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Narrativasimageticassobre-Irineu-2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL 
 
 
 
LEILA PATRICIA DE LIMA IRINEU 
 
 
 
 
 
 
NARRATIVAS IMAGÉTICAS SOBRE O PARTO HUMANIZADO: 
UMA PERSPECTIVA DO FORTALECIMENTO DA AUTONOMIA DAS 
MULHERES 
 
 
 
 
 
 
 
Natal - RN 
2021 
 
 
 
 
LEILA PATRICIA DE LIMA IRINEU 
 
 
 
 
NARRATIVAS IMAGÉTICAS SOBRE O PARTO HUMANIZADO: 
UMA PERSPECTIVA DO FORTALECIMENTO DA AUTONOMIA DAS 
MULHERES 
 
 
 
 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao 
programa de Pós Graduação em 
Antropologia Social da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, como 
parte dos requisitos necessários à 
obtenção do título de mestre em 
Antropologia Social. 
Orientadora: Prof.ª Drª. Lisabete Coradini. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal-RN 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – 
CCHLA 
 
 
 Irineu, Leila Patricia de Lima. 
 Narrativas imagéticas sobre o parto humanizado: uma 
perspectiva do fortalecimento da autonomia das mulheres / Leila 
Patricia de Lima Irineu. - 2021. 
 119f.: il. 
 
 Dissertação (mestrado) - Centro de Ciências Humanas Letras e 
Artes, Programa de Pós Graduação em Antropologia Social, 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, 2022. 
 Orientadora: Lisabete Coradini. 
 
 
 1. Parto Humanizado - Dissertação. 2. Antropologia Visual - 
Dissertação. 3. Fotografia de Parto - Dissertação. I. Coradini, 
Lisabete. II. Título. 
 
RN/UF/BS-CCHLA CDU 39 
 
 
 
 
 
Elaborado por Ana Luísa Lincka de Sousa - CRB-15/748 
 
 
 
 
LEILA PATRICIA DE LIMA IRINEU 
 
 
 
 
NARRATIVAS IMAGÉTICAS SOBRE O PARTO HUMANIZADO: 
UMA PERSPECTIVA DO FORTALECIMENTO DA AUTONOMIA DAS 
MULHERES 
 
Dissertação de Mestrado apresentada ao 
programa de Pós Graduação em 
Antropologia Social da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, como 
parte dos requisitos necessários à 
obtenção do título de mestre em 
Antropologia Social. 
 
Aprovada em: ____/____/____ 
 
 BANCA EXAMINADORA: 
 
 
Prof.ª Drª. Lisabete Coradini (Orientadora/ Presidente – PPGAS/UFRN). 
 
Prof.ª Drª. Denise Machado( PPGSA/UFPA). 
 
Prof.ª Drª. Ana Gretel Echazú (PPGAS/UFRN). 
 
Prof.º Drº. Maria Angela Pavan (PPGEM/UFRN) 
 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicado as mulheres da minha vida. 
Minha mãe Maria luiza e Minha filha Aimê, 
Sem vocês não seria possível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Gostaria de utilizar este espaço para demonstrar a gratidão a toda generosidade que 
fizeram possível esta jornada acadêmica. Uma pesquisa não se escreve sozinha dentro dela 
estão vários sujeitos que compõem a minha biografia enquanto pesquisadora e enquanto 
pessoa sendo impossível conceber e dissertar sobre tais assuntos se a vida com seus 
personagens importantes não tivessem me preparado ao longo do percurso com seus inúmeros 
professores. 
Escrever esta dissertação é um contínuo processo de amadurecimento de idéias que 
seguiram se fortalecendo ao longo de uma trajetória iniciada desde que ingressei nas ciências 
sociais. Sou grata por que através deste empreendimento, tornei-me mais madura, persistente 
e forte para os desafios que ainda vislumbram o meu horizonte. Apesar das angústias que 
passam no campo científico brasileiro, seguimos resistindo dentro da Universidade pública 
por uma educação e ciência de qualidade ao alcance de todas e todos. 
Sou profundamente grata a minha Mãe Maria Luiza por me gestar, parir , maternar e 
acreditar em mim em todos os momentos e depositar sua confiança apesar das diversidades e 
dificuldades que é às vezes acompanhar o crescimento de um filho, de me ensinar tudo que 
sabia e investir com muito esforço todos os seus recursos para que eu pudesse estar aqui 
hoje. 
Agradeço também a Emanoel Aquila, meu companheiro de aventuras na vida e que me 
incentivou e trilhou comigo me dando suporte e apoio desde que nos inscrevemos na seleção 
do mestrado até a materialização do projeto de pesquisa. 
Também sou grata a minha querida e amada filha Aimê Olivia por me ensinar todos os 
dias como ser um ser humano melhor, além de ser uma parte importantíssima dessa pesquisa 
pois foi depois de gestado e parido que pude mais enfaticamente observar tais nuances a 
serem investigadas no campo científico . Obrigada filha. Agradeço a meu filho Nilo que veio 
 
 
 
em meio à pesquisa fazendo florescer mais uma vez o interesse pela temática que abordei 
além de ter me ajudado de maneira prática na inserção no campo. Obrigada bebê. 
Agradeço a Lisabete Coradini, e a base de pesquisa NAVIS (Núcleo de Antropologia 
Visual) por ter me acolhido e acreditado no meu potencial desde a graduação até o mestrado 
apostando nos meus sonhos e me orientando de maneira leve e dedicada e também muito 
atenciosa, na escrita e em tantos outros projetos que vivenciei dentro da minha história 
acadêmica. 
Agradeço aos amigos que me apoiaram durante a jornada na necessidade, em especial : 
Andresa Karla, por ter corrigido meu projeto me deixando mais confiante; A Isabelle 
Christine por ter ficado com minha filha durante minhas aulas. Agradeço também aos meus 
colegas da turma de 2019 por ter dividido alegrias e desafios ao longo deste curso de pós-
graduação. 
Sou imensamente grata ao a UFRN por de maneira maravilhosa representar o que é o 
ensino público de qualidade e gratuito a que todos deveríamos ter acesso, e também ao 
PPGAS e todo seu corpo docente, a todas avaliacões dos professores ao longo do curso que 
me fizeram crescer sobre diversos aspectos, destaco aqui as contribuições das professoras Ana 
Gretel Echazú e Maria Angela Pavan que compuseram minha banca de qualificação, momento 
de suma importancia para o desenvolvimento da dissertação. Agradeço também aos 
servidores do programa PPGAS que sempre estiveram prontamente nos atendendo ao longo 
destes anos. 
De maneira especial gostaria de agradecer, a Casa das conchas , a Sabrina Bronzatto , 
Clarissa Del Leon, e Dany Melo que me permitiram adentrar e conhecer suas histórias e 
universo ao longo da pesquisa e que tanto me ensinaram ao longo dela. 
Por fim agradeço também a CAPES por trazer a oportunidade da realização desta 
pesquisa como grande agência de fomento à pesquisa científica brasileira. 
 
A todos, muitíssimo Obrigada! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
O nascimento de um filho é um evento importante na vida de quem está gestante e cada uma 
dessas pessoas irá vivenciar a experiência de parir de maneira diferente. O parto é um assunto 
discutido em diferentes vertentes científicas: Antropologia da saúde, Sociologia da saúde, 
Políticas públicas, Relações de gênero, entre outras. Atualmente, estamos vivendo uma 
sociedade mediada por diferentes tecnologias digitais que interferem na nossa vida cotidiana. 
Em particular, há um aumento do uso das redes sociais, principalmente o Facebook e 
Instagram como meio de comunicação sobre diferentes temas e assuntos. Esta investigação se 
propõe a entender como as gestantes encaram o parto e qual a sua relação com as imagens do 
parto normal e humanizado divulgadas na internet. O trabalho busca analisar uma rede de 
relações entre mulheres que compõem o espaço Casa das Conchas em Natal/RN, um lugar 
que promove assistência a quem deseja um parto humanizado na cidade, buscando 
compreender as experiências do parto, os laços de sociabilidade e afetos das mulheres que 
participam dos encontros de doulas e gestantes. O fortalecimento da autonomia da mulher
sobre o seu corpo no momento do parto, é uma questão chave para as gestantes que estão em 
busca de novas experiências “humanizadas”. Nesse sentido, o objetivo principal dessa 
investigação é analisar as imagens e a circulação desses conteúdos na internet. Para tanto, foi 
necessário interpretar os perfis criados no Instagram sobre parto normal e humanizado, como 
também participar de grupos de Whatsapp envolvendo a temática. Busco assim, entender 
como estas narrativas (áudio) visuais podem revelar aspectos fundamentais sobre a temática 
da humanização do parto em Natal/RN. 
 
Palavras-chave: Parto. Humanização. Fotografia. Antropologia visual. Circulação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
The birth of a child is an important event in the life of a pregnant woman, and each of these 
people will experience giving birth in a different way. Childbirth is a subject discussed in 
different scientific fields: health anthropology, health sociology, public policies, gender 
relations, among others. We are currently living in a society mediated by different digital 
technologies that interfere in our everyday life. In particular, there is an increase in the use of 
social networks, especially facobook and instagram, as a means of communication on 
different themes and subjects. This investigation aims to understand how pregnant women 
face childbirth and what is its relationship with the images of normal and humanized 
childbirth published on the internet. The work seeks to analyze a network of relationships 
between women who make up the Casa das Conchas space in Natal/RN: a place that promotes 
assistance to those who want a humanized childbirth in the city, seeking to understand the 
experiences of childbirth, the bonds of sociability and affections of the women who 
participate in the meetings of doulas and pregnant women. The strengthening women's 
autonomy over their bodies during childbirth is a key issue for pregnant women who are in 
search of new “humanized” experiences. In this sense, the main objective of this investigation 
is to analyze the images and theoretical circulation in Nós. For that, it was necessary to 
interpret the profiles created in Instagram about normal and humanized childbirth, as well as 
to participate in WhatsApp groups involving the theme. Thus, I seek to understand how these 
visual (audio) narratives can reveal fundamental aspects on the theme of humanization of 
childbirth in Natal / RN. 
 
Keywords: Childbirth. Humanization. Photography. Visual anthropology. Circulation 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1. Trilogia "O Renascimento do Parto" ......................................................................... 40 
Figura 2. "The Miracle of Birth" .............................................................................................. 41 
Figura 3. Novela" Órfãos da Terra” ........................................................................................ 43 
Figura 4. Feira "ZEN" .............................................................................................................. 46 
Figura 5. “ TEIA- Conectando o feminino” ............................................................................ 47 
Figura 6. Parto domiciliar planejado ........................................................................................ 48 
Figura 7. Pré-natal coletivo ...................................................................................................... 49 
Figura 8. “Verticalize para parir” ............................................................................................. 50 
Figura 9. “Vocalize para parir”................................................................................................. 51 
Figura 10. Parto na banqueta e ausculta fetal ........................................................................... 52 
Figura 11. A hora de ouro. ........................................................................................................ 53 
Figura 12. Pré-natal com Clarissa............................................................................................. 61 
Figura 13. “Chuva de Bençãos” ............................................................................................... 69 
Figura 14. Roda de pré-natal coletivo ...................................................................................... 70 
Figura 15. “Como fica o trabalho de parto em tempos de Covid-19? ...................................... 74 
Figura 16. “Como posso contribuir no seu parto em tempos de pandemia?” .......................... 74 
Figura 17. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 91 
Figura 18. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 92 
Figura 19. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 92 
Figura 20. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 93 
Figura 21. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 93 
Figura 22. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 94 
Figura 23. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 94 
Figura 24. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 95 
Figura 25. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 95 
Figura 26. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 96 
 
 
 
Figura 27. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 96 
Figura 28. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 97 
Figura 29. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 97 
Figura 30. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 98 
Figura 31. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 98 
Figura 32. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 99 
Figura 33. “O Renascimento de Dany” .................................................................................... 99 
Figura 34. “O Renascimento de
Dany” .................................................................................. 100 
Figura 35. “O Renascimento de Dany” .................................................................................. 100 
Figura 36. “O Renascimento de Dany” .................................................................................. 101 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELA 
 
Tabela 1. Questionário aplicado ............................................................................................... 77 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO......................................................................................................................10 
Parto: uma atividade compartilhada em rede. .......................................................................... 12 
Parto humanizado e seu contexto político: principais questões e notas gerais. ........................ 16 
Aproximação com o problema de pesquisa. ............................................................................. 19 
Caminhos e metodologias ......................................................................................................... 20 
CAPÍTULO 1 - ASPECTOS DA CONSTRUÇÃO DA HUMANIZAÇÃO DO PARTO 
NO BRASIL: CONFLITOS E CONCEITOS. ..................................................................... 25 
1.1. A construção da humanização na saúde ............................................................................ 25 
1.2. Humanização no parto ....................................................................................................... 26 
1.3. Conflitos relativos ao parto na atualidade brasileira: do elevado número de cesáreas a 
violências obstétricas ................................................................................................................ 29 
CAPÍTULO 2 - DO PARTO HUMANIZADO A UMA NOVA ESTÉTICA DE 
NASCER: UMA ABORDAGEM ANTROPOLÓGICA SOBRE IMAGEM, 
CAMINHOS TEÓRICOS POSSÍVEIS. ............................................................................... 36 
2.1 Parto e antropologia: algumas considerações .................................................................... 36 
2.2. Estética de nascer do parto humanizado: trajetos importantes. ......................................... 37 
2.3. Pensando com imagens ...................................................................................................... 54 
CAPÍTULO 3 - ETNOGRAFANDO PARTIR DO CAMPO: “CASA DAS CONCHAS” 
UMA REFLEXÃO SOBRE SUA PROPOSTA DE HUMANIZAÇÃO DO PARTO ...... 59 
3.1 Nos caminhos da pesquisa: Casa das Conchas, pré-natal coletivo uma leitura de sua 
atuação. ..................................................................................................................................... 60 
3.3 Da estrutura do pré natal coletivo. ...................................................................................... 76 
3.4 Sobre o olhar da fotografia de parto humanizado em Natal: uma conversa com Sabrina 
Bronzatto e Dany Melo............................................................................................................. 83 
CAPÍTULO 4 - ENSAIO FOTOGRÁFICO “O renascimento de Dany” - 
Empoderamento feminino através da fotografia de parto.................................................. 90 
CONCLUSÕES ..................................................................................................................... 102 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 109 
REFERÊNCIAS AUDIOVISUAIS ..................................................................................... 112 
LISTA DE SINOPSE ........................................................................................................... 113 
10 
 
 
 
 INTRODUÇÃO 
 
Essa dissertação tem por objetivo analisar a produção de imagens de parto humanizado 
veiculadas em ambientes virtuais, mais especificamente nas redes sociais Instagram, 
Facebook e grupos de Whatsapp, promovidas pelas profissionais de assistência ao parto 
humanizado da Casa das Conchas em Natal/RN, uma equipe multidisciplinar composta por 
doulas, fotógrafas, enfermeiras obstétricas e parteiras urbanas. 
Para além de espaços de comunicação, as redes sociais se consolidam como espaços 
de socialização e interação, com grande influência na nossa vida cotidiana offline. A partir 
dessa perspectiva, analisei a circulação das imagens sobre o parto humanizado na cidade de 
Natal (RN), tendo como referência os seguintes perfis: @casa_das_conchas e 
@parto_humanizado_natal, além das páginas pessoais da fotógrafa Sabrina Bronzatto 
(@binabronzatto) e Clarissa de Leon (@cla_das_conchas), que trabalham em parceria no 
espaço. 
 As narrativas audiovisuais e fotográficas presentes nessas redes sociais digitais 
demonstram intencionalidades e subjetividades. Busco assim, compreender como estas 
narrativas visuais podem revelar aspectos fundamentais sobre o parto humanizado na cidade 
de Natal/RN. 
A Casa das Conchas está localizada no bairro Ponta Negra, zona sul de Natal. Esse 
bairro destaca-se por ser um lugar turístico e com moradores na sua grande maioria de classe 
média alta. O espaço foi criado no sentido de trazer propostas relacionadas ao movimento do 
parto humanizado e nele se encontram as possibilidades de um acompanhamento das 
gestantes e também do trabalho de parto, que consiste em atividades como: pré-natal coletivo, 
parto domiciliar planejado com a presença de fotógrafas, doulas e enfermeiras obstétricas, 
atenção ao puerpério e consulta de desenvolvimento e crescimento infantil, todos financiados 
de maneira privada. 
Esse espaço disponibiliza informações através da circulação de imagens que vão desde 
a indicação de filmes em palestras e conversas presenciais, passando pelos debates 
desenvolvidos sobre a concepção da fotografia de parto humanizado. Em paralelo, ocorre a 
fomentação das páginas virtuais no Instagram: @parto_humanizado_natale 
@casa_das_conchas, que contam com fotografias, vídeos-relatos dos partos, posts, cartazes 
sobre o parto humanizado, como também a divulgação das suas atividades e eventos. 
Ou seja, uma parte da dinâmica da Casa das Conchas está em expor e debater 
11 
 
 
 
informações sobre o tema parto e humanização, tanto de maneira presencial, quanto no 
estabelecimento de uma comunidade virtual formada a partir das páginas do Instagram e de 
grupos de aplicativo de mensagens como o Whatsapp, que contam com um público constante 
de mães, gestantes, puérperas, profissionais de saúde da cidade e também de outros lugares do 
país. O objetivo principal dessa dissertação consiste em entender quais são os acionamentos 
propostos pelas narrativas imagéticas produzidas pela Casa das Conchas na cidade de 
Natal/RN. 
Respaldo minha escolha diante do tema por pensar que estudar estas imagens é um 
ponto fundamental da representação do parto seja por vídeos ou fotografias. Desse modo, 
entender as narrativas audiovisuais promovidas pelos conteúdos elaborados pela equipe da 
Casa das Conchas podem nos levar a compreender atráves da circulação da informação, as 
dinâmicas promovidas pelo lugar assim como mensurar seu impacto na cidade . 
Cabe destacar que o parto é um acontecimento cercado de práticas sociais que vão 
desde a gestação ao nascimento. Do ponto de vista da Antropologia, parir pode ser lido 
enquanto um rito de passagem, como aponta Van Gennep (1978), cercado de características 
culturais e simbólicas que são passíveis de análise. Portanto, gerar e parir é um período de 
transformação marcado por etapas distintas: trabalho de parto, parto, pós-parto, levando 
categoricamente a pessoa que pariu, a ocupação de lugares diferentes socialmente, dentre 
eles, o mais comum em nossa sociedade
ocidental seria lugar de mãe. 
Gostaria aqui de frisar, também, que o lugar da mãe pode ser acessado por outros 
caminhos que não o da gestação, como acontece no caso da adoção, por exemplo. Apesar de 
estarem comumente relacionados, os eventos maternos e da gestação não podem ser 
visualizados e nem reduzidos a uma função biológica, já que a maternidade está circunscrita 
em uma organização social e histórica. Sendo assim, de maneira inversa a esta lógica, outros 
corpos não cisgêneros podem também gerar e parir sem que necessariamente seu destino 
posterior seja o da maternidade. 
Porém, o interesse deste trabalho busca dar atenção a escolha do parto dessa 
população de mulheres que de maneira histórica socialmente construída, enfrentam esta 
transição do parto e que no fim se resultam em serem mães, ocupando um lugar de cuidado e 
de dedicação à criança. Os significados e as facetas da gestação e do parto apresentam assim, 
um universo novo para o corpo que o vive. Noções que são carregadas de ambivalências e 
questões conflitantes que aparecem antes, durante e depois do parto, que podem e devem ser 
analisadas. 
12 
 
 
 
Buscando observar a variedade de prescrições dadas ao momento do parto, é 
interessante observar à luz dos conhecimentos antropológicos, o trabalho de Van Gennep 
(1978) sobre rituais, onde o autor demonstra por exemplo, que em certas sociedades 
tradicionais, as mulheres em trabalho de parto poderiam ser isoladas em um lugar separado 
dos demais ou mesmo ter prescrições de alimentações diferenciadas ou práticas de manejo 
da placenta – o órgão que nutre o feto durante a gestação expelido no momento do parto – 
dentre outros marcadores como particularidades que se distinguem de um grupo para o outro. 
Em técnicas do corpo, Marcel Mauss (2003) classifica a técnica do nascimento e 
obstetrícia como uma maneira de se servir do corpo que se diferencia entre as sociedades, 
demonstrando que em diversas comunidades é comum parir de pé, por exemplo, enquanto em 
outras sociedades, a posição de quatro apoios também seja uma opção. 
A ideia do parto também traz consigo dimensões de “sagrado” e “profano” , assim 
como de pureza e de perigo, tal qual abordada por Mary Douglas (1976) e que são utilizadas 
socialmente para manter certos ordenamentos sociais. Se em sociedades tradicionais eram 
recomendados rituais de purificação pós parto para muitas mulheres, em nossos dias atuais 
algo semelhante também acontece; o parto também está cercado de recomendações e 
discursos que podem ser oriundos origens diversas: popular, de falas médicas ou de visões 
terapêuticas e holísticas que compõem narrativas atuais sobre parir e que irá também divergir 
entre as esferas culturais dentro de um mesmo recorte social. Enxergar esses variados 
discursos pode proporcionar do ponto de vista antropológico, uma possibilidade de 
atualização dos acontecimentos sobre a temática. 
 
Parto: uma atividade compartilhada em rede. 
 
Atualmente vivemos um mundo em redes, como sugere Castells (1999), em que há 
uma profusão de informações e novas formas de se relacionar em grupos que inflam as redes 
sociais e a internet. São nesses ambientes virtuais que alguma parcela das mulheres grávidas 
e puérperas, assim como os profissionais presentes no momento do parto (doulas, 
enfermeiras, obstetras, fotógrafos) vão também se relacionar e compartilhar informações 
acerca do parto. 
A essa profusão de informações, vídeos e fotografias, o autor Ricardo Campos (2012) 
chama de uma cultura visual que pode ter intencionalidades artísticas, estéticas e 
13 
 
 
 
informativas, e que circulam. As imagens se expressam e entram em conflito disputando 
espaço e se comunicando. Segundo o autor: 
 
Os estudos visuais, à semelhança dos estudos culturais, onde normalmente 
são incorporados, correspondem a um conjunto de abordagens multi e 
interdisciplinares que, em comum, possuem unicamente o seu objecto: a 
imagem, a visão e a visualidade.” (CAMPOS, 2012 p.21) 
 
 Ao mergulhar neste micro universo virtual de fotografias, vídeos e cartazes sobre o 
parto, é possível perceber tensionamentos existentes. Dentre eles, o que mais se destaca é a 
discussão entre benefícios e malefícios das condutas de assistência médica no parto, que é 
majoritariamente na atualidade, a principal escolha de parir, entrando em confronto a outro 
modelo de gestar e parir, que seria a abordagem da humanização do parto e a escolha do parto 
domiciliar. Essas últimas opções advogam sobre um maior protagonismo e respeito à mulher 
no momento do parto. Estes diferentes grupos ou coletivos disputam narrativas sobre o parto, 
ciência, bem-estar e saúde relacionadas com o evento e que trazem consigo uma expressiva 
visualidade própria e que aqui neste trabalho veremos qual é a característica visual do parto 
humanizado. 
Buscando entender o ponto de vista imagético sobre o parto na atualidade, reportei-
me a alguns acontecimentos que na minha opinião, vêm mudando a ótica em relação ao parto 
vaginal, dentre eles está a trilogia de filmes documentários “O renascimento do parto” (2013), 
um filme de Érica de Paula e Eduardo Chauvet, projeto que busca inicialmente revelar a 
realidade mundial e especialmente brasileira, no que diz respeito ao nascimento e a 
obstetrícia. Os filmes contam com a participação da antropóloga americana Robbie Davis-
Floyd que é grande referência nos estudos referente ao parto na Antropologia (ver sinopse em 
anexo). 
No primeiro filme da série “O Renascimento do parto” (90‟ min, 2013), realizado a 
partir de um financiamento coletivo, demonstram-se os possíveis benefícios de um parto 
natural em contraposição a uma cirurgia cesariana desnecessária. No segundo filme “ O 
renascimento do parto 2” (91‟ min, 2018) o foco aparece em cima das relatadas violências 
obstétricas, reivindicando um nascimento respeitoso para mãe e filho e no terceiro filme, 
“Renascimento do parto 3” (72‟ min, 2018), temos a discussão a respeito da possibilidade do 
nascimento humanizado no SUS (Sistema Único de Saúde) brasileiro, representado pela 
história do Centro de Parto Humanizado Casa de São Ângelo em São Paulo, abordando temas 
14 
 
 
 
como o Parto Orgásmico – VBAC (Vaginal Birth After Cesarean) – , além de mostrar o 
contexto do parto humanizado em outros países como Holanda e Nova Zelândia. 
O debate sobre a humanização ou o “parto natural” não é recente. Porém, depois do 
lançamento do filme, a dimensão visual dele passa a ser referência dentre muitas conversas 
vivenciadas e observadas durante a pesquisa de como o parto deve acontecer. O terceiro 
filme tem um caráter mais educativo, ao alertar as mulheres sobre a atual situação do país em 
relação ao parto, trazendo à luz problemas que tendiam a ser escondidos. O filme passou a 
ser quase uma obrigação de ser assistido por muitas mulheres grávidas como uma premissa do 
que devem saber e de como se prepararem. 
Nesse sentido, filmes como o “Renascimento do parto” (2013) de Eduardo Chauvet e 
Erica de Paula, “ Violência Obstétrica” - a Voz das brasileiras (2012), idealizado e construído 
por Bianca Zorzam, Ligia Moreiras Sena, Ana Carolina Franzon, Kalu Brum, Armando 
Rapchan, construíram um olhar sobre o parto humanizado a partir das vozes de diversas 
gestantes e de suas escolhas no momento do parto. Desta maneira, é importante pensar a 
importância do tema das imagens como um fator fundamental da representação do parto e da 
construção de narrativas sobre nascer. 
As narrativas visuais aqui analisadas que compreendem vídeos, fotografias, posts, que 
muitas vezes vêm acompanhadas dos relatos de parto das gestantes. Desta maneira também 
acontece no grupo “Pré-natal coletivo”, e no relato de Dany Melo em sua experiencia 
domiciliar de parto relacionada ao uso da imagem. 
Estes arranjos são importantes para entender as escolhas, subjetividades e as
histórias 
de vida de cada mulher gestante. A meu ver, essas narrativas visuais revelam dados 
pertinentes sobre a temática do parto humanizado em Natal/RN. 
Sobre a circulação de imagens sobre o parto humanizado divulgadas no ambiente 
virtual, podemos destacar a existência de uma rede online crescente de fotógrafos e 
fotografias sobre o parto no Brasil. Como exemplo, cito o Portal Hora Dourada (2016), 
descrito pelos próprios coordenadores como um site de divulgação de fotos de parto. De 
acordo com estes, o acesso a essas imagens servem à intenção de promover “a autonomia e 
melhoria na qualidade no atendimento ao parto no nosso país”
1
. Este portal virtual promove 
 
1
 Disponivel em: < https://horadourada.com.br/quem-somos/>. Acesso em 02.10.2018. 
https://horadourada.com.br/quem-somos/
15 
 
 
 
um debate amplo, com divulgação de imagens e discussões sobre a “importância da 
fotografia de parto para a mulher”
2
 conforme o próprio título de algumas de suas postagens. 
 A circulação das imagens sobre o parto humanizado que nos contam uma história 
sobre o nascer, é algo que está sendo amplamente difundido tanto por profissionais do parto 
humanizado quanto por fotógrafos e videomakers especializados que trabalham retratando 
estes momentos e que posteriormente, divulgam este material em perfis que compartilham 
estas produções nas redes sociais. 
O aplicativo Instagram, centrado no uso de imagens, tem repercutido grandes números 
em hashtags brasileiras ligadas às fotos com #partohumanizado contando com até 200 mil 
marcações, além dos inúmeros perfis dedicados à Birth storytelling (histórias de nascimento), 
com fotografias de nascimentos humanizados em todo o mundo. 
Do ponto de vista das políticas e regimento do próprio aplicativo Instagram até início 
de 2018, as imagens de parto eram consideradas ofensivas, sendo classificadas na categoria de 
conteúdo “violento ou pornográfico”. O posicionamento virtual de não seguir estas regras deu 
origem a um movimento intitulado #stopcensoringbirth (parem de censurar o parto). Perfis 
internacionais como @EmpoweredBirthProject, com mais de 370 mil seguidores, criaram 
petições para mudar este cenário depois de terem conteúdos removidos das suas timelines. 
Em entrevista para o site Yogagirl, uma das moderadoras destes perfis (Katie Vigos) 
revelou que a manutenção das imagens têm por objetivo usar a plataforma como maneira de 
compartilhar “histórias inspiradoras e informações empoderadora”
3
. Sendo assim, as 
políticas de restrição ao conteúdo de imagens foram mudadas no decorrer do ano de 2018, 
tanto no Instagram como no Facebook, liberando a divulgação de vídeos e fotos de parto. Em 
publicação, a gerenciadora da página EmpoweredBirth Project descreve: 
 
23.000 é um número relativamente pequeno quando comparado ao Facebook 
e ao Instagram combinados com dois bilhões de usuários mensais, mas foi o 
suficiente. Foi o suficiente para inclinar a balança em favor dos esforços 
incansáveis da comunidade de nascimento on-line para convencer o mundo 
que o nascimento não precisa apenas ser discutido nas mídias sociais, mas 
realmente visto
4
. 
 
 
2
Disponível em: https://horadourada.com.br/a-importancia-da-fotografia-de-parto-para-a-mulher-parte-1/ . 
Acesso: 02.10.2018. 
3
 Disponível em: https://br.vida-estilo.yahoo.com/chegou-hora-de-parar-de-censurar-fotos-de-partos-nas- redes- 
sociais-144945663.html . Acesso 02.10.2018. 
4
 Diponível em: https://www.yogagirl.com/read/family/eVrQVmNKBUYAe4O0IEq0E . Acesso 02.10.2018 
https://horadourada.com.br/a-importancia-da-fotografia-de-parto-para-a-mulher-parte-1/
https://br.vida-estilo.yahoo.com/chegou-hora-de-parar-de-censurar-fotos-de-partos-nas-%20redes-%20sociais-144945663.html
https://br.vida-estilo.yahoo.com/chegou-hora-de-parar-de-censurar-fotos-de-partos-nas-%20redes-%20sociais-144945663.html
https://www.yogagirl.com/read/family/eVrQVmNKBUYAe4O0IEq0E
16 
 
 
 
Levando em consideração todo essa circulação de imagens na web e tendo entendido 
as imagens como possuidoras de narrativas, possibilitando um caminho a ser investigado, me 
proponho a descrever as atividades e dinâmicas da Casa Das Conchas de Natal/RN, bem 
como a sua produção de imagens. 
Quais são os conteúdos dessas imagens? o que elas comunicam? Como elas podem 
interferir no cenário da cidade sobre o parto humanizado? 
 
Parto humanizado e seu contexto político: principais questões e notas gerais. 
 
Mesmo que os debates a respeito da humanização do parto já venha se construindo no 
país, ao longo dos anos, a partir de políticas públicas propostas pelo próprio Ministério da 
Saúde brasileiro, como o Programa Nacional de Humanização do Pré- natal e Nascimento 
(2000), o que parece acontecer nas ações de assistência ao parto é uma permanência de 
práticas antigas já estabelecidas culturalmente que implicam na relação de poder entre médico 
e paciente, gerando uma grande parcela de insatisfação, devido ao alto número de taxas de 
procedimentos interventores nos nascimentos e de violências obstétricas. 
Essa situação se agrava ainda mais quando é levado em consideração categorias 
transversais como propõe os debates sobre interseccionalidade sobre a estrutura social em que 
vivemos onde mulheres de raça, e classe mais desfavorecidas são maiores numeros enquanto 
vitimas desse tipo de relação de poder , é pensando estas questões que pretendo desdobrar a 
pesquisa. 
Por outro lado, o movimento de humanização aconselha a presença de uma doula no 
parto, justamente para conter essas práticas, que muitas vezes, são compartilhadas em grupos 
das redes sociais através dos relatos de parto das gestantes, como veremos mais adiante. 
Entende-se que a prática do parto humanizado perante o conhecimento médico é 
constantemente confrontada por uma visão médica conservadora, um olhar de poder 
(FOUCAULT, 1977) de um atendimento ao parto medicalizado. Nesse sentido, o parto 
humanizado é uma vertente que apesar da sua popularização, ainda é estigmatizada. De modo 
geral, tal qual aquela forma de atendimento que não detém o poder intervencionista da cura 
aos quais os médicos são designados, o parto humanizado é colocado à margem como uma 
escolha perigosa ou duvidosa de parir. 
Por parto humanizado entende-se, a grosso modo, aquele com o mínimo de 
intervenções médicas e farmacológicas possíveis, ou então, aquele parto o que respeita o 
17 
 
 
 
tempo físico e psíquico de cada mulher para parir realizado em ambiente respeitoso e 
acolhedor e com seu consentimento informado para todo e qualquer procedimento realizado. 
Dessa forma, pode ser tanto o parto que ocorre em casa, com “parteiras urbanas”, no hospital, 
com o médico ou na água, na vertical, na horizontal ou de cócoras, desde que a mulher tenha 
solicitado ou concordado com a efetivação de determinadas práticas médicas (CARNEIRO, 
2011, p. 13). 
No contexto brasileiro atual, de maneira majoritária, o parto segue uma trajetória 
histórica de ser um evento domiciliar e familiar que, quando transformado, passou a ser 
hospitalizado. Desta maneira, o lugar de parir deixa de ser a casa e passa ser a maternidade. O 
que podemos enxergar com isso é um grande controle da vida de nascimento e da saúde 
reprodutiva da mulher, assim como afirma a antropóloga Robbie Davis-floyd: 
 
O corpo feminino, visto como desvio daquele masculino, foi olhado com 
suspeitas e entendido como inerentemente defeituoso, imprevisível, 
necessitando da manipulação masculina para poder ser „posto em ordem‟. 
Segue que o parto, momento extremo e agudo de uma máquina caótica e não 
confiável, requer a intervenção hábil e rápida do profissional (DAVIS-
FLOYD, 2000, p.1). 
 
 Desta maneira, a humanização no parto repercute como resistência a estes caminhos 
medicalizados. Para
a nossa pesquisa é importante distinguir a obstetrícia oficial realizada 
pelos médicos e a não oficial realizados por parteiras tradicionais de conhecimento popular 
(FLEISCHER, 2007). Também é importante salientar as “parteiras urbanas”, que são 
enfermeiras obstétricas que realizam o parto humanizado. Esse exercício da profissão foi 
problematizado no curta metragem “A parteira” (2019) e tema de investigação abordado por 
Ademilde de Alencar (2017) em sua dissertação no PPGAS/UFRN (Programa de Pós Graduação 
em Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte). 
 
Ao falar em prática obstétrica frequentemente nos reportamos à prática 
exercida no âmbito da Medicina, cujo ordenamento se dá a partir de técnicas 
e normas institucionalizadas. Todavia faz-se necessário trazer para o debate 
outra esfera do partejar, cuja manutenção acontece em contextos diferentes e 
a partir de referências que, diante da normatização vigente, o faz 
caracterizar-se como prática não oficial, ao tratar da prática obstétrica 
exercida pelas parteiras (MEDEIROS NETA, 2017, p. 9). 
 
Para além dessa discussão entre parto hospitalar e parto tradicional, existe algo que 
difere no atendimento das parteiras e que divide-se entre a parteira tradicional (realizada no 
interior dos estados devido justamente ao difícil acesso a maternidade) e o atendimento das 
18 
 
 
 
parteiras urbanas, como é o caso da assistência prestada pela Casa das Conchas, que surge a 
partir de uma ressignificação da atividade do parto domiciliar enquanto um resgate de um 
suposta “naturalidade” enquanto a parteria tradicional estaria relacionada a outros códigos 
sociais, como tradição, menor condições de acesso a saíde de maneira geral. 
 Outras perguntas se fazem presentes para discussão, tais como: qual a classe social 
que busca o atendimento das parteiras urbanas? Por que as mulheres estão buscando essas 
alternativas na cidade ? Quais novas práticas estão sendo propostas? Aqui, abre-se espaço 
para uma discussão que envolve elementos compositores da prática urbana do parto 
humanizado. São elas: as práticas integrativas, os alívios não farmacológicos da dor, o resgate 
de hábitos tradicionais, a utilização da placenta para fins terapêuticos dentre outros. Através 
do levantamento bibliográfico sobre o tema podemos constatar um hibridismo entre o que era 
tradicional e as práticas modernas de conhecimento sobre o parto relacionadas a humanização, 
que podem ou não serem aceitas como científicas do ponto de vista da obstetrícia. 
A violência obstétrica é um outro fator principal na jornada desta pesquisa, pois ela é o 
principal motivador da busca de uma melhor assistência relacionadas ao parto. Para isso, é 
importante entender as suas características de aplicação, que vai desde a desinformação à 
violência física e simbólica e a destituição de direitos. Desse modo, as redes digitais também 
têm prestado muita desinformação sobre as maneiras de parir e criado muitos estigmas, tais 
como sobre a posição certa, sobre o quão doloroso pode ser este evento ou a respeito de quem 
presta assistência. No entanto, podemos afirmar que atualmente, devido a autonomia de 
conteúdos em ambientes virtuais, muitos casos deste tipo de violências vem sendo 
contestados. Podemos citar a contribuição do vídeo-documentário “Violência obstétrica” 
(2012), amplamente divulgado nas mídias, por exemplo. 
Conforme explica a antropóloga Debora Diniz (2003), é também por uma busca de 
autonomia, pela garantia de liberdade e controle da sua vida sexual e reprodutiva longe de 
constrangimentos, vergonhas ou culpas atreladas a um fatídico destino biológico relacionado 
ao gênero que esses conflitos emergem. 
A temática da reprodução e maternidade é assunto amplamente debatido na 
Antropologia, principalmente no que diz respeito às discussões de gênero, corpo e saúde, 
pesquisas como estas indicam , que longe do esgotamento do tema, estão sempre existindo 
esforços do reconhecimento emergencial dessas agendas e suas demandas que são realizadas 
por pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento (Antropologia, Comunicação, 
Sociologia, Saúde, Direito entre outras). 
19 
 
 
 
Sendo assim, proponho fomentar estas esferas de debate trazendo como contribuição a 
discussão através da análise da circulação de imagens sobre o parto em ambientes virtuais, 
fortalecendo, desse modo, uma trajetória de estudos sobre a Antropologia audiovisual e 
Antropologia urbana. 
 
Aproximação com o problema de pesquisa. 
 
A proposta inicial desta pesquisa surgiu através da minha própria experiência com a 
gestação ao longo do ano de 2017. Foi neste ano que busquei assistência e conheci a Casa das 
Conchas, durante um curso para gestantes promovido na UFRN (Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte), pelo Departamento de Fisioterapia, no qual a coordenadora do espaço, 
Clarissa de Leon foi palestrante. 
Apesar da minha incerteza em assumir um tema tão próximo a minha vivência pessoal 
com o parto e a gestação, da qual precisei me distanciar, realizei muitas leituras e reflexões. 
Entendo agora que foi graças à experiência de parir e maternar que percebi os desafios 
existentes relativos a temática. Também para este processo, foram muito importantes as 
conversas com amigas que estavam grávidas, além da busca de informações e auxílios 
alternativos para o parto. Tudo isso foi interessante para se perceber o quão corriqueiro são os 
questionamentos sobre o imaginário do parto. 
Esta pesquisa surge de um caminho próximo a minha experiência recente com a 
gestação e parto, e por vezes me parece muito desafiador trabalhar a temática sobre as 
imagens de parto dentro da Antropologia. Isso porque aparentemente, a categoria de estudos 
dos partos estariam restritos ou estariam ocupando cadeiras cativas em outras subáreas da 
Antropologia que não a da imagem, como no caso do gênero e saúde reprodutiva, fazendo-me 
por vezes pensar que ando em caminhos desafiadores nesta pesquisa. Porém, acredito 
seriamente que o trabalho com as imagens, principalmente na atualidade da pós-verdade que 
estamos vivendo, merece sim uma atenção especial por parte das pesquisas acadêmicas. 
Além disso, sempre sinto os olhares desconfiados devido a minha própria afetação e 
aproximação do campo, por medo que talvez pudesse “estar romantizando” tanto a 
maternidade quanto a gestação e o parto, e usando a imagem para confirmar estas 
expectativas, e talvez, estar indo em desencontro do que seria uma proposta que advogue 
pela emancipação reprodutiva das mulheres. Porém, ser mãe me aproximou muito mais das 
discussões sobre os direitos das mulheres. Sendo assim, localizo esse trabalho enquanto uma 
20 
 
 
 
parte de minhas inquietações pessoais que também são feministas, além de ressaltar as 
contradições relativas ao tema do parto e maternidade. Assim, compartilho aqui do 
pensamento de Rosamaria Giatti Carneiro quando afirma que: 
 
Sabe-se bem como um conjunto de feministas se opuseram e ainda se opõem 
à maternidade, dada a persistência, também entre elas, de um imaginário 
moderno de maternidade rousseauniana. Para algumas orientações 
feministas, demandar ou reivindicar a maternidade e, em meu caso o parto, 
poderia resultar em um retrocesso [...] (CARNEIRO, 2011, p.5). 
 
Porém, a autora afirma que o feminismo é algo plural e temos que estar abertos para 
debates dando atenção também as mulheres que desejam parir. Entendo que sendo o assunto 
maternidade e parto controverso de muitas maneiras dentro das esferas sociais e acadêmicas, 
por que seria diferente com as imagens? 
 É bem verdade que a imagem tendo em vista sua polissemia de significados, necessita 
ser analisada, tematizada, interpretada. Diante destas condições, portanto, é possível de 
maneira dinâmica entender a contribuição através desses documentos visuais para as 
mudanças e discursos nas maneiras de parir.
Fez-se necessário para tanto, buscar 
metodologias e novas formas de compreensão das imagens. 
Desse modo, tendo em vista estas questões e aliadas a minha prévia relação com os 
estudos da imagem e antropologia como pesquisadora do NAVIS/ UFRN - Núcleo de 
Antropologia visual, e já tendo assim um olhar mais afinado com as expressões visuais sobre 
diversos sentidos, pude perceber uma carência de análises antropológicas sobre conteúdos 
imagéticos relacionados ao evento do parto de maneira geral. Muito embora variadas análises 
do campo da antropologia e saúde reprodutiva, pincele sem aprofundamento as expectativas e 
imaginários que surgem a partir da atmosfera do parto. 
 
Caminhos e metodologias 
 
Para responder a estes questionamentos, exploramos diversas possibilidades 
metodológicas para se utilizar no trabalho. As opções escolhidas foram, portanto, fazer um 
trabalho de campo para verificar na prática como as mulheres utilizam as redes sociais para 
apoiar as suas escolhas durante a gestação e parto. Assim como também demonstrar a 
dinâmica de atuação do grupo Casa das Conchas na cidade. 
21 
 
 
 
Foram realizadas análise das imagens da fotógrafa Sabrina Bronzatto, parceira da 
Casa das Conchas, com a qual estabeleci ao longo desta pesquisa, uma relação de 
proximidade. Utilizei as fotos do perfil do Instagram @Parto_humanizado_natal de 
coordenação de Clarissa de Leon e também algumas outras imagens de perfis no Instagram 
sobre a temática humanização do parto. 
As imagens utilizadas estão em sua maioria publicadas nas páginas do Instagram e 
disponíveis ao público, salvo algumas fotos cedidas pessoalmente pelas fotógrafas para a 
utilização nesta pesquisa. Mesmo assim, por acreditar no respeito do antropólogo com o 
campo, tive o cuidado de conversar pessoalmente com as produtoras das imagens como 
maneira de informá-las sobre a utilização das suas publicações em meu trabalho de pesquisa e 
todas foram favoráveis com a proposta. 
Também foi feito um levantamento de publicações acadêmicas sobre o tema na 
cidade. Destaco assim, algumas dissertações sobre tema realizadas aqui em Natal/RN, 
relacionadas a temática da reprodução e maternidade. Uma delas é o trabalho de Juliara 
Borges Segata (2017), pelo PPGAS/UFRN, intitulado “Mamães ativas: etnografia de um 
grupo de mulheres da gestação a maternidade.” Assim como o trabalho de Camila Rabelo 
Coutinho Saraiva (2020) pelo PPGEM/UFRN (Programa de Pós Graduação em Estudos da 
Mídia) com a dissertação de mestrado intitulada “Gestar, parir e maternar - a experiência de 
ter filho mediada pelas mídias sociais digitais” (2020) e também a pesquisa de Ademilde 
Alencar Dantas de Medeiros Neta (PPGAS/UFRN), intitulado “Memória, resistência e 
mudança: um estudo das práticas e representações de parteiras em São Gonçalo do 
Amarante/RN”. 
Todos estes estudos são exemplos recentes de pesquisas relacionadas ao maternar, o 
gerar e o parir. Sendo assim, proponho fomentar estas esferas de debate trazendo como 
contribuição a discussão através das narrativas visuais de parto, fortalecendo, desse modo, 
uma trajetória de estudos sobre as imagens atentando-se também para as transformações de 
representação do parto humanizado na cidade de Natal, RN. 
A pesquisa de campo aconteceu desde o segundo semestre do ano de 2019 e finalizou 
sua etapa de coleta de dados no primeiro semestre de 2021. Durante esse período, realizei 
etnografia e observação participante em um encontro presencial de pré natal coletivo, assim 
como, em consultas particulares no espaço e também no grupo de Whatsapp intitulado “Pré-
natal coletivo”, criado durante a Pandemia do Covid-19. Fazendo parte das estrátegias 
22 
 
 
 
metodológicas também elaborei entrevistas, questionários e uma exaustiva revisão 
bibliográfica sobre o tema. 
Essa dissertação está dividida em quatro capítulos, a seguir: 
No primeiro capítulo apresento um resgate histórico e social das movimentações em 
prol do que é conhecido sobre parto humanizado, discutindo assim, seus principais fatores, 
como o uso do termo humanização em saúde e a sua utilização, assim como o que ele 
significa e a sua relação com o parto. 
 Busco também entender a trajetória do parto humanizado no Brasil através dos 
movimentos sociais de mulheres que lutam em prol de maior protagonismo da mulher no 
momento do parto. Pretendo assim, demonstrar os principais avanços e diretrizes brasileiras 
sobre o assunto e chamar atenção para o tema da violência obstétrica como fator determinante 
nessas agendas políticas. 
Para a revisão bibliográfica sobre a temática parto no Brasil em estudos antropológicos 
trago as reflexões e debates de CARNEIRO (2011; 2014), DINIZ (2005; 2003). 
TORNQUIST (2005; 2003) e TEMPESTA (2019) como principais pesquisadoras a 
apontarem as dinâmicas sobre o parto e humanização no país. Sobre humanização em saúde, 
trago o trabalho de SILVA (2016), SANTOS (2016), MARTINS (2006), LEÃO e BASTOS 
(2001). Já sobre as discussões a respeito da díade médico–paciente, apoio-me nas 
contribuições de MARTON; ECHAZÚ (2010) e MENENDEZ (1988). Neste capítulo também 
busco compreender quais são as movimentações e espaços relativos à humanização do parto 
na cidade de Natal, seus principais representantes e as dificuldades enfrentadas pelas mulheres 
que trabalham em prol desta causa. 
No segundo capítulo trago discussões a partir do ponto de vista da relação entre a 
Antropologia e o parto como forma de pensar a pesquisa científica e suas intencionalidades, 
refletindo acerca da estética, mercado e circulação de imagens. A intenção é conectar fios 
entre a teoria antropológica e as imagens de parto. Para isso, irei recorrer às teorias da 
Antropologia e imagem para demonstrar como as ferramentas da Antropologia Visual são 
importantes para demonstrarem transformações sociais, além de serem também um ótimo 
método de acessar o universo do Outro. Aponto as principais produções visuais até o 
momento e me proponho a perceber quais são as intenções contidas em algumas imagens 
selecionadas. 
Através de uma análise de imagem, busco entender categorias que estão sempre 
presentes em imagens de parto humanizado. Faço ainda uma reflexão sobre a circulação 
23 
 
 
 
destes artefatos culturais como maneira de mensurar o impacto dessas imagens. Sobre o fazer 
antropologico, ciberespaço, etnografia virtual e Instagram trago a revisão de CORADINI 
(2019), MILLER (2004), JUNGBLUT (2015) e LÉVY (1999). Já sobre imagem e fotografia 
na pesquisa antropológica, apoio-me em BARBOSA; CUNHA (2006), BANKS (2008), 
CAMPOS (2012), MEIRINHO (2016; 2017), NOVAIS (2012) e PEIXOTO (2011). 
Ao enxergar uma gama de termos aplicados pelas defensoras do parto humanizado, a 
minha proposta está sendo inventariar essas terminologias e refletir sobre elas, pensando a 
partir de fotografias que retratem os momentos de parto junto aos interlocutores em suas 
produções com a finalidade de buscar significados partindo de particularidades das imagens. 
Deste modo, neste capítulo realizo uma apresentação de algumas das atividades feitas no 
espaço como a “Feira Zen”, os “encontros de conexão com o feminino” e suas propostas 
relativas a um modo de vida mais integrado com a natureza em uma percepção holística. 
 Faço uma breve descrição sobre os posts das atividades promovidas pelo espaço 
tentando entender quais símbolos são acionados quando os interlocutores expõem temas sobre 
natureza feminina, dentre outros signos. Por fim, busco entender as perspectivas das maneiras 
de parir, promovidas a partir das fotografias de parto humanizado produzidas pela Casa das 
Conchas na cidade de Natal/RN. Para tanto, observei a agência dessas visualidades refletindo 
sobre o fortalecimento da autonomia e da circulação de imagens, trazendo as observações de 
SARDENBERG (2006), ORTNER (2007) e LAGROU (2007). 
Já no terceiro capítulo etnográfo o espaço Casa
das Conchas, responsável por realizar 
reuniões dos grupos de gestantes e prestar atenção ao parto como função principal, além de 
outras atividades que buscam trazer uma construção de práticas integrativas em saúde e bem 
estar como feiras, aulas de biodança, entre outros, atendendo ao público da classe média na 
cidade de Natal/RN. São diferentes histórias de vidas que levam as pessoas a buscar e 
compor o espaço, mas que tem um objetivo comum: uma visão mais humanizada das práticas 
de saúde direcionadas principalmente à mulher. Participar dos encontros produzidos pela Casa 
das Conchas é também entender como se estabelecem as alternativas a respeito da assistência 
hospitalar do parto. Neste capítulo apresento a minha relação e experiência com o espaço 
investigado, minhas estratégias de aproximação e participação presencial em eventos, como a 
roda de pré-natal, realizada antes da pandemia Covid-19. Descrevo as primeiras impressões 
que vivi durante a ida ao espaço com fins de trabalho de campo. Neste dia, em questão, contei 
com a exposição de um relato de uma mulher sobre seu parto domiciliar. 
24 
 
 
 
Discorrendo ainda sobre o capítulo terceiro, pontuo brevemente os impactos da 
Pandemia do Covid-19 no cenário de assistência ao parto, ressaltando quais foram as 
iniciativas tomadas pelo local mediante este cenário. Busco refletir sobre as adequações 
necessárias do trabalho de pesquisa de campo à realidade pandêmica que passou a ser 
realizada através da observação de lives, grupos virtuais e reuniões promovidas pelo grupo no 
Google Meet. 
 Analiso a rede virtual mediada através do grupo de Whatsapp intitulado “pré-natal 
coletivo” onde foi realizado um acompanhamento dos principais temas e debates que 
surgiram organicamente nas conversas entre as participantes. Pretendi ressaltar algumas 
discussões que colocavam em cheque o uso da imagem a fim de fortalecer a temática. Foi 
aplicado também um questionário para entender o perfil das mulheres que buscavam o 
espaço. Em algumas questões, tentei entender a relação das mulheres do grupo com as 
imagens de parto, para assim fazer uma leitura mais adequada para a finalidade desta 
pesquisa. 
Nesta terceira seção ainda apresento o resultado das entrevistas realizadas com 
Clarissa de Leon, coordenadora do espaço, enfermeira obstétrica e parteira urbana, para 
entender a ideia da Casa das Conchas a partir de sua fala, assim como também a história deste 
lugar. Realizei uma entrevista formal com Sabrina Bronzatto, bióloga, fotógrafa de parto e 
doula, a fim de entender sua atuação profissional neste campo e suas impressões, métodos e 
mensuração do impacto da fotografia de nascimento. 
Por fim, trago também a experiência de Dany Melo, de 37 anos, professora de inglês, 
doula e mãe de Killa, por meio de entrevista. Dany também é a protagonista do ensaio 
apresentado no capítulo quatro e consumidora deste registro. Pretendeu-se assim, estabelecer 
um olhar mais próximo de uma trajetória específica, buscando entender suas principais 
motivações e expectativas relativas à sua experiência de parto domiciliar planejado e assistido 
pela Casa das Conchas, registrado por Sabrina Bronzatto. 
Na quarta seção deste estudo, apresento um ensaio visual de parto humanizado que 
ocorreu na cidade de Natal, com fotografias produzidas e autorizadas por Sabrina Bronzatto. 
São fotografias de parto e de família para que o leitor possa ter sua própria experiência 
suscitadas pelas imagens apresentadas. 
 
25 
 
 
 
CAPÍTULO 1 - ASPECTOS DA CONSTRUÇÃO DA HUMANIZAÇÃO DO PARTO 
NO BRASIL: CONFLITOS E CONCEITOS. 
 
1.1 A construção da humanização na saúde 
 
Ao falarmos de parto humanizado deve-se entender sobre o que estamos pensando 
quando o assunto é humanização em saúde. Humanização é uma palavra advinda da idéia de 
humanismo e que faz parte de um movimento ocorrido na Europa durante o período do 
Iluminismo e Renascença, momento histórico onde começa a se pensar as potencialidades e 
intersubjetividades humanas enquanto valorosas para decisões da vida e saúde no cotidiano. 
Com amplos significados, a humanização em saúde atualmente, pode ser entendida 
enquanto uma proposta que questiona a relação entre profissional da saúde e paciente. Sugere 
assim, uma comunicação que valoriza também a tomada de decisões das pessoas que usam os 
serviços médicos, tendo por entendimento fundamental “o corpo como domínio de 
experiência comunicativa” (SILVA, 2016, p.16). 
A resultante humanização surge de problemas encontrados na construção dos 
atendimentos hospitalares, que de maneira geral colocam o médico enquanto centro do 
gerenciamento da saúde humana, e isso trouxe ao longo do tempo uma característica de 
“des(humanização)” no vínculo entre o paciente e o tratamento médico, que estaria 
relacionada ao poder investido nesse profissional da saúde. 
 Em “O nascimento da clínica” Foucault (1977) comenta como o hospital era 
inicialmente um ambiente destinado a atender pessoas pobres e passa a ser, durante o séc 
XIX, um espaço de cura médica moderna. Ou seja, é um lugar onde o que se realiza como 
tratamento tem por premissa básicas salvar vidas. Entretanto, é um espaço de pouco diálogo 
onde o esperado é que o “paciente” nada mais seja do que o próprio significado que a palavra 
propõe: um corpo pacificado, que não reclame ou reaja de maneira negativa às condutas 
prescritas. 
 Foucault (1977) chama a atenção e faz a crítica ao modelo médico moderno. Para o 
autor, esta relação não se embasa em conhecimentos científicos acumulados pela comunidade 
médica ao longo do tempo, algo que poderia ter lhe trazido tamanha autoridade, mas sim, 
estaria baseada na nova modalidade metodológica da medicina clínica de olhar o paciente: um 
corpo doente que precisa de intervenção. Nesta relação, é comum que o médico abstraia a 
26 
 
 
 
pessoa do doente, sendo este apenas um corpo que abriga a patologia destituída de 
subjetividade. 
Desta maneira, em resposta a estas situações de despersonificação dos pacientes e 
buscando corrigir essa objetificação excessiva dos usuários dos sistemas médicos hospitalares, 
surge mais recentemente as propostas de humanização em saúde, com novas metodologias 
que buscam questionar: será possível humanizar técnicas terapêuticas de cuidados em saúde? 
Logo, os campos em saúde começam a enfatizar esta busca como importante. Dentre elas 
destacam-se a Fisioterapia. Como precursor, é possível citar por exemplo, o Método 
Rességuier estudado pela autora Cristiana Dias (2016) que analisa a humanização num grupo 
de fisioterapeutas. O método propõe uma aproximação entre o paciente e os profissionais da 
saúde, atribuindo outros fatores importantes para os tratamentos, como por exemplo, os 
sentimentos. Esta estratégia vem demonstrado resultados terapêuticos positivos nos pacientes 
do ponto de vista psicológico e físico. 
 
1.2. Humanização no parto 
 
A humanização em saúde também ficou bastante conhecida em suas aplicações 
relativas ao parto. Carmen Simone Grilo Diniz (2005) resgata historicamente o uso do termo 
humanização em partos. Em um primeiro momento, o termo humanização do parto foi 
utilizado por médicos do século XX que buscavam intervir no processo fisiológico do parto 
com a finalidade de abreviar o sofrimento da dor de parir, algo que seria interpretado por eles 
enquanto uma tormenta dolorosa e patológica de ordem natural. Neste período histórico, o 
parto era um evento atestado cientificamente enquanto patológico. 
A autora destaca que o sentido de humanização no passado era oposto do que o 
caminho trilhado atualmente e que talvez, nesse primeiro sentido, ao estar aliado com o 
estabelecimento da medicina obstetrícia, tenha sido a causa do surgimento de variadas 
intervenções médicas nos partos que se refletem até a atualidade: 
 
Ambos defendem que a narcose e o uso de fórceps vieram humanizar a 
assistência
aos partos” (Rezende, 1998) Esses conceitos eram difundidos por 
autoridades em obstetrícia médica no cenário internacional, entre eles o 
norte-americano Joseph DeLee (Rothman, 1993) (DINIZ, 2005, p. 628). 
 
As intervenções médicas hoje, não são vistas como maneiras humanizadas e por vezes 
até como formas violentas de parir. O caminho da humanização do parto relativo ao 
27 
 
 
 
protagonismo da mulher como se tenta obter hoje, é resultado de um processo de lutas pelos 
direitos sexuais e reprodutivos que surgem em meados dos anos 50, momento onde as 
mulheres buscavam maior autonomia relativas às suas escolhas corporais e reprodutivas. 
Surgiram muitos movimentos a partir deste período como resposta a hospitalização do parto e 
seus mais diversos procedimentos relativos ao parir; práticas médicas que vinham 
demonstrando ao longo do tempo pouca ou nenhuma evidência científica sobre a eficácia de 
suas indicações, estando inclusive, mais associado à morbidade materna ou neonatal. 
Muitos médicos obstetras ficaram conhecidos por defender o parto natural, o que de 
maneira direta ou indireta, fortaleceu o discurso do parto humanizado. A exemplo, temos o 
médico Dick- Read, atuante nos anos 50, que foi defensor do parto natural e publicou livros 
como “Parto sem Medo” (1942), assim como também difundiu o método “Leboyer”, 
conhecido como “nascer sorrindo”, teoria que busca uma transitoriedade mais tranquila da 
vida intrauterina no nascimento do bebê, abaixando as luzes e os ruídos no momento de parir. 
Aparece nesta cena de escritores, Michel Odent, obstetra e autor de diversos livros 
sobre a importância da gestação, parto e primeiro ano de vida do bebê. Para o médico, além 
de se humanizar, deve- se “mamiferizar” os partos, ou seja, o autor propõe que no momento 
do parto, a mulher possa se desvincular da condição racionalizante predominante e viver o 
biológico. 
Atualmente, podemos ainda citar enquanto influência de literatura sobre o parto 
humanizado o Livro “Parto com amor” (2011) de Luciana Benatti e Marcelo Min, “O corpo 
no trabalho de parto: o resgate do processo natural do nascimento” por Eliane Bio (2015) e 
“O parto é da mulher” (2019) de Cristina Balzano. Essas são algumas personalidades que 
compuseram e compõem o caminhar global das influências sobre a humanização no parto. 
Para os caminhos das políticas públicas no Brasil relativas à humanização do parto, 
voltamos aos anos 90, onde aparece o Rehuna (Rede de Humanização do Nascimento), uma 
ONG (Organização Não-Governamental) que surgiu em 1993, uma organização da sociedade 
civil oriundas de descontentamentos com a assistência ao nascimento da época. Essas 
mobilizações dão origem ao Grupo de Estudos sobre Nascimento e Parto (GENP) em 1996, 
com intuito de ativismo político, atuando na realização de seminários e workshops sobre o 
parto e o nascimento, na busca da melhor qualidade de assistência à mulher, além de se fazer 
presente em várias atividades a favor de políticas públicas que contemplassem o parto 
respeitoso, como por exemplo, nas manifestações contra fechamentos de casas de parto. Essas 
iniciativas fazem parte da sua história e atividade. 
28 
 
 
 
 O GENP realizou também conferências internacionais voltadas a temas do parto e do 
nascimento, além de várias outras campanhas como “Nascer na hora certa” que visava reduzir 
a prematuridade causada por cesáreas agendadas, assim como a difusão de frases como “pai 
não é visita” campanha de 2005 preconizando a presença do pai durante todo o processo de 
parto. 
Tendo em vista estas reivindicações, surge em 2000 o Programa Nacional de 
Humanização do Pre-natal e Nascimento de Portaria n ° 569, publicada no Diário Oficial da 
União em oito de junho de 2000, na seção 1, página 4, sendo uma iniciativa do Ministério da 
Saúde, descrevendo sua política como 
 
A humanização compreende, entre outros, dois aspectos fundamentais. O 
primeiro relaciona-se à adoção de uma postura ética e solidária por parte dos 
profissionais e diz respeito à convicção de que é dever das unidades de saúde 
receber com dignidade a mulher, seus familiares e o recém-nascido, 
reconhecendo que a instituição deve organizar-se de maneira a criar um 
ambiente acolhedor e adotar condutas hospitalares que rompam com o 
tradicional isolamento imposto à mulher adoção de medidas e procedimentos 
sabidamente benéficos para o acompanhamento do pré-natal, do parto e do 
pós-parto, evitando práticas intervencionistas desnecessárias que, embora 
tradicionalmente realizadas, não beneficiam a mulher, nem o recém-nascido 
e que, com freqüência, acarretam maiores riscos para ambos. 
5
 
 
Diante desta portaria, o setor público ficou responsável por juntamente com as 
Secretarias de saúde dos estados elaborarem estratégias para aplicação do plano nacional nas 
Unidades SUS (Sistema Único de Saúde) em todos os estados brasileiros, com cartilhas e 
grupos de apoios às gestantes nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), além da divulgação da 
importância do acompanhamento pré-natal com todo asseguramento de direitos e acesso a 
exames para monitoramento durante a gestação o nascimento, assim como, a garantia do 
acompanhante durante o parto e a promoção também do aleitamento materno como políticas 
de boas práticas relacionadas ao parto. As recomendações da OMS, de 2018, para os 
cuidados durante o parto preconizam uma “experiência positiva de parto” 
6
 como uma 
finalidade de saúde e de bem-estar. 
 
 
5
 Disponivel em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2000/prt0569_01_06_2000_rep.html. Acesso 
10.09.2020 
6
 Ver OMS: https://www.who.int/reproductivehealth/publications/intrapartum-care-guidelines/en/. Acesso 
10.09.2020 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2000/prt0569_01_06_2000_rep.html
https://www.who.int/reproductivehealth/publications/intrapartum-care-guidelines/en/
29 
 
 
 
1.3. Conflitos relativos ao parto na atualidade brasileira: do elevado número de cesáreas 
a violências obstétricas 
 
Nascer no Brasil envolve diferentes nuances e realidades e as transformações ocorrem 
de maneira não linear nas mais diversas localidades do país. Apesar da centralidade do parto 
hospitalar, ainda se mantém ao longo dos tempos nas áreas rurais, a prática do parto 
domiciliar assistido por parteiras tradicionais, tendo em vista o difícil acesso de várias 
comunidades ao ambiente hospitalar. Essas diferenças podem ainda ser maiores se olharmos 
atentamente para as formas de desenvolvimento de cada região do país, destacando dentro do 
Brasil, lugares como o Norte e Nordeste como sendo os maiores afetados na escala de 
desigualdade e com menor acesso à saúde e educação, por exemplo. 
 A parteira tradicional ocupa lugar de grande importância na história sobre nascer no 
Brasil e com certeza representa uma somatória importante de nascimentos ainda na 
atualidade, reinventando-se no atendimento às suas comunidades. A atividade da parteira no 
Nordeste brasileiro representa culturalmente as raízes culturais da forma de nascer envoltas 
pelo cuidado comunitário. Sobre isso, vejamos o que reflete a pesquisadora Ademilde 
Medeiros Neta (2017) sobre a particularidades socioculturais da atuação e relação desta 
assistência: 
 
A manutenção desses laços é ao que parece uma caracteristicas relacionada 
as parteiras com atuação nas comunidades. Pois é a prestatividade e 
disposição de ajuda quando não ha com que sem contar na hora do parto ou 
doença que gera uma especie de comoção que motiva a afetividade em 
relação a parteira como forma de gratidão e recompensa com o status de 
membro familiar- segunda mae, mae de umbigo, madrinha ou mesmo tia – 
estendido por toda vida (MEDEIROS NETA , 2017,p. 41). 
 
Medeiros Neta (2017) afirma que uma carga de tensões marca a transição das formas 
hegemônicas de nascer no especificamente no nordeste
brasileiro para o ambiente hospitalar. 
É possível apontar um incômodo muito presente no que diz respeito à questão médico-
científica, no qual parece desmerecer o conhecimento popular e a atuação da parteira 
tradicional, exigindo delas inclusive, que sejam feitos cursos específicos, que sejam 
“atualizadas” de certos tipo de práticas de higiene. Do ponto de vista das parteiras também 
existem muitas incongruências nas atuações médicas, deixando claro que às vezes, o saber da 
medicina também pode ser passível de erros. 
30 
 
 
 
A inserção da cultura hospitalar de atendimento aos partos ocasionou um 
questionamento das práticas de parteiras durante um tempo, porém, como afirma Medeiros 
Neta(2017) e como também verifico na minha pesquisa, existe um movimento de 
revalorização destes partos tradicionais, desta vez carregando consigo uma alternativa da 
assistência médica aos nascimentos. No nordeste, especialmente em Natal, este movimento 
cultural surge ainda de maneira lenta mais em crescente expansão. 
Nas últimas décadas, alguns dados soam reveladores. O contexto urbano brasileiro 
ainda conta com o elevadíssimo número de cesarianas, com uma média de 55% dos partos 
realizados no país pelo SUS, segundo a Febrasgo
7
 e a FIOCRUZ
8
. E, quando se fala em 
planos de saúde, as taxas são ainda mais elevadas chegando a 88%. Os indicadores e motivos 
dessas cirurgias são as mais variadas, sendo comum que a paciente sem intercorrências, inicie 
seu pré-natal desejando um parto por via vaginal e acabe desistindo dele no meio dos 
processos e consultas, desencorajadas pelos discursos: medo da dor, receio que a vagina não 
volte ao tamanho habitual, não ter passagem, sofrimento fetal, bebês pélvicos; são discursos 
comumente ouvidos nos âmbitos virtuais e presenciais acompanhados durante a pesquisa 
como motivadores de cirurgias cesarianas. 
Toda essa “epidemia de cesáreas” acontece ainda com altos índices, apesar de toda 
luta e políticas voltadas para a humanização do parto. O que faz com que os números das 
cirurgias cesarianas sejam tão altos no país? Em primeira instância, seguindo os relatos de 
partos consultados ao longo da pesquisa presentes nas redes sociais das interlocutoras, o que 
acontece nas ações de assistência ao nascimento é uma permanência de práticas estabelecidas 
culturalmente entre os médicos que fortalece a relação de poder entre médico e paciente. Isso 
gera grande insatisfação. Os altos números de taxas de procedimentos interventores nos 
nascimentos e as várias falas sobre violências obstétricas no momento do parto, faz com que 
a parturiente possa se sentir muitas vezes ameaçada, optando ou pedindo por uma cirurgia 
cesariana. 
 A violência obstétrica é um aspecto importante na jornada do entendimento dos 
processos de luta pela humanização em todo o mundo, pois ela é um central motivador da 
busca de uma melhor assistência relacionadas ao parto. Porém, o seu entendimento é ainda 
 
7
 Disponível em https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/402-organizacao-mundial-da-saude-oms-lanca-56-
recomendacoes-para-tentar-diminuir-as-
cesareas#:~:text=Em%202016%2C%20o%20Sistema%20%C3%9Anico,a%20taxa%20%C3%A9%20de%2056
%25. Acesso 25.06.2020. 
8
 Disponível em: http://www6.ensp.fiocruz.br/nascerbrasil/principais-resultados2/ . Acesso em 20.06.2020. 
https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/402-organizacao-mundial-da-saude-oms-lanca-56-recomendacoes-para-tentar-diminuir-as-cesareas#:~:text=Em%202016%2C%20o%20Sistema%20%C3%9Anico,a%20taxa%20%C3%A9%20de%2056%25.
https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/402-organizacao-mundial-da-saude-oms-lanca-56-recomendacoes-para-tentar-diminuir-as-cesareas#:~:text=Em%202016%2C%20o%20Sistema%20%C3%9Anico,a%20taxa%20%C3%A9%20de%2056%25.
https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/402-organizacao-mundial-da-saude-oms-lanca-56-recomendacoes-para-tentar-diminuir-as-cesareas#:~:text=Em%202016%2C%20o%20Sistema%20%C3%9Anico,a%20taxa%20%C3%A9%20de%2056%25.
https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/402-organizacao-mundial-da-saude-oms-lanca-56-recomendacoes-para-tentar-diminuir-as-cesareas#:~:text=Em%202016%2C%20o%20Sistema%20%C3%9Anico,a%20taxa%20%C3%A9%20de%2056%25.
http://www6.ensp.fiocruz.br/nascerbrasil/principais-resultados2/
31 
 
 
 
mais importante dentro de realidades como a vividas no sul global que é o caso do Brasil e 
América Latina, lugares no qual ocorrem uma maior precarização da vida de maneira geral. 
Se faz necessário pensar quais são os corpos mais atingidos de maneira categórica por 
essas violências. Devemos assim, estar atentos para os marcadores de classe, gênero e raça 
como fatores de desigualdades para tais acontecimentos, promovendo uma reflexão que leve 
em consideração a interseccionalidade que atravessa a discussão, marcando um lugar de 
subalternidade e de medidas hierárquicas diferenciadas nestas escalas de violência entre as 
sujeitas. 
Os estudos sobre biopolítica e necropolítica (MBEMBE, 2016 p. 128 ) nos faz refletir 
quais são os sujeitos desejáveis e indesejáveis. E isso passa pela questão dos direitos 
reprodutivos, onde a partir de um controle estatal vemos a aplicação de uma violência 
soberana realizadas pelas instituições médicas, que passam por um sistema de hierarquização 
das violências atráves de um classificação biológica como sugere o racismo, sendo esse 
pensamento importante npara compreender as relações politicas que se relacionam com a 
violência obstetrícia. 
A interseccionalidade que busca pensar o poder enquanto uma relação em constelação 
nos quais podem ser acionados outros marcadores sociais que podem pesar ainda mais para 
alguns sujeitos em especifico vão ser tratados dentro da nossa sociedade. 
Com toda certeza, alguns exercicios de maternidade, em específico, o da mulher 
branca, heterossexual e casada será profundamente mais desejada socialmente do que por 
exemplo, a maternidade das mulheres negras. Neste sentido: 
 
Quanto maior o número de aspectos ditos negativos presentes na mulher ou 
no casal, ao exercitarem maternidade e/ou a reprodução e cuidado com os 
filhos, mais próximos estarão da base da pirâmide hierárquica e, ainda, 
menor será o exercício de direitos humanos – o que revela, a exclusão social 
a que estão submetidos (MATTAR; DINIZ, 2012 p.114). 
 
 
 Estas violações têm como principais características a desinformação, a violência 
física, simbólica e também sexual que partem sempre da destituição de direitos. 
 As mídias hegemônicas de maneira geral, tais como novelas, noticiários, revistas e até 
as “falácias populares” prestam também muita desinformação ao longo dos anos sobre as 
maneiras de, resultando em muitos estigmas: sobre o que seria a posição certa para parir, o 
quão doloroso pode ser este evento, quem deve prestar a assistência etc.. 
32 
 
 
 
Como marco importante desta discussão, é possível citar a análise promovida pelo 
“Dossiê Violência Obstétrica: parirás com dor” (2012), desenvolvido durante a CPMI da 
violência contra as mulheres, o texto foi produzido pela rede de mulheres “Parto do Princípio: 
mulheres em rede pela maternidade ativa”, com intuito de elaborar e exigir das autoridades 
competentes posicionamentos sobre a temática. 
 No dossiê citado acima, as ativistas das redes de mulheres comentam que mesmo 
aquelas conquistas garantidas por lei, são desrespeitadas em diversas maternidades brasileiras. 
Dentre estas, está o descumprimento da Lei nº. 11.108/2005 que garante a presença do 
acompanhante de escolha da mulher no momento do parto. A lei é descumprida alegando as 
mais diversas desculpas, tais como a não existência de roupas adequadas para o 
acompanhante ou mesmo o fato deste acompanhante ser do sexo masculino e as enfermarias 
serem compartilhadas por outras parturientes do sexo feminino. 
 O dossiê apresenta também de maneira minuciosa, a política

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