Buscar

O IMAGINÁRIO DA VIOLÊNCIA URBANA EM SÃO GONÇALO LESTE METROPOLITANO DO RIO DE JANEIRO: ESTUDO DE CASO SOBRE A FAVELA DA CHUMBADA (2000 A 2010)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 121 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 121 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 121 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO 
 FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 
 DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
O IMAGINÁRIO DA VIOLÊNCIA URBANA EM SÃO GONÇALO – LESTE 
METROPOLITANO DO RIO DE JANEIRO: 
ESTUDO DE CASO SOBRE A FAVELA DA CHUMBADA (2000 A 2010) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Renato Soares Paiva 
 
Prof. Dr. Andrelino Campos (Orientador) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Outubro de 2013 
2 
Renato Soares Paiva 
 
 
 
 
 
O IMAGINÁRIO DA VIOLÊNCIA URBANA EM SÃO GONÇALO – LESTE 
METROPOLITANO DO RIO DE JANEIRO: 
ESTUDO DE CASO SOBRE A FAVELA DA CHUMBADA (2000 A 2010) 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia submetida ao corpo 
docente da Faculdade de Formação 
de Professores – FFP, da 
Universidade do Estado do Rio de 
Janeiro – UERJ, como requisito 
parcial para obtenção do Grau de 
Licenciado em Geografia. 
 
 
Banca Examinadora: 
 
 
__________________________________ 
Prof. Dr. Andrelino Campos 
 
__________________________________ 
Professor Nilo Dr. Sérgio d’Ávila Modesto 
 
__________________________________ 
Prof. Dr. Denilson Araujo de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
São Gonçalo, outubro de 2013. 
3 
O IMAGINÁRIO DA VIOLÊNCIA URBANA EM SÃO GONÇALO – LESTE 
METROPOLITANO DO RIO DE JANEIRO: 
ESTUDO DE CASO SOBRE A FAVELA DA CHUMBADA (2000 A 2010) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ficha Catalográfica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
PEDIR A BIBLIOTECA 
4 
Oferecimento 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais que me deram o que há 
demais precioso no universo: a vida. É 
para eles que dedico este meu primeiro 
trabalho acadêmico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 AGRADECIMENTOS 
Agradeço em primeiro lugar a Deus por estar sempre ao meu lado me ajudando 
nas horas mais tortuosas, me dando forças para continuar na perseverança de terminar 
esse trabalho. Gostaria muito de agradecer aos meus pais, principalmente o meu pai 
Antônio Luiz Paiva por ter enfrentado a vida mesmo com todas as dificuldades impostas 
me dando o suporte para estudar, esse trabalho é fruto do seu suor, pois sem a sua ajuda 
jamais teria realizado esta monografia. Agradeço também a minha mãe mesmo estando 
longe em grande parte da minha vida, sempre foi importante seja com seus carinhos 
afetivos ou com palavras de incentivo. A minha avó Luiza que hoje não está entre nós, 
mas teve uma participação importante em um curto período da minha infância sendo 
fundamental. Aos meus irmãos Marcos e Bruno por estarem sempre dividindo minhas 
angústias e alegrias. As minhas irmãs Nathalie e Patrícia mesmo longe amo essas 
mulheres. Gostaria de agradecer muito a minha tia Tereza que sempre me deu forças e 
com seu jeito carinhoso passando aquele afeto de mãe onde pude caminhar contra as 
dificuldades da vida. Não poderia deixar de citar a minha ex-companheira Larissa Klein 
mesmo não estando juntos ela foi fundamental na realização desse trabalho dividindo 
comigo os momentos de dificuldades, de leituras, de reclamações, de planos, de perdas, 
muito lhe devo por isso o meu reconhecimento. 
Como não posso esquecer do meu passado, gostaria de agradecer aos meus 
primeiros professores, sem eles jamais estaria aqui escrevendo tais palavras, ao qual me 
recordo carinhosamente da professora Cátia, Maria Antônia e Nádia Regiane e aos meus 
professores do ensino fundamental e médio. 
Agradeço aos meus amigos estes foram de suma importância na construção de 
pensamentos mesmo que fossem no bar, na sala de aula, no pátio da faculdade ou em 
outros lugares oportunos, seja discutindo idéias de, autores, política, economia, entre 
outras mais. Assim agradeço a Nãnaira, o Luís Júnior, o Rodrigo Corrêa (Russo), a 
Maria de Fátima, o Eduardo Tavares, o Diego Borges, o Luiz Fernando (Luizão), a 
Natália Fraga, o Paulo (Monitor), o Ornelas, o Rodrigo Marçal, o Giovani Acetti, o 
Sandro, o Hebert, o Júlio Dellosantos e a todos aqueles que contribuíram de alguma 
forma. 
6 
Gostaria de agradecer aquelas pessoas mesmo que minimamente tiveram 
relevância na construção do trabalho como a Viviane Souza, onde pode me emprestar 
alguns livros que fizeram parte desse trabalho. Agradecer a Julyanne Luz mesmo de 
longe sempre esteve escutando as minhas ânsias e alegrias. 
Agradeço especialmente ao meu professor orientador Andrelino Campos por 
ter tido muita paciência, ter me orientado e ajudado na finalização deste trabalho e por 
ser um professor ao qual tenho muito carinho e admiração. Agradeço a todos os 
professores do Departamento de Geografia da FFP em especial aos professores 
Denílson, Leandro Dias, Mateus Servilha, Marcos César, Eduardo Karol e Marcos 
Couto. A instituição UERJ por ter me concedido à oportuna de estudar a Geografia. 
De antemão agradecer aos que colaboraram com a pesquisa do trabalho, como 
os moradores da favela da Chumbada, estes me atenderam com atenção me informando 
os detalhes do processo histórico da Chumbada. Agradecer ao Jornal O São Gonçalo 
por ter me atendido quando precisei fazer alguns levantamentos. 
Finalizando agradeço a todos de alguma forma que contribuíram na construção 
deste trabalho, onde a arte de ler e escrever me tornou uma pessoa melhor. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
SUMÁRIO 
 
 
Cap. Título Pág. 
 Lista de Tabelas 8 
 Lista de Figuras 8 
 Resumo 9 
 Abstract 10 
 Introdução 11 
1 Algumas considerações sobre a produção do espaço 
urbano. 
17 
1.1 Algumas considerações teóricas a partir do processo da 
formação urbana. 
18 
1.2 Os agentes produtores do espaço urbano. Algumas 
considerações. 
25 
1.3 A expansão urbana a partir da des – centralização. 
 
32 
1.4 A urbanização avançando sobre o campo na lógica do 
capital. 
36 
2 A produção do espaço urbano em São Gonçalo e a sua 
expansão desordenada no ponto de vista do capitalismo. 
45 
2.1 A história de formação político – espacial em São 
Gonçalo. 
46 
2.2 A produção do espaço urbano em São Gonçalo na 
perspectiva industrial. 
49 
2.3 A expansão urbana no município de São Gonçalo. 
 
56 
3 Produção da segregação no espaço urbano e a 
estigmatização dos espaços favelados. 
69 
3.1 Dos espaços segregados a questão da organização 
espacial. 
70 
3.2 A constituição do imaginário/estigma sobre favelados no 
contexto da violência urbana. 
80 
4 Produção da segregação e o contexto favela da 
Chumbada. 
88 
4.1 O nome Chumbada é relacionado ao “chumbo” das 
armas de fogo? A história da favela da Chumbada. 
89 
4.2 O avanço urbano gonçalense na construção da 
segregação socioespacial na favela da Chumbada. 
93 
4.3 O tráfico de drogas na favela da Chumbada e a 
construção dos estigmas. 
110 
 Considerações Finais 115 
 Referências Bibliográficas 117 
 Anexos 120 
 
 
 
8 
Lista de Tabelas 
 
Tabela Tema Pág. 
1 Região Metropolitana do Rio de Janeiro Densidade 
Demográfica. 
38 
2 História político-administrativa de São Gonçalo. 47 
3 Número de estabelecimentos industriais entre São Gonçalo 
e Niterói. 
50 
4 Tabela dos impostos no Município de São Gonçalo. 60 
 
 
 
Lista de Mapas 
 
 
Mapas Tema Pág. 
1 Expansão da Mancha Urbana – São Gonçalo – Século XX 
(1970-2010) 
96 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
Lista de Figuras 
 
 
N° de 
Figuras 
Figuras Pág. 
1 Distritos de São Gonçalo. 48 
2 Duas ferrovias de São Gonçalo no ano de 1940 a E. F. 
Leopoldina e a E.F Maricá. 
52 
3 Fachada da Usina Hime, década de 1920. 55 
4 Instalações e porto da Usina Hime, década de 1930. 56 
5 Bonde no Centro de São Gonçalo. 64 
6 Modelo de Kohl. 75 
7 Modelo de Burguess. 76 
8 Modelo de Hoyt. 78 
9 Bairros do Município de São Gonçalo e a 
identificação da Favela da Chumbada. 
90 
10 Delimitação da Chumbada segundoas suas vertentes 
e os bairros adjacentes. 
97 
11 Favela da Chumbada foto I (vertente A). 98 
12 Favela da Chumbada foto II (vertente A). 
 
99 
13 Favela da Chumbada foto III (vertente A). 99 
14 Favela da Chumbada foto IV (vertente B). 100 
15 Favela da Chumbada foto V (vertente B). 101 
16 Favela da Chumbada foto VI (vertente B). 102 
17 Rua: Francisco Ribeiro na favela da Chumbada. 104 
18 Rua Francisco Ribeiro favela da Chumbada o esgoto 
a céu aberto. 
105 
19 As tubulações de esgoto estão voltadas para a rua na 
favela da Chumbada. 
106 
20 As tubulações de esgoto estão voltadas para a rua na 
favela da Chumbada. 
106 
21 Apartamentos de dois andares foram vendidos em um 
curto período de tempo. 
108 
22 Prédio em processo de finalização de obras para 
especulação imobiliária. 
 
108 
23 Com a demarcação dos futuros empreendimentos 
imobiliários e a favela da Chumbada com as suas 
vertentes. 
109 
 
10 
RESUMO: 
O desenvolvimento deste trabalho vem com o intuito de mostrar as disparidades 
e preconceitos apresentados atualmente no espaço urbano, sendo considerado a parte 
Leste da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Apresentando assim, as mais 
discutíveis questões sobre o espaço urbano e o seu processo de expansão, para 
compreender a realidade atual da favela da Chumbada. A história do município de São 
Gonçalo não passa despercebida, sendo abordada a sua influência no processo de 
construção da favela, a urbanização desigual será um artifício marcante na sua 
localização atual. 
A segregação será um tema discutido para poder entender a formação 
socioespacial da favela da Chumbada, onde buscaremos a todo tempo mostrar as formas 
clássicas de segregação para compreender a sua formação no contexto atual da favela. 
Portanto, é a partir da segregação socioespacial que entraremos na concepção da criação 
dos estigmas sobre os espaços favelados, pois com a estratificação social os 
pensamentos acabam sendo construídos intensificando ainda mais a segregação. Assim, 
a favela da Chumbada é apresentada e compreendida no cabal dos contextos discutidos 
anteriormente, onde é apresentado os problemas concernentes a favela. 
 
 
 
Palavras chaves: Produção do espaço, segregação socioespacial, São Gonçalo, estigma, 
violência urbana. 
 
 
 
11 
ABSTRACT: 
The development of this work is in order to show the differences and prejudices 
that are currently in the urban space, considered the eastern part of the Metropolitan 
Region of Rio de Janeiro. Thus presenting the most controversial issues on the urban 
space and its expansion process, to understand the current reality of the slum of 
Chumbada. The history of the municipality of São Gonçalo do not go unnoticed, 
addressed and its influence in the construction of the slum, uneven urbanization will be 
a artifice striking in its current location. 
Segregation is a topic discussed in order to understand the formation of slum of 
Chumbada where will seek at all times to show the classic forms of segregation to know 
their formation in the current context of the slum. Therefore, it is from the spatial 
segregation that we will create the design of the stigmata on the slum areas, as with the 
social stratification thoughts end up being built further intensifying segregation. Thus, 
the slum of Chumbada is presented and understood in the full context discussed above, 
where it is available problems concerning slum. 
 
 
Keywords: Production of space, spatial segregation, stigma, urban violence.
12 
Introdução 
O espaço urbano ganha ênfase no trabalho, onde entenderemos como se deram 
os processos e quais implicações trouxerem na organização espacial. Visto um mundo 
organizado em prol do capital e pautado na (da) propriedade privada, vamos 
compreender o contexto que se encaixa a questão urbana. 
A discussão para tentar entender o espaço urbano nos remeterá a destrinchar as 
classificações dadas pelos países, denominando o que é urbano e o que não é, onde 
debateremos tais designações. Assim, a partir de tais informações podemos obter uma 
maior dimensão da concepção urbanização. 
A expansão urbana será o carro chefe na compreensão do espaço urbano, sendo 
enfático a valorização da Área central, este um local de habitações das classes 
abastadas, porém mais tardiamente haverá uma recusa por esse espaço devido aos seus 
problemas peculiares, havendo assim uma procura por outros locais de moradias 
afastados da Área Central, deste modo à área abandonada torna-se um local propício 
para as moradias da classe pobre surgindo a partir daí a segregação socioespacial. A 
centralização urbana terá um papel crucial para a descentralização industrial, este, 
todavia é um dos grandes fatores para a expansão urbana, pois é a partir da centralização 
que a descentralização ocorrerá, e isto intensificará o avanço urbano sobre o campo. A 
metrópole será o grande exemplo da força urbana crescendo em relação ao campo, onde 
a marca do seu avanço é identificada como franjas urbanas. 
Depois na segunda parte iremos discutir sobre o município de São Gonçalo e a 
sua formação urbana só assim teremos uma dimensão mais abrangente da gênese 
socioespacial do nosso objeto de pesquisa. No entanto, com o advento do processo de 
urbanização no Brasil, sobretudo na metade do século XX São Gonçalo também estará 
inserido nesse contexto graças ao desenvolvimento industrial no seu município. Sua 
ampliação urbana se deu de forma desigual e desordenada dentro da lógica do capital, 
assim havendo muitas ausências de investimentos nas áreas mais afastadas em relação 
ao 4° distrito de Neves (a área mais industrializada e urbanizada da época) cabendo aos 
outros distritos a luta por melhorias. 
13 
O aumento populacional atrelado à febre de loteamentos contribuiu e muito para 
a expansão urbana no município, muitos bairros foram fundados a partir dos 
loteamentos de muitas fazendas. O meio de transporte veio cooperar para o 
espargimento da urbanização, apesar de ainda os serviços básicos urbanos não terem 
chegado a alguns lugares em São Gonçalo. Podemos mesmo citar a favela da Chumbada 
esta adequada a tal realidade de investimentos públicos desiguais. 
Os modelos de segregação serão vistos no trabalho, ganham importância por ser 
tratar de moldes concebíveis na hora de discutir a segregação socioespacial. Portanto, 
temos autores como Kohl, Burguess e Hoyt onde nos apresentam à sociedade 
organizada de acordo com seus protótipos de cada época. Aproveitando a leva, Souza e 
Corrêa colocarão a sua visão em relação à segregação debatendo o seu significado. 
Como o espaço é segregado na concepção dos autores, passou então a ser um problema 
enfrentado no espaço urbano, pois a segregação tornou-se um meio de manutenção dos 
privilégios da classe dominante em relação à classe trabalhadora. Porém, tais questões 
não se resumem as divisões sócioespaciais apenas, já que a classe pobre além de 
segregada ainda sofre com o processo de estigmatização. 
No início do século XX, a estigmatização tinha características marcantes por ser 
predominante o grupo de ex-escravos nos centros urbanos, locais habitados pelas 
classes abastadas, no entanto, foi a partir da década de 80 do século XX até os dias 
atuais que os estigmas ganharam novas dimensões, dessa vez não só os descendentes de 
escravos vão ser estigmatizados, mas os brancos “paraíbas”, baianos, desempregados, 
entre outras classificações que reafirmam os moradores dos espaços favelados como 
“perigosos” 1 
Refletir como o espaço gonçalense formou-se será enfático na hora de pensar o 
objeto da pesquisa, já que o município se encontra em uma conjuntura do sistema 
capitalista desde seu surgimento até a sua fase atual estando inserida aí a favela da 
Chumbada. Mas como se desenvolveu a favela da Chumbada? Alguns preceitos podem 
ser abordados de início como o nome derivado do chumbo, por exemplo.Podemos 
pensar em muitas coisas quando citado o nome da favela, poderíamos relacionar com o 
chumbo das munições, as fábricas de chumbo ou até mesmo a chumbada de pescadores 
tudo depende da imaginação de cada um. Portanto, ao longo do trabalho iremos buscar 
 
1 Ver Campos (1998 p.83). 
14 
informações que sejam eficientes para o leitor obter os aportes, e assim esclarecer a 
gênese da favela e o seu contexto atual. 
Desta forma, o nosso objeto de pesquisa será: a favela da Chumbada tendo como 
ponto de destaque o imaginário sobre a violência urbana. Esta favela está localizada 
no município de São Gonçalo (RJ), A favela está na divisa dos bairros Nova Cidade, 
Estrela do norte, Mutondo e Galo Branco, São Miguel, Antonina no 1º Distrito – 
Centro. 
Neste contexto do nosso objeto de pesquisa, destacamos como objetivo geral, 
analisar o espaço urbano de São Gonçalo, tendo como ponto focal os espaços 
segregados, destacado pela favela da Chumbada, levando em consideração, sobretudo 
à violência urbana como questão dos lugares ocupados pelos mais pobres. 
Como existe impossibilidade de tratar o objetivo geral a um só tempo, 
precisamos desdobrá-lo em objetivos específicos, distribuídos na seguinte ordem: 
 
a) Analisar a formação do espaço urbano e seus agentes em geral, entendendo o 
processo de expansão urbana; 
 b) Recorrer aos processos de urbanização em São Gonçalo e a sua expansão a 
partir da industrialização e dos loteamentos; 
(c) Discutir os espaços segregados, a questão da organização espacial e a 
constituição de estigmas sobre os espaços favelados e; 
(d) Compreender a produção da segregação na favela da Chumbada levando em 
consideração os estigmas e o contexto atual da Chumbada. 
 
No entanto, nossos procedimentos metodológicos foram baseados em entrevistas 
com os moradores, sobretudo os mais antigos, que pudessem contribuir na construção 
histórica da favela, isto de fato ajudou na análise histórico-espacial de formação do 
espaço favelado da Chumbada essa estratégia é umas das alternativas para superar à 
quase inexistência bibliográfica sobre a favela. Porém, o autor Fernandes realizou o seu 
trabalho final de graduação (monografia) sobre este recorte espacial, desse modo, 
contribuiu na construção histórica e espacial no estudo da favela. 
Conseguinte, outros recursos foram abordados para a nossa metodologia como 
tabelas, mapas e imagens. Diante disso autores vierem contribuir com os seus 
pensamentos onde foram de cabal importância para o desenvolvimento desta 
monografia. Todavia, vale discorrer sobre alguns autores que foram o aporte na 
produção de um pensamento sobre o tema exposto: O Imaginário da Violência Urbana 
15 
em São Gonçalo – Leste Metropolitano do Rio de Janeiro: Estudo de Caso Sobre a 
Favela da Chumbada (2000 a 2010). 
Destarte, autores como Maricato (1997) e Corrêa (1989) nos auxiliarão em uma 
perspectiva mais abrangente sobre o espaço urbano, a primeira autora na concepção de 
uma formação socioespacial urbana no Brasil, entendendo a estrutura da propriedade 
privada como fator preponderante para compreensão da segregação, assim sendo, traz a 
gênese da formação de um espaço segregado onde este é estruturado nos moldes 
capitalistas. Já Corrêa discorre sobre os produtores do espaço urbano, estes estariam 
também contribuindo para a formação de um espaço segregado. Os agentes produtores 
no espaço foram identificados por Corrêa como os proprietários dos meios de produção, 
sobretudo os grandes industriais, os proprietários fundiários, os promotores 
imobiliários, o Estado e os grupos sociais “excluídos” (desfavorecidos). 
O autor CORRÊA (1989) complementará a visão sobre o espaço urbano 
complementado primeiro a centralização da urbanização para assim compreender a 
expansão urbana, ao ater-se a isso, a descentralização será uma consequência do 
processo contribuindo com o avanço do espaço urbano. Os problemas encontrados nas 
áreas centrais e os atrativos por novos espaços serão fatores contribuintes para a 
expansão urbana. Assim, o autor pode nos auxiliar na concepção sobre descentralização 
industrial tema relevante para fazermos uma analogia com o aumento da urbanização no 
espaço. No entanto, SOUZA (2003) complementa o raciocínio sobre expansão urbana 
quando retrata o processo de metropolização e as linhas limítrofes da região 
metropolitana, assim destrincha os aspectos da expansão urbana finalizando o 
entendimento sobre a sua organização, sobretudo a partir dos altos investimentos em 
rodovias característica urbana muito presente no Brasil. 
Quando tratado o município de São Gonçalo MODESTO (2008) inicia a sua 
análise dando a devida atenção à instabilidade política e a formação urbana no distrito 
de Neves, local que acontece o processo de industrialização em São Gonçalo, porém já 
GEIGER (1956) contribuirá com a sua análise sobre a industrialização gonçalense no 
período em que ficou conhecida como “Manchester Fluminense” ao qual São Gonçalo 
ganha destaque no cenário nacional. No setor de transportes no município o autor 
MACHADO (2007) dará ênfase quando tratado o assunto que remete a uma melhor 
compreensão da organização espacial gonçalense. Concluindo então a questão política 
do município será enfatizada por FREIRE que destacará o jogo de interesses entre os 
grupos políticos e os proprietários fundiários. 
16 
Quando discorrido sobre a segregação dois autores terão suma importância na 
visualização do tema, SOUZA (2003) e CORRÊA (1989) terão complementos 
analisados no trabalho de forma distinta, onde Corrêa analisa a gênese da segregação a 
partir do século XVIII dando a devida atenção à cidade no sudoeste da Ásia Todavia já 
Souza identifica a segregação a partir da 1ª revolução industrial. Mas esses autores serão 
os pilares para entender a segregação no espaço urbano, Corrêa identifica os sujeitos 
produtores da segregação e Souza classifica os tipos de segregação abordando algumas 
soluções para superar o espaço estratificado. 
Quando abordamos os estigmas dos espaços favelados podemos mesmo citar o 
autores como SILVA (2008) e CAMPOS (1998), porém este último trabalha com os 
espaços favelados, onde suas idéias contribuíram para refletir sobre os discursos 
discriminatórios construídos ao longo do tempo. A rejeição dos negros e pobres 
favelados por parte da sociedade acarretaram em discursos pejorativos onde tornaram 
pertinente a classificação dos negros e pobres das favelas como classe “perigosa”. 
Entendendo algumas mudanças nos discursos ao longo do tempo principalmente depois 
da década de 70 do século XX, SILVA (2008) abordará temas relevantes sobre os 
estigmas, relatando as designações pejorativas sobre os espaços favelados, estes terão 
novas classificações sendo agora retratado como o local do crime, sendo reforçado pela 
mídia a atenção dada a violência nos espaços favelados. Desta forma, citará o tema 
identificando os discursos discriminatórios sendo complementado com as idéias de 
CAMPOS (1998) que também trabalha a questão, assim Silva buscará a partir do ponto 
de vista dos favelados uma compreensão real da sua situação. 
O trabalho está dividido em quatro capítulos, 1.1 retrata o espaço urbano em 
uma análise mais abrangente, sendo a primeira parte sobre o processo de formação 
segregacional no espaço brasileiro, dando à devida atenção a estrutura de organização 
da sociedade ao longo dos tempos, tentando assim esclarecer quais são os tipos de 
classificação o que seria urbano no Brasil e no mundo. Em 1.2 temos os produtores do 
espaço urbano, estes vão modelando o espaço de acordo com seus ensejos, hora 
entrando em conflitos e em alguns momentos convergindo interesses, não obstante a 
classe desfavorecida acaba sofrendo com os processos da lucratividade dos outros 
agentes tentando resistir e sobreviver em meio a tais conflitos e escopos. Em1.3 
podemos mesmo destacar como o espaço urbano se desenvolveu, entendendo o seu 
momento de expansão e quais espaços são mais suscetíveis ao aumento urbano, tendo 
na sua lógica o desenvolvimento do capitalismo de mercado sendo englobadas as áreas 
17 
rurais pelo espaço urbano. O 2° capítulo é sobre São Gonçalo e sua história política, a 
produção do espaço urbano, a gênese da urbanização no município e a expansão dessa 
urbanização. Em 2.1 veremos a história de formação política de São Gonçalo, onde 
mais a frente em 2.2 aborda um desenvolvimento urbano com maior intensidade nos 
distritos de Neves e Sete Pontes. Por final em 2.3 teremos o momento de expansão 
urbana em São Gonçalo, o município passará por vários processos de urbanização sendo 
enfático a industrialização, os loteamentos e os meios de transportes. 
O 3° capítulo trata da segregação no espaço urbano, a 3.1 retratando os modelos 
clássicos que classificam os tipos de segregação em cada época, destacando alguns 
autores como Burguess, Kohl e Hoyt. Algumas soluções serão colocadas para tentar 
solucionar alguns problemas referentes à segregação. Ao final do 3° capítulo em 3.2 
falaremos sobre os estigmas criados sobre os espaços favelados onde os imaginários são 
produzidos, pegando aí desde o período passado até os dias atuais, analisando tais 
pensamentos sobre os espaços favelados, relevando assim a constituição do imaginário 
como pensamento discriminatório com os pobres favelados. No 4° capítulo veremos o 
nosso objeto final que é a Favela da Chumbada relatando inicialmente no 4.1 a sua 
história de formação baseando-se nos relatos dos moradores. No 4.2 observaremos a 
questão da segregação socioespacial e a dinâmica urbana gonçalense, são ações que 
terão influências na formação do espaço favelado da Chumbada onde os investimentos 
foram alocados de forma desigual tendo como principais produtores do espaço os 
agentes desfavorecidos, os agentes imobiliários e o agente Estado. No 4.3 fechamos 
com a presença do narcotráfico na favela e a criação dos estigmas sobre os favelados da 
Chumbada considerando a mídia como grande precursora do sensacionalismo dos casos 
de violência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 
Capítulo – 1 
Algumas Considerações Sobre a Produção do Espaço Urbano. 
 Discussões sobre o espaço urbano nos remeterão a algumas reflexões, tal como 
relacionando o tipo de organização espacial entre o Brasil e o mundo (lembrando do 
período antes da chegada dos portugueses) isto nos auxiliará na compreensão de; como 
se deu a formação da estrutura da terra no Brasil. Assim, depois do debate da 
organização européia no território brasileiro entraremos no assunto; o que seria 
considerado como espaço urbano? Discutindo alguns pensamentos sobre o tema, 
identificaremos os agentes transformadores, estes darão feições no espaço construído, as 
suas ações serão discutidas para entender como o espaço é produzido. No entanto, é a 
partir daí que verificamos o movimento da transformação no espaço, quando, sobretudo 
ocorre o momento da des-centralização, ou seja, no inicio da urbanização há uma 
centralização do espaço onde mais tarde ocorrerá o inverso o processo de 
descentralização este se torna um marco importante para a expansão urbano. É com o 
processo de descentralização que podemos explicitar o momento do avanço urbano 
sobre o espaço rural. O espaço urbano acaba ganhando força diante do espaço rural, 
porém este não deixará de existir no seio do espaço urbano. 
 
 
 
 
19 
1.1 Algumas considerações teóricas a partir do processo da formação 
urbana. 
As mudanças no espaço são aparentes desde a existência do homem no globo 
terrestre e isto se intensifica com a transformação do mesmo com a natureza. O que 
devemos salientar é; Como o espaço se formou principalmente no Brasil e quais 
conseqüências foram acarretadas devido a essas mudanças? A compreensão do espaço 
urbano a partir da organização espacial baseada na propriedade privada terá ênfase para 
entender como o espaço urbano se construiu sendo valorizado lugares específicos. 
 Daremos atenção a uma passagem de construção espacial baseada no processo 
histórico brasileiro para entender o momento atual do espaço urbano contemporâneo. 
No Brasil antes de 1500 os índios eram os habitantes que predominavam no país, com a 
chegada dos portugueses várias tribos indígenas foram dizimadas e com ela o seu modo 
de vida e cultura (quase chegando à extinção), principalmente por não ser uma cultura 
praticante da escrita1. Os europeus iniciaram seus anseios com suas imposições culturais 
de dominação, causando grandes conflitos e mortes, mormente pela resistência que 
encontraram para dominar os índios, estes lutaram até a morte. Mas o que queremos 
saber é, como isto afetou o modo de organização sócio-espacial? 
Pois bem, os portugueses impuseram a sua cultura e o seu modo de vida através 
do uso da força, um dos meios coercitivos para isto foram as armas de fogo, matando 
milhões de índios em combates, somando-se a destruição das casas indígenas que eram 
as ocas e as aldeias, um tipo de moradia em organização coletiva considerada 
pecaminosa pelos portugueses na época. Os europeus logo que chegaram trataram de 
estabelecer sua organização social, seja com igrejas, casas separadas, edifícios, 
cemitérios e etc. Este tal tipo de vida implantada, tinha em sua essência um estilo de 
vida individualista, como a acumulação de capitais e de terras, tais ações faziam parte 
do processo de conquista e de sua cultura. De forma antagônica os índios viviam 
coletivamente todos usufruíam da colheita e repartiam seus alimentos, essa maneira de 
vivência foi sendo aniquilada vagarosamente e os europeus iam colocando seus planos 
em prática durante o processo. Uma nova estrutura de organização social ditada pelos 
portugueses, não só trouxe a parte física (as construções), mas também os novos 
 
1 Até hoje desconhecesse algumas culturas indígenas devido as grandes batalhas e a dizimação de várias 
tribos indígenas. 
20 
pensamentos, escopos, culturas e costumes que foram totalmente diferenciados das dos 
índios 2, pois os índios viam passando por um processo de catequização o que foi 
massacrando as suas culturas também (MARICATO 1997, p.11). 
Mas tal tipo de organização sócio-espacial não foi inserido com grandes 
facilidades, pois houve muitas obstinações por parte dos índios, o resultado de tanta 
negação acarretou nos discursos discriminatórios pelos portugueses classificando-os 
como “preguiçosos”, porém não devemos esquecer que alguns índios ainda continuaram 
sendo escravos e os africanos viriam a ser escravizados mais tarde, sendo um meio 
lucrativo para os grandes fazendeiros. Apesar de toda resistência dos índios, o modo de 
vida europeu foi imposto misturando-se assim com outras culturas diferentes, 
prevalecendo o seu modo de organização espacial baseado, especialmente na 
propriedade privada. 
 O destaque acima da mudança de organização social vem de encontro do que 
veremos adiante sobre o processo de segregação sócio-espacial, isto nos fará sempre 
relembrar tal processo. O importante é refletir sobre a organização espacial que passa 
por um período de transformação, baseada no modelo de acumulação do capital. 
O que toca no cerne da questão na organização espacial é a propriedade da terra, 
tendo em vista sua origem na revolução francesa em 1789, os franceses dividiram as 
terras para que cada um tomasse conta da sua, individualizando os domínios territoriais 
da propriedade. Por assim dizer, de maneira semelhante aos ideais franceses, os 
americanos criaram à constituição de 1776 a primeira do continente americano, 
considerando a propriedade privada como sendo “essencial e inalienável” mostrando 
como esse aspecto teve grandes impactos nos países capitalistas e principalmente no 
Brasil. (MARICATO, ibid.,p. 21). 
Absorvendo algumas idéias da constituição americana como o uso, fruto e 
produção, esta lei foi praticada no Brasil colônia por meio da concessão de terras feita 
pela coroa portuguesa, pois só era concedido à sesmaria quem produzisse e ocupasse a 
propriedade. Isto acarretou na criação de várias oligarquias locais considerada 
hierarquicamente inferior à cúpula da metrópole, mas com um poder que os tornavam as 
elites da época. Com o decorrer do tempo essas doações de terras passam a ser 
distribuídas pela câmara municipal, agora possuindo certa autonomia de outorgar 
propriedades, mas a aquisição só era cedida com a condição de ocupação, produção e 
 
2 A contra-reforma foi praticada no ano de 1534 à 1590 onde os jesuítas praticavam a disseminação da 
cultura católica, sobretudo no Brasil com o objetivo de combater a expansão do protestantismo 
21 
pagamento de dízimos. Assim, o sistema de sesmaria fica até a data de 1822 quando o 
país se torna “independente” de Portugal e muda a sua forma de relação com a terra. 
Mas, o que cristalizou realmente a questão da propriedade privada, foi à criação 
da lei de terras, para entrar em cena demorou alguns anos devido à prioridade dada à 
fonte de renda da época que eram os escravos, mormente por representar a parte mais 
lucrativa no mercado marcando aí o período colonial. Os grandes investimentos eram 
baseados na obtenção de escravos, ou seja, na compra e venda, porém a terra ainda não 
era tão importante do ponto de vista da lucratividade, a riqueza era medida a quem 
detivesse maior quantidade de escravos, todavia não podemos esquecer que a 
propriedade tinha um papel fundamental. A terra passa a ter grande importância quando 
é proibido o tráfico de negros em 1831 pela Inglaterra, (vale lembrar que no Brasil ainda 
não tinha sido abolido o tráfico de escravos), no entanto, a propriedade começa a ganhar 
força motivada pelo processo da abolição, porém a comercialização ilegal de escravos 
ainda era uma prática lucrativa para os donos das grandes fazendas. (MARICATO ibid., 
p. 18). 
Em 1850 a lei de terras é colocada na forma de lei sendo uma das estratégias 
para impedir a aquisição dos terrenos e uma maneira de manter o status quo da elite 
oligárquica. Podemos dizer que, com as divisões de posse e a obtenção de terras através 
da compra, começa a surgir a partir daí uma estrutura segregadora mais explícita. 
Conseguinte, os que podiam adquirir a terra eram os que detinham de capital, 
dificilmente teriam os escravos tais condições. Fica manifesto o objetivo de manter essa 
relação econômica com a terra, essa ação cooperou e muito para que as elites 
garantissem a sua hegemonia. Mas, outra colocação é feita quando a exclusão dos 
homens negros ao acesso a terra seria importante para garantir mão-de-obra nessas 
propriedades colaborando com trabalhos intensivos na produção (CAMPOS 2007, 
p.42). Diante da economia baseada na escravidão mesmo com a proibição do tráfico de 
escravos em 13 de maio de 1888 ainda era predominante o uso do sujeito a um senhor 
como mercadoria. A partir desse ponto fica evidente que as formas distintas de classe 
dão sinais claros, os grandes proprietários de terras terão grande influência econômica e 
política mantendo privilégios diante dos que não puderam adquirir um pedaço de terra 
principalmente com a consolidação da lei. 
O terreno se torna uma mercadoria intensificando a partir daí uma forte 
tendência a sua concentração, modelada no sistema capitalista de acumulação de 
capitais. Com esse processo marcado, sobretudo no espaço rural, tal ação de 
22 
organização espacial será transmudada para o espaço urbano herdando a estrutura da 
propriedade privada. Todavia, de forma diferente dos aspectos da paisagem e modo de 
organização do meio rural, podemos dizer que no espaço urbano a área passa a ser mais 
valorizada de acordo com a infraestrutura oferecida e o seu tamanho, o que aumenta 
cada vez mais a dificuldade de compra pela população de baixo poder aquisitivo. 
O espaço urbano é uma construção histórica e atualmente assistimos em vários 
lugares pessoas comentando sobre o mundo urbano, ou seja, nos noticiários, debates 
políticos ou em academias. Afinal como definiríamos um espaço urbano? Não podemos 
ficar presos apenas a sua aparência como construções, estradas, concentração de pessoas 
entre outras características físicas, mas nas relações humanas que se dão no espaço. Há 
autores que nos mostram como devemos olhar e tentar definir o que seria um espaço 
urbano. Há várias discussões sobre o que seria considerado urbano como assinala 
SOUZA (2003) onde nos apresenta que atualmente cerca da metade da população 
mundial vivem em espaços urbanos. Mas não existia a urbanização antes de 1850 e que 
só em 1900 a Grã-bretanha o era. 
 Alguns países têm as suas definições do que seria urbano e mais a frente 
comentaremos sobre a tal definição, mas antes vamos delinear alguns caminhos para 
tentar entender as classificações. Países como a Grécia ou Noruega definem seu espaço 
como urbano a partir da quantidade de sua população. Em relação a isso temos um 
exemplo claro da Escócia, onde ela define o espaço urbano a partir de um limite 
estabelecido de 500 habitantes, já na Grécia seria de 10.000 e no Japão 50.000 são 
vários países que vão especificando as suas classificações. Outros tipos ainda existem 
como os da densidade demográfica ou pela definição das atividades econômicas. 
(ENDLICH, 2006 pp. 13-15.). 
 Já no Brasil as definições são diferentes das citadas acima, pois suas 
classificações são de acordo com as delimitações territoriais, ou seja, que contenha uma 
sede municipal onde delimita sua área fronteiriça de domínio. Todas essas definições 
são problemáticas, porém uma delas é deliberar o espaço como urbano a partir da 
quantidade de pessoas que habitam uma área demarcada (densidade demográfica) ou ao 
qual faz o Brasil, classificando como urbano o espaço que contenha sedes municipais. 
Veremos a frente o quanto isto contribui para as falhas na sua definição, seja por 
quantidade ou mesmo por obter uma câmara municipal, o que já mostra nessas 
classificações inexatas definições causando contrastes e erros afetando de maneira geral 
os dados levantados. Para indagar a colocação anterior da densidade demográfica 
23 
podemos pegar como exemplo dos locais com grandes populações, mas que os serviços 
e a assistências com mecanismos urbanos como acesso a água, rede de esgoto, 
transporte, saúde, ruas asfaltadas, iluminação entre outros são ausentes fazendo-nos 
refletir sobre o caso. 
Já no Brasil podemos observar que sua definição é mais complicada devido às 
próprias características em que o define como urbano. Temos uma questão contraditória 
quando nos deparamos com espaços considerados urbanos, mas que na verdade são 
baseados no modo de vida rural, contudo, por conter uma sede municipal acaba sendo 
classificada como urbano, temos aí um contra-senso ao uso dessas aplicações. 
Mas de que maneira consideraríamos um espaço urbano afinal? Analisando as 
idéias de Souza (2003) as dificuldades encontradas estão na ordem qualitativa e não 
quantitativa, pois a solução seria fixar um limite em matéria de números de habitantes 
como forma de estabelecer o que é cidade e o que não é. A grande dificuldade segundo 
o autor estaria na ordem qualitativa, pois definir um número de habitantes sem 
qualificar as condições sócio-espaciais seria uma grande falha, é preciso mais 
mecanismos que façam um maior esforço para qualificar o que seria um espaço urbano. 
Assim o autor assinala meios mais práticos de definir o que seria urbano e o rural, 
dentro da realidade de cada país, portanto segundo o autor classificar o espaço urbano 
 
 ...é o jeito mais cômodo de se enfrentar a tarefa prática de distinguir 
entre núcleos urbanos e rurais, e pode não dar resultadosruins, desde 
que se proceda a isso tomando por fundamento um conhecimento 
sólido da realidade sócio-espacial do país em questão. (SOUZA 2003, 
p.29) 
 
O espaço tem assim suas singularidades partindo da idéia da questão qualitativa 
facilitando as classificações do que seria urbano. Primeiramente temos que compreender 
o que é urbano, para depois começar a distinguir suas especificidades, organização 
espacial, seus conflitos e produção. Um exemplo que Souza (2003) nos apresenta é 
quando as atividades econômicas são diferentes das encontradas em um mero povoado 
rural, onde suas atividades são concentradas na agropecuária, no comércio, serviços e 
são simples, voltadas para o auto-abastecimento local, diferentemente da área urbana 
onde as atividades são diversificadas (SOUZA, ibid, p.30.). Portanto, podemos perceber 
que a questão quantitativa ainda torna-se falha, podendo uma área rural comportar mais 
24 
pessoas do que uma área urbana, sendo deste modo suas atividades econômicas 
baseadas na agropecuária. 
A partir desse momento tivemos as discussões da classificação do que seria 
considerado como urbano e tentamos agora perceber como esse espaço está na visão de 
Corrêa, onde nos fornece algumas idéias sobre o que seria um espaço urbano. 
Para Corrêa (1989) o espaço urbano seria este simultaneamente articulado e 
fragmentado. As articulações podem se dá de várias maneiras, porém uma delas é 
menos visível, às quais as ações humanas como as suas relações, ganham destaque 
nesse quesito. Os exemplos são múltiplos investimentos de capital, transações 
financeiras, mais-valia, juros e etc. O espaço articulado contém um núcleo de 
articulação integrando várias partes de uma cidade onde estas estão ligadas, porém não 
necessariamente estão próximas uma das outras, mas fazem parte de um conjunto de 
ações. Conseguinte, fragmentada a partir do momento que mantém, por exemplo, as 
áreas residenciais segregadas seja ela uma favela ou um condomínio de luxo. Essas 
relações têm um pouco das expressões do passado onde deixa as marcas no espaço 
resultando em uma ligação intrínseca entre o passado e o presente se fazendo valer no 
momento atual 
Mas o espaço urbano é um reflexo tanto das ações que se realizam no 
presente como também daquelas que se realizaram no passado e que 
deixaram suas marcas impressas nas formas espaciais do presente. 
(CORRÊA id. Ibid., p. 8.) 
 
Identificamos que o espaço tem suas marcas nas formas espaciais tanto no 
passado como no presente, suas articulações e fragmentações são apenas produtos que 
foram construídos ao longo do tempo e continuam se reproduzindo no espaço, em um 
emaranhado de relações onde a segregação acaba fazendo parte desse processo. O autor 
Santos (1982) sinaliza para que não possamos apenas enxergar esses espaços como 
objetos materiais que formam a paisagem, onde trouxesse neles mesmo sua própria 
explicação, mas os processos teriam consigo uma grande significância nas formas 
espaciais. Destarte, refletir sobre o espaço urbano em uma construção espacial ao longo 
dos processos é tentar entender como se dá a sua relação atual com o passado assim diz 
Santos: 
O passado passou e só o presente é real, mas a atualidade do espaço 
tem isto de singular: ela é formada de momentos que foram estando 
agora cristalizados como objetos geográficos atuais; essas formas-
25 
objetos tempo passado são igualmente tempo presente enquanto 
formas que abrigam uma essência, dada pelo fracionamento da 
sociedade total. Por isso o momento passado está morto como tempo, 
não, porém como espaço; (...). (SANTOS 2007, p.14) 
Diante de tais afirmações a palavra essência traz uma linha de raciocínio, onde 
se considera não apenas os objetos geográficos, mas o que envolve tais objetos. As 
idéias, discussões, debates políticos, planejamentos todos os meios abstratos que foram 
colocados em prática e atualmente estão em construção no presente, vem do passado, do 
que foi construído enquanto idéia, exemplificando assim, o tempo pode até está morto, 
mas o espaço continua se reproduzindo dentro de uma lógica (idéias) construída através 
dos tempos. O importante é se ater ao olhar crítico sobre o espaço edificado, não 
ignorando os processos que se deram, mas levar em conta o que ele nos deixou como 
legado, por isso o espaço é hoje o grande palco das ações dos sujeitos. 
Diante dos fatos mencionados, o espaço urbano tem sua construção através do 
passado e continua se transformando no presente, mas para se tornar real foi construído 
enquanto passado, assim disse Santos (id, ibid.) “[...] pode está morto como tempo não, 
porém como espaço”. 
Se o espaço modifica-se e está em movimento, diga-se de passagem, muitos 
desses espaços também estariam segregados, separados na cidade, onde a sua 
identificação como uma área exclusa pode ser percebida em uma grande cidade. Porém, 
são nesses espaços que muitas favelas são existentes, assim com o avanço da 
urbanização, muitos locais acabaram não sendo atendidos com a devida infraestrutura 
ficando a espera de investimentos, sendo denominados como espaços “excluídos”. 
Primeiramente enfatizaremos a palavra “excluído”, devemos ter muita atenção quando 
utilizar tal vocábulo, pois uma expressão genérica pode causar grandes contrastes 
quando se trata de um espaço segregado. Os exemplos são variados, mas podemos citar 
um. Quando uma pessoa moradora da favela e não do “asfalto” é excluída de 
determinados ambientes da classe abastada, pode ser considerada uma idéia de 
exclusão. Portanto, se pensarmos de um modo geral contrário ao pensamento de 
exclusão veremos que o pobre está inserido junto às elites, seja trabalhando em suas 
casas, em eventos realizados como festas, jantares, estabelecimentos entre outros, 
pronto teríamos ai momentos de uma integração e não de “exclusão” com o trabalhador 
fazendo parte da vida de outro status social. Souza reforça a passagem quando diz sobre 
a palavra exclusão 
26 
É preciso, ao usá-lo, no mínimo qualificar muito bem em relação a que ou de 
que os pobres urbanos estão excluídos. No sentido preciso de excluído das 
benesses do sistema, ou de certos ambiente, OK; o que não é correto é 
expressar-se genericamente, pois corre o risco de esquecer que a maioria dos 
pobres urbanos está integrada, sim, econômica e mesmo política e 
culturalmente. (SOUZA 2003, p. 69). 
A palavra exclusão pode gerar um sentido de não pertencimento; aí, temos que 
ter o cuidado de não generalizar, pois, caso isso aconteça, podemos cometer muitos 
equívocos na hora de pensar o espaço urbano. Este mesmo espaço que abrange as 
diferentes classes sociais, não deixa de fazer parte da miscelânea cultural, política e 
econômica. Na parte cultural podemos mesmo citar a música, na política os mais 
variados personagens de classes diferentes e os econômicos vimos à questão do 
trabalhador inserido, por exemplo, nas casas da classe abastada trabalhando, de onde 
adquirem a sua renda e mantêm algumas relações. Portanto, os cuidados deverão ser 
tomados, assim podemos obter uma melhor visão do espaço, onde as relações são 
intensas e não deixam de estar interligadas. 
Entender o espaço urbano é buscar a sua formação e como se distingue do 
campo, sendo levado em consideração às relações que são dadas mesmo que seja de 
forma desigual. Entretanto, alguns agentes farão do espaço urbano o seu palco, o jogo 
de interesses dos mais diversos, onde o poder econômico fala mais alto na maioria dos 
casos, restando às classes subalternas lutar contra um movimento que os fazem ser 
oprimidos e explorados. 
1.2 Os agentes produtores do espaço urbano: Algumas considerações. 
O espaço urbano é a marca do processo de produção de alguns agentes, aonde 
estes vão modelando o espaço de acordo com seus interesses. Portanto, alguns agentes 
serão apresentados, realizando no espaço urbano o seu ponto de sustentação e 
sobrepondo os seus anseios,mesmo que outros agentes possam ser menos favorecidos. 
No entanto, quais seriam esses agentes? Corrêa (1989) trará cinco agentes 
produtores do espaço, mostrando cada sujeito modelador do mundo urbano: 
 
 
27 
1) Os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais, 
2) Os proprietários fundiários 
3) Os promotores imobiliários 
4) O Estado 
5) Os grupos sociais “excluídos” (desfavorecidos) 
 
 Segundo Corrêa (1989) antes de analisarmos os agentes do espaço urbano, temos 
de obter uma análise do espaço com a consciência de sua formação diante de um marco 
jurídico, que regula as atuações desses atores. Portanto, alguns destes agentes acabam 
levando vantagens em suas negociações, como afirma o autor quando fala em 
“transgressões”, ou seja, há uma força política e econômica que acaba influenciando a 
favor dos interesses dos agentes dominantes. Contudo, a ação desses agentes 
hegemônicos é manter a reprodução da relação de produção, implicando na 
continuidade da sociedade capitalista, restando ao Estado ser o “intermediário” 
minimizando os conflitos de classe, sobretudo com a classe trabalhadora a realizadora 
das reivindicações. Apesar de ser a que mais sofre com a exploração da mais-valia, essa 
classe é o pilar que sustenta o sistema do capital. É o trabalhador que mantém o sistema 
capitalista vivo, o espaço se modela se transforma de forma mais intensa de acordo com 
os interesses daqueles que detém o poder, mormente as elites. Vale ressaltar que a classe 
proletária além de passar por grandes dificuldades principalmente econômicas ainda 
padece com as questões políticas e sociais que são bastante deficitárias o que não exclui 
deles também produzirem o seu espaço. Conseguinte, este fator soma-se ao fato dos 
labutadores suportarem as opressões e explorações vivendo subalternamente, enquanto a 
outra classe elitizada aproveita-se do seu poder econômico. Entretanto, apesar dos 
avanços nas lutas dos trabalhadores, a maioria continua alienada cooperando na 
manutenção do sistema. 
 A despeito de toda dificuldade encontrada pelos trabalhadores, a classe 
dominante também enfrentará empecilhos, principalmente os grandes industriais nas 
divergências de anseios, entrando em conflitos fundiários3 que refletirão sobre o espaço, 
 
3 Porém vale lembrar mesmo com todos os conflitos entre esses seguimentos da sociedade (industriais e 
proprietários fundiários), alguns contrastes irão surgir, a lógica capitalista necessita alimentar a idéia da 
casa própria e a manutenção da propriedade privada, só assim garantirá os pontos de sustentação do 
sistema. Se por um lado os grandes latifundiários necessitam lucrar com a venda da sua terra cobrando 
altas taxas, os grandes empresários precisam que os trabalhadores consigam a casa própria diminuindo as 
pressões por melhores salários. Ora se a propriedade privada é necessária para a manutenção do sistema e 
ao mesmo tempo os grandes empresários precisam manter os salários baixos, estes acabam entrando em 
contradição havendo um conflito entre eles. Deste modo a obtenção da casa própria acaba se tornando um 
sonho de consumo do trabalhador, pois carece de muito capital para adquirir a sua casa. (CORRÊA 1989, 
p.14) 
28 
sobretudo no preço da terra. Em consequência dos fatos mencionados, a questão 
fundiária incidirá sobre os salários dos trabalhadores que assistem à valorização do solo 
(não é de interesse dos industriais e nem da classe trabalhadora o aumento do preço da 
propriedade), devido a tais acontecimentos as pressões para o aumento da remuneração 
por parte dos trabalhadores acabam prejudicando as margens de lucro dos industriais 
que também enfrentam a valorização do solo. Os conflitos dos industriais com os 
proprietários fundiários acabam sempre na maioria dos casos em vitória para os donos 
dos meios de produção devido à força econômica que estes desfrutam. Os donos das 
empresas industriais pressionam o Estado para realizar obras de infraestrutura e de 
conseguir desapropriações de terras facilitando a sua expansão (CORRÊA 1989, p.14). 
Contudo, os grandes proprietários industriais são os grandes consumidores do 
espaço e precisam sempre de maiores áreas para a instalação de suas empresas, além da 
infraestrutura que é necessária para as indústrias funcionarem. Um ponto crucial é 
quando Santos sinaliza que existe uma urbanização corporativa na cidade baseada nas 
empresas que modelam o espaço. 
 
A urbanização corporativa, isto é, empreendida sob o comando dos 
interesses das grandes firmas, constitui um receptáculo das 
conseqüências de uma expansão capitalista devorante dos recursos 
públicos, uma vez que esses são orientados para os investimentos 
econômicos, em detrimento dos gastos sociais. (SANTOS 1993, p. 
105). 
 
Assim sendo, ressaltamos que o ônus social na maioria das vezes vai em direção 
ao desenvolvimento de muitas empresas, especialmente com investimentos na 
implantação de infraestrutura, desapropriações e empréstimos, onde na maioria dos 
casos quem faz esse papel é o Estado. Tais ações estão muito relacionadas ao jogo de 
interesse que há dentro da própria máquina pública, a busca de privilégios acaba 
cedendo espaços para empresas privadas, estas realizam a polarização dos recursos que 
deveriam de certa forma servir a população. Esses atos são evidentes no pensamento 
capitalista em prol do crescimento econômico no chamado “desenvolvimentismo”, 
pregando idéias de menos gastos sociais e mais aplicações de capitais no setor 
econômico, na incumbência do desenvolvimento. Esse pensamento burguês dentro da 
 
 
29 
máquina estatal acaba influenciando no desvio de recursos para as áreas empresariais, 
mormente deixando de empregar capitais nas áreas sociais, cooperando com grandes 
transtornos para a população pobre. As conseqüências são drásticas, especialmente para 
classe desfavorecida dependente dos investimentos sociais, estes ficam defasados 
tornando-se uma classe ainda mais pauperizada, além dos seus problemas do dia a dia 
de um espaço urbano desigual, sendo privilegiado nesse contexto as classes abastadas. 
Se os grandes industriais levam vantagens, outro agente como os proprietários 
fundiários também têm suas marcas de poder, adquirem algumas facilidades em 
determinados espaços, o que acaba ajudando em seus projetos e assim conseguindo 
captar a renda através da terra. Uma das ações desses agentes é transformar o espaço de 
uso agrícola para o de uso urbano, usando mecanismos de valorização do solo, como as 
amenidades ecológicas, investimentos do Estado na implantação infraestrutura, créditos 
bancários, campanha publicitária e consequentemente incentivo de fluxos de migração 
para essas áreas, isto contribui com a especulação que gera lucros, além do 
aceleramento da urbanização. Portando, segundo Corrêa (1989) essas áreas valorizadas 
podem ser encontradas também nas periferias urbanas, os proprietários fundiários 
valorizam esse espaço com investimentos, seja acoplado a amenidades ecológicas ou as 
construções de casas de luxo, contribuindo para o engendramento de um bairro de 
status, onde na verdade o sentido de “periferia” não estaria fadado apenas às classes 
pobres. 
 Os terrenos que não apresentam amenidades e infraestrutura urbana acabam 
sendo direcionados para as classes pobres, é nesse quesito que os proprietários de terras 
só se importarão em extrair realmente a renda da terra e não dos imóveis valorizados 
(como ocorre nos espaços destinados a classe abastada). Os principais compradores dos 
terrenos loteados nos espaços periféricos são as populações de baixa renda, habitando os 
loteamentos populares em condições precárias, onde muitos destes terrenos possuem 
enchentes, mosquitos,esgoto a céu aberto, crimes, ineficiência de transporte coletivo e 
são na maioria dos casos loteamentos irregulares. (CORRÊA 1989, p. 18). 
Deste modo, esses agentes vão modelando o espaço de acordo com seus 
interesses, mas o que vale salientar são os espaços menos valorizados, seus preços são 
os mais baixos em um espaço urbano, porém são mais acessíveis à classe pobre. 
Portanto, para um trabalhador assalariado comprar um imóvel em uma área valorizada 
precisaria acumular bastante capital por um longo período, pois o valor de uma casa 
equivale a anos de trabalho. Assim, os espaços dominados pelos proprietários fundiários 
30 
e imobiliários, encarecem as moradias ficando quase que impossível por parte da classe 
trabalhadora fazer uma compra de um imóvel. Então a busca pelo espaço periférico4 
seria uma válvula de escape, uma sobrevivência e resistência em um espaço urbano 
desigual, ao contrário dos detentores de capital que conseguem o direito de adquirir uma 
moradia digna com os recursos urbanísticos necessários. 
Novas alternativas são procuradas pela classe proletariada para superar o déficit 
habitacional, a procura por locais onde os terrenos sejam muito baratos muitas vezes 
correspondem a locais inóspitos para a moradia, temos o exemplo de locais como; 
morros íngremes, moradias embaixo de redes elétricas, nas margens dos rios, ocupação 
de prédios abandonados entre outras opções de sobrevivência e resistências, estes são 
meios de se obter um teto. Essa desigualdade e dificuldade das classes desfavorecidas 
em possuir uma residência, estão ligadas ao fato dos agentes dos meios de produção, 
dos agentes fundiários e dos agentes imobiliários modelarem o espaço urbano de acordo 
com seus interesses valorizando em altos preços o solo. A valorização dos espaços na 
cidade com a contribuição do Estado proporciona investimentos em áreas de 
importância para os agentes imobiliários e fundiários que consequentemente causam a 
especulação e a valorização do espaço urbano. (SANTOS 1993, p.106) 
Todavia, discutiremos agora os promotores imobiliários estes realizam 
operações que contribuem para a formação de uma cidade desigual. O autor CORRÊA 
(1989) aponta alguns promotores imobiliários que modelam o espaço de acordo com 
seus anseios e irá identificar estes agentes. A primeira identificação seria o proprietário 
construtor, aquele que usa o terreno para adquirir lucro através da construção de um 
imóvel. O segundo seria o agente clássico este produz pouco e pequenos imóveis, 
certamente diferencia-se do primeiro por ter uma acumulação de capital muito maior. O 
terceiro seria o agente identificado como firma exclusivamente incorporadora, onde 
vamos discorrer sobre ela de forma mais detalhada. 
A atenção dada ao terceiro agente é de suma importância para analisar que são 
essas grandes firmas que modelam o espaço de forma mais intensa, devido 
principalmente ao seu maior poder político e econômico de incorporação, envolvendo 
muitas etapas da construção de um imóvel. Poderíamos mesmo dividir essa grande 
firma em duas lógicas de organização. A primeira seria a sua especialização, desde a 
 
4 Temos o tipo de espaço periférico voltada para as classes abastadas e as que são voltadas para as classes 
pobres. 
31 
compra do terreno5 à venda do imóvel, assim concentrando todas as etapas das 
operações em suas mãos. A segunda seria a divisão das etapas para a construção de um 
imóvel, onde cada passo dessa produção seria dividido por empresas responsáveis por 
cada setor que envolve uma construção e a sua venda. Conseguinte, podemos dar o 
exemplo de uma empresa que fabrica cimentos, esta está encaixada em um dos 
processos da construção servindo o material ou outra empresa que é responsável pela 
contratação de trabalhadores, juntas esse passo a passo dará uma mercadoria no final, ou 
seja, não concentra todas as etapas da produção dependendo de várias empresas. 
Temos aí um campo propício à formação de um espaço servido para as classes 
mais abastadas, onde é de interesses dos promotores imobiliários obterem lucros com a 
classe solvável, e quando as pressões dos não solváveis aumentam, buscam junto ao 
Estado investimentos para a criação de residências voltadas para a classe trabalhadora, 
nessa ocasião são construídos conjuntos habitacionais com materiais de construção de 
baixa qualidade (CORRÊA 1989, p. 22). Mas de certa forma essa pressão na obtenção 
de moradias na maioria dos casos não é correspondida, restando à classe pobre buscar 
novas alternativas para superar o déficit habitacional. 
A autoconstrução será uma forma de suplantar a deficiência da residência, onde 
segundo SIMÕES (2007 p.137) “... a opção pela autoconstrução é causada pela 
insuficiência da renda do trabalhador de arcar com os custos da compra de uma 
habitação no mercado formal.” Entretanto, muitas são as formas que acabam 
dificultando a aquisição de uma moradia, pois os interesses dos promotores imobiliários 
e a negligência do Estado com as habitações, provocam a formação de áreas segregadas 
e visivelmente casas de autoconstrução como nas favelas ou nos espaços periféricos. 
Deste modo, a aquisição de um imóvel fica encarecido e os transmites formais 
não correspondem aos salários baixos da população, fato ao qual grande parte desses 
trabalhadores estão trabalhando na informalidade e não conseguem comprovar a sua 
renda, dificultando ainda mais a obtenção da moradia. Para dificultar ainda mais há o 
empecilho da compra de uma casa situada em um espaço valorizado, pois a localização 
e os serviços coletivos oferecidos são os que encarecem a habitação. Áreas que recebem 
investimentos do Estado como a abertura de uma estrada, por exemplo, especulam esse 
espaço tornando desigual o seu preço. Portanto, são esses investimentos causadores de 
 
5 Antes da compra do terreno há um levantamento de localização, o tamanho da construção, a qualidade 
do prédio, tudo definido pelo incorporador. (CORRÊA 1989, p. 20) 
 
32 
muitas brigas no setor público principalmente para a canalização das verbas as áreas de 
interesses dos grandes agentes imobiliários, pois muitos estão inseridos na máquina 
pública. 
No entanto, os promotores imobiliários apenas querem adquirir a sua margem de 
lucro restando à classe de “excluídos” 6, a busca pelas melhores condições. A palavra 
“excluído” tornou-se um foco de debate anteriormente no trabalho, portanto, usaremos a 
palavra “desfavorecidos”. Contudo, estes grupos desfavorecidos não conseguem pagar 
um aluguel ou adquirir um imóvel. Assim, considerado como um agente modelador do 
espaço, os grupos sociais desfavorecidos buscam através das carências habitacionais, a 
sobrevivência no espaço urbano procurando novas alternativas de resistência contra o 
sistema que os oprime e os pauperizam. 
Não obstante, ainda que sofra com as ações contrárias, esse grupo modela o 
espaço na procura de moradias, resistindo e sobrevivendo assim assinala Corrêa: 
É na produção da favela, em terrenos públicos ou privado invadido, que os 
grupos sociais excluídos tornam-se, efetivamente agentes modeladores, 
produzindo seu próprio espaço, na maioria dos casos independentemente e a 
despeito dos outros agentes. A produção deste espaço é, antes de mais nada, 
uma forma de resistência e, ao mesmo tempo uma estratégia de 
sobrevivência. Resistência e sobrevivência as adversidades impostas aos 
grupos sociais recém-expulso do campo ou provenientes de áreas urbanas 
submetidas às operações de renovação, que lutam pelo direito à cidade. 
(CORRÊA 1989 p. 30) 
Portanto, são esses espaços não aproveitados pelos outros agentes que será uma 
alternativa para a população não-solvável adquirir uma moradia, porém com o processo 
de renovação urbana acabam sendo expulsos para outras áreas menos valorizadas 
resistindoe sobrevivendo, onde as moradias têm os preços baixos. De acordo com 
Maricato (1997 p.46) “a casa não é uma ilha na cidade. Ela é a parte do espaço urbano, 
o qual tem qualidades que variam de acordo com a sua localização.” Isto mostra o quão 
de uma resistência, em um espaço urbano desigual de um solo caro, forçando a 
população pobre a buscar as áreas mais inóspitas onde os valores são baixos, no caso da 
cidade do Rio de Janeiro houve grande busca pelos morros formando as favelas. Muitas 
favelas surgem a partir dessa ação onde na maioria dos casos a aproximação com o seu 
 
6 E aí teríamos a mesma discussão da palavra, mas vimos anteriormente o cuidado que devemos ter 
quanto ao seu uso. Souza (2003 p.69) discute em seu trabalho a palavra “exclusão” retratando a polêmica 
da palavra, principalmente quando do seu uso no espaço urbano. 
 
33 
local de trabalho pesam na hora de decidir onde e como morar, gerando menos gastos 
principalmente com o seu descolamento pendular que poupará bastante tempo. 
Destarte, vimos como o espaço urbano foi se formando principalmente a partir 
da criação da propriedade privada e o modo de organização europeu capitalista. No 
entanto, a grande marca seria os agentes de produção, se dividindo com anseios 
divergentes, mas ao mesmo tempo com os ideais da manutenção do sistema capitalista. 
Portanto, os que mais sofrem são as classes desfavorecidas buscando de todas as formas 
resistirem e sobreviverem a tantas adversidades principalmente a econômica. O espaço 
urbano tem isso de peculiar é produzido por vários agentes, mas com predomínio da 
força política e econômica em prol do (s), proprietários dos meios de produção, 
sobretudo os grandes industriais, proprietários fundiários, promotores imobiliários e o 
Estado, este, no entanto vimos que a sua intermediação entre as classes não passa de 
uma ilusão onde a assistência aos pobres é efêmera pendendo para o lado das classes 
hegemônicas. 
A luta da classe desfavorecida torna-se permanente, vivendo em um espaço 
mercadoria onde os valores batem altos patamares tornando-se inviável a sua aquisição, 
faz dos morros, margens de rios, palafitas, favelas, entre outros o meio de resistir e 
sobreviver o que na maioria das vezes é enfrentando pela falta de saneamento básico, 
violência, falta de saúde, de lazer e a própria habitação precária. 
1.3 A expansão urbana a partir da des – centralização. 
Primeiramente antes de falarmos de expansão urbana, temos que tratar de início, 
onde está o ponto focal da urbanização e o que tem levado a descentralização. Assim, 
partiremos do processo de centralização dos espaços urbanos, tendo como exemplo a 
Área Central esta; caracterizada por concentrar serviços, estrutura urbana e principais 
sedes de grandes empresas. Mas por que pensar a expansão urbana a partir da 
centralização? 
Devido às convergências das atividades em um determinado espaço, haverá um 
congestionamento na Área Central, isto induzirá várias empresas e indústrias a se 
deslocarem para novos espaços, consequentemente a população abastada moradora da 
34 
Área Central também sairá do centro buscando outros locais que não seja mais o centro, 
surgirão a partir daí novos bairros e consequentemente a expansão urbana. Mas para 
compreender tal processo primeiro vamos entender a Área Central e depois os motivos 
que levaram a descentralização. 
A Área Central surge a partir da primeira revolução industrial, os países com 
suas indústrias necessitavam ligar-se com outros países para ampliar os seus mercados. 
No entanto, essa centralização principalmente industrial, foi devido à rigidez espacial 
que existia, sobretudo marcada pelo uso intensivo do solo e pelo fato relevante dos 
transportes sobre trilhos também cooperarem com o seu ponto final no espaço central. 
No período da primeira revolução industrial o transporte foi de suma importância para 
escoar a produção e na obtenção de matéria-prima, deste modo, a Área Central passa a 
possuir o encontro dos meios de transportes, fazendo desse espaço o seu ponto terminal. 
Em algumas áreas centrais a presença de portos se encontrando com as linhas 
ferroviárias acabou fazendo o entroncado beneficiando a diminuição dos custos de 
transbordo, e assim contribuindo para um espaço concentrador de atividades e na 
valorização do solo. 
A Área Central passa a ser procurada pelas empresas e indústrias, devido ao 
oferecimento de infra-estrutura, sendo assim, um lugar de grande concentração 
empresarial que acaba ganhando a sigla de CBD (Central Business District). Segundo 
Corrêa (1989) a área se torna central especialmente por ser o encontro das linhas 
férreas, aonde irão se concentrar muitas atividades comerciais gerando a partir daí, 
muitas ofertas de trabalho atraindo grandes quantidades de mão-de-obra. 
Se as direções tomadas são voltadas para o centro, isto contribui para um uso 
intensivo do solo com as atividades econômicas (o que colabora no aumento do preço 
da terra). As modificações no espaço central são marcadas pelas verticalizações sitiando 
aí grandes edifícios, muitos deles, aliás, são de principais instituições públicas ou 
privadas. Outra característica do espaço central é a sua baixa densidade horizontal, isto 
se deve muito ao encarecimento do solo, pois uma grande extensão não é condizente 
com um espaço tão valorizado, o valor do solo da Área Central torna-se assim um dos 
mais caros (CORRÊA id, p. 44). Contudo, com um solo encarecido este passa a ser um 
solo diferenciado, pois o foco das atividades na Área Central fará do CBD o ponto nó de 
captação de pessoas, recursos, capitais e atividades valorizando então esse espaço. 
Mas, como o capital precisa se expandir e encontrar novos mercados, alguns 
empecilhos são encontrados pelas empresas principalmente na obtenção de grandes 
35 
lucros, pois o centro já presenciara um espaço congestionado e muito valorizado, assim 
a sua expansão por mais espaços na Área Central torna-se inviável devido aos altos 
custos. Assim, o congestionamento, a falta de espaço para expansão, limitação nas ações 
e ausência de amenidades, acabou afetando os índices de lucros fazendo surgir novas 
alternativas na busca de menos custos e maiores ganhos. Essa procura por espaços fora 
da Área Central ocasionou a chamada descentralização, ou seja, a saída de algumas 
empresas da Área Central. Esta ação passou a ser uma nova oportunidade de não arcar 
com grandes prejuízos e na procura de captação de mais capitais, diante de tal fato, 
ocorre assim à descentralização podendo ser entendida também como expansão urbana. 
Portanto, é com a descentralização das empresas e também moradores da área 
central que os processos do avanço urbano se intensificaram, Corrêa nos esclarece a 
partir de quando surge tal procedimento no espaço urbano; 
 
A Área Central tem sofrido o efeito, desde a década de 1920, e, 
sobretudo após a segunda Guerra Mundial, de um crescimento espacialmente 
descentralizado. De fato, atividades que até então estavam centralmente 
localizadas, são transferidas ou criadas fora da Área Central. (CORRÊA id, 
ibid) 
 
Contudo, iniciam-se nesse momento os fatores do aumento da expansão urbana. 
Portanto, não é mais um atrativo para algumas empresas localizar-se na Área Central, 
pois os altos custos e à problemática que o centro oferece, fizeram a Área Central não 
ser tão atraente assim, seja para as empresas ou para os habitantes. E qual seria o motivo 
dessa repulsão no espaço central? Segundo CORRÊA (1989, p.46) existem 5 pontos a 
serem observados; 
a) Aumento constante do preço da terra, impostos e aluguéis, afetando 
certas atividades que perdem a capacidade de se manterem localizadas 
na Área Central; 
b) Congestionamento e alto custo do sistema de transporte e 
comunicações, que dificulta e onera as interações entre firmas; 
c) Dificuldades de obtençãode espaço para a expansão, que afeta 
particularmente as indústrias em crescimento; 
d) Restrições legais implicando a ausência de controle do espaço, 
limitando, portanto, a ação das firmas. 
e) Ausência ou perda de amenidades. 
 
36 
As dificuldades encontradas fazem desse espaço congestionado não mais 
lucrativo para algumas empresas, que vêem o ônus na sua margem de lucro, causando a 
busca por novos espaços. Portanto, se a Área Central não é tão atrativa assim, recente 
espaços urbanos irão oferecer suportes para receber essas indústrias e novos habitantes, 
principalmente a classe mais abastada. 
Destarte, alguns pontos serão atrativos na perspectiva da lucratividade para 
algumas empresas com a sua saída da Área Central. Conseguinte, para a população 
moradora dos espaços centrais a amenidade e a segurança serão fatores cruciais também 
para a sua saída, sobretudo ao oferecimento de maiores recursos de segurança. 
(sistemas de segurança, guardas, benefícios com rondas policiais mais intensificas). A 
formação de bairros de classe média e alta virá muito desse processo, como ao mesmo 
tempo a formação de bairros proletários ou a criação de favelas. Veremos a seguir os 
pontos atrativos que fazem das indústrias e habitantes do centro saírem da Área Central 
em busca de novos espaços. Assim (CORRÊA id. p.46) nos apresenta os pontos de 
atração pelas novas áreas como; 
 
a) Terras não ocupadas, a baixo preço e impostos; 
b) Infra-estrutura implantada; 
c) Facilidades de transportes; 
d) Qualidade de atrativos como topografia e drenagem; 
e) Amenidades. 
 
Apesar dessa descentralização, temos aí muitas empresas que permanecem nas 
áreas centrais não sendo interessante a sua saída. Porém, os atrativos influenciam e 
muito na expansão do espaço urbano, principalmente por demandar em novos espaços 
menos custosos. Muitas indústrias buscam aumentar a sua margem de lucro, sobretudo 
se tiver uma oferta de infra-estrutura que é oferecida na maioria das vezes pelos 
municípios, aliás, esta atitude passa a ser uma ferramenta muito usada pelos prefeitos 
das cidades que tentam de todas as maneiras atrair essas empresas para sua área 
administrativa, sendo de seu interesse gerar oferta de trabalho e no recolhimento de 
impostos. 
Mas, os grandes industriais na maioria das vezes saem ganhando nesse jogo de 
atrativos pelos espaços menos valorizados, os benefícios adquiridos estão na diminuição 
dos seus custos aumentando a partir daí a sua margem de lucro. Contudo, não é apenas 
37 
nas ofertas oferecidas pelas novas áreas que o lucro será obtido, pois quando as 
empresas saem da Área Central acabam vendendo seus terrenos antigos a preços 
elevados, mormente pela valorização do solo na Área Central, desta maneira mantendo 
o seu lucro em altos patamares captando capitais de duas maneiras. Na maioria das 
vezes esses terrenos vendidos na Área Central pelos industriais são servidos para a 
construção de edifícios comerciais ou residenciais (CORRÊA 1989, p.48). 
Logo, essa margem de manobra só contribui para que as indústrias se desloquem 
para outros espaços fora da Área Central causando a descentralização, assim fica 
evidente o aumento da expansão urbana. Soma-se a descentralização industrial e 
consequentemente o crescimento do espaço urbano o aumento populacional, um ponto 
importante para entender principalmente o aumento demográfico das cidades, onde as 
taxas de urbanização crescem assustadoramente. Deste modo, entender o avanço da 
urbanização a partir do crescimento demográfico e do avanço do espaço urbano sobre o 
rural será de suma importância para compreender a expansão urbana. 
1.4 A urbanização avançando sobre o campo na lógica do capital. 
O avanço do espaço urbano será nossa próxima temática sendo enfático o 
contexto brasileiro, é necessário se ter uma totalidade do espaço para entender a 
expansão urbana, seja a partir do aumento demográfico ou do avanço urbano sobre o 
campo. Iremos buscar alguns contextos que sejam palpáveis para nosso entendimento, 
como o aumento da expansão urbana na conjuntura brasileira. 
Segundo Santos (1993) entre 1940 e 1980 há uma inversão na localização de 
moradias da população brasileira, com uma taxa de urbanização de 26,35% em 1940 
batendo em 1980 uma marca de 68, 86%. Assim, o campo estaria diminuindo a 
quantidade da sua população enquanto o espaço urbano estaria aumentando. Temos aí 
uma nova realidade urbana, onde às cidades com 20 mil habitantes era considerada até 
então média na década de 1940/1950, haverá uma mudança quanto às designações, pois 
em 1960/1970 para ser considerada uma cidade média ela precisaria comportar 100 mil 
habitantes (SANTOS 1993 p. 79). 
38 
Isso mostra o quanto tem aumentado às cidades, e uma das questões para 
entender o surgimento das regiões metropolitanas, deste modo a dispersão industrial 
teve também a sua cota de participação na formação dessas regiões. Mas, o que 
entenderíamos como região metropolitana? A sua definição pode ser esclarecida em 
alguns aspectos que classificam de maneira resumida uma metrópole quando “[...] a 
metrópole constitui um tipo especial de cidade, que se distingue das menores não 
apenas por sua dimensão, mas por uma série de fatos, quer de natureza quantitativa, 
quer de natureza qualitativa.” (SANTOS et al, apud LANGENBUCH et al, 1971, p.1). 
No entanto, as questões qualitativas e quantitativas diferentes de uma pequena cidade 
denotam uma região metropolitana. Todavia, algumas exterioridades seriam comuns a 
uma região metropolitana. Podemos classificá-las de acordo com Santos (1993, p. 84) 
onde as regiões metropolitanas: 
 a) são formadas por mais de um município, com o município 
núcleo – que lhes dá o nome – representando uma área bem 
maior que as demais; 
b) são objeto de programas especiais, levados adiante por 
organismos regionais especialmente criados, com a utilização de 
normas e de recursos em boa parte federais. 
 
Não obstante, essas características podem classificar uma região metropolitana, 
porém outros aspectos também podem ser considerados como; a grande concentração 
populacional, de serviços, infraestrutura e concentração geográfica de interesses 
coletivos e etc. Um dos dados referentes à Região Metropolitana são as populações 
estimadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que através de 
dados anteriores ao censo de 2000 criou estimativas para o crescimento populacional 
dos municípios participantes da Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. 
Deste modo, com o aumento das regiões metropolitanas no Brasil, sobretudo no Rio de 
Janeiro a densidade demográfica muito se acentuou nesses espaços, sobretudo os 
periféricos onde verificaremos na tabela as estimativas e os aumentos. 
 
 
 
 
 
39 
Tabela – 1: 
Região Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro densidade 
demográfica. 
 
Municípios e Regiões População estimada 2009 
 (% ERJ) 
Crescimento demográfico 
2000/2009 (%) 
Estado do Rio de Janeiro 100,0% 11,3 
Região Metropolitana 73,3% 8,8 
Guapimirim 0,3% 31,1 
Itaguaí 0,7% 28,8 
Itaboraí 1,4% 22,1 
Japeri 0,6% 22,1 
Seropédica 0,5% 20,8 
Magé 1,5% 18,7 
Tanguá 0,2% 17,2 
Belford Roxo 3,1% 15,4 
Nova

Continue navegando