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Naoimportasemorrerem-Oliveira-2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
ESCOLA DE MÚSICA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 MARIANA RODRIGUES DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
“NÃO IMPORTA SE MORREREM ANTES...” DE MARCÍLIO ONOFRE: 
CRIAÇÃO, COLABORAÇÃO E ASPECTOS TÉCNICOS-INTERPRETATIVOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL-RN 
2019
 
 
MARIANA RODRIGUES DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“NÃO IMPORTA SE MORREREM ANTES...” DE MARCÍLIO ONOFRE: 
CRIAÇÃO, COLABORAÇÃO E ASPECTOS TÉCNICOS-INTERPRETATIVOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Música da Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa 2 - 
Processos e Dimensões da Produção Artística, 
como requisito para a obtenção do título de Mestre 
em Música. 
 
 
Orientador: Prof. Dr. Rucker Bezerra 
Queiroz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL-RN 
 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Catalogação da Publicação na Fonte 
 Biblioteca Setorial Pe. Jaime Diniz - Escola de Música da UFRN 
 
 
O48n Oliveira, Mariana Rodrigues de. 
 Não importa se morrerem antes... de Marcílio Onofre: criação, 
colaboração e aspectos técnicos-interpretativos / Mariana Rodrigues de 
Oliveira. – Natal, 2020. 
 105 f.: il.; 30 cm. 
 
 Orientador: Rucker Bezerra Queiroz. 
 
 Artigo (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 
Escola de Música, Programa de Pós-Graduação em Música 2020. 
 
1. Composição musical – Relação compositor-intérprete – 
Dissertação. 2. Música para viola, rabeca e orquestra de cordas – Análise 
e interpretação – Dissertação. I. Não importa se morrerem antes... 
(Marcílio Onofre). II. Queiroz, Rucker Bezerra. III. Título. 
 
RN/BS/EMUFRN CDU 781.6 
 Elaborada por: Elizabeth Sachi Kanzaki – CRB-15/Insc. 293 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho ao meu marido Arthur Firmino e minha filha Maria Eduarda, que foram 
fundamentais para a construção deste sonho, sem eles não teria conseguido. 
 
 
 AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço primeiramente a Deus, que me deu a vida e força para a conclusão deste 
trabalho. 
 
Ao meu marido, Arthur Firmino, por me apoiar e incentivar nos meus piores 
momentos, por sempre dizer que eu seria capaz; a minha filha, Maria Eduarda, uma luz de 
pessoa, que veio para iluminar ainda mais nossas vidas com muito amor e carinho. 
 
A Rucker Bezerra, meu orientador, por toda paciência e ensinamentos que me 
foram destinados e por ter apoiado e acreditado no meu trabalho. 
 
Ao compositor, Marcílio Onofre, por ter aceitado essa jornada com todo esforço e 
boa vontade e pelos ensinamentos passados. 
 
 Ao professor Yerko Tabilo, pelos ensinamentos para a preparação da peça Não 
importa se morrem antes... 
 
Aos músicos da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Paraíba por todo o 
apoio e dedicação ao concerto de estreia. 
 
A professora Luciana Noda, pelas ajudas na construção desta dissertação. 
 
 Minha eterna gratidão a todos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
A presente pesquisa visa oferecer algumas reflexões sobre a relação compositor-intérprete 
na música Não importa se morrerem antes... para viola, rabeca e Orquestra de Cordas do 
compositor paraibano Marcílio Onofre (1982), como também a elaboração de uma proposta 
de interpretação desta peça. Para isto, realizou-se uma revisão bibliográfica, encontros com 
o compositor, além de entrevistas e da partitura final editada pela autora-intérprete. Desta 
pesquisa resultou uma proposta interpretativa construída em contato direto com o 
compositor, uma reflexão sobre a participação desta pesquisadora no processo de 
colaboração desde a concepção da obra, uma edição com dedilhados, métodos de técnica 
estendida utilizados para o estudo da obra e a estreia da peça com registro audiovisual. O 
processo de colaboração foi fundamental para a troca de conhecimentos e para a feição da 
peça, por meio da qual a autora e o compositor compartilharam experimentos de sons e 
interpretação. 
 
Palavras-chave: Relação compositor-intérprete. Viola. Rabeca. Marcílio Onofre. Não 
importa se morrerem antes... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
This research proposes to offer some discussions on the relationship between composer and 
performer in the piece Não importa se morrerem antes… written by the Brazilian composer 
Marcílio Onofre (1982), for viola, rabeca (Brazilian fiddle) and string orchestra, as well it 
intends to show the elaboration of a proposal for the interpretation of the piece. In order to 
achieve this conclusions, we developed a wide bibliographical review, meetings with the 
composer, besides interviews and a study in the final score edited by the author-interpreter. 
This research resulted in an interpretative proposal built directly in contact with the 
composer, a reflection on the participation of this researcher in the process of collaboration 
with the Composer, an edition with fingerings, extended technique methods used for the 
study of the work and the debut of the piece with audiovisual record. The process of 
collaboration was fundamental for the exchange of knowledge and for the feature of the 
piece. Where the author and the composer shared experiments in sounds and interpretation. 
 
 
Keywords: Relationship composer-interpreter. Viola. Rabeca (Brazilian fiddle). Marcílio 
Onofre. Não importa se morrerem antes... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1 - Esboço da obra levado pelo compositor..........................................................24 
Figura 2 - Trecho da parte do primeiro violino do Quarteto para Cordas n° 8 
Shostakovich.………………………………………………………………………..…...........…..24 
Figura 3 - Esboço da obra levado pelo compositor..........................................................25 
Figura 4 - Esboço da obra levado pelo compositor..........................................................26 
Figura 5 - Esboço da obra levado pelo compositor..........................................................27 
Figura 6 - Esboço da obra levado pelo compositor..........................................................28 
Figura 7 - Esboço da obra levado pelo compositor..........................................................29 
Figura 8 - Esboço da obra levado pelo compositor..........................................................30 
Figura 9 - Primeira página da cadência..............................................................................31 
Figura 10 - Primeira página da cadência após modificações – versão final...................32 
Figura 11 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., 
o trecho apresenta contraste de dinâmica e overpressure (compasso 51 ao 56).........34 
Figura 12 - Trecho da parte da viola solo da obra Partita – L’Ingénu, o trecho 
apresenta contraste de dinâmica e overpressure (compasso 69 ao 71)........................34 
Figura 13 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., 
apresenta Pizzicato Bartók e sequência de harmônicos naturais (compasso 136 ao 
141).........................................................................................................................................35 
Figura 14 - Trecho da parte da viola solo da obra Partita – L’Ingénu, apresenta 
Pizzicato Bartók e sequência de harmônicos naturais (compasso 33 ao 37)................35 
Figura 15 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 1 ao 6)................................................................................................................36Figura 16 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 8 ao 20)..............................................................................................................37 
Figura 17 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 21 ao 39)............................................................................................................38 
Figura 18 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 32 ao 35)............................................................................................................38 
Figura 19 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 40 ao 46)............................................................................................................39 
Figura 20 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 1 ao 3)................................................................................................................39 
Figura 21 : Trecho da partitura da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 
51)............................................………............................................................................……40 
Figura 22 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 5 e 6)..................................................................................................................40 
Figura 23 - Trecho da partitura da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 
45 ao 48)...........................……...................................................................................………41 
Figura 24 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 8 ao 10)..............................................................................................................41 
Figura 25 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 14 ao 20)............................................................................................................42 
Figura 26 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., 
como o compositor escreveu (compasso 32 ao 38).........................……….….................43 
Figura 27 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., 
como a intérprete tocou (compasso 32 ao 38)........................................…………............43 
 
 
Figura 28 – Trecho da partitura da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 
51 ao 56)...............................................................................................................…………...44 
Figura 29 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., 
feito pelo o compositor (compasso 57 ao 68)....................................................................45 
Figura 30 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., 
feito pela intérprete (compasso 57 ao 68)..........................................................................46 
Figura 31 - Trecho da partitura da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 
61 ao 63)................................................................................................................................47 
Figura 32 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 73 ao 83)............................................................................................................48 
Figura 33 - Página 7 do livro Il violino, I suoniarmonici: classificazione e 
nuovetecnichec – Enzo Porta..............................................................................................49 
Figura 34 - Parte de estudo da intérprete da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 73 ao 83)............................................................................................................50 
Figura 35 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 72 ao 84)............................................................................................................50 
Figura 36 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 106 ao 108)........................................................................................................51 
Figura 37 - Parte de estudo da intérprete da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 113 ao 119)........................................................................................................51 
Figura 38 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 125 e 126)...........................................................................................................52 
Figura 39 - Página de livro de técnica estendida Viola Spaces – Garth Knox................52 
Figura 40 - Retirada do artigo - A rabeca de Vilemão Trindade em Mário de Andrade II: 
ampliando o repertório e desvelando vozes esquecidas.................................................53 
Figura 41 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 132 ao 134)........................................................................................................53 
Figura 42 - Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... 
(compasso 175 ao 221)........................................................................................................54 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 09 
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL, SUA PRODUÇÃO 
E PERFORMANCE .............................................................................................................. 11 
2.1 Contextualização ............................................................................................................ 11 
3 O CAMINHO PARA A COLABORAÇÃO COMPOSITOR E INTÉRPRETE ..................... 16 
3.1 O compositor .................................................................................................................. 19 
4 A TRAJETÓRIA DE NÃO IMPORTA SE MORREREM ANTES... ................................... 21 
4.1 Gênese da Obra ............................................................................................................. 22 
4.2 Definição dos aspectos interpretativos............................................................................ 33 
4.3 As técnicas estendidas na obra Não importa se morrerem antes................................... 55 
4.4 A estreia .......................................................................................................................... 56 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 59 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 61 
APÊNDICES ......................................................................................................................... 64 
ANEXOS ............................................................................................................................... 68 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Este trabalho tem como objetivo pesquisar a relação compositor-intérprete durante 
o processo de criação da obra Não importa se morrerem antes... (2018-2019), como 
também a elaboração de uma proposta de interpretação dessa peça. Este projeto – 
idealizado pela pesquisadora – se iniciou com a encomenda de uma obra inédita para viola, 
rabeca e Orquestra de Cordas, contando com a participação do compositorMarcílio Onofre 
(1982). 
A interação compositor-intérprete existente na criação de novas obras musicais é 
um recurso utilizado por muitos compositores durante toda a história da música e ainda hoje 
é aplicada. O crescimento da linguagem técnica instrumental e a busca por explorar novos 
sons nas composições, são alguns dos fatores que motivam a busca pela colaboração. A 
partir desta relação, a possibilidade de retirar subsídios pertinentes a respeito do compositor 
e do intérprete podem vir a ser importantes para o conhecimento da obra. 
Após a metade do século XX houve uma maior procura pela colaboração, podendo 
ser entendida pelo fato de que alguns compositores estão na busca por criar universos 
sonoros. Até o século XIX, o sistema tonal ainda dominava as composições, unindo os 
compositores em um mesmo universo. Todavia, a particularidade composicional e 
sistemática dos compositores contemporâneos fez com que o processo colaborativo se 
tornasse uma fonte importante para os compositores e os intérpretes. 
A partir disso, refletimos sobre a interpretação e seus desafios na atualidade. 
Delimitando-se o problema de pesquisa que norteou este trabalho como; a partir de uma 
obra específica, se pode refletir quais as consequências práticas da relação técnica e 
performática e como a interpretação da música contemporânea e suas especificidades no 
contexto instrumental e violístico podem envolver o intérprete? 
Com isso o objetivo geral desta pesquisa é compreender como estão sendo 
utilizados os elementos da técnica estendida na viola na obra selecionada (Não importa se 
morrerem antes...), desdobrando-se nos seguintes objetivos específicos: investigar o 
processo de colaboração entre o compositor e o intérprete na construção e interpretação da 
obra; reconhecer possíveis elementos resultantes de outras colaborações; divulgar a obra 
Não importa se morrerem antes.... 
Sendo assim, para alcançar tais objetivos, foi realizada uma entrevista com o 
compositor no intuito de esclarecer o processo de colaboração e os elementos estruturais da 
obra. Também foi feita uma pesquisa bibliográfica com base em publicações referentes a 
relação compositor-intérprete, a prática interpretativa e de conteúdos que apresentaram ter 
relação com o tema. 
10 
 
 
Esta dissertação está dividida em três capítulos. No primeiro tem-se a introdução, 
na qual é apresentado o processo de pesquisa e as especificidades da metodologia 
adotada. No segundo capítulo trazemos uma contextualização do processo colaborativo 
entre compositores e intérpretes ao longo da história da música, como também das novas 
possibilidades timbrísticas a partir da técnica estendida na viola e do seu repertório. No 
terceiro se apresenta a motivação para a construção dessa pesquisa, como também uma 
pequena trajetória do compositor. No quarto, trazemos os aspectos práticos da pesquisa: 
gênese da obra, definição dos aspectos interpretativos, as técnicas estendidas presentes na 
obra, cronograma detalhado de ensaios preparatórios para a performance e, por fim, a 
estreia da peça. Por fim, nas considerações finais apresentamos o resultado da pesquisa e 
as últimas constatações a que se chegou nesta pesquisa. 
Desta maneira, esta pesquisa tem como finalidade fornecer uma contribuição para 
uma melhor compreensão do processo de colaboração entre compositor e intérprete e como 
isto pode influenciar na composição e interpretação da obra. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DA MÚSICA OCIDENTAL, SUA PRODUÇÃO 
E PERFORMANCE 
 
2.1 Contextualização 
 
Ao longo da história da música ocidental, várias obras importantes – que contemplam 
instrumentos e formações variadas – foram criadas a partir da relação compositor-intérprete. 
Trata-se de uma relação complexa, repleta de repercussões e possibilidades, no que diz 
respeito à aquisição de novos conhecimentos durante o processo que envolve a composição 
e performance de novas obras. Webb (2007) retrata muito bem o panorama em que este 
trabalho conjunto se dá, bem como as sementes e possibilidades para o futuro que ele gera: 
 
Observadores devem ser perdoados por pensarem que o intérprete é 
uma espécie de músico de segunda classe, simplesmente reproduzindo 
os desejos do compositor-criador. Há sempre um tipo de relação 
especial entre compositor e intérprete no processo de composição para 
um solista. Muitas vezes, uma obra é criada por causa da presença de 
um instrumentista em particular, que pode não somente inspirar o 
compositor, mas também colaborar com sugestões práticas. São de 
parcerias como esta que surge a verdadeira energia criativa. A 
importância perceptível de tais parcerias específicas diminui com o 
passar do tempo; a música, que „vive‟ no futuro, frequentemente, perde 
sua associação com o intérprete- colaborador, contudo as circunstâncias 
originais tornam-se parte da história
1
. (WEBB, 2007, p. 255 – Tradução 
nossa) 
 
 
Um bom exemplo disso é criação da Sequenza V para trombone solo de Luciano 
Berio. A ideia para a criação da obra ganhou ainda mais força depois do encontro do 
compositor italiano com os trombonistas Stuart Dempster e Vinko Globokar. Isso porque a 
performance dos dois instrumentistas causara uma forte impressão no autor, dada a 
riqueza de timbre e efeitos por eles executados, o que abriu para Berio um leque de novas 
possibilidades sonoras e timbrísticas na elaboração da obra. A interação entre eles 
mostrou-se tão rica que não se limitou apenas à coparticipação dos intérpretes na criação 
de Sequenza V. A edição final da partitura, publicada em 1968, e que tornaria sua 
execução viável a outros instrumentistas, contou com a colaboração indispensável de 
Dempster e Globokar. Além disso, esse último foi responsável pela première da peça - que 
aconteceu em 1966, e pela primeira gravação oficial dela. A obra passou, a partir daí, a 
fazer parte do repertório standard do trombone. Segundo Webb, ela teve um papel crucial 
na “mudança de status do instrumento, que foi elevado à condição de solista muito 
 
1 Observer smight be forgiven for thinking that the performer is a kind of second-class musician, 
simply reproducing the wishe soft he composer-creator. But in composing for soloist, there of 
12 
 
 
recentemente – se comparado a outros instrumentos como o violino, a flauta e o clarinete” 
(WEBB, 2007, p. 256). No caso dos compositores, Sequenza V serviu e serve até hoje 
como referência na criação de obras para trombone. 
Autores como Webb (2007), Domenici (2011), Cardassi (2019), entre outros, 
também discutem o papel colaborativo entre intérprete e compositor sob diversos 
aspectos que ajudaram a nortear a experiência colaborativa da autora desta pesquisa 
na obra Não importa se morrerem antes... durante todo o processo. 
Após uma colaboração, Domenici (2011) logo se deu conta de que esta prática 
era essencial, principalmente, nos assuntos relacionados a execução dos efeitos 
sonoros não tradicionais e as nuances interpretativas. 
Tendo em mente que cada colaboração compositor-intérprete é única, os 
resultados na composição e na performance podem ocorrer em diferentes níveis. Cardassi e 
Bertissolo (2019) citam Cardassi (2016) falando que: 
 
Temos a convicção de que os temas ali apresentados são elementos 
fundamentais para uma boa colaboração: 1) clareza na comunicação, 2) 
capacidade de escuta e diálogo, 3) abertura para receber críticas 
construtivas, 4) saber como lidar com o conflito de ideias, 5) estarem 
abertos a experimentações e a questionar seus papeis dentro da 
colaboração, 6) planejarem juntos o tipo de colaboração que farão 
(instrumentação, prazos e dados logísticos sobre ensaios, estreia, 
financiamento e outros). (CARDASSI, 2016. Apud. CARDASSI; 
BERTISSOLO 2019, p. 4) 
 
 Deste modo, o contato direto do compositorcom o intérprete durante a 
composição, oferece-lhe a oportunidade de examinar as possibilidades técnicas a serem 
utilizadas em sua obra. Já o intérprete tem a capacidade de compreender a linguagem 
composicional do compositor e discutir aspectos musicais relacionado à obra. 
No processo de criação da obra - Não importa se morrerem antes... – buscou-se 
compreender, inicialmente, a maneira a qual o compositor desejava se expressar na sua 
obra e apresentar sugestões a partir de materiais apresentados por ele. Assim, para esta 
parte do processo, o papel da intérprete era de explicitar os esboços do compositor para que 
o mesmo pudesse decidir o material que poderia ser aproveitado e de que forma este 
poderia aparecer e se desdobrar durante a música. Com este contato direto com o 
compositor, as questões interpretativas e técnicas foram discutidas com esta pesquisadora, 
as quais influenciaram diretamente na execução da obra. 
Na colaboração de Onofre com o violinista Rodrigo Eloy, Onofre (2015) fala que: 
 
De modo geral, a colaboração compositor-intérprete, ou intérprete-
compositor, é para mim essencialmente um processo complexo de 
associação artística com um ou mais objetivos específicos. Eu gosto dessa 
ideia de processo por uma razão simples: ela expressa certa noção de 
continuidade, algo que pode começar antes mesmo do aparecimento do 
13 
 
 
trabalho composicional e também da performance em si e pode ir bem além 
de uma única performance ou gravação de uma obra específica... (ELOY, 
2016, p. 18) 
 
 
O processo de construção desta obra (Não importa se morrerem antes...) foi feito 
de forma organizada pelo compositor que apresentava alguns materiais, e, a partir disso, 
observava como a pesquisadora recebia as ideias e como tocava os primeiros esboços. 
Além disso, a intérprete também opinava nesses materiais apresentados. 
Os compositores contemporâneos, assim como os anteriores, estão sempre 
buscando novas formas de se expressar. Nessa perspectiva, a música contemporânea com 
suas novas linguagens, tem abordado uma extensão dos recursos técnicos de vários 
instrumentos, a partir da necessidade de ampliar a linguagem sonora e novos 
procedimentos técnicos. Ao estendê-los, novas notações vêm sendo desenvolvidas, 
combinações de instrumentos poucos usuais são propostas e até novas práticas de 
performance estão sendo desenvolvidas. 
Outro resultado desta extensão pode ser visto pela necessidade dos intérpretes de 
amplificar seus recursos técnicos para a execução destas novas obras musicais. Para 
Copetti e Tokeshi (2005, p. 321): “o tratamento não convencional do material sonoro por 
vezes exige o domínio de reflexos e combinações de movimentos ainda não incorporados à 
técnica do instrumentista”. Supostamente isto ocorre devido ao modelo de ensino ainda ser 
voltado aos aspectos tradicionais da técnica instrumental. Dessa forma, o intérprete violista 
não possui as ferramentas necessárias para abordar este repertório. No entanto, como já 
aponta Gebrian (2012), esse é um problema que abrange, inclusive, o repertório já 
tradicional do instrumento. Segundo ela, a maioria do repertório solo standard que os 
violistas tocam foi escrito no século XX, mas o material pedagógico que os violistas estudam 
são, em sua maioria, transcrições de estudos para violino, além de estudos e escalas que 
foram escritos no século XIX, ou antes disso. 
O repertório para viola, até o início do século passado, era escasso e quase 
desprovido de obras importantes. Violistas, no que se refere a material didático e repertório 
de Concerto, como falado, buscaram por muito tempo por transcrições de outros 
instrumentos, como violino e violoncelo, o que reflete a pouca atenção dedicada à 
exploração das possibilidades expressivas da viola. Paul Hindemith (1895-1963) foi uma das 
figuras da história da música que ajudou a reverter essa situação. Compôs três concertos 
para viola e orquestra, dentre os quais Kammermusik n. 5, escrito em 1927, que foi o 
primeiro concerto significativo composto para viola no século. A sua obra ainda inclui três 
sonatas para viola e piano e quatro sonatas para viola solo. Foi também violista de 
destaque. Executou, entre outros, a primeira audição do Concerto para viola e orquestra de 
William Walton em 1929, e foi integrante do renomado Quarteto Amar-Hindemith. Não 
14 
 
 
bastasse o grande número de obras dedicadas à viola, por si só uma inestimável 
contribuição, o pioneirismo da linguagem empregada faz dessas composições um marco na 
história do desenvolvimento violístico. O Concerto de Bela Bartók (1881-1945) para viola, 
encomendado pelo violista William Primrose (1904-1982), é uma obra desafiadora e de 
grande importância para o repertório da viola. Dentre as obras brasileiras do gênero viola e 
orquestra, podemos destacar como um dos mais importantes, o Concerto para viola de 
Radamés Gnatalli (1906-1988) escrito em 1967, dedicado ao violista húngaro-brasileiro 
Perez Dworecki, estreado pelo o mesmo em 1971, e também o Desafio I de Marlos Nobre 
(1939). 
Garth Knox2 (1956) escreveu, em 2009, os estudos contemporâneos Viola Spaces3, 
surgindo como resposta a lacuna de material didático sobre técnicas estendidas. Porém, as 
técnicas abordadas por esse estudo fazem parte das técnicas estendidas mais comuns, até 
mesmo das épocas passadas. É importante mencionar que em outros instrumentos de 
cordas já podemos encontrar muitos materiais que enfoquem esse tipo de sonoridade como 
os livros Il violino, I suoniarmonici: classificazione e nuovetecniche - Enzo Porta, The 
Technique sof Violin Playing - Arditti, Platz e The contemporary violin – Strange, Strange. 
Contudo, na pedagogia da viola ainda não encontramos nada de natureza similar. 
A escrita da música contemporânea é um ponto relevante. Podemos ver que a 
escrita contemporânea é algo que está sempre se adaptando às novas ideias musicais em 
busca por novos timbres, assim surgindo novas notações. Diante disso, os compositores 
podem possuir uma notação própria ou determinada indicação que ainda não foi utilizada 
deixando dúvidas na escrita, dando margens para os intérpretes, muitas vezes, criarem 
algumas possibilidades de execução de um mesmo recurso técnico. 
A interação entre compositor e intérprete facilita na compreensão dessas novas 
notações, tornando possíveis através da explicação oral do compositor o que se está 
propondo. Domenici (2011, p. 04) entende que “o contato com o compositor deu a ela a 
possibilidade de entender os elementos desejados pelo autor da obra, os quais não eram 
possíveis de serem notados”. Ao analisar essa importância na explicação oral do 
compositor, podemos cogitar que com o passar do tempo, aspectos importantes da obra 
musical podem se perder pela fragilidade da memória. 
A experimentação de sons individuais ou técnicas instrumentistas pouco 
recorrentes são geralmente denominadas de técnica estendida ou expandida. Padovani 
(2011, p. 11) fala que “técnica estendida é uma técnica não usual: maneira de tocar ou 
cantar que explora as possibilidades instrumentais, gestuais e sonoras pouco utilizadas em 
 
2 Garth Knox é compositor e violista. 
3 Viola Spaces: uma série de oito estudos nos quais são abordados técnicas estendidas específica, 
como sul tasto, microtons, glissandos e trêmolos. 
15 
 
 
determinado contexto histórico, estético e cultural”. Deste modo, enxergamos esta 
renovação técnica como um processo dinâmico de expansão de materiais. 
Copetti e Tokeshi (2005, p. 319) falam que: 
 
Observando-se a evolução da música no século XX, pode-se constatar a 
procura por novos efeitos sonoros, incluindo o uso de maior variedade de 
timbres e diversificação no emprego de material intervalar. Compositores e 
instrumentistas têm experimentado e desenvolvido novas possibilidades 
técnicas, aumentando, assim, o leque de recursossonoros associados ao 
instrumento. (COPETTI; TOKESHI, 2005, p. 319) 
 
Os recursos técnicos considerados como estendidos podem ser frutos de novas 
pesquisas a partir da necessidade do compositor em escutar determinado som ou da sua 
colaboração com o intérprete. Portanto também podem ser utilizados recursos ainda não 
considerados estendidos, mas que são procedentes de técnicas já presentes no repertório 
do instrumento. Estes recursos podem estar ligados ao arco, à mão esquerda ou utilizar 
qualquer parte do instrumento com a finalidade de produzir algum efeito sonoro. 
No repertório anterior a 1950 as técnicas mais encontradas foram: sul ponticello, 
glissando, pizzicato Bartók, sul tasto e harmônicos. Onofre, na obra Não importa se 
morrerem antes..., faz uso, também, dessas técnicas estendidas já utilizadas, porém um 
pouco modificadas, como por exemplo: molto sul ponticello, molto sul tasto, pizzicato Bartók, 
col legno trato, col legno gettato, molto vibrato, mas também faz uso de técnicas como: 
overpressure, multifônico e harmônicos naturais. No capítulo III explicaremos sobre essas 
técnicas aplicadas por Onofre. 
Ao constatar a quantidade de novas possibilidades para a execução dos 
instrumentos, não só de cordas, mas como um todo, podemos perceber que estão passando 
por um novo estágio de exploração timbrística. Com todas estas inovações, podemos 
perceber o crescimento dos instrumentos a partir do século XX. 
No capítulo seguinte, abordaremos a trajetória da contextualização do termo 
colaboração, as influências do processo colaborativo para a feitura da obra, juntamente de 
uma breve trajetória do compositor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
 
3 O CAMINHO PARA A COLABORAÇÃO COMPOSITOR E INTÉRPRETE 
 
 
Foram realizadas reuniões entre a intérprete-pesquisadora desta Dissertação, o 
orientador e o compositor, durante a escrita da obra. Estas reuniões visaram, por um lado, 
acompanhar o processo composicional para coleta de dados; por outro, tinham a função de 
colaborar com o compositor, auxiliando-o quanto a questões técnicas e idiomáticas da 
escrita para viola. 
É importante mencionar aqui a diferenciação entre colaboração e encomenda. A 
encomenda de uma obra nem sempre implica na interação entre compositor e intérprete 
em sua criação. Porém, quando se pesquisa a relação entre compositor-intérprete, tem que 
diferenciar o conceito de encomenda – que não necessariamente implica na participação 
do instrumentista que solicitou ou inspirou a obra – e colaboração, com todo o seu conjunto 
de possibilidades de interação entre as partes envolvidas. 
Entretanto, quando há colaboração entre as partes, é possível que o intérprete 
tome parte no processo da elaboração da obra, colaborando com informações, sugestões 
técnicas e idiomáticas e até propondo algumas sugestões de caráter composicional, em 
alguns casos. Ao mesmo tempo, o instrumentista pode esclarecer suas dúvidas sobre a 
execução musical, buscando diretamente no compositor as respostas desejadas. Isto 
poderia ser dificultado caso não houvesse uma via de comunicação aberta com o autor da 
obra. 
Uma vez feita a diferenciação, é possível perceber o quanto a colaboração pode 
auxiliar compositores e intérpretes a lidarem com a música contemporânea. Isto porque ela 
traz consigo exigências técnicas e idiomáticas de natureza diferenciada das encontradas 
no repertório tradicional. Em consequência, essa diversidade de possibilidades sonoras 
pede, em muitos casos, a oportunidade de experimentação por parte de instrumentistas e 
compositores, de modo a auxiliar suas atividades neste campo estético da música. Este é 
um fator predominante para que tal parceria aconteça. Um dos principais benefícios para o 
compositor é a possibilidade de ouvir sua obra antes da estreia, podendo assim modificar 
ideias na escrita a partir do que ouviu. 
Para o intérprete a possibilidade de dialogar pessoalmente com o compositor da 
obra é uma ferramenta preciosa, para que suas ideias, suas concepções idiomáticas e 
estilísticas possam ser mais bem compreendidas, pois estará responsável de dar corpo 
sonoro. 
Estando por dentro disto, a autora teve interesse em fazer um trabalho colaborativo 
com o compositor Marcílio Onofre, devido a intérprete ter trabalhado com o compositor em 
17 
 
 
um grupo da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, onde fez parte do Grupo Sonantis4, 
durante os anos de 2011 a 2013. Além de conhecer seu trabalho como compositor, a 
colaboração tornou-se possível quando a autora desta pesquisa mencionou ao compositor, 
no começo de 2017, através de uma conversa informal, o seu interesse em fazer um projeto 
que contemplasse um trabalho colaborativo compositor-intérprete, juntamente com uma 
obra para o repertório contemporâneo de viola, para ser submetido nas provas de seleção 
do Curso de Mestrado em Música de Câmara na Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte – UFRN. O compositor mostrou-se muito interessado em realizar um trabalho em 
conjunto na criação de uma obra para viola com a autora. 
Sabendo que o processo de colaboração traz consigo a oportunidade para que 
compositor e a intérprete utilizem de todos os recursos possíveis para se comunicar, 
retirando assim, um grande peso atribuído à partitura, que, na ausência de interação, seria a 
via exclusiva de comunicação entre eles. A própria partitura, que será o único meio de 
acesso ao compositor por futuros intérpretes, sofre alterações - como resultado do processo 
de colaboração -, objetivando assim uma melhor comunicação com outros instrumentistas 
interessados em sua execução e que não tenham a mesma oportunidade de se comunicar 
diretamente com o autor. 
Um outro dado crucial, para esta pesquisa, foi o da sensação de “apropriação da 
obra” por parte da intérprete, decorrente de sua participação junto ao compositor. Mesmo 
com poucos encontros e com poucas alterações, a pesquisadora colocou, juntamente com 
o compositor, suas características na música, não só na interpretação, mas com ritmos e 
melodias. Isso traz mais interesse em colaborar com compositor vivo, pois podemos nos 
apropriar da obra criada, torná-la sua não só quando estiver no palco, mas em cada etapa 
de seu nascimento até o momento de sua execução pública e gravação. 
A sensação do instrumentista de que a música lhe pertence, manifesta-se por 
meio de uma maior intimidade com seu material sonoro e suas nuances ao tocá-la, ou 
então, uma memória corporal da obra que é conseguida não só por meio do estudo e suas 
inúmeras repetições ou por uma quantidade determinada de ensaios, mas pela 
participação de seu nascimento. Este registro corporal se forma a partir destes elementos 
ganhando maior profundidade quando o intérprete acompanha e participa dos vários 
estágios vividos pela obra até que ela seja finalizada e concebida como acabada pelo 
compositor. 
Ainda que sua autoria seja atribuída ao compositor, e que o intérprete nem sempre 
colabore com sugestões composicionais, ele é parte do processo que deu lhe origem. Sua 
 
4 Grupo Sonantis, fundado pelo o Prof. Dr. Eli-eri Moura, é o grupo de música contemporânea do 
Laboratório de Composição Musical da UFPB - COMPOMUS. 
18 
 
 
participação é sentida quando o instrumentista experimenta trechos, materiais e ideias do 
compositor, ou quando ele questiona a possibilidade de sua execução musical e propõe 
sugestões que tornem sua performance possível. Finalmente, quando o intérprete ainda 
auxilia o compositor na elaboração de uma partitura que comunique melhor suas ideias, 
abre-se caminho para que futuros interessados possam executar a obra sem maiores 
contratempos. 
Barry Webb (2007) confirma com esta visão quando afirma: 
 
A importância perceptível de tais parcerias específicas diminui com o 
passar do tempo; a música, que „vive‟ no futuro, frequentemente, perde 
sua associaçãocom o intérprete-colaborador, contudo as circunstâncias 
originais tornam-se parte da história
5
. (WEBB, 2007. p. 255 – Tradução 
nossa) 
 
Ou seja: trilhar o caminho lado a lado, ainda que cada um o faça sob suas próprias 
pernas, cria no instrumentista caminhante a sensação de pertencimento em relação à obra, 
tornando-a sua. Isto se revela claramente no momento da performance, quando ele 
empresta corpo sonoro a algo que ele ajudou a conceber. 
Mesmo que não haja interferência direta na estrutura da obra ou nas decisões 
tomadas pelo compositor, a influência do intérprete manifestada por meio de sua 
expressão individual ao tocar, suas preferências e sua bagagem de experiências estarão 
direta ou indiretamente envolvidas na colaboração, destacando em maior ou menor grau os 
rumos que a gênese musical assumirá. 
Além disso, há o fato de que, na colaboração, o instrumentista interage com a obra 
desde o momento em que ela é um punhado de ideias soltas no papel, ou então uma linha 
melódica de alguns compassos rabiscados pelo compositor, até a finalização do processo 
criativo, quando a obra então está “pronta”. O percurso entre uma fase e outra é marcado 
pela experimentação de suas várias formas ainda mutantes e instáveis até que ela seja 
uma ideia coesa e devidamente estruturada. 
Assim sendo, é possível inferir que vivenciar performaticamente a obra em seus 
vários estágios de formação possibilita ao intérprete uma maior intimidade com ela, que vai 
desvelando pouco a pouco suas várias nuances. 
 
 
 
 
 
5 The perceived importance of particular partner ships diminishes with the passage of time; 
music, which „lives‟ on into the future frequently loses its association with the original performer-
collaborator, whilst the original circumstances of composition become part of history. (WEBB, 
2007. p. 255) 
19 
 
 
3.1 O compositor 
 
Marcílio Onofre (1982) é um dos representantes da nova geração de compositores 
brasileiros. Paraibano, bacharel em piano, mestre e doutorando em composição, ambos 
pela UFPB, onde é professor efetivo desde 2009 e leciona matérias teóricas como: 
Contraponto Modal; Análise IV; Editoração de Partitura; Conjunto de Música de Câmara 
Contemporânea; Literatura Instrumental/Vocal e Orientação de Composição. 
Desde 2003 ingressou como membro do COMPOMUS 6 e depois como 
desenvolvedor de projeto sobre a obra de José Alberto Kaplan (1935-2009). No mestrado, 
Onofre compôs um conjunto de cinco peças para instrumentos de cordas (violino, viola, 
violoncelo e contrabaixo) intitulado Música para Cordas, que vai do violino solo ao quinteto 
de cordas. As músicas foram compostas em ordem crescente de instrumentação, partindo 
do violino solo (TractusMobilisI.a/b), violino e violoncelo (Ideoplastie II), trio de cordas 
(Diagonal Vortex), quarteto de cordas (Interceptação), e chegando ao quinteto de cordas 
(Araneae). 
Além de compor obras para diversos instrumentos durante sua trajetória como 
compositor, sua composição tem sido apresentada em diversos festivais, tanto nacional 
como internacional. Em 2012, ganhou uma bolsa de estudos de um ano no Mozarteum 
Brasileiro para estudar com o compositor Krzysztof Penderecki na Akademia Muzyczna w 
Krakowie. 
Iniciou-se então, uma pesquisa específica nas obras do compositor Marcílio Onofre 
para viola, com o intuito de buscar um maior aprofundamento no modelo de linguagem 
composicional e técnica utilizada pelo compositor. Ele compôs uma obra para viola solo, 
chamada Partita – L’Ingénu (2012-2013), dedicada ao violista Rafael Altino. No capítulo 
seguinte, abordaremos algumas características da Partita, juntamente da Não importa se 
morrerem antes... 
A colaboração de Onofre com intérpretes tem ocorrido desde 2007, e desde lá tem 
colaborado com violinista, violoncelista, trompista, quarteto de cordas, sexteto de metais, 
pianista, fagotista, flautista, percussionista, clarinetista e violonista. Ele tem explorado 
bastante essa relação compositor-intérprete, pois adquire mais conhecimentos dos 
instrumentos sabendo até onde pode explorá-los com as técnicas estendidas. Onofre (2019) 
diz que: 
 
Sua motivação para essa relação compositor-intérprete vem a partir de que 
escrever uma peça que eu sei que será tocada e poderei trabalhar 
detalhadamente com um intérprete em particular. Desse modo, levo em 
 
6 COMPOMUS – Laboratório de Composição Musical da UFPB, foi idealizado pelo o compositor Eli-
eri Moura. Projeto pioneiro no estado da Paraíba. 
20 
 
 
consideração aspectos do intérprete na criação da obra. Como compositor é 
muito importante se manter motivado e compondo, especialmente nos dias 
atuais. Portanto, acho que o maior ganho é a motivação que, artisticamente 
falando, se desdobrará no cuidado com a obra e com a performance. 
(ONOFRE, 2019) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
 
 
4 A TRAJETÓRIA DE NÃO IMPORTA SE MORREREM ANTES... 
 
Neste capítulo trataremos da concepção da obra encomendada a Marcílio Onofre 
para ser objeto de estudo desta pesquisa. Mostraremos como nosso projeto inicial de 
colaboração com o compositor Marcílio Onofre produziu a obra Não importa se morrerem 
antes..., peça de médio porte para viola solista na forma como foi apresentada ao público. 
 
O desenvolvimento de técnicas expandidas e até a criação de novas 
propostas de execução instrumental estão diretamente ligadas à relação 
próxima de compositores especializados em compor e intérpretes 
especializados em execução. Nos dias de hoje, o fato dos músicos 
raramente deterem o domínio destes dois processos artísticos, praticamente 
demanda que inovações dependam dessa colaboração. Observa-se que, 
alguns dos instrumentos mais solicitados por certos compositores, têm, 
junto com o aumento de obras dedicadas a eles, a ampliação das 
possibilidades de execução (RAY, 2010, p. 1313) 
 
 
De acordo com Catarina Domenici e Pamela Ramos, “as práticas de performance 
[deste repertório tradicional dos instrumentos] definem limites estilísticos aproximados” 
(DOMENICI, 2011. Apud. DOMENICI; RAMOS 2013, p. 2). Entretanto, se a performance do 
repertório tradicional é grandemente norteada por normas que foram se desenvolvendo na 
prática de determinados estilos, o mesmo já não aconteceria com tanta ênfase a partir da 
segunda metade do século XX. Este período trouxe uma proposta de abertura a múltiplas 
formas de execução num processo de coexistência de tendências estéticas. Esta 
multiplicidade de linguagens gerou modificações na composição e na performance: 
compositores e instrumentistas deveriam lidar com múltiplos conjuntos de regras e normas 
em suas atividades, experimentando novas possibilidades idiomáticas, sonoras e estéticas à 
cada obra. 
Se a música contemporânea permite que cada obra seja um universo singular, 
exigindo assim, uma construção que lhe é peculiar, o mesmo acontece com a performance. 
Cada obra transforma-se em um sistema particular, que exigirá do intérprete um conjunto de 
habilidades específicas que permitam sua execução. Assim, articulações e sonoridades e 
que funcionam para uma obra podem ser parcialmente ou completamente ineficazes para 
outra. 
Esta multiplicidade de linguagens musicais associada ao intenso experimentalismo 
foi um agente importantíssimo na ampliação do campo de atuação do intérprete. Isto 
conferiu-lhe um papel mais ativo não só na interpretação das obras, mas também no 
processo de sua criação. Isso porque, a permanência do ideal de intérprete, vislumbrado por 
compositores como Stravinsky (1882-1971) – aquele que executa fielmente os desejos do 
compositor – poderia ser um obstáculo à onda de experimentações que varreu e varre até 
22 
 
 
hoje a música contemporânea. Fez-se necessário que não só os compositoresreprofundassem nas possibilidades que se apresentava, mas que os instrumentistas 
também se aprofundassem, em suas atividades. A partir daí o papel do intérprete precisou 
ser, pouco a pouco transformado, de modo que outras atribuições fossem incluídas à tarefa 
de tocar um instrumento. 
A procura por novas sonoridades, texturas e subsequentemente por novas 
notações não teria sido facilitada sem a presença de instrumentistas dispostos a colaborar 
nesse processo de descobertas. Ou seja: seria difícil para o intérprete explorar o universo de 
novas demandas proposto pela música contemporânea de posse somente das habilidades 
longamente exercitadas no repertório tradicional. 
Barry Webb, também enfatiza esta mudança de paradigma no papel do performer 
estimulada pela música contemporânea: 
 
O desafio dos solistas na música contemporânea é enorme, e requer um 
comprometimento muito especial com a causa para trilhar este caminho. Ao 
passo que o compositor irá, usualmente, compor dentro de certos limites, 
entendidos como o seu “estilo” particular, espera-se do performer de hoje 
que ele interprete música de qualquer estilo e que obrigatoriamente possua 
uma compreensão das habilidades em seu instrumento muito além da 
demanda da música tradicional
7
. (WEBB, 2007, p. 255 – Tradução nossa) 
 
É possível afirmar, portanto que a música contemporânea abriu espaço para que 
compositores e intérpretes estivessem face a face com o inusitado. Cada um em suas 
atividades específicas pôde – e pode ainda hoje- deparar-se com situações inesperadas, 
que jamais poderiam ser previstas antes que elas se apresentassem. Sendo assim, diante 
deste caminho, que só é revelado à cada passo, sem muitas garantias que marquem sua 
jornada na criação e execução de obras musicais, a parceria entre eles pode transformar-se 
em uma ferramenta crucial, solucionando vários problemas inerentes à performance e a 
composição da música contemporânea. 
 
4.1 Gênese da Obra 
Para o processo criativo da obra Não importa se morrerem antes..., foram realizadas 
5 reuniões colaborativas. Como mencionado anteriormente, a primeira reunião com o 
compositor aconteceu de maneira informal no ano de 2017. Já ingressa no mestrado, a 
pesquisadora entrou novamente em contato com o compositor para dar início a pesquisa. 
 
7 The soloist‟s challenge in new music is enormous, and it requires a very special commitment to the 
cause to set out on this path. Whereas the composer will usually compose within certain confines 
understood as his or her particular „style‟, today‟s performer maybe expected to interpret music of any 
style, and must possess an understanding of instrumental capabilities far beyond the demands of 
traditional music. (WEBB, 2007, p. 255). 
23 
 
 
Logo, em 07 de março de 2018, a autora juntamente com o compositor, tinham 
pensado numa música para viola e piano, que chamaria Partita II, tendo em vista que Onofre 
já tinha escrito uma Partita para viola solo, como falado no capítulo anterior. 
Em 05 de Abril de 2018, tivemos o primeiro encontro para o compositor começar a 
feição da obra. Ficou decidido a presença de ritmos nordestinos, influência da música 
folclórica, que são melodias que refletem o estilo local e preservam uma herança cultural 
regional durante longos períodos e a sua grande importância é marcar a identidade de cada 
região. A maioria delas são usadas para brincadeiras, diversões e também para ninar. 
Sendo assim, são músicas de simples melodias e letras, fáceis de decorar. A referência à 
rabeca também foi pensada e usada pelo compositor. O uso da viola para reproduzir os 
sons semelhantes ao desse instrumento rústico foi assim definido por Onofre: 
 
Ao escrever para um determinado instrumento sempre penso qual seria a 
natureza desse instrumento em um contexto regional. Isso me levou à 
rabeca e, consequentemente, às melodias utilizadas em minha obra. Gosto 
muito da sonoridade da rabeca, especialmente nas cantorias de cego de 
oliveira, há todo um drama na performance desse tipo de música que me 
atrai, além da variedade na temática. Em minhas obras busco algumas 
especificidades timbrísticas, alguns sons mais rústicos e frágeis isso eu 
tentei implementar na viola, quase como se o instrumento estivesse em 
estado „bruto‟, acabado de ser descoberto. Enquanto isso, escrevi para a 
rabeca a parte que considero mais expressiva da peça, a melodia de ninar. 
Portanto, de certo modo vejo uma inversão de papeis entre os dois 
instrumentos e o seus contextos a priori. (ONOFRE, 2019) 
 
 
A rabeca aparece em várias regiões e de maneiras diferentes: de três cordas, 
quatro cordas, tipos de cordas, afinação e a maneira de tocar. Em Pernambuco, na zona da 
mata norte, o folguedo do cavalo-marinho é o forte na tradição de rabeca na região, e esse 
será o estilo utilizado pelo o compositor. 
Em 06 de maio de 2018, em conversa informal, houve mudança na instrumentação: 
viola, violino e violoncelo. Na reunião de 23 de julho de 2018, a intérprete exemplificou os 
esboços enviados pelo compositor via correio eletrônico, para que juntos pudessem debater 
sobre o determinado trecho. O primeiro esboço foi: 
 
24 
 
 
Figura 1 
 
Fonte: Onofre (2018) 
Nota: Esboço da obra levado pelo compositor 
 
 
 Assim, o compositor pedia que a intérprete fizesse de várias formas para que 
juntos pudessem escolher a melhor forma de interpretar. Nesse esboço, a intérprete pediu 
para o compositor retirar o pizzicato da mão esquerda. Onofre então falou que iria pensar 
como faria, se colocaria cordas duplas ou simplesmente tiraria o pizzicato da mão esquerda. 
Esse esboço foi inspirado no tema do Quarteto para Cordas número 8 de 
Shostakovich (1906-1975). 
 
Figura 2 
 
Fonte: Shostakovick (1960) 
Nota: Trecho da parte do primeiro violino do Quarteto para Cordas n° 8 Shostakovich 
 
25 
 
 
 
 Nesta mesma reunião, o compositor trocou a instrumentação, para o que era antes, 
viola e piano e também sugerindo a intérprete uma gravação dela tocando rabeca, para 
soltar no meio da música, fazendo uma música eletroacústica8. 
Em 03 de fevereiro de 2019, durante a última reunião, ocorreu mudança do título da 
obra, passando a ser Não importa se morrerem antes..., vejamos como o compositor 
descreve o seu pensamento sobre a composição: 
 
 
A obra de caráter concertante „Não importa se morrerem antes…‟ (2018-
2019), para viola, rabeca e orquestra de cordas, incorpora elementos da 
música tradicional para rabeca num contexto composicional focado na 
manipulação de texturas e timbres. O título da obra é um reflexo das atuais 
discussões sobre a reforma da previdência, assunto polêmico que vem 
sendo abordado com pressa desproporcional à importância que tem. Com o 
mote de poupar a todo o custo, a expressão reflete a importância 
secundária que está sendo dada à vida daqueles que morrerão antes de se 
aposentarem, trabalhadores, como os do campo, que devido à natureza 
árdua do seu ofício, possivelmente não viverão o suficiente para usufruir do 
benefício da aposentadoria. Em linhas gerais, a obra trata da interrupção, 
do desaparecimento e da morte. A viola adquire um papel solista 
incorporando gestos tradicionais de instrumentos de cordas como, por 
exemplo, arpejos utilizando as quatro cordas, harmônicos e escalas. A obra 
termina com a substituição da viola solista pela rabeca que toca uma 
espécie de „canção de ninar‟ enquanto a orquestra se esvai. (ONOFRE, 
2019) 
 
 
Neste mesmo encontro, o compositor levou outro esboço, ideia inspirada nos arpejos dos 
rabequeiros: 
 
Figura 3 
 
Fonte: Onofre (2018) 
Nota: Esboço da obra levado pelo compositor 
 
8 Música Eletroacústica: tipo de “música na qual a tecnologia eletrônica é utilizada para acessar, 
gerar, explorar e configurar materiais sonoros, e em que autofalantessão o meio primordial de 
transmissão” (EMMERSON; SMALLEY, 2001, v. 8, p. 59, tradução nossa). 
26 
 
 
 
Onofre, a partir do final de março, começou a mandar para a autora pedaços do 
que formaria, no futuro, a obra. Mais precisamente, 23 de março ele enviou o primeiro trecho 
definido para a intérprete. 
 
Figura 4 
 
Fonte: Onofre (2018) 
Nota: Esboço da obra levado pelo compositor 
 
A intérprete foi recebendo o material, tirando as dúvidas, também por via correio 
eletrônico, e dando sugestões. Nesse primeiro pedaço, ela sugeriu colocar um crescendo no 
primeiro Dó#. No restante, Onofre deixa claro que queria algo bem agressivo. Em 1 de abril, 
já no mês da estreia, o compositor manda o segundo esboço. 
 
27 
 
 
Figura 5 
 
Fonte: Onofre (2018) 
Nota: Esboço da obra levado pelo compositor 
 
No segundo esboço foram utilizadas quase todas as figuras rítmicas, mas todas em 
lugares distintos. Mostraremos abaixo as figuras que não estão na obra final: 
 
28 
 
 
Figura 6 
 
Fonte: Onofre (2018) 
Nota: Esboço da obra levado pelo compositor 
 
No mesmo dia, porém em outro email, o compositor mandou mais trechos da 
música, que está totalmente anexada no final do trabalho. 
 
 
 
 
 
 
29 
 
 
Figura 7 
 
Fonte: Onofre (2018) 
Nota: Esboço da obra levado pelo compositor 
 
Em 3 de abril, o compositor mandou um trecho da melodia da rabeca para a intérprete 
30 
 
 
Figura 8 
 
Fonte: Onofre (2018) 
Nota: Esboço da obra levado pelo compositor 
 
No dia 5, a intérprete gravou tocando a melodia na rabeca e enviou via correio 
eletrônico. No dia 7, ao ver uma dissertação de uma mestranda pela UFRN, a autora sugeriu 
ao compositor, por e-mail, de fazer o concerto com as luzes apagadas pois para ela deixaria 
o ambiente triste. 
Em 9 de abril de 2019, Onofre começa a mandar via correio eletrônico as partes da 
música para a solista. Mandou então a primeira página da cadência para a autora ter a ideia 
de como ia ser, deixando claro que poderia ter mudanças. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
 
 
Figura 9 
 
Fonte: Onofre (2018) 
Nota: Primeira cadência enviada pelo o compositor 
 
 
 
 
32 
 
 
Figura 10 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Versão final da cadência 
 
No dia 10, a intérprete fez uma pequena entrevista com o compositor para entender 
melhor sobre o seu interesse pela rabeca no cavalo marinho - o que tinha mudado do 
começo da criação da obra ao final; se suas músicas tinham influências do compositor 
33 
 
 
paraibano José Kaplan; e qual o seu ponto de vista em relação à Reforma da Previdência 
para compor esta obra. 
Em 13 de abril, o compositor manda a obra já bem estruturada, faltando poucas 
alterações para a finalização. No dia 19 a intérprete recebe outro e-mail do compositor 
dizendo que em breve estaria finalizando a obra. Dia 20, Onofre manda a parte completa, 
finalizada. 
 
Quadro 1 – Reuniões e mudanças no decorrer da composição de 
Não importa se morrerem antes... 
REUNIÃO DATA ASSUNTO RESULTADO 
1ª 07/03/2018 Nome da obra e 
instrumentação 
Partita II para viola e piano 
 
 
2ª 05/04/2018 Influências Ritmos nordestinos; Ritmos que 
imitassem a rabeca; música 
folclórica 
 
3ª 06/05/2018 Mudança na 
instrumentação 
 
Viola, violino e violoncello 
 
4ª 23/07/2018 Esboços da obra 
e música 
eletroacústica 
Exemplificação dos esboços 
pela a intérprete 
 
5ª 03/02/2019 Mudança no 
nome da obra e 
instrumentação 
O nome passou a ser Não 
importa se morrerem antes… 
para viola, rabeca e Orquestra 
de Cordas 
 
 Fonte: a pesquisadora 
 
4.2 Definição dos aspectos interpretativos 
 
Além da colaboração compositor-intérprete para a criação de Não importa se 
morrerem antes..., deu-se, durante o curso desta pesquisa, a elaboração de uma proposta 
de interpretação da obra. Esta proposta é consequência de anos de prática na música 
contemporânea, juntamente com livros que abordam técnicas estendidas e também do 
contato direto com o compositor. 
A finalidade desta subseção é apresentar e explicar esta proposta de interpretação. 
Por isso, serão abordadas questões relativas à sonoridade, articulação, acentuação, 
dinâmica e caráter. Falaremos, também, sobre a resolução das técnicas. Estes assuntos 
serão tratados detalhadamente trecho por trecho. 
Vale apena falarmos um pouco da primeira obra para viola de Onofre, e fazermos 
algumas comparações. 
34 
 
 
A Partita – L’Ingénu foi encomendada e estreada pelo violista Rafael Altino na 
gravação do seu CD com músicas para viola solo. Essa obra apresenta uma técnica mais 
complexa na parte da viola. Ela possui 4 movimentos, muitas trocas de compassos, 
compassos compostos e apresenta em todos os movimentos, os usos de microtons, legno 
battuto, legno gettato, legno tratto, contrastes no uso do sul ponticello e o sul tasto, 
overpressure, contrastes de dinâmica, trêmulos irregulares. Como também o compositor faz 
o uso dessas técnicas estendidas na obra Não importa se morrerem antes.... 
Podemos observar algumas dessas características presentes nas duas obras: 
 
Figura 11 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., o trecho apresenta contraste de 
dinâmica e overpressure (compasso 51 a 56). 
 
Figura 12 
 
Fonte: Onofre (2017) 
Nota: Trecho da parte da viola solo da obra Partita – L’Ingénu, o trecho apresenta contraste de dinâmica e 
overpressure (compasso 69 a 71). 
 
 
Outras técnicas estendidas que aparecem nas duas músicas de Onofre, são: 
 
 
 
 
 
 
35 
 
 
Figura 13 
 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., apresenta pizzicato Bartók e 
sequência de harmônicos naturais (compasso 136 ao 141). 
 
Figura 14 
 
Fonte: Onofre (2017) 
Nota: Trecho da parte da viola solo da obra Partita – L’Ingénu, apresenta pizzicato Bartók e sequência de 
harmônicos naturais (compasso 33 ao 37). 
 
Foram encontradas semelhanças entre as obras abordadas, como falamos acima. 
Por exemplo, a utilização de uma afinação microtonal, a forma como o compositor emprega 
o uso da técnica estendida, caracterizando uma identidade marcante em toda a sua obra 
para viola, ajuda a compreender melhor a sua linguagem composicional. Além dessas 
semelhanças na sua composição, é muito importante dizer que essas obras também têm 
semelhanças nas suas influências, como o ponto de partida do rabequeiro, José Oliveira, o 
“Cego Oliveira”, que se faz presente nas duas obras para viola. Onofre (2019) fala que ao 
saber que vai compor para viola, logo vem à mente a rabeca, pois a viola é o instrumento 
clássico que mais se assemelha a rabeca. Sobre a Partita – L’Ingénu, Onofre escreveu: 
 
A obra teve como ponto de partida o rico universo timbrístico da cantoria do 
rabequeiro José Oliveira, o „Cego Oliveira‟. Tais elementos foram 
transfigurados, exagerados e dilatados com o objetivo de implementar um 
discurso musical construído a partir da noção de melodia composta. 
Partindo desse princípio, notas ou sons que compartilham certa proximidade 
ou semelhança, em particular nos parâmetros registro, timbre ou ritmo, 
36 
 
 
tendem a ser percebidos como „um todo‟, uma Gestalt... (ONOFRE, 2013) 
 
Desta forma, esta pesquisa focada no repertório específico do compositor para a 
viola contribuiu para o sucesso colaborativo da obra Não importa se morrerem antes.... 
Como falado no início dessa dissertação, a música seria chamada Partita II, todavia 
a mudança não foi só no nome como também na parte interpretativa. Em relação a 
composição da obra, Onofre (2019) falou que: 
Da “Partita II” para a obra concertante „Não importa se morrerem antes...‟ 
muitas coisas mudaram, algumas de natureza prática e muitas outras com 
um viés político. Portanto, a mudança no meu projeto composicionalfoi uma 
junção das duas coisas. Escrever uma segunda “Partita” seria algo natural 
já que possuo uma para viola. No entanto, no decorrer do trabalho foram 
surgindo outras possibilidades, como um duo para viola e violoncelo, um 
quarteto de cordas e, finalmente, a versão para viola, rabeca e orquestra de 
cordas. Acho que essa foi a versão que mais me motivou e que a ideia veio 
pronta, em decorrência dessa coisa da Reforma da Previdência. O título foi 
retirado da matéria de um jornalista ao afirmar que a mensagem que estava 
por trás da reforma era essa, ou seja, as pessoas irão morrer antes de se 
aposentar. 
 
Portanto, em relação às questões técnicas podemos dizer que não sofreu tanta 
mudança, visto que a música já era de caráter nordestino. 
Para a performance de Não importa se morrerem antes... foram escolhidas diversas 
imagens mentais e emoções como inspiração. A escolha se deu a partir do reflexo das 
atuais discussões sobre a reforma da previdência, a partir dos comentários do compositor e 
a partir do contexto musical propriamente dito. 
 A primeira observação levantada pelo o compositor é sobre a cadência no começo 
da obra. Sendo assim, a intérprete divide a cadência em 4 seções bem separadas: a 
primeira seção, compreende do compasso 1 ao 6, apresentando acentos e dinâmicas de ff 
ao sfffz terminando a seção com um overpressure. 
 
Figura 15 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 1 ao 6). 
 
Na segunda seção vai do compasso 8 ao 20, onde aparecem trêmulos nas quintinas 
e sextinas, arpejos com harmônicos naturais indo para notas reais. Indo do ff ao pp e do pp 
ao ff. 
37 
 
 
 
Figura 16 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 8 ao 20). 
 
A terceira seção que vai do compasso 21 ao 39 retoma um tema da primeira e da 
segunda seção. 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
Figura 17 
 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 21 ao 39). 
 
Ainda na terceira seção, aparece uma nova característica nos compassos 32 ao 35: 
 
Figura 18 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 32 ao 35). 
 
Na quarta seção da cadência, a qual foi dividida assim pela a autora-intérprete para o 
seu estudo, apresenta o tema da segunda seção indo do compasso 40 ao 46. 
39 
 
 
Figura 19 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 40 ao 46). 
 
Não importa se morrerem antes... se inicia com a cadência, como visto acima, pois 
para o compositor a cadência, especialmente, deixa claro o trabalhador rural, onde seu 
trabalho é livre. Na música Onofre passa isso para a intérprete, deixando-a livre. Pensando 
nisso, a intérprete fez uma imagem mental guiando a performance. Mas o primeiro motivo 
da cadência vem de uma frase de 3 compassos e estão formados de uma semínima 
pontuada, logo após um compasso de pausa (tempo livre), no terceiro compasso colcheia 
pontuada com duas fusas. Todas as notas da primeira frase com indicação de fortíssimo 
agressivo com acento. Para a intérprete a imagem mental foi a ferramenta mais importante: 
nesses três primeiros compassos a imagem mental feita foi de um trabalhador rural 
começando os trabalhos, após o almoço, na hora que o sol está mais quente, com toda a 
sua garra para terminar logo, em seguida dando uma respirada e depois voltando ao 
trabalho árduo. 
 
Figura 20 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 1 ao 3). 
 
40 
 
 
Este motivo reaparece de maneira literal nos compassos 24 e 155, mas um pouco 
modificado durante toda a obra, não só na partitura da solista como na parte da orquestra. 
Como por exemplo no compasso 51: 
 
Figura 21 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da partitura da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 51). 
 
Essa obra predomina o overpressure e os harmônicos naturais, que são duas 
coisas contraditórias. O overpressure, um som muito forte e os harmônicos naturais, um 
som muito piano. 
O compasso 4 nos apresenta o segundo motivo, nota-se uma sequência de notas 
repetidas, começando do forte e chegando a um overpressure. 
 
Figura 22 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 5 e 6). 
 
Esse motivo se repete nos compassos 26 e 92, sendo interpretado do mesmo modo. Essa 
figura rítmica só aparece na parte da solista. A figura rítmica que mais aparece na parte da 
orquestra é uma sequência de glissandi com harmônicos naturais. Outra característica na 
parte da orquestra é a scordatura que o compositor coloca para os violinos de dentro do 
naipe, mudando a afinação da corda solta para Lá# Ré# Lá# e Mi nos primeiros violinos, e 
no segundo violino Lá Ré Sib Mi. 
 
 
41 
 
 
Figura 23 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da partitura da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 45 ao 48). 
 
Voltando para a cadência da parte da viola solista, no oitavo e no nono compasso 
aparece uma frase que é explorada por todo o decorrer da parte da viola solo. Que é uma 
sequência de notas reais, com trêmulos nas quintinas indo do ff para o f, seguindo de 
harmônicos naturais, também com trêmulos nas quintinas e nas sextinas indo do f para o pp. 
 
Figura 24 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 8 ao 10). 
 
Na metade do compasso 14 é apresentado o terceiro motivo, terminando no 
compasso 20. Começa, então, a aparecer a figura rítmica mais explorada pelo compositor: 
harmônicos naturais em arpejos, terminando a frase com os arpejos com notas reais, ou 
vice-versa. 
 
42 
 
 
Figura 25
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 14 ao 20). 
 
Ainda na cadência, a intérprete muda alguns acentos e também faz um accelerando 
e um ritardando pelo seu gosto. A exemplo: 
 
43 
 
 
Figura 26
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., como o compositor 
escreveu (compasso 32 ao 38). 
 
Figura 27 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., como a intéprete tocou 
(compasso 32 ao 38). 
 
Logo após a cadência, na letra A, é a entrada da orquestra, onde o solista fica em ff 
com um tema já apresentado na cadência, porém um pouco modificado, e a orquestra 
44 
 
 
entrando com glissando de harmônico natural chegando, em alguns momentos, juntamente 
com a solista no overpressure. 
 
Figura 28 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da partitura da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 51 ao 56). 
 
Ainda na letra A, o compositor entra num ritmo baião, o qual foi pedido pela intérprete na 
primeira reunião para a feição da obra. Nele a intérprete faz algumas alterações de acentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
Figura 29 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., feito pelo o compositor 
(compasso 57 ao 68). 
 
46 
 
 
Figura 30 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da cadência da viola solista da obra Não importa se morrerem antes..., feito pela a intérprete 
(compasso 57 ao 68). 
 
Nesse mesmo trecho modificado pela intérprete, o compositor faz perguntas e respostas 
entre a solista e os violinos, nos compassos 61 ao 66. 
 
 
 
47 
 
 
Figura 31 .
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da partitura da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 61 ao 63). 
 
Emseguida, na sessão B, entramos no trecho mais trabalhoso na parte da solista, 
onde aparecem notas duplas sendo todas harmônicos naturais, e algumas ainda contendo 
trêmulos irregulares, juntamente com troca de compassos. Toda a orquestra também está 
numa seção de harmônicos naturais. A imagem mental dessa seção foi imaginar o 
trabalhador rural na hora do seu descanso matinal. Onde o cansaço muitas vezes é maior 
do que o sono. 
48 
 
 
Figura 32 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 73 ao 83). 
 
Além das cordas duplas, os ritmos diferentes e os trêmulos irregulares, as trocas de 
compassos também dificultaram essa seção. 
Para esse trecho, a intérprete fez uso do livro de técnica estendida Il violino, I 
suoniarmonici: classificazione e nuovetecniche - Enzo Porta, no qual se explica brevemente 
sobre harmônicos naturais e como irão soar: 
 
Com exceção da corda IV, o uso da transposição de oitava foi evitado para 
dar uma ideia visual mais clara dos campos resultantes reais. Este sinal de 
transposição será usado mais tarde no decorrer do texto. Os sinais 
convencionais são empregados com as setas apontando para cima ou para 
baixo de acordo com a direção em que o dedo deve se mover; uma seta 
dupla indica um movimento ligeiramente maior. Sinais de um quarto de tom 
não são usados aqui porque as distâncias em questão são geralmente 
aproximadas e muitas vezes relativas ao tipo de corda (intestino, aço, 
perlon, alumínio, etc.). Os campos resultantes, que são particularmente 
difíceis de obter, são incluídos em parênteses. Ocasionalmente, duas 
alturas resultantes são indicadas: isto significa que elas interferem com a 
outra irregularmente, mesmo que o dedo responsável pela inclinação 
fundamental esteja perfeitamente imóvel.
9
 (PORTA, 1985, p. 7 - Tradução 
nossa) 
 
9 With exception of the IV string, use of the octave transposition sing has been avoided to give a 
clearer visual idea of the actual resulting pitches. This transposition sign will be used later in the 
course of the text. The conventional signs are employed with the arrows pointing up or down 
according to the direction in which the finger must move; a double arrow indicates a slightly greater 
movement. Quarter-tone signs are not used here because the distances in question are renerallyap-
proximate and often relative to the type of string (gut, steel, perlon, alluminum, etc.). Resulting pitches 
which are particularly difficult to obtain are enclosed in parenthese. Occasionally two resulting pitches 
are indicated: this means that they interfere with on another irregularly, even though the finger 
responsible for the fundamental pitch is perfectly still. 
49 
 
 
Figura 33 
Fonte: Enzo Porta 
Nota: Página 7 do livro Il violino, I suoniarmonici: classificazione e nuovetecniche - Enzo Porta. 
 
 
Logo após o estudo dos harmônicos naturais, o dedilhado usado pela a intérprete foram: 
 
50 
 
 
Figura 34 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Parte de estudo da intérprete da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 73 ao 83). 
 
Posteriormente, ainda na letra B, no compasso 103, vem o trecho que submete ao 
galope, mostrado anteriormente como estava no primeiro esboço que o compositor mandou 
para a intérprete e como ficou. 
 
Figura 35 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 72 ao 84). 
 
51 
 
 
A intérprete pediu para retirar os pizzicatos da mão esquerda na corda Dó, pedindo para o 
compositor colocar cordas duplas. Após isso, ao achar muita clareza nesse trecho, Onofre 
topou colocar as cordas duplas e sugeriu o legno tratto. ficando assim: 
 
Figura 36 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso106 ao 108). 
 
O dedilhado usado pela a intérprete foram os: 
 
Figura 37 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Parte de estudo da intérprete da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 113 ao 119). 
 
Na letra D, volta o tema principal, já apresentado na segunda seção da cadência da 
parte da viola solo, e muito explorado pelo compositor durante toda a parte da solista, os 
52 
 
 
arpejos que vieram da influência, principalmente, do rabequeiro, “Cego Oliveira”. Esses 
arpejos sempre com molto sul ponticello e molto sul tasto. 
 
Figura 38 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 125 e 126). 
 
Para estudar os trechos em molto sul ponticello, a intérprete fez uso do livro de técnica 
estendida Viola Spaces– Garth Knox. 
 
Figura 39 
 
Fonte: Garth Knox (2009) 
Nota: Página do livro de técnica estendida Viola Spaces. 
53 
 
 
Após esses arpejos da sessão D, e do estudo do sul ponticello, o compositor entra 
no Meno mosso, deixando a intérprete livre, com uma melodia de aboio, tendo como 
referência uma das melodias de Mario de Andrade. Melodias essas que estão manuscritas 
por Linemburg e Fiaminghi (2015) em seu artigo: 
 
Figura 40 
 
Fonte: Artigo 
Nota: Retirada do artigo - A rabeca de Vilemão Trindade em Mário de Andrade II: ampliando o repertório e 
desvelando vozes esquecidas. 
 
Figura 41 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da parte da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 132 ao 134). 
 
Para ir finalizando a obra com caráter melancólico, o compositor deixa só a orquestra 
tocando sequências de harmônicos naturais, enquanto a solista troca de instrumento. 
Depois de uma seção de pausa para a solista, o compositor coloca uma canção de ninar 
para ser tocada pela rabeca. 
 
54 
 
 
Figura 42 
 
Fonte: Onofre (2019) 
Nota: Trecho da partitura da viola solista da obra Não importa se morrerem antes... (compasso 175 ao 221). 
 
Para tocar esse trecho na rabeca, a intérprete entrevistou um dos mais renomados 
rabequeiros, Luiz Paixão10, o qual lhe mostrou como tocar uma canção de ninar na rabeca. 
 A entrevista ocorreu no começo de abril de 2019, antes da estreia da obra, por meio 
da qual se procurou entender melhor sobre o jeito de tocar. Além de assistir vídeos do 
rabequeiro, a mesma achou de suma importância entender um pouco da realidade de um 
rabequeiro, para a partir disso ela criar uma imagem mental e tirar dúvidas para melhor 
representar os verdadeiros rabequeiros. Durante a entrevista, Paix demonstrou muitas 
músicas autorais, como exemplificou o cavalo marinho, também tocou a parte da rabeca da 
obra Não importa se morrerem antes... tocando de ouvido, pois não sabe ler partitura. Ele 
mostrou a interpretação e características importantes para a interpretação futura da autora-
intérprete. 
 
10
 Luiz Paixão (1949) natural de Aliança – PE, começou a estudar rabeca com 12 anos. Conhecido o 
mestre do cavalo-marinho, gravou seu primeiro CD em 2005. 
55 
 
 
 Durante a melodia da parte da rabeca solo, o compositor/maestro vai tirando músico 
por músico, até ficar só a solista, deixando, mais uma vez, a intérprete livre com a métrica. 
 Para a interpretação da canção de ninar na rabeca, a intérprete criou uma imagem 
de tristeza, cansaço, injustiças e desigualdades. 
 
Foto 1 - Foto da solista tocando rabeca na estreia da obra Não importa se morrerem antes... 
 
 Fonte: arquivo pessoal da pesquisadora 
 
 
4.3 As técnicas estendidas na obra Não importa se morrerem antes... 
 
A busca por novas sonoridades está presente durante toda a obra. Isto faz com que 
o primeiro contato do intérprete com a partitura de Não importa se morrerem antes... possa 
ser de difícil assimilação devido à escrita inovadora do compositor. De fato, a escrita 
utilizada por Onofre não é tida como tradicional, não só

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