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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ODONTOLOGIA DÉBORA GOMES NUNES LEMOS OCORRÊNCIA DE CANDIDOSE ORAL EM PACIENTES INTERNADOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NATAL 2021 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Alberto Moreira Campos - -Departamento de Odontologia Lemos, Debora Gomes Nunes. Ocorrência de Candidose Oral em pacientes internados em uma unidade de terapia intensiva / Debora Gomes Nunes Lemos. - Natal, 2021. 43 f.: il. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Odontologia, Natal, 2021. Orientador: Profª Drª Éricka Janine Dantas da Silveira. 1. Unidades de Terapia Intensiva - Trabalho de Conclusão de Curso. 2. Candidíase Oral - Trabalho de Conclusão de Curso. 3. Fatores de Risco - Trabalho de Conclusão de Curso. 4. Saúde Oral - Trabalho de Conclusão de Curso. I. Silveira, Éricka Janine Dantas da. II. Título. RN/UF/BSO BLACK D61 Elaborado por MONICA KARINA SANTOS REIS - CRB-15/393 DÉBORA GOMES NUNES LEMOS OCORRÊNCIA DE CANDIDOSE ORAL EM PACIENTES INTERNADOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Trabalho apresentado à banca examinadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a conclusão do Curso de Graduação em Odontologia. Orientadora: Profª Drª Éricka Janine Dantas da Silveira NATAL/RN 2021 DÉBORA GOMES NUNES LEMOS OCORRÊNCIA DE CANDIDOSE ORAL EM PACIENTES INTERNADOS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA Trabalho apresentado à banca examinadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a conclusão do Curso de Graduação em Odontologia Aprovado em __ /__ /__ BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ Profª Drª Ericka Janine Dantas da Silveira- Orientadora UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ________________________________________________ Profª Dra Ruthineia Diógenes Alves Uchoa Lins UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE _________________________________________________ Profª Dra Ana Rafaela Luz de Aquino Martins UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho a minha avó Maria do Carmo (in memorian), minha saudade diária, com todo amor do mundo e gratidão. AGRADECIMENTOS Indubitavelmente, toda honra e toda minha gratidão a Deus. Desde o começo da graduação trago comigo a frase: “Perceba o cuidado de Deus nos detalhes”. E isso, no meio das angústias, incertezas, dias cansativos da faculdade, frustrações, eu lembrava dessa frase. Lembrava o quanto Ele cuidou de mim quando tive que voltar inúmeras vezes tarde da noite para casa, mas sempre me manteve segura ou quando chorava sem saber como comprar a lista dos materiais, todavia estava eu na clínica atendendo. Todo o processo que passei, as pessoas que Ele colocou em meu caminho, tenho certeza, era Ele cuidando de mim. Obrigada meu Deus por sua infinita misericórdia em minha vida, e por essa vitória alcançada. À minha família, minha mãe Marcia e César que representa tão bem o papel de pai, obrigada por terem acreditado em mim, pela compreensão, por serem meu suporte e minha base. Sem vocês, a realização desse sonho não seria possível! Aos meus irmãos, Rebeca, Jéssica e Jonathan por todo amor e carinho ao longo dessa jornada. Amo vocês. Às minhas tias, Elba e Eline, por todo o incentivo, apoio, suporte, amizade e conselhos. Meus outros tios que sempre torceram por mim, Marcone, Gildo, Fábio, Fabiano, Jacira, Francisco e Detinha. À minha avó Dona Nazinha pelo seu amor e por ter me acolhido quando precisei, e por tantas vezes ser meu lugar de refúgio, obrigada vovó. À irmã Ilda e família por terem sido meu primeiro lar aqui em Natal, nesta caminhada. Sempre serei grata pelo acolhimento, ter me tratado como filha naquele período em sua casa e ter dividido o que já era pouco comigo. Pela irmã que ganhei, Thalita a qual me conhece melhor do que eu mesmo. Obrigada por me ouvir nos momentos difíceis, por sempre ter uma palavra de consolo e pelo seu ombro e abraço amigo. Sua amizade e irmandade é um presente de Deus na minha vida. Agradeço também ao meu namorado Max, por todo apoio nesta caminhada, compreensão nos meus momentos de estresses e ansiedades, e todo cuidado e carinho comigo e com Aba, principalmente, nestes últimos dias. Obrigada, amor. Aos meus amigos, “família que a gente escolhe”. Deus sabe o quanto vocês foram e são peças fundamentais nesta trajetória. Edemberg, minha primeira dupla e irmão para a vida; Artur, minha dupla não de clínica, mas que a vida me presenteou. Babi, Karen, minhas manas, nossos cafezinhos filosóficos eram os melhores. Ítalo, Davi, Giulia e a todos meus amigos, obrigada por essa riqueza que é a amizade. Às minhas duplas da faculdade. Daiana, por ter compartilhado os primeiros perrengues comigo. Thayná, mais conhecida como “dupla”, passamos juntas os piores e melhores momentos na clínica. Vou sentir saudades do nosso famoso “equipo dos milagres”, das nossas fofocas, as melhores playlist, dos seus B.O’s da vida e de suas dicas de blogueira/empreendedora. Podem ter certeza que levarei comigo um pouco de vocês duas na minha vida profissional. Obrigada! A todos os professores que compartilharam e ensinaram com maestria a arte da odontologia, em especial a Prof.a Gisele Firmino que me acompanhou desde o início desta jornada. Aos funcionários e servidores do departamento que se dispuseram a voltar as atividades em meio a pandemia em especial a Andréa, Thalita, Tania, Helena, Lis, Joana e todos os outros funcionários sempre solícitos. Aos doutorandos e minha coorientadora Maurilía Medeiros, que me ensinou muito na minha bolsa de pesquisa e aceitou mais um desafio do TCC. Muito obrigada pela paciência, por acreditar em mim, pelo apoio, correções e todo suporte dado a mim nestes últimos dias. A Helder Martins pelo suporte e por sempre se mostrar solícito a me ajudar, mesmo distante. À minha orientadora, Prof Dra. Éricka Janine, sou eternamente grata por ter me dado a oportunidade de aprender um pouco mais de perto com a senhora. Por ter me acolhido e ter acredito em mim, enquanto eu mesma não acreditava. Obrigada por contribuir de forma enriquecedora na minha formação, por toda correção, incentivo e incansável dedicação. Um exemplo de profissional e de mãe para mim. Minha eterna gratidão. Por fim, agradeço à Universidade Federal do Rio grande do Norte, que ao longo da minha formação, forneceu suportes necessários e um ambiente repleto de oportunidades e em especial ao Departamento de Odontologia por ter sido minha casa nestes últimos anos. Muito obrigada. “Somente consegui enxergar mais longe porque me apoiei nos ombros de gigantes.” - Isaac Newton RESUMO Pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI), em condição de saúde oral deficiente exibem maiores chances de ter desfechos desfavoráveis, pois se tornam mais suscetíveis a serem acometidos por outros tipos de infecções oportunistas como a candidose oral, que pode acarretar emcandidemia se não tratada. Objetivo: O presente estudo analisou a ocorrência de candidose oral em pacientes internados em UTI, bem como os perfis clínico e demográfico desses pacientes, e os possíveis fatores de risco associados ao desenvolvimento dessa infecção fúngica. Métodos: A presente pesquisa consistiu em um estudo observacional do tipo transversal, a qual foi desenvolvida com pacientes internados na UTI do hospital Policlínica – Liga Norte Riograndense Contra o Câncer. Os pacientes foram avaliados através de um exame clínico intraoral detalhado, no leito da UTI, por três cirurgiões-dentistas previamente calibrados, e as alterações observadas foram anotadas na ficha clínica odontológica do prontuário. Também foram coletados os dados referentes às condições sociodemográficas e sistêmicas do paciente. Resultados: Dos 92 pacientes analisados no período da pesquisa, 17 (18,4%) desenvolveram candidose oral. A maioria era do sexo feminino (n = 9; 52,9%) com idade média de 69,6 ± 18,5 anos e provenientes do serviço público de saúde (n = 9; 52,59%). A candidose pseudomembranosa foi o tipo clínico de candidose mais prevalente (76,4%) e as neoplasias malignas foram os principais motivos de internação desses pacientes (64,4%). A anemia foi detectada em 88,2% destes pacientes. Alterações bucais como, hipossalivação, ressecamento labial, úlceras traumáticas, sangramento e biofilme visível foram outras alterações bucais detectadas. Conclusões: A candidose oral é uma infecção oportunista importante que pode comprometer o estado geral do paciente internado em UTI. Apesar da baixa ocorrência dessa infecção nos pacientes analisados, reforça-se a importância do correto diagnóstico e conduta diante da mesma. Palavras-chaves: Unidades de terapia intensiva. Candidíase. Fatores de risco. Saúde oral. ABSTRACT Patients admitted to intensive care units (ICU) with poor oral health conditions are more likely to have unfavorable outcomes, as they become more susceptible to being affected by other types of opportunistic infections such as oral thrush, which can lead to candidemia if untreated. Objective: This study analyzed the occurrence of oral candidosis in patients admitted to the ICU, as well as the clinical and demographic profiles of these patients, and the possible risk factors associated with the development of this fungal infection. Methods: This research consisted of a cross-sectional observational study, which was developed with patients admitted to the ICU of the Policlínica Hospital – Liga Norte Riograndense Against Cancer. The patients were evaluated through a detailed intraoral clinical examination, in the ICU bed, by three previously calibrated dentists, and the observed alterations were noted in the dental clinical record of the medical record. Data regarding the sociodemographic and systemic conditions of the patient were also collected. Results: Of the 92 patients analyzed during the research period, 17 (18.4%) developed oral candidosis. Most were female (n = 9; 52.9%) with a mean age of 69.6 ± 18.5 years and from the public health service (n = 9; 52.59%). Pseudomembranous candidiasis was the most prevalent clinical type of candidiasis (76.4%) and malignant neoplasms were the main reasons for hospitalization of these patients (64.4%). Anemia was detected in 88.2% of these patients. Oral alterations such as hyposalivation, lip dryness, traumatic ulcers, bleeding and visible biofilm were other oral alterations detected. Conclusions: Oral candidosis is an important opportunistic infection that can compromise the general condition of patients admitted to the ICU. Despite the low occurrence of this infection in the patients analyzed, the importance of correct diagnosis and management is reinforced. Keywords: Intensive care units. Candidiasis. Risk factors. Oral health. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Características demográficas e clínicas dos pacientes internados na UTI do Hospital Policlínica – Liga Norte Rio-grandense Contra o Câncer................................................................................................... 26 Tabela 2 - Características demográficas e clínicas dos pacientes com presença clínica de candidose oral internados na UTI do Hospital Policlínica – Liga Norte Rio-grandense Contra o Câncer............................................................................................... 27 Tabela 3 - Detalhes do perfil dos pacientes que exibiram candidose oral durante o período de internação na UTI............................................. 28 Tabela 4 - Frequência das alterações bucais associadas a candidose oral .......................................................................................................... 32 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Candidose pseudomembranosa em dorso de língua.................................... 30 Figura 2 - Paciente intubado com ulcerações por pressão e queilite angular................ 30 Figura 3 - Ressecamento labial e áreas de crostas em paciente do sexo masculino (Pac.11) que desenvolveu candidose pseudomembranosa em dorso de língua............................................................................................................ 31 Figura 4 - Permanência das lesões de candidose oral ao longo do período de internação...................................................................................................... 32 LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES CD Cirurgião-Dentista DM Diabetes Mellitus FEM Feminino HAS Hipertensão Arterial Sistêmica IRAS Infecções relacionadas à assistência à saúde ITU Infecção do trato urinário MAS Masculino NI Não informado PAV Pneumonia associada ao ventilador PCR Proteína C Reativa TOT Tubo orotraqueal TQT Traqueostomia PN Pneumonia nosocomial UTI Unidade de terapia intensiva SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 15 2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 17 3 OBJETIVOS .......................................................................................................... 22 3.1 Objetivo geral .......................................................................................................... 22 3.2 Objetivos específicos ............................................................................................... 22 4 METODOLOGIA ................................................................................................. 23 4. 1 Considerações éticas .............................................................................................. 23 4.2 caracterização do estudo ........................................................................................ 23 4.3 população e amostra ............................................................................................... 23 4.4 critérios de inclusão e de exclusão da amostra..................................................... 23 4.4.1 os critérios de inclusão .......................................................................................... 23 4.4.2 os critérios de exclusão .......................................................................................... 24 4.5 coletas de dados .......................................................................................................24 4.6 análise estatística .................................................................................................... 24 5 RESULTADOS ...................................................................................................... 26 6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 33 7 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 39 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 40 ANEXO A ...................................................................................................................... 44 15 1 INTRODUÇÃO A unidade de terapia intensiva (UTI) consiste em um ambiente para atender pacientes em estado crítico, utilizando- se de cuidados rigorosos e constantes. Porém, esse ambiente está relacionado ao aumento de riscos de infecções associadas à assistência à saúde, tendo em vista a condição clínica comprometida do paciente (TÚLIO et al., 2018; SILVA et al., 2017). A atenção à saúde bucal dos pacientes internados em UTI reflete como elemento indispensável para deter a proliferação de fungos e bactérias que podem comprometer a saúde bucal, bem como o risco de atingir outros órgãos e sistemas, que pode contribuir para agravar o quadro clínico e o aumento do tempo de permanência na UTI (SILVA et al., 2017; TÚLIO et al., 2018). Nessa perspectiva, a assistência odontológica em UTI promove, por meio da integralidade do cuidado, atenção a cavidade bucal desses pacientes, por vezes negligenciadas, que repercute diretamente com a melhora da saúde geral e a qualidade de vida destes (BLUM et al.,2018). A cavidade bucal tem se configurado como nicho de disseminação de microrganismos patogênicos em pacientes internados em UTI, pois pacientes em estado crítico de saúde são propícios a desenvolver alterações na microbiota bucal (BAEDER et al., 2012). O acúmulo de biofilme bucal destes indivíduos, sem dúvida, representa fator de destaque para o desenvolvimento de infecções bacterianas, virais e fúngicas, causadas por desequilíbrio na homeostase do meio bucal. O microbioma oral é uma comunidade diversa de microrganismos com aproximadamente 500 espécies de bactérias e fungos, as quais encontram-se em simbiose contribuindo para manutenção da saúde oral (DIAZ et al., 2019). Em algumas situações, devido a alterações no fluxo salivar e outras alterações do microambiente oral, esses pacientes podem ser acometidos por infecções oportunistas como a candidose oral (BAEDER et al., 2012). A candidose oral é a infecção fúngica mais comum na cavidade bucal, causada principalmente pela Candida albicans, que apesar de estar presente na microbiota da cavidade oral em indivíduos saudáveis têm um potencial patogênico associada a fatores locais e sistêmicos (LEWIS; WILLIAMS, 2017). A candidose oral pode ser diagnosticada através do exame físico intraoral, podendo se apresentar, clinicamente, de forma eritematosa (aguda ou crônica), caracterizada por lesões vermelhas ou como uma candidose pseudomembranosa, exibindo placas brancas destacáveis à raspagem, (MILLSOP; FAZEL, 2016). Essas lesões de candidose podem se apresentar assintomáticas ou associadas à- ardência em graus variados. Portanto, o diagnóstico é 16 fundamental através dos sinais clínicos para a definição da abordagem terapêutica (MILLSOP; FAZEL, 2016; LEWIS; WILLIAMS, 2017). Como mencionado, fatores sistêmicos e locais podem desencadear a proliferação da Candida albicans. Dentre os fatores locais citam-se a má higiene oral, o uso de próteses dentárias mal higienizadas, além do uso de fármacos esteroides por via inalatória (BAEDER, et al., 2012; ERDOGAN; KARAKAYA; KALYO, 2019; HERTEL et al., 2016). Em relação aos fatores sistêmicos que podem favorecer o desenvolvimento dessa infecção fúngica, pode- se citar,imunossupressão, infecção pelo HIV, deficiências nutricionais, medicamentos que causam hipossalivação, comorbidades, bem como tratamentos de radioterapia e quimioterapia (DIAZ et al., 2019; ERDOGAN; KARAKAYA; KALYO, 2019; KONATÉ et al., 2017; SCHULTE et al., 2015). As condições dos pacientes internados em UTIs os tornam com maior susceptibilidade para o desenvolvimento da candidose oral (TÚLIO et al., 2018; AMIRI et al., 2012; BAEDER et al., 2012). Desse modo, torna-se importante conhecer a prevalência e o perfil de pacientes que desenvolvem a candidose oral em ambiente de UTI, visto que se conhecendo tal perfil é possível estabelecer alguns cuidados e protocolos nesse ambiente para auxiliar na prevenção dessa doença e evitar possíveis complicações do seu surgimento. Portanto, baseado no fato de que a manutenção da saúde bucal pode ajudar na prevenção de ocorrência de candidose oral e pneumonia, torna-se importante a realização de pesquisas que identifiquem os principais fatores de risco para o desenvolvimento dessa infecção fúngica oportunista, em pacientes internados em UTIs para que, a partir disso, seja possível reforçar os protocolos de higiene bucal para esses pacientes. 17 2 REVISÃO DE LITERATURA A unidade de terapia intensiva consiste em um ambiente hospitalar para atender pacientes em estado crítico, os quais necessitam de suporte à vida e cuidados e monitoramentos constantes (SILVA et al., 2017). Pacientes internados em UTI por apresentarem a condição de saúde debilitada, bem como submetidos a procedimentos invasivos, estão relacionados ao aumento de infecções associadas à assistência à saúde (TÚLIO et al., 2018). Nessa perspectiva, se faz necessário um atendimento de forma completa, humanizada e integralizada que atue para maximizar a assistência à saúde, por meio de uma equipe multidisciplinar. O cirurgião-dentista destaca-se na sua participação no cuidado da saúde bucal, que por muitas vezes é negligenciada, e reflete diretamente na qualidade de vida dos pacientes internados. A manutenção da saúde oral desses pacientes é primordial para prevenir crescimentos de microrganismos com potencial patogênico, que poderão comprometer outros órgãos sistêmicos, agravando o quadro clínico do paciente (SILVA et al., 2017; BLUM et al., 2018). Entretanto, a presença do CD não é realidade em muitos hospitais brasileiros, mesmo sabendo-se dos benefícios da sua atuação em busca da integralidade e da qualidade de vida dos pacientes por meio da diminuição de infecções respiratórias e associadas à ventilação mecânica (VILLAR et al., 2016). A assistência odontológica repercute diretamente na diminuição de gastos com internações prolongadas, prevenção e controle de desfechos desfavoráveis na saúde sistêmica e bucal de pacientes internados em UTI (BLUM et al., 2018; RELLO et al., 2013). Silva et al., (2017) relataram a importância do cirurgião-dentista na equipe multidisciplinar, no ambiente hospitalar e a sua integração para realizar medidas preventivas e contribuir para promoção da saúde. Por muitas vezes, pacientes internados apresentam higiene bucal debilitada relacionada também à limpeza natural da boca comprometida, como promovida pelos movimentos da mastigação, pelo fluxo salivar e/ou pela existência de um tubo oro traqueal, o qual favorece o acúmulo de biofilme. Esses fatores adicionais contribuem para o estabelecimento de outras infecções que podem comprometer a condição sistêmica desses pacientes por infecções respiratórias (TULIO et al., 2018; BAEDER et al., 2012). A saúde bucal reflete sobre o equilíbrio de microrganismos da cavidade oral, nesses pacientes internados, os quais exibem maior susceptibilidade de alterações da microbiota oral. Portando, o biofilme bucal pode constituir foco de infecções desses patógenos respiratórios, principalmente pela cavidade orofaríngea apresentartemperatura média (37° C) e pH estável 18 (6,5 a 7,5), que tornam um ambiente favorável para o crescimento de microrganismos patogênicos (BAEDER et al., 2012). Túlio et al., (2018) caracterizaram o perfil da microbiota bucal durante permanência na UTI e evidenciaram que houve um aumento significativo de biofilme visível, cálculo dentário e condição periodontal deficiente, refletindo no surgimento de microrganismos patogênicos. O biofilme localizado no dorso lingual representou o foco mais considerável de patógenos respiratórios. Além disso, Túlio et al., (2018) observaram a condição salivar dos pacientes internados e verificaram a presença de ressecamento bucal, ressecamento labial, hipossalivação, ausência de secreção salivar e escoamento salivar como alterações salivares mais prevalentes. A saliva representa um mecanismo importante para manter a homeostase do meio bucal, com funções de manutenção e regulação do pH, lubrificação, antimicrobiana e efeito tampão (DENNESEN et al., 2003). Em pacientes internados na UTI, podem ocorrer alterações no fluxo salivar, favorecendo o surgimento de lesões bucais, como candidose oral e mucosite (DIAZ et al., 2019). Vale destacar que as Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAs), segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (2016), representam um agravante por suas altas taxas de morbidade e mortalidade, no sistema de saúde pública, desqualificando a promoção de saúde nos pacientes internados. Entre as IRAS que mais acometem o paciente internado em UTI, citam-se as infecções respiratórias (TULIO et al., 2018; BAEDER et al., 2012). A pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), adquirida 48 horas após a admissão, caracterizada pela intubação endotraqueal, e a pneumonia nosocomial, indicada pela ausência do tubo endotraqueal, estão entre as mais comuns infecções respiratórias (BAEDER et al., 2012). A PAV está associada à aspiração do conteúdo presente na orofaringe e reflete na estreita relação que a cavidade bucal exibe com o trato respiratório, repercutindo diretamente no estado geral do paciente internado em UTI, bem como a qualidade de vida do mesmo (BLUM et al., 2018). Desse modo, a cavidade bucal tem se configurado como um potencial foco de disseminação de microrganismos patogênicos (ERGIN et al., 2013). Em certas situações, devido às alterações do fluxo salivar e da microbiota oral, somados a uma higienização deficiente, esses pacientes internados em UTI podem ser acometidos por infecções oportunistas como a candidose oral. Segundo Watkir et al., (2017), ao serem admitidos em UTI, os pacientes apresentaram aumento em duas vezes de Candida albicans entre o primeiro dia e o sétimo dia de internação. Tal fato demonstram, a mudança que ocorre na cavidade bucal sobre o microambiente fúngico oral e a susceptibilidade desses pacientes à infecção oportunista. 19 A Candida albicans, pode estar presente em regiões de pele, trato gastrointestinal e na cavidade oral (LEWIS; WILLIANS, 2017). Entretanto, apesar de estar presente na microbiota como um fungo comensal, a Candida albicans possui potencial patogênico e, em situações de desequilíbrio, pode acarretar infecção, de caráter oportunista como o desenvolvimento da candidose oral associada a fatores de risco sistêmicos e locais (HELLSTEIN; MAREK, 2019; WATKIR et al., 2017; ERGIN et al.,2013). A candidose oral pode ser diagnosticada através de um exame clínico detalhado. Em suas manifestações clínicas na mucosa oral, podemos encontrar a candidose eritematosa como lesões vermelhas, que acometem mais a região do palato duro e a língua podendo o paciente sentir sensação de queimação. Pacientes portadores de candidose pseudomembranosa, exibindo placas brancas destacáveis à raspagem, podendo ser assintomáticas ou apresentar sensação de queimação e gosto desagradável na boca e ainda, pacientes portadores de queilite angular, apresentando fissuras presente nas comissuras labiais (REINHARDT et al., 2018; LEWIS; WILLIANS, 2017). Alguns fatores sistêmicos e locais podem desencadear a patogenicidade da Candida albicans em pacientes internados em UTI. Ergin et al., (2013) analisaram a prevalência de colonização por Candida spp. nesses pacientes e encontraram 42% dos pacientes colonizados. e observaram a infecção por Candida spp. posteriormente, em 21,4% dos pacientes colonizados. Nesse estudo, a presença de nutrição parenteral, o uso de antibióticos e corticosteroides e traumas na pele tiveram uma relação significativa com a infecção por esse fungo. Nessa perspectiva, pacientes imunossuprimidos tornam-se mais vulneráveis a desenvolver infecções como a candidose oral. Konaté et al., (2017), em seu estudo, avaliaram a presença de candidose orofaríngea em pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) e observaram a prevalência de 79,4% dessa infecção. A espécie mais predominante foi a Candida albicans (92,5%), sendo o sexo feminino mais afetado (54,6%) entre as idades de 30 a 45 anos. Somado a isso, pacientes submetidos à quimioterapia ou radioterapia estão sujeitos a vários efeitos colaterais desse tratamento, principalmente pelo seu sistema imunológico comprometido. A cavidade oral representa uma das regiões com mais complicações, como mucosite e candidose oral. Nesses pacientes a prevalência de candidose oral é de 20 a 30%, dependendo da duração e do regime da quimioterapia, bem como relacionados a fatores como: tabagismo, biofilme bucal, mucosite oral, diminuição do fluxo salivar e linfocitopenia na prevalência do desenvolvimento da candidose oral (DIAZ et al., 2019; KAWASHITA et al., 2018; SUN et al., 2016). 20 Segundo Santos et al. (2018), pacientes transplantados também estão sob risco de desenvolver infecções por fungo, devido ao uso prolongado de drogas imunossupressoras. Santos et al. (2018) observaram a presença de candidose oral relacionada com o tempo do transplante e a idade do paciente. Entretanto, verificou-se a presença de outras espécies por Candida não- albicans (58%), o que alerta para a identificação das espécies fúngicas, as quais podem não apresentar sensibilidade a anti-fúngicos convencionais (SUN et al., 2016). Já no estudo de Sun et al., (2016), avaliou-se a ocorrência e os fatores associados da colonização oral por Candida spp. em pacientes portadores de neoplasias. A prevalência de colonização mais significativa por Candida albicans (33,7%) foi encontrada no grupo de pacientes com tumor no trato gastrointestinal. A idade demonstrou-se um fator de risco considerável em pacientes com câncer de pulmão e do trato gastrointestinal. Além disso, a frequência de escovação dentária exibiu relação significativa com o aumento da taxa de colonização. Sendo assim, um maior nível de colonização por esses fungos em pacientes com câncer, pode desencadear o desenvolvimento de infecção como a candidose oral. Além da imunossupressão como fator de risco para o desenvolvimento da candidose oral, doenças sistêmicas como diabetes mellitus tem se apresentado como condição para o surgimento dessa infecção fúngica (AMARI et al., 2012). Rodrigues, Rodrigues e Henriques (2019), em sua revisão de literatura, destacaram a diabetes mellitus como elemento de susceptibilidade para o aumento da Candida albicans. O estado imunocomprometido do paciente, somado a hiperglicemia não controlada pode levar ao surgimento de infecções secundárias. Rodrigues, Rodrigues e Henriques (2019) observaram a candidose oral como manifestação fúngica mais frequente em pacientes diabéticos, além de essas infecções fúngicas serem mais complicadas de tratar do que em pacientes saudáveis. Em relação ao uso de medicamentos como condição de risco, os antibióticos e os corticóides favorecem a proliferação de C. albicans por uma diminuição da microbiota oral (HERTEL; SCHIMIDT-WESTHAUSEN; STRIETZEL, 2015).Schulte et al. (2015) avaliaram os fatores de risco para a colonização por Candida spp e indicaram associação do uso de fluoroquinolonas, antibiótico utilizado para o tratamento de uma variedade de infecções bacterianas, e de antibióticos de amplo espectro à colonização desse fungo. Somado a isso, fatores que predizem essa proliferação por Candida spp e outros organismos multirresistentes incluem: idade avançada, desnutrição, tempo de internação em UTI, histórico de colonização por Staphylococcus aureus resistentes à meticilina e o uso de antibióticos antes da admissão na UTI. 21 A desnutrição, por sua vez, pode refletir no desequilíbrio da microbiota bucal, por prejudicar a resposta imunológica do paciente e afetar a capacidade de combater infecções (AMIRI et al., 2012). Com base no estudo de Paillaud et al., (2004), determinou-se a prevalência de candidose oral em idosos internados com 70 anos ou mais e sua associação com a desnutrição. Paillaud et al., (2004) evidenciaram que a prevalência de candidose oral foi de 37% (n = 36) e que esse grupo apresentou menor consumo diário de carboidratos, lipídios e proteínas. Portanto, o estudo demonstrou que tal infecção fúngica parece estar relacionada à desnutrição e afeta de modo negativo o estado nutricional do paciente pela possibilidade de agravar seu quadro clínico posteriormente. Uma pesquisa recente publicada por Nakajima et al. (2019) evidenciou que a pneumonia bacteriana, a pobre higiene oral e a secura bucal severa foram, significativamente, associadas ao desenvolvimento da candidose oral em pacientes geriátricos hospitalizados, em um hospital sem cirurgião-dentista. Esses autores relataram que cuidados orais através de profissionais da área reduzem o número de Candida albicans e patógenos bacterianos na cavidade oral que causam pneumonia por aspiração. 22 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral O objetivo do presente estudo foi avaliar a ocorrência de candidose oral em pacientes internados em UTI, a fim de analisar os perfis clínico e demográfico desses pacientes, e os possíveis fatores de risco associados ao desenvolvimento dessa infecção fúngica. 3.2 Objetivos específicos ⮚ Avaliar a ocorrência de candidose oral em pacientes internados em unidade de terapia intensiva; ⮚ Verificar o perfil sociodemográfico dos pacientes que desenvolveram candidose oral; ⮚ Verificar quais foram os motivos de internação dos pacientes que desenvolveram candidose oral; ⮚ Identificar outras alterações bucais presentes nos pacientes que desenvolveram candidose oral; ⮚ Identificar comorbidades associadas como a presença de diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica e quadro de sepse nos pacientes internados em UTI que desenvolveram candidose oral; ⮚ Verificar a anemia e os níveis de PCR dos pacientes que desenvolveram candidose oral. 23 4 METODOLOGIA 4. 1 Considerações éticas O desenvolvimento desta pesquisa foi pautado a resolução n° 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), a mesma foi cadastrada na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), por meio da Base de Registros de Pesquisas envolvendo Seres Humanos (Plataforma Brasil) e, por conseguinte, submetida à análise de seu conteúdo pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFRN e da Liga Norte Riograndense Contra o Câncer tendo sido aprovada sob o número 2.942.197 (ANEXO A). Diante disso, todos os pacientes foram esclarecidos sobre o estudo, tendo sido explicados a forma de realização, os objetivos, os riscos e os benefícios os quais foram expostos, conforme as Diretrizes e Normas Regulamentadoras do Conselho Nacional de Saúde. Desse modo, com a concordância em participar os pacientes assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Para os pacientes sedados, o TCLE foi explicado ao acompanhante 4.2 Caracterização do estudo A presente pesquisa consistiu em um estudo observacional do tipo transversal, desenvolvida em de pacientes na UTI do hospital Policlínica – Liga Norte Riograndense Contra o Câncer, situado em Natal, Rio Grande do Norte. 4.3 População e amostra A população do presente estudo foi composta de 92 pacientes internados na UTI do Hospital Policlínica – Liga Norte Rio-grandense Contra o Câncer, no período de maio de 2019 a dezembro de 2019, constituindo-se em uma amostra do tipo intencional para o estudo. 4.4 Critérios de inclusão e de exclusão da amostra 4.4.1 Os critérios de inclusão foram ● Pacientes maiores de 18 anos; 24 ● Paciente internados na UTI do Hospital Policlínica – Liga Norte Rio-grandense Contra o Câncer, 4.4.2 Os critérios de exclusão foram ● Pacientes que no momento da admissão à UTI exibam a candidose oral; ● Paciente com limitação de abertura de boca, inviabilizando a realização do exame intraoral; ● Pacientes internados de passagem pós cirúrgica. 4.5 Coletas de dados A coleta de dados constituiu-se em duas etapas, sendo a primeira a coletas de informações disponíveis nos prontuários multidisciplinares dos pacientes internados na UTI. As informações obtidas foram referentes ao nome, idade, sexo, convênio de saúde, motivo da internação, morbidades associadas, anemia e os níveis de PCR, tempo de internação. Para as morbidades associadas nestes pacientes, foram consideradas a presença de: diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, quadro de sepse e a predominância dos tipos de oxigenação dos pacientes que desenvolveram candidose oral. A segunda etapa consistiu da avaliação clínica que foi realizada nos leitos dos pacientes acamados, sob iluminação ambiente e com o auxílio, quando necessário, de espátulas de madeira. O exame foi realizado três vezes por semana por três examinadores distintos, durante a permanência do paciente na UTI até o 4º momento de avaliação ou quando o paciente tivesse alta médica ou óbito, conforme realizado por Martins (2020). Os examinadores foram calibrados conforme descrito no estudo de Martins, 2020. A calibração in lux foi adotada sendo realizada por meio de imagens projetadas. Um total de 14 imagens, sequencialmente, foram projetadas em multimídia. Essas figuras variaram desde condições de normalidade até quadros mais severos, com várias alterações, e os três examinadores descreveram as alterações presentes. Ao término, as respostas foram recolhidas e foi calculada a concordância inter-examinador pelo teste Kappa (LANDIS; KOCH, 1977) O índice kappa (ĸ) foi acima do valor recomendado (ĸ>0,65) para todos os pesquisadores, descritos no trabalho de Martins (2020). Todos os pacientes receberam higienização bucal, realizada pela equipe de enfermeiros e/ou pelo cirurgião-dentista da UTI, por meio de métodos mecânicos, com auxílio de gazes ou 25 escovas e soro fisiológico, e métodos químicos com a utilização de solução de digluconato de clorexidina 0,12% uma vez ao dia, bem como foram tratados com anti-fúngicos tópicos quando desenvolveram candidose oral. Com relação ao diagnóstico do das manifestações da candidose oral, foram considerados pacientes portadores de candidose pseudomembranosa aqueles que exibiam placas brancas facilmente removidas durante raspagem. Pacientes portadores de candidose eritematosa aqueles que exibiam lesões vermelhas, frequentemente, na região do palato duro e da língua com sintomas de queimação. Além disso, pacientes portadores de queilite angular com fissuras exibidas nas comissuras labiais, assintomáticas ou com sensibilidade também foram incluídos (LEWIS; WILLIANS, 2017). Dentre as alterações bucais detectadas como possíveis fatores de interferência locais, analisou-se a presença de hipossalivação de acordo com as características clinicas do paciente como palidez da mucosa; língua saburrosa, camada de coloraçãoesbranquiçada aderida ao dorso da língua; sangramento espontâneo ao exame bucal; ulcerações, perda da continuidade do epitélio com exposição do tecido conjuntivo; ressecamento, inadequada lubrificação da cavidade bucal; cálculo dentário e restos radiculares; e a presença do tubo orotraqueal pelo tipos de oxigenação dos pacientes internados (MARTINS, 2020). Diante do diagnóstico clínico de candidose oral, o médico chefe da UTI era comunicado para avaliar necessidade de introdução de anti-fúngico endovenoso, caso o paciente ainda não estivesse sendo submetido a essa terapia, e os pacientes portadores de candidose pseudomembranosa e candidose eritematosa eram submetidos à terapia anti-fúngica local com nistatina solução oral (100.000 u.i), aplicada 3 vezes ao dia com auxílio de uma gaze após a higienização com soro por um profissional da enfermagem. E caso o paciente estivesse consciente, era prescrito ainda bochecho da mesma solução, por 1 minuto, 3 vezes ao dia. Para os pacientes com diagnóstico de quelite angular foi prescrito cetoconazol creme (20mg/g), 3 vezes ao dia por 10 dias. 4.6 Análise estatística Os dados coletados foram tabulados no programa Microsoft Excel® 2019 (Microsoft Corporation, USA) e, posteriormente exportados para o programa estatístico SPSS® (Statistical Package for Social Sciences; IBM, USA) versão 22.0, tendo sido submetidos a análise estatística descritiva. 26 5 RESULTADOS Um total de 92 pacientes foi atendido na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Policlínica – Liga Norte Rio-grandense Contra o Câncer no período analisado. Foi observada uma maior frequência de indivíduos do sexo feminino (n = 9; 52,9%), com idade média de 69,6 ± 18,5 anos, em sua maioria provenientes do serviço público (n = 9; 52,9%) (Tabela 1). Destes, 17 (18,4%) desenvolveram candidose oral (Tabela 2). O perfil dos 17 casos dos pacientes que exibiam candidose oral encontra-se descrito na tabela 3. A forma pseudomembranosa esteve presente na maioria dos pacientes (n=13, 76,4%) seguida de queilite angular (n = 4, 23,5%). Tabela 1 - Características demográficas dos pacientes internados na UTI do Hospital Policlínica – Liga Norte Rio-grandense Contra o Câncer *Apenas 88 pacientes possuíam essa informação Fonte: Autoria própria n % Sexo Feminino 44 47,8% Masculino 48 52,2% Presença de candidose oral Sim 17 18,5% Não 75 81,5% Procedência do paciente* Rede Publica 44 47,3% Rede Privada 44 47,3% Média Desvio padrão Idade (Anos) 63,8 18,1 Tempo de internação (Dias) 4,5 3,2 27 Tabela 2 - Características demográficas dos pacientes que desenvolveram candidose oral internados na UTI do Hospital Policlínica – Liga Norte Rio-grandense Contra o Câncer. Fonte: Autoria própria Tabela 3 - Descrição do perfil dos pacientes que exibiam candidose oral durante o período de internação na UTI: n % Sexo Feminino 9 52,9 % Masculino 8 47,1 % Procedência do paciente Rede Pública 9 52,9% Rede Privada 8 47,1% Média Desvio padrão Idade (Anos) 69,6 18,5 Tempo de internação (Dias) 10,6 5,6 28 Caso Idade Sexo Alteração bucal associada Dia que desenvo lveu candido se Tipo de Candidose oral Doença base Comorbidade Presença de Anemia PCR Oxigen ação Tempo de permanência total (Dias) 01 27 Fem Língua saburrosa 2 Candidose pseudomembranosa Neoplasia maligna hematológica Insuficiência hepática Sim 92 mg/L TOT 12 02 71 Fem Lingua saburrosa, ressecamento labial. 2 Candidose pseudomembranosa Insuficiência renal crônica HAS Sim 134,3 mg/L TOT 4 03 86 Mas Sangramento 1 Candidose pseudomembranosa Broncopneumo nia HAS sim 13 mg/L TOT 9 04 89 Fem Hipossalivação 2 Candidose pseudomembranosa Neoplasia maligna (tumor sólido) Sepse e IRPA Sim NI TOT 3 05 69 Fem Lesão traumáticas, ressecamento labial. 6 Candidose pseudomembranosa Neoplasia maligna (tumor sólido) DM Sim 102 mg/L TOT 21 06 84 Mas Não 3 Candidose pseudomembranosa Neoplasia maligna (tumor sólido) RNC+Convulsão Sim 153 mg/L Natural 10 07 61 Mas Não 2 Queilite angular Neoplasia maligna (tumor sólido) NI Sim NI Natural 4 08 74 Fem Hipossalivação, Sangramento, Cálculo dentário 3 Candidose pseudomembranosa ITU de repetição HAS Sim 182.4 mg/L TOT 7 09 93 Fem NI 3 Candidose pseudomembranosa Pneumonia DM Sim 35 mg/L TOT 9 10 75 Fem Ressecamento 2 Candidose pseudomembranosa Neoplasia maligna (tumor sólido) IRPA Sim 92 mg/L TOT 6 11 74 Mas Sangramento; Resto radicular 2 Queilite angular sepse RNC + ITU + DM Sim NI TQT 9 29 Mas.: Masculino; Fem.: Feminino; NI: Não informado; TOT:tubo orotraqueal; TQT: Traqueostomia; ITU: Infecção do trato urinário; IRPA: Insuficiência Respiratória Aguda; HAS: Hipertensão Arterial Sistêmica; DM: Diabetes Mellitus; RNC:Rebaixamento do nível de consciência; PCR: Proteína C Reativa Fonte: Autoria própria 12 66 Fem Hipossalivação, língua saburrosa, cálculo dental 3 Candidose pseudomembranosa Neoplasia maligna (tumor sólido) Sepse Sim NI TOT 8 13 81 Mas Sangramento espontâneo, ressecamento labial 5 Candidose pseudomembranosa NI Sepse Não NI TOT 11 14 83 Mas Hipossalivação, Cálculo dental, ressecamento labial 3 Queilite angular Neoplasia maligna (Tumor sólido) DM, Pneumonia e cardiopatia Não 13 mg/L VMNI 13 15 33 Fem Úlcera em borda lateral de língua e língua saburrosa 4 Candidose pseudomembranosa Neoplasia maligna hematológica AVC hemorrágico, Neutropenia febril, Trombose Sim 10 mg/L Natural 22 16 39 Mas Língua saburrosa, hipossalivação, ressecamento, sangramento. 2 Candidose pseudomembranosa Neoplasia maligna hematológica NI Sim 185 mg/L TOT 20 17 65 Mas Lesão traumática em língua, língua saburrosa, sangramento espontâeno 4 Queilite angular Neoplasia maligna (Tumor sólido) NI Sim 113 mg/L TOT 12 30 O aspecto clínico de alguns pacientes diagnosticados com candidose oral pode ser evidenciado nas figuras 1, 2 e 3. Figura 1 - Candidose pseudomembranosa em dorso de língua Fonte: Arquivo da pesquisa Figura 2 - Paciente intubado com ulcerações por pressão e queilite angular Fonte: Arquivo da pesquisa 31 Figura 3 - Ressecamento labial e áreas de crostas em paciente do sexo masculino (Pac.11) que desenvolveu candidose pseudomembranosa em dorso de língua Fonte: Arquivo da pesquisa A maioria era portador de neoplasia maligna do tipo tumor sólido (n = 8, 47,0%). Com relação a comorbidades, destacaram-se a diabetes mellitus (23,45), hipertensão arterial sistêmica (17,6%) e a presença de quadro de sepse (17,6%). A anemia também foi um fator sistêmico presente em 15 pacientes (88,2%) do estudo. Para os tipos de oxigenação, pôde-se observar a predominância da ventilação mecânica com o tubo orotraqueal em 12 casos (70,5%), seguida de oxigenação natural (n=3 17,6%), ventilação mecânica não invasiva (n=1; 5,8%) e traqueostomia (5,8%). Além disso, o elevado valor do PCR foi evidenciado na maioria dos pacientes, com a média de 93,72 ± 57,7 (Tabela3). A maioria dos pacientes apresentava alterações bucais concomitantemente à candidose oral, sendo as mais frequentes a língua saburrosa (n=6, 35,2%), presença de ressecamento da cavidade bucal (n=6, 35,2%), sangramento (n=5, 29,4%) e hipossalivação (29,4%) detalhado na tabela 4. 32 Tabela 4 - Frequência das alterações bucais associadas a candidose oral. Fonte: Autoria própria A média de dias para desenvolvimento da infecção foi de 2.88 dias. A figura 4 evidencia a evolução dos pacientes portadores de candidose oral com o tempo de internação. Figura 4 - Evoluçãodas lesões de candidose oral ao longo do período de internação. Série 1 (azul): Referente aos pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva que não apresentaram lesões orais de candidose. Série 2 (Vermelho): Pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva que apresentaram candidose oral Fonte: Autoria própria Alteração Oral associada a presença de candidose oral Prevalência por indivíduo Prevalência entre as lesões n % % Língua saburrosa 6 35,2% 20,6% Ressecamento 6 35,2% 20,6% Sangramento 5 29,4% 17,2% Hipossalivação 5 29,4% 17,2% Úlceras 1 5,8% 3,4% Cálculo dentário 3 17,6% 10,3% Lesão traumática 2 11,7% 6,8% Resto Radicular 1 5,8% 3,4% 33 6 DISCUSSÃO Pacientes internados em UTI apresentam um risco aumentado para desenvolver infecções associadas à assistência à saúde devido a sua condição clínica comprometida. A candidose oral é a infecção fúngica que mais acomete pacientes hospitalizados, os quais tem maiores chances de desenvolver desfechos desfavoráveis devido ao risco de infecções respiratórias (SILVA et al., 2017). Ademais, o envolvimento sistêmico (candidemia) pelas espécies de Candida está associado a altas taxas de morbidade e mortalidade em pacientes imunocomprometidos (BASSETI et al., 2019; HELSTEIN, MAREK, 2019). Esta pesquisa evidenciou importantes aspectos em pacientes internado em UTI que desenvolveram candidose e, dessa forma, contribuiu para reforçar o imprescindível papel do cirurgião-dentista no ambiente hospitalar em conjunto com uma equipe multidisciplinar a fim de consolidar a integralidade do cuidado por meio da atenção à cavidade bucal, por vezes negligenciadas, bem como para refletir na melhora da saúde geral e na qualidade de vida destes pacientes (BLUM et al., 2018). A candidose oral representa a infecção fúngica oportunista mais comum em pacientes internados em UTI, pois a cavidade bucal tem se configurado como foco de disseminação de microrganismos patogênicos nesse ambiente (BAEDER et al., 2012) e, devido à condição clínica debilitada desses pacientes, eles exibem uma maior suscetibilidade a infecções oportunistas e são mais propícios a desenvolver alterações na microbiota bucal. Na presente pesquisa, 18,4% dos pacientes examinados desenvolveram essa infecção durante o tempo de internação na UTI. Watkins et al., (2017) em seu estudo, evidenciaram a mudança da microbiota bucal, bem como um aumento considerável de Candida albicans, após a admissão em UTI, o que reflete em uma susceptibilidade em desenvolver candidose oral. Durante o estudo, pôde-se observar a candidose pseudomembranosa como a forma clínica mais prevalente desta infecção oportunista (76.4%) nos pacientes que desenvolveram e de fato tem sido relatado em algumas pesquisas que esta forma clínica é a mais comumente observada em pacientes imunocomprometidos (HELLSTEIN; MAREK, 2019). Silva et al. (2014) avaliaram a presença de candidose oral em 27 pacientes e concluíram que a pseudomembranosa ocorreu em 23 pacientes, enquanto apenas 4 exibiam a queilite angular, o que também corrobora com os achados do nosso estudo. Fatores sistêmicos e locais podem desencadear a patogenicidade deste fungo. No presente estudo, pôde-se observar uma maior ocorrência de candidose oral em pacientes do sexo feminino (52,9%), e com a média de idade de 69,6 anos, em concordância com o estudo 34 retrospectivo de REINHARDT et al., (2018) que avaliou o perfil de pacientes que desenvolveram candidose oral, em um centro especializado em diagnóstico oral no Brasil, e observou a predominância do sexo feminino com idade entre 51 a 60 anos. Nessa perspectiva, pacientes internados que desenvolvem candidose oral apresentam fatores locais e sistêmicos, que podem aumentar a vulnerabilidade para o desenvolvimento dessa infecção oportunista. As neoplasias malignas estavam presentes na maioria dos pacientes. É descrito na literatura que a candidose oral é comumente encontrada em pacientes que realizam tratamento para neoplasias malignas como radioterapia e quimioterapia, como foi observado no estudo de Kawashita et al., (2018) em que 75 (25%) dos 300 pacientes que estavam em tratamento com radioterapia de cabeça e pescoço desenvolveram a candidose oral. Morais et al. (2014) avaliaram as manifestações bucais prevalentes em crianças portadoras de LLA e a candidose oral apresentou-se entre as lesões bucais mais frequentes. Assim, alterações no sistema imune, diminuição do fluxo salivar, mucosite oral, tabagismo e biofilme bucal, presentes nessas situações, favorecem o desenvolvimento de infecções oportunistas (DIAZ et al., 2019; KAWASHITA et al., 2018; SUN et al., 2016). Além disso, destaca-se o quadro de sepse, síndrome de resposta inflamatória sistêmica desencadeada por infecção bacteriana, viral, fúngica ou parasitária, presentes em pacientes internados em UTI, pois esses pacientes utilizam antibióticos de amplo espectro que diminuem a competitividade dos microrganismos, favorecendo o desenvolvimento de infecções oportunistas, inclusive pelas espécies de Candida (LYU et al., 2016; LEWIS; WILLIAMS; 2017). Isso pode ser observado também com o elevado valor de PCR, nível sérico da proteína C-reativa (proteína plasmática reagente de fase aguda produzida pelo fígado) – em mg/ml, o qual indica processos inflamatórios e infecções que ocasionam fragilidade na resposta imune do paciente, favorecendo as infecções oportunistas. O que corrobora com os resultados do nosso estudo, em que foi observado que todos os pacientes apresentavam em média 93,72 do valor do PCR, além da presença de sepse (17,6%). Schulte et al. (2015) apontarem o uso de antibióticos de amplo espectro como fatores de risco associados à colonização de C. albicans e, somado ao quadro clínico debilitado do paciente, o crescimento excessivo desse fungo pode levar ao desenvolvimento de infecções oportunistas orais. Também foi observado que 15 pacientes (88,2%) apresentavam anemia, distúrbio hematológico, que se configura no agravamento do quadro de saúde do paciente. Com isso, a anemia, a qual pode ter a deficiência de ferro como a causa mais comum pode acarretar manifestações na cavidade bucal, pois o ferro é essencial para o crescimento da célula e sua 35 deficiência pode gerar alterações na mucosa, como espessamento da mucosa, e diminuindo assim a capacidade de reparo da mesma (LU, 2016; LEWIS; WILLIAMS; 2017). Rodrigues, Rodrigues e Henriques (2019) observaram a diabetes mellitus como elemento de susceptibilidade para o aumento da Candida albicans e a candidose oral como infecção fúngica mais frequente em pacientes diabéticos. O presente estudo 4 pacientes apresentaram diabetes mellitus (DM) (23,5%) e 3 (17,6%) hipertensão arterial sistêmica (HAS). Pacientes portadores de DM e HAS utilizam medicamentos sistêmicos como anti-hipertensivos e drogas diuréticas que podem reduzir o fluxo salivar e assim facilitar o acúmulo de biofilme. Isso, aliado com uma negligência da saúde bucal pode acarretar o estabelecimento de várias doenças, entre elas a candidose oral (MARTORANO-FERNANDES et al., 2020). Ergin et al., (2013) ao analisarem a prevalência da colonização por Candida albicans em pacientes internados em UTI, encontraram esse microrganismo em 42% dos pacientes internados em UTI e destes 21,4% desenvolveram a candidose oral. Além disso, esses autores identificaram que a presença de nutrição parenteral e o uso de antibióticos e corticoides estavam significativamente relacionados com essa infecção fúngica. Outro fator que pode facilitar o desenvolvimento dessa infecção fúngica é a utilização de suporte respiratório artificial. No nosso estudo, 70,5% dos pacientes utilizavam TOT, 5,8% com VMNI e 17,6% com oxigenação natural. Marekovi ́ et al. (2021) também evidenciaram fatores de risco para a candidose oral, observando que de 160 pacientesinternados em UTI com candidose oral, a ventilação mecânica esteve presente em 42,5% desses pacientes. Vale ressaltar que, infecções relacionadas à assistência à saúde são aquelas adquiridas 48 horas após a admissão, aumentando a gravidade das taxas de morbidade e mortalidade no sistema de saúde pública (Agência Nacional de Vigilância Sanitária 2016) Nessa perspectiva, 8 pacientes do nosso estudo apresentaram lesões de candidose oral em até 48 horas após a admissão (Figura 4), pois devido ao quadro clinico debilitado do paciente, bem como, aos fatores já mencionados, a cavidade bucal, por meio do desequilíbrio da microbiota oral, torna- se porta de entrada para estas infecções oportunistas. A Pneumonia Associada a Ventilação mecânica é uma das infecções nosocomiais mais comuns e a principal causa de mortes entre pacientes gravemente enfermos (PRENDERGAST et al.,2009). Um fator que contribui para o desenvolvimento da PAV é a saúde bucal do paciente deficiente associada à ventilação mecânica devido a intubação. A intubação e a diminuição do nível de consciência podem levar a aspiração de microrganismos patogénicos, bem como a presença de úlceras por pressão. (SAENSON et al., 2016). No presente estudo foi observado a presença do tubo orotraqueal na maioria dos pacientes que desenvolveram candidose oral. 36 De Lacerda et al. (2017) evidenciaram a correlação entre o biofilme dentário e a colonização da orofaringe em pacientes com ventilação mecânica. A interrupção desse processo, ao evitar a colonização de patógenos, auxilia na prevenção da PAV. Assim, os cuidados bucais não só melhoram a saúde bucal e o bem-estar do paciente, mas também favorecem a redução na taxa de incidência da PAV (HAGHIGHI et al., 2017; EL RALBANY et al., 2015). Diante disso, pode-se destacar a importância da atenção e do cuidado com saúde bucal desses pacientes que fazem uso de ventilação mecânica. Além de lesões de candidose oral, os pacientes gravemente enfermos podem exibir alterações bucais como foram observadas, no presente estudo pela presença de língua saburrosa (35,2%), ressecamento da cavidade bucal (35,2%), sangramento (29,4%) e hipossalivação (29,4%). Siqueira et al. (2015), em sua revisão de literatura, ressaltaram fatores locais para o desenvolvimento da candidose oral e observaram que pacientes internados em UTI podiam apresentar facilidade na aderência fúngica devido à higienização deficiente e ao baixo fluxo salivar, que podem ser confirmados pela prevalência de língua saburrosa, ressecamento e hipossalivação nos pacientes deste estudo. Tais fatores associados com o estado imunocomprometido desses pacientes podem reduzir a defesa do hospedeiro e assim permitir que Candida albicans mude de um estado comensal para patogênico, principalmente pela formação do biofilme bucal (HELLSTEIN; MAREK, 2019). Vale destacar também que alguns medicamentos usados na UTI como antibióticos, corticoides e anti-hipertensivos afetam a qualidade e a quantidade de secreção de saliva, levando a diminuição do fluxo salivar e a alterações na microbiota oral, contribuindo para o surgimento de alterações bucais como infecções fúngicas e bacteriana (SILVA et al., 2014). Diaz et al. (2019) observaram a associação entre a candidose oral e a diminuição do fluxo salivar em pacientes em tratamento com quimioterapia, pois mudanças quantitativas e qualitativas na saliva podem impactar na microbiota residente, bem como provocar alterações epiteliais na mucosa oral e promover a proliferação de fungos. O manejo diante de portadores de candidose oral vai depender do estágio e da dimensão da infecção, mas a mesma é tratada a base de anti-fúngicos locais ou sistêmicos. O tratamento tópico como, por exemplo, a nistatina solução oral (100.000UI) é o tratamento de escolha mais utilizado. Por outro lado, a terapia antifúngica sistêmica por meio de fluconazol, cetaconazol ou anfotericina B é a terapia de escolha em caso de pacientes imunocomprometidos (LEWIS; WILLIAMS; 2017). Em pacientes internados é de suma importância que, diante do diagnóstico de candidose oral, a equipe médica seja informada para que quando necessária a terapia sistêmica a base de anti-fúngico endovenoso seja introduzida para evitar a disseminação da 37 infecção e a complicação do quadro clínico do paciente. Os pacientes foram tratados com a terapia anti-fúngica tradicional, a qual mostrou efetividade, visto que a partir do 3º dia de infecção houve tendência à regressão clínica da infecção. Em um paciente apenas a infecção persistiu por 22 dias, fato este que pode estar associado à condição sistêmica que a paciente exibia e à resistência que pode ter sido desenvolvida ao tratamento. Nesses casos, a resistência ao tratamento com anti-fúngicos pode ser relacionado ao uso constante desse medicamento e, como consequência, à seleção de microrganismos mais resistentes, bem como ao fato desses microrganismos adquirirem resistência ao longo do tratamento. Diante desse contexto, a resistência dos microrganismos pode trazer prejuízo a esses pacientes, pois a casos em que não ocorre a remissão, podendo levar ao aumento do tempo de internação e ao óbito (GHRENASSIA et al., 2019; MELO et al., 2019). Isso ocorre devido a algumas espécies de Candida estarem desenvolvendo resistência aos anti-fúngicos da família dos azóis, entre elas a C. alris, C. glabrata, C. tropicalis e a C. Krusei (MAREKOVI ́et al., 2021; SARDI et al., 2013; SCORZONI et al., 2013). Melo et al. (2019), observaram que apesar da C. albicans ser a mais prevalente nesse tipo de infecção, espécies de Candida não albicans estão associadas a infecções da corrente sanguínea que causam a candidemia. Desse modo, a candidemia é uma infecção sanguínea causada pelas espécies de Candida, responsáveis por 80% das infecções fúngicas nosocomiais e associadas à alta taxa de mortalidade (CANELA et al., 2018). No Brasil, mais de 40% dos pacientes com candidemia estão em ambiente de UTI e, além disso, apresentam candidose oral recorrente com envolvimento de cepas resistentes. Sendo assim, somado a condição imunológica debilitada desses pacientes, essa infecção sistêmica torna-se um fator agravante para o quadro clínico deles, podendo ocasionar aumento do tempo de internação e altas taxas de morbimortalidade (SIQUEIRAet al., 2015) Vale ressaltar também que, durante a internação, pode haver uma negligência em relação à atenção à saúde bucal dos pacientes internados o que favorece o acúmulo do biofilme bucal. Na literatura é possível observar o aumento do biofilme bucal no ambiente de UTI. Em seu estudo, Túlio et al. (2018) investigaram o aumento do biofilme e sua associação com o tempo de internação e o aumento do número de microrganismos potencialmente patogênicos ao trato respiratório, refletindo no risco e na recuperação da saúde dos pacientes. Esses acúmulos do biofilme podem causar infecções e, no ambiente bucal, a Candida pode estar presente em conjunto com outros patógenos existentes como Streptococos encontrados nos biofilmes. Com isso, cuidado efetivos com a saúde bucal dos pacientes podem minimizar a possibilidade de 38 surgimentos de infecções oportunistas (EL-RABBANY et al., 2015; DE LACERDA et al., 2017). Este estudo trouxe importantes aspectos em relação ao desenvolvimento da candidose oral em pacientes internados em UTI, mas apresentou algumas limitações como pequeno número da amostra de pacientes que desenvolveram a infecção e o curto período de tempo de realização da pesquisa, o que inviabilizou a realização de testes de associação para identificação de fatores de risco para o desenvolvimento da candidose oral. Por outro lado, demonstrou a importância do conhecimento do desenvolvimento da candidose oral e o aumento da susceptibilidade à essa doença com a presença de alterações sistêmicas e locais. Além disso, reforçouo cuidado integralizado desses pacientes pela atenção à saúde bucal de forma efetiva por meio do cirurgião-dentista no ambiente hospitalar a fim de prevenir possíveis complicações no quadro clínico dos mesmos. Nessa perspectiva, é salutar destacar a presença indispensável do cirurgião-dentista em conjunto com a equipe multidisciplinar para promover atenção à cavidade bucal desses pacientes (BLUM et al, 2018). É valido destacar que a UTI do Hospital Policlínica consta com a presença de CD na sua equipe e isso contribui para minimizar os riscos de desenvolvimento de complicações do quadro sistêmico. Tal fato reflete na situação encontrada no presente estudo em que a maioria dos pacientes não apresentaram lesões de candidose oral. Portanto, embasados no estudo de Siqueira et al. (2015), ressaltamos a importância do CD na UTI, pois através do diagnóstico e do tratamento precoce dos casos de candidose oral, há redução do risco de disseminação para uma infeção sistêmica, que poderia interferir no tempo de internação, nos custos hospitalares e na evolução do paciente. 39 7 CONCLUSÕES Os resultados destes estudos nos permitem concluir que a candidose oral, mesmo sendo a infecção fúngica mais frequente nesses pacientes na literatura, no presente estudo não foi detectada ocorrência elevada dessa infecção oportunista nos pacientes internados na UTI, no período da pesquisa, o que pode estar associado à presença do cirurgião-dentista compondo a equipe multidisciplinar na referida UTI. Tal fato, reforça a importância desse profissional em atuar na prevenção, diagnóstico e tratamento de possíveis alterações bucais nesses pacientes auxiliando na redução de complicações sistêmicas, diminuição do tempo de internação e custos hospitalares. 40 REFERÊNCIAS AMIRI, H. M. et al. 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