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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DO CERES DISCENTE: MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA DE MEDEIROS MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA DE MEDEIROS CRIANÇAS COM TDAH: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS CAICÓ/RN 2022 MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA DE MEDEIROS CRIANÇAS COM TDAH: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS Trabalho Monográfico apresentado como requisito de integralização do Componente Curricular Monografia II. Orientador (a): Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Vieira de Melo. CAICÓ-RN 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Profª. Maria Lúcia da Costa Bezerra - -CERES- – Caicó Medeiros, Maria da Conceicao Ferreira de. Crianças com TDAH: Práticas Pedagógicas Inclusivas / Maria da Conceicao Ferreira de Medeiros. - Caicó, 2022. 63f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Pedagogia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ensino Superior do Seridó. Departamento de Educação. Orientador: Profa. Dra. Maria Aparecida Vieira de Melo. 1. Educação inclusiva. 2. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH. 3. Práticas pedagógicas. I. Melo, Maria Aparecida Vieira de. II. Título. RN/UF/BS-Caicó CDU 376 Elaborado por GIULIANNE MONTEIRO PEREIRA - CRB-15/714 Este trabalho é dedicado a... MARIA DA CONCEIÇÃO FERREIRA DE MEDEIROS CRIANÇAS COM TDAH: PRÁTICAS PEDAGÓGICAS INCLUSIVAS Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro Superior de Ensino do Seridó, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito final de conclusão de curso. Aprovada em: 24/02/2022. BANCA EXAMINADORA _________________________________________ Prof. Dra. Maria Aparecida Vieira de Melo (Orientadora) Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) _________________________________________ Prof. Dra. Ângela Maria Chuvas Naschold Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) _________________________________________ Prof. Ma. Maria Aparecida Cruz Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradeço a Deus por ter me dado forças e sabedoria para vencer as dificuldades e desafios que foram surgindo ao longo desses anos de faculdade, e não foram poucos! Gratidão ao senhor meu Deus. Agradeço a minha mãe Maria Do Céu Djalma Ferreira, mulher forte, guerreira e de muita fé, mesmo ela passando por tantas aprovações nunca perdeu a esperança por dias melhores demonstrando uma fé inabalável, de bastante representatividade na minha vida (sua história de vida é muito linda que vai além da minha imaginação), com quem sempre pude contar, como amiga confidente e companheira de todos os momentos da minha vida, sempre me dando força, conselhos e acreditando no meu potencial. Ah, mãe como eu te amo. Agradeço ao meu pai José Djalma Sobrinho (in memoriam) pelos valores que ele me ensinou enquanto esteve comigo nesse plano terrestre. Meu pai sem saber foi a primeira pessoa que me ensinou a empatia, lembro me quando o acompanhava ao hospital para consultas e posteriormente uma cirurgia e colocada de uma ileostomia, (pois o mesmo tinha câncer no colorretal em metástases para o fígado), bastava um olhar e eu entendia que o mesmo queria que eu ajudasse as pessoas que não tinham companhia, ele sentia a dor do outro, mesmo ele estando tão doente, ainda sim pensava e se colocava no lugar do outro. Meu pai faleceu uma semana após o meu ingresso no curso de pedagogia, seus ensinamentos ficarão guardados eternamente na minha memória e no meu coração, de um homem honesto, bondoso de sorriso largo e de uma gargalhada gostosa de se ouvir da qual eu sinto tanta saudade, pai o senhor não está fisicamente presente neste momento tão importante, mas onde estiver sei que está orgulhoso e feliz por mim, “feliz” foi uma das últimas palavras que eu o ouvi falar, “seja feliz minha filha”. Pai, te amarei para sempre. Quero agradecer ao meu companheiro, amigo e esposo João Paulo da Silva, pelo apoio, por tentar me compreender nos momentos difíceis, por sempre tentar trazer uma palavra de conforto quando preciso, nos conhecemos no início do curso e estamos juntos nos apoiando e nos fortalecendo a cada dia, eu te amo. A minha filha Paola Ricely Ferreira da Silva, minha razão de viver e de querer lutar todos os dias pelo nosso bem-estar, a quem eu quero ensinar os verdadeiros valores da vida, filha você veio em um momento oportuno, meu presente de Deus, te amo minha menina linda, bem aqui no meu coração. Agradeço aos meus amigos e amigas de curso, em especial Luciene Raissa da Silva Ferreira, Renan Cirne Chianca, Diego Meneses de França, Maria Lúcia dos Santos, Giselly Costa Santos e aos demais colegas por nunca soltarem a minha mão ao longo dessa jornada acadêmica. Agradeço aos meus professores pelos conhecimentos adquiridos e construídos dia após dia nessa jornada instigante, desgastante, porém gratificante na busca por uma educação para todos, em todos os âmbitos sociais. A todos que fazem parte da UFRN, o meu muito obrigada. Em especial ao professor Alessandro Augusto de Barros Façanha, pois foi em uma disciplina ministrada pelo mesmo, que pude compreender o quão capaz eu sou de concretizar os meus objetivos, depois de uma atividade em que a grande maioria não teve êxito (infelizmente), e uma pequena minoria conseguiram atingir as expectativas do professor e para a minha surpresa e alegria, fazia parte dessa minoria, nunca vou esquecer daquele acontecimento que foi um divisor de águas que me impulsionou até aqui, o meu muito obrigada. Agradeço a minha orientadora Drª: Maria Aparecida Vieira de Melo, pelas orientações sempre precisa. Obrigada pelos incentivos, dedicação, compreensão e apoio, em todos os momentos. Muito obrigada! Por fim quero e preciso agradecer aqueles que duvidaram do meu potencial, pois contribuíram para o meu crescimento, me mantendo focada no meu propósito que é, concluir o curso com discernimento, com amor, sabedoria, sobretudo com uma imensa bagagem de conhecimentos que foram construídos durante esses 5 anos de faculdade. Obrigada! RESUMO Os sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH foram associados à Lesão Cerebral Mínima – LCM durante a década de 1940 e, em 1960 foi associado à Disfunção Cerebral Mínima - DCM. O TDAH é um transtorno neurobiológico, se caracterizando por meio de sinais e sintomas de hiperatividade, impulsividade e desatenção. A pesquisa de natureza qualitativa aborda o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), a qual tem como objetivo geral analisar o discurso dos professores da rede municipal da cidade de Caicó-RN sobre as práticas pedagógicas inclusivas, especificamente a pesquisa visa analisar o processo de educação inclusiva no Brasil e as pesquisas sobre o TDAH. Vale ressaltar que, após a pesquisa ser desenvolvida e analisada, foi possível alcançar o objetivo geral supramencionado, assim como os específicos. Palavras-chave: Educação Inclusiva. TDAH. Prática Pedagógica. ABSTRACT The symptoms of Attention Deficit Hyperactivity Disorder - ADHD were associated with Minimal Brain Injury - MCL during the 1940s, and in 1960 it was associated with Minimal Brain Dysfunction - MCD. ADHD is a neurobiologicaldisorder, characterized by signs and symptoms of hyperactivity, impulsivity and inattention. The qualitative research addresses Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), which has the general objective of analyzing the discourse of teachers from the municipal network of the city of Caicó-RN about inclusive pedagogical practices, specifically the research aims to analyze the inclusive education process in Brazil and research on ADHD. It is worth mentioning that, after the research was developed and analyzed, it was possible to achieve the general objective mentioned above, as well as the specific ones. Keywords: ADHD. Students. Caico. Field research. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E PRÁTICAS .................................................................. 12 3 O PROCESSO INCLUSIVO E O TDAH: ESTADO DA ARTE ................................ 25 4 CARACTERÍSTICAS DO TDAH E O PROCESSO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO .................................................................................................... 39 4.1 O PAPEL DA ESCOLA NO PROCESSO DE PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE ESTUDANTES COM TDAH .............................................................. 41 5 METODOLOGIA ....................................................................................................... 45 6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................. 46 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 54 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 55 10 1 INTRODUÇÃO De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais em sua 5ª edição – DSM-5 (APA, 2014), manual concebido e publicado pela Associação Americana de Psiquiatria, o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) compõe o grupo de Transtornos do Neurodesenvolvimento e tem como característica principal um padrão constante de déficit de atenção/hiperatividade-impulsividade que afeta o funcionamento ou o desenvolvimento. A desatenção se revela através da divagação em atividades, não continuidade das tarefas, dificuldade de manter o foco e de se organizar. A hiperatividade está relacionada à atividade motora em excesso de forma desapropriada ou “remexer, batucar ou conversar em excesso”. Quando as ações são precipitadas e ocorrem sem programação, trata-se de impulsividade. Em outubro de 2017 esse manual sofre nova revisão, conhecida como DSM-5 UPDATE (APA, 2017), com atualização e publicação de novas diretrizes diagnósticas, tornando mais fácil o diagnóstico em adultos por quebrar a barreira da idade. Para uma criança ser diagnosticada com TDAH ela precisa apresentar 06 sintomas de desatenção e/ou 06 sintomas de hiperatividade-impulsividade (critério A); em adultos esse número cai para 05 sintomas. Estes sintomas devem estar presentes há pelo menos 06 meses. Os quadros de TDAH devem se manifestar antes dos 12 anos de idade (critério B) e se manifestar em pelo menos duas áreas diferentes da vida do portador, casa e escola, por exemplo (critério C); comprometendo de forma clara o desempenho de diferentes áreas: acadêmica, social, profissional, etc. (critério D) e podendo estar associado ou não a outros transtornos (critério E). Esses quadros podem se apresentar com predomínio da desatenção, da hiperatividade-impulsividade ou de forma combinada, podendo ser classificados em graus leve, moderado ou grave. Na classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10, esse tipo de transtorno é denominado como Transtornos Hipercinéticos – sob o código F90 que integra o grupo de transtornos emocionais e de comportamento com início usualmente ocorrendo na infância e adolescência. Esse grupo de transtorno tem as seguintes características: Início precoce; uma combinação de um comportamento hiperativo e pobremente modulado com desatenção marcante e falta de envolvimento 11 persistente nas tarefas e conduta invasiva nas situações e persistência no tempo dessas características de comportamento (APA, 2017). Pesquisas nacionais e internacionais indicam que, em média, 3% a 6% das crianças em idade escolar são diagnosticadas com TDAH (Rohde & Benczick, 1999; Rohde, Barbosa, Tramontina & Polanczyk, 2000; Barkley, 2002; Rohde & Halpern, 2004), situação que causa um impacto importante na sociedade, considerando o alto custo financeiro, o estresse que se forma nas famílias, o prejuízo que o estudante tem nas atividades acadêmicas e vocacionais, nos relacionamentos familiar e social, além de afetar a autoestima deles (Rohde & Benczik, 1999; Rohde et al., 2000). A pesquisa visa especificamente: identificar o discurso jurídico sobre a educação inclusiva; descrever os aspectos sintomáticos do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) que implicam na aprendizagem e explicitar os discursos dos professores da rede municipal de Caicó-RN sobre as práticas pedagógicas inclusivas. Nessa perspectiva, é importante destacar que o processo será desenvolvido, inicialmente, por uma pesquisa bibliográfica. O problema da pesquisa é: como acontece o processo pedagógico inclusivo de crianças com TDAH? Justifica-se que a escolha pelo tema se deu a partir de questionamentos, frente as análises obtidas durante uma observação em uma escola municipal da cidade de Caicó/RN, momento em que observei uma criança que era desatenta, pois, não prestava atenção na aula, ficava o tempo todo colocando a cabeça dentro da mochila. No entanto, percebi que a professora já não fazia mais nada, era como se aquela criança não existisse, ou até mesmo, como se nada pudesse ser feito. Durante o intervalo, as crianças haviam saído para a recreação, aproveitei o momento a sós com a professora e a indaguei, sobre aquela criança, obtendo como resposta com muita convicção de “que aquela criança era repetente, de uma família desestabilizada e que fazia uns três anos que ele não passava de ano” (Sic), mas não havia um diagnóstico concreto do que realmente aquela criança tinha. Aquele discurso e tudo que presenciei, fez brotar em mim o interesse pelo TDAH, me questionando sobre o que era? Como diagnosticar? Assim como, as práticas pedagógicas que auxiliassem na inclusão dos estudantes com TDAH, a necessidade da formação profissional de qualidade e continuada que buscasse atender aos estudantes com necessidades educacionais especiais, contribuindo para uma Educação Inclusiva. Razão que suscitou o interesse pelo objeto de investigação: TDAH. 12 A educação para se tornar inclusiva vai depender de alguns fatores que são essenciais, como métodos de ensino que visem atender as necessidades dos estudantes, independentemente das dificuldades que eles venham apresentar ao longo do seu processo escolar, sobretudo, vale salientar que a escola precisa ser inclusiva, e para tal é necessário incluir os estudantes no contexto escolar, e buscar compreender que os estudantes irão desenvolver suas habilidades de uma forma diferente dos demais. Daí surgiram os meus questionamentos sobre alguns assuntos que são relevantes para uma educação de qualidade e inclusiva. Surgiu a necessidade de uma pesquisa sobre o TDAH (Transtorno do Déficit de atenção com Hiperatividade), o que é? Os sinais e o que esse transtorno pode acarretar a aprendizagem dos estudantes que possuem esse transtorno? Assim como, a formação profissional continuada pautada na Educação Inclusiva e sobre as práticas pedagógicas, para a promoção da educação inclusiva. Nessa perspectiva é importante destacar que a pesquisa é iniciada a partirde um aporte teórico e, logo em seguida, é iniciada a pesquisa de campo e a associação entre teoria e prática. 2 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E PRÁTICAS Na interpretação de Araripe (2012), a questão da inclusão escolar pode ser vista como um fenômeno relativamente recente, mas que ao mesmo tempo se caracteriza como confuso. A razão para esta afirmação está no fato de que nunca foi tão necessário para a escola perceber as necessidades de seus alunos, em especial aqueles que apresentam sintomas de TDAH. Todavia, concomitante a isto, a confusão a qual Araripe (2012) se refere está na banalização da forma com que não somente o TDAH assim como outras situações são gerenciadas pelas instituições escolares. Esta banalização pode ser explicada pelo seguinte fato: nem todas as escolas, independentemente do nível em que atuam estão preparadas para dar a atenção especial requerida pelo aluno com TDAH. Tal situação sugestiona que haja um nível maior de informação sobre a questão da inclusão escolar para que a partir daí possam surgir práticas assertivas que de fato incluam todos os alunos nos processos de ensino e aprendizagem. 13 É por esta razão que é apropriado dizer que a questão da inclusão escolar representa uma quebra de paradigmas no contexto educacional. Isto acontece porque os ajustes que se fazem necessários para que as instituições escolares se adaptem para receber alunos portadores dos chamados Distúrbios Globais de Desenvolvimento (DGD) exigem o repensar seguido do desuso de padrões até então cristalizados no ambiente escolar. Isto abarca principalmente as práticas educativas que são dirigidas para estes alunos especiais (Salgado, 2011). Com isso, pode-se dizer que a inclusão escolar não pode ser vista apenas como uma necessidade de se adequar a um determinado padrão, devendo estar atrelada ao planejamento e a cultura da instituição escolar, não importando em qual nível educacional ela atue (educação básica, ensino médio, ensino superior, dentre outros). A prática da chamada educação inclusiva é reconhecida como a forma mais eficaz de fazer com que o estudante possa potencializar o seu aprendizado. Isto abarca a existência do apoio pedagógico necessário para que este a assimilação de conteúdos por parte dos alunos que apresentam dificuldade de aprendizado ou concentração (no caso específico de alunos com TDAH). Todavia, a operacionalização da educação inclusiva não é tarefa das mais fáceis, por conta da existência de barreiras culturais que ainda existem nas escolas (Rosa & Lima, 2021). Neste sentido, é acertado dizer que a prática da educação inclusiva deve ser precedida por um exercício de autoavaliação das instituições escolares com vistas a conhecer quais são os pontos que carecem de reforço e por isso mesmo precisam ser retificados. Dentre os óbices que podem impactar negativamente o processo de inclusão escolar, pode-se destacar: a) atitudes de preconceito com os alunos especiais; b) barreiras atitudinais, e; c) formação de professores deficitária (Bazon, 2009). A questão atinente tanto ao preconceito como também das barreiras atitudinais pode ser vista como falta de empatia, seja por parte dos docentes e demais profissionais de educação, seja pela falta de compreensão e respeito dos colegas de classe. Isto corrobora com o que fora visto em Araripe (2012) e Salgado (2011): mesmo sendo reconhecida a necessidade das escolas se tornarem mais inclusivas, ainda há obstáculos, a maioria deles de ordem cultural que necessitam ser suplantados para a acolhida de alunos não só com TDAH, mas demais Distúrbios Globais do Desenvolvimento – DGD. 14 No que se refere a questão da formação de professores trazida na fala de Bazon (2009), pode-se dizer que esta é uma das principais lacunas a serem trabalhadas pelas instituições escolares. Nem todos os processos de formação abarcam a questão da educação inclusiva em sua programação de conteúdo. O que se vê na maioria das vezes é a explanação de temáticas pouco conexas com a realidade da sala de aula. O resultado disso é a formação de docentes aptos a desenvolverem sua função consoante os moldes do ensino tradicional (Saviani, 2009). É daí que decorre a dificuldade de muitos professores em saber lidar adequadamente com alunos portadores de TDAH. Eles apresentam um ritmo de aprendizagem que é naturalmente diferente dos demais estudantes vistos como normais. Daí a necessidade de se adota práticas educativas que sejam conexas com as necessidades deste tipo específico de estudantes (Salgado, 2011). Esta questão da preparação adequada de professores e demais profissionais da educação para o atendimento dos alunos portadores de necessidades educativas especiais é plenamente justificável. Os pais destes alunos consideram que o tempo passado por estes estudantes na escola é deveras precioso. (Rosa & Lima, 2021). A inexistência de uma formação que possa subsidiar os professores no saber lidar com estes estudantes pode resultar não apenas em um desperdício do tempo em que o aluno se encontra nas dependências da escola como também pode desencadear uma sensação de desconforto neste discentes. Isto pode decorrer da falta de atenção por parte do docente, o qual ao não saber lidar de forma correta com alunos portadores de necessidades educativas especiais prefere relegar este estudante a um segundo plano, tornando a sua experiência de aprendizagem negativa e frustrada. Um dos elementos fundamentais para que a inclusão escolar possa surtir os efeitos esperados é a interação entre a escola e a família. Isto é corroborado pelo estudo de Bazon (2009), o qual fez um levantamento junto a quatro famílias, onde cada uma delas tinha um aluno deficiente visual. Dentre os resultados da pesquisa empreendida pode-se destacar que a interface entre as famílias e a coordenação pedagógica da escola onde o estudo aconteceu favoreceu bastante o processo de inclusão escolar dos alunos. O esforço mútuo tanto dos pais como também dos profissionais da escola permitiu que os pontos onde a inclusão escolar carecia de melhorias fossem aprimorados, facilitando assim o sentimento de pertença destes alunos nos processos de ensino e aprendizagem (Bazon, 2009). 15 Pode-se inferir que a inclusão escolar é um objetivo cujo cumprimento não depende exclusivamente da escola, tendo na família dos alunos um de seus principais pilares. O papel da família neste processo pode ser explanado da seguinte forma: o aluno portador de necessidades educativas especiais vê na família a sua primeira experiência social. Já a escola representa o espaço onde o sujeito deverá cumprir sua trajetória de formação, com vistas ao exercício de sua cidadania. É necessário que a escola se mostre disposta a ouvir os familiares destes alunos, posto que ninguém melhor do que eles para orientar e dar um feedback consistente a respeito de como lidar de maneira diligente com estes estudantes (Rosa & Lima, 2021). De posse desta informação, compreende-se que o binômio família-escola se faz necessário para que não somente as barreiras culturais e atitudinais em relação ao tratamento dado a estes discentes sejam suplantadas como também a dinâmica de aprendizagem destinada a estes alunos seja a mais assertiva possível, posto que isto é condição sine qua non para que haja progresso em seu itinerário de formação. Estes aspectos até o momento vistos nesta parte do estudo se mostram conexos com o estudo de Ávila, Tachibana & Vaisberg (2008), o qual menciona que um dos assuntos mais debatidos nas pesquisas feitas na seara da inclusão escolar é o que diz respeito a dificuldade de operacionalizar a inclusão de um aluno portador de necessidades especiais no chamado ensino regular. Dentre as dificuldades que são intrínsecas a este processo, está o fato deste aluno coexistir na mesma sala de aula com outros colegas de turma vistos como normais.Este é um dos fatores que origina a existência de barreiras culturais e atitudinais, conforme visto em Salgado (2011). Apesar de a Constituição Federal (1998) e demais legislações pertinentes assegurarem o acesso a educação como direito a ser usufruído por todos, é mister afirmar que a sociedade como um todo não está preparada para conviver com sujeitos vistos como diferentes. Não basta somente assegurar o acesso dos portadores de necessidades especiais, ou, no caso dos alunos com TDAH, portadores de necessidades educativas especiais a educação. Além desta questão da universalização do acesso, há de se pensar na acolhida destes alunos de forma amistosa, evitando possíveis episódios de discriminação e preconceito (Rosa & Lima, 2021). Sendo um dos papéis da escola o de formar cidadãos aptos a colabora com a sociedade, nada mais oportuno que exercitar no ambiente escolar questões como empatia, respeito ao próximo e solidariedade com estes alunos. Muito mais que um 16 espaço destinado para a formação de pessoas, a escola deve ser vista como um local que reconhece e respeita a existência da diversidade. Reitera-se que além da questão do acesso, é necessário que as instituições escolares de modo geral desenvolvam políticas e estratégias de aprendizagem que se notabilizem pela assertividade, reconhecendo a condição especial que os alunos portadores de necessidades especiais possuem. Esta escolarização não pode ser feita sem um planejamento adequado, posto que o resultado esperado com a sua prática é o desenvolvimento global do aluno (Antunes, 2012). Considera-se que o papel da inclusão não se limita apenas a garantir que um aluno especial ou deficiente consiga uma vaga no ensino regular. Há toda uma preparação que se faz necessária para receber este aluno com vistas a potencializar seus aspectos cognitivos (Salgado, 2011). Embora se reconheça a inegável significância da inclusão escolar, a sua prática exige que aspectos relevantes sejam levados a bom termo pelas instituições escolares. Esta questão é reconhecida no Parecer n° 17/01, emitido pelo Conselho Nacional de Educação (Brasil, 2001). Conforme o teor deste documento, a questão da inclusão escolar de alunos com necessidades especiais não se limita apenas ao campo da sua matrícula e acesso ao sistema educacional. Esta é apenas a parte inicial da inclusão. A escola necessita se organizar para poder ser vista como inclusiva. Neste sentido, o professor necessita ter o suporte necessário para que a sua ação pedagógica junto a estes alunos diferenciados seja assertiva e profícua (Brasil, 2001). Este registro presente neste parecer é oportuno, pois demonstra que no campo decisório da educação nacional há o reconhecimento de que a educação inclusiva não pode ser feita de maneira improvisada, sem o devido suporte para os professores. Apesar desta orientação existente em documento de órgão ligado a educação no Brasil, é oportuno destacar que mesmo reconhecendo a relevância de se prestar um atendimento adequado aos alunos portadores de necessidades educacionais especiais, ainda há docentes que não se sentem seguros o suficiente para lidar com esta questão da diversidade. Pode-se inferir que esta insegurança está atrelada a falta de uma formação que possa servir como referência para a atuação destes profissionais frente as demandas dos alunos portadores de necessidades especiais (Cruz, El Tassa & Scneckenberg, 2014). É conveniente reforçar esta questão da 17 formação de professores, a qual é uma das lacunas existentes no que se refere ao lidar dos professores com alunos especiais. É oportuno reconhecer que a função precípua da formação de professores é fazer com que estes profissionais se tornem aptos a ensinar com precisão os assuntos referentes ao seu campo de atuação (Cruz et al., 2014). Ocorre que a maioria dos currículos, seja de formação inicial ou continuada focaliza apenas este objetivo macro, não havendo espaço para o debate de temas igualmente relevantes, como, por exemplo, a educação inclusiva. Assim, um profissional formado em Biologia saberá, por exemplo, explicar sobre como é a estrutura de uma célula e demais temas pertinentes ao mundo biológico. O professor formado em Matemática certamente saberá explicar sobre raiz quadrada, geometria e outros temas afetos ao seu campo de docência. Todavia, a explanação destes assuntos para alunos portadores de necessidades especiais se mostra deficitária, posto que isto não fora visto na academia. Além da figura do professor já mencionada neste estudo, há de se considerar também o papel do gestor escolar no que se refere ao esforço de tornar viável a questão da inclusão escolar no espaço pedagógico que está sob sua liderança (Rosa & Meneses, 2020). Espera-se deste gestor não somente o reconhecimento da necessidade de planejar iniciativas focalizadas para a consolidação de práticas educativas inclusivas como também o exercício da autoavaliação do espaço escolar. Esta autoavaliação se faz necessária para que o gestor visualize em quais pontos a sua instituição se mostra deficitária no que tange ao atendimento de alunos portadores de necessidades educativas especiais, no caso específico dos estudantes portadores de TDAH. A abordagem da questão da inclusão nos espaços educativos está atrelada a seguinte ideia: compete a escola reconhecer a existência da diversidade, a qual tem nos alunos portadores de TDAH e demais Distúrbios Globais de Desenvolvimento – DDG alguns de seus representantes. Além disso, a educação inclusiva possui como sustentáculo a ideia do reconhecimento da singularidade de todos os alunos. Porém, mesmo sendo diferentes entre si, todos devem ter acesso ao conhecimento nos espaços escolares (Cruz, 2018). Este caráter individual se mostra visível não apenas na questão do ritmo de aprendizagem e assimilação das temáticas debatidas em sala, mas também no próprio comportamento dos estudantes. Reitera-se aqui o papel do 18 docente no que se refere ao saber lidar de forma adequada com cada estudante, em especial aqueles que por algum motivo demonstram dificuldade de aprendizagem ou concentração, assim como acontece com os alunos portadores de TDAH. A título de informação e com vistas aplicar a nomenclatura correta para se referir aos portadores de TDAH, é oportuno ver a diferenciação entre os termos Alunos com Deficiência; Alunos com Transtornos Globais e Alunos com Altas Habilidades/Superdotação, conforme exposto no Quadro 1. Quadro 1: Público-alvo do Apoio Educacional Especializado (AEE) Termo Descrição Alunos com Deficiência Aqueles que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual, mental ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento Aqueles que apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor, comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndromes de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância (psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação. Alunos com altas habilidades/superdotação Aqueles que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou 19 combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotora, artes ou criatividade. Fonte: Cruz (2018), com base em Brasil (2009). Seja com vistas para o atendimento de alunos com deficiência, alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento – DDG ou ainda estudantes superdotados, é necessário que a instituição escolar potencialize o seu lado pedagógico, o qual é abarcado pelas práticas educativas deseus docentes para desenvolver de maneira integral este público-alvo do chamado Apoio Educacional Especializado (AEE). Tratar a temática da inclusão é reconhecer as diferenças existentes e, através da educação, propiciar a estes alunos o acesso ao conhecimento e, por conseguinte, a cidadania (Cruz, 2018). Esta potencialização dos aspectos pedagógicos no contexto da inclusão escolar abrange uma ressignificação das práticas pedagógicas realizadas por docentes na sala de aula (Cruz et al., 2014). O uso do termo “ressignificação” nesta conceituação é oportuno, posto que as práticas convencionais de planejamento, ministração e avaliação de aulas por vezes não considera a possibilidade de algum aluno com deficiência ou dificuldade de concentração estar ali na turma ansiando para aprender os conteúdos. Neste bojo, ressignificar significa fazer uma reengenharia no modo como a educação é vista e praticada nos meandros da escola. Zabala (1998) menciona que a função social da escola é a de formar cidadãos, mas que tal tarefa não é fácil, dada a complexidade que o ato de ensinar possui. Assim, a prática da educação inclusiva é um desafio permanente, o qual exige o compromisso de todos os envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem. Quando se faz referência neste estudo a necessidade de todos estarem imbuídos em fazer o seu melhor em prol de uma educação realmente inclusiva, é porque a própria literatura científica pertinente a esta temática aponta diversas lacunas a serem preenchidas. A primeira delas é a falta de comunicação entre a rede de educação e a unidade escolar. Quando um aluno especial ou deficiente é matriculado, ao invés de se proceder com os trâmites necessários para recebe este 20 aluno, a tendência na maioria das escolas é enxergar este estudante como um problema a mais para ser administrado (Carneiro & Uehara). A partir daí, outros pontos deficitários se mostram visíveis. Como a sua formação inicial não teve uma disciplina voltada para ao menos explicar noções básicas sobre educação inclusiva, os docentes se veem sem saber de que forma atender adequadamente aos alunos tidos como especiais. Além disso, aspectos estruturais e pedagógicos se mostram deficitários para que a acolhida a estes alunos seja adequada. Tal cenário faz com que a prática da educação inclusiva necessite ser integrada ao planejamento da escola, sem necessariamente estar atrelada ao cumprimento desta ou daquela legislação, mas sim para de fato contribuir com a sociedade por meio de uma educação que desenvolva a todos, sem qualquer sinal de discriminação. É oportuno esclarecer que o estímulo da aprendizagem na educação inclusiva não se restringe somente ao desenvolvimento dos aspectos cognitivos, mas também engloba considerar os aspectos emocionais. Nesta ótica, a inclusão escolar não pode ser caracterizada pela separação comumente vista na maioria das instituições escolares entre razão e emoção. Estes dois elementos que integram a aprendizagem devem coexistir e não serem vistos como duas partes antagônicas que rivalizam entre si (Faria, 2018). Esta questão das emoções também é abrangente aos docentes que atuam na educação inclusiva ou que eventualmente se deparam com algum aluno com necessidades especiais em sua turma. Quando os próprios professores colocam em seus processos de ensino e aprendizagem as questões emocionais em segundo plano, perde-se uma rica oportunidade de propiciar a estes estudantes especiais experiências que podem facilitar a compreensão dos conteúdos que lhe são transmitidos em sala de aula (Faria, 2018). Todavia, esta utilização das emoções como um recurso de aprendizagem exige preparo por parte dos docentes, os quais conforme já visto em Bazon (2009) e Cruz et al. (2014) nem sempre é completa e se limita a ensinar os assuntos mais relevantes das respectivas áreas de atuação dos professores. É conveniente notar que a ideia de educação inclusiva na sociedade hodierna representa uma mudança na forma de pensar a educação para portadores de necessidades especiais, alunos com deficiência e demais públicos que carecem de 21 um suporte pedagógico mais consolidado em seu itinerário formativo. Em síntese: não é o aluno que deve se adaptar ao contexto educacional, mas sim o meio que deve se adaptar para suprir as necessidades deste aluno (Baleotti, Magoga & Gritti, 2011). Obviamente, isto abarca não somente a preparação pedagógica dos docentes, a adoção de metodologias adequadas que possam potencializar o aprendizado dos estudantes com necessidades e todo o suporte necessário para que a inclusão destes alunos se dê além do ato da matrícula, se perfazendo no cotidiano da escola. Embora a necessidade da existência de sistemas educacionais mais inclusivos, caracterizados por práticas pedagógicas pertinentes para lidar com os alunos com necessidades especiais, na prática este objetivo ainda está longe de ser alcançado. A começar pelos professores. Além de não terem uma formação inicial que dedique uma parte dos conteúdos para o ensino de noções básicas de inclusão escolar, a própria presença do aluno com necessidades na sala muitas vezes representa um incômodo, sendo a imagem deste estudante estigmatizada sob a égide do desprezo e do preconceito (Santos, 2012). A questão do estado deficitário da formação de docentes que se veem diante do desafio de ensinar alunos com necessidades se mostra uma tendência, não somente no campo da formação inicial como também na formação continuada destes profissionais. Ainda que estes programas de formação tragam algum conteúdo que ensine os docentes a detectar este ou aquele problema de aprendizagem ou cognição nos alunos, ainda assim pode-se dizer que a lacuna continua, posto que o choque do professor ao ter que lidar com um aluno que notadamente possui problemas de aprendizagem sugestiona este vazio em seu processo de formação. Ainda que levado pela intenção de colaborar de alguma forma com este aluno, este docente irá tomar decisões que irão levar a um improviso que, apesar de voluntarioso, pouco contribui para o aprendizado do aluno (Anjos, Andrade e Pereira, 2009; Assis & Santiago, 2016). É por esta razão que a preparação de docentes para lidar e conviver com alunos com necessidades especiais, deficiências e afins não pode ser fragmentada. Dito noutros dizeres: apenas saber detectar se um discente é autista, portador de TDAH ou outra condição que lhe diferencie dos demais alunos não é suficiente. O Quadro 2 sugestiona um conjunto de saberes necessários aos docentes com vistas a melhorar sua atuação no que se refere a inclusão escolar. 22 Quadro 2: Tipos de aprendizado para docentes atuantes na educação inclusiva Tipo de Aprendizado Descrição Aprendizado Técnico Este tipo de aprendizado abarca o conhecimento técnico específico a respeito dos transtornos e deficiências. Isto é necessário para evitar um possível choque do docente ao se deparar com alunos que se enquadram nesta situação diferenciada pelas suas condições. Aprendizado Humano Aqui devem ser trabalhados aspectos como a sensibilidade do professor ao lidar com alunos com deficiência ou transtorno. As formas de se vincular ao aluno também devem ser trabalhadas neste aprendizado. Aprendizado Pedagógico Neste tipo de aprendizado, devem ser construídas as técnicas, métodos e demais esforços com vistas a fazer com que o aluno com transtorno ou deficiência consiga apender o que lhe é ensinado e com isso progredir em seu itinerário formativo. Fonte: Adaptado pela autora, com base em Anjos, Andrade & Pereira (2009) e Assis & Santiago (2016). De acordo com o exposto no Quadro 2, estes aprendizados podem ser resumidos no trinômio conhecer-lidar-ensinar. Entretanto, outros aspectos devem ser considerados pelos docentes ao trabalharem com educação inclusiva. Um deles é o fatode quase sempre os alunos com necessidades ou deficiência não terem conhecimentos prévios que os auxiliem na compreensão dos conteúdos ministrados em sala de aula. Este é mais um motivo que corrobora com a atuação firme das escolas em geral em preencher estas lacunas de formação de seu corpo docente. Enfatiza-se que é através disso que estes profissionais poderão sentir-se mais seguros para desenvolver práticas pedagógicas com viés inclusivo (Baleotti, Magoga & Gritti, 2011). 23 Esta necessidade de preparação não se restringe somente aos professores, mas também deve ser estendida a toda a equipe técnica da instituição escolar. Isso é necessário para que as demandas dos alunos com alguma necessidade educacional especial (como é no caso dos portadores de TDAH) sejam percebidas e atendidas de modo efetivo. Aqui nota-se a existência de mais uma lacuna no que se refere ao atendimento do aluno com TDAH ou portador de outra necessidade ou deficiência: a escassez de recursos humanos devidamente preparados para lidar com este público específico (Dias & Moreira, 2020). Assim, a questão das capacitações com vistas a tornar os profissionais de educação aptos a lidar com alunos em condição diferenciada deve abranger a todos: professores, pedagogos, coordenadores, etc. Todavia, nem sempre é possível por conta da falta de recursos financeiros para investir em frentes de trabalho que tenham esta finalidade. No caso específico das universidades, esta lacuna é percebida tanto em instituições públicas como também na rede privada de ensino superior (Dias & Moreira, 2020). A abordagem sobre a qualificação de docentes para lidar com a educação inclusiva deve considerar que esta prática pode ser realizada mediante um pensamento colaborativo. Compete aos docentes apresentar suas demandas para o núcleo ou coordenação pedagógica com vistas a apontar qual aspecto referente a inclusão escolar não está sendo trabalhado corretamente. De posse desta informação, cabe a escola providenciar os cursos necessários para aprimorar o trabalho de seu corpo docente a frente da inclusão escolar (Tinti, 2016). A mediação de cursos através de tecnologias e educação a distância, conforme visto em Bhowick (2019) é uma saída viável, considerando o contexto atual ainda marcado pela pandemia do novo Coronavírus (Lima, 2020; Gama Neto, 2020). Pode-se considerar que esta questão da inclusão escolar acaba demonstrando que a escola enquanto instituição de um modo geral não se preparou adequadamente para esta realidade em que não só os alunos tidos como normais, mas também os deficientes, os autistas, portadores de TDAH e demais tipos específicos de estudantes também passam a integrar o alunado escolar. Infelizmente, o que se percebe é que a maioria das instituições escolares está preparada para lidar com alunos que não apresentam nenhum sinal de deficiência ou dificuldade de aprendizagem ou concentração (Silva Neto, Ávila, Sales, Amorim, Nunes & Santos, 2018). Isto faz com 24 que o sistema hodierno de ensino necessite se adaptar para lidar adequadamente com este público, o que exige esforço e dedicação não só dos docentes, mas também de todo o corpo técnico da instituição (Dias & Moreira, 2020). Isto remete ao que já fora visto em Cruz et al. (2014), cujo estudo afirma que lidar com a inclusão escolar exige a ressignificação das práticas pedagógicas e do próprio sistema educacional. Em complemento a esta fala, a pesquisa de Andrade & Damasceno (2020) assevera que a escola tradicional se acostumou a prepara-se para atender um púbico formado por alunos padronizados, os quais não aparentam necessitar de um suporte educacional mais específico. É por esta razão que a atuação das escolas na questão da educação inclusiva representa um importante passo para a consolidação de espaços pedagógicos mais democráticos, os quais respeitam a diversidade e singularidade de seu alunado. O trabalho referente a inclusão escolar se faz necessário não somente para assegurar ao estudante com necessidades ou deficiência o acesso, mas também para cumprir o que a legislação pertinente estabelece a respeito desta questão. De maneira específica, aqui faz-se referência a Lei n° 13.146 (Brasil, 2015), a qual estabeleceu a seguinte diretriz: as escolas particulares passam a ser obrigadas a aceitar em seu quadro de alunos portadores de necessidades especiais sem que para isso sejam feitas cobranças extras. Assim, o desafio de planejar e superar os desafios que são inerentes a este viés educacional não se limita apenas a esfera das escolas públicas. Discorrer sobre a inclusão escolar também abrange a questão do chamado Atendimento Escolar Especializado (AEE). Depreende-se que a prática deste atendimento depende tanto de recursos humanos como também materiais. É comum que a maioria dos professores da rede regular de ensino declare que em seu processo formativo não houve um espaço voltado para a educação inclusiva. Tal lacuna pode ser preenchida por programas de formação focalizados para este fim. No que tange aos recursos, faz-se necessário o investimento em tecnologias assistivas que possam tornar mais profícuo o processo de ensino e aprendizagem destes alunos especiais (Pereira, 2020). 25 3 O PROCESSO INCLUSIVO E O TDAH: estado da arte As pesquisas que integram este trecho do estudo trazem informações pertinentes para compreender os múltiplos aspectos referentes ao TDAH. A intenção com a escrita deste trecho é apontar de que maneira a temática do TDAH está sendo tratada nas pesquisas Stricto Sensu no Brasil. É apropriado dizer que o Transtorno do déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) está relacionado ao grupo de sintomas comportamentais atrelados a impulsividade, agitação e falta de concentração do sujeito. A razão para que o diagnóstico deste transtorno se dê na idade escolar, posto que é na escola que o nível de concentração do aluno é mais exigido. Como a concentração não é um ponto forte dos portadores de TDAH, isto faz com que os professores sejam vistos como elementos fundamentais para o diagnóstico deste transtorno (Richter, 2012). A temática do TDAH tem sido o cerne de estudos realizados em programas de pós-graduação Stricto Sensu no Brasil nos últimos anos. O objetivo deste tópico é descrever de maneira sumarizada os resultados de alguns destes estudos que abordam sobre diversos aspectos correlatos ao TDAH. Neste sentido, convém apresentar cada uma destas pesquisas selecionadas com vistas a compreender de maneira mais aprofundada a relação existente entre este transtorno específico e o contexto educacional. O primeiro estudo escolhido consiste numa dissertação elaborada por Santos (2012), intitulada “O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na perspectiva de psicólogos que atuam na clínica e na escola”. O objetivo do estudo foi analisar a questão do TDAH não sob o foco organicista, o qual prescreve os comportamentos de agitação e dificuldade de concentração como sintomas deste transtorno. O enfoque dado por Santos (2012) em seu estudo foi de caráter mais crítico e teve como ponto focal conhecer mais sobre a percepção que os psicólogos que atuam tanto no ambiente clínico como escolar possuem sobre o TDAH. A população deste estudo foi composta por 6 psicólogos atuantes na Rede Pública de Ensino do estado do Paraná, divididos em três municípios do referido estado. Além disso, outros 6 psicólogos que são colaboradores de clínicas particulares constituíram também a amostra populacional desta dissertação. Santos (2012) utilizou 26 como instrumento de coleta de dados a entrevista semiestruturada, cujos resultados foram analisados sob a égide da análise de conteúdo (Bardin, 2011). Dentre os resultados gerados com a prática da pesquisa, é oportuno destacar que tanto os psicólogos que atendem nas escolas como também os quetrabalham em clinicas particulares focalizam o tratamento do TDAH com a predominância da ótica médica. Como ação emblemática deste comportamento, a prescrição de medicamentos para os portadores de TDAH é vista como uma prática comum entre os profissionais entrevistados (Santos, 2012). Um dos fatores que podem explicar esta atitude por parte dos psicólogos entrevistados é o fato de os alunos/pacientes já chegarem ao consultório destes profissionais com o diagnóstico de TDAH. Noutras ocasiões, há os casos em que a escola encaminha o aluno para consulta ao psicólogo após a realização de entrevistas com a família do estudante. Há ainda os casos em que a própria família recorre ao trabalho dos psicólogos para tratar de forma mais efetiva os episódios de desatenção e hiperatividade em sala de aula (Santos, 2012). É oportuno destacar que um dos psicólogos entrevistados neste estudo, o qual menciona que é fundamental para a família do portador de TDAH saber que estes comportamentos de hiperatividade e dificuldade de concentrar a atenção em algo ou alguma coisa é um transtorno, e como tal deve ser acompanhado. Além disso, a indicação de realização de avaliação psicológica, a observação do comportamento, a avaliação psicoeducacional e a orientação junto a equipe pedagógica da escola são procedimentos indicados pelos psicólogos participantes do estudo de Santos (2012). O segundo estudo selecionado para compor esta parte da presente tese foi empreendido por Vitola (2011). Trata-se de uma dissertação cujo título é “Transtornos externalizantes em adultos com TDAH”. O objetivo do estudo foi observar o impacto do Transtorno de Conduta (TC) e do Transtorno Opositor Desafiante (TOD) em indivíduos que demonstram sinais de TDAH em idade adulta. A ideia central do estudo foi buscar conhecer o quão existente é o grau de influência do TC e do TOD em pacientes com TDAH. Aqui é preciso fazer um adendo para conceituar tanto o TC como também o TOD. Na interpretação de Novais, Cordoni, Renato & Marinho (2016), o Transtorno de Conduta diz respeito as mudanças comportamentais demonstradas por crianças ou 27 adolescentes, os quais demonstram por meio de suas atitudes não reconhecer regras ou ainda os direitos básicos dos outros. No que se refere ao Transtorno Opositor Desafiante, Victor (2014) relata que esta se trata da principal comorbidade presente em indivíduos com TDAH em vida adulta. Em complemento a esta fala, Jordan (2006) clarifica que este transtorno se caracteriza pela atitude agressiva da criança ou jovem, marcada por sucessivas discussões com adultos, descumprimento de regras sociais, atribuição de culpa ao outro por seu mau comportamento e recusa frequente do atendimento de pedidos feitos por outras pessoas. No estudo feito por Vitola (2011), a população participante foi composta por 458 pacientes. Todos estes sujeitos foram selecionados e se tratam de TDAH no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Houve a seguinte divisão na amostra populacional: a) indivíduos com TDAH que não possuem histórico de TC ou TOD = 178 pessoas; b) indivíduos com TDAH com histórico de TOD, porém sem sinais de TC = 184 pessoas, e; c) indivíduos com TDAH com histórico de TC, mas sem sinais de TOD = 96 pessoas. Os resultados deste estudo demonstraram que os pacientes que demonstraram ter histórico na adolescência, seja de TC ou TOD, apresentam tendência na fase adulta em apresentar um quadro mais acentuado de comorbidade. Neste sentido, o estudo de Vitola (2011) reitera a necessidade do constante cuidado que o sujeito portador de TDAH deve ter com relação a preservação de sua saúde mental. A ausência deste zelo pode resultar, a depender dos antecedentes vividos pelo paciente, em quadro de psicopatologia, o qual afeta diretamente o seu lado atitudinal e, por conseguinte, social. Os resultados apontados por Vitola (2011) são oportunos e demonstram que a problemática do TDAH não pode ser vista de maneira superficial. Não havendo um tratamento adequado para esta situação, principalmente no que se refere a questão da inclusão escolar, a tendência é a adoção de táticas equivocadas para que a escola de adeque as necessidades do aluno com TDAH. Por isso, reitera-se a necessidade de capacitação, tanto para os docentes como também para o corpo técnico das universidades para a acolhida destes estudantes (Dias & Moreira, 2020). Conforme foi possível observar em Vitolla (2011), o TDAH não pode ser visto de maneira isolada, posto que há outros transtornos a ele associados, o que exige um grau ainda maior de atenção tanto das famílias como também das instituições escolares em geral. 28 É conveniente fazer uma correlação entre os estudos de Santos (2012) e Vitolla (2011) com a pesquisa feita por Amaral (2009), a qual tem por nome “Critérios diagnósticos do TDAH: uma revisão de literatura”. Nesta dissertação, o enfoque foi fazer um levantamento a respeito dos métodos utilizados para diagnosticar o TDAH em crianças, tendo como espaço temporal de análise o período entre 1999 e 2009. Os resultados deste estudo evidenciaram a pertinência dos testes neuropsicológicos para detectar e tratar os seguintes itens presentes em pacientes com TDAH: a) controle inibitório; b) atenção seletiva, e; c) flexibilidade. Por sua vez, o uso de testes projetivos se mostrou eficiente para identificar nos portadores de TDAH sentimentos atrelados a angústia. O estudo de Amaral (2009) concluiu destacando a necessidade de integração dos protocolos existentes para detecção de sintomas TDAH com vistas a tornar mais assertivo o atendimento e o tratamento de crianças e adolescentes que são detentoras deste transtorno. A quarta pesquisa selecionada consiste numa dissertação escrita por Mesquita (2009) e tem como nome “A implicação do educador diante do TDAH: repetição do discurso médico ou construção educacional?”. A intenção de Mesquita (2009) ao explorar este tema reside no fato de que a presença de alunos com TDAH no contexto escolar suscita polêmicas que resultam em debates a respeito do fracasso do sistema educacional, o qual faz com que o fenômeno da medicalização dos problemas escolares seja visto como uma realidade nas instituições escolares. Noutras palavras: a escola opta por reproduzir o discurso médico a respeito do TDAH ao invés de buscar metodologias adequadas para suprir as necessidades de alunos portadores deste transtorno. Diante deste contexto, o estudo de Mesquita (2009) optou por questionar o papel do educador com relação ao contexto do TDAH. Utilizou-se como instrumentos metodológicos a evocação livre, o grupo focal e a realização de entrevistas. Os sujeitos de pesquisa foram os professores que atuam na rede municipal de Divinópolis, município localizado no estado de Minas Gerais. Os resultados desta pesquisa apontaram que a questão do TDAH não é vista pelos educadores entrevistados como sendo necessariamente uma doença, mas sim um desvio de comportamento dos alunos. Isto remete a figura do “aluno problema”, o qual tem na pessoa com TDAH um de seus estereótipos. Desta feita, o estudo de Mesquita (2009) conclui que não somente reconhecer, mas também problematizar a 29 questão do TDAH se faz necessário para que as escolas sejam mais aptas a acolher os alunos portadores de TDAH. Isto sugestiona não só a adoção de capacitação constante do corpo docente e técnico como também a adoção de estratégias pedagógicas adequadas para lidar com este público específico (Dias & Moreira, 2020). Por sua vez, o estudo de Oliveira (2014), denominado “Avaliação de sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade em estudantes universitários” consiste numa dissertação, a qual teve por objetivo abordar sobre a problemática do TDAH no contexto universitário. Uma das contribuições teóricas presentes no estudo de Oliveira (2014) diz respeito ao fato de que emboraeste transtorno prejudique a trajetória do indivíduo no contexto escolar, alguns alunos portadores de TDAH conseguem cumprir o seu itinerário formativo no ensino superior com sucesso. A pesquisa de Oliveira (2014) consiste na fusão de dois estudos. O primeiro deles teve como intuito a realização de uma revisão de literatura. Aqui o cerne do estudo foi comparar a condição dos estudantes universitários (com e sem TDAH) no percurso formativo da graduação. Já na segunda parte da dissertação de Oliveira (2014) consistiu na testagem de um modelo teórico, cuja população participante foi composta por 510 estudantes universitários, distribuídos em 12 graduações de 2 faculdades públicas no estado do Rio Grande do Sul. Para esta tese, serão destacados os resultados do primeiro estudo que integra a referida dissertação. No que se refere a primeira parte da dissertação empreendida por Oliveira (2014), o levantamento bibliográfico feito sobre universitários com TDAH foi realizado tendo como norte a base de dados Medline. Outras fontes foram consultadas, porém os trabalhos localizados foram recuperados no todo ou em parte da base de dados Medline. De 53 artigos internacionais encontrados, foram excluídos 38 deste montante após a realização da análise dos textos. Desta feita, a amostra final de artigos contou com 15 publicações. A principal característica afeta a estes estudos foi a da comparação entre populações de estudantes universitários com e sem TDAH. Destarte, Oliveira (2014) criou três categorias para analisar de maneira mais apropriada os 15 estudos selecionados. A primeira dedicada as semelhanças entre alunos com e sem TDAH, a segunda focalizada nas diferenças e a terceira voltada para a avaliação do TDAH em alunos de graduações. 30 Nesta primeira categoria, Oliveira (2014) percebeu que não existem diferenças abruptas entre universitários com e sem TDHA considerando os fatores bem-estar psicológico e autoconceito. Numa primeira comparação, os alunos com TDAH demonstram manter os mesmos hábitos de estudo em relação aos universitários que não são portadores deste transtorno. A tendência de capacidade para cursar as disciplinas da graduação dos alunos com TDAH e sem TDAH também não apresenta níveis de oscilação (Advokat et al., 2011). No que se refere a performance acadêmica, a dissertação de Oliveira (2014) notou controvérsias nos estudos selecionados. Há artigos que relatam não haver grandes diferenças tanto em notas de avaliações como também no desempenho de leitura (Gropper & Tannock, 2009; Miller, Lewandowski & Antshel, 2013). Já noutras publicações, os resultados apontam haver esta diferença, com os universitários portadores de TDAH demonstrando rendimento escolar inferior ao de alunos que não possuem este transtorno (Advokat et al., 2011; Weyandt et al., 2013). No campo das diferenças entre alunos TDAH e estudantes universitários que não apresentam os sintomas deste transtorno, o estudo de Oliveira (2014) evidenciou a existência de uma dificuldade por parte de alunos com TDAH em se adaptar ao ritmo de estudos da faculdade. Isto faz com que o suporte dos familiares seja primordial nesta fase de adaptação (Rabiner et al., 2008). Outra situação detectada por Oliveira (2014) diz respeito ao modo como os estudantes universitários com TDAH se autoavaliam com relação ao seu desempenho escolar. Em regra, esta avaliação costuma ser positiva, mesmo que na prática isto não reflita a realidade. Uma das razões para isto acontecer é o fato de naturalmente os estudantes com TDAH reconhecerem que sua performance é inferior a de seus colegas que não possuem este transtorno. Neste sentido, Oliveira (2014) recomenda que nas tarefas em grupo, os alunos com TDAH sejam direcionados a tarefas mais simples e processuais, do tipo “fazer uma coisa de cada vez” (Prevatt, Proctor, Best, Baker, Walker & Taylor, 2012). Esta é uma maneira de estimular a participação destes estudantes, o que não só auxilia na sua socialização como também torna mais prática a questão do trabalho em equipe. No que se refere à categoria de Avaliação do TDAH em estudantes universitários, o estudo de Oliveira (2014) demonstra que há nas pesquisas selecionadas um consenso em relação ao conceito de TDAH. Dentre as formas 31 percebidas nos estudos selecionados para detectar o TDAH, destacaram-se os instrumentos de autorrelato contendo os sintomas do transtorno; avaliação clínica; autorrelato de diagnóstico prévio e diagnóstico prévio realizado por meio da universidade onde o aluno com TDAH estuda. A próxima pesquisa selecionada é da autoria de Palhares (2015), a qual apresenta como título o curioso título ““Eu tomo medicamentos para estudar”: compreendendo a experiência com metilfenidato entre estudantes universitários. A intenção de Palhares (2015) ao realizar esta pesquisa foi chamar a atenção para o medicamento metilfenidato, comumente utilizado tanto por portadores de TDAH como também para narcolepsia. Diante da elevação do seu nível de uso, a dissertação de Palhares (2015) optou por investigar os significados atribuídos pelos usuários deste medicamento no que se refere a significância do mesmo para a sua saúde O local de pesquisa foi a Universidade Federal de Minas Gerais. A coleta de dados se deu com a ajuda do aplicativo NVivo 10. Foram realizadas e transcritas entrevistas com os participantes que se encaixassem no seguinte perfil: a) ser estudante de graduação ou pós-graduação; b) ter mais de 18 anos, e; c) ter feito ou estar fazendo uso de medicamentos via receita para obter melhor rendimento nas atividades escolares. A amostra populacional contou com seis indivíduos que se enquadravam nos critérios de participação da pesquisa. Com vistas a preservar a identidade dos participantes, pseudônimos foram adotados para identificar cada um dos respondentes, cada um fazendo menção a um super-herói de histórias em quadrinhos ou filme de animação (Palhares, 2015). O Quadro 3 sumariza os partícipes do estudo em destaque. Quadro 3: Sumarização dos relatos dos partícipes do estudo de Palhares (2015) Respondente Perfil Idade com que começou a tomar Metilfenidato Status de uso de Metilfenidato na época da entrevista 32 1 - Homem de Ferro Graduado em Ciências Biológicas, cursando a segunda graduação Na adolescência, por conta da piora dos níveis de concentração e hiperatividade Toma o medicamento até os dias atuais 2 - Mulher Invisível Estudante de Farmácia que apresentava muita dificuldade de falar em público Diagnosticada por dois profissionais com depressão. O segundo profissional a acompanhou com a ajuda de uma psicóloga. Esta a encaminhou a um psiquiatra, que detectou o TDAH e receitou o Metilfenidato Toma o medicamento até os dias atuais, se sentindo mais segura para apresentar trabalhos em público 3 - Jean Grey (X-Men) Estudante de Farmácia que teve muita dificuldade no início do curso por não ter amigos para desabafar Pediu a seu patrão, um médico psiquiatra, uma receita de Metilfenidato. Ela observava casos de crianças que melhoraram sua performance na escola com o uso deste medicamento Tomou duas caixas do remédio e após não sentir melhoras significativas, suspendeu o seu uso, mas encontra-se bem e tem ajuda dos 33 colegas nos estudos. 4 - Elsa (Frozen) Relatou não ter muitos amigos na faculdade. Formada em Nutrição e graduanda em Direito Tomou conhecimento do TDAH com uma amiga de uma empresa em que trabalhava, cujo filho tomava o metilfenidato. Toma o medicamento sem prescrição médica, alternado doses maiores e menores. 5 - Alice (no País das Maravilhas) Estudante do curso de Farmácia. Procurou um Psiquiatra por contade sua dificuldade de concentração nas aulas Na primeira consulta com o psiquiatra, foi diagnosticada com TDAH e teve o metilfenidato receitado. Questionou o psiquiatra se podia tomar mais de um comprimido por dia, recebendo respostas vagas Toma o medicamento até hoje, alternando estados de muita concentração com situações de hiperatividade. 6- Batman Estudante de Engenharia Elétrica de comportamento hiperativo O TDAH foi diagnosticado por um psicólogo, o qual por sua vez o encaminhou a um psiquiatra. O Toma o medicamento, mas sabe reconhecer quando ele é um auxílio e 34 acompanhamento junto a este profissional foi longo e resultou na receita do metilfenidato. quando ele pode atrapalhar na execução de determinadas tarefas que exigem criatividade. Fonte: Adaptado pela autora com base em Palhares (2015). Conforme é possível observar, os relatos extraídos junto aos participantes do estudo de Palhares (2015) com relação ao uso de metilfenidato. A maioria dos respondentes passou primeiramente por um especialista, o qual percebendo o grau de complexidade que o comportamento hiperativo e a dificuldade de concentração do paciente, optou pelo encaminhamento a outro profissional, este sim mais apto a detectar o quadro de TDAH e receitar este medicamento. É possível fazer uma correlação deste estudo de Palhares (2015) com o que fora visto em Santos (2012), no qual o TDAH foi observado pelo prisma dos psicólogos. No caso específico de Palhares (2015), os estudantes são adultos que tiveram o transtorno detectado e que viram no metilfenidato um escape para a obtenção de melhores resultados no que tange a concentração e a socialização junto a seus pares. Pode-se dizer que a criação de respostas adequadas para o TDAH abarca o trinômio família-escola-medicina. A família atua como pilar básico, sendo a primeira referência de socialização do indivíduo com TDAH (Bazon, 2009). Já a escola é o local onde a concentração e a capacidade relacional do portador deste transtorno são mais exigidas e por isso mesmo dependem do acompanhamento de uma equipe técnica especializada (Dias & Moreira, 2020). Completando a tríade, por se tratar de um transtorno, o acompanhamento médico se faz necessário não só para detectar o TDAH no aluno universitário como também administrar as situações de hiperatividade e falta de concentração. O estudo de Palhares (2015) traz participantes que fizeram uso do metilfenidato por conta própria, gesto este que não é recomendável e suscita cuidados a serem tomados pelos médicos que gerenciam este medicamentoso. 35 O estudo seguinte escolhido para a contextualização do TDAH na educação é de autoria de Mendonça (2012) e teve por nome “Treinamento de criatividade com professores: efeitos na criatividade e no rendimento escolar de alunos com e sem transtorno de déficit de atenção e hiperatividade”. O objetivo desta tese foi destacar o papel de protagonismo que a criatividade pode ocupar nos processos de ensino e aprendizagem voltados aos alunos com TDAH. Este estudo foi desenvolvido junto a 9 professoras e 235 alunos do 4° ano do ensino fundamental de uma escola particular do Distrito Federal. Uma das dinâmicas realizadas durante a prática de pesquisa consistiu num treinamento sobre criatividade, do qual participaram 4 das 9 professoras participantes do estudo. Este treinamento contou também com roteiro de entrevista e análise documental. As disciplinas que serviram de guia para mensurar o rendimento escolar dos alunos foram Português e Matemática. (Mendonça, 2012). As respostas obtidas junto aos partícipes do estudo foram averiguadas à luz da análise de conteúdo (Bardin, 2011). Dentre os resultados obtidos, destaca-se o fato de que a contribuição do treinamento de criatividade ministrado para as professoras participantes da pesquisa com relação ao rendimento dos alunos com TDAH. Os estudantes que não apresentam sinais deste transtorno obtiveram melhor resultado nas tarefas acompanhadas durante a pesquisa. No mais, as docentes entrevistadas enxergam o TDAH como um transtorno, o qual em regra costuma gerar impactos negativos tanto para o portador como também para a turma que da qual ele faz parte (Mendonça, 2012). De posse deste resultado, pode-se inferir que a realização de intervenções pedagógicas no contexto de turmas que possuem alunos com TDAH devem ser planejadas de forma mais eficiente. No caso específico de Mendonça (2012), a realização do treinamento sobre criatividade foi feita com apenas uma parte do corpo docente e não com todas as professoras. Apesar de não ter alcançado os resultados esperados, a contribuição teórica do estudo de Mendonça (2012) sugestiona que a feitura de intervenções pedagógicas em turmas com alunos portadores de TDAH carece não só de planejamento e organização, mas também de um levantamento prévio junto aos docentes e demais profissionais envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem. Estes sujeitos 36 podem, com muita propriedade, apontar onde estão as lacunas a serem preenchidas no que se refere a formação e capacitação para atuação com maior nível de pertinência para lidar com o TDAH. O próximo trabalho que integra este trecho do estudo é uma dissertação intitulada “Fenomenologia do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) em Adolescentes”, da autoria de Araújo (2015). A ideia central desta pesquisa foi conhecer de que maneira os adolescentes portadores de TDAH convivem com esta realidade por meio do aporte teórico sobre Fenomenologia presente em Merleau- Ponty, bem como o referencial sobre Psicopatologia, tendo como Arthur Tatossian o seu principal autor. A amostra populacional participante foi composta por 8 adolescentes, com faixa etária entre 11 e 18 anos. Para coleta de dados, fez-se uso de entrevistas individuais em locais escolhidos pelos próprios colaboradores do estudo. Dentre os resultados coletados, destacam-se o fato de muitos respondentes relatarem dificuldade em se concentrar na execução de tarefas escolares e na explicação dos professores. Com relação a hiperatividade, os adolescentes explicaram que para eles é como se o mundo girasse numa rotação mais lenta, o que os levam a tomar decisões que aos olhos dos outros parecem ser pouco conexas entre si (Araújo, 2015) Com relação aos medicamentos tomados pelos adolescentes partícipes do estudo, a coleta de dados evidenciou predominância do uso de Ritalina. Além deste medicamentoso, foram mencionados também consultas frequentes com psicólogos e a opção pelo reforço escolar. Como elemento positivo a ser destacado nas falas dos respondentes, a mudança de perspectiva de vida mesmo sendo portadores do TDAH é um item que precisa ser ressaltado (Araújo, 2015). Ao invés do foco limitado apenas ao fato de conviver com um transtorno, o tratamento e o apoio tanto dos profissionais de saúde como também da família são fatores preponderantes para que o sujeito com TDAH possa ter um aproveitamento melhor e mais pleno de sua vida. Por sua vez, o estudo intitulado “A subjetividade do estudante universitário diagnosticado com TDAH”, da autoria de Barbosa (2017), consiste numa dissertação e teve como finalidade saber mais sobre de que maneira os estudantes universitários convivem com este transtorno e se isto impacta de alguma forma o seu patamar de aprendizagem. A amostra populacional desta pesquisa foi composta por 3 estudantes universitários que tiveram o seu diagnóstico de TDAH confirmado ainda na infância. 37 Consoante Barbosa (2017), cada um dos colaboradores de sua pesquisa estavam finalizando suas graduações, sendo dois estudantes de Engenharia (Computação e Civil, respectivamente) e o terceiro finalista do curso de Psicologia. De modo geral, três aspectos foram destacados nestedecurso de pesquisa. O primeiro deles diz respeito a necessidade de se discutir a questão do TDAH além da patologia. Isto implica em agregação de conhecimentos a respeito do que significa e o que caracteriza este transtorno nos estudantes. O segundo fator evidenciado neste estudo foi a necessidade de se observar o quão relevante o aspecto emocional pode contribuir com a aprendizagem do aluno com TDAH (Barbosa, 2017). Isto remete ao que fora visto em Faria (2018), cujo estudo também menciona a necessidade de se considerar a coexistência entre razão e emoção nos processos de ensino e aprendizagem envolvendo alunos com TDAH. O terceiro fator destacado por Barbosa (2017) em sua pesquisa junto a estes estudantes universitários com TDAH é a relevância do diagnóstico do transtorno para que as universidades consigam elaborar estratégias pedagógicas assertivas para seus alunos. Este estudo de Barbosa (2017) traz um dado interessante: um dos seus entrevistados relata que não sente tanta dificuldade em acompanhar o que o professor explica em sala de aula. O problema fica por conta de permanecer sentado e quieto, enquanto o tempo de aula passa, o que configura um traço de hiperatividade. Além disso, este entrevistado menciona que gosta das aulas quando sua participação é permitida, o que o faz não esquecer do que fora debatido em sala. Neste caso, Barbosa (2017) traz como uma possibilidade de estimulo da participação do estudante com TDAH a questão da problematização de conteúdos (Berbel, 2012). Reitera-se o que fora observado em Antunes (2012), o qual diz que inclusão escolar deve se notabilizar pela escolha acertada das políticas e das estratégias de aprendizagem, as quais devem reconhecer a singularidade dos alunos, inclusive aqueles que são portadores de TDAH. Dentre as contribuições teórico-empíricas coletadas no estado da arte pertinente ao TDAH, destaca-se a tese criada e redigida por Papadopoulos (2018), cujo título é “A trajetória acadêmica de estudantes universitários diagnosticados com TDAH à luz da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano”. A amostra populacional deste estudo de Papadopoulos (2018) foi composta por 10 estudantes 38 universitários regularmente matriculados numa faculdade privada do estado do Rio de Janeiro. Os procedimentos metodológicos da tese foram ancorados na abordagem qualitativa e na análise de conteúdo com base nas falas dos participantes (Bardin, 2011; Günther, 2006). Além disso, a tese de Papadopoulos (2018) fez uso de um recurso metodológico conexo a Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano chamado de Modelo PPCT: Processo; Pessoa; Contexto e Tempo (Munhoz, 2017). A intenção com o uso deste modelo foi descobrir junto aos respondentes quais são os fatores que corroboram para o ingresso do estudante com TDAH na universidade, bem como para sua permanência ou ainda para estas duas situações que coexistem e são relevantes para o desenvolvimento social e intelectual do portador deste transtorno. Os primeiros resultados a serem destacados trazem a percepção dos estudantes com relação aos fatores preponderantes que geram bem-estar e motivação no ensino básico. Desta forma, os relatos destacaram os seguintes itens: a) ambiente escolar que se caracteriza por ser acolhedor e que incentiva o aluno a estudar; b) salas de aula com quantidade reduzida de alunos, o que facilita a interação ente o portador de TDAH, o professor e seus pares; c) sistema de aprendizagem formado pelos professores que fazem as aulas de reforço com o aluno portador de TDAH, a interação com os colegas, o suporte da família e dos professores da escola; d) ações parentais que orientam o estudante em seu percurso formativo (Papadopoulos, 2018). Destes itens acima em destaque, é oportuno mencionar o item que trata da organização da sala de aula. Para os respondentes do estudo de Papadopoulos (2018), a superlotação das salas de aula é um item que acaba se tornando um óbice, não somente para o docente que atua na educação básica, o qual precisa gerenciar o aprendizado de uma quantidade considerável de alunos, mas também para o aluno portador de TDAH. Enfatiza-se que a questão das salas superlotadas favorece a ocorrência de situações de preconceito e discriminação com alunos deficientes ou portadores de necessidades educativas especiais (Bazon, 2009). No que se refere ao ensino superior, os estudantes entrevistados por Papadopoulos (2018) listaram os seguintes elementos que favorecem a sua aprendizagem. São eles: a) tempo mais extenso para a realização das avaliações, e; b) existência do suporte técnico da universidade, o qual deverá abranger os campos da Psicologia, Pedagogia e Psicopedagogia (Masini, 2006). Este segundo tópico 39 mencionado remete ao que fora visto anteriormente em Dias & Moreira (2020), estudo este que demonstra que tanto no ensino público como também no particular a preparação tanto dos docentes como também da equipe técnica das universidades é deficitária e precisa ser altamente especializada e aprimorada. Já no que se refere ao percurso formativo do estudante com TDAH como um todo, os partícipes da tese de Papadopoulos (2018) mencionaram 8 aspectos a serem considerados. São eles: a) significância do diagnóstico do TDAH; b) garantia do tratamento adequado para lidar com o transtorno; c) presença de estratégias metacognitivas; d) professores que sejam atenciosos e expliquem pausadamente os conteúdos; e) valorização da singularidade do estudante com TDAH; f) necessidade de identificação com os docentes; f) suporte tanto da escola como também da família, e; g) apoio constante a socialização. Nota-se que são itens simples, mas que ao serem atendidos corroboram de maneira substancial para a evolução do aprendizado dos estudantes com TDAH. Enfatiza-se que o apoio médico desde o diagnóstico do transtorno, somado com o acompanhamento e suporte afetivo da família e da escola são condições sine qua non para que o estudante com TDAH de fato se sinta incluso e possa não somente ter acesso à escola, mas ter condições de aprender e se desenvolver como aluno e, principalmente, como cidadão. 4 CARACTERÍSTICAS DO TDAH E O PROCESSO EDUCACIONAL CONTEMPORÂNEO De acordo com Silva (2014), o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) se manifesta no indivíduo ainda na infância, e estes são caracterizadas por desatenção, impulsividade e hiperatividade tanto física quanto mental, todavia este transtorno permanece em sua maioria, na vida adulta, em ambos os sexos. Silva (2014) também vai apontar em suas pesquisas, fatores que distinguem crianças com TDAH de outras que não têm, tais como: Os sinais que podem diferenciar uma criança TDAH de outra que não seja são a intensidade, a frequência e a constância daquelas três principais características. Tudo na criança TDAH parece estar “a mais”. Ela é mais agitada, mais bagunceira e mais impulsiva se for do tipo de alta intensidade. E, ainda, significativamente mais distraída, dispersa e não perseverante se 40 for daquele tipo mais desatento. Certamente o personagem fictício que melhor exemplifica uma criança TDAH do tipo desatento é Calvin, das histórias em quadrinhos Calvin e Haroldo (SILVA, 2014) Esses sinais na maioria das vezes são representados por atos impulsivos, pois, não há uma consciência do que esses atos impensados podem acarretar. A desatenção provoca na criança uma inquietação, que não os permite prestar atenção na aula, no que o professor está falando ou fazendo, por muitas vezes os estudantes acabam sendo julgados por atos que nem eles mesmos entendem por que cometem, sendo interpretado como crianças que não são capazes de se desenvolverem normalmente como as outras crianças. Os estudantes com TDAH, apresentam maus comportamentos, e isso reflete no chão da escola, pelo fato de serem desligados, impulsivos
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