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SEQUÊNCIA DIDÁTICA Samantha Carla e Igor Dessoles GÊNERO: CANÇÃO INTRODUÇÃO Escolhemos trabalhar a canção nesta turma de ensino médio, 2º Ano B, no turno noturno da E. E. Berilo Wanderley, com o principal objetivo de mostrar a existência da intertextualidade, muito frequente em todos os tipos de gêneros textuais, além de proporcionar aulas de língua portuguesa mais interativas, dinâmicas e versáteis com conteúdos que se aproximassem do uso concreto da língua na realidade cotidiana dos alunos. Dessa forma, resolvemos trazer duas canções: “Sampa”, de Caetano Veloso e “Amor pra Recomeçar”, interpretada pelo grupo Frejat. Ambas referem em suas letras outros textos. A primeira faz referência ao mito de Narciso; a segunda contém trechos do poema “Desejo” de Victor Hugo. Juntamente às canções trouxemos impressos, para que pudéssemos ler na sala de aula, o mito de Eco e Narciso, retirado do livro referência em mitologia “O Livro de Ouro da Mitologia”, de Thomas Bulfinch; bem como o poema “Desejo”, de Victor Hugo, retirado do blog “Vida em Poesia”. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO Iniciamos nossa aula com a leitura do mito de Narciso, seguida de uma pequena discussão sobre o mito: como ele surgiu, com que finalidade, deixando claro sua origem na Grécia Antiga e que a partir dele é que surgiu o conceito de narcisismo. Em seguida, tocamos a música de Caetano Veloso, interpretada por ele mesmo, chamada “Sampa”. Após a audição também demos espaço a discussão sobre a letra da canção, a melodia, o tom, e através disso relizamos a ponte entre a letra e o mito. Da mesma forma procedemos com o poema “Desejo”, de Victor Hugo. Após a leitura, ouvimos a música “Amor pra Recomeçar”, escrita e interpretada pelo grupo Frejat, seguida de discussão sobre os textos, através da qual mostramos a presença da intertextualidade entre ambos. Para finalizar, solicitamos aos alunos que escrevessem em uma folha de ofício sobre o que tínhamos falado, transcrevendo trechos em que se evidencia a intertextualidade entre os textos. Este trabalho de escrita será utilizado na avaliação de aprendizado dos alunos, além de servir como atividade de fixação do assunto. OBJETIVOS - adquirir o interesse pela leitura e escrita do gênero canção; - desenvolver o senso crítico em relação às letras das músicas; - conhecer a narrativa mitológica, tão presente e viva em nosso dia-a-dia; - despertar o interesse nos mitos originais escritos em nossa língua latina; - ampliar as competências discursivas relativas à leitura e à escrita; - perceber a presença da intertextualidade em nosso cotidiano; - refletir sobre o papel do leitor na nossa sociedade; - interpretação de textos; CONTEÚDOS - intertextualidade; - leitura de textos; - estrutura da canção; - texto narrativo; - texto poético; - coesão e coerência; - origem de palavras e expressões. ROTEIRO DE ATIVIDADES - leitura do mito “Eco e Narciso”; - audição da música “Sampa”, de Caetano Veloso; - discussão sobre mitos e intertextualidade; - leitura do poema “Desejo”, de Victor Hugo; - audição da música “Amor pra Recomeçar”, de Frejat; - discussão sobre o poema e a canção; - escrita reflexiva sobre a aula. METODOLOGIA - aula expositiva; - leitura de textos; - audição de músicas; - escrita reflexiva individual; - motivação. RECURSOS - aparelho de som; - fotocópia dos textos e canções; - folhas de ofício A4; - quadro branco e piloto. DURAÇÃO - 29/05/2014 - 2 aulas AVALIAÇÃO - No processo de avaliação foram considerados a participação dos alunos na aula e a escrita reflexiva individual. ANEXO I MITO DE NARCISO ECO e NARCISO Eco era uma bela ninfa, amante dos bosques e dos montes, onde se dedicava a distrações campestres. Era favorita de Diana e acompanhava-a em suas caçadas. Tinha um defeito, porém: falava demais e, em qualquer conversa ou discussão, queria sempre dizer a última palavra. Certo dia, Juno saiu à procura do marido, de quem desconfiava, com razão, que estivesse se divertindo entre as ninfas. Eco, com sua conversa, conseguiu entreter a deusa, até as ninfas fugirem. Percebendo isto, Juno a condenou com estas palavras: — Só conservarás o uso dessa língua com que me iludiste para uma coisa de que gostas tanto: responder. Continuarás a dizer a última palavra, mas não poderás falar em primeiro lugar. A ninfa viu Narciso, um belo jovem, que perseguia a caça na montanha. Apaixonou-se por ele e seguiu-lhe os passos. Quanto desejava dirigir-lhe a palavra, dizer-lhe frases gentis e conquistar-lhe o afeto! Isso estava fora de seu poder, contudo. Esperou, com impaciência, que ele falasse primeiro, a fim de que pudesse responder. Certo dia, o jovem, tendo se separado dos companheiros, gritou bem alto: — Há alguém aqui? — Aqui — respondeu Eco. Narciso olhou em torno e, não vendo ninguém, gritou: — Vem! — Vem! — respondeu Eco. — Por que foges de mim? — perguntou Narciso. Eco respondeu com a mesma pergunta. — Vamos nos juntar — disse o jovem. A donzela repetiu, com todo o ardor, as mesmas palavras e correu para junto de Narciso, pronta a se lançar em seus braços. — Afasta-te! — exclamou o jovem recuando. — Prefiro morrer a te deixar possuir-me. — Possuir-me — disse Eco. Mas tudo foi em vão. Narciso fugiu e ela foi esconder sua vergonha no recesso dos bosques. Daquele dia em diante, passou a viver nas cavernas e entre os rochedos das montanhas. De pesar, seu corpo definhou, até que as carnes desapareceram inteiramente. Os ossos transformaram-se em rochedos e nada mais dela restou além da voz. E, assim, ela ainda continua disposta a responder a quem quer que a chame e conserva o velho hábito de dizer a última palavra. A crueldade de Narciso nesse caso não constituiu uma exceção. Ele desprezou todas as ninfas, como havia desprezado a pobre Eco. Certo dia, uma donzela que tentara em vão atraí-lo implorou aos deuses que ele viesse algum dia a saber o que é o amor e não ser correspondido. A deusa da vingança ouviu a prece e atendeu-a. Havia uma fonte clara, cuja água parecia de prata, à qual os pastores jamais levavam rebanhos, nem as cabras monteses freqüentavam, nem qualquer um dos animais da floresta. Também não era a água enfeada por folhas ou galhos caídos das árvores; a relva crescia viçosa em torno dela, e os rochedos a abrigavam do sol. Ali chegou um dia Narciso, fatigado da caça, e sentindo muito calor e muita sede. Debruçou-se para desalterar-se, viu a própria imagem refletida na fonte e pensou que fosse algum belo espírito das águas que ali vivesse. Ficou olhando com admiração para os olhos brilhantes, para os cabelos anelados como os de Baco ou de Apolo, o rosto oval, o pescoço de marfim, os lábios entreabertos e o aspecto saudável e animado do conjunto. Apaixonou-se por si mesmo. Baixou os lábios, para dar um beijo e mergulhou os braços na água para abraçar a bela imagem. Esta fugiu com o contato, mas voltou um momento depois, renovando a fascinação. Narciso não pôde mais conter-se. Esqueceu-se de todo da idéia de alimento ou repouso, enquanto se debruçava sobre a fonte, para contemplar a própria imagem. — Por que me desprezas, belo ser? — perguntou ao suposto espírito — Meu rosto não pode causar-te repugnância. As ninfas me amam e tu mesmo não pareces olhar-me com indiferença. Quando estendendo os braços, fazes o mesmo, e sorris quando te sorrio, e respondes com acenos aos meus acenos. Suas lágrimas caíram na água, turbando a imagem. E, ao vê-la partir, Narciso exclamou: — Fica, peço-te! Deixa-me, pelo menos, olhar-te, já que não posso tocar-te. Com estas palavras, e muitas outras semelhantes, atiçava a chama que o consumia, e, assim, pouco a pouco, foi perdendo as cores, o vigor e a beleza, que antes tanto encantara a ninfa Eco. Esta se mantinha perto dele, contudo, e, quandoNarciso gritava: "Ai, ai", ela respondia com as mesmas palavras. O jovem, depauperado, morreu. E, quando sua sombra atravessou o rio Estige, debruçou-se sobre o barco, para avistar-se na água. As ninfas o choraram, especialmente as ninfas da água. E, quando esmurravam o peito, Eco fazia o mesmo. Prepararam uma pira funerária, e teriam cremado o corpo, se o tivessem encontrado; em seu lugar, porém, só foi achada uma flor, roxa, rodeada de folhas brancas, que tem o nome e conserva a memória de Narciso. Referência: BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia – Histórias de Deuses e Heróis. Ed. Ediouro. Rio de Janeiro, 2001. Pags. 123-125. ANEXO II POEMA DE VICTOR HUGO DESEJO Desejo primeiro que você ame, E que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer. E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim, Mas se for, saiba ser sem desesperar. Desejo também que tenha amigos, Que mesmo maus e inconseqüentes, Sejam corajosos e fiéis, E que pelo menos num deles Você possa confiar sem duvidar. E porque a vida é assim, Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos, Mas na medida exata para que, algumas vezes, Você se interpele a respeito De suas próprias certezas. E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, Para que você não se sinta demasiado seguro. Desejo depois que você seja útil, Mas não insubstituível. E que nos maus momentos, Quando não restar mais nada, Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé. Desejo ainda que você seja tolerante, Não com os que erram pouco, porque isso é fácil, Mas com os que erram muito e irremediavelmente, E que fazendo bom uso dessa tolerância, Você sirva de exemplo aos outros. Desejo que você, sendo jovem, Não amadureça depressa demais, E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer E que sendo velho, não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e É preciso deixar que eles escorram por entre nós. Desejo por sinal que você seja triste, Não o ano todo, mas apenas um dia. Mas que nesse dia descubra Que o riso diário é bom, O riso habitual é insosso e o riso constante é insano. Desejo que você descubra, Com o máximo de urgência, Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta. Desejo ainda que você afague um gato, Alimente um cuco e ouça o joão-de- barro Erguer triunfante o seu canto matinal Porque, assim, você se sentirá bem por nada. Desejo também que você plante uma semente, Por mais minúscula que seja, E acompanhe o seu crescimento, Para que você saiba de quantas Muitas vidas é feita uma árvore. Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, Porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano Coloque um pouco dele Na sua frente e diga "Isso é meu", Só para que fique bem claro quem é o dono de quem. Desejo também que nenhum de seus afetos morra, Por ele e por você, Mas que se morrer, você possa chorar Sem se lamentar e sofrer sem se culpar. Desejo por fim que você sendo homem, Tenha uma boa mulher, E que sendo mulher, Tenha um bom homem E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes, E quando estiverem exaustos e sorridentes, Ainda haja amor para recomeçar. E se tudo isso acontecer, Não tenho mais nada a te desejar. Disponível em: http://www.vidaempoesia.com.br/victorhugo .htm Acesso em: 28/05/2014. http://www.vidaempoesia.com.br/victorhugo.htm http://www.vidaempoesia.com.br/victorhugo.htm ANEXO III LETRA DA CANÇÃO “SAMPA” SAMPA Caetano Veloso Alguma coisa acontece no meu coração Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi Da dura poesia concreta de tuas esquinas Da deselegância discreta de tuas meninas Ainda não havia para mim, Rita Lee A tua mais completa tradução Alguma coisa acontece no meu coração Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto É que Narciso acha feio o que não é espelho E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho Nada do que não era antes quando não somos Mutantes E foste um difícil começo Afasta o que não conheço E quem vem de outro sonho feliz de cidade Aprende depressa a chamar-te de realidade Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas Da força da grana que ergue e destrói coisas belas Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba Mais possível novo quilombo de Zumbi E os Novos Baianos passeiam na tua garoa E novos baianos te podem curtir numa boa Disponível em: http://letras.mus.br/caetano-veloso/41670/ Acesso em: 28/05/2014. http://letras.mus.br/caetano-veloso/41670/ ANEXO IV LETRA DA CANÇÃO “AMOR PRA RECOMEÇAR” Amor pra Recomeçar Frejat Eu te desejo Não parar tão cedo Pois toda idade tem Prazer e medo E com os que erram Feio e bastante Que você consiga Ser tolerante Quando você ficar triste Que seja por um dia E não o ano inteiro E que você descubra Que rir é bom Mas que rir de tudo É desespero Desejo Que você tenha a quem amar E quando estiver bem cansado Ainda exista amor Pra recomeçar Pra recomeçar Eu te desejo muitos amigos Mas que em um Você possa confiar E que tenha até Inimigos Pra você não deixar De duvidar Quando você ficar triste Que seja por um dia E não o ano inteiro E que você descubra Que rir é bom Mas que rir de tudo É desespero Desejo Que você tenha a quem amar E quando estiver bem cansado Ainda exista amor Pra recomeçar Pra recomeçar Eu desejo Que você ganhe dinheiro Pois é preciso Viver também E que você diga a ele Pelo menos uma vez Quem é mesmo O dono de quem Desejo Que você tenha a quem amar E quando estiver bem cansado Ainda exista amor Pra recomeçar Eu desejo Que você tenha a quem amar E quando estiver bem cansado Ainda, exista amor Pra recomeçar Pra recomeçar Pra recomeçar Disponível em: http://letras.mus.br/frejat/46044/ Acesso em: 27/05/2014 http://letras.mus.br/frejat/46044/
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