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OrientacaoArgumentativaAcordos-Franca-2021

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1
 
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE LETRAS 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DA LINGUAGEM 
HÁLIS ALVES DO NASCIMENTO FRANÇA 
ORIENTAÇÃO ARGUMENTATIVA EM ACORDOS MULTILATERAIS 
AMBIENTAIS 
NATAL/RN 
2021 
2
 
HÁLIS ALVES DO NASCIMENTO FRANÇA 
ORIENTAÇÃO ARGUMENTATIVA EM ACORDOS MULTILATERAIS 
AMBIENTAIS 
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em 
Estudos da Linguagem (PPgEL) da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como parte 
do exame de defesa para obtenção do título de 
Doutor em Estudos da Linguagem. 
Área de concentração: Linguística Teórica e 
Descritiva. 
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria das Graças Soares 
Rodrigues. 
NATAL/RN 
2021 
3
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências 
Humanas, Letras e Artes - CCHLA 
4
HÁLIS ALVES DO NASCIMENTO FRANÇA 
ORIENTAÇÃO ARGUMENTATIVA EM ACORDOS MULTILATERAIS 
AMBIENTAIS 
Esta tese foi submetida ao Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem como parte 
dos requisitos necessários para obtenção do grau de doutor em Estudos da Linguagem, 
outorgado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 
Natal, 28 de janeiro de 2021. 
BANCA EXAMINADORA 
_________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Maria das Graças Soares Rodrigues 
Orientadora e Presidente 
_________________________________________________________ 
Prof. Dr. Luis Alvaro Sgadari Passeggi 
Examinador interno 
_________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Tinôco Cabral 
Examinadora externa 
_________________________________________________________ 
Prof. Dr. Giovanni Damele 
Examinador externo 
_________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Rosalice Botelho Wakim Souza Pinto 
Examinadora externa 
_________________________________________________________ 
Prof.ª Dr.ª Sueli Cristina Marquesi 
Examinadora externa 
5
 
Em memória de Lígia Alves e Daniel Vanderveken. 
6
AGRADECIMENTOS 
Uma tese nunca se escreve sozinha. A seguir, as evidências. 
 Agradeço ao PPgEL, à UFRN, à CAPES e às pessoas por trás dessas instituições 1
pelo imenso apoio humano, institucional e financeiro. O projeto desta tese nasceu graças ao 
incentivo da Prof.ª Dr.ª Ana Virgínia Rocha, que me direcionou para o grupo ATD. Na ATD, 
o projeto cresceu e criou forma, com a ajuda de Prof.ª Dr.ª Maria das Graças Soares 
Rodrigues, minha orientadora, além de Prof. Dr. Luis Passeggi e Prof.ª Dr.ª Célia Medeiros 
(Celinha). Celinha, particularmente, foi fundamental nessa fase inicial e a ela sou grato pelo 
aconselhamento. 
 Nesse período, participei de diversos eventos e recebi muitas contribuições: em 
especial, da Prof.ª Dr.ª Rosalice Pinto, por construir pontes entre gêneros, argumentação e 
retórica; da Prof.ª Dr.ª Ana Lúcia Tinôco Cabral, por me apresentar à semântica 
argumentativa; e da Prof.ª Dr.ª Maria das Vitórias Nunes Lourenço (Vivi), como exemplo 
de pesquisadora que transita entre as letras e o direito. Mais tarde, Prof. Passeggi, Prof.ª Ana 
Lúcia e Prof. Vivi comporiam minha banca de qualificação, junto à Prof.ª Dr.ª Sueli Cristina 
Marquesi, a quem também agradeço pelos apontamentos sagazes a respeito do conteúdo e 
organização da tese. 
 Na Unisinos, em São Leopoldo/RS, fiz minha primeira missão doutoral, com ajuda de 
financiamento público. Agradeço à Prof.ª Dr.ª Rove Chishman por me receber e 
supervisionar, pelas discussões sobre os atos de discurso, linguística computacional e 
aplicações linguísticas em inteligência artificial. Agradeço também aos colegas e professores/
as da Semantec e do IX EBRALC / XIV ELC realizado na Unisinos em 2017. 
 Pela minha estadia de um mês no Rio Grande do Sul, agradeço às minhas amigas 
Louisy Rodrigues e Manuela Kanan, pelo acolhimento e companheirismo, a despeito das 
distâncias que nos separam de tempos em tempos. 
 Na Universidade Nova de Lisboa, em Portugal, fiz minha segunda missão doutoral, 
com ajuda de financiamento público. Agradeço ao Prof. Dr. Giovanni Damele por me receber 
e supervisionar, pelas discussões sobre questões acadêmicas e institucionais desde sua 
passagem por Natal em 2016 e 2017, e por me colocar em diálogo com o grupo 
 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 1
- Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
7
Argumentation Lab do IFILNOVA. Nessa ocasião, também tive oportunidade de conversar 
com Prof. Dr. Fabrizio Macagno, a quem agradeço pelos conselhos em relação à 
fundamentação teórica da minha investigação. Agradeço também aos colegas do UNILOG 
2018 em Vichy, na França, em particular a Hans Christian Nordtveit Kvernenes pela 
parceria acadêmica, e ao colega Marco Almada, pelas conexões com perspectivas 
computacionais do estudo do direito. 
 Pela minha estadia de três meses em Portugal, agradeço também ao meu amigo 
Marcelo Varella e a seu irmão, Vítor, pelo acolhimento e companheirismo, as risadas, planos 
e Masterchef Australia no coração do Porto. 
 Na Universidade de Amsterdã (UvA), na Holanda, fiz minha terceira e última missão 
doutoral, também com a ajuda de financiamento público. Agradeço à Prof.ª Dr.ª Francisca 
Snoeck Henkemans por me receber e supervisionar, pelas discussões sobre abordagens 
linguísticas para o estudo da argumentação, e por revisar e discutir meu artigo “Rethinking 
Interpretative Arguments”, a ser em breve publicado e que constituiu as bases da Seção 3. 
Nessa ocasião, também tive oportunidade de conviver com Prof.ª Dr.ª Eveline Feteris, a 
quem agradeço pelas discussões e companheirismo nesse período, e com quem planejo 
publicar traduções de seus artigos no Brasil; e com Prof.ª Dr.ª José Plug, a quem agradeço 
pelo convite para participar de sua disciplina em argumentação jurídica e pelas discussões que 
se seguiram junto aos demais colegas de turma. Além das professoras, agradeço também às 
minhas queridas colegas de office na UvA: Lotte van Poppel, então pós-doutoranda e hoje 
professora na Universidade de Groningen, pela amizade, conselhos e histórias de vida; e 
Saskia Leymann, doutoranda, pelas longas horas de conversa sobre Dragon Age, Dungeons 
& Dragons e Critical Role. Ainda na UvA, devo agradecimentos também à Dr.ª Roosmaryn 
Pilgram, Lilian Heijmans e demais servidores, ao Argumentation and Rhetoric Group 
Amsterdam e à Prof.ª Dr.ª Corina Andone. 
 Essa missão doutoral não se resumiu, contudo, à Amsterdã. Entre viagens e 
conferências, devo agradecimentos à Prof.ª Dr.ª Henrike Jansen (Universidade de Leiden); 
Prof. Dr. Marcin Lewiński, Dr.ª Dima Mohammed e Dr. Mehmet Ali Üzelgün 
(Universidade Nova de Lisboa), além das professoras, organizadoras e colegas participantes 
da Lisbon Summer School in Linguistics 2018 e 2019 do Fórum de Partilha Linguística de 
2019, em especial Prof.ª Dr.ª Matilde Gonçalves, Prof.ª Dr.ª Clara Nunes Correia e Prof. 
8
Dr. Lionel Dufaye (Universidade Paris-Est-Marne-La-Vallée); ao Prof. Dr. Jaap Hage e Prof. 
Dr. Felipe Oliveira (Universidade de Maastricht) e demais colegas da instituição; aos colegas 
da European Conference on Argumentation 2019 e respectiva Summer School, aos revisores 
do meu artigo e, em particular, a Dr. Steve Oswald (Universidade de Neuchâtel) e Prof. Dr. 
Bart Verheij (Universidade de Groningen) pelas palavras de incentivo. 
 Em minha estadia de onze meses na Holanda, agradeço também à minha amiga 
Aybüke Ozgün, então pós-doutoranda e hoje professora na UvA, e ao grande grupo de 
amigos feitos na passagem pelo país. 
 Por último, volto minha gratidão para todos que me acompanharam em meu doutorado 
e licenciatura na UFRN. 
 No contexto do PPgEL, agradeço à Beth e a Gabriel pelo apoio administrativo 
durante esses quatroanos, além de Prof.ª Dr.ª Sulemi Campos e Prof.ª Dr.ª Alessandra 
Castilho por terem acreditado no meu potencial enquanto pesquisador. De maneira geral, 
devo meus agradecimentos aos professores/as do nosso grupo pelos aprendizados e 
contribuições para esta pesquisa, e, em particular, à Prof.ª Dr.ª Marise Galvão, Prof. Dr. João 
Neto, Prof. Dr. Alex Gomes, Prof.ª Dr.ª Maria Eduarda Giering, Prof.ª Dr.ª Candida Melo, 
e, particularmente, Prof. Dr. Daniel Vanderveken, com quem percorri os caminhos dos atos 
de discurso e que me foi muito generoso com suas lições e estímulo intelectual. Agradeço, 
sobretudo, a todos os meus queridos amigos e colegas da ATD que estiveram comigo durante 
todo o processo e, em particular, Vitória, Eunice, Fernanda, Leonildo, Iranilson, Nouraide, 
Niete, Euclides e Socorro. 
 No contexto do curso de Letras - Inglês, que cursei simultaneamente ao doutorado, os 
agradecimentos são igualmente extensos e difíceis de expressar com justiça. Sou e sempre 
serei muito grato pelo apoio pleno e incontestável de minhas professoras e professores: 
 Prof. Dr. Marcos Costa e Prof.ª Dr.ª Mahayana Godoy, por me incentivarem a 
estudar linguística com fervor; 
 Prof.ª Dr.ª Ana Graça Canan, Prof. Dr. Bruce Stewart e Prof.ª Dr.ª Sandra 
Erickson, pela generosidade com que me tiveram como aluno; 
 Prof.ª Dr.ª Rosanne Araújo, Prof. Dr. Luis de Assis e Prof.ª Marília Varella, pelas 
parcerias, diálogos e, sobretudo, pela seriedade e afeto nos desafios que enfrentamos no 
decorrer dos anos; 
9
 E agradeço, sobretudo, à Prof.ª Dr.ª Janaína Weissheimer, Prof. Dr. Orison 
Bandeira Jr. e Prof.ª Dr.ª Jennifer Cooper, fundamentais do início ao fim e exemplos que 
absorvi como parte de quem eu sou enquanto professor e pesquisador. 
 Evidentemente, muito devo aos meus queridos amigos e amigas das turmas de Letras 
- Inglês, em especial a turma 2015.1 e Neemias, Jules, Naiara e Pedro, com os quais 
compartilhei trajetórias e discussões não apenas da licenciatura, mas também do PPgEL. 
Devo também aos amigos e amigas do estágio supervisionado, além de nossos supervisores 
Prof. Dr. Bruno Lima e Prof.ª Francislí Galdino, com os quais conseguimos superar os 
desafios e dificuldades do regime remoto em 2020. Agradeço sobretudo à Prof.ª Dr.ª Lucinéia 
Contiero, pela sua energia e apoio nessa jornada, sem os quais nossa formatura não seria 
possível; e, claro, à Judith Lieb, pelo seu profissionalismo e assistência nessa realização. 
 Agradeço aos servidores do CCHLA e demais órgãos da UFRN, em particular ao 
Prof. Dr. Rubens Maribondo, para os quais muito me voltei e de onde sempre obtive auxílio. 
Em especial, agradeço à Dona Silvana (e seus funcionários no Café Maná), que sempre me 
atendeu com muito carinho nos últimos seis anos e que sempre me disse “continue se 
esforçando, meu filho, que se Deus quiser um dia você vai ser doutor e professor da 
universidade!”. 
 Agradeço à minha orientadora Prof.ª Graça, uma força da natureza e abridora de 
portas, responsável por me direcionar para tantas pessoas e oportunidades com uma simples 
ligação, um convite, uma mensagem, palavras que lançaram as bases mais fundamentais de 
cada etapa de minha trajetória no doutorado. Sob sua orientação, aprendi que ser pesquisador, 
acima de tudo, é saber não somente fazer pontes, mas como fazê-las, e em que momento. 
 Esses foram meus agradecimentos às pessoas e instituições de minha vida na 
universidade. Agora, àqueles da minha vida fora dela. 
 Agradeço, em primeiro lugar, as forças que residem no mundo e fora dele, forças que 
existem sob muitos nomes e muitas crenças, mas que me guiaram para boas pessoas, 
experiências e lugares. Desses mistérios sabemos pouco ou quase nada, mas nesse pouco que 
sei encontro conforto e serenidade. 
 Agradeço, em segundo lugar, aos meus familiares, e, em especial, aos meus pais, 
Rosângela e Creso. Seu apoio incondicional me move, comove e me leva adiante: é o que 
me dá segurança para falhar até ter sucesso. 
10
 Agradeço, em terceiro lugar, aos meus amigos, por estarem sempre comigo nessa 
jornada, de perto ou de longe, abraços digitais que me sustentam sobretudo no curso da 
pandemia. Sou grato, em especial, a Derance, Haniel e Samie; Louise e Carlos; Vítor e 
Luiz Paulo; Igor, João e Carol; aos Brinks e aos Sapos e aos grupos de RPG: relações nas 
quais o sentido de amizade se faz avatar e habita entre nós à nossa imagem e semelhança. 
 Agradeço, por fim e para além de qualquer ordem ou lugar, àquela que nunca hesitou 
em estar comigo, custe o que custar, em qualquer tempo, contexto ou lugar: Samantha. Com 
minina eu sei que tudo vai dar certo, porque já deu. 
 A verdade é que é muito difícil fazer ciência e gerar conhecimento nas universidades 
brasileiras. De 2017 a 2021, tornou-se ainda mais. Muitas circunstâncias me trouxeram até 
aqui e reconheço a dádiva e o privilégio da minha posição. Mas, em absolutamente nenhum 
momento, estive só ou fiz algo só. Espero que estes agradecimentos sirvam como prova de 
que, por trás de cada produção científica, há uma multidão. 
 E a ela, esta tese pertence. 
À ciência livre, 
Hális Alves do Nascimento França 
8 de janeiro de 2021 
Porto Alegre/São Leopoldo, Rio Grande do Sul 
Porto/Lisboa, Portugal 
Amsterdã, Holanda 
Natal, Rio Grande do Norte 
Brasil 
11
 
Durante milhões de anos a humanidade viveu como animais 
Até que um dia algo despertou o poder de nossa imaginação 
Aprendemos a falar 2
Stephen Hawking 3
 No original: “For millions of years mankind lived just like the animals / Then something happened that 2
unleashed the power of our imagination / We learned to talk”
 Excerto de “Keep Talking”, The Division Bell, Pink Floyd, 1994. Tradução nossa.3
12
RESUMO 
Esta tese apresenta uma proposta de análise textual-discursiva de gêneros discursivos 
normativos do discurso jurídico, aplicando-a a acordos multilaterais ambientais e utilizando a 
Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima como objeto de investigação. 
Partindo da premissa de que nessas instâncias de enunciação os sentidos do texto são 
argumentados, sustentamos nossa formulação em conceitos da linguística do texto, discurso e 
enunciação, por meio da Análise Textual dos Discursos (ATD) (ADAM, 2011, 2015, 2017, 
2018, 2020); da teoria dos atos de discurso (SEARLE, 1969, 1979; SEARLE; 
VANDERVEKEN, 1985; VANDERVEKEN, 1990); e da teoria pragma-dialética de 
argumentação (EEMEREN, 2010, 2015, 2017, 2018a, 2018b; EEMEREN; 
GROOTENDORST, 2004; EEMEREN; SNOECK HENKEMANS, 2017; SNOECK 
HENKEMANS, 1992; FETERIS, 2017a, 2017b; KLOOSTERHUIS, 2006). Nesse 
enquadramento teórico, buscamos compreender o papel do processo de argumentação 
interpretativa no estabelecimento dos sentidos dos gêneros discursivos normativos, com base 
em elementos da pragmática do discurso e justificação jurídica (DASCAL, 2003; 
MACCORMICK; SUMMERS, 1991) e adotando esse processo enquanto formulação teórico-
metodológica de análise textual-discursiva. Seguindo essa formulação, analisamos nosso 
objeto de investigação a partir do plano de análise da orientação argumentativa, colocando em 
evidência os componentes da força ilocucionária, em particular o ponto ilocucionário, seu 
modo de realização e grau de intensidade, bem como as manobras estratégicas adotadas pelo 
locutor/enunciador para orientar argumentativamente o enunciado a fim de atingir seu 
objetivo comunicacional. Ao aplicar essa formulação à análise dos atos ilocucionários 
compromissivos de segmentos de nosso objeto de investigação, explicamos como o grau de 
comprometimento do locutor/enunciador em relação ao conteúdo proposicional varia de 
acordo com a forma com que determinados marcadores discursivos, categorizados à luz de 
uma abordagem ilocucionário-argumentativa, afetam o modo de realização dos cursos de ação 
com os quais ele se compromete. Nesse processo, classificamos esses marcadores enquanto 
condicionais restritivos, que ampliama intensidade da força ilocucionária compromissiva, ou 
permissivos, que a reduzem, ocasionando onze categorias de marcadores referentes às 
condições de realização de seus respectivos cursos de ação: condições de princípio, 
frequência, contexto, especificidade, localidade, finalidade, sujeito e atitude (restritivas), e 
condições de particularidade, discricionariedade e conveniência (permissivas). Além de 
buscar compreender como o locutor/enunciador orienta argumentativamente o 
estabelecimento dos sentidos do texto, a análise foi capaz de gerar quadros e esquemas de 
representação dos dados obtidos e do processo de argumentação interpretativa envolvido na 
justificação desses sentidos de uma perspectiva predominantemente linguístico-textual. 
Espera-se que a proposta formulada por esta pesquisa possa futuramente oferecer 
contribuições para os estudos linguísticos do discurso jurídico e, de maneira mais ampla, para 
as investigações que transitam nas intersecções entre o texto, a argumentação e a linguagem. 
 
Palavras-chave: Análise Textual dos Discursos. Orientação argumentativa. Argumentação 
interpretativa. Teoria dos atos de discurso. Pragma-dialética. Acordos Multilaterais 
Ambientais. 
13
ABSTRACT 
In the present doctoral thesis, we aim at formulating a proposal of textual-discursive analysis 
of normative discursive genres in the legal discourse while applying it to the analysis of 
multilateral environmental agreements. For that purpose, we have selected the United Nations 
Framework Convention on Climate Change as the object of our investigation. Assuming that 
the meaning of the text is reasoned in such enunciative settings, we seek theoretical support 
from the text, discourse and enunciative linguistics, via Textual Discourse Analysis (ATD) 
(ADAM, 2011, 2015, 2017, 2018, 2020); the speech act theory (SEARLE, 1969, 1979; 
SEARLE; VANDERVEKEN, 1985; VANDERVEKEN, 1990), and the pragma-dialectical 
theory of argumentation (EEMEREN, 2010, 2015, 2017, 2018a, 2018b; EEMEREN; 
GROOTENDORST, 2004; EEMEREN; SNOECK HENKEMANS, 2017; SNOECK 
HENKEMANS, 1992; FETERIS, 2017a, 2017b; KLOOSTERHUIS, 2006). Within this 
theoretical framework, we aim at understanding the role played by the interpretative 
argumentation process in the establishment of meaning within normative discursive genres, 
based on elements of the legal pragmatics of discourse and legal justification (DASCAL, 
2003; MACCORMICK; SUMMERS, 1991) as well as by adopting such a process in the form 
of a theoretic-methodological formulation towards textual-discursive analysis. Following this 
formulation, we analyze our object of study within the argumentative orientation level of 
textual analysis, highlighting the components of illocutionary force — in particular the 
illocutionary point, its mode of achievement and degree of strength — and the strategic 
maneuvers adopted by the speaker/enunciator to orient argumentatively their utterance 
towards a given communicative goal. By applying this formulation to the analysis of 
commissive illocutionary acts of certain segments of our object of study, we explain how the 
degree of commitment of the speaker/enunciator towards their propositional content varies 
according to the manner with which certain discursive markers, categorized under the light of 
an illocutionary-argumentative approach, affect the modes of achievement of the courses of 
actions to which they commit themselves. In this process, we have classified these markers as 
constraining conditional markers, which raise the strength of a commissive illocutionary 
force, or permissive conditional markers, which decrease it, generating eleven categories of 
markers related to the mode of achievement of their respective courses of action: conditions 
of principle, frequency, context, specificity, locality, finality, subject and attitude 
(constraining), and conditions of particularity, discretion and convenience (permissive). On 
top of seeking to understand how the speaker/enunciator orients the establishment of meaning 
argumentatively, such an analysis was capable of generating frameworks and schemes of 
representation of the obtained data and of the interpretative argumentation process involved in 
the justification of meaning from a predominantly textual-linguistic perspective. It is expected 
that the proposal formulated in this research may be able to provide contributions to future 
linguistic studies on the legal discourse and, more broadly, to any further research that might 
transit in the intersections between text, argumentation and language. 
Keywords: Textual Discourse Analysis. Argumentative orientation. Interpretative 
argumentation. Speech act theory. Pragma-dialectics. Multilateral Environmental Agreements. 
14
RÉSUMÉ 
Avec cette thèse de doctorat, nous visons à formuler une proposition dans le cadre de 
l’analyse textuelle des discours des genres discursifs normatifs du discours juridique et à 
l'appliquer aux accords multilatéraux sur l’environnement. Pour cela, nous avons choisi la 
Convention-cadre des Nations Unies sur les Changements Climatiques comme objet 
d'investigation. Partant de la prémisse que dans ces instances d'énonciation les sens du texte 
sont argumentées, nous appuyons notre formulation dans des concepts de la linguistique du 
texte, du discours et de l'énonciation, à travers l'analyse textuelle des discours (ATD) (ADAM, 
2011, 2015, 2017, 2018, 2020); la théorie des actes de discours (SEARLE, 1969, 1979; 
SEARLE; VANDERVEKEN, 1985; VANDERVEKEN, 1990); et la théorie pragma-
dialectique de l'argumentation (EEMEREN, 2010, 2015, 2017, 2018a, 2018b; EEMEREN; 
GROOTENDORST, 2004; EEMEREN; SNOECK HENKEMANS, 2017; SNOECK 
HENKEMANS, 1992; FETERIS, 2017a, 2017b; KLOOSTERHUIS, 2006). Dans ce cadre 
théorique, nous cherchons à comprendre le rôle du processus d'argumentation interprétative 
dans l'établissement des sens des genres de discours normatifs, à partir d'éléments de la 
pragmatique du discours et de la justification juridique (DASCAL, 2003; MACCORMICK; 
SUMMERS, 1991) et en adoptant ce processus comme une formulation théorique et 
méthodologique de l'analyse textuelle-discursive. Suite à cette formulation, nous analysons 
notre objet d'investigation à partir du plan d'analyse de l'orientation argumentative, mettant en 
évidence les composantes de la force illocutoire, en particulier le point illocutoire, son mode 
de réalisation et son degré d'intensité, et les manœuvres stratégiques adoptées par le locuteur / 
enunciator pour orienter l'énoncé argumentativement et atteindre son but communicationnel. 
En appliquant cette formulation à l'analyse des actes illocutoires compromissifs de segments 
de notre objet d'investigation, nous expliquons comment le degré d'engagement du locuteur / 
énonciateur par rapport au contenu propositionnel varie selon la manière dont certains 
marqueurs discursifs, catégorisés à la lumière d'une approche illocutoire-argumentative, 
affectent les modes de réalisation des cours d'action auxquels il s'engage. Dans ce processus, 
nous avons classé ces marqueurs en marqueurs conditionnels contraignants, qui élèvent la 
force d'une force illocutoire commissive, ou en marqueurs conditionnels permissifs, qui la 
diminuent, générant onze catégories de marqueurs liés au mode de réalisation de leurs plans 
d'action respectifs : conditions de principe, de fréquence, de contexte, de spécificité, de 
localité, de finalité, de sujet et d’attitude (contraignante), et conditions de particularité, de 
discrétion et de commodité (permissive). En plus de chercher à comprendre comment le 
locuteur / énonciateur oriente argumentativement l'établissement des sens du texte, l'analyse a 
pu générer des tableaux et des schémas de représentation des données obtenues, en plus du 
processus d'argumentation interprétative impliqué dans la justification de ces sens dans une 
perspective essentiellement linguistique-textuelle. Nous souhaitons que la proposition 
formulée par cetterecherche puisse à l'avenir offrir des contributions aux études linguistiques 
du discours juridique et, plus largement, aux investigations qui traversent les intersections 
entre le texte, l'argumentation et la langue. 
 
Mots clés: L’analyse textuelle des discours. Orientation argumentative. Argumentation 
interprétative. Théorie des actes de discours. Pragma-dialectique. Accords multilatéraux sur 
l'environnement. 
15
LISTA DE ESQUEMAS 
Esquema 1 - Níveis ou planos de análise do discurso e de análise textual…………..…… 30 
Esquema 2 - Operações de segmentação e ligação……………………………..……….... 31 
Esquema 3 - A proposição-enunciado…………………………………………………….. 33 
Esquema 4 - Eixos das dimensões argumentativas no discurso………………………….. 41 
Esquema 5 - Atos de discurso e valores ilocucionários dos enunciados…………………. 84 
Esquema 6 - Estrutura de argumentação singular………………………………………… 116 
Esquema 7 - Estrutura de argumentação múltipla………………………………………… 116 
Esquema 8 - Estrutura de argumentação coordenativa…………………………………… 116 
Esquema 9 - Estrutura de argumentação subordinativa…………………………………... 117 
Esquema 10 - Combinação de vários tipos de argumentação complexa…..……………… 118 
Esquema 11 - Triângulo de manobras estratégicas………………………………………... 119 
Esquema 12 - Estrutura básica de uma decisão judicial: argumentação de primeira ordem. 126 
Esquema 13 - Padrão argumentativo prototípico de um clear case……………………… 126 
Esquema 14 - Estrutura básica de uma decisão judicial: argumentação de segunda ordem 127 
Esquema 15 - Padrão argumentativo prototípico de um hard case de interpretação de….. 
uma regra jurídica………………………………………………………………………… 127 
Esquema 16 - Quadro de projeto — A interconexão entre visões de mundo, estratégias... 
de investigação e métodos de pesquisa…………………………..………………………. 133 
Esquema 17 - Dinâmica de construção da proposta teórico-metodológica da tese……… 137 
Esquema 18 - Proposta de análise de orientação argumentativa…………………………. 147 
Esquema 19 - Mapa da argumentação interpretativa do enunciado matriz do ART4-1….. 159 
Esquema 20 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-1a……………………….. 164 
Esquema 21 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-1b……………………….. 169 
Esquema 22 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-1c……………………….. 173 
Esquema 23 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-1d……………………….. 177 
Esquema 24 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-1e……………………….. 181 
Esquema 25 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-1f……………………….. 186 
Esquema 26 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-1g……………………….. 190 
Esquema 27 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-1h……………………….. 193 
Esquema 28 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-1i……………………….. 196 
Esquema 29 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-1j……………………….. 199 
Esquema 30 - Mapa da argumentação interpretativa do enunciado matriz do ART4-2….. 203 
Esquema 31 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-2a……………………….. 209 
Esquema 32 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-2b……………………….. 215 
Esquema 33 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-2c……………………….. 220 
Esquema 34 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-2d……………………….. 226 
Esquema 35 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-2e……………………….. 231 
Esquema 36 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-2f……………………….. 236 
Esquema 37 - Mapa da argumentação interpretativa do ART4-2g……………………….. 241 
 
16
LISTA DE QUADROS 
Quadro 1 - Características linguísticas dos textos injuntivos…………………………….. 54 
Quadro 2 - Modelo de argumentos interpretativos de MacCormick e Summers….……… 72 
Quadro 3 - Os sete componentes da força ilocucionária de Searle e Vanderveken….….... 91 
Quadro 4 - Os seis componentes da força ilocucionária de Vanderveken.……………….. 94 
Quadro 5 - Tipos de pontos ilocucionários……………………………………………….. 96 
Quadro 6 - Identificação dos dados……………………………………………………….. 141 
Quadro 7 - Plano de texto da Convenção-Quadro………………………………………… 150 
Quadro 8 - Estrutura do ART4…………………………………………………………….. 153 
Quadro 9 - Enunciado matriz do ART4-1 (a a j).……………………………………….… 155 
Quadro 10 - Estrutura da argumentação interpretativa do enunciado matriz do ART4-1… 158 
Quadro 11 - Enunciado subsidiário ART4-1a……………………………………………… 160 
Quadro 12 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-1a………………………. 162 
Quadro 13 - Enunciado subsidiário ART4-1b……………………………………………… 165 
Quadro 14 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-1b………………………. 167 
Quadro 15 - Enunciado subsidiário ART4-1c……………………………………………… 170 
Quadro 16 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-1c………………………. 172 
Quadro 17 - Enunciado subsidiário ART4-1d……………………………………………… 174 
Quadro 18 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-1d………………………. 176 
Quadro 19 - Enunciado subsidiário ART4-1e……………………………………………… 178 
Quadro 20 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-1e………………………. 180 
Quadro 21 - Enunciado subsidiário ART4-1f……………………………………………… 182 
Quadro 22 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-1f………………………. 184 
Quadro 23 - Enunciado subsidiário ART4-1g……………………………………………… 187 
Quadro 24 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-1g………………………. 189 
Quadro 25 - Enunciado subsidiário ART4-1h……………………………………………… 191 
Quadro 26 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-1h………………………. 192 
Quadro 27 - Enunciado subsidiário ART4-1i……………………………………………… 194 
Quadro 28 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-1i………………………. 195 
Quadro 29 - Enunciado subsidiário ART4-1j……………………………………………… 197 
Quadro 30 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-1j……………………….. 198 
Quadro 31 - Enunciado matriz do ART4-2 (a a g)………………………………………… 200 
Quadro 32 - Estrutura da argumentação interpretativa do enunciado matriz do ART4-2….. 202 
Quadro 33 - Enunciado subsidiário ART4-2a……………………………………………… 204 
Quadro 34 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-2a………………………..206 
Quadro 35 - Enunciado subsidiário ART4-2b………………………………………………210 
Quadro 36 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-2b………………………. 212 
Quadro 37 - Enunciado subsidiário ART4-2c……………………………………………… 216 
Quadro 38 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-2c………………………. 218 
Quadro 39 - Enunciado subsidiário ART4-2d……………………………………………… 221 
Quadro 40 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-2d………………………. 223 
Quadro 41 - Enunciado subsidiário ART4-2e……………………………………………… 227 
Quadro 42 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-2e………………………. 229 
Quadro 43 - Enunciado subsidiário ART4-2f……………………………………………… 232 
17
Quadro 44 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-2f………………………. 234 
Quadro 45 - Enunciado subsidiário ART4-2g……………………………………………… 237 
Quadro 46 - Estrutura da argumentação interpretativa do ART4-2g………………………. 239 
Quadro 47 - Tipos de marcadores condicionais restritivos………………………………… 244 
Quadro 48 - Tipos de marcadores condicionais permissivos………………………………. 244 
18
LISTA DE SIGLAS 
ATD Análise Textual dos Discursos 
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CNPq Conselho Nacional de Pesquisa 
MEAs Acordos multilaterais ambientais (Multilateral Environmental 
 Agreements) 
MRE Ministério das Relações Exteriores 
ONU Organização das Nações Unidas 
PPgEL Pós-graduação em Estudos da Linguagem 
PPGD Pró-reitoria de Pós-graduação da UFRN 
PROPESQ Pró-reitoria de Pesquisa da UFRN 
Rio 92 Conferência das Nações Unidas sobre o Meio-Ambiente e o 
 Desenvolvimento 
STF Supremo Tribunal Federal 
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
UNFCCC Convenção Quadro das Nações Unidas em Mudança do Clima (United 
 Nations Framework Convention on Climate Change) 
UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos 
UNL Universidade Nova de Lisboa 
USP Universidade de São Paulo 
UvA Universidade de Amsterdã (Universiteit van Amsterdam) 
19
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................222 ANÁLISE DO TEXTO ...................................................................................................27
2.1 A Análise Textual dos Discursos ..................................................................................28
2.2 As dimensões argumentativas do discurso ..................................................................34
2.3 Atos de discurso e orientação argumentativa: proposições .........................................43
2.3.1 A racionalidade dos sujeitos da enunciação ..............................................................44
2.3.2 A (co)produção estratégica dos sentidos do texto .....................................................48
2.3.3 A indissociabilidade dos valores ilocucionários e argumentativos ...........................49
2.4 Os gêneros discursivos normativos .............................................................................52
2.4.1 Os textos injuntivos ..................................................................................................53
2.4.2 O estabelecimento dos sentidos dos textos injuntivos ..............................................58
2.5 Considerações parciais ................................................................................................60
3 ARGUMENTANDO OS SENTIDOS DO TEXTO .......................................................63
3.1 Aspectos pragmáticos da linguagem jurídica ..............................................................64
3.2 O conflito de interpretação na (co)produção dos sentidos dos gêneros normativos ...67
3.3 O modelo interpretativo de MacCormick e Summers .................................................71
3.4 A argumentação interpretativa como abordagem de análise linguística ......................75
3.4.1 O papel da teoria da argumentação ...........................................................................76
3.5 Considerações parciais ................................................................................................79
4 ESTRATÉGIAS ILOCUCIONÁRIAS ...........................................................................82
4.1 Definindo estratégias ilocucionárias na análise do texto .............................................83
4.2 Teoria dos atos de discurso ..........................................................................................87
4.3 Atos ilocucionários comissivos ...................................................................................95
4.4 A dimensão argumentativa dos atos de discurso ..........................................................98
4.5 Considerações parciais ...............................................................................................100
5 ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS .......................................................................103
5.1 Definindo estratégias argumentativas na análise do texto ..........................................104
5.2 Pragma-dialética e linguística do texto: conexões possíveis ......................................106
5.2.1 Um modelo de discussão crítica ..............................................................................109
5.2.2 Reconstruindo a argumentação no discurso .............................................................111
5.2.2.1 Os atos de discurso na reconstrução pragma-dialética .........................................112
5.2.2.2 Tipos de reconstruções ..........................................................................................114
5.2.3 Manobras estratégicas ..............................................................................................118
5.3 A análise e avaliação da argumentação no discurso jurídico ......................................122
5.4 Considerações parciais ..............................................................................................129
6 METODOLOGIA ..........................................................................................................131
20
6.1 Abordagem metodológica ...........................................................................................132
6.1.1 Perspectivas filosóficas ............................................................................................132
6.1.2 Estratégias de investigação ......................................................................................133
6.1.3 Métodos de pesquisa ................................................................................................137
6.2 Notas sobre o corpus ...................................................................................................139
6.2.1 Os acordos multilaterais ambientais ........................................................................141
7 ANÁLISE DOS DADOS ...............................................................................................145
7.1 Esquema de análise .....................................................................................................146
7.2 Análise do corpus: comentários gerais .......................................................................148
7.3 Análise dos dados .......................................................................................................149
7.3.1. Plano de texto .........................................................................................................149
7.3.2 Recortes enunciativos ..............................................................................................152
7.3.3 Análise da orientação argumentativa .......................................................................155
7.3.3.1 Segmento ART4-1 ................................................................................................155
a) ART4-1a .......................................................................................................................160
b) ART4-1b .......................................................................................................................165
c) ART4-1c .......................................................................................................................170
d) ART4-1d .......................................................................................................................174
e) ART4-1e .......................................................................................................................178
f) ART4-1f ........................................................................................................................182
g) ART4-1g .......................................................................................................................187
h) ART4-1h .......................................................................................................................191
i) ART4-1i .........................................................................................................................194
j) ART4-1j .........................................................................................................................197
7.3.3.2 Segmento ART4-2 ................................................................................................200
a) ART4-2a .......................................................................................................................204
b) ART4-2b .......................................................................................................................210
c) ART4-2c .......................................................................................................................216
d) ART4-2d .......................................................................................................................221
e) ART4-2e .......................................................................................................................227
f) ART4-2f ........................................................................................................................232g) ART4-2g .......................................................................................................................237
7.4 Considerações parciais ...............................................................................................242
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................247
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................251
ANEXOS ..........................................................................................................................263
21
 
— Que grande poder nos deu o Todo Poderoso! O de falar, assim como Ele 
fala! É extraordinário que, de todas as criaturas da terra, apenas nós 
possamos falar. O que significa isso? 
Ele sorriu levemente e olhou ao redor da sala mais uma vez. 
— Significa que temos um grão do poder de Hashem. Nossas palavras são, 
de certa forma, reais. Elas podem criar mundos e destruí-los. Elas têm fio, 
como uma navalha. 4
Excerto de Disobedience, de Naomi Alderman. 5
 No original: “What a great power the Almighty has given us! To speak, as He speaks! Astonishing of all the 4
creatures on earth, only we can speak. What does this mean?” 
He smiled faintly and looked around the room once more. 
“It means we have a hint of Hashem’s power. Our words are, in a sense, real. They can create worlds and destroy 
them. They have edges, like a knife.”
 ALDERMAN, 2006, p. 17-18, tradução nossa.5
22
1 INTRODUÇÃO 
 O texto é uma entidade linguística complexa. Como construto da língua, o texto pode 
ser visto como um dos eixos da comunicação humana, funcionando no limite empírico dos 
nossos recursos sócio-cognitivos para que possa ser compreendido em um dado contexto de 
enunciação. Para produzir ou interpretar um texto, colocamos em ação um conjunto de 
estratégias discursivas que nos ajudam a construir uma visão de seus sentidos, apoiando-nos 
em fatores linguísticos, como estrutura, prosódia e marcas semântico-pragmáticas, e fatores 
extralinguísticos, como antecipações, conhecimento de mundo e entornos comunicacionais. 
Nesses termos, comunicar-se através do texto é, portanto, construir um mapa mental que nos 
encaminha na direção de seus possíveis sentidos. 
 Há entre esses sentidos, contudo, aqueles mais possíveis do que outros. Esses sentidos 
podem parecer mais ou menos plausíveis para nós dependendo de variáveis diversas 
existentes no momento da enunciação, condicionando assim o elo da comunicação verbal 
entre dois sujeitos enunciativos. A multiplicidade de elementos linguísticos e extralinguísticos 
à nossa disposição é tão imensa que poderia impedir qualquer tipo de interlocução dinâmica 
ou eficiente caso todos fossem necessários para o estabelecimento da comunicação verbal. 
Nesses termos, isso nos colocaria diante de um obstáculo: como decidir então o que importa e 
o que não importa na produção dos sentidos do texto? 
 É essencialmente nessa perspectiva que desvendar a textualidade é também assumir 
uma posição em relação às estratégias que adotamos para interpretar os sentidos de um texto. 
Se perguntados qual o motivo ou razão de nosso entendimento, enquanto sujeitos racionais da 
enunciação, refletimos sobre as estratégias que informaram nossa interpretação e atribuímo-
lhes a importância que julgamos necessária para chegar a conclusões aceitáveis. 
 Essa interpretação é, de fato, fundamentalmente argumentativa. Toda e qualquer 
interação textual tem como requisito a existência do outro, a interação dialógica entre o 
locutor/enunciador, o interlocutor e a diversidade de vozes do discurso. Interpretamos, assim, 
para o outro, pelo outro ou em direção ao outro, um outro sobretudo racional, como nós, com 
quem buscamos compartilhar o mapa dos sentidos do texto. É devido à sua presença que 
antecipamos como nosso ato comunicacional será recebido e a partir do qual podemos esperar 
23
um questionamento que talvez nunca seja feito, mas que, não obstante, se faz sempre 
presente: como chegamos a essas conclusões? Se nossa justificação em torno do 
estabelecimento dos sentidos do texto é frágil, ela nos coloca em uma posição menos 
vantajosa ou prestigiosa na comunidade à qual pertencemos. Por isso, armamo-nos de 
estratégias para chegar a conclusões que sejam plausíveis, razoáveis, admissíveis ou 
aceitáveis para essa comunidade e que justifiquem nossa interpretação dos sentidos de um 
texto em particular. É nessa função que empregamos estratégias de argumentação 
interpretativa na produção dos sentidos do texto. 
 Essa perspectiva é capaz de gerar diversas implicações para as linguísticas do texto, do 
discurso e da enunciação, sobretudo porque coloca uma motivação predominantemente 
justificatória no cerne da argumentatividade no discurso. Afinal, como as teorias de análise do 
texto podem abarcar o processo de argumentação interpretativa que permeia toda a dinâmica 
de (co)produção dos sentidos do texto? 
 Os gêneros jurídicos podem nos ajudar a explorar essa reflexão. Sua principal 
contribuição em relação a outros gêneros é que a argumentação interpretativa enquanto parte 
do processo de (co)produção dos sentidos do texto é mediada por ambientes discursivos 
institucionais fortemente convencionalizados. Uma vez que o prestígio de um sentido em 
detrimento de outro é capaz de transformar por completo as relações sociais sobre as quais o 
direito se debruça, essa convencionalização institucional, sob a forma, por exemplo, de 
expedientes processuais, serve para garantir que os procedimentos envolvidos nesse processo 
de produção de sentidos tenham uma rigidez e documentação rigorosas capazes de reduzir 
arbitrariedades e assegurar a lisura do sistema como um todo, pelo menos em um Estado 
Democrático de Direito. 
 Tendo essa perspectiva como ponto de partida, buscamos desenvolver uma proposta 
de análise do texto voltada para a investigação dos gêneros discursivos normativos que 
considere as dimensões argumentativas do discurso, em geral, e do papel da argumentação 
interpretativa, em particular, na (co)produção dos sentidos de textos pertencentes a esses 
gêneros no discurso jurídico. Em especial, ocupamo-nos de um gênero discursivo normativo 
típico do discurso jurídico internacional, o acordo multilateral ambiental, como objeto de 
aplicação da proposta de análise desenvolvida. 
24
 Do ponto de vista teórico, nossa investigação tem como eixo central a teoria da 
Análise Textual dos Discursos (ATD), de Jean-Michel Adam (2011, 2015, 2017, 2018, 2020). 
Na ATD, ancoramos nossa perspectiva de análise na linguística do texto, explorando o plano 
de análise da orientação argumentativa e visualizando formas de desenvolvê-la do ponto de 
vista teórico-metodológico, discutindo, por exemplo, o papel dos atos de discurso na visada 
argumentativa do texto e da racionalidade dos sujeitos da enunciação no estudo da orientação 
argumentativa. Em seguida, buscamos consolidar a posição da argumentação interpretativa na 
produção dos sentidos do texto jurídico de uma perspectiva pragmática, com base em Marcelo 
Dascal (2003), por sua vez informada por propostas da justificação jurídica, com base em Neil 
MacCormick e Robert Summers (1991), de forma a explorar com mais atenção as maneiras 
como a argumentação interpretativa desempenha o papel de negociadora dos sentidos nos 
gêneros discursivos normativos. 
 A partir disso, buscamos suporte da teoria dos atos de discurso para a integração de 
abordagens e ferramentas teóricas de análise do ato ilocucionário, com foco em estratégias de 
análise da força ilocucionária baseadas em John Searle (1969, 1979), Searle e Daniel 
Vanderveken (1985) e Vanderveken (1990). Em seguida, buscamos suporte da teoria pragma-
dialética de argumentação para a integração de abordagens e ferramentas teóricas de análise 
da argumentação no discurso, com foco em estratégiasde reconstrução argumentativa e 
manobras estratégicas baseadas em Frans H. van Eemeren e a Escola de Amsterdã 
(EEMEREN, 2010, 2015, 2017, 2018a, 2018b; EEMEREN; GROOTENDORST, 2004; 
EEMEREN, SNOECK HENKEMANS, 2017; SNOECK HENKEMANS, 1992; FETERIS, 
2017a, 2017b; KLOOSTERHUIS, 2006). 
 Seguindo essa disposição, esta tese se concentra em algumas questões que centralizam 
os desafios relativos à proposta apresentada: 
(i) Qual o papel da orientação argumentativa no estabelecimento dos sentidos do texto? 
(ii) Que estratégias ilocucionárias e argumentativas podem ser formuladas para análise da 
orientação argumentativa dos gêneros discursivos normativos tendo em vista a 
importância do processo de argumentação interpretativa no discurso jurídico? 
(iii) Que tipos de procedimentos teórico-metodológicos podem ser implementados a partir 
dessas estratégias para análise do texto? 
25
 Tendo esses pontos como questionamentos centrais, esta tese tem por objetivo geral 
formular e aplicar estratégias ilocucionárias e argumentativas que levem em conta o processo 
de argumentação interpretativa na (co)produção dos sentidos do texto para análise da 
orientação argumentativa de gêneros discursivos normativos, com foco no gênero acordo 
multilateral ambiental. Nessa direção, estabelece como objetivos específicos: 
(i) Determinar de que maneira essas estratégias ilocucionárias e argumentativas podem ser 
fundamentadas de um ponto de vista textual, pragmático e argumentativo; 
(ii) Estabelecer critérios para a formulação dessas estratégias com base nas perspectivas 
teóricas adotadas; 
(iii) Formular ferramentas teórico-analíticas a partir dessas estratégias ilocucionárias e 
argumentativas para a análise da orientação argumentativa de gêneros discursivos 
normativos. 
 Esta pesquisa está inserida no Programa de Pós-graduação em Estudos da Linguagem 
(PPgEL) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na área de concentração 
Linguística Teórica e Descritiva no âmbito da linha de pesquisa Estudos Linguísticos do 
Texto, tendo sido financiada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (CAPES) a partir da concessão de bolsa de doutoramento (vigência 2017-2021). 
Além disso, esta pesquisa se beneficiou do financiamento para estágio de missão doutoral de 
editais do Programa de Cooperação Acadêmica entre a UFRN, a Universidade de São Paulo e 
a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (PROCAD 2013/CAPES/USP/UFRN/UNISINOS), 
da Pró-reitoria de Pós-graduação e Pró-reitoria de Pesquisa da UFRN (PPG/PROPESQ/
UFRN) e do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE/CAPES) . Esta pesquisa 6
se situa também no conjunto dos trabalhos do Grupo de Pesquisa da Análise Textual dos 
Discursos (ATD) — da mesma instituição do autor — registrado no Diretório de Grupos de 
Pesquisa do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq). 
 Esta tese está dividida em seis seções principais: nas Seções de 2 a 5, apresentamos as 
considerações fundamentais que norteiam esta pesquisa, através da Seção 2, relativa à ATD, 
da Seção 3, relativa ao processo de argumentação interpretativa dos gêneros normativos no 
direito, da Seção 4, relativa à teoria dos atos de discurso, e da Seção 5, relativa à pragma-
 Missões doutorais realizadas respectivamente na UNISINOS, sob supervisão da Prof.ª Dr.ª Rove Chishman; na 6
Universidade Nova de Lisboa (UNL), sob supervisão do Prof. Dr. Giovanni Damele; e na Universidade de 
Amsterdã (Universiteit van Amsterdam, UvA), sob supervisão da Prof.ª Dr.ª Francisca Snoeck Henkemans.
26
dialética; nas Seções 6 e 7, apresentamos nosso quadro metodológico e a aplicação de nossa 
proposta de análise de um texto do gênero acordo multilateral ambiental. Ao início de cada 
seção apresentamos um breve resumo de seu conteúdo especificando o conteúdo das seções 
que deles fazem parte. 
 Através desta pesquisa, pretendemos contribuir para a consolidação da corrente de 
estudos da linguística do texto, do discurso e da enunciação que se ocupa do discurso jurídico, 
contribuindo com ferramentas relevantes para a análise do texto, principalmente no que se 
refere a gêneros discursivos normativos, em geral, e aos gêneros provenientes do direito 
internacional, em particular, ainda inéditos no âmbito dessas investigações. Esperamos, 
sobretudo, que esta pesquisa possa motivar futuras investigações que pretendam explorar as 
relações linguísticas existentes entre argumentação e o estabelecimento dos sentidos do texto. 
27
2 ANÁLISE DO TEXTO 
 Nesta seção, apresentamos o principal fundamento teórico-metodológico da proposta 
de análise desta tese, sob a forma da linguística do texto elaborada por Jean-Michel Adam 
(2011, 2015, 2017, 2018, 2020), a Análise Textual dos Discursos (ATD). A partir dessa teoria, 
concentramo-nos no plano de análise da orientação argumentativa, enfatizando o papel das 
dimensões argumentativas e valores ilocucionários na análise do texto para a proposta de 
análise desenvolvida nesta investigação, posteriormente explorando os gêneros discursivos 
normativos, em geral, e os textos injuntivos, em particular, com foco nos acordos multilaterais 
ambientais. 
 Na Subseção 2.1, exploramos a ATD como ponto de partida para análise do texto, 
identificando as noções centrais mais relevantes para nossa investigação e introduzindo 
quadros e esquemas que consolidam processos e categorias de aplicação metodológica da 
teoria. 
 Na Subseção 2.2, aprofundamos nossa abordagem em torno do Nível 8 da análise 
proposta pela ATD, levantando desdobramentos teóricos pivotais no desenvolvimento de 
nossa abordagem de investigação. 
 Na Subseção 2.3, traçamos algumas proposições a respeito da relação entre atos de 
discurso e orientação argumentativa, com enfoque na discussão da racionalidade dos sujeitos 
da enunciação, da (co)produção estratégica dos sentidos do texto e da indissociabilidade dos 
valores ilocucionários e argumentativos. 
 Na Subseção 2.4, por fim, partimos de reflexões sobre textos injuntivos de Adam 
(2017) e Marquesi (2019) para construir uma percepção dos gêneros discursivos normativos 
da perspectiva da linguística do texto, do discurso e da enunciação. 
28
2 ANÁLISE DO TEXTO 
Estudamos, ao contrário, a argumentação no discurso, de onde ela é 
dimensão constitutiva. Não há discurso sem enunciação […], sem dialogismo 
[…], sem a apresentação de si […]; também não há discurso sem aquilo que 
se pode chamar de ‘argumentatividade’, ou orientação mais ou menos 
marcada do enunciado que convida o outro a compartilhar maneiras de 
pensar, de ver, de sentir. 7
Ruth Amossy 8
2.1 A Análise Textual dos Discursos 
 Entre as teorias ocupadas com a investigação linguística do texto, afiliamo-nos ao 
quadro teórico-metodológico da Análise Textual dos Discursos (ATD) tal como desenvolvido 
por Jean-Michel Adam (2011, 2015, 2017, 2018, 2020) e sucessivamente explorado e 
expandido por diversos trabalhos realizados no Brasil e no exterior e, em particular, no 9
círculo de investigações do grupo Análise Textual dos Discursos da UFRN (ATD/UFRN) . 10
Em termos amplos, a ATD propõe a compreensão do texto com base na produção textual, 
contextual e co-textual do sentido pelo locutor/enunciador e seu interlocutor, seguindo 
ligações de abertura e fechamento em operações de textualização que ocorrem no núcleo de 
qualquer atividade comunicativa verbal (ADAM, 2011, 2015, 2020). 
 Em um primeiro momento, ela considera o texto não como uma entidade linguística 
isolada, mas como estando relacionada tanto ao sujeito que é a fonte ou alvo de sua expressão 
quanto aos elementos existentes em seu entorno, sejam eles históricos, sociais ou culturais, 
bem como textos outros com os quais ele se relaciona ou aos quais faz referência. Em um 
 No original: “Nous étudions au contraire l’argumentation dans le discours, dont elle est une dimension 7
constitutive. Pas de discours sans énonciation […], sans dialogisme[…], sans présentation de soi; pas de 
discours non plus sans ce qu’on pourrait appeler ‘argumentativité’, ou orientation plus ou moins marquée de 
l’énoncé qui invite l’autre à partager des façons de penser, de voir, de sentir.” 
 AMOSSY, 2016, p. 8-9, tradução nossa, grifos da autora.8
 Cf. Adam et al (2010); Passeggi (2010); Rodrigues, Passeggi (2016); Rodrigues, Passeggi e Silva Neto (2014, 9
2016); Rodrigues (2016, 2017). 
 Entre as teses e dissertações mais recentes, por exemplo, é possível destacar as de Estevam (2019); Rocha 10
(2019); Lopes (2019); Moreira Neto (2018); Soares (2017); Oliveira (2016); Santos (2016); Silva (2016); 
Fonseca (2016), Medeiros (2016); Lanzillo (2016); Gomes (2015); Silva (2015); Gomes (2014); e Lourenço 
(2013).
29
segundo momento, isso implica dizer que, na comunicação discursiva, o texto é resultado de 
certos processos de natureza cognitiva que fazem e desfazem componentes de dados 
linguísticos e discursivos para obter (ou, efetivamente, produzir) um sentido almejado. 
 O aparato teórico-metodológico de Adam (2011, 2015, 2017, 2018, 2020) se coloca 
sob a forma de uma abordagem eclética e não-unificada (ADAM, 2015, p. 16), de modo que é 
capaz de se estender e se adaptar vinculando-se a configurações de análise do texto que sejam 
compatíveis com suas bases e premissas fundamentais. A ATD reconhece, sobretudo, a 
abertura da linguística às demais disciplinas que se ocupam do estudo do texto (ADAM, 2015, 
p. 16-17), antecipando nesse diapasão a possibilidade de integração com essas disciplinas no 
que tange ao seu objeto compartilhado de estudo. 
 Essa abordagem integrada do texto proposta pela ATD é ilustrada no Esquema 1 
(Esquema 4 em Adam, 2011, 2015, 2020) . Adam (2011, 2015, 2020) estabelece um quadro 11
geral de categorias de análise do texto, destacando níveis de análise textual em sua intersecção 
com o campo da análise do discurso. O esquema é composto de oito níveis, com os níveis N1 
e N2 abordando o processo entre ação e propósito, interação social e formação sócio-
discursiva, em seguida passando para o N3, que aborda o inter-discurso, a variedade 
linguística, o inter-texto e os sistemas de gênero. 
 Os níveis subsequentes situam possíveis categorias de análise em relação ao texto e à 
análise textual propriamente dita. De N4 a N8, as categorias se organizam dos menores aos 
maiores segmentos textuais, incluindo estruturas a nível de proposições e períodos (textura, 
N4), sequências e planos de texto (estrutura composicional, N5), representação discursiva 
(semântica, N6), enunciação (responsabilidade enunciativa e coesão polifônica, N7), e atos de 
discurso (orientação argumentativa, N8). 
 Para Adam (2020), o processo que permite que o texto seja considerado um objeto de 
estudo distinto no campo da linguística do texto leva à produção de unidades textuais que 
passam por operações de textualização: se, por um lado, elas podem ser decompostas através 
de sua segmentação, onde ocorre uma interrupção da continuidade da cadeia da expressão 
verbal, por outro lado elas podem se conectar por meio de operações de ligação ou 
continuidade, onde a construção de unidades semânticas acontece rumo à continuidade de um 
dado segmento textual (ADAM, 2020, p. 55-56). Em outras palavras, essa proposta de análise 
 Versão adaptada de Adam (2020, p. 53) contemplando onde coube a tradução publicada em Adam (2011, p. 11
61).
30
textual é inerentemente baseada na presunção de que a língua depende dessas operações para 
que as produções de sentido se tornem possíveis. Esse conceito fundamental da ATD é 
ilustrado no Esquema 2 (Esquema 5 em Adam, 2011, 2015, 2020). 12
 De fato, as operações de segmentação e ligação tocam toda a tessitura textual na 
produção dos sentidos, podendo ser esmiuçadas em seu processo de textualização na medida 
de sua operacionalização. Tendo em vista o Esquema 2, visualizamos que as operações 
ocorrem de uma dimensão mais micro, com enfoque, por exemplo, nas palavras-signos, 
 A versão de Adam (2020) seguiu sem alterações em relação à de Adam (2011, p. 64).12
Esquema 1 — Níveis ou planos de análise do discurso e de análise textual
Fonte: Esquema 4 (ADAM, 2020, p. 53). 
31
avançando progressivamente rumo a uma dimensão mais macro, com enfoque, por exemplo, 
no plano de texto. 
 Essas operações, contudo, não ocorrem de maneira aleatória ou desordeira: elas se 
realizam mediante a visada ou objetivo comunicacional que se pretende estabelecer por meio 
do ato comunicacional. E é nesse objetivo que reside o cerne da orientação argumentativa ou 
argumentatividade na estrutura teórico-analítica da ATD, uma vez que está aí a proposta de 
comunicação a ser co-construída pelo locutor/enunciador e seu interlocutor. 
 A ATD, de fato, referenda nossa preocupação com os valores argumentativos 
subjacentes à produção dos sentidos do texto, atrelando um nível ou categoria de análise em 
específico para lidar mais diretamente com o plano acional da análise do discurso, isto é, 
aquele que se estabelece em relação à visada ou objetivo das formações sócio-discursivas em 
interação no nível 8 de análise do texto. Na ATD, o desvelamento dos atos de discurso 
enquanto unidades de comunicação discursiva se organiza lado a lado com a investigação da 
orientação argumentativa do texto, contribuindo para o estabelecimento das marcas 
linguístico-textuais do objetivo comunicacional e podendo articular-se também, de acordo 
com o enfoque da análise, a outros níveis do Esquema 1 (Esquema 4 de Adam, 2011, 2015, 
2020), como estruturas composicionais e representações discursivas. 
 Essa percepção se torna mais evidente quando observamos o modo como Adam (2011, 
2015, 2020) coloca a proposição-enunciado como micro-unidade enunciativa e textual. Toda 
Fonte: Esquema 5 (ADAM, 2011, p. 64). 
Esquema 2 — Operações de segmentação e ligação
32
proposição-enunciado possui três dimensões que se entrelaçam e se complementam, de modo 
que nenhum enunciado existe isoladamente no discurso e necessariamente se atrela a uma 
orientação argumentativa exercida pelos sujeitos da enunciação. Adam (2020) afirma: 
“Essa condição de ligação é, em grande parte, determinada pelo que 
chamaremos orientação argumentativa (ORarg) do enunciado. As três 
dimensões complementares de toda proposição-enunciada são: uma dimensão 
enunciativa [B] que se encarrega da representação construída verbalmente de 
um conteúdo referencial [A] para o qual concede uma certa potencialidade 
argumentativa [ORarg], conferindo uma força ou valor ilocucionário [F] 
mais ou menos identificável.” (ADAM, 2020, p. 102, contemplando a 13
tradução em ADAM, 2011, p. 109, grifos do autor) 
 
 Essa construção da proposição-enunciado pode ser melhor visualizada no Esquema 10 
de Adam (2011, 2015, 2020), apresentado a seguir como Esquema 3. Nesse esquema, as 14
três dimensões complementares da proposição-enunciado são dispostas em configurações 
equidistantes, com a orientação argumentativa assumindo um de seus vértices de organização 
enunciativa. A partir dessa perspectiva, podemos auferir que o texto se orienta 
argumentativamente em virtude de um processo de proposição de componentes enunciativos, 
como valores ilocucionários (N8), pontos de vista (N7) e representações discursivas 
construídas pelo conteúdo proposicional (N6), componentes esses que efetivamente 
contribuem para a constituição de evidências textual-discursivas para a compreensão dos 
sentidos do texto. 
 Essas evidências, tecidas no ato da enunciação, criam um caminho de produção de 
sentidos que é primeiramente proposto pelo locutor/enunciador em função de seu objetivo 
comunicacional, e segundamente reconstruído pelo interlocutor, para que possa compreender 
esse objetivo como orientado pelo locutor/enunciador. Elas demarcam, delimitam e delineiam 
os limites das marcas linguísticas que atuam como vestígios da recuperação da proposta 
comunicacional, estabelecendoassim um mapa para a (co)produção dos sentidos a ser 
trilhado. 
 No original: “Cette condition de liage est en grande partie déterminée par ce que nous appellerons l’orientation 13
argumentativa (ORarg) de l’énoncé. Les trois dimensions complémentaires de toute proposition énoncée sont: 
une dimension énonciative [B] qui prend en charge la représentation construite verbalement d’un contenu 
référentiel [A] et lui donne une certaine potentialité argumentative [ORArg] qui lui confère une force ou 
valeur illocutoire [F] plus ou moins identifiable.”
 Versão adaptada de Adam (2020, p. 103) contemplando a tradução publicada em Adam (2011, p. 111).14
33
 Desse modo, é possível vislumbrar um tipo de topografia textual, com a totalidade do 
texto limitada a fronteiras distintas, e ainda assim com diversos pontos de acesso que o 
conectam a uma multitude de dados extra-textuais: os elementos pertinentes ao entorno do 
texto (como o peri-texto), o tempo e o espaço de sua produção, a atividade comunicativa 
específica, tipos textuais e gêneros discursivos sob os quais se manifesta, e tudo o mais que 
assim se constituir como elementos relevantes para os sujeitos da enunciação. O mesmo é 
válido para o analista do texto quando trilha seu percurso em meio aos dados textuais que 
podem ser interpretados de modo a se organizarem de maneira plausível na produção dos 
sentidos e que proporcionem uma compreensão razoável do texto, ou melhor: de modo que 
proporcionem marcas ou evidências que fundamentem uma dada compreensão em detrimento 
de quaisquer outras. 
 É nessa abordagem que elementos-chave podem ser considerados pelo quadro 
analítico da ATD, o que se reflete sob a forma da formulação de questões críticas para a 
compreensão do texto de maneira geral: em que contexto ele se situa? Qual seu objetivo ou 
propósito comunicacional? Que valores argumentativos e ilocucionários informam suas 
Esquema 3 — A proposição-enunciado
Fonte: Esquema 10 (ADAM, 2020, p. 103). 
34
estruturas enunciativas? Que inferências resultam de sua produção? Questões como essas 
fornecem meios para que o analista do texto navegue nos movimentos da compreensão textual 
e da produção de seus sentidos. 
 Uma grande vantagem da ATD em termos de análise é a possibilidade de aplicação de 
ferramentas analíticas textual-discursivas para investigação de como a argumentatividade 15
atua como um fator preponderante na (co)produção dos sentidos do texto em sincronia com as 
operações de textualização. Esse quadro permite que desvendemos dinâmicas textuais mais 
precisamente associadas à manifestação linguística desses movimentos sob a forma de 
padrões, estruturas e práticas discursivas específicas, trazendo à tona uma configuração 
essencialmente argumentativa de percepção da tessitura da língua na enunciação. 
2.2 As dimensões argumentativas do discurso 
 A língua é uma ferramenta de coesão social. Ela surge da necessidade vital de 
interagirmos com o outro e de fazê-lo compreender nossos objetivos e razões. Através da 
língua, podemos estabelecer elos com os demais membros da comunidade e ampliar nossas 
chances de conseguir aquilo que desejamos. 
 Entretanto, a língua não é apenas a simples transferência de informações a respeito das 
coisas do mundo. Ela permite que projetemos nossas intencionalidades no outro a fim de que 
este compartilhe de nossa visão de mundo, de modo que criamos um espaço compartilhado e 
nele edificamos o mundo discursivo: nesse mundo, nossa vivência com o outro se refina e se 
articula, entremeando de padrões de sentidos nossa relação com o real e com o social. 
 A língua é nossa principal mediadora na convivência em sociedade, sem a qual nossa 
capacidade comunicacional ficaria irremediavelmente reduzida. Ela nos dota de poder sobre o 
outro e sobre a ponte que por meio dela se estabelece entre nós, de modo que assim utilizamos 
a comunicação linguística para influenciar seus estados mentais/intencionais (TOMASELLO, 
2008, p. 113). As interações sociais passam, então, a ser intermediadas pela persuasão e pelo 
 Usamos aqui argumentatividade como designação mais abrangente para incluir termos como valores, forças, 15
potencialidades ou orientações argumentativas.
35
argumento (PINKER, 1994, p. 368-369) , de maneira que o enquadramento de nossas 16
escolhas linguísticas sirvam às funções comunicativas que melhor atendam às nossas 
necessidades em face de outrem. 
 Essa influência, contudo, não é errática ou aleatória. Ela condiz com nossos objetivos 
comunicacionais, sendo exercida a partir de práticas e construções que orquestramos 
consciente ou intuitivamente para que a conduta ou percepção do outro seja afetada. Essas 
práticas, evidentemente discursivas, são sobretudo e predominantemente colaborativas, visto 
que todo discurso é cooperativo (KERBRAT-ORECCHIONI, 2016, p. 6-7). Kerbrat-
Orecchioni (2016) explica que cada sujeito desse processo possui agência sobre a mediação 
linguística dos objetivos comunicacionais, posto que a própria língua é tanto uma forma de 
ação quanto um meio pelo qual se pode agir sobre o conteúdo proposicional. É justamente a 
ação, sob a forma do agenciamento linguístico entre os sujeitos da enunciação, que ocasiona a 
interação na comunicação (KERBRAT-ORECCHIONI, 2016, p. 1-2, 5-6). 
 Mas essa relação de inter-subjetividade só é possível, de acordo com Bermejo-Luque 
(2011), em razão da racionalidade que atribuímos uns aos outros. Ela afirma que “nossa 
reatividade às razões é o que permite que os outros sujeitos nos interpretem como agentes de 
fato, atribuindo-nos crenças, desejos e outros tipos de estados ou comportamentos 
intencionais” (BERMEJO-LUQUE, 2011, p. 3, tradução nossa). A presunção de 17
racionalidade se torna um fator preponderante no estabelecimento da interação verbal dos 
sujeitos do ato comunicacional, inclusive tendo forte amparo em Mercier e Sperber (2017) 
quando afirmam que a razão em si tem duas funções principais: a de produzir razões para 18
nos justificar e a de produzir argumentos para convencer os outros (MERCIER; SPERBER, 
2017, p. 8). Filiados a uma compreensão predominantemente social da razão humana, os 
autores exploram esse aspecto da seguinte forma: 
 “Em todas as culturas, as interações sociais são mediadas pela persuasão e argumento. A maneira como uma 16
escolha é enquadrada desempenha um papel importante na determinação de qual alternativa será escolhida pelas 
pessoas. Poderia assim ter havido seleção em torno de quaisquer vantagens voltadas para a habilidade de 
enquadrar uma proposta de maneira que parecesse se apresentar sob a forma de um bom benefício a um baixo 
custo ao parceiro com quem se negocia, além da habilidade de se perceber essas tentativas e de formular contra-
propostas” (PINKER, 1994, p. 368-369, tradução nossa). No original: “In all cultures, social interactions are 
mediated by persuasion and argument. How a choice is framed plays a large role in determining which 
alternative people choose. Thus there could easily have been selection for any edge in the ability to frame an 
offer so that it appears to present maximal benefit and minimal cost to the negotiating partner, and in the ability 
to see through such attempts and to formulate attractive counterproposals.”
 No original: "our responsiveness to reasons is what enables other subjects to interpret us as proper agents and 17
to attribute to us beliefs, desires and other types of intentional states and behaviors.”
 De reason, referindo-se à nossa faculdade mental.18
36
“Defendemos que as razões são para consumo social. As pessoas pensam em 
razões para se explicar e se justificar. Ao fazer isso, elas aceitam a 
responsabilidades pela suas opiniões e ações na medida em que as justificam; 
comprometem-se implicitamente com normas que determinam o que é 
razoável e esperam que estas sejam obedecidas pelos outros. Ao dar razões, as 
pessoas correm o risco de verem-nas confrontadas. Elastambém reivindicam 
o direito de confrontar as razões dos outros. Nossa reputação é, em grande 
medida, o efeito contínuo de uma conversação que se expande no espaço e 
tempo social a respeito das razões de uma dada pessoa. Ao mostrar nossas 
razões, tentamos participar dessa conversação e defender nossa reputação. 
Influenciamos a reputação dos outros na forma com que avaliamos e 
discutimos suas razões.” (MERCIER; SPERBER, 2017, p. 142-143, 19
tradução nossa) 
 Nessa perspectiva, Mercier e Sperber propõem sobretudo que é na comunicação verbal 
que a razão se realiza (MERCIER; SPERBER, 2017, p. 154). No conjunto dos estudos 
linguísticos do discurso e da enunciação, essa visão pode ser mais fortemente associada às 
investigações de Oswald Ducrot e Jean-Claude Anscombre apresentadas predominantemente 
na obra “L’argumentation dans la langue” (1997). Em sua proposição fundamental, os 20
autores afirmam: 
“Através de elaborações cada vez mais detalhadas, nossa resposta reside em 
uma ideia central que desejamos apenas tornar cada vez mais explícita: o 
sentido de um enunciado comporta, como parte integrante, constitutiva, essa 
forma de influência que chamamos de força argumentativa. Significar, para 
um enunciado, é orientar. Dessa forma, a língua, ao passo em que contribui 
primeiramente para determinar o sentido do enunciado, é também um dos 
privilegiados lugares de onde se elabora a argumentação.” (DUCROT; 21
ANSCOMBRE, 1997, p. 5, tradução nossa) 
 A partir dessa observação, Ducrot e Anscombre (1997) atribuem uma forma de 
influência ao sentido de um enunciado que denominam de força argumentativa, atrelando, 
 No original: “Reasons, we have argued, are for social consumption. People think of reasons to explain and 19
justify themselves. In so doing, they accept responsibility for their opinions and actions as justified by them; they 
implicitly commit themselves to norms that determine what is reasonable and that they expect others to observe. 
In giving reasons, people take the risk of seeing their reasons challenged. They also claim the right to challenge 
the reasons of others. Someone’s reputation is, to a large extent, the ongoing effect of a conversation spread out 
in time and social space about that person’s reasons. In giving our reasons, we try to take part in the conversation 
about us and to defend our reputation. We influence the reputation of others by the way we evaluate and discuss 
their reasons.”
 Essa vertente da semântica argumentativa foi estabelecida também em Ducrot (1972, 1980, 1987), podendo 20
ser conferida em aplicações na linguística do texto, discurso e enunciação em Cabral (2011).
 No original: “A travers des élaborations de plus en plus détaillés, notre réponse repose sur une idée centrale, 21
que nous voudrions simplement rendre de plus en plus explicite: le sens d’un énoncé comporte, comme partie 
intégrante, constitutive, cette forme d’influence que l’on appelle la force argumentative. Signifier, pour un 
énoncé, c’est orienter. De sorte que la langue, dans la mesure où elle contribue en première place à determiner le 
sens des énoncés, est un des lieux privilégiés où s’élabore l’argumentation.”
37
ainda, a noção de significado do enunciado à sua propriedade de orientação do outro. Mais 
especificamente, essa orientação de fato se refere à orientação do comportamento do outro, à 
sua maneira de pensar e agir, ou mesmo à representação do mundo que leva consigo. 
Podemos dizer, portanto, que esse atributo intrínseco da enunciação é um dos meios pelos 
quais a linguagem assume sua dimensão argumentativa. 
 Mais à frente, os autores afirmam que “os encadeamentos argumentativos possíveis no 
discurso são ligados à estrutura linguística dos enunciados, e não somente às informações que 
elas veiculam” (DUCROT; ANSCOMBRE, 1997, p. 9, tradução nossa), indicando que essa 22
ligação proposta entre linguagem e argumentação é representada por meio da forma com que 
os enunciados se apresentam. A despeito da informação contida em seu conteúdo 
proposicional, os enunciados que expressamos são construídos atendendo a certos objetivos 
comunicacionais que regem e orientam cada escolha linguística feita na construção da 
estrutura enunciativa. Dizer, nessa perspectiva, seria intrinsecamente argumentar, de modo a 
propor, explícita ou implicitamente, uma expressão sobre um dado estado de coisas com base 
em certas inferências a fim de exercer uma determinada influência sobre um interlocutor. 
 Ainda que os autores tenham desenvolvido outros desdobramentos a respeito da teoria 
da argumentação na língua desde então (sobretudo Ducrot ), suas reflexões iniciais a respeito 23
da intersecção entre argumentação e linguagem permanecem relevantes na área dos estudos 
do discurso. Para Bermejo-Luque, o posicionamento de Ducrot e Anscombre (1997) reflete a 
ideia de que, quanto mais pensamos na língua humana, mais devemos nos concentrar na 
argumentação como sendo seu principal paradigma (BERMEJO-LUQUE, 2011, p. 2). Koch 
(2018a), por exemplo, dialoga e contribui com essa ideia: 
“Quando interagimos através da linguagem (quando nos propomos a jogar “o 
jogo”), temos sempre objetivos, fins a serem atingidos; há relações que 
desejamos estabelecer, efeitos que pretendemos causar, comportamentos que 
queremos ver desencadeados, isto é, pretendemos atuar sobre o(s) outro(s) de 
determinada maneira, obter dele(s) determinadas reações (verbais ou não 
verbais). É por isso que se pode afirmar que o uso da linguagem é 
essencialmente argumentativo: pretendemos orientar os enunciados que 
produzimos no sentido de determinadas conclusões (com exclusão de outras). 
 No original: “les enchaînements argumentatifs possibles dans un discours sont liés à la structure linguistique 22
des énoncés et non aux seules informations qu’ils véhiculent”.
 Ducrot consolidou sua teoria no campo da semântica argumentativa, associando-se posteriormente a Marion 23
Carel no desenvolvimento de sua iteração mais contemporânea, a teoria dos blocos semânticos (DUCROT, 
2009).
38
Em outras palavras, procuramos dotar nossos enunciados de determinada 
força argumentativa.” (KOCH, 2018a, p. 29) 
 Nesse excerto, vemos a influência de Ducrot e Anscombre (1997) sobre a perspectiva 
de Koch (2018a), ao passo que a dimensão argumentativa da linguagem se reafirma enquanto 
propriedade essencial da enunciação. Koch (2018a) também evoca a manifestação da ação 
sobre o outro como foco da força argumentativa, de maneira que podemos visualizar 
intenções e objetivos comunicacionais em jogo mediadas pela interação entre o locutor/
enunciador e o interlocutor. Nesse sentido, Bally (1951) se posiciona de maneira similar: 24
“[…] A linguagem reflete ainda, desnecessário dizê-lo, a face positiva da vida, 
essa aspiração, essa tensão, essa necessidade perpétua de realizar um objetivo. 
É a razão de ser de outro traço de linguagem espontânea, seu caráter ativo, 
quer dizer, essa tendência que leva a fala a servir à ação. A linguagem torna-
se, então, uma arma de combate: trata-se de impor seu pensamento aos 
outros.” (BALLY, apud ADAM, 2020, p. 53, contemplando a tradução em 25
ADAM, 2011, p. 60) 
 Como desdobramento dessa abordagem epistemológica da língua, e se fundamentando 
igualmente em propostas interacionistas, Amossy (2016) delineia um domínio dentro das 
ciências da linguagem voltado precisamente para a dimensão que chama de persuasiva na 
análise do discurso. A análise argumentativa do discurso, assim chamada por Amossy, vale-se 
de enquadramentos retóricos, pragmáticos e lógicos para sustentar uma perspectiva sobretudo 
linguística, comunicacional, dialógica, genericista, figuracionista e textual da análise do 
discurso (AMOSSY, 2016, p. 40-41). Observamos em Amossy (2016) a consolidação de 26
uma abordagem que evidencia a integração de uma epistemologia verdadeiramente 
argumentativa no cerne dos estudos linguísticos não apenas do discurso, mas também do 
texto.

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