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GERONIMO JOSÉ BOUZAS SANCHIS PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À SÍNDROME DA DOR PATELOFEMORAL EM ESCOLARES DE NATAL – RN NATAL/RN 2020 GERONIMO JOSÉ BOUZAS SANCHIS PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À SÍNDROME DA DOR PATELOFEMORAL EM ESCOLARES DE NATAL – RN Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Saúde Coletiva, Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Orientador: Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira Natal/RN 2020 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Alberto Moreira Campos - -Departamento de Odontologia Sanchis, Geronimo Jose Bouzas. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal/RN / Geronimo Jose Bouzas Sanchis. - Natal, 2020. 65 f.: il. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Natal, 2020. Orientador: Prof. Dr. Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira. 1. Síndrome da dor Patelofemoral - Dissertação. 2. Adolescentes - Dissertação. 3. Epidemiologia - Dissertação. I. Oliveira, Angelo Giuseppe Roncalli da Costa. II. Título. RN/UF/BSO BLACK D585 Elaborado por MONICA KARINA SANTOS REIS - CRB-15/393 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer o apoio e dedicar esta obra aos meus familiares e amigos. Especialmente aos meus pais, Pablo Bouzas e Maria de los Desamparados Sanchis, aos meus irmãos, Manuel, Francisco e Siddartha Bouzas. Aos meus amigos do grupo “Assuntos Acadêmicos”, que incentivaram sempre a realização deste mestrado. Mais especificamente ao Dr. Johnnatas Mikael Lopes e Ms. Sanderson José Costa de Assis, que me ajudaram com a concretização do estudo. As alunas voluntárias, Ana Karoline e Christiane, que me ajudaram na coleta dos dados nas escolas. Ao meu amigo que fiz neste programa, Ms. Sávio Gomes e ao meu orientador Dr. Angelo Roncalli, pelos conhecimentos fornecidos. E por fim, a minha namorada Romena Catão, cuja me incentivou e me apoiou desde a seleção do mestrado até o momento atual. RESUMO Objetivo: Estimar a prevalência e analisar os fatores relacionados à Síndrome da dor Patelofemoral (SDPF) em escolares de ambos os sexos, entre 10 e 18 anos, matriculados no ensino público fundamental e médio do município de Natal/RN. Métodos: A pesquisa teve caráter exploratório descritivo, transversal e quantitativo realizada no município de Natal-RN. Foi avaliada a presença da SDPF, o nível de atividade física, a qualidade do movimento, o índice de massa corporal (IMC), o tipo de pé, o nível de dor e o comprometimento funcional. As prevalências foram calculadas a partir do desenho complexo de amostragem com a inclusão dos pesos e efeitos de cluster. Para a análise de associação, foram calculadas as Razões de Prevalência (RP) ajustadas e os respectivos intervalos de confiança (95%) do desfecho em relação às variáveis independentes e adotado um nível de significância de 5%. Resultados: Participaram da pesquisa 144 escolares, 51,4 % (IC:41,6 – 61,1) da amostra tem o sexo masculino. Foi observada uma prevalência de 29,7% (IC:21,5 – 39,4) da SDPF. No modelo ajustado a SDPF foi mais prevalente no sexo feminino (p = 0,02) (RP: 1,82 IC: 1,0 – 3,0), nos indivíduos ativos (p = 0,02) (RP:2,3 IC: 1,13 – 4,9), nos jovens abaixo do peso (p = 0,03) (RP: 1,9 IC:1,0 – 3,6). Quando avaliados por sexo, os homens apresentaram uma associação positiva entre a pobre qualidade do movimento do membro direito (p: 0,01) (RP: 6,0 IC: 1,3 – 26) e o desfecho e o sexo feminino obteve uma associação com a presença do valgo dinâmico do joelho esquerdo (p: 0,03) (RP: 2,4 IC:1,0 – 5,8). Conclusões: A prevalência da SDPF foi maior no sexo feminino, em jovens ativos, e com baixo peso, ao mesmo tempo, a pobre qualidade do movimento foi associada aos jovens homens com a síndrome e a presença do valgo dinâmico do joelho nas jovens. Palavras-chave: Síndrome da dor Patelofemoral, adolescentes, pé plano; epidemiologia. ABSTRACT Objective: To estimate the prevalence and analysis the factors related to patellofemoral pain syndrome (PFPS) in schoolchildren of both genders, between 10 and 18 years old, enrolled in public elementary and high school in the city of Natal / RN. Methods: The research had an exploratory, descriptive, transversal, and quantitative character carried out in the city of Natal- RN. The presence of PFPS was evaluated, as well as the level of physical activity through IPAQ, the quality of movement, body mass index, navicular drop test, pain level and Kujala questionnaire. The prevalence was calculated from the complex sampling design with the inclusion of weights and cluster effects. For an association analysis, adjusted Prevalence Ratios (PR) and the confidence intervals (95%) of the outcome in relation to the independent variables were calculated and a significance level of 5% was adopted. Results: 144 students participated in the research, 51.4% (CI: 41.6 - 61.1) of the sample is male. A prevalence of 29.7% (CI: 21.5 - 39.4) of PFPS was observed. In the adapted model, the PFPS was more prevalent in females (p = 0.02) (PR: 1.82 CI: 1.0 - 3.0), in physical active (p = 0.02) (PR: 2, 3 CI: 1.13 - 4.9), in underweight youth (p = 0.03) (PR: 1.9 CI: 1.0 - 3.6). When obtained by sex, men associated a positive association between poor quality of movement of the right limb (p: 0.01) (PR: 6.0 CI: 1.3 - 26) and the outcome and the female sex obtained an association with the presence of the dynamic valgus of the left knee (p: 0.03) (PR: 2.4 CI: 1.0 - 5.8). Conclusions: The prevalence of PFPS was higher in females, in active young people, and with low weight, at the same time, the poor quality of movement associated with young male people with the syndrome and the presence of dynamic knee valgus in young women. LISTA DE FIGURAS Figura 1. Diferença entre a pelve feminina e masculina .......................................................... 16 Figura 2. Anatomia da articulação do joelho ............................................................................ 19 Figura 3. O ângulo Q. ............................................................................................................... 20 Figura 4. Avaliação da qualidade do movimento. .................................................................... 29 Figura 5. Mapa com a distribuição das escolas pesquisadas. Na segunda camada, os setores censitários. Fonte: dados da pesquisa com o uso do Google Maps e arquivos KMZ do IBGE. .................................................................................................................................................. 35 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Músculos e funções – Quadro adaptado de Floyd, et al (2016). ............................. 17 Quadro 2. Características das variáveis estudadas. .................................................................. 32 Quadro 3. Relação das escolas avaliadas e informações referentes a localização......................32 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Estimativas populacionais das principais variáveis categóricas estudadas. Natal/RN. 2020. ......................................................................................................................................... 36 Tabela 2. Relação da SDPF com as variáveis independentes do estudo. Amostra = 144. Estimativas de Razãode Prevalência obtidas por Regressão Múltipla de Poisson. Natal/RN, 2020 .......................................................................................................................................... 39 Tabela 3. Relação da dor com as variáveis independentes do estudo. Amostra = 144. Estimativas de Razão de Prevalência obtidas por Regressão Múltipla de Poisson. Natal/RN, 2020 .......... 41 LISTA DE ABREVIATURAS ESC. Escola EST. Estadual PROF. Professor PROFA. Professora ARQ. Arquiteta LISTA DE SIGLAS CEP Comitê de ética em pesquisa EVA Escala visual da dor IMC Índice de Massa Corporal IPAQ Questionário Internacional de Atividade Física LSD Lateral Step-Down Test MD Membro direito ME Membro esquerdo MMII Membros inferiores OA Osteoartrose PPT Probabilidade Proporcional ao Tamanho RM Ressonância magnética RP Razão de prevalência SDPF Síndrome da dor patelofemoral SUS Sistema Único de Saúde TALE Termo de assentimento livre e esclarecido TCLE Termo de esclarecimento livre e esclarecido TQN Teste da queda do navicular adaptado VD Valgo dinâmico do joelho Sumário 1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................................................14 2 REVISÃO DA LITERATURA ...............................................................................................................................16 2.1 ANÁTOMO FISIOLOGIA DO MEMBRO INFERIOR.....................................................................................................16 2.2 BIOMECÂNICA E CINEMÁTICA DO JOELHO ...........................................................................................................20 2.3 A SÍNDROME DA DOR PATELOFEMORAL .............................................................................................................21 2.5 2.5 SAÚDE PÚBLICA, EPIDEMIOLOGIA E A SÍNDROME DA DOR PATELOFEMORAL ..........................................................23 3 OBJETIVOS .....................................................................................................................................................25 3.1 OBJETIVO GERAL .....................................................................................................................................25 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ..........................................................................................................................25 MÉTODO ...........................................................................................................................................................26 4.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA ..............................................................................................................26 4.2 PLANO AMOSTRAL ..................................................................................................................................26 4.3 PROCEDIMENTO ......................................................................................................................................27 4.3 VARIÁVEIS ...............................................................................................................................................27 4.3.1 Nível de Atividade física ..................................................................................................................27 4.3.2 Avaliação do pé ...............................................................................................................................28 4.3.3 Flexibilidade da cadeia muscular posterior .....................................................................................28 4.3.4 Lateral Step-Down test ....................................................................................................................28 4.3.5 Valgo dinâmico ...............................................................................................................................30 4.3.6 Índice de Massa Corporal ...............................................................................................................30 4.3.7 Maturação Sexual ............................................................................................................................30 4.3.8 Escala Visual da dor ........................................................................................................................31 4.3.9 Questionário Kujala ........................................................................................................................31 4.4 DESCRIÇÃO, TIPO E CATEGORIAS DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS..................................................................31 4.6 COLETA DOS DADOS ................................................................................................................................32 4.7 ANÁLISE DOS DADOS ...............................................................................................................................33 4.8 ASPECTOS ÉTICOS ....................................................................................................................................33 RESULTADOS .....................................................................................................................................................34 DISCUSSÃO .......................................................................................................................................................44 CONCLUSÕES ....................................................................................................................................................48 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................................49 APÊNDICES ........................................................................................................................................................53 ANEXOS.............................................................................................................................................................63 Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 14 1 INTRODUÇÃO A Síndrome da dor Patelofemoral (SDPF) é uma das formas mais comuns de dor no joelho (SMITH et al., 2018) e é normalmente descrita como uma dor não específica, insidiosa, que acomete a parte anterior do joelho ou uma dor difusa peripatelar e/ou retropatelar. Os indivíduos apresentam os sintomas geralmente ao subir e descer escadas, ao permanecer por muito tempo sentado, ao saltar, ao agachar e também após a realização de exercício físico (CROSSLEY et al., 2016; LIPMAN; JOHN, 2015). A SDPF é uma doença crônica e ocorre ao longo da vida, pode acometer desde crianças pequenas até indivíduos sedentários mais velhos. Foi observado que a maior prevalência da SDPF aparece entre os 12 e 19 anos de idade, variando entre o nível de atividade física e o ambiente (WILLY, et. al., 2019) e tem sido encontrada e estudada, principalmente, em jovens atletas do sexo feminino, atletas de elite, e em militares (CALLAGHAN; SELFE, 2007; SMITH et al., 2018). Apesar da patogênese ser considerada multifatorial, a relação entre os possíveis agentes causadores da doença não é esclarecida. Recentemente, Powers, et al (2017) enfatizou a complexidade da etiologia e propôs um modelo mostrando os potenciais alterações na carga da articulação femoropatelar, havendo uma sobrecarga na articulação que ocorre ao descarregar o peso. Os fatores desencadeantes da patologia no adolescente ainda são incertos, alguns fatores tem sido associados à SDPF, como alterações biomecânicas (HERRERO-HERRERO et al., 2017; NAKAGAWA et al., 2012a; REIMAN; BOLGLA; LORENZ, 2009), alterações musculares específicas (NAKAGAWA et al.,2012a), um alto nível de atividade física (WAITEMAN et al., 2017), e alterações na articulação do tornozelo-pé (NAKAGAWA; PETERSEN, 2018). Por conseguinte, sabe-se que a SDPF provoca no adolescente um impacto profundo em sua vida, muitas vezes reduzindo a sua capacidade funcional nas atividades esportivas, atividades físicas (CROSSLEY et al., 2016), limitando ou interrompendo as atividades cotidianas e, consequentemente, reduzindo também o desempenho acadêmico e a sua qualidade de vida (STOVITZ, et al. 2008; WAITEMAN, et al. 2017). Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 15 Estudos populacionais envolvendo a SDPF raramente são descritos na literatura e, aliado a isso, a avaliação conjunta dos fatores intrínsecos e extrínsecos que podem estar associados à síndrome não é bem descrita na literatura. Ao mesmo tempo, os estudos recentes em adolescentes se limitam a populações especificas, como jovens atletas, não sendo estudada síndrome na população geral. Dessa maneira, o presente estudo busca avaliar a prevalência da SDPF em escolares de um município do nordeste brasileiro, e a associação entre os fatores intrínsecos e extrínsecos. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 16 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Anátomo fisiologia do membro inferior Os membros inferiores (MMII) estão sujeitos a grandes forças que são geradas pelo contato do pé com o solo. Ao mesmo tempo, são responsáveis pela locomoção e sustentação de peso. Eles são compostos, basicamente, pela pelve, coxa, perna e pé, e é composta por quatro articulações, a articulação coxofemoral, joelho, tornozelo e pé. O quadril realiza um importante papel na locomoção, na transmissão de forças entre os membros inferiores e os superiores. E se dá através da cintura pélvica a sustentação do corpo, ao mesmo tempo que oferece mobilidade aos membros inferiores (DESILVA; ROSENBERG, 2017; FLOYD, 2016). A articulação coxofemoral é composta pela cabeça do fêmur e o acetábulo, é uma articulação estável devido a sua arquitetura óssea, contem fortes ligamentos e grandes músculos de sustentação, ela é uma articulação esferoide e possui três graus de liberdade, ou seja, realiza os movimentos de flexão-extensão, rotação lateral e medial e abdução-adução (DE SILVA; ROSENBERG 2017; FLOYD; 2016; HAMILL, et. al.; 2016). Já a pelve é a que apresenta mais diferenças entre os sexos na população geral. As mulheres apresentam quadril mais largo e mais leve quando comparadas ao sexo masculino, como também a pelve feminina se expande à frente e apresenta o sacro mais largo na parte de trás, favorecendo a passagem da bebê ao nascer (DE SILVA; ROSENBERG 2017; HAMILL, et. al.; 2016). Figura 1. Diferença entre a pelve feminina e masculina Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 17 Fonte: https://br.pinterest.com Além disso, para a realização dos movimentos, essa articulação sofre influência de 28 músculos do tronco e da coxa se inserem ao redor dela (HAMILL, et. al.; 2016). Diante disso, podemos destacar a influência dos principais músculos (Quadro 1), como o glúteo máximo, que se destaca por ser o principal músculo que realiza o movimento de extensão do quadril e rotação lateral, o glúteo médio que atua na abdução do quadril e a rotação medial, o reto femoral que, no quadril, realiza a flexão e auxilia no movimento de abdução (HAMILL, et. al.; 2016). Quadro 1. Músculos e funções – Quadro adaptado de Floyd, et al (2016). Músculo Principal (is) Ação (ões) Reto femoral Flexão do quadril Extensão do joelho Sartório Flexão do quadril e joelho Rotação lateral da coxa Abdução do quadril Pectíneo Flexão do quadril Adução do quadril Rotação lateral do quadril Adutor curto Adução do quadril Rotação lateral com adução do quadril Auxilia na flexão do quadril Adutor magno Adução do quadril Rotação lateral com adução do quadril Extensão do quadril Adutor longo Adução do quadril Auxilia na flexão do quadril Grácil Adução do quadril Auxilia na flexão do quadril Rotação medial do quadril Rotação medial fraca do joelho Semitendineo Flexão do joelho Extensão do quadril Rotação medial do quadril Rotação medial do joelho flexionado Semimembranáceo Flexão do joelho Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 18 Músculo Principal (is) Ação (ões) Extensão do quadril Rotação medial do quadril Rotação medial do joelho Bíceps femoral Flexão do joelho Extensão do quadril Rotação lateral do quadril Rotação lateral do joelho Glúteo máximo Extensão do quadril Rotação posterior da pelve Rotação lateral do quadril Glúteo médio Abdução do quadril Rotação lateral da pelve para o lado ipsilateral Fibras anteriores: rotação medial do quadril Fibras posteriores: rotação lateral do quadril Fibras anteriores: flexão do quadril Fibras anteriores: rotação anterior da pelve Fibras posteriores: extensão do quadril Fibras posteriores: rotação posterior da pelve Glúteo mínimo Abdução do quadril Rotação medial do quadril com o fêmur abduzido Flexão do quadril Tensor da fáscia lata Abdução do quadril Flexão do quadril Rotação medial do quadril à medida que ele flexiona Piriforme Rotação lateral do quadril É importante ressaltar a angulação do colo do fêmur, é o ângulo do colo do fêmur com a diáfise do fêmur no plano frontal. Esse ângulo é aproximadamente 125º. É através desse ângulo que se classifica o tipo de coxa, por exemplo, uma coxa valga é quando o ângulo é superior que 125º, e uma coxa vara é quando o ângulo é inferior a 125º (HAMILL, et. al.; 2016). Já com relação a articulação do joelho, ela é composta por, principalmente, três articulações entre a parte distal do fêmur, parte proximal da tíbia e a patela, e realiza movimentos em flexão-extensão, caracterizando-a como uma articulação em gínglimo (FLOYD; et al. 2016; CHHABRA; ELLIOT, MILLER; 2001). Além disso, a altura dos Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 19 côndilos femorais é assimétrica, o côndilo medial se projeta mais distalmente quando comparado ao côndilo lateral. Por seguinte o côndilo medial é mais alargado, e o côndilo lateral se projeta mais anteriormente (CHHABRA; ELLIOT, MILLER; 2001). Durante o movimento de extensão do joelho, o principal músculo que atua é o quadríceps, que é composto pelo reto femoral, vasto medial, vasto lateral e o vasto intermédio, a ação conjunta desses músculos traciona a patela para cima, estendendo, por sua vez, a perna (FLOYD, 2016). Figura 2. Anatomia da articulação do joelho Fonte: radioviverbem.com.br Aliado a isso, existe o ângulo Q que é formado pela intersecção entre duas linhas que se cruzam no centro da patela, uma linha partindo da à espinha ilíaca anterossuperior até o centro da patela e a outra da tuberosidade anterior da tíbia ao centro da patela, seu valor normal em média para os homens é de 13º e de 18º para as mulheres (ALMEIDA et al., 2016). Entretanto, Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 20 alguns autores colocam como o valor limite do ângulo Q da normalidade seja até os 15º para os homens e os 20º para as mulheres (FLOYD, 2016). Acredita-se que quanto maior o ângulo Q, maiores serão as forças de lateralização da patela, o que provoca um aumento na pressão retropatelar entre a faceta lateral da patela e o côndilo femoral lateral (ALMEIDA et al., 2016). Podendo provocar a longo prazo uma degeneração da cartilagem articular da patela. Figura 3. O ângulo Q. Fonte: www.fisiobetineli.blogspot.com 2.2 Biomecânica e cinemática do joelhoA interação entre a tíbia, fíbula e a patela permite à articulação do joelho suportar grandes forças durante as fases da locomoção (CHHABRA; ELLIOTT; MILLER, 2001; HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016). Quando a flexão do joelho é iniciada em uma posição de cadeia cinética fechada, como por exemplo no agachamento, o fêmur rola para trás sobre a tíbia, fazendo a rotação lateral e abdução com relação ao osso. Já em um movimento Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 21 em cadeia cinética aberta, como um chute, a flexão é iniciada com o movimento da tíbia sobre o fêmur, resultando na movimentação da tíbia para a frente e durante a extensão o movimento é ao contrário (HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016). Além disso, durante a flexão do joelho a patela se movimenta ao longo de uma distância superior ao dobro do seu comprimento, se introduz na fossa intercondilar do fêmur. Já quando a perna está estendida a patela retorna à sua posição em repouso, situando-se na incisura troclear e pousa no coxim adiposo suprapatelar (HAMILL; KNUTZEN; DERRICK, 2016). Além do mais, durante o movimento de flexão a patela se inclina e muda a sua superfície de contato com a troclea, o que produz uma mudança na relação do tensionamento entre o quadríceps e o tendão patelar, quando a flexão tibiofemoral está próxima dos 120º, a tensão no tendão do quadríceps é quase o dobro quando comparada ao tendão patelar (CLEATHER, 2018). Uma última característica da articulação femoropatelar que é relevante é o fato que os músculos do quadríceps (principalmente os vastos) não podem ser simplesmente considerados monoarticulares. É comum afirmar que músculos monoarticulares exercem momentos iguais e opostos nos dois segmentos que se ligam. Entretanto, como o tendão patelar se liga à patela em vez de ser diretamente ligada ao fêmur, diante disso, o pensamento acima não pode ser levado em consideração (CLEATHER, 2018). A ação conjunta dos músculos vastos (medial, lateral e intermediário) permitem que ao flexionar o joelho, o equilíbrio entre as forças dos músculos promova um deslizamento normal da patela sobre a troclea. 2.3 A Síndrome da dor Patelofemoral A SDPF é uma das formas mais comuns de dor no joelho (SMITH et al., 2018). A SDPF é normalmente descrita como uma dor insidiosa na parte anterior do joelho ou uma dor difusa peripatelar e/ou retropatelar. Os indivíduos apresentam os sintomas geralmente ao subir e descer escadas, ao permanecer por muito tempo sentado, ao saltar, ao agachar e também após as realizações de exercício físico (LIPMAN; JOHN, 2015). Além disso, a patogenia da SDPF é multifatorial e várias disfunções funcionais podem ser encontradas nos membros inferiores dos portadores (PETERSEN; REMBITZKI; LIEBAU, 2017). Um dos fatores presentes na SDPF é a movimentação “inadequada” da patela, a Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 22 hipermobilidade da patela pode ser um dos fatores desencadeantes da dor, o movimento é caracterizado pelo aumento da lateralização da patela e da inclinação (PETERSEN; REMBITZKI; LIEBAU, 2017). Aliado a isso, quando comparado a força dos músculos quadríceps entre com indivíduos saudáveis e portadores da SDPF, os portadores da síndrome apresentaram piores resultados na força do quadríceps (WILLY et al., 2019). Além disso, a fraqueza desse grupo muscular se apresentou como fator de risco para o surgimento da SDPF em militares. Mas também, a atrofia do quadríceps é um achado comum nessa população, e a sua presença é maior no músculo vasto medial, havendo até uma diminuição do recrutamento muscular de 18% (WILLY et al., 2019). Adicionalmente, indivíduos com a SDPF apresentaram fraqueza da musculatura do quadríceps, rotadores externos do quadril, abdutores, extensores quando comparando indivíduos o grupo controle (RATHLEFF et al., 2014). Seguidamente, alterações biomecânicas são comumente observadas em movimentos funcionais de indivíduos com SDPF. Normalmente, ao realizarem atividades como correr, caminhar, subir e descer escadas os sujeitos com SDPF apresentam uma redução na flexão do joelho quando comparado com o grupo saudável (WILLY et al., 2019), como também uma maior adução do quadril e joelho (NAKAGAWA et al., 2012a). Um outro fator de risco relacionado ao surgimento da SDPF foi a pronação do pé em militares (BOLING et al., 2010b). Adicionalmente, um outro estudo que comparou as alterações biomecânicas entre adultos jovens portadores da SDPF e um grupo controle, verificou que os sujeitos com a síndrome apresentaram maior queda pélvica contralateral, adução do quadril, rotação interna do quadril, abdução do joelho, inclinação ipslateral do tronco, durante a realização do agachamento unipodal, quando comparado com um grupo saudável (NAKAGAWA et al., 2012a). Cabe informar, ainda, que um estudo que avaliou a relação entre lesões da cartilagem (perda de cartilagem, lesões ósseas e aumento da intensidade do sinal de Holfa) e a SDPF em jovens adultos através de ressonância magnética (RM), não encontrou nível de associação significativa (SMITH et al., 2018). Contudo, um outro o estudo mostrou que adultos mais velhos com SDPF apresentaram uma maior prevalência de características de osteoartrose (OA) Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 23 através da RM. Esses achados sugerem que ocorrem mudanças estruturais na articulação femoropatelar durante o envelhecimento (COLLINS et al., 2019). 2.5 2.5 Saúde pública, epidemiologia e a Síndrome da dor Patelofemoral O processo da transição epidemiológica é caracterizado por três mudanças básicas: a substituição das doenças transmissíveis por doenças não-transmissíveis e causas externas; transformação de uma situação de saúde na qual a mortalidade é predominante para na qual a morbidade é dominante; e o deslocamento da carga de morbimortalidade (SCHRAMM et al., 2004). A modificação do perfil de saúde dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) na qual doenças crônicas e as suas implicações são prevalentes, promoveu uma mudança no padrão de utilização dos serviços em saúde e um aumento de gastos no tratamento continuo dessas doenças (BEZERRA et al., 2018; SCHRAMM et al., 2004). O que provocou um aumento da demanda das doenças musculoesqueléticas no Brasil, atualmente se assemelham aos 6% do câncer (SOUZA; OLIVEIRA, 2015), e os distúrbios da coluna vertebral e das doenças reumáticas foram identificadas como sendo, respectivamente, a segunda e terceira causas mais prevalentes de doenças autorrelatadas em população brasileira (BEZERRA et al., 2018). Aliado a isso, uma pesquisa realizada no Brasil com 60,202 indivíduos verificou que 21,6% apresentavam problemas musculoesqueléticos em adultos. Ademais, um outro problema de saúde pública é a OA do joelho, a doença reumática mais comuns na terceira idade. A OA apresenta como principal fator de risco modificável para o seu surgimento as lesões prévias na cartilagem. Dessa forma, indivíduos com lesões na articulação durante a juventude e vida adulta têm maiores chances de desenvolver a OA ao envelhecer (SURI; MORGENROTH; HUNTER, 2012). É comprovado que existem lesões da cartilagem do joelho durante a evolução da SDPF do jovem para o adulto, aliado a isso, a SDPF apresenta uma prevalência elevada entre adolescentes e jovens adultos, caracterizando-se como um problema de saúde pública (SMITH et al., 2018; XU et al., 2018). Um outro achado importante, segundo Smith et al (2018), é que o Reino Unido tem um custo de anual de 7,4 bilhões de libras esterlinas com cuidados primários com distúrbios da dor Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 24 musculoesquelética. Já nos EstadosUnidos, estima-se que 126,6 milhões de estado-unidenses sofrem com algum um distúrbio musculoesquelético, sobrecarregando a economia com um custo estimado de US $ 213 bilhões anualmente, devido aos custos com saúde. Apesar que no Brasil não existem estudos prévios sobre os custos dessas doenças para o SUS, acredita-se que também sejam elevados. Por conseguinte, por ser a SDPF um fator de risco para o desenvolvimento futuro da OA, e a prevalência elevada dessas duas etiologias. Faz-se necessário aprofundar as investigações sobre os fatores que podem estar relacionados a SDPF no adolescente, como também, ver a prevalência dessa doença no Brasil. O combate prévio é extremamente importante para um crescimento saudável do jovem, diminuição dos casos de SDPF e OA, e a provável diminuição dos custos do SUS para o tratamento dessas doenças. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 25 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Estimar a prevalência e analisar os fatores relacionados à SDPF em escolares de ambos os sexos, entre 10 e 18 anos, matriculados no ensino público fundamental e médio do município de Natal/RN. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) Estimar a prevalência da SDPF e sua distribuição entre variáveis sociodemográficas. b) Comparar a prevalência de SDPF com a idade cronológica e biológica. c) Testar a hipótese de que o sobrepeso/obesidade, nível de atividade física, alterações biomecânicas e maior comprometimento funcional estão associados à SDPF. d) Analisar a os fatores associados à presença de dor no joelho no escolar. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 26 MÉTODO 4.1 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA Trata-se de um estudo transversal, de base populacional que buscou, além da estimativa da prevalência, a investigação de fatores associados aos desfechos. 4.2 PLANO AMOSTRAL A amostra foi calculada baseando-se numa prevalência do desfecho de no mínimo 22%, de acordo com dados de Saes & Soares (2017). O cálculo do tamanho da amostra foi realizado a partir da seguinte equação: {[z2 x p (1-p)] / ε2}, onde z é o limite de confiança para um erro amostral de 5% (μ =1,96), p é a prevalência estimada de desfecho (p = 22%), ε é a margem de erro da estimação para a prevalência estimada (ε = 5%). Foi ainda acrescentado um efeito de desenho de 1,5 e, com isso, projetou-se uma amostra de 264 escolares. Entretanto, considerando a necessidade de contornar viés de seleção, perda de seguimento e erros sistemáticos, a amostra foi acrescida em 20%, perfazendo um total 317 a serem avaliados. Logo em seguida, para a seleção das escolas foi utilizada uma amostragem por conglomerados com base na técnica de Probabilidade Proporcional ao Tamanho (PPT), utilizado o número total de alunos como o peso amostral em cada escola. Foram então sorteadas 30 escolas das 200 escolas municipais e estaduais de toda a cidade. A seguir, para a seleção dos alunos foi utilizada uma amostragem casual sistemática, a partir da listagem obtida nas escolas sorteadas, utilizando um intervalo amostral de 28,5. Foram incluídos na pesquisa as crianças e adolescentes com idade entre 10 e 18 anos, matriculados no ensino fundamental ou médio de escolas públicas urbanas, no período matutino ou vespertino, do município de Natal/RN. Os jovens que referirem dor no peripatelar e/ou retropatelar em duas das seguintes atividades foram classificados para o grupo SDPF: agachando, subindo e descendo escadas, saltar e ao ficar sentado por muito tempo há pelo menos um mês. Foram excluídos da pesquisa crianças e adolescentes com deficiência física e/ou mental, com doenças que impedissem a manutenção da posição ortostática. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 27 4.3 PROCEDIMENTO A avaliação foi realizada por uma equipe que consistiu em dois estudantes de cursos da saúde e um fisioterapeuta com experiência de cinco anos de prática clínica, os estudantes foram previamente treinados na aplicação dos questionários. A avaliação durou em torno de 30 minutos e foi realizada em apenas um momento, com o estudante descalço e com a vestimenta da escola. Com relação aos itens da avaliação, os questionários e os dados gerais e o peso e altura foram coletados pelos três pesquisadores, entretanto, a avaliação da qualidade de movimento e o tipo de pé foi avaliado apenas pelo fisioterapeuta para uma melhor confiabilidade dos resultados. 4.3 VARIÁVEIS 4.3.1 Nível de Atividade física Foi avaliado o nível de atividade física como indicador de hábitos de vida ativo ou sedentário. Para a avaliação desta variável foi aplicado o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) versão curta, traduzido e validado para o Brasil (Anexo A). Este questionário leva em consideração as atividades praticadas pelo menos dez minutos contínuos realizadas na semana anterior por relatos de frequência, intensidade e duração e classifica os indivíduos em muito ativos, ativos, irregularmente ativos A e B e sedentários (CRAIG et al., 2003; PARDINI et al., 2001). Para a classificação do IPAQ, os indivíduos sedentários são aqueles que não realizam nenhuma atividade física por pelo menos 10 minutos contínuos na última semana. Já os irregularmente ativo-A são os que realizam atividades por cinco dias na semana ou com duração de 150 minutos/semana. Os irregularmente ativos-B são aqueles que não atingiram os critérios de recomendação A quanto à frequência e duração. Os ativos são aqueles que realizam atividades moderadas ou vigorosas ≥ 3 dias/semana e ≥ 20 minutos/sessão ou atividade física moderada ou caminhada ≥ 5 dias/ semana e ≥ 30 minutos/sessão (CRAIG et al., 2003; PARDINI et al., 2001). Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 28 Para facilitar a análise, as categorias Sedentário, irregularmente ativo A e B, foram categorizadas em apenas uma categoria: Irregularmente ativo. Já as categorias Ativo e Muito Ativo permaneceram idênticas à classificação original. 4.3.2 Avaliação do pé Para avaliação do tipo de pé foi utilizado o Teste da Queda do Navicular adaptado (TQN). O teste foi realizado com o escolar inicialmente sentado, onde foi palpado e marcando um ponto com caneta esferográfica na região palpável da tuberosidade do navicular. Em seguida o escolar permaneceu sentado e apoiou o pé sobre o chão, logo o avaliador palpou o osso tâlus e “corrigiu” o pé e, com um paquímetro, mediu-se a distância entre o ponto marcado e o chão. Em seguida o escolar ficou em ortostatismo e novamente foi medida a distância entre o ponto e o chão (SABINO et al., 2012). Os valores foram categorizados da seguinte forma: (a) entre 0 mm e 9 mm foi estimada uma mobilidade adequada e (b) acima do 9,1mm como uma alta mobilidade (pronação de pé) (ALLEN, 2000). 4.3.3 Flexibilidade da cadeia muscular posterior O escolar mantendo os joelhos em extensão, lentamente inclina a cabeça, seguido do tronco e leva as mãos em direção ao chão, sem forçar. Observando-o de frente, o avaliador observou e a distância mão chão. Na distância mão chão, o escolar deveria tocar o chão com a ponta dos dedos. Se isso não ocorrer foi mensurado, com uma trena, a distância em centímetros entre a ponta do dedo médio em extensão e o chão. Logo, para a realização da análise estatística os indivíduos que tocarem o chão foram classificados como flexibilidade adequada, e os que não conseguirem foram classificados como flexibilidade inadequada (VEIGA; DAHER; MORAIS, 2011). 4.3.4 Lateral Step-Down test Para a avaliação da qualidade do movimento foi utilizado o teste descrito por Piva, et al. (2006) O teste consiste em avaliar cada membro inferior e foi solicitado ao escolar para ficar sobreum suporte de 20 cm de altura com apenas um membro inferior, as duas mãos na cintura, joelho estendido e o pé próximo à borda do suporte (dois dedos de distância do avaliado). Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 29 Figura 4. Avaliação da qualidade do movimento. Fonte: Piva et al. 2006 Em seguida foi solicitado ao avaliado que tocasse com calcanhar o chão (sem descarregar o peso) e estendesse a perna novamente até a posição inicial. Foram realizadas cinco repetições em cada MMII. Para a pontuação foram analisados os seguintes parâmetros: 1 – estratégia da mão. Se o avaliador retira a mão da cintura para manutenção do equilíbrio (1 ponto); 2 – Movimentação do tronco. Se o tronco inclina (1 ponto); Pelve plana. Se um lado da pelve roda ou inclina comparada com o outro lado (1 ponto); Posição do joelho. Se há desvio medial do joelho e a tuberosidade da tíbia cruzou uma linha imaginária do 2º dedo (1 ponto), ou, se o joelho se desviou medialmente e a tuberosidade da tíbia cruzou a borda medial do pé (2 pontos); 5 – Manter a postura unilateral constante. Se o sujeito se afastou do lado não testado ou se o membro testado ficou instável (1 ponto) (SILVA et al., 2019). Ao fim da realização das cinco repetições eram somadas as pontuações e classificadas da seguinte forma: (a) entre 0 e 1 ponto, boa qualidade de movimento, (b) entre 2 e 3 pontos, média qualidade de movimento e (c) acima de 4 pontos, pobre qualidade de movimento (WEIR et al., 2010). Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 30 4.3.5 Valgo dinâmico O indivíduo que ao realizar o Lateral Step Down Test apresentar um desvio medial do joelho onde a tuberosidade da tíbia cruza e ultrapassa a borda medial do pé foi classificado com o valgo dinâmico (VD) do joelho presente. 4.3.6 Índice de Massa Corporal As variáveis antropométricas avaliadas foram peso corporal, estatura e Índice de Massa Corporal (IMC). A massa corporal foi mensurada por meio de uma balança digital de marca Filizola com precisão de 100g. O procedimento foi realizado com a criança descalça e em trajes da escola (calça e calção) num ambiente restrito da própria escola (TRITSCHLER, 2003). Na sequência, foi realizada a medida da estatura, feita com a utilização de um estadiômetro de pé, graduado com uma fita métrica em centímetros e precisão de 1mm fixa na parede. A estatura foi mensurada com o indivíduo em posição ortostática, com os pés descalços e unidos, com a cabeça no plano horizontal ao final de uma inspiração máxima. Posteriormente foi calculado o IMC considerando-se a razão entre a massa corporal e o quadrado da estatura (kg/m2) e classificado de acordo com os valores de referência para idade e gênero sugeridos pela National Centre for Health Statistics (DE OLIVEIRA et al., 2013). 4.3.7 Maturação Sexual O estágio maturacional foi realizado por meio do teste de autoavaliação de Tanner (1962) da pilosidade pubiana que apresenta uma satisfatória concordância com a avaliação médica, mostrando-se eficaz para a determinação do estágio maturacional tanto no gênero masculino como no feminino (MASSUCATO; BARBANTL, 2001). O responsável pela administração do teste explicou para cada criança, em particular, o procedimento do teste, enfatizando a importância da confiabilidade dos resultados. A criança foi conduzida a um ambiente fechado onde estavam afixadas as figuras com as diferentes fases de desenvolvimento de pelo pubiano de Tanner, de 1 a 5, (Anexos B e C) e, sozinha, identificou a figura mais semelhante ao seu estágio maturacional na atualidade. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 31 4.3.8 Escala Visual da dor Para a avaliação da dor foi utilizada a escala visual da dor (EVA). A qual consiste em traçar uma linha de 10 cm, onde 0 é ausência de dor e 10 a pior dor já sofrida. O escolar foi solicitado a marcar com uma caneta esferográfica um ponto que representou o seu nível de dor do último mês (HAWKER et al., 2011). Para a análise dos dados, essa variável foi categorizada em duas formas utilizando o percentil superior, sendo categorizada em pouca dor (≥ 3,9) e dor (≤ 4,0). 4.3.9 Questionário Kujala Para a avaliação da dor anterior do joelho foi utilizada a versão em português do Anterior knee pain scale – Kujala Questionnaire, o questionário é utilizado para avaliar os sintomas subjetivos, como dor anterior no joelho e limitações funcionais. Os itens avaliados no questionário são claudicação, dor, caminhadas, subida de escadas e se manter sentado por tempo prolongado com os joelhos flexionados. Tem pontuação de 0 a 100 pontos, onde 100 significa sem dores e/ou limitações funcionais e 0 significa dor constante e várias limitações funcionais (AQUINO et al., 2010). Para a categorização da variável foi utilizado o percentil inferior, dessa maneira, foram classificados com comprometimento funcional os jovens que apresentaram um valor ≥ 84 na pontuação final. 4.4 DESCRIÇÃO, TIPO E CATEGORIAS DAS VARIÁVEIS ESTUDADAS O quadro 1 apresenta as informações sob a classificação, descrição, tipo de categoria de análise das variáveis estudadas. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 32 Quadro 2. Características das variáveis estudadas. Variável Descrição Tipo Categorias de análise Dependente Síndrome da dor Patelofemoral SDPF Categórica nominal 1 – Ausente 2 – Presente Independentes Sexo Sexo Categórica nominal 1. Masculino 2. Feminino Idade Idade em anos Quantitativa discreta Não se aplica Atividade física – Questionário IPAQ Nível de atividade física do escolar Categórica ordinal 1 – Muito ativo 2 – Ativo 3 – Irregularmente ativo Índice de Massa Corporal IMC Categórica ordinal 1. Abaixo do peso 2. Adequado 3. Acima do Peso Maturação Sexual Maturação Sexual Categórica ordinal 1. Pré-púbere 2. Púbere 3. Pós-púbere EVA EVA Categórica nominal 1. Pouca dor 2. Muita dor Anterior knee pain scale – Kujala Questionnaire Kujala Categórica nominal 1. Inalterado 2. Comprometimento Funcional Flexibilidade da cadeia muscular posterior Flexibilidade da cadeia muscular posterior Categórica nominal 1. Inadequada 2. Adequada Tipo de pé TQN Categórica ordinal 1. Adequada 2. Pronação de pé Avaliação da cinemática Lateral step-down test (LSDT) Categórica ordinal 1. Boa qualidade do movimento 2. Média qualidade do movimento 3. Pobre qualidade do movimento Valgo dinâmico Valgo dinâmico Categórica nominal 1. Ausente 2. Presente 4.6 COLETA DOS DADOS A coleta de dados foi realizada após a assinatura do Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos responsáveis da criança e os avaliados assinaram o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). As avaliações foram realizadas na própria escola, Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 33 no horário letivo e em um único momento. Os avaliadores participaram de um treinamento dos itens e a equipe foi formada por dois estudantes do curso de saúde e um fisioterapeuta com experiência. A avaliação do TQN e a avaliação da qualidade do movimento foram avaliados apenas pelo fisioterapeuta e os demais itens foram divididos entre os avaliadores. 4.7 ANÁLISE DOS DADOS Características demográficas, sexo, idade, nível de atividade física, índice de massa corporal, foram descritos através de tabulações considerando o desenho complexo de amostragem. Para a análise de associação, foram estimadas as Razões de Prevalência (RP) e os respectivos intervalos de confiança (95%) do desfecho a partir de Regressão Múltipla de Poisson com variância robusta. Foi adotadoum nível de significância de 5% (α < 0,05). 4.8 ASPECTOS ÉTICOS O projeto foi aprovado pelo do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Universitário Onofre Lopes CAAE: 07389318.1.0000.5292. Foram observadas, também, todas as diretrizes e recomendações emanadas da resolução 510/2016 no que tange ao estudo com seres humanos. Os pesquisadores responsáveis realizaram treinamento da equipe de campo, considerando-se além a atenção especial quanto à precaução na abordagem de assuntos íntimos e delicados referentes aos hábitos de vida, bem como da maturação sexual. Ainda que não haja relatos de riscos altos para o desenho de estudo em questão, os pesquisadores organizaram o protocolo de coleta de dados de forma que não implicasse em nenhum desconforto para os respondentes. Além disso, foram disponibilizados contatos telefônicos dos pesquisadores responsáveis e do CEP para comunicação de qualquer intercorrência. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 34 RESULTADOS Os resultados serão apresentados em duas seções. Inicialmente serão apresentados os achados relativos à prevalência dos agravos estudados e, em seguida, as análises das associações realizadas em busca dos fatores associados. Análise da prevalência Composição da amostra Ao total foram sorteadas 30 escolas, das quais 26 escolas participaram do estudo, a não participação das três escolas foi devido ao não envio da lista dos alunos para o sorteio. Apesar disso, a amostra foi composta dos alunos pertencentes a 17 escolas do município (Quadro 3). Quando 3. Relação das escolas avaliadas e informações referentes a localização. Escola Zona do Município Bairro Perda amostral (%) Esc. Est. Arq. Fatima Araújo Guilhermino Zona Norte Lagoa Azul 40,00 Colégio Atheneu Zona Leste Petrópolis 28,57 Esc. Est. Desembargador Régulo Tinoco Zona Sul Lagoa Nova 42,85 Esc. Est. Ferreira Itajubá Zona Sul Neópolis 0,0 Esc. Est. Jorge Fernandes Zona Sul Lagoa Nova 0,0 Esc. Est. Myriam Coeli Zona Norte Lagoa Azul 42,85 Esc. Est. Pedro Mendes Gouveia Zona Leste Petrópolis 50,00 Esc. Est. Profa. Josefa Sampaio Zona Leste Santos Reis 44,44 Esc. Est. Prof. Anísio Teixeira Zona Leste Petrópolis 56,52 Esc. Est. Prof. Antônio Pinto de Medeiros Zona Sul Pitimbu 38,09 Esc. Est. Prof. João Tibúrcio Zona Leste Alecrim 50,00 Esc. Est. Prof. Luís Antônio Zona Sul Candelária 50,00 Esc. Est. Stela Wanderley Zona Sul Neópolis 60,00 Instituto Padre Miguelino Zona Leste Alecrim 25,80 Esc. Municipal Santos Reis Zona Leste Santos Reis 25,00 Esc. Municipal Vereador Jose Sotero Zona Norte Igapó 44,00 Esc. Municipal Profa. Josefa Botelho Zona Sul Ponta Negra 57,14 Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 35 Em relação à localidade das escolas, sete escolas foram da zona sul da cidade, oito da zona leste e três da zona norte, dessa forma, apesar da interrupção da pesquisa, foram contempladas a maioria das regiões do município, da amostra coletada, 44,3% dos alunos estudavam em escolas da zona leste, 30,6% da zona norte e 25,1% da zona sul. Nota-se na Figura 5 a distribuição das escolas no município. Dessa forma, o viés de perda seletiva pode ter sido minimizado, indicando uma boa representatividade da amostra atual. Figura 5. Mapa com a distribuição das escolas pesquisadas. Na segunda camada, os setores censitários. Fonte: dados da pesquisa com o uso do Google Maps e arquivos KMZ do IBGE. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 36 Diante da situação sanitária atual causada pela COVID-19, e a interrupção das aulas, não foi possível alcançar o tamanho amostral citado. Sendo assim, participaram do estudo um total de 144 estudantes, 51,4 % (IC:41,6 – 61,1) da amostra tem o sexo masculino, 29,7% (IC:21,5 – 39,4) dos jovens foram classificados como portadores da SDPF, 38,9 % (IC: 23,3 – 57,2) estão entre os 16 a 18 anos de idade, 47,9 % (IC: 17,2 – 35,8) foram classificados com o nível de atividade física ativa, 31,6 % (IC: 23,2 – 41,4) da amostra apresentou o IMC acima do peso, 64,7 % (IC: 52,2 – 75,4) são púberes, 75,6 % (IC: 61,2 – 85,9) referiram pouca dor, 77,7% (IC:52,5 – 86,7) não apresentaram comprometimento funcional, 68,8% (IC: 55,3 – 76,7) apresentaram uma inadequada flexibilidade da cadeia muscular posterior. Em relação ao exame físico, 29,1 % (IC: 20,2 – 40,1) e 20,4% (IC: 14 – 28,7) apresentaram uma PP, respectivamente, no MD e ME, em relação à qualidade do movimento, 23,7 % (IC: 14,8 – 35,8) e 22,3 (14,8 – 35,8) apresentaram uma pobre qualidade do movimento, respectivamente, no MD e ME e em relação ao VD, foi presente no MD 26,3% (IC: 15,3 – 41,2) dos jovens e no ME 26,9% (IC: 15,6 – 42,1) apresentaram o VD (Tabela 1). Tabela 1. Estimativas populacionais das principais variáveis categóricas estudadas. Natal/RN. 2020. Prevalência Variável n (*) % (**) I.C. (95%) Síndrome da Dor Patelofemoral (SDPF) Ausência 100 70,3 60,6 – 78,5 Presença 44 29,7 21,5 – 39,4 Sexo Masculino 72 51,4 41,6 – 61,1 Feminino 72 48,6 38,9 – 58,4 Faixa Etária 10 a 12 anos 22 22,7 11,8 – 39,1 13 a 15 anos 54 38,4 26 – 52,5 16 a 18 anos 68 38,9 23,3 – 57,2 Atividade física – Questionário IPAQ Irregularmente ativo 43 26,4 15,8 – 40,8 Ativo 61 47,9 32,9 – 63,3 Muito ativo 40 25,6 17,2 – 35,8 Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 37 Prevalência Variável n (*) % (**) I.C. (95%) Índice de Massa Corporal Adequado 99 63,8 55,6 – 71,3 Abaixo do peso 8 4,6 1,9 – 10,6 Acima do peso 37 31,6 23,2 – 41,4 Maturação Sexual Pré-púbere 18 16,4 8,3 – 30 Púbere 97 64,7 52,2 – 75,4 Pós-púbere 29 18,9 11,6 – 29,3 Escala Visual Analógica – EVA Pouca dor 107 75.6 61,2 – 85,9 Muita dor 37 24,4 14,1 – 38,8 Anterior Knee Pain Scale – Kujala Questionnaire Sem comprometimento funcional 108 77,7 62,5 – 86,7 Com comprometimento funcional 38 22,3 13,3 – 34,8 Flexibilidade da cadeia muscular posterior Adequada 46 33,2 23,3 – 44,7 Inadequada 98 68,8 55,3 – 76,7 Tipo de pé (TQN) - Direito Mobilidade adequada 105 70,9 59,9 – 79,8 Pronação de pé 39 29,1 20,2 – 40,1 Tipo de pé (TQN) - Esquerdo Mobilidade adequada 110 79,6 71,3 - 86 Pronação de pé 34 20,4 14 – 28,7 Avaliação da cinemática (Lateral step down test – LSDT) - Direito Boa qualidade de movimento 42 25,5 14,9 – 40,1 Média qualidade de movimento 65 50,8 33,1 – 68,4 Pobre qualidade de movimento 37 23,7 14,8 – 35,8 Avaliação da cinemática (Lateral step down test – LSDT) - Esquerdo Boa qualidade de movimento 33 22,7 14,9 – 40,1 Média qualidade de movimento 75 55 33,1 – 68,4 Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 38 Prevalência Variável n (*) % (**) I.C. (95%) Pobre qualidade de movimento 36 22,3 14,8 – 35,8 Valgo dinâmico - Direito Ausente 101 73,7 58,8 – 84,7 Presente 43 26,3 15,3 – 41,2 Valgo dinâmico - Esquerdo Ausente 102 73,1 57,9 – 84,4 Presente 42 26,9 15,6 – 42,1 (*) Número de indivíduos avaliados (**) Percentual obtido após ponderação e efeito de cluster. Não corresponde à mesma proporção da amostra. Análise dos fatores associados Para identificar a relação entre a SDPF e as variáveis independentes do estudo, as variáveis foram dicotomizadas. A variável TQN foi em mobilidade adequada e PP; nível de atividade física em Irregularmente ativo, ativo e muito ativo; maturação sexual em pré-púbere, púbere e pós-púbere, flexibilidade da cadeia posterior em adequado e inadequado, IMC em abaixo do peso, adequado e acima do peso, valgo dinâmico em presente e ausente, a EVA em presença e ausência de dor e o questionário Kujala que avaliao comprometimento funcional em inalterada e alterada (tabela 2). Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 39 Tabela 2. Relação da SDPF com as variáveis independentes do estudo. Amostra = 144. Estimativas de Razão de Prevalência obtidas por Regressão Múltipla de Poisson. Natal/RN, 2020 SDPF Não-ajustado Ajustado Ausente Presente p-valor RP (IC 95%) p- valor RP (IC 95%) n* (%**) n* (%**) Sexo Masculino 56 (80,6) 16 (19,4) 1 1 Feminino 44 (59,5) 28 (40,5) 0,03 1,75 (1,03 – 2,94) 0,026 1,82 (1,0 – 3,0) IPAQ Irregularmente Ativo 36 (85,1) 7 (14,9) 1 1 Ativo 35 (60,2) 26 (39,8) 0,011 2,26 (1,2 – 5,4) 0,022 2,3 (1,13 – 4,9) Muito Ativo 29 (74,1) 11 (29,7) 0,22 1,09 (0,7 – 3,9) 0,143 1,8 (0,8 – 4,3) Maturação sexual Pré-púbere 9 (65,9) 9 (34,1) 1 1 Púbere 66 (71,9) 31 (28,1) 0,109 0,63 (0,3 – 1,0) 0,15 0,6 (0,3 – 1,1) Pós-púbere 25 (68,7) 4 (31,3) 0,014 0,27 (0,09 – 0,76) 0,019 0,29 (0,1 – 0,8) Flexibilidade da cadeia posterior Adequada 32 (64,1) 14 (35,9) 1 - Inadequada 68 (73,5) 30 (26,5) 0,983 1,00 (0,59 – 1,7) - IMC Adequado 73 (76,6) 26 (23,4) 1 1 Abaixo do peso 3 (44,2) 5 (55,8) < 0,001 1,28 (1,03 – 1,60) 0,033 1.9 (1,05 – 3,69) Acima do peso 24 (61,5) 13 (38,5) 0,300 1,07 (0,93 – 1,22) 0,40 1,24 (07 – 2,1) Idade 10 a 12 anos 11 (56,6) 11 (43,4) 1 1 13 a 15 anos 40 (78,6) 14 (21,4) 0,03 0,5 (0,2 – 0,9) 0,2 0,6 (0,3 – 1,3) 16 a 18 anos 49 (70,2) 19 (29,8) 0,04 0,5 (0,3 – 0,9) 0,5 0,7 (0,3 – 1,6) Capacidade funcional – Questionário Kujala Inalterado 97 (88,9) 3 (11,1) Comprometimento funcional 11 (5,6) 33 (94,4) <0,001 9 (5,0 – 15,9) <0,001 8 (4,4 – 14,6) LSD test - Membro Direito Boa qualidade 36 (90,5) 6 (9,5) 1 1 Média qualidade 51 (89,0) 14 (11,0) 0,359 1,5 (0,6 – 3,6) 0,38 1,4 (0,6 – 3,6) Pobre qualidade 24 (72,8) 13 (27,2) 0,041 2,4 (1,0 – 5,8) 0,08 2,4 (0,8 – 1,1) LSD test - Membro Esquerdo Boa qualidade 29 (81,1) 4 (18,9) 1 - Média qualidade 63 (79,6) 12 (20,4) 0,607 1,32 (0,45 – 3,80) - Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 40 SDPF Não-ajustado Ajustado Ausente Presente p-valor RP (IC 95%) p- valor RP (IC 95%) n* (%**) n* (%**) Pobre qualidade 26 (71,3) 10 (28,7) 0,126 2,29 (0,7 – 6,6) - Valgo dinâmico – Direito Ausente 81 (88,0) 20 (12,0) 1 1 Presente 30 (80,5) 13 (19,5) 0,156 1,8 (0,79 – 4,06) 0,84 1,07 (0,5 – 2,2) Valgo dinâmico – Esquerdo Ausente 88 (81) 14 (19) 1 1 Presente 30 (70,3) 12 (29,7) 0,036 2,08 (1,04 – 4,12) 0,08 1,9 (0,9 – 3,9) TQN – Direito Adequada 82 (81,3) 23 (18,3) 1 - Muito mobilidade 29 (81,4) 10 (18,6) 0,635 1,17 (0,61 – 2,23) - TQN - Esquerdo Adequada 93 (79) 17 (21) 1 1 Muito mobilidade 25 (74,6) 9 (25,4) 0,139 1,71 (0,83 – 3,49) 0,36 1,4 (0,65 – 3,0) IPAQ: Questionário Internacional de atividade física. LSD test: Lateral Step-Down test. TQN: Teste da queda do navicular adaptado. IMC: Índice de massa corporal (*) Número de indivíduos avaliados (**) Percentual obtido após ponderação e efeito de cluster. Não corresponde à mesma proporção da amostra. Quando analisada as variáveis independentes do exame físico em cada sexo, a SDPF nos homens apresentou uma associação com a pobre qualidade do movimento do MD no modelo não ajustado (p=0,03) (RP:8,9 IC: 1,1 – 67) e no valor ajustado (p: 0,01) (RP: 6,0 IC: 1,3 – 26), já a variável VD direito apresentou associação estatisticamente significante no modelo não ajustado (p: ≤ 0,01) (RP: 2,5 IC: 1,8 – 3,4) mas no modelo ajustado a variável não apresentou significância (p: 0,4) (RP: 1,8 IC: 0,3 – 9,2), as outras variáveis do exame físico não apresentaram associação estatística significante no modelo não ajustado. Por outro lado, nas mulheres apenas a variável VD do ME apresentou uma associação estatística significante no modelo não ajustado (p:0,01) (RP:3,7 IC:1,2 – 11,3) e no modelo ajustado (p: 0,03) (RP: 2,4 IC:1,0 – 5,8). Já ao analisar a variável idade e o desfecho, obteve-se uma associação estatisticamente significante entre a SDPF e a faixa etária de 13 a 15 anos no sexo feminino no modelo não ajustado (p: 0,03) (RP: 0,4 IC: 0,1 – 0,9) e no modelo ajustado a variável se torna estatisticamente insignificante (p: 0,09) (RP: 0,4 IC: 0,2 – 1,1). No sexo masculino no modelo Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 41 não ajustado nenhuma variável teve associação estatisticamente significante com o desfecho do estudo. A tabela 3 apresenta os resultados da comparação entre a EVA com as outras variáveis do estudo e se obteve uma associação estatisticamente significante entre a presença da dor e a pobre qualidade do movimento do MD no modelo não ajustado (p= 0,003) (RP: 4,5 IC: 1,6 – 12,4), e permaneceu no modelo ajustado (p= 0,004) (RP: 4,4 IC: 1,6 – 12), e no ME também a pobre qualidade de movimento foi associada a presença da dor (p:0,01) (RP: 11 IC: 1,5 – 80) e no modelo ajustado (p: 0,04) (RP: 8,3 IC 1,0 – 64,5). Quando categorizada o Questionário Kujala e comparada com as variáveis independentes, os indivíduos com uma pobre qualidade do movimento no MD apresentaram uma associação estatisticamente significante no modelo não ajustado (p: 0,03) (RP: 2,3 IC: 1,0 – 5,1 e no ME (p= 0,01) (RP: 3,5 IC:1,3 – 9,5) no modelo ajustado a variável permaneceu estatisticamente significante (p: 0,03) (RP: 3,1 IC: 1,0 – 9,2), apresentaram uma associação positiva, entretanto, as outras variáveis não apresentaram um valor estatisticamente significativo. Tabela 3. Relação da dor com as variáveis independentes do estudo. Amostra = 144. Estimativas de Razão de Prevalência obtidas por Regressão Múltipla de Poisson. Natal/RN, 2020 Dor Não-ajustado Ajustado Ausente Presente p-valor RP (IC 95%) p- valor RP (IC 95%) n (%) n (%) Sexo Masculino 56 (78,6) 16 (21,4) Feminino 51 (72,4) 21 (27,6) 0,3 1,3 (0,7 – 2,3) - - IPAQ Irregularmente Ativo 32 (77,5) 11 (22,5) Ativo 45 (74,6) 16 (25,4) 0,9 1,0 (0,5 – 1,9) - - Muito Ativo 30 (75,6) 10 (24,4) 0,9 0,9 (0,4 – 2,0) - - Maturação sexual Pré-púbere 12 (77,4) 6 (22,6) Púbere 71 (76,4) 26 (23,6) 0,400 1,4 (0,5 – 3,8) 0,4 1,5 (0,5 – 1,8) Pós-púbere 24 (71,4) 5 (28,6) 0,100 0,9 (0,4 – 1,8) 0,9 0,9 (0,4 – 1,8) Flexibilidade da cadeia posterior Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 42 Dor Não-ajustado Ajustado Ausente Presente p-valor RP (IC 95%) p- valor RP (IC 95%) n (%) n (%) Adequada 35 (76,1) 11 (23,9) - - Inadequada 72 (75,4) 26 (24,6) 0,700 1,1 (0,6 – 2,0) - - IMC Adequado 74 (75,1) 25 (24,9) Abaixo do peso 5 (60,6) 3 (39,4) 0,400 1,4 (0,5 – 3,8) - - Acima do peso 28 (78,8) 9 (21,2) 0,900 0,9 (0,4 – 1,8) - - Idade 10 a 12 anos 14 (78) 8 (22) 13 a 15 anos 38 (71,4) 16 (28,6) 0,500 0,8 (0,4 – 1,6) 0,5 0,8 (0,4 – 1,6) 16 a 18 anos 55 (78,4) 16 (21,6) 0,080 0,5 (0,2 – 1,1) 0,1 0,5 (0,2 – 1,1) Capacidade funcional – Questionário Kujala Inalterado 95 (88,3) 13 (11,7) Comprometimento funcional 12 (31,1) 24 (68,9) < 0,001 5,5 (3,1 – 9,7) < 0,001 5,5 (3,1 – 9,7) LSD test - Membro Direito Boa qualidade 38 (88,1) 4 (11,9) Média qualidade 55 (91) 10 (9) 0,3 1,6 (0,5 – 4,8) 0,3 1,5 (0,5 – 4,7) Pobre qualidade 21 (54,1) 16 (45,9) 0,003 4,5 (1,6 – 12,4) 0,004 4,4 (1,6 – 12) LSD test - Membro Esquerdo Boa qualidade 32 (97,5) 1 (2,5) - Média qualidade 62 (83,3) 13 (16,7) 0,08 5,7 (0,7 – 42) 0,1 4,8 (0,6 – 35,9) Pobre qualidade 24 (67,7) 12 (32,3) 0,01 11 (1,5 – 80) 0,04 8,3 (1,0 – 64,5) Valgo dinâmico – Direito Ausente 82 (85,2) 19 (14,8) Presente 32 (71,4) 11 (28,6) 0,3 1,3 (0,7 – 2,6)- - Valgo dinâmico – Esquerdo Ausente 89 (89,4) 13 (10,6) Presente 29 (65,7) 13 (34,3) 0,01 2,4 (1,2 – 4,8) 0,4 1,3 (0,6 – 3,1) TQN – Direito Adequada 86 (84,1) 19 (15,9) - Muito mobilidade 28 (75,4) 11 (24,6) 0,1 1,5 (0,8 – 2,9) - TQN - Esquerdo Adequada 94 (86,1) 16 (13,9) Muito mobilidade 24 (71,3) 10 (28,7) 0,04 2,0 (1,0 – 4,0) 0,7 1,1 (0,5 – 2,0) Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 43 EVA: Escava Visual da dor. KUJALA: Anterior knee pain scale – Kujala Questionnaire. SDPF: Síndrome da dor Patelofemoral; IPAQ: Questionário Internacional de atividade física. LSD test: Lateral Step-Down test. TQN: Teste da queda do navicular adaptado. IMC: Índice de massa corporal (*) Número de indivíduos avaliados (**) Percentual obtido após ponderação e efeito de cluster. Não corresponde à mesma proporção da amostra. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 44 DISCUSSÃO O presente estudo teve como proposta analisar a prevalência da SDPF e a associação entre alguns fatores intrínsecos e extrínsecos em uma população geral de adolescentes de ambos os sexos. Podemos perceber uma diferenciação entre os indivíduos, os jovens portadores da síndrome apresentaram uma associação positiva com o sexo, o peso corporal, e alguns fatores extrínsecos, como o nível de atividade física. Ao analisar os fatores associados por sexo, a SDPF nos homens apresentou uma associação com a pobre qualidade de movimento do MD, já no sexo feminino, a SDPF apresentou uma associação com a presença do VD esquerdo. Nosso estudo mostrou que a prevalência da SDPF em uma população geral adolescentes foi de 29,7%, sendo 40,5% nas mulheres e 19,4% nos homens, a prevalência geral se assemelha a outro estudo que obteve resultados similares em uma população adulta (20,7%) (XU et al., 2018). Entretanto, os nossos resultados divergem de outro estudo que obteve uma prevalência de 7,2% em uma população geral de jovens (MØLGAARD; RATHLEFF; SIMONSEN, 2011). Com relação a prevalência por sexo, nas mulheres, a nossa investigação obteve uma prevalência de 40,5% do desfecho na população avaliada, diferentemente de outro estudo que avaliou jovens atletas e obteve uma prevalência de 16,3% (MYER et al., 2010). Já ao comparar o desfecho entre os sexos, obtivemos uma maior prevalência no sexo feminino, esses achados não corroboram com o outros estudos que avaliaram a SDPF em uma população geral adulta (BOLING et al., 2010a; XU et al., 2018). Um outro estudo que avaliou adolescentes atletas de ambos os sexos apresentou uma prevalência de 21% nas mulheres e 16% entre os homens (TENFORDE et al., 2011). Uma prevalência maior no sexo feminino pode estar associada a diferenças biomecânicas, sendo um desses fatores a diminuição da força muscular dos MMII e tronco (NAKAGAWA; PETERSEN, 2018). Aparentemente, a prevalência da SDPF é maior no sexo feminino quando se é adolescente ou jovem adulto, entretanto, na população adulta esse fenômeno não ocorre. Em relação a maturação sexual, em nosso estudo a pós-puberdade se apresentou como fator protetor contra a SDPF, estes achados são similares a outro estudo (GALLOWAY et al., 2018). A maturação puberal está associada a um rápido crescimento e aumento do centro de massa e no comprimento ósseo, o que pode levar a adaptações neuromusculares inadequadas Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 45 devido às demandas impostas pelas crescentes mudanças estruturais e inerciais que se desenvolvem durante a puberdade. Pode ser também, que após o processo de crescimento as alterações biomecânicas sejam corrigidas ao atingirem a maturação sexual. Em relação ao nível de atividade física, os indivíduos categorizados como ativos apresentaram uma associação com o desfecho do estudo. Entretanto, já nos indivíduos categorizados como muito ativos a prevalência dessa população não foi estatisticamente significante, o que não corrobora com o estudo de Willy et al, (2019), que aponta um nível elevado de atividade física como um fator relacionado à SDPF nos adolescentes, e o nível moderado como um fator não associado ao desfecho. Porém, por se tratar de um estudo transversal, pode ser que o quadro álgico tenha influenciado no nível de atividade física dos indivíduos com a SDPF, promovendo um rebaixamento da capacidade funcional. Em nosso estudo os jovens que apresentaram sobrepeso/obesidade não obtiveram uma associação com a SDPF, esses dados corroboram com outros achados que estudaram adolescentes e adultos (RATHLEFF et al., 2015; XU et al., 2018). Entretanto, os jovens com baixo peso apresentaram uma associação positiva com o desfecho do estudo. Sabe-se que jovens com baixo peso apresentam uma aptidão muscular menor quando comparada com adolescentes com o peso adequado (HE et al., 2019). Diante disso, os jovens com baixo peso podem estar mais propensos a adquirir a SDPF devido a inaptidão muscular, visto que, a fraqueza muscular e o controle neuromuscular são alguns dos fatores associados à SDPF. A SDPF é caracterizada por ser uma doença que provoca uma alteração na funcionalidade do indivíduo, sendo um dos sinais da doença a presença de dor ao realizar certas atividades diárias. Nossos achados apresentaram uma associação positiva do desfecho com um maior comprometimento funcional (WAITEMAN et al., 2017). Cabe ressaltar, que esse achado mostra que a SDPF afeta a funcionalidade do adolescente, podendo também afetar o desempenho acadêmico e a sua qualidade de vida. Ao avaliar as alterações físicas por sexo, observamos que a pobre qualidade do movimento esteve associada a SDPF no sexo masculino, outros estudos também obtiveram alterações biomecânicas em homens com a SDPF (NAKAGAWA et al., 2012b). Já no sexo Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 46 feminino, apenas a presença do VD esquerdo apresentou associação com o desfecho do estudo, corroborando com o estudo de Nakagawa et al (2012b). Uma pobre qualidade de movimento no teste de Piva, et al. (2006) é caracterizado pela presença do VD, inclinação ipslateral do tronco e rotação/queda pélvica durante a execução do teste, pode ser que essas alterações biomecânicas possam atuar como um mecanismo compensatório do controle neuromuscular. Teoricamente, essa compensação serviria para controlar melhor a queda pélvica contralateral e a quantidade de adução do quadril do membro de apoio durante as atividades funcionais (NAKAGAWA et al., 2012b; SCATTONE; SERRÃO, 2014), como também, serviria para executar o movimento sem a presença da dor. O VD é caracterizado por um movimento excessivo no quadril e joelho visto no plano frontal, em nosso estudo, apenas o sexo feminino apresentou a associação entre o VD e o desfecho da doença, esse achado corrobora com outros achados que comprovou que apenas as mulheres com a SDPF apresentaram uma rotação interna do quadril excessiva. Ao mesmo tempo, um outro achado foi a alteração da ativação muscular do glúteo médio (NAKAGAWA et al., 2020; POWERS, 2010). Dessa forma, pode ser importante reconhecer que o comportamento da doença é diferente entre os sexos, pode ser que devido à falta de ativação muscular do glúteo médio as mulheres apresentem uma prevalência maior do VD, dessa forma, tenham uma propensão maior ao desfecho. Em nosso estudo, uma alta mobilidade do pé não apresentou uma associação positiva com a SDPF no adolescente, diferentemente de outro estudo que avaliou a média do TQN portadores da SDPF em um grupo controle de jovens entre 16 a 18 anos (MØLGAARD; RATHLEFF; SIMONSEN, 2011). Contudo, um outro estudo que avaliou militares, verificou que uma maior mobilidade donavicular foi um fator de risco para o surgimento da SDPF nessa população (BOLING et al., 2010b). Diferentemente dos outros estudos acima citados, o nosso estudo avaliou crianças e adolescentes de forma transversal e não obteve uma associação positiva com o desfecho, entretanto, pode ser que a PP possa atuar como fator de risco para a SPDF em jovens também. Com relação à presença de dor, os jovens que apresentaram uma pobre qualidade do movimento obtiveram uma associação com os piores níveis da EVA. Esse fenômeno pode ser Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 47 causado pela incapacidade de manter o alinhamento do joelho estável durante as atividades funcionais diárias, levando ao quadro álgico (NAKAGAWA et al., 2012b). Apesar dos nossos achados não apresentarem uma associação positiva, quando avaliados ambos os sexos, entre a pobre qualidade do movimento e a SDPF. Independentemente disso, ao avaliar a dor no joelho do adolescente, se faz imprescindível a avaliação da qualidade do movimento, visto que apresentou uma associação positiva. Ao avaliar a presença de dor no joelho, o nosso estudo não apresentou diferenças estatísticas entre os sexos, corroborando com outro estudo que avaliou a presença da dor em escolares de um município brasileiro (SAES; SOARES, 2017). Dessa forma, pode ser que os motivos das dores articulares nos joelhos possam ser ocasionados por outras doenças do joelho, como a tendinopatia patelar, a síndrome de Osgood-Schlatter, lesões no menisco. Considerando que a alta prevalência da pobre qualidade do movimento em ambos os sexos e a sua associação com o nível de dor, e sendo um fator de risco ou principal mecanismo de lesão de algumas doenças do joelho. Também, por se tratar de uma morbidade facilmente tratada e de fácil prevenção, apresenta-se uma alta capacidade de resolução e manejo na atenção primária, principalmente porque o espectro de danos constitui-se de casos leves e assintomáticos (LOPES; GUEDES, 2019). Assim, o fisioterapeuta constitui o profissional de escolha para a triagem, prevenção e tratamento de indivíduos jovens que apresentem fatores de risco para desenvolver doenças musculoesqueléticas nos MMII, assim como, minimizar danos futuros e promover um crescimento saudável do jovem. O nosso estudo apresenta uma série de limitações, sendo a principal o tamanho amostral, que foi afetado pela pandemia da COVID, provavelmente com uma amostra maior os resultados seriam mais fidedignos. Uma outra limitação, foi a não avaliação da força muscular, já que é um fator importante a ser avaliado nessa patologia, como também o tipo de atividade física realizada e se o jovem é praticante de algum esporte. Estudo futuros devem incluir um acompanhamento maior e a relação entre os fatores associados entre os sexos, para compreender melhor o entendimento da SDPF no adolescente. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 48 CONCLUSÕES Neste estudo transversal de base populacional encontramos que os fatores intrínsecos mantiveram uma associação maior com o desfecho, como o sexo, o baixo peso, e os fatores modificáveis como o nível de atividade física e a pobre qualidade do movimento apresentaram uma associação com a SDPF. Um outro achado foi referente à associação entre a presença de dor e a pobre qualidade do movimento. Podemos destacar que a SDPF é mais prevalente no sexo feminino, e que a pobre qualidade do movimento é um fator relacionado à dor no jovem. As pesquisas futuras devem se concentrar na identificação de outros fatores associados ao desfecho. Prevalência e fatores associados à Síndrome da Dor Patelofemoral em escolares de Natal – RN 49 REFERÊNCIAS ALMEIDA, G. P. L. et al. Ângulo-Q Na Dor Patelofemoral: Relação Com Valgo Dinâmico De Joelho, Torque Abdutor Do Quadril, Dor E Função. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 51, n. 2, p. 181–186, 2016. AQUINO, VI. DA S. et al. Tradução e adaptação Cultural para a Língua Portuguesa do Questionário Scoring of Patellofemoral Disorders: Esutdo Preliminar. Acta Ortopédica Brasileira, v. 19, n. 5, p. 273–279, 2010. BEZERRA, M. A. M. et al. Prevalence of chronic musculoskeletal conditions and associated factors in Brazilian adults - National Health Survey. BMC Public Health, v. 18, n. 1, p. 1–10, 2018. BOLING, M. et al. Gender differences in the incidence and prevalence of patellofemoral pain syndrome. v. 25, p. 725–730, 2010a. BOLING, M. C. et al. A prospective investigation of biomechanical risk factors for patellofemoral pain syndrome. 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