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ESPAÇO URBANO E INDÚSTRIA: UMA ANÁLISE DA DUALIDADE LOCACIONAL DA SAMS E DA COATS CORRENTE NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL Autores: Leandro de Castro Lima Graduando em Geografia – UFRN E-mail: leandrolima190@yahoo.com.br Raquel Maria da Costa Silveira Graduanda em Gestão de Políticas Públicas – UFRN. E-mail: raquelmcsilveira@hotmail.com.br Coautores: Bruno Lopes da Silva Graduando em Geografia – UFRN E-mail: blsilva1986@bol.com.br Leônidas Petrucio Dutra Pedrosa Graduando em Geografia – UFRN E-mail: leosamurai10@hotmail.com Orientador: Prof. Dr. Ademir Araújo da Costa Departamento de Geografia - UFRN E-mail: Ademir@ufrnet.br RESUMO: O espaço urbano representa o instrumento que viabiliza os propósitos dos seus agentes transformadores. Para as corporações industriais, este espaço serve ao propósito do lucro, da reprodução do capital, havendo assim uma valorização exacerbada do aspecto locacional. Nessa perspectiva, o objetivo deste trabalho é analisar a atual dinâmica locacional das indústrias da Região Metropolitana de Natal, com ênfase no estudo de duas indústrias específicas, que são a SAMS e a COATS CORRENTE, explicitando, sobretudo, a atual localização de cada uma delas. Para atingir tal objetivo, fez-se levantamentos bibliográficos, com a coleta de dados em arquivos secundários sobre questões que abordam a atividade industrial. Além de consultas e levantamentos de informações em trabalhos científicos de diversas naturezas, que englobaram pesquisas não só da geografia, como também de outras áreas. Desse modo, a discussão presente neste trabalho procura abordar os aspectos locacionais responsáveis pela atração e repulsão de indústrias em um dado local, tendo como estudo de caso duas indústrias da RMN que apresentam situações distintas no que concerne a sua localização no espaço geográfico. Assim sendo, apesar de ter sido constatado um processo de desconcentração da indústria na RMN, em direção aos municípios de menor porte, como ocorreu com a SAMS, vale destacar que algumas indústrias ainda permanecem dentro do perímetro urbano natalense, tal como acontece atualmente com a COATS CORRENTE. A SAMS, por exemplo, estava instalada em Natal e em 2002 se transferiu para Macaíba, fruto de uma série de fatores de repulsão mailto:leandrolima190@yahoo.com.br mailto:raquelmcsilveira@hotmail.com.br mailto:blsilva1986@bol.com.br mailto:leosamurai10@hotmail.com mailto:Ademir@ufrnet.br existentes na capital tais como: a saturação do espaço urbano, o encarecimento da mão- de-obra; aumento do valor dos impostos e serviços e o fortalecimento das leis ambientais. Por outro lado, a COATS até os dias atuais permanece em solo natalense, demonstrando assim, um fenômeno oposto ao que aconteceu com a SAM’S, visto que, a COATS encontra-se em uma área que ainda não apresenta todos os fatores de repulsão necessários para sua transferência, constituindo-se em uma área cujo valor dos impostos ainda não são elevados. Palavras-Chave: Espaço Urbano, Indústria, Atração, Repulsão. INTRODUÇÃO Ao tentar discutir a relação entre espaço urbano e indústria, este artigo apresenta uma problemática a ser discutida que não é, de certo, inédita, todavia, o que se tentará com esse trabalho será um esforço no sentido de estabelecer o impacto das indústrias a partir das suas mudanças locacionais sobre o espaço urbano da Região Metropolitana de Natal. Por se tratar de uma temática bastante ampla, optou-se por explorar tópicos específicos a respeito do tema, e exemplificar com indústrias escolhidas, as quais pudessem expor melhor as problemáticas estudadas. As indústrias selecionadas foram a SAM’S e COATS CORRENTES. Tal escolha foi feita utilizando-se os critérios locacionais destas empresas, além da dinamicidade e da importância para a economia da cidade. A escolha da SIMAS INDUSTRIAL será essencial na demonstração da lógica de instalação das indústrias, pois, como se sabe, recentemente ela mudou-se de Natal para a zona industrial de Macaíba, ficando, com esse exemplo, mais fácil a percepção do por que da mudança e da escolha de uma determinada área em detrimento de outras para a sua melhor localização. A escolha da COATS se deve ao fato de ser ainda uma das poucas fábricas dentro do perímetro urbano do município de Natal, indo contra a lógica atual das demais fábricas. Assim, o presente artigo compreenderá inicialmente um breve comentário a respeito das mudanças trazidas pela implantação das indústrias na cidade, porém de forma geral. Nessa etapa caberá ainda fazer um breve levantamento histórico a respeito da atividade industrial no Rio Grande do Norte, de maneira ampla, e mais especificamente em Natal. A próxima etapa consistirá em dois momentos. Primeiramente serão analisados os motivos de atração de uma indústria para um determinado local, exemplificando com as indústrias estudas, figurando assim o plano prático do trabalho. Em contraponto aos motivos de chegada, apresentar-se-ão os motivos que condicionam a saída ou expulsão das indústrias de determinado local, tratando da mesma forma como foi feito com os motivos de chegada, com o que couber em relação às duas indústrias escolhidas. Para tanto, a fim de atingir tais objetivos, fez-se um levantamento bibliográfico com coleta de dados, arquivos de jornais sobre questões que abordem a atividade industrial em Natal; consultas e levantamentos de informações nos trabalhos publicados sobre a temática, inclusive extra-geográfico; além de consultas e levantamentos de dados disponíveis em meios eletrônicos oficiais, comparando os dados e constatando os impactos da atividade industrial para a cidade. ASPECTOS GERAIS SOBRE A INDÚSTRIA E O ESPAÇO URBANO O espaço urbano representa o instrumento que viabiliza os propósitos dos seus agentes transformadores. No caso dos grandes industriais, ele serve ao propósito do lucro, de maneira que estes são grandes consumidores de espaços. Nesse ramo da economia, o espaço urbano tem o papel do suporte físico e de expressar requisitos locacionais específicos para atrair as indústrias ou expulsá-las, de acordo com o tipo de características que o local apresenta. A ação dos proprietários industriais e a chegada de diversas indústrias a um local determinado levam à criação de áreas industriais, de maneira que a chegada e também a saída de uma indústria de um determinado local modela a cidade e interfere na localização dos outros usos da terra, gerando também relações de emprego diversas. Com a chegada da indústria nas cidades, ocorre uma transformação no seu espaço, bem como na forma de moradia para determinados segmentos sociais. Essa transformação do espaço, geralmente se dá com uma alteração radical da paisagem urbana, pois essa nova forma destrói áreas antes produzidas, ou seja, a paisagem existente, como também áreas naturais (seja a área em que se localiza a indústria em si ou as redondezas). Nesse contexto, a cidade começa a mostrar um processo mais acelerado de transformação do seu espaço e alteração de sua paisagem, provocados pela chegada da indústria. As expressões industrialização e urbanização sempre estiveram interligadas, pois há uma identidade entre os dois termos. Sabe-se que o crescimento da população da cidade foi impulsionado pela indústria. Em sua obra “Cidade Sustentável”, Gilka da Mata Dias, cita Milton Santos e traz a informação de que entre 1800 e 1950, a população mundial se multiplicou por 2,5 e a população urbana por 20. Não se pode, porém, perceber a urbanização decorrente da industrialização apenas pelo elevado número de pessoas que se deslocaram para a cidade que ora recebia a indústria. Deve-se também perceber tal conceito sob o ponto de vista das fortes transformações nos moldes da urbanização, no que se refere ao papel desenvolvido pela cidadee na estrutura interna que passaram a ter. (SPOSITO, 2002). Segundo Lefebvre (2001): Para apresentar e expor a “problemática urbana impõe-se um ponto de partida: o processo de industrialização. Sem possibilidade de contestação, esse processo é, há um século e meio, o motor das transformações da sociedade. Se distinguirmos o indutor e o induzido pode-se dizer, que o processo de industrialização é indutor e que se pode contar entre os induzidos os problemas relativos ao crescimento e à planificação, as questões referentes à cidade e ao desenvolvimento da realidade urbana, sem omitir a crescente importância dos lazeres e das questões relativas à “cultura”. (LEFEBVRE, 2001, p. 11) Conclui-se, portanto, que a indústria impacta o urbano. A industrialização de uma área, porém, nem sempre traz a urbanização no sentido da qualidade (infraestrutura e melhoria da qualidade de vida da população), mas traz o conceito de urbanização em sentido quantitativo (no sentido do aumento da população urbana em detrimento da rural). A cidade recebe os reflexos e dá sustentação às transformações estruturais trazidas pela chegada de uma indústria. Pode ocorrer, por exemplo, de um lugar se especialize funcionalmente, de maneira que o espaço é produzido para atender à nova realidade. Tais transformações trazidas pela indústria podem ser benéficas ou maléficas à sociedade do centro urbano, cabendo a ela (mais necessariamente às instituições responsáveis, como o governo), a adequada gestão do espaço urbano a fim de diminuir os impactos negativos trazidos pela indústria, sem que isso se transforme em obstáculo ao crescimento econômico do local. Em épocas de globalização e domínio do capitalismo industrial, a adequação parece ser a palavra mais apropriada para definir as diretrizes que devem ser adotadas para a gestão do espaço: valorizar o urbano e quem nele habita, zelando pelo bem estar ambiental, em busca do equilíbrio ambiental (trazido pelo artigo 225 da Constituição Federal) sem que, com isso, se afete o capital e seu necessário crescimento parece ser a melhor escolha e, da mesma forma, devido às instituições governamentais viciadas pelo clientelismo e favorecimento, um fim distante de ser alcançado. UM POUCO DA HISTÓRIA DA INDÚSTRIA EM NATAL E NO RIO GRANDE DO NORTE A atividade industrial do Rio Grande do Norte, até a década de 1950, compreendia o beneficiamento de alguns produtos coletados ou produzidos no campo, a extração e moagem do sal e beneficiamento de alguns minerais, os quais saiam do estado como matéria-prima para ser transformado em produtos de consumo em indústrias nacionais e internacionais. A situação começa a mudar quando, em 1960, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) cria incentivos para a industrialização dos estados nordestinos. No Rio Grande do Norte, tais incentivos se constituíram na isenção de impostos e em outras vantagens que eram oferecidos pelos governos estaduais e municipais. Inicialmente, as indústrias se instaram em Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, predominando as dos ramos têxteis e de confecções. Recentemente, a partir de década de 1990, um novo surto de industrialização volta a ocorrer devido a incentivos do governo estadual e municipal, com a promessa de energia mais barata através do gás extraído da Petrobrás e fugindo das mãos de obra mais cara e organizada do eixo Sul/Sudeste. As novas indústrias têm se localizado mais especificamente na Região da Grande Natal (Parnamirim, Macaíba, Extremoz, São Gonçalo do Amarante). Devido a essa concentração das indústrias em torno de Natal e por falta de uma política que distribua melhor essas indústrias em torno do território estadual, algumas regiões do estado se enfraquecem economicamente, pois perderam a sua economia mais importante. No caso o algodão e as fábricas que faziam o seu beneficiamento, não receberam as indústrias que chegavam movidas pelos incentivos fiscais primeiro da SUDENE e depois do governo estadual. Esse é o caso de municípios localizados nas Microrregiões de Umarizal, Pau dos Ferros, Serra de São Miguel, Angicos, Serra de Santana e Seridó Oriental e Ocidental. FATORES DE “ATRAÇÃO” E DE “REPULSÃO” DAS INDÚSTRIAS – O ESTUDO DE CASO O processo de economias de aglomeração tem sua lógica instalada no fato de que, tradicionalmente, as indústrias sempre buscaram a proximidade das infraestruturas, mercado consumidor, mão-de-obra qualificada e das fontes de energia e matéria-prima, visando baratear o custo da produção. Isso considerando uma época na qual os sistemas de comunicações e transportes não estavam plenamente desenvolvidos, portanto num período que se estende da segunda metade do século XVIII, por volta dos anos de 1750, até a primeira metade do século XX, idos de 1960. No estado do Rio Grande do Norte essa prática não é diferente, pois analisando as relações existentes entre os poderes públicos e privados, podemos observar todas essas lógicas, além das ações promovidas pelos poderes públicos (estaduais e municipais) em prol dos grandes grupos empresarias. Nota-se então que esses poderes buscaram atrair a fixação de indústrias em seus territórios com a ideia de desenvolvimento econômico e social e, para isso, ofereceram grandes benefícios aos grupos empresarias. Estudando os casos existentes na Região Metropolitana de Natal, observamos quais os tipos de relações estão fixadas sobre esse espaço. Antes da década de 1960, as indústrias fixavam-se dentro das limitações municipais da cidade de Natal, pois essa, além de realizar a concessão temporária ou definitiva da terra para a implantação pólos industriais, dotava o espaço da infraestrutura necessária, como, por exemplo, construção de estradas visando facilitar e baratear o transporte das mercadorias, realizava o melhoramento do fornecimento de energia elétrica, oferecia isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e descontos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), além, é claro, de oferecer uma mão-de-obra barata e leis ambientais mais frouxas. Ao longo dos anos, devido aos fatores já citados, muitas indústrias se fixaram no município de Natal, dentre elas podemos falar mais precisamente da SIMAS INDUSTRIAL - SAM’S. A história da Simas Industrial de Alimentos, razão social começou em 1946. Quando os irmãos Orlando Gadelha Simas e José Gadelha Simas compraram a fábrica de balas São João, em Natal, fizeram algumas adaptações e iniciaram a produção artesanal de balas e caramelos. Na década de 1950 a produção passou a ser mecanizada, o que permitiu a produção em larga escala e o crescimento da empresa. Em 1970, a SIMA’S mudou para um novo prédio, localizado à Av. Senador Salgado Filho (imagem 01) e a linha de produtos foi diversificada. No ano de 1977, a empresa participou da primeira feira Brasil Export e conquistou clientes internacionais. Com o passar dos anos, o crescimento e expansão dos negócios gerou uma necessidade de ampliação da estrutura física da empresa. Fonte: Doce Semeador: A história de Orlando Gadelha Simas. Imagem 01 – Foto da Simas Industrial Alimentos S/A na Av. Senador Salgado Filho na década de 1970. Mostra o baixo fluxo de trânsito e poucas residências no local, área ainda em expansão. Todavia, a evolução natural do capital gerou, numa realidade mundial, a chamada deseconomia de aglomeração, que começa a ocorrer a partir das décadas de 1960-1970, observando-se a saturação das áreas de aglomeração que encareceu todo o processo produtivo. Além dessa saturação, pode-se também inferir que as áreas de intensa aglomeração passaram a sofrer com o encarecimento da mão-de-obra, dos impostos, dos serviços (água, energia, telefonia), vencimento dos prazos de isenção de tributos,enrijecimento das leis ambientais e fortalecimento dos sindicatos. Todos esses fatores têm impulsionado as indústrias para as áreas da periferia, quer sejam as pequenas e médias cidades dos interiores nacionais ou as nações periféricas, áreas que oferecem lógicas mais baratas á produção. No caso específico de Natal, as melhorias introduzidas nessas áreas onde se localizavam as indústrias, passaram a exercer uma forte atração para construções de moradias, fazendo com que a cidade crescesse em direção a elas, valorizando o espaço e contribuindo para uma aglomeração em torno das empresas. Todo esse processo acabou inviabilizando a obtenção de terra para expansão física das empresas, além de dificultar e encarecer o preço dos transportes, devido ao caos instalado no trânsito dificultando o escoamento e a recepção de mercadorias e produtos. Logo depois, vinham os problemas relacionados à poluição sonora e outras questões ambientais, pois, devido a pressões populares, as leis ambientais se tornaram mais rígidas e intensas e esses fatos concorreram para uma deseconomia de aglomeração. A criação da SUDENE, na década de 1950, facilitou o processo de industrialização do estado que, a partir da década de 1970, teve acesso à obtenção de financiamentos para melhoria de infraestruturas em pequenas cidades no Rio Grande do Norte, principalmente no entorno de Natal. Esse fato foi fundamental para a descentralização das indústrias que já não estavam mais tendo uma rentabilidade desejada em solo natalense. Também nessa década, criou-se o Distrito industrial de Natal (DIN) localizado na cidade de Natal/RN, novo espaço supostamente dotado de todas as infraestruturas necessárias para uma maior produção e aumento do lucro dos grandes grupos industriais. Mas é na década de 1990, com o lançamento do Programa Diferencial RN, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Industrial (PROADI) e a criação do Centro Industrial Avançado (CIA), que ocorre uma maior descentralização da atividade industrial em direção a esses polos industriais criados na RMN, devido a uma série de incentivos fiscais e infraestruturais. As iniciativas geradas por determinados municípios e pelo governo do estado, buscando atrair esses grandes grupos empresariais, acabam contribuindo para uma disputa entre as cidades (guerra fiscal), em que essas visam oferecer a melhor estrutura e facilidades fiscais possíveis, beneficiando em grande parte aos interesses das minorias empresariais, em detrimento do interesse e do benefício da coletividade. É importante lembrar, que os cidadãos, que habitam nas cidades onde se instalam essas indústrias apenas tiram uma vantagem natural comparativa, das estruturas montadas, já que essas não são geradas para atender a demanda populacional, e sim aos grupos empresariais, que passam a ser, de certa forma, beneficiados pelos gestores estaduais e municipais. Continuando, a análise das indústrias selecionadas, mais precisamente detendo- se à SIMAS INDUSTRIAL, vemos que, em 2002, a empresa mudou suas instalações para o Parque Industrial, localizado no município de Macaíba, a 20 quilômetros de Natal, numa área de 220 mil metros quadrados com 25 mil metros quadrados de área construída. Hoje a empresa emprega aproximadamente 1.200 funcionários, produz mensalmente cerca de quatro mil toneladas de balas, caramelos, pirulitos e chicletes e exporta para mais de 50 países em todo o mundo, entre eles Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã e Palestina. Observa-se que ao longo da história, a Simas Industrial de Alimentos S/A passou por várias modificações e transformações, todas elas visando o crescimento econômico da mesma. À procura por uma melhoria constante podemos observar que as suas instalações foram mudadas de lugar várias vezes por várias razões, algumas delas são: O aumento do valor do metro quadrado da terra. Isso se dá devido o crescimento natural da cidade. No ano de 1968, quando a s SAM´S se instalou na av. Senador Salgado Filho, não havia um aglomerado de residência e hoteis, apenas algumas outras instalações industriais; era um lugar praticamente inóspito, longe do centro comercial da cidade do Natal. A partir de então começou a haver um atrativo devido os empregos gerados na região, pequenos comércios se instalaram e o crescimento ocorreu mais rapidamente. O bairro foi tomando uma direção de bairro de classe média, com o consequente aumento do valor da terra. Passou então a ser mais caro se manter neste local devido essa problemática. Maiores Custos de Manutenção. Em consequência da valorização do m² e do bairro em si, as taxas e impostos cobrados pelos órgãos municipais e empresas privadas de prestação de serviço passaram também a ficar maiores e mais caras. O IPTU do imóvel, as taxas de iluminação pública, o próprio valor cobrado pelo KW/h de energia, as tarifas telefônicas, o m³ de água e taxas de recolhimento da limpeza urbana dentre outros. Esses também são fatores relevantes na hora de se analisar a continuação de uma indústria em determinado lugar. Pouco Espaço para Expansão. Com o repentino crescimento do bairro, a indústria passou a ficar circundada de outros imóveis comerciais e residenciais, o que impossibilitou o crescimento físico da indústria no local (imagem 02). Com o aumento da produção, o fluxo de pessoas e produtos consequentemente aumentou um local maior para estocagem era necessário, bem como um maior local para se receber os caminhões que transportavam os produtos para os seus pontos de venda. Para tudo isso se necessita de espaço e não havia como, a não ser que fosse o deposito, por exemplo, em outro ponto da cidade, mais próximo possível, o que, por menor que fosse essa distância, iria despender um custo a mais para a empresa. Fonte: Google Earth 2010. Imagem 02 – Foto aérea da Simas Industrial de Alimentos S/A, na Av. Sen. Salgado Filho, em 2005. Observa-se a ausência de local para crescimento e a grande quantidade de residências. Maiores Restrições Ambientais. Com o passar dos anos várias leis foram sendo introduzidas no que diz respeito ao meio ambiente. A fiscalização foi crescente nas empresas em relação à emissão de gases, ruídos e odores. Muitos problemas passaram a ocorrer em decorrência dessas leis. No caso estudado a SIMAS INDUSTRIAL teve muitos problemas com ruídos e odores fortes no ar, o funcionamento das máquinas de mistura e embrulho das balas e o cheiro de açúcar queimado eram os seus causadores. Problemas com a vizinhança. Em decorrência desses problemas já demonstrados a vizinhança se sentia muito afetada prejudicada. O forte “odor doce” e os altos ruídos geraram as principais reclamações, além do grande fluxo de caminhões que trazia uma constante inquietação e inseguranças para as pessoas. Há um conhecimento geral de que a empresa SIMAS INDUSTRIAL recebeu uma determinação judicial para que se mudasse da av. Sen. Salgado Filho, porém as informações recebidas da 45ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente do Rio Grande do Norte não confirmam tal afirmação. Havia sim queixas contra a empresa no ministério público, porém no momento em que a empresa foi buscada pelo ministério para averiguar as denuncias e procurar uma resolução plausível, a SIMAS INDUSTRIAL informou que estava de saída e que já havia iniciado o processo de mudança. Com o processo de deseconomia de aglomeração, as indústrias iniciam um movimento de descentralização e busca por áreas que possam oferecer uma melhor infraestrutura e suporte, de maneira mais barata e que viabilize a produção. O caos da cidade passa a não ser ponto de interesse dos industriais e a, de certa forma “expulsa- los”, fazendo com que busquem áreas mais atrativas. Continuando a análise do caso real da SIMAS INDUSTRIAL, como qualquer empresa que visa o crescimento, o lucro e menos gasto possível, a SIMASINDUSTRIAL buscou um local para a sua instalação que lhe oferecesse maiores vantagens e benefícios. O local escolhido foi o Distrito Industrial de Macaíba, localizada na BR 304, RMN (imagem 03). Lá a empresa encontrou vários benefícios para a sua instalação, alguns deles foram esses: Fonte: Google Earth, 2010. Imagem 03 – Foto aérea da Simas Industrial de Alimentos S/A localizada na BR 304 – Macaíba/RMN. Expõe a grande área territorial da indústria e a maior facilidade para a sua atividade. Baixo preço do m² da terra. Um lugar ainda em fase de crescimento e desenvolvimento industrial sempre é, inicialmente, desvalorizado, pois não há uma grande busca e especulação imobiliária nesse local, com isso o preço da terra é bem menor do que nos locais onde já há esta especulação e grande procura. O valor da terra sendo consideravelmente menor é um dos maiores fatores de atração de indústrias, e não foi diferente no caso da SIMAS INDUSTRIAL ao se instalar no DIM, onde possui um terreno de aproximadamente 220 mil m². Onde dentro de uma área já totalmente urbanizada a empresa poderia encontrar uma área tão grande e tão barata? Um dos maiores atrativos, pra não dizer que seria o maior. Infraestrutura já implantada. Os governos municipais e estaduais têm uma grande parcela de responsabilidade para atrair as indústrias para novos locais. Uma das coisas que os governos fazem, além de oferecem vários incentivos fiscais, como isenção de impostos por vários anos, eles fazem a instalação de uma infraestrutura completa na região, tais como vias de acesso agora pavimentadas e alargadas, distribuição no sistema de energia elétrica, comunicação (telefone, internet etc.), água e esgoto e transporte coletivo. Esses incentivos são atrativos para as empresas que escolhem o lugar de acordo com as condições oferecidas, pois a facilidade e comodidade de se instalar em um lugar onde já exista uma malha de serviços e benefícios é muito mais lucrativo do que em um local sem essas coisas. Possibilidade de expansão e controle. Desde muito tempo, a terra é sinônimo de poder, pelo menos o é no Brasil. Com a chegada de uma grande indústria em um lugar onde não havia tão grande imóvel, onde chega muitas novas máquinas, movimentação de pessoas, produtos e equipamentos e tantas outras coisas que a pouca vizinhança próxima e o município em geral toma conhecimento, aquela empresa torna-se uma referência de bem-estar para eles. Muitas vezes a infraestrutura é implantada apenas para atrair aquela empresa que agora está instalada, e para a vizinhança muitas vezes ela foi uma salvadora, ou pelo menos o que trouxe a luz, água encanada e meios de comunicação para eles. A empresa então passa a ter certo tipo de domínio, de controle do lugar, da população mais próxima, e isso é muito bom para a empresa, já que ela passa a ter o povo a seu favor. Além desse fator, podemos ver que, no caso da SIMAS INDUSTRIAL, o seu terreno com cerca de 220 mil m² tem apenas aproximadamente 25 mil m² de área construída, ou seja, pouco mais de 10% da área total. E o restante do terreno? Fica para as futuras instalações como galpões de estocagem, garagem de caminhões, área de ampliação da indústria em si, aumentando assim a sua produção e lucro. Além do que a terra vai ficando valorizada com as tantas empresas vindo e o seu terreno fica bem mais caro do que quando foi comprado, adquirindo valor maior, podendo até mesmo vender parte dele, ou ampliar e utilizar o terreno para outros benefícios. Fiscalização menos eficaz. Com o município ainda em crescimento, as leis ambientais não são tão bem fiscalizadas por vários motivos, a partir da falta de profissionais da área atuando na prefeitura e os poucos que há não têm capacidade de fiscalizar todas as indústrias, comércios e demais estabelecimentos. Isso sem falar em alguns que recebem propina dos grandes industriais para “deixar passar” os erros e agressões ambientais. Isso também é um tipo de atração para as empresas na busca de uma nova área para a instalação da sua indústria. Incentivos aos funcionários. Em muitas vezes, com a grande porção de terra adquirida para a instalação da indústria, a empresa se utiliza disso para investir no seu funcionário, construindo uma área de lazer e jogos, seja uma quadra poli-esportiva, um campo de futebol, piscina, churrasqueira, mesas de sinuca, totó, dama, xadrez, etc. Isso é um grande incentivo para a empresa ficar em “bons lençois” com o seu funcionário, evitando assim um grau maior de desagrado e insatisfação, amenizando a possibilidade de qualquer tipo de movimento como a greve. A SIMAS INDUSTRIAL utilizou de uma antiga área de treinamento de um time de futebol da cidade para ser a área de recreação e lazer de seus funcionários. A mesma análise, também pode ser feita em relação à outra indústria, objeto de nosso estudo, que diferentemente da SIMA’S, ainda permanece localizada em Natal. A COATS Correntes Têxtil Ltda., que está localizada na av. Capitão-Mor Gouveia, em Lagoa Nova, há mais de trinta anos, chamada de Borborema Fios e vinte anos depois de COATS, totalizando cinquenta anos de uma indústria têxtil no mesmo local. Nesse período a localidade era praticamente inóspita, não havia nenhum tipo de vizinhança residencial em suas proximidades, havia uma grande área para expansão, tanto é que hoje, com a chegada das residências e divisão de lotes e quarteirões, podemos ver que a área total do terreno abrange cerca de sete a oito quarteirões (imagem 04). Fonte: Google Earth, 2010. Imagem 04 – COATS Correntes Têxtil Ltda. localizada à Av. Capitão-Mor Gouveia, Lagoa Nova. Mostra a transição dos dois momentos: a instalação e a saída da indústria. Hoje com uma extrema aglomeração do bairro. Através de uma visita à empresa, obtivemos alguns dados importantes e a notícia muito interessante de que atualmente a COATS está passando por um momento de transição e as suas instalações industriais estão no processo de mudança para o Extremoz. Faremos então aqui um paralelo do antes e do depois da COATS, mostrando os porquês da vinda e os porquês da saída. HÁ 50 ANOS Baixo custo do m² da terra. Por ser um lugar de crescimento e ascensão industrial e comercial, a empresa obteve muita vantagem, já que o custo da terra era baixo, além de ser beneficiado com os aparelhos e equipamentos já presentes no local. Área em expansão. Como já citado, a área em ascensão tinha alguns benefícios oferecidos pelo governo municipal, então a infraestrutura já era praticamente toda montada. A COATS teve um grande benefício por esse fato, além de poder obter um grande terreno, já que na época não havia aglomeração no local. Incentivos Fiscais. A COATS poderia “escolher” onde se instalar. Ela muito provavelmente obteve alguns incentivos fiscais oferecidos pelo governo municipal para a sua vinda à capital Potiguar. Este é um hábito quase que normal para a atração de indústrias. Muitas vezes o governo municipal, estadual e mesmo o governo federal dão como benefício à isenção de impostos por vários anos, chegando há uma década ou mais, a instalação e aperfeiçoamento da infraestrutura no local entre tantas outras. Poucas residências. Um grande atrativo foi à ausência de residências no local, já que as mesmas são um fator negativo para uma indústria que trás uma grande problemática com ruídos e grande movimento de pessoal, produtos e equipamentos. Além de não haver tantos problemas em conter os ruídos e demais preocupações, a área ao redor estando vazia, trazia um poder exercido pela empresa na região e a facilidade de se expandir. Fiscalização menos eficaz. Também em decorrência de ser longe do núcleo urbano da cidade na época, eram poucas as denuncias, ou nenhuma, de infração a leis ambientais e de qualidade de vida dos moradores,bem como o menor número de fiscais para ser realizar as vistorias e aplicar as mudanças necessárias, inclusive a própria aplicação de advertências e multas. ATUALMENTE Alto custo do m² da terra. Com o crescimento da região houve uma considerável valorização da terra, por ser um bairro de classe média, o custo da terra ficou mais caro dificultando a compra de novas terras para a expansão da indústria. Podemos observar na figura que existe um grande número de residências ao derredor com a presença de piscina, demonstrando o nível econômico das pessoas residentes no bairro. Muitas residências. A chegada das residências trouxe um grande problema para a indústria, os altos níveis de ruídos e o alto movimento de transporte levaram a certo grau de insatisfação da vizinhança moradora. A empresa passou a ter alguns problemas de insatisfação com vizinhança. Maiores custos de manutenção. O bairro foi povoado por uma classe sócio- econômica média para alta, com isso, as taxas de serviços públicos e privados foram aumentando gradativamente. O valor do IPTU, energia elétrica, água e esgoto, telefone e demais serviços essenciais ficaram mais custosos, diminuindo assim o lucro do empresário. Dificuldade de acesso e locomoção. Com o grande número de residências, escolas, supermercados e demais imóveis chegando ao bairro, inviabilizou a locomoção de material, produtos e equipamentos na indústria, os espaços ficaram menores, caminhões e carros de médio grande porte passaram a ter dificuldades de locomoção para o escoamento do produto final e a chegada da matéria prima. Com tudo isso, pode-se ver os prós e os contras que uma empresa busca ao escolher o local para a instalação de suas propriedades e de até quando é viável a sua estadia e permanência neste local. No caso especial da COATS Correntes Têxtil Ltda. podemos observar que ela está passando por esse processo atualmente. Além de tudo o que já foi discutido, obtivemos a informação de que o prédio e o terreno já estão vendidos e com certeza não foi por um baixo preço e tudo isso foi anteriormente pensando, sem dúvida alguma. O valor agregado a terra e ao prédio serviu de grande força para a decisão de mudar para outra localidade, além de todas as vantagens obtidas em uma nova área de instalação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com as análises feitas nesse trabalho e a carga de informações que temos devido às notícias de impactos ambientais, sem citar os impactos sociais, trazidos pela atividade industrial na cidade de Natal, pode-se perceber que, nem sempre, o crescimento econômico trazido pela instalação de tais indústrias no local pode ser denominado como desenvolvimento. Tal conceito relaciona-se muito mais com melhoria e qualidade de vida. O economista indiano Amartya Sem (2000) tratava o desenvolvimento como um conceito completamente aliado ao desenvolvimento das capacidades dos indivíduos: o desenvolvimento de um local está relacionado com as oportunidades que são dadas aos indivíduos que lá habitam de fazer escolhas e exercer sua cidadania, não se tratando apenas de direitos básicos, mas da plena condição de vida digna e saudável. Segundo Sen: "Vivemos um mundo de opulência sem precedentes, mas também de privação e opressão extraordinárias. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de cidadão". (SEN, 2000, p. 126) Dessa maneira, o sucesso de uma sociedade deve ser analisado de acordo com as liberdades concretas de que gozam os indivíduos. Assim, considerar o desenvolvimento de acordo com as liberdades concretas disponibilizadas aos indivíduos tem a importância no objetivo da retirada das privações, a fim de que as liberdades se concretizem e o desenvolvimento seja atingido. Deve-se lembrar de que tais liberdades são extremamente interligadas. Assim, percebendo a teoria de Sem (2000), não se pode afirmar que a indústria trouxe desenvolvimento ao local se, mesmo gerando emprego para a população e renda para o município, ela gerava poluição, a qual com certeza traz conseqüências graves na saúde e bem estar da população, que, com privações de capacidades, não podia exercer suas liberdades. Conclui-se, portanto, que, no caso de Natal, assim como de muitos outros municípios que comportam centros ou distritos industriais, o gestor público não pode pensar apenas no viés econômico da industrialização. Pensar na atração de uma empresa significa não somente os empregos novos e o capital a ser inserido na economia do município. O planejamento urbano não pode ser deixado de lado para o beneficiamento do capital, pois, como bem se sabe, as conseqüências podem ser graves para a sociedade, tanto em termos de impactos ambientais quanto sociais. Atrair uma indústria não significa apenas oferecer a ela um lugar para se estabelecer e incentivo fiscal deve significar também, todo um planejamento no sentido de dotar o seu entorno de uma estrutura que suporte a produção sem causar impacto à população. A justificativa do crescimento econômico não pode ser colocada como o suficiente. O Estado tem o papel de adequar o crescimento econômico, de maneira que ele não atrapalhe o desenvolvimento urbano e social, pois, como bem já foi discutido, a indústria impacta o urbano de diversas formas, tanto positivamente, quanto negativamente e esse último, se não for compensado à tempo, pode trazer inúmeros transtornos e até mesmo conseqüências sem volta para a sociedade. REFERÊNCIAS DIAS, Gilka da Mata. Cidade Sustentável: Fundamentos legais, Política urbana, Meio Ambiente, Saneamento Básico. Natal: Ed. do Autor, 2009. LEFEBVRE, Henri. O direito à Cidade. São Paulo: Centauro, 2001. RODRIGUES, Wagner do Nascimento. Doce Semeador: A história de Orlando Gadelha Simas. Natal: 2006. SANTOS, Milton. Manual de geografia urbana. Tradução de Antônia Dea Erdens, Maria Auxiliadora da Silva. São Paulo: HUCITEC, 1981. SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. 1° reimpressão. Tradução: Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Capitalismo e Urbanização. São Paulo: Contexto, 2002.
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