Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

R��l��õe� s��r� o t��b��h� p��f��s��n��
COTIDIANO
 A��I��E��E 
S��I��
diálogos do
COTIDIANO
 A
��I��E��E S��I�
�
diálogos do
BRASÍLIA (DF), 2022
CADERNO 3
Diálogos do cotidiano – 
Assistente social
Reflexões sobre o trabalho profissional
BRASÍLIA (DF), 2022
CADERNO 3
Diálogos do Cotidiano – assistente social: reflexões sobre o trabalho profissional
CADERNO 3 
CFESS, Brasília (DF), 2022
Organização 
 
Comissão de Comunicação: 
Emilly Marques, Elizabeth Borges, Lylia Rojas, Kênia Figueiredo, Agnaldo Knevitz. 
 
Revisão 
Assessoria de Comunicação do CFESS – Diogo Adjuto e Rafael Werkema 
Projeto gráfico e capa 
Rafael Werkema 
 
Diagramação 
Feeling Propaganda
Tiragem 
10 mil exemplares
ISBN 978-65-86322-10-1
Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) 
Gestão Melhor ir à luta com raça e classe em defesa do Serviço Social (2020-2023) 
 
Presidente: Elizabeth Borges (BA) 
Vice-presidente: Maria Rocha (PA) 
1ª Secretária: Dácia Teles (RJ) 
2ª Secretária: Carla Pereira (MG) 
1ª Tesoureira: Kelly Melatti (SP) 
2ª Tesoureira: Francieli Borsato (MS) 
 
Conselho Fiscal 
Lylia Rojas (AL) 
Priscila Cordeiro (PE) 
Alessandra Dias (AP) 
 
Suplentes 
Elaine Pelaez (RJ) 
Mauricleia Santos (SP) 
Agnaldo Knevitz (RS) 
Dilma Franclin (BA) 
Emilly Marques (ES) 
Ruth Bittencourt (CE) 
Eunice Damasceno (MA) 
Kênia Figueiredo (DF) 
__
Nosso endereço 
Setor Hoteleiro Sul (SHS) Quadra 6 - Bloco E Complexo Brasil 21 - 20º andar 
CEP: 70322-915 - Brasília - DF Tel: (61) 3223-1652 
cfess@cfess.org.br / www.cfess.org.br 
mailto:cfess@cfess.org.br
http://www.cfess.org.br/
Sumário
Apresentação
Nós, mulheres, assistentes sociais de luta! 
Telma Gurgel 
A importância ética do trabalho de 
assistentes sociais nas diferentes políticas 
públicas para a garantia do direito à vida das 
mulheres e para a materialização do direito 
ao aborto legal 
Nayara André Damião
Nota técnica - O trabalho de Assistentes 
Sociais e a Lei de Alienação Parental 
(Lei 12.318/2010) 
Claudio Horst 
Edna Fernandes da Rocha 
Emilly Marques 
 
9 
12
 
29
 
84
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 9
Apresentação
 
 Chegamos ao último mês do ano de 2022 com mais um caderno 
da série Diálogos do Cotidiano – Assistente social: Reflexões sobre o 
cotidiano profissional. Este volume contém uma característica especial: 
a interface direta com nossa campanha de gestão do triênio - “Nós 
mulheres, assistentes sociais de Luta!”, na qual pretendemos, dentre 
outros objetivos, valorizar e enfatizar as mulheres como trabalhadoras que 
constroem cotidianamente a profissão e o compromisso do Serviço Social 
com a denúncia e enfrentamento de situações de opressões e discriminações.
 Conforme explicitamos nos Cadernos 1 e 2 desta série, a gestão 
Melhor ir à luta com raça e classe em defesa do Serviço Social tomou a 
decisão de levar os temas instigantes para um processo de diálogos no 
âmbito do CFESS, no Conjunto CFESS-CRESS e externamente, de modo 
a contribuir com as discussões e debates sobre o trabalho profissional, 
considerando-o como expressão do trabalho na sociabilidade capitalista, 
uma particularidade a ser estudada e uma realidade no universo das políticas 
públicas. Ao encontrar o cerne da questão, resolvemos potencializar o papel 
pedagógico da reflexão, da orientação e também da problematização, de 
modo a mobilizar a força criativa da autonomia profissional.
 As inquietações vivenciadas numa conjuntura adversa devem ser 
ouvidas e trabalhadas a partir do “tempo miúdo” (YAZBEK), para lhes dar 
significado histórico numa totalidade social, econômica e política. Mais 
do que regulamentações e enquadramentos, as requisições institucionais 
devem ser processadas num ambiente profissional, buscando dar respostas 
qualificadas. Assim, a gestão traçou como plano uma série de debates, com 
vistas a contribuir com o processo de amadurecimento crítico da categoria 
profissional.
 O primeiro texto desse caderno é de autoria de Telma Gurgel, 
professora aposentada do Departamento de Serviço Social da UERN e 
militante feminista, que contribuiu ativamente nessa campanha. Entre 
suas contribuições, destacamos o debate no conselho pleno do CFESS, em 
um dos momentos destinados ao planejamento da campanha e também 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social10
sua participação na live de lançamento. A autora apresenta reflexões sobre 
a relevância das contribuições do feminismo para o Serviço Social e da 
campanha de gestão do triênio. Como sintetiza em um trecho de poesia de 
sua autoria, “O feminismo transforma o mundo”, “o feminismo agita essa 
ordem e afirma: ser mulher é autodeterminação. É poder dizer onde vai, como 
quer fazer, viver e romper. É se ver sem os olhos da aflição, é saber que nada 
lhe define, somente aquilo que você imprimir na memória, como história de 
liberdade. Liberdade que não é só minha, que não é completa, enquanto uma 
de nós estiver em alerta” (Telma Gurgel, maio de 2020).
 O segundo texto é a Nota Técnica “A importância ética do trabalho 
de assistentes sociais nas diferentes políticas públicas para a garantia do 
direito à vida das mulheres e para a materialização do direito ao aborto 
legal”, escrita por Nayara André Damião, assistente social do SUAS. A 
nota foi lançada neste ano no Seminário Nacional de Serviço Social, Ética 
e Direito ao Aborto. O documento traz a perspectiva histórica da luta por 
direitos sexuais e reprodutivos e, sobretudo, por justiça reprodutiva. A 
autora ressalta como a prática do aborto é uma questão concreta da vida 
das mulheres e de demais pessoas que engravidam, e como a criminalização 
e a clandestinidade produz mortes evitáveis, principalmente das mulheres 
negras e pobres. Consideramos fundamental o trabalho de assistentes 
sociais nas diversas políticas, para a garantia do acesso nas situações em que 
já há permissivo legal e em que esse direito tem sido amplamente violado, 
mas reafirmando como horizonte a ser perseguido a descriminalização e a 
legalização do aborto.
 O terceiro texto que encerra este volume é a “Nota Técnica 
sobre o Trabalho de Assistentes Sociais e a Lei de Alienação Parental 
(Lei 12.318/2010)”, escrita por Claudio Horst, Emilly Marques e Edna 
Rocha. Somando-se a diversas manifestações técnicas, posicionamentos de 
Conselhos de Direitos e movimentos feministas, sustentam a necessidade 
de nos somarmos à luta pela revogação dessa lei. E diante das demandas 
institucionais que batem às nossas portas com supostas alegações de 
“alienação parental”, que possamos responder com um trabalho com 
famílias ancorado nos fundamentos de nossa profissão, ancorados na 
defesa do projeto ético-político profissional. Reflexões que tomem por 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 11
base a totalidade social e a particularidade da família e das mulheres nessa 
sociedade, ainda ancoradas nas desigualdades e nas relações patriarcais de 
gênero, para assim analisarmos a convivência familiar e comunitária. A tarefa 
é fugir de concepções simplistas, moralizantes, familistas e punitivistas e, 
principalmente, pseudocientíficas.
 Todos os textos são enovelados por importantes temáticas e lutas 
do movimento feminista, indissociáveis da transformação completa de 
nossa sociedade, ancorada no capitalismo e em relações sociais patriarcais 
e racistas, opressoras, violentas e conservadoras. Diante de tantos desafios, 
não nos calaremos! Conforme já musicado por Elza Soares e Mc Rebecca: 
“Desde pequena eu aprendi o que cai do céu é chuva, se quiser ganhar, meu 
bem, tem que ter luta.” E vamos à luta!
 
“Pra que amanhã não seja só um ontem com um novo nome”1, 
Dezembro de 2022.
 
 
 
Conselho Federal de Serviço Social (CFESS)
Gestão Melhor ir à luta com raça e classe em defesa do Serviço 
Social (2020-2023)
1 Referência à AmarElo (canção de Emicida com part. de Majur e Pabllo Vittar).
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social12
 Nós, mulheres, assistentes sociais de luta!
Teimosiada esperança 
Os inimigos duvidam de nossa resistência. 
Nesses tempos de retrocessos históricos 
E de soberania das desilusões, 
Como todos os tolos, imaginam eles,
Que nos derrotaram!
Quanto engano! 
Eles não sabem que trazemos em nós 
A coragem para a luta e a leveza da ousadia. 
E assim, como o amanhecer de cada dia. 
Romperemos cada desafio aos nossos sonhos. 
Com a teimosia da esperança!
Telma Gurgel 
 
 Quando fui convidada a trazer essas reflexões para a série Diálogos 
do Cotidiano, novo subsídio do CFESS para debates sobre o trabalho pro-
fissional, me senti duplamente agradecida: primeiro, por partilhar algumas 
reflexões em torno das relações sociais de gênero e o exercício profissional 
da/o assistente social. Em segundo lugar, pela oportunidade de reforçar po-
liticamente a campanha: Nós, mulheres, assistentes sociais de luta!, que 
objetiva, entre outras questões, aproximar a profissional do Serviço Social 
com o seu ser mulher enquanto categoria histórico-social. Aproximação tão 
necessária para o projeto ético-político, quanto o nosso reconhecimento en-
quanto classe trabalhadora, em 1979, no Congresso da Virada,
 Assim, escolhi como caminho, para a primeira parte do texto, algu-
mas de minhas memórias como assistente social, que serão reflexionadas na 
perspectiva da consubstancialidade e coextensividade das relações sociais 
que, como nos afirma Kergoat: 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 13
É o entrecruzamento dinâmico e complexo do conjunto de relações sociais, 
cada uma imprimindo sua marca nas outras, ajustando-se às outras e 
construindo-se de maneira recíproca[...] se produzem mutuamente. (p. 8, 
2010).
 Em continuidade, trarei alguns elementos acerca da nossa campanha, 
no intuito de valorizar a diversidade e pluralidade das mulheres, como nos 
lembra um dos seus objetivos, além de tentar quebrar algumas arestas com 
os companheiros homens que são assistentes sociais e se sentiram excluídos 
com a centralidade do ser mulher na campanha.
1. Feminismo e luta de classes
 Sempre me lembro de uma frase que era dita por minha avó, que 
foi repetida pela minha mãe quando se referiam à minha teimosia de criança 
e adolescente: “você dá mais trabalho que seus irmãos homens”, ou então 
“não adianta reclamar, desde que o mundo é mundo é assim, homem e 
mulher não são iguais”. Durante muito tempo, eu retruquei essas assertivas 
em minha particularidade de ser genérico, rompendo tabus e estigmas em 
torno da mulher “bem comportada”, cristalizado no imaginário social à 
época. 
 Quando entrei na universidade para cursar Serviço Social, em 1983, 
num contexto de finais da ditadura militar, politização da categoria e reforma 
curricular, me encontrei, no interior dos muros da Uern1, com o feminismo 
emancipacionista e o marxismo. Com isso compreendi que minhas revoltas 
pessoais e críticas idealistas ao sistema e ditadura tinham nomes: feminismo 
e luta de classes .
 Com essa bagagem teórica e militante, assumi meu primeiro 
emprego como assistente social do Hospital Regional de Angicos2, finais 
dos anos de 1980. Certo dia precisei dar alguns encaminhamentos junto à 
1 Nesse ano ainda era Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte, que foi 
estadualizada em 1987, tornando-se a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
2 Cidade do interior do RN.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social14
família de uma paciente. Na ocasião, só havia o marido dela,, que se recusava 
a permitir o traslado da mulher a Natal, onde deveria fazer um procedimento 
cirúrgico de urgência. Durante nosso diálogo, ele sempre repetia: “ela é 
minha mulher, quem manda sou eu”. Ao final, consegui convencê-lo com a 
promessa de que eu visitaria a sua esposa no dia seguinte. Essa situação toda 
me lembrou do patriarcado e de como as mulheres perderam o controle de 
seu próprio corpo, no processo de consolidação do capitalismo.
 Para Michel (2001) e Muraro (1995), nas sociedades primitivas, 
nômades, de caça e coleta, existia uma divisão sexual do trabalho igualitária, 
em que as mulheres seriam responsáveis pela coleta e os homens pela caça3. 
Com atividades cooperativas entre os sexos, nesse momento as mulheres 
detinham respeito social como um sexo forte e sagrado, pois sangravam e 
não morriam (menstruação) e geravam outra vida. 
 Data deste período também a descoberta da agricultura e a confecção 
dos primeiros instrumentos e utensílios de cerâmica, feitos pelas mulheres. 
Importa lembrar que ainda era completamente desconhecida a participação 
dos homens na reprodução humana. 
 Estudos antropológicos dizem que essa era uma sociedade de paz e 
preocupada com as necessidades do bem comum, em harmonia e respeito 
com a natureza.
 Com a descoberta de novas fontes de energia, como da tração 
animal, da água, dos ventos e o desenvolvimentos de novas tecnologias 
como o moinho, arado, carroça, a domesticação e a caça de grandes animais. 
Os homens passaram a se ocupar da agricultura e, ao mesmo tempo, com 
a observação do comportamento dos animais domesticados, descobriram 
seu papel no processo reprodutivo. A partir daí, se abriu historicamente a 
possibilidade de fixação e produção de excedente, com isso o surgimento 
propriedade privada, família, vilas, cidades e diversas relações sociais que se 
desenvolvem até hoje4.
3 Isto já no período neolítico, com a caça de grandes animais.
4 Sugiro a leitura de ENGEL, Friedrich. A origem da família, da propriedade e do Estado.Trad. de 
H. Chaves. 4ª Edição. Portugal- Editorial presença: Livraria Martins Fontes, s/d. Cap IX. 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 15
 Acompanhando as transformações nas forças produtivas, a condição 
da mulher também vai se alterando e o patriarcado se consolida, mediante 
uma nova divisão sexual do trabalho, hierárquica e segregatória5, aliada à 
criação de narrativas e representações simbólicas, nas quais as mulheres vão 
perdendo respeito social, autonomia e força espiritual em suas comunidades. 
Para Saffioti:
 Este processo foi extremamente lento, graças à resistência das mulheres. 
[...] o processo de instauração do patriarcado teve início no ano 3100 a.C. e 
só se consolidou no ano 600 a.C. A forte resistência oposta pelas mulheres 
ao novo regime exigiu que os machos lutassem durante dois milênios e meio 
para chegar a sua consolidação. [...] Trata-se, a rigor, de um recém-nascido em 
face da idade da humanidade, estimada entre 250 mil e 300 mil anos (p. 64). 
 Como vimos, o patriarcado foi anterior à sociedade de classes e pode 
ser considerado o primeiro sistema de dominação-exploração da humanida-
de, perversamente apropriado pelos diversos modos de produção, em parti-
cular pelo capitalismo.
 Assim, ainda hoje, sete séculos após a decadência do sistema feudal 
e nascimento da ordem capitalista, as mulheres têm sido as mais atingidas 
pelas crises cíclicas desse sistema e assumem, em todo o mundo, a tarefa de 
cuidado e reprodução social, seja nos postos de trabalho ditos “femininos”, 
como saúde, educação, assistência social, trabalho doméstico remunerado e o 
trabalho não remunerado no interior da família, executado em nome do amor. 
 Segundo dados da OXFAM :
Mulheres e meninas ao redor do mundo dedicam 12,5 bilhões de 
horas, todos os dias, ao trabalho de cuidado não remunerado – uma 
contribuição de pelo menos US$ 10,8 trilhões por ano à economia 
global – mais de três vezes o valor da indústria de tecnologia do mundo. 
5 Para Hirata e Kergoat, a divisão sexual de trabalho está baseada em dois princípios: 1 - 
segregação existe, trabalho de homens e trabalho de mulheres e 2 - hierarquia, o trabalho dos 
homens vale mais do que o das mulheres.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social16
 Comparado com a sociedade de caça e coleta, quando o trabalho 
das mulheres representava 60% da economia, vemos com estes dados que o 
trabalho não remunerado continua sendo fundamental para a sobrevivência 
humana e representa um aspecto centralno processo de produção e 
reprodução da vida social.
 Aqui preciso fazer um parêntese, para defender minha ideia de 
subversão dessa ordem. Penso que devemos desenvolver uma outra lógica 
com relação ao trabalho doméstico não remunerado, isto porque muitas das 
nossas tarefas diárias poderiam ser abandonadas, sem nenhum problema 
para a sociedade ou organização de nossa casa. Devemos sempre lembrar que 
os nossos costumes são construções sociais que devem ser compreendidas 
no quadro geral da formação social, no caso brasileiro: capitalista, 
heteropatriarcal, racista e colonialista.
 Além disso, a responsabilidade social atribuída às mulheres, 
com o cuidado da casa e da família, desenvolveu também uma ideologia 
dominante, na qual manter a casa arrumada, a família alimentada e limpa 
é sinônimo de boa mãe, esposa ou dona de casa. Sendo assim, muitas de 
nós, subjetivamente e até mesmo de forma mecânica, dedicamos as poucas 
horas que temos fora do trabalho remunerado para cuidar do lar e de nossa 
família. Isso sem falarmos das horas de trabalho fora de casa, que muitas vezes 
usamos também para desenrolar coisas domésticas, na célebre condição de 
que “saímos de casa, mas a casa não sai de nós”.
 Dito isso, costumo defender que devemos definir o trabalho que 
realmente é necessário dentro de casa, acredito que assim podemos nos 
livrar, sem culpa e/ou estresse familiar, de uma série de tarefas que são 
insignificantes, quando pensamos no real objetivo de nossa existência, que é 
a felicidade e autonomia.
 Nesse sentido, vale perguntar para que arear6 panela e guardá-la nos 
armários, se todos os dias vamos precisar usar as mesmas panelas e louças? 
Já criei até uma palavra de ordem: “para que arear panelas, se a vida não 
está nelas?”. Para que arrumar a cama, se à noite vamos desarrumar? Para 
que engomar roupas, se ao sairmos de casa ela já vai estar amassada? Tem 
6 No RN usamos esse termo para substituir o polir.
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 17
gente que ainda engoma toalha de mesa, de banho e lençol; me desculpem, 
mas considero isso uma perda de tempo! Vamos pensar sobre isso e tentar 
ressignificar o sentido da vida doméstica e dos cuidados com a casa, como 
estratégia individual e coletiva contra a exploração-dominação capitalista-
patriarcal? Quanto tempo nós, assistentes sociais, e as mulheres que 
atendemos teríamos para estudar, militar, passear, sair com as amigas, para 
não fazer nada, se nos livrarmos dessas obrigações que não têm significado 
algum, com o nosso devir histórico da emancipação humana?
 A crítica ao trabalho doméstico não remunerado, exercido pelas 
mulheres a serviço da família, é central para a perspectiva emancipatória do 
feminismo. Principalmente em tempos de Estado ultraneoliberal, em que a 
redução de investimentos nas políticas públicas contribui para a manutenção 
e ampliação da sobrecarga de responsabilidade das mulheres, no processo da 
reprodução social da força de trabalho. 
 Isso porque cria um entendimento de que o Estado perdeu sua 
legitimidade na garantia das políticas e, portanto, cabe à família, em 
particular à mulher, responder às demandas da vida cotidiana coletiva. 
 Segundo Walby (2004), este processo de minimização dos serviços 
públicos e feminização da pobreza pode ser considerado como um aspecto 
do patriarcado de Estado, na medida em que, por meio de suas ações, 
contribui com o aprofundamento e a legitimação das desigualdades sociais, 
políticas e econômicas entre os sexos, favorecendo o poder dos homens sobre 
as mulheres, que transcende o patriarcado da esfera privada para o público.
 A observância desta condição histórica e das demandas daí 
decorrentes possibilita uma unidade discursiva e de práxis para o feminismo 
e organizações aliadas, como o Conjunto CFESS-CRESS e outros sujeitos 
coletivos.
 Ainda mais nos tempos atuais, em que a expropriação de direitos, 
segundo Boschetti, atinge barbaramente a classe trabalhadora e intensifica a 
superexploração da força de trabalho. E quando se destacam as desigualdades 
durante a pandemia e no momento imediato, pós-vacinas, vimos que elas 
têm raça, gênero e classe.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social18
 Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 
2020, 52,3% de pessoas em extrema pobreza eram mulheres e, destas, 39,40% 
eram negras. Um total de 4,546 milhões de mulheres perderam o emprego, 
1,295 milhão era de empregadas domésticas. Sessenta e oito por cento 
das titulares do Bolsa Família são mulheres negras, 60% das trabalhadoras 
domésticas são negras. Para a Comissão Econômica para a América Latina 
e o Caribe (Cepal/ONU), 118 milhões de mulheres vivem em situação de 
pobreza na América Latina e Caribe. Estima-se que mais de 20 milhões de 
meninas não voltarão à sala de aula em todo o mundo.
 Estes dados nos desafiam permanentemente a reafirmar nossas 
resistências, nosso projeto ético-político e, principalmente, para as assistentes 
sociais, nosso pertencimento ao gênero feminino e todos os recortes que isto 
nos permite. Pois, de certa forma, essa realidade só confirma o pensamento 
de Beauvoir, em que basta uma crise econômica, política ou religiosa, para 
os direitos das mulheres serem questionados.
 Nesse sentido, a deteriorização das políticas nos atinge duplamente, 
como mulher usuária ou não de alguma política e como profissional do 
serviço público, que atua nas diversas áreas. Cada uma de nós reconhece e 
acompanha, em seu cotidiano do trabalho profissional, as consequências 
imediatas desse processo de esvaziamento da função do Estado nas políticas 
públicas. Seja por meio da desvalorização salarial de seu quadro de pessoal, 
desfinanciamento e terceirização aligeirada dos serviços, que só têm piorado 
a oferta e as condições de trabalho e de acesso às diversas políticas. 
 A responsabilidade com a família é determinante para a presença 
massiva das mulheres nos diversos serviços públicos, bem como nas lutas 
cotidianas nos territórios em defesa das políticas e do bem comum.
 Isso me lembrou de uma situação em que, como assistente social 
de um centro de saúde, em Mossoró (RN), anos de 1990, eu teria que fazer 
a atualização do cadastro das mulheres inscritas no Programa Nutrição e 
Saúde, destinado a gestantes, nutrizes e crianças de 6 meses a 5 anos. Na 
ocasião, foi um grande tumulto, pois as mulheres que seriam desligadas do 
programa não aceitavam. Depois de muita conversa, resolvemos dividir a 
cesta básica e mantivemos aquelas que seriam desligadas por mais 3 meses. 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 19
Após esse episódio, criamos um grupo de mulheres na unidade de saúde, 
que atuou muito firme em diversos momentos na comunidade, inclusive 
conseguiu até mudança da direção da unidade e, indo mais além, a reabertura 
de uma creche.
 As reuniões do grupo eram mensais no momento da distribuição 
das cestas e, sempre que necessário, criamos comissões para encaminhar o 
que fosse necessário. Importa lembrar que, além das questões relacionadas 
à vida cotidiana e às políticas públicas, o grupo também se mobilizou em 
temas como a violência contra a mulher, participando ativamente da 
luta pela delegacia na cidade. Apesar de ser um grupo só de mulheres, ele 
nunca se reivindicou como feminista, mas algumas de suas participantes 
posteriormente militaram em coletivos feministas em Mossoró.
 Para Cisne, o processo de formação da consciência militante 
feminista se dá na conjugação de cinco aspectos:
 
1) a apropriação de si e a ruptura com a naturalização do sexo; 2) o sair de 
casa; 3) a identificação na outra da sua condição de mulher; 4) a importância 
do grupo e da militância política em um movimento social; 5) a formação 
política associada às lutas concretas de reivindicação e de enfrentamentoé 
segundo Cisne (2014, p.176).
 
 A primeira vez que as mulheres se apresentaram como sujeito político 
de igualdade foi no contexto da Revolução Francesa,em 1789. Foram elas 
que iniciaram a marcha sob Versailles, que culminou na derrubada da 
monarquia francesa e deu origem ao Estado Moderno.
 Além da reivindicação pelos direitos políticos, existem registros da 
luta das mulheres no processo da revolução, pelo direito ao alistamento na 
carreira militar e ao acesso às armas que lhes foram interditadas. 
 Assim, durante todo este período, as mulheres se mantiveram na 
resistência e foram consideradas uma ameaça pela nascente ordem burguesa 
que, em 1793, proibiu reunião dos clubes de mulheres e as considerou um 
ser socialmente incapaz:
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social20
Todos os habitantes de um país devem e gozam de direitos de cidadãos 
passivos, todos têm direito à proteção de sua pessoa, de sua propriedade, 
de sua liberdade, etc... mas nem todos tem o direito a ser parte ativa da 
formação do poder público; nem todos são cidadãos ativos. As mulheres, 
[...] as crianças, os estrangeiros, aqueles que não contribuem em nada para 
o funcionamento público não devem, pois influenciar na coisa pública 
(RIOT-SARCEY ( 2002, p. 20).
 O regime burguês reafirmou a hierarquia masculina na família 
como base para a organização social, posicionando-se contra o direito ao 
amor livre e ao divórcio, que também eram reclamados pelas mulheres. 
 Apesar de as mulheres contarem com o apoio do movimento dos 
trabalhadores em algumas de suas pautas, foi particularmente com relação 
ao direito ao trabalho que houve maior resistência. Inclusive em 1866, no 
Congresso da Internacional dos Trabalhadores, os delegados se posicionaram 
contrários ao trabalho feminino. Essa decisão provocou reação imediata 
das mulheres socialistas, que intensificaram as manifestações e as petições 
públicas e fundaram a primeira associação feminista, chamada de Liga das 
Mulheres, em 1868.
 Este acirramento de posições perdurou até 1872, quando emergiu 
a experiência da Comuna de Paris e as reivindicações pela igualdade entre 
os sexos cedem lugar à causa comum da conquista de uma sociedade regida 
pelos interesses da classe trabalhadora. Nesse contexto, as mulheres tiveram 
grande contribuição nas ações de boicote, confronto e resistência à derrocada 
do poder popular inaugurado pela Comuna, num claro compromisso de 
classe com a luta socialista. 
 A consolidação do capitalismo e a nascente industrialização 
provocaram alterações de ordem econômica, social e política, que tiveram 
repercussões na vida das mulheres, que, no entanto, continuavam excluídas 
dos direitos civis e políticos. É nesse contexto que surge a luta sufragista. 
 Dentre as particularidades deste movimento, o seu caráter de massa, 
que mobilizou milhões de mulheres por sete décadas em diferentes países 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 21
do mundo, foi o que mais desafiou as feministas socialistas no interior das 
organizações sindicais, bem como na estrutura dos partidos, para justificar a 
importância da luta das mulheres no processo de transformação radical da 
sociedade7.
 Sem dúvida que o debate em torno desse caráter e de seu papel 
na luta revolucionária mobilizou, articulou e, ao mesmo tempo, dividiu a 
ação das feministas. No entanto, foi fundamental para a consolidação do 
posicionamento político do movimento, no sentido de articular a luta das 
mulheres com a luta pela emancipação humana. 
 Conforme nos ressalta Mészáros,
[...] estando [...] centrada na questão da igualdade substantiva, uma grande 
causa histórica em movimento, sem encontrar saídas para a sua realização 
dentro dos limites do sistema do capital. A causa da emancipação e da 
igualdade das mulheres envolve os processos e instituições mais importantes 
de toda a ordem sociometabólica (2002, p. 307).
 O que nos reafirma a necessidade histórica da auto-organização das 
mulheres em todos os movimentos sociais, locais de trabalho, bairros, partidos 
de esquerda, sindicatos e outras organizações, formando um campo político 
no qual a igualdade entre os sexos e a superação do capitalismo tenham a 
mesma intensidade e força política no interior do projeto libertário.
 Destarte, ao longo de sua história, o movimento feminista 
vem assumindo temáticas que refletem a heterogeneidade da classe 
trabalhadora, intervindo no campo da dominação das subjetividades, como 
o questionamento da sexualidade heteronormativa, a luta pelo direito ao 
aborto, a educação sexista, violência contra a mulher.
 Nesse sentido, o direito ao aborto e a uma sexualidade livre, o 
confronto com o modelo patriarcal de família, o casamento e a recusa 
da invisibilidade jurídica da mulher foram temas com grande poder de 
mobilização das mulheres em meados do século XX.
7 González (2010) apresenta esse debate no movimento, bem como a relação das sufragistas 
com as socialistas.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social22
 O corpo da mulher, em sua capacidade reprodutiva e de força laboral 
a serviço da família, já havia sido “domesticado”, segundo Federici ( 2017) 
desde a caça às bruxas, na Idade Média, quando a classe política dominante 
desenvolveu um processo sistemático de expropriação do corpo feminino, 
impedindo que as mulheres continuassem com seus próprios métodos 
anticonceptivos e de interrupção de gravidez; ao considerar como prática de 
bruxaria a manipulação de ervas e a prática da obstetrícia, como as parteiras. 
 A defesa da sexualidade como construção social e como mecanismo 
de poder dos homens sobre as mulheres desvenda o papel do Estado e suas 
redes de apoio na sociedade, em criar padrões e normas de conduta sexuais 
que fundamentalmente se apoiam na visão de uma essência sexual específica 
para homens e mulheres. 
 Sobre isso, podemos destacar em Vance: 
A sexualidade […] constitui uma intersecção do político, do social, 
do econômico, do histórico, do pessoal, do vivencial, o que envolve 
comportamento e pensamento, fantasia e ação. Que todos esses campos se 
interpenetram não quer dizer que sejam iguais(1989. p. 37).
 Importa destacar que a abordagem feminista da sexualidade defen-
de que a vivência e significados das práticas sexuais também são demarcadas 
pelas dimensões de raça, classe e sexo e na subjetividade forjada pelo pro-
cesso de colonização. Daí porque a imagem da mulher negra e sexualizada 
ainda é recorrente nas propagandas de grandes eventos, como o carnaval ou 
em publicidade de bebidas.
 Ao mesmo tempo que, em função da influência judaico-cristã em 
nossa cultura, as diversas formas de negação ou ruptura com o modelo “na-
turalizado de sexualidade” é passível de castigo ou condenação social, basta 
recuperar o número de feminicídios e homicídios de pessoas LGBTQIA+ 
no Brasil, para compreender a dimensão da força ideológica desse padrão de 
sexualidade.
 Nesse cenário, a luta feminista se dirige à desnaturalização destes pa-
péis e à denúncia da falsa moral sexual que a fundamenta, ao vincular a esta 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 23
ideologia sexista as expressões da violência doméstica, do estupro e do abuso 
sexual contra crianças e adolescentes.
 Esse compromisso com a diversidade também foi assumido pelo 
nosso projeto profissional8. Assim, no início dos anos 2000, eu atuava como 
assistente social num Programa de Orientação à Saúde Sexual (Posse), que 
tinha como beneficiárias profissionais do sexo, homossexuais e travestis. 
Nosso trabalho era orientar e encaminhar essa população para os atendi-
mentos específicos dentro da unidade de saúde, distribuir preservativos 
(masculino e feminino), realizar reuniões sobre temas gerais da saúde sexual 
e condição de vida, fazer encaminhamentos para acesso a políticas e direi-
tos. Além disso, a equipe do programa realizava ações de esclarecimento e 
convencimento das demais equipes da unidade, para respeitar e fortalecer 
o programa Posse, tamanho eram o preconceito e discriminação ao público 
do programa que, em sua maioria, frenquentava e/ou morava numa zona de 
prostituição conhecidana cidade. 
 Para a sensibilização das equipes, costumávamos debater textos e 
material elaborado pelo movimento LGBTQIA+ e com dinâmicas de gru-
po, em torno de temas que abordassem preconceitos e ajudassem ao exercí-
cio da empatia e respeito à diversidade sexual.
 O programa Posse debatia sobre a condição de vida, desigualdades, 
violência junto às beneficiárias, sempre com uso de dinâmicas lúdicas. As 
reuniões eram na unidade de saúde ou na própria zona, dentro de um salão 
de festa, ou numa sala cedida pela igreja católica, que tinha um trabalho de 
evangelização no local9, o que nos aproximou bastante da realidade delas e 
favoreceu um maior compromisso com várias pautas dirigidas à unidade de 
saúde, bem como a outros órgão do poder público. 
 Essa experiência evidencia a necessidade de ações que, segundo 
Fraser (2007) consigam interligar lutas em contraposição à concentração 
de riquezas e má-distribuição, com aquelas que reivindicam uma ruptura 
8 Sobre esse tema, indico a leitura de CISNE e SANTOS. Feminismo, Diversidade Sexual e 
Serviço Social. São Paulo: Cortez Editora, 2018.
9 Depois que uma pessoa da paróquia acompanhou uma de nossas reuniões, com distribuição 
de preservativos e orientação sobre o sexo seguro, nunca mais nos cederam o espaço.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social24
simbólica radical na estrutura social, como o controle do corpo e da sexua-
lidade das mulheres como elementos do projeto de emancipação humana. 
2. Somos Mulheres de Luta
 
 Antes de tudo, quero afirmar que não basta ser mulher para ser de luta. 
Temos vários exemplos na história recente em que mulheres conduziram o 
processo de implantação do neoliberalismo em seus países, com a mesma 
dureza, frieza e desumanidade dos homens. 
1- Somos mulheres de luta, porque estamos na pauta dos serviços e 
sentimos, no nosso dia a dia, no atendimento e nas nossas vidas, como 
é duro ser mulher numa sociedade machista, racista e capitalista;
2- Somos de luta, porque denunciamos a redução das políticas 
sociais e como isso afeta diretamente a vida das mulheres;
3- Somos e precisamos ser de luta, porque, todos os dias, a maioria 
de nós acompanha ou acolhe mulheres que foram violentadas, 
agredidas por algum homem, que se permitiram amar e, em nome 
desse sentimento, construído por uma educação sexista em que às 
mulheres cabe a compreensão e o perdão, se submeteram a injúrias, 
reclamações injustas, humilhação, violência física e psicológica;
4- Somos de luta, porque somos responsáveis pela nossa vida 
doméstica, trabalhando de graça para o Estado e sociedade, somos 
cobradas diariamente pela organização do lar, felicidade da família e 
cuidado permanente com a vida de todas as pessoas da casa. Estamos 
exaustas, assim como nossas usuárias!;
5- Somos de luta, porque também acompanhamos mães com filhas 
e filhos no sistema prisional, condenadas/os primeiramente pela cor 
e pertencimento de classe. Vítimas da guerra às drogas e do racismo 
institucional em nosso país;
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 25
6- Somos mulheres de luta, porque, em nosso exercício profissional, 
também acolhemos mulheres que sofreram a dor e solidão de 
um aborto, clandestino ou legal, e tentamos, numa palavra ou 
encaminhamento, lhes dar apoio e a segurança negada a todas 
nós, principalmente, nos tempos atuais de conservadorismo, 
fundamentalismo, negacionismo e de ataques aos direitos 
reprodutivos e sexuais, em nosso país;
7- Somos de luta, porque estamos lado a lado da população 
LGBTQIA+ na revolta e denúncia da LGBTQIA+fobia, pois 
compreendemos que a sexualidade é, antes de tudo, poder sobre si 
mesmo e vivência de liberdade;
8- Somos e precisamos ser de luta, porque visualizamos, em nosso 
exercício profissional, as expressões reais da questão social, como a 
fome, desemprego, violência, abandono no rosto das mulheres, em 
sua maioria negra, pobre e da periferia;
9- Somos de luta e precisamos encontrar saídas coletivas e de 
solidariedade baseadas nas experiências da organização coletiva da 
mulher da classe trabalhadora. Na experiência dos quilombos e lutas 
antirracistas, na resistência indigena e seu cuidado com a natureza, 
nas organizações de bairro e luta pela sobrevivência, nos sindicatos e 
suas estratégias de boicote e paralisações. Enfim, em todas as frentes 
em que encontramos a criatividade e disposição política das mulheres 
no enfrentamento das estruturas de dominação e opressão.
Antes de finalizar, gostaria de me dirigir aos companheiros homens 
que são assistentes sociais e se sentiram excluídos pelo tema da campanha. 
Por tudo que já foi dito anteriormente, as mulheres sofrem cotidianamente 
os reflexos de uma sociedade com bases heteropatriarcal, racista e capitalista.
 Embora o homem da classe trabalhadora e racializado também sofra 
muitas dessas consequências, recai sobre a mulher o peso do machismo que 
desqualifica sua existência e a submete a uma série de violações, que atinge 
seu máximo com o feminicídio.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social26
Nunca é demais lembrar que o machismo também está presente no interior 
da classe trabalhadora gerando privilégios para os homens, como o trabalho 
doméstico não remunerado10.
 A campanha visa a valorizar a existência das mulheres e, ao mesmo 
tempo, fortalecer o nosso compromisso ético-político com uma sociedade de 
igualdade e liberdade, que deve ser um exercício cotidiano de desnaturalização 
das opressões e naturalização da autonomia pessoal e coletiva.
 Nesse sentido, a campanha fala também para os homens que são 
assistentes sociais, pois, na construção de outra sociabilidade, vamos 
precisar de novos homens que tenham crítica sobre o machismo, que 
reconheçam o patriarcado como sistema de opressão das mulheres e sua 
permanente atualidade, que abram mão de seus privilégios e que se somem 
às manifestações em apoio aos direitos das mulheres.
 Por fim, considero a nossa campanha também uma reverência a todas as 
mulheres lutadoras deste país e de nossa profissão, que vieram antes de nós 
e agora são nossas ancestrais. Lembrar-nos de suas vidas, lutas e conquistas 
que atualmente são de todas nós e que ainda estão incompletas.
 Temos a provocação de manter viva a chama da rebeldia permanente. 
Que aprofunde o sentido da sororidade, como aliança política entre as 
mulheres, que consiga articular a luta por políticas, com a crítica ao Estado 
em sua submissão aos interesses de mercado. 
 Talvez essas tarefas sejam difíceis e demoradas, mas isso não será um 
problema, pois trazemos em nós a teimosia da esperança!
10 Mesmo que alguns homens assumam essa divisão de forma igualitária, socialmente são as 
mulheres as responsáveis por essa tarefa.
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 27
Referências Bibliográficas
BEAUVOIR, Simone. O segundo Sexo. Fatos e Mitos. Vol 1. Tradução 
Sérgio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1981.
BOSCHETTI, Ivanete. Supressão de direitos no capitalismo: uma forma 
contemporânea de expropriação?. In: Anais do colóquio internacional Marx e o 
marxismo 2017: de O Capital à Revolução de Outubro (1867-1917). Niterói: 
NIEP-Marx; 2017.
CEPAL. Relatório especial covid19: A autonomia econômica das mulheres 
na recuperação sustentável e com igualdade. Disponível em https://www.
cepal.org/es/publicaciones/46633-la-autonomia-economica-mujeres-la-re-
cuperación-sostenible-igualdad. Acesso em 20 de junho de 2022.
CISNE, Mirla. Feminismo e consciência de classe no Brasil [livro eletrônico]/
Mirla Cisne. – São Paulo: Cortez, 2014.
_____, SANTOS. Feminismo, Diversidade Sexual e Serviço Social. São Pau-
lo: Cortez Editora, 2018.
FEDERICI, Silvia. Reproducción y la lucha feminista en la Nueva División 
del Trabajo. Disponível em: <http:// creatividadfeminista. org./artículos/ 
feminismo>. Acesso em maio de 2002.
_________. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. 
Trad. ColetivoSycorax. São Paulo: Elefante, 2017.
FRASER, Nancy. Meapeando a imaginação feminista: da redistribuição ao 
reconhecimetno e à representação. In: Revista Estudos Feministas - Universi-
dade Federal de Santa Catarina. Centro de Filosofia e Ciências Humanas, 
Centro de Comunicação e Expressão.-v.15, n.2, 2007, p.291-308.
GONZÁLEZ, Ana Isabel Álvarez. AS ORIGENS E A COMEMORAÇÃO 
DO DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES. SOF-EXPRESSÃO 
POPULAR: São Paulo, 2010.
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTI-
CA. Síntese de Indicadores Sociais. Uma análise das condições de vida da 
população brasileira. Estudos e Pesquisas, n. 43. Rio de Janeiro, 2020.
https://www.cepal.org/es/publicaciones/46633-la-autonomia-economica-mujeres-la-recuperación-sostenible-igualdad
https://www.cepal.org/es/publicaciones/46633-la-autonomia-economica-mujeres-la-recuperación-sostenible-igualdad
https://www.cepal.org/es/publicaciones/46633-la-autonomia-economica-mujeres-la-recuperación-sostenible-igualdad
http:// creatividadfeminista. org./artículos/ feminismo
http:// creatividadfeminista. org./artículos/ feminismo
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social28
KERGOAT, Danièle. Dinâmica e consubstancialidade das relações sociais. 
In: Novos estudos. – CEBRAP [online]. 2010, n. 86, p.93-103. Disponível 
em http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002010000100005 . Acesso em 23 
de agosto de 2011.
MÉZÁROS, Istivan. Para Além do Capital. São Paulo: Boitempo, 2002.
MICHEL, Andrée. Le féminisme. Col. Que sais-je?. Paris:PUF, 2001.
MURARO, Rose M. Breve introdução histórica. In: KAMER, H, SPREN-
GER, J. O martelo das feiticeiras. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Record, Rosa dos-
tempos, 1995.
OXFAM. Tempo de Cuidar | Oxfam Brasil, Acesso em 20 de junho de 2022
RIOT- SARCEY, Michelle. Histoire du féminisme. Paris  : La découverte, 
2002.
SAFFIOTI, Heleieth. Gênero patriarcado violência. 2.ed.—São Paulo: Ex-
pressão Popular, Fundação Perseu Abramo, 2015.
VANCE, Carole. Placer y Peligro - Explorando la sexualidad femenina. Ma-
drid, Ed. Revolucion, 1989.
WALBY, Sylvia. Cidadania e transformações de gênero. In: Tatau Godinho 
(org.). Maria Lúcia da Silveira (org.). Políticas públicas e igualdade de gênero. 
São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. p. 169-182.
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002010000100005
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 29
A importância ética do trabalho de 
assistentes sociais nas diferentes políticas 
públicas para a garantia do direito à vida 
das mulheres e para a materialização 
do direito ao aborto legal
Nayara André Damião1
Introdução
A presente nota técnica tem o objetivo de trazer elementos que 
possam contribuir com o debate e a intervenção de assistentes sociais no 
que diz respeito à temática do aborto, e tem sua origem na deliberação do 
eixo Fiscalização e Orientação Profissional, aprovada na Plenária Nacional 
realizada em 2020. Naquela ocasião, deliberou-se pelo debate “com as/os 
assistentes sociais em seus espaços sócio-ocupacionais, sobre a questão do 
aborto, considerado questão de saúde pública, direito sexual e reprodutivo 
das mulheres e das pessoas que engravidam2”.
A ideia dos direitos reprodutivos foi forjada na luta feminista e parti-
cipação de grupos que se somaram à luta, como o movimento LGBTQIA+. 
Esse conceito começou a ser discutido em meados da década de 1980 e ga-
nhou popularidade, na década de 1990, entre as acadêmicas e os movimen-
tos sociais. Sonia Correa e Rosalind Pechesky (1996) relatam que, na pro-
posição do termo, as mulheres do hemisfério norte estavam mais próximas 
às reivindicações sobre o controle do próprio corpo e o conhecimento sobre 
sua sexualidade e satisfação sexual, enquanto as mulheres do hemisfério sul 
1 Assistente Social no SUAS, Mestre em Serviço Social e Política Social da Universidade 
Estadual de Londrina (UEL), doutoranda no mesmo programa de pós-graduação. 
2 O termo “pessoas que engravidam” é utilizado em comunicações do conjunto CFESS-CRESS 
com objetivo de abarcar todas as pessoas, de diferentes identidades, que possam ser afetadas 
pela questão do aborto. Assim, consideramos que homens trans, pessoas não binárias e outras 
identidades também podem ser afetadas por essa questão. Portanto, nesse texto, estamos 
tratando também dessas pessoas. 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social30
enfatizavam o direito negativo de recusarem o sexo e a gravidez indesejada. 
Com a contribuição das feministas negras e do hemisfério sul, os direitos 
reprodutivos:
Passaram, desde então, a englobar tanto um espectro de necessidades mais 
amplas que a regulação da fecundidade (incluindo, por exemplo, mortalidade 
infantil e materna, infertilidade, esterilização indesejada, desnutrição 
de meninas e mulheres, mutilação genital feminina, violência sexual e 
doenças sexualmente transmissíveis), quanto uma melhor compreensão 
das condições estruturais que restringem as decisões sexuais e reprodutivas 
(tais como cortes nos investimentos sociais por efeito de programas de ajuste 
estrutural; falta de transporte, água, estruturas sanitárias; analfabetismo e 
pobreza). Em outras palavras, o conceito de direitos sexuais e reprodutivos 
está se expandindo para que possa englobar as necessidades sociais que 
impedem uma real escolha sexual e reprodutiva para a maioria das mulheres 
do mundo, que são pobres. (CORREA; PETCHESKY, 1996, p. 153).
Os direitos reprodutivos consistem, para Correa e Petchesky (1996), 
no poder de tomar uma decisão a partir de informação correta e de qualida-
de sobre fecundidade, gravidez, educação, saúde e sexualidade, envolvendo 
os recursos necessários para realizar tais decisões com segurança. O controle 
sobre o próprio corpo e as condições objetivas e subjetivas para exercer a 
autonomia fazem parte dos direitos reprodutivos, o que abrange desde con-
dições básicas de sobrevivência, como educação, habitação, trabalho e renda, 
além da construção de relações livres de violência. Educação sexual, meios 
contraceptivos condizentes com as necessidades da população, interrupção 
voluntária de gestação de forma segura e gratuita e a garantia de condições 
materiais para aquelas que desejam optar pela maternidade fazem parte dos 
direitos reprodutivos. 
Nesse sentido, Angela Davis (2016, p. 208) recorda da esteriliza-
ção em massa e contra a vontade de mulheres negras, e alerta ser urgente 
e necessária a “defesa de direitos reprodutivos para todas as mulheres – em 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 31
especial para aquelas que são, com frequência, obrigadas por suas circuns-
tâncias econômicas a abdicar do direito à reprodução em si”. Não é raro 
que encontremos notícias e relatos, em nossos cotidianos de trabalho, sobre 
mulheres pobres, em maioria negras, que tiveram laqueaduras impostas e/
ou sofreram violações do direito a exercer a maternidade. 
Rayane Oliveira (2022) traz um importante debate acerca da utiliza-
ção do termo “justiça reprodutiva” e da contribuição das mulheres negras 
nesse sentido. Segundo a autora,
A perspectiva da Justiça Reprodutiva expande as reflexões em torno do 
acesso das mulheres racializadas às condições que garantam efetivamente 
o direito das mulheres à maternidade de forma indissociável do direito ao 
aborto. Essa reivindicação demarca de forma incisiva, na práxis negra e 
feminista, a questão da negação histórica de direitos às pessoas negras, como 
a esterilização forçada de mulheres negras no âmbito da política de controle 
de natalidade, o embranquecimento da população e o suposto controle 
da miserabilidade, realizados no Brasil durante as últimas décadas do 
século passado23. Essa compreensão criou problematizações necessárias e 
urgentes dentro dos movimentos feministas pro-choice, que tratavam a 
pauta sobre aborto sem demarcar de forma contundente as diferenças de 
raça nas relações sociais generificadas (OLIVEIRA, 2022, p. 258).
Embora o aborto seja reconhecidocomo parte dos direitos reprodu-
tivos e, de forma mais ampla, dos direitos humanos3, a lei brasileira está entre 
as mais restritivas, na contramão da tendência de ampliação desse direito, 
observada na América Latina e em países europeus.
A prática do aborto é uma realidade na vida de mulheres diversas. 
A Pesquisa Nacional de Aborto de 2016 mostrou que, aos 40 anos, cerca 
de uma em cada cinco mulheres alfabetizadas residentes na área urbana já 
passou por um aborto voluntário pelo menos uma vez (DINIZ, et al. 2017). 
São mulheres de diferentes faixas etárias, classes sociais, casadas ou soltei-
3 Sobre isso, ler Carloto e Damião (2018). 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social32
ras, pertencentes a diversas denominações religiosas, níveis educacionais e 
regiões do país. 
É evidente que a proibição não impede que o aborto seja realizado. 
O efeito da criminalização é empurrar as mulheres para a clandestinidade e 
insegurança, incorrendo em significativos índices de morte materna. Esti-
ma-se que 20 milhões de abortos inseguros ocorrem no mundo, resultando 
em 67 mil mortes maternas, além das milhares de mulheres que sofrem com 
sequelas decorrentes dos procedimentos inseguros (BRASIL, 2008). Apro-
ximadamente 95% dessas mortes ocorrem em países em desenvolvimento 
(idem). Tais números podem ser ainda mais preocupantes, já que a prática 
do aborto, por ser crime, é de difícil quantificação. A consubstancialidade 
das relações sociais de sexo, classe e raça/etnia são intrínsecas a esse debate4.
Há uma contradição de classe e raça/etnia intrínseca à criminalização 
do aborto: aquelas que têm dinheiro pagam por clínicas minimamente segu-
ras e discretas. As mulheres que não possuem condições de arcar com esses 
custos, em grande parte pobres e negras, se arriscam com os métodos mais 
cruéis, sendo apontadas pela sociedade e se expondo ao perigo de sequelas 
graves, da prisão e da morte. 
O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) vem se posicionando 
em defesa do direito de decidir, como explicitamos em Carloto e Damião 
(2018). Tal posicionamento foi construído de forma coletiva e esse processo 
pode ser conhecido de forma mais aprofundada em Castro (2016).
Em 2009, o CFESS Manifesta de 28 de setembro trata do aborto en-
quanto uma questão de saúde pública e direito das mulheres, e relata o 38º En-
contro Nacional CFESS-CRESS, em que as/os assistentes sociais5 presentes: 
4 Ler mais em Carloto e Damião (2018), Damião (2018), Cisne el al (2018).
5 A categoria das assistentes sociais é composta majoritariamente por mulheres. Por isso, 
trataremos no feminino quando falarmos dessas profissionais, sabendo que, de forma geral, 
estaremos nos referindo às mulheres e homens assistentes sociais. O documento “Perfil de 
Assistentes Sociais no Brasil: formação, condições de trabalho e exercício profissional”, elaborado 
pelo CFESS e lançado recentemente mostra que, apesar de pequenos deslocamentos, a profissão 
segue sendo majoritariamente composta por mulheres: 92,92% das respondentes se identificam 
com “gênero feminino”; 6,67% com “gênero masculino”; e 0,10% com “outras expressões de 
gênero”. Esse documento pode ser visitado em: http://www.cfess.org.br/arquivos/2022Cfess-
PerfilAssistentesSociais-Ebook.pdf 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 33
Reafirmaram seus valores e princípios, comprometidos com a emancipação 
humana e a construção de uma nova ordem societária, livre de toda forma de 
exploração e opressão, e deliberaram o posicionamento e o engajamento nas 
lutas pela descriminalização do aborto, e a realização de debates em todo o Brasil 
sobre a legalização do aborto como mecanismo de ampliar e democratizar 
as discussões no âmbito da categoria, para retirada de posicionamento 
do Conjunto CFESS-CRESS em setembro/2010. (CFESS, 2009). 
O texto endossa o compromisso ético-político com a defesa dos di-
reitos sexuais e reprodutivos das mulheres e o apoio ao movimento femi-
nista nessa luta, uma vez que: “o aborto inseguro é uma gravíssima questão 
de saúde pública e que as mulheres constituem seres éticos capazes de fazer 
escolhas de forma consciente e responsável” (CFESS, 2009).
No 39º Encontro Nacional CFESS-CRESS, em setembro de 2010, 
o assunto entrou novamente em pauta e foi deliberado, de forma coletiva, 
o apoio do Conjunto à legalização do aborto. Desde então, diversas comu-
nicações e ações foram desenvolvidas pelo Conjunto acerca do tema. Des-
tacamos um CFESS Manifesta lançado em 28 de setembro de 2016, no 
qual é abordada a relação entre o trabalho das assistentes sociais e o aborto: 
Ao nos posicionarmos em favor da liberdade como valor ético central, 
consideramos que a decisão de ser mãe deve ser um ato consciente de liberdade 
e não apenas uma contingência biológica ou uma imposição política e 
social. Deve vir acompanhada de acesso às políticas públicas de saúde, que 
garantam as condições objetivas para o exercício da maternidade, quando 
esta for desejada, e para sua interrupção quando não o for. (CFESS, 2016). 
O documento questiona ações profissionais que “negam os direitos 
das mulheres, no sentido de ampliação de acesso a informações e de 
posicionamentos conservadores e questionadores, frente à situação de deci-
são das mulheres sobre o aborto” (CFESS, 2016). Compreende-se que tais 
atitudes não condizem com o compromisso ético e político firmado pela 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social34
categoria, afinal, “impor uma gravidez às mulheres é um arbítrio e autorita-
rismo estatal, institucional e social sobre suas vidas” (idem).
Em 28 de setembro de 2020, outro CFESS Manifesta foi publicado 
em alusão ao Dia Latino-Americano e Caribenho pela Descriminalização e 
Legalização do Aborto. No texto, o órgão recorda que “independente das 
opiniões pessoais e credos, o aborto é uma realidade concreta, presente no 
nosso cotidiano” e aponta a contradição entre a culpabilização das mulhe-
res e o silenciamento sobre a responsabilidade dos homens no assunto. O 
questionamento sobre a preocupação com a vida das mulheres perpassa a 
comunicação, que busca explicar que “nenhum movimento defende o abor-
to como uma prática contraceptiva comum” ou como algo que deve ser es-
timulado. Na verdade:
A defesa da legalização do aborto, além de garantir a preservação da 
vida das mulheres, busca reduzir o número de abortamentos, por meio 
de políticas públicas e fortalecimento da educação sexual nas escolas, 
universidades e demais instituições. A legalização possibilita a criação de 
uma rede multiprofissional protetiva e de atendimento às mulheres, para 
acompanhá-la na decisão do aborto. Ao ser atendidas, as mulheres passam 
a ser acompanhadas com apoio psicológico, social e de outras profissões 
especializadas. A legalização possibilita reforçar as políticas de prevenção 
de gravidez indesejada, bem como impede que mulheres que não queiram 
abortar sejam obrigadas a fazê-lo. Ou seja, por meio do atendimento, poderá 
ser identificado se a mulher está sendo coagida a fazer o aborto contra a sua 
vontade, algo não tão incomum na nossa sociedade patriarcal. A defesa 
da legalização é para garantir que a vontade da mulher prevaleça e não do 
que a sociedade impõe. É a defesa por uma rede fortalecida de atenção 
aos direitos sexuais e reprodutivos de todas as pessoas (CFESS, 20206). 
6 Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/2020-CfessManifesta-legalizaAborto.pdf 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 35
No ano seguinte, sob a chamada “Vamos falar sobre aborto, de forma 
ética e sem preconceitos?”, o CFESS lembrou que a categoria “têm o com-
promisso ético-político com a defesa intransigente dos direitos humanos, 
princípio do Código de Ética”. Diante disso, o Serviço Social deve defender 
a legalização do aborto “na perspectiva do compromisso com a autonomia e 
a liberdade da mulher, considerada um sujeito de direitos e soberana de suas 
decisões e projetos de vida” - (CFESS, 20217). Na ocasião, o órgãoanunciou 
a realização um debate ao vivo nas redes sociais, pela Rede de Assistentes 
Sociais pelo Direito de Decidir8, chamando a categoria ao debate sobre o 
Serviço Social e a questão do aborto. A referida Rede tem como uma de suas 
frentes a Cátedra Livre Ingriane Barbosa9, que organiza “conversatórios” e 
debates sobre o tema.
Outras comunicações do CFESS foram realizadas após casos de vio-
lação do direito ao aborto legal, e veremos isso mais adiante. As produções 
do Conjunto CFESS-CRESS, conforme expusemos brevemente, vêm elu-
cidando pontos importantes desse debate, que devem ser apreendidos pela 
categoria profissional. Nos próximos itens, abordaremos a legislação sobre 
o aborto e as normas técnicas que norteiam a atuação das/os profissionais 
da saúde no que se refere à temática. Posteriormente, teceremos reflexões 
à luz do Código de Ética do/a Assistente Social e discutiremos o papel das 
trabalhadoras e trabalhadores da área, de forma ampla, no que diz respeito 
ao aborto. 
7 Disponível em: http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1843 
8 A Rede de Assistentes Sociais pelo Direito de Decidir (RASPDD) foi fundada em setembro de 
2020 com o objetivo fortalecer a luta pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito. Os conteúdos 
da RASPDD podem ser acessados no Instagram (@raspdd) e via link: https://linktr.ee/raspdd. 
9 A RASPDD nomeou sua Cátedra Livre em memória de Ingriane Barbosa, mulher negra e pobre, 
que morreu em decorrência da proibição do aborto: num ato desesperado, Ingriane introduziu um 
talo de mamona no útero para interromper uma gestação indesejada. Depois de dias no hospital, 
Ingriane não resistiu a uma séria infecção e faleceu. É possível ler mais sobre o caso em https://
catarinas.info/a-morte-evitavel-de-ingriane-e-lembrada-em-audiencia-publica-sobre-aborto/ 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social36
O que diz o Código Penal sobre o aborto
A legislação que trata do tema no Brasil é o Código Penal10, no qual 
o aborto é crime tipificado segundo o título I, dos crimes contra a pessoa, e 
do capítulo I, dos crimes contra a vida. O documento traz dois permissivos 
para a prática: aborto sentimental ou aborto necessário. O primeiro refere 
aos casos de risco de morte da gestante e o segundo, às gestações decorrentes 
de estupro. Abaixo, podemos ler o artigo 128 do referido Código:
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento 
da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. (BRASIL, 1940).
Somado aos permissivos de 1940, em 2012, após ampla discussão, 
o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o aborto em casos de feto 
anencéfalo, sem necessidade de pedido via judicial. Em abril daquele ano, 
o STF julgou procedente a Arguição de Descumprimento de Preceito Fun-
damental (ADPF) nº 54, proposta pela Confederação Nacional dos Traba-
lhadores da Saúde, decidindo, definitivamente, pela possibilidade de escolha 
das mulheres nessa situação. Em 2014, foi lançada Norma Técnica11 que 
orienta o atendimento nessas situações. 
É direito das mulheres optar pelo aborto nessas três situações. No 
que se refere aos casos de gravidez resultante de estupro, observemos acima 
10 Em que pese o Código Penal de 1940 ser o marco legal que trata do tema até os dias atuais, 
o aborto já havia sido matéria de outros textos legislativos, a exemplo do “Código Criminal do 
Império do Brasil”, promulgado por Dom Pedro em 1830, e o “Código Penal dos Estados Unidos 
do Brasil”, de 1890. O último, inaugura no país a ideia de despenalizar o aborto realizado para 
salvaguardar a vida da gestante. 
11 Norma Técnica de Atenção às Mulheres com Gestação de Anencéfalos, do Ministério da Saúde: 
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_mulheres_gestacao_anencefalos.pdf 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 37
que o aborto pode ser realizado mediante o consentimento da gestante ou 
responsável (em caso de incapaz), sendo que o Código Penal não requisita 
nenhum outro documento ou procedimento para o acesso a ele. A exigência 
de Boletim de Ocorrência, exames do Instituto Médico Legal, ou qualquer 
comprovação da situação de violência não encontra amparo legal algum. 
Consistem, na verdade, em uma grave violação de direitos e revitimização 
das mulheres que passaram por situações de violência sexual.
O Código Penal, conforme vimos acima, não condiciona o acesso à 
prática à idade gestacional. Não há na lei idade gestacional limite para que 
o aborto legal seja realizado, e a recusa da prática com esse argumento não 
possui respaldo na lei. Da mesma forma, não é necessário buscar autorização 
judicial para realização do aborto em qualquer um desses permissivos. A 
exigência de autorização judicial, além de não ter embasamento legal, pode 
atrasar ou inviabilizar a realização do procedimento, incidindo em graves 
violações de direito das mulheres e podendo acarretar prejuízos importantes 
para sua saúde física e mental. 
A oferta dos procedimentos de aborto dentro dos permissivos trazi-
dos pela lei é balizada por normas técnicas, das quais falaremos a seguir. 
As normas técnicas que norteiam os serviços de aborto legal 
Em que pese a legislação datar de 1940, somente no final da década 
de 198012 é que se estrutura o primeiro serviço de aborto legal no país. A sua 
implementação trouxe à tona a necessidade de estabelecer normas e fluxos 
para a oferta, atendimento e procedimentos realizados. A primeira tentativa 
de normatização resultou, em 1999, na Norma Técnica para Prevenção e 
Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual Contra Mulheres 
e Adolescentes. 
12 Em 1989 se estrutura o que foi reconhecido como primeiro serviço de aborto legal no país, 
ofertado no Hospital Municipal Dr. Arthur Ribeiro de Saboya, em São Paulo (SP), mais conhecido 
como Hospital do Jabaquara. A iniciativa, dentro do hospital, contou com a liderança e atuação 
indispensável de uma assistente social, Irotilde Gonçalves, que participou de todo o processo de 
implementação do serviço. Para ler mais sobre esse processo, ver Araújo (1993). 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social38
Tal norma foi atualizada e ampliada em 2005 e em 2012, e o seu 
conteúdo objetiva:
auxiliar profissionais de saúde na organização de serviços e no 
desenvolvimento de uma atuação eficaz e qualificada nos casos de violência, 
bem como garantir o exercício pleno dos direitos humanos das mulheres, 
base de uma saúde pública de fato universal, integral e equânime. (BRASIL, 
2012, p. 10).
O documento norteia a organização da atenção às vítimas de vio-
lência sexual, tratando desde a estrutura física necessária, equipamentos e 
instrumentais; quadro de trabalhadores/as e equipe multidisciplinar; pro-
cedimentos; a necessidade de sensibilização e capacitação de profissionais; 
conceitos importantes; etc. Contém informações acerca de prevenção 
de ISTs13, contracepção de emergência, procedimentos para interrupção 
de gravidez, entre outros. Traz discussões sobre direitos, violência e 
desigualdade, autonomia, necessidade de sigilo, atendimento humanizado, 
objeção de consciência. 
No item anterior, apresentamos o que o Código Penal diz sobre o di-
reito ao aborto em caso de gestação decorrente de estupro. A Norma Técni-
ca referida acima elucida, a partir do Código, importantes questões. Em pri-
meiro lugar, reforça que não é necessária apresentação de BO ou qualquer 
outro comprovante da violência sofrida para acesso ao aborto: “O Código 
Penal não exige qualquer documento para a prática do abortamento nesse 
caso, a não ser o consentimento da mulher” (BRASIL, 2012, p. 69). 
A vítima de violência não tem obrigação de proceder à denúncia. 
AS/Os profissionais envolvidas/os no atendimento devem orientar as possi-
13 Infecções Sexualmente Transmissíveis.Segundo o Ministério da Saúde, “A terminologia 
Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) passou a ser adotada em substituição à 
expressão Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), porque destaca a possibilidade de 
uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas”. Para saber mais, 
acessar: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/i/infeccoes-sexualmente-
transmissiveis-ist-1#:~:text=As%20Infec%C3%A7%C3%B5es%20Sexualmente%20 
Transmiss%C3%ADveis%20(IST,uma%20pessoa%20que%20esteja%20infectada. 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 39
bilidades de providências policiais e judiciais, porém não podem condicio-
nar a isso o acesso ao aborto legal. O documento reitera: “é preciso entender 
que, para quem sofreu tal crime, o simples fato de ter de procurar o sistema 
de saúde e/ou delegacia de polícia é já um agravo resultante dessa violência” 
(BRASIL, 2012, p. 14).
Além disso, “o Código Penal afirma que a palavra da mulher que 
busca os serviços de saúde afirmando ter sofrido violência deve ter credibi-
lidade, ética e legalmente, devendo ser recebida como presunção de veraci-
dade” (BRASIL, 2012, p. 69). O objetivo do serviço de saúde é garantir o 
direito à saúde, e “seus procedimentos não devem ser confundidos com os 
procedimentos reservados à polícia ou à Justiça. (idem). Assim, não cabe aos 
profissionais o questionamento da palavra da mulher ou a “investigação” 
sobre a veracidade dos fatos.
O dever de profissionais da saúde é, portanto, garantir às ví-
timas de violência sexual o atendimento de acordo com as suas ne-
cessidades, a partir do seu relato. O papel de investigação não nos 
cabe, assim como não nos cabe a denúncia do fato às autoridades 
policiais. O que cabe, nessas situações, além da orientação, é a no-
tificação da violência aos órgãos de proteção14 e epidemiológicos: 
A Lei n.º 10.778, de 24 de novembro de 2003, estabelece a notificação 
compulsória, no território nacional, dos casos de violência contra a mulher, 
atendidos em serviços públicos e privados de saúde. O cumprimento da 
medida é fundamental para o dimensionamento do fenômeno da violência 
sexual e de suas consequências, contribuindo para a implantação de políticas 
públicas de intervenção e prevenção do problema. (BRASIL, 2012, p. 24). 
Em muitos casos, a exigência do Boletim de Ocorrência decorre de 
um medo infundado das/os profissionais de saúde, que temem responder 
criminalmente por realizar o aborto em casos que se comprovem, posterior-
mente, não ter sido resultado de violência sexual. A Norma desmitifica isso:
14 Por exemplo o Conselho Tutelar, em caso de menores de idade, os Creas (O Centro de 
Referência Especializado de Assistência Social) ou serviços específicos de atendimento às 
mulheres vítimas de violência. 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social40
O(a) médico(a) e demais profissionais de saúde não devem temer possíveis 
consequências jurídicas, caso revele-se posteriormente que a gravidez não 
foi resultado de violência sexual. Segundo o Código Penal, art. 20, § 1º, “é 
isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, 
supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima”. Se todas 
as cautelas procedimentais foram cumpridas pelo serviço de saúde, no 
caso de verificar-se, posteriormente, a inverdade da alegação, somente a 
gestante, em tal caso, responderá criminalmente. (BRASIL, 2005a, p. 42). 
Segundo a norma, é direito da vítima de estupro receber informações 
sobre seus direitos e possibilidades em casos de gravidez (de interromper ou 
não a gestação, sobre a entrega legal15, etc) e sobre os procedimentos a que 
será submetida, sendo que só poderá ser submetida aos procedimentos que 
consentir. É direito da mulher e dever das/os profissionais informar sobre a 
contracepção após abortamento e os métodos de abortamento disponíveis, 
bem como a analgesia em casos de dor.
Outro ponto importante explanado pela norma é a objeção de cons-
ciência, segundo a qual é possível a/o profissional médica/o se abster de realizar 
o procedimento de aborto, caso a prática seja contrária às suas convicções pes-
soais. Essa é uma possibilidade assegurada pelo Código de Ética Médica16. En-
tretanto, tal direito é possível em determinadas condições, conforme abaixo: 
15 Entrega Legal é um projeto que visa tornar conhecida a possibilidade de entregar legalmente 
crianças à adoção e conscientizar sobre a importância de seguir os procedimentos estabelecidos 
em lei para isso. A entrega legal pode ser realizada mediante o desejo das/os genitoras/es. 
Segundo a iniciativa, é direito das mulheres receberem atendimento psicológico durante a 
gestação e orientação de profissionais das Varas da Infancia e da Juventude para tomada de 
decisão e, se assim desejarem, procedência à entrega legal. É possível ler mais sobre o assunto 
em https://www.defensoriapublica.pr.def.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento 
/2022-03/entrega_legal.pdf e em https://www.tjrr.jus.br/index.php/noticias/15857-cartilha-traz-
orientacoes-sobre-entrega-legal-para-adocao 
16 Conforme redação do documento, no item VII de seus princípios fundamentais “o médico 
exercerá sua profissão com autonomia, não sendo obrigado a prestar serviços que contrariem 
os ditames de sua consciência ou a quem não deseje, excetuadas as situações de ausência de 
outro médico, em caso de urgência ou emergência, ou quando sua recusa possa trazer danos à 
saúde do paciente” (CFM, 2010, p. 30). 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 41
É garantido ao(à) médico(a) a objeção de consciência e o direito de recusa 
em realizar o abortamento em casos de gravidez resultante de violência 
sexual. No entanto, é dever do(a) médico(a) informar à mulher sobre seus 
direitos e, no caso de objeção de consciência, deve garantir a atenção ao 
abortamento por outro(a) profissional da instituição ou de outro 
serviço. Não se pode negar o pronto-atendimento à mulher em qualquer 
caso de abortamento, afastando-se, assim, situações de negligência, omissão 
ou postergação de conduta que viole a lei, o código de ética profissional e os 
direitos humanos das mulheres. (BRASIL, 2012, p. 75. Grifos do autor). 
O direito de objeção de consciência da/o médica/o não está sobre-
posto ao direito da mulher ao aborto legal. A objeção só pode ser alegada 
se não impossibilitar o acesso à prática. Não se pode alegar objeção de cons-
ciência para recusar prestar informações sobre o direito ao aborto: ela pode 
ser utilizada, dentro dos parâmetros mencionados anteriormente, para recu-
sar a realização da prática, mas nunca para a recusa da informação. A objeção 
de consciência não pode se converter na tentativa de impedir que as mulhe-
res acessem o direito ao aborto legal nesses casos17. 
Abaixo, os casos em que não há direito à objeção de consciência: 
Cabe ressaltar que não há direito de objeção de consciência em algumas 
situações excepcionais: 1) risco de morte para a mulher; 2) em qualquer 
situação de abortamento juridicamente permitido, na ausência de outro(a) 
profissional que o faça; 3) quando a mulher puder sofrer danos ou agravos 
à saúde em razão da omissão do(a) profissional; 4) no atendimento de 
complicações derivadas do abortamento inseguro, por se tratarem de casos 
de urgência. (BRASIL, 2012, p. 75).
É dever do Estado garantir a presença nos serviços de atendimento de 
médicos/as e outros/as profissionais que não tenham objeção de consciência 
17 A discussão sobre a objeção de consciência nesses casos pode ser aprofundada em Diniz 
(2011). 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social42
nesses casos. Segundo a norma, “caso a mulher venha sofrer prejuízo de or-
dem moral, física ou psíquica, em decorrência da omissão, poderá recorrer à 
responsabilização pessoal e/ou institucional.” (BRASIL, 2005, p. 44).
Embora as/os assistentes sociais não possam se abster do atendimen-
to às vítimas de violência sexual que optem por interrompera gestação18, é 
imprescindível que estejam munidas/os de tais informações, para que pos-
sam qualificar as orientações e buscar garantir o acesso aos direitos nesses 
casos. 
Uma Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento 
foi lançada em 2005 e atualizada em 2008, com objetivo de viabilizar, às/
aos profissionais de saúde, elementos para a oferta do cuidado imediato às 
mulheres em situação de abortamento e, “na perspectiva da integralidade 
deste atendimento, disponibilizá-las alternativas contraceptivas, evitando o 
recurso a abortos repetidos” (BRASIL, 2011, p. 11).
Segundo o texto, é dever das/os profissionais de saúde prestar atendi-
mento às mulheres em situação de abortamento, seja ele espontâneo ou pro-
vocado. Negar atendimento, atender de forma desrespeitosa, fazer julgamen-
tos morais, inquirir e/ou buscar investigar as situações é inaceitável. A norma 
dispõe sobre a importância do respeito ao sigilo profissional nessas situações: 
Diante de abortamento espontâneo ou provocado, o(a) médico(a) ou 
qualquer profissional de saúde não pode comunicar o fato à autoridade 
policial, judicial, nem ao Ministério Público, pois o sigilo na prática 
profissional da assistência à saúde é um dever legal e ético, salvo para 
proteção da usuária e com o seu consentimento. (BRASIL, 2008, p. 19). 
Para elucidar esse ponto, a norma recupera o Código Penal, que des-
creve crime “revelar alguém, sem justa causa, segredo de que tem ciência em 
razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa pro-
duzir dano a outrem” (Código Penal, art. 154). A Constituição Federal de 
18 A objeção de consciência, conforme dispusemos, é um direito do médico conforme o Código 
de Ética Médica. O Código de Ética do Serviço Social não prevê a objeção de consciência. Mais 
adiante, aprofundaremos esse debate.
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 43
1988 também é mencionada: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, 
a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização material 
ou moral decorrente de sua violação” (Art. 5º, X).
O texto ressalta aspectos já mencionados acerca da objeção de cons-
ciência e enfatiza: não cabe objeção no atendimento aos agravos de aborto 
inseguro, por se tratar de situações de emergência. 
Ponto importante trazido pelas normas é o papel de profissionais 
de saúde no acolhimento às mulheres e no atendimento humanizado. Por 
acolhimento, compreendem “conjunto de medidas, posturas e atitudes dos 
(as) profissionais de saúde que garantam credibilidade e consideração à si-
tuação de violência.” (BRASIL, 2011, p. 21). O que pressupõe “receber e 
escutar essas mulheres, com respeito e solidariedade, buscando-se formas 
de compreender suas demandas e expectativas” e o respeito à sua autono-
mia (idem). A Norma Técnica de Atenção Humanizada ao Abortamento 
dispõe que o acolhimento é o “tratamento digno e respeitoso, a escuta, o 
reconhecimento e a aceitação das diferenças, o respeito ao direito de decidir 
de mulheres e homens, assim como o acesso e a resolubilidade da assistência 
à saúde.” (BRASIL, 2008, p. 23). 
Após o entendimento do STF acerca da possibilidade de interrupção 
voluntária da gestação em caso de feto anencéfalo, é lançada pelo Ministério 
da Saúde, em 2014, a Norma Técnica de Atenção às Mulheres com Gestação 
de Anencéfalos. Ela é considerada mais que um “guia de cuidados”, mas 
uma diretriz que objetiva “garantir às mulheres o direito de escolher pela 
manutenção ou interrupção terapêutica da gestação, nesses casos, livremen-
te, a qualquer momento e com segurança” (BRASIL, 2014, p. 8).
Outro documento importante que diz respeito ao tema é o Guia 
Técnico teste rápido de gravidez na Atenção Básica, elaborado como parte 
das ações da Rede Cegonha19 e lançado em 2013. A iniciativa orientava de 
forma ampla as equipes, sobre como acolher as necessidades das mulheres e 
crianças em se tratando de saúde sexual e reprodutiva. Sobressaem, em rela-
19 Rede Cegonha é estratégia do Ministério da Saúde que visa implementar uma rede de cuidados 
voltados às gestantes e puérperas. Mais informações em https://www.gov.br/saude/pt-br/
acesso-a-informacao/acoes-e-programas/rede-cegonha#:~:text=A%20Rede%20Cegonha%20
%C3%A9%20uma,voltados%20%C3%A0s%20gestantes%20e%20pu%C3%A9rperas. 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social44
ção ao tema aqui tratado, a identificação de situações para uso da contra-
cepção de emergência; a orientação acerca do planejamento reprodutivo; 
o acolhimento às mulheres e adolescentes em situação de gravidez indese-
jada; a identificação e atendimento em relação à violência sexual; detecção 
de risco para gravidez indesejada e de exposição às ISTs. Para o guia, tais 
ações devem ser direcionadas segundo os “diversos significados que a re-
produção pode ter para cada pessoa, em diferentes momentos da vida” 
(BRASIL, 2013, p. 5).
O documento indica a conduta que as/os profissionais devem ter 
no atendimento após realização do teste rápido, a depender do resultado 
positivo ou negativo, tendo em vista se a gestação é ou não desejada. Tais 
apontamentos são essenciais: a descoberta de uma gestação não tem o mes-
mo significado para todas as mulheres. Não devemos, sob hipótese alguma, 
incumbir de valores morais nossa conduta diante da descoberta de uma 
gestação. A maternidade não é uma “dádiva”, nem um destino ou missão 
inerente ao “ser mulher”. Uma conduta inadequada diante de um teste po-
sitivo pode produzir efeitos como a culpabilização das mulheres que não 
querem ser mães (ou que não querem ser mães naquele momento), abalar a 
relação de confiança com as/os profissionais de saúde, entre outros. 
O mesmo pode acontecer com o resultado negativo: enquanto al-
gumas mulheres podem ficar frustradas, outras podem sentir alívio. Nessa 
norma, assim como as outras, está presente em todo o texto a necessidade de 
respeitar e não julgar mulheres, independentemente da situação apresenta-
da. Não se pode, em uma conduta profissional, imputar às mulheres nossa 
visão moral ou direcionar moralmente o atendimento prestado. 
Importante destacar que o guia orienta, diante de um teste positivo 
e gravidez indesejada, a informar sobre a possibilidade de adoção e os per-
missivos legais para interrupção da gestação, assim como o risco de práticas 
caseiras de interrupção de gestação. O guia salienta que a equipe informe os 
sinais de alerta, caso identifiquem uma possível e/ou provável interrupção 
de gravidez de forma insegura, e a importância de procurar um serviço de 
saúde nesses casos. É dever da equipe trabalhar no sentido de reduzir danos 
e proporcionar o acesso à saúde. 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 45
Recentemente houve ampla discussão sobre alguns pontos da lei e 
das NTs. Isso porque vieram a público denúncias de juíza e promotora, em 
audiência, induzindo mãe e criança engravidada após estupro, a não inter-
romperem a gestação20. O caso, ocorrido no estado de Santa Catarina em 
2022, não é exceção no que se refere à violação dos direitos reprodutivos e 
do aborto. Outro episódio parecido aconteceu no Espírito Santo em 2020, 
quando um hospital se recusou à realização do aborto de uma menina de 
11 anos engravidada após estupro sistemático de um homem21. Uma das 
falsas polêmicas levantadas nesses dois exemplos foi o limite gestacional para 
realização do aborto legal. 
O CFESS se manifestou após ambos os casos, reafirmando a posição da 
proteção integral de crianças e adolescentes, e reiterando o direito de existir e de 
decidir das mulheres. Quanto ao caso ocorrido em 2020, o Conselho afirmou: 
O patriarcado e o controle dos corpos das mulheres alicerçam as bases 
opressoras da sociedade capitalista e racista em que vivemos e isso se expressa 
em todos os julgamentos, moralizações e assédios que envolveram a pauta do 
acesso, por meio da justiça brasileira, ao direito ao aborto legal e à interrupção 
de uma gestação fruto de uma grave violência e que ampliaria,inclusive, os 
danos imensuráveis à vida de uma criança. (CFESS, 2020, online22).
Em 2022, após o caso da menina de Santa Catarina, o CFESS lançou 
a comunicação “Criança não é mãe” e afirmou:
O CFESS compõe a Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres 
e pela Legalização do Aborto, e se soma às forças e movimentos políticos e 
sociais que tentam garantir um direito constitucional a uma criança vítima 
20 Ler mais em: https://catarinas.info/video-em-audiencia-juiza-de-sc-induz-menina-de-11-anos-
gravida-apos-estupro-a-desistir-de-aborto/ 
21 Ler em: https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2022/06/21/aborto-legal-ha-2-anos-
caso-de-menina-de-10-anos-gravida-apos-estupro-pelo-tio-chocou-o-pais.ghtml 
22 Disponível em: http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1741 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social46
de violência sexual e institucional. Além do crime de estupro, a criança 
permaneceu afastada do convívio familiar, também por decisão da Justiça, 
na tentativa de impedir a realização do aborto legal, até ser autorizada a 
retornar à casa da mãe na manhã desta terça-feira, 21 de junho. (CFESS, 
2022, online23).
Importante destacar que as normas técnicas supracitadas (BRASIL, 
2011 e BRASIL, 2012) indicam quais procedimentos devem ser realizados, 
a depender do tempo gestacional, e mencionam possibilidade até a 22ª se-
mana. Em que pese a existência desse limite nas normas técnicas, não há 
impedimento legal para interrupção de gestações passado esse prazo. Con-
forme dissemos anteriormente, quem regula o direito ao aborto no país é 
o Código Penal, e ali não consta essa limitação, portanto, não é proibido24. 
A decisão por realizar ou não o aborto a depender da idade gestacional é, 
portanto, uma decisão técnica. E a não realização da prática, contrariando a 
decisão da gestante, consiste numa violação de direitos. 
Diante desse impasse, a Federação Brasileira das Associações de Gi-
necologia e Obstetrícia (Febrasgo) emitiu uma nota informativa aos tocogi-
necologistas brasileiros sobre o aborto legal na gestação decorrente de estu-
pro de vulnerável, na qual afirma:
Os limites estabelecidos em manuais ou normas técnicas do Ministério da 
Saúde são infralegais e devem ser superados a partir das evidências científicas 
e recomendações das sociedades da especialidade. A FEBRASGO, em seus 
documentos técnicos, como o Protocolo nº 69 “Interrupções da gravidez 
com fundamento e amparo legais”, a exemplo das diretrizes da FIGO e 
a Organização Mundial da Saúde, não limita a assistência a meninas e 
mulheres em situação de aborto legal à idade gestacional. Há, inclusive, 
23 Disponível em: http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1907 
24 Há uma manifestação do Ministério Público Federal, relativa ao caso supracitado, em 
orientação à idade gestacional e prática do aborto legal. Esse documento pode ser visto nesse 
link: http://www.mpf.mp.br/sc/sala-de-imprensa/docs/2022/recomendacao-menor-hu-aborto
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 47
orientações sobre a dose do tratamento adequado para o aborto induzido 
em idades gestacionais mais avançadas (FEBRASGO, 2022, on-line).
Outra infundada dubiedade é a utilização do conceito de “viabili-
dade fetal”, para impedir que gravidezes de idade gestacional mais avançada 
sejam interrompidas. Segundo a Febrasgo (2022), “o conceito de aborto in-
duzido é a “perda intencional da gravidez intrauterina por meios medica-
mentosos ou cirúrgicos”, e não tem relação com viabilidade fetal, ou seja, 
não está atrelado à idade gestacional ou peso fetal”.
É importante destacar que, em agosto de 2020, um serviço de aborto 
legal passou a ofertar, pela primeira vez, o procedimento via telemedicina, 
por via medicamentosa. Tal medida foi motivada, no contexto da pandemia 
de Covid-19, na busca por garantir o acesso das mulheres ao aborto legal25. 
Um protocolo foi criado, rigorosamente baseado em evidências científicas e 
respaldo jurídico, com apoio das entidades Global Doctors for Choice Brasil 
e Anis Instituto de Bioética. Um manual26 foi construído para nortear as 
equipes quanto à oferta, além de conter anexos orientativos às usuárias do 
serviço27. Essa estratégia de garantia de direito foi ratificada pelo Ministério 
Público Federal28 e pode consistir em uma importante indicação para outros 
municípios e estados, no sentido de buscar a efetivação e garantia do direito 
ao aborto legal, para além do contexto de pandemia. 
25 Trata-se do Núcleo de Atenção Integral às Vítimas de Agressão Sexual (Nuavidas), ligado ao 
Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU).
26 O manual completo está disponível aqui. A cartilha destinada às usuárias do serviço 
encontra-se nos anexos. https://anis.org.br/wp-content/uploads/2021/05/Aborto-legal-via-
telessa%C3%BAde-orienta%C3%A7%C3%B5es-para-servi%C3%A7os-de-sa%C3%BAde-1.
pdf 
27 Ainda que o serviço seja ofertado via telemedicina, as equipes estariam com apoio profissional 
24h para as mulheres que optassem por essa modalidade de atendimento.
28 Mais informações em: https://catarinas.info/ataques-ao-aborto-legal-por-telemedicina-nao-
tem-base-legal-ou-cientifica/ 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social48
O Código de Ética da/o Assistente Social e a questão do aborto 
No item anterior, trouxemos a discussão acerca da legislação e das 
normas técnicas que norteiam o atendimento às mulheres em situação de 
abortamento e aquelas que buscam o aborto legal. Tais normas se referem 
amplamente às/aos profissionais envolvidas/os na atenção à saúde. Sem em-
bargo, é de suma importância o conhecimento por assistentes sociais nos 
diferentes espaços sócio-ocupacionais, para embasar ações e intervenções em 
relação à temática, diante de situações cotidianas. Ainda que não estejamos 
inseridas/os em serviços de aborto legal, pode nos ser demandada informa-
ção acerca do tema, podemos identificar situação em que caibam orienta-
ções nesse sentido, lidar com situações de violação de direitos, o que nos leva 
à necessidade de conhecer tais regulações. 
Para além dessas reflexões, o Código de Ética do/a Assistente Social 
inscreve apontamentos essenciais para o trabalho da categoria. Questões que 
serão explicitadas em aproximação ao objeto desse texto. 
Em primeiro lugar, é preciso recordar Agnes Heller, para compreen-
der que:
As escolhas entre alternativas, juízos, atos, têm um conteúdo axiológico 
objetivo. Mas os homens jamais escolhem valores, assim como jamais 
escolhem o bem ou a felicidade. Escolhem sempre ideias concretas, 
finalidades concretas, alternativas concretas. Seus atos concretos de 
escolha estão naturalmente relacionados com sua atitude valorativa 
geral, assim como seus juízos estão ligados à sua imagem no mundo. 
E reciprocamente: sua atitude valorativa se fortalece no decorrer dos 
concretos atos de escolha. (HELLER, 2016, p. 30. Destaques da autora). 
A partir da autora, apreendemos que é na nossa prática profissional 
que se revelam os valores que determinam nosso agir. É no concreto, na ação 
por nós desempenhada, que se manifestam nossos valores, e é nela que veri-
ficamos a prática da ética profissional. Esse concreto está sempre imbuído de 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 49
conteúdo e de escolha, ainda que, no terreno do cotidiano, não identifique-
mos qual sua vinculação teórico-metodológica e ético-política. Nas palavras 
de Heller (2016, p. 29), “todo juízo referente à sociedade é um juízo de valor, 
na medida em que se apresenta no interior de uma teoria, de uma concepção 
de mundo”.
Segundo Barroco e Terra,
O assistente social se depara com diferentes situações-limite como suicídio, 
aborto, eutanásia, uso de drogas, etc. se não estiver aberto para aceitar o direito 
de escolha do outro, ou mesmo a possibilidade de o outro não ter alternativa, 
como poderá conviver com essas circunstâncias? Se estiver absorto em 
atitudes preconcebidas e estereótipos, como poderá se relacionarcom essas 
situações no trabalho profissional? (BARROCO; TERRA, 2012, p. 78). 
Para uma prática refletida, é essencial um sólido arcabouço teórico-
-metodológico e ético-político. Este texto busca uma aproximação, ainda 
que não pretenda esgotar as reflexões sobre o assunto. Para isso, recupera-
remos importantes pontos expressos no Código de Ética do/a Assistente 
Social. Cinco princípios do Código são essenciais nesse sentido. São eles: 
II. Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do 
autoritarismo; [...]
III. Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial 
de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e políticos 
das classes trabalhadoras; [...]
VI. Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando 
o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados 
e à discussão das diferenças; [...]
X. Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com 
o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional. 
XI. Exercício do Serviço Social sem ser discriminado/a, nem discriminar, por 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social50
questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, 
orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física (BRASIL, 
2012).
O princípio II se relaciona à posição em defesa dos direitos humanos 
e, portanto, dos direitos reprodutivos, e o princípio III nos dá o horizonte 
da luta pela ampliação de tais direitos. Os princípios VI e XI remetem ao 
nosso agir sem preconceitos e discriminação, e o empenho em combatê-los, 
algo que nos atenta à necessidade de questionar a dominação e exploração 
de sexo, classe e raça/etnia, da qual resulta a violação dos direitos reproduti-
vos e a negação do direito de decidir. Destacamos acima, no princípio XI, a 
não descriminação em razão da identidade de gênero e sexualidade. O prin-
cípio X ressalta nosso compromisso com a qualidade dos serviços, o que se 
estende aos direitos reprodutivos e ao aborto legal, incluindo a necessidade 
de constante atualização e aprimoramento intelectual no que nos compete.
Uma das queixas encontradas por pesquisadoras como Lolatto e Lis-
boa (2013) é que, em nosso Código de Ética, não encontramos respostas 
para situações concretas relativas ao aborto (algo que podemos relacionar 
também a diversos temas). Os postulados do Código de Ética são amplos e 
cabe a nós, profissionais, refletir, a partir de seus princípios e estabelecimen-
tos, nas situações cotidianas que nos são apresentadas. Fazendo as mediações 
necessárias entre a realidade que se manifesta diante de nós e os princípios 
éticos, à luz dos aspectos teórico-metodológicos necessários à prática pro-
fissional, é que chegaremos a tais respostas. Aqui, buscamos indicar uma 
aproximação, e esse exercício deve perpassar o nosso agir: ler, refletir, buscar 
embasamento não só em documentos oficiais (mas também neles), no que 
se produz de embasamento teórico-metodológico e ético-político, apreen-
dendo tais conteúdos de forma crítica. 
No Título III, Capítulo II, sobre os deveres dos/as assistentes sociais 
na relação com o/a usuário/a, a alínea b afirma dois pontos importantes. Em 
primeiro lugar, nosso dever em “garantir a plena informação e discussão so-
bre as possibilidades e consequências das situações apresentadas”. Assisten-
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 51
tes sociais, portanto, não podem se eximir de prestar informações a usuários 
e usuárias dos serviços em que atuam. 
É nosso dever informar sobre o direito ao aborto legal, independen-
temente do serviço no qual estamos atuando, diante de situações nas quais 
tal direito pode caber. Da mesma forma, devemos informar a possibilidade 
da entrega legal, os direitos reprodutivos e sexuais, etc. Devemos estimular a 
reflexão sobre as possibilidades de escolha e suas consequências, fazendo isso 
despidas/os de julgamentos e de conteúdo que direcione ou busque tenden-
ciar a decisão da população conforme os nossos valores pessoais. Do contrá-
rio, estaremos não só violando direito das usuárias e usuários, mas também 
o nosso Código de Ética Profissional. 
Isso fica evidente quando a referida alínea segue discorrendo que é 
nosso dever proporcionar tais informações e reflexões “respeitando demo-
craticamente as decisões dos/as usuários/as, mesmo que sejam contrárias aos 
valores e às crenças individuais dos/as profissionais, resguardados os princí-
pios deste Código”. 
Não cabe a nós julgar uma mulher que opte pelo aborto legal. Não 
cabe a nós julgar uma mulher que opte por levar adiante uma gestação, in-
dependentemente da situação, seja decorrente de estupro, seja de um feto 
anencéfalo. E não cabe a nós julgar as mulheres que recorrem ao aborto 
clandestino. É nosso dever munir de informação, para que tais decisões se-
jam tomadas da forma mais consciente e refletida possível, de acordo com as 
possibilidades e ciência das consequências. Isso inclui buscar que as decisões 
sejam realizadas da forma mais segura, cabendo à/ao profissional a reflexão 
acerca da redução de danos29 
Segundo nosso Código de Ética, no Título III, Capítulo I, sobre a 
relação com usuária/o, é vedado “exercer sua autoridade de maneira a limitar 
ou cercear o direito do/a usuário/a de participar e decidir livremente sobre 
seus interesses” ou “bloquear o acesso dos/as usuários/as aos serviços ofere-
cidos pelas instituições, através de atitudes que venham coagir e/ou desres-
29 Vimos que as Notas Técnicas indicam a necessidade de informar às mulheres quais os 
sinais de alerta em casos de agravos a abortamento clandestino. Tais informações podem ser 
prestadas por assistentes sociais, buscando a redução de danos, caso percebam, no cotidiano 
de trabalho, a iminência de situações que possam colocar em risco a vida das mulheres. 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social52
peitar aqueles que buscam o atendimento de seus direitos”. Qualquer ação 
profissional que busque tolher o direito ao aborto legal, influenciar as deci-
sões acerca do tema ou julgar a escolha da mulher consiste em infração ética, 
e isso inclui a discriminação ou o bloqueio do acesso aos direitos reproduti-
vos às pessoas de diferentes identidades de gênero que possam necessitar do 
aborto legal.
O Código de Ética, em seu artigo 8º, refere que é dever da/o assisten-
te social “denunciar falhas nos regulamentos, normas e programas da insti-
tuição em que trabalha, quando os mesmos estiverem ferindo os princípios 
e diretrizes do Código”. Tal artigo, em consonância com o princípio X, que 
trata do compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população, 
nos remete à necessidade de intervenção quando direitos são desrespeitados. 
Isso nos remete às normas técnicas e legislações tratadas aqui. Situações em 
que o BO é exigido para acesso ao aborto legal, na recusa da prática sem res-
paldo legal, o desrespeito da decisão de mulheres ou o convencimento para 
que decidam conforme preceitos morais, a utilização inadequada da objeção 
de consciência, entre outros, pode ser matéria de intervenção de assistentes 
sociais na busca por garantir o acesso aos direitos.
Barroco e Terra (2012) refletem sobre as mulheres que têm o aces-
so ao aborto legal tolhido ou dificultado devido a práticas preconceituosas, 
e se questionam sobre o papel de assistentes sociais, no que diz respeito à 
consciência e responsabilidade. Segundo as autoras, “a omissão em face de 
situações antiéticas é uma posição de valor que também produz consequên-
cias: contribui para a reprodução das situações de violações” (BARROCO; 
TERRA 2012, p. 80). Diante disso, o dever da/o assistente social, de acordo 
com nosso Código de Ética, é denunciar esse tipo de conduta aos órgãos 
competentes.
Na seção anterior, citamos o exemplo da pioneira oferta do aborto 
legal via telemedicina, estratégia importante na garantia do acesso ao aborto 
legal. Com basenos princípios éticos acima elencados, esse é um exemplo de 
discussão que pode ser capitaneada e/ou estimulada pela categoria do Ser-
viço Social, na busca por efetivação do direito e qualificação dos serviços 
ofertados. 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 53
Nossa pesquisa em Damião (2018) identificou a atuação essencial de 
profissionais do Serviço Social na garantia do direito ao aborto legal, confor-
me as normas técnicas vigentes. Isso inclui o debate com profissionais que, 
a despeito de tais normas e leis, exigem o Boletim de Ocorrência para reali-
zação da prática. A partir do nosso Código, fica incontestável que devemos 
intervir nas situações de violação de direito, bem como em manifestações de 
desrespeito à autonomia e decisões das usuárias e usuários. 
Outro exemplo da importância de assistentes sociais nesse tensiona-
mento pode ser exemplificado com o processo de implementação do primei-
ro serviço de aborto legal no Brasil, liderado por uma profissional da área. O 
que pode ser visto em Araújo (1993).
 Nesse sentido, recordamos que, segundo nosso Código de Ética, 
é dever de assistentes sociais contribuir para a alteração das correlações de 
força nas instituições, de modo a apoiar o interesse de usuárias e usuários; e 
empenhar-se na viabilização dos direitos sociais.
A questão do sigilo profissional foi abordada anteriormente no que 
se refere aos postulados das Normas Técnicas que norteiam o atendimento 
em saúde nos casos de abortamento, e aparece também de forma ampla no 
Código de Ética do/a Assistente Social. Segundo o Código, o sigilo é um 
direito da/o profissional, que, segundo o artigo 16, deve “proteger o/a usuá-
rio/a em tudo aquilo de que o/a assistente social tome conhecimento, como 
decorrência do exercício da atividade profissional” (BRASIL, 2012). O Có-
digo aponta que, em exceções, o sigilo pode ser quebrado para proteger a/o 
usuária/o. São exceções, pois nos é vedado quebrar o sigilo, e isso apenas 
pode acontecer quando há uma avaliação de risco que indique que manter 
o sigilo pode contribuir para a desproteção da/o usuária/o e/ou colocá-la/o 
em risco. 
Barroto e Terra (2012, p. 211) destacam que:
não é por ser fato criminoso que o segredo confiado pelo usuário ao 
assistente social deva ser revelado, senão estar-se-ia admitindo uma relação 
de desconfiança, de constrangimento, de fiscalização aos atos praticados 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social54
por ele. O assistente social passaria a representar o papel de “acusador” 
dos usuários, o que subtrairia da profissão sua capacidade de intervenção 
na direção da concepção do projeto ético-político do Serviço Social. 
Diante do exposto nesse item, é explícito que não cabe à/ao assis-
tente social a objeção de consciência. Além de não haver em nosso Có-
digo de Ética essa possibilidade30, os pontos que elucidamos acima reiteram 
que a objeção de consciência é contrária aos princípios postulados pela pro-
fissão. Enquanto profissão cujo Código de Ética tem como valor central a 
liberdade e como princípios a defesa intransigente dos direitos humanos e 
a recusa do arbítrio e do autoritarismo, não podemos nos eximir de prestar 
informações e orientações às/aos usuárias/os, assim como não nos cabe jul-
gar as escolhas da população e/ou bloquear o acesso a direitos. Nos é vedado 
cercear ou bloquear o acesso a direitos. É nosso dever garantir informação, 
assim como respeitar as escolhas de usuárias e usuários, independentemente 
das nossas convicções pessoais.
O papel do Serviço Social de diferentes campos sócio-
ocupacionais na garantia do direito e no debate sobre o aborto 
 Identificamos em Damião (2018) uma gama de situações relativas 
aos direitos reprodutivos e ao aborto, que perpassam o cotidiano de traba-
lho de assistentes sociais atuantes em diversos campos sócio-ocupacionais. 
Em um questionário aplicado de forma online com 100 assistentes sociais, 
41% responderam já ter se deparado com situações de abortamento volun-
tário. Outros 86% identificaram situações de gravidez na adolescência, 22% 
gravidez decorrente de estupro e 76% se depararam com situações de gravi-
dez indesejada de forma ampla. 
30 Conforme mencionamos anteriormente, essa é uma possibilidade para o profissional 
médico já que o Código de Ética que regula aquela profissão prevê a objeção de consciência, 
diferentemente da área do Serviço Social. 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 55
A pesquisa também apontou a identificação, por assistentes sociais, 
de inacessibilidade a métodos contraceptivos (27%) e a informações sobre 
sexualidade e reprodução (43%); 12% foram questionada/os sobre serviços 
de abortamento e 11% sobre os permissivos para aborto, enquanto 6% foram 
perguntadas/os sobre métodos de abortamento. A recusa no atendimento 
ao aborto legal foi identificada por 6% das/os respondentes e 3% verificou a 
exigência do boletim de ocorrência para realização da prática. 
Percebemos, nesta pesquisa, que a questão dos direitos reprodutivos 
e do aborto está presente, de forma ou outra, no cotidiano de trabalho de 
assistentes sociais, independentemente de onde estejam profissionalmente 
inseridas/os. Isso porque essas questões perpassam a realidade da população 
e, a depender da nossa capacidade de escuta, serão percebidas no cotidiano 
de trabalho31. 
Tais dados, além de pesquisas como as de Maurílio Castro de Matos 
(2009) e Simone Lolatto (2004), mostram a relevância do debate sobre o 
tema dos direitos reprodutivos e do aborto junto a assistentes sociais, para 
além daqueles/as que atuam nos serviços de aborto legal. De fato, a forma 
como tais demandas chegarão, e as respostas profissionais empreendidas, 
dependerão do espaço sócio-ocupacional em que estejam inseridas/os. Sem 
embargo, é necessário que aprofundemos nossos conhecimentos e debates 
acerca do tema, para intervir com o devido embasamento teórico-metodoló-
gico e ético-político diante das situações apresentadas a nós. 
Foi apontado em Damião (2018) que a escuta qualificada e a aco-
lhida, diante de situações de violação dos direitos reprodutivos, são pontos-
-chave na conduta de assistentes sociais, independentemente do local onde 
trabalhem. As/Os participantes da pesquisa referem que outras formas de in-
tervenção irão depender da situação encontrada e do espaço sócio-ocupacio-
nal onde assistentes sociais estão inseridas/os. Nos relatos por nós colhidos: 
31 Pesquisa de mestrado defendida em 2018, que pode ser visualizada em Damião (2018). 
Discussões sobre as demandas identificadas pelas assistentes sociais no cotidiano de trabalho, 
a forma como lidaram com as situações apresentadas e a concepção sobre aborto podem ser 
vistas também em Damião (2021). 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social56
Outras ações, como os encaminhamentos, orientações, e a mobilização da 
rede de atendimento frente a essas demandas irão depender do tipo de situação 
encontrada e do serviço no qual a profissional está inserida. O trabalho junto 
às vítimas de violência para incentivar a denúncia do agressor é alternativa 
recorrente nos serviços especializados de saúde e atendimento às mulheres 
em situação de violência. Para as trabalhadoras dos CRAS, o trabalho em 
grupo com mulheres é uma alternativa encontrada no enfrentamento 
das opressões vivenciadas por esse público (DAMIÃO, 2021, p. 227). 
Nessa pesquisa, identificamos que as violações dos direitos reprodu-
tivos perpassam a vida das mulheres atendidas em diferentes políticas pú-
blicas e serviços, e trabalhar com esse tema é importante. As estratégias para 
isso irão variar, a exemplo do trecho citado acima. Nos serviços que atendem 
mais diretamente às situações de violência sexual, como os Creas, Centros 
de Atendimento às Mulheres, entre outros, é essencial realizar orientações e 
informações corretas, rápidas e de qualidade acerca da possibilidade de abor-
to legal. O relato de uma assistente social que coordenava um serviço Creasnos atenta a isso: quando uma adolescente grávida após estupro buscou o 
serviço, a equipe recebeu orientação de agir conforme o Código de Ética, e 
informar sobre a possibilidade do aborto legal. No entanto, em atendimen-
to, a dupla formada por assistente social e psicóloga, segundo a entrevistada, 
embasou o atendimento em crenças religiosas e valores pessoais (DAMIÃO, 
2018), algo que, sob hipótese alguma, pode acontecer no âmbito do Serviço 
Social. Além de infração ao Código de Ética, trata-se de uma grave violação 
de direito da usuária e vitimiza mais uma vez alguém que foi violentada. 
Para que essas intervenções sejam assertivas e éticas, é imperiosa a 
apreensão crítica acerca das legislações, documentos, de forma embasada 
na teoria e ciência. E, de fato, não é assunto apenas para assistentes sociais 
atuantes em serviços de aborto legal, mas tarefa de todas/os nós. 
Reiteramos que a “postura combativa das assistentes sociais pode 
contribuir para a garantia dos direitos das mulheres” (DAMIÃO, 2021, p. 
227), como no caso em que essas trabalhadoras, no embate com médicos 
que exigem apresentação do BO para realização do aborto legal, conquis-
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 57
tam que o serviço seja ofertado conforme a legislação e normas técnicas, 
sem obrigatoriedade do documento. Ou quando tensionam o debate sobre 
objeção de consciência, a inexistência de limite gestacional para realização 
do aborto legal, ou que a exigência de judicialização dessa demanda é uma 
violação de direitos. Afirmamos em Carloto e Damião (2018, p. 317), que 
“o enfrentamento da equipe de Serviço Social é essencial para confrontar 
práticas profissionais preconceituosas, culpabilizadoras e a negação dos di-
reitos das mulheres”. 
Considerações Finais 
É necessário compreender que vivemos em uma sociedade cujas 
relações sociais são estruturadas por um modo de produzir e reproduzir a 
vida forjados no patriarcado-racismo-capitalismo. Os valores dominantes 
dessa sociedade refletem as relações hierárquicas de dominação, exploração e 
opressão de classe, sexo e raça/etnia. Barroco e Terra (2012, 73), no Código 
de Ética do/a Assistente Social Comentado, afirmam que “o assistente social 
não está imune aos apelos moralistas e preconceituosos que rondam o ima-
ginário social”. Isso significa que, em nosso cotidiano, pode se apresentar a 
contradição entre a defesa dos valores do Código de Ética e a prática de valo-
res contrários, muitas vezes condizentes com valores dominantes, oriundos 
dessa sociedade descrita acima. 
Segundo as autoras, “entre outros fatores, trata-se de uma repetição 
espontânea de certos costumes e valores internalizados e consolidados por 
meio de sua formação moral, anterior à formação profissional” (BARRO-
CO; TERRA, 2012, p. 73). É nesse campo do cotidiano, das práticas irre-
fletidas e/ou mecânicas, que os preconceitos podem se manifestar. Barroco e 
Terra (2012, p. 73) defendem que os preconceitos consistem em uma forma 
de “alienação moral”, por impedir a autonomia das pessoas ao “deformar 
e, consequentemente, estreitar a margem real de alternativa do indivíduo”. 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social58
Verificamos, em pesquisa (DAMIÃO, 2021, p. 221) realizada com 
assistentes sociais atuantes em diversas políticas sociais sobre a temática do 
aborto, a importância do Código de Ética para balizar o posicionamento 
diante de situações concretas: “por meio de suas profundas elaborações, [o 
Código] permite que as profissionais construam reflexões críticas também 
sobre temas específicos”. 
Ao mesmo tempo, identificamos que, muitas vezes, preconceitos 
podem aparecer simultaneamente com o discurso abstrato da liberdade. Isso 
porque, em que pese o conhecimento dos princípios que regem o Código 
de Ética, não se alcança a profundidade necessária do debate para a mate-
rialização no concreto da realidade, e das situações apresentadas a nós no 
cotidiano de trabalho.
Exemplos disso, encontrados em nossa pesquisa, foram posiciona-
mentos favoráveis à legalização do aborto em consonância com a ideia de 
autonomia, concomitantemente com o discurso da necessidade de controle 
do Estado: “a ideia de que ‘engravida quem quer’ e a legalização fariam com 
que as mulheres decidissem pela prática, ou que o Estado deve ‘controlar’ e 
decidir sobre quais situações o aborto é tolerável” (DAMIÃO, 2021)32. 
Conforme destacam Barroco e Terra (2012), o “despreparo teórico” 
para lidar com determinadas situações pode nos levar uma atuação acrítica 
ou até mesmo preconceituosa. Pode, inclusive, resultar no que exemplifica-
mos acima: a aparente consonância com os princípios do Código de Ética, 
ao mesmo tempo em que se exercem valores contrários, preconceitos funda-
dos no sistema de dominação e exploração engendrado pelo patriarcado-ra-
cismo-capitalismo. 
Entretanto, as nossas ações profissionais implicam responsabilidades 
e consequências. Para usuários e usuárias das políticas públicas, as conse-
32 Em Damião (2021) buscamos refletir que argumentos como esses se aproximam do 
pensamento conservador ao enquadrar sujeitos em padrões previamente estabelecidos, sendo 
o que destoa considerado desviante, anômalo, que deve ser reconduzido ou reprimido. Portanto, 
a necessidade de “controle” do Estado para que as mulheres não “abusem” do direito ao aborto. 
Negam a racionalidade e capacidade de autonomia do outro, e “demonstram posicionamentos 
imediatos, distantes da reflexão crítica e sem embasamento na ciência, construídos a partir 
daquilo que pode ser entendido, na concepção de Burke (1982), como preconceitos” (DAMIÃO, 
2021, p. 222).
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 59
quências de posturas antiéticas, que desrespeitam e julgam decisões, cen-
suram e cerceiam direitos, são cruéis violações de direitos. No que tange à 
temática tratada neste texto, a conduta antiética diante de mulheres em si-
tuação de abortamento, ou vítimas de violência sexual, as revitimiza e pode 
colocar suas vidas em risco. Ao serem desrespeitadas, elas podem buscar na 
clandestinidade a solução e/ou deixar de buscar serviços de saúde em casos 
de agravos, se expondo a riscos de vida, sequelas e da prisão. Para nós, assis-
tentes sociais, também há consequências, como responder às infrações éticas 
cometidas. 
Para evitar práticas irrefletidas, manifestação de preconceitos e con-
dutas antiéticas, torna-se essencial aprofundar os conhecimentos e o debate 
acerca do aborto como um compromisso ético. Agnes Heller afirma que 
“crer em preconceitos é cômodo porque nos protege de conflitos, porque 
confirma nossas ações passadas” (HELLER, 2016, p. 73). O movimento 
contrário, de buscar conhecer, aprofundar, questionar, discutir, é mais ár-
duo. Entretanto, é aquele que nos permite colocar, de fato, a ética em movi-
mento. E, com isso, buscar a concretização dos direitos, inclusive o direito 
de decidir. 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social60
Referências 
ARAÚJO, Maria José O. Aborto legal no Hospital do Jabaquara. Revista 
Estudos Feministas, v. 1, n. 2, pp. 424-428. UFSC: Florianópolis, 1993.
BARROCO, Maria Lucia Silva; TERRA, Sylvia Helena; Conselho Federal 
de Serviço Social – CFESS (org). Código de Ética do/a Assistente Social 
comentado. São Paulo: Cortez, 2012. 
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamen-
to de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. 
Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual 
contra Mulheres e Adolescentes: norma técnica. 3ª ed. atual. e ampl. – 
Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamen-
to de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção humanizada ao abor-
tamento: norma técnica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à 
Saúde, Área Técnica de Saúde da Mulher. – 2. ed. – Brasília: Ministério da 
Saúde, 2011. 
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.Departamen-
to de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção às Mulheres com Gesta-
ção de Anencéfalos: Norma Técnica. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
BRASIL. Código Penal. Disponív-
el em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ 
decreto-lei/Del2848compilado.htm> Acesso em: 22 ago 2022. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamen-
to de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. 
Magnitude do Aborto no Brasil: Aspectos Epidemiológicos e Sócio-
-Culturais do Abortamento Previsto em lei em situações de violência 
sexual – Brasília: Ministério da Saúde, 2008.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento 
de Ações Programáticas Estratégicas. Teste rápido de gravidez na Aten-
ção Básica: guia técnico. Série direitos sexuais e direitos reprodutivos; cader-
no nº 8. Brasília, 2013.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/Del2848compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ decreto-lei/Del2848compilado.htm
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 61
CARLOTO, Cássia Maria; DAMIÃO, Nayara André. Direitos reproduti-
vos, aborto e Serviço Social. Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 132, 
p. 306-325, maio/ago. 2018.
CASTRO, Viviane Vaz. Não é o caminho mais fácil, mas é o caminho 
que eu faço: a trajetória do conjunto CFESS/CRESS na defesa da legali-
zação do aborto. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço 
Social). Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, 2016.
CISNE, Mirla; CASTRO, Viviane Vaz; OLIVEIRA, Giulia Maria Jenelle 
Cavalcante de. Aborto inseguro: um retrato patriarcal e racializado da po-
breza das mulheres. Revista Katálysis, v. 21, p. 452-470, 2018.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. CFESS Manifesta: 
Dia Latino-americano e caribenho de luta pela descriminalização e legali-
zação do aborto. Brasília: CFESS, 28 de setembro de 2011. Disponível em: 
<www.cfess.org.br> Acesso em 28 ago 2022.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. CFESS Manifesta: 
Dia Latino-americano e caribenho de luta pela descriminalização e legali-
zação do aborto. Brasília: CFESS, 28 de setembro de 2016. Disponível em: 
<www.cfess.org.br> Acesso em 28 ago 2022.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. CFESS Manifesta: 
Pela descriminalização e legalização do aborto. Brasília: CFESS, 28 de setem-
bro de 2009. Disponível em: <www.cfess.org.br> Acesso em 28 ago 2022. 
CFM – Conselho Federal de Medicina. Código de Ética Médica. resolu-
ção CFM nº 1.931, de 17 de setembro de 2009 (versão de bolso) / Conselho 
Federal de Medicina – Brasília: Conselho Federal de Medicina, 2010. 
CORREA, S.; PETCHESKY, R. Direitos sexuais e reprodutivos: uma pers-
pectiva feminista. Physis: Revista Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, 6 (1/2): 
147-177, 1996.
DAMIÃO, Nayara André. Se podes olhar, vê: o aborto no cotidiano de 
trabalho das assistentes sociais. Dissertação (Mestrado em Serviço Social e 
Política Social) - Universidade Estadual de Londrina, Centro de Estudos So-
ciais Aplicados, 2018.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social62
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
DINIZ, D; MEDEIROS, M; MADEIRO, A. Pesquisa Nacional de Aborto 
2016. Revista Ciência e Saúde Coletiva, vol 22, n 2, p. 653-660. Rio de 
Janeiro, 2017.
DINIZ, Debora. Objeção de consciência e aborto: direitos e deveres dos mé-
dicos na saúde pública. Revista de Saúde Pública, v. 45, p. 981-985, 2011.
FEBRASGO – Federação Brasileira das Associações de Ginecolo-
gia e Obstetrícia. Nota informativa aos tocoginecologistas brasilei-
ros sobre o aborto legal na gestação decorrente de estupro de vulne-
rável. FEBRASGO, 22 Junho 2022. Disponível em: https://www.
febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1470-nota-informativa-aos-tocoginecolo 
gistas-brasileiros-sobre-o-aborto-legal-na-gestacao-decorrente-de-estupro-
-de-vulneravel Acesso em 4 set 2022. 
LOLATTO, Simone. A intervenção do assistente social frente à solici-
tação do aborto. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Serviço Social). 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Florianópolis, 2004.
LOLATTO, Simone; LISBOA, Teresa Kleba. Profissionais de serviço social 
frente à questão do aborto–a ética em debate. Bagoas-Estudos gays: gêne-
ros e sexualidades, v. 7, n. 09, 2013.
MATOS, Maurílio Castro de et al. Cotidiano, ética e saúde: o Serviço Social 
frente à contra-reforma do Estado e à criminalização do aborto. Tese (Dou-
torado em Serviço Social) – PUC: São Paulo, 2009. 
OLIVEIRA, R. N. Justiça reprodutiva como dimensão da práxis negra femi-
nista: contribuição crítica ao debate entre feminismos e marxismo. Germinal: 
marxismo e educação em debate, [S. l.], v. 14, n. 2, p. 245–266, 2022. DOI: 
10.9771/gmed.v14i2.49559. Disponível em: https://periodicos.ufba.br/ 
index.php/revistagerminal/article/view/49559. Acesso em: 17 set. 2022.
https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1470-nota-informativa-aos-tocoginecolo gistas-brasileiros-sobre-o-aborto-legal-na-gestacao-decorrente-de-estupro-de-vulneravel 
https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1470-nota-informativa-aos-tocoginecolo gistas-brasileiros-sobre-o-aborto-legal-na-gestacao-decorrente-de-estupro-de-vulneravel 
https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1470-nota-informativa-aos-tocoginecolo gistas-brasileiros-sobre-o-aborto-legal-na-gestacao-decorrente-de-estupro-de-vulneravel 
https://www.febrasgo.org.br/pt/noticias/item/1470-nota-informativa-aos-tocoginecolo gistas-brasileiros-sobre-o-aborto-legal-na-gestacao-decorrente-de-estupro-de-vulneravel 
https://periodicos.ufba.br/ index.php/revistagerminal/article/view/49559
https://periodicos.ufba.br/ index.php/revistagerminal/article/view/49559
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 63
KERGOAT, Danièle. Dinâmica e consubstancialidade das relações sociais. 
In: Novos estudos. – CEBRAP [online]. 2010, n. 86, p.93-103. Disponível 
em http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002010000100005 . Acesso em 23 
de agosto de 2011.
MÉZÁROS, Istivan. Para Além do Capital. São Paulo: Boitempo, 2002.
MICHEL, Andrée. Le féminisme. Col. Que sais-je?. Paris:PUF, 2001.
MURARO, Rose M. Breve introdução histórica. In: KAMER, H, SPREN-
GER, J. O martelo das feiticeiras. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Record, Rosa dos-
tempos, 1995.
OXFAM. Tempo de Cuidar | Oxfam Brasil, Acesso em 20 de junho de 2022
RIOT- SARCEY, Michelle. Histoire du féminisme. Paris  : La découverte, 
2002.
SAFFIOTI, Heleieth. Gênero patriarcado violência. 2.ed.—São Paulo: Ex-
pressão Popular, Fundação Perseu Abramo, 2015.
VANCE, Carole. Placer y Peligro - Explorando la sexualidad femenina. Ma-
drid, Ed. Revolucion, 1989.
WALBY, Sylvia. Cidadania e transformações de gênero. In: Tatau Godinho 
(org.). Maria Lúcia da Silveira (org.). Políticas públicas e igualdade de gênero. 
São Paulo: Coordenadoria Especial da Mulher, 2004. p. 169-182.
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-33002010000100005
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social64
Nota Técnica - O Trabalho 
de Assistentes Sociais e a Lei de 
Alienação Parental (Lei 12.318/2010)
Claudio Horst1
Edna Fernandes da Rocha2 
Emilly Marques3
1. Introdução
A presente nota técnica surge da necessidade concreta de trazer re-
flexões e orientações para o trabalho profissional de assistentes sociais, 
frente às requisições institucionais para emissão de opiniões técnicas 
em processos judiciais em que há alegação de “alienação parental” e 
outras demandas que emergem na rede socioassistencial e de garan-
tia de direitos que envolvem essa temática. Notadamente, essa demanda 
se expressa em diversos espaços sócio-ocupacionais, porém enfatizamos as 
situações que são judicializadas e nas quais se requisita emissão de docu-
mentos profissionais do Serviço Social, principalmente de profissionais que 
atuam na área sociojurídica, mas também nas políticas de assistência social 
e saúde, por exemplo.
1 Assistente Social. Professor no Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de 
Ouro Preto. Doutor em Serviço Socialpela Universidade Federal de Santa Catarina. Professor 
Colaborador no PPGED-UFV. 
2 Assistente Social do Tribunal de Justiça de São Paulo. Doutora em Serviço Social pela PUC-
SP. Especialista em Serviço Social na Área Sociojurídica e em Violência Doméstica contra 
Crianças e Adolescentes. Membro do Grupo de Estudos Psicologia e Serviço Social em Varas 
da Família (TJSP), associada do NECA (Associação de Pesquisadores e Formadores da Área 
da Criança e do Adolescente). 
3 Assistente Social do Tribunal de Justiça do Espírito Santo. Mestra em Política Social pela 
UFES. Especialista em Serviço Social e Saúde e em Gênero e Sexualidade pela UERJ. Militante 
feminista da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB). Conselheira do Conselho Federal de 
Serviço Social - Gestão Melhor ir à luta com Raça e Classe em Defesa do Serviço Social (triênio 
2020-2023). 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 65
 A “alienação parental” é um tema presente no cenário brasileiro des-
de 2006 quando, então, ganhou destaque no campo jurídico-legal, tornan-
do-se um dispositivo que, aparentemente, se propõe a proteger o direito à 
convivência familiar de crianças e adolescentes (SOUSA, 2010). Em 2008, 
surge o Projeto de Lei nº 4.053/2008, que posteriormente resultou na Lei 
nº 12.318/2010 – Lei da Alienação Parental (LAP), ainda em vigor na legis-
lação brasileira. 
Nesse percurso legislativo, o debate ganhou força e, ao mesmo tem-
po em que se banalizou a utilização deste termo - cada vez mais frequente e 
usual nos processos judiciais -movimentos sociais e coletivos, principalmen-
te de mulheres-mães4, se contrapõem a essa legislação, reivindicando a revo-
gação da Lei 12.318/2010 - Lei da Alienação Parental (LAP), juntamente 
a outras organizações e Conselhos de Direitos5, que denunciam os prejuí-
zos que tal normativa traz. No caso do Conselho Federal de Serviço Social 
(CFESS), há representações em dois conselhos de direitos que já se posicio-
naram contra a LAP: O Conselho Nacional de Saúde6 (CNS) e o Conselho 
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente7 (Conanda).
O CFESS está presente em diversos espaços coletivos que contri-
buem para a proteção integral das infâncias e adolescências e, com sua 
4 Alguns coletivos de mulheres que têm lutado pela revogação da lei, como exemplo trazemos o 
Coletivo de Proteção à Infância – Voz materna e o Coletivo Mães na luta. 
5 Há manifestações do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), 
do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH). 
A mais recente, é a Recomendação CNDH nº 06, de 18 de março de 2022, que recomenda a 
rejeição do PL nº 7.352/2017, a revogação da Lei nº 12.318/2010, que dispõe sobre a “alienação 
parental”, bem como a adoção de medidas de proibição do uso de termos sem reconhecimento 
científico, como “síndrome de alienação parental”, entre outros.
6 A Recomendação CNS nº 03/2022 dialoga diretamente com o Conselho Federal de Serviço 
Social, o Conselho Federal de Medicina e o Conselho Federal de Psicologia, pedindo o 
banimento, em âmbito nacional, do uso dos termos síndrome de alienação parental, atos de 
alienação parental, alienação parental e quaisquer derivações sem reconhecimento científico 
em suas práticas profissionais.
7 O Conanda, por meio de nota em 2018, manifestou preocupação sobre o conceito de ‘alienação 
parental’, afirmando a falta de amparo científico sobre o tema e a ausência de discussão e escuta 
dos sujeitos que estão diretamente envolvidos com a matéria. Para o Conanda, “já existem 
previsões legais protetivas e suficientes no que tange aos direitos de crianças e adolescentes 
à convivência familiar e comunitária, merecendo destaque a garantia de guarda compartilhada, 
o que, no entender deste Conselho, já é suficiente para assegurar o convívio com ambos os 
genitores”
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social66
função de orientar a categoria profissional, se posiciona em debates sobre os 
caminhos e contribuições de assistentes sociais nessa temática8. Desde 2018, 
já indicava as polêmicas acerca da “alienação parental” quando debatia, por 
exemplo, a escuta de crianças e adolescentes e o depoimento especial, quan-
do essa temática foi incluída no rol de situações de violência que deveriam 
ser submetidas à metodologia9.
Em 2020, na Plenária Virtual do Conjunto CFESS-CRESS, em-
bora não aparecesse o termo “Alienação Parental”, foi consensuado o tema 
12 - “Relações de Gênero e Violência contra as mulheres” - no eixo Ética e 
Direitos Humanos, que consistia em: “Realizar atividades com a categoria 
sobre as relações patriarcais de gênero10 e violências contra as mulheres 
em suas diversas dimensões que qualifiquem o debate, na conexão com as 
demandas do exercício profissional em articulação com os movimentos 
de mulheres e feministas”11. Sendo assim, compreendemos que o debate da 
LAP seria um desses assuntos vinculados ao tema, que merece maior refle-
xão por parte da categoria. 
Fruto dessa Plenária Virtual do Conjunto CFESS-CRESS, em 2021, 
ocorre o Seminário Nacional Serviço Social em Defesa das Infâncias, Ado-
lescências e Juventudes12 , abordando as condições de exploração e opressões 
desse segmento. O evento foi organizado a partir do tema 25 - “Proteção 
Integral de Crianças e Adolescentes” -, que trouxe diversas reflexões, dentre 
8 Relembramos que em 2020 o CFESS produziu uma importante série sobre os 30 anos do 
Estatuto da Criança e Adolescente http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1733 e, 
em 2021, o Conjunto CFESS-CRESS promoveu um seminário nacional com a temática das 
infâncias, adolescências e juventudes https://seminarioinfacia.cfess.org.br/ao-vivo/. 
9 Em 2019, no 3º Seminário Nacional “O trabalho do/a assistente social no sociojurídico”, 
uma das plenárias discutiu o tema ‘a condição das mulheres e o sociojurídico’, debatendo e 
acumulando, dentre outros assuntos, as interfaces entre avanços da Lei 11.340/2006 (Lei Maria 
da Penha) e os impactos da LAP nas situações de violências contra as mulheres. Ver o 3º 
Seminário Nacional “O trabalho do/a assistente social no sociojurídico’’, está disponível em: 
https://www.youtube.com/watch?v=trc-n9ELR-M 
10 Utilizaremos o termo “relações patriarcais de gênero” seguindo a terminologia consensuada 
na plenária virtual do Conjunto CFESS-CRESS
11 Relatório Final Plenária Nacional do Conjunto CFESS-CRESS, 2020 (p. 32). Disponível em: 
http://www.cfess.org.br/arquivos/Relatorio-final-plenariaNacionalcfesscress2020.pdf 
12 Confira o conteúdo em https://seminarioinfacia.cfess.org.br/
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 67
elas o enfrentamento às violências contra crianças e adolescentes, Estatuto 
da Criança e do Adolescente (ECA) e a proteção integral; direitos sexuais e 
reprodutivos, escuta especializada e depoimento especial e a interface com a 
LAP aparecem em diversos desses debates.
Em 2022, pretendendo uma aproximação maior desse debate junto 
à categoria de assistentes sociais, o CFESS organizou matéria sobre as polê-
micas em torno da LAP13 e um debate virtual com o tema “Serviço Social e a 
crítica à Lei de Alienação Parental (Lei nº 12.318/2010)”14. Esses movimen-
tos foram fundamentais para a tomada da decisão de emissão da presente 
Nota Técnica. 
Compreendemos como primordial realizar uma análise da sociedade 
brasileira, das relações patriarcais de gênero, das famílias, da proteção social 
às infâncias e adolescências, das políticas sociais e, especialmente, do traba-
lho de assistentes sociais com famílias, para nos posicionarmos sobre o tema.
Considerando que o Serviço Social brasileiro e os seus fundamentos 
teórico-metodológicos, ético-políticos e técnico-operativos, na contempo-
raneidade, historicamente se alinham aos movimentos sociais, cabe um per-
curso que não parte da afirmativa que “é lei, temos que cumprir”, mas que 
busque “discernir a contradição posta entre as demandas institucionais e a 
afirmaçãodo projeto profissional” (CFESS, 2020, p. 45). 
Esperamos que essa produção coletiva contribua para que assisten-
tes sociais, ao atenderem a essa demanda e atuarem em processos judiciais e 
outras demandas do sistema de garantia de direitos em que supostamente 
ocorra acusações de “alienação parental”, se abstenham da busca por “de-
tectar” a “alienação parental”, seus supostos sintomas e estágios, reforçando 
a criminalização da/o suposta/o alienadora/or, reproduzindo no cotidiano 
um trabalho classificatório, ao reduzir a parentalidade a categorias de “alie-
nadoras” e “abusadores”, ancorados na emissão de juízos de valores. Na con-
tramão dessa direção, a nota busca contribuir para que estes estigmas sejam 
13 “Lei de Alienação Parental: a alternativa punitiva legal e regulatória do Estado sobre mulheres 
e relações familiares”. conferir em: https://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1876
14 Disponível em: https://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1914
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social68
enfrentados no cotidiano e não se tornem obstáculos à proteção integral de 
crianças e adolescentes. 
Ou seja, longe de tratar a questão da “alienação parental” como uma 
questão emocional, isolada, individual, de famílias e de sujeitos em situações 
de extremo litígio, defende-se que nossos estudos sociais possam reconstruir 
o histórico de vida dessas famílias, suas relações com as condições concre-
tas de vida, a relação com o sistema de proteção social público, fugindo da 
lógica familista de localizar o direito à convivência familiar e comunitária 
apenas nos genitores - leia-se mulheres, identificando as expressões da “ques-
tão social”, objeto de trabalho profissional, que atravessam as famílias e não 
somente as relações familiares.
No âmbito da profissão, evidencia-se que, desde que o tema “aliena-
ção parental” foi disseminado no Brasil, apesar de sermos chamadas/os para 
atuar com ele, parece não ter sido tema de interesse de assistentes sociais, ain-
da que gradativamente se observe um crescimento, em termos de pesquisas 
e publicações por parte da categoria (VALENTE, 2008; BATISTA, 2016; 
ROCHA, 2016, 2022 a; 2022b).
Na perspectiva do projeto ético-político (PEP), as imposições da Lei 
de Alienação Parental se tornam uma “armadilha” que tenta encobrir a ten-
dência patologizante que a lei tem sobre as relações familiares e das pessoas 
que têm as suas vidas judicializadas (ROCHA, 2022b). Por isso, a presente 
nota se faz relevante, como estratégia teórico-metodológica e ético-política, 
que contribui com o estímulo à análise crítica da temática, às concepções 
idealizadas ou preconceituosas sobre famílias e com fundamentos para res-
ponder e ressignificar as demandas institucionais sem recorrer ao termo e 
as bases dessa legislação.
O objetivo da presente nota técnica não é sugerir uma resposta única 
sobre como os supostos casos de “alienação parental” devem ser atendidos 
por assistentes sociais. Pelo contrário, ancorado em nossos fundamentos 
teórico-metodológicos e ético-políticos, visamos a contribuir para pensar a 
condução técnico-operativa a partir dessa tríade. De forma que as três di-
mensões do exercício profissional - teórico-metodológica, ético-política e 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 69
técnico-operativa - diante das demandas colocadas pela LAP, possam ser 
acionadas visando a responder a partir de pressupostos comuns.
Nesse sentido, a nota parte do pressuposto da totalidade social, 
compreendendo que as situações concretas das famílias que atendemos não 
advêm de ‘problemas intrafamiliares’, ‘casos de família’, ‘desvios comporta-
mentais e morais’, deslocados da sociabilidade que esses indivíduos viven-
ciam. Portanto, é preciso reconhecer que as demandas, diante das supostas 
alegações de “alienação parental”, exigem um trabalho com família ancora-
do no PEP. Sendo assim, partimos das reflexões em torno do capitalismo, da 
particularidade da família nessa sociedade, a fim de apontar questões sobre 
a convivência familiar e comunitária. Tal destaque nos exige dialogar sobre 
o lugar das mulheres e crianças/adolescentes no interior dessas famílias, 
sustentadas que estão nas relações patriarcais de gênero. E cujas demandas, 
postas diante da LAP, podem nos levar à culpabilização e naturalização des-
sas relações. Em síntese, trazemos para o debate em que medida esta lei é 
necessária e protetiva ou meramente punitiva (trazendo possibilidades de 
aplicação de multa, inclusive) e reforçando concepções simplistas e, possi-
velmente, moralizantes. 
Em seguida, passaremos então ao debate propriamente dito da “alie-
nação parental”, recuperando a legislação em torno do tema, caracterizando 
o que é o Judiciário brasileiro e apontando tendências em disputas no en-
tendimento sobre a LAP e as formas de respondê-la no cotidiano profis-
sional. Diante das disputas, nossa tarefa será sustentar que a demanda em 
si não coaduna com nossos fundamentos e projeção ética na contem-
poraneidade. E apontando estratégias para respondermos na perspectiva 
do PEP. Por fim, acreditamos que, expostos todos esses pressupostos, pode-
remos contribuir com questões, sugestões e apontamentos para o trabalho 
profissional de assistentes sociais diante das demandas postas pela LAP.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social70
2. Capitalismo, Famílias e Relações Patriarcais de Gênero
Partimos do pressuposto de que o trabalho com famílias e a inves-
tigação e análise da convivência social das famílias em litígios, mas não só, 
exigem de assistentes sociais fundamentos teórico-metodológicos e ético-
-políticos críticos. Nesse sentido, iniciaremos nossas reflexões com alguns 
pressupostos centrais para fundamentar nosso trabalho, no que tange às 
exigências da LAP. 
É preciso iniciar refletindo sobre famílias, já que é no âmbito dessa 
instituição que se apresentam as supostas acusações de “alienação parental”. 
Portanto, é preciso dialogarmos sobre a condução do trabalho com famí-
lias, acreditando que dessa reflexão desdobramos pressupostos centrais para 
responder às atuais demandas da LAP, sem cairmos na patologização das 
expressões da “questão social”, quais sejam: a) Qual concepção de família 
temos (o que exige o entendimento sobre sua origem)?; b) Como enten-
demos a reprodução social, o cuidado e o lugar das mulheres?; c) Como 
entendemos as transformações por que atravessam as famílias? d) Qual pro-
jeto defendemos de proteção social, quando buscamos viabilizar o direito à 
convivência familiar e comunitária: protetivo ou familista? 
Os fundamentos da profissão na contemporaneidade, ancorados na 
ontologia do ser social, possibilitam traçar o desenvolvimento da humani-
dade a partir de elementos centrais, de modo que contribuam para explicar 
os fundamentos críticos da origem e desenvolvimento da família. Desse 
modo, parte-se das bases marxistas para compreender a gênese do desenvol-
vimento de homens e mulheres e os processos de humanização, socialização 
que possibilitaram chegarmos ao que hoje conhecemos como família. 
Ou seja, o pressuposto é que a família foi construída por homens e 
mulheres ao longo da história, mediada pela práxis humana entre mundo 
material e gênero humano. Por isso, a história humana é dinâmica e movida 
por diversos complexos sociais, em que homens e mulheres estão em cons-
tante movimento e impondo novas transformações (LUKÁCS, 2013). O 
que possibilita, no trabalho com famílias, romper com expectativas idealiza-
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 71
das, com a sacralização, como se a família fosse a base da sociedade. Ou como 
se existisse apenas uma forma de ser família.
Tal pressuposto pode ser capaz de desvendar a centralidade que a 
família assume nas sociedades de classes, particularmente no capitalismo. 
Afinal, a base de uma sociedade é seu modo de produção e reprodução das 
relações sociais, cuja dinâmica precisa contar com as famílias. E, se ao longo 
da históriaas famílias em suas diversidades sempre cumpriram um papel im-
portante na proteção dos seus membros, no cuidado e etc, a processualida-
de histórica impôs limites ao cumprimento apenas dessas tarefas na família, 
diante da particularidade do sistema do capital, composto pelo tripé: capital, 
trabalho assalariado e Estado, que modificou profundamente as famílias.
Portanto, é a partir da categoria trabalho que podemos captar as me-
diações que contribuem com a explicação dos fundamentos da família e de 
sua particularidade – monogâmica patriarcal burguesa, no capitalismo, uma 
vez que o trabalho determinou, ao longo da história, as relações sociais entre 
os indivíduos. Ou seja, as diversas formas de organizações familiares eviden-
ciam que a família nuclear que estruturou a sociedade ocidental em algumas 
épocas nem sempre existiu e é uma construção humana que se desenvolveu 
por determinações biológicas, naturais e por interesses políticos e econômi-
cos, impulsionados pelas forças produtivas.
Nessa direção, acreditamos ser possível combater o moralismo pre-
sente no exercício profissional, que julga a família como boa ou má, estru-
turada ou desestruturada. Em detrimento de compreendê-la como expres-
são, muitas vezes, do lugar de sobrevivência/apoio aos indivíduos que não 
acessam o mercado de trabalho formal com direitos, que não possuem con-
dições de se reproduzir; bem como o lugar de apoio em certos momentos 
diante de situações de opressões, violações. Mas também de uma instituição 
extremamente violenta, agressora, opressora contra seus membros, especial-
mente crianças, idosos/as, mulheres e LGBTs, sujeitos que majoritariamente 
tendem a reproduzir relações estranhadas (LUKÁCS, 2013). Ou seja, a fa-
mília é uma instituição contraditória.
Sendo assim, se partirmos das determinações centrais da sociedade 
como a própria dinâmica do trabalho sob a égide do capital, que se tornou 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social72
um trabalho estranhado, que modifica a consciência que os homens e mu-
lheres têm do seu gênero, expressando relações humanas estranhadas, po-
demos compreender, no cotidiano profissional, que os casos de separações, 
mudanças nos comportamentos parentais, rompimentos conjugais, crises 
relacionais, que atravessam as famílias, fazem parte da dinâmica da socieda-
de e dos sujeitos e não podem ser resumidos a situações ditas de “alienação 
parental”.
É nesse sentido que, por mais que as experiências familiares se es-
forcem, a regra geral é a impossibilidade de vivenciar uma igualdade subs-
tantiva – visto que a família, um microcosmo social, fica impossibilitada de 
se desenvolver numa direção igualitária, se a sociedade caminha na direção 
oposta. Ou seja, ela está fundada na desigualdade (MARX, 2006). Essa ideia 
é central para enfrentarmos o pensamento conservador, que se vale de uma 
hipócrita idealização, naturalização, sacralização da família e, em consequên-
cia, uma incapacidade para lidar com os indivíduos em sua liberdade, diante 
inclusive da exigência do cumprimento de papéis idealizados do que seria 
‘ser mãe’ e ‘ser pai’.
Além desse pressuposto, também precisamos destacar a questão das 
transformações das famílias. Compreendemos que transformações e mu-
danças são dinâmicas reais e naturais na sociabilidade. Ao dissolvermos a 
aparência de naturalidade das famílias, percebendo-as como criação de ho-
mens e mulheres, compreendemos que elas se modificam pari passu a socie-
dade. A história da família é descontínua e heterogênea, e demonstra que, 
ao longo da história, diversas formas de constituir família e de se relacionar 
sempre existiram. Essa perspectiva indica que, durante nossos atendimen-
tos, a concepção de família seja aquela que os indivíduos informarem. A 
partir de uma pergunta: como é a sua família? 
Nesse sentido, ao nos perguntarmos cotidianamente quem são as fa-
mílias atendidas por nós, considerando que elas estão passando por inúme-
ras transformações, temos a possibilidade de compreender que as mudanças 
nas relações familiares, parentais - o que ocasiona em rompimentos conju-
gais, são dinâmicas da própria realidade. E que precisam ser entendidas a 
partir da ótica de que transformações societárias e os profundos impactos 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 73
nas famílias ocasionam diversidades familiares e não “desestruturação” fa-
miliar (HORST, 2018).
Ou seja, é a compreensão das mudanças em curso que pode pro-
porcionar, na leitura dos processos que envolvem crianças e adolescentes, 
uma direção para pensarmos as possibilidades de viabilizar o direito à con-
vivência familiar e comunitária não somente diante de novas configurações, 
mas também para além do foco nos genitores e genitoras. Rompendo com 
a ideia de que nosso objetivo profissional deve ser as relações familiares; “in-
trafamiliares”; os conflitos familiares e não as expressões da “questão social” 
que atravessam essas famílias. E que, em sua maioria, a busca por viabilizar 
acesso a direitos das crianças e adolescentes exige sinalizar a ausência de pro-
teção social estatal pública, e não apenas de um dos genitores e genitoras. 
Com vistas a contribuir inclusive com o enfrentamento ao familismo, outro 
eixo importante para guiar nossos trabalhos com famílias.
Na realidade contemporânea, vivenciamos o avanço do mito da “de-
fesa da família”, que, longe de assegurar proteção social pública e estatal às 
famílias, vem concretizando o familismo (HORST; MIOTO, 2021)15. Ou 
seja, acarretando sobrecarga e culpabilização das famílias e, principalmen-
te, das mulheres, pelo cuidado e proteção social. É preciso demarcar que os 
fundamentos que sustentam o PEP confrontam abertamente a perspectiva 
do familismo. Sem enfrentarmos o familismo como estratégia hegemônica 
da sociedade e suas expressões nas políticas sociais e serviços em que traba-
lhamos, é impossível materializar ações comprometidas com as famílias.
O familismo como um mecanismo de dominação ideológica se reproduz 
como estratégia para responsabilizar os indivíduos e suas famílias pelo 
15 O que temos identificado é o avanço do ultraliberalismo com o conservadorismo moral 
se engendrando em uma pauta comum: a suposta defesa da família. O primeiro, diante da 
centralidade do mercado e da suposta não intervenção estatal na economia vislumbra o fim de 
qualquer proteção social pública e estatal. E diante do desmonte das políticas sociais o discurso 
da “defesa das famílias” é estratégico, pois quem não puder pagar poderá contar apenas com suas 
famílias. O segundo grupo, aliado às mais diversas forças neoconservadoras - principalmente o 
fundamentalismo religioso - na justificativa de defender os verdadeiros valores que não destroem 
as famílias, legitimam a defesa que o Estado não deve intervir oferecendo serviços sociais que 
as protejam, mas, apenas, regulando fortemente a “vida privada”, os comportamentos (HORST; 
MIOTO, 2021).
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social74
caos instalado pela sociabilidade burguesa. Nesse sentido, a) mascaram os 
determinantes e fundamentos do sistema do capital e suas crises; b) desloca as 
questões, que somente coletivamente poderão ser resolvidas, para o âmbito 
“particular”; c) centraliza as famílias como naturalmente responsáveis 
pelos seus membros e, no interior destas, constroem o apassivamento dos 
sujeitos, a produção de consensos, já que se trata de um problema da “minha 
família” e não da sociabilidade burguesa (HORST; MIOTO, 2021, p.37). 
Na proposta familista de trabalho com famílias, parte-se do pressu-
posto de que elas são as principais provedoras e responsáveis pelo bem-estar 
e proteção social dos seus membros. Trata-se de uma perspectiva que sina-
liza que a proteção social também deve depender cada vez mais da esfera 
mercantil, ou seja, quem pode pagar acessa proteção social. Além de reforçar 
papéis tradicionais de homens e mulheres, na contramão da realidade brasi-
leira constituída hegemonicamente por famíliasmonoparentais femininas. 
Sendo assim, no âmbito do cotidiano, essa projeção familista se materializa 
na responsabilização, sobrecarga e culpabilização de milhares de mulheres 
(mães, avós, vizinhas) que desenvolvem um trabalho familiar e de cuidado 
não reconhecido (HORST; MIOTO, 2018). E que “não podem falhar”, 
com riscos de perderem a guarda de suas crianças; responderem processo na 
justiça, acusações de ‘alienadoras’ e serem moralizadas pelas diversas equipes 
profissionais.
Nos supostos casos de “alienação parental”, é importante a crítica 
ao familismo quando sinalizamos que a condução do trabalho não deve ser 
feita na perspectiva de diagnosticar se é um caso ou não de “alienação”. Mas 
de construir uma perspectiva de contextualização da família que atendemos 
na realidade, a partir da conjuntura que vivenciamos, das proteções sociais 
que essas famílias acessam ou não. E, nesse sentido, romper com o familismo 
significa nos voltarmos para a proteção social que pode (e deve) ser oferta-
da e viabilizada para as crianças e adolescentes, para além daquela possível 
e ofertada pelos genitores e genitoras. Afinal, pode ser que, em muitos ca-
sos, não é apenas o retorno e/ou o convívio com algum genitor/a e/ou suas 
famílias que garantirá os direitos, mas sim o convívio somado ao acesso à 
proteção integral. Portanto, a busca pela viabilização do acesso ao direito à 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 75
convivência familiar e comunitária impõe a ampliação do olhar para a rede 
de proteção social estatal e pública ofertada, com vistas a não exigir ou cul-
pabilizar pais e mães por direitos e deveres que eles e elas podem não possuir 
condições de ofertar.
Nesse reconhecimento de que as famílias estão em constantes mu-
danças ao longo da história, cabe destacar ainda um argumento central na 
discussão da LAP, qual seja: o lugar das mulheres na família contemporânea. 
Sabemos que a constituição da família monogâmica foi determinante para 
a sociedade de classes e relegou às mulheres responsabilidades que foram 
reduzidas aos serviços privados. Nessa forma de organização familiar, as re-
lações de opressão patriarcais se apresentaram como uma especificidade que 
se baseia e reforça a dominação e exploração das mulheres. 
Fraser (2020) aborda a importância dos processos de “reprodu-
ção social” como indispensáveis para a sociedade e para o capitalismo. 
Esse trabalho de cuidados, seja remunerado ou não, continua a ser re-
presentado como trabalho de mulheres, embora homens, porventura, 
também desempenhem alguma parcela dele. Portanto, é na família, com 
o trabalho das mulheres, que podemos compreender como se forma a
força de trabalho, material e subjetivamente, o que a autora chamou de
formar os “sujeitos humanos do capitalismo”. A autora destaca que:
O trabalho de dar à luz e socializar as crianças é central para esse processo, 
assim como cuidar de idosos, manter lares, construir comunidades e 
sustentar os sentidos compartilhados, as disposições afetivas e os horizontes 
de valor que dão suporte à cooperação social. Em sociedades capitalistas, 
muito dessa atividade, embora não toda ela, prossegue fora do mercado - em 
lares, bairros, associações da sociedade civil, redes informais e instituições 
públicas, tais como as escolas; e relativamente pouco dela toma a forma de 
trabalho remunerado. A atividade sociorreprodutiva não remunerada é 
necessária para a existência do trabalho remunerado, para a acumulação de 
mais-valor e para o funcionamento do capitalismo enquanto tal. Nada disso 
poderia existir caso faltassem o trabalho doméstico, a criação de crianças, 
a escolarização, o cuidado afetivo e uma gama de outras atividades que 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social76
servem para produzir novas gerações de trabalhadores e repor as existentes, 
bem como para manter vínculos sociais e compreensões compartilhadas 
(FRASER, 2020, p. 264).
Porém a contradição entre capital e cuidados se expressa num pro-
cesso de esgotamento16, crise de cuidado, pois “a forma atual, neoliberal, de 
capitalismo está esgotando sistematicamente nossas capacidades individuais 
e coletivas para reconstituir os seres humanos e para sustentar os laços so-
ciais” (ARRUZZA; BHATTACHARYA; FRASER, 2019, p.111).
Uma perspectiva crítica sobre as opressões estruturais presentes em 
nossa sociedade e transformações e continuidades sobre os papéis, sobrecar-
gas e expectativas sociais sobre as mulheres se faz, portanto, fundamental, 
considerando que não é pela positividade da lei que a igualdade parental se 
construirá. Contudo, apesar das leis e da justiça burguesa, podemos visibi-
lizar pautas em disputa e obtermos conquistas civilizatórias. Dessa forma, 
sem ilusões jurídicas, precisamos considerar a:
relação estrutural entre exploração e opressão dentro da lógica do capital, na 
perspectiva da totalidade, e também na referência de que a própria essência 
do sistema capitalista é completamente antagônica a qualquer aspiração de 
igualdade substantiva e emancipação para o ser humano e, especificamente, 
as mulheres (ESQUENAZI BORREGO; TENORIO, 2021, p. 37).
Cabe ao Serviço Social, em suas análises, não simplificar as “questões 
familiares” como questões privadas, da ordem individual, desconectadas 
16 “Longe de inaugurar uma utopia feminista, portanto, o capitalismo neoliberal, na verdade, 
generaliza a exploração. Não apenas homens, mas também mulheres, agora são forçados a 
vender sua força de trabalho de modo fragmentado – e barato – a fim de sobreviver. E isso não é 
tudo: a exploração, hoje, se sobrepõe à expropriação. Recusando-se a pagar os custos da própria 
(e cada vez mais feminizada) força de trabalho, o capital não está mais satisfeito em se apropriar 
“apenas” do mais-valor que trabalhadores e trabalhadoras produzem além dos próprios meios 
de subsistência. Além disso, ele agora treina o corpo, a mente e a família daqueles que explora, 
extraindo não apenas as energias excedentes, mas também aquelas que seriam necessárias 
para a reposição. Escavando as reservas da reprodução social como fonte adicional de lucro, ele 
rói até nossos ossos” (ARRUZZA; BHATTACHARYA; FRASER, 2019, p. 114).
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 77
da totalidade social e dos determinantes econômicos e sócio-históricos da 
realidade. Logo, pensarmos as relações patriarcais e as relações raciais que 
são estruturantes dessa sociedade se faz fundamental, ao refletirmos sobre 
infâncias, juventudes, mulheres, famílias, diversidade humana e direitos17. 
A abordagem jurídica, predominantemente, homogeneíza sujeitos, 
uniformiza análise e uniformiza saídas (TENORIO, 2018). “Todos são 
iguais perante a lei”, diz a Constituição, mas certamente uns e umas são mais 
iguais que outros e outras, uns e umas mais “julgados/as” e “penalizados/
as” que outros/as. Esses espaços em que nos inserimos institucionalmente 
pendem para proteção ou violações? Como cotidianamente reforçam opres-
sões?
Certamente, nessa área sociojurídica, atendemos diversas expressões 
da “questão social” que são transformadas em demandas jurídicas e lidamos, 
literalmente, com “normas de conduta/comportamento” escondidas atrás 
de um discurso de proteção e segurança. Dessa forma, o sistema de justiça 
não é um ente neutro, como deseja aparentar, apartado da sociedade. Está 
inserido nela e reproduzindo, ou até mesmo legitimando, violações e opres-
sões. Isto é, tanto nos atendimentos, quanto nos documentos produzidos, 
o central é a necessidade de apreensão da totalidade social, não abordando
a realidade como simples “recortes de gênero” e “recortes de raça” ou ainda
desconsiderando determinantes estruturais18.
Horst e Tenorio (2019) apontam como assistentes sociais precisam 
refletir sobre as requisições que vêm sendo colocadas na área sociojurídica. 
Indicam que a atuação profissional na justiça de família, muitas vezes, pen-
17 Yolanda Guerra nos alerta sobre a importância de reconhecer e reafirmardireitos, porém 
compreender a sua insuficiência tendo em vista que a própria produção e reprodução ampliada 
do capital impedem a sua universalização, além de que “o capitalismo nunca deixa de 
instrumentalizar a seu favor os direitos conquistados, para o que, em alguns momentos, tem que 
os suprimir” (GUERRA, 2011, p.43).
18 Reconhecemos o acúmulo e a complexidade desses debates na categoria profissional 
sobre mulheres e feminismos e, considerando o objetivo da presente nota, não adensaremos 
as polêmicas e vertentes existentes nas pesquisas (como as produções e o arsenal categorial 
vinculadas à Teoria Unitária/da Reprodução Social, Feminismo materialista francófono, feminismo 
interseccional ou feminismo negro) mas, reforçamos o campo de análise de cariz marxista, 
que abrange autoras/es que debatem essas vertentes e coadunam com nossos fundamentos 
profissionais. Sobre esse debate de tendências de estudos sobre classe, raça, etnia, gênero e 
sexualidade no Serviço Social, ver Oliveira (2021). 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social78
de para práticas conciliatórias e/ou neoconservadoras, supostamente impar-
ciais e neutras, desconsiderando as opressões, a totalidade, a partir de uma 
abordagem sistêmica das famílias, e defendendo metodologias para atuar e 
resolver o “conflito familiar”, apassivando situações de violências e violações 
de direitos e, por vezes, acreditando que estão em consonância com o PEP, 
quando estão em confronto direto com os fundamentos ético-políticos pro-
fissionais.
Após essas reflexões fundamentais, que balizam nossa análise nessa 
nota, adentraremos na legislação da “Alienação parental”, suas polêmicas e 
tendências do debate, para, ao final, reafirmarmos nossa posição e recomen-
dações para atuação de assistentes sociais diante dessa demanda institucional 
e judicializada.
3. “Alienação Parental”
A primeira vez que o debate sobre “alienação parental” se apresen-
tou visando a materializar como normativa foi por meio do Projeto de Lei 
nº 4.053, encaminhado à Câmara dos Deputados em 2008, e tinha por 
objetivo categorizar e inibir a “Alienação Parental”. Em sua justificativa, o 
PL referia-se à interferência promovida por um/a dos/as genitores/as na 
formação psicológica da criança, para que repudiasse o/a outro/a ou pre-
judicasse os vínculos, ou seja, feriria o direito fundamental da criança “ao 
convívio familiar saudável”. 
Construiu-se tal argumento tendo como premissas as ideias “impor-
tadas” do psiquiatra estadunidense Richard Gardner, que formulou a tese 
da “Síndrome da Alienação Parental” (SAP), que, segundo ele, emerge no 
contexto do divórcio e disputas litigiosas envolvendo guarda de filhos/as, 
patrimônio e divisão de bens entre pais e mães.
O psiquiatra sustentava que, insatisfeitos/as com a separação, os pais 
e as mães intentavam romper a relação de filhas/os com o/a ex-cônjuge, dis-
torcendo a imagem das/os filhas/os em relação ao/à genitor/a e até lançan-
do mão de falsas denúncias de violência física e sexual, promovendo o que 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 79
chamou de “lavagem cerebral”, de forma que as/os filhas/os renegassem a 
convivência com o/a outro/a genitor/a. 
Em que pese estas posições terem sido largamente publicadas e de-
fendidas por Richard Gardner, e a sua tentativa de incluir a “Síndrome da 
Alienação Parental” no Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais 
(DSM IV e V), não houve o seu reconhecimento, dada a falta de cientificida-
de da tal síndrome (SOUSA, 2010).
Todavia, ao adentrar a realidade Brasileira, o termo SAP se tornou 
palatável, na medida em que os textos do mencionado psiquiatra, ao serem 
traduzidos e publicados, as pessoas, especialmente, que enfrentavam difi-
culdades no âmbito das relações familiares e em relação ao exercício da pa-
rentalidade, passaram a se reconhecer como alienadas. Há que se considerar 
que o perfil destacado pelo psiquiatra quanto às motivações de insatisfação 
e vingança pelo fim do casamento é atribuído, em geral, às mulheres (loucas, 
vingativas, infantilizadas), a ponto, inclusive, de terem a sua maternidade 
questionada.
Esses aspectos, incluindo os destacados, merecem ser compreendidos, 
ainda que numa breve exposição19, porque eles foram ocultados no Projeto de 
Lei nº 4.053/200820, que deu origem à Lei nº 12.318/2010 – Lei da Alienação 
Parental, em vigor na realidade brasileira. Contudo, insta ressaltar que a pró-
pria justificativa do PL e as argumentações que o fundamentam trazem niti-
damente concepções moralizadoras das relações familiares e da parentalidade: 
A criança, que ama o seu genitor, é levada a afastar-se dele, que também a ama. 
Isso gera contradição de sentimentos e destruição do vínculo entre ambos. 
Restando órfão do genitor alienado, acaba identificando-se com o genitor 
patológico, passando a aceitar como verdadeiro tudo que lhe é informado. 
O detentor da guarda, ao destruir a relação do filho com o outro, assume o 
19 Sugerimos a leitura do Livro “Síndrome da Alienação Parental: um novo tema nos juízos de 
família” (2010) de Analícia Martins de Sousa.
20 Importante destacar que, durante o processo de aprovação da lei, o CFESS não foi consultado, 
nem teve representação em audiência sobre a lei, que também não foi debatida com o Conanda, 
por exemplo.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social80
controle total. Tornam-se unos, inseparáveis. O pai passa a ser considerado 
um invasor, um intruso a ser afastado a qualquer preço. Este conjunto 
de manobras confere prazer ao alienador em sua trajetória de promover a 
destruição do antigo parceiro (PROJETO DE LEI 4053/2008, grifo nosso). 
 Também reforça a perspectiva patologizadora e manipula-
tória das mulheres mães:
Neste jogo de manipulações, todas as armas são utilizadas, inclusive a 
assertiva de ter sido o filho vítima de abuso sexual. A narrativa de um episódio 
durante o período de visitas que possa configurar indícios de tentativa de 
aproximação incestuosa é o que basta. Extrai-se deste fato, verdadeiro ou 
não, denúncia de incesto. O filho é convencido da existência de um fato e 
levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente acontecido. 
Nem sempre a criança consegue discernir que está sendo manipulada e 
acaba acreditando naquilo que lhes foi dito de forma insistente e repetida. 
Com o tempo, nem a mãe consegue distinguir a diferença entre verdade e 
mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas 
personagens de uma falsa existência, implantando-se, assim, falsas memórias 
(PROJETO DE LEI 4053/2008, grifo nosso).
Se os argumentos para a defesa do PL e, consequentemente, a apro-
vação da lei, eram a proteção do melhor interesse de crianças e adolescentes, 
e o “convívio familiar saudável”, pudemos notar que, desde o início, as con-
cepções estereotipadas de mulheres já estavam presentes. De lá para cá, as 
polêmicas em torno do tema não só permaneceram, como, ao que se mostra, 
aumentaram os questionamentos que emergem em torno de seus dispositi-
vos.
As mulheres historicamente tiveram suas vidas atravessadas e impac-
tadas por normativas e instituições, conforme abordado em Tenorio (2018; 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 81
2019)21. O Direito e as instituições jurídicas não estão descolados da repro-
dução das relações sociais patriarcais e racializadas, mesmo quando falamos 
de direitos humanos e direitos sociais. Conforme apontado por Guerra 
(2011, p. 38), “a denominação direitos sociais se torna uma abstração e a 
requisição aos direitos aparece esvaziada de suas determinações concretas se 
não forem buscados os seus nexos e relações com a sociedade burguesa de-
senvolvida, como produto e expressão da luta de classes”.
Devemos pensar: quem escreve, quem legisla, quem sentencia nessa 
sociedade? Quantas vezes, no processo judicial, a mulher, principalmente se 
forem mulheres negras e pobres, são expostas e questionadas ao prosseguir 
com uma denúncia, ao precisarcomprovar o que vivenciou? Demonstra-
mos, portanto, o lugar que mulheres e crianças/adolescentes ocupam nas 
famílias, de acordo com a perspectiva da LAP: mulheres como manipula-
doras e crianças como objetos, desconsiderando qualquer análise, ancoradas 
nas relações patriarcais de gênero e cujas demandas, postas diante de uma 
legislação como a LAP, podem nos levar a reproduzir culpabilização e natu-
ralização dessas relações.
Portanto, resgatar os fundamentos ontológicos no legado marxista, 
especialmente as contribuições de Lukács, se faz necessário para debater o 
direito na sociedade capitalista patriarcal e racializada. Há uma “conexão in-
solúvel entre a estratificação em classes da sociedade e necessidades de uma 
esfera específica do direito” (LUKÁCS, [1981] 2013, p.245). O Direito IN-
TERPRETA normas, critérios e possui um corpo técnico responsável para 
regular as relações entre os indivíduos sem se descolar das relações estrutu-
rantes da sociedade, produzindo DECISÕES e SENTENÇAS:
A subjugação feminina é funcional ao capitalismo e como o Direito é uma 
das instituições que, ideologicamente, protege este sistema, possivelmente, 
muitos serão os limites em seu acionamento na superação da violência 
21 Vide inclusive a relevância da articulação dos debates entre a luta antimanicomial e o 
feminismo, o abolicionismo penal/prisional e o feminismo, a luta antiproibicionista e o feminismo 
e tantas outras que questionam esses aparatos coercitivos. Lançar a presente nota técnica, no 
triênio em que o Conjunto CFESS-CRESS delibera pela campanha de Gestão “Nós, mulheres 
assistentes sociais de luta!”, constitui-se como importante marco.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social82
contra a mulher. Sendo assim, temos uma contradição fundamental entre 
a existência dos direitos sociais e a realidade capitalista permeada por 
explorações, apropriações e opressões (TENORIO, 2019, p. 165).
Obviamente, existem iniciativas para denunciar e combater o sexis-
mo, racismo e outras violações na área sociojurídica, e profissionais compro-
metidas/os com atuação ética, reforçando direitos humanos e a superação 
de desigualdades. O Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero, 
lançado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em 2021, sinaliza o reco-
nhecimento das desigualdades entre homens e mulheres, e visa a refletir e 
coibir a operação de estereótipos no direito e na atividade jurisdicional:
 
Estereótipos podem influenciar, por exemplo, na apreciação da relevância de 
um determinado fato para o julgamento. Isso ocorre quando um julgador 
ou uma julgadora [...] considera apenas as evidências que confirmam uma 
ideia estereotipada, ignorando aquelas que a contradizem. Por exemplo, 
quando se atribui maior peso ao testemunho de pessoas em posição de 
poder, desconsiderando o testemunho de mulheres e meninas em casos 
de violência doméstica ou em disputas de guarda envolvendo acusações de 
alienação parental, a partir da ideia preconceituosa de que as mulheres são 
destemperadas, vingativas, volúveis e menos racionais do que os homens 
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2021, p. 29).
Para tanto, convoca as/os operadoras/es do direito para que este-
jam atentas/os às situações que envolvem violência doméstica e perpassam 
as acusações de “alienação parental”, especialmente contra as mulheres, em 
diferentes matérias judiciais. Especificamente sobre a “alienação parental”, 
indicam que, em relação à guarda:
A alegação de alienação parental tem sido estratégia bastante utilizada 
por parte de homens que cometeram agressões e abusos contra suas ex-
companheiras e filhos(as), para enfraquecer denúncias de violências e buscar 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 83
a reaproximação ou até a guarda unilateral da criança ou do adolescente 
(CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2021, p. 96).
Contudo, apesar da análise que RECONHECE a violência insti-
tucional quando se taxa a mulher de vingativa ou ressentida em disputas 
envolvendo “alienação parental” ou divórcio, reforçando tais desigualdades 
no julgamento (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2021, p 32), 
as SAÍDAS não coadunam com o acúmulo do debate do Serviço Social bra-
sileiro, sugerindo que submetam a criança e adolescente ao depoimento es-
pecial (Lei n. 13.413/2017)22, considerando-o enquanto escuta “protegida”. 
Ou seja, não questionam a própria legislação da “Alienação Pa-
rental” em si e consequentemente não se somam ao seu pedido de re-
vogação. Reforçam a perspectiva de priorizar a produção de provas, ao invés 
de apontar estudos técnicos multidisciplinares ou outros encaminhamentos 
relacionados ao cuidado e acompanhamentos dos membros envolvidos no 
litígio.
Apesar das diversas polêmicas em torno dessa legislação, tivemos al-
terações de sua norma, recrudescendo ainda mais a perspectiva de contro-
le23. A Lei 14.340/2022 reforçou a proposta de visitação assistida24 como 
possibilidade de convívio “protegido”. 
22 O Conjunto CFESS-CRESS tem extenso acúmulo sobre o debate do Depoimento Especial 
e Escuta Especializada, vide as notas técnicas CFESS (2018) e CFESS (2019). Mesmo com 
o posicionamento contrário, após a suspensão e posterior revogação, em 2014, da Resolução 
CFESS n° 554, que proibia a participação de assistentes sociais nesse depoimento pelo Poder 
Judiciário, assistentes sociais em alguns locais têm sido pressionadas/os a aplicar a metodologia 
e outras/os até mesmo a defendem. Recentemente, tivemos mais um retrocesso com a Portaria 
359, de 11 de outubro de 2022, do CNJ, que institui grupo de trabalho para debater e propor 
protocolo para a escuta especializada e depoimento especial de crianças e adolescentes nas 
ações de família em que se discuta “alienação parental”. 
23 Lei nº 14.340, de 18 de maio de 2022. Altera a Lei nº 12.318, de 26 de agosto de 2010, para 
modificar procedimentos relativos à “alienação parental”. E a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 
1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), para estabelecer procedimentos adicionais para a 
suspensão do poder familiar.
24 “Art. 4º. Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou ao adolescente e ao genitor garantia 
mínima de visitação assistida no fórum em que tramita a ação ou em entidades conveniadas 
com a Justiça, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo à integridade física 
ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado 
pelo juiz para acompanhamento das visitas”.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social84
Ora, consideramos que essa modalidade também fortalece perspec-
tivas de vigilância, não trazendo para crianças e adolescentes acolhimento e 
segurança, já que a visitação pode estar sendo supervisionada, inclusive, por 
profissionais com os/as quais elas não possuem quaisquer vínculos de con-
fiança. Como alternativas, quando se trata de uma determinação judicial, 
profissionais ponderam a possibilidade de acompanhamento por pessoas 
familiares com quen a criança tenha afinidade. O CFESS (2018, p.17) já 
destacava que:
existe um debate crítico, nacional e internacionalmente, com relação à 
utilização do conceito de alienação parental, posto que tal mecanismo 
jurídico poderia estar sendo utilizado pelos/as próprios/as agressores/as para 
desqualificar mães que tentam proteger filhos/as de situações de violência 
doméstica, acusando-as de implantar memórias falsas nas crianças e/ou 
adolescentes. O que demonstra a complexidade do debate e a imprudência 
que pode se constituir o depoimento especial de crianças e adolescentes em 
casos desta natureza.
 
O fato de a legislação que prevê a Escuta Especializada e o Depoi-
mento Especial (Lei nº 13.431/2017) ser um assunto que mobiliza a catego-
ria torna fundamental que estejamos atentas/os às atribuições da profissão, 
tendo em vista ser atrelado às perícias em Serviço Social nas Varas de Família 
e/ou Varas da Infância e Juventudes, espaços em que a atuação profissional 
visa à proteção de crianças e adolescentes,bem como viabilizar o direito à 
convivência familiar e comunitária. Por este motivo, é necessária a devida 
atenção às requisições institucionais que são cada vez mais impostas às/aos 
assistentes sociais e quais respostas serão produzidas, e se elas colidem ou 
não com as atribuições e competências profissionais.
Nesse sentido, acompanhar o movimento da realidade e em que 
medida estas alterações estão intrinsecamente conectadas ao trabalho pro-
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 85
fissional exige uma formação profissional que consiga instrumentalizar as/
os profissionais a se posicionarem em seus laudos, relatórios e pareceres de 
forma competente, sem recorrer a respostas profissionais e à utilização de 
terminologias que não condizem com o direcionamento social que a profis-
são defende. Apresentaremos a seguir elementos dos fundamentos do traba-
lho profissional do Serviço Social, para demonstrar como tal demanda não 
coaduna com o projeto ético-político profissional.
4. O Trabalho de Assistentes Sociais Mediado pelo Projeto 
Ético-Político e a Lei de “Alienação Parental”
Reconhecermos que é possível conduzir nosso exercício profissional 
a partir de certa projeção ético-política é afirmar que podemos traçar objeti-
vos, conduzir nossas ações, adotar uma certa postura diante da realidade. O 
que exige competência teórico-metodológica, ético-política e técnico-ope-
rativa, investimento nas escolhas dos meios e dos recursos que precisam ser 
mobilizados, bem como estratégias e táticas, ainda que tenhamos uma au-
tonomia profissional. Por isso, um projeto profissional crítico, no âmbito de 
sua realização, deve ser capaz de “proporcionar os elementos para a crítica da 
sociabilidade burguesa e deter o potencial de apontar a direção, dar o norte 
de uma prática profissional crítica, autônoma e competente técnica, teórica 
e politicamente” (GUERRA, 2015, p.52).
Nessa direção, é preciso perseguir diante de cada demanda apresen-
tada, nos supostos casos de “alienação parental”, questionando o porquê 
de aquela demanda chegar para nós; o que fazer, para que e quando. Por-
tanto, para que o PEP (seus objetivos, valores, princípios, visão de mundo, 
racionalidades) se expresse no exercício profissional, é preciso uma prática 
compatível com seus conteúdos ético-políticos, exigindo o acionamento de 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social86
diversas mediações25. Portanto, é preciso perguntar o motivo e a forma que 
essa demanda chega para as/os assistentes sociais.
Ao conceituar a “alienação parental”, a lei não remete à “síndrome”, 
mas aos chamados atos, elencando as suas graduações em níveis de “gravida-
de”, para que, numa perícia “biopsicossocial”26, as/os peritas/os “diagnosti-
quem” a ocorrência de “alienação parental”.
Embora a lei de “alienação parental” não indique, de forma objeti-
va, a participação da/o assistente social, está subentendida a sua requisição 
como perita/o no artigo 5º, gquando menciona a avaliação biopsicossocial:
Art. 5o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação 
autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica 
ou biopsicossocial. § 1º O laudo pericial terá base em ampla avaliação 
psicológica ou biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, 
entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico 
do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, 
avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança 
ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor. 
§ 2º A perícia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar 
habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico 
profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental 
(BRASIL, 2010, grifo nosso).
25 Não podemos deixar de destacar que, entre a intencionalidade e a objetivação do projeto, 
um conjunto de mediações e determinações necessita ser acionado e compreendido. A 
intencionalidade só se materializa na e como práxis: “A práxis é a realização da vontade, da 
teleologia, resultado de uma causalidade posta por um sujeito que tinha em mente essa sua 
atividade, que a projetou inteiramente, ainda que não a realize inteiramente na sua prática” 
(GUERRA, 2015, p.60). A impossibilidade de o exercício profissional ser conduzido inteiramente 
pelo PEP não tem relação apenas com a mera vontade e capacidade de assistentes sociais, mas 
tem a ver com limitações estruturais e históricas da realidade e da profissão. As dificuldades de 
sua realização se dão por questões tanto de ordem material-concreta, como de ordem subjetiva 
de profissionais: teórica-intelectual (GUERRA, 2015).
26 Não menos importante é ter a compreensão de que o termo “psicossocial” não remete à 
interdisciplinaridade como comumente é utilizado na área sociojurídica, seja pelas/os operadoras/
es do Direito, seja pelas/os próprias/os profissionais. Conforme destacou Vasconcelos (2015), 
psicossocial é a equipe e/ou setor em que trabalhamos e não nosso objeto de trabalho. 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 87
Dessa forma, além da previsão legal, dada a histórica atuação desta/e 
profissional nas demandas afetas às varas da família, especialmente nos casos 
altamente litigiosos, as/os assistentes sociais também são nomeadas/os para 
realizar perícias em situações envolvendo acusações de “alienação parental”. 
Nesse sentido, é preciso retomar as reflexões em torno do termo “psicosso-
cial” (biopsicossocial), já problematizado no âmbito da categoria profissio-
nal.
Partimos do pressuposto de que a demanda pela elaboração de pe-
rícia e/ou laudo biopsicossocial não deve ser entendida como função, mas 
como demanda para o campo e/ou área de atuação em que, no seu inte-
rior, somos convocadas/os para emitir opinião técnica em matéria de Serviço 
Social27. Ou seja, no campo das demandas ‘biopsicossociais’, é preciso que 
tenhamos nitidez que nosso objeto de trabalho são as expressões da “questão 
social”, fugindo da incorporação dessa terminologia como objeto e/ou obje-
tivo do trabalho, que na verdade retoma a “tricotomia do Serviço Social de 
Caso, de Grupo e de Comunidade” (IAMAMOTO, 2009, p. 64). 
A denominação psicossocial, no Serviço Social, remete a um viés in-
dividualizante e conservador, que desconsidera a totalidade da vida social. 
Conforme demonstra o CFESS (2020), a “avaliação psicossocial” é uma no-
menclatura que foi apreendida pela Psicologia Social, na qual se articula o 
individual e o social, particularmente, na área da saúde e em outras áreas, 
como assistência social e direitos humanos. Todavia, o “psicossocial”28 não 
remete ao trabalho interdisciplinar entre Psicologia e Serviço Social. Nesse 
sentido, é mister considerar que o “psicossocial” e, nesta toada, o “biopsicos-
social”, é uma terminologia já superada pela profissão (CFESS, 2010).
É importante mencionar também que a Resolução 569/2010, que 
veda a realização de atividade profissional associada a terapias e, ainda que 
a perícia em Serviço Social não se equipare à terapia individual ou familiar, 
27 Conforme sinaliza inclusive a Resolução 557/2009, que dispõe sobre a emissão de pareceres, 
laudos, opiniões técnicas conjuntos entre a/o assistente social e outros profissionais. Destacando 
no seu art. 4° que, ao atuar em equipes multiprofissionais, a/o assistente social deverá garantir a 
especificidade de sua área de atuação.
28 Habitualmente, magistradas/os, promotoras/es e advogadas/os, ao solicitarem provas 
técnicas periciais, se valem desta terminologia.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social88
esta resolução, sob o ponto de vista do arcabouço teórico-metodológico, se 
torna um importante referencial para fundamentar a posição técnica nas de-
mandas envolvendo a identificação da “alienação parental”.
A resolução assegura o trabalho de assistentes sociais junto a indiví-
duos, grupos, comunidades e famílias,desde que não seja para fins de tratar 
causas ou sintomas de ordem psíquica ou psicossomática, bem como atuar 
com fins medicinais, curativos e psicológicos. Trazer este aspecto é funda-
mental porque, como já enfatizado, não há na atuação profissional a possibi-
lidade de emissão de diagnóstico sobre a “alienação parental”, cuja lei afirma 
se tratar de “interferência na formação psicológica de crianças e adolescen-
tes”.
Do ponto de vista do PEP, não há a possibilidade, enquanto assis-
tentes sociais, de emitirmos diagnósticos de tal natureza, no caso de atos de 
“alienação parental” (ROCHA, 2022a; 2022b). Isso não significa que a/o 
profissional não possa ou deva atuar em situação envolvendo litígio e que 
seja nomeada, pelo Direito, como “alienação parental”. Contudo, sabemos 
da “expectativa de que assistentes sociais obtenham informações sobre a po-
pulação usuária da instituição, que atendam aos objetivos de controle social, 
fiscalização de comportamentos e ‘averiguação’ ou ‘veracidade’ de fatos” 
(CFESS, 2020, p. 46).
Delimitar o alcance da nossa atuação é um compromisso ético-polí-
tico, que também possibilita que a profissão construa um posicionamento 
sobre o tema em voga. A compreensão da “alienação parental” no âmbito 
das transformações societárias, relações familiares, amplia a possibilidade de 
atuação profissional, porque ultrapassa a posição simplista e maniqueísta de 
“é ou não é”.
As situações classificadas como “alienação parental” não podem ser 
reduzidas a um mero diagnóstico com vistas à punição de pais e mães. Se há 
quem defenda que “alienação parental” é a vingança de pais e mães contra 
o outro genitor que busca fortalecer vínculos parentais com as/os filhas e 
filhos, em que sentido as/os peritas/os devem opinar “diagnosticando atos 
alienantes”?
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 89
A perspectiva que a categoria profissional visa defender é a de pro-
moção da igualdade e responsabilidade parental, e não fiscalizar ou punir 
as famílias. Nas palavras de Mioto (2016) e Campos (2015), nas políticas 
públicas de caráter familista, a família é tida como protagonista para “dar 
conta dos seus”, ao mesmo tempo que se torna alvo de políticas públicas e de 
legislações, a exemplo da Lei de “Alienação Parental”. Portanto, se assumir-
mos o biopsicossocial como objeto e/ou objetivo do exercício profissional, 
corremos o risco de construir um trabalho junto às famílias voltado para 
processos de restauração e revitalização das “possíveis crises familiares e con-
jugais e/ou pessoais” (VASCONCELOS, 2015, p.308).
Dessa forma, a utilização de instrumentais técnico-operativos com 
perspectiva de diagnóstico pode remeter a práticas psicologizantes, que não 
coadunam com o projeto ético-político. Nos termos de Netto (2011, p.51), 
o “tratamento dos afetados pelas refrações da ‘questão social’ como indivi-
dualidades sociopáticas funda instituições específicas – o que ocorre é a con-
versão dos problemas sociais em patologias sociais” (NETTO, 2011, p.51). 
Portanto, é preciso enfrentar tendências que buscam reduzir antagonismos 
e agregar estabilização emocional, que a LAP pode alimentar, atualizando, 
no âmbito do exercício profissional, a indução comportamental e a transfor-
mação pessoal como objetivo do trabalho.
Nessa direção, é preciso lembrar que o PEP é constituído: a) pela 
produção de conhecimento crítico no interior do Serviço Social, que fun-
damenta as três dimensões do exercício profissional; b) pelas instâncias po-
lítico-organizativas da profissão, que envolvem tanto os fóruns de deli-
beração, as frentes nacionais, as entidades da profissão, como o Conjunto 
CFESS-CRESS, que dão direção para o trabalho, como a presente nota que 
visa a cumprir essa tarefa; c) pela dimensão jurídico-política da profissão, 
que se constitui pelo arcabouço legal e institucional da profissão, construído 
e legitimado pela categoria: Código de Ética Profissional, a Lei de Regula-
mentação da Profissão, as Diretrizes Curriculares dos Cursos de Serviço 
Social da ABEPSS de 1996. Agrega ainda um conjunto de leis progressistas, 
como o capítulo da legislação social na Constituição Federal de 1988, den-
tre outras a Lei Orgânica da Assistência Social e o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, tão caros ao nosso debate.
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social90
É importante ressaltarmos também que as legislações vigentes, espe-
cialmente as que repercutem em nossa atuação profissional na área socio-
jurídica, em geral, impõem formas de atuação e exigências que podem 
colidir com os princípios do Código de Ética Profissional, que requer 
um posicionamento coerente e firme por parte da categoria.
Especificamente sobre a LAP, destacamos que o posicionamento crí-
tico em relação à lei, contudo, não pode ser compreendido como simples ne-
gativa da existência de situações de violação de direito e abuso de autoridade 
parental, sejam elas cometidas por homens ou mulheres. Ao mesmo tempo, 
conforme Rocha (2022a, p. 129) sinaliza, “o contexto familiar permeado 
pela existência de violência doméstica não pode ser considerado como mero 
‘conflito familiar’ nem definido como ‘alienação parental’”. Afinal, é preciso 
contextualizar a família em uma dinâmica maior, que fuja dos aspectos ditos 
‘privados’, considerando-a como contraditória e atravessada pelas expressões 
da “questão social”, como possibilidade de não incorrermos na patologiza-
ção das relações familiares.
Ao longo dos anos que a “alienação parental” passou a ser discuti-
da no Brasil, o Serviço Social tem construído, de forma gradativa, o debate 
em torno deste tema polêmico e controverso (ROCHA, 2016; 2022a). Não 
obstante a pluralidade de ideias sobre a “alienação parental”, que permeiam 
as posições de profissionais e pesquisadoras/es que discutem o tema, o que 
se reflete nas produções teóricas que vêm sendo construídas a respeito da lei, 
inevitavelmente, convoca as/os assistentes sociais a se manifestarem sobre 
os limites e alcances da profissão ante as exigências de diagnosticar atos de 
“alienação parental”.
Conforme consta na legislação, há indicações do que seriam formas 
exemplificativas de “alienação parental”, para o que os/as profissionais po-
dem buscar analisar a realidade da família que atendem a partir dessas for-
mas:
Art. 2º Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, 
além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, 
praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 91
de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou 
maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar 
contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do 
direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente 
a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, 
inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI - apresentar falsa 
denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar 
ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar 
o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a 
convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares 
deste ou com avós.
No entanto, o que estamos demonstrando ao longo desta nota, a 
partir de fundamentos críticos, é que a concepção de “alienação parental” 
não se respalda na ciência, parte de premissas equivocadas e pode levar, no 
cotidiano do exercício profissional, à busca pelo diagnóstico e patologização. 
Na contramão dessa perspectiva, diante das demandas que chegam cotidia-
namente, como construir nossas respostas profissionais?
Compreendemos que os antagonismos do capitalismo também se 
expressam nos litígios familiares, de forma que as mulheres (ainda que so-
fram opressão) podem, eventualmente, cometer violaçõesde direitos, como 
o direito à convivência familiar. Todavia, não devemos reproduzir, em nos-
sos relatórios, laudos e pareceres sociais, posições conservadoras e que vão na 
contramão dos princípios da profissão, partindo de premissas do ponto de 
vista individual e não da totalidade, ou seja: que a sociedade está ancorada 
nas relações de opressão patriarcais e racistas no modo de produção capita-
lista. 
Se acionarmos o código de ética como horizonte que se apresenta 
para conduzirmos nossos atendimentos, pelo menos dois artigos contri-
buem diretamente: “VI. Empenho na eliminação de todas as formas de 
preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos 
socialmente discriminados e à discussão das diferenças”. No artigo tercei-
ro, dos nossos deveres: “c- abster-se, no exercício da profissão, de práticas 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social92
que caracterizem a censura, o cerceamento da liberdade, o policiamento dos 
comportamentos, denunciando sua ocorrência aos órgãos competentes”.
Se existem perspectivas das quais discordamos, que consideram a Lei 
de Alienação Parental um “avanço civilizatório”, é preciso destacar e nos ali-
nhar às tendências que pontuam que o fato de a LAP ser permeada por uma 
visão patriarcal pôs em destaque a desigualdade de gênero presente histori-
camente em nossa sociedade, repercutindo de forma desproporcional para 
as mulheres-mães (VALENTE; BATISTA, 2021).
Assim, compreender a lei, a partir das relações patriarcais de gênero, é 
um compromisso ético-político. Como já destacado no decorrer desta nota, 
historicamente o papel do cuidado é delegado às mulheres, em razão das de-
sigualdades estruturantes da sociedade. Ou seja, “a subalternidade conferida 
às mulheres é resultado de uma construção social, portanto, histórica, não 
de uma essência natural feminina” (CISNE, 2012, p. 22).
Na mesma direção, Ferreira (2017) analisa que a opressão às mulhe-
res é reforçada pela “superestrutura ideológica”, isto é, por meios de valores 
e crenças ainda presentes na sociedade. Para a autora, “ser mulher é partilhar 
uma experiência de subordinação, desvalorização, opressão, exploração, do-
minação e violência particulares, inclusive, no nível da individuação ou da 
sua construção subjetiva” (FERREIRA, 2017, p. 41).
Estas considerações permitem compreender, por exemplo, o porquê 
de as acusações de “alienação parental” atingirem, majoritariamente, as mu-
lheres-mães, tendo em vista serem elas que, em geral, exercem a guarda uni-
lateral de seus filhos e filhas e, mesmo no exercício da guarda compartilhada, 
permanecem sobrecarregadas em suas responsabilidades (o que destoa da 
divisão equilibrada proposta pela Lei da Guarda Compartilhada).
Criou-se, com a LAP, uma norma que busca responsabilizar e crimi-
nalizar pais e mães, o que se mostra incompatível com a premissa do Plano 
Nacional de Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) que, conforme 
destacou Rocha (2022a), propõe a atuação conjunta das políticas sociais, 
com ênfase na proteção das famílias, possibilitando o acesso à saúde, educa-
ção, habitação, trabalho, entre outros direitos sociais.
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 93
Concluímos, portanto, a partir dos debates e estudos realizados, 
que, apesar dos defensores e defensoras da LAP a indicarem como “conquis-
ta civilizatória” protetiva para promover a convivência familiar, esta legisla-
ção é meramente punitiva. Afinal, se em nosso cotidiano profissional temos 
acompanhado, conforme os movimentos sociais também vêm indicando, 
a responsabilização, penalização de mulheres-mães, como isso implica em 
avanço para a vida das mulheres? Na verdade, avanço civilizatório significa-
ria, pelo menos em parte, enriquecimento do gênero humano, das mulhe-
res, enfrentamento das formas perversas de reprodução das explorações e 
opressões, o que não é o que as mulheres estão vivenciando diante da LAP 
- processos de desumanização.
O Judiciário, ao constatar a suposta “alienação parental”, determina 
a ampliação da convivência familiar, mas impõe que pais e mães sejam adver-
tidos, que paguem multas, que seja fixada forçadamente a casa de moradia 
de crianças e adolescentes, e que realizem acompanhamento psicológico e 
social obrigatórios, reforçando concepções simplistas e moralizantes.
As famílias com recursos financeiros, certamente, buscarão atendi-
mento na rede privada, e no caso das famílias mais pobres, onde terão suas 
demandas atendidas? Ademais, “espera-se das nossas perícias e laudos do 
Serviço Social a validação para a concretização de ações conservadoras asse-
guradas pela lei”, práticas estas que não se alinham aos princípios da nossa 
profissão (ROCHA, 2022a, p, 133).
Quando se analisam as implicações da lei da “alienação parental” nas 
famílias numa perspectiva de relações patriarcais de gênero, raça e classe, ob-
serva-se que, não raramente, as mulheres-mães encontram dificuldades em 
termos de acesso e orientação jurídica, bem como às políticas públicas de 
assistência social, educação, saúde, trabalho, entre outras (MALTA; NICÁ-
CIO, 2021). Nos dizeres de Ferreira (2018, p. 12)29, “considerar as relações 
sociais estabelecidas, entre os sexos é condição necessária para apreender a 
totalidade social no sistema capitalista, patriarcal e racista - um sistema de 
dominação uno, indivisível, mutuamente determinado”.
29 Prefácio de Verônica Ferreira na obra “Feminismo, diversidade sexual e serviço social” (2018), 
das autoras Mirla Cisne e Silvana Mara dos Santos. 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social94
Ter esta compreensão na atuação profissional, conforme sinalizou 
Rocha (2022a), é fundamental para que as/os profissionais estejam capaci-
tadas/os para o trabalho com famílias, principalmente aquelas/es que viven-
ciam processos de judicialização.
Nessa direção, cabe ao profissional se perguntar: que expressões da “questão 
social” estão embutidas na lide posta pelo processo judicial em questão? 
Que direitos estão preservados e que direitos estão violados? A investigação 
teórico-metodológica sobre temas que têm emergido nas disputas entre ex-
cônjuges faz parte de nosso cotidiano de trabalho? Na elaboração de laudos, 
buscamos privilegiar a análise social da situação em vez de sua descrição? 
Nossas análises guardam pertinência com a especificidade do Serviço Social? 
Se há necessidade de descrever algo da situação em análise, fazemos isso de 
forma a evitar a exposição dos sujeitos e o acirramento do litígio? (GOIS; 
OLIVEIRA, 2019, p.51).
Se o pressuposto de nossos estudos sociais, como processo metodo-
lógico, é conhecer em profundidade, de maneira crítica, uma determinada 
situação e/ou expressão da “questão social”, ou seja, a partir de uma perspec-
tiva de totalidade, apreender o real que está diante de nós de forma fragmen-
tada, não é possível reduzir o exercício profissional a informar, diagnosticar 
- a partir de uma intencionalidade que se volte apenas para isso, somente 
para buscar se um/a dos/as parceiros/as está realizando ‘desqualificação’ da 
conduta do outro; concluir se estão ‘dificultados’ o exercício de autoridade 
parental, o ‘acesso’ à convivência familiar, apenas constatar se está ou não 
omitindo informações, se mudou e já concluir que se trata de dificultar a 
convivência. 
Ora, as famílias são espaços profundamente contraditórios, como 
destacamos ao longo da nota técnica, e leituras mecânicas, que buscam en-
quadrar os fatos, não competem ao nosso trabalho, não deve ser o objetivo 
profissional. É preciso contextualizar a vivência conjugal, o exercício (ou 
não) da parentalidade, os impactos da organização familiar, particularmente 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 95
após separação na dinâmica da vida social, a partir de pressupostos teóricos 
e éticos, conforme já apresentados, como a tendência ao familismo, a con-
siderar um único modelo de família, a idealizaro que seria tarefa da famí-
lia, a desigualdade de gênero, que as relações, conflitos e impedimentos não 
significam uma “alienação parental”. É preciso contextualizar o mundo do 
trabalho, o território, a convivência e o processo de socialização dos sujeitos, 
o acesso ou não à proteção social e às políticas públicas.
5. Conclusão
Considerando que, em seus fundamentos, o Serviço Social se afas-
ta de perspectivas punitivistas, simplistas e que reforçam desigualdades so-
ciais, indicamos que as categorias “proteção social”, na perspectiva pública 
e estatal, e “convivência familiar e comunitária”, auxiliem nossas análises, 
sendo recomendada a não utilização do termo “alienação parental”, 
nem utilizar de seus argumentos pseudocientíficos, que não possuem 
reconhecimento mundial nem coerência com o projeto ético-político. 
Assistentes sociais não devem se amparar em conceitos pseudocien-
tíficos, muito menos reforçar o aparato punitivo do Estado, como o da “alie-
nação parental”, para emitir relatórios, laudos e pareceres acerca de questões 
que envolvem convivência familiar, regulamentação de guarda, visitação e 
outras demandas afins, sejam nas varas de Família ou em outros espaços. O 
Serviço Social requer respostas qualificadas e baseadas na ciência e na teoria 
crítica. 
Situações de extremos conflitos familiares, brigas, divergências e 
abusos, obviamente, trazem violências e repercussões nas relações com filhas 
e filhos, que podem, em processos de separação, ficar mais próximas/os de 
algum/a dos/as genitores/as, ou sentirem que precisam escolher quem “está 
certo/a ou errado/a” no rompimento da relação. Contudo, esse processo 
pode trazer também “alívio”, por não precisarem mais conviver nesse am-
biente conflituoso ou até mesmo opressor. 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social96
Concretamente, são muitos elementos, que envolvem relações in-
terpessoais complexas, que podem impactar dinâmicas familiares, com-
portamentos, atitudes e escolhas éticas, que demandam estudo e análise da 
conjugalidade e da parentalidade, que precisam ser compreendidas histori-
camente em uma perspectiva da totalidade social. Portanto, sempre partin-
do do pressuposto de que a família é uma instituição contraditória, na 
contramão do caminho da patologização e da moralização dessas relações, 
que já partem para uma avaliação a partir da investigação e da culpa, para 
propor diagnósticos e “tratamentos”.
A contribuição do Serviço Social visa a compreender como as 
expressões da “questão social” perpassam e impactam as famílias e 
suas relações sociais.
Nos atendimentos do Serviço Social, em todas as áreas sócio-ocupa-
cionais, é imprescindível trazer a criança para o cerne das análises e sua inser-
ção social, comunitária, conhecer sua rede de apoio e proteção familiar e de 
políticas públicas em que é acompanhada. Inclusive, abordar as percepções 
das crianças e adolescentes em relação a si próprios e em termos de pertenci-
mento à sua família, tendo em vista que são sujeitos em condição especial de 
desenvolvimento e já existem amparos legais protetivos nos quais podemos 
nos respaldar, como o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Plano Na-
cional de Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC).
Nossa perspectiva precisa partir do chão da realidade, em que filhas 
e filhos estão inseridos e a proteção social da infância e adolescência rompen-
do com uma análise familista, trazendo a responsabilidade coletiva, fami-
liar, estatal e da sociedade para o desenvolvimento e cuidados desses sujeitos 
em desenvolvimento.
Esperamos que nossa categoria possa se somar à luta coletiva pela 
revogação da lei, tendo em vista que consideramos que os impactos da Lei 
nº 12.318/2010 (Lei da Alienação Parental), em vez de reforçar a proteção 
social das crianças e adolescentes na convivência familiar, trouxe um reforço 
da impositividade do sistema de justiça nos preconceitos e opressões existen-
tes no tratamento das mulheres-mães neste espaço e não contribuiu para a 
promoção de uma igualdade parental.
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 97
Referências:
ARRUZZA, Cinzia.; BHATTACHARYA, Thiti.; FRASER, Nancy. Fe-
minismo para os 99%: um manifesto. São Paulo: Boitempo, 2019.
BRASIL. LEI Nº 12.318, DE 26 DE AGOSTO DE 2010. Dispõe sobre a 
alienação parental e altera o art. 236 da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990.
BRASIL. LEI Nº 14.340, DE 18 DE MAIO DE 2022. Altera a Lei nº 
12.318, de 26 de agosto de 2010, para modificar procedimentos relativos 
à alienação parental, e a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da 
Criança e do Adolescente), para estabelecer procedimentos adicionais para a 
suspensão do poder familiar.
BRASIL. LEI Nº 13.431, DE 4 DE ABRIL DE 2017. Estabelece o siste-
ma de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha 
de violência e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da 
Criança e do Adolescente).
CAMPOS, M. S. O casamento da política social com a família: feliz 
ou infeliz? In: MIOTO, R. C. T.; CAMPOS, M. S.; CARLOTO, C. M. 
(org.). Familismo, direitos e cidadania: contradições da política social. São 
Paulo: Cortez, 2015. p. 21-43.
CISNE, Mirla. Gênero, Divisão Sexual do Trabalho e Serviço Social. 
São Paulo: Outras Expressões, 2012. 
CONSELHO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS. Recomenda-
ção nº 06, de 18 de março de 2022 - Recomenda a rejeição ao PL nº 
7.352/2017, a revogação da Lei nº 12.318/2010, que dispõe sobre a “alie-
nação parental”, bem como a adoção de medidas de proibição do uso de 
termos sem reconhecimento científico, como síndrome de alienação paren-
tal, entre outros. Disponível em: https://www.gov.br/participamaisbrasil/
recomendacao-n6-2022
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Recomendação CNS nº 
03/2022. Recomenda a rejeição ao PL nº 7.352/2017, bem como a adoção 
de medidas de proibição do uso de termos sem reconhecimento científico, 
como síndrome de alienação parental, entre outros. Brasília, 11 de fevereiro 
https://www.gov.br/participamaisbrasil/recomendacao-n6-2022 
https://www.gov.br/participamaisbrasil/recomendacao-n6-2022 
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social98
de 2022. Disponível em: http://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-c-
ns/2337-recomendacao-n-003-de-11-de-fevereiro-de-2022. Acesso em 17 
out.2022.
CONSELHO NACIONAL DE DIREITOS DAS CRIANÇAS E DOS 
ADOLESCENTES. Nota Pública do Conanda Sobre A Lei Da Alie-
nação Parental Lei - N° 12.318 DE 2010. Brasília, 30 de agosto de 2018
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Resolução 569 de 
25 de março de 2010. Disponível em: http://www.cfess.org.br/arquivos/
RES.CFESS_569-2010.pdf Acesso em: 20 out.2022
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Nota Técnica sobre 
o exercício profissional de assistentes sociais e as exigências para a 
execução do Depoimento Especial. Brasília, 2018. Disponível em: http://
www.cfess.org.br/arquivos/notatecnica-depoimentoespecia2018.pdf. Aces-
so em 14 out.2022.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Nota Técnica sobre a 
“escuta especializada” proposta pela Lei 13.431/2017: questões para 
o Serviço Social. Brasília, 2019. Disponível em: http://www.cfess.org.br/
arquivos/Nota-tecnica-escuta-especial-2019.pdf. Acesso em 18 out.2022.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Sistematização e 
Análise de Registros da opinião técnica emitida pela/o assistente so-
cial em relatórios, laudos e pareceres, objeto de denúncias éticas pre-
sentes em recursos disciplinares julgados pelo Conselho Federal de 
Serviço Social. Brasília, 2020. Disponível em http://www.cfess.org.br/ar-
quivos/registros-opiniao-tecnica.pdf. Acesso em 12 out.2022.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Atribuições Privati-
vas do/a Assistente Social em Questão. Brasília: vol. 2. 2020. Disponível 
em: http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS202-AtribuicoesPrivativas-
-Vol2-Site.pdf Acesso em 07 abr. 2020.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Relatório Final 
Plenária Nacional do Conjunto Cfess - Cress, 2020. Disponível em: 
http://www.cfess.org.br/arquivos/Relatorio-final-plenariaNacionalcfess-cress2020.pdf . Acesso em 18 de outubro de 2022.
http://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/2337-recomendacao-n-003-de-11-de-fevereiro-de-2022
http://conselho.saude.gov.br/recomendacoes-cns/2337-recomendacao-n-003-de-11-de-fevereiro-de-2022
 http://www.cfess.org.br/arquivos/RES.CFESS_569-2010.pdf
 http://www.cfess.org.br/arquivos/RES.CFESS_569-2010.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/notatecnica-depoimentoespecia2018.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/notatecnica-depoimentoespecia2018.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/Nota-tecnica-escuta-especial-2019.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/Nota-tecnica-escuta-especial-2019.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/registros-opiniao-tecnica.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/registros-opiniao-tecnica.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS202-AtribuicoesPrivativas-Vol2-Site.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESS202-AtribuicoesPrivativas-Vol2-Site.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/Relatorio-final-plenariaNacionalcfesscress2020.pdf
http://www.cfess.org.br/arquivos/Relatorio-final-plenariaNacionalcfesscress2020.pdf
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 99
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Nota pública sobre o 
compromisso de assistentes sociais em defesa dos direitos de crianças e 
adolescentes. Brasília, 14 de outubro de 2022. Disponível em: http://www.
cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1931 Acesso em 14 out.2022. https://
www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1876
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Atuação de assisten-
tes sociais no Sociojurídico - subsídios para reflexão. Série Trabalho 
e Projeto Profissional nas Políticas Sociais. Brasília, 2014. Disponível em: 
http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESSsubsidios_sociojuridico2014.pdf 
Acesso em: 14 out.2022
CFESS. “Práticas Terapêuticas no Âmbito do Serviço Social: subsídios 
para aprofundamento do estudo”, publicada em 2010. Disponível em: 
http://www.cfess.org.br/arquivos/praticasterapeuticas.pdf Acesso em: 25 
fev.2022
CNJ. Conselho Nacional de Justiça (Brasil). Protocolo para julgamento 
com perspectiva de gênero [recurso eletrônico] /Conselho Nacional de 
Justiça. — Brasília: Conselho Nacional de Justiça – CNJ; Escola Nacional 
de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados — Enfam, 2021. Disponí-
vel em: http:// www.cnj.jus.br. Acesso em: 21 out.2022
ESQUENAZI BORREGO, Arelys, TENORIO, Emilly Marques. O ne-
cessário retorno à noção de totalidade através de uma ontologia inte-
grativa: notas para um debate. Argumentum, 13(3), 2021, p. 30–40. Dis-
ponível em: https://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/37210. 
Acessado em 14 out.2022
FERREIRA, Verônica M. Apropriação do tempo de trabalho das mu-
lheres nas políticas de saúde e reprodução social: uma análise de suas 
tendências. Tese de Doutorado. UFPE, 2017.
FRASER, Nancy. Contradições entre capital e cuidado. In: Princípios: 
revista de Filosofia, Natal, vol 27, nº 53, maio-ago, 2020
GOIS, Dalva A. e OLIVEIRA, Rita C.S. Serviço social na justiça da fa-
mília: demandas contemporâneas do exercício profissional. São Paulo: 
Cortez, 2019.
http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1931
http://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1931
https://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1876 
https://www.cfess.org.br/visualizar/noticia/cod/1876 
http://www.cfess.org.br/arquivos/CFESSsubsidios_sociojuridico2014.pdf 
http://www.cfess.org.br/arquivos/praticasterapeuticas.pdf
https://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/37210
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social100
GUERRA, Yolanda. Direitos Sociais e Sociedade de Classes: o Discur-
so do Direito a Ter Direitos. In: FORTI, Valeria; GUERRA, Yolanda 
(orgs.). Ética e Direitos: ensaios críticos. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
GUERRA, Yolanda. Sobre a possibilidade histórica do projeto ético-
-político profissional: a apreciação crítica que se faz necessária. In: 
FORTI, V. L; GUERRA, Y. A. D. Projeto Ético Político do Serviço Social: 
contribuição à sua crítica. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2015.
HORST, C. H. M; TENORIO, E. M. Reflexões sobre a inserção pro-
fissional de assistentes sociais na conciliação de conflitos e media-
ção familiar. Serv. Soc. Soc. (135), 2019. Disponível em: https://doi.
org/10.1590/0101-6628.180. Acesso: 18 out.2022.
HORST, C. H. M; MIOTO, R. C. T. Serviço Social e o trabalho com 
famílias: renovação ou conservadorismo? Revista Em Pauta, v. 15, p. 
228-246, 2018.
HORST, C. H. M; MIOTO, R. C. T. Crise, Neoconservadorismo e 
Ideologia da Família. Serviço Social: questão social e direitos huma-
nos. Volume IV. Florianópolis. Editora UFSC, 2021. https://repositorio.
ufsc.br/bitstream/handle/123456789/227529/Serviço%20Social%20
questão%20social%20e%20direitos%20humanos%20%20E-BOOK%20
26ago21.pdf?sequence=1&isAllowed=y 
HORST, C. H. M. Transformações Societárias e Impactos na família: 
Diversidade Familiar ou
Desestruturação familiar? In: Maria Lúcia Teixeira Garcia; Mirian C. V. 
Basílio Denadai. (Org.). Família,
Saúde Mental e Política de Drogas - Temas Contemporâneos. 1ed. São Pau-
lo: Annablume Editora, 2018
LUKÁCS, Gyorgy. Para uma ontologia do ser social II. São Paulo: Boi-
tempo editorial, [1981] 2013. São Paulo: Boitempo editorial.
MARX, Karl. Sobre o Suicídio. São Paulo, Boitempo, 2006.
MÉSZÁROS, István. Marxismo e Direitos Humanos. In: Filosofia, ideo-
logia e ciência social. São Paulo: Boitempo, 2008. p. 157-168.
https://doi.org/10.1590/0101-6628.180
https://doi.org/10.1590/0101-6628.180
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/227529/Serviço%20Social%20questão%20social%20e%20direitos%20humanos%20%20E-BOOK%2026ago21.pdf?sequence=1&isAllowed=y 
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/227529/Serviço%20Social%20questão%20social%20e%20direitos%20humanos%20%20E-BOOK%2026ago21.pdf?sequence=1&isAllowed=y 
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/227529/Serviço%20Social%20questão%20social%20e%20direitos%20humanos%20%20E-BOOK%2026ago21.pdf?sequence=1&isAllowed=y 
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/227529/Serviço%20Social%20questão%20social%20e%20direitos%20humanos%20%20E-BOOK%2026ago21.pdf?sequence=1&isAllowed=y 
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 101
MIOTO, R. C. T. Trabalho social com famílias: entre as amarras do 
passado e os dilemas do presente. Família, trabalho com famílias e 
Serviço Social. In: TEIXEIRA, S. M. (org.). Política de assistência social e 
temas correlatos. Campinas: Papel Social, 2016. p. 215-231.
NETTO, J. P. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. 8. Ed. Cortez, 
2011.
OLIVEIRA, Rayane. Noronha. Serviço Social, Classe, Gênero e Raça: 
tendências teórico-metodológicas e as possíveis contribuições da Teo-
ria Unitária. Tese (Doutorado em Serviço Social) - Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte, Centro Ciências Sociais Aplicadas, Programa de 
Pós-Graduação em Serviço Social. Natal, RN, 2021
PROJETO DE LEI N 4.053, DE 2008. Dispõe sobre a alienação parental. 
Disponível em: https://www.conjur.com.br/dl/alienacao-parental.pdf
ROCHA, Edna Fernandes da. Serviço Social e Alienação Parental: con-
tribuições para a prática profissional. São Paulo:Cortez, 2022a.
ROCHA, Edna Fernandes da. Repercussões das acusações de alienação 
parental para as mulheres nos litígios familiares: uma abordagem crí-
tico-feminista. In: SIQUEIRA, M. Direito, Estado e feminismo. João Pes-
soa: Editora Porta, 2022b. 
ROCHA, Edna Fernandes da. Alienação Parental sob o olhar do serviço 
social: limites e perspectivas da atuação profissional nas varas de fa-
mília. Tese de Doutorado. PUCSP, 2016.
SARAIVA, Clara. A relação entre trabalho doméstico, valor e capita-
lismo dependente: uma crítica à luz da teoria da reprodução social. 
2021. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Serviço So-
cial, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.
SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado e violência. 2ª edição, São 
Paulo: Expressão popular: Fundação Perseu Abramo, 2015 [2004].SANTOS, Silvana Mara de Morais dos. O Pensamento da Esquerda e a 
Política de Identidade: as particularidades da luta pela liberdade de 
Orientação Sexual. Tese de doutorado em Serviço Social. Universidade Fe-
deral de Pernambuco: Recife, 2005.
https://www.conjur.com.br/dl/alienacao-parental.pdf
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social102
TENORIO, Emilly. Marques. Lei Maria da Penha e Medidas de Prote-
ção: entre a polícia e as políticas. 1ª. ed. Papel Social, 2018. 
TENORIO, Emilly. Marques. Serviço Social no Sociojurídico e Atendi-
mento às Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar. In: 
Coleção Não há lugar seguro: estudos e práticas sobre violências domésticas 
e familiares. 1ed. Florianópolis: Centro de Estudos Jurídicos, 2019, v. 1, p. 
161-175. Disponível em: https://www.tjsc.jus.br/documents/715064/0/E-
-book+livro+1/ee5eb8a9-c7e2-dced-af6b-1bfd72ac409e Acesso em 18 
out.2022.
VALENTE, M. L. C. S.; BATISTA, T. T. Violência doméstica contra a 
mulher, convivência familiar e alegações de alienação parental. IN: Ar-
gumentum, [S. l.], v. 13, n. 3, p. 76–89, 2021. Disponível em: https://perio-
dicos.ufes.br/argumentum/article/view/35395. Acesso em: 29 dez. 2021.
VASCONCELOS, Ana. Maria. A/O Assistente Social na Luta de Clas-
ses: projeto profissional e mediações teórico-práticas. 1. Ed. São Paulo: 
Cortez, 2015.
https://www.tjsc.jus.br/documents/715064/0/E-book+livro+1/ee5eb8a9-c7e2-dced-af6b-1bfd72ac409e
https://www.tjsc.jus.br/documents/715064/0/E-book+livro+1/ee5eb8a9-c7e2-dced-af6b-1bfd72ac409e
https://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/35395
https://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/35395
Reflexões sobre o trabalho profissional - Caderno 3 | 103
| Diálogos do Cotidiano - Assistente Social104
R��l��õe� s��r� o t��b��h� p��f��s��n��
COTIDIANO
 A��I��E��E 
S��I��
diálogos do
COTIDIANO
 A
��I��E��E S��I�
�
diálogos do
www.cfess.org.br

Mais conteúdos dessa disciplina