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1 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA O IMAGINÁRIO DA VIOLÊNCIA URBANA EM SÃO GONÇALO – LESTE METROPOLITANO DO RIO DE JANEIRO: ESTUDO DE CASO SOBRE A FAVELA DA CHUMBADA (2000 A 2010) Renato Soares Paiva Prof. Dr. Andrelino Campos (Orientador) Outubro de 2013 2 Renato Soares Paiva O IMAGINÁRIO DA VIOLÊNCIA URBANA EM SÃO GONÇALO – LESTE METROPOLITANO DO RIO DE JANEIRO: ESTUDO DE CASO SOBRE A FAVELA DA CHUMBADA (2000 A 2010) Monografia submetida ao corpo docente da Faculdade de Formação de Professores – FFP, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ, como requisito parcial para obtenção do Grau de Licenciado em Geografia. Banca Examinadora: __________________________________ Prof. Dr. Andrelino Campos __________________________________ Professor Nilo Dr. Sérgio d’Ávila Modesto __________________________________ Prof. Dr. Denilson Araujo de Oliveira São Gonçalo, outubro de 2013. 3 O IMAGINÁRIO DA VIOLÊNCIA URBANA EM SÃO GONÇALO – LESTE METROPOLITANO DO RIO DE JANEIRO: ESTUDO DE CASO SOBRE A FAVELA DA CHUMBADA (2000 A 2010) Ficha Catalográfica. PEDIR A BIBLIOTECA 4 Oferecimento Aos meus pais que me deram o que há demais precioso no universo: a vida. É para eles que dedico este meu primeiro trabalho acadêmico. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço em primeiro lugar a Deus por estar sempre ao meu lado me ajudando nas horas mais tortuosas, me dando forças para continuar na perseverança de terminar esse trabalho. Gostaria muito de agradecer aos meus pais, principalmente o meu pai Antônio Luiz Paiva por ter enfrentado a vida mesmo com todas as dificuldades impostas me dando o suporte para estudar, esse trabalho é fruto do seu suor, pois sem a sua ajuda jamais teria realizado esta monografia. Agradeço também a minha mãe mesmo estando longe em grande parte da minha vida, sempre foi importante seja com seus carinhos afetivos ou com palavras de incentivo. A minha avó Luiza que hoje não está entre nós, mas teve uma participação importante em um curto período da minha infância sendo fundamental. Aos meus irmãos Marcos e Bruno por estarem sempre dividindo minhas angústias e alegrias. As minhas irmãs Nathalie e Patrícia mesmo longe amo essas mulheres. Gostaria de agradecer muito a minha tia Tereza que sempre me deu forças e com seu jeito carinhoso passando aquele afeto de mãe onde pude caminhar contra as dificuldades da vida. Não poderia deixar de citar a minha ex-companheira Larissa Klein mesmo não estando juntos ela foi fundamental na realização desse trabalho dividindo comigo os momentos de dificuldades, de leituras, de reclamações, de planos, de perdas, muito lhe devo por isso o meu reconhecimento. Como não posso esquecer do meu passado, gostaria de agradecer aos meus primeiros professores, sem eles jamais estaria aqui escrevendo tais palavras, ao qual me recordo carinhosamente da professora Cátia, Maria Antônia e Nádia Regiane e aos meus professores do ensino fundamental e médio. Agradeço aos meus amigos estes foram de suma importância na construção de pensamentos mesmo que fossem no bar, na sala de aula, no pátio da faculdade ou em outros lugares oportunos, seja discutindo idéias de, autores, política, economia, entre outras mais. Assim agradeço a Nãnaira, o Luís Júnior, o Rodrigo Corrêa (Russo), a Maria de Fátima, o Eduardo Tavares, o Diego Borges, o Luiz Fernando (Luizão), a Natália Fraga, o Paulo (Monitor), o Ornelas, o Rodrigo Marçal, o Giovani Acetti, o Sandro, o Hebert, o Júlio Dellosantos e a todos aqueles que contribuíram de alguma forma. 6 Gostaria de agradecer aquelas pessoas mesmo que minimamente tiveram relevância na construção do trabalho como a Viviane Souza, onde pode me emprestar alguns livros que fizeram parte desse trabalho. Agradecer a Julyanne Luz mesmo de longe sempre esteve escutando as minhas ânsias e alegrias. Agradeço especialmente ao meu professor orientador Andrelino Campos por ter tido muita paciência, ter me orientado e ajudado na finalização deste trabalho e por ser um professor ao qual tenho muito carinho e admiração. Agradeço a todos os professores do Departamento de Geografia da FFP em especial aos professores Denílson, Leandro Dias, Mateus Servilha, Marcos César, Eduardo Karol e Marcos Couto. A instituição UERJ por ter me concedido à oportuna de estudar a Geografia. De antemão agradecer aos que colaboraram com a pesquisa do trabalho, como os moradores da favela da Chumbada, estes me atenderam com atenção me informando os detalhes do processo histórico da Chumbada. Agradecer ao Jornal O São Gonçalo por ter me atendido quando precisei fazer alguns levantamentos. Finalizando agradeço a todos de alguma forma que contribuíram na construção deste trabalho, onde a arte de ler e escrever me tornou uma pessoa melhor. 7 SUMÁRIO Cap. Título Pág. Lista de Tabelas 8 Lista de Figuras 8 Resumo 9 Abstract 10 Introdução 11 1 Algumas considerações sobre a produção do espaço urbano. 17 1.1 Algumas considerações teóricas a partir do processo da formação urbana. 18 1.2 Os agentes produtores do espaço urbano. Algumas considerações. 25 1.3 A expansão urbana a partir da des – centralização. 32 1.4 A urbanização avançando sobre o campo na lógica do capital. 36 2 A produção do espaço urbano em São Gonçalo e a sua expansão desordenada no ponto de vista do capitalismo. 45 2.1 A história de formação político – espacial em São Gonçalo. 46 2.2 A produção do espaço urbano em São Gonçalo na perspectiva industrial. 49 2.3 A expansão urbana no município de São Gonçalo. 56 3 Produção da segregação no espaço urbano e a estigmatização dos espaços favelados. 69 3.1 Dos espaços segregados a questão da organização espacial. 70 3.2 A constituição do imaginário/estigma sobre favelados no contexto da violência urbana. 80 4 Produção da segregação e o contexto favela da Chumbada. 88 4.1 O nome Chumbada é relacionado ao “chumbo” das armas de fogo? A história da favela da Chumbada. 89 4.2 O avanço urbano gonçalense na construção da segregação socioespacial na favela da Chumbada. 93 4.3 O tráfico de drogas na favela da Chumbada e a construção dos estigmas. 110 Considerações Finais 115 Referências Bibliográficas 117 Anexos 120 8 Lista de Tabelas Tabela Tema Pág. 1 Região Metropolitana do Rio de Janeiro Densidade Demográfica. 38 2 História político-administrativa de São Gonçalo. 47 3 Número de estabelecimentos industriais entre São Gonçalo e Niterói. 50 4 Tabela dos impostos no Município de São Gonçalo. 60 Lista de Mapas Mapas Tema Pág. 1 Expansão da Mancha Urbana – São Gonçalo – Século XX (1970-2010) 96 9 Lista de Figuras N° de Figuras Figuras Pág. 1 Distritos de São Gonçalo. 48 2 Duas ferrovias de São Gonçalo no ano de 1940 a E. F. Leopoldina e a E.F Maricá. 52 3 Fachada da Usina Hime, década de 1920. 55 4 Instalações e porto da Usina Hime, década de 1930. 56 5 Bonde no Centro de São Gonçalo. 64 6 Modelo de Kohl. 75 7 Modelo de Burguess. 76 8 Modelo de Hoyt. 78 9 Bairros do Município de São Gonçalo e a identificação da Favela da Chumbada. 90 10 Delimitação da Chumbada segundoas suas vertentes e os bairros adjacentes. 97 11 Favela da Chumbada foto I (vertente A). 98 12 Favela da Chumbada foto II (vertente A). 99 13 Favela da Chumbada foto III (vertente A). 99 14 Favela da Chumbada foto IV (vertente B). 100 15 Favela da Chumbada foto V (vertente B). 101 16 Favela da Chumbada foto VI (vertente B). 102 17 Rua: Francisco Ribeiro na favela da Chumbada. 104 18 Rua Francisco Ribeiro favela da Chumbada o esgoto a céu aberto. 105 19 As tubulações de esgoto estão voltadas para a rua na favela da Chumbada. 106 20 As tubulações de esgoto estão voltadas para a rua na favela da Chumbada. 106 21 Apartamentos de dois andares foram vendidos em um curto período de tempo. 108 22 Prédio em processo de finalização de obras para especulação imobiliária. 108 23 Com a demarcação dos futuros empreendimentos imobiliários e a favela da Chumbada com as suas vertentes. 109 10 RESUMO: O desenvolvimento deste trabalho vem com o intuito de mostrar as disparidades e preconceitos apresentados atualmente no espaço urbano, sendo considerado a parte Leste da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Apresentando assim, as mais discutíveis questões sobre o espaço urbano e o seu processo de expansão, para compreender a realidade atual da favela da Chumbada. A história do município de São Gonçalo não passa despercebida, sendo abordada a sua influência no processo de construção da favela, a urbanização desigual será um artifício marcante na sua localização atual. A segregação será um tema discutido para poder entender a formação socioespacial da favela da Chumbada, onde buscaremos a todo tempo mostrar as formas clássicas de segregação para compreender a sua formação no contexto atual da favela. Portanto, é a partir da segregação socioespacial que entraremos na concepção da criação dos estigmas sobre os espaços favelados, pois com a estratificação social os pensamentos acabam sendo construídos intensificando ainda mais a segregação. Assim, a favela da Chumbada é apresentada e compreendida no cabal dos contextos discutidos anteriormente, onde é apresentado os problemas concernentes a favela. Palavras chaves: Produção do espaço, segregação socioespacial, São Gonçalo, estigma, violência urbana. 11 ABSTRACT: The development of this work is in order to show the differences and prejudices that are currently in the urban space, considered the eastern part of the Metropolitan Region of Rio de Janeiro. Thus presenting the most controversial issues on the urban space and its expansion process, to understand the current reality of the slum of Chumbada. The history of the municipality of São Gonçalo do not go unnoticed, addressed and its influence in the construction of the slum, uneven urbanization will be a artifice striking in its current location. Segregation is a topic discussed in order to understand the formation of slum of Chumbada where will seek at all times to show the classic forms of segregation to know their formation in the current context of the slum. Therefore, it is from the spatial segregation that we will create the design of the stigmata on the slum areas, as with the social stratification thoughts end up being built further intensifying segregation. Thus, the slum of Chumbada is presented and understood in the full context discussed above, where it is available problems concerning slum. Keywords: Production of space, spatial segregation, stigma, urban violence. 12 Introdução O espaço urbano ganha ênfase no trabalho, onde entenderemos como se deram os processos e quais implicações trouxerem na organização espacial. Visto um mundo organizado em prol do capital e pautado na (da) propriedade privada, vamos compreender o contexto que se encaixa a questão urbana. A discussão para tentar entender o espaço urbano nos remeterá a destrinchar as classificações dadas pelos países, denominando o que é urbano e o que não é, onde debateremos tais designações. Assim, a partir de tais informações podemos obter uma maior dimensão da concepção urbanização. A expansão urbana será o carro chefe na compreensão do espaço urbano, sendo enfático a valorização da Área central, este um local de habitações das classes abastadas, porém mais tardiamente haverá uma recusa por esse espaço devido aos seus problemas peculiares, havendo assim uma procura por outros locais de moradias afastados da Área Central, deste modo à área abandonada torna-se um local propício para as moradias da classe pobre surgindo a partir daí a segregação socioespacial. A centralização urbana terá um papel crucial para a descentralização industrial, este, todavia é um dos grandes fatores para a expansão urbana, pois é a partir da centralização que a descentralização ocorrerá, e isto intensificará o avanço urbano sobre o campo. A metrópole será o grande exemplo da força urbana crescendo em relação ao campo, onde a marca do seu avanço é identificada como franjas urbanas. Depois na segunda parte iremos discutir sobre o município de São Gonçalo e a sua formação urbana só assim teremos uma dimensão mais abrangente da gênese socioespacial do nosso objeto de pesquisa. No entanto, com o advento do processo de urbanização no Brasil, sobretudo na metade do século XX São Gonçalo também estará inserido nesse contexto graças ao desenvolvimento industrial no seu município. Sua ampliação urbana se deu de forma desigual e desordenada dentro da lógica do capital, assim havendo muitas ausências de investimentos nas áreas mais afastadas em relação ao 4° distrito de Neves (a área mais industrializada e urbanizada da época) cabendo aos outros distritos a luta por melhorias. 13 O aumento populacional atrelado à febre de loteamentos contribuiu e muito para a expansão urbana no município, muitos bairros foram fundados a partir dos loteamentos de muitas fazendas. O meio de transporte veio cooperar para o espargimento da urbanização, apesar de ainda os serviços básicos urbanos não terem chegado a alguns lugares em São Gonçalo. Podemos mesmo citar a favela da Chumbada esta adequada a tal realidade de investimentos públicos desiguais. Os modelos de segregação serão vistos no trabalho, ganham importância por ser tratar de moldes concebíveis na hora de discutir a segregação socioespacial. Portanto, temos autores como Kohl, Burguess e Hoyt onde nos apresentam à sociedade organizada de acordo com seus protótipos de cada época. Aproveitando a leva, Souza e Corrêa colocarão a sua visão em relação à segregação debatendo o seu significado. Como o espaço é segregado na concepção dos autores, passou então a ser um problema enfrentado no espaço urbano, pois a segregação tornou-se um meio de manutenção dos privilégios da classe dominante em relação à classe trabalhadora. Porém, tais questões não se resumem as divisões sócioespaciais apenas, já que a classe pobre além de segregada ainda sofre com o processo de estigmatização. No início do século XX, a estigmatização tinha características marcantes por ser predominante o grupo de ex-escravos nos centros urbanos, locais habitados pelas classes abastadas, no entanto, foi a partir da década de 80 do século XX até os dias atuais que os estigmas ganharam novas dimensões, dessa vez não só os descendentes de escravos vão ser estigmatizados, mas os brancos “paraíbas”, baianos, desempregados, entre outras classificações que reafirmam os moradores dos espaços favelados como “perigosos” 1 Refletir como o espaço gonçalense formou-se será enfático na hora de pensar o objeto da pesquisa, já que o município se encontra em uma conjuntura do sistema capitalista desde seu surgimento até a sua fase atual estando inserida aí a favela da Chumbada. Mas como se desenvolveu a favela da Chumbada? Alguns preceitos podem ser abordados de início como o nome derivado do chumbo, por exemplo.Podemos pensar em muitas coisas quando citado o nome da favela, poderíamos relacionar com o chumbo das munições, as fábricas de chumbo ou até mesmo a chumbada de pescadores tudo depende da imaginação de cada um. Portanto, ao longo do trabalho iremos buscar 1 Ver Campos (1998 p.83). 14 informações que sejam eficientes para o leitor obter os aportes, e assim esclarecer a gênese da favela e o seu contexto atual. Desta forma, o nosso objeto de pesquisa será: a favela da Chumbada tendo como ponto de destaque o imaginário sobre a violência urbana. Esta favela está localizada no município de São Gonçalo (RJ), A favela está na divisa dos bairros Nova Cidade, Estrela do norte, Mutondo e Galo Branco, São Miguel, Antonina no 1º Distrito – Centro. Neste contexto do nosso objeto de pesquisa, destacamos como objetivo geral, analisar o espaço urbano de São Gonçalo, tendo como ponto focal os espaços segregados, destacado pela favela da Chumbada, levando em consideração, sobretudo à violência urbana como questão dos lugares ocupados pelos mais pobres. Como existe impossibilidade de tratar o objetivo geral a um só tempo, precisamos desdobrá-lo em objetivos específicos, distribuídos na seguinte ordem: a) Analisar a formação do espaço urbano e seus agentes em geral, entendendo o processo de expansão urbana; b) Recorrer aos processos de urbanização em São Gonçalo e a sua expansão a partir da industrialização e dos loteamentos; (c) Discutir os espaços segregados, a questão da organização espacial e a constituição de estigmas sobre os espaços favelados e; (d) Compreender a produção da segregação na favela da Chumbada levando em consideração os estigmas e o contexto atual da Chumbada. No entanto, nossos procedimentos metodológicos foram baseados em entrevistas com os moradores, sobretudo os mais antigos, que pudessem contribuir na construção histórica da favela, isto de fato ajudou na análise histórico-espacial de formação do espaço favelado da Chumbada essa estratégia é umas das alternativas para superar à quase inexistência bibliográfica sobre a favela. Porém, o autor Fernandes realizou o seu trabalho final de graduação (monografia) sobre este recorte espacial, desse modo, contribuiu na construção histórica e espacial no estudo da favela. Conseguinte, outros recursos foram abordados para a nossa metodologia como tabelas, mapas e imagens. Diante disso autores vierem contribuir com os seus pensamentos onde foram de cabal importância para o desenvolvimento desta monografia. Todavia, vale discorrer sobre alguns autores que foram o aporte na produção de um pensamento sobre o tema exposto: O Imaginário da Violência Urbana 15 em São Gonçalo – Leste Metropolitano do Rio de Janeiro: Estudo de Caso Sobre a Favela da Chumbada (2000 a 2010). Destarte, autores como Maricato (1997) e Corrêa (1989) nos auxiliarão em uma perspectiva mais abrangente sobre o espaço urbano, a primeira autora na concepção de uma formação socioespacial urbana no Brasil, entendendo a estrutura da propriedade privada como fator preponderante para compreensão da segregação, assim sendo, traz a gênese da formação de um espaço segregado onde este é estruturado nos moldes capitalistas. Já Corrêa discorre sobre os produtores do espaço urbano, estes estariam também contribuindo para a formação de um espaço segregado. Os agentes produtores no espaço foram identificados por Corrêa como os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais “excluídos” (desfavorecidos). O autor CORRÊA (1989) complementará a visão sobre o espaço urbano complementado primeiro a centralização da urbanização para assim compreender a expansão urbana, ao ater-se a isso, a descentralização será uma consequência do processo contribuindo com o avanço do espaço urbano. Os problemas encontrados nas áreas centrais e os atrativos por novos espaços serão fatores contribuintes para a expansão urbana. Assim, o autor pode nos auxiliar na concepção sobre descentralização industrial tema relevante para fazermos uma analogia com o aumento da urbanização no espaço. No entanto, SOUZA (2003) complementa o raciocínio sobre expansão urbana quando retrata o processo de metropolização e as linhas limítrofes da região metropolitana, assim destrincha os aspectos da expansão urbana finalizando o entendimento sobre a sua organização, sobretudo a partir dos altos investimentos em rodovias característica urbana muito presente no Brasil. Quando tratado o município de São Gonçalo MODESTO (2008) inicia a sua análise dando a devida atenção à instabilidade política e a formação urbana no distrito de Neves, local que acontece o processo de industrialização em São Gonçalo, porém já GEIGER (1956) contribuirá com a sua análise sobre a industrialização gonçalense no período em que ficou conhecida como “Manchester Fluminense” ao qual São Gonçalo ganha destaque no cenário nacional. No setor de transportes no município o autor MACHADO (2007) dará ênfase quando tratado o assunto que remete a uma melhor compreensão da organização espacial gonçalense. Concluindo então a questão política do município será enfatizada por FREIRE que destacará o jogo de interesses entre os grupos políticos e os proprietários fundiários. 16 Quando discorrido sobre a segregação dois autores terão suma importância na visualização do tema, SOUZA (2003) e CORRÊA (1989) terão complementos analisados no trabalho de forma distinta, onde Corrêa analisa a gênese da segregação a partir do século XVIII dando a devida atenção à cidade no sudoeste da Ásia Todavia já Souza identifica a segregação a partir da 1ª revolução industrial. Mas esses autores serão os pilares para entender a segregação no espaço urbano, Corrêa identifica os sujeitos produtores da segregação e Souza classifica os tipos de segregação abordando algumas soluções para superar o espaço estratificado. Quando abordamos os estigmas dos espaços favelados podemos mesmo citar o autores como SILVA (2008) e CAMPOS (1998), porém este último trabalha com os espaços favelados, onde suas idéias contribuíram para refletir sobre os discursos discriminatórios construídos ao longo do tempo. A rejeição dos negros e pobres favelados por parte da sociedade acarretaram em discursos pejorativos onde tornaram pertinente a classificação dos negros e pobres das favelas como classe “perigosa”. Entendendo algumas mudanças nos discursos ao longo do tempo principalmente depois da década de 70 do século XX, SILVA (2008) abordará temas relevantes sobre os estigmas, relatando as designações pejorativas sobre os espaços favelados, estes terão novas classificações sendo agora retratado como o local do crime, sendo reforçado pela mídia a atenção dada a violência nos espaços favelados. Desta forma, citará o tema identificando os discursos discriminatórios sendo complementado com as idéias de CAMPOS (1998) que também trabalha a questão, assim Silva buscará a partir do ponto de vista dos favelados uma compreensão real da sua situação. O trabalho está dividido em quatro capítulos, 1.1 retrata o espaço urbano em uma análise mais abrangente, sendo a primeira parte sobre o processo de formação segregacional no espaço brasileiro, dando à devida atenção a estrutura de organização da sociedade ao longo dos tempos, tentando assim esclarecer quais são os tipos de classificação o que seria urbano no Brasil e no mundo. Em 1.2 temos os produtores do espaço urbano, estes vão modelando o espaço de acordo com seus ensejos, hora entrando em conflitos e em alguns momentos convergindo interesses, não obstante a classe desfavorecida acaba sofrendo com os processos da lucratividade dos outros agentes tentando resistir e sobreviver em meio a tais conflitos e escopos. Em1.3 podemos mesmo destacar como o espaço urbano se desenvolveu, entendendo o seu momento de expansão e quais espaços são mais suscetíveis ao aumento urbano, tendo na sua lógica o desenvolvimento do capitalismo de mercado sendo englobadas as áreas 17 rurais pelo espaço urbano. O 2° capítulo é sobre São Gonçalo e sua história política, a produção do espaço urbano, a gênese da urbanização no município e a expansão dessa urbanização. Em 2.1 veremos a história de formação política de São Gonçalo, onde mais a frente em 2.2 aborda um desenvolvimento urbano com maior intensidade nos distritos de Neves e Sete Pontes. Por final em 2.3 teremos o momento de expansão urbana em São Gonçalo, o município passará por vários processos de urbanização sendo enfático a industrialização, os loteamentos e os meios de transportes. O 3° capítulo trata da segregação no espaço urbano, a 3.1 retratando os modelos clássicos que classificam os tipos de segregação em cada época, destacando alguns autores como Burguess, Kohl e Hoyt. Algumas soluções serão colocadas para tentar solucionar alguns problemas referentes à segregação. Ao final do 3° capítulo em 3.2 falaremos sobre os estigmas criados sobre os espaços favelados onde os imaginários são produzidos, pegando aí desde o período passado até os dias atuais, analisando tais pensamentos sobre os espaços favelados, relevando assim a constituição do imaginário como pensamento discriminatório com os pobres favelados. No 4° capítulo veremos o nosso objeto final que é a Favela da Chumbada relatando inicialmente no 4.1 a sua história de formação baseando-se nos relatos dos moradores. No 4.2 observaremos a questão da segregação socioespacial e a dinâmica urbana gonçalense, são ações que terão influências na formação do espaço favelado da Chumbada onde os investimentos foram alocados de forma desigual tendo como principais produtores do espaço os agentes desfavorecidos, os agentes imobiliários e o agente Estado. No 4.3 fechamos com a presença do narcotráfico na favela e a criação dos estigmas sobre os favelados da Chumbada considerando a mídia como grande precursora do sensacionalismo dos casos de violência. 18 Capítulo – 1 Algumas Considerações Sobre a Produção do Espaço Urbano. Discussões sobre o espaço urbano nos remeterão a algumas reflexões, tal como relacionando o tipo de organização espacial entre o Brasil e o mundo (lembrando do período antes da chegada dos portugueses) isto nos auxiliará na compreensão de; como se deu a formação da estrutura da terra no Brasil. Assim, depois do debate da organização européia no território brasileiro entraremos no assunto; o que seria considerado como espaço urbano? Discutindo alguns pensamentos sobre o tema, identificaremos os agentes transformadores, estes darão feições no espaço construído, as suas ações serão discutidas para entender como o espaço é produzido. No entanto, é a partir daí que verificamos o movimento da transformação no espaço, quando, sobretudo ocorre o momento da des-centralização, ou seja, no inicio da urbanização há uma centralização do espaço onde mais tarde ocorrerá o inverso o processo de descentralização este se torna um marco importante para a expansão urbano. É com o processo de descentralização que podemos explicitar o momento do avanço urbano sobre o espaço rural. O espaço urbano acaba ganhando força diante do espaço rural, porém este não deixará de existir no seio do espaço urbano. 19 1.1 Algumas considerações teóricas a partir do processo da formação urbana. As mudanças no espaço são aparentes desde a existência do homem no globo terrestre e isto se intensifica com a transformação do mesmo com a natureza. O que devemos salientar é; Como o espaço se formou principalmente no Brasil e quais conseqüências foram acarretadas devido a essas mudanças? A compreensão do espaço urbano a partir da organização espacial baseada na propriedade privada terá ênfase para entender como o espaço urbano se construiu sendo valorizado lugares específicos. Daremos atenção a uma passagem de construção espacial baseada no processo histórico brasileiro para entender o momento atual do espaço urbano contemporâneo. No Brasil antes de 1500 os índios eram os habitantes que predominavam no país, com a chegada dos portugueses várias tribos indígenas foram dizimadas e com ela o seu modo de vida e cultura (quase chegando à extinção), principalmente por não ser uma cultura praticante da escrita1. Os europeus iniciaram seus anseios com suas imposições culturais de dominação, causando grandes conflitos e mortes, mormente pela resistência que encontraram para dominar os índios, estes lutaram até a morte. Mas o que queremos saber é, como isto afetou o modo de organização sócio-espacial? Pois bem, os portugueses impuseram a sua cultura e o seu modo de vida através do uso da força, um dos meios coercitivos para isto foram as armas de fogo, matando milhões de índios em combates, somando-se a destruição das casas indígenas que eram as ocas e as aldeias, um tipo de moradia em organização coletiva considerada pecaminosa pelos portugueses na época. Os europeus logo que chegaram trataram de estabelecer sua organização social, seja com igrejas, casas separadas, edifícios, cemitérios e etc. Este tal tipo de vida implantada, tinha em sua essência um estilo de vida individualista, como a acumulação de capitais e de terras, tais ações faziam parte do processo de conquista e de sua cultura. De forma antagônica os índios viviam coletivamente todos usufruíam da colheita e repartiam seus alimentos, essa maneira de vivência foi sendo aniquilada vagarosamente e os europeus iam colocando seus planos em prática durante o processo. Uma nova estrutura de organização social ditada pelos portugueses, não só trouxe a parte física (as construções), mas também os novos 1 Até hoje desconhecesse algumas culturas indígenas devido as grandes batalhas e a dizimação de várias tribos indígenas. 20 pensamentos, escopos, culturas e costumes que foram totalmente diferenciados das dos índios 2, pois os índios viam passando por um processo de catequização o que foi massacrando as suas culturas também (MARICATO 1997, p.11). Mas tal tipo de organização sócio-espacial não foi inserido com grandes facilidades, pois houve muitas obstinações por parte dos índios, o resultado de tanta negação acarretou nos discursos discriminatórios pelos portugueses classificando-os como “preguiçosos”, porém não devemos esquecer que alguns índios ainda continuaram sendo escravos e os africanos viriam a ser escravizados mais tarde, sendo um meio lucrativo para os grandes fazendeiros. Apesar de toda resistência dos índios, o modo de vida europeu foi imposto misturando-se assim com outras culturas diferentes, prevalecendo o seu modo de organização espacial baseado, especialmente na propriedade privada. O destaque acima da mudança de organização social vem de encontro do que veremos adiante sobre o processo de segregação sócio-espacial, isto nos fará sempre relembrar tal processo. O importante é refletir sobre a organização espacial que passa por um período de transformação, baseada no modelo de acumulação do capital. O que toca no cerne da questão na organização espacial é a propriedade da terra, tendo em vista sua origem na revolução francesa em 1789, os franceses dividiram as terras para que cada um tomasse conta da sua, individualizando os domínios territoriais da propriedade. Por assim dizer, de maneira semelhante aos ideais franceses, os americanos criaram à constituição de 1776 a primeira do continente americano, considerando a propriedade privada como sendo “essencial e inalienável” mostrando como esse aspecto teve grandes impactos nos países capitalistas e principalmente no Brasil. (MARICATO, ibid.,p. 21). Absorvendo algumas idéias da constituição americana como o uso, fruto e produção, esta lei foi praticada no Brasil colônia por meio da concessão de terras feita pela coroa portuguesa, pois só era concedido à sesmaria quem produzisse e ocupasse a propriedade. Isto acarretou na criação de várias oligarquias locais considerada hierarquicamente inferior à cúpula da metrópole, mas com um poder que os tornavam as elites da época. Com o decorrer do tempo essas doações de terras passam a ser distribuídas pela câmara municipal, agora possuindo certa autonomia de outorgar propriedades, mas a aquisição só era cedida com a condição de ocupação, produção e 2 A contra-reforma foi praticada no ano de 1534 à 1590 onde os jesuítas praticavam a disseminação da cultura católica, sobretudo no Brasil com o objetivo de combater a expansão do protestantismo 21 pagamento de dízimos. Assim, o sistema de sesmaria fica até a data de 1822 quando o país se torna “independente” de Portugal e muda a sua forma de relação com a terra. Mas, o que cristalizou realmente a questão da propriedade privada, foi à criação da lei de terras, para entrar em cena demorou alguns anos devido à prioridade dada à fonte de renda da época que eram os escravos, mormente por representar a parte mais lucrativa no mercado marcando aí o período colonial. Os grandes investimentos eram baseados na obtenção de escravos, ou seja, na compra e venda, porém a terra ainda não era tão importante do ponto de vista da lucratividade, a riqueza era medida a quem detivesse maior quantidade de escravos, todavia não podemos esquecer que a propriedade tinha um papel fundamental. A terra passa a ter grande importância quando é proibido o tráfico de negros em 1831 pela Inglaterra, (vale lembrar que no Brasil ainda não tinha sido abolido o tráfico de escravos), no entanto, a propriedade começa a ganhar força motivada pelo processo da abolição, porém a comercialização ilegal de escravos ainda era uma prática lucrativa para os donos das grandes fazendas. (MARICATO ibid., p. 18). Em 1850 a lei de terras é colocada na forma de lei sendo uma das estratégias para impedir a aquisição dos terrenos e uma maneira de manter o status quo da elite oligárquica. Podemos dizer que, com as divisões de posse e a obtenção de terras através da compra, começa a surgir a partir daí uma estrutura segregadora mais explícita. Conseguinte, os que podiam adquirir a terra eram os que detinham de capital, dificilmente teriam os escravos tais condições. Fica manifesto o objetivo de manter essa relação econômica com a terra, essa ação cooperou e muito para que as elites garantissem a sua hegemonia. Mas, outra colocação é feita quando a exclusão dos homens negros ao acesso a terra seria importante para garantir mão-de-obra nessas propriedades colaborando com trabalhos intensivos na produção (CAMPOS 2007, p.42). Diante da economia baseada na escravidão mesmo com a proibição do tráfico de escravos em 13 de maio de 1888 ainda era predominante o uso do sujeito a um senhor como mercadoria. A partir desse ponto fica evidente que as formas distintas de classe dão sinais claros, os grandes proprietários de terras terão grande influência econômica e política mantendo privilégios diante dos que não puderam adquirir um pedaço de terra principalmente com a consolidação da lei. O terreno se torna uma mercadoria intensificando a partir daí uma forte tendência a sua concentração, modelada no sistema capitalista de acumulação de capitais. Com esse processo marcado, sobretudo no espaço rural, tal ação de 22 organização espacial será transmudada para o espaço urbano herdando a estrutura da propriedade privada. Todavia, de forma diferente dos aspectos da paisagem e modo de organização do meio rural, podemos dizer que no espaço urbano a área passa a ser mais valorizada de acordo com a infraestrutura oferecida e o seu tamanho, o que aumenta cada vez mais a dificuldade de compra pela população de baixo poder aquisitivo. O espaço urbano é uma construção histórica e atualmente assistimos em vários lugares pessoas comentando sobre o mundo urbano, ou seja, nos noticiários, debates políticos ou em academias. Afinal como definiríamos um espaço urbano? Não podemos ficar presos apenas a sua aparência como construções, estradas, concentração de pessoas entre outras características físicas, mas nas relações humanas que se dão no espaço. Há autores que nos mostram como devemos olhar e tentar definir o que seria um espaço urbano. Há várias discussões sobre o que seria considerado urbano como assinala SOUZA (2003) onde nos apresenta que atualmente cerca da metade da população mundial vivem em espaços urbanos. Mas não existia a urbanização antes de 1850 e que só em 1900 a Grã-bretanha o era. Alguns países têm as suas definições do que seria urbano e mais a frente comentaremos sobre a tal definição, mas antes vamos delinear alguns caminhos para tentar entender as classificações. Países como a Grécia ou Noruega definem seu espaço como urbano a partir da quantidade de sua população. Em relação a isso temos um exemplo claro da Escócia, onde ela define o espaço urbano a partir de um limite estabelecido de 500 habitantes, já na Grécia seria de 10.000 e no Japão 50.000 são vários países que vão especificando as suas classificações. Outros tipos ainda existem como os da densidade demográfica ou pela definição das atividades econômicas. (ENDLICH, 2006 pp. 13-15.). Já no Brasil as definições são diferentes das citadas acima, pois suas classificações são de acordo com as delimitações territoriais, ou seja, que contenha uma sede municipal onde delimita sua área fronteiriça de domínio. Todas essas definições são problemáticas, porém uma delas é deliberar o espaço como urbano a partir da quantidade de pessoas que habitam uma área demarcada (densidade demográfica) ou ao qual faz o Brasil, classificando como urbano o espaço que contenha sedes municipais. Veremos a frente o quanto isto contribui para as falhas na sua definição, seja por quantidade ou mesmo por obter uma câmara municipal, o que já mostra nessas classificações inexatas definições causando contrastes e erros afetando de maneira geral os dados levantados. Para indagar a colocação anterior da densidade demográfica 23 podemos pegar como exemplo dos locais com grandes populações, mas que os serviços e a assistências com mecanismos urbanos como acesso a água, rede de esgoto, transporte, saúde, ruas asfaltadas, iluminação entre outros são ausentes fazendo-nos refletir sobre o caso. Já no Brasil podemos observar que sua definição é mais complicada devido às próprias características em que o define como urbano. Temos uma questão contraditória quando nos deparamos com espaços considerados urbanos, mas que na verdade são baseados no modo de vida rural, contudo, por conter uma sede municipal acaba sendo classificada como urbano, temos aí um contra-senso ao uso dessas aplicações. Mas de que maneira consideraríamos um espaço urbano afinal? Analisando as idéias de Souza (2003) as dificuldades encontradas estão na ordem qualitativa e não quantitativa, pois a solução seria fixar um limite em matéria de números de habitantes como forma de estabelecer o que é cidade e o que não é. A grande dificuldade segundo o autor estaria na ordem qualitativa, pois definir um número de habitantes sem qualificar as condições sócio-espaciais seria uma grande falha, é preciso mais mecanismos que façam um maior esforço para qualificar o que seria um espaço urbano. Assim o autor assinala meios mais práticos de definir o que seria urbano e o rural, dentro da realidade de cada país, portanto segundo o autor classificar o espaço urbano ...é o jeito mais cômodo de se enfrentar a tarefa prática de distinguir entre núcleos urbanos e rurais, e pode não dar resultadosruins, desde que se proceda a isso tomando por fundamento um conhecimento sólido da realidade sócio-espacial do país em questão. (SOUZA 2003, p.29) O espaço tem assim suas singularidades partindo da idéia da questão qualitativa facilitando as classificações do que seria urbano. Primeiramente temos que compreender o que é urbano, para depois começar a distinguir suas especificidades, organização espacial, seus conflitos e produção. Um exemplo que Souza (2003) nos apresenta é quando as atividades econômicas são diferentes das encontradas em um mero povoado rural, onde suas atividades são concentradas na agropecuária, no comércio, serviços e são simples, voltadas para o auto-abastecimento local, diferentemente da área urbana onde as atividades são diversificadas (SOUZA, ibid, p.30.). Portanto, podemos perceber que a questão quantitativa ainda torna-se falha, podendo uma área rural comportar mais 24 pessoas do que uma área urbana, sendo deste modo suas atividades econômicas baseadas na agropecuária. A partir desse momento tivemos as discussões da classificação do que seria considerado como urbano e tentamos agora perceber como esse espaço está na visão de Corrêa, onde nos fornece algumas idéias sobre o que seria um espaço urbano. Para Corrêa (1989) o espaço urbano seria este simultaneamente articulado e fragmentado. As articulações podem se dá de várias maneiras, porém uma delas é menos visível, às quais as ações humanas como as suas relações, ganham destaque nesse quesito. Os exemplos são múltiplos investimentos de capital, transações financeiras, mais-valia, juros e etc. O espaço articulado contém um núcleo de articulação integrando várias partes de uma cidade onde estas estão ligadas, porém não necessariamente estão próximas uma das outras, mas fazem parte de um conjunto de ações. Conseguinte, fragmentada a partir do momento que mantém, por exemplo, as áreas residenciais segregadas seja ela uma favela ou um condomínio de luxo. Essas relações têm um pouco das expressões do passado onde deixa as marcas no espaço resultando em uma ligação intrínseca entre o passado e o presente se fazendo valer no momento atual Mas o espaço urbano é um reflexo tanto das ações que se realizam no presente como também daquelas que se realizaram no passado e que deixaram suas marcas impressas nas formas espaciais do presente. (CORRÊA id. Ibid., p. 8.) Identificamos que o espaço tem suas marcas nas formas espaciais tanto no passado como no presente, suas articulações e fragmentações são apenas produtos que foram construídos ao longo do tempo e continuam se reproduzindo no espaço, em um emaranhado de relações onde a segregação acaba fazendo parte desse processo. O autor Santos (1982) sinaliza para que não possamos apenas enxergar esses espaços como objetos materiais que formam a paisagem, onde trouxesse neles mesmo sua própria explicação, mas os processos teriam consigo uma grande significância nas formas espaciais. Destarte, refletir sobre o espaço urbano em uma construção espacial ao longo dos processos é tentar entender como se dá a sua relação atual com o passado assim diz Santos: O passado passou e só o presente é real, mas a atualidade do espaço tem isto de singular: ela é formada de momentos que foram estando agora cristalizados como objetos geográficos atuais; essas formas- 25 objetos tempo passado são igualmente tempo presente enquanto formas que abrigam uma essência, dada pelo fracionamento da sociedade total. Por isso o momento passado está morto como tempo, não, porém como espaço; (...). (SANTOS 2007, p.14) Diante de tais afirmações a palavra essência traz uma linha de raciocínio, onde se considera não apenas os objetos geográficos, mas o que envolve tais objetos. As idéias, discussões, debates políticos, planejamentos todos os meios abstratos que foram colocados em prática e atualmente estão em construção no presente, vem do passado, do que foi construído enquanto idéia, exemplificando assim, o tempo pode até está morto, mas o espaço continua se reproduzindo dentro de uma lógica (idéias) construída através dos tempos. O importante é se ater ao olhar crítico sobre o espaço edificado, não ignorando os processos que se deram, mas levar em conta o que ele nos deixou como legado, por isso o espaço é hoje o grande palco das ações dos sujeitos. Diante dos fatos mencionados, o espaço urbano tem sua construção através do passado e continua se transformando no presente, mas para se tornar real foi construído enquanto passado, assim disse Santos (id, ibid.) “[...] pode está morto como tempo não, porém como espaço”. Se o espaço modifica-se e está em movimento, diga-se de passagem, muitos desses espaços também estariam segregados, separados na cidade, onde a sua identificação como uma área exclusa pode ser percebida em uma grande cidade. Porém, são nesses espaços que muitas favelas são existentes, assim com o avanço da urbanização, muitos locais acabaram não sendo atendidos com a devida infraestrutura ficando a espera de investimentos, sendo denominados como espaços “excluídos”. Primeiramente enfatizaremos a palavra “excluído”, devemos ter muita atenção quando utilizar tal vocábulo, pois uma expressão genérica pode causar grandes contrastes quando se trata de um espaço segregado. Os exemplos são variados, mas podemos citar um. Quando uma pessoa moradora da favela e não do “asfalto” é excluída de determinados ambientes da classe abastada, pode ser considerada uma idéia de exclusão. Portanto, se pensarmos de um modo geral contrário ao pensamento de exclusão veremos que o pobre está inserido junto às elites, seja trabalhando em suas casas, em eventos realizados como festas, jantares, estabelecimentos entre outros, pronto teríamos ai momentos de uma integração e não de “exclusão” com o trabalhador fazendo parte da vida de outro status social. Souza reforça a passagem quando diz sobre a palavra exclusão 26 É preciso, ao usá-lo, no mínimo qualificar muito bem em relação a que ou de que os pobres urbanos estão excluídos. No sentido preciso de excluído das benesses do sistema, ou de certos ambiente, OK; o que não é correto é expressar-se genericamente, pois corre o risco de esquecer que a maioria dos pobres urbanos está integrada, sim, econômica e mesmo política e culturalmente. (SOUZA 2003, p. 69). A palavra exclusão pode gerar um sentido de não pertencimento; aí, temos que ter o cuidado de não generalizar, pois, caso isso aconteça, podemos cometer muitos equívocos na hora de pensar o espaço urbano. Este mesmo espaço que abrange as diferentes classes sociais, não deixa de fazer parte da miscelânea cultural, política e econômica. Na parte cultural podemos mesmo citar a música, na política os mais variados personagens de classes diferentes e os econômicos vimos à questão do trabalhador inserido, por exemplo, nas casas da classe abastada trabalhando, de onde adquirem a sua renda e mantêm algumas relações. Portanto, os cuidados deverão ser tomados, assim podemos obter uma melhor visão do espaço, onde as relações são intensas e não deixam de estar interligadas. Entender o espaço urbano é buscar a sua formação e como se distingue do campo, sendo levado em consideração às relações que são dadas mesmo que seja de forma desigual. Entretanto, alguns agentes farão do espaço urbano o seu palco, o jogo de interesses dos mais diversos, onde o poder econômico fala mais alto na maioria dos casos, restando às classes subalternas lutar contra um movimento que os fazem ser oprimidos e explorados. 1.2 Os agentes produtores do espaço urbano: Algumas considerações. O espaço urbano é a marca do processo de produção de alguns agentes, aonde estes vão modelando o espaço de acordo com seus interesses. Portanto, alguns agentes serão apresentados, realizando no espaço urbano o seu ponto de sustentação e sobrepondo os seus anseios,mesmo que outros agentes possam ser menos favorecidos. No entanto, quais seriam esses agentes? Corrêa (1989) trará cinco agentes produtores do espaço, mostrando cada sujeito modelador do mundo urbano: 27 1) Os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais, 2) Os proprietários fundiários 3) Os promotores imobiliários 4) O Estado 5) Os grupos sociais “excluídos” (desfavorecidos) Segundo Corrêa (1989) antes de analisarmos os agentes do espaço urbano, temos de obter uma análise do espaço com a consciência de sua formação diante de um marco jurídico, que regula as atuações desses atores. Portanto, alguns destes agentes acabam levando vantagens em suas negociações, como afirma o autor quando fala em “transgressões”, ou seja, há uma força política e econômica que acaba influenciando a favor dos interesses dos agentes dominantes. Contudo, a ação desses agentes hegemônicos é manter a reprodução da relação de produção, implicando na continuidade da sociedade capitalista, restando ao Estado ser o “intermediário” minimizando os conflitos de classe, sobretudo com a classe trabalhadora a realizadora das reivindicações. Apesar de ser a que mais sofre com a exploração da mais-valia, essa classe é o pilar que sustenta o sistema do capital. É o trabalhador que mantém o sistema capitalista vivo, o espaço se modela se transforma de forma mais intensa de acordo com os interesses daqueles que detém o poder, mormente as elites. Vale ressaltar que a classe proletária além de passar por grandes dificuldades principalmente econômicas ainda padece com as questões políticas e sociais que são bastante deficitárias o que não exclui deles também produzirem o seu espaço. Conseguinte, este fator soma-se ao fato dos labutadores suportarem as opressões e explorações vivendo subalternamente, enquanto a outra classe elitizada aproveita-se do seu poder econômico. Entretanto, apesar dos avanços nas lutas dos trabalhadores, a maioria continua alienada cooperando na manutenção do sistema. A despeito de toda dificuldade encontrada pelos trabalhadores, a classe dominante também enfrentará empecilhos, principalmente os grandes industriais nas divergências de anseios, entrando em conflitos fundiários3 que refletirão sobre o espaço, 3 Porém vale lembrar mesmo com todos os conflitos entre esses seguimentos da sociedade (industriais e proprietários fundiários), alguns contrastes irão surgir, a lógica capitalista necessita alimentar a idéia da casa própria e a manutenção da propriedade privada, só assim garantirá os pontos de sustentação do sistema. Se por um lado os grandes latifundiários necessitam lucrar com a venda da sua terra cobrando altas taxas, os grandes empresários precisam que os trabalhadores consigam a casa própria diminuindo as pressões por melhores salários. Ora se a propriedade privada é necessária para a manutenção do sistema e ao mesmo tempo os grandes empresários precisam manter os salários baixos, estes acabam entrando em contradição havendo um conflito entre eles. Deste modo a obtenção da casa própria acaba se tornando um sonho de consumo do trabalhador, pois carece de muito capital para adquirir a sua casa. (CORRÊA 1989, p.14) 28 sobretudo no preço da terra. Em consequência dos fatos mencionados, a questão fundiária incidirá sobre os salários dos trabalhadores que assistem à valorização do solo (não é de interesse dos industriais e nem da classe trabalhadora o aumento do preço da propriedade), devido a tais acontecimentos as pressões para o aumento da remuneração por parte dos trabalhadores acabam prejudicando as margens de lucro dos industriais que também enfrentam a valorização do solo. Os conflitos dos industriais com os proprietários fundiários acabam sempre na maioria dos casos em vitória para os donos dos meios de produção devido à força econômica que estes desfrutam. Os donos das empresas industriais pressionam o Estado para realizar obras de infraestrutura e de conseguir desapropriações de terras facilitando a sua expansão (CORRÊA 1989, p.14). Contudo, os grandes proprietários industriais são os grandes consumidores do espaço e precisam sempre de maiores áreas para a instalação de suas empresas, além da infraestrutura que é necessária para as indústrias funcionarem. Um ponto crucial é quando Santos sinaliza que existe uma urbanização corporativa na cidade baseada nas empresas que modelam o espaço. A urbanização corporativa, isto é, empreendida sob o comando dos interesses das grandes firmas, constitui um receptáculo das conseqüências de uma expansão capitalista devorante dos recursos públicos, uma vez que esses são orientados para os investimentos econômicos, em detrimento dos gastos sociais. (SANTOS 1993, p. 105). Assim sendo, ressaltamos que o ônus social na maioria das vezes vai em direção ao desenvolvimento de muitas empresas, especialmente com investimentos na implantação de infraestrutura, desapropriações e empréstimos, onde na maioria dos casos quem faz esse papel é o Estado. Tais ações estão muito relacionadas ao jogo de interesse que há dentro da própria máquina pública, a busca de privilégios acaba cedendo espaços para empresas privadas, estas realizam a polarização dos recursos que deveriam de certa forma servir a população. Esses atos são evidentes no pensamento capitalista em prol do crescimento econômico no chamado “desenvolvimentismo”, pregando idéias de menos gastos sociais e mais aplicações de capitais no setor econômico, na incumbência do desenvolvimento. Esse pensamento burguês dentro da 29 máquina estatal acaba influenciando no desvio de recursos para as áreas empresariais, mormente deixando de empregar capitais nas áreas sociais, cooperando com grandes transtornos para a população pobre. As conseqüências são drásticas, especialmente para classe desfavorecida dependente dos investimentos sociais, estes ficam defasados tornando-se uma classe ainda mais pauperizada, além dos seus problemas do dia a dia de um espaço urbano desigual, sendo privilegiado nesse contexto as classes abastadas. Se os grandes industriais levam vantagens, outro agente como os proprietários fundiários também têm suas marcas de poder, adquirem algumas facilidades em determinados espaços, o que acaba ajudando em seus projetos e assim conseguindo captar a renda através da terra. Uma das ações desses agentes é transformar o espaço de uso agrícola para o de uso urbano, usando mecanismos de valorização do solo, como as amenidades ecológicas, investimentos do Estado na implantação infraestrutura, créditos bancários, campanha publicitária e consequentemente incentivo de fluxos de migração para essas áreas, isto contribui com a especulação que gera lucros, além do aceleramento da urbanização. Portando, segundo Corrêa (1989) essas áreas valorizadas podem ser encontradas também nas periferias urbanas, os proprietários fundiários valorizam esse espaço com investimentos, seja acoplado a amenidades ecológicas ou as construções de casas de luxo, contribuindo para o engendramento de um bairro de status, onde na verdade o sentido de “periferia” não estaria fadado apenas às classes pobres. Os terrenos que não apresentam amenidades e infraestrutura urbana acabam sendo direcionados para as classes pobres, é nesse quesito que os proprietários de terras só se importarão em extrair realmente a renda da terra e não dos imóveis valorizados (como ocorre nos espaços destinados a classe abastada). Os principais compradores dos terrenos loteados nos espaços periféricos são as populações de baixa renda, habitando os loteamentos populares em condições precárias, onde muitos destes terrenos possuem enchentes, mosquitos,esgoto a céu aberto, crimes, ineficiência de transporte coletivo e são na maioria dos casos loteamentos irregulares. (CORRÊA 1989, p. 18). Deste modo, esses agentes vão modelando o espaço de acordo com seus interesses, mas o que vale salientar são os espaços menos valorizados, seus preços são os mais baixos em um espaço urbano, porém são mais acessíveis à classe pobre. Portanto, para um trabalhador assalariado comprar um imóvel em uma área valorizada precisaria acumular bastante capital por um longo período, pois o valor de uma casa equivale a anos de trabalho. Assim, os espaços dominados pelos proprietários fundiários 30 e imobiliários, encarecem as moradias ficando quase que impossível por parte da classe trabalhadora fazer uma compra de um imóvel. Então a busca pelo espaço periférico4 seria uma válvula de escape, uma sobrevivência e resistência em um espaço urbano desigual, ao contrário dos detentores de capital que conseguem o direito de adquirir uma moradia digna com os recursos urbanísticos necessários. Novas alternativas são procuradas pela classe proletariada para superar o déficit habitacional, a procura por locais onde os terrenos sejam muito baratos muitas vezes correspondem a locais inóspitos para a moradia, temos o exemplo de locais como; morros íngremes, moradias embaixo de redes elétricas, nas margens dos rios, ocupação de prédios abandonados entre outras opções de sobrevivência e resistências, estes são meios de se obter um teto. Essa desigualdade e dificuldade das classes desfavorecidas em possuir uma residência, estão ligadas ao fato dos agentes dos meios de produção, dos agentes fundiários e dos agentes imobiliários modelarem o espaço urbano de acordo com seus interesses valorizando em altos preços o solo. A valorização dos espaços na cidade com a contribuição do Estado proporciona investimentos em áreas de importância para os agentes imobiliários e fundiários que consequentemente causam a especulação e a valorização do espaço urbano. (SANTOS 1993, p.106) Todavia, discutiremos agora os promotores imobiliários estes realizam operações que contribuem para a formação de uma cidade desigual. O autor CORRÊA (1989) aponta alguns promotores imobiliários que modelam o espaço de acordo com seus anseios e irá identificar estes agentes. A primeira identificação seria o proprietário construtor, aquele que usa o terreno para adquirir lucro através da construção de um imóvel. O segundo seria o agente clássico este produz pouco e pequenos imóveis, certamente diferencia-se do primeiro por ter uma acumulação de capital muito maior. O terceiro seria o agente identificado como firma exclusivamente incorporadora, onde vamos discorrer sobre ela de forma mais detalhada. A atenção dada ao terceiro agente é de suma importância para analisar que são essas grandes firmas que modelam o espaço de forma mais intensa, devido principalmente ao seu maior poder político e econômico de incorporação, envolvendo muitas etapas da construção de um imóvel. Poderíamos mesmo dividir essa grande firma em duas lógicas de organização. A primeira seria a sua especialização, desde a 4 Temos o tipo de espaço periférico voltada para as classes abastadas e as que são voltadas para as classes pobres. 31 compra do terreno5 à venda do imóvel, assim concentrando todas as etapas das operações em suas mãos. A segunda seria a divisão das etapas para a construção de um imóvel, onde cada passo dessa produção seria dividido por empresas responsáveis por cada setor que envolve uma construção e a sua venda. Conseguinte, podemos dar o exemplo de uma empresa que fabrica cimentos, esta está encaixada em um dos processos da construção servindo o material ou outra empresa que é responsável pela contratação de trabalhadores, juntas esse passo a passo dará uma mercadoria no final, ou seja, não concentra todas as etapas da produção dependendo de várias empresas. Temos aí um campo propício à formação de um espaço servido para as classes mais abastadas, onde é de interesses dos promotores imobiliários obterem lucros com a classe solvável, e quando as pressões dos não solváveis aumentam, buscam junto ao Estado investimentos para a criação de residências voltadas para a classe trabalhadora, nessa ocasião são construídos conjuntos habitacionais com materiais de construção de baixa qualidade (CORRÊA 1989, p. 22). Mas de certa forma essa pressão na obtenção de moradias na maioria dos casos não é correspondida, restando à classe pobre buscar novas alternativas para superar o déficit habitacional. A autoconstrução será uma forma de suplantar a deficiência da residência, onde segundo SIMÕES (2007 p.137) “... a opção pela autoconstrução é causada pela insuficiência da renda do trabalhador de arcar com os custos da compra de uma habitação no mercado formal.” Entretanto, muitas são as formas que acabam dificultando a aquisição de uma moradia, pois os interesses dos promotores imobiliários e a negligência do Estado com as habitações, provocam a formação de áreas segregadas e visivelmente casas de autoconstrução como nas favelas ou nos espaços periféricos. Deste modo, a aquisição de um imóvel fica encarecido e os transmites formais não correspondem aos salários baixos da população, fato ao qual grande parte desses trabalhadores estão trabalhando na informalidade e não conseguem comprovar a sua renda, dificultando ainda mais a obtenção da moradia. Para dificultar ainda mais há o empecilho da compra de uma casa situada em um espaço valorizado, pois a localização e os serviços coletivos oferecidos são os que encarecem a habitação. Áreas que recebem investimentos do Estado como a abertura de uma estrada, por exemplo, especulam esse espaço tornando desigual o seu preço. Portanto, são esses investimentos causadores de 5 Antes da compra do terreno há um levantamento de localização, o tamanho da construção, a qualidade do prédio, tudo definido pelo incorporador. (CORRÊA 1989, p. 20) 32 muitas brigas no setor público principalmente para a canalização das verbas as áreas de interesses dos grandes agentes imobiliários, pois muitos estão inseridos na máquina pública. No entanto, os promotores imobiliários apenas querem adquirir a sua margem de lucro restando à classe de “excluídos” 6, a busca pelas melhores condições. A palavra “excluído” tornou-se um foco de debate anteriormente no trabalho, portanto, usaremos a palavra “desfavorecidos”. Contudo, estes grupos desfavorecidos não conseguem pagar um aluguel ou adquirir um imóvel. Assim, considerado como um agente modelador do espaço, os grupos sociais desfavorecidos buscam através das carências habitacionais, a sobrevivência no espaço urbano procurando novas alternativas de resistência contra o sistema que os oprime e os pauperizam. Não obstante, ainda que sofra com as ações contrárias, esse grupo modela o espaço na procura de moradias, resistindo e sobrevivendo assim assinala Corrêa: É na produção da favela, em terrenos públicos ou privado invadido, que os grupos sociais excluídos tornam-se, efetivamente agentes modeladores, produzindo seu próprio espaço, na maioria dos casos independentemente e a despeito dos outros agentes. A produção deste espaço é, antes de mais nada, uma forma de resistência e, ao mesmo tempo uma estratégia de sobrevivência. Resistência e sobrevivência as adversidades impostas aos grupos sociais recém-expulso do campo ou provenientes de áreas urbanas submetidas às operações de renovação, que lutam pelo direito à cidade. (CORRÊA 1989 p. 30) Portanto, são esses espaços não aproveitados pelos outros agentes que será uma alternativa para a população não-solvável adquirir uma moradia, porém com o processo de renovação urbana acabam sendo expulsos para outras áreas menos valorizadas resistindoe sobrevivendo, onde as moradias têm os preços baixos. De acordo com Maricato (1997 p.46) “a casa não é uma ilha na cidade. Ela é a parte do espaço urbano, o qual tem qualidades que variam de acordo com a sua localização.” Isto mostra o quão de uma resistência, em um espaço urbano desigual de um solo caro, forçando a população pobre a buscar as áreas mais inóspitas onde os valores são baixos, no caso da cidade do Rio de Janeiro houve grande busca pelos morros formando as favelas. Muitas favelas surgem a partir dessa ação onde na maioria dos casos a aproximação com o seu 6 E aí teríamos a mesma discussão da palavra, mas vimos anteriormente o cuidado que devemos ter quanto ao seu uso. Souza (2003 p.69) discute em seu trabalho a palavra “exclusão” retratando a polêmica da palavra, principalmente quando do seu uso no espaço urbano. 33 local de trabalho pesam na hora de decidir onde e como morar, gerando menos gastos principalmente com o seu descolamento pendular que poupará bastante tempo. Destarte, vimos como o espaço urbano foi se formando principalmente a partir da criação da propriedade privada e o modo de organização europeu capitalista. No entanto, a grande marca seria os agentes de produção, se dividindo com anseios divergentes, mas ao mesmo tempo com os ideais da manutenção do sistema capitalista. Portanto, os que mais sofrem são as classes desfavorecidas buscando de todas as formas resistirem e sobreviverem a tantas adversidades principalmente a econômica. O espaço urbano tem isso de peculiar é produzido por vários agentes, mas com predomínio da força política e econômica em prol do (s), proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais, proprietários fundiários, promotores imobiliários e o Estado, este, no entanto vimos que a sua intermediação entre as classes não passa de uma ilusão onde a assistência aos pobres é efêmera pendendo para o lado das classes hegemônicas. A luta da classe desfavorecida torna-se permanente, vivendo em um espaço mercadoria onde os valores batem altos patamares tornando-se inviável a sua aquisição, faz dos morros, margens de rios, palafitas, favelas, entre outros o meio de resistir e sobreviver o que na maioria das vezes é enfrentando pela falta de saneamento básico, violência, falta de saúde, de lazer e a própria habitação precária. 1.3 A expansão urbana a partir da des – centralização. Primeiramente antes de falarmos de expansão urbana, temos que tratar de início, onde está o ponto focal da urbanização e o que tem levado a descentralização. Assim, partiremos do processo de centralização dos espaços urbanos, tendo como exemplo a Área Central esta; caracterizada por concentrar serviços, estrutura urbana e principais sedes de grandes empresas. Mas por que pensar a expansão urbana a partir da centralização? Devido às convergências das atividades em um determinado espaço, haverá um congestionamento na Área Central, isto induzirá várias empresas e indústrias a se deslocarem para novos espaços, consequentemente a população abastada moradora da 34 Área Central também sairá do centro buscando outros locais que não seja mais o centro, surgirão a partir daí novos bairros e consequentemente a expansão urbana. Mas para compreender tal processo primeiro vamos entender a Área Central e depois os motivos que levaram a descentralização. A Área Central surge a partir da primeira revolução industrial, os países com suas indústrias necessitavam ligar-se com outros países para ampliar os seus mercados. No entanto, essa centralização principalmente industrial, foi devido à rigidez espacial que existia, sobretudo marcada pelo uso intensivo do solo e pelo fato relevante dos transportes sobre trilhos também cooperarem com o seu ponto final no espaço central. No período da primeira revolução industrial o transporte foi de suma importância para escoar a produção e na obtenção de matéria-prima, deste modo, a Área Central passa a possuir o encontro dos meios de transportes, fazendo desse espaço o seu ponto terminal. Em algumas áreas centrais a presença de portos se encontrando com as linhas ferroviárias acabou fazendo o entroncado beneficiando a diminuição dos custos de transbordo, e assim contribuindo para um espaço concentrador de atividades e na valorização do solo. A Área Central passa a ser procurada pelas empresas e indústrias, devido ao oferecimento de infra-estrutura, sendo assim, um lugar de grande concentração empresarial que acaba ganhando a sigla de CBD (Central Business District). Segundo Corrêa (1989) a área se torna central especialmente por ser o encontro das linhas férreas, aonde irão se concentrar muitas atividades comerciais gerando a partir daí, muitas ofertas de trabalho atraindo grandes quantidades de mão-de-obra. Se as direções tomadas são voltadas para o centro, isto contribui para um uso intensivo do solo com as atividades econômicas (o que colabora no aumento do preço da terra). As modificações no espaço central são marcadas pelas verticalizações sitiando aí grandes edifícios, muitos deles, aliás, são de principais instituições públicas ou privadas. Outra característica do espaço central é a sua baixa densidade horizontal, isto se deve muito ao encarecimento do solo, pois uma grande extensão não é condizente com um espaço tão valorizado, o valor do solo da Área Central torna-se assim um dos mais caros (CORRÊA id, p. 44). Contudo, com um solo encarecido este passa a ser um solo diferenciado, pois o foco das atividades na Área Central fará do CBD o ponto nó de captação de pessoas, recursos, capitais e atividades valorizando então esse espaço. Mas, como o capital precisa se expandir e encontrar novos mercados, alguns empecilhos são encontrados pelas empresas principalmente na obtenção de grandes 35 lucros, pois o centro já presenciara um espaço congestionado e muito valorizado, assim a sua expansão por mais espaços na Área Central torna-se inviável devido aos altos custos. Assim, o congestionamento, a falta de espaço para expansão, limitação nas ações e ausência de amenidades, acabou afetando os índices de lucros fazendo surgir novas alternativas na busca de menos custos e maiores ganhos. Essa procura por espaços fora da Área Central ocasionou a chamada descentralização, ou seja, a saída de algumas empresas da Área Central. Esta ação passou a ser uma nova oportunidade de não arcar com grandes prejuízos e na procura de captação de mais capitais, diante de tal fato, ocorre assim à descentralização podendo ser entendida também como expansão urbana. Portanto, é com a descentralização das empresas e também moradores da área central que os processos do avanço urbano se intensificaram, Corrêa nos esclarece a partir de quando surge tal procedimento no espaço urbano; A Área Central tem sofrido o efeito, desde a década de 1920, e, sobretudo após a segunda Guerra Mundial, de um crescimento espacialmente descentralizado. De fato, atividades que até então estavam centralmente localizadas, são transferidas ou criadas fora da Área Central. (CORRÊA id, ibid) Contudo, iniciam-se nesse momento os fatores do aumento da expansão urbana. Portanto, não é mais um atrativo para algumas empresas localizar-se na Área Central, pois os altos custos e à problemática que o centro oferece, fizeram a Área Central não ser tão atraente assim, seja para as empresas ou para os habitantes. E qual seria o motivo dessa repulsão no espaço central? Segundo CORRÊA (1989, p.46) existem 5 pontos a serem observados; a) Aumento constante do preço da terra, impostos e aluguéis, afetando certas atividades que perdem a capacidade de se manterem localizadas na Área Central; b) Congestionamento e alto custo do sistema de transporte e comunicações, que dificulta e onera as interações entre firmas; c) Dificuldades de obtençãode espaço para a expansão, que afeta particularmente as indústrias em crescimento; d) Restrições legais implicando a ausência de controle do espaço, limitando, portanto, a ação das firmas. e) Ausência ou perda de amenidades. 36 As dificuldades encontradas fazem desse espaço congestionado não mais lucrativo para algumas empresas, que vêem o ônus na sua margem de lucro, causando a busca por novos espaços. Portanto, se a Área Central não é tão atrativa assim, recente espaços urbanos irão oferecer suportes para receber essas indústrias e novos habitantes, principalmente a classe mais abastada. Destarte, alguns pontos serão atrativos na perspectiva da lucratividade para algumas empresas com a sua saída da Área Central. Conseguinte, para a população moradora dos espaços centrais a amenidade e a segurança serão fatores cruciais também para a sua saída, sobretudo ao oferecimento de maiores recursos de segurança. (sistemas de segurança, guardas, benefícios com rondas policiais mais intensificas). A formação de bairros de classe média e alta virá muito desse processo, como ao mesmo tempo a formação de bairros proletários ou a criação de favelas. Veremos a seguir os pontos atrativos que fazem das indústrias e habitantes do centro saírem da Área Central em busca de novos espaços. Assim (CORRÊA id. p.46) nos apresenta os pontos de atração pelas novas áreas como; a) Terras não ocupadas, a baixo preço e impostos; b) Infra-estrutura implantada; c) Facilidades de transportes; d) Qualidade de atrativos como topografia e drenagem; e) Amenidades. Apesar dessa descentralização, temos aí muitas empresas que permanecem nas áreas centrais não sendo interessante a sua saída. Porém, os atrativos influenciam e muito na expansão do espaço urbano, principalmente por demandar em novos espaços menos custosos. Muitas indústrias buscam aumentar a sua margem de lucro, sobretudo se tiver uma oferta de infra-estrutura que é oferecida na maioria das vezes pelos municípios, aliás, esta atitude passa a ser uma ferramenta muito usada pelos prefeitos das cidades que tentam de todas as maneiras atrair essas empresas para sua área administrativa, sendo de seu interesse gerar oferta de trabalho e no recolhimento de impostos. Mas, os grandes industriais na maioria das vezes saem ganhando nesse jogo de atrativos pelos espaços menos valorizados, os benefícios adquiridos estão na diminuição dos seus custos aumentando a partir daí a sua margem de lucro. Contudo, não é apenas 37 nas ofertas oferecidas pelas novas áreas que o lucro será obtido, pois quando as empresas saem da Área Central acabam vendendo seus terrenos antigos a preços elevados, mormente pela valorização do solo na Área Central, desta maneira mantendo o seu lucro em altos patamares captando capitais de duas maneiras. Na maioria das vezes esses terrenos vendidos na Área Central pelos industriais são servidos para a construção de edifícios comerciais ou residenciais (CORRÊA 1989, p.48). Logo, essa margem de manobra só contribui para que as indústrias se desloquem para outros espaços fora da Área Central causando a descentralização, assim fica evidente o aumento da expansão urbana. Soma-se a descentralização industrial e consequentemente o crescimento do espaço urbano o aumento populacional, um ponto importante para entender principalmente o aumento demográfico das cidades, onde as taxas de urbanização crescem assustadoramente. Deste modo, entender o avanço da urbanização a partir do crescimento demográfico e do avanço do espaço urbano sobre o rural será de suma importância para compreender a expansão urbana. 1.4 A urbanização avançando sobre o campo na lógica do capital. O avanço do espaço urbano será nossa próxima temática sendo enfático o contexto brasileiro, é necessário se ter uma totalidade do espaço para entender a expansão urbana, seja a partir do aumento demográfico ou do avanço urbano sobre o campo. Iremos buscar alguns contextos que sejam palpáveis para nosso entendimento, como o aumento da expansão urbana na conjuntura brasileira. Segundo Santos (1993) entre 1940 e 1980 há uma inversão na localização de moradias da população brasileira, com uma taxa de urbanização de 26,35% em 1940 batendo em 1980 uma marca de 68, 86%. Assim, o campo estaria diminuindo a quantidade da sua população enquanto o espaço urbano estaria aumentando. Temos aí uma nova realidade urbana, onde às cidades com 20 mil habitantes era considerada até então média na década de 1940/1950, haverá uma mudança quanto às designações, pois em 1960/1970 para ser considerada uma cidade média ela precisaria comportar 100 mil habitantes (SANTOS 1993 p. 79). 38 Isso mostra o quanto tem aumentado às cidades, e uma das questões para entender o surgimento das regiões metropolitanas, deste modo a dispersão industrial teve também a sua cota de participação na formação dessas regiões. Mas, o que entenderíamos como região metropolitana? A sua definição pode ser esclarecida em alguns aspectos que classificam de maneira resumida uma metrópole quando “[...] a metrópole constitui um tipo especial de cidade, que se distingue das menores não apenas por sua dimensão, mas por uma série de fatos, quer de natureza quantitativa, quer de natureza qualitativa.” (SANTOS et al, apud LANGENBUCH et al, 1971, p.1). No entanto, as questões qualitativas e quantitativas diferentes de uma pequena cidade denotam uma região metropolitana. Todavia, algumas exterioridades seriam comuns a uma região metropolitana. Podemos classificá-las de acordo com Santos (1993, p. 84) onde as regiões metropolitanas: a) são formadas por mais de um município, com o município núcleo – que lhes dá o nome – representando uma área bem maior que as demais; b) são objeto de programas especiais, levados adiante por organismos regionais especialmente criados, com a utilização de normas e de recursos em boa parte federais. Não obstante, essas características podem classificar uma região metropolitana, porém outros aspectos também podem ser considerados como; a grande concentração populacional, de serviços, infraestrutura e concentração geográfica de interesses coletivos e etc. Um dos dados referentes à Região Metropolitana são as populações estimadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que através de dados anteriores ao censo de 2000 criou estimativas para o crescimento populacional dos municípios participantes da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. Deste modo, com o aumento das regiões metropolitanas no Brasil, sobretudo no Rio de Janeiro a densidade demográfica muito se acentuou nesses espaços, sobretudo os periféricos onde verificaremos na tabela as estimativas e os aumentos. 39 Tabela – 1: Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro densidade demográfica. Municípios e Regiões População estimada 2009 (% ERJ) Crescimento demográfico 2000/2009 (%) Estado do Rio de Janeiro 100,0% 11,3 Região Metropolitana 73,3% 8,8 Guapimirim 0,3% 31,1 Itaguaí 0,7% 28,8 Itaboraí 1,4% 22,1 Japeri 0,6% 22,1 Seropédica 0,5% 20,8 Magé 1,5% 18,7 Tanguá 0,2% 17,2 Belford Roxo 3,1% 15,4 Nova
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