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Febre maculosa e brucelose 1. FEBRE MACULOSA · Doença infecciosa febril aguda; · Transmitida por carrapatos do gênero Amblyomma – o vetor pica o animal e transmite para o ser humano. Popularmente esses carrapatos são chamados de carrapato estrela. Se o carrapato ficar picando a pessoa por mais de 10min existe a chance de transmissão da doença, tem que tomar muito cuidado com quem tem contato com esse tipo de carrapato porque demora muito pra achar o inseto, sendo que quanto antes diagnosticar, melhor o prognóstico. · Causada pela bactéria Rickettsia rickettsii; · Primeiro registro no Brasil: necropsia no instituto bacteriológico de São Paulo, pelo Dr. Adolpho Lutz, em setembro de 1900; · Até o ano de 1929: tifo exantemático; · A partir de 1937: febre maculosa brasileira. 1.1 História atual · Atualmente existem lacunas nos conhecimentos das especialidades · Desafios: controle e alta letalidade. O controle não é muito eficaz, tanto em SP quanto no país inteiro, não controla as áreas que tem a disseminação dos carrapatos. Isso leva ao segundo desafio, que é a taxa de letalidade. 1.2 Etiologia · Rickettsia rickettsii – bactéria gram-negativa, parasita intracelular obrigatória e tem tropismo para células endoteliais 1.3 Epidemiologia · Os casos mais frequentes são na região sudeste e sul porque diagnostica mais. Porém, existe um grande problema de subnotificação devido a pandemia. · Em SP a predominância do sexo masculino devido as atividades de trabalho rural, com faixa etária de 20 a 59 anos de idade, com pico de 30 a 39 anos, que é a fase onde a pessoa está trabalhando. · Tem uma letalidade muito alta, por isso precisamos diagnosticar cedo e tratar rapidamente. · Em SP as cidades com maior número de casos são Campinas, Piracicaba e Valinhos. Piracicaba tem mais casos porque as pessoas fazem caminhada no parque da universidade, onde tem muitas capivaras. · Em Fernandópolis teve 1 diagnóstico em 2014 apenas. 1.4 Espécies vetoras Carrapato pequeno, achatado, com coloração marrom-bege 1.4.1 A. sculptum · Em abundâncias nos biomas do cerrado e pantanal; · Áreas degradadas da Mata Atlântica: nos estados da região Sudeste e Centro Oeste, mas também na Bahia, Paraná e Santa Catarina Ciclo biológico · Baixa especificidade por hospedeiros; · Equideos, bovinos, caprinos, suínos, aves silvestres, cães, gatos, entre outros, inclusive o homem; · Transmissão da bactéria para os seres humanos se dá, principalmente, pela picada na fase ninfal. 1.4.2 A. aureolatum · Áreas remanescentes da Floresta Pluvial Atlântica de montanha; · Presente em SP, RJ, MG e Região Sul do Brasil Ciclo biológico · Conhecida como carrapato amarelo do cão; · Necessita de ambiente com umidade alta e temperaturas amenas presentes durante todo o ano; · Homem: vive próximo a essas matas com risco de ser parasitado; · Carnívoros silvestres: hospedeiros naturais da fase adulta do carrapato; · Cobertura vegetal: impedir os raios de luz solar alcançarem o chão (fragmentos de mata pluvial atlântica primária ou secundária); · Fases imaturas: aves passeriformes, turdos rufiventris (sabiá-laranjeira) e Pyriglena leucoptera (olho-de-fogo) · Somente o estágio adulto pode parasitar seres humanos 1.4.3 A. ovale · Diversas regiões brasileiras; · Distribuição não atinge as áreas de floresta de montanha (elevações superiores a 600m); · Estado de SP: Mata Atlântica litorânea do Oeste Paulista. Ciclo biológico · Fases imaturas: parasitam pequenos roedores silvestres; · Fase adulta: alta predileção por carnívoros; · Vetor de outra riquétsia: Rickettsia sp (cepa Mata Atlântica- menos virulenta); · Até o momento, não há registros de óbitos causados pela Rickettsia sp; · Ser humano: parasitado geralmente pela forma adulta. 1.5 Modo de transmissão · Ocorre através da picada de carrapatos; · Menor frequência: através da retirada de carrapatos com as mãos nuas ou seu esmagamento com as unhas; · Riquétsias: estado de latência metabólica enquanto estão parasitando um carrapato; · Reativação: no hospedeiro com aumento da temperatura corporal e o aporte de substancias presentes no sangue; · Verificada no peri e intradomicilio · Transmissão: após um período de no mínimo 10min de alimentação no homem; · Carrapatos: se transmite por via transovariana (transmite pros ovos), transestadial (das larvas até as fases de ninfa e adulto), pela cópula ou durante a alimentação. Para retirar corretamente o carrapato: pegar próximo a cabeça e espremer com a pinça pra depois retirar o carrapato, então lavar bem com água e sabão. Caso não tenha a pinça, pode pegar uma faca (com a parte não cortante) e colocar na parte posterior até o carrapato desgrudar, sem espremer o corpo inteiro. Pra espremer tem que ser na extremidade próxima da pele. 1.6 Susceptibilidade e imunidade · Susceptibilidade é universal; · Desenvolvimento de uma imunidade sólida e duradoura – resposta celular e não pela humoral. · Período de incubação: 2 a 14 dias depois do contato com o carrapato. 1.7 Quadro clínico · Sintomas iniciais: febre, mialgia e cefaleia intensa. São sinais bem inespecíficos, por isso é muito difícil pensar logo de inicio na febre maculosa. · Para pensar em febre maculosa é importante saber a atividade profissional do paciente e a possibilidade de ele ter entrado em contato com o carrapato. · Exantema: considerado como o sinal de diagnóstico maior. · Aparece em poucos casos no primeiro dia; · Ocorre em 60-70% dos casos entre o 3º a 5º dia após o inicio da febre; · Geralmente começa nos punhos e tornozelos, disseminando-se depois para todo o corpo, inclusive na região palmar e plantar; · Formas atípicas: exantema ausente, podendo dificultar e/ou retardar o diagnóstico e tratamento. · Edema nas mãos e nos pés, podendo se generalizar; · Sepse: · Comprometimento pulmonar, podendo levar a insuficiência respiratória aguda; · Comprometimento renal com IRA; · Comprometimento neurológico com meningite e/ou encefalite; · Icterícia. · Sequelas: neurológicas e/ou decorrentes de alterações vasculares importantes (necrose de extremidades). · Óbito: geralmente ocorre entre o 5º e 15º dias do início dos sintomas. · Imagem 1: Lesão exantemática que pode lembrar um pouco a sífilis secundária. · Imagem 2: Exantema em MMII. Pra diferenciar de petéquia, faz digito-pressão. Se for petéquia não vai sumir a lesão, já no exantema vai desaparecer e depois voltar. 1.8 Diagnósticos diferenciais No início dos sintomas Na presença do exantema Meningococcemia; Dengue; Leptospirose; Hepatite viral; Meningoencefalite; COVID-19. Doenças exantemáticas: dengue, zika, rubéola, sarampo, sífilis secundária, etc. Reações medicamentosas; Reações alérgicas. 1.9 Diagnóstico Exames específicos: 1. Reações de imunofluorescência indireta (RIFI): “padrão ouro” (detecção de anticorpos IgG, com aumento de duas vezes na titulação, entre duas amostras, sendo que a 1ª coletada na suspeita e a 2ª depois de 14 dias). Importante pra não descartar o diagnóstico, as vezes só não teve o suficiente pra detectar. 2. Imunohistoquímica: método de detecção de antígenos presentes em células endoteliais de amostras de tecido histológico. 3. Reação em cadeia da polimerase – PCR. 4. Cultura com isolamento: a partir do sangue ou de fragmentos de tecidos (pele, pulmão, baço e fígado), além do carrapato retirado do paciente. Sorologia – 1ª amostra na suspeita e a 2ª 14 dias após a primeira coleta; Se for um caso muito grave e precisa de um diagnóstico muito rápido, fazer cultura do sangue ou fragmento do tecido do paciente. 1.10 Tratamento · Deve ser instituído precocemente nas causas suspeitas; · Doxiciclina é o antimicrobiano de escolha – 100mg VO 12/12h por 14 dias. · Casos graves: clorafenicol por via EV, podendo ser associado a doxiciclina. 1.11 Profilaxia · Não é recomendado o tratamento antibiótico profilático; · Observar o eventual aparecimento de sintomas (como febre e cefaleia) dentro de um período de até 14 dias após a retirada do carrapato (devido ao período de incubação) 2.BRUCELOSE · Não é uma doença notificada, por isso não tem os dados epidemiológicos corretos. Em Fernandópolis é comum o diagnóstico, sendo que muitas vezes o próprio médico do trabalho acaba diagnosticando e tratando esse paciente. · Zoonose, causada por bactérias do gênero Brucella sp; · Distribuição universal e acarreta problemas sanitários importantes e prejuízos econômicos (pode formar granulomas nas articulações que deixam os pacientes inaptos a continuar a trabalhar); · Considerada uma doença reemergente e agente potencial para bioterrorismo; · Comum no Oriente Médio, Ásia, África, América do Sul e Central, na bacia do Mediterrâneo e Caribe; · Incidência pode ser 5 ou mais vezes superior; · Frequentemente uma doença de origem ocupacional (agricultores, fazendeiros, veterinários, trabalhadores de frigoríficos e laticínios) – perguntar se o paciente trabalha em frigoríficos ou tem contato direto com os derivados do leite. 2.1 Etiologia · Gênero Brucella; · Cocobacilos gram-negativos (imóveis, não capsulados); · São aeróbicos estritos e não fermentadores decarboidratos; · No Basil: Brucella abortus. 2.2 Reservatórios CLÍNICA MÉDICA AVANÇADA – INFECTO FEBRE MACULOSA E BRUCELOSE 1 · · Brucella abortus: bovinos, equinos e bubalinos (relativo a búfalos). · Brucella melitensis: caprinos, ovinos e camelídeos. · Brucella suis: suínos e vários mamíferos selvagens. · Brucella canis: caninos. · Brucella ovis: ovinos. · Brucella neotomae: ratos de floresta e do deserto. · Brucella microti: roedores. · Brucella inopinata: humanos. · Brucella pinnipedialis: penípedes (foca e leão-marinho). · Brucella ceti: cetáceos (golfinhos e baleia) 2.3 Transmissão · Contato de escoriações ou feridas na pele com tecidos animais, sangue, urina, secreções vaginais, fetos abortados e especialmente placentas - quando não usam os EPI’s adequados; · Ingestão de leite cru e produtos lácteos sem pasteurização; · Ingestão de carne não é um meio de transmissão comum, pois o número de bactérias é baixo e o consumo de carne crua não é habitual; · Pode ser transmitida pelo ar aos animais em currais e estábulos, e às pessoas em laboratórios, granjas e abatedouros; · Muitos casos por autoinoculação acidental da vacina contra brucelose animal – existem 2 tipos de vacina aplicadas. 2.4 Exposição a cepa Brucella abortus – Vacina B19 · Vacina de eleição utilizada no Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT); · Aplicada em fêmeas entre 3 e 8 meses de idade; · Não é utilizada em machos, pois pode causar orquite; · Pode infectar o homem e dar origem à doença. 2.5 Tempo de sobrevivência segundo o ambiente e o tempo 2.6 Período de incubação · Muito variável, de uma a três semanas, mas pode prolongar-se por vários meses. 2.7 Quadro clinico 2.7.1 Formas de evolução aguda · Tríade sintomática: febre, sudorese profusa e mialgia generalizada; · Outros sintomas: anorexia, astenia, obstipação, náuseas, vômitos, tosse seca, alterações comportamentais, humor depressivo, alterações do sono e perda ponderal; · Achados clínicos são inespecíficos. 1. Raramente adenomegalias, hepatomegalia indolor e esplenomegalia; 2. Envolvimento de ossos e articulações (aproximadamente 40% dos casos); 3. Sacroileite é comum; 4. Colecistite aguda e crônica são relatadas; 5. Endocardite é relatada em 2% dos casos; 6. Neurobrucelose (meningite com característica linfomonocitária (pouco aumento de células, predomínio de linfócitos, glicorraquia normal e aumento de proteínas), meningoencefalite, meningorradiculoneurite, meningomielite ou lesão de pares cranianos - mais frequentemente o VIII par); 7. Espondilodiscite – processo infeccioso no disco intervertebral. 2.7.2 Formas localizadas (crônicas) · Sintomas clínicos persistem por 12 meses ou mais; · Divididos em 3 categorias: 1. Recaída: recorrência de sinais e sintomas característicos da doença, ocorrendo após o curso completo do tratamento; 2. Infecção crônica localizada: recorrência de sinais e sintomas casada pela falha em eliminar um foco de infecção (osteomielite ou abcessos). 3. Convalescença tardia: persistência dos sintomas, sem sinais claros de infecção, após terapia e com melhora laboratorial. 2.8 Diagnóstico laboratorial Métodos diretos ou indiretos · Diretos: imuno-histoquímica e PCR · Indiretos – anticorpos anti-Brucella IgM/IgG ou Rosa Bengala · Sorologia é o padrão ouro – anticorpos anti-Brucella IgM/IgG (muito boa para diferenciar a fase aguda da crônica) ou Rosa Bengala (é uma coloração, não vai mostrar a fase, mas tem uma sensibilidade maior). · Quando tem suspeita importante de brucelose = pedir as duas, tem um exame com bastante sensibilidade e outro para saber a fase. · Para controle do tratamento usa o IgM/IgG. 2.9 Tratamento · Quanto mais complicada a forma, mais tempo dura o tratamento.
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