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Hipogonadismo masculino Neto Monteiro - 143 ● Síndrome clínica → incapacidade de produzir quantidades fisiológicas de testosterona e/ou quantidades normais de espermatozóides ● Primário (hipergonadotrófico) → queda de testosterona e aumento de FSH e LH ○ Anormalidade dos testículos ● Secundário (hipogonadotrófico) → queda da testosterona com FSH e LH baixos ou normais ○ Distúrbio hipotalâmico e/ou hipofisário ● Associação dos dois → pacientes idosos ou com doenças crônicas ● Formas raras → incapacidade de converter testosterona em DHT pela deficiência de 5-alfa-redutase ● Congênito ou adquirido ● Pré puberal ou pós puberal Fisiologia reprodutiva masculina Eixo hipotalâmico-hipofisário testicular ● Mecanismos de estimulação positiva e feedback negativo ● Reguladores positivos do testículo → LH e FSH (GnRH) ○ Pulsos a cada 60-90 min ● LH → estimular produção de testosterona pela célula de Leydig ● FSH → ação nos túbulos seminíferos (Céls de Sertoli) → espermatogênese + produção de inibina B → feedback negativo na liberação de FSH ● Ativina → gonócitos e células de Sertoli → estímulo ao FSH ● Liberação de GnRH → esteróides sexuais + hormônios peptídicos (prolactina, ativina A, inibina B, leptina, kisspeptina) ● Testosterona (diretamente) ou pelo estradiol (indiretamente) inibe o GnRH ● Prolactina inibe o GnRH através da inibição da Kisspeptina ● Kisspeptina → potente secretagogo do GnRH ○ Núcleo arqueado ○ Mutações que com perda de kisspeptina resultam em retardo puberal e hipogonadismo hipogonadotrófico normósmico ○ Mutações ativadoras causam puberdade precoce ● Leptina → secretada pelos adipócitos periféricos → interação com os neurônios secretores de kisspeptina ○ Permissividade do início da puberdade e funcionamento do eixo HHT Função testicular ● Dupla função → produção de esteroides sexuais e espermatozoides ● Dois componentes → células de Leydig e túbulos seminíferos ● Leydig → células intersticiais → produção de 7 mg/dia de testosterona regulada pelo LH ○ Testo atua para mediar e promover ação androgênica em quase todos os tecidos ○ Perifericamente convertida em estradiol (aromatase - adipócitos) ou DHT (5-alfa-redutase 2 subtipos - fígado e pele) ○ 200-300 µg de DHT produzidos diariamente ○ 10 µg/dia de estradiol e 70 µg/dia de DHT são produzidos pelo testículo → 80% do DHT e estradiol circulantes vêm da conversão periférica ○ INSL3 (fator 3 semelhante à insulina) → refletem o número e o status de diferenciação da célula de Leydig ■ Aumento durante a puberdade, estável dos 18 aos 35-40 anos e decaem ● Túbulos seminíferos → 80-90% da massa testicular → 30 milhões/dia de espermatozóides ○ Células de sertoli + células germinativas → regulação pelo FSH e testosterona ○ FSH dá o start e a testosterona faz a maturação ○ Sertoli secreta peptídeo GnRH símile, transferrina, ativador do plasminogênio, ceruloplasmina, fator inibidor dos ductos müllerianos, antígeno H-Y, inibina B ○ Dímeros da subunidade alfa da inibina B formam a ativina A ○ Inibina B e ativina A → reguladores parácrinos da espermatogênese Transporte da testosterona no plasma ● Albumina e SHBG → produção hepática ● 30-45% ligada a SHBG, 50-68% a albumina, até 4% a transcortina e uma quantidade mínima a alfa-1-glicoproteína ácida (orosomucoide) ● Testosterona livre → biologicamente ativa → 1-4% da testo circulante ● Testo total (TT) = testo livre (TL) + testo ligada à proteínas ● Testo biodisponível = TL + testo ligada à albumina (pois se desprende fácil) Efeitos da testosterona ● Age diretamente ou após conversão em DHT ou estradiol ● Receptor androgênico intracelular ou receptores estrogênicos alfa e beta ● Testosterona → diferenciação da genitália interna e externa masculina, características sexuais secundárias e pela função erétil na vida adulta + libido ● DHT → crescimento da próstata, pele e folículos pilosos em áreas andrógeno-sensíveis ● Estradiol → prevenção de reabsorção óssea, fusão da epífise, diferenciação sexual do cérebro, feedback negativo nas gonadotrofinas, alguns aspectos de comportamento e função do cérebro e dos lipídios plasmáticos + progressão da aterosclerose Etiologia do hipogonadismo primário (hipergonadotrófico) Só coloquei aqui em etiologia as causas que o professor pediu pra ver, mas tem mais um monte no livro 1. Congênitas Síndrome de Klinefelter ● causa genética mais comum de hipogonadismo masculina ● Cromossomo X extra → 47 XXY (forma clássica - ⅔) ou mosaicismos ● Testículos pequenos ou endurecidos (fibrose e hialinização dos túbulos seminíferos), azoospermia (obliteração dos túbulos), pilosidade facial reduzida, pilosidade pubiana diminuída e de disposição triangular, pênis de tamanho reduzido (micropênis é raro), criptorquidia uni ou bilateral, alta estatura com proporções eunucóides, ginecomastia e hipogonadismo hipergonadotrófico. ● Fenótipo evidenciado apenas após a puberdade ○ Até 12 anos as gonadotrofinas estão em níveis pré-puberais ○ Até 14 anos testosterona tende a estar normal ○ Lembrar dos mosaicismos → testo sérica normal ou no limite inferior, fenótipo variável, excepcionalmente férteis ● Maior incidência de intolerância a glicose e DM, doenças tireoidianas, DPOC, LES, tremor essencial, osteoporose, veias varicosas, tromboembolismo, doença cerebrovascular, doença valvular aórtica, ruptura de aneurisma e taurodontismo (queda precoce de dentes) ○ Um monte de comorbidade, coitados… tem mais umas que não citei ● Dificuldade de aprendizado e controle inadequado de impulsos Criptorquidia ● Testículo fora da bolsa escrotal → principal anomalia gonadal masculina ● Unilateral ou, mais raramente, bilateral ● Cerca de 50% localizados no anel inguinal externo ou no topo da bolsa escrotal ○ 19% no canal inguinal ○ 9% intra-abdominais ○ 23% ectópicos ● Complicações → oligo e azoospermia, infertilidade e risco de malignização ○ Infertilidade em 50% dos uni e 75-90% dos bilaterais ○ malignização → seminoma e carcinoma de células embrionárias Síndrome de Morris ● Síndrome da insensibilidade androgênica completa ● Genitália externa feminina, grandes lábios hipoplásicos, vagina em fundo cego e estruturas müllerianas ausentes ● Testículos presentes nos grandes lábios, canal inguinal ou abdome ● Mamas bem desenvolvidas com pelos pubianos e axilares escassos ou ausentes ● Falta de menstruação geralmente é o motivo da consulta ● Suspeitar em paciente fenotipicamente feminina com hérnia inguinal (ppte bilateral), massa testículo-símile na região inguinal ou grandes lábios ou amenorreia primária ● Adolescência → excesso de LH sem feedback negativo faz os testículos secretarem grande quantidade de estradiol pelo excesso de testo → características sexuais secundárias femininas ● Identidade de gênero geralmente feminina ○ Não se sabe idade ideal para orquiectomia ○ Após cirurgia, repor hormônios femininos ○ Pode ser necessária uma cirurgia para aumentar profundidade da vagina (neovagina) 2. Adquiridas ● Varicocele ● Parotidite e outras viroses ● Orquites ● Falência testicular autoimune Etiologia do hipogonadismo secundário (hipogonadotrófico) 1. Congênita Deficiência de GnRH ● Síndrome multigênica, maioria ligada ao X, mas nem sempre ○ Esporádica (60%) e familiar (40%) ○ Mais de 30 genes envolvidos ● Espectro clínico → Síndrome de Kallmann (SK) e hipogonadismo hipogonadotrófico congênito normósmico (nHHC ou HH congênito idiopático) ● SK → Defeitos nos genes envolvidos no desenvolvimento dos neurônios do GnRH e no sistema olfatório ○ Agenesia ou hipoplasia dos bulbos e tratos olfatórios → anosmia ou hiposmia → muitas vezes os indivíduos não percebem → precisa testar (e vamos de potinhos de café) ○ Hábito eunucóide e hipospadia ○ Problemas renais, surdez, metacarpos curtos, defeitos faciais da linha média, distúrbios da visão em cores, nistagmo, RM, movimentos de espelho nos MMSS, epilepsia e ataxia cerebelar ○ Ressonância → 56% agenesia bilateral de bulbo olfatório, 2% agenesia unilateral, sulcos olfatórios anormais ou ausentesbilateralmente em 56%, unilateralmente em 17%. RM normal em menos de 10% ● 10-20% da SK ou nHCC o hipogonadismo é reversível ○ Avaliar a reposição androgênica → reajuste de dose ou parada 2. Adquirida Orgânicos ● Qualquer lesão selar → inibição direta ou mais comumente por outros déficits hormonais ○ Adenomas de hipófise → compressão da haste ou hiperPRL ○ Tumores, doenças inflamatórias, infiltrativas e infecciosas ● TCE ● irradiação e cirurgia hipofisária Funcionais ● Na ausência de anormalidade estrutural → redução da secreção pulsátil de GnRH ● Atividade física intensa e perda de peso ● DM2, síndrome metabólica e obesidade grave → hiperestrogenemia e mais SHBG ● Fragmentação do sono → interrompe ciclo noturno da testosterona ● Aumento da temperatura no escroto (maior adiposidade), hiperinsulinemia e hiperglicemia reduzem a produção e motilidade dos espermatozóides ● Doenças crônicas graves e distúrbios endócrinos → HiperPRL, hiper ou hipocortisolismo, hipo ou hipertireoidismo ● Fármacos → opioides, glucocorticoides, anabolizantes, análogos de GnRH em uso contínuo, drogas ilícitas Manifestações clínicas ● Manifestações da deficiência de testosterona → depende de quando começa e da velocidade de instalação, duração e gravidade da deficiência ● Desde o primeiro trimestre fetal → graus variáveis de ambiguidade genital ● Após diferenciação sexual → micropênis, criptorquidismo e/ou microquidismo ● Entre o nascimento e a puberdade → ausência ou atraso do desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários → pênis pequeno, testículos pequenos, poucos pelos pubianos e axilares ○ Voz fina, incompleto desenvolvimento da massa muscular e hábito eunucoide ■ Envergadura > altura em mais que 5 cm e a relação vértice-pubis/púbis -chão é > 1 (normal é < 1) ● Após a puberdade → menos evidentes → redução da libido e de atividade sexual, disfunção erétil, redução ou desaparecimento das ereções penianas noturnas, redução de pelos corporais, ginecomastia, infertilidade, fraturas por fragilidade, fogachos e sudorese ○ Testículo de volume normal ou um pouco atrofiado ○ Tamanho do pênis não se altera ● Hipogonadismo grave de longa duração → face hipogonádica clássica (palidez e rugas finas ao redor da boca e dos olhos), distribuição da gordura corporal com padrão feminino e ginecomastia ● Sinais e sintomas menos específicos → anemia, fadiga, irritabilidade, diminuição da energia, motivação, autoconfiança, humor deprimido, falta de concentração e memória, distúrbios do sono, diminuição da massa e forças musculares, aumento da gordura corporal e obesidade abdominal Avaliação Diagnóstica do Hipogonadismo Anamnese ● História sexual completa → frequência de masturbação e atividade sexual, fertilidade, libido, função erétil e ejaculatória ● Avaliar alterações do olfato → Sd de Kallmann → causa mais comum de hipo hipo congênito ● Antecedentes de orquite, traumatismos, tumores, cirurgias, radioterapia, infecções pelo HIV e outras ISTs, doenças sistêmicas, distúrbios da região selar, TCE, uso de drogas ilícitas, opioides, glicocorticóides, esteroides androgênicos, inibidores da 5-alfa-redutase, medicações psiquiátricas ou citotóxicas Exame físico ● Altura, envergadura, peso, massa muscular, adiposidade, caracterizar pelos corporais ● Avaliação do pênis e do testículo ● Pesquisar ginecomastia, galactorreia, hérnias, hidrocele e varicoceles + campo visual ● Exame digital da próstata → a partir dos 40-50 anos de idade Indicações de rastreamento ● Não há consenso das sociedades ● Não deve ser realizado de rotina ● Sugerido em pacientes com sinais e sintomas ou fatores de risco para seu desenvolvimento, como tumores da região selar ● Diagnóstico → sintomas e sinais de deficiência de testosterona + níveis séricos de TT ou TL inequivocamente e consistentemente baixos ○ Não dosar em homens se recuperando de doença aguda ou em uso temporário de medicações que interfiram no eixo gonadal ● Existem ferramentas para facilitar (questionários e escalas) mas possuem baixa sensibilidade e especificidade, não sendo usadas na prática clínica Avaliação hormonal ● Dosagem da TT sérica → há variação ao longo do dia ○ Pico matutino, ocorrendo supressão pela glicose e pela ingestão alimentar ○ Realizar coleta entre 7-10h em jejum ○ Paciente que trabalha a noite, dosar dentro de 3h após acordar ● Se TT baixa, realizar nova dosagem dentro de 2-3 semanas → há flutuações de um dia para o outro → até 30% tem um segundo resultado normal ● Lembrar de não dosar quando doença aguda ou medicamento que interfira no eixo ● TT → Utilizar radioimunoensaio, ensaios imunométricos ou cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massas ● TT → soma das frações livres e ligadas → níveis influenciados pela SHBG ○ 200-400 ng/dl ○ TT no limite inferior ou condições que alterem os níveis de SHBG → dosar TL ○ Se TT muito baixa (< 150) → NÃO dosar TL → pouco provável estar normal ● Causas que aumentam SHBG: envelhecimento, hiperestrogenismo, deficiência androgênica, hipertireoidismo, uso de anticonvulsivantes, hepatite, cirrose, anorexia nervosa, estresse prolongado, deficiência de GH, porfiria ● Causas que diminuem SHBG: obesidade, hiperinsulinemia, hipotireoidismo, terapia com androgênios, uso de progestágenos, corticoterapia, acromegalia, síndrome nefrótica, mutação no gene SHBG ● TL → diálise de equilíbrio ou ultrafiltração → indisponíveis ● Calcular a TL e testo biodisponível a partir das concentrações de TT, SHBG, e albumina http://www.issam.ch/freetesto.htm ● Dosagem de TL por imunoensaios em laboratórios locais é comumente disponível mas não é confiável, não é recomendado fazer → melhor calcular mesmo ● O livro não menciona isso, mas lembrar de dosar o FSH e LH pra diferenciar primário e secundário Confirmação do diagnóstico ● Não há consenso entre as sociedades ● TL é recomendado que cada laboratório tenha seu valor de referência para a diálise de equilíbrio e para a calculada (calculada pelo método de diálise de equilíbrio) http://www.issam.ch/freetesto.htm Hipogonadismo primário ou hipergonadotrófico ● Elevação das gonadotrofinas por falta de feedback negativo ● Testosterona baixa com FSH e LH altos Hipogonadismo secundário ou hipogonadotrófico ● Níveis baixos de testosterona com FSH e LH baixos ou normais Hipogonadismo misto ou combinado ● Doenças sistêmicas agudas e crônicas, etilismo crônico, hipogonadismo relacionado à idade → condições que podem afetar o eixo ● Queda da testosterona com níveis variáveis de FSH e LH → depende da predominância de primário ou secundário ● Nos três tipos há queda da contagem de espermatozoides ● Após definir o tipo → definir etiologia ○ Cariótipo → suspeita de klinefelter ○ RM → Pacientes com hiper PRL, TT < 150 ng/dl, pan-hipopituitarismo ou sintomas sugestivos de massa selar ● Se fertilidade desejada → realizar espermograma em pelo menos duas amostras de sêmen com intervalo de 2 semanas analisados dentro do intervalo de 1h da ejaculação após no mínimo 48h de abstinência sexual e não superior a 5-7 dias ○ VR: 39 milhões de espermatozóides no total, com concentração de 15 milhões por ml, 58% vivos, 40% com motilidade, sendo 32% com motilidade progressiva, e 4% com morfologia normal Tratamento do Hipogonadismo ● Funcional → tratar o fator desencadeante ● Orgânico → Reposição de testosterona ○ No Brasil → Fórmulas IM e em gel ○ Gel → passa todo dia em alguma região, geralmente coxa, mas tem que ter cuidado pra não terminar passando para alguém por contato ○ IM → a cada 10, 14 ou 21 dias é reaplicado ■ Undecanoato é a fórmula mais confortável, aplicada a cada 14 semanas, mas é mais cara ○ Fórmulas orais, adesivos e implantes não estão disponíveis no Brasil Tabela: Fórmulas IM Tabela: Gel
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