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Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental ARBOVIROSES 1. DENGUE Doença infecciosa febril aguda causada pelo vírus da dengue (DENV) e transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. Doença com comportamento sazonal → o período do ano com maior transmissão da doença ocorre nos meses mais chuvosos de cada região, geralmente de novembro a maio. FLAVIVÍRUS E SOROTIPOS DENV O vírus dengue (DENV) é um arbovírus transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti e possui quatro sorotipos diferentes (DENV- 1, 2, 3 e 4). ● A susceptibilidade ao vírus da dengue é universal ● A imunidade é permanente para um mesmo sorotipo (homóloga) ○ Entretanto, a imunidade cruzada (heteróloga) existe temporariamente FISIOPATOGENIA Após a picada por um mosquito infectado, o vírus replica-se em linfonodos regionais por 2-3 dias e dissemina-se por via hematogênica para tecidos, onde infecta macrófagos, monócitos e, em menor escala, linfócitos T e B. Há ativação do sistema imune e resposta inflamatória sistêmica, com liberação de interleucina 8 (IL-8), alfainterferona (TNF-alfa) e óxido nítrico → resulta em lesão endotelial difusa, desestabilização das estruturas juncionais intercelulares → aumento da permeabilidade vascular, que permite o extravasamento de plasma, com resultante formação de derrames cavitários e hipoalbuminemia. A liberação de fatores ativadores de plaquetas, com à exposição de moléculas de adesão no endotélio lesado, estimula a agregação plaquetária e sequestro periférico → culmina com a plaquetopenia. Tais alterações, em última análise, resultam em fenômenos hemorrágicos e em alterações circulatórias que podem levar ao choque, presente nas formas mais graves da dengue Quando ocorre infecção sequencial por sorotipo distinto, a presença da imunidade de memória produzida no episódio anterior, com base em linfócitos T CD4 e CD8, permite a transição imediata para resposta adaptativa específica e a amplificação dos mecanismos inflamatórios. Além disso, a presença de anticorpos heterólogos parece aumentar a captação viral e sua replicação em células que expressam receptores específicos. Dessa maneira, as lesões imunomediadas são exacerbadas, o que justifica a ocorrência de manifestações clínicas mais graves no segundo episódio da doença. ESPECTRO CLÍNICO Formas oligossintomáticas até quadros graves, podendo levar à óbito 1. FASE FEBRIL: ● Febre de início abrupto, 2-7 dias, geralmente alta (39-40ºC) ● Cefaléia, adinamia, mialgias, artralgias e dor retro-orbitária ● Exantema: 50% dos casos, máculo-papular, com ou sem prurido ○ Caracteriza-se por vasculite desencadeada pelo vírus, além de vasodilatação imunomediada ● Anorexia, náuseas/vômitos e diarreia Após a fase febril, recuperação gradativa, melhora do estado geral e retorno do apetite Atenção! ➔ sangramento de mucosas, manifestações hemorrágicas e queda abrupta de plaquetas podem ser observados em todas as apresentações clínicas de dengue. É importante ressaltar que pacientes podem evoluir para o choque sem evidências de sangramento espontâneo ou prova do laço positiva 2. FASE CRÍTICA: Inicia com a defervescência (↓ ou desaparecimento) da febre, entre o 3º-7º dia do início da doença, acompanhada do surgimento dos sinais de alarme, resultantes do aumento da permeabilidade vascular, com possível evolução para o choque por extravasamento de plasma ATENÇÃO! Situações de As formas graves de doença podem se manifestar com extravasamento de plasma, levando a choque, Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental gravidade acúmulo de líquidos com desconforto respiratório, sangramento grave e sinais de disfunção orgânica; Sinais de alarme *Dor abdominal intensa e contínua *Vômitos persistentes *Ascite, derrame pleural, derrame pericárdico *Hipotensão postural e/ou lipotimia *Hepatomegalia > 2 cm abaixo do rebordo costal *Sangramento de mucosa *Letargia e/ou irritabilidade *Aumento progressivo do hematócrito, pela saída do líquido do intra para o extracelular Choque Ocorre quando um volume crítico de plasma é perdido por meio do extravasamento ou sangramento, geralmente entre o 4-5 dia de doença, com intervalo entre o 3-7 dia precedido por sinais de alarme O período de extravasamento plasmático e choque leva de 24-48h, rápidas alterações hemodinâmicas Pode ocorrer hemorragia massiva sem choque prolongado, não obrigatoriamente associados a trombocitopenia e hemoconcentração 3. FASE DE RECUPERAÇÃO: ● Reabsorção gradual do conteúdo extravasado com progressiva melhora clínica ○ Atentar-se às possíveis complicações relacionadas à hiper-hidratação. Nessa fase, o débito urinário normaliza-se ou aumenta. Podem ocorrer ainda bradicardia e mudanças no eletrocardiograma. ● Alguns pacientes podem apresentar rash cutâneo acompanhado ou não de prurido generalizado ● Infecções bacterianas podem ter um caráter grave, contribuindo para o óbito ANAMNESE E EXAME FÍSICO A partir da anamnese, do exame físico e do hemograma, o profissional deve ser capaz de responder às seguintes perguntas: ● É dengue? ● Em que fase o paciente se encontra? ● Tem sinais de alarme? ● Está em choque? ● Tem condições preexistentes? ● Requer hospitalização? ● Em qual grupo o paciente se encontra? Prova do laço: ● Deve ser feito nos casos suspeitos para avaliar chance de sangramento ● Verificar a pressão arterial e calcular o valor médio pela fórmula (PAS+PAD) / 2 ○ Exemplo: PA 100x60 mmHg. ○ É igual a (100+60) / 2, que resulta em 160/2 = 80. Então a média da PA é 80 mmHg. ● Insuflar novamente até o valor médio e manter durante 5 min nos adultos e 3 min em crianças ● Desenhar um quadrado com 2,5 x 2,5 cm no local de maior concentração de petéquias ● A prova do laço será positiva se houver ≥ 20 petéquias em adultos e ≥ 10 em crianças A prova do laço é traduzida pelo sangramento induzido. Se a prova do laço é positiva, quer dizer que é um quadro um pouco mais grave, então o paciente é automaticamente classificado como grupo B, e para esse paciente, no mínimo, fazer um hemograma no mesmo dia da avaliação. O hemograma serve para confirmar objetivamente a gravidade da permeabilidade capilar através do hematócrito. LABORATORIAIS Nos primeiros dois dias de infecção, correspondentes ao período de viremia, a confirmação diagnóstica é possível apenas por detecção do RNA PCR A coleta de amostra para sorologia deve ser feita a partir do 7º dia para detecção de imunoglobulinas de classe IgM específicas contra o vírus da dengue por ELISA CLASSIFICAÇÃO DE RISCO Hemograma: acompanhamento do hematócrito permite detectar hemoconcentração que, além de contribuir para o diagnóstico, é importante fator preditor de evolução para formas graves e parâmetro para indicação de modalidade da hidratação e do volume a ser administrado; A contagem de plaquetas também tem importância prognóstica, a fim de determinar o risco de hemorragias graves e como critério diagnóstico GRUPO A: Sem sinais de alarme, sem sangramento, sem condição especial, sem risco social e sem comorbidades ● Acompanhamento ambulatorial ● Hemograma e confirmação: à critério ● Conduta: hidratação oral, repouso e sintomáticos Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental ○ 60 mL/kg/dia em adultos: ■ 1/3 com sais de reidratação oral (SRO) e com volume maior no início. ■ 2/3 restantes, ingestão de líquidos caseiros (água, suco de frutas, soro caseiro, chás, água de coco, entre outros); ● Orientar sinais de alarme ● Retorno para reavaliação clínica no dia de melhora da febre, em função do possível início da fase crítica GRUPO B: Sem sinais de alarme, com sangramento, condição especial, risco social e/ou comorbidades ● Acompanhamento na sala de observação ● Hemograma e confirmação: sempre ○ Se hematócrito normal, segue grupo A ■ Hidratação oral, repouso e sintomáticos ■ Orientar sinais de alarme ■ Reavaliação clínica e labs diária até 48h sem febre. ○ Se hemoconcentração ou sinais de alarme: segue grupo C ■ Ht aumentado > 10%, ou crianças > 38%, mulheres > 44%, homens > 50% GRUPOC: Sinais de alarme presentes e sinais de gravidade ausentes: ● Acompanhamento na enfermaria por, no mínimo, 48h ● Hemograma e confirmação: sempre ● Conduta: hidratação EV imediata, repouso e sintomáticos ○ SF 0,9% ou RL 10 mL/kg/h na primeira hora ● Reavaliação clínica e laboratorial a cada 2h → melhora clínica e laboratorial, sinais vitais e PA estável, diurese normal e queda do hematócrito. ○ Sim: manutenção com SF ○ Não: repetir expansão até 3x, se sem melhora vai para o grupo D. ● Critério de alta (precisa ter todos): ○ Estabilização hemodinâmica (48h) ○ Ausência de febre (48h) ○ Hematócrito normal e estável (24h) ○ Plaquetas em elevação e acima de 50.000/mm3 ○ Ausência de sintomas respiratórios GRUPO D: Dengue grave: extravasamento grave de plasma, levando ao choque, sangramento grave. ● Acompanhamento na UTI ● Hemograma e confirmação: sempre ● Conduta: hidratação EV imediata, repouso e sintomáticos ○ SF 0,9% ou RL 20 mL/kg em até 20 minutos ● Reavaliação clínica a cada 15/30 minutos ● Reavaliação laboratorial a cada 2h ● Se resposta inadequada: ○ Ht em elevação = coloides/albumina EV ○ Ht em queda: ■ Hemorragias = hemotransfusão ■ Coagulopatias = plasma, vit. K, crioprecipitado ■ ICC, hiper-hidratação = diuréticos, inotrópicos VACINA QDENGA: ● Vacina tetravalente de vírus vivo atenuado; ● 2 doses com intervalo de 3 meses; ● Indivíduos soronegativos ou soropositivos para dengue ● Indicação: 4-60 anos; Contra-indicações: gestantes, lactantes, imunodeficiências primárias ou adquiridas (incluindo terapias), reação de hipersensibilidade à dose anterior. Para quem já teve dengue, vacinação ideal após 6 meses da infecção. 2. CHIKUNGUNYA A chikungunya é uma arbovirose causada pelo vírus chikungunya (CHIKV), da família Togaviridae e do gênero Alphavirus; A transmissão se dá através da picada de fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus infectadas pelo CHIKV. ESPECTRO CLÍNICO A maioria dos indivíduos infectados desenvolve sintomas - 70% → valores significativos e geram sobrecarga nos serviços de saúde A doença pode evoluir em três fases: aguda, subaguda e crônica FASE AGUDA OU FEBRIL (3-10 DIAS) ● Febre de início súbito e intensa poliartralgia, rash cutâneo (> 50%), cefaleia e fadiga, duração média de 7 dias ○ Poliartralgia, bilateral e simétrica, abrange com maior frequência as regiões mais distais. ○ Pode haver edema, normalmente associado a tenossinovite FASE SUBAGUDA (ENTRE 2 E 3 MESES APÓS) Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental ● Persistência das dores articulares após a fase aguda ● A febre normalmente desaparece ● Pode persistir ou agravar a artralgia, incluindo: ○ Poliartrite distal ○ Exacerbação dor articular nas regiões previamente acometidas na 1ª fase ○ Tenossinovite em mãos, punhos e tornozelos FASE CRÔNICA (> 3 MESES) ● Os principais fatores de risco para a cronificação são: ○ Idade > 45 anos ○ Sexo feminino ○ Desordem articular preexistente ○ Intensidade das lesões articulares na fase aguda MANIFESTAÇÕES ATÍPICAS Em áreas com circulação de chikungunya, podem ocorrer casos com manifestações atípicas que não apresentam febre e dor articular. Essas manifestações podem ser ocasionadas por efeitos diretos do vírus, pela resposta imunológica ou pela toxicidade a medicamentos FORMAS GRAVES: Todo paciente que apresentar sinais clínicos e/ou laboratoriais em que há necessidade de internação em terapia intensiva ou risco de morte deve ser considerado como forma grave da doença; essa forma acomete com mais frequência: ● Pacientes com comorbidades ● Crianças ● Pacientes com idade > 65 anos ● Uso de alguns fármacos (aspirina, anti-inflamatórios e paracetamol em altas doses) GESTANTES A infecção pelo CHIKV, no período gestacional, não está relacionada a efeitos teratogênicos, e há raros relatos de abortamento espontâneo. Mães que adquirem chikungunya no período intraparto podem transmitir o vírus a recém-nascidos por via transplacentária. A taxa de transmissão, neste período, pode chegar a aproximadamente 50%, ● Destes, cerca de 90% podem evoluir para formas graves. ● Sem evidências que cesariana altere o risco de transmissão. ● O vírus não é transmitido pelo aleitamento materno. É importante o acompanhamento diário das gestantes com suspeita de chikungunya, e caso sejam verificadas situações que indiquem risco de sofrimento fetal ou viremia próxima ao período do parto, é necessário o acompanhamento em leito de internação CLASSIFICAÇÃO DE RISCO DIAGNÓSTICO O diagnóstico pode ser feito por sorologia ou PCR. Quando feito por PCR, deve ser coletado sangue na primeira semana habitualmente, nos primeiros 5 dias para detectar a viremia. Quando por meio de sorologia, a coleta deve ser feita a partir do 7º dia do início dos sintomas, com presença de IgM. CONDUTA Suporte sintomático, hidratação e repouso. Na fase aguda, AINE não deve ser prescrito como drogas de primeira linha por risco de sangramento aumentado A escala analógica visual (EVA) é uma das mais simples e que pode ser aplicada por qualquer profissional de saúde: Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental TRATAMENTO FARMACOLÓGICO Dor leve (1-3) -Dipirona 30 a 50 mg/kg/dose fixo de 6/6h ● Adulto: 1 g 6/6h -Paracetamol 500-750 mg VO fixo cada 4-6h, não devendo a dose diária total ultrapassar as 4 g Sempre em doses fixas e nunca “se necessário” Dor mod (4-6) Se dor EVA ≥ 4, persistente, poliarticular ou incapacitante: acesso venoso -Dipirona 30 mg/kg em AD, 5 minutos de infusão, reavaliação em 90 minutos -Tramadol 100 mg em 100 ml SF, infundido em 20 minutos, mais 10 mg de bromoprida em 8 ml de AD, lento, em bolus Dor intensa (7-10) -Tramadol: 50 – 100 mg a cada 6/6 horas -Codeína: 30 mg 6/6h Dor neuro- pática -Amitriptilina 50mg/dia -Gabapentina 300mg, 2x/dia Corticói de Indicado para a fase subaguda ou crônica, com dor moderada a intensa (EVA) -Prednisona 0,5 mg/kg de peso/dia, dose única pela manhã -Resposta adequada: melhora da capacidade para deambular sem ajuda e controle satisfatório das dores ● Nesse caso, manter a dose até resolução do quadro de dor articular por completo Tratamento não farmacológico: ● O tratamento fisioterápico deve ser considerado desde a fase aguda da Chikungunya ● Compressas frias ● Apoio psicológico DENGUE X CHIKUNGUNYA 3. ZIKA TRANSMISSÃO Vetorial: transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti; Perinatal: há evidências de que a mãe infectada com o vírus Zika nos últimos dias de gravidez pode transmitir o vírus ao recém-nascido durante o parto ● Risco: gestantes nos primeiros três meses de gravidez (primeiro trimestre), que é o momento em que o feto está sendo formado. ESPECTRO CLÍNICO Pode manifestar-se clinicamente como uma doença febril aguda, com duração de 3-7 dias, sem complicações graves Mais de 80% são assintomáticas; quando presente, há surgimento de exantema maculopapular pruriginoso, febre intermitente, hiperemia conjuntival não purulenta e sem prurido, artralgia, mialgia, edema periarticular e cefaleia Artralgia pode persistir por um mês Caso suspeito: ● Presença de exantema maculopapular pruriginoso acompanhado de pelo menos DOIS dos seguintes sinais e sintomas: ○ Febre ○ Hiperemia conjuntival sem secreção e prurido ○ Poliartralgia ○ Edema periarticular GRAVIDEZ O vírus tem tropismo pelo SNC, sendo considerado de alto risco em gestantes nos primeiros 3 meses de gravidez (primeiro trimestre), momento em que o feto está sendo formado; O risco parece existir também, porém em menor grau, quando a virose é adquirida no segundo trimestre de gestação. Aparentemente, a partir do terceiro trimestre, o risco de microcefalia é baixo, pois o feto já está completamente formado. Mesmo assim, o vírus pode levar a alterações ao feto mesmo com infecções no terceiro trimestre da gestação. Bruna Thomas – 8º período – XLIV Saúde Mental DENGUE X ZIKA ● ●
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