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POTENCIAL ENERGÉTICO DA MADEIRA DE CLONES DE EUCALYPTUS IMPLANTADOS EM REGIÃO NEOTROPICAL DO BRASIL E SEU DESEMPENHO COMO BIOCOMBUSTÍVEL MARIA KELY ALVES GOMES DA SILVA Macaíba/RN Junho de 2022 MARIA KELY ALVES GOMES DA SILVA POTENCIAL ENERGÉTICO DA MADEIRA DE CLONES DE EUCALYPTUS IMPLANTADOS EM REGIÃO NEOTROPICAL DO BRASIL E SEU DESEMPENHO COMO BIOCOMBUSTÍVEL Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Ciências Florestais (Área de Concentração em Ciências Florestais - Linha de Pesquisa: Tecnologia e Utilização de Produtos Florestais). Orientadora: Profª. Drª. Rosimeire Cavalcante dos Santos Coorientador: Prof. Dr. Renato Vinícius Castro Macaíba/RN Junho de 2022 2 Silva, Maria Kely Alves Gomes da. Potencial energético da madeira de clones de Eucalyptus implantados em região neotropical do Brasil e seu desempenho como biocombustível / Maria Kely Alves Gomes da Silva. - 2022. 78f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais. Macaíba, RN, 2022. Orientador: Profa. Dra. Rosimeire Cavalcante dos Santos. Coorientador: Prof. Dr. Renato Vinícius Castro. 1. Biomassa florestal - Dissertação. 2. Consumo de madeira - Dissertação. 3. Floresta energética - Dissertação. 4. Densidade energética - Dissertação. 5. Lenha - Dissertação. I. Santos, Rosimeire Cavalcante dos. II. Castro, Renato Vinícius. III. Título. RN/UF/BSPRH CDU 620.91 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Rodolfo Helinski - Escola Agrícola de Jundiaí - EAJ - Macaiba Elaborado por Elaine Paiva de Assunção - CRB-15/492 POTENCIAL ENERGÉTICO DA MADEIRA DE CLONES DE EUCALYPTUS IMPLANTADOS EM REGIÃO NEOTROPICAL DO BRASIL E SEU DESEMPENHO COMO BIOCOMBUSTÍVEL Maria Kely Alves Gomes da Silva Dissertação julgada para obtenção do título de Mestre em Ciências Florestais (Área de Concentração em Ciências Florestais - Linha de Pesquisa: Tecnologia e Utilização de Produtos Florestais) e aprovada pela banca examinadora em 01 de junho de 2022. Banca Examinadora Presidente Examinador externo à instituição Examinador externo ao programa Macaíba/RN Junho de 2022 3 . À todos a quem essa pesquisa possa colaborar. DEDICO 4 AGRADECIMENTOS __________________________________________________________________________ Inicialmente, gostaria de agradecer ao meu tio Sérgio Gomes pela receptividade em sua casa e, sobretudo, pelo carinho. Nesses anos de convivência o senhor me ensinou, pelo exemplo, o significado de acolhimento e esse ato que já existia em mim, se intensificou e levo para todo ambiente que me insiro. Sou imensamente grata. Aos meus pais pelo apoio e amor nesses anos. Espero ser merecedora de tamanho orgulho. Agradeço à minha intensa orientadora Rosimeire Cavalcante pelo crescimento profissional, pessoal e espiritual. A senhora se autodeclara “flor-de-cacto” e gostaria de ser mais específica: Selenicereus wittii. O desabrochar de sua flor ocorre à noite por poucas horas, um espetáculo aguardado e valioso para quem consegue vislumbrar. Agradeço ao professor Gualter Guenther pelo convívio que a execução do projeto de mestrado proporcionou. O conhecia unicamente como professor de Solos na graduação e sou feliz por ter conhecido a faceta mentora, o senhor é sensacional e não há como negar que a relação GEEB-GESOLO culminou em cafés e pãezinhos em campo. Nisso, em nome do meu grupo, digo: disponha. Preciso reforçar minha gratidão à professora Edna Moura, pela acessibilidade, compreensão e calmaria; professor Ananias Jr. pela disponibilidade e conhecimento; professora Ermelinda Mota pela simpatia e acolhimento; professor Sérgio Jr. pela disponibilidade, solicitude e prontidão, me inspiro como profissional no senhor; professor Renato Castro pelas aulas e seu concorrido tempo e; pesquisador João Gabriel pelas sugestões. Aqui está inserido em quinto parágrafo mas leia como texto corrido sem contagem de linhas já que, infelizmente, a lauda segue proporções definidas: agradeço a todos os alunos que fizeram esse projeto possível. Às primeiras equipes dos campos que fizeram meus dias felizes mesmo em um trabalho intenso: Rafael, Job, Gustavo, Gevison, Isaias, Leonardo, Adeildo, Jucier e Rodrigo. À equipe sazonal de Patos - PB: Sávio, Adriano e Natielly. Às equipes que a segunda fase do projeto proporcionou que eu conhecesse calouros e enxergasse o amor florestal além do meu peito: Isis, Jorge e Maria Eduarda. Sou grata por nossos caminhos terem se cruzado e estou às ordens. 5 Meu obrigada à família GEEB que tive o privilégio de fazer parte e acredito que levarei para a vida. Satisfação imensa poder estar inserida em um grupo genuinamente unido que reconhece a necessidade do outro e está de prontidão para sempre estender a mão. Ao Francisco (apenas formalidade, compreenda), sou feliz pela proximidade; Thatiane você é sensacional; Larissa seria difícil nossa convivência se eu usasse chapéu porque necessitaria sempre está retirando ele pra você; Jéssica, sua generosidade e calmaria me ensinou muito; Ana Júlia gostei de você de cara e a qualidade de seu trabalho é proporcionalmente equivalente a sua sinceridade: alta. Ed, modo semelhante, o que tem de ranzinza tem de competência e sou feliz por você ter integrado o nosso grupo; Willy é satisfatório te ter em equipe e poder ter te conhecido; presidente Fernanda, mil e uma atribuições, o mundo vai ser pequeno para ti. Amo vocês e contem comigo. Às amizades proporcionadas por esses dois anos e aos que tive o prazer da presença física. Adriana e Stheffany, muito obrigada pelos conselhos, sou imensamente grata pelo nosso vínculo; João, as aulas on-line tiveram seus benefícios; Bruno e Jéssica Ovídio, amo a índole de vocês que me traz paz; Edite você é repleta de amor e acolhimento que amansa qualquer tornado; Cheila sou muito orgulhosa da pessoa que você é, do que irá se tornar e quero assistir esse espetáculo de camarote, um brinde ao que o futuro nos reserva. Amo vocês. Genuinamente. Aos meus amigos de longa data: Luana, Rosa e Ana Luiza, começamos em 2015 e espero que continuemos sem pontuações finais. Iago, obrigada pelo amor e afago; Adauto, sou grata pela nossa proximidade, você tornou minha jornada mais fácil. Os guardo em meu coração. Agradeço ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio prestado ao desenvolvimento desta pesquisa por meio da concessão de bolsas de mestrado e iniciação científica. Agradeço por fim, a todos que fizeram parte dessa trajetória, mesmo que de forma indireta. 6 RESUMO GERAL __________________________________________________________________________ POTENCIAL ENERGÉTICO DA MADEIRA DE CLONES DE EUCALYPTUS IMPLANTADOS EM REGIÃO NEOTROPICAL DO BRASIL E SEU DESEMPENHO COMO BIOCOMBUSTÍVEL O objetivo deste trabalho foi investigar o potencial bioenergético da madeira de Eucalyptus sob diferentes condições de adensamento e seu o desempenho técnico enquanto combustível no processo de queima de produtos de cerâmica vermelha. Inicialmente, foram selecionados cinco clones de eucalipto (A1, C3, E5, G7 e R9) em seis diferentes espaçamentos (3 X 0,25; 3 X 1; 3 X 2; 3 X 3; 3 X 5 E 3 X 7), totalizando 30 variáveis respostas. Foi realizado o levantamento da mortalidade de indivíduos com base no banco de dados registrados nos inventários que ocorreram a cada seis meses (2013 - 2019) para estimativa do índice de sobrevivência e produção volumétrica. Para cada tratamento foram colhidas três árvores e amostradas para determinação da densidadebásica, poder calorífico superior, teor de cinzas, materiais voláteis e carbono fixo e com base nos dados obtidos, foi estimada a energia estocada por metro cúbico (m3) e hectare (ha). Foi selecionado o material A1 para o processo de queima em uma indústria de cerâmica vermelha, utilizando-se a espécie Prosopis juliflora como fator comparativo. Dito isso, para a avaliação técnica na queima, adotou-se três tratamentos, com quatro repetições: T1 - 100% Eucalyptus sp., T2 - 100% P. juliflora e T3 - 50% de P. juliflora e Eucalyptus sp. O lenho utilizado foi organizado previamente no pátio em pilhas e suas dimensões mensuradas para obtenção de seu volume em estéreo (st) e determinado seu volume sólido a partir do fator de empilhamento promovido por um gabarito (1m2) ao centro de cada pilha. Para cada repetição foi registrado o número de vezes que o forno foi abastecido com lenha, o intervalo entre os abastecimentos e, finalizada a queima, a porcentagem de peças de primeira qualidade, cruas e quebradas. Considerando-se o uso final da madeira como fonte de energia, o material genético C3 no espaçamento 3 X 1 m, resultou no maior potencial bioenergético (4.085 MJ ha-1) devido ao alto índice de sobrevivência em um espaçamento reduzido. Para o processo de queima, não houve diferenças significativas na qualidade das peças, entretanto observa-se uma redução no consumo de madeira de 10,82% no tratamento T3 e de 44,93% no tratamento T2 em relação ao T1. Palavras-chave: lenha, consumo de madeira, floresta energética, densidade energética, biomassa florestal. 7 GENERAL ABSTRACT __________________________________________________________________________ ENERGY POTENTIAL OF THE WOOD OF EUCALYPTUS CLONES IMPLANTED IN THE NEOTROPICAL REGION OF BRAZIL AND ITS PERFORMANCE AS A BIOFUEL The objective of this work was to investigate the bioenergetic potential of Eucalyptus wood under different density conditions and its technical performance as a fuel in the burning process of red ceramic products. Initially, five eucalyptus clones (A1, C3, E5, G7 and R9) were selected in six different spacings (3 X 0.25; 3 X 1; 3 X 2; 3 X 3; 3 X 5 and 3 X 7) , totaling 30 response variables. A survey of the mortality of individuals was carried out based on the database recorded in the inventories that took place every six months (2013 - 2019) to estimate the survival rate and volumetric production. For each treatment, three trees were harvested and sampled to determine the basic density, higher calorific value, ash content, volatile materials and fixed carbon and based on the data obtained, the stored energy per cubic meter (m3) and hectare (ha). Material A1 was selected for the firing process in a red ceramic industry, using the species Prosopis juliflora as a comparative factor. That said, for the technical evaluation in the burning, three treatments were adopted, with four replications: T1 - 100% Eucalyptus sp., T2 - 100% P. juliflora and T3 - 50% P. juliflora and Eucalyptus sp. The wood used was previously organized in piles in the yard and its dimensions measured to obtain its volume in stereo (st) and its solid volume determined from the stacking factor promoted by a template (1m2) at the center of each pile. For each repetition, the number of times the oven was filled with firewood, the interval between supplies and, after the firing, the percentage of first quality pieces, raw and broken, were recorded. Considering the final use of wood as an energy source, the C3 genetic material in the 3 X 1 m spacing resulted in the highest bioenergetic potential (4,085 MJ ha-1) due to the high survival rate in a reduced spacing. For the firing process, there were no significant differences in the quality of the pieces, however there was a reduction in wood consumption of 10.82% in the T3 treatment and of 44.93% in the T2 treatment in relation to T1. Keywords: firewood, wood consumption, energy forest, energy density, forest biomass. 8 SUMÁRIO __________________________________________________________________________ INTRODUÇÃO GERAL 18 OBJETIVO GERAL 21 REVISÃO DE LITERATURA 22 Exploração madeireira no estado do Rio Grande do Norte e sua destinação energética 22 Bioma Caatinga 22 Prosopis juliflora 22 Biomassa lenhosa residual 23 Demanda Energética no estado do Rio Grande do Norte 24 Qualidade da madeira e seu potencial energético 25 Florestas energéticas 26 LITERATURA CITADA 28 ARTIGO 1 33 RESUMO 34 ABSTRACT 35 INTRODUÇÃO 36 MATERIAL E MÉTODOS 38 Área de estudo e caracterização meteorológica do experimento 38 Determinação da produção volumétrica em madeira 41 Caracterização de parâmetros qualitativos da madeira 41 Energia da madeira estocada por área da plantação 43 Análise dos dados 43 RESULTADOS E DISCUSSÃO 43 Produção volumétrica total de madeira por hectare 43 Parâmetros da madeira para geração de energia 48 Energia da madeira estocada por hectare 51 CONCLUSÕES 53 AGRADECIMENTOS 53 REFERÊNCIAS 54 9 ARTIGO 2 60 RESUMO 61 ABSTRACT 62 INTRODUÇÃO 63 MATERIAL E MÉTODOS 64 Área de estudo e caracterização meteorológica do experimento 64 Teor de Umidade da madeira 65 RESULTADOS E DISCUSSÃO 69 CONCLUSÕES 75 AGRADECIMENTOS 76 LITERATURA CITADA 76 10 LISTA DE FIGURAS __________________________________________________________________________ Figura 1: Principais fontes de biomassa em 2018 para o setor ceramista no Rio Grande do Norte. 25 Figura 2: Consumo médio total de madeira em m3 durante a produção de tijolos. JP = Jurema-preta (Mimosa tenuiflora). 26 Figura 3: Áreas de árvores plantadas no Brasil por estado e por gênero, 2018 26 ARTIGO 1 33 Figura 1. Classificação climática e precipitação média anual do município de Macaíba, RN. a) Classificação climática de Köppen do Brasil; b) Classificação climática de Köppen do estado do Rio Grande do Norte com destaque para o município de Macaíba; c) Média de precipitação, em mm, para o município de Macaíba (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte - EMPARN) 38 Figura 2. Delineamento experimental “sistemático com fator quantitativo contínuo” pertencente ao programa Tolerance of Eucalyptus Clones to Hydric and Thermal Stresses (TECHS/IPEF), localizado no estado do Rio Grande do Norte 39 Figura 3. a) Esquema metodológico estabelecido para a amostragem da madeira das árvores selecionadas por material genético; b) Divisão de discos em cunhas para determinação do poder calorífico superior e teores de cinza, materiais voláteis e carbono fixo (1 e 2) e densidade básica da madeira (3 e 4) 42 Figura 4. Produção volumétrica (m3 ha-1) de madeira de materiais genéticos (A1, C3, E5, G7 e R9) de eucalipto cultivados sob diferentes espaçamentos de plantio aos seis anos de idade em Macaíba, RN 44 Figura 5. Índice de sobrevivência (%) de materiais genéticos de eucalipto cultivados sob diferentes espaçamentos de plantio aos seis anos de idade em Macaíba, RN 45 Figura 6. Produção volumétrica (m3 ha-1) e Incremento Médio Anual (IMA) de madeira de cinco genótipos de Eucalyptus cultivados sob diferentes espaçamentos de plantio aos seis anos de idade em Macaíba, RN 47 Figura 7. Poder Calorífico Superior (A) e Análise Química Imediata da madeira (B) de materiais genéticos de eucalipto aos seis anos de idade cultivados em Macaíba, RN 49 Figura 8. Energia da madeira (MJ) estocada por hectare de materiais genéticos de eucalipto aos seis anos de idade cultivados em Macaíba, RN 52 ARTIGO 2 60 Figura 1. Classificação climática de Köppen do estado do Rio Grande do Norte 65 Figura 2. A) Esquema metodológico estabelecido para a amostragem da madeira nas pilhas de lenha, com o uso de gabarito (1m2) para determinação do volume sólido; B) Pilha de Eucalyptus urophylla demarcada; C) Pilha de Prosopis juliflora demarcada 68 11 Figura 3. A) Consumo médio total de madeira em estéreo (st) e metros cúbicos (m3) durante a queima de cerâmica vermelha (tijolos tipo 19) para os tratamentos: T1 - 100% Eucalyptus urophylla; T2 - 100% Prosopis juliflora;e T3 - 50% de E. urophylla e 50% de P. juliflora; B) Fator de empilhamento (Fe) médio dos tratamentos 69 Figura 4. A) Intervalo de abastecimento e B) Frequência média de abastecimentos dos fornos durante a queima da cerâmica vermelha (tijolos tipo 19) para os tratamentos: T1 - 100% Eucalyptus urophylla; T2 - 100% Prosopis juliflora; e T3 - 50% de E. urophylla e 50% de P. juliflora 71 Figura 5. Índices de qualidade da cerâmica vermelha (tijolos tipo 19) após a queima para os tratamentos: T1 - 100% Eucalyptus urophylla; T2 - 100% Prosopis juliflora; e T3 - 50% de E. urophylla e 50% de P. juliflora 73 Figura 6. Quedas de temperatura dos fornos (<900°C) durante o processo de queima para os tratamentos: T1 - 100% Eucalyptus urophylla; T2 - 100% Prosopis juliflora; e T3 - 50% de E. urophylla e 50% de P. juliflora 74 12 LISTA DE TABELAS __________________________________________________________________________ ARTIGO 1 34 Tabela 1. Características gerais dos genótipos adotados no estudo 41 Tabela 2. Características dos espaçamentos selecionados para o estudo. 41 Tabela 3. Densidade básica da madeira (kg m-3) de materiais genéticos de eucalipto cultivados sob diferentes espaçamentos de plantio aos seis anos de idade em Macaíba, RN. 52 ARTIGO 2 61 Tabela 1. Valores médios de umidade da madeira de Eucalyptus urophylla e Prosopis juliflora utilizadas no estudo. 67 Tabela 2. Volumetria, densidade, biomassa, poder calorífico superior (PCS) e densidade energética da madeira de Eucalyptus urophylla e Prosopis juliflora 72 13 LISTA DE ABREVIATURAS __________________________________________________________________________ ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas APP - Área de Preservação Permanente APNE - Associação Plantas do Nordeste ASTM - American Society for Testing and Materials EAJ - Escola Agrícola de Jundiaí EMPARN - Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte GEEB - Grupo de Estudos em Energia da Biomassa IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IFN - Inventário Florestal Nacional IPEF - Instituto de Estudos e Pesquisas Florestais INT - Instituto Nacional de Tecnologia MFS - Manejo Florestal Sustentável PMFS - Plano de Manejo Florestal Sustentável TECHS - Tolerance of Eucalyptus Clones to Hydric and Thermal Stresses tMS - Tonelada de Matéria Seca UAECIA - Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte 14 Introdução Geral _____________________________ 15 1. INTRODUÇÃO GERAL _________________________________________________________________________ A comercialização de produtos florestais, oriundos do bioma Caatinga, apresenta relevância no Brasil. Na região Nordeste do país, cerca 25% do material utilizado para a produção de energia na indústria e no comércio tem origem na biomassa florestal, tornando a extração de lenha e produção de carvão do bioma geradores de trabalho e renda em aproximadamente 900 mil empregos de forma direta e indireta (GARIGLIO et al, 2010). A demanda por biomassa energética pode ser dividida em três setores: domiciliar, constituído pelo consumo de moradores para cocção de alimentos; comercial, utilizado para produção de alimentos destinada à venda; e o industrial, constituído por empreendimentos que visam a transformação de matéria-prima e/ou produtos semielaborados em bens de consumo (MMA, 2018). Este último setor, no ano de 2015, apresentou concentração superior a 80% em sete ramos: cerâmica vermelha, siderurgia, celulose e papel, padaria, beneficiamento de mandioca, óleos vegetais e gesso (MMA, 2018). No Rio Grande do Norte, a indústria de cerâmica vermelha demanda a maior biomassa dentre os demais setores (SANTOS, 2019). De acordo com dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e Associação Plantas do Nordeste (APNE), estima-se 265 estabelecimentos com consumo médio anual de 474.262 tMS ano-1, totalizando 19% em relação aos demais estados em consumo no mesmo seguimento (MMA, 2018). Com o intuito de suprir a demanda requisitada, o Manejo Florestal Sustentável (MFS), instituído pela Lei Federal nº 11.284/2006, apresenta rotação mínima de 15 anos e visa a produção e manutenção de recursos naturais com base no estoque de volume.Segundo Pareyn (2015), no ano de 2012, a extração de madeira dos 468 Planos de Manejo Florestais Sustentáveis (PMFS’s) ativos no Nordeste tiveram como produtos a lenha, o carvão, a estaca e a madeira para construção civil. Entretanto, a oferta atual de biomassa deste segmento no Rio Grande do Norte assegura apenas 5,8% da demanda do setor cerâmico (LOPES-NUNES et al, 2022). Somado a isso, o período de rotação sofre influência edafoclimática e a destinação da vegetação arbórea em área sob manejo restrita à produção de energia, como ocorre comumente, pode acarretar prejuízos aos consumidores, pois há espécies nativas que apresentam baixas densidades energéticas, de modo que aumenta o consumo de insumos durante a queima e, consequentemente, eleva o custo de aquisição dos produtos primários (SANTOS, 2019). No entanto, sabe-se que, além de lenha proveniente de PMFS, há o uso 16 de outras fontes populares para queima, como podas de cajueiro (Anacardium occidentale L.) e algaroba (Prosopis juliflora Griseb.) obtidas fora de Área de Preservação Permanente (APP). O uso da madeira como fonte energética requer uma caracterização de suas propriedades físico-químicas indicadoras de qualidade. Para produção de bioenergia, pode basear-se em densidade energética, parâmetro resultante da interação entre o poder calorífico e densidade aparente (PROTÁSIO et al, 2011), produção volumétrica (GOMES et al, 2021) e teor de umidade da madeira (PINCELLI e QUEIROZ, 2021). Santos (2019), em seu estudo sobre estoque energético e viabilidade técnica de espécies na queima, constatou que A. occidentale, apesar de possuir baixo valor aquisitivo, apresentou baixos valores energéticos, de modo que aumentava o consumo desse material, elevando o preço final. A implantação de florestas energéticas de Eucalyptus spp. de curta rotação, visando a obtenção de lenha, enquadra-se como alternativa para o suprimento atual. Em 2014, as plantações florestais com esse gênero no Nordeste apresentaram predominância na Bahia (93%) e tiveram como destinação seu uso em serrarias, polpa e papel e energia (MMA, 2018). Além de favorecer a diminuição da pressão sobre florestas nativas, a utilização de eucalipto como lenha pode-se empregar um espaçamento reduzido entre plantas para obtenção de maior densidade populacional com alta produtividade a depender do material genético empregado Seja pelas condições edafoclimáticas e/ou distanciamento de indústrias do setor de polpa e papel e serraria, não há grandes avanços na implantação de florestas em outros estados do Nordeste, embora seja de conhecimento que espécies desse gênero apresentam qualidade físico-química satisfatória para o uso energético. Desse modo, o quadro atual do mercado energético no Rio Grande do Norte apresenta alta demanda energética, oferta de biomassa legal insuficiente e subutilização de espécies inadequadas para a queima. Assim, é fundamental pesquisas com o propósito de apresentar fontes alternativas viáveis à lenha de floresta nativa na produção de energia. . 17 Objetivo Geral ____________________________ 18 2. OBJETIVO GERAL _________________________________________________________________________ Investigar a interação entre a qualidade da madeira oriunda de floresta plantada de Eucalyptus sob diferentes condições de adensamento e o desempenho técnico enquanto combustível no processo de queima de produtos de cerâmica vermelha. Revisão de Literatura 19 3. REVISÃO DE LITERATURA _________________________________________________________________________ 3.1. Exploração madeireira no estado do Rio Grande do Norte e sua destinação energética 3.1.1. Bioma Caatinga O corte da vegetação nativa tem porobjetivo, frequentemente, a extração de lenha para geração de energia, acarretando o aumento na pressão sobre recursos naturais, sobretudo em localidades que apresentam maiores demandas energéticas (SAMPAIO, 2010). Nessa perspectiva, o uso de biomassa florestal consciente se sustenta, dentre outras alternativas, no Manejo Florestal Sustentável (MFS) que visa assegurar a preservação da biota e reduzir o uso indiscriminado dos recursos naturais, proporcionando o gerenciamento dos produtos florestais junto ao retorno financeiro (SILVA, 1996). O manejo florestal na região Nordeste iniciou-se no estado do Rio Grande do Norte em 1982 com a implementação de dois planos de manejo, sem idade mínima de ciclo de corte definida, no município de Mossoró para produção de carvão vegetal (RIEGELHAUPT et al, 2010). Na década de 1990, as capacitações e atividades de extensão, via projetos elaborados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e colaboradores, promoviam a extração de lenha através do manejo sustentável a fim de atender a demanda de bioenergia (RIEGELHAUPT et al, 2010). Hoje, a gestão para o MFS é realizada conforme as diretrizes definidas no Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS) elaborado para cada sítio de exploração. E, conforme os PMFS’s ativos no Nordeste, no ano de 2012, tiveram como finalidade a obtenção de lenha, carvão, estaca e madeira de construção civil (PAREYN, 2015). No Rio Grande do Norte há aproximadamente 2 milhões de hectares de área de caatinga natural (SFB, 2018). De acordo com os Planos Operacionais Anuais (POA’s) autorizados para o ano de 2019, existem 22 PMFS aptos à exploração, totalizando 40.045,10 m3/ano (LOPES-NUNES et al, 2022), o que representa menos de 1% do estoque estadual. Dados obtidos do Inventário Florestal Nacional (IFN) para o estado, constatou-se que 67% dos entrevistados no meio rural durante o projeto (243 indivíduos) fazem uso dos produtos advindos da floresta nativa, destes 100% utilizam em suas residências e 17% no setor comercial. Por meio desse levantamento, os materiais que apresentaram maiores graus de importância foram mourão, estaca e lenha (SFB, 2018). 3.1.2. Prosopis juliflora 20 Prosopis juliflora, comumente conhecida como algaroba, é uma árvore originária do Peru, introduzida no Brasil como alternativa econômica no estado de Pernambuco em 1942 (RIBASKI et al, 2009). A similaridade entre os climas da região nativa e introduzida facilitou sua adaptação nas regiões áridas e semiáridas, por onde se disseminou por todo Nordeste brasileiro. A espécie ocupa grandes áreas em toda a região com estimativas acima de 500 mil hectares no semiárido (LIMA, 2005). Apesar dos benefícios advindos de sua introdução, a ampla disseminação resultou na competição e consequentemente diminuição de diversas espécies nativas, principalmente em matas ciliares (ANDRADE; FABRICANTE; OLIVEIRA, 2009). Além de dificultar o estabelecimento de outras espécies, promovendo sua alta densidade populacional, conhecidas como “algarobais espontâneos”, afetando a diversidade florística local (PEGADO et al., 2006) podendo ser associado a um efeito alelopático (KELWYA; ABDELFATTAH, 2014). Feitosa (2010), analisando a alelopatia sobre espécies nativas da Caatinga, constatou a redução da velocidade de emergência de sementes de Mimosa tenuiflora (jurema-preta) quando submetidas aos tratamentos com folhas de P. juliflora. A espécie apresenta múltiplo uso, com destaque na utilização de sua madeira para forragem e como combustível. Diante disso, se caracteriza como alternativa para a mitigação da exploração da Caatinga na produção energética, sendo amplamente utilizada no setor industrial do estado do Rio Grande do Norte devido a sua ampla distribuição local e rápido crescimento (CIRILO, 2020). Segundo Bezerra (2017), produtores de cerâmica, que utilizam lenha como fonte de combustível no estado, afirmaram que o suprimento de sua demanda era proveniente de vegetação nativa e principalmente de P. juliflora e por poda do Anacardium occidentale (cajueiro). Nessa perspectiva, se por um lado há uma espécie invasora em ampla distribuição que apresenta efeitos alelopáticos, em outro gera retorno econômico, produção de forragem e redução da exploração ilegal da biomassa nativa. 3.1.3. Biomassa lenhosa residual Conforme o Comitê Executivo de Fruticultura do Rio Grande do Norte (COEX) o estado do Rio Grande do Norte é o segundo maior produtor de frutas do país (COEX, 2018). Nesse contexto, dentre as práticas de manejo que favorecem a produtividade em frutíferas, destacam-se as podas como trato cultural. Por meio desta, resulta-se na manutenção de porte, remoção dos ramos doentes e estímulo de material produtivo (ALMEIDA, 2012). Desse modo, espera-se do Rio Grande do Norte, como grande produtor nacional, alta produção de biomassa lenhosa residual. A biomassa residual advindas de podas de frutíferas são comumente utilizadas nas unidades consumidoras de lenha do estado. A espécie A. occidentale, por possuir preço de 21 aquisição acessível em relação à lenha nativa e sua venda sem restrição legal, é amplamente utilizada no setor ceramista. No entanto, a disponibilidade de podas de cajueiro apresenta limitações. Como o produto principal extraído desta espécie é seu pseudofruto, a poda realizada tem como finalidade promover a frutificação em indivíduos velhos e, após seu corte raso, sua substituição ocorre majoritariamente por cajueiro-anão. Assim, a oferta de biomassa tende a se tornar irrelevante para suprir parte do mercado (MMA, 2018). 3.2. Demanda Energética no estado do Rio Grande do Norte As demandas energéticas são registradas pelos setores: domiciliar, constituído pelo consumo para cocção de alimentos; comercial, para produção de alimentos destinados à venda e industrial, constituído por empreendimentos que visam à transformação da matéria-prima e/ou produtos semi elaborados em bens de consumo (MMA, 2018). Dentre eles, o setor industrial se caracteriza como o maior consumidor. No Nordeste, para os estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe, foram identificados 26 ramos e sub-ramos pertencentes ao setor industrial que utilizam biomassa para produção de energia, dos quais apenas oito correspondiam a 80% da demanda. Para o estado do Rio Grande do Norte, destacam-se: as fábricas de cerâmica vermelha ou estrutural, fábricas de gesso, olarias, siderúrgicas, casas de farinha, padaria e pequenas indústrias rurais (APNE, 2013). O setor de cerâmica estrutural viabiliza materiais fundamentais na construção civil como tijolos, telhas, lajotas e blocos; e, por isso, tem seu crescimento relacionado à expansão do mercado imobiliário e obras de infraestrutura no país. Com ampla distribuição no Brasil ele é formado, em maioria, por pequenas empresas familiares (BUSTAMANTE e BRESSIANI, 2000). Para a fabricação de cerâmicas, o Rio Grande do Norte utiliza-se da biomassa vegetal como principal fonte de calor, tornando o setor como o de maior demanda de bioenergia dentre os demais no estado (SANTOS, 2019). Segundo o Ministério do Meio Ambiente (2018) estima-se um consumo médio de lenha de 474.262 tMS ano-1. Dentre as fontes de obtenção de biomassa para este segmento, destacam-se podas de A. occidentale, do qual apresenta oferta potencial para a energia de 2,0 x 106 tMS ano-1; P. juliflora, retirados de algarobais espontâneos com exceção em Áreas de Preservação Permanentes (APP), com oferta potencial para a energia de 4,3 x 104 tMS ano-1 e espécies advindas de PMFS (MMA, 2018). Entretanto, a oferta atual de biomassa legal tem potencial de assegurar apenas 82% da demanda do setor ceramista, sub-ramo do setor industrial (LOPES-NUNES et al, 2022), abrindo margem para a utilização de fontes desconhecidas neste e nos demais setores (Figura 1). 22 Figura 1: Principais fontes de biomassa em 2018 para o setor ceramista no Rio Grande do Norte. Fonte:LOPES-NUNES et al, p. 291 (2022) 3.3. Qualidade da madeira e seu potencial energético Somado à busca por produtos que apresentem melhor qualidade, o conhecimento e padronização dos materiais utilizados no processo induzem ao acréscimo ou decréscimo de custos. A madeira, por ser um material biológico apresenta diversidade, quanto às espécies e heterogeneidade dentro de uma mesma população. Logo, sua caracterização físico-química e anatômica contribui para a melhor destinação de seu uso. Em vista disso, por meio de parâmetros de qualidade da madeira como a densidade básica e poder calorífico, entre outros, podemos inferir sua aptidão para a produção energética (MAGALHÃES et al, 2017). Espécies com baixos valores energéticos apresentam baixo desempenho na produção de energia, de modo que demandam maiores quantidades de lenha na alimentação de fornos, implicando em maiores gastos no produto final. Santos (2019), em seu estudo sobre estoque energético e viabilidade técnica de espécies para a queima, constatou que A. occidentale, apesar de possuir baixo valor aquisitivo, apresentou baixos valores energéticos quando comparada a M. tenuiflora (densidade básica: 0,43 g cm-3 e 0,78 g cm-3; poder calorífico superior: 4671 kcal kg-1 e 4842 kcal kg-1, respectivamente) de modo que houve um aumento de seu consumo em m3 em 51% durante a queima para obtenção de tijolos (Figura 2). Visto isso, na escolha de materiais destinados à queima, é 23 fundamental o conhecimento de suas propriedades para inferir seu potencial e se obter um maior rendimento. Figura 2: Consumo médio total de madeira em m3 durante a produção de tijolos. JP = Jurema-preta (Mimosa tenuiflora). Fonte: SANTOS, p.6 (2021) Para a determinação da qualidade da madeira, a densidade básica é um dos parâmetros utilizados. Ela, por afetar diversas propriedades (SANGUMBE et al, 2019), exerce influência no potencial do material em determinados usos. As variações podem ocorrer dentro de indivíduos de uma mesma espécie, idade de plantio (SANGUMBE et al, 2019), sítio de implantação (MANGINI et al, 2020) e tratos silviculturais (VITAL, 2006). 3.4. Florestas energéticas Majoritariamente localizados nos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul (Figura 3), as plantações de eucalipto no ano de 2019, representaram 77% dos 9 milhões de hectares de florestas plantadas no Brasil (IBÁ, 2020). Com produtividade média de 35,3 m³ ha-1 ano-1, essas plantações tiveram como principais destinações a produção de celulose e papel, comercialização da madeira em toras e siderurgia com carvão vegetal (IBÁ, 2020). Figura 3: Áreas de árvores plantadas no Brasil por estado e por gênero, 2018 24 Fonte: IBÁ, p. 34 (2019) No setor bioenergético, florestas plantadas se destacam em 91% na produção de carvão vegetal para atender uma demanda superior a 130 indústrias que o utilizam em sua produção, tornando o Brasil principal produtor mundial (IBÁ, 2019). No mesmo segmento, relatou-se o consumo de eucalipto como lenha industrial, no ano de 2018, em 47,1 milhões m3 (IBÁ, 2019). Além de favorecer a diminuição da pressão sobre florestas nativas, a utilização de eucalipto como lenha apresenta benefícios como o rápido crescimento e homogeneidade da plantação, com valores energéticos conhecidos. Em uma floresta de eucalipto implantada com destinação a produção de energia, emprega-se a curta rotação com a possibilidade do aproveitamento de troncos inteiros com cascas (GUERRA et al, 2016). Junto a isso, técnicas de manejo para o aumento da produção por área, utiliza-se de um espaçamento reduzido entre plantas. Desse modo, há uma taxa de crescimento superior nos primeiros anos devido à competição por água, luz e nutrientes por indivíduos (PAULESKI, 2010). O desempenho de uma plantação varia de acordo com o material genético empregado, clima e condições do sítio favoráveis (BARIDÓN et al, 2001; BINKLEY, 2017; NEIVA, 2018; PISSININ e SCHNEIDER, 2017; RESQUIN et al, 2019; SOUZA et al, 2017). Dito isso, com o avanço do melhoramento genético, o gênero Eucalyptus destaca-se com resultados satisfatórios em seu desenvolvimento em ambientes distintos para diferentes finalidades (DHAKAD et al, 2018; NOGUEIRA et al, 2018; ROSSI et al, 2017; VERMA et al, 2016). Com ampla distribuição no Sul, Sudeste e parte da Bahia, até o presente não há avanços dessa cultura em outros Estados no Nordeste no Brasil, apresentando como matriz energética predominante a lenha obtida de florestas nativas. 25 4. LITERATURA CITADA _________________________________________________________________________ Almeida, R.F. de. 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Do total foram selecionados cinco clones em seis diferentes espaçamentos de plantio (3 x 0,25; 3 x 1; 3 x 2; 3 x 3; 3 x 5 e 3 x 7), totalizando 30 variáveis respostas. Inicialmente, foi realizado o levantamento da mortalidade de indivíduos com base no banco de dados registrados nos inventários que ocorreram a cada seis meses, entre os anos de 2013 a 2019 e posteriormente, extrapolada pela densidade de plantio (ind ha-1) para estimativa do índice de sobrevivência e produção volumétrica. De cada tratamento foram colhidas três árvores-amostra e dessas foram retirados discos, nas posições de 0% (base), 1,30m, 25%, 50%, 75% e 100% (topo) da altura comercial, para determinação da densidade básica, poder calorífico superior, teor de cinzas, materiais voláteis e carbono fixo. Com base nos dados obtidos, foi estimada a energia estocada por metro cúbico (m3) e hectare (ha). Nas situações em que a plantação foi mais adensada houve maiores percentuais de mortalidade. A densidade da madeira foi superior para o clone R9 (E. urophylla) no espaçamento 3 x 7 m e, de modo geral, houve correlação positiva do aumento da densidade básica da madeira em espaçamentos amplos. Considerando-se o uso da madeira como 32 fonte de energia, o material genético C3 (E. grandis X E. camaldulensis) no espaçamento 3 x 1 m, resultou no maior potencial bioenergético (4.085 MJ ha-1) devido ao alto índice de sobrevivência em um espaçamento reduzido. Desse modo, para a seleção de materiais para fins energéticos na região nordeste, sugere-se o uso de clones adaptados às condições locais a fim de reduzir a taxa de mortalidade e sua implantação em um perfil adensado para maior ganho volumétrico por hectare. Palavras-chave: demanda energética, floresta seca neotropical, bioenergia, biomassa. ABSTRACT The objective of this work was to investigate the bioenergetic potential of wood from different genetic materials of Eucalyptus, at six years of age, implanted under different density conditions, using the analysis of the interaction between volumetric production and wood properties. From the total, five clones were selected in six different planting spacings (3 x 0.25; 3 x 1; 3 x 2; 3 x 3; 3 x 5 and 3 x 7), totaling 30 response variables. Initially, a survey of the mortality of individuals was carried out based on the database recorded in the inventories that took place every six months, between the years 2013 to 2019 and later, extrapolated by the planting density (tree ha-1) to estimate the survival rate and volumetric production. Three sample trees were harvested from each treatment and discs were removed from these at positions of 0% (base), 1.30m, 25%, 50%, 75% and 100% (top) of the commercial height, to determine the density. base, higher calorific value, ash content, volatile materials and fixed carbon. Based on the data obtained, the stored energy per cubic meter (m3) 33 and hectare (ha) was estimated. In situations where the plantation was denser, there were higher percentages of mortality. Wood density was higher for clone R9 (E. urophylla) in 3 x 7 spacing and, in general, there was a positive correlation of the increase in wood basic density in wide spacings. Considering the use of wood as an energy source, the C3 (E. grandis X E. camaldulensis) genetic material in the 3 x 1 m spacing resulted in the highest bioenergetic potential (4,085 MJ ha-1) due to the high survival rate in a reduced spacing. Thus, the selection of material for energy purposes, the use of clones adapted to local conditions is suggested in order to reduce the mortality rate and its implantation in a densified profile for greater volumetric gain per hectare. Keywords: energy forest, energy density, forest biomass, bioenergy. INTRODUÇÃO No estado do Rio Grande do Norte, a procura por madeira para uso como combustível é superior à oferta, se considerarmos a extração vinda de fonte sustentável (Lopes-Nunes et al., 2022). Dentre as cadeias produtivas de maior consumo, o ramo de cerâmica vermelha apresenta destaque (Santos, 2019), visto que o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) e a Associação Plantas do Nordeste (APNE) estimam cerca de 265 estabelecimentos no estado, com consumo médio anual de 474.262 toneladas de matéria seca (tMS) de biomassa para produção energética (MMA, 2018). Em contraponto, a oferta potencial de madeira legal proveniente de fontes distintas como podas de frutíferas, algaroba (Prosopis juliflora) e espécies nativas alcança apenas 82% desse segmento (Lopes-Nunes et al., 2022), abrindo margem para a utilização de fontes desconhecidas neste e nos demais setores. 34 Nessa perspectiva, tem-se a necessidade de pesquisas e estudos que respondam sobre formas alternativas de produção e exploração da madeira, em plantações de ciclo curto e com alta produtividade e adaptabilidade às condições de diferentes sítios. Essa tem sido a realidade em várias regiões do Brasil e do mundo quando se refere à madeira de eucalipto para suprir demandas por bioenergia como combustível pelo setor industrial. Algumas vantagens podem ser observadas ao se adotar essa prática, por exemplo, a diminuição da pressão sobre as florestas nativas, o aumento na produtividade, a maior capacidade de rebrota, a adaptabilidade a diferentes condições de sítios e a homogeneidade da plantação (Dhakad et al., 2018; Nogueira et al., 2018; Rossi et al., 2017; Verma et al., 2016). Em florestas cultivadas para a geração de energia, como as de eucalipto, comumente ocorre o aumento da densidade populacional por meio da redução dos espaçamentos de plantio com o propósito de elevar a produtividade em quantidade de massa em um menor tempo (Magalhães et al., 2017). Contudo, o desempenho de uma plantação varia, também, de acordo com o material genético empregado, o clima e as condições do sítio (Baridón et al., 2001; Binkley et al., 2017; Neiva et al., 2018; Pissinin & Schneider, 2017; Resquin et al., 2019; Souza et al., 2017). Nesse contexto, identificar uma fonte alternativa que possa tornar-se opção para somar ao uso sustentável da madeira proveniente do nordeste brasileiro e que apresente características como ciclo curto de rotação e qualidade energética irá colaborar com aspectos ambientais, sociais e econômicos da região. Assim, o objetivo foi investigar o potencial bioenergético de genótipos de Eucalyptus aos seis anos de idade cultivados sob diferentes condições de adensamento, mediante a interação entre produção volumétrica e qualidade da madeira. 35 MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo e caracterização meteorológica do experimento Este estudo, realizado entre 2012 e 2019, foi conduzido em uma área florestal experimental (sítio 35), componente do Programa Cooperativo “Tolerance of Eucalyptus Clones to Hydric and Thermal Stresses” (TECHS) e coordenado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), no município de Macaíba, Rio Grande do Norte. A área apresenta solo Latossolo Amarelo com textura arenosa (Beltrão et al., 1975) e, conforme Álvares et al. (2013), o município está inserido dentro do clima As (Figura 1). Figura 1. Classificação climática e precipitação média anual do município de Macaíba, RN. a) Classificação climática de Köppen do Brasil; b) Classificação climática de Köppen do estado do Rio Grande do Norte com destaque para o município de Macaíba; c) Média de precipitação, em mm, para o município de Macaíba (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte - EMPARN) 36 Figure 1. Climatic classification and average annual precipitation in the municipality of Macaíba, RN. a) Brazilian Köppen climate classification; b) Köppen climate classification of the state of Rio Grande do Norte, with emphasis on the municipality of Macaíba; c) Average rainfall, in mm, for the municipality of Macaíba (Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte - EMPARN) Durante a implantação do experimento, foi adotada a padronizaçãoda demanda nutricional seguindo o protocolo dos demais sítios experimentais para o preparo e adubação do solo e teve delineamento denominado “sistemático com fator quantitativo contínuo”, como adaptação do delineamento tipo leque proposto por Nelder (1962). Dessa forma, sua distribuição atribuiu-se um valor constante entre linhas de 3 m e aumento gradual de 0,30 m entre plantas dispostas em 27 linhas, totalizando 189 indivíduos. Na delimitação da área útil do experimento, considerou-se bordaduras as duas linhas iniciais mais adensadas e uma linha nas demais extremidades, totalizando 120 indivíduos em 24 linhas de plantio (Figura 2). Figura 2. Delineamento experimental “sistemático com fator quantitativo contínuo” pertencente ao programa Tolerance of Eucalyptus Clones to Hydric and Thermal Stresses (TECHS/IPEF), localizado no estado do Rio Grande do Norte 37 Figure 2. Experimental design “systematic with continuous quantitative factor” belonging to the program Tolerance of Eucalyptus Clones to Hydric and Thermal Stresses (TECHS/IPEF), located in the state of Rio Grande do Norte Foram selecionados cinco materiais genéticos (A1, C3, E5, G7 e R9) sob diferentes condições de adensamento (0,75 m2, 2,1 m2, 4,8 m2, 9,3 m2, 15,6 m2 e 20,1 m2) com base no banco de dados resultante de mensurações realizadas, a cada seis meses, durante seis anos (2013 a 2019), totalizando 30 variáveis respostas. Para a seleção, seguiu critérios como identificação de efeitos às diferentes condições silviculturais (adensamento de plantio) e taxa de mortalidade inferior a 30% nos três primeiros anos da plantação (Tabela 1). Tabela 1. Características gerais dos genótipos adotados no estudo Table 1. General characteristics of the genotypes adopted in the study Clone Genótipoa Clima da região de origema A1 E. urophylla Cwa C3 E. grandis X E. camaldulensis As E5 E. urophylla Cwa G7 E. urophylla Cwa R9 E. urophylla Aw a Binkley et al (2017). Para melhor compreensão dos dados em uma plantação de área útil variável, adotou-se como metodologia a padronização do espaçamento por meio da média de distanciamento entre plantas para cada linha de colheita selecionada (Tabela 2). Tabela 2. Características dos espaçamentos selecionados para o estudo. Table 2. Characteristics of the spacings selected for the study. Área útil por árvore (m2) N° de árvores por hectare Distância (m) Espaçamento padronizado (m)aEntrelinhas Entre plantas 0,75 13.333 3 0,25; 0,25 3,0 x 0,25 2,1b 4.762 3 0,55; 0,85 3,0 x 1,0 38 4,8 2.083 3 1,45; 1,75 3,0 x 2,0 9,3 1.075 3 2,95; 3,25 3,0 x 3,0 15,6 641 3 5,05; 5,35 3,0 x 5,0 20,1 498 3 6,55; 6,85 3,0 x 7,0 a A metodologia empregada por meio da padronização dos espaçamentos não interfere na área útil e número de indivíduos por hectare reais das variáveis respostas; b .3, 0𝑚 × 1, 0𝑚 = 3, 0 × 0,55 + 0,852 Determinação da produção volumétrica em madeira Inicialmente, foi realizado o levantamento da mortalidade de indivíduos com base no banco de dados registrados nos inventários que ocorreram a cada seis meses, desde o período da implantação até a fase do abate e, posteriormente, extrapolada pela densidade de plantio (ind ha-1) para cada tratamento. Em 2019, realizou-se o método destrutivo da cubagem rigorosa, como proposto no projeto do experimento, de acordo com a metodologia de Smalian (Soares et al., 2006). Para tanto, foram mensuradas as secções ao longo do fuste a partir da base (0,1 m do solo); 1 m; 1,3 m; 2 m; 3 m; 4 m; seguido de pontos equidistantes de 2 m até a altura comercial (5 cm) para cada indivíduo. Com os dados obtidos, foram calculados os volumes por secção e somados ao final para a obtenção do volume total do indivíduo. Para a estimativa da produção volumétrica em madeira por hectare, o volume médio das árvores amostras foi extrapolado pela densidade de plantio (ind ha-1) junto ao índice de mortalidade para cada tratamento. O incremento médio anual (IMA) foi determinado a partir da produção volumétrica. Caracterização de parâmetros qualitativos da madeira De cada tratamento foram selecionadas e colhidas três árvores, sob boas condições fitossanitárias e que representavam os indivíduos com diâmetro máximo, 39 mínimo e médio do povoamento. De cada árvore foram retirados discos a partir da base (0,1 m do solo) ou 0%, DAP - diâmetro à altura do peito (1,30 m do solo), 25%, 50%, 75% e 100% da altura comercial de cada indivíduo. Cada disco foi dividido em quatro cunhas opostas (Figura 3), sendo duas encaminhadas para trituração, peneiramento e aclimatação para determinação do poder calorífico superior e teores de cinza, materiais voláteis e carbono fixo conforme adaptação da norma D1762-84 (ASTM, 2019). Para determinação da densidade básica da madeira, as demais cunhas, seguiram a NBR 11941 (ABNT, 2003). Figura 3. a) Esquema metodológico estabelecido para a amostragem da madeira das árvores selecionadas por material genético; b) Divisão de discos em cunhas para determinação do poder calorífico superior e teores de cinza, materiais voláteis e carbono fixo (1 e 2) e densidade básica da madeira (3 e 4) Figure 3. a) Methodological scheme established for sampling the wood of trees selected by genetic material; b) Splitting disks into wedges to determine the higher calorific value and ash, volatile materials and fixed carbon (1 and 2) and wood basic density (3 and 4) 40 Energia da madeira estocada por área da plantação A determinação da energia estocada por hectare (kcal ha-1) foi realizada utilizando-se a Equação 1. (1)𝐸 = 𝑉×𝐷𝐵×𝑃𝐶𝑆 Em que: E = Energia (MJ ha-1); V = Volume do tratamento (m³ ha-1); DB = Densidade básica (kg m-3); PCS = poder calorífico superior (MJ kg-1). Análise dos dados Os tratamentos, pautados em área útil por indivíduo (m2), foram considerados neste estudo como dados qualitativos devido a amplitude de combinações possíveis de arranjos de espaçamentos em relação à área útil (m2) preferida via regressão. Desse modo, a fim de testar a normalidade dos resíduos e homogeneidade das variâncias, os dados obtidos foram submetidos, com auxílio do software R 2.13.1., aos testes Shapiro-Wilk e Bartlett, respectivamente. Posteriormente, realizou-se a análise de variância pelo teste F e suas médias comparadas pelo teste de Tukey a 95% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO Produção volumétrica total de madeira por hectare Conforme a análise da produção volumétrica (Figura 4) ao longo dos anos, as maiores produtividades ocorreram inicialmente nos espaçamentos mais adensados, 3 x 0,25, 3 x 1,0 e 3 x 2,0 m. Logo, os espaçamentos que possuíam a maior densidade de árvores por hectare apresentaram melhor desempenho. Entretanto, após o terceiro ano de idade acontece um decréscimo de volume nos espaçamentos adensados para os clones A1 e E5, ambos de E. urophylla. 41 Figura 4. Produção volumétrica (m3 ha-1) de madeira de materiais genéticos (A1, C3, E5, G7 e R9) de eucalipto cultivados sob diferentes espaçamentos de plantio aos seis anos de idade em Macaíba, RN Figure 4. Wood volumetric production (m3 ha-1) of eucalyptus genetic materials (A1, C3, E5, G7 and R9) cultivated under different planting spacing at six years of age in Macaíba, RN O declínio populacional ao longo dos anos relaciona-se à alta densidade da plantação, que favorece um ambiente competitivo entre indivíduos e ocasiona em maiores percentuais de mortalidade e árvores dominadas (Pauleski, 2010). Somado a isso, a sobrevivência é influenciada pelo material genético de origem que pode ser adaptado às condições do sítio de implantação, favorecendo positivamente. Essa disparidade de resultados entre tratamentos de alta densidade aos 6 anos de idade 42 é correlacionada com a taxa de mortalidade superior a 40% que ocorreu nos tratamentos de com menor produtividade volumétrica (Figura 5). Figura 5. Índice de sobrevivência (%) de materiais genéticos de eucalipto cultivados sob diferentes espaçamentos de plantio aos seis anos de idadeem Macaíba, RN Figure 5. Survival index (%) of eucalyptus genetic material cultivated under different planting spacing at six years of age in Macaíba, RN De modo geral, espaçamentos mais amplos resultaram em maior taxa de sobrevivência em ambos os materiais genéticos enquanto espaçamentos mais adensados resultaram em maior mortalidade ao longo dos anos. O clone A1, entretanto, apresentou baixo índice de sobrevivência em comparação aos demais, 43 apresentando variação de 0% a 64,3% em seus tratamentos, com ausência de mortalidade nos indivíduos do espaçamento 3 x 5. Dentre os clones implantados no experimento, destaca-se o C3 com alto índice de sobrevivência e, como consequência, uma maior taxa de produção volumétrica. Esse resultado pode ser elucidado pelo seu clima de origem (As) ser semelhante ao do sítio de implantação, somado a ter como finalidade a sobrevivência à seca (Binkley et al., 2017). Segundo Reis (2014), esse genótipo apresenta bom desenvolvimento em ambientes com déficit hídrico e uma madeira compatível com o uso energético. Nessa conformidade, fundamenta-se que para além do adensamento de plantio, o material genético selecionado que apresente características aptas à sobrevivência na região pode apresentar melhores resultados. Aos 6 anos de idade, o espaçamento 3 x 1 dos clones E5 e C3 apresentaram produtividade volumétrica superior aos demais, se contrapõe ao valor obtido pelo espaçamento 3 X 0,25 do clone A1, ambos oriundos de plantações mais adensadas, porém de materiais genéticos distintos (Figura 6). Conforme Conti Junior et al. (2020), A1 e C3, apesar de ambos serem considerados adaptáveis a diferentes sítios devido a sua plasticidade, o A1 é indicado para áreas úmidas enquanto o C3 para áreas secas. 44 Figura 6. Produção volumétrica (m3 ha-1) e Incremento Médio Anual (IMA) de madeira de cinco genótipos de Eucalyptus cultivados sob diferentes espaçamentos de plantio aos seis anos de idade em Macaíba, RN Figure 6. Volumetric production (m3 ha-1), and Mean Annual Increment (MAI) of wood from five Eucalyptus genotypes cultivated under different planting spacing at six years of age in Macaíba, RN Com base nos resultados finais do ciclo de crescimento, podemos observar que o IMA variou de 0 a 76,86 m3 ha-1 ano-1, com A1 responsável pelo menor valor e E5 o maior, ambos em espaçamentos adensados. A1, material genético plástico 45 amplamente utilizado em diferentes gradientes do país, mostrou-se abaixo do esperado, ao final do ciclo em um espaçamento reduzido, uma vez que seus espaçamentos, resultaram em um IMA de 6,49 (3 x 1 m) a 43,22 m3 ha-1 ano-1 (3 x 5 m). Almeida et al. (2020) apresentou uma variação de 20 a 80 m3.ha-1 ano-1 de IMA para esse clone em um espaçamento 3 x 3 m, em diferentes regiões de implantação, onde os sítios com valores mais baixos apresentaram menor eficiência do uso de água e correlação negativa com a temperatura e déficit hídrico do solo. Dentro deste cenário, os valores de IMA para o espaçamento 3 x 3 m se assemelham ao encontrado por Câmara et al. (2020) em sítio tropical, no estado de Minas Gerais (Belo Oriente - 43,28 m3 ha-1 ano-1). De modo semelhante, Binkley et al. (2020), observaram uma correlação entre temperatura, precipitação e IMA em materiais genéticos implantados no programa TECHS. Segundo os autores, enquanto um aumento de precipitação foi associado à maior produção de madeira, o aumento 1 °C na temperatura média anual teve como consequência a queda de produção. Parâmetros da madeira para geração de energia Aos 6 anos de idade, o clone R9 apresentou o menor poder calorífico superior (PCS), enquanto os demais clones não apresentaram valores díspares entre si (Figura 7 A). Em contrapartida, maiores flutuações foram observadas nos resultados da análise química imediata. As cinzas (CZ) são os resíduos inorgânicos do combustível após o processo de queima. Para biocombustíveis, altos valores geram maiores taxas de impurezas e perdas energéticas devido a diminuição do poder calorífico (Borges, 2015). Neste estudo, o material E5 se sobressaiu 46 qualitativamente entre os demais, seguido do G7 e R9 (Figura 7 B). De acordo com Brand (2013), valores de CZ abaixo de 5% sãos positivos para uso como fonte de energia; nessa perspectiva, os materiais avaliados podem ser atribuídos para essa finalidade. Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si, a 5% de significância pelo teste Tukey Figura 7. Poder Calorífico Superior (A) e Análise Química Imediata da madeira (B) de materiais genéticos de eucalipto aos seis anos de idade cultivados em Macaíba, RN Figure 7. Higher Heating Value (A) and Immediate Chemical Analysis of wood (B) from six-year-old eucalypts genetic materials grown in Macaíba, RN 47 Variações entre os materiais foram percebidas para o carbono fixo (CF) e materiais voláteis (MV) da madeira. O clone C3 apresentou as maiores taxas de CF enquanto o R9, as menores (Figura 7 B). Já o inverso foi percebido para os valores de MV, sendo o R9 o mais elevado enquanto o C3 apresentou valores inferiores aos demais. O CF comparado ao MV apresentou alterações mais expressivas entre os clones. Essa proporção entre os componentes é relevante na escolha do combustível em decorrência de sua influência na performance do material durante o processo de queima. Madeiras com alto teor de MV, percentual do combustível que se evapora por meio do aquecimento, queimam a uma velocidade superior às madeiras com maior teor de CF, fração do material que permanece em estado sólido (Pereira et al., 2000). Assim, maiores taxas de CF são preferíveis para materiais com finalidade energética. Para a Densidade Básica da Madeira (DBM), no que se refere aos materiais genéticos, apesar de todos diferirem ente si, G7 e R9 obtiveram médias superiores aos demais (Tabela 3). De modo geral, houve o aumento da DBM em espaçamentos amplos. Esta tendência também foi encontrada por Brito et al. (2021) na avaliação de madeira juvenil de três clones de eucalipto em diferentes espaçamentos de plantio. Os resultados apresentados neste estudo, entram em conformidade aos de Santos et al. (2017), ao avaliar um híbrido de Eucalyptus grandis X Eucalyptus urophylla aos 6 anos de idade em 16 espaçamentos de plantio distintos, do qual obteve variação de 441,68 a 492,56 kg m-3. Os autores observaram que a DBM ponderada teve crescimento até o tratamento com 4,95 m2 de área útil por árvore e, a partir dessa área, a densidade se estabilizou. Foi verificado que a DBM variou 48 com a idade e com os espaçamentos, resultando em madeiras de maiores valores nos maiores espaçamentos e maior idade. Tabela 3. Densidade básica da madeira (kg m-3) de materiais genéticos de eucalipto cultivados sob diferentes espaçamentos de plantio aos seis anos de idade em Macaíba, RN. Table 3. Basic wood density (kg m-3) of Eucalyptus genetic materials cultivated under different planting spacing at six years of age in Macaíba, RN. Material genético Espaçamentos de plantio (m) Média (kg m-3)3 x 0,25 3 x 1 3 x 2 3 x 3 3 x 5 3 x 7 A1 394,09 394,09 435,97 407,94 443,96 443,24 419,88 D C3 431,35 444,57 439,43 448,10 482,41 506,40 458,71 B E5 386,70 406,95 443,94 438,57 476,81 468,09 436,84 C G7 465,01 478,15 501,34 515,74 527,19 518,36 500,97 A R9 449,73 461,40 491,99 484,92 536,39 543,91 494,73 A Média (kg m-3) 425,38 c 437,03 c 462,53 b 459,06 b 493,35 a 496,00 a - Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas (entre clones) e minúsculas (entre espaçamentos) não diferem significativamente entre si pelo teste Tukey. Energia da madeira estocada por hectare Em relação ao potencial bioenergético dos tratamentos ao sexto ano, o material C3 no perfil 3 x 1 m apresentou valores superiores aos demais, seguido de queda acentuada em seu estoque energético nos demais tratamentos. Esse resultado é associado à diminuição de seu volume por área tendo em vista que a DBM apresentou maiores resultados em espaçamentos amplos. Destaca-seque apesar da produtividade volumétrica do material E5 no perfil 3 X 1 m ser 4,63% superior ao C3 no mesmo espaçamento, este apresenta valores inferiores em DBM e PCS que ocasiona em um decréscimo de 4,46% em seu potencial energético em relação a variável resposta destaque (Figura 8). 49 Figura 8. Energia da madeira (MJ) estocada por hectare de materiais genéticos de eucalipto aos seis anos de idade cultivados em Macaíba, RN Figure 8. Energy of wood (MJ) stored per hectare of genetic material from six-year-old Eucalyptus grown in Macaíba, RN Em estudo semelhante com o clone P7 (E. urophylla X Eucalyptus brassiana ), em Macaíba, RN, Gomes et al. (2021) constatou uma correlação entre o 50 adensamento de plantio e a DBM. Apesar de espaçamentos adensados propiciaram maiores volumes por hectare, a taxa de mortalidade teve uma interferência superior no cálculo final para estoque de energia que a DBM. Assim sendo, conforme apontado em seu estudo, indicava-se o espaçamento 3 x 3 m na produção de energia para esse material. A partir dessa análise, espaçamentos de plantio mais adensados para materiais genéticos que apresentem menores taxas de mortalidade, são considerados preferíveis à implantação na região do nordeste brasileiro. CONCLUSÕES Na seleção de material para fins energéticos, sugere-se o uso de clones adaptados às condições locais a fim de reduzir a taxa de mortalidade e sua implantação em espaçamento adensado para maior ganho volumétrico por hectare. Nessa perspectiva, o material genético C3 (E. urophylla) no espaçamento 3 x 1 m (2,1 m2), resultou no maior potencial bioenergético da madeira (4.085 MJ ha-1) devido ao alto índice de sobrevivência em espaçamentos reduzidos. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio prestado ao desenvolvimento desta pesquisa por meio da concessão de bolsas de mestrado e iniciação científica. Ao IPEF e à Universidade Federal do Rio Grande do Norte pelo projeto, material e manutenção da floresta experimental. 51 REFERÊNCIAS Almeida, M.N.F.; Vidaurre, G.B.; Pezzopane, J.E.M.; Lousada, J.L.P.C.; Silva, M.E.C.M.; Câmara, A.P.; Rocha, S.M.G.; Oliveira, J.C.L.; Campo, O.C.; Carneiro, R.L.; Alvares, C.A.; Tomazzelo-Filho, M.; Figueiredo, F.M.; Oliveira, R.F. (2020). Heartwood variation of Eucalyptus urophylla is influenced by climatic conditions. Forest Ecology and Management, 458, 1-10. Álvares, C.A.; Stape, J.L.; Sentelhas, P.C.; Gonçalves, J.L.M.; Sparovek, G. (2013). Köppen’s climate classification map for Brazil. Meteorologische Zeitschrift. 22, 6, 711-728. 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