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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CURSO DE DOUTORADO EM ENFERMAGEM ILDONE FORTE DE MORAIS PET-SAÚDE INTERPROFISSIONALIDADE: intencionalidade e contribuições dos projetos para a indução de mudanças na formação em saúde NATAL - RN 2022 1 ILDONE FORTE DE MORAIS PET-SAÚDE INTERPROFISSIONALIDADE: intencionalidade e contribuições dos projetos para a indução de mudanças na formação em saúde Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Orientadora: Profª Drª Soraya Maria de Medeiros. Área de concetração: Enfermagem na atenção à saúde. Linha de pesquisa: Enfermagem na vigilância à saúde. Grupo de pesquisa: Caleidoscópio: laboratório de pesquisa sobre educação, trabalho, saúde e enfermagem. NATAL - RN 2022 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Bertha Cruz Enders - Escola de Saúde da UFRN - ESUFRN Morais, Ildone Forte de. PET-Saúde Interprofissionalidade: intencionalidade e contribuições dos projetos para a indução de mudanças na formação em saúde / Ildone Forte de Morais. - 2022. 156f.: il. Tese (Doutorado em Enfermagem)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós- graduação em Enfermagem. Natal, RN, 2022. Orientadora: Soraya Maria de Medeiros. 1. Educação Interprofissional - Tese. 2. Comportamento cooperativo - Tese. 3. Desenvolvimento de equipe - Tese. 4. Pessoal de saúde - Tese. 5. Educação Superior - Tese. I. Medeiros, Soraya Maria de. II. Título. RN/UF/BS - Escola de Saúde CDU 61:378 Elaborado por MAGALI ARAUJO DAMASCENO DE OLIVEIRA - CRB-15/519 3 ILDONE FORTE DE MORAIS PET-SAÚDE INTERPROFISSIONALIDADE: intencionalidade e contribuições dos projetos para a indução de mudanças na formação em saúde Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem, do Centro de Ciências da Saúde (CCS), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), para a obtenção do título de Doutor em Enfermagem. Resultado: APROVADO. Data: 21 de fevereiro de 2022 BANCA EXAMINADORA Professora Drª Soraya Maria de Medeiros (UFRN) Professor Dr. Marcelo Viana da Costa (UFRN) Professora Drª Cecília Nogueira Valença (UFRN) Professor Dr. Rodrigo Assis Neves Dantas (UFRN) Professora Dr Jennifer do Vale e Silva (UFERSA) Professor Dr Franklin Delano Soraes Forte (UFPB) 4 A minha família, esposa Linda Katia e filhas Ana Gabriela e Ana Letícia. O amor de vocês foi o afeto necessário para essa conquista! 5 AGRADECIMENTOS A beleza de ter vivido essa experiência acadêmica só foi possível porque tive a colaboração e amizade de muitas pessoas. Seres humanos iluminados que irradiam luz em minha vida, principalmente, nos momentos de escuridão existencial. Como diz Rubem Alves no livro Ostra feliz não faz pérola: “a beleza não elimina a tragédia, mas a torna suportável”. Meu reconhecimento e gratidão à professora Drª Soraya Maria de Medeiros. Nossos primeiros encontros ocorreram durante o Mestrado em Enfermagem na UFRN. Ali nasceu nossa afinidade intelectual e os laços de amizade. No momento de definir meu retorno ao PGENF, Curso de Doutorado em Enfermagem, não pensei em outra pessoa para ser minha orientadora. Foram quatro anos intensos em que compartilhamos sonhos, desafios e alegrias. Seu apoio foi decisivo para impulsionar minhas decisões e as mudanças necessárias no percurso da tese. Nas minhas escolhas prevaleceu seu desejo de sucesso em tudo que foi realizado. Por isso, nossa memória ficará marcada pelos momentos de sorrisos e afetos compartilhados, mesmo diante das exigências do mundo acadêmico. Obrigado! Agradeço à professora Drª Raimunda Medeiros Germano, que foi minha orientadora no Mestrado em Enfermagem na UFRN (2007-2008). Após a conclusão deste curso, precisamente em 2011, nos encontramos no I Simpósio Norte- Riograndense de Bioética. Neste evento foram entrelaçados os primeiros fios para cursar o doutorado. Fui agraciado pela arte do encontro com sua presença em minha vida, que fez florescer em nossa relação as virtudes do bem-viver: empatia, bondade, altruísmo, fraternidade e humildade. À professora Drª Karla Patrícia Cardoso Amorim, que tive a oportunidade de conhecê-la pessoalmente por intermédio da Professora Raimunda Germano. Sua paixão e dedicação com a Bioética impulsionaram meus estudos e aulas no Curso de Graduação em Enfermagem na UERN em Caicó-RN. Ao professor Doutor Kenio Costa de Lima, do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da UFRN, que em 2015 apresentou as possibilidades do meu ingresso no Doutorado. Compartilhamos leituras e reflexões sobre a terminalidade da vida: Mortais (Atul Gawande); Homo deletabilis (Maria Cristina Franco Ferraz); Ruminações (Maria Cristina Franco Ferraz); Criaturas de um dia (Irvin Yalom) e Quando Nietzsche 6 chorou (Irvin Yalom). Obrigado por tudo que vivemos, sonhamos e aprendemos juntos! Ao professor Dennys Leite Maia, Pedagogo no Instituto Metrópole Digital da UFRN em Natal-RN, com quem tive o privilégio de estudar as Tecnologias Educacionais Digitais (TED). Alegria em pessoa que faz o ambiente acadêmico ser “leve”, “saudável” e “colaborativo”. Paixão em comum: Fortaleza Esporte Clube! Meu reconhecimento à professora Alzirene Nunes de Carvalho, que foi presidenta do COREn-RN. Seu compromisso com a classe trabalhadora da enfermagem deve ser enaltecido e reconhecido pelas pessoas que lutam e sonham com a prática social da enfermagem. Obrigado pela amizade, parceria e ideais compartilhados no enfrentamento das injustiças sociais. Minha gratidão à amiga e professora do Curso de Graduação em Biologia na UERN em Mossoró-RN, Ismênia Gurgel. Nossa amizade tem sido construída com generosidade, compartilhando sentimentos e ações pela educação transformadora e pelo respeito aos estudantes, que são protagonistas no processo ensino/aprendizagem. Agradeço aos professores (as) da banca de qualificação: Cecília Nogueira (FACISA-UFRN), Marina Peduzzi (USP), Jonas Sâmi (PGENF-UFRN) e Marcelo Viana (EMCM-UFRN). As críticas, reflexões e ponderações de vocês aperfeiçoaram o projeto de tese. Além disso, suas contribuições possibilitaram um outro olhar para as lacunas no campo investigativo da interprofissionalidade e para os aspectos necessários à educação interprofissional em saúde. Carinhosamente lembro e agradeço o incentivo de meus pais: Francisco Leite Forte e Raimunda Alice de Morais Forte (in memoriam). Tudo começou em Severiano Melo-RN. Sítio Condado. Ele na roça. Andava léguas a pé para chegar no cercado do plantio de feijão de corda. Produzia e vendia. Seriedade constante. Ela em casa. O cuidado com os filhos. A cozinha sempre farta. E a vontade imensa de sempre ajudar o próximo. Viemos para Mossoró-RN. A famosa “bodega de seu Chiquinho”. Rua Vicente Fernandes, número 85, bairro Aeroporto. Tempo de alegrias interrompido em 2001 com a tragédia de um acidente automobilístico. Dores. Medos. Angústias. Depressão. Mortes. Depois de muito tempo aprendi que mesmo diante das adversidades sempre deverei ser grato a Deus pelos pais que tive. Gratidão! Tenho três irmãos: Ubaldo Morais Forte, Forte Neto e Carlos Antônio. Cada um deles, com suas singularidades contribuíramnessa caminhada através de 7 demonstrações de fé, respeito, solidariedade, entusiasmo com minhas escolhas e, principalmente, por meio de nossa convivência fraterna. Amo vocês! Agradeço à tia Ilma e minhas primas de Severiano Melo-RN, Teresa, Glória e Jória. Em 2005, logo após a conclusão da graduação, fui trabalhar na Estratégia Saúde da Família desta cidade. Tia Ilma fez de sua casa a minha residência fora de Mossoró-RN. Reconhecimento, sempre! Sou grato também à tia Raimunda Forte e à minha prima Maria Forte. Elas também foram essenciais nos meus primeiros passos profissionais em Severiano Melo-RN. A conquista do doutorado tem uma raiz que jamais poderia ser esquecida: Família é tudo e muito mais! Ao amigo e professor Jennifer do Vale e Silva. Generosidade é sua essência. Meu amigo, muito obrigado pelas contribuições nesta conquista. Sua sala de professor na UFERSA foi minha segunda casa para estudos e escrita da tese em Mossoró-RN. Suas reflexões equilibradas foram inspirações para elevar a qualidade desta tese. Ao amigo e professor de Sociologia e Antropologia Jânio Aires. Parcela significativa de minha vida pessoal e acadêmica foi compartilhada com ele. Vivemos juntos muitas conquistas. Ele sabe como ninguém distribuir alegrias. Pessoa que me faz sorrir, mesmo diante das tristezas que a vida impõe. Sabe aquele sujeito que alegra qualquer ambiente? É você mesmo, meu amigo: “Solte o leão”! À minha amiga Rosângela Diniz Cavalcante, professora na UERN em Caicó- RN. Você faz lembrar a “Reconstrução do homem em Clarice Lispector” (Ailton Siqueira): “No romance a maçã no escuro, Martim foge das palavras já ditas, pois estas podem amordaçar sua boca, calar seu ser e punir seu corpo”. A superação de momentos traumáticos é possível quando se tem amizades autênticas. Obrigado pelos incentivos e colaborações no percurso do doutorado. Carpe Diem! À Sônia Azevedo, que trabalha e convive com minha família. Sua dedicação com as tarefas domésticas é acompanhada de respeito, profissionalismo e amor à todos nós. Obrigado! Ao amigo Deda e sua família: Maria Gurgel, Felipe e Isabela. Minha “parentada” em Caicó-RN desde 2011. Deve existir uma raiz genética-cultural-oestana-ancestral que que entrelaça nossas vidas no Seridó, pois é habitual na nossa convivência o compartilhamento de alegrias, dúvidas, tristezas e desafios coletivos. Lembro com saudade os amigos (as) e familiares falecidos, que estiveram comigo na caminhada existencial: tio Hermes, tia Rosa, Ana Angélica (prima), tia 8 Rosalita, professora Mariana Neuman Vidal da Costa e a ex-aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da UERN em Caicó-RN, Patrícia da Silva Moura (14-10- 2020). Mais recentemente recordo com tristeza as vítimas da COVID-19: Gorete Monteiro de Severiano Melo-RN (28-04-2020); tio Geraldo (17-07-2020); Professor Olismar Lima (11-04-2021) e Katiano Félix (24-04-2021), que são “inumeráveis” nas palavras, poesia e canção de Chico César e Bráulio Bessa. Agradeço aos interlocutores do estudo: preceptores, tutores e estudantes que atuaram no PET-Saúde Interprofissionalidade nas cidades de Natal-RN, Santa Cruz- RN e Caicó-RN. Como afirma Luciana Borges, “numa pesquisa qualitativa o conhecimento é produzido entre o sujeito e o objeto de conhecimento e há um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e o subjetivo dos indivíduos. O material de campo NÃO é coletado e SIM produzido na relação com o pesquisador”. Gratidão pela gentileza de vocês demonstrada na pesquisa! Este agradecimento é extensivo aos docentes, técnicos administrativos e estudantes do Curso de Graduação em Enfermagem da UERN em Caicó-RN. Foram quatro anos de dedicação no Doutorado em Enfermagem. Nessa jornada, o compromisso do colegiado do curso com minha qualificação foi uma clara demonstração que ninguém consegue nada sozinho. Agradeço aos coordenadores, docentes e discentes do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da UFRN, pelas contribuições no doutorado, bem como à turma 2018 que compartilhou comigo os desafios desta caminhada repleta de incertezas. Minha gratidão aos membros do Grupo de pesquisa Caleidoscópio (UFRN): Laboratório de pesquisa sobre educação, trabalho, saúde e enfermagem, especialmente às doutorandas Marília Souto e Clarissa Bandeira. Também agradeço as contribuições do Grupo de pesquisa em filosofia, educação, saúde e pensamento complexo (GESCOM) da UERN, Campus Caicó-RN: professora Maura Vanessa, professor Pablo Castro, professora Shirlene Mafra, professor Benjamim Julião, professora Ana Lúcia e a professora Raquel Mirtes. Agradeço o incentivo e apoio de vocês. Não há como esquecer e deixar de agradecer os amigos: Wendell, que reside em Natal-RN há mais de vinte anos e, apesar da distância, cultiva apreço por nossa amizade. Ricardo e Henrique, que colaboraram com as transcrições das entrevistas e demonstraram compromisso com essa pesquisa. Luiz Fernando Lunardello, que foi meu professor de inglês em Caicó-RN e ensinou com maestria a língua estadunidense 9 e Suetônio Teixeira, sempre prestativo na resolução de minhas demandas pessoais e profissionais no percurso do doutorado. Obrigado, Senhor: Deus da vida. Deus da minha vida. Houve momentos de escuridão nessa caminhada. Sua misericórdia foi minha força para não desistir. Uma música para recordar: Vinde Espírito Santo (Eliana Ribeiro). Um livro para ler sempre: Buscai as coisas do alto (Padre Léo – Editora Canção Nova). 10 MORAIS, I.F. PET-SAÚDE INTERPROFISSIONALIDADE: intencionalidade e contribuições dos projetos para a indução de mudanças na formação em saúde. Natal, 2022. 156f. Tese (Doutorado em Enfermagem na Atenção à Saúde) - Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2022. RESUMO Introdução: o debate sobre a reorientação da formação em saúde se faz cada vez mais necessário em função da transição epidemiológica e demográfica, além das complexas necessidades de saúde. Ademais, ainda é hegemônico o modelo de ensino uniprofissional pautado em silos e no tribalismo das profissões. Diante disso, a Educação Interprofissional em saúde constitui uma abordagem que visa fortalecer a colaboração e o trabalho em equipe na atenção à saúde do usuário, família e comunidade. Para isso, o PET-Saúde Interprofissionalidade tem sido uma estratégia na promoção de mudanças no ensino das profissões de saúde no Brasil. Contudo, a presença de distintas profissões num mesmo espaço, não configura a interprofissionalidade. Objetivo: analisar a intencionalidade e as contribuições dos projetos PET-Saúde Interprofissionalidade para a indução de mudanças na formação em saúde. Método: pesquisa qualitativa com abordagem compreensiva. Três unidades acadêmicas de uma universidade pública do estado do Rio Grande do Norte configuraram o cenário investigativo. Em decorrência das restrições de contato presencial impostas pela pandemia da COVID-19, a produção de dados ocorreu na modalidade remota por meio da plataforma Google Meet, em salas virtuais restritas a realização de entrevistas individuais online com tutores, preceptores e estudantes do PET-Saúde Interprofissionalidade. Essa técnica foi complementada pela realização de uma sessão online de grupo focal com os preceptores. A amostra não probabilística foi constituída por 22 sujeitos com vivências e experiências no programa. O material produzido foi submetido a análise de conteúdo em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. A primeira permitiu uma visão panorâmica do material empírico e a sistematização de uma pré-classificação dos elementos em dois eixos temáticos. Nas etapas seguintes, os agrupamentos de segmentos textuais foram consolidados e seus núcleos de sentido foram identificados, possibilitando a organizaçãodas categorias temáticas analisadas à luz do referencial teórico, conceitual e metodológico da educação interprofissional e da prática colaborativa. A investigação foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob o número 4.630.008. Resultados: as percepções sobre a intencionalidade do PET-Saúde Interprofissionalidade abrangem aspectos como ambiente de conhecimento compartilhado; aprofundamento teórico, distanciamento em relação a educação tradicional uniprofissional e a ideia de algo similar ao conceito de Educação Interprofissional. Estes elementos expressam que as experiências de aprendizagem compartilhada são relevantes, mas não representam a essência de uma intervenção pautada na Educação Interprofissional, que é fomentar o desenvolvimento de competências colaborativas. Essa iniciativa proporcionou contribuições associadas a revisão dos Projetos Pedagógicos de Cursos; pautou a discussão da Educação Interprofissional nos Núcleos Docentes Estruturantes de alguns cursos de graduação; estimulou a implantação de disciplinas com caráter interprofissional; fortaleceu a integração ensino-serviço e contribuiu com a implantação de Comissão Permanente em Educação Interprofissional. Apesar dessas características positivas, o programa enfrentou obstáculos vindos da hegemonia da formação uniprofissional; das cobranças por produtividade da gestão 11 dos serviços de saúde; rotatividade de integrantes; dificuldades para conciliar horários e, principalmente, do impacto da pandemia da COVID-19 no redesenho das propostas planejadas e das intervenções implementadas. Os projetos executados revelaram a demanda de ações estruturantes e longitudinais, as quais exigem políticas de educação na saúde que viabilizem a sustentabilidade da Educação Interprofissional. Considerações finais: o desenvolvimento de competências colaborativas deve ser claramente compreendido e salvaguardado como intencionalidade da Educação Interprofissional nas iniciativas com essa perspectiva. Isso demanda estratégias e políticas sustentáveis nos níveis macro, meso e micro, que considerem a interprofissionalidade como abordagem permanente na reorientação da formação e qualificação da força de trabalho em saúde para o efetivo trabalho em equipe. Descritores: Educação Interprofissional. Comportamento Cooperativo. Desenvolvimento de equipe. Pessoal de saúde. Educação Superior. 12 MORAIS, I.F. PET-SAÚDE INTERPROFISSIONALIDADE: intentionality and contributions of projects to promote changes in health education. Natal, 2022. 156f. Tese (Doutorado em Enfermagem na Atenção à Saúde) - Departamento de Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2022. ABSTRACT Introduction: the debate on the reorientation of health education is increasingly necessary due to the epidemiological and demographic transition, in addition to complex health needs. Furthermore, the uniprofessional teaching model based on silos and the tribalism of professions is still hegemonic. Therefore, Interprofessional Health Education is an approach that aims to strengthen collaboration and teamwork in the health care of users, families, and community. For this, the PET-Saúde Interprofessionalidade has been a strategy to promote changes in the teaching of health professions in Brazil. However, the presence of different professions sharing the same space does not configure interprofessionality. Objective: analyzing the intentionality and contributions of the PET-Saúde Interprofessionalidade projects to promote changes in health education. Method: this is qualitative research with a comprehensive approach. Three academic units of a public university in the state of Rio Grande do Norte configured the investigative scenario. As a result of the restrictions on in-person contact imposed by the COVID-19 pandemic, data production took place remotely through the Google Meet platform, in virtual rooms restricted to individual online interviews with tutors, preceptors, and students of the PET-Saúde Interprofissionalidade. This technique was complemented by conducting an online focus group session with the preceptors. The non-probabilistic sample consisted of 22 subjects with experiences in the program. The material produced was submitted to content analysis in three stages: pre-analysis, exploration of the material, and treatment of the results. The first allowed a panoramic view of the empirical material and the systematization of a pre-classification of the elements in two thematic axes. In the following steps, the groupings of textual segments were consolidated, and their nuclei of meaning were identified, enabling the organization of thematic categories analyzed in the light of the theoretical, conceptual, and methodological framework of interprofessional education and collaborative practice. The investigation was approved by the Ethics Committee in Research with Human Beings from the Federal University of Rio Grande do Norte, under number 4,630,008. Results: perceptions about the intentionality of the PET-Saúde Interprofessionalidade encompass aspects such as an environment of shared knowledge; theoretical deepening, distancing from traditional uniprofessional education, and the idea of something similar to the concept of Interprofessional Education. These elements express that shared learning experiences are relevant but do not represent the essence of an intervention based on Interprofessional Education, which is to foster the development of collaborative skills. This initiative provided contributions associated with the review of Pedagogical Course Projects; guided the discussion of Interprofessional Education in the Structuring Teaching Centers of some undergraduate courses; it stimulated the implementation of disciplines with an interprofessional character; strengthened teaching-service integration and contributed to the implementation of a Permanent Commission on Interprofessional Education. Despite these positive characteristics, the program faced obstacles arising from the hegemony of uniprofessional training; charges for productivity in the management of health services; turnover of members, difficulties in reconciling schedules, and, above all, the impact of the COVID-19 pandemic on the 13 redesign of planned proposals and implemented interventions. The projects conducted revealed the demand for structuring and longitudinal actions, which require health education policies that enable the sustainability of Interprofessional Education. Final considerations: the development of collaborative competences must be clearly understood and safeguarded as an intention of Interprofessional Education in initiatives with this perspective. This demands sustainable strategies and policies at the macro, middle, and micro levels, which consider interprofessionality as a permanent approach in the reorientation of the training and qualification of the health workforce towards effective teamwork. Descriptors: Interprofessional Education. Cooperative Behavior. Staff development. Health personnel. College education. 14 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ACP Atenção Centrada no Paciente CAIPE Center for the Advancement of Interprofessional Education CIETIS Colóquio Internacional de Educação e Trabalho Interprofissional em Saúde CIHC Canadian Interprofessional Health Collaborative CNS Conselho Nacional de Saúde DCN Diretrizes Curriculares Nacionais EIP Educação Interprofissional em saúde EPS Educação Permanente em Saúde ESF Estratégia Saúde da Família GFO Grupo Focal Online IPEC Interprofessional Education Collaborative Expert Panel NDE Núcleo Docente Estruturante OMS Organização Mundial de Saúde OPAS OrganizaçãoPan-Americana de Saúde PET-Saúde Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde PPC Projeto Pedagógico de Curso Pró-Saúde Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde SGTES Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde SUS Sistema Único de Saúde TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UERN Universidade do Estado do Rio Grande do Norte UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte UNESP Universidade Estadual Paulista UNIFESP Universidade Federal de São Paulo USP Universidade de São Paulo WHO World Health Organization 15 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Competências colaborativas. .................................................................. 57 Figura 2 - Distribuição geográfica dos Campus da UFRN no Estado do RN ........... 63 Figura 3 - Etapas da análise dos dados. ................................................................. 73 Figura 4 - Análise dos dados do Eixo Temático 1 .................................................... 78 Figura 5 - Etapas da análise dos dados do Eixo Temático 2 ................................... 96 16 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Elementos teóricos, conceituais e metodológicos que caracterizam a EIP ................................................................................................................................. 28 Quadro 2 - Edições do PET-Saúde ......................................................................... 50 Quadro 3 - Caracterização sociodemográfica dos participantes da pesquisa .......... 76 Quadro 4 - Contribuições do PET-Saúde Interprofissionalidade para a indução de mudanças na formação em saúde. .......................................................................... 79 Quadro 5 - Barreiras que afetaram o PET-Saúde Interprofissionalidade ................. 80 17 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 19 2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 26 2.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................ 26 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................. 26 3 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 27 3.1 ELEMENTOS TEÓRICOS, CONCEITUAIS E METODOLÓGICOS QUE CARACTERIZAM A EIP ........................................................................................... 27 3.2 MOVIMENTOS DE MUDANÇAS NO ENSINO EM SAÚDE E O PET-SAÚDE ... 47 3.3 INTENCIONALIDADE DA EIP ............................................................................ 54 4 PERCURSO METODOLÓGICO ........................................................................... 60 4.1 MÉTODO QUALITATIVO ................................................................................... 60 4.2 CENÁRIO INVESTIGATIVO............................................................................... 63 4.2.1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN ............................. 64 4.3 AMOSTRA ......................................................................................................... 66 4.4 PRODUÇÃO DE DADOS ................................................................................... 68 4.5 ANÁLISE DOS DADOS ...................................................................................... 70 4.6 ASPECTOS ÉTICOS DA INVESTIGAÇÃO ........................................................ 73 5 RESULTADOS ..................................................................................................... 76 5.1 EIXO TEMÁTICO 1: PET-SÁÚDE INTERPROFISSIONALIDADE: CONTRIBUIÇÕES, BARREIRAS E SUSTENTABILIDADE DA EDUCAÇÃO INTERPROFISSIONAL ............................................................................................ 78 5.1.1 Discussão ...................................................................................................... 86 5.1.2 Considerações finais do primeiro eixo temático ........................................ 92 5.1.3 Referências bibliográficas do eixo temático 1 ............................................ 93 5.2 EIXO TEMÁTICO 2: ASPECTOS QUE CONSTITUEM A INTENCIONALIDADE DE UM PROGRAMA DE EDUCAÇÃO INTERPROFISSIONAL ..................................... 96 5.2.1 Discussão ...................................................................................................... 99 5.2.2 Considerações finais do segundo eixo temático ...................................... 104 5.2.3 Referências bibliográficas do eixo temático 2 .......................................... 105 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 107 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 109 APÊNDICES .......................................................................................................... 123 18 ANEXOS ................................................................................................................ 142 19 1 INTRODUÇÃO A reorientação da formação em saúde tem sido objeto de debates e preocupações, pois são recorrentes os relatos sobre as limitações do ensino nessa área e as inadequações do perfil profissional necessário para atuar no Sistema Único de Saúde (SUS). Em função disso, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), recentemente, instituiu a Resolução nº 569/2017, aprovando o Parecer Técnico nº 300/2017, que apresenta os princípios gerais a serem incorporados nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de todos os cursos de graduação da área da saúde, indicando elementos norteadores para o desenvolvimento dos currículos e das atividades didático-pedagógicas (BRASIL, 2017). Nesta resolução são destacados aspectos da interprofissionalidade, como por exemplo, “o inciso V do Artigo 3º”, que defende o trabalho interprofissional através de algumas orientações: as DCN devem expressar a formação de um profissional apto a atuar para a integralidade da atenção à saúde, por meio do efetivo trabalho em equipe; os Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) devem apresentar estratégias alinhadas aos princípios da interdisciplinaridade, intersetorialidade e interprofissionalidade, como fundamentos da mudança na lógica da formação em saúde; as DCN devem estimular a elaboração de projetos terapêuticos assentados na lógica interprofissional e colaborativa (BRASIL, 2017). Este movimento de mudanças já havia sido incorporado nas novas DCN para os cursos de graduação em medicina no ano de 2014, pois a Resolução nº 3, de junho de 2014, inciso IX do artigo 5º, elege o trabalho interprofissional como estratégia principal para o cuidado centrado na pessoa, família e comunidade. Além disso, é incentivado o trabalho em equipe e a aprendizagem interprofissional (BRASIL, 2014). Para os cursos de graduação em Enfermagem, a Resolução nº 573, de 31 de janeiro de 2018, aprovou o Parecer Técnico nº 28/2018, contendo recomendações do CNS à proposta de revisão das DCN. As sugestões deste documento envolvem aspectos ligados à valorização do trabalho em equipe e da prática colaborativa. Assim, fica claro que a formação em enfermagem requer conhecimentos, habilidades e atitudes na integração ensino-serviço-comunidade e no trabalho interprofissional (BRASIL, 2018; LIRA et al., 2020). 20 Estas particularidades evidenciam a necessidade dareorientação da formação em saúde para superar o isolamento entre as profissões, a fragmentação do trabalho, a supervalorização das especializações, bem como os estereótipos que dificultam as interações no trabalho em equipe. Para tanto a EIP, tem se constituído como abordagem que deve ser incentivada para impulsionar práticas colaborativas na direção da integralidade da atenção à saúde (MIKAEL; CASSIANI; SILVA, 2017). No cenário atual, a EIP é um processo pedagógico que visa aprimorar a educação transformadora com as características do pensamento crítico; desenvolvimento de habilidades para o trabalho em equipe; adaptação criativa dos recursos globais; integração da educação com os sistemas de saúde; formação de redes colaborativas e compartilhamento de recursos educacionais e inovações globais (CASSIANI et al., 2017). Entretanto, os profissionais de saúde continuam sendo formados separadamente e, após a graduação, é exigido desenvolver o trabalho em equipe. A lógica da formação específica potencializa a construção de identidades profissionais isoladas e ocorre a predominância da formação uniprofissional, que favorece a competição em detrimento da colaboração (REEVES, 2016; COSTA, 2016). As iniciativas de países que realizaram mudanças nas políticas de educação na saúde são louváveis. Porém, muitos desses esforços não foram bem-sucedidos. Em parte devido ao que a literatura científica denomina de tribalismo das profissões, isto é, a tendência de cada profissão atuar isoladamente, seja nos serviços de saúde ou no processo de formação (FRENK et al., 2010). Tal denominação, além da nomenclatura tribalismo das profissões, também pode ser nomeada de silos profissionais para referir-se à cultura da formação separada. A consequência disso é a construção de identidades profissionais muito rígidas e que, historicamente, têm se configurado como um obstáculo para a comunicação entre os profissionais de diferentes categorias (WELLER; BOYD; CUMIN, 2014; BRAITHWAITE et al., 2016). No Brasil, os Ministérios da Saúde e Educação, por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), têm incentivado políticas indutoras de modificações na graduação das profissões de saúde. Nesta perspectiva foi instituído em 2008, o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET- Saúde), com o intuito de fomentar a formação profissional articulada à Estratégia 21 Saúde da Família (ESF), facilitar a integração ensino-serviço-comunidade e estimular a inserção das necessidades dos serviços na produção de conhecimentos dos cursos de graduação em saúde (BRASIL, 2008). Outras versões do PET-Saúde foram executadas desde sua criação, como por exemplo, o PET-Saúde Vigilância em Saúde; PET Saúde Mental; PET-Saúde Redes de Atenção e o PET-Saúde GraduaSUS. Estas distintas modalidades priorizaram temas estratégicos demandados pelas universidades e pelos serviços de saúde, repercutindo nos cursos de graduação em saúde, na Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) e na integração ensino-serviço-comunidade (BRASIL, 2021). Quanto ao PET-Saúde Interprofissionalidade, Edital nº 10, 23 de julho de 2018, este programa objetivava contribuir com mudanças curriculares nos cursos de graduação na área da saúde em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e com a reorientação do modelo de atenção à saúde. Para tais finalidades, o programa investiu na composição de grupos tutoriais com distintas profissões de saúde, os quais foram constituídos por coordenadores, tutores, estudantes e preceptores (BRASIL, 2018). Contudo, é importante esclarecer que agrupar alunos ou profissionais de diferentes categorias num mesmo espaço não significa a materialização da EIP. Neste sentido, o fato de existirem equipes que reúnem diferentes categorias profissionais para atender os mesmos usuários, não configura automaticamente a interprofissionalidade (COSTA, 2016; PEDUZZI, 2017; OGATA et al., 2021). Diante deste esclarecimento alguns questionamentos nortearam a investigação: Quais são as percepções sobre a intencionalidade do PET-Saúde Interprofissionalidade manifestadas pelos atores sociais que vivenciaram experiências nos projetos? Quais são as contribuições deste programa para a indução de mudanças na formação em saúde? Quais barreiras impediram os avanços pretendidos pelo programa? Qual é o diferencial das propostas desenvolvidas pelo PET-Saúde Interprofissionalidade quando confrontadas com o modelo de ensino uniprofissional em saúde? Como os tutores, preceptores e estudantes percebem a relevância da intencionalidade do programa no contexto da interprofissionalidade? Quais conhecimentos são expressados pelos interlocutores da pesquisa no que diz respeito às competências colaborativas? Quais são as contribuições dos projetos para 22 o desenvolvimento destas competências? Quais ações são necessárias para a sustentabilidade da EIP? Tais questionamentos têm como desdobramento o seguinte problema de pesquisa: qual é a compreensão sobre intencionalidade do PET-Saúde Interprofissionalidade expressada pelos participantes do programa, tendo em vista a ênfase dessa iniciativa na EIP? Logo, o simples agrupamento de diferentes profissões para desenvolver intervenções não é suficiente para estimular a colaboração interprofissional. Assim, a problemática da tese diz respeito à falta de clareza sobre a intencionalidade da EIP. Isto requer que as estratégias e programas educacionais com essa abordagem expressem claramente suas contribuições para a formação de profissionais qualificados para o trabalho em equipe (OGATA et al., 2021). Na literatura científica essa questão é destacada com preocupações, pois em muitas intervenções interprofissionais, os participantes dessas experiências têm dificuldades de reconhecer claramente qual é o propósito da EIP. Isto se traduz na ausência de rigor de algumas atividades nominadas equivocadamente com a nomenclatura interprofissional (OGATA et al., 2021; COSTA, 2019; COSTA et al., 2021). Essa problemática ficou mais evidente na recente publicação do Ministério da Saúde, intitulada “As contribuições do PET-Saúde Interprofissionalidade para a reorientação da formação em saúde no Brasil”. Neste documento há divergências quanto a intencionalidade do programa, pois numa determinada passagem afirma-se que a sua intencionalidade é aplicar elementos desse estilo educacional nas práticas de ensino-aprendizagem (BRASIL, 2021). Em outro excerto, declara-se que a integração entre diferentes profissões representam um avanço do programa em processos formativos com a explícita intencionalidade de desenvolver a aprendizagem interprofissional. E nas considerações finais desta publicação, menciona-se que o programa explicita, pela primeira vez, o uso de elementos da EIP para uma formação mais colaborativa, demonstrando a intencionalidade da formação mediada pela efetiva interação entre estudantes das mais diversas profissões de saúde (BRASIL, 2021). Logo, o fortalecimento e a consolidação da EIP exige clareza no reconhecimento e na intencionalidade do desenvolvimento de competências colaborativas para o efetivo trabalho em equipe. Isso deve estar claro nas iniciativas 23 interprofissionais. Caso contrário, corre-se o risco de reproduzir a educação pautada no tribalismo das profissões e nos silos profissionais (COSTA, 2016; PECUKONIS, 2014). O interesse pelo estudo foi construído a partir de inquietações diante do modelo biomédico e do ensino uniprofissional em saúde pautados na exiguidade de interações, cooperações e parcerias entre estudantes, professores, usuários e profissionais de saúde no desenvolvimento de competências colaborativa para o trabalho em equipe. Isso significa, em outras palavras, compreender que a EIP se apresenta como abordagem potente para mudançastanto na produção dos serviços de saúde, quanto no contexto da educação na saúde. Revisões sistemáticas da literatura científica têm evidenciado este impacto, destacando que a EIP promove interação positiva entre diferentes profissões, melhora a atitude em relação a outros profissionais, melhora a satisfação do paciente, aumenta a adesão da equipes de saúde a novos protocolos clínicos e potencializa a segurança do paciente através da redução de erros clínicos (COSTA et al., 2015; THISTLETHWAITE, 2012; REEVES et al., 2013). A relevância dessa pesquisa perpassa a reorientação da formação em saúde; presença da EIP na agenda internacional e nacional de prioridades para a educação na saúde, bem como a necessidade de analisar iniciativas interprofissionais e suas repercussões no ensino e nas práticas de saúde. No contexto nacional, os ideais da reforma sanitária devem ser preservados e reconstruídos continuamente face às ameaças e avanços do modelo biomédico na atenção à saúde. Por essa razão, as várias instâncias do SUS são relevantes para reorientar a formação em saúde, contribuindo para transformações no ensino das profissões (CECCIM; FEUERWERKER, 2004a). O próprio percurso histórico dos vários programas e tentativas de reorientação da formação em saúde, com suas potencialidades e desafios, mostra que a superação da fragmentação do trabalho em saúde é uma meta a ser alcançada. A respeito disso, é essencial lembrar que a integralidade da atenção à saúde é um eixo norteador de mudanças no ensino das profissões para o Sistema Único de Saúde - SUS (CECCIM; FEUERWERKER, 2004b). Esta reorientação da formação em saúde dialoga com a EIP no cenário brasileiro, porque nessa abordagem é possível reconhecer a relação recíproca de mútua influência entre sistema educacional e sistema de saúde. Tal perspectiva 24 exprime que o SUS é interprofissional e, portanto, precisa ser consolidado como espaço de atenção à saúde, educação profissional, gestão e controle social, orientado pelos princípios de integralidade, equidade, universalidade e participação (PEDUZZI, 2016). Também deve ser destacado que a EIP está presente na agenda internacional de prioridades para formação da força de trabalho em saúde da OMS. Exemplo disso é o “Marco para ação em educação interprofissional e prática colaborativa”, publicado em 2010, que objetiva fornecer estratégias e ideias para a implementação da interprofissionalidade, respeitando as especificidades loco-regionais de cada país (MIKAEL; CASSIANI; SILVA, 2017; SILVA; CASSIANI; FREIRE FILHO; 2018; OMS, 2010). Este marco reconhece que muitos sistemas de saúde no mundo estão fragmentados e com dificuldades para gerenciar as necessidades de saúde. A superação dessas questões deve ser realizada através da EIP, porque ela desempenha um papel imprescindível na redução da crise global na força de trabalho em saúde (OMS, 2010). Outras ações da OMS em parceria com a OPAS para fomentar essa abordagem são a resolução CSP 29.R15, que aprovou a estratégia de recursos humanos para a saúde universal, com ênfase na EIP; a formação de uma Rede Regional de Educação Interprofissional das Américas (REIP) e a construção de planos de ação para os países membros da rede (MIKAEL; CASSIANI; SILVA, 2017; SILVA; CASSIANI; FREIRE FILHO; 2018). O plano de ação brasileiro para implementar a EIP foi estruturado em cinco linhas de ação, a saber: fortalecimento da EIP como dispositivo para a reorientação dos cursos de graduação em saúde; levantamento das iniciativas de EIP no Brasil; Desenvolvimento docente em EIP; Fortalecimento dos espaços de divulgação e produção de conhecimento e EIP nos espaços Educação Permanente em Saúde (BRASIL, 2017). O PET-Saúde Interprofissionalidade integrou as atividades deste plano de ação e os projetos aprovados representam estratégias para o fortalecimento da interprofissionalidade e das práticas colaborativas no Brasil. Contudo, apesar da relevância dessa intervenção, é preciso compreender que a EIP requer rigor teórico- conceitual e metodológico no planejamento, execução e avaliação das experiências. 25 Portanto, as iniciativas com essa abordagem precisam ser transparentes no que diz respeito à intenção de desenvolver competências colaborativas. 26 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Analisar a intencionalidade e as contribuições dos projetos PET-Saúde Interprofissionalidade para a indução de mudanças na formação em saúde. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Compreender as percepções sobre a intencionalidade do programa na perspectiva de tutores, preceptores e estudantes; b) Analisar as contribuições do PET-Saúde Interprofissionalidade para a reorientação da formação em saúde; c) Analisar as barreiras que afetaram o programa; d) Entender as percepções de tutores, preceptores e estudantes acerca do desenvolvimento de competências colaborativas; e) Debater elementos necessários à sustentabilidade da EIP. 27 3 REVISÃO DE LITERATURA Esta revisão de literatura aborda, inicialmente, os elementos teóricos, conceituais e metodológicos que caracterizam a EIP, objetivando dirimir confusões conceituais e esclarecer quais são as teorias e metodologias de ensino relevantes para a EIP. Em seguida é apresentada uma síntese histórica dos movimentos de mudanças no ensino em saúde, bem como sua relação com a EIP e seus desdobramentos nas nove edições do PET-Saúde. Na última parte dessa revisão, a intencionalidade da EIP é debatida e são identificadas estruturas de competências colaborativas que auxiliam a compreensão desta questão. 3.1 ELEMENTOS TEÓRICOS, CONCEITUAIS E METODOLÓGICOS QUE CARACTERIZAM A EIP A EIP não é um fenômeno recente, pois remonta à década de 1960 e tem o Reino Unido como um dos países pioneiros nesse debate. Essa abordagem começa a ser valorizada para reorientar a formação em saúde e estimular o trabalho em equipe, pois a implementação de intervenções interprofissionais geram efeitos positivos tanto nas práticas profissionais, como também nos resultados em saúde (COSTA et al., 2021; FREIRE FILHO et al., 2019;). Dentre os vários documentos que tratam dessa temática, duas publicações da OMS merecem ser ressaltadas: “Aprendendo juntos para trabalhar juntos pela saúde” e “Marco para ação em EIP e Prática Colaborativa”. Mais recentemente, a OPAS também vem estimulando investimentos em iniciativas de aprendizagem interprofissional. Inclusive o Brasil aderiu formalmente a esse movimento e construiu um plano de ação para o fortalecimento da EIP no país (WHO, 1988; WHO, 2010; OPAS, 2017; BRASIL, 2017b). Ademais, a EIP é uma etapa de vital importância para a qualificação, composição e atuação da força de trabalho em saúde e sua efetivação pode favorecer práticas colaborativas desenvolvida por equipes interprofissionais na rede de atenção à saúde, contribuindo para o acesso e a cobertura universal de saúde (PADILLA, 2020). Mesmo com os avanços alcançados, ainda persiste confusão conceitual e dificuldades na compreensão dos aspectos teóricos-conceituais e metodológicos que 28 caracterizam a EIP, pois muitos programas, iniciativas e currículos com essa abordagem carecem de teorias, conceitos e metodologias de ensino capazes de nortear as práticas pedagógicas e as intervenções nos serviços de saúde (REEVES et al., 2016; KHALILI et al., 2019). Diante dessa questão, faz-se necessário conhecer e debater os elementos teóricos, conceituais e metodológicos que caracterizam a EIP. Para tanto, essa sistematização foi organizada em quatro partes: abordagens teóricas; fundamentos teóricos; elementos conceituais e metodologias de ensino para a EIP. O quadro 1, apresenta os elementos identificados com os respectivosautores (as), documentos localizados e ano de publicação. Quadro 1 - Elementos teóricos, conceituais e metodológicos que caracterizam a EIP Abordagens teóricas Fundamentos teóricos Construtivismo (HEAN; CRADDOCK; O’HALLORAN, 2009; OLENICK; ALLEN; SMEGO JÚNIOR, 2010; HEAN et al., 2018) Teoria da aprendizagem de adultos (HEAN; CRADDOCK; O’HALLORAN, 2009; HEAN; CRADDOCK; HAMMICK, 2012; HEAN et al., 2018; BARR, 2013) Teoria da prática reflexiva (OANDASAN; REEVES, 2005a; SARGEANT, 2009) Teoria da aprendizagem experiencial (HEAN et al. 2018; ANDERSON; THORPE, 2010; ANDERSON; LENNOX, 2009) Teoria da aprendizagem sócio-cultural (HUTCHINGS; SCAMMELL; QUINNEY, 2013; HEAN; CRADDOCK; O’HALLORAN, 2009) Comunidades de prática (HEAN et al., 2018; LEES; MEYER, 2011; MANN et al., 2009; CLARK, 2006) Aprendizagem sócio-cognitiva (STOCKER; BURMESTER; ALLEN, 2014; HAGEMEIER et al., 2014) Aprendizagem transformativa (HEAN et al., 2018; GUPTA, 2006; BLUE et al., 2010) Teoria do contato (MOHAUPT et al., 2012; HEAN et al., 2018) Teoria da identidade social (PECUKONIS, 2014) Teoria feminista pós-colonial (MELEIS, 2016) Teoria da complexidade (COOPER; BRAYE; GEYER, 2004; JORM et al.; 2016) Teoria do capital social (HEAN; O’HALLORAN; CRADDOCK, 2013; Desenvolvimento de competências (BARR, 1998) Estruturas de competências interprofissionais (THISTLETHWAITE et al., 2014) Dimensões ou níveis para adoção da EIP (OANDASAN; REEVES, 2005b) Etapas de aprendizagem interprofissional (CHARLES; BAINBRIDGE; GILBERT, 2010; BAINBRIDGE; WOOD, 2013) Estrutura de socialização interprofissional (KHALILI et al., 2013; KHALILI et al., 2019) Colaboração interprofissional (D’AMOUR et al., 2005; REEVES; XYRICHIS; ZWARENSTEIN, 2018) Trabalho em equipe interprofissional (REEVES; XYRICHIS; ZWARENSTEIN, 2018) Atenção centrada no paciente - ACP (OLSSON et al., 2013; KITSON et al., 2013) Níveis de colaboração (D’AMOUR et al., 2008) Atributos definidores da EIP (OLENICK; ALLEN; SMEGO JÚNIOR, 2010) Níveis de resultados (REEVES et al., 2010) 29 HEAN; CRADDOCK; HAMMICK, 2012) Conceitos Metodologias de ensino Definições de EIP CAIPE (2002) WHO (2010) CIHC (2010) REEVES et al. (2013) Tribalismo das profissões (FRENK et al., 2010) Silos profissionais (WELLER; BOYD; CUMIM, 2014; BRAITHWAITE et al., 2016) Competência cultural interprofissional (PECUKONIS, 2014; PECUKONIS; DOYLE; BLISS, 2008) Socialização interprofissional (KHALILI et al., 2013; KHALILI et al., 2019) Dupla identidade e identidade uniprofissional (KHALILI et al., 2013; KHALILI et al., 2019) Responsabilidade interprofissional (JOYNES, 2018) Aprendizagem uniprofissional, multiprofissional e interprofissional (OANDASAN; REEVES, 2005a; BARR; LOW, 2013) Distinções entre interdisciplinar, interprofissional, multidisciplinar e multiprofissional (OANDASAN; REEVES, 2005a) Interprofissionalidade (D’AMOUR; OANDASAN, 2005) Trabalho em equipe (PEDUZZI, 2001; PEDUZZI et al., 2020) Trabalho em equipe interprofissional (REEVES; XYRICHIS; ZWARENSTEIN, 2018) Prática colaborativa (WHO, 2010) Atenção centrada no paciente (D’AMOUR et al., 2008) Aprendizagem baseada em problemas; Aprendizagem baseada em seminários; Aprendizagem baseada em simulação; Aprendizagem baseada em observação; Aprendizagem baseada na prática clínica e Ensino híbrido (OANDASAN; REEVES, 2005a; ABU-RISH et al., 2012; OLENICK; ALLEN; SMEGO JÚNIOR, 2010; BURING et al., 2009; BAINBRIDGE; WOOD, 2013; CLARK, 2006; BARR et al.; 2017; BARR; LOW, 2013; KHALILI et al., 2019; BRASIL, 2017) As abordagens teóricas se referem as teorias que subsidiam inciativas de EIP, como por exemplo, construtivismo; teoria da aprendizagem de adultos; teoria da prática reflexiva; teoria da aprendizagem experiencial; teoria da aprendizagem sócio- cultural; comunidades de prática; aprendizagem sócio-cognitiva; aprendizagem transformativa; teoria do contato; teoria da identidade social; teoria feminista pós- colonial, teoria da complexidade e teoria do capital social. 30 Nos fundamentos teóricos, que são elementos para compreensão dos pilares de sustentação da EIP, são destacados o desenvolvimento de competências; estruturas de competências interprofissionais; dimensões ou níveis para adoção da EIP; etapas de aprendizagem interprofissional; estrutura de socialização interprofissional; colaboração interprofissional; trabalho em equipe interprofissional; atenção centrada no paciente; níveis de colaboração; atributos definidores da EIP e níveis de resultados. No que diz respeito aos elementos conceituais, são analisados distintos conceitos relacionados ao tema, como as definições de EIP, a conceituação dos termos tribalismo das profissões; silos profissionais; competência cultural interprofissional; socialização interprofissional; dupla identidade; identidade uniprofissional; responsabilidade interprofissional; aprendizagem uniprofissional, multiprofissional e interprofissional; distinções entre os termos interdisciplinar, interprofissional, multiprofissional e multiprofissional; conceito de interprofissionalidade; trabalho em equipe interprofissional; prática colaborativa e atenção centrada no paciente (ACP). Quanto aos elementos metodológicos que caracterizam a EIP, constatou-se que as metodologias de ensino frequentemente citadas para essa abordagem são aprendizagem baseada em problemas; aprendizagem baseada em seminários; aprendizagem baseada em simulação; aprendizagem baseada em observação; aprendizagem baseada na prática clínica e ensino híbrido. A literatura científica salienta que muitos programas de EIP não são guiados por teorias ou abordagens teóricas. Parcela significativa de atividades alinhadas com essa perspectiva dificilmente mencionam, explicitamente, quais fundamentos teóricos, conceituais e/ou metodológicos foram utilizados. Diante disso, a construção, efetivação e avaliação de intervenções interprofissionais podem apresentar inconsistências (ABU-RISH et al., 2012; REEVES et al., 2016; HEAN et al., 2018). Apesar dessa situação, o construtivismo foi associado ao nível micro da aprendizagem em EIP, no qual a unidade de análise são as interações sociais entre indivíduos. Nessa vertente, significado e conhecimento são criados a partir da experiência de cada aprendiz na relação com os outros e com o mundo. Esta abordagem desdobra-se em dois tipos de construtivismo: cognitivo e social (HEAN; CRADDOCK; O’HALLORAN, 2009; OLENICK; ALLEN; SMEGO JÚNIOR, 2010; HEAN et al., 2018). 31 No âmbito do construtivismo cognitivo para a EIP, três teorias são ressaltadas: teoria da aprendizagem adulta ou andragogia, teoria da prática reflexiva e a aprendizagem experiencial. Esta categorização considera que a criação de estruturas cognitivas e habilidades, como resolução de problemas, devem ser valorizadas por meio das experiências de vida e conhecimentos prévios dos estudantes (HEAN; CRADDOCK; O’HALLORAN, 2009). A teoria da aprendizagem adulta ou andragogia é frequentemente citada enquanto base teórica para subsidiar a EIP, pois com os princípios dessa teoria os estudantes conseguem interligar abordagens educacionais com práticas profissionais. Dessa forma, a necessidade de saber, baseada na utilidade do conteúdo para cotidiano de trabalho, se constitui como guia para promover conhecimentos, habilidades e atitudes (HEAN; CRADDOCK; O’HALLORAN, 2009; HEAN; CRADDOCK; HAMMICK, 2012; HEAN et al., 2018; BARR, 2013). Essa abordagem estimula o protagonismo dos estudantes, pois permite que o processo ensino/aprendizagem mantenha-se sob o controle dos aprendizes e mediação dos docentes, que assumem o papel de facilitadores. Em vista disso, são valorizadas as experiências anteriores dos alunos, para compreender os fenômenos e construir soluçõespara questões problemáticas em um contexto com suas particularidades (HEAN; CRADDOCK; HAMMICK, 2012; HEAN; CRADDOCK; O’HALLORAN, 2009). A teoria da prática reflexiva, que tem como expoentes John Dewey e Donald Schön, salienta que a reflexão é um componente essencial para a EIP, pois é por meio da reflexividade que os estudantes podem ter experiências de aprendizagem que perpassam a reflexão na prática e a reflexão sobre a prática. Na primeira situação, a reflexão ocorre no momento da prática profissional, quando os estudantes e profissionais estão interagindo nos serviços com a população. A segunda situação é caracterizada pela ideia de que o ato reflexivo pode ocorrer após as intervenções realizadas (OANDASAN; REEVES, 2005a). Essa teoria é relevante para a EIP porque seus conceitos valorizam a autorreflexão individual e a reflexão coletiva. Essas atitudes possibilitam conhecer os papéis de cada profissão no trabalho em equipe, gerenciar conflitos, ter empatia com as pessoas e aprender colaborativamente (SARGEANT, 2009). Na teoria da aprendizagem experiencial, formulada por David Kolb, o aprendizado ocorre por meio da inserção de estudantes em experiências da prática 32 profissional. Contudo, essa vivência de uma situação real não é garantia de aprendizagem, pois é necessário refletir sobre as experiências. Neste ponto de vista, ação e reflexão são elementos estruturantes dessa teoria (HEAN et al., 2018). Na EIP, a teoria da aprendizagem experiencial fornece uma justificativa para as atividades de aprendizado orientadas pela colaboração interprofissional, porque a interação entre estudantes, preceptores e professores nos serviços de saúde suscita a reflexão sobre a importância do trabalho em equipe e o papel, valor e compromisso de cada profissão no cuidado em saúde (HEAN et al., 2018). O modelo de EIP difundido pela Universidade de Leicester na Inglaterra tem como perspectiva essa abordagem teórica para proporcionar aprendizagem experiencial e reflexiva. Isto significa que os estudantes aprendem sobre comunicação eficaz, participação dos usuários nos cuidados e compartilhamento de decisões terapêuticas. A sustentabilidade desse modelo foi alcançada através do envolvimento de profissionais que estão no cotidiano dos serviços de saúde e valorizam as contribuições dos estudantes para o trabalho em equipe, como por exemplo, a atenção centrada no paciente, família e comunidade e a construção de parcerias entre a universidade e organizações de saúde (ANDERSON; THORPE, 2010; ANDERSON; LENNOX, 2009). Na esfera do construtivismo social e sua aproximação com a EIP, quatro teorias são referenciadas: teoria da aprendizagem sócio-cultural, comunidades de prática, teoria sócio-cognitiva e teoria da aprendizagem transformativa. Esta classificação considera que a aprendizagem não é um processo puramente individual, mas que o contexto histórico e cultural é uma condição essencial para o ato educativo (HEAN; CRADDOCK; O’HALLORAN, 2009). A teoria da aprendizagem sócio-cultural enfatiza os processos grupais e as interações sociais. Representante dessa abordagem, Lev Vygotsky desenvolveu ideias para mostrar como a aprendizagem acontece através da mediação do sujeito com o mundo. Nessa teoria, um conceito essencial é a chamada Zona de Desenvolvimento Proximal – ZDP, que significa o intervalo entre o que o estudante pode aprender sozinho e o que ele pode aprender com ajuda de um outro externo (HUTCHINGS; SCAMMELL; QUINNEY, 2013). Nesse conceito, o outro externo pode ser o facilitador de EIP ou colega de outra profissão, que proporcionam suporte para o estudante construir sua própria aprendizagem. Isto faz lembrar os andaimes de uma obra, que são retirados 33 lentamente a cada etapa finalizada no processo de construção de uma estrutura. Algo similar pode ser visualizado na interprofissionalidade, porque os avanços nesta área dependem da colaboração interprofissional, que funciona como sustentáculo da integração no trabalho em saúde (HEAN; CRADDOCK; O’HALLORAN, 2009). Comunidades de prática pressupõem o desenvolvimento e partilha de conhecimento por meio de experiências grupais, engajamento mútuo e projetos conjuntos. Essas comunidades proporcionam um ambiente social que favorece a construção de potencialidades individuais e coletivas para aprendizagem efetiva (HEAN et al., 2018; LEES; MEYER, 2011). Algumas características dessa abordagem tem implicações para a EIP. Primeiro, a construção do conhecimento ocorre em função das interações sociais dos membros de uma equipe. Além disso, os integrantes de uma comunidade prática aprendem habilidades de trabalho coletivo, como liderança, comunicação e gerenciamento de conflitos, essenciais para a prática colaborativa. Em segundo, o conhecimento adquirido vincula-se fortemente ao julgamento profissional, em especial, ao julgamento clínico, relacionado com os processos sociais e grupais na tomada de decisões adequadas para problemas identificados. Terceiro, ser membro de um grupo interprofissional, em comunidades de prática, possibilita uma visão de mundo para além da própria profissão (CLARK, 2006). Estudos com essa perspectiva na EIP destacam o compromisso e engajamento dos estudantes, pois eles interagem entre si e com os profissionais em práticas colaborativas no trabalho em equipe. O saldo positivo desse processo é o fortalecimento das principais características pedagógicas do trabalho em pequenos grupos, a título de exemplo, planejamento de ações, aprendizado independente contínuo e ambiente de aprendizado seguro (MANN et al., 2009; LEES; MEYER, 2011). A teoria sócio-cognitiva, de Albert Bandura, enfatiza que a aprendizagem pode ser adquirida pela observação e imitação de fenômenos da vida real, interconectando fatores individuais, grupais e culturais do contexto social. Nesta teoria, o julgamento das pessoas sobre suas próprias capacidades é um elemento determinante para autoeficácia em intervenções educativas (STOCKER; BURMESTER; ALLEN, 2014). Essas ideias na EIP podem ser aplicadas num programa de treinamento simulado em equipe ou no aperfeiçoamento da comunicação interpessoal e interprofissional. No primeiro caso, é possível que os estudantes observem os 34 colegas, obtenham informações sobre o desempenho de cada profissão e modelem comportamentos e conhecimentos. Este cenário subsidia a motivação e preparação dos participantes para o aprendizado efetivo. Na segunda experiência, verifica-se que as crenças de autoeficácia em comunicação interpessoal e interprofissional de estudantes de enfermagem, medicina e farmácia produz impactos assertivos nos relacionamentos profissionais para assistência à saúde (STOCKER; BURMESTER; ALLEN, 2014; HAGEMEIER et al., 2014). A teoria da aprendizagem transformativa, criada por Jack Mezirow, concentra- se nas experiências significativas de aprendizado, que promovem interpretações novas do significado de uma vivência pedagógica. Trata-se de um processo que envolve a reflexão crítica das práticas de saúde e alterações nos papéis e comportamentos profissionais, para gerar mudanças nas intervenções (HEAN et al., 2018). Exemplos da aplicação dessa teoria na EIP são analisados nos trabalhos desenvolvidos em um abrigo e num centro de saúde acadêmico. No primeiro caso, estudantes e professores participaram de um curso interprofissional para cuidar de pessoas albergadas. Essa experiência inspirou os alunos para ressignificar suas atuações individuais e coletivas e despertou sentimentos de justiça social. No segundo estudo, a Universidade da Carolina Sul implementou um programa interprofissional baseado na aprendizagem transformativa, com atividades curriculares e extracurriculares. Esta iniciativa elevou a confiança dos participantes para a realização de cuidados colaborativos (GUPTA, 2006; BLUE et al., 2010).Além dessas abordagens teóricas, que assinalam os aspectos individuais e contextuais da aprendizagem, outras teorias também foram identificadas nos estudos selecionados. Estas são orientadas para o nível macro da aprendizagem em EIP, ou seja, são abordagens direcionadas para a compreensão da relação do aprendiz com questões estruturais e intergrupais. Nesta classificação estão a teoria do contato, teoria da identidade social, teoria feminista pós-colonial, teoria da complexidade e a teoria do capital social. A teoria do contato de Gordon Allport tem como pressuposto a ideia de que o contato entre os grupos pode ajudar na redução da hostilidade intergrupal. Porém, esse contato não significa simplesmente reunir pessoas num mesmo espaço físico. Trata-se, sobretudo, de promover a integração desses grupos mediante algumas condições que vão desde a necessidade deles possuírem objetivos comuns, 35 passando pela cooperação intergrupal, igualdade de status e apoio institucional de autoridades, leis e costumes (MOHAUPT et al., 2012; HEAN et al., 2018). Dedicar atenção às principais condições indicadas nessa teoria, também denominada de hipótese de contato, pode ajudar a orientação do planejamento, implementação e avaliação de estratégias para EIP, pois um ambiente propício ao contato positivo entre grupos, possibilita o desenvolvimento de competências colaborativas (MOHAUPT et al., 2012; HEAN et al., 2018). Para a teoria da identidade social, de Henri Tajfel e John Turner, os indivíduos constroem afiliações por meio da participação em grupos. Estas afiliações moldam desejos, crenças e expectativas que são determinantes para o desenvolvimento da identidade pessoal e profissional. Dessa forma, a identidade social fornece as regras para o que é considerado como comportamento adequado do sujeito na sociedade (PECUKONIS, 2014). As consequências negativas da identidade social, fortemente construída com base numa única profissão, estão diretamente relacionadas com a questão do centrismo profissional. Isso representa algo similar a noção de etnocentrismo, que é a preferência de uma pessoa olhar o mundo através das lentes de sua própria cultura. Em outras palavras, o centrismo profissional pode estar associado com atitudes preconceituosas entre as profissões da saúde, o que dificulta substancialmente a efetivação da EIP (PECUKONIS, 2014). Isto se constitui num desafio para a EIP, pois as identidades profissionais e a longa história de privilégios médicos são as maiores barreiras para implementação de mudanças no ensino em saúde. Diante disso, a teoria feminista pós-colonial interpreta o diferencial de poder entre os membros das profissões de saúde e equipes de trabalho. Analisa também o domínio colonialista na formação de ideias e pensamentos, que perpetuam a exploração laboral entre grupos profissionais (MELEIS, 2016). Nessa teoria, condições equitativas poderiam ser alcançadas na medida em que os membros de uma equipe entendessem os papéis uns dos outros e modelassem o respeito ao falar com e sobre cada profissão. Isso exige a substituição do profissionalismo baseado unicamente numa carreira profissional pela interprofissionalidade, que demanda práticas colaborativas para atender às complexas necessidades de cuidados em saúde (MELEIS, 2016). 36 A teoria da complexidade simboliza repensar o modelo tradicional de ensino baseado no isolamento dos estudantes, pois uma abordagem educacional pautada em estruturas disciplinares insulares e fragmentadas não corresponde às expectativas de aprendizagem fundamentadas na colaboração e solidariedade (COOPER; BRAYE; GEYER, 2004). Essa teoria fornece à EIP bases teóricas e operacionais para superar restrições lineares ainda presentes no ensino em saúde. Isso permite que a EIP seja mais bem compreendida, questionada e desafiada por um paradigma que reconhece a importância da multidimensionalidade, interdependência e incertezas dos processos educacionais, sanitários, econômicos e culturais (COOPER; BRAYE; GEYER, 2004). Os conceitos emergência, diversidade e auto-organização, constituintes da teoria da complexidade, são elementos robustos para a EIP. Emergência representa as múltiplas interações entre os estudantes, docentes e estruturas de saúde. Diversidade expressa a multiplicidade de disciplinas e profissões envolvidas na prática colaborativa. E auto-organização, sugere gestão do cuidado centrado no paciente, com a negociação das funções dos membros da equipe e resolução de conflitos na construção de planos terapêuticos integrados (JORM et al., 2016). Na teoria do capital social as interações sociais são os elementos primordiais para compreender as potencialidades geradas pela participação do indivíduo no grupo interprofissional. Essas relações representam experiências de aprendizagem em EIP, desde que estejam sustentadas no trabalho em pequenos grupos; coesão entre os membros; compartilhamento de recursos externos e internos ao grupo; confiança entre os sujeitos e pactuação de normas e regras, para propiciar a cooperação e o convívio coletivo (HEAN; O’HALLORAN; CRADDOCK, 2013). A vantagem em fazer parte de um grupo interprofissional é a transferência de conhecimento entre seus integrantes. Isso possibilita maior compreensão do papel de cada profissão na atenção à saúde, articulação de ações individuais e coletivas entre os profissionais e construção de competências para o trabalho em equipe. Contudo, o nível de capital social gerado dependerá da qualidade das interações sociais, proporcionadas pelo engajamento efetivo dos sujeitos que compõem esse grupo e pela sustentabilidade de suas intervenções (HEAN; CRADDOCK; HAMMICK, 2012). A análise das abordagens teóricas para a EIP revela que a priorização de uma única orientação teórica pode ser inadequada em função dos contextos e histórias das profissões. A literatura científica internacional também não indica uma teoria “padrão 37 ouro” para os programas ou currículos interprofissionais (HEAN; CRADDOCK; HAMMICK, 2012; HEAN et al., 2018). Optar por uma só abordagem teórica é insuficiente em um campo tão complexo, porque distintos grupos de estudantes interagem entre si em diferentes estágios de seu desenvolvimento profissional. Dessa forma, é por demais relevante considerar o contexto em que a EIP será realizada e as abordagens teóricas que podem ser coerentes num cenário particular das práticas de saúde e educação (HEAN; CRADDOCK; HAMMICK, 2012; HEAN et al., 2018). Logo, deve-se dar atenção especial à variedade de teorias para EIP, entendendo-as como ferramentas para articular e defender as melhores práticas colaborativas. Isso significa que a escolha de uma teoria dependerá da intencionalidade do programa educacional em diálogo com as demandas dos serviços de saúde, conjugando esforços para garantir a qualidade da formação de acordo com as necessidades de saúde dos usuários (HEAN; CRADDOCK; HAMMICK, 2012; BARR, 2013). Quanto aos fundamentos teóricos que subsidiam a EIP, o desenvolvimento de competências é um imperativo categórico, pois essa perspectiva objetiva, não apenas a formação do sujeito competente em uma profissão, mas perpassa a estruturação de três tipos de competências no ensino em saúde, quais sejam, competências específicas, competências comuns e competências colaborativas (BARR, 1998). No primeiro grupo estão as competências que asseguram a identidade das profissões, ancoradas em princípios, teorias, conceitos e metodologias das práticas profissionais. No segundo, encontram-se as competências que assinalam a convergência entre as profissões. O terceiro grupo é constituído pelas competências que aprimoram os vínculos entre as distintas categorias profissionais para o efetivo trabalho em equipe (BARR, 1998). Para favorecer o desenvolvimento de competências associadas com a interprofissionalidade,quatro estruturas são eminentes na literatura internacional: Estrutura de capacidade interprofissional do Reino Unido; Quadro nacional de competências interprofissionais do Canadá; Competências essenciais para a prática colaborativa interprofissional dos Estados Unidos da América (EUA) e Estrutura de capacidade interprofissional da Austrália (THISTLETHWAITE et al., 2014). A estrutura de capacidade interprofissional do Reino Unido é fundamentada em quatro domínios: conhecimento na prática, prática ética, trabalho interprofissional e 38 reflexão. No Canadá, o quadro nacional de competências interprofissionais, formulado pela Canadian Interprofessional Health Collaborative (CIHC), salienta seis domínios: assistência centrada no paciente, comunicação interprofissional, esclarecimento de função ou clareza de papéis, funcionamento da equipe, liderança colaborativa e resolução de conflitos interprofissionais. Nos EUA, quatro domínios são destacados: valores e ética, papéis e responsabilidades, comunicação interprofissional e trabalho em equipe. E na Austrália, são focalizados cinco domínios: comunicação, função de equipe, esclarecimento de função, resolução de conflitos e reflexão (THISTLETHWAITE et al., 2014). Estas estruturas de competências interprofissionais implicam identificar as dimensões ou níveis para adoção da EIP. Estes níveis são denominados macro, meso e micro. O nível macro está relacionado com a sustentabilidade de políticas de educação e saúde para a reorientação da formação profissional e reformulação de Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) dos cursos de graduação; o nível meso analisa os desenhos, programas e componentes curriculares e o nível micro considera as relações e interações interpessoais (OANDASAN; REEVES, 2005b). Além dessas dimensões, a literatura internacional apresenta três etapas de aprendizagem interprofissional. Na primeira, denominada de exposição, são debatidas questões relacionadas à interação entre as profissões. É nessa fase que o conceito de interprofissionalidade é introduzido e o resultado almejado é que os estudantes adquiram compreensão de sua própria profissão enquanto fundamentam uma apreciação preliminar dos papéis das demais (CHARLES; BAINBRIDGE; GILBERT, 2010; BAINBRIDGE; WOOD, 2013). Na segunda, chamada de imersão, os estudantes têm a oportunidade de aprender colaborativamente. A finalidade desse momento é oferecer aos estudantes oportunidades de auto-reflexão. Isso requer encontros estruturados e não estruturados contínuos, que desafiam as formas habituais de pensar e interagir em equipe (CHARLES; BAINBRIDGE; GILBERT, 2010; BAINBRIDGE; WOOD, 2013). A terceira etapa, intitulada de domínio, envolve o entendimento de conceitos interprofissionais e sua relação com a prática para estudantes que tiveram experiências significativas com a EIP. O objetivo nesta fase é o desenvolvimento do pensamento crítico com uma compreensão mais profunda das contribuições de cada profissão para o cuidado em saúde (CHARLES; BAINBRIDGE; GILBERT, 2010; BAINBRIDGE; WOOD, 2013). 39 Este é um modelo geral que deve ser pensado, problematizado e reestruturado em função da complexidade que envolve a aprendizagem dos estudantes com diferentes singularidades e contextos sociais. Contudo, entende-se que essas etapas fornecem uma estrutura para a construção de experiências de aprendizagem em EIP, desde que se considere os estágios de desenvolvimento dos aprendizes nas suas distintas profissões, bem como a prontidão deles nas oportunidades de interação interprofissional (CHARLES; BAINBRIDGE; GILBERT, 2010; BAINBRIDGE; WOOD, 2013). No tocante a estrutura de socialização interprofissional, é imperioso repensar a identidade uniprofissional fundamentada pelas profissões separadamente. Neste sentido, faz-se necessário propiciar estratégias para a construção da identidade interprofissional através de três etapas: derrubar barreiras, aprendizagem do papel interprofissional e desenvolvimento da dupla identidade (KHALILI et al., 2013; KHALILI et al., 2019). Derrubar barreiras compreende a desconstrução dos rótulos que são fixados preconceituosamente em cada profissão. Para tanto, deve-se proporcionar interações interprofissionais, em que as visões comuns pré-existentes são intencionalmente desafiadas, por meio do debate aberto e interativo entre os estudantes, que devem refletir criticamente sobre os seus próprios papéis e os papéis das outras profissões (KHALILI et al., 2013; KHALILI et al., 2019). Na aprendizagem do papel interprofissional os estudantes precisam participar de atividades que possibilitem o compartilhamento dos papéis e dos conhecimentos e habilidades de cada um. Dessa forma, utilizar uma abordagem de trabalho em equipe baseada em casos, direcionada para o desenvolvimento de competências colaborativas, potencializa a compreensão e valorização da interprofissionalidade (KHALILI et al., 2013; KHALILI et al., 2019). O desenvolvimento da dupla identidade significa que os estudantes, aprendendo a trabalhar colaborativamente, criam um “clima de equidade de papéis” e reconhecimento das diferentes perspectivas profissionais. Esta questão, quando associada a geração do ambiente propício à reflexão sobre o trabalho em equipe, ajuda os estudantes a se identificarem simultaneamente com sua própria profissão e com a prática interprofissional, resultando na identidade interprofissional (KHALILI et al., 2013; KHALILI et al., 2019). 40 Em decorrência da dupla identidade, é necessário superar mais um desafio, pois assumir essa postura exige responsabilidade interprofissional, que é um conceito ligado à comportamentos que promovem compromissos entre profissionais de saúde engajados no trabalho em equipe, a fim de qualificar o atendimento à população (JOYNES, 2018). A colaboração interprofissional é outro fundamento teórico para a EIP, pois o ensino em saúde e atuação dos profissionais dessa área são concretizados, sobremaneira, em ambientes coletivos, o que revela a necessidade de interações colaborativas. Ademais, a colaboração interprofissional deve nortear o trabalho em equipe, caracterizado pela identidade compartilhada entre os membros do grupo de trabalho, definição de papéis e objetivos claros, interdependência dos sujeitos, integração do trabalho, responsabilidade compartilhada e tarefas de equipe (D’AMOUR et al., 2005; REEVES; XYRICHIS; ZWARENSTEIN, 2018). Um pressuposto essencial para o trabalho em equipe é a Atenção Centrada no Paciente (ACP), pois a organização e efetivação do cuidado em saúde não devem prescindir da participação de pacientes, famílias e comunidades. Essa compreensão favorece a noção de trabalho em saúde sustentada pela construção de alianças terapêuticas entre profissionais de saúde e usuários dos serviços (OLSSON et al.; 2013; KITSON et al., 2013). Na medida em que o trabalho em equipe se orienta para a ACP, a colaboração pode ser classificada em três níveis: potencial para colaboração; colaboração em desenvolvimento e colaboração ativa. O primeiro nível representa o potencial latente para a colaboração, porém neste nível ainda imperam os interesses pessoais. O segundo nível representa as predileções profissionais e organizacionais que impulsionam a colaboração e o terceiro diz respeito ao direcionamento das ações da equipe de saúde para atender as necessidades dos usuários (D’AMOUR et al., 2008). Os elementos analisados refletem, substancialmente, a constituição dos atributos da EIP. Estes são representados pelo envolvimento ativo de dois ou mais membros de uma equipe de saúde, que participam da avaliação e/ou gerenciamento dos cuidados; aprendizagem experiencial e socialização interprofissional; compartilhamento de conhecimentos e valores; experiências andragógicas de ensino e prática colaborativa centrada no paciente (OLENICK;
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