Prévia do material em texto
5ºAula Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, vocês serão capazes de: gramática da LIBRAS Olá! Nesta quinta aula faremos uma introdução aos aspectos gramaticais da LIBRAS. Suas características principais, bem como algumas curiosidades e mitos em relação à comunicação com pessoas surdas. Fiquem atentos às seções de estudo e, ao final, retomaremos nossa conversa! Boa leitura! Boa aula! L I B R A S 193 32Libras - Língua Brasileira de Sinais 1 – Características das línguas de sinais 2 – Aspectos gramaticais básicos: parâmetros do sinal 3 – O sistema de transcrição na LIBRAS 4 - Categorias gramaticais na LIBRAS 1 – Características das línguas de sinais Nos últimos 20 anos, as pesquisas linguísticas e os movimentos de reivindicação dos surdos pelo direito de usar a língua de sinais trazem, como consequência, uma preocupação crescente dos educadores em aprender a língua de sinais e em propiciar condições para que os alunos também o façam. Hoje a língua de sinais é reconhecida no Brasil (Lei nº. 10.436, de 22 de abril de 2002/ Decreto nº. 5.626, de 22 de dezembro de 2005) e em todo o mundo como um sistema linguístico independente das línguas oral-auditivas. Utilizando-se de um canal visual-espacial, a língua de sinais comporta sistemas simbólicos visuais que dão sentido à comunicação e fortalecem os discursos surdos. Seções de estudo Mas que língua é esta que eu preciso olhar e não ouvir? Como conceber uma língua, que é gestual, dentro de princípios gramaticais semelhantes ao das línguas orais? Todos os professores precisarão dominar esta língua? Para elucidar as dúvidas iniciais, em relação às características das línguas de sinais, façam a leitura deste trecho do livro intitulado “Libras em Contexto” de autoria de Tanya A. Felipe, utilizado pelo MEC em cursos de formação em Libras: O Universal nas Línguas TANYA A. FELIPE Professora Titular da UPE Coordenadora do grupo de pesquisa da FENEIS Pesquisas sobre as línguas de sinais vêm mostrando que estas línguas são comparáveis em complexidade e expressividade a quaisquer línguas orais. Estas línguas expressam ideias sutis, complexas e abstratas. Os seus usuários podem discutir filosofia, literatura ou política, além de esportes, trabalho, moda e utilizá-la com função estética para fazer poesias, estórias, teatro e humor. Como toda língua, as línguas de sinais aumentam seus vocabulários com novos sinais introduzidos pelas comunidades surdas em resposta à mudanças culturais e tecnológicas. As línguas de sinais não são universais, cada língua de sinais tem sua própria estrutura gramatical. Assim, como as pessoas ouvintes em países diferentes falam diferentes línguas, também as pessoas surdas por toda parte do mundo, que estão inseridos em “Culturas Surdas”, possuem suas próprias línguas, existindo, portanto muitas línguas de sinais diferentes, como: Língua de Sinais Francesa, Chilena, Portuguesa, Americana, Argentina, Venezuelana, Peruana, Portuguesa, Inglesa, Italiana, Japonesa, Chinesa, Uruguaia, Russa, Urubus-Kaapor, citando apenas algumas. Estas línguas são diferentes uma das outras e independem das línguas orais-auditivas utilizadas nesses e em outros países, por exemplo: o Brasil e Portugal possuem a mesma língua oficial, o português, mas as línguas de sinais destes países são diferentes, o mesmo acontece com os Estados Unidos e a Inglaterra, entre outros. Também pode acontecer que uma mesma língua de sinais seja utilizada por dois países, como é o caso da língua de sinais americana que é usada pelos surdos dos Estados Unidos e do Canadá. Embora, surdos de países com línguas de sinais diferentes comunicam-se mais rapidamente uns com os outros, fato que não ocorre entre falantes de línguas orais, que necessitam de um tempo bem maior para um entendimento. Isso se deve à capacidade que as pessoas surdas têm em desenvolver e aproveitar gestos e pantomimas para a comunicação e estarem atentos as expressões faciais e corporais das pessoas. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) é a língua de sinais utilizada pelos surdos que vivem em cidades do Brasil onde existem comunidades surdas, mas além dela, há registros de uma outra língua de sinais que é utilizada pelos índios Urubus-Kaapor na Floresta Amazônica. A LIBRAS, como toda língua de sinais, é uma língua de modalidade gestual-visual porque utiliza, como canal ou meio de comunicação, movimentos gestuais e expressões faciais que são percebidos pela visão; portanto, diferencia da Língua Portuguesa, que é uma língua de modalidade oral-auditiva por utilizar, como canal ou meio de comunicação, sons articulados que são percebidos pelos ouvidos. Mas as diferenças não estão somente na utilização de canais diferentes, estão também nas estruturas gramaticais de cada língua. Embora com as diferenças peculiares a cada língua, todas as línguas possuem algumas semelhanças que a identificam como língua e não linguagem como, por exemplo, a linguagem das abelhas, dos golfinhos, dos macacos, enfim, a comunicação dos animais. Uma semelhança entre as línguas é que todas são estruturadas a partir de unidades mínimas que formam unidades mais complexas, ou seja, todas possuem os seguintes níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático, o semântico e o pragmático. Atribui-se às línguas de sinais o status de língua porque elas, embora sendo de modalidade diferente, possuem também estas características em relação às diferenças regionais, sócio-culturais, entre outras, e em relação às suas estruturas que também são compostas pelos níveis descritos acima. Livro na íntegra disponível em: <http://www.librasemcontexto.org/>. Nos tempos antigos, acreditava-se que a LIBRAS era uma língua pobre por apresentar poucos sinais, que correspondiam às palavras. Isto é um mito acerca das línguas de sinais. Segundo Brito (1997, p.12): Pode acontecer o fato de que uma língua que não é usada em todos os setores da sociedade ou que é usada em uma cultura bem distinta da que conhecemos não apresente vocábulos ou palavras para um determinado campo esta língua seja pobre porque potencialmente ela tem todos os mecanismos para criar ou gerar palavras para qualquer conceito que vier a ser utilizado pela comunidade que a usa. Por exemplo, a LIBRAS não tinha um sinal para o conceito “lingüística” até há poucos anos. À medida que os surdos foram se inteirando 194 33 lingüística, houve a necessidade de gerar um sinal para esse conceito. interação do dia a dia e dos outros tipos de uso da língua. Muitas pessoas ainda acreditam em coisas que não são verdadeiras em relação ao sujeito surdo. Observamos, nos discursos das pessoas que não conhecem os surdos e as línguas de sinais, que há uma série de crenças que não correspondem à realidade. As pessoas pensam essas coisas sobre as línguas de sinais, porque por muitos anos houve ideias que foram disseminadas por questões filosóficas, religiosas, políticas e econômicas. Talvez você mesmo já pensou assim e/ou acredita em muitas delas. Não se sinta culpado, pois isso é fruto do desconhecimento. Apesar do impacto dessas concepções, as pesquisas avançaram muito nos mostrando o quanto estávamos equivocados. Agora, portanto, apresentaremos evidências para desmistificar tais ideias. Karnopp (2004, p. 31-37): Mitos 1 – A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos Tal concepção está atrelada à ideia abstrato e que o mundo dos gestos é concreto. O equívoco desta concepção é entender sinais como gestos. Na verdade, os sinais são palavras, apesar de não serem orais-auditivas. Os sinais das línguas de sinais podem expressar quaisquer ideias abstratas. Podemos falar sobre as emoções, os sentimentos, os conceitos em língua de sinais, assim como nas línguas faladas. 2 – Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as pessoas surdas. Esta ideia está relacionadacom o mito anterior. Se as línguas de sinais são Como as língua de sinais são consideradas gestuais, então elas são universais. Isto é uma falácia, pois as várias línguas de sinais que já foram estudadas são diferentes umas das outras. Assim como as línguas faladas, temos línguas de sinais que pertencem a troncos diferentes. Temos línguas de origem francesa e as línguas de origem inglesa. 3 – Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais que seria derivada das línguas de sinais, sendo um pidgin sem estrutura própria, subordinado e inferior às línguas orais. Assim como as línguas de sinais são consideradas gestuais, elas não poderiam apresentar a mesma complexidade das línguas faladas. Isso também não é verdadeiro, pois em primeiro lugar as línguas de sinais são línguas de fato. Em segundo lugar, as línguas de sinais independem das línguas faladas. Elas são autônomas e apresentam o mesmo faladas, ou seja, dispõem dos mesmos níveis linguísticos de análise e são tão complexas quanto às línguas faladas. 4 – A língua de sinais seria um sistema de comunicação sendo estética, expressiva e linguisticamente inferior ao sistema de comunicação oral. Como as línguas de sinais são tão complexas quanto às línguas faladas, esta as línguas de sinais podem ser utilizadas na produção das línguas humanas. Você pode usar a língua de sinais para produzir um poema, uma estória, um conto, uma informação, um argumento. 5 – As línguas de sinais derivariam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes. A ideia de que a língua de sinais seja gestual também reaparece neste mito. As pessoas pensam que as línguas de sinais são de fácil aquisição por estarem diretamente relacionadas com o sistema gestual utilizado por todas as pessoas que falam uma língua. Como isso não é verdade, as línguas de sinais são tão difíceis de serem adquiridas quanto quaisquer outras línguas. Precisamos de anos de dedicação para aprendermos uma língua de sinais, mas com base neste mito, as pessoas pensam que sabem a língua de sinais por usarem alguns gestos e alguns sinais que aprendem nas aulas de língua de sinais. 6 – As línguas de sinais, por serem organizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que esse hemisfério é responsável pelo processamento de informação espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem. As pesquisas com surdos apresentando lesões em um dos hemisférios apresentam evidências de que as línguas de sinais são processadas linguisticamente no hemisfério esquerdo da mesma forma que as línguas faladas.As investigações concluem que a língua de sinais é um sistema, que faz parte da linguagem humana, processado no hemisfério esquerdo e no hemisfério direito. 1.1 - Dicas para comunicação com a pessoa surda Para comunicação com pessoas surdas precisamos ter sinais é principalmente visual. Se você não olhar, não entenderá o que estão dizendo. Então, o olhar atento torna-se o ponto principal para comunicação, mesmo que você não saiba a língua de sinais. Existe a preocupação com a altura da voz (muitos falam quase gritando) e não se preocupam em mostrar as expressões faciais, nem com o posicionamento de seu corpo em relação ao surdo. Assim, um grande passo para a comunicação com pessoas surdas é demonstrar sentimentos pela expressão facial, pela fala pausada (sem exageros), pelo apontar e pela comunicação escrita o que se quer informar. É importante saber, também, que nem todos os surdos fazem leitura labial e, dependendo das suas interações e escolarização na infância, nem todos utilizam a língua de sinais para comunicação. Observe a figura abaixo e note ângulo do olhar quando se utiliza a LIBRAS ou se pretende comunicar com pessoas surdas. Disponível em: <http://www.sj.cefetsc.edu.br/~nepes/videos/apostilas/ apostia_libras_basico.pdf>. 195 34Libras - Língua Brasileira de Sinais 2 – Aspectos gramaticais básicos: parâmetro do sinal Como já foi citado, a LIBRAS é uma língua como outra qualquer, possuindo sua própria estrutura. Veremos aqui seus parâmetros que devem ser respeitados, pois cada um deles tem sua importância, sendo fundamental o uso concomitante de ambos para que os sinais sejam utilizados da maneira correta e assim a mensagem seja compreendida pelo receptor. São cinco os parâmetros: configuração de mãos, ponto de articulação, movimento, orientação / direcionalidade, expressão facial e/ou corporal. Abaixo, veremos a explicação de cada uma delas: Configuração de mãos: é a postura adotada pela mão para realizar os sinais: como fica a sua mão para fazer determinado sinal. Na LIBRAS existem 64 configurações ou 73, dependendo do autor. Os sinais são realizados pela mão dominante, ou seja, mão direita para os destros, mão esquerda para os canhotos, ou então pelas duas mãos, dependendo do sinal. Muitas vezes a configuração de mão é exatamente a mesma para sinais correspondentes à palavras diferentes. Exemplo, os sinais de: DESCULPAR, AZAR E TRISTE. Ponto de articulação: é o lugar onde a mão predominante pode tocar, ou não, alguma parte do corpo, ou simplesmente estar em um espaço neutro vertical ou horizontal, localizado da cabeça à cintura. Por exemplo: ANDAR, VIAJAR e NOME (feitos no espaço neutro), já os sinais: ROSA, BEIJAR E SEXTA-FEIRA, são realizados na face, mais propriamente na bochecha. Movimento: parâmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas e direções, desde os movimentos internos da mão, os movimentos do pulso, os movimentos direcionais no espaço até conjuntos de movimentos no mesmo sinal. O movimento que as mãos descrevem no espaço ou sobre o corpo pode ser em linhas retas, curvas, sinuosas ou circulares em várias direções e posições”. (Brito, 2010, p. 38) Orientação/direcionalidade: para que direção ou sentido vai minha mão? Alguns sinais apresentam a mesma configuração de mão, porém, opõem-se quanto a sua direção. Por exemplo: DAR, RECEBER, PERGUNTAR, ME PERGUNTAR e, ainda, SUBIR, DESCER, ASCENDER E APAGAR. Expressão facial e/ou corporal: como vemos, é considerada um parâmetro gramatical na LIBRAS. Ao realizar um sinal que demonstre sentimento ou reação, se não houver expressão facial, o sinal estará errado, pois, muitas vezes, é ela quem vai diferenciar ou contribuir decisivamente para a compreensão da mensagem que se quer transmitir (Silva, 2002, p. 55). Ou seja, podem expressar as diferenças entre sentenças afirmativas, interrogativas, exclamativas e negativas. Por exemplo: TRISTE, ALEGRE, NÃO GOSTO, GOSTO MUITO. É extremamente importante ressaltar que todos os parâmetros devem ser respeitados, pois falar com as mãos (LIBRAS) é, portanto, utilizar esses elementos para formar uma palavra, que formará uma frase e/ou uma mensagem. De acordo com Felipe (2007, p. 23), para conversar em qualquer língua, não basta conhecer as palavras e articulá-las adequadamente, é preciso aprender as regras gramaticais de combinação dessas palavras em frases. Na combinação destes cinco parâmetros, tem-se o sinal. Falar com as mãos é, portanto, combinar estes elementos que formam as palavras e estas formam as frases em um contexto. Sendo assim, um profissional que quer atender seu educando de maneira satisfatória, deve buscar mecanismos para compreender sua realidade e, mais do que conhecer, é aceitá-la. 3 – O sistema de transcrição na LIBRAS Como língua de modalidade gestual, a LIBRAS ainda não possui um registro oficial, ou seja, não apresenta forma escrita. Sendo assim, a melhor maneira de representá-la é através de registro de imagens. Pensando no ensino da língua para pessoas ouvintes, foi criado um sistema de notação para transcrevê-la. Pesquisadores usam esta forma de transcrição para representar sinais da LIBRAS com palavras da Língua Portuguesa. Aqui optamos apenas por algumas das convenções apresentadas por Felipe (2007, p. 24-27): 1) Os sinais em Libras serãorepresentados por palavras da Língua Portuguesa em letras maiúsculas. Exemplos: TRABALHAR, QUERER, NÃO-TER. 2) A datilologia (alfabeto manual) que é usada para expressar nome de pessoas, de localidades e outras palavras que não possuem um sinal, está representada pela palavra separada, letra por letra, por hífen (soletração). Exemplos: HOTEL I-T-A-G-U-A-Ç-U 3) Na Libras não há desinências para gênero(masculino e feminino). O sinal, representado por palavra da língua portuguesa que possui marcas de gênero, está terminado com o símbolo @ para reforçar a ideia de ausência e não haver confusão. Exemplos: EL@ (ela, ele), AMIG@S (amigos ou amigas). 4) Uma expressão em Libras, que é traduzido por duas ou mais palavras em língua portuguesa, será representado pelas palavras correspondentes separadas por hífen. Exemplos: CORTAR-COM-FACA, QUERER-NÃO “não querer”, MEIO-DIA, AINDA-NÃO. 5) Um sinal composto, formado por dois ou mais sinais, que será representado por duas ou mais palavras, mas com a ideia de uma única coisa, serão separados pelo símbolo ^ . Exemplos: CAVALO^LISTRA “zebra”. 6) nas formas exclamativas e interrogativas, os sinais de pontuação 7) Os verbos que possuem concordância de gênero (pessoa, coisa, Exemplos: pessoaANDAR, veículoANDAR, coisa-arredondadaCOLOCAR, 196 35 8) Às vezes há uma marca de plural pela repetição do sinal. Esta marca será representada por uma cruz no lado direto acima do sinal que está sendo repetido: Exemplo: GAROTA + 9) Quando um sinal, que geralmente é feito somente com uma das mãos, ou dois sinais estão sendo feitos pelas duas mãos simultaneamente, serão representados um abaixo do outro com indicação das mãos: direita (md) e esquerda (me). Exemplos: IGUAL (md) PESSO@-MUIT@ANDAR (me) IGUAL (me) PESSOAEM-PÉ (md) Estas convenções são utilizadas para poder representar, linearmente, uma língua espaço-visual, que é tridimensional. 4 – Categorias gramaticais na LIBRAS As classes de palavras de uma língua são denominadas categorias gramaticais Todas as línguas possuem palavras que são classificadas como fazendo parte de um tipo, classe conforme seus aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos. Assim, na língua portuguesa, por exemplo, os substantivos são palavras que possuem desinência de gênero e número, são as palavras-chave de um sintagma nominal que pode ter a função de sujeito ou de objeto (FELIPE, 2007, p. 31). Embora as línguas de sinais não possuam as mesmas classes gramaticais e muitas línguas não possuam todas, isso não denota inferioridade, as línguas tem formas diferenciadas para expressar os conceitos. Por exemplo: na LIBRAS não há artigos – o, a, os, as. Veremos um quadro simplificado das categorias existentes na Língua Portuguesa e na LIBRAS: Não se deve confundir os classificadores, que são algumas configurações de mãos incorporadas ao movimento de certos tipos de verbos, com os adjetivos descritivos que, nas línguas de sinais, por estas serem espaço-visuais, representam iconicamente qualidades de objetos. Por exemplo, para dizer nestas línguas que “uma pessoa está vestindo uma blusa de bolinhas, quadriculada ou listrada”, estas expressões adjetivas serão desenhadas no peito do emissor, mas esta descrição não é um classificador, e sim um adjetivo que, embora classifique, estabelece apenas uma relação de qualidade do objeto e não relação de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA, que é a característica dos classificadores na LIBRAS, como também em outras línguas orais e de sinais (FELIPE, 2007, p.39) 4.1. Verbos Existem dois tipos de verbos na LIBRAS: os que possuem marcas de concordância e os que não as possuem. O primeiro tipo citado subdivide-se em 3 categorias: 4.2. Classificador na LIBRAS Para os pesquisadores linguistas, um classificador é uma forma que existe para estabelecer um tipo de concordância em uma língua. Segundo Felipe (2007), na LIBRAS, os classificadores são configurações de mãos que relacionamos à coisa, pessoa e animal, funcionando como marcadores de concordância. Portanto os classificadores são marcadores de concordância de gênero: PESSOA, ANIMAL, COISA. Exemplo: 4.3. Adjetivo na LIBRAS Para os adjetivos, na LIBRAS, não há marca de gênero nem marca de número. A descrição de um objeto é mais clara, se comparado à língua portuguesa, porque o formato ou textura são “desenhados” no espaço ou no corpo do emissor, exibindo tridimensionalidade que é característica da modalidade da língua. Em relação à colocação dos adjetivos na frase, eles geralmente vêm após o substantivo que qualifica. Exemplos: a) RAT@ PEQUEN@, COR PRET@, ESPERT@ 4.4. Pronome na LIBRAS A LIBRAS possui um sistema pronominal que representa as pessoas de um diálogo ou discurso. Este sistema é conhecido como apontamento. Consiste em apontar o dedo para onde se quer especificar ou a pessoa que quer representar. Na LIBRAS os pronomes demonstrativos e os advérbios de lugar têm o mesmo sinal, somente o contexto os diferencia pelo sentido da frase acompanhada de expressão facial. Representam o que está perto, distante e o que está junto ao emissor. Exemplo: a) EST@ / AQUI - apontar para o lugar perto e em frente do emissor, acompanhado de um olhar para este ponto. b) ESS@ / AÍ - apontar para o lugar perto e em frente do receptor, acrescido de um olhar direcionado não para o receptor , mas para o ponto apontado perto segunda pessoa do discurso. c) AQUELE / LÁ - apontar para um lugar mais distante, o lugar da terceira pessoa com um olhar direcionado. 4.5. Numeral na LIBRAS As línguas têm formas diferentes para apresentar os numerais quando utilizados como cardinais, ordinais, quantidade, medida, idade, dias da semana ou mês, horas e valores monetários. Isso também acontece na LIBRAS (FELIPE, 2007, p. 58) Nesta língua há a representação para o numeral cardinal, representação dos números ordinais também são diferentes. As representações dos numerais cardinais, das quantidades, da idade, a partir do número 11, são idênticos. A partir do numeral DEZ, não há mais diferença entre os cardinais e ordinais. Estas diferenças se referem à configuração de mão. 197 36Libras - Língua Brasileira de Sinais Retomando a aula Façamos, agora, uma revisão do que foi exposto: 1 – Características das línguas de sinais Nesta seção, “Características das línguas de sinais”, vimos que o reconhecimento da LIBRAS como língua deu-se nos tempos modernos. Isto ocorreu após estudiosos linguistas se interessarem em pesquisá-las e divulgar suas proposições. Assim, as pessoas surdas puderam utilizar uma língua própria, que por sua vez, atende a todos os critérios gramaticais, se comparada a uma língua oral. Porém, tal constatação não é capaz de desmistificar todos os mitos existentes acerca da características principais da comunicação com os surdos. 2 – Aspectos gramaticais básicos: parâmetros do sinal Nesta seção, “Aspectos gramaticais básicos: parâmetros do sinal”, trouxemos os parâmetros da LIBRAS: regra gramática para realização correta dos sinais. Entender os parâmetros e respeitá-los, garante ao emissor a assertividade dos sinais bem como a transmissão correta da mensagem. 3 – O sistema de transcrição na LIBRAS Apresentamos, aqui, em “O sistema de transcrição na LIBRAS” um sistema de transcrição criado para o registro da LIBRAS com correspondentes na língua portuguesa. Ou seja, como a LIBRAS não possui modalidade escrita, usamos porém, o sistema criado tem algumas especificidades de leitura, para melhor entendimento do receptor, geralmente ouvinte. 4 – Categorias gramaticais na LIBRAS Em “Categorias gramaticais na LIBRAS”, uma breve explanação sobre as categorias gramaticais existentes na LIBRAS e como elas se articulam para realização dos sinais e formação de frases, em um contexto. Espero que o resultado da leitura tenha sido satisfatório, apesar de o tema “Gramática” ser complexoem qualquer língua, seja ela de sinais, seja de modalidade oral. Então, aqui deixaremos indicações de leitura para complemento da aula: Vale a pena Vale a pena ler Não esqueçam! Qualquer dúvida, façam suas perguntas no Quadro de avisos ou comuniquem-se pelo Fórum. Nunca deixem de esclarecer Livro: “Libras em Contexto” de Tany. Disponível em: http://www.librasemcontexto.org/ Livro: “Por uma Gramática da Língua de Sinais” de Lucinda F. Brito. Considerado um clássico nos estudos linguísticos das línguas de sinais. Minhas anotações 198