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Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 1 🚺 Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos Type Aula Gravada Date Especialidade Ginecologia Endócrina Material Reviewed Classificação Amenorreia Primária: ausência de menarca após os 15 anos, se houver desenvolvimento sexual secundário; ou após os 13 anos, se essas características não estiverem presentes → menarca não ocorreu 5 anos após o início do desenvolvimento das mamas, se isso se deu antes dos 10 anos de idade. Amenorreia Secundária: atraso menstrual em que não ocorrem menstruações espontâneas por 3 meses seguidos ou 3 ciclos menstruais consecutivos → um segundo critério seria < 9 menstruações em 1 ano. O eixo hipotálamo-hipófise-ovariano libera GnRH em pulsos, determinando a produção hipofisária de LH e FSH, que atuam nas gônadas, estimulando o desenvolvimento das células foliculares que produzem o estrogênio → estrogênio atuará na proliferação endometrial e a progesterona preparará o endométrio para prosseguir com a gestação → após ovulação, o corpo lúteo segue como produtor de progesterona → caso ocorra luteólise, haverá diminuição do estrogênio e progesterona séricos, com descamação endometrial, levando a menstruação. Compartimentos: @January 19, 2023 Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 2 I - desordens do trato de saída do fluxo menstrual → congênitas: agenesia Mullerianas, insensibilidade androgênica, hímen imperfurado, septo vaginal → adquiridas: síndrome de Asherman, estenose cervical II - desordens gonadais-ovarianas → funcional, desordem alimentar, deficiência de gonadotrofinas (Kallmann); infecções, estresse, trauma, tumor. III - desordens hipofisárias → hiperprolactinemia, tumor, sela vazia, doença autoimune, síndrome de Sheehan, síndrome de Cushing. IV - desordens hipotalâmicas → insuficiência ovariana, genética, RT/QT, cirurgia, autoimune, infecciosa, idiopática, SOP, hiperplasia adrenal tardia, doença da tireoide, doenças crônicas, síndrome de Cushing, tumor produtor de androgênio (ovário e adrenal). Anamnese e Exame Físico Anamnese Idade da Menarca: menstruação pode ser irregular nos primeiros anos de menacme, pela imaturidade do eixo HHO → considera-se como relevante a anovulação crônica diagnosticada após 2 anos de menarca → importante constatar se houve ou não a menarca. Comorbidades: medicamentos podem afetar o eixo HHO, como anticoncepcionais e outras que aumentam prolactina ou alteram funções hipotalâmicas, como antipsicóticos, antieméticos, metildopa, opioides e anfetaminas → também é importante questionar sobre câncer, devido tratamento com QT e RT estar relacionado a falência ovariana prematura. Hábitos de Vida: estresse, com aumento do cortisol, pode alterar a pulsatilidade do GnRH → atividades físicas muito intensas ou alimentação muito restritivas também podem causar amenorreia. Desenvolvimento Puberal: normalmente, obedece a sequência de telarca (mama), pubarca (pilificação) e menarca → mnemônico TPM. Antecedentes Ginecológicos e Obstétricos: partos difíceis, com hemorragias intensas, podem levar a pensar em necrose hipofisária levando a um pan-hipopituitarismo (síndrome de Sheehan). Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 3 Buscar por queixas de hipoestrogenismo: fogacho, ressecamento vaginal. Buscar por queixas que levem a diagnósticos específicos: galactorreia, hipoandrogenismo clínico. Exame Físico Buscar por causas obstrutivas. Estágio de desenvolvimento puberal: Tanner. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 4 Alterações cutâneas. Estigmas sugestivos de Turner. Cuidadoso exame ginecológicos. Peso, altura e IMC. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 5 Amenorreia Primária Etiologia Disgenesia Gonadal: inclui a síndrome de Turner e equivale a 43% das causas de amenorreia primária. Agenesia Mulleriana: responsável por 15%. Atraso Constitucional da Menstruação: responsável por14% → importante correlacionar com os quadros da pediatria. Síndrome dos Ovários Policísticos: corresponde a 7%. Deficiência Isolada de GnRH: muito raro (5%). Septo Vaginal: 3%. Anorexia: 2%. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 6 Hipopituitarismo: 2% Investigação Checar a presença ou ausência do desenvolvimento mamário → marca a ação estrogênica presente e, consequentemente, a função ovariana preservada. Presença ou ausência de útero → determinada por exames de imagem. Avaliação dos níveis de FSH. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 7 💡 Caso FSH ELEVADO, o provável diagnóstico é de disgenesia gonadal → para investigação complementar é necessário solicitar o cariótipo → os resultados mais comuns são: 45X0 (síndrome de Turner); 45X0/46XX (mosaico de Turner); 46XY. 💡 Caso FSH NORMAL e ÚTERO AUSENTE, o diagnóstico provável é insensibilidade ao androgênio ou agenesia Mulleriana → para diferenciar, avaliar a concentração de testosterona → normal na agenesia Mulleriana e elevada na insensibilidade androgênica. 💡 Caso FSH NORMAL E DESENVOLVIMENTO MAMÁRIO PRESENTE, considerar a solicitação de exames de imagem para investigar obstrução do trato genital. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 8 💡 Caso FSH BAIXO ou NORMAL e ÚTERO PRESENTE, investigar atraso constitucional, puberdade tardia e deficiência congênita de GnRH. Acima de 13 Anos Sem Caracteres Sexuais Secundários Essa característica determina que o estímulo estrogênico está ausente → dessa forma, é um hipogonadismo, que deve ser avaliado conforme FSH. FSH Elevado - Hipogonadismo Hipergonadotrófico FSH > 20 UI/L. É necessário pensar em um problema de causa periférica. Nos leva a pensar em insuficiência ovariana prematura. Para prosseguir investigação, é necessário completar com cariótipo e USG transvaginal → caso apresente ovários visíveis e seja 46XX, se tratada de um caso de IOP, onde houve perda da reserva ovariana antes da puberdade; mas é mais relacionada com quadros de amenorreia secundária. Cariótipo 46XX e Útero Presente: trata-se de uma disgenesia gonadal pura: desenvolvimento embriológico é totalmente feminino, com genitália externa e internas desenvolvidas → exame físico sem estigmas de Turner e estatura poderá corresponder ao canal familiar → em geral, gônadas não serão funcionantes, “em fita” e não produziram estradiol, levando a ausência do desenvolvimento puberal e elevação do FSH → tratamento e acompanhamento com indução da puberdade através de estrogenioterapia. Cariótipo 46XY e Útero Presente: conhecido como disgenesia gonadal XY ou Síndrome de Swyer: gônadas não se desenvolvem em testículos no período embrionário, por mutação no gene SRY do cromossomo Y → gônadas em fita, não produtoras de testosterona ou hormônio antimulleriano, havendo desenvolvimento de genitália feminina → lembrar que o cromossomo Y se relaciona com gonadoblastoma, um tumor de células germinativas que pode apresentar como percursos de outros tumores, como disgerminoma, logo, a conduta é gonadectomia profilática. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 9 Cariótipo 45X0 ou mosaicos e Útero Presente: é a Síndrome de Turner: apesar dos estigmas, o desenvolvimento embriológico é totalmente feminino, com genitália externa feminina e útero, trompas e vaginas infantilizados, pela deficiência primária de estrogênio → estigmas mais comuns são pescoço alado, tórax em escudo, baixa estatura, cúbito largo, hipertelorismo mamário, implantação baixa dos cabelos, palato arqueado, quarto e quinto metacarpos cursos e nevos cutâneos → maior prevalência de HAS, DM, alterações otológicas, renais e cardiológicas → tratamento consiste na reposição hormonal com estrogênios, iniciado por volta dos 12 anos, com estradiol oral ou transdérmico, em doses crescentes, para desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários → ao se observar sangramento genital ou crescimento uterino ao USG, acrescentar progestágeno como proteção endometrial → indicação de fertilização in vitro comorecepção de óvulos de doadora é a terapêutica reprodutiva mais recomendada. FSH Baixo - Hipogonadismo Hipogonadotrófico Provavelmente possuem uma causa central → deficiência da produção do hipotálamo ou da hipófise. Para complementar diagnóstico, recomenda-se exames de imagem (TC ou RM) que possam descartar lesões em SNC → recomendação atual é a realização de RM de sela túrcica, especialmente nos casos com alterações neurológicas, como alterações visuais e cefaleia. Testes de Estímulo: diferencia causas hipofisárias e hipotalâmicas → com administração de GnRH → se FSH e LH aumentam, indica disfunção hipotalâmica e teste positivo → se não elevar, considera teste negativo e provável causa hipofisária. Distúrbios do Hipotálamo: cita-se as deficiências isoladas das gonadotrofinas, podendo ser decorrente de causas exclusivas do SNC, em que há destruição ou inibição dos neurônios que modulam a liberação de GnRH → também existem casos de resistência hipofisária à ação do GnRH, que cursam com poucos esteroide sexuais e baixa gonadotrofinas → existe a Síndrome de Kallmann, que se associa com anosmia + amenorreia, causada por uma falha na migração de neurônios olfatórios e produtores de GnRH; tratada com estímulo ovariano com gonadotrofinas → também pode haver relação Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 10 com situações de estresse, como a relacioanda a esportes em excesso (amenorreia do atleta), estresse fisiológico, psicológico, anorexia. Distúrbios Hipofisários: tumores do SNC, que afetem a glândula em períodos pré-puberes. Acima de 15 anos Com Caracteres Sexuais Secundários e Sem Menarca Vagina Curta e Sem Útero Paciente não teve adequado desenvolvimento dos ductos de Muller. Síndrome de Mayer-Rokitansky-Kuster-Hauser (Agenesia Mulleriana): é a agenesia mulleriana completa → apresenta cariótipo 46XX → disfunção do desenvolvimento dos ductos de Muller responsáveis pela formação das tubas uterinas, útero e 2/3 superiores da vagina → há ovário, genitália externa e produção de estradiol, havendo caracteres sexuais secundários, mas sem menstruação pela ausência de útero → frequente associação com anomalias renais e das vias urinárias → no manejo, não precisam repor hormônio; há a possibilidade de fertilização in vitro com barriga de aluguel; pode ser realizadas técnicas de alargamento vaginal ou confecção de neovagina. Síndrome de Morris: há funcionalidade da gônada, mas sem receptores de androgênios → apresentam cariótipo 46XY com desenvolvimento de genitália externa feminina e ausência de genitália interna → apresentam testículos intra-abdominais produtores de testosterona → é marcante a escassez de pelos pubianos e axilares → apresentam mamas hipodesenvolvidas → também apresentaram alta estatura → os testículos devem ser excisados pelo risco de malignização, preferencialmente no período pós-puberal e realizar reposição hormonal com estradiol. Vagina de Tamanho Normal e Útero Presente Pensar em defeitos que afetam a saída da menstruação, como hímen imperfurado e septos vaginais → nesses casos, todos os componentes funcionam. Apresentação clínica variável, mas podem apresentar dor abdominal cíclica devida obstrução canalicular. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 11 Septo Vaginal Transverso: pode ou não ser obstrutivo → pode cursar com amenorreia primária, formação de hematocolpo e hematométrio, levando à dor cíclica → complementação diagnóstica com ecografia ou RM. Hímen Imperfurado: pode cursar com quadro agudo de hematocolpo e hematométrio na puberdade → podem ser evitados, quando na infância adequadamente examinada e constatada a obstrução Caracteres Sexuais Discordantes Quando identifica-se caracteres sexuais masculinos em indivíduos femininos em amenorreia primária, deve-se investigar com cariótipo, dosagem de androgênios séricos (17-OH-progeterona, testosterona total, SDHEA), além de exames de imagem da pelve para avaliar adrenal. Hiperplasia Adrenal Congênita: devido alteração na produção de glicocorticoides, podendo haver deficiência de diversas enzimas, sendo a mais comum a 21-hidroxilase → com inadequada produção de cortisol, há maior secreção de ACTH, que aumenta produção de androgênios e precursores, como 17-OH-progesterona, que levam a virilização e genitália ambígua em fetos femininos → a forma mais grave é a forma perdedora de sal (clássica), com inadequada produção de cortisol e aldosterona → a forma não clássica se manifesta mais tardiamente com sintomas de hiperandrogenismo como acne, irregularidade menstrual, infertilidade e hirsutismo, fazendo diagnóstico diferencial com SOP (dosar 17-OH progesterona) → tratamento com reposição de hormônio faltantes, especialmente glicocorticoides. Tumores Produtores de Androgênios: suprarrenais e ovarianos podem ser produtores de androgênios e causar virilização súbita → exames de imagem devem ser realizados para excluir estas etiologias Amenorreia Secundária Investigação A primeira hipótese a se pensar é gestação. Questionar sobre estresse, alterações súbitas de peso ou alimentação, atividade físicas, doenças crônicas → podem estar relacionadas com amenorreia hipotalâmica ou hipofisária. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 12 Presença de fogachos e secura vaginal se relaciona com hipoestrogenismo, especialmente quando juntos de distúrbios do sono e sintomas neurovegetativos, e podem ser decorrentes de falência ovariana prematura. Se sinais e sintomas de hiperandrogenismo (acne, hirsutismo, virilização), relacionar à anovulação hiperandrogênica característica da SOP, mas também na hiperplasia adrenal congênita na forma não clássica. A presença de secreção nas mamas é sugestiva de hiperprolactinemia. Se ausência de menstruação pós-parto, especialmente se agalactia, pode sugerir síndrome de Sheehan. Exame Físico: dados antropomórficos, como altura, peso e IMC → obesidade e desnutrição alteram o padrão menstrual significativamente → realizar a classificação nos estágios de Tanner → classificar a presença de hirsutismo, de acordo com o índice de Ferriman-Gallwey modificado. Laboratório: solicitar o FSH, dosagem de prolactina e TSH. Teste da Progesterona: progesterona VO por 7 dias e observa ocorrência de menstruação após estímulo → teste positivo se sangramento, indicando anovulação crônica, por falta apenas de progesterona, com níveis adequados de estrogênio e trato genital pérvio → principal patologia associada a positividade é SOP. Teste da Progesterona + Estrogênio: feito com estradiol VO 2mg/dia por 21 dias e depois associa-se, por mais 7 dias, progesterona, e depois retira- se ambos os hormônios → teste negativo indica alteração no trato de saída, em que há danos ao endométrio, como na Síndrome de Asherman (aderências endometriais após curetagens ou infecções) → se positivo, exclui causas uterovaginais e indica que há problema na produção de estrogênios (hipogonadismo) → prosseguir investigação com dosagem do FSH e diferenciação entre hipogonadismo hipergonadotrófico (IOP) ou hipogonadotrófico (hipotálamo hipófise). Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 13 Hiperprolactinemia A secreção de prolactina depende do estímulo inibitório da dopamina, que inibe a secreção pelo lactotrofo; assim, na sua ausência, há aumento da secreção de prolactina → também é estimulada por serotonina, TRH, estrogênios e endorfina → valor normal é 5-25 ng/dL. Etiologias: lactação, gestação, durante o sono, estimulação do mamilo; fármacos, como antagonistas dopaminérgicos (metoclopramida, domperidona), antipsicóticos (haloperidol, risperidona), tricíclicos (amitriptilina), benzodiazepínicos, opioides, metildopa, ACO; hipotireoidismo primário (TRH pode estimular prolactina); insuficiência renal ou hepática (menor depuração da prolactina); tumores do SNC (prolactinomas, craniofaringiomas de sela túrcica), idiopática. Clínica: cursa com a tríade amenorreia secundária, galactorreiae infertilidade → alguns casos podem cursar com sintomas de hipoestrogenismo → se tumores de SNC, pode haver cefaleias e alteração do campo visual. Diagnóstico: suspeita clínica + duas dosagens de prolactina elevadas (> 25) → se níveis >500 é critério diagnóstico de prolactinoma. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 14 Tratamento: instituído em pacientes sintomáticas ou inférteis → se idiopática, assintomática e sem desejo gestacional, com ciclos regulares, não necessita de tratamento → tratamento clínico medicamentoso é a terapia de escolha, mesmo em macroadenomas; realizado com cabergolina (agonista dopaminérgico) na dose incial de 0,50 mg/semana → reavaliação em 4-8 semanas → caso falha, pode ser necessário ressecção cirúrgica por via transesfenoidal ou a RT, se resistentes a cirurgia. Alterações Tireoidianas Pode ser hiper ou hipo, mas mais frequentemente associada com hipotireoidismo, devido elevação do TSH, que pode aumentar prolactina e alterar GnRH → no hipertireoidismo, há maior conversão periférica de andrógenos em estrógenos, levando a alteração na pulsatilidade do GnRH. Insuficiência Ovariana Prematura Ausência de função ovariana antes dos 40 anos de idade → cessação precoce dos ciclos menstruais e sintomas de hipoestrogenismo. A grande maioria é idiopática → possíveis causas são genética, autoimune, infecções, ambientais e iatrogênicos (QT e RT pélvica). Pode levar a amenorreia primária ou secundária, dependendo da idade em que ocorreu. Identifica-se elevação do FSH, sendo necessária duas dosagens de FSH > 25 UI/mL com intervalo do 4 semanas entre elas, para confirmar diagnóstico. Tratamento: demanda reposição hormonal instituída até idade prevista da menopausa (~50 anos), pois baixos níveis de estradiol precoces aumenta risco de osteoporose e a reposição reduz risco cardiovascular → reposição pode ser feita com ACO combinados → tratamento efetivo da infertilidade de pacientes com IOP se limita aos programas de recepção de óvulos doados. Aderências Intrauterinas Síndrome de Asherman: causada por lesões do endométrio → gestação, procedimentos intrauterinos (miomectomia, curetagem), inflamação e infecção, suturas compressivas uterinas (B-Lynch). Podem apresentar amenorreia ou hipomenorreia após um dos casos citados acima → outras queixas possíveis são alteração do padrão de Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 15 sangramento, infertilidade, dor pélvica cíclica ou dismenorreia, perda de repetição, achados incidentais na histeroscopia. Tratamento: feito com lise histeroscópica seguida de ciclo de estrogênio para estimular crescimento do tecido endometrial. Anovulação Hipotalâmica Desordem funcional do hipotálamo é a principal causa de anovulação crônica. Etiologias: estresse físico ou psicogênico; distúrbios nutricionais (perda de peso, desnutrição, restrições alimentares, anorexia); anormalidades genéticas (Síndrome de Kallmann); e as deficiências isoladas de gonadotrofinas; doenças do SNC, infecciosa, pós-traumáticas, tumorais. Diagnóstico: suspeitado a partir da identificação de algum fator de risco → prudente sempre aguardar 2 anos após a menarca para se realizar este diagnóstico, pois este é o período de imaturidade fisiológica do eixo HHO → FSH reduzido, com prolactina e TSH normais, na ausência de sinais e critérios para SOP → teste da progesterona será negativo e o teste da progesterona + estrogênio será positivo, determinando a presença de um hipogonadismo → teste do GnRH com aumento das gonadotrofinas → deve incluir um exame de SNC, como RM crânio, para rastrear tumores do SNC. Tratamento: correção dos distúrbios que estão levando aos sintomas, podendo ser necessário o auxílio de psicólogos e nutricionistas para correção de distúrbios → se desejo de gestar, pode-se induzir a ovulação com gonadotrofinas (FSH e LH). Síndrome dos Ovários Policísticos Uma das principais causas de anovulação crônica e associada com amenorreia secundária e irregularidade menstrual. Fisiopatologia Relacionada com hiperandrogenismo. A alteração dos pulsos de GnRH favorece a produção de LH em detrimento de FSH, estimulando as células da teca a converterem mais colesterol em androgênio. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 16 Há menor aromatização de androgênios, que se acumulam → somado a isso, a resistência insulínica encontrada nesses pacientes (bastante relacionada à obesidade) leva ao aumento compensatório de insulina, que também é um estímulo a produção androgênica pela teca, associado ao aumento de IGF-1, ainda reduz a produção hepática de SHBG, aumentando a biodisponibilidade androgênica. Os androgênios em excesso são convertidos em estrona nos tecidos periféricos, a qual atua no hipotálamo, alterando os pulsos de GnRH e retroalimentando o ciclo de elevação do LH. Ambiente hiperandrogênico é prejudicial ao desenvolvimento folicular, inibindo o seu ciclo e formando os microcistos, que não chegaram a ovular e formar corpos lúteos → microcistos produzem estrogênios e de inibina, que levam a inibição do FSH → assim, relação LH/FSH está aumentada, o que era, inclusive, um critério diagnóstico de SOP no passado. A produção mantida de estradiol sem oposição progesterônica pelo corpo lúteo estimula a proliferação endometrial contínua, sem haver as esporádicas privações hormonais que culminam com a menstruação, determinando os quadros de amenorreia e oligomenorreia. Sangramentos de Ruptura: endométrio exposto a estrogênios por períodos prolongados sem oposição da progesterona prolifera exageradamente até que o aporte sanguíneo não seja suficiente para supri- lo, gerando isquemia e necrose focais, expondo vasos e causando sangramentos prolongados. Endométrio estará mais espesso e mais sujeito a neoplasias, com maior prevalência de hiperplasia endometrial e câncer endometrial em pacientes com SOP sem tratamento adequado. Diagnóstico Depende de critérios clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos e segue os critérios de Rotterdam. Suspeita: irregularidades menstruais e sinais de hiperandrogenismo → alerta se identificados fatores de maior risco cardiovascular, como é o caso de pacientes obesas, dislipidêmicas e com intolerância à glicose. Critérios de Rotterdam: para fechar o diagnóstico de SOP, a paciente deve apresentar 2 dentre 3 critérios → hiperandrogenismo, policistos e/ou oligoamenorreia. Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 17 Hiperandrogenismo: presença de sinais clínicos ou laboratoriais → testosterona livre calculada é a melhor forma de identificar, mas a androstenediona ou a dehidroepiandrostenediona (DHEA) elevadas podem ser usadas como critério diagnósticos nos casos em que a testosterona esteja normal → devido a alterações na produção de SHBG, a avaliação bioquímica do hiperandrogenismo não é possível em mulheres em uso de anticoncepcionais hormonais → atentar para níveis muito elevados de androgênios e elevação progressiva, devendo sempre avaliar neoplasias ovarianas e adrenais → clinicamente, pode se expressar por sintomas dermatológicos (aumento de oleosidade, acne, hirsutismo e alopecia de padrão androgenético) → alopecia pode ser avaliada pela escala de Ludwig; hirsutismo é avaliado pela escala modificada de Ferriman-Gallwey (> 4-6 pontos indicam hirsutismo). Irregularidade Menstrual: ciclos com intervalos longos ou amenorreia (pacientes anovulatórias) → muitas vezes, menstruam apenas após o uso de progesterona ou anticoncepcionais combinados → considera-se como irregularidade menstrual: ciclos com intervalos < 21 dias ou > 35 dias, em mulheres 3 anos após a menarca; intervalos > 90 dias, um ano após a menarca; intervalos < 21 e > 45 dias, entre 1-3 anos após a menarca; amenorreia primária após os 15 anos ou 3 anos após a telarca. Ovário Policístico ao USG: simples identificação de ovários de aspecto policístico não traduz o diagnóstico de SOP, especialmente em pacientes jovens, até 8 anos após a menarca,há uma alta incidência de Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 18 ovários de aspecto multifolicular → USG deve mostrar 20 ou mais folículos de 2-9mm em pelo menos umbovário E/OU volume ovariano > 10cm³ em um dos ovários (exceto se presença de folículos dominantes > 10 mm de diâmetro médio ou corpo lúteo identificado). Após a identificação de dois ou três desses critérios, devemos lembrar que a SOP é um diagnóstico de exclusão → sempre excluir outros diagnósticos diferenciais que também estão associados à anovulações hiperandrogênicas: hipotireoidismo; hiperprolactinemia; síndrome de Cushing; hiperplasia adrenal congênita; insuficiência ovariana prematura; tumores produtores de androgênios. Avaliação Complementar Diante da suspeita de SOP, devemos pedir exames para realizar diagnóstico diferencial e avaliar o risco cardiovascular da paciente. Diagnóstico Diferencial: TSH + T4L: hipotireoidismo → prolactina: hiperprolactinemia → 17-OH-progesterona: excluir hiperplasia adrenal congênita não clássica → androgênios (testosterona total e livre, androstenediona e SDHEA): além de critérios diagnósticos, valores muito elevados podem sugerir diagnósticos diferenciais e indicar a necessidade de se procurar neoplasias ovarianas e adrenais. Avaliação Metabólica: glicemia de jejum, TOTG: avaliar a associação com diabetes ou com resistência insulínica (acantose nigricans; identificação é indicação do uso de metformina associada ao tratamento) → lipidograma: → avaliar o perfil lipídico permite rastrear a síndrome metabólica. Síndrome Metabólica: 3 de 5 critérios → (1) obesidade abdominal: cintura abdominal feminina > 88 cm e masculina> 102 cm → (2) triglicerídeos > 150 mg/dL → (3) HDL < 50 em mulheres ou < 40 em homens → (4) PAS > 130 mmHg ou PAD > 85 mmHg (ou tratamento de HAS) → (5) glicemia de jejum > 100 (ou tratamento de diabetes). Tratamento Objetivo: controlar sintomas de irregularidades menstruais, sinais de hiperandrogenismo e infertilidade, reduzindo o risco cardiovascular e o desenvolvimento de patologias como DM, HAS e hiperplasia endometrial. MEV: dieta + atividade física → perda de peso é o tratamento inicial fundamental para todas as pacientes obesas com SOP → há Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 19 diminuição da resistência insulínica, reduzindo o estímulo à produção androgênica e levando ao aumento da produção de SHBG → perda de 5- 10% do peso pode ser suficiente para restaurar os ciclos ovulatórios e retornar à regularidade menstrual → em alguns casos, pode ser necessária a implantação de medicamentos e a indicação de cirurgias. Tratamento Hormonal: ACO, com estrogênio + progesterona, são a primeira linha para o controle do hiperandrogenismo e das disfunções ovulatórias, podendo ser implantados ainda com o objetivo contraceptivo → inibe a hipersecreção de LH, reduzindo o estímulo à produção androgênica pela teca, além de aumentar a síntese hepática de SHBG, reduzindo a testosterona livre ativa circulante → essas ações podem ser potencializadas pela ação antiandrogênica de alguns progestágenos associados (ciproterona, dienogeste, clormadinona e drospirenona) → também atuam na proteção endometrial, levando à possibilidade de ciclos regulares, reduzindo o risco de desenvolvimento de hiperplasia endometrial e câncer endometrial → se contraindicação ao uso de estrogênios, pode fazer uso de progesteronas isoladas para a proteção endometrial → outra forma de proteção endometrial é por meio do uso do DIU hormonal de levonorgestrel (Mirena). Medicamentos Antiandrogênicos: se terapia com ACO não foi suficiente para o controle dos sintomas de hiperandrogenismo → espironolactona: antagonista da aldosterona que ocupa os receptores de di-hidrotestosterona nos folículos pilosos e inibe a atividade da 5-alfa redutase; pode ser aplicada como adjuvante no tratamento do hirsutismo; dose de 100-200 mg/dia, devendo-se obrigatoriamente associar um método contraceptivo eficaz devido ao seu efeito teratogênico → ciproterona: progesterona com potente ação antiandrogênica que pode ser associada ao ACO para potencializar o tratamento cosmético das pacientes com SOP; dose de 50-100 mg/dia, na primeira metade do ciclo menstrual. Metformina: usadas como adjuvantes no tratamento de SOP, sendo principalmente indicada naquelas que apresentam resistência insulínica, em associação com a indicação das MEV → podem auxiliar na indução da ovulação de pacientes resistentes aos indutores orais, sendo associada ao tratamento com clomifeno ou letrozol. Tratamentos Cosméticos: depilação e o laser podem ser indicados, bem como drogas tópicas que inibem o crescimento do pelo (cloridrato de eflornitina). Amenorreia e Síndrome dos Ovários Policísticos 20 Infertilidade: em alguns casos é necessária a indução da ovulação com medicamentos exógenos → recomendável que outras causas de infertilidade já tenham sido excluídas, como obstruções tubárias e alterações seminais e que se realize o controle da ovulação por meio da USGTV seriada → letrozol: primeira linha de tratamento para indução da ovulação em pacientes com SOP; é um inibidor da aromatase e tem uma maior probabilidade de induzir ciclos monofoliculares, com menores riscos de gestações múltiplas → Citrato de Clomifeno: droga classicamente usada para indução da ovulação → ambos devem ser usados por 5 dias, iniciando entre o 2º e o 5º dias do ciclo menstrual → se refratários a medicações orais podem necessitar do uso de gonadotrofinas para indução da ovulação.
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