Prévia do material em texto
CICATRIZAÇÃO - Cirurgia é algo traumático; - Necessário entender como o tecido se recupera e trabalhar da forma menos traumática possível; - Lesão no tecido > espaço precisa ser preenchido: → Colocando as células originalmente lesionadas; → Substituindo as células lesionadas por tecido fibrótico. INTRODUÇÃO - Cascata de eventos celulares e moleculares interagindo de forma coordenada para a reconstrução do tecido. PREMISSA - Animais “superiores” > escala evolutiva mais avançada > animais com dificuldade de repor o tecido lesionado; - Exemplo: dependendo do grau de lesão, não consegue recuperar, tem que fazer processo de regeneração, colocando tecido fibrótico no lugar; - Osso: possui capacidade regenerativa; - Tecido neuronal: dependendo do grau de lesão da fibra nervosa, até consegue se reconectar, mas não consegue se proliferar e formar o tecido original; - Capacidade regenerativa limitada; - Proliferação/reparação > depende do tipo de tecido: → Epitelial; → Endotelial; → Fibroblástica > produção de colágeno. - Objetivo: preencher o espaço que foi deixado pela lesão; - Se o tecido é tratado de maneira errada, nasce tecido fibrótico no lugar e o mesmo não restabelece sua função. FASES DA CICATRIZAÇÃO - Conforme o autor, variam entre três e cinco; - A que adotaremos: → Inflamatória; → De desbridamento; → De reparo; → De maturação. INFLAMATÓRIA - Lesão rompe o tecido e ocorre o sangramento; - Mediadores químicos promovem uma vasoconstrição inicial, que para o sangramento (dura entre 5 a 10 minutos); - Se tecido permanece em vasoconstrição permanente, aumenta a lesão > ocorre a vasodilatação para as células perto da lesão serem nutridas (promovida pelo processo inflamatório); - Processo inflamatório se retroalimenta com os mediadores químicos > ciclo inflamatório; - Espaço entre as células aumenta com a vasodilatação > causa o extravasamento de plasma, rico em fibrinogênio (transformado em fibrina) e leucócitos (polimorfonucleares) e que ativa o fator quimiotático plaquetário que auxilia no processo de cicatrização. SANGRAMENTO VASOCONSTRIÇÃO CONTROLE DA HEMORRAGIA MEDIADORES QUÍMICOS INFLAMAÇÃO VASODILATAÇÃO FIBRINA FIBRINOGÊNIO CÉLULAS LEUCÓCITOS (PMN) INFLAMATÓRIAS FATOR QUIMIOTÁTICO PLAQUETÁRIO FATORES DE CRESCIMENTO: MEDIADORES QUÍMICOS: Vasoconstrição: - Endotelina > liberada pela ruptura dos vasos sanguíneos; - Catecolaminas (epinefrina) e serotonina > circulação sistêmica. Vasodilatação: - Histamina > liberada a partir de mastócitos e plaquetas; - Quininas > plasma; - Serotonina > mastócitos. DE DESBRIDAMENTO - Necessário limpar o ferimento e remover bactérias; - Presença de exsudato viscoso (amarelo, esverdeado) preenchendo o espaço entre os tecidos; - Exsudato formado por leucócitos, fluidos e tecido morto; - Presença de neutrófilos (6h) e macrófagos (12h) na ferida; - Matrix Extracelular provisória > migração de células; - Necessário eliminar os debris celulares na limpeza da ferida para favorecer a migração de fibroblastos. DE REPARO - Ferida com sangramento controlado; - Ferida limpa; - Proliferação e migração celular mais intensas. Tecido de granulação: - Tecido irregular; - Mais resistente à infecção do que o tecido original > possui um aporte sanguíneo mais resistente. - Ambiente da ferida é ligeiramente hipoxemico > rompimento de vasos faz com que não chegue aporte sanguíneo no centro da ferida; - Fator Induzido pela Hipóxia (HIF-1) = controla o aporte de oxigênio das células, facilitando a proliferação e migração celular > hipóxia favorável à cicatrização > oxigênio chega por difusão por uma pressão parcial elevada; - Formação de colágeno tipo III (colágeno imaturo) e fibronectina (provoca adesão entre as células e atua como fator quimiotático, atraindo mais células para o local, melhorando o processo de migração celular); - Macrófagos são essenciais para orientar as fibras > ficam paralelas à lesão. FIBROBLÁSTICA: - Início: 3 a 5 dias; - Macrófagos estimulam DNA e proliferação de fibroblastos > colágeno tipo III: → Permanecem: fibras orientadas ao longo da linha de estresse (funcionais); → Desaparecem: as demais. - Angiogênese acompanha migração fibroblástica: → Formação do tecido de granulação (0,4 a 1mm/dia); → Fonte para miofibroblastos > só aparecem em tecidos lesionados > capacidade contrátil, utilizada para que a ferida diminua em tamanho. - Ao final, ocorre a contração e recobrimento da ferida > miofibroblastos desaparecem. EPITELIZAÇÃO: - Início: 24 a 48h > feridas suturadas; - Após a granulação: feridas abertas; - Células em migração se movem embaixo das crostas: → Produção de colagenase com dissolução da crosta que se solta; → Inibição por contato > sinalização para a célula parar de se proliferar. - Ocorre mais rápida em ambientes úmidos > fluxo de fluido entre um lado e outro da ferida, facilitando a migração celular; - Cobrir a ferida: → Preserva a umidade; → Evita agressões externas; → Favorece a hipóxia (favorável à cicatrização). - Anóxia: impede a mitose e a migração epitelial: → Terapia hiperbárica. - Energia > animal precisa estar bem nutrido e hidratado. CONTRAÇÃO DA FERIDA (0,6 A 0,8MM/DIA): - Simultânea à granulação e à epitelização; - Miofibroblastos: → Anti-inflamatórios esteroidais (atuam na fosfolipase) e fármacos antimicrotubulares (antineoplásicos) > prejudiciais na cicatrização. - Aumenta o colágeno tipo I e diminui o tipo III - Com o aumento do teor de colágeno na ferida: ↓ número de fibroblastos Fim da fase e a taxa de síntese de colágeno de reparo DE MATURAÇÃO - Processos de proliferação pararam, hora de rearranjar o que foi feito; - Início: 17 a 20 dias; - Aumento da resistência do tecido cicatricial: → Permanecem: fibras orientadas ao longo da linha de estresse (funcionais); → Desaparecem: as demais; → Aumenta o colágeno tipo I e diminui o tipo III; → Entrelaçamento intramolecular e intermolecular das fibras de colágeno. - Fase de ganho rápido de desistência, dura de 7 a 14 dias e é mais intensa > intensa deposição de colágeno > até 21 dias só está com apenas 20% da resistência do tecido; - Fase de ganho lento de resistência, mais duradouro > rearranjamento de fibras > pode durar semanas, meses e até anos > ganha 60% da resistência do tecido; - Ou seja, um tecido que sofreu um processo de cicatrização, ao final do processo, só vai ter 80% de resistência do tecido original. TÉRMINO: - Variável, pode levar anos; - Tempo de maturação do colágeno: 12 a 18 meses; - Redução do número de capilares (tecido mais pálido); - Resistência final: 80% da resistência do tecido “original” FATORES INTERFERENTES - Três origens: → Paciente; → Características do ferimento; → Externos; → Ou, conforme Franz et. al (2008): locais ou sistêmicos. PACIENTE: - Idosos > doença concomitante, debilitação; - Desnutrição > hipoproteinemia, PPT < 1,5 a 2g/dL. - Desidratação. Doenças intercorrentes – alterações metabólicas. - Hepatopatia > deficiência em fatores de coagulação; - Hiperadrenocorticismo (Síndrome de Cushing) > excesso de corticoides circulantes; - Uremia > até 5 dias após a lesão: → Sistemas enzimáticos; → Trajetos bioquímicos; → Metabolismo celular. - Diabetes melito > predisposição à infecção. Conduta clínico-cirúrgica: - Tratar as causas de base; - Maximizar a perfusão: → Evitar condições que levam à vasoconstrição > dor e hipotermia. CARACTERÍSTICAS DO FERIMENTO: - Corpos estranhos > intensa reação inflamatória: → Ou é degradado;→ Ou é abscedado/expulso (formação de abscesso); → Ou é enquistado (forma tecido fibrótico em volta). - Infecção = bactérias acima de 105 UFC/g de tecido; - Contaminação = bactérias abaixo de 105 UFC/g de tecido; - Hematoma; - Seroma: → Ambiente hipóxico; → Evita a aderência no leito do ferimento > flapes e enxertos. - Incisões precisas vs. tesoura, bisturi elétrico ou laser (atrasam a cicatrização); - Redução do fluxo sanguíneo > causas mais frequentes: → Ataduras muito justas; → Comprometimento vascular; → Movimento do ferimento. - Calor (30°C) vs. temperatura ambiente > facilita a cicatrização; - Ferida úmida > benéfica, uso de bandagens. Antissépticos: - São letais para fibroblastos e PMNs (polimorfonucleares); - Reduzem a capilarização; - Inibem a epitelização; - Inibem a formação de tecido de granulação; - Diminuem a resistência da ferida; - Aplicar somente soluções isotônicas na ferida. FATORES EXTERNOS: Antiinflamatórios esteroidais: - Deprimem todas as fases; - Aumentam a chance de infecção; - Reversão dos seus efeitos: → Vitamina A; → Esteroides anabolizantes. Radioterapia/quimioterapia: - Redução na quantidade de vasos sanguíneos; - Influência na maturação do colágeno; - Aumento da fibrose da derme; - Evitar até 2 semanas após a cirurgia. - Promovem a cicatrização em feridas irradiadas > vitamina A, vitamina E e Aloe vera (presente em pomadas para cicatrização). Terapias que auxiliam na cicatrização: - Terapia hiperbárica; - Ultrassonografia terapêutica; - Fototerapia > laser de baixa potência; - Curativos de pressão subatmosférica controlada. TECIDO DICAS Trato Gastroentérico 1. Incluir submucosa na sutura; 2. Evitar inversão ou eversão; 3. Banir a força excessiva sobre os fios; 4. A hipovolemia afeta muito a cicatrização. Bexiga Urinária 1. Frente à injúria, reepiteliza rápido; 2. 100% da resistência em 21 dias. Fáscia 1. Cicatrização mais lenta; 2. Em 48h, suturas perdem 47% da resistência; 3. Colocar suturas a 3mm da borda. Osso Atenção a quem recobre > células mesenquimais da medula, do endósteo, periósteo e músculos são recrutadas como osteogrogenitoras PARÂMETRO FELINOS Cicatrização por segunda intenção Depende mais da integridade do tecido celular subcutâneo Força de ruptura do tecido (7 dias após a lesão) 50% menor Produção de colágeno Menor CONDUTA CLÍNICO-CIRÚRGICA DIRECIONAMENTO CLÍNICO DA CICATRIZAÇÃO DAS FERIDAS PRIMEIRA INTENÇÃO: - Ferida cirúrgica > bordos irregulares, não infectada; - Aproximação das margens; - Granulação mínima > fase seguinte é a de reparação; - Cicatrização muito rápida. SEGUNDA INTENÇÃO: - Ferida de trauma ou que era uma ferida cirúrgica, mas não consegue cicatrizar em primeira intenção; - As margens não são aproximadas; - Formação de tecido de granulação. PRIMEIRA INTENÇÃO COM RETARDO: - As margens são aproximadas quando há indícios de controle da infecção; - Retardo = controle da infeção. TERCEIRA INTENÇÃO: - A ferida é fechada após algum progresso da granulação (fechamento secundário); - Uso de técnicas reconstrutivas > exemplo: colocação de placa, enxertos etc. TRATAMENTO DAS FERIDAS TRATAMENTO INICIAL: 1º passo: - Cobrir o ferimento imediatamente após a lesão > estancar o sangue; - Uso de ataduras secas e limpas; - Objetivo: evitar hemorragias e/ou contaminações adicionais. 2º passo: - Estabilizar o paciente. 3º passo: - Classificar o ferimento; - Contaminados ou infectados; - Por abrasão, laceração, avulsão, punção, esmagamento ou queimadura. 4º passo: - Condutas adicionais baseadas na classificação. FERIMENTO: - Contaminado ou infectado? - Ponto chave: 6 a 8h após o ferimento; - Contaminados: < 105 UFC/g de tecido > pode fazer sutura (primeira intenção); - Infectados: > 105 UFC/g de tecido > trata por segunda intenção; - Aparência ao exame: sujos, cobertos por exsudato (viscoso e espesso). CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO TIPO DE LESÃO - Abrasão; - Laceração; - Avulsão; - Punção; - Esmagamento; - Queimadura. ABRASÃO: - Escoriação da pele ou mucosa > superficial; - Ocorre por fricção, meio mecânico: → Forças atuantes: trauma rombo, cisalhamento. - Sensível à pressão ou ao toque; - Sangra minimamente. LACERAÇÃO: - Há rompimento de camadas > danifica a pele e tecidos subjacentes. - Superficiais ou profundas; - Bordas irregulares. QUEIMADURA: - Espessura: parcial ou completa; -Causas: temperatura, substâncias químicas. AVULSÃO: - Tecido é removido; - Laceração do tecido desde seu ponto de inserção; - Criação de retalhos na pele; - Desenluvamento > avulsão em extremidade de membro. PUNÇÃO/PENETRANTE: - Ocorrem por projéteis ou objetos pontiagudos; - Presença de pedaços de pele e pelo incrustados no ferimento. ESMAGAMENTO: - Resulta de compressão do tecido e da combinação de outros tipos de ferimentos; - Danos extensos, contusões na pele e nos tecidos mais profundos. CONDUTAS ADICIONAIS < 6 A 8H (FERIDA CONTAMINADA), TRAUMATISMO MÍNIMO E/OU CONTAMINAÇÃO MÍNIMA: - Lavagem; - Desbridamento > remoção do tecido desvitalizado e sujidades; - Fechamento primário > trata como se fosse uma ferida cirúrgica > primeira intenção > formação mínima de tecido de granulação > cicatriza mais rápida. Se penetrantes: - Exploração cirúrgica; - Fechamento primário. > 6 A 8H, TRAUMATISMO INTENSO E/OU CONTAMINAÇÃO INTENSA: - Tratar como ferimento aberto; - Objetivo: converter de infectado para contaminado; - Controlar a infecção para a aproximação cirúrgica; - Alguns casos: cicatrização por contração e epitelização; - Consegue fechar com sutura e dreno. Tratamento: - 1º: tricotomia (tesoura com óleo) > o pelo gruda na tesoura e não cai na ferida; - 2º: lavagem abundante (500ml a 1L): → Solução salina ou eletrolítica balanceada estéreis e mornas; → Pressão (7 a 8 psi) > saco de um litro líquido dentro de um manguito pressurizado a 300mmHg. → Para facilitar a lavagem: agentes não citotóxicos de limpeza; → Ácido hipocloroso 0,012% (concentração baixa) > concentração alta é cáustica e dá efeito citotóxico; - 3º: proteger a área em torno do ferimento > aplicação de um lubrificante hidrossolúvel estéril (K-Y Jelly) ou tampões embebidos em Sol. NaCl 0,9%; - 4º: preparar a pele depilada; - 5º: desbridamento (se necessário). FERIMENTOS POR MORDEDURA: - São contaminados > principalmente se houver cálculos; - Devem ser tratados como ferimentos: → Abertos; → Fechados com drenagem. NAS ESCARIFICAÇÕES: - Evitar o uso de detergentes > causam irritação, intoxicação e dor, além de facilitarem a infecção; - Lavar com solução isotônica. ATENÇÃO! - Álcool 70%: só utilizar em pele ÍNTEGRA; - Em pele com lesão > mata as células e fixa os tecidos expostos em contato > rompe material proteico e faz com que a bactéria cresça embaixo. TÉCNICAS DE DESBRIDAMENTO CIRÚRGICO: - Tira o tecido desvitalizado e deixa tecido íntegro; - Problema: pouco seletivo, critério é visual, tende a danificar tecido saudável; - Vantagem: método rápido; - Realizado com maior frequência. AUTOLÍTICO: - Promove condições para que haja autólise > processos enzimáticos leva à degradação do tecido morto; - Ambiente úmido no ferimento; - Ação de enzimas endógenas > fazem a proteólise do material que deve ser removido; - Vantagens: mais seletivo, remove o que precisa ser removido; - Desvantagens: leva mais tempo e alguns materiais podem não ser removidos, não é tão eficiente. MECÂNICO: - Curativos secos que se aderem ao ferimento; - Vantagens: se aproxima do cirúrgico; - Desvantagens: não é tão eficiente e seletivo, é doloroso. ENZIMÁTICO: - Pomadas com enzimas: → Agente fibrinolítico > faz fibrinólise; → Hialuronidase/colagenase. - Utilizar apenas na fase de desbridamento. BIOCIRÚRGICO: - Larvas de moscas (Lucilia sericata) > degrada tecido necrótico.AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE TECIDUAL Enchimento capilar bom Enchimento capilar ruim Enchimento capilar Viável Viabilidade (?) Inviável Rosada Azul ou roxa Preta, preta azulada ou branca Flexível Inflexível Morna Fria Sensibilidade Sensibilidade deficiente Insensível - Deve-se trocar o curativo diariamente, pois a viabilidade do tecido pode variar; - Osso > se estiver conectado ao tecido mole, deixa > se não estiver conectado ao tecido mole, retira. DRENOS - Dreno fechado > dreno de sucção > pode ter vácuo ou não; - Dreno aberto > dreno de Penrose > pode ter uma entrada ou duas entradas > pode causar contaminação ascendente (evita-se com camada de gaze e uma camada de algodão hidrofílico).