienação política. Surge, portanto, uma preocupação que vai além da mera disponibilização da informação, permeando suas características já que, como afirma Torres (2004), grande parte da informação produzida pelas instituições públicas apresentam uma natureza altamente técnica e especializada. Natureza esta que pode dificultar e até inviabilizar o controle social exercido pela sociedade, alvo principal desse empenho por transparência proposto pela administração pública, já que o cidadão para desenvolver um papel ativo na democracia precisa estar munido de informações relevantes. 2 Tal como reproduzida pelo jornal Folha de S. Paulo, de 15 de janeiro de 2003 (TORRES, 2004) 24 2.1.2 A lei de Acesso à Informação e os avanços de Governo Aberto e Eletrônico Governo Aberto constitui-se em um conceito cuja origem advém do contexto da administração anglo-saxônica e diz respeito à liberdade de acesso, por parte da sociedade, a informações produzidas pelo governo (ORTA, 2010). Em forte sintonia com essas ideias, Agune (2010) associa o conceito de Governo Aberto ao ato de disponibilizar informações e dados do governo para o domínio público. Através da internet, a sociedade poderia utilizar tais dados de maneira livre, ou seja, a partir desse conceito é garantido à sociedade o acesso a dados primários, com vistas à possibilidade de combiná-los e cruzá-los com a perspectiva de gerar novas informações e aplicações. De tal forma, é possível gerar conhecimento social a partir das bases de dados governamentais. O Brasil está inserido nesse ambiente de Governo Aberto que se dá, sobretudo, a partir da Parceria para Governo Aberto (OGP). Tal parceria consiste em uma iniciativa de caráter internacional cujo objetivo é o fortalecimento das democracias e dos direitos humanos; a luta contra a corrupção; o fomento a inovações e a difusão e incentivo global de práticas governamentais com relação ao acesso à informação, à transparência dos governos e à participação social. A OGP3 surgiu em 20 de setembro de 2011, com oito países fundadores dessa parceria (África do Sul, Brasil, Estados Unidos, Filipinas, Indonésia, México, Noruega e Reino Unido). No momento atual, 63 países fazem parte da parceria. Atualmente, a ideia de Governo Aberto se apresenta como um reflexo de evolução da democracia (MANCHADO, 2010), a qual vem se estruturando em três aspectos basilares: mecanismos de transparência, espaços permanentes de colaboração e participação dos cidadãos e no pontual exercício de voto a cada quatro anos. Percebe-se, portanto, um avanço de um modelo antigo de democracia representativa para um de democracia conversacional e aberta. Esse novo contexto lança mão das novas possibilidades que as Tecnologias de Informações e Comunicação (TIC) disponibilizam à sociedade na participação de processos de tomada de decisão. (CALDERÓN; LORENZO, 2010) 3 Mais de 1.000 compromissos para tornar seus governos mais transparentes foram assumidos pelos países integrantes da OGP 25 Agune (2010) discorre sobre as possibilidades atuais do uso dessa tecnologia enquanto forma de melhorar o acesso da sociedade aos serviços públicos online e de implementar possibilidades de gestão de conhecimento e inovação na área pública. Para tal, há a inegável necessidade de se estruturar um conjunto de processos, viabilizados pela tecnologia, com o intuito de aprimorar diretamente as interações, não apenas internas às organizações, mas também entre a sociedade civil e o governo em todas as esferas e poderes. Logo, com essas novas possibilidade em TICs, a literatura especializada aponta para uma relação próxima entre as ideias de Governo Aberto e Governo Eletrônico. Apesar de Governo Eletrônico dizer respeito a disponibilização online de informações, não significa necessariamente participação. Em contrapartida, o Governo Aberto possibilita a abertura do governo para a sociedade civil organizada, lançando mão de tecnologias que possibilitem uma relação mais intensa entre as partes. (AGUNE, 2010) A inserção dessas tecnologias na sociedade mundial vem promovendo uma mudança importante na maneira como cidadãos se relacionam com os governos, colocando ambas as partes em uma posição horizontal, ou seja, sem necessariamente a obrigação de existência de intermediários na relação. (CALDERÓN; LORENZO, 2010). Neste novo cenário, programas e políticas relacionados a Governo Aberto e Governo Eletrônico vêm tomando mais espaço nos espaços de discussão em administração pública. Existem três relações possíveis, por meio do governo eletrônico, consideradas pela bibliografia: G2G (relações intragovernos e intergovernos – “government to government”), G2B(e-procurement, ou seja, relações estabelecidas entre a administração pública e seus fornecedores – ““government to business”) e G2C (relações entre o governo e os cidadãos – “government to citizen”) (TORRES, ANO, p. 48). As ideias de Ruediger (2002, p.30) tornam- se prudentes quando pontua a importância das políticas de governo eletrônico por meio de todas essas relações serem conduzidas de maneira estratégica e como ciência, e não apenas como “um provedor de serviços online”. Atuando de maneira ampla e holística haverá potencial de se constituir em ferramenta relevante para capacitar a sociedade politicamente. Nesta seara de relações possíveis entre diversos setores da sociedade, o Consórcio Word Wide Web (W3C, 2011) se constitui em uma entidade internacional cuja missão é “conduzir a World Wide Web (Internet) para que atinja todo seu potencial, desenvolvendo protocolos e diretrizes que garantam seu crescimento de longo prazo”. A partir de sua missão pode-se criar ambiente propício para uma Web (Internet) mais democrática. 26 A W3C (2011) valoriza o valor social da Web já que a considera como importante para possibilitar a comunicação humana e para o compartilhamento de conhecimento. Apresenta como metas básicas o acesso desses benefícios por todas as pessoas. E para tal acesso fatores como tipo de equipamentos, localização geográfica, softwares, infraestruturas de redes, idioma, cultura ou capacidade física ou mental são considerados na construção desse caminho de acesso democrático. (AGUNE, 2010) Orta (2010) explica que essa entidade tem juntado esforços na perspectiva de estabelecer padrões de acesso à informação pública, de maneira que a sociedade disponha dela e a reutilize da maneira que necessitar. Essa adoção de padrões para a informação tem possibilitado a interoperabilidade entre administrações. Além disso, é viabilizada a acessibilidade plena à cidadania na medida em que as atividades de governo podem ser constantemente fiscalizadas fragilizando o risco dessa fiscalização sofrer infoxicação4. Ainda em termos de padrões, é inegável a relevância dos formatos que devem adquirir os dados públicos para possibilitar o entendimento por diversas máquinas. Segundo premissas de padrões propostos pelo Consórcio Word Wide Web (W3C, 2011), Orta (2010) põe como vantagens do uso de padrões para a administração pública: • Flexibilidade na apresentação da informação e na consolidação do conteúdo; • Melhora no processo de busca e localização da informação relevante; • Acesso imediato aos dados desde o momento em que são publicados; • Permite que terceiros extraiam e reutilize essa informação; • Possibilita a unificação de informações e serviços previamente separados; • Possibilita a criação de novos serviços, incluindo serviços personalizados. Orta (2010) coloca como definitivo a abertura dos dados públicos como o principal desafio a se vencer no momento de se estabelecer estratégias de Governo Aberto. Coloca também que as vitórias neste percurso possibilitam um importante incremento à transparência de uma administração pública. 4 Segundo a Professora. Dra. Edna Paciência Vietta, Infoxicação configura-se em um termo cunhado pelo físico Alfons Cornellá para evidenciar a relação entre Informação e Intoxicação. O físico parte de um neologismo para tornar clara a dificuldade em digerir o excesso de informação, enquanto efeito negativo era digital. 27 É inequívoca a relação estreita entre as ideias de Governo Eletrônico e os avanços da legislação no que diz respeito ao Acesso à informação. Apesar da Constituição Federal de 1988 ter estabelecido normas quanto à transparência dos órgãos públicos há bastante tempo e de maneira generalista, deve ser levada em consideração, principalmente pelos representantes públicos, a vigência de normas infraconstitucionais como a Lei Federal 12.527 de 2011 (Lei de Acesso à Informação), a Lei Federal 8.883 de 1994, a Lei Complementar 131 de 2009 e a Lei Complementar 101 de 2000, essa última chamada de Lei da Responsabilidade Fiscal, e o decreto que regulamenta a própria LAI. O quadro evidencia de maneira mais detalhada a relação direta entre o avanço da legislação e de outros mecanismos de controle enquanto marcos de Governo Aberto no Brasil: 28 Quadro 2 - Linha do tempo sobre marcos de Governo Aberto no Brasil Fonte: Adaptado de Brasil ([2017?]) Data Marco Histórico Reflexo Prático 1988 Constituição prevê diretito de acesso a informações públicas A Constituição garante aos cidadãos o direito de acesso à informação, bem como mecanismos de proteção de direitos. 2000 Lei de Responsabilidade Fiscal é aprovada Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000 estabelece, em regime nacional, parâmetros a serem seguidos relativos ao gasto público de cada ente federativo brasileiro. 2003 Controladoria-Geral da União é criada Trata-se do órgão do Governo Federal responsável por assistir direta e imediatamente o Presidente da República quanto aos assuntos que, no âmbito do Poder Executivo, sejam relativos à defesa do patrimônio público e ao incremento da transparência da gestão, por meio das atividades de controle interno, auditoria pública, correição, prevenção e combate à corrupção e ouvidoria. 2004 Portal da Transparência do Governo Federal entra no ar É lançado o Portal da Transparência do Governo Federal, um canal pelo qual o cidadão pode acompanhar a execução financeira dos programas de governo, em âmbito federal. 2009 Lei Complementar nº 131 entra em vigor e altera a Lei de Responsabilidade Fiscal A grande novidade trazida por ela foi a determinação de que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disponibilizassem, em meio eletrônico e tempo real, informações pormenorizadas sobre sua execução orçamentária e financeira. 2010 Portal da Transparência disponibiliza dados com atualização diária Desde 27 de maio de 2010, para atender aos dispositivos previstos pela Lei Complementar nº 131/2009, o Portal da Transparência passou a disponibilizar dados sobre a execução orçamentária e financeira da Receita e da Despesa do Poder Executivo Federal com atualização diária. Os dados são fornecidos pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e extraídos do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). 2010 Decreto 7.185 Dispõe sobre o padrão mínimo de qualidade do sistema integrado de administração financeira e controle, no âmbito de cada ente da Federação, nos termos do art. 48, parágrafo único, inciso III, da Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000, e dá outras providências. 2011 Lei 12.527 regulamenta o direito de acesso a informações públicas A Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527) foi aprovada em 18 de novembro de 2011. Seus dispositivos são aplicáveis aos três Poderes da União, Estados, Distrito Federal e Municípios. A norma, que entrou em vigor em 16 de maio de 2012, regulamentou o direito de acesso a informações públicas previsto na Constituição brasileira. Foram estabelecidas regras e procedimentos específicos para possibilitar o exercício desse direito pelos cidadãos. O Decreto nº 7.724 regulamenta a Lei de Acesso no Poder Executivo Federal. 2012 Decreto Nº 7.724, de 16 de Maio de 2012 Regulamenta a Lei no 12.527, de 18 de novembro de 2011, que dispõe sobre o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do caput do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art. 216 da Constituição. 2013 Lei Anticorrupção A Lei nº 12.846/2013, também conhecida como Lei Anticorrupção, representa importante avanço ao prever a responsabilização objetiva, no âmbito civil e administrativo, de empresas que praticam atos lesivos contra a administração pública nacional ou estrangeira. Além de atender a compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, a nova lei finalmente fecha umalacuna no ordenamento jurídico do país ao tratar diretamente da conduta dos corruptores. 2013 Conflito de Interesse Em 1º de julho de 2013, entrou em vigor no Brasil a Lei nº 12.813, de 16 de maio de 2013, conhecida como Lei de Conflito de Interesses. Ela define as situações que configuram esse tipo de conflito durante e após o exercício de cargo ou emprego no Poder Executivo Federal. A Lei estabelece formas do agente público se prevenir da ocorrência do conflito de interesses, prevendo, por outro lado, punição severa àquele que se encontrar em alguma dessas situações. 2014 Sistema de Ouvidorias OnLine A Instrução Normativa OGU 01/2014 promove a atuação integrada e sistêmica das Ouvidorias do Poder Executivo federal, com a finalidade de qualificar a prestação de serviços públicos e o atendimento aos cidadãos. Está disponível na internet e funciona 24 horas. 2014 Política Nacional de Participação Social - PNPS (Decreto nº 8.243/2014) Instituiu tanto a Política Nacional de Participação Social (PNPS), quanto o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS) com a finalidade de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil. 2014 Rede Nacional de Laboratórios de Tecnologia (REDE-LAB) Instituída em setembro de 2014, a Rede é um conjunto de laboratórios de tecnologia contra a lavagem de dinheiro e sua principal característica é o compartilhamento de experiências, técnicas e soluções voltadas para a análise de dados financeiros, a detecção daquela prática criminosa, corrupção e crimes relacionados. 2015 Escala Brasil Transparente Consiste numa metodologia desenvolvida pela CGU para medir a transparência pública em estados e municípios brasileiros com o objetivo de avaliar o grau de cumprimento de dispositivos da Lei de Acesso à Informação – LAI. 2015 Dialoga Brasil (dialoga.gov.br) Consiste num espaço de participação digital no qual as ideias da população viram propostas para ajudar a melhorar as ações do governo. Nesse espaço, a sociedade civil pode conhecer mais sobre os programas federais e apresentar sugestões para a criação de novos programas ou o aperfeiçoamento dos existentes. 2016 Política de Dados Abertos do Poder Executivo Federal (Decreto nº 8.777/2016) Estabeleceu regras para disponibilização de dados no âmbito dos órgãos do Poder Executivo Federal. O objetivo da Política é promover a ampliação do foco da transparência para que não se limite a combater a corrupção e controlar os gastos públicos, mas que também alcance a qualidade do gasto, assim como a obtenção de informações para monitorar e avaliar as políticas públicas. Além disso, essa legislação tem por finalidade aumentar o controle social e promover o desenvolvimento de novas tecnologias destinadas à construção de ambiente de gestão pública participativa e democrática e à melhor oferta de serviços públicos para a sociedade. A implementação da Política de Dados Abertos ocorrerá com a execução de um Plano de Dados Abertos no âmbito de cada órgão ou entidade da Administração Pública Federal, direta, autárquica e fundacional. 29 Percebe-se, então, que os legisladores vêm buscando, por meio de uma ampla base legal de normas relacionadas à transparência das ações de órgãos públicos, regulamentar e fortalecer o cumprimento de princípios como o da publicidade e, consequentemente, fortalecer a cultura de Governo Aberto. Mesmo com a promulgação da Constituição Federal de 1988, já foram estabelecidos diversos mecanismos e espaços para fortalecer a participação social, tais quais conferências, ouvidorias, conselhos, processos de participação no ciclo de planejamento e orçamento público, audiências e consultas públicas etc. Além disso, e das informações presentes no Quadro 2, é importante evidenciar a própria Política Nacional de Participação Social enquanto reflexo de anseios da sociedade civil ao fim de 2012, dentro do processo de composição do segundo Plano de Ação Brasileiro pelo Governo Aberto5. Para se construir esse plano, ocorreu a participação da sociedade civil na proposta de sugestões para regulamentar a participação social. O Instituto Ethos6 foi um desses grupos da sociedade civil organizada que participou e à época defendeu que a realização de audiências públicas, por exemplo, fosse regulamentada. Tal proposta surgiu como reflexo dos resultados diagnosticados durante a elaboração e aplicação da primeira edição dos Indicadores de Transparência Municipal7, lançada em 2012. É possível perceber que alguns dos princípios que regem o sistema Governo Aberto estão refletidos nos dispositivos que compõem a Lei de Acesso à Informação, a mais conhecida ferramenta de cultura de Governo Aberto no país: Completo: As bases de dados públicos dos órgãos e entidades da administração pública estadual deverão ser disponibilizadas, exceto aquelas limitadas pela legislação vigente (sigilo, privacidade e segurança): Art. 3, I. Primário: As bases de dados deverão ser disponibilizadas na íntegra, na formatação de sua estruturação, sem sofrer qualquer agregação ou modificação: Art. 4, VIII e Art. 7, IV. Oportuno: As bases de dados deverão ser disponibilizados de forma rápida para preservar o seu valor de produção e atualização: Art. 8, §3º, VI. 5 OGP, da sigla em inglês para Open Government Partnership. 6 O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma Oscip cuja missão é “mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável.” 7 Em 2014 esse indicador evidenciou que nas doze cidades-sede da Copa de 2014, apenas cinco delas (Belo Horizonte, Fortaleza, Manaus, Natal e Recife) realizaram pelo menos uma audiência pública para debater os projetos relacionados ao megaevento (ETHOS, [2014?]). Logo, ainda há uma lacuna para se avançar no sentido de fortalecer as Audiências Públicas enquanto espaço de debate democrático. 30 Acessível: Os dados deverão ser disponíveis para toda a sociedade: Art. 10, § 1º. Processamento facilitado: As bases de dados deverão ser disponibilizadas de forma estruturada e permitir um tratamento automatizado: Art. 8, §3º, III. Não-discriminatório: As bases de dados deverão ser disponibilizadas a qualquer cidadão, mediante regras estabelecidas e buscando o compromisso com a colaboração e compartilhamento de conhecimento, assim como quanto à divulgação dos produtos gerados com seu uso: Art. 10, § 1º. Não-proprietários: As bases de dados deverão ser disponíveis em um formato aberto e universal: Art. 8, §3º, III. Licença-livres: As bases de dados disponibilizadas não devem estar sujeitas a quaisquer direitos de autor, patentes ou marcas registradas. Os dados são do Governo e, por conseqüência, da sociedade: Art. 8, §3º, II. Identificação: As bases de dados deverão ser devidamente identificadas, com indicação do órgão ou entidade responsável, descrição e caracterização detalhada dos dados, forma de obtenção, data da produção, período de atualização e abrangência dos dados: Art. 8, §3º, IV e VI. Publicidade aos produtos gerados com uso das bases: Produtos gerados com uso das bases disponibilizadas deverão ser divulgados pelo governo estadual no mesmo portal de acesso às bases de dados na Internet. Os dispositivos da LAI e as premissas sobre Governo Aberto demonstram a sensibilidade do legislativo brasileiro ao debate evidenciado por Orta (2010) a respeito da preocupação com o tipo de informação publicada e com a maneira de torná-la pública. Além desses dois pontos, a preocupação pousa-se também sobre o formato que as informações digeridas8 devem adquirir, na perspectiva de adquirirem relevância e, portanto, fomentar a cidadaniaem termos de fiscalização. O Manual dos Dados Abertos: Governo9 (W3C, 2011) descreve a respeito dos principais formatos que podem ser utilizados, possibilitando que máquinas tenham a capacidade de ter acesso direto a eles, da maneira mais simples possível. 8 De acordo com o dicionário Aurélio, apresenta como sinônimos, em sentido figurado, os termos “assimilado” e “compreendido”. 9 Traduzido e adaptado de opendatamanual.org 31 Quadro 3 - Formatos de Arquivos Eletrônicos Fonte: W3C (2011) Além disso, o artigo sétimo, inciso IV descreve outras características como integridade, autenticidade e atualização. Os locais nos quais as informações estão inseridas não podem ser de difícil acesso. O artigo oito impõe que as informações produzidas e custodiadas pela Administração Pública estejam em local de fácil acesso. Para isso, a lei direciona em § 2o que “os órgãos e entidades públicas devem utilizar todos os meios e instrumentos legítimos de que dispuserem, sendo obrigatória a divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores.” Em termos de qualidade da informação, Matias-Pereira (2010) disserta a respeito da necessidade de um equilíbrio na dualidade: disponibilização de todas as informações e a sua estruturação adequada e bem distribuída. Segundo ele, essa é a condição para a responsabilização dos gestores públicos. Pode-se associar os pensamentos de Matias-Pereira (2010) com as ideias de Cavalcante (2008), segundo o qual há a necessidade de que a FORMATO CARACTERÍSTICAS XML É um formato amplamente usado para troca de dados, pois possibilita que se mantenha a estrutura dos dados em operações diferentes. O modo como os arquivos XML são construídos permite aos desenvolvedores escrever parte da documentação dentro dos dados, sem interferir na sua leitura. CSV Pode ser um formato bem útil, pois é compacto e, portanto, adequado para transferir grandes conjuntos de dados com uma mesma estrutura. Entretanto sua simplicidade exige uso orientado e adequado com vistas a evitar a inutilidade dos dados. É essencial que a estrutura do arquivo seja respeitada, já que a omissão de um único campo pode atrapalhar a leitura de todos os outros dados, sem oportunidade de retificá-lo, porque seria impossível determinar como o restante dos dados deve ser interpretado. Planilhas Muitas organizações possuem informação em planilhas, como, por exemplo, as do software Microsoft Excel. Estes dados podem ser usados de forma imediata, adicionando- se apenas a descrição correta das colunas. Em alguns casos, existem macros e fórmulas nas planilhas, o que gera um trabalho mais intenso. Portanto é sempre aconselhável documentar os cálculos e fórmulas na planilha, de maneira a tornar as informações mais acessíveis ao leitor. Importante: para disponibilizar uma planilha, pode ser necessário mudar o formato do arquivo, de forma que ela seja acessada por qualquer tipo de software, sem privilegiar nenhuma empresa ou organização (de XLS para CSV, por exemplo). Documento de Texto Documentos clássicos, em formatos como DOC, ODF, OOXML, podem ser suficientes na hora de apresentar alguns tipos de dados – por exemplo, listas de e-mail relativamente estáticas ou informações parecidas. É barato exibir nesses formatos, já que costuma ser o formato em que os dados foram gerados. PDF Os PDFs costumam ser usados para circulação interna de documentos nos órgãos governamentais, já que não permitem modificação (são somente leitura) e por manterem a diagramação original do conteúdo – podendo-se incluir tabelas, gráficos e imagens. No entanto são completamente inúteis para a disponibilização de dados abertos, já que não armazenam as informações de maneira estruturada. Lembre-se de que, toda vez que gerar um PDF de uma tabela ou documento de texto, um desenvolvedor terá de trabalhar muito para “desfazer” essa ação e voltar para um formato que reconheça os dados de forma mais estruturada. Imagens digitalizadas Provavelmente, é o formato menos adequado para a maioria dos dados, mas tanto o TIFF quanto o JPEG podem, pelo menos, ser utilizados para mostrar como imagens informações que não foram criadas eletronicamente desde o início. Afinal de contas, para a transparência, uma imagem ainda é melhor do que nada. 32 informação seja compreensível ao grande público, ou seja, clara. Além disso, ele condiciona a construção do conceito de transparência a fatores como relevância, confiabilidade e oportunidade. Torres (2004), assim como os legisladores, mostrou-se preocupado a respeito do excesso e informações técnicas no processamento e entendimento por parte do eleitor-padrão. Nesta seara, o artigo quinto da LAI direciona a atenção a características importantes da informação, a qual deve ser clara e em linguagem de fácil compreensão e franqueada por meio de procedimentos objetivos e ágeis. É evidente que esse dispositivo se apresenta como essencial para fragilizar dificuldades que surgem por parte de setores da sociedade para processar e entender grande parte dos dados postos em publicidade. A preocupação com o conteúdo, a atualização das informações, com a linguagem adotada e com o perfil dos membros das comunidades interessadas nos serviços oferecidos por diversos portais, diante da diversidade de ofertas, também está presente nos registros de Sousa (2008), nos quais a autora investiga a atuação de alguns portais inseridos nesse contexto de Governo Eletrônico e analisa as mudanças no relacionamento Estado-Sociedade decorrentes da utilização intensiva de tecnologias de comunicação e informação por agentes públicos no Brasil. Considerando que não é possível dizer que toda a sociedade é habilitada para compreender a utilidade das leis a respeito de transparência e participação e que nem toda a informação disponível é de interesse geral (CRUZ, 2010), ferramentas e mecanismos para facilitar uma maior participação certamente possibilitam maior efetividade quanto o acesso do público ao que é divulgado. É razoável imaginar que muita da informação em dados brutos, sem terem passado por processos de filtro e análises, dificultam a efetividade de programas e leis de transparência. Além disso, entende-se que o tempo disposto à sociedade para refletir sobre aspectos políticos é menor do que o disposto aos componentes da máquina pública. Logo, a contextualização de tanta informação produzida por políticos e empregados públicos viabilizaria uma possibilidade não só de recebimento, mas de reflexão por parte do público em geral. (CRUZ, 2010) Dito de outra forma, Cruz (2010, p. 136) pertinentemente afirma que “o acesso à informação não é um fim em si mesmo”. 33 3 METODOLOGIA 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA As tipologias de pesquisa que estão inseridas no delineamento deste projeto foram julgadas quanto à abordagem, aos objetivos e quanto aos procedimentos dele. Quanto à abordagem, o presente estudo apresenta um caráter quantitativo e qualitativo. Em um primeiro momento, buscar-se-á quantificar os resultados, recolhidos com o auxílio do instrumento padronizado e adaptado. Após isso, o foco será o aprofundamento da compreensão e discussão do cenário dos portais. Uma das características da pesquisa quantitativa, tal qual pondera Creswell (2010), é que se centra na objetividade. Por ter influência do positivismo, entende que só é possível compreender a realidade a partir da análise de dados brutos, coletados com o apoio de instrumentos padronizados, cuja característica principal seja a neutralidade. O caráter qualitativo da presente pesquisa, por sua vez, advém do fato de a pesquisa qualitativa ser fundamentalmente interpretativa. Creswell (2010), nesta direção, pondera que para o pesquisador interpretar os dados, ele lança mão da descrição de um cenário com a perspectiva de identificartemas ou categorias. Dentro deste contexto, o autor evidencia que para interpretar ou tirar conclusões sobre seu significado, o pesquisador “filtra os dados através de uma lente pessoal situada em um momento sociopolítico e histórico específico”. Através deste caminho, é possível mencionar lições aprendidas e novas perguntas podem ser feitas. Este trabalho se configura, inicialmente, quanto aos objetivos, como uma pesquisa exploratória. Segundo Gil (2010) estas pesquisas possuem o objetivo de aprimorar ideias ou descobrir intuições. Logo, por meio dela, busca-se, assim, a obtenção de mais familiaridade com o problema, na perspectiva de explicitá-lo. Mas também apresenta característica de pesquisa descritiva na medida em que essa natureza possibilita o detalhamento dos acontecimentos e situações que possam enriquecer a análise de fatos, possibilitando que o pesquisador aumente seu conhecimento a respeito de um determinado problema (MINAYO et al, 2000). Outro aspecto de uma natureza com nuances descritivas é que, tal qual afirma Rudio (2012), o pesquisador busca conhecer e interpretar a realidade, sem interferências ou modificações. Quanto aos procedimentos, configura-se como um Levantamento. Segundo Gil (2010), pesquisas de levantamento apresentam como vantagens a possibilidade de conhecimento direto da realidade; de economia e rapidez e de quantificação. Os dados coletados por meio de levantamentos podem ser agrupados em tabelas, o que possibilita a sua análise estatística. 34 3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA Torres (2004) chama atenção para a necessidade de se considerar as grandes diferenças observadas no processo de transparência decorrentes de disparidades de caráter regional, quanto aos níveis de governo e entre os poderes. Partindo desta ótica, optou-se por selecionar uma amostra composta por portais eletrônicos de instituições do mesmo Poder, nível de governo e região, sob a hipótese de apresentarem uma situação similar em termos de transparência. Segundo o autor, em decorrência das suas funções fundamentais, há um esforço maior por parte do Legislativo para se tornar mais transparente para a sociedade civil, quando comparado com o Judiciário. Logo, optou-se por analisar portais das Assembleias Legislativas com o intuito de evidenciar os níveis de transparência desta instituição. Além disso, a transparência depende, inevitavelmente de investimentos em tecnologias e em pessoal qualificado. Logo, a região nordeste, considerada em muitos aspectos atrasada – sobretudo, em termos de tecnologias e com dificuldades em termos de transferências orçamentárias e financeiras -, pode ser campo fértil para tecer análises a respeito do referido tema. Assim como Torres (2004), acredita-se na relação direta entre o nível de desenvolvimento de tecnologias da informação e os níveis de transparência na administração pública. Para a escolha da amostra, considera-se também a hipótese do estudo de Michener, Moncau e Velasco, segundo os quais o cumprimento da Lei 12.527/11 pode ser mais “árdua” em determinadas regiões brasileiras em virtude de questões como “capacidade burocrática, recursos públicos e legados institucionais” (MICHENER; MONCAU; VELASCO, 2014, p. 20). Para que os objetivos propostos fossem atingidos, a pesquisa foi realizada a partir de consultas aos portais eletrônicos das Assembleias Legislativas do Estados do Nordeste: Maranhão Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Piauí Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia 35 3.3 DADOS E INSTRUMENTO DE COLETA A promulgação de normas a respeito de transparência já é um importante passo rumo ao fortalecimento da democracia. Entretanto, é importante o debate a respeito de métricas numéricas para quantificar a qualidade de ser mais ou menos transparente. Neste sentido, a Secretaria de Transparência do Senado Federal, por meio do seu Conselho de Transparência, construiu uma proposta de Índice de Transparência do Poder Legislativo (BRASIL, 2012). Este Índice foi construído alicerçado em uma revisão da bibliografia nacional e internacional e em experiências práticas adotadas por inúmeras instituições para mensurar a transparência. Basicamente, o Índice consiste em um número único para cada Assembleia Legislativa, variando de 0 a 1, indicando o quão transparente a instituição é. Baseado neste Índice, o presente trabalho construiu uma ferramenta de coleta de dados próprio, que será explicado inicialmente nesta seção e detalhado ao longo do apêndice. Optou-se por adaptar o instrumento com o intuito de se ater apenas ao que a legislação vigente exige ou apresenta em diretrizes e orientações gerais. Considera-se que o instrumento proposto se baseia em um cenário bastante avançado em termos não só de transparência, mas de usabilidade também. Logo, suprimiu-se alguns indicadores e alterou-se os dispositivos da lei que sustentam os indicadores permaneceram. Julgou-se mais apropriado a substituição de dispositivos da lei de alguns indicadores por se acreditar que haviam pontos da legislação que se enquadravam melhor no contexto do indicador. Com o objetivo de se alcançar um índice final foram considerados quatro grandes aspectos relativos à transparência, os quais serão chamados de Dimensões da Transparência: 1. Transparência Legislativa: mede a transparência do órgão quanto às atividades relacionadas à atuação dos parlamentares. 2. Transparência Administrativa: mede a transparência do órgão legislativo quanto às questões administrativas e financeiras, incluindo aspectos abordados pela LRF e alguns tópicos da LAI. 3. Participação e Controle Social: mede a abertura à participação da sociedade em geral nas atividades do Poder Legislativo, bem como as medidas adotadas para que o cidadão possa exercer o controle social sobre o Legislativo. 4. Aderência à LAI: mede o grau de aderência dos órgãos avaliados aos dispositivos da LAI, notadamente aqueles com caráter obrigatório. 36 De acordo com os dispositivos da legislação e com modelos nacionais e internacionais de construção de índices, cada dimensão é dividida em subdimensões, que, por sua vez, são compostas por vários indicadores, criando-se assim uma estrutura hierárquica que tem por objetivo abarcar o máximo de critérios relevantes acerca da transparência. Além das várias dimensões de análise, suas subdimensões e os indicadores que as compõem podem ser observados a partir de diferentes óticas, diferentes pontos de vista, que chamaremos aqui de critérios de avaliação. O Índice de Transparência ora proposto será mensurado fazendo uso de múltiplos critérios, a fim de avaliar se um mesmo indicador atende a vários aspectos distintos, como por exemplo, ser atual, disponível imediatamente, abrangente, de fácil acesso, etc. Assim, cada indicador que compõe o índice de transparência será avaliado segundo os seguintes critérios: a) Totalidade da informação frente ao escopo possível; b) Prontidão com que a informação é fornecida; c) Atualidade das informações disponíveis; d) Existência de Série Histórica das informações. Para cada Indicador avaliado segundo um dos critérios acima será atribuída nota variando de 0 a 1 e obedecendo às seguintes regras: 1,0 caso o indicador avaliado cumpra perfeitamente o critério; 0,5 caso o indicador avaliado cumpra parcialmente o critério; 0,0 caso o indicador avaliado não cumpra de forma alguma o critério. Caso o critério não seja aplicável ao indicador, não será feita a avaliação e aquela combinação indicador/critério será desconsiderada no cálculo do índice. O critério Totalidade tem por objetivo avaliar se o órgão disponibiliza a informação do indicador avaliado em relação a todo o escopo possível. Fundamenta-se na própria LAI que, em vários momentos, ressalta a importância de que todos os dados gerados ou custodiados pelos
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