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ALICE NERI DA SILVA SOUSA RIO BRANCO – ACRE 2019 Crescimento e produção de eucalipto na região sudeste do Estado do Acre CARACTERIZAÇÃO DO POTENCIAL ENERGÉTICO DO BIOCARVÃO DA ESPÉCIE Attalea tessmannii (COCÃO) PRODUZIDO NA AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA ALICE NERI DA SILVA SOUSA RIO BRANCO – ACRE 2019 CARACTERIZAÇÃO DO POTENCIAL ENERGÉTICO DO BIOCARVÃO DA ESPÉCIE Attalea tessmannii (COCÃO) PRODUZIDO NA AMAZÔNIA OCIDENTAL BRASILEIRA Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Engenharia Florestal, Centro de Ciências Biológicas e da Natureza, Universidade Federal do Acre, como parte das exigências para a obtenção do título de Engenheiro Florestal. „ Orientadora: Prof. Dra. Keiti Roseani Mendes Pereira Coorientador:Prof. Dr. Francisco Ananias Dias Júnior Aos meus pais e amigos que se mantiveram ao meu lado nesta etapa importante da minha vida Dedico. Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC S725c Sousa, Alice Neri da Silva, 1996 - Caracterização do potencial energético do biocarvão da espécie Attalea tessmannii (Cocão) produzido na Amazônia Ocidental brasileira / Alice Neri da Silva Sousa; orientadora: Drª. Keiti Roseani Mendes Pereira. – 2019. 60 f.: il.; 30 cm. Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Acre, Centro de Ciências Biológicas e da Natureza, Curso de Engenharia Florestal. Rio Branco, 2019. Inclui referências bibliográficas. 1. Bioenergia. 2. Palmeiras. 3. Carbonização. I. Pereira, Keiti Roseani Mendes (orientadora). II. Título. CDD: 631 Bibliotecária: Nádia Batista Vieira CRB-11º/ 882 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus pelo dom da vida e por permitir que eu chegasse ao final da graduação, por ter me dado saúde e sabedoria para lidar com as adversidades durante o caminho. Agradeço à minha família, em especial aos meus pais, Jeane Neri e Carlos Clay, obrigada pelo exemplo de caráter, honestidade e força, por sempre estarem ao meu lado, me incentivarem a estudar e correr atrás dos meus objetivos profissionais, por formarem o meu caráter, me ensinando sempre a ter perseverança e fé diante das circunstâncias. Agradeço aos colegas da graduação que estiveram presentes nessa caminhada, me acompanhando nas disciplinas, atividades de campo, trabalhos em grupo e em momentos de descontração fora da universidade, em especial à Ana Pâmela, Luan Rocha, Santino, Thalyson Maciel, Pedro Henrique, Pedro Lucas, Paloma Izaldino, Maria Rosália, Artur Lopes, Michaela Queiroz, Lair Cristina, Victória Carolina, Rosangela Santos, Adriano Paiva, João Lucas, Janaira Souza, Jordan Felix. Agradeço aos colegas que se tornaram amigos e irmãos, obrigada por aturarem meus dramas, reclamações e por me ouvirem quando foi necessário, em especial à Cintia Rodrigues, Gabriela Matos, Anderson Araújo, Edmundo Junior, Elsilene Thaynara, Elaine Dutra, Jaqueline Lins, Cristaianny Nogueira, Shayra Millena e Anna Bellatriz. Agradeço a todos os professores que me deram aula na graduação por todo conhecimento que me foi passado, em especial aos que foram meus orientadores Henrique Mews, Zenobio Silva, Ananias Junior e Keiti Roseani. Agradeço também ao total apoio da SEMA (Secretaria do Meio Ambiente do Acre) e COOPERMOGNO, em especial ao seu Francisco pela recepção na cooperativa e nas áreas de coleta dos frutos e dona Valéria por ter sido solícita sempre que precisei tirar dúvidas. Agradeço em especial à minha orientadora por todo conhecimento profissional, pelo auxílio e principalmente pela amizade que cresceu entre nós, obrigada pelas conversas, conselhos e brincadeiras. Eu sou carvão! E tu arrancas-me brutalmente do chão e fazes-me tua mina, patrão. Eu sou carvão! E tu acendes-me, patrão, para te servir eternamente como força motriz mas eternamente não, patrão. Eu sou carvão e tenho que arder sim; queimar tudo com a força da minha combustão. Eu sou carvão; tenho que arder na exploração arder até às cinzas da maldição arder vivo como alcatrão, meu irmão, até não ser mais a tua mina, patrão. Eu sou carvão. Tenho que arder Queimar tudo com o fogo da minha combustão Sim! Eu sou o teu carvão, patrão. Grito Negro (José Craveirinha) RESUMO O carvão vegetal utilizando matérias-primas de produtos florestais não- madeireiros contribui para uma produção não destrutiva da floresta, além de incentivar o extrativismo das populações tradicionais das unidades de conservação. O objetivo do presente trabalho foi caracterizar o potencial do biocarvão da espécie Attalea tessmannii produzido em forno do tipo “rabo quente” em diferentes bateladas proveniente da COOPERMOGNO em Tarauacá, Acre. Para isso, foram coletadas amostras de biocarvão de cocão de diferentes carbonizações na COOPERMOGNO. Foram analisados: a densidade a granel, os teores de umidade (TU), materiais voláteis (TMV), cinzas (TCZ) e carbono fixo (TCF) e o Poder Calorífico Superior (PCS), Inferior (PCI) e Útil (PCU). O biocarvão de cocão apresentou densidade a granel de 330Kg/m³. Os teores médios apresentaram TU (4,22%), TMV (5,94%), TCZ (20,65%) e TCF (72,11%). O PCS foi de 7.323,40 kcal/kg, PCI de 7.019,40kcal/kg e PCU de 7.002,99kcal/kg. Valores estes semelhantes aos encontrados na literatura para carvões vegetais de outras matérias-primas. As propriedades avaliadas na análise química e o poder calorífico superior indicaram uma aptidão da espécie Attalea tessmannii para produção de biocarvão, apresentando potencial para comercialização. Palavras-chave: bioenergia, palmeiras, Amazônia; carbonização; produto não madeireiro. ABSTRACT Charcoal using raw materials from non-timber forest products contributes to non- destructive forest production and encourages the extraction of traditional populations from protected areas. The objective of the present work was to characterize the potential of Attalea tessmannii biochar from the hot tail oven in different batches from COOPERMOGNO in Tarauacá, Acre. For this, samples of carbon dioxide from different carbonizations were collected from COOPERMOGNO. We analyzed: bulk density, moisture (TU), volatile materials (TMV), ash (TCZ) and fixed carbon (TCF) and Higher Calorific Power (PCS), Lower (PCI) and Useful (PCU) . The pooping biochar presented bulk density of 330kg / m³. The average contents presented TU (4.22%), TMV (5.94%), TCZ (20.65%) and TCF (72.11%). The PCS was 7,323.40 kcal / kg, PCI of 7,019.40kcal / kg and PCU of 7,002.99kcal / kg. These values are similar to those found in the literature for charcoal from other raw materials. The properties evaluated in the chemical analysis and the higher calorific value indicated an Attalea tessmannii species suitability for biochar production, presenting potential for commercialization. Keywords: bioenergy, palm trees, Amazon; carbonization; non-timber product. LISTA DE FIGURAS Figura 1: A – Indivíduo adulto; B – Plântula; C – Cacho e D – Frutos.......................16 Figura 2: Mapa de localização da COOPERMOGNO no Complexo de Florestas Estaduais do Rio Gregório – CFERG, município de Tarauacá, Acre............................................................................................................................30 Figura 3: A –Transporte dos frutos de cocão utilizando caçoá. B – Frutos após serem cortados ao meio. C – Frutos após a extração da castanha (endocarpo)................................................................................................................31Figura 4: Forno do tipo “rabo-quente”........................................................................31 Figura 5: Partes constituintes do fruto de Attalea tessmannii. ..................................32 Figura 6: Armazenamento dos sacos de biocarvão de cocão em cima de palletes..33 Figura 7: Equipamentos utilizados nas análises: A – Balança analítica de precisão; B –Bomba calorimétrica; C – Dessecador; D – Estufa; E – Forno mufla......................33 Figura 8: A – Medição das dimensões do recipiente para determinação de volume. B – Pesagem biocarvão de cocão embalança mecânica manual.................................35 Figura 9: Cadinho de porcelana e peneiras utilizados no processo de preparo da amostra.......................................................................................................................35 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Carvões vegetais de diferentes tipos de materiais lignocelulósicos quanto ao Teor de umidade (TU) e Densidade a granel. ...................................................... 23 Tabela 2 – Diferentes tipos de materiais lignocelulósicos quanto ao Teor de lignina, de extrativos, de holocelulose e cinzas. .................................................................... 24 Tabela 3 – Diferentes tipos de materiais lignocelulósicos quanto ao teor de carbono (C), oxigênio (O) e hidrogênio (H). ............................................................................ 25 Tabela 4 – Diferentes tipos de materiais lignocelulósicos quanto ao Teor de materiais voláteis (TMV), teor de cinzas(TCZ) e teor de carbono fixo (TCF). ........................... 27 Tabela 5 – Diferentes tipos de materiais lignocelulósicos quanto ao poder calorífico superior (PCS), inferior (PCI) e útil (PCU). ................................................................ 29 Tabela 6 - Tratamentos e períodos de armazenamento do biocarvão de cocão....... 33 Tabela 7 -. Resultados da análise química imediata do biocarvão de cocão. ........... 40 Tabela 8 - Resultados das médias do Poder calorífico superior (PCS), poder calorífico inferior (PCI) e poder calorífico útil (PCU)do biocarvão de cocão. ............. 43 Tabela 9 - Valores comparativos entre poder calorífico superior (PCS) entre a literatura do presente trabalho. .................................................................................. 44 Tabela 10 – Comparação entre o biocarvão de cocão e os carvões vegetais de uso doméstico comercializados nos estados Acre, Santa Catarina, Paraíba, Pará e Mato Grosso. ...................................................................................................................... 47 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 11 1.1. OBJETIVOS DA MONOGRAFIA .................................................................... 14 1.1.1. Objetivo geral ................................................................................................. 14 2. REVISÃO DE LITERATURA........................................................................... 15 2.1. COCÃO (Attalea tessmannii) ........................................................................ 15 2.2. CARBONIZAÇÃO DA BIOMASSA ................................................................. 16 2.3. PALMEIRAS COMO FONTE PARA BIOENERGIA ....................................... 20 2.4. POTENCIAL ENERGÉTICO DO CARVÃO VEGETAL .................................. 22 2.4.1 PROPRIEDADES FÍSICAS .................................................................... 22 2.4.2 PROPRIEDADES QUÍMICAS ................................................................ 23 2.4.3 PROPRIEDADES ENERGÉTICAS ........................................................ 28 3. MATERIAL E MÉTODOS................................................................................ 30 3.1. ÁREA DE ESTUDO ................................................................................. 30 3.2 ETAPAS PARA OBTENÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA PARA PRODUÇÃO DE BIOCARVÃO. ................................................................................................................. 30 3.3PROCESSO DE CARBONIZAÇÃO ........................................................... 31 3.4. ANÁLISE DO BIOCARVÃO ..................................................................... 33 3.4.1 Densidade a granel ........................................................................ 34 3.4.2 Análise química imediata .............................................................. 35 3.4.3 Análise do poder calorífico ........................................................... 37 3.5 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL ......................................................... 38 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 39 4.1.DENSIDADE A GRANEL .......................................................................... 39 4.2. ANÁLISE QUÍMICA IMEDIATA .............................................................. 39 4.3. ANÁLISE DO PODER CALORÍFICO ...................................................... 43 4.4. COMPARAÇÃO DO BIOCARVÃO DE COCÃO COM CARVÕES VEGETAIS DE USO DOMÉSTICO ........................................................................... 45 5. CONCLUSÃO ................................................................................................. 48 6. REFERÊNCIAS ............................................................................................... 49 11 1. INTRODUÇÃO No Brasil, as palmeiras apresentam ampla distribuição, ocorrendo em diversas tipologias florestais. A família Arecaceae tem aproximadamente 189 gêneros e 3000 espécies, destes 29 gêneros e 132 espécies ocorrem no Brasil. (LORENZI et al., 1996). No Acre das 18 tipologias florestais ocorrentes, 12 apresentam palmeiras, abrangendo cerca de 86% do território do estado (ACRE, 2010). As palmeiras produzem uma séria de produtos: alimento (frutos comestíveis, palmitos, óleos), artesanato, fibras, cosméticos e carvão. O IBGE (2013) cita alguns produtos PFNM‟s de palmeiras no Brasil, se destacando entre eles: o fruto do açaí (Euterpe spp.), amêndoa do babaçu (Attalea speciosa), piaçava (Attalea funifera), amêndoa do cocão (Attalea tessmanii), pó e cera de carnaúba (Copernicia prunifera), palmito, buriti (Mauritia flexuosa), ouricuri (Syagrus coronata) e amêndoa de tucum (Astrocaryum vulgare). Podem ser mencionados, fruto e fibra do coco verde (Cocos nucifera), fruto da pupunha (Bactris gasipaes), da bacaba (Oenocarpus bacaba) e patauá (Oenocarpus bataua), entre outros. Hoje o Brasil está entre os países que mais utilizam energias renováveis, e se tratando da bioenergia, um dos produtos que mais se destaca é o carvão vegetal e a lenha. A origem de sua matéria-prima em sua grande maioria é proveniente de florestas energéticas (Eucalyptus e Pinus) ou de resíduos madeireiros de espécies nativas (BRITO; BARRICHELO, 2006). O uso de outras partes da árvore (não madeiráveis) vêm como uma alternativa para diminuir a pressão sobre as florestas nativas, além de ser utilizada como aproveitamento de resíduos que antes não tinham outra destinação senão o descarte, como por exemplo, o endocarpo do babaçu (Attalea speciosa), o caroço do açaí (Euterpe spp.) e o mesocarpo e endocarpo do cocão (Attalea tessmannii). Além disso, é importante salientar que grande parte da produção de produtos não madeireiros são realizadas por populações tradicionais que trabalham com o extrativismo, sendo consolidada uma cadeia produtiva de bioenergia extrativista, esta pode ser incluída nos planos de manejo comunitário e aumentando a renda dessas populações. As palmeiras participam, na sua grande maioria, de economias extrativistas representandouma riqueza para o Brasil e países tropicais. A perspectiva dos 12 biocombustíveis voltado para as palmeiras, abrem possibilidades de se produzir óleos, álcool e carvão de biomassa cultivada. O carvão vegetal é amplamente utilizado para diversos fins, tais como: cocção de alimentos, lareiras, termoelétricas, indústria cimenteira, purificação de água e bebidas, indústria farmacêutica, siderúrgica e metalúrgica, filtros de máscaras contra gases, dentre outros. Em 2012, o consumo atingiu cerca de 33 milhões de metros cúbicos desse insumo, sendo que mais de dois terços desse volume foi destinado às indústrias siderúrgicas e metalúrgicas, sobretudo no Estado de Minas Gerais, que produziu o correspondente a 85% do total de carvão vegetal oriundo de florestas energéticas (5,1 milhões de toneladas), enquanto em florestas nativas, a produção foi inferior com 1,2 milhões de toneladas (BRASIL, 2013; IBGE, 2013; DIAS JÚNIOR et al., 2015). A maioria do carvão vegetal produzido é carbonizado em fornos artesanais, mesmo provenientes de florestas energéticas para escala industrial de produção, essa condição faz com que a qualidade do carvão vegetal se torne duvidosa devido a falta de controle na temperatura durante a carbonização, produzindo um material heterogêneo, diferindo principalmente em densidade, umidade, composição química, friabilidade, resistência mecânica, reatividade e higroscopicidade (COUTINHO; FERRAZ, 1988; ROSA et al., 2012). Além de outros fatores como impurezas, taxa de aquecimento e pressão que também afetam o rendimento e a qualidade do carvão produzido (CARNEIRO et al., 2013). Para ser considerado de boa qualidade para o uso doméstico o carvão vegetal, deve conter: alta densidade relativa aparente; alto teor de carbono fixo; alto poder calorífico; baixa umidade; baixo teor de materiais voláteis e baixo teor de cinzas (RIBEIRO e VALE, 2006). Durante o processo de carbonização, a fumaça contém inúmeras substâncias tóxicas que podem causar câncer, mutações genéticas e desregular o sistema endócrino, considerando este fato, produtos mal carbonizados afetam negativamente a saúde humana do consumidor (PENNISE et al., 2001). O Estado de São Paulo criou uma resolução chamada “Selo Premium de Carvão Vegetal”, a qual atribui requisitos mínimos de qualidade para as características do carvão vegetal para cocção de alimentos e para o atendimento de 13 exigências legais, ambientais e sociais durante a sua produção. Apesar de haver diversos estudos sobre este tema, ainda não há planos estratégicos de controle de qualidade padronizado, nem legislação vigente que estejam voltados para averiguação do carvão através da rastreabilidade, do forno até o consumidor final. (DIAS JÚNIOR, 2018). A escassez de informações do potencial de palmeiras para fins energéticos e falta de pesquisas sobre a espécie Attalea tessmannii referentes à qualidade do biocarvão, mostra a contribuição do presente estudo. 14 HISTÓRICO DA COOPERATIVA COOPERMOGNO A Coopermogno foi criada no ano de 2010, sua sede está situada na BR 364, dentro dos limites da Floresta do Mogno, município de Tarauacá. Atualmente conta com 23 cooperados, são moradores das 3 florestas (FE do Mogno, Rio Liberdade e Rio Gregório). A Cooperativa foi criada com o intuito de apoiar a produção agroextrativista e criar mais oportunidades de beneficiamento e comercialização para os moradores do CFERG e entorno, para ajudar a melhorar a renda e aumentar a oferta de trabalho, sendo alternativa de aproveitamento do potencial dos recursos naturais sem degradar a floresta, principalmente com produtos não madeireiros como o cocão (Attalea tessmannii), farinhas, óleos, dentre outras partes da planta que podem ser usadas. E a longo prazo espera alcançar capacidade de oferecer um bom portfólio de serviços e produtos. Pensando nisso, atualmente a coopermogno está com um projeto de construção da cadeia produtiva do cocão para produção de óleo e carvão do fruto, este projeto está sendo auxiliado pela SEMA e financiado pelo BID, que estão coordenando as atividades da cooperativa, auxiliando em todas as burocracias necessárias para legalização e efetivação deste mercado, além de estruturar a cooperativa com os equipamentos adequados para a produção Por ser a Coopermogno uma iniciativa jovem, ainda não há tantas iniciativas executadas, e este projeto seria uma grande alavanca para obtenção de equipamentos e capacitação de cooperados e corpo técnico, para assim se solidificar no mercado e poder cumprir com os objetivos de criação. Projetos que participaram: SEDENS repassou o dinheiro a Coopermogno que acompanhou e coordenou o georreferenciamento e construção de 70 açudes para piscicultura no CFERG, a SEAPROF ofereceu 40 h de máquina/tratorista, e o produtor beneficiado com o açude oferecia a contrapartida de combustível e alimentação da equipe. 14 1.1. OBJETIVOS DA MONOGRAFIA 1.1.1. Objetivo geral Caracterizar o potencial do biocarvão da espécie Attalea tessmannii para cocção de alimentos produzido em forno do tipo “rabo quente” em diferentes bateladas. 1.1.2. Objetivos específicos Determinar a densidade a granel do biocarvão do cocão; Determinar a qualidade química imediata do biocarvão do cocão; Determinar o poder calorífico do biocarvão do cocão; Comparar as características energéticas do biocarvão do cocão com carvões vegetais para uso doméstico. 15 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. COCÃO (Attalea tessmannii) A espécie Attalea tessmannii Burret, conhecida popularmente por cocão, coco-palmeira, pindobassu, entre outros pertence à família botânica Arecaceae. A. tessmannii é encontrada na Amazônia brasileira (na região do Vale do Juruá estado do Acre e no oeste do Amazonas) e na fronteira com o Peru, inserida em florestas tropicais úmida de terra firme (LORENZI, 2010). O caule da espécie é solitário com indivíduos medindo de 12 a 24 metros de altura e 25 a 46 centímetros de diâmetro. As folhas são pinadas, eretas, em pequeno número com até 10 metros de comprimento e dispostas agrupadas e em diferentes planos. As inflorescências são interfoliares, estaminadas e andróginas na mesma planta. As flores estaminadas são distribuídas em pares e inseridas em espiral ao longo dos ramos florais da inflorescência, ao contrário do padrão comum no qual se inserem somente em um dos lados dos ramos. Os frutos são oblongos, de coloração marrom, medindo de 11 a 15 centímetros de comprimento e de 4,5 a 5,5 centímetros de diâmetro, dotado ou não de perianto quando os frutos maduros caem, contém de 1 a 3 sementes. As sementes são amêndoas inseridas em cavidades rodeadas por uma área livre de feixes fibrosos (LORENZI, 2010). A frutificação ocorre de dezembro a abril quando os frutos maduros caem. Devido a variabilidade genética, a quantidade de cachos por indivíduo e de frutos por cacho são variáveis, podendo ter de 1 a 3 cachos, contendo de 70 a 80 frutos cada. O cocão possui diversas utilidades, suas folhas são utilizadas para cobertura de casas rústicas, as amêndoas são comestíveis e também são utilizadas para extração do óleo que é popularmente utilizado na culinária local. O mesocarpo e endocarpo são carbonizados para produção do biocarvão (LORENZI, 2010). No Complexo de Florestas Estaduais do Rio Gregório, além da extração das amêndoas para produção de óleo (utilizado na culinária) e a torta (resíduo da extração do óleo) para produção de ração animal, também é produzido o biocarvão do mesocarpo e endocarpo do fruto, o qual está se tornando uma cadeia produtiva consolidada, todas essas atividades são realizadas pela cooperativa COOPERMOGNO, organizada por moradores do próprio complexo, os quais também são responsáveis pela coleta e armazenamento dos frutos, além da produção do óleo e do biocarvão. 16 Figura 1: A – Indivíduoadulto; B – Plântula; C – Cacho e D – Frutos. Fonte: a autora (2019). 2.2. CARBONIZAÇÃO DA BIOMASSA A carbonização também chamada de pirólise, combustão ou destilação seca, a qual é um processo físico-químico destrutivo da madeira onde há ruptura da estrutura molecular original em um ambiente sob ação do calor, com pouco ou nenhum oxigênio, ou seja, processo de decomposição química por calor em uma atmosfera não oxidante. Além disso, a carbonização consiste em concentrar o carbono e expulsar o oxigênio, consequentemente aumentando o conteúdo energético do carvão vegetal (BRAGA, 1992; ROCHA e KLITZKE, 1998; FROEHLICH e MOURA, 2014). Para obtenção do carvão vegetal, a matéria-prima passa pelo processo de pirólise em diferentes temperaturas para degradação de seus componentes químicos. Segundo Oliveira et al. (2013) e Brito (1990), esse processo consiste em seis fases: 17 a) Fase 1: fase endotérmica, onde ocorre a secagem da madeira, liberação de vapor dágua em até 200ºC. b) Fase 2: fase endotérmica, ocorre a degradação das hemiceluloses e eliminação de gases, até 275ºC c) Fase 3: fase exotérmica, caracterizada pela degradação da celulose, grande produção e volatilização de gases e formação do carvão vegetal, até 400ºC. d) Fase 4: fase exotérmica, ocorre a redução de emissão de gases, eliminação do restante dos gases voláteis e aumento na concentração de carbono no carvão vegetal, até 500ºC. O método de carbonização está entre os fatores que influenciam na qualidade do carvão vegetal, através da variação de temperatura utilizada no processo, taxa de aquecimento e pressão dentro do forno. Além destes fatores, também podem ser citados, os fatores intrínsecos à matéria-prima como a densidade básica, o teor de umidade e a composição química (TRUGILHO, 2015; FROEHLICH e MOURA, 2014). A carbonização deste produto pode ser feita em diversos tipos de fornos, tais como: a) caieiras que consiste em cavar um buraco no solo preenchendo-o com terra; b) fornos de alvenaria divididos em superfície com ou sem câmara externa, o qual consiste em um forno com copa em formato de abóboda com uma chaminé, de rabo-quente semelhante ao anterior sem a presença de chaminé e de encosta indicado para locais de relevo acidentado se aproveitando do desnível do terreno; c) fornos metálicos os quais podem ser portáteis (dependendo da localização da área de extração da matéria-prima, dos custos de transporte e mão-de-obra), semicontínuo (uso de vários cilindros, enquanto um esfria, o outro é carregado com lenha) e contínuo (retorta) que são cilíndricas câmaras verticais ou horizontais construídas com chapas de aço, de custo elevado que fazem o controle da carbonização e proporcionam a coleta dos gases e do licor pirolenhoso (SANTOS, 2007; ROCHA; KLITZKE, 1998). Mesmo que atualmente haja tecnologia para uso de fornos mais produtivos, nas grandes indústrias produtoras de carvão vegetal, ainda são utilizados fornos artesanais, mesmo que apresentem baixo rendimento gravimétrico e emissões não controladas de gases poluentes para o ambiente. Esse tipo de forno também não há controle e padronização de temperatura na carbonização, o que afeta diretamente na qualidade do produto final. De todo o carvão produzido, 60% são em fornos “rabo 18 quente”, 10% em fornos de superfície, 20% em fornos retangulares e 10% com outras tecnologias, como fornos metálicos (BRITO, 2008). Durante este processo são obtidos três subprodutos: vapores orgânicos condensáveis (alcatrão e licor pirolenhoso) e os gases voláteis não condensáveis. Os compostos condensáveis se separam por decantação, a camada superior é formada por alcatrão e a inferior pelo licor pirolenhoso. O alcatrão apresenta uma coloração preta e aspecto oleoso, onde o creosoto é o constituinte mais importante, sendo mais denso e viscoso que o licor pirolenhoso. Devido a alta quantidade de compostos fenólicos, o alcatrão pode ser utilizado para fins químicos, farmacêuticos, preservativos de madeira (tintas, solventes, vernizes), combustível para cocção, entre outros (ROSA, 2010). No licor pirolenhoso, que se apresenta de forma aquosa e marrom, podem ser encontrados ácido acético, álcool metílico, acetona e alcatrões solúveis dissolvidos, sua aplicação está voltada para a agricultura orgânica, além de adubo também atua como defensivo natural. (ROSA, 2010). Os gases voláteis não condensáveis são formados por monóxido e dióxido de carbono, hidrogênio e hidrocarbonetos, os quais correspondem a aproximadamente 28% dos produtos voláteis. Briane e Doat (1985, conforme citado por Brito 1990). Os gases efluentes podem ser utilizados para melhorar a eficiência térmica do processo de obtenção de carvão vegetal, secagem da madeira, cogeração e diminuição das emissões de gases de efeito estufa (BRAGA, 2010). O carvão vegetal é uma biomassa sólida, sendo uma das fontes energéticas renováveis mais utilizada no Brasil, sua matéria-prima (madeira) pode ter origem de aproveitamento de resíduos da atividade florestal (restos de podas, galhos) ou industrial (costaneiras, resíduos de serrarias e laminadoras, briquetes) de florestas nativas, além de ser originados de florestas energéticas principalmente dos gêneros Eucalyptus e/ou Pinus. Em 2013, foi registrada uma produção nacional de carvão vegetal aproximada de 255,8 mil toneladas, sendo que desse total produzido cerca de 87% no setor industrial (indústria siderúrgica), 9% no setor residencial; 2% no setor comercial e 0,15% no setor agropecuário (MAYER, 2015; MOREIRA, 2011). Pennise et al (2001) constataram que o processo de carbonização libera em sua fumaça mais de 130 substâncias tóxicas, sendo 10 delas classificadas como hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA‟s), que podem causar câncer, mutações genéticas e desregular o sistema endócrino, quando este processo é mal conduzido e a matéria-prima não é carbonizada por completo, permanece em sua 19 estrutura uma alta concentração de materiais voláteis. Quando o carvão vegetal é utilizado na cocção de alimentos, essas substâncias podem contaminá-los através da liberação das substâncias tóxicas citadas (ROSA, 2010). Segundo YERGIN (2007), o carvão é uma espécie de espinha dorsal da economia mundial, pois 40% de toda a eletricidade do planeta tem o carvão como base energética, e o carvão ainda não tem substituto. A região sudeste concentra os maiores produtores de carvão vegetal oriundos de florestas energéticas principalmente para atender as indústrias metalúrgicas e siderúrgicas (MOREIRA, 2011), não existe uma legislação que obrigue as carvoarias uma padronização de qualidade do produto, tendo em vista essa situação, diversos autores como Rosa et al. (2012), Oliveira et al. (2015), Brand et al. (2015), Costa (2016), Basso (2017), entre outros autores, utilizam o Selo Premium de carvão vegetal de São Paulo para comparação de seus estudos, visto que este Selo dá uma noção de qualidade. Ainda não existe uma norma nacional estabelecida para determinar uma padronização de qualidade do carvão vegetal, o Estado de São Paulo criou a resolução n° 40 de 2015, a qual tem o objetivo de estabelecer um Selo Premium para padronizar características de qualidade para o carvão vegetal para uso doméstico, como teores de carbono fixo, materiais voláteis e cinzas, práticas de processamento, faixa de tolerância para tamanho das peças de carvão embalado para carvões oriundos de madeira de florestas plantadas, submetida ao processo de carbonização em fornos especialmente construídos para este fim. Nessa resolução, a umidade do carvão vegetal deve estar abaixo de 5,00%, o teor de carbono fixo (TCF) deve ser maior que 73,00%, teor de materiais voláteis (TMV) e o teor de cinzas devem ser menores que 23,50% e 1,50% respectivamente (ESTADO DE SÃO PAULO, 2015). O carvão vegetal pode ser produzido através devários tipos diferentes de biomassa lignocelulósica, podendo ser citadas a madeira (origem nativa ou plantada), resíduos agroindustriais (cana-de-açúcar, casca de café e de arroz) ou ainda biomassas não madeireiras, como por exemplo, endocarpo de babaçu (PROTÁSIO, 2014). Devido os carvões vegetais serem carbonizados em fornos artesanais, onde há variação de temperatura, a qualidade do produto se torna duvidosa, pois através desse problema, a carbonização produz um material heterogêneo, diferindo principalmente em densidade, umidade, composição química, friabilidade, resistência mecânica, reatividade e higroscopicidade (COUTINHO; 20 FERRAZ, 1988; ROSA et al., 2012). A utilização de biomassas não madeireiras de resíduos agroflorestais é uma solução alternativa viável, pois após processamento do produto inicial, o resíduo dessa atividade apresentar baixo custo em sua obtenção se tornando vantajosa a produção de bioenergia dessa biomassa (MAYER, 2007). Além de contribuir para o menor desperdício no meio ambiente, ainda se torna uma renda extra para o pequeno produtor ou extrativista. O uso de matéria-prima oriundo de resíduo industrial madeireiro, também influencia na qualidade do carvão vegetal, utilizando resíduos de diversas dimensões e de espécies nativas diferentes, produzindo um produto final heterogêneo, que em grande parte contém carvão carbonizado e semicarbonizado, também chamado de “atiços” (OLIVEIRA et al., 2015). O mesmo não ocorre com carvões vegetais oriundos de florestas energéticas, por ser um material homogêneo. 2.3. PALMEIRAS COMO FONTE PARA BIOENERGIA No Brasil estão registradas aproximadamente 300 espécies da família Arecaceae. As palmeiras são utilizadas para alimentação (frutos comestíveis, palmito), óleos, fibras, carvão, bebidas, compostos químicos, artesanato, cosméticos e bioenergia, sendo que a maioria deles é baseada em economias extrativistas (BERNAL, 1997). O IBGE (2013) cita alguns produtos PFNM‟s de palmeiras no Brasil, vem se destacando entre eles, o fruto do açaí (Euterpe spp.), amêndoa do babaçu (Attalea speciosa), piaçava (Attalea funifera), amêndoa do cocão (Attalea tessmanii), pó e cera de carnaúba (Copernicia prunifera), palmito, buriti (Mauritia flexuosa), ouricuri (Syagrus coronata) e amêndoa de tucum (Astrocaryum vulgare). Também podem ser mencionados, fruto e fibra do coco verde (Cocos nucifera), fruto da pupunha (Bactris gasipaes), da bacaba (Oenocarpus bacaba) e patauá (Oenocarpus bataua), entre outros. Dentre as palmeiras, o gênero Attalea apresenta uma grande importância na produção extrativista de óleos, carvão e fibras, sendo específico do continente americano com 35 espécies registradas no Brasil (GOVAERTS; DRANSFIELD, 2005; GUIMARÃES e SILVA, 2012). Os frutos das palmeiras são excelentes fontes de matéria-prima para a produção de carvão vegetal, sendo que a parte com melhor rendimento é o endocarpo (VALERIANO, 1934; ALEN, 1965; ANDERSON, 1979; BALICK, 1985; BONDAR, 1942b; SÁ et al.1977). Com este objetivo, algumas espécies do gênero 21 Attalea são utilizadas para biocarvão, tais como: A. tessmannii (cocão, coco- palmeira), a A. brejinhoensis (ouricuri) e a A. funifera (piaçaveira), devido o tamanho, peso e mesocarpo inexpressivo de seus frutos (GUIMARÃES e SILVA, 2012). No estado do Maranhão, a dificuldade de uso da madeira para lenha e carvão contribuiu para importância do coco do babaçu, inteiro ou quebrado, atendendo o nicho de uso doméstico em substituição do carvão de madeira. O epicarpo é excelente material para queima direta em diversos fins como na geração e vapor e uma fonte de fibras. O mesocarpo, material farináceo, que contém 13,8% de amido, que gera o etanol, além de encontrar aplicação na alimentação animal. O endocarpo fornece carvão de excelente qualidade, tanto para coque como para carvão ativado (VENTURIERI, 2017) No estado do Pará, foram produzidos carvão ativado a partir dos resíduos de casca e caroço de açaí, que antes eram tidos como lixo e descartados. O objetivo deste carvão ativado seria no tratamento da água adequando-a para consumo humano nas regiões ribeirinhas e periféricas, devido as características que o carvão ativado possui na eliminação da cor, odor, mal gosto, remoção de substancias orgânicas e inorgânicas dissolvidas na água (FERNANDES, 2010; PEREIRA, 2013). O endocarpo da Macaúba (Acrocomia aculeata) resíduo gerado no processamento dos frutos, pode ser convertido em carvão vegetal, constituindo-se um sub produto da cadeia produtiva do biodiesel, sendo utilizado na metalurgia, siderurgia ou para a cocção de alimentos/uso doméstico. (FUNDAÇÃO CENTRO TECNOLÓGICO DE MINAS GERAIS, 1983; EVARISTO et al, 2016). Além disso, os frutos da macaúba apresentam frutos com certa semelhança morfológica ao da espécie Attalea tessmannii os quais podem ser comparados do ponto de vista energético. 22 2.4. POTENCIAL ENERGÉTICO DO CARVÃO VEGETAL 2.4.1. PROPRIEDADES FÍSICAS Densidade a granel A densidade representa a quantidade de material lenhoso por unidade de volume, que contribui com um maior número de informações sobre suas características, devido sua relação com a rigidez e resistência do material. (LIMA et al., 2000; VALÉRIO et al., 2008, OLIVEIRA et al., 2007). A densidade é considerada um dos parâmetros mais importantes na determinação da qualidade do carvão vegetal, pois possui uma relação direta com o rendimento da carbonização e eficiência energética (BRAHAN, 2002; BRITO et al., 1982). Conforme Vale et al. (2010), Oliveira et al. (1982) e Brito (1993) existe alta correlação entre densidade básica da madeira e a densidade aparente do carvão, ou seja, quanto maior for à densidade da madeira, mais denso será o carvão vegetal e maior será a massa e a quantidade de energia por unidade de volume desse biocombustível, afetando também em uma velocidade de combustão mais lenta e maior capacidade calorífica (ROSA, 2010). Quanto mais densa for a biomassa, mais denso será o produto final (carvão vegetal) e consequentemente maior será a concentração de carbono fixado (FROEHLICH e MOURA, 2014). Teor de umidade Essa propriedade possui uma relação inversa com a qualidade do carvão vegetal, pois quanto maior a umidade, menor será a energia disponibilizada para o uso na cocção de alimentos. Isso ocorre porque a água absorve parte da energia que o carvão vegetal libera durante a queima, até que seja evaporada totalmente. Então, quanto maior a umidade, mais energia o carvão vegetal irá perder para evaporar toda a água contida na sua estrutura (BRAHAN, 2002). A água é extremamente prejudicial à operação da combustão, o qual provoca perda de calor, aumentando o consumo específico de carbono e diminuindo a resistência do carvão vegetal (MORAIS, 2005). Devido a isso, quanto maior o teor de umidade na biomassa, mais quebradiço e friável será o carvão vegetal (FROEHLICH e MOURA, 2014). 23 De maneira geral, quanto maior a densidade e menor o teor de umidade, melhor será a qualidade do carvão vegetal. Estes dois parâmetros podem ser considerados inversamente proporcionais como descrito por Costa et al. (2017) e Mendonza et al. (2012) (Tabela 1). Porém, tal afirmativa não pode ser considerada em todas as situações, onde resultados encontrados por Oliveira et al. (2019) avaliando carvão vegetal de madeira mista, o teor de umidade não se apresentou inversamente proporcional à densidade, conforme observado na Tabela 1. Tabela 1 – Carvões vegetais de diferentes tipos de materiais lignocelulósicos quanto ao Teor de umidade (TU) e Densidade a granel. Biomassa Teor de umidade (%) Densidade a granel (kg/m³) Autor Madeira mista (Pará) 6,03 0,48 Oliveira et al. (2019) Madeira mista (Mato Grosso) 6,00 0,27 Costa et al. (2017) Pinus tecunumanii 4,26 0,33 Mendoza et al. (2012) 2.4.2. PROPRIEDADES QUÍMICASAs propriedades químicas, assim como as físicas, se relacionam diretamente com o desempenho energético da biomassa. O conhecimento das propriedades químicas elementares micromoleculares (carbono, hidrogênio, oxigênio), macromoleculares (celulose, lignina, hemicelulose, extrativos) e a composição imediata (carbono fixo, material volátil e cinzas) são importantes para utilização da biomassa como fonte de energia, pois influencia o seu poder calorífico (VALE et al., 2011). Composição química elementar As reações que ocorrem durante o processo de carbonização estão relacionadas a degradação dos principais componentes da biomassa: a hemicelulose, celulose e lignina (PINHEIRO et al., 2001). A lignina contribui para a formação de cerca de 50% do carbono fixo na fração sólida. Portanto, materiais com alto teor de lignina são mais apropriados para a obtenção de alta concentração de carbono fixo na fração sólida (ANTAL JR. et al., 1991). Para a produção de carvão 24 vegetal, a madeira deve conter maior teor de lignina e menor teor de holocelulose, bem como maiores densidades (PALUDZYSYN FILHO, 2008; VITAL et al, 2013). De acordo com os estudos de Raad (2004), a holocelulose inicia sua decomposição entre 300 e 400°C, se transformando em fumaça e gerando uma quantidade quase desprezível de resíduo. Já a lignina, apresenta uma maior resistência de decomposição térmica, decompondo sua maior parte acima de 500°C, gerando em torno de 60% de resíduo sólido. Barbosa et al (2019) e Conceição et al (2017) relataram que as palmeiras apresentam maiores teores de lignina e menores teores de holocelulose, em comparação às espécies madeireiras, conforme apresentado na Tabela 2. Tabela 2 – Diferentes tipos de materiais lignocelulósicos quanto ao Teor de lignina, de extrativos, de holocelulose e cinzas. Biomassa Composição química elementar macromolecular Autor Lignina (%) Extrativos (%) Holocelulose (%) Cinza (%) Pinus taeda 27,22 2,93 69,85 - Rigatto et al. (2004) Eucalyptus 17,12 15,88 40,64 1,35 Teixeira et al. (2016) Resíduo de açaí (fibra+caroço) 47,92 16,64 36,13 1,57 Barbosa et al. (2019) Fibra de piaçava 45,93 1,48 53,54 0,76 Conceição et al. (2017) Dendrocalamus giganteus (bambu) 23,28 7,87 - 0,84 Marinho (2012) A utilização da madeira para a bioenergia requer uma caracterização da composição elementar, pois deve-se conter menores quantidades de oxigênio e elevados teores de carbono e hidrogênio, já que estes componentes elementares apresentam correlações diretas com o poder calorífico dessa matéria-prima. Para um alto poder calorífico, a biomassa deve apresentar menor teor de oxigênio e maior teor de hidrogênio (PAULA et al., 2011; PROTÁSIO et al., 2011; HUANG et al., 25 2009; DEMIRBAS & DEMIRBAS, 2004; OBERNBERGER et al., 2006; VALE et al., 2000). De forma geral, os materiais lignocelulósicos são constituídos por: oxigênio (44 %), hidrogênio (9 %) e carbono (50 %), onde o fenômeno da carbonização pode ser explicado e entendido a partir das transformações sofridas por estes três principais componentes (OLIVEIRA, 2003). De acordo com os estudos de Prótásio et al. (2013) e Oliveira et al. (2019), é possível afirmar que a madeira apresenta maior teor de carbono, menor teor de oxigênio e menor teor de hidrogênio do que as biomassas de casca de eucalipto (VISSOTO et al., 2012) e de cana-de-açúcar (VISSOTO et al., 2012), conforme descritos na Tabela 3. Tabela 3 – Comparação de diferentes tipos de materiais lignocelulósicos quanto ao teor de carbono (C), oxigênio (O) e hidrogênio (H). Biomassa Composição química elementar micromolecular Autor C O H Eucalyptus grandis 80,62 13,88 3,16 Protásio et al. (2013) Madeira mista (Pará) 79,52 13,65 3,02 Oliveira et al. (2019) Casca de eucalipto 51,20 - 6,00 Vissoto et al. (2012) Cana-de-açúcar 57,19 36,36 6,10 Vissoto et al. (2012) Composição química imediata A análise química imediata de um combustível fornece a porcentagem de gases volatilizados na carbonização e o material no estado sólido (carbono fixo), bem como o percentual do material residual inorgânico (cinzas) (BRITO & BARRICHELO, 1978). A composição química imediata do carbono vegetal é analisada pelos teores de: umidade, matérias voláteis, carbono fixo e cinzas, que são parâmetros importantes para determinar a qualidade química do carvão vegetal (OLIVEIRA et al., 1982). Essa análise apresenta grande importância para avaliar características adequadas do carvão vegetal, para uso doméstico, onde deve apresentar elevada densidade, alto teor de carbono fixo, alto poder calorífico, baixa umidade, baixo teor 26 de materiais voláteis e baixo teor de cinzas (DIAS JÚNIOR et al., 2015; RIBEIRO e VALE, 2006; ROSA et al., 2012;). Materiais voláteis São substâncias formadas pelos elementos químicos orgânicos (carbono, hidrogênio e oxigênio) e alcatrões formando uma mistura complexa de hidrocarbonetos condensáveis (YANG et al., 2007; AMUTIO et al., 2012), os quais durante o processo de combustão da biomassa são volatilizados se misturando com o oxigênio do ar e promovendo reações de combustão homogênea, importantes nas etapas iniciais da pirólise e combustão, especialmente a ignição (BRAND, 2010; NOGUEIRA e LORA, 2003; PROTÁSIO, 2014). A reatividade na carbonização do carvão vegetal é influenciada diretamente em sua qualidade, através da quantidade de material volátil e seu aumento acarreta em diminuição no percentual de carbono fixo (FROEHLICH e MOURA, 2014). Além disso, o teor de materiais voláteis pode afetar a estrutura do carvão vegetal, pois a porosidade, o diâmetro médio dos poros, a densidade e outras características físicas do carvão podem ser alterados pela eliminação desses gases (OLIVEIRA, 2003; OLIVEIRA et al., 2006). O alto teor de materiais voláteis ocasiona a produção de muita fumaça e menor eficiência energética, característica não desejável para carvão vegetal de uso doméstico (FREDERICO, 2009). O conhecimento do teor de materiais voláteis é essencial para o planejamento das fornalhas e das quantidades de ar necessárias ao bom fluxo dos gases e à combustão adequada da biomassa nos sistemas de conversão energética (GARCIA, 2013; PROTÁSIO, 2014). Cinzas As cinzas são provenientes dos componentes minerais de materiais lignocelulósicos, compostos de P, SiO 2, Al2O3, S, CaO, MgO, K2O e Na2O podem ser prejudiciais no processo siderúrgico de alguns metais e na cocção de alimentos (VITAL et al., 1986; JUVILLAR, 1979; BRITO, 1993). Segundo Protásio et al. (2013), para o teor de cinzas são desejadas menores quantidades no carvão vegetal, pois os minerais não sofrem combustão, gerando resíduos, diminuindo o valor calórico do combustível. 27 Carbono fixo O carbono fixo corresponde à quantidade de carbono presente no carvão vegetal, o qual depende da carbonização e teor de lignina da biomassa, sendo uma das características químicas de maior influência em sua qualificação, uma vez que está diretamente correlacionado com o poder calorífico do combustível (BATAUS et al., 1989; BRITO, 1993; OLIVEIRA et al., 1982). Além disso, um maior teor de carbono fixo acarretará em maior reatividade no processo de combustão, promovendo assim um aumento na estabilidade e resistência térmica do combustível, e consequentemente na qualidade do carvão vegetal. Sendo assim, deve-se priorizar um carvão com maiores teores de carbono fixo e menores teores de materiais voláteis (PROTÁSIO et al., 2013; FROEHLICH e MOURA, 2014). Tabela 4 – Diferentes tipos de materiais lignocelulósicos quanto ao Teor de materiais voláteis (TMV), teor de cinzas (TCZ) e teor de carbono fixo (TCF). Biomassa Composição química imediata Autor TMV (%) TCZ (%) TCF (%) Pinus tecunumanii 32,87 0,49 66,64 Mendoza et al. (2012) Eucalyptus grandis 23,00 0,70 78,00 Protásioet al. (2013) Apuleia leiocarpa (garapeira) 23,45 15,31 61,23 Schoninger e Zinelli (2012) Hymenaea courbaril (jatobá) 22,25 19,85 57,90 Schoninger e Zinelli (2012) Cocos nucifera (endocarpo) 17,60 11,10 71,50 Andrade et al. (2004) Cocos nucifera (coco inteiro) 12,25 8,50 79,25 Andrade et al. (2004) 28 2.4.3. Propriedades energéticas O poder calorífico é a quantidade de energia na forma de calor liberado quando um combustível é carbonizado (JARA, 1989). Os estudos de Çengel (2006) e Figueiredo (2009) acrescentam que o poder calorífico de um combustível é igual ao inverso da entalpia de combustão e que é medido em unidade de energia por unidade de massa: J/kg ou cal/g ou kcal/kg. O poder calorífico possui relação direta com a qualidade do carvão vegetal, quanto maior o seu valor, maior a energia contida no material por unidade de massa, resultando no maior rendimento energético do carvão vegetal (ROSA et al., 2012). Esse é influenciado pela composição química e afetado diretamente pelo teor de umidade da matéria prima. Na indústria siderúrgica são desejáveis maiores valores de poder calorífico, pois refletem em menor consumo do redutor (carbono), em alto-forno, para uma mesma produtividade, garantindo para um mesmo volume de carvão, maior quantidade de calor desprendida durante a combustão (REIS et al., 2012). O poder calorífico é classificado em poder calorífico superior (PCS) e poder calorífico Inferior (PCI), obtendo os dois resultados podemos calcular o Poder calorífico útil (PCU). O poder calorífico superior (PCS) considera o calor de vaporização da água juntamente com o calor do combustível (GENTIL, 2008). Briane e Doat (1985) definem o PCS como sendo o valor em que a combustão se efetua a um volume constante e no qual a água formada durante a combustão é condensada e o calor que é derivado desta condensação é recuperado. O qual é obtido em bomba calorimétrica a partir de um combustível livre de umidade (NASCIMENTO, 2006). A madeira tropical apresenta PCS variando entre 4.171,68 a 5.106,53 kcal/kg (NUMAZAWA, 2000), quando carbonizada, este valor praticamente dobra, variando entre 7.000 e 7500 kcal/kg (DOAT,1977). Estes valores podem ser observados pelos estudos de Protásio et al. (2013), Monteiro et al. (2019), Oliveira et al. (2019) e Costa et al. (2017), conforme observado na Tabela 5. O poder calorífico inferior (PCI) é a energia efetivamente disponível por unidade de massa de combustível após deduzir as perdas com a evaporação de água (JARA, 1989). O PCI é calculado quando descontando-se o calor latente do vapor d‟água durante a combustão (GENTIL, 2008; BRAND, 2010). 29 O poder calorífico útil (PCU) representa a quantidade de energia térmica a ser perdida em virtude da queima do material (BRAND, 2010), o qual se desconta o calor de vaporização da umidade (GENTIL, 2008). Silva (2018) define PCU como sendo a quantidade de calor liberada pela queima, com a água em seu estado gasoso, sendo descontada a energia necessária para evaporar a água referente à umidade da madeira. Desta forma, para Crisp (1999); Lima (2010); Nogueira e Rendeiro (2008) quanto mais seco estiver o material maior será a quantidade de calor disponível para o uso. Devido o PCI e PCU descontarem as perdas por evaporação e a quantidade de energia térmica perdida, respectivamente, ambos se apresentam menores que o PCS, conforme observado na Tabela 5, diferentes tipos de materiais lignocelulósicos de carvões vegetais quanto ao PCS, PCI e PCU. Tabela 5 – Diferentes tipos de materiais lignocelulósicos quanto ao poder calorífico superior (PCS), inferior (PCI) e útil (PCU) do carvão vegetal. Biomassa PSC (kcal/kg) PCI (kcal/kg) PCU (kcal/kg) Autor Eucalyptus grandis 7440,00 7270,00 - Protásio et al. (2013) Madeira mista (Paraíba) 7521,99 7197,99 6984,12 Monteiro et al. (2019) Madeira mista (Pará) 7315,00 7152,00 6666,00 Oliveira et al. (2019) Madeira mista (Mato Grosso) 7479,61 - 6469,50 Costa et al. (2017) 30 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. ÁREA DE ESTUDO A área de estudo e coleta do biocarvão de cocão está localizada na Cooperativa de Produtores Familiares e Economia Solidária da Floresta Estadual do Mogno (COOPERMOGNO), localizada na Floresta Estadual do Mogno (Complexo de Florestas Estaduais do Rio Gregório), município de Tarauacá - Acre (Figura 2). Figura 2: Mapa de localização da COOPERMOGNO no Complexo de Florestas Estaduais do Rio Gregório – CFERG, município de Tarauacá, Acre. O espaço territorial está entre os municípios de Tarauacá e Cruzeiro do Sul, formado por três Unidades de Conservação Estaduais: FES do Rio Liberdade, FES do Mogno e FES do Rio Gregório totalizando uma área de 480 mil hectares. 3.2. ETAPAS PARA OBTENÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA PARA PRODUÇÃO DE BIOCARVÃO Para a coleta dos frutos, seleciona-se a palmeira, realiza-se uma limpeza debaixo da mesma com rastelo. A coleta dos frutos é feita de forma manual, juntando-os do solo com uma luva e transportados em caçoá, que contendo os frutos verdes pode pesar até 50kg. As coletas são realizadas entre os meses de 31 novembro e janeiro (época de queda dos frutos dos cachos). Para regeneração e alimentação dos animais silvestres é recomenda deixar 30% da produção de cocos por palmeira no local da queda dos frutos. Figura 3: A – Transporte dos frutos de cocão utilizando caçoá. B – Frutos após serem cortados ao meio. C – Frutos após a extração da castanha (endocarpo). Fonte: a autora (2019). 3.3. PROCESSO DE CARBONIZAÇÃO O processo de carbonização foi realizada em forno do tipo “rabo-quente”, um processo artesanal de produção de carvão vegetal (Figura 4), onde a carbonização é controlada através da observação visual da densidade e coloração da fumaça liberada pelos orifícios observados na Figura 4. Figura 4: Forno do tipo “rabo-quente”. Fonte: a autora (2019). 32 A biomassa do cocão é adquirida junto aos cooperados, transportados para a sede da CooperMogno. Os frutos do cocão são cortados ao meio e retiradas as amêndoas, usando o restante do fruto o qual são ensacados e armazenados para posterior enchimento do forno (Figura 5). Figura 5: Partes constituintes do fruto de Attalea tessmannii. Fonte: a autora (2019). Com capacidade de 5 toneladas de frutos de cocão o enchimento do forno é feito de forma manual. O tempo de carbonização é de forma empírica, com três dias de processo de carbonização com monitoramento pela coloração da fumaça e entre cinco e sete dias para esfriamento do forno. Os meses de carbonização utilizados no presente estudo estão atrelados a coleta do cocão e também ao tempo de duração de todo processo, além de considerar o fato de que a cooperativa utiliza somente um forno para produção deste biocarvão. Após resfriamento do forno, o carvão foi retirado de forma manual, com auxílio de uma pá, ensacados e armazenados para posterior venda (Figura 6). 33 Figura 6: Armazenamento dos sacos de biocarvão de cocão em cima de palletes. Fonte: a autora (2019). 3.4. ANÁLISE DO BIOCARVÃO DO COCÃO Para a caracterização do biocarvão de cocão utilizou-se amostras provenientes de quatro carbonizações em períodos diferentes (Tabela 6), coletadas somente após armazenamento. Foram avaliados: a densidade a granel, análise química imediata do carvão (teor de umidade, teor de materiais voláteis, teor de cinzas e teor de carbono fixo) e o poder calorífico (poder calorífico superior, inferior e útil). Figura 7: Equipamentos utilizados nas análises: A – Balança analítica de precisão; B – Bomba calorimétrica; C – Dessecador; D – Estufa; E – Forno mufla. Fonte: a autora (2019). 34 Tabela 6: Tratamentos e períodos de armazenamento do biocarvão de cocão. TRATAMENTO ÉPOCA DE CARBONIZAÇÃO PARTES DO FRUTO T1 DEZ/2017 Endocarpo T2 JUN/2018 Endocarpo T3DEZ/2018 Endo+mesocarpo T4 AGO/2019 Endo+mesocarpo 3.4.1 DENSIDADE A GRANEL A densidade a granel “bulk density” é obtido através do peso do carvão contido em uma caixa de 1 m³. O peso total subtraído do peso da caixa consiste no peso do carvão, por m³. Para a determinação da densidade a granel do biocarvão vegetal de cocão, adaptou-se a metodologia indicada por Protásio et al. (2011), o qual consistiu em utilizar um recipiente com dimensões 55,0 x 35,5 x 29,5cm e pesadas em balança mecânica manual. O resultado da densidade a granel foi obtido através da relação entre a massa e o volume do recipiente, conforme equação 1: . (1) Onde: P1: Peso da amostra + recipiente (g) P2: Peso do recipiente (g) V: Volume do recipiente (cm³) 35 Figura 8: A – Medição das dimensões do recipiente para determinação de volume. B – Pesagem biocarvão de cocão em balança mecânica manual. Fonte: a autora (2019). 3.4.2 ANÁLISE QUÍMICA IMEDIATA A análise química imediata do carvão vegetal do cocão foi realizada no Laboratório de Química e Biodiesel da Universidade Federal do Acre – Campus Rio Branco, conforme a American Society for Testing and Materials – ASTM D1762-84 (ASTM, 2013). Para a realização das análises, as amostras foram maceradas em cadinho de porcelana com auxílio de um pistilo e passadas em peneiras de 40 e 60 mesh, obtendo 2g de amostras retidas na peneira de 60 mesh (Figura 9). Figura 9: Cadinho de porcelana e peneiras utilizados no processo de preparo da amostra. Fonte: a autora (2019). 36 Teor de umidade O teor de umidade (TU) das amostras para cada tratamento, as amostras foram secas em estufa à temperatura de 105°C ± 5°C por duas horas, após esse período obteve-se o peso seco e determinou-se o TU conforme a equação 1. (2) Onde: TU = teor de umidade (%); m1 = massa úmida (g); m2 = massa seca (g). Teor de materiais voláteis Para a determinação do teor de materiais voláteis (TMV) utilizou-se as amostras secas em estufa, onde a mufla foi aquecida a temperatura de 950°C. As amostras foram postas em cadinhos de porcelana com tampa, inicialmente com temperatura da mufla de 300°C, os cadinhos permaneceram na porta da mufla por 2 minutos, depois postos na entrada da mufla à 500°C, permanecendo por 3 minutos. Por último, os cadinhos permaneceram dentro da mufla, com a porta fechada, por um período de 6 minutos. Após todo o procedimento, as amostras permaneceram no dessecador até o resfriamento, logo depois pesadas para obtenção do TMV conforme a equação 3. (3) Onde: TMV = teor de materiais voláteis (%); m2 = massa seca (g); m3 = massa final proveniente da mufla (g). Teor de cinzas As análises do teor de cinzas (TCZ) utilizou-se as amostras provenientes da análise de teor de materiais voláteis, essas foram postas na mufla a temperatura de 750° C por seis horas. Após esse período, as amostras permaneceram no dessecador até o resfriamento, logo depois pesadas para determinação do TCZ conforme a equação 4. 37 (4) Onde: TCZ = teor de cinzas (%); m2 = massa seca (g). m4 = massa de cinzas (g). Teor de carbono fixo O teor de carbono fixo foi determinado a partir dos resultados obtidos das análises do TMV e TCZ, utilizando a equação 5. (5) Onde: TCF = teor de carbono fixo (%); TMV = teor de materiais voláteis; TCZ = teor de cinzas. 3.4.3 ANÁLISE DO PODER CALORÍFICO O poder calorífico superior foi determinado por meio de uma bomba calorimétrica conforme o procedimento descrito na ASTM D5865 – 13 (ASTM, 2013) As amostras retidas na peneira de 60 mesh foram secas em estufa a 103 ± 2 °C até massa constante, então pesou-se aproximadamente 0,70 g do material para cada tratamento. A análise foi realizada no Laboratório de Energia da Biomassa, Departamento de Ciências Florestais e da Madeira, UFES – campus de Jerônimo Monteiro usando uma bomba calorimétrica modelo IKA C200. A determinação do poder calorífico superior (PCS) baseia-se na queima da amostra de carvão vegetal na bomba calorimétrica, contendo oxigênio e submersa em um determinado volume de água. O número de unidades de calor liberadas é calculada pela exata observação da elevação da temperatura, resultante da combustão. O poder calorífico inferior (PCI) é o calor necessário para combustão do material, desconsiderando o calor para vaporizar a água (ROCHA; KLITZKE, 1998), sendo obtido através da equação 6. (6) 38 Onde: PCI: Poder calorífico inferior (kcal/kg); PCS: Poder calorífico superior (kcal/kg). O poder calorífico útil (PCU) é a energia gasta para evaporar a água presente na biomassa (DONATO et al., 2015). O PCU foi calculado conforme a equação 7. (7) Onde: PCI: Poder calorífico inferior (kcal/kg); TU: teor de umidade (%). 3.5 DELINEAMENTO EXPERIMENTAL Os dados dos resultados foram anotados em uma tabela para geração de uma planilha de Excel. A análise estatística foi realizada através do programa ACTION 2.9. Na avaliação dos dados, utilizou-se delineamento inteiramente casualizado com 3 repetições por tratamento, os tratamentos que apresentaram diferenças significativas pelo teste F (p≤ 0,05), as médias foram comparadas pelo teste Turkey (p≤ 0,05). 39 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. Densidade a granel Os resultados obtidos para densidade a granel do biocarvão de cocão foi de 330Kg/m³. Esse resultado está dentro das variações exigidas pelo Selo Premium (São Paulo, 2010), que estabelece que a densidade a granel esteja acima de 200kg/m³ . Protásio et al. (2013) avaliando a densidade a granel do carvão de babaçu obtiveram 340Kg/m³, resultados também satisfatórios ao que exige o Selo Premium. O biocarvão do cocão apresentou resultados próximos aos encontrados por vários autores quando verificada marcas comerciais de carvão vegetal para uso doméstico, podendo ser citados os estudos de Rosa et al. (2012) que apresentou densidade aparente aproximada de 370kg/m³ e Costa (2016) com densidade entre as marcas variando de 230 kg/m³ e 270kg/m³. No estudo de Brito et al. (1982) analisando as características do carvão vegetal de espécies oriundas de florestas energéticas, observaram valores mais baixos dos que os encontrados neste trabalho, Pinus spp (177,5 kg/m³), Eucalyptus spp (190 kg/m³) e Acácia negra (227,5 kg/m³). A elevada densidade do carvão vegetal é altamente positiva diante das principais aplicações industriais e domésticas, pois além de significar maior concentração de material útil, poderá resultar também em maior resistência física do produto (BRITO, FILHO e SALGADO, 1987). 4.2. Análise Química Imediata Na Tabela 7 são apresentados os resultados obtidos do teor de umidade (TU), teor de materiais voláteis (TMV), teor de cinzas (TCZ) e teor de carbono fixo nos diferentes tratamentos do biocarvão de cocão. Os teores de umidade não apresentaram diferenças estatisticamente significativas. Com exceção do T3 - T2018b (5,94%), os outros tratamentos se enquadram nos parâmetros de exigência de qualidade do Selo Premium (Estado de São Paulo, 2010), que estabelece como satisfatórios teores de umidade menores do que 5%. Reis et al. (2015), encontraram médias dos teores de umidade de 6,18% para carvão vegetal do coco de babaçu, teores próximos aos encontrados por 40 Barreto et al. (2012) avaliando o carvão do endocarpo de babaçu que foi de 6,25%, resultados estes semelhantesaos do presente trabalho. O cocão e o babaçu são frutos de palmeiras do mesmo gênero botânico Attalea e apresentam morfologia e densidades a granel semelhantes, diferenciando-se somente em seu tamanho, podendo assim justificar a semelhança de seus teores de umidade (TU). Tabela 7. Resultados da análise química imediata do biocarvão de cocão. Tratamento Análise química imediata TU (%) TMV(%) TCZ(%) TCF(%) T1 (T2017) 3,82a 4,84b 24,68a 70,48a T2 (T2018a) 3,97a 3,97b 19,11a 71,73a T3 (T2018b) 5,94a 6,53ab 22,30a 71,17a T4 (T2019) 3,14a 8,44a 16,51a 75,05a Os resultados apresentados de TMV variam entre 3,97 e 8,44%, se enquadrando nos parâmetros de exigência de qualidade do Selo Premium (Estado de São Paulo, 2010), que estabelece que os teores de materiais voláteis menores que 23%. Embora um baixo TMV seja desejado no carvão vegetal para o consumo doméstico, visando a menor quantidade de substâncias tóxicas liberada durante o preparo de alimentos, Brahan (2002) considera um problema para a ignição que será dificultada pela baixa quantidade presente no carvão destes materiais voláteis. Em estudos realizados por Griessacher, Antrekowitsch e Steninechner (2012) e Protásio (2014) em carbonização de biomassa de babaçu obtiveram teores de materiais voláteis (TMV) entre 5 e 8% em carbonizações de temperatura variando entre 650 e 850ºC, semelhante ao presente estudo. Protásio (2014) também observou diminuição de TMV com o aumento da temperatura e estabilização em temperaturas superiores a 650ºC. Os TMV apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos avaliados, o T4 - T2019 apresentou maior valor dentre as bateladas analisadas e o T2 - T2018a o menor valor (Tabela 7). A falta de padronização da temperatura de carbonização nas diferentes bateladas é um dos fatores que influência na grande variação dos TMV no presente estudo. Silva, Barrichelo e Brito (1986), avaliando as 41 temperaturas finais de carbonização dos resíduos do coco de babaçu, descreve que o aumento da temperatura de carbonização influencia diretamente nos valores de TMV, havendo uma diminuição desses teores em temperaturas acima de 450ºC. Na Tabela 7, observa-se que os tratamentos 1 e 2, diferenciaram estatisticamente do tratamento 4, sendo o tratamento 3 similar a todos os tratamentos. A diferença da composição dos frutos do cocão foi claramente identificada, onde os frutos utilizados na batelada do T1 - T2017 e T2 - T2018a, continham somente o endocarpo (TMV 4,84% e 3,97%) e os utilizados no T4 por serem frutos mais novos, apresentaram mesocarpo e endocarpo (TMV 8,44%). Observa-se que em relação à carbonização de frutos, os seus componentes influenciam diretamente no TMV. Neste caso, os melhores valores encontrados no T1 - T2017 e T2 - T2018a podem ser explicados pela presença somente de endocarpo. Como descreve Teixeira (2008), o endocarpo é o componente do fruto mais importante para produção de carvão vegetal, devido ao seu aspecto químico diferenciado em relação aos teores de lignina e carbono dos demais componentes do fruto. Como podem ser visualizados na Tabela 7, os resultados dos teores de cinzas (TCZ) variaram entre 24,68 e 16,51% não se enquadrando nos parâmetros de exigência de qualidade do Selo Premium (Estado de São Paulo, 2010), que estabelece que os teores de cinza menores do que 1,5% para que o carvão vegetal seja considerado de qualidade. O teor de cinzas é relacionado com a composição química da matéria-prima assim como todo procedimento de preparo e manuseio para obtenção do carvão vegetal. VIEIRA (2012) descreve que a argila, a areia e sais que possam estar presentes na superfície da biomassa e como também solos misturados ao carvão vegetal durante da retirada do forno ou ensacamento, possam a vir interferir em elevados teores de cinzas. No caso dos frutos de cocão, os mesmos são coletados diretamente do solo da floresta e não passam por processamento de lavagem antes de serem carbonizados, o que pode ter interferido em teores de cinzas mais elevados. Protásio (2014) com o carvão de babaçu que apresentou TCZ variando entre 5 a 8% entre as temperaturas de 450 e 750ºC. Reis et al. (2015) identificaram TCZ para coco de babaçu de 3,61% e para resíduos de serraria de 2,24%. No estudo realizado por Carvalho Jr (2010), o TCZ do carvão vegetal de Bambusa vulgaris foi 42 de 4,29%. Todos apresentando valores médios de TCZ bem menores que os observados no presente trabalho. Entre os estudos de qualidade de carvão vegetal produzido com outras biomassas, observa-se valores mais altos de teores de cinzas (TCZ). Vale et al. (2011), avaliando o carvão vegetal de pinhão manso (Jatropha curcas), encontraram teores altos de cinzas, para os carvões do epicarpo (25%) e da torta (10,43%). Os mesmos autores afirmaram que TCZ acima de 7% são considerados elevados e que esses estão relacionados com a presença de minerais provenientes da abubação química do solo. Miranda (1989) atribuiu valores elevados de TCZ para as espécies de leucena, catingueira e pereiro, à temperatura final de carbonização e também as condições edafo-climáticas da região semi-árida, onde apresentam solos ricos em cálcio e potássio. Os valores para os teores de carbono fixo (TCF) apresentaram-se não significativos entre os tratamentos, variaram de 70,48% a 75,05%. Comparando os resultados de TCF com os parâmetros de exigência de qualidade do Selo Premium (Estado de São Paulo, 2010), que estabelece 73%, somente o T4 - T2019 apresentou valores satisfatórios com os exigidos, que foi de 73%. Resultados semelhantes de TCF em estudos de qualidade do carvão vegetal de madeira foram encontrados Anater (2017) com TCF médio de 74,95%. Por outro lado, os valores médios de TCF dos demais tratamentos foram superiores aos encontrados por Oliveira et al. (2015) com valores de TCF médio de 68,21% e Brand et al. (2015) com TCF médio de 65,17%. Os valores observados para o biocarvão do cocão foram mais próximos aos encontrados por Protásio (2014) em temperaturas mais baixas. O mesmo autor avaliando a carbonização laboratorial do coco babaçu (fruto completo) sob a temperatura de 450ºC e temperaturas acima de 650ºC, obteve TCF de 73% e de 85%, respectivamente, mostrando a influência da temperatura no TCF. O teor de carbono fixo mais elevado permite prolongar o tempo de queima do combustível nos equipamentos destinados à conversão energética. Isso poderá resultar no acréscimo da eficiência do uso do calor produzido pelas reações de oxidação do carvão (PROTÁSIO, 2014). . 43 4.3 Poder calorífico Na tabela 8 podem ser observados os resultados de poder calorífico superior (PCS), poder calorífico inferior (PCI) e poder calorífico útil (PCU) nos diferentes tratamentos do biocarvão de cocão. Tabela 8. Resultados das médias do Poder calorífico superior (PCS), poder calorífico inferior (PCI) e poder calorífico útil (PCU) do biocarvão de cocão. Tratamento PCS (kcal/kg). PCI (kcal/kg). PCU (kcal/kg). T1 7.326,84b 7.022,84b 7.018,48b T2 7.132,06c 6.828,06c 6.824,43c T3 7.332,09b 7.028,09b 7.024,02b T4 7.502,62a 7.198,62ª 7.145,03a Os resultados do biocarvão de cocão apresentaram PCS médio de 7.323,40 kcal/kg, PCI médio de 7.019,40 kcal/kg e PCU médio de 7.002,99 kcal/kg. Neves et al. (2011) avaliando a qualidade do carvão vegetal de clones de eucalipto em duas localidades, encontraram PCS médio de 7.643,3 e 7.665,3 kcal/kg, valores estes próximos aos encontrados no presente trabalho. Protásio et al (2013), também avaliando a qualidade do carvão vegetal de clones de eucalipto, também obtiveram valores próximos de PCS médio, variando de 7.290 a 7.440 kcal/kg, aproximadamente. Medeiros Neto et al (2012) avaliando o carvão vegetal das espécies Catingueira e Pau d‟arco do semiárido brasileiro, encontraram valores menores de PCS médio de 6.247,80e 6.977,40 kcal/kg, respectivamente. Logo, pode-se considerar que o biocarvão de cocão possui potencial energético similar. No estudo de Evaristo et al. (2016) avaliando o potencial energético do fruto da macaúba, encontrou que o PCS 7859,0 kcal/kg é maior para endocarpo do que em epicarpo (7464,0 kcal/kg), apresentando valores maiores que no presente estudo. Devido a semelhança morfológica da macaúba com o cocão, pode-se inferir que se o cocão fosse carbonizado somente o endocarpo, seu potencial de poder calorífico seria mais alto. Na Tabela 9 podem ser observados os resultados de poder calorífico superior (PCS) do biocarvão de cocão comparando com os valores encontrados na literatura para diversas biomassas. 44 Tabela 9. Valores comparativos entre poder calorífico superior (PCS) entre a literatura e o presente trabalho. Biomassa Tipo PCS (kcal/kg). Fonte Cocão Meso+endocarpo 7.323,40 Trabalho atual Babaçu endocarpo 6.926,53-7.165,38 Protásio (2014) Pinhão manso epicarpo 3.954,00 Vale et al. (2011) Pinhão manso torta 6.234,00 Vale et al. (2011) Pinus acícula 6.611,25 Mûniz et al.,(2014) Coco (500°C) casca 7.067,45 Padilha et al., (2018) Bambu colmo 6.102,51 Campos (2017) Eucalipto híbrido (7 anos) Madeira reflorestada 7.193,00 Soares et al., (2014) T. serratifolia (500°C) Madeira nativa 7.762,00 Nobre et al., (2012) Como pode ser observado na Tabela 9, somente o estudo de Nobre et al. (2012) com Tabebuia serrafolia apresentou maior PCS, mas os estudos de Protásio (2014) utilizando babaçu, Padilla et al. (2018) utilizando coco e Campos (2017) utilizando bambu, ambos carvões de biomassas alternativas apresentaram valores altos e semelhantes com os do presente trabalho. Quando se compara o PCS do carvão dessas biomassas com o PCS do carvão de madeiras, é possível dizer que ambos possuem o mesmo potencial energético, já que as florestas energéticas em geral utilizam o eucalipto, o qual apresentou valor semelhantes aos demais citados no estudo de Soares et al. (2014) estudando híbrido de eucalipto com 7 anos de idade. Como o poder calorífico está diretamente ligado ao potencial de qualidade do carvão vegetal, seu alto teor influencia no aumento do tempo de ignição e de carbonização necessário para produção do carvão (BRAND et al., 2013; FURTADO et al., 2012; REIS et al 2015). 45 4.4 COMPARAÇÃO DO BIOCARVÃO DE COCÃO COM CARVÕES VEGETAIS DE USO DOMÉSTICO A Tabela 10 apresenta os resultados comparativos do biocarvão do cocão com demais carvões vegetais para uso doméstico comercializados nos estados Acre, Santa Catarina, Paraíba, Pará e Mato Grosso. Diversos autores estudando carvões vegetais de madeira para uso doméstico também encontraram valores próximos aos descrito no presente trabalho, podendo ser citados Costa et al.(2017) estudando marcas comercializadas em Cuiabá – MT (TU variando entre 4,0 e 6,0%), Brand et al. (2015) avaliando a qualidade de marcas comercializadas na região serrana do sul de SC (TU com valores médios de 7,64%) e Oliveira et al (2019) avaliando marcas comercializadas no sudeste do Pará (TU médio de 6,14%), conforme Tabela 10. O TMV e TCZ encontrados no presente trabalho foram inversos quando comparado a todos os estudos citados na Tabela 10, exceto para Sousa et al. (2019) avaliando o carvão vegetal oriundo de resíduos madeireiros que obtiveram valores semelhantes. O carvão vegetal, por apresentar características higroscópicas, o tipo de armazenamento influencia diretamente no TU, podemos perceber que os demais trabalhos apresentam maiores teores de umidade em relação ao presente trabalho, mesmo a região amazônica apresentando alta umidade relativa do ar (URA), o armazenamento está sendo realizado de forma adequada pela cooperativa, em ambiente seco, fechado e sem contato direto com o chão. O presente trabalho apresentou valores similares para o TCF (72,11%) com os estudos Oliveira et al. (2019) avaliando as marcas A, B e C comercializadas no Pará, com TCF de 72,83, 80,91 e 78,11%, respectivamente. No estudo de Costa et al. (2017) avaliando carvões comercializados em Cuiabá – MT das marcas 4 e 7, obtiveram TCF de 76,46 e 85,69%, respectivamente. Enquanto, no estudo de Brand et al. (2015) avaliando marcas de matéria-prima de espécies mistas, eucalipto, acácia negra e mistura de eucalipto com bragatinga, os TCF encontrados se mostraram inferiores ao do presente trabalho com valores de 68,79%; 66,85%; 63,43% e 58,12%, respectivamente. 46 De acordo com os valores de PCS do biocarvão do cocão, esses foram semelhantes aos estudos de Brand et al. (2015) avaliando a espécie acácia negra (7.448,0kcal/kg), e superiores a marca comercializada de matéria-prima de madeira mista com PCS de 4.301,0kcal/kg e da marca com mistura de eucalipto com bragatinga com PCS de 4.736,0kcal/kg. Costa et al. (2017) avaliando as marcas 4 e 7 em Mato Grosso, encontraram valores de PCS 7.230,43 e 7.479,61kcal/kg, respectivamente, semelhantes ao presente estudo. Baseado em todos os resultados é possível afirmar que o biocarvão de cocão possui alto potencial energético para o uso em cocção de alimentos. 47 Tabela 10 – Comparação entre o biocarvão de cocão e os carvões vegetais de uso doméstico comercializados nos estados Acre, Santa Catarina, Paraíba, Pará e Mato Grosso. Local de comercialização Matéria-prima TU (%) TMV (%) TCZ (%) TCF (%) PCS (Kcal/kg) Fonte Acre Cocão 4,22 5,94 20,65 72,11 7.323,40 Trabalho atual Acre Resíduos madeireiros 9,17 3,20 29,77 57,85 - Sousa et al. (2019) Eucalipto 8,21 29,26 3,89 66,85 7.944,0 Brand et al. (2015) Acácia Negra 7,00 35,76 0,81 63,43 7.448,0 Santa Catarina Madeira mista 8,59 27,67 3,44 68,79 4.301,0 Eucalipto e bragatinga plantada 6,78 39,47 2,42 58,12 4.736,0 Paraíba Madeira mista - - - - 7.655,75 Monteiro et al. (2019) Madeira mista - Marca A 6,11 24,95 2,22 72,83 7.020,0 Pará Madeira mista - Marca B 6,03 17,38 1,71 80,91 7.450,0 Oliveira et al. (2019) Madeira mista - Marca C 6,27 19,31 2,58 78,11 7.375,0 Mato Grosso Madeira mista - Marca 4 4,00 21,23 2,31 76,46 7.230,43 Costa et al. (2017) Madeira mista - Marca 7 6,00 11,56 2,75 85,69 7.479,61 SELO PREMIUM - >5,00 >23,5 >1,5 <73 - - 48 5. CONCLUSÃO De acordo com os resultados apresentados no presente trabalho, o biocarvão de cocão apresenta potencial energético para uso na cocção de alimentos já que possui baixos teores de umidade e materiais voláteis e altas densidade, teor de carbono fixo e poder calorífico, e como ponto negativo, o produto apresenta alto teor de cinzas. Dessa forma, se faz necessária a avaliação e controle da temperatura do processo de carbonização no forno utilizado pela cooperativa a fim de padronizar as bateladas afim de resultar em um material de melhor qualidade. Além disso, se faz necessária a realização de estudos que visem o aproveitamento dos gases condensáveis e não condensáveis e atribuir utilização para estes sub produtos, aprofundamento da caracterização deste biocarvão e comparação com outros carvões existentes no mercado. 49 6. REFERÊNCIAS ACRE. Governo do Estado do Acre. Programa Estadual de Zoneamento Ecológico Econômico Fase II: documento Síntese – Escala 1:250.000. Rio Branco: SEMA. 2010. ALLEN, P. H. Palms in Middle América. Principes, v. 9, p. 44-48, 1965. ANATER, M. J. N. Qualidade do carvão vegetal para uso doméstico comercializado em Curitiba. 2017. 74 f. Dissertação (Mestrado em Bioenergia) - Universidade Federal do Paraná, Paraná. 2017. AMUTIO, M. et al. Influence of temperature on biomass pyrolysis in a conical spouted bed reactor. Resources, Conservation and Recycling, v. 59, p. 23-31, 2012. ANDERSON, A. Reconnaissance trip to Brasil. Manuscript. (Memo to Jack Ewel from author, University of Florida, Gainesville). 8p. 1979. ANDRADE,
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