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Transgeracionalidade na Dinâmica Familiar

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A DINÂMICA FAMILIAR E O FENÔMENO DA TRANSGERACIONALIDADE: DEFINIÇÃO DE CONCEITOS 
Denise Falcke Adriana Wagner 
Encontramos referências da força da família em sua perpetuação mediante a transmissão de seus legados de geração a geração nas culturas mais diversas. Esse fenômeno de transmissão transgeracional, constituído desde uma perspectiva histórica, não só dá identidade à família, como também, explica o significado das idiossincrasias e transações que caracterizam o funcionamento familiar da última geração. 
Entender esse fenômeno e as diferentes formas de sua expressão, torna-se, então, fundamental para a compreensão da dinâmica familiar. Partindo da definição atribuída aos processos de transmissão que ocorrem entre as gerações sucessivas de uma família, encontramos registros na literatura de três termos que são comumente utilizados de forma indiscriminada: transgeracionalidade, intergeracionalidade e multigeracionalidade. Analisando o significado de cada um desses três termos (Ferreira, 1986), verifica-se que o prefixo trans (através) resgata os componentes que perpassam a história familiar e se mantêm presentes ao longo das gerações. O prefixo inter traz a noção de reciprocidade (posição intermediária, entre) que sugere, principalmente, a passagem de uma geração a outra, em detrimento da idéia de permanência de tais processos no cotidiano das sucessivas 
A dinâmica familiar e o fenômeno da transgeracionalidade: definição de conceitos gerações da família. Multi (muito, numeroso), por sua vez, implica basicamente em quantidade e, desse modo, enfatiza o envolvimento de mais de uma geração, sem privilegiar os fatores que fazem a ligação entre elas. 
Além disso, nessas definições, encontra-se claramente a idéia de repetição, reedição e reprise de determinados processos familiares, com diferentes nuances. Tendo em vista tais terminologias e com o objetivo de chegar a uma compreensão mais complexa de tal fenômeno, optamos, neste capítulo, por utilizar o termo transgeracionalidade como aquele representativo dos processos que são transmitidos pela família de uma geração a outra e se mantêm presentes ao longo da história familiar. 
Desde esta perspectiva, o processo de transmissão transgeracional baseia-se no pressuposto de que todo o indivíduo se insere em uma história preexistente, da qual ele é herdeiro e prisioneiro (André Fustier e Aubertel, 1998). Isso ocorre porque a identidade do indivíduo se constitui a partir desse legado familiar que, por sua vez, define o lugar que ele passa a assumir na família. 
Partimos, então, da idéia de que, em todas as famílias, ocorre a transmissão de padrões de uma geração para a outra (Boszormenyi- Nagy e Spark, 1973; Bowen, 1978; Harvey e Bray, 1991), e que a influência desses transmissores familiares no indivíduo independe da interação dele com a sua família (Williamson, 1982). 
As relações estabelecidas com a família na qual se nasce são as mais importantes da vida e vão representar a base do comportamento futuro. Ilustrando tal idéia, Groisman (2000) assinala que: "o hoje é o ontem com outro cenário, outra roupagem, outros personagens, só que a essência é a mesma" (p. 33). Neste sentido, o autor postula que desde a infância, as experiências vividas com as figuras significativas do mundo familiar vão sendo gravadas no indivíduo. Essas experiências, que envolvem a cultura, a moral e os valores das gerações anteriores, vão influenciar, sem que o sujeito perceba, as suas decisões e as suas escolhas afetivas, sexuais e profissionais, entre outras. Figurativamente, é como se todas as pessoas tivessem vozes familiares gravadas no seu interior. No entanto, a diferença de uma pessoa para outra seria a quantidade, a intensidade e o grau de compreensão, ou talvez possamos dizer, o volume dessas vozes, que daria a dimensão da influência na vida do sujeito. 
Em gerações sucessivas de uma família, é comum a atribuição precoce de mandatos aos seus membros. Por exemplo, frente a um recém-nascido, podem ser ditas frases tais como: "Ele vai ser um campeão" ou "Será um lutador como o pai". A importância familiar desta atribuição é que irá determinar o poder e o quanto esse mandato passará a fazer parte do modo de viver do sujeito. A frustração da expectativa familiar, na recusa de cumprir determinado papel ou função, gera sentimentos de abandono e solidão. O indivíduo vive tal experiência como um fracasso e defronta-se com sentimentos de culpa e sofrimento que tal desobediência, frequentemente, provoca em termos pessoais e familiares. 
Em função disto, não são raros os acontecimentos de uma geração serem o reflexo dos acontecimentos da geração anterior (Breulin, Schwartz e Mac Kune-Karrer, 2000). É importante salientar que a tentativa de rejeição do padrão familiar de origem, em muitos casos, se dá pela busca do modelo oposto. Assim, seria como se encontrar com o outro lado da mesma moeda e, inevitavelmente, o sujeito passa a sofrer consequências semelhantes àquelas do padrão vivenciado na família de origem. 
Partindo desta premissa, a desejada liberdade, comumente definida como a capacidade de agir de acordo com a própria vontade, sem sentimento de culpa, apresenta-se aprisionada às relações familiares, devido à potência e à eficácia dos processos de transmissão transgeracional. Costa (2000, p. 102) utiliza-se de uma metáfora elucidativa desse fenômeno ao referir: "ainda que o indivíduo se considere livre, encontra-se subordinado a uma verdadeira assembléia de cidadãos, em permanente atividade em seu mundo interno, fornecendo-lhe pareceres favoráveis ou desfavoráveis". Esta assembleia é composta por pais, irmãos, avós e outros membros significativos da família de origem que interferem em seus atos, de forma a apoiá-los ou condená-los. 
Podemos dizer que existe um "idioma" dentro de cada grupo familiar que estabelece a comunicação intergeracional e é por meio dele que as dificuldades e anseios dos pais são transmitidos aos seus filhos (Costa, 2000). Entretanto, apesar da evidência do quanto as experiências na família de origem se fazem presentes na vida do indivíduo, são relativamente poucas as pessoas conscientes de como tais eventos, continuamente, influenciam e controlam seus comportamentos. 
Metaforicamente, Groisman (2000) utiliza a imagem de uma cruz para mostrar a interação entre as experiências passadas e as atuais. Na cruz, a haste vertical representa o que foi vivido e transmitido pelos antecedentes - tabus, segredos, lealdades, valores, crenças e, principalmente, a história vivenciada e compartilhada. A haste horizontal, por sua vez, representa a história que está sendo construída, tanto nas relações profissionais, sociais e amorosas, como na família que o sujeito constitui. Neste caso, a intercessão entre as hastes é inevitável ao longo de nossa história e o encontro dessas experiências tem reflexos em inúmeras áreas de nossas vidas e de nossos descendentes. 
O impacto das questões transgeracionais ocorre, prioritariamente, em pontos específicos do percurso familiar ao longo do tempo. Assim, existem momentos do ciclo evolutivo vital, nos quais o sujeito se depara mais concretamente com as questões da sua família de origem. Esses momentos, normalmente, se relacionam a períodos de crises, nos quais há um acúmulo de estresse no núcleo familiar, que podem levar a uma estagnação ou, por outro lado, serem impulsionadores de mudanças evolutivas. 
Muitas transições familiares que geram crises incluem uma combinação de estresse cumulativo e de evolução (Joselevich, 1988). É o que acontece, por exemplo, nos momentos cruciais do ciclo evolutivo vital familiar. Um período de evolução familiar que é desejado e planejado cuidadosamente, tal como o casamento de um filho, por exemplo, é o que se poderia chamar de uma crise previsível, em vista de que se mantêm intactos certos paradigmas que incluem regras, crenças e valores familiares. Entretanto, além dessas crises previsíveis, a família também enfrenta crises imprevisíveis, que podem ocorrer tanto dentro da família como fora dela,como por exemplo, a perda de status econômico familiar. Nesses casos, quando uma crise imprevisível ocorre em um período de crise previsível, a família fica submetida a um estresse cumulativo que pode gerar um longo período de desequilíbrio.
Na visão de Carter e McGoldrick (1995), as crises, tanto previsíveis como imprevisíveis, são consideradas como estressores horizontais. A ansiedade proveniente desses estressores é produzida conforme a família lida com as mudanças e as transições do seu ciclo evolutivo vital. Os estressores verticais, por sua vez, incluem padrões de relacionamento e funcionamento que são transmitidos de geração a geração. São compostos pelo conjunto de atitudes, tabus, padrões, mitos (Ferreira, 1963; Andolfi e Angelo, 1989), segredos (Imber- Black, 1994; Carpenter e Treacher, 1993), crenças (Dallos, 1996), valores (Cerveny e Berthoud, 1997), rituais (Imber-Black, Roberts e Whiting, 1991; Bennett, Wolin e Mcavity, 1988), legados (Steinglass et al., 1989) e lealdades familiares (Boszormenyi- Nagy e Spark, 1973). Esses fatores são considerados como uma força "invisível" que maneja as pessoas. 
A fundamental importância desses fenômenos no processo de perpetuação da identidade familiar requer uma compreensão mais minuciosa da definição que é dada a cada um deles pela literatura especializada na área. 
Lealdades 
O conceito de lealdade é fundamental para compreender a estrutura relacional mais profunda das famílias e de outros grupos sociais. Ela pode ser definida em termos moral, política e psicológica. Em suas múltiplas formas de expressão, a lealdade "institui uma força saudável ou não, que cria vínculos de conexão entre gerações passadas e futuras numa família" (Paccola, 1994, p. 31). 
A lealdade marca o pertencimento a um grupo e aparece, assim, tanto como uma característica grupal, como também, sob forma de uma atitude individual. 
Na família, bem como em outros grupos, a lealdade mais fundamental tem por objetivo a sobrevivência do próprio grupo (Miermont, 1994). O grau de lealdade dependerá da posição de cada indivíduo dentro do seu universo, o que se deve ao papel que lhe é delegado transgeracionalmente pela sua família. Para ser um membro leal a um grupo, o indivíduo deve interiorizar as expectativas grupais e assumir uma série de atitudes a fim de cumprir os seus mandatos (Boszormenyi-Nagy e Spark, 1973). Assim, o componente de obrigação ética na lealdade está vinculado, primeiramente, ao sentido de dever e de justiça compartilhado pelos membros comprometidos com essa lealdade. A incapacidade de cumprir tais obrigações gera sentimentos de culpa e estes, então, passam a se constituir numa força secundária de regulação do sistema. 
A constituição da lealdade é determinada pela história do grupo familiar, pelo tipo de justiça que pratica e por seus mitos. Desse modo, a natureza das obrigações de cada um dos membros do grupo dependerá da sua disposição emocional e da sua posição no chamado "livro-caixa" da família, em que está a contabilidade do que cada um pode receber e do que deve dar (Boszormenyi- Nagy e Spark, 1973; Miermont, 1994). 
Além disso, as lealdades mostram-se estreitamente interrelacionadas tanto com a configuração como com a estruturação da família, criando laços entre as gerações. Neste sentido, observa-se, por exemplo, que o sintoma de um filho pode servir para evitar uma mudança vivida como perigosa pelos pais. Pode-se, então, definir a lealdade como uma força que torna o sujeito um membro efetivo do grupo e, ao mesmo tempo, lhe exige, em troca, o compromisso de obedecer às regras do sistema e cumprir os mandatos que lhe são delegados, mesmo que não sejam conscientes. 
Sendo assim, os compromissos de lealdade são como fibras invisíveis, mas muito resistentes, que mantêm unidos fragmentos complexos de conduta relacional, tanto nas famílias como na sociedade em conjunto (Boszormenyi-Nagy e Spark, 1973). Nesta perspectiva, torna-se imprescindível compreender os antigos vínculos de lealdade frente à família de origem. Só assim, é possível buscar o equilíbrio entre a autonomia individual e as contas multigeracionais de lealdade familiar. 
VALORES 
Os valores familiares comumente são definidos como sinônimo de crenças familiares. Cerveny e Berthoud (1997), entretanto, dão uma definição mais abrangente, indicando que os valores familiares são aspectos da vida - individual e coletiva - transmitidos, implícita ou explicitamente, entre os componentes do sistema. Neles estão inseridos segredos, tabus, mitos e crenças, rituais e cerimônias realizadas pela família, que correspondem à ideologia do sistema familiar. 
De forma geral, os valores familiares perpassam temas que historicamente têm sido considerados como relevantes para as famílias ou que vêm sendo incorporados devido aos avanços sociais. Mantém-se, por exemplo, a tradição do casamento, mas ampliam-se as exigências relacionadas ao estudo, devido a uma necessidade atual de maior competitividade profissional. 
Neste sentido, o conceito de valor é utilizado para indicar os aspectos que a família ou grupo social se preocupam em transmitir aos seus descendentes. 
CRENÇAS 
O conceito de crença tem sido definido a partir de aspectos religiosos, morais, cognitivos e pessoais (Dallos, 1996). Neste conceito, está inserida uma série de interpretações e premissas com relação àquilo que se considera como certo. Além disso, o que alicerça a crença é um componente emotivo acerca do que deve ser certo. Por exemplo, é possível que em uma família exista a crença de que "somos uma família unida". Essa crença contém a premissa de que tal afirmação é certa e também está implícito o quanto se considera desejável que seja assim. Desafiá-la ocasionará uma reação de defesa pelos demais membros da família. 
Observamos que, apesar de nem sempre os membros de uma mesma família concordarem, eles possuem um conjunto de crenças acerca do que vale a pena estar ou não de acordo. Assim, a consciência do tipo de crença existente no núcleo familiar favorece as relações de poder que podem surgir em torno destas, pois assumir determinadas crenças familiares fica sendo tão significativo quanto contestá-las. De uma forma ou de outra, a crença define a identidade familiar. 
Nesta perspectiva, Steinglass et al. (1989) constatam que a identidade da família está baseada em uma estrutura cognoscitiva subjacente, isto é, uma série de crenças, de atitudes e de atribuições fundamentais que a família compartilha a respeito de si mesma. Como tal, a identidade familiar é um fenômeno psicológico grupal que tem como base um sistema de crenças compartilhadas. Sistema este que inclui questões a respeito de funções, de relações e de valores que governam (regulam) a interação nas famílias e grupos. 
É neste ponto que ocorre a aproximação do conceito de crença com a definição de outros constructos transgeracionais. O sistema de crenças compartilhadas tem recebido muitas denominações, de acordo com diferentes autores, tais como temas de família, regras da família e mitos familiares. Encontram-se também descritos com crenças familiares muitos aspectos relacionados aos conceitos de valores e de padrões da família. Como se pode observar, entretanto, o conceito de crença refere-se a um conjunto de pressupostos que a família define em relação ao que é certo ou errado e, com isso, ao que deve ser seguido ou não pelos seus componentes. 
MITOS 
Popularmente, o termo mito é utilizado para se referir a histórias fabulosas ou heróicas. É comum relacionar-se a aspectos inacreditáveis, fantasiosos e irreais, como sendo o oposto ao pensamento lógico e racional. 
Todavia, o mito, em sentido amplo, é um sistema explicativo dos mais diferentes fenômenos da vida. Ele busca fornecer explicações para temas relativos, desde a origem do mundo, do homem e da família, até as transições do ciclo de vida familiar como o nascimento, o casamento e a morte (Miermont, 1994). 
No âmbito da Terapia de Família, Ferreira (1963) foi o primeiro a utilizar o termo mito familiar. Ele propôs este conceitocom o objetivo de definir algumas atitudes do grupo familiar que se originam em pensamentos defensivos e têm a finalidade de garantir a coesão interna e proteção externa da família. 
Levando em conta a origem dos mitos em pensamentos defensivos do grupo familiar, verifica-se que eles servem para escurecer ou negar uma realidade penosa e complexa, cuja aceitação pela família seria muito dolorosa (Ríos González, 1994). Podemos considerar, ainda, que o mito indica um segredo, uma crença inconsciente ou uma atitude que se perpetua na determinação de condutas e respostas desse sistema, através de uma ampla aceitação pelas gerações sucessivas de uma família ou grupo social (Pincus e Dare, 1981). 
O mito é, então, um elemento organizador, um totem, baseado em um conjunto de crenças acerca das supostas qualidades do grupo, uma espécie de saga, desenvolvida conforme os aspectos do grupo nos quais seus membros investem ou deixam de investir (Neuburger, 1999). A partir dessas crenças, são estabelecidas regras de comportamento que guiam o tipo de relações que os membros da família devem estabelecer entre si e, igualmente, o tipo de relação que se espera que cada um estabeleça com o mundo exterior. Andolfi e Angelo (1989), tentando definir o grau de realismo dos mitos, afirmam que eles colocam-se em "uma área intermediária onde a realidade e a estória se mesclam à fantasia para criar novas situações em que os elementos originais são utilizados e conectados arbitrariamente entre si" (p. 77). Assim, no mito coexistem elementos que favorecem a construção de uma realidade que visa suprir necessidades afetivas. A criação de um sentido qualquer para acontecimentos ambíguos e casuais torna-os menos ameaçadores do que não ser possível atribuir nenhum significado a eles. 
O mito se origina e evolui, assim, sobre vazios, falta ou escassez de dados e explicações plausíveis (Andolfi, Angelo, 1989). Além disso, são os padrões rígidos de comunicação que mais favorecem a construção de mitos familiares (Prado, 1996). Os mitos, então, são construções que vão se estabelecendo como verdades ao longo do tempo, visando preencher necessidades da família e possuindo um poder muito grande sobre seus membros, podendo até determinar seu destino. Como condutores das histórias familiares, os mitos, metaforicamente, deixam claro que tipos de comportamentos são esperados dos membros familiares, quais são aceitáveis e quais são proibidos, tabus.
Para ficar clara esta ideia, podemos pensar na infidelidade conjugal, como um tema favorecedor ao desenvolvimento de mitos. Pittman (1994) identifica uma série de mitos relacionados à infidelidade, que acabam por dar as diretrizes do que é esperado no relacionamento conjugal. Por exemplo, se para um casal "uma relação extraconjugal destrói o matrimônio" fica evidente o quanto se espera que ela não ocorra. Por outro lado, um casal pode aderir ao mito de que "todas as pessoas são infiéis" ou de que "os relacionamentos extraconjugais podem fazer bem, revivendo um casamento monótono". Nestes casos, a infidelidade fica sendo aceitável na vida conjugal. É neste sentido que os mitos acabam por determinar quais comportamentos são aceitáveis ou não nos relacionamentos familiares. 
Outro aspecto importante na construção e desenvolvimento dos mitos é a constatação de que eles podem ser iniciados por um único membro da família (Pincus e Dare, 1981). No entanto, assim como tudo que acontece na família, eles não permanecem como propriedade de um só indivíduo. Os demais membros da família iniciam um processo de resposta que vai fortalecer ou enfraquecer os efeitos dos mitos. 
Sendo assim, os mitos dizem respeito a todos os membros do sistema familiar, o que não permite a sua contestação por nenhum destes, apesar de, muitas vezes, eles conterem claras distorções da realidade (Pincus e Dare, 1981; Andolfi e Angelo, 1989; Miermont, 1994). Entretanto, Ríos González (1994) afirma que, apesar de parecer algo irracional e irreal, quando visto de fora, os mitos familiares são parte integrante da realidade familiar. 
O mito serve, assim, como um organizador que cumpre uma função homeostática. Por isso, quanto maior for o sofrimento, a crise e a ameaça à família, mais o grupo se apegará ao mito, já que ele funciona como o sistema de explicação operante (Miermont, 1994). No entanto, Andolfi e Angelo (1989) consideram que, se a finalidade do mito fosse apenas homeostática, não haveria evolução, mas uma repetição estereotipada dos mesmos problemas relacionais de forma transgeracional. Eles assinalam que, na realidade, ocorrem mudanças na trama mítica, no decorrer do tempo, já que tendem a ocorrer modificações nas funções designadas a algum membro da família ao longo do ciclo vital, nos momentos em que a família cumpre etapas evolutivas e, com isso, muda o projeto relacional. 
O mito pode, ainda, apresentar uma conotação intensamente psicopatológica se estiver baseado em crenças falsas, regras dissimuladas de comportamentos cotidianos e interações estereotipadas. Assim, a função homeostática do mito vai deteriorando-se até ser uma defesa do grupo, transmitida de geração para geração. É nesta dinâmica que a família passa a ser oprimida por sua própria mitologia (Miermont, 1994). 
De forma sintética, podemos dizer que o mito é um sistema explicativo de aspectos da vida que, conscientemente, são difíceis de serem compreendidos ou aceitos. 
SEGREDOS 
Frente a alguma atitude não aceita pela cultura familiar, os segredos surgem como forma de esconder determinados fatos que não correspondam às exigências estabelecidas pelos padrões familiares, bem como, aos tabus sagrados que se mantêm entre as gerações (Imber-Black, 1994; Prado, 1996). 
Em um grupo familiar, um segredo viola as regras sobre a posse comum das informações, o que modifica a relação entre os membros do grupo e provoca, pelo menos, algum sentimento de culpa ocasionado pelo engano (Carpenter e Treacher, 1993). 
Assim, quando os relacionamentos encontram-se marcados por um segredo, todo o estilo de comunicação de uma família pode ficar alterado em prol da manutenção do segredo, até mesmo, em áreas totalmente alheias ao componente original (Imber-Black, 1994). Dessa forma, tanto as mentiras quanto às informações omitidas podem perturbar a confiança interpessoal nos relacionamentos. Isso acontece porque, embora o evento ou o conteúdo do segredo possa ser mantido oculto, a intensidade dos sentimentos em relação a ele dificilmente pode ser disfarçada. O próprio ato de manter o segredo gera ansiedade. Quem o possui deve estar continuamente acautelando-se contra a revelação, evitando determinados assuntos e distorcendo informações. 
Uma tipologia dos segredos foi desenvolvida por Karpel (apud Carpenter e Treacher, 1993), em função dos limites que eles criam no sistema de relações familiares. Por este critério, os segredos de família podem ser individuais (que são segredos guardados por um membro da família em relação aos demais. Ex.: uma aventura extraconjugal); internos (são guardados, pelo menos, por dois membros em relação a um terceiro. Ex.: um segredo sobre a paternidade, em que os pais têm alguma informação que o filho não sabe) e compartilhados (toda a família sabe, mas esconde do mundo exterior. Ex.: alcoolismo, homossexualidade, etc.). Cabe destacar que, ainda que todos conheçam os segredos compartilhados, na família ele nunca é motivo de discussão e os membros da mesma aparentam desconhecê-los, não somente frente a estranhos, como também entre si. 
Na perspectiva do entendimento estrutural da família, os segredos também criam ou reforçam limites e fronteiras dentro do sistema familiar, bem como, entre a família e o meio social. Por exemplo, uma relação incestuosa secreta (de abuso sexual) entre pai e filha, que cria um limite entre a filha e a mãe, distanciando- as, justamente em um momento em que a filha necessita a proteção da mãe. 
Observamos, então, que os segredos são fenômenos sistêmicos que acabam moldando díades, formando triângulos, encobrindo alianças, provocandodivisões ou rompimentos e definindo limites de quem está "dentro" e de quem está "fora" (Imber- Black, 1994). Além disso, os triângulos moldados pelos segredos podem tornar-se muito problemáticos, na medida em que a existência da díade que mantém o segredo torna-se, em si mesma, um novo segredo. 
É importante considerar, entretanto, que nem sempre a existência de um segredo é patológica. Assim como existem segredos destrutivos, associados com mentira e injustiça, também existem segredos construtivos, que servem como um modo de proteger esferas individuais do "eu" dentro do "nós" do casal ou da família. Alguns segredos podem ser entendidos como favorecedores dos processos de individuação (Welter-Enderlin, 1994). Por exemplo, um adolescente não precisa contar aos pais, e vice-versa, detalhes da sua vida sexual, pois este aspecto diz respeito à vida privada que não precisa ser compartilhada na família. 
A partir destes postulados, podemos dizer que, resumidamente, o segredo refere-se à atitude de esconder fatos ou sentimentos que não correspondem aos padrões familiares e sociais ou dizem respeito à privacidade do sujeito, o que, nesse caso, favorece a sua individuação. 
RITOS OU RITUAIS 
Na literatura não se observa uma diferenciação clara entre os conceitos de rito e ritual. Sendo assim, tanto a palavra rito como ritual são utilizadas, por diferentes autores, para definir o mesmo fenômeno. Faz-se a opção, então, no presente capítulo, por utilizá-las como sinônimos. 
Os ritos são uma série de atos e de comportamentos estritamente codificados na família, que se repetem no tempo e nos quais participam todos ou uma parte dos familiares. Ele possui uma função clara de aprendizagem, pois, através dele, cada membro da família aprende a conhecer os outros e a comportar-se de modo adequado em relação a eles, a identificar os pontos fracos e a assumir a atitude mais adequada para realizar os próprios objetivos ou os desejos dos outros (Miermont, 1994). 
Complementando esta ideia, Paccola (1994) afirma que os ritos têm a tarefa de transmitir, a cada participante da família, os valores, as atitudes e as modalidades comportamentais, relativos a situações específicas ou a vivências emocionais. Neste sentido, é possível identificar uma ligação estreita entre mitos e ritos familiares, já que o ritual é a forma pela qual o mito é explicitado e perpetuado (Miermont, 1994). 
Os ritos são, ainda, atos simbólicos que incluem, não só os aspectos do cerimonial, como também o seu processo de preparação. Na verdade, os ritos dramatizam a identidade familiar. Como forma simbólica de comunicação que se repetem de forma estereotipada, eles proporcionam satisfação e sentido aos participantes, na medida em que deixam claros os papéis, delimitam as fronteiras e definem as regras familiares. Além disso, pela exaustiva repetição, servem para estabilizar a família e afirmar seu sistema de crenças compartilhadas. Na prática, Bennett, Wolin e Mcavity (1988) dividem os ritos em três grupos: celebrações (batismo, funeral, Natal, Páscoa, ...), tradições (férias de verão, visitas aos familiares, aniversários, ...) e rotinas pautadas (horário de jantar, disciplina dos filhos, cumprimentos e despedidas diárias, ...). 
Assim como nos valores familiares vistos anteriormente, os rituais atuais abrangem cerimônias tradicionais, ao mesmo tempo em que, incorporam as necessidades típicas do sistema social capitalista contemporâneo, tais como, o aumento de datas em que se valoriza a troca de presentes, atendendo a uma necessidade de consumo da sociedade capitalista. 
Devem ser salientadas ainda as diferentes funções que podem ser atribuídas aos ritos (Imber-Black, Roberts e Whiting, 1991): 1) A incorporação de sentimentos contraditórios, como por exemplo, o de alegria e de tristeza; 2) A contenção de emoções fortes, como ocorre nos velórios; 3) O encontro social entre indivíduos, famílias e comunidades, bem como entre o passado, o presente e o futuro. 
Bennett, Wolin e Mcavity (1988) ressaltam também a importância do rito como transmissão intergeracional da cultura familiar, salientando que cada família nuclear cria suas próprias celebrações, tradições e rotinas, nas quais estão presentes elementos de ritos praticados por gerações anteriores. 
Além desses aspectos, os ritos assinalam as transições nas etapas do ciclo evolutivo vital (nascimento, casamento, morte, etc.), bem como auxiliam nesses processos da vida familiar. 
Por fim, é relevante considerar que, nos ritos, o tempo se desintegra, na medida em que as mudanças presentes estão baseadas em tradições passadas, enquanto vão definindo as relações futuras (Imber-Black, Roberts e Whiting, 1991). 
Em síntese, pode-se dizer que os ritos são cerimônias com regras determinadas que têm como função transmitir os mitos familiares e ensinar os membros sobre valores, atitudes e comportamentos.
LEGADOS 
O legado de família é uma espécie de cápsula do tempo na qual a família coloca os elementos que, na forma mais condensada, comunica às gerações futuras a essência da família atual (Steinglass et al., 1989). 
O processo de delegação pode ser comparado com o ato de redigir um testamento (Steinglass et al., 1989). Assim como num testamento, no qual em cada nova redação se detalha melhor como deve suceder a transmissão dos bens, o surgimento de um legado familiar é um processo que pode se estender ao longo de muitos anos. Além disso, quando se dita um testamento, o interesse principal é a conservação do legado que, sem dúvida, inclui bens financeiros, mas também, instruções com relação à maneira como deve construir-se a família da geração seguinte. 
Trata-se de um processo constituído de duas etapas. Na primeira, a família tem que identificar o que quer transmitir (clarificação e destilação) enquanto, na segunda, deve arranjar um jeito de transmitir esse pacote de temas, valores e regras para a geração seguinte (transmissão). 
Dentro desta perspectiva, o legado é o fenômeno que revela para as gerações seguintes os principais aspectos da família atual e o que se espera que tenha continuidade. 
A partir da revisão da literatura sobre os fenômenos transgeracionais até aqui descritos, elaboramos um quadro-resumo (Figura 1) a fim de poder-se visualizar de forma mais concreta as diferenças entre tais conceitos, descrevendo suas principais características e localizando os principais estudiosos de cada um deles. 
CONCEITO 
São forças que tornam o sujeito um membro efetivo do grupo e lhe exigem, em troca, o compromisso de cumprir os mandatos do sistema. 
São aspectos que a família ou grupo se preocupam em transmitir aos seus descendentes. 
Um conjunto de pressupostos em relação ao que é certo 
ou errado e que, em função disso, deve ser incorporado pela família ou não. 
Sistemas explicativos de aspectos da vida que, conscientemente, são difíceis de serem compreendidos ou aceitos. 
CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS 
■ Marcam o 
pertencimento; 
☐ São regidas por um 
componente de 
obrigação ética; 
☐ Visam criar um vínculo 
de ligação entre os membros do sistema, inclusive 
transgeracionalmente. 
☐ Correspondem à 
ideologia do sistema familiar; 
■ Podem ser explícitos 
ou implícitos. 
☐ Constituem-se na base 
da identidade familiar. 
Têm a finalidade de garantir a coesão da família; 
☐ Servem para encobrir 
uma realidade penosa; ☐ Têm um componente 
fortemente inconsciente. 
AUTORES PRINCIPAIS 
☐ Boszormenyi- Nagy e Spark (1973) 
Cerveny e Berthoud (1997) 
☐ Dallos (1996) ☐ Ferreira (1963); ☐ Andolfi e 
Angelo (1989) ☐ Ríos González 1994) 
SEGREDOS RITOS OU RITUAIS LEGADOS CONCEITO 
Atitudes de esconder fatos ou sentimentos que não correspondem aos padrões familiares e sociais ou que dizem respeito à privacidade do sujeito. São cerimônias com regras determinadas que têm como função transmitir os mitos familiares e ensinar os membros sobre valores, atitudes e comportamentos. Fenômenos que revelam às gerações seguintes os principais aspectos da família atual e o que se espera que tenha continuidade. 
CARACTERÍSTICAS 
PRINCIPAIS☐ Violam a regras sobre a posse comum das informações; "Reforçam os limites e fronteiras do sistema. 
■ Servem para transmitir os mitos; 
☐ Têm uma função 
de aprendizagem; 
☐ Assinalam as transições do ciclo evolutivo vital da família. 
■ Dois passos: 1) Clarificação/Destilação; 2) Transmissão; 
■ Incluem instruções com relação à maneira como deve constituir- se a família da geração seguinte. 
Fonte: Quadro realizado pelas autoras 
AUTORES PRINCIPAIS 
Imber-Black (1994); ☐ Carpenter e Treacher (1993) 
■ Imber-Black, 
Roberts e Whiting (1991); Bennett, Wolin e Mcavity (1988) 
Steinglass et al. (1989) 
Na análise das possíveis diferenças entre os fenômenos transgeracionais, nos deparamos com mais intersecções do que propriamente diferenças. Além disso, ao longo desta revisão teórica, podemos perceber que os fenômenos transgeracionais, aqui descritos, não se expressam de forma isolada na dinâmica familiar. Ao contrário, eles estão num processo contínuo de interação. Na tentativa de exemplificar esta dinâmica, construímos um esquema ilustrativo (Figura 2). 
Crenças 
Mitos Segredos 
As crenças ocupam a posição central, como sendo o núcleo, devido ao fato de elas constituírem a base da identidade familiar. A intersecção existente deste conceito de crenças com o conceito de mitos ocorre, uma vez que, os mitos são considerados como um conjunto de crenças, mas que abrangem aspectos de caráter inconsciente. Esta é a característica essencial que os diferencia das crenças em si. A intersecção com o conceito de segredos, por sua vez, ocorre porque os segredos comumente são uma forma de encobrir atitudes que não correspondem às crenças ou aos mitos familiares. Os valores, que correspondem à ideologia do sistema familiar, são aqueles que abrangem as crenças, os mitos e os segredos. Os legados ficam expressos como a integração de todos esses conceitos e fazem a seleção do conteúdo que será transmitido às próximas gerações. Também como fator de transmissão, os rituais perpassam os demais construtos por terem a função de ensinar aos membros da família os valores, atitudes e comportamentos da estirpe. Por fim, a lealdade, representada como uma espiral que envolve os demais conceitos, é o que define como esses fenômenos serão expe- rimentados pelo grupo familiar e exigido de cada um dos membros, o compromisso de serem fiéis a eles. 
Considerações finais 
As famílias, ao longo do ciclo evolutivo vital, estão vulneráveis às crises que, apesar de serem momentos de instabilidade, impulsionam-nas ao crescimento, para atingir estados maturacionais mais evoluídos. Entende-se, assim, que toda a crise, frente à ruptura e instabilidade temporária que ocasiona no sistema familiar, cria, por conseguinte, uma necessidade de reorganização das inter- relações e uma descoberta de novas regras de funcionamento familiar. 
Nesses momentos de crise, fica mais evidente o poder dos padrões familiares transgeracionais, podendo, inclusive, postular-se que esses padrões determinam comportamentos favorecedores ou obstaculizadores de saúde no meio familiar. Entretanto, nossa reflexão vem ao encontro da perspectiva de Elkaim (1990), de que a história não é linear, nem tampouco causal. Ao contrário, os elementos históricos são necessários, mas não suficientes, para explicar a aparição de problemas no cotidiano familiar. Deve-se, então, ultrapassar a posição simplista entre a visão histórica, de acordo com a qual elementos do passado determinam automaticamente elementos futuros, bem como, a leitura que insiste unicamente na importância dos acontecimentos do aqui e agora. Elkaim (1990) preconiza um uso mais flexível do tempo. Deve-se levar em conta, então, que para que o acontecimento traumático continue a exercer um papel importante no presente, é preciso que a manutenção de um comportamento tenha uma função e um sentido importante no contexto no qual ele se perpetua. 
A partir desta premissa, surge a possibilidade de que os sujeitos, conhecendo os processos transmitidos transgeracionalmente nas suas famílias, possam fazer uma opção mais consciente do que desejam para suas vidas. 
Verifica-se que a experiência passada pode ser modificada no futuro já que, embora frequentemente as histórias se repitam, há situações em que o adulto, a partir da compreensão da sua história, alcança uma condição mais diferenciada, chegando a poder construir uma realidade diferente. 
Em outras palavras, a construção da individualidade vai depender da descoberta de quais são os desígnios familiares e, com isso, será possível que o sujeito alcance o desenvolvimento da originalidade, mesmo com tons familiares, mais ou menos fortes. Desse modo, ao desvendar a conexão familiar, deixa-se de ter uma obediência cega ao que estava escrito e pode-se modificar aquilo que chama-se de destino. 
Referências 
ANDOLFI, M.; ANGELO, C. Tempo e mito em psicoterapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. 
ANDRÉ-FUSTIER, F.; AUBERTEL, F. A transmissão psíquica familiar pelo sofrimento. In: EIGUER, A. et al. A transmissão do psiquismo entre gerações: enfoque em terapia familiar psicanalítica. São Paulo: Unimarco, 1998. p. 129-179. BENNETT, L. A.; WOLIN, S. J.; MCAVITY, K. J. Identidad de la familia, ritual y mito: una perspectiva cultural de las transiciones en el ciclo vital. In: FALICOV, C. J. Transiciones de la familia. Buenos Aires: Amorrortu, 1988. p. 299-329. 
BOSZORMENYI-NAGY, I.; SPARK, G. M. Lealtades invisibles. Buenos Aires: Amorrortu, 1973. 
BOWEN, M. Family therapy in clinical practice. New York: Harper & Row, 
1978. 
BREULIN, D. C.; SCHWARTZ, R. C.; MAC KUNE-KARRER, B. Metaconceitos: transcendendo os modelos de terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, 
2000. 
CARPENTER, J., TREACHER, A. Problemas y soluciones en Terapia Familiar y de Pareja. Barcelona: Paidós, 1993. 
CARTER, E.; McGOLDRICK, M. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. In: vida familiar. uma estrutura para a terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas, As mudanças no ciclo de 
1995. p. 7-29. 
CERVENY, C. M. O.; BERTHOUD, C. M. E. Familia e ciclo vital: nossa realidade em pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1997. 
In:

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