Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES – CCHLA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGE ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: DINÂMICA SOCIOAMBIENTAL E REESTRUTURAÇÃO DO TERRITÓRIO LINHA DE PESQUISA: DINÂMICA URBANA E REGIONAL O TRANSBORDAMENTO DO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO DE NATAL PARA O MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM-RN THIAGO AUGUSTO NOGUEIRA DE QUEIROZ NATAL-RN 2020 THIAGO AUGUSTO NOGUEIRA DE QUEIROZ O TRANSBORDAMENTO DO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO DE NATAL PARA O MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM-RN Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação e Pesquisa em Geografia (PPGe) do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes (CCHLA) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como pré-requisito para a obtenção do título de doutor. Orientador: Professor Doutor Ademir Araújo da Costa NATAL-RN 2020 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA Queiroz, Thiago Augusto Nogueira de. O transbordamento do processo de verticalização de Natal para o município de Parnamirim-RN / Thiago Augusto Nogueira de Queiroz. - Natal, 2020. 207f.: il. color. Tese (doutorado) - Centro de Ciência Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2020. Orientador: Prof. Dr. Ademir Araújo da Costa. 1. Transbordamento urbano - Tese. 2. Processo de verticalização - Tese. 3. Natal - Tese. 4. Parnamirim - Tese. 5. Nova Parnamirim – Tese. I. Costa, Ademir Araújo da. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU 711.4(813.2) Elaborado por Heverton Thiago Luiz da Silva - CRB-15/710 THIAGO AUGUSTO NOGUEIRA DE QUEIROZ O TRANSBORDAMENTO DO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO DE NATAL PARA O MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM-RN Tese de Doutorado apresentada na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de Ciências Humanas Letras e Artes (CCHLA), Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (PPGe), área de concentração Dinâmica Socioambiental e Reestruturação do Território, Linha de Pesquisa Dinâmica Urbana e Regional. Natal, 03 de setembro de 2020. BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Ademir Araújo da Costa (Orientador) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Prof.ª Dra. Ione Rodrigues Diniz Morais (Avaliadora Interna ao Programa) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Prof. Dr. Alexsandro Ferreira C. da Silva (Avaliador Externo ao Programa) Departamento de Políticas Públicas - UFRN Prof. Dr. Ricardo Luiz Töws (Avaliador Externa à Instituição) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná - IFPR Prof.ª Dra. Beatriz Ribeiro Soares (Avaliadora Externa à Instituição) Universidade Federal de Uberlândia - UFU AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus criador do Universo e desse pequeno grão de poeira cósmica chamado de planeta Terra, que é constituído, em sua superfície, pelo nosso espaço geográfico. Agradeço por existir e pelas oportunidades que me foram dadas para que eu me tornasse filho, esposo, doutorando em Geografia e professor de Geografia na rede pública de ensino do estado do Rio Grande do Norte e do município de Parnamirim-RN. Agradeço à minha esposa Bárbara Coutinho pela paciência, companhia e compreensão nos momentos mais difíceis do projeto, da pesquisa e da escrita da tese. Agradeço por todos os momentos felizes que me proporciona para assim esquecer um pouco o árduo trabalho de pesquisar e de ensinar e por tornar leve o fardo da vida cotidiana. Como também, agradeço pela ajuda nos registros fotográficos que ilustram essa tese e pela ajuda nas entrevistas da pesquisa de campo. Agradeço aos meus pais - Cassemiro Queiroz e Vanilde Nogueira. Ele me ensinou a ser pontual, responsável, organizado e comprometido com meu trabalho, seja o de pesquisador de doutorado, seja o de professor do Ensino Básico. Ela me ensinou a ser calmo, tranquilo e a ter paciência para enfrentar as adversidades e os momentos mais difíceis da vida. Agradeço ao meu orientador Ademir Araújo, um professor e amigo que me acompanha desde a graduação, desde a época em que ele era meu tutor no Programa de Educação Tutorial (PET). Nesses últimos anos, orientou-me no doutorado, conversando sobre a tese e sobre a vida, publicando artigos e livros comigo e com outros orientandos, compreendendo meus limites para a execução da pesquisa, lendo e dando dicas para melhorar o trabalho como um todo. Agradeço às professoras: Ione Rodrigues, representando todos os professores do PPGe da UFRN, pelo acompanhamento do desenvolvimento da tese, desde os colóquios e seminários, passando pela qualificação de doutorado, até o momento da defesa; Maria Eugênia, pelas contribuições na qualificação; e Beatriz Ribeiro, pelas contribuições na defesa. Agradeço, também, aos professores Alexsandro Ferreira e Ricardo Luiz, que contribuíram na defesa. Agradeço à Ana Clara pela elaboração dos mapas que ilustrou e tornou mais rico o texto da tese. Ao conterrâneo e amigo que a Geografia me proporcionou: Eduardo Nascimento pelas conversas acadêmicas e políticas, em sua maioria, nas redes sociais. Enfim, agradeço aos moradores dos edifícios altos do bairro de Nova Parnamirim, pelas entrevistas concedidas e respondidas. Para todos aqueles que de alguma forma contribuíram com esse trabalho: MUITO OBRIGADO! Cidade grande, moça bela / Tu tens o cheiro da ilusão Quem passou na tua janela / Já conheceu a solidão Cidade grande / Chaminé de gasolina Foi minha sina / Nos teus braços vir parar Tua grandeza / Me levou a um delírio Feito um colírio / Clareando o meu olhar Cidade grande / Paraíso da loucura Quem te procura / Feito eu vim te procurar Sofre um bocado / Pra entender o teu mistério Falando sério / Foi difícil acostumar Cidade grande, moça bela / Tu tens o cheiro da ilusão Quem passou na tua janela / Já conheceu a solidão Teu movimento / Eu comparei a um formigueiro De tão ligeiro / Comecei a imaginar Meu Deus do céu / Como é que a felicidade Nessa cidade / Acha um espaço pra morar Minha tristeza / Rejeitou tua alegria Num belo dia / Quando eu pude perceber Que o progresso / É que faz do teu dinheiro Um cativeiro / Onde se mata pra viver Cidade grande, moça bela / Tu tens o cheiro da ilusão Quem passou na tua janela / Já conheceu a solidão Quando eu olhei / A água preta do teu rio Um calafrio / Me subiu ao coração Fiquei com medo / De algum dia o oceano Achar um plano / E se vingar na traição Cidade grande / Se tu fosses minha um dia Eu te mostraria / Como a abelha faz o mel Mas quem sou eu / Apenas um simples poeta Que vê a vida / Com os olhos para o céu Cidade grande, moça bela / Tu tens o cheiro da ilusão Quem passou na tua janela / Já conheceu a solidão (Cidade Grande – Petrúcio Amorim) RESUMO A verticalização urbana é um processo socioespacial inserido em uma estrutura econômica, política e cultural, em tempos históricos e espaços geográficos diferentes, resultando em formas urbanas verticais, podendo ter funções residenciais, ou terciárias, ou mistas, com diferentes representações socioespaciais. O processo de verticalização em Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte- RN, teve início na década de 1970 e se expandiu nas décadas seguintes. Na década de 1980 começou a ocorrer o transbordamento urbano de Natal para os municípios vizinhos: Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Extremoz. Já o processo de verticalizaçãoem Parnamirim, na Região Metropolitana de Natal, ocorre de forma mais intenso no bairro de Nova Parnamirim. Tal fato nos levou a perguntar: o processo de verticalização em Nova Parnamirim é produto do transbordamento urbano de Natal? A partir dessa indagação objetivamos compreender o transbordamento do processo de verticalização de Natal para o bairro de Nova Parnamirim, apreendendo o transbordamento urbano e o processo de verticalização, conhecendo o transbordamento do processo de verticalização de Natal para o município de Parnamirim, entendendo o processo de verticalização percebido no bairro, e sabendo sobre o processo de verticalização relacional em Nova Parnamirim. Para atingir esses objetivos, realizamos uma pesquisa bibliográfica, uma pesquisa documental e uma pesquisa de campo. Os resultados mostraram que o transbordamento do processo de verticalização de Natal para Parnamirim teve início na década de 1990, e continua de maneira mais intensa em Nova Parnamirim. A verticalização urbana percebida em Nova Parnamirim tem duas fases. Em sua primeira fase (1997-2008), a verticalização desse bairro se caracterizou pela construção arquitetônica de edifícios altos sem apartamentos na cobertura e sem apartamentos no térreo. Nessa fase, também houve a unanimidade da participação de incorporadoras locais, com sede em Natal. Na segunda fase (2008-2020) da verticalização do bairro de Nova Parnamirim, os edifícios altos passaram a ser construídos com apartamentos duplex na cobertura e com apartamentos no térreo. Além disso, nessa segunda fase, houve uma participação expressiva de incorporadoras internacionais, além de incorporadoras nacionais com capitais estrangeiros. Nessa segunda fase, também ocorreu a descentralização do terciário moderno de Natal que transbordou para Nova Parnamirim, onde se instalaram shopping centers, strip malls, praças de food trucks, redes nacionais e internacionais de hipermercados, supermercados, lojas de departamentos e filiais de lojas locais nas principais avenidas – Abel Cabral, Maria Lacerda e Ayrton Senna. Sobre a verticalização urbana relacional, os incorporadores imobiliários representam e concebem em seus panfletos de publicidade e propaganda o bairro de Nova Parnamirim como sendo “Zona Sul” de Natal. Por sua vez, os moradores dos edifícios altos concebem, na compra ou aluguel do apartamento, o uso das áreas de lazer do condomínio, mas, na maioria dos casos, não as vivenciam. Esses moradores vivenciam e utilizam com uma média e alta intensidade o espaço urbano de Natal e do próprio bairro, utilizando com pouca intensidade, ou não, o espaço urbano de Parnamirim. Assim, comprovamos a hipótese levantada de que o processo de verticalização em Nova Parnamirim é produto do transbordamento urbano de Natal para o município de Parnamirim. Palavras-chave: Transbordamento urbano; Processo de verticalização; Natal (RN); Parnamirim; Nova Parnamirim. ABSTRACT Urban verticalization is a socio-spatial process inserted in an economic, political and cultural structure, in different historical times and geographical spaces, resulting in vertical urban forms, which may have residential, or tertiary, or mixed functions, with different socio-spatial representations. The verticalization process in Natal, capital of the state of Rio Grande do Norte (RN - Brazil), began in the 1970s and expanded in the following decades. In the 1980s, the urban overflow of Natal began to occur in the neighboring municipalities: Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante and Extremoz. The verticalization process in Parnamirim, in the Metropolitan Region of Natal, is more intense in the district of Nova Parnamirim. This fact led us to ask: is the verticalization process in Nova Parnamirim a product of the urban overflow in Natal? From this question we aim to understand the overflow of the verticalization process from Natal to the district of Nova Parnamirim, apprehending the urban overflow and the verticalization process, knowing the overflow of the Natal verticalization process for the municipality of Parnamirim, understanding the process of verticalization perceived in the district, and knowing about the process of relational verticalization in Nova Parnamirim. To achieve these objectives, we conducted a bibliographic search, a documentary search and a field research. The results showed that the overflow of the verticalization process from Natal to Parnamirim started in the 1990s, and continues more intensely in Nova Parnamirim. The urban verticalization perceived in Nova Parnamirim has two phases. In its first phase (1997-2008), the verticalization of this district was characterized by the architectural construction of tall buildings without apartments on the roof and without apartments on the ground floor. In this phase, there was also the unanimous participation of local developers, based in Natal. In the second phase (2008-2020) of the verticalization of the Nova Parnamirim disctrict, the tall buildings started to be built with duplex apartments on the roof and with apartments on the ground floor. In addition, in this second phase, there was an expressive participation of international developers, in addition to national developers with foreign capital. In this second phase, there was also the decentralization of the modern tertiary of Natal that overflowed to Nova Parnamirim, where shopping centers, strip malls, food truck squares, national and international hypermarket chains, supermarkets, department stores and local store branches were installed. on the main avenues - Abel Cabral, Maria Lacerda and Ayrton Senna. Regarding urban relational verticalization, real estate developers represent and conceive the Nova Parnamirim as district of Natal's “South Zone” in their advertising pamphlets. In turn, the residents of tall buildings conceive, when buying or renting the apartment, the use of the leisure areas of the condominium, but, in most cases, they do not experience them. These residents experience and use the urban space of Natal and the district itself with medium and high intensity, using the urban space of Parnamirim with little or no intensity. Thus, we prove the hypothesis raised that the verticalization process in Nova Parnamirim is the product of the urban overflow from Natal to the municipality of Parnamirim. Keywords: urban overflow; verticalization process; Natal (RN – Brazil); Parnamirim; district Nova Parnamirim. RESUMEN La verticalización urbana es un proceso socioespacial insertado en una estructura económica, política y cultural, en diferentes épocas históricas y espacios geográficos, dando lugar a formas urbanas verticales, que pueden tener funciones residenciales, terciarias o mixtas, con diferentes representaciones socioespaciales. El proceso de verticalización en Natal, capital del estado de Rio Grande do Norte (RN – Brasil), se inició en la década de 1970 y se expandió en las décadas siguientes. En la década de 1980, el desbordamiento urbano de Natal comenzó a ocurrir en los municipios vecinos: Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante y Extremoz. El proceso de verticalización en Parnamirim, en la Región Metropolitana de Natal, es más intenso en el barrio de Nova Parnamirim. Este hecho nos llevó a preguntarnos: ¿el proceso de verticalización en Nova Parnamirim es producto del desborde urbano en Natal? A partir de esta pregunta pretendemos comprender el desbordamiento del proceso de verticalización de Natal al barrio de Nova Parnamirim, aprehendiendo el desborde urbano y el proceso de verticalización, conociendo el desborde del proceso de verticalización de Natal para el municipio de Parnamirim, entendiendo el proceso de verticalización percibida en el barrio, y conocer el proceso de verticalización relacional en Nova Parnamirim. Para lograr estos objetivos, realizamos una búsqueda bibliográfica, una búsqueda documental y una investigación de campo.Los resultados mostraron que el desbordamiento del proceso de verticalización de Natal a Parnamirim comenzó en la década de 1990 y continúa con mayor intensidad en Nova Parnamirim. La verticalización urbana percibida en Nova Parnamirim tiene dos fases. En su primera fase (1997-2008), la verticalización de este barrio se caracterizó por la construcción arquitectónica de edificios altos sin departamentos en la azotea y sin departamentos en la planta baja. En esta fase, también se contó con la participación unánime de los desarrolladores locales, con base en Natal. En la segunda fase (2008-2020) de la verticalización del barrio de Nova Parnamirim, se empezaron a construir los edificios altos con apartamentos dúplex en la azotea y apartamentos en la planta baja. Además, en esta segunda fase, hubo una participación expresiva de desarrolladores internacionales, además de desarrolladores nacionales con capital extranjero. En esta segunda fase, también se produjo la descentralización del terciario moderno de Natal que se desbordó hacia Nova Parnamirim, donde se instalaron centros comerciales, strip malls, plazas de food truck, cadenas de hipermercados nacionales e internacionales, supermercados, grandes almacenes y sucursales de tiendas locales. sobre las principales avenidas - Abel Cabral, Maria Lacerda y Ayrton Senna. En cuanto a la verticalización relacional urbana, los promotores inmobiliarios representan y conciben el barrio Nova Parnamirim en la “Zona Sul” de Natal en sus folletos publicitarios. A su vez, los vecinos de edificios altos conciben, al comprar o alquilar el apartamento, el uso de las áreas de esparcimiento del condominio, pero, en la mayoría de los casos, no las experimentan. Estos residentes experimentan y utilizan el espacio urbano de Natal y el propio barrio con intensidad media y alta, utilizando el espacio urbano de Parnamirim con poca o ninguna intensidad. Así, probamos la hipótesis planteada de que el proceso de verticalización en Nova Parnamirim es producto del desbordamiento urbano de Natal al municipio de Parnamirim. Palabras clave: desbordiamento urbano; proceso de verticalización; Natal (RN - Brasil); Parnamirim; barrio Nova Parnamirim. LISTA DE FIGURAS Página Figura 1 – Escalas e agentes da produção e do transbordamento do espaço urbano. ............................................................................................................... 42 Figura 2 – Estruturas, formas e funções do processo socioespacial de verticalização urbana. ..................................................................................... 48 Figura 3 – As escalas das estratégias e práticas dos agentes do processo de verticalização urbana. ...................................................................... 56 Figura 4– O processo de verticalização percebido, concebido e vivido. ................................................................................................................... 64 Figura 5 – Processo socioespaciais urbanos que convergem com a verticalização ........................................................................................................ 69 Figura 6 – Panfleto do Residencial Rota do Sol, incorporado pela CNH. .................................................................................................................... 108 Figura 7 – Panfleto do Residencial Bossa Nova, destacando o espaço absoluto. .................................................................................................. 155 Figura 8 – Panfleto do Residencial Bossa Nova, destacando o espaço relativo. .................................................................................................... 156 Figura 9 – Panfleto do Residencial Novo Sttilo, destacando o espaço absoluto. ............................................................................................................... 157 Figura 10 – Panfleto do Residencial Top Life, destacando o espaço relativo. ................................................................................................................. 159 Figura 11 – Panfleto de vários empreendimentos da MRV. ................................. 160 Figura 12 – Panfleto do Residencial Vivenda dos Mares, destacando o espaço absoluto. ............................................................................................... 161 Figura 13 – Panfleto do Residencial Vivenda dos Mares, destacando o espaço relativo. ................................................................................................. 162 LISTA DE FOTOS Página Foto 1 - Edifício da Previdência Social, bairro Tirol. ............................................. 77 Foto 2 – Edifício Salmar, bairro Cidade Alta......................................................... 78 Foto 3 – Edifícios residenciais Parque das Palmeiras, bairro Lagoa Nova. ......... 82 Foto 4 – Edifício Residencial Guilhermina Soares, bairro N. Sra. de Nazaré. ...... 85 Foto 5 – Condomínio Residencial Riverside, bairro Redinha. .............................. 87 Foto 6 – Edifício Mirante João Olímpio Filho, bairro Ribeira. ............................... 88 Foto 7 – Residencial Pirangi, distrito litorâneo de Pirangi do Norte. ..................... 97 Foto 8 – Residencial Uruaçu I, avenida Abel Cabral, bairro Nova Parnamirim. ... 97 Foto 9 – Residenciais Flórida Gardens e Califórnia Gardens, avenida Ayrton Senna, bairro Nova Parnamirim. .......................................................................... 98 Foto 10 – Residencial Corais de Cotovelo, distrito litorâneo de Cotovelo. ........... 99 Foto 11 – Edifício Arara, Residencial Amazônia, bairro Emaús ........................... 103 Foto 12 – Residencial Rota do Sol, distrito litorâneo de Pium. ............................. 108 Foto 13 – Difference Club Residencial, bairro Boa Esperança............................. 112 Foto 14 – Residencial Campos do Cerrado, avenida Gastão Mariz de Faria. ...... 119 Foto 15 – Residencial Parque Itatiaia, avenida Gastão Mariz de Faria. ............... 119 Foto 16 – Residencial Sun Familly, avenida Abel Cabral. .................................... 120 Foto 17 – Residencial Sun Happy, avenida Abel Cabral. ..................................... 121 Foto 18 – Residencial Spazio Senna, avenida Ayrton Senna. ............................. 122 Foto 19 – Residencial Uruaçu IV, avenida Abel Cabral. ....................................... 123 Foto 20 – Residencial Holambra, avenida Gastão Mariz de Faria. ...................... 124 Foto 21 – Residencial Park Towers, avenida Adail Pamplona Menezes. ............. 124 Foto 22 – Residencial Bellavista Ponta Negra, avenida Gastão Maria de Faria. . 125 Foto 23 – Residencial Sirius, avenida Abel Cabral. .............................................. 127 Foto 24 – Residencial Atmosfera, avenida Abel Cabral. ...................................... 128 Foto 25 – Residencial Panamericano, avenida Maria Lacerda Montenegro. ....... 128 Foto 26 – Residencial Vivenda dos Mares (torre ao fundo), avenida Maria Lacerda Montenegro. ........................................................................................... 129 Foto 27 – Nimbus Residence, avenida Abel Cabral. ............................................ 136 Foto 28 – Residencial Spazio Nautilus, avenida Abel Cabral. .............................. 136 Foto 29 – Residencial Top Life, avenida Maria Lacerda Montenegro. ................. 137 Foto 30 – Stillo Club Residence, avenida Abel Cabral. ........................................ 140 Foto 31 – Novo Stillo Home Club, avenida Maria Lacerda Montenegro. .............. 140 Foto 32 – Certto Home Club, vizinho ao Novo Stillo. ........................................... 141 Foto 33 – Residencial Aquarelle, avenida Abel Cabral. ....................................... 142Foto 34 – Residencial Bossa Nova, avenida Gastão Mariz de Faria. ................... 143 Foto 35 – Residencial Vila Verde, BR-101. .......................................................... 144 Foto 36 – Residenciais Renaissances Libertè e Avant, avenida Abel Cabral. ..... 145 Foto 37 – Residencial Renaissance Premiere, vizinho ao Uruaçu IV ................... 145 Foto 38 – Residencial Lélia, avenida Mahatman Ghandi ..................................... 146 Foto 39 – Residencial Monte Real, vizinho ao Parque Itatiaia ............................. 147 Foto 40 – Residencial Harmonique, avenida Maria Lacerda Montenegro. ........... 148 Foto 41 – Faixa de protesto no Residencial Novo Sttilo. ...................................... 158 LISTA DE GRÁFICOS Página Gráfico 1 – Número de formulários aplicados por setor da verticalização em Nova Parnamirim. ........................................................................................... 165 Gráfico 2 – Faixa etária dos moradores entrevistados dos edifícios altos em Nova Parnamirim. ........................................................................................... 166 Gráfico 3 – Faixa de renda dos moradores entrevistados dos edifícios altos em Nova Parnamirim. .................................................................................. 166 Gráfico 4 – Número de pessoas com quem residem os moradores entrevistados dos edifícios altos em Nova Parnamirim. ....................................... 168 Gráfico 5 – Frequência com que os moradores entrevistados dos edifícios altos em Nova Parnamirim utilizam os espaços de lazer do condomínio. ............ 169 Gráfico 6 – Principal meio de transporte utilizado pelos moradores entrevistados de edifícios altos em Nova Parnamirim. ......................................... 171 Gráfico 7 – Principais problemas do bairro de Nova Parnamirim apresentados pelos moradores entrevistados dos edifícios altos. ....................... 172 Gráfico 8 – Preferências dos moradores entrevistados de edifícios altos em Nova Parnamirim. ........................................................................................... 179 Gráfico 9 – Local de origem dos moradores entrevistados dos edifícios altos em Nova Parnamirim. .................................................................................. 183 Gráfico 10 – Local de trabalho dos moradores entrevistados dos edifícios altos em Nova Parnamirim. .................................................................................. 185 Gráfico 11 – Espaços de Natal utilizados pelos moradores entrevistados de edifícios altos em Nova Parnamirim. ............................................................... 188 Gráfico 12 – Espaços de Nova Parnamirim utilizados por moradores entrevistados dos edifícios altos no bairro. .......................................................... 190 Gráfico 13 – Espaços de Parnamirim (exceto Nova Parnamirim) utilizados pelos moradores entrevistados de edifícios altos em Nova Parnamirim. ............. 193 Gráfico 14 – Município onde os moradores entrevistados dos edifícios altos em Nova Parnamirim consideram morar. .................................................... 195 LISTA DE MAPAS Página Mapa 1- Localização do bairro de Nova Parnamirim. ........................................... 21 Mapa 2 – Localização dos condomínios com edifícios altos em Nova Parnamirim. .......................................................................................................... 22 Mapa 3 – Expansão urbana - Natal e Parnamirim – de 1980 a 2000. .................. 95 Mapa 4 – A expansão do processo de verticalização de Natal e seu transbordamento para Parnamirim até 2010. ....................................................... 105 Mapa 5 – Bairros de Parque do Pitimbu e Parque dos Eucaliptos. ...................... 115 Mapa 6 – Setores do processo de verticalização em Nova Parnamirim. ............. 132 Mapa 7 – Localização e distribuição dos condomínios com edifícios altos por fases (incorporados antes e depois de 2008) em Nova Parnamirim. ............. 134 Mapa 8 – Localização das principais empresas de Nova Parnamirim. ................ 150 Mapa 9 – Condomínios com edifícios altos por setor de Nova Parnamirim (2020). .................................................................................................................. 153 LISTA DE QUADROS Página Quadro 1 – Condomínios com edifícios altos incorporados em Parnamirim de 1994 a 2007. ................................................................................................... 109 Quadro 2 – Linhas de ônibus e alternativos, empresas, dias, horários e número de viagens em Nova Parnamirim (2020). ................................................ 172 Quadro 3 – Preço médio do apartamento em bairros de Natal (Região Administrativa) e de Parnamirim. ......................................................................... 186 LISTA DE TABELAS Página Tabela 1 – Natal - Número de habitantes, crescimento absoluto e relativo – de 1872 a 1950. ................................................................................................ 75 Tabela 2 – Natal – Número de habitantes, crescimento absoluto e relativo – de 1950 a 2000. ................................................................................................ 83 Tabela 3 – Parnamirim – Número de habitantes, crescimento absoluto e relativo – de 1960 a 2010. .................................................................................... 114 LISTA DE SIGLAS BNH – Banco Nacional de Habitação Bovespa – Bolsa de Valores de São Paulo Caern – Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte Catre – Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento das Equipagens CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos CDI – Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte CEF – Caixa Econômica Federal Cohab-RN – Companhia de Habitação Popular do Rio Grande do Norte CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas Cosern – Companhia Energética do Rio Grande do Norte Datanorte – Companhia de Processamento de Dados do Rio Grande do Norte DIN – Distrito Industrial de Natal DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte Emproturn – Empresa de Promoção e Desenvolvimento do Turismo do RN S.A. FAB – Força Aérea Brasileira FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço Fundhap – Fundação de Habitação Popular IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística I PND – Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento II PND – Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento INSS – Instituto Nacional de Segurança Social Inocoop-RN – Instituto de Orientação à Cooperativas Habitacionais do RN IPE – Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do RN IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional PAC – Programa de Aceleração do Crescimento PEA – População Economicamente Ativa PIB – Produto Interno Bruto PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida Prodetur – Programa de Desenvolvimento do Turismo RN – Rio Grande do Norte SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo SFH – Sistema Financeiro de Habitação SFI – Sistema de Financiamento Imobiliário SFS – Sistema Financeiro de Saneamento Siduscon – Sindicato da Indústria da Construção Civil Sudene – Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste Telern – Telecomunicações do Rio Grande do Norte S.A. UFRN – Universidade Federal do Rio Grande doNorte VLT – Veículo Leve sobre Trilhos SUMÁRIO Página 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 19 2 O TRANSBORDAMENTO URBANO E O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO ............................................................................................. 30 2.1 A produção e o transbordamento do espaço urbano ..................................... 30 2.2 O processo de verticalização do espaço urbano ............................................ 42 2.3 A verticalização urbana percebida e relacional .............................................. 56 3 O TRANSBORDAMENTO DA VERTICALIZAÇÃO URBANA DE NATAL PARA O MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM ............................................................. 73 3.1 A pré-verticalização urbana em Natal ............................................................ 73 3.2 O processo de verticalização de Natal ........................................................... 76 3.3 A metropolização e o transbordamento da verticalização urbana de Natal .... 89 4 O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO PERCEBIDO EM NOVA PARNAMIRIM ...................................................................................................... 113 4.1 A pré-verticalização urbana em Nova Parnamirim ......................................... 113 4.2 A primeira fase da verticalização urbana em Nova Parnamirim ..................... 117 4.3 A segunda fase do processo de verticalização em Nova Parnamirim ............ 133 5 O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO RELACIONAL EM NOVA PARNAMIRIM ...................................................................................................... 154 5.1 A verticalização urbana concebida pelos incorporadores imobiliários ............ 154 5.2 A verticalização urbana concebida pelos moradores dos edifícios altos ........ 164 5.3 O espaço vivido pelos moradores dos edifícios altos ..................................... 182 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 196 7 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 202 19 1 INTRODUÇÃO A verticalização urbana é um processo socioespacial que tem uma determinada estrutura econômica, política e cultural em diferentes períodos históricos e em diferentes cidades. As formas urbanas verticais como os edifícios baixos, médios e altos, os arranha-céus, as supertorres e as megatorres são os produtos desse processo. Essas formas têm diferentes funções, podendo ser residenciais, comerciais, de serviços, de escritórios e mistas. O processo de verticalização, com suas estruturas, formas e funções, produzem também representações socioespaciais diferentes para indivíduos e grupos sociais diversos. A verticalização urbana é um fenômeno de escala mundial e nacional, na medida em que existe em, praticamente, todos os países do mundo e em todas as metrópoles e cidades médias do Brasil. O processo de verticalização pode ocorrer em uma escala local, dentro dos limites de um município ou de uma cidade, como também, pode extrapolar esses limites, tendo uma escala metropolitana. O processo de verticalização vai além da construção restrita dos condomínios com edifícios verticais pelas incorporadoras imobiliárias, englobando também a organização do bairro e da cidade pelo Estado e a utilização dos espaços condominiais, do bairro e da cidade pelos moradores. Nesse sentido, a verticalização urbana converge com a autossegregação dos moradores em seus apartamentos, em seus condomínios, dentro dos muros altos, com concertinas, cercas elétricas, câmeras de vigilância e guarita. Como também, converge com a fragmentação do espaço urbano, na qual nas proximidades dos condomínios verticais, nos principais eixos viários, são criados um conjunto de serviços modernos e lojas de departamento, supermercados, hipermercados, strip malls e shopping centers, voltados para um público de médio e alto poder aquisitivo. O processo de verticalização pode ser, assim, percebido e relacional. A verticalização urbana percebida é aquela materializada no espaço, sendo a materialidade absoluta do condomínio com edifício vertical e a materialidade relativa das residências, comércios e serviços do entrono, no bairro. A verticalização urbana relacional é aquela concebida e vivida, ou seja, as representações socioespaciais dos condomínios verticais pelos incorporadores e moradores, como também, os espaços de representação vividos pelos moradores. 20 O processo de verticalização na cidade de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte, começou na década de 1970 e se expandiu, nas últimas décadas, juntamente com o crescimento horizontal da cidade. Na década de 1980 começou a ocorrer o transbordamento da mancha urbana de Natal para os municípios vizinhos: Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Extremoz. A metropolização da cidade de Natal não ocorreu por meio da conurbação da cidade polo com as cidades vizinhas, como acontece tradicionalmente. A metropolização de Natal ocorreu pelo transbordamento do centro principal para os municípios limítrofes. No município de Parnamirim, na Região Metropolitana de Natal, notamos um processo de verticalização de forma mais intensa no bairro de Nova Parnamirim (Mapa 1), pois Parnamirim é constituído por 37 condomínios com edifícios altos, com 10 pavimentos ou mais. Deste total, 29 estão localizados no bairro de Nova Parnamirim, construídos nas principais avenidas – Abel Cabral, Maria Lacerda Montenegro e Ayrton Senna – ou nas suas proximidades, nos último vinte anos e, mais intensamente, nos últimos dez anos, transformando a paisagem do bairro. (Mapa 2). A partir desse contexto, perguntamos: o processo de verticalização em Nova Parnamirim é produto do transbordamento urbano de Natal? Por que ocorre o processo de verticalização nesse bairro? Como ocorre esse processo? Quais são os agentes da produção do espaço que participam do processo de verticalização em Nova Parnamirim? Quais as escalas desses agentes? Quais as estratégias e práticas deles? Buscamos dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre Parnamirim e, especificamente, Nova Parnamirim. Observamos que nenhuma delas enfatizaram o processo de verticalização no município ou no bairro. Diante disso, nos instigamos a desenvolver uma pesquisa de doutorado, em Geografia, no âmbito do Programa de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), na área concentração “Dinâmica socioambiental e reestruturação do território”, e na linha de pesquisa “Dinâmica urbana e regional”, na medida em que o processo de verticalização nesse bairro faz parte da dinâmica de Natal e da Região Metropolitana, que reestrutura os territórios dos municípios de Natal e de Parnamirim. 21 Mapa 1- Localização do bairro de Nova Parnamirim. 22 Mapa 2 – Localização dos condomínios com edifícios altos em Nova Parnamirim. 23 Partiremos da seguinte hipótese, da resposta provisória aos questionamentos: o processo de verticalização em Nova Parnamirim é um produto do transbordamento urbano de Natal para o município de Parnamirim, por meio das estratégias e práticas socioespaciais de agentes econômicos como incorporadores imobiliários, de agentes políticos como o Estado, e de agentes sociais como os moradores proprietários e moradores inquilinos, que constroem, organizam e utilizam o espaço geográfico em diferentes escalas – internacionais, nacionais, regionais e locais. Portanto, o objetivo geral deste trabalho é compreender o transbordamento do processo de verticalização de Natal para o bairro de Nova Parnamirim. A partir dele objetivamos: apreender o transbordamento urbanoe o processo de verticalização; conhecer o transbordamento do processo de verticalização de Natal para o município de Parnamirim; entender o processo de verticalização percebido (absoluto e relativo) no bairro de Nova Parnamirim; e saber sobre o processo de verticalização relacional (concebido e vivido) em Nova Parnamirim. Para atingir os objetivos da pesquisa, como metodologia, utilizamos a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e a pesquisa de campo. A pesquisa bibliográfica é “[...] aquela desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, [dissertações e teses]” (Gil, 2008, p. 50). Nossa bibliografia consultada e lida foi dividida em dois blocos: trabalhos teóricos e empíricos sobre as escalas e os agentes da produção e do transbordamento do espaço urbano e do processo de verticalização no mundo e no Brasil; e pesquisas sobre a produção e transbordamento do espaço urbano e o processo de verticalização em Natal, Parnamirim e Nova Parnamirim. Entre outros, destacamos os seguintes pensadores e suas principais obras sobre o espaço urbano: David Harvey (1980), Henri Lefebvre (2013), Horácio Capel (1983), Milton Santos (1985), Roberto Lobato Corrêa (1996), Marcelo Lopes de Souza (2013), Ana Fani Alessandri Carlos (2011) e Pedro de Almeida Vasconcelos (2011). Depois, sobre o processo de verticalização urbana podemos destacar a leitura das obras de: Ademir Araújo da Costa (2000), Maria Adélia Aparecida Souza (1994), Nadia Somekh (1997), Joseli Maria Silva (2000), Yane Almeida Diniz (2013) e César Miranda Mendes (2009). Sobre o espaço urbano e a verticalização de Natal apoiamo-nos nas obras de Ademir Araújo da Costa (2000), Edna Maria Furtado (2005) e Mariana de Vasconcelos Pinheiro (2011). Sobre o histórico do município de Parnamirim 24 utilizamos as contribuições de Carlos Peixoto (2003) e Giesta (2013). Por último, para entender a produção do espaço de Nova Parnamirim, nos respaldamos em Marta Turra (2003), Francisco Elói de Souza (2004) e Daniel Gustavo Batista Nicolau (2008). A segunda etapa da pesquisa se constituiu em uma pesquisa documental ou no levantamento de dados secundários. Se a pesquisa bibliográfica se apropria da análise de trabalhos já realizados, a pesquisa documental “[...] vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa” (GIL, 2008, p.51). Os documentos consultados foram divididos em seis grupos: dados populacionais de Natal e Parnamirim; planos diretores de Natal e Parnamirim; panfletos com propaganda e publicidade dos empreendimentos com edifícios altos de Parnamirim; dados sobre as incorporações de condomínios residenciais com edifícios altos em Parnamirim; dados sobre valores médios de apartamentos de alguns bairros de Natal e de Parnamirim; e dados sobre as linhas de transporte coletivo em Nova Parnamirim. Os dados populacionais de Natal e Parnamirim foram adquiridos na internet, no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais precisamente no Sistema IBGE de Recuperação Automática (Sidra). Nesse banco de dados agregados conseguimos a quantidade populacional de Natal de 1872 até 2010 e de Parnamirim de 1960 até 2010. Com esses dados brutos, fizemos uma análise estatística e construímos tabelas sobre o número de habitantes, crescimento populacional absoluto por década e crescimento relativo por década. Entre os planos diretores, utilizamos o Plano Diretor de Natal de 1994, o Plano Diretor de Parnamirim de 2000 e o de 2013. Esses documentos foram adquiridos nos sites das respectivas prefeituras: Prefeitura Municipal de Natal e Prefeitura Municipal de Parnamirim. Analisamos nesses planos aqueles instrumentos urbanísticos que afetam diretamente o processo de verticalização, a saber: o gabarito, o zoneamento do adensamento, e a outorga onerosa do direito de construir. Focamos no papel desempenhado por esses instrumentos na proibição, restrição e até permissão da verticalização em ambos os municípios. O terceiro grupo de documentos, os panfletos, foram distribuídos pelas empresas nos semáforos de Natal e de Parnamirim, como também, foram distribuídos nos eventos de lançamento e de vendas de imóveis da Caixa 25 Econômica Federal, o Feirão da Caixa de 2017. Adquirimos esses panfletos e fizemos uma análise de seu conteúdo, as imagens, as palavras, as expressões. Esse procedimento serviu para que soubéssemos mais sobre o processo de verticalização concebido pelos incorporadores imobiliários, como também, foram importantes para entender o futuro processo de verticalização percebido em Parnamirim e em Nova Parnamirim. O quarto grupo de documentos, talvez o mais importante deles, foram os dados sobre as incorporações imobiliárias adquiridos no 1º Ofício de Notas de Parnamirim. Tivemos acesso aos arquivos do cartório, especificamente às pastas de incorporações e de destinações (reincorporações). Com o acesso a esses dados, construímos um quadro que contém o nome do condomínio residencial, o número de registro no cartório, o bairro do condomínio, a empresa incorporadora, o número de torres do condomínio, o número de pavimentos, o número de apartamentos por pavimento, o número de unidades habitacionais de cada condomínio. Como também, em alguns tivemos acesso aos nomes dos proprietários das terras adquiridas para que ocorresse a incorporação. O quinto grupo de dados foram adquiridos juntamente ao site Cafasy, antigo Properati, que monitora mensalmente o preço médio de aluguel e venda de imóveis – terrenos, casas e apartamentos – a partir da quantidade de quartos, por bairros e municípios brasileiros. Esses dados serviram para construir um quadro, mostrando que o valore médio dos apartamentos em Nova Parnamirim é menor que nos bairros da cidade de Natal. O sexto e último grupo de dados foram adquiridos junto ao aplicativo Moovit, no qual criamos um quadro com os dados sobre as linhas de ônibus, as empresas, os dias, os horários e o número de viagens no bairro de Nova Parnamirim. Esses dados serviram para relacionar com os problemas encontrados pela população em seu espaço vivido. A terceira fase foi a pesquisa de campo ou o levantamento de dados primários que “[...] procura muito mais o aprofundamento das questões propostas do que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis” (GIL, 2008, p. 57). Nessa pesquisa de campo fizemos três procedimentos: observação simples com registro fotográfico; entrevistas pautadas; e entrevistas estruturadas. 26 O primeiro procedimento de campo foi a observação, ou seja, “[...] o uso dos sentidos com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o cotidiano” (GIL, 2008, p. 100). Entre os tipos de observação, utilizamos a observação simples que se entende como sendo “[...] aquela em que o pesquisador, permanecendo alheio à comunidade, grupo ou situação que pretende estudar, observa de maneira espontâneas os fatos que aí ocorrem” (GIL, 2008, p. 101). Observamos assim, o bairro de Nova Parnamirim cotidianamente, focando nos seus condomínios com edifícios altos e no entorno deles como escolas, centros comerciais, shoppings, supermercados, redes de fast food e placas de sinalização localização. Esse procedimento também nos possibilitou saber qual condomínio incorporado tinha sido, ou não, concluído. Essa observação foi acompanhada do registro fotográfico desses condomínios. O segundo e o terceiro procedimento de campo foram entrevistas que são técnicas nas quais “[...] o investigador se apresenta frente ao investigado [ou virtualmente via internet] e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação” (GIL, 2008, p. 109). Especificamente na segunda etapa do campo utilizamosentrevistas pautadas nas quais apresentam “[...] certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesse que o entrevistador vai explorando ao longo do seu curso” (GIL, 2008, p. 112). Essas entrevistas foram importantes para sairmos da “visão de sobrevoo”, isto é, [...] examinar os homens e os grupos sociais exclusiva ou quase exclusivamente ‘de longe’, ‘à distância’” (SOUZA, 2011, p. 148). Assim, adentramos em seus apartamentos e condomínios fechados, mesmo que indiretamente como no caso das entrevistas estruturadas, mergulhamos em seus cotidianos no bairro de Nova Parnamirim e no espaço urbano de Natal. Nesse sentido, entrevistamos 10 moradores de edifícios altos com o objetivo de captar o espaço vivido por eles e as representações que esses espaços têm para eles. Assim, questionamos: onde nasceram, onde moraram, quais as vantagens e desvantagens de morar no respectivo condomínio, quais os pontos positivos e negativos de morar em Nova Parnamirim, além de saber o que eles frequentam no bairro, em Natal e em Parnamirim e se desejam ou não deixar de morar em apartamento ou se desejam ou não morar na capital potiguar. Para não serem identificados, modificamos os nomes verdadeiros dos entrevistados para pseudônimos. Dessa maneira, entrevistamos: Eva do Nimbus (55 27 anos); Adão do Atmosfera (35 anos); Joaquim do Sirius (50 anos); Ana do Stillo (39 anos), Maria do Sun Familly (39 anos); José do Aquarelle (35 anos); Sara do Sun Happy (19 anos); Marta do Nautilus (48 anos); sua irmã Maria do Nautilus (28 anos); e o João do Vila Verde (21 anos). As respostas dos entrevistados não podem ser generalizadas e serviram apenas para exemplificar, com mais detalhes, a vida cotidiana no bairro e no espaço urbano de Natal e exemplificar os resultados das entrevistas estruturadas. A terceira e última etapa da pesquisa de campo foi a aplicação de 150 formulários, via redes sociais virtuais, com os moradores dos edifícios altos de Nova Parnamirim. Esse procedimento também é denominado de entrevista estruturada e se constitui em uma técnica de pesquisa na qual “[...] desenvolve-se a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanece invariável para todos os entrevistados, que geralmente são em grande número” (GIL, 2008, p. 113). A amostragem dessa entrevista estruturada é não probabilística pois “não apresenta fundamentação matemática ou estatística, dependendo unicamente de critérios do pesquisador” (GIL, 2008, p. 91). O critério utilizado para a amostragem foi do tipo por acessibilidade ou conveniência, que se caracteriza por ser: o menos rigoroso de todos os tipos de amostragem. Por isso mesmo é destituída de qualquer rigor estatístico. O pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o universo. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão (GIL, 2008, p. 94). Procuramos saber, nessas entrevistas estruturadas as seguintes características dos moradores: a faixa de renda; com quantas pessoas convivem; o quanto utilizam os espaços de lazer do condomínio; o principal meio de transporte utilizado; os principais problemas do bairro; se tem vontade ou não de morar em uma casa; de qual município vieram; onde trabalham ou estudam; os espaços que frequentam em Natal, Nova Parnamirim e Parnamirim; e se sentem-se moradores de Natal ou de Parnamirim. Interrompemos o número de entrevistados em 150 quando os dados primários coletados entraram num estado de saturação, ou seja, quando “[...] novos dados nada mais acrescentam [...]” (GIL, 2008, p.176). Com os resultados construímos um conjunto de gráficos não estatísticos para serem qualitativamente analisados. 28 Dessa forma, a pesquisa bibliográfica sobre a produção do espaço urbano e sobre o processo de verticalização serviu para apreender o processo de verticalização urbana como produção do espaço, com seus agentes e suas escalas. Para conhecer o transbordamento do processo verticalização do espaço urbano de Natal para o município de Parnamirim utilizamos a pesquisa bibliográfica sobre Natal, os dados populacionais de Natal pesquisados no Sidra do IBGE e a análise do conteúdo dos planos diretores de Natal (1994) e Parnamirim (2000 e 2013). Seguindo a relação entre objetivos específicos e procedimentos de pesquisa, para entender o processo de verticalização percebido em Nova Parnamirim nos baseamos na pesquisa bibliográfica sobre Parnamirim e Nova Parnamirim, nos dados populacionais de Parnamirim coletados no Sidra-IBGE, além dos dados do quadro sobre as incorporações imobiliárias coletadas no cartório e as fotografias registradas nas observações simples de campo, que serviram para ilustrar ou até explicar partes do processo. Por último, para saber sobre o processo de verticalização concebido e percebido em Nova Parnamirim, utilizamos a análise de conteúdo dos panfletos de publicidade e propaganda, da mesma forma, a análise qualitativa das entrevistas pautadas e dos gráficos oriundos das entrevistas estruturadas. Os resultados dessa pesquisa estão estruturados em seis capítulos. Após este Capítulo 1 da Introdução, no Capítulo 2, O transbordamento urbano e o processo de verticalização, debateremos sobre a produção e o transbordamento do espaço urbano. No segundo subcapítulo, refletiremos sobre o processo de verticalização do espaço urbano, suas estruturas, suas formas e funções, além das escalas, estratégias e práticas dos seus agentes socioespaciais. No último subcapítulo, discutiremos sobre o processo de verticalização urbana percebido (absoluto e relativo) e relacional (concebido e vivido). No Capítulo 3, intitulado O transbordamento do processo de verticalização urbana de Natal para o município de Parnamirim, debateremos, brevemente na primeira parte, sobre a produção do espaço de Natal antes do processo de verticalização, a pré-verticalização até 1968. No segundo subcapítulo, discutiremos, sucintamente, sobre o processo de verticalização urbana de Natal da década de 1970 aos dias atuas. Por último, dialogaremos sobre a metropolização e o transbordamento do processo de verticalização de Natal para Parnamirim da década de 1990 aos dias atuais. 29 No Capítulo 4 O processo de verticalização percebido em Nova Parnamirim, debateremos sobre como ocorreu a pré-verticalização no bairro. No segundo subcapítulo, refletiremos sobre o processo de verticalização do bairro de Nova Parnamirim do período de 1997 a 2008. Por último, discutiremos sobre o processo de verticalização do bairro de 2008 até o presente. No Capítulo 5, intitulado O processo de verticalização relacional em Nova Parnamirim, dialogaremos sobre a concepção desse processo pelos incorporadores imobiliários na primeira parte. Em seguida, no segundo subcapítulo, refletiremos sobre como esse processo é concebido pelos moradores dos edifícios altos de Nova Parnamirim. Enfim, no terceiro subcapítulo, discutiremos sobre como esses moradores vivenciam o apartamento, o condomínio, o bairro e o espaço urbano na vida cotidiana. Segue-se a esse as considerações finais no Capítulo 6. 30 2 O TRANSBORDAMENTO URBANO E O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO Este capítulo tem como objetivo apreender o transbordamento urbano e o processo de verticalização enquanto produção do espaço e está dividido em três subcapítulos. No primeiro, debateremos sobre a produção e o transbordamento do espaço urbano. No segundo, refletiremos sobre o processo de verticalização do espaço urbano, suas estruturas, suas formas e funções, além das escalas, estratégias e práticas dos seus agentes socioespaciais. No terceiro e último, discutiremos sobre o processo de verticalização urbanapercebido (absoluto e relativo) e relacional (concebido e vivido). 2.1 A produção e o transbordamento do espaço urbano Para Corrêa (1996, p.145) o espaço urbano é a “[...] objetivação geográfica do estudo da cidade [...]”. A cidade, para o referido autor, é “[...] a expressão concreta de processos sociais na forma de um ambiente físico construído sobre o espaço geográfico” (CORRÊA, 1996, p. 121). O espaço geográfico “em uma primeira aproximação, pode-se dizer que corresponde à superfície terrestre” (SOUZA, 2013, p.21). Sendo assim, o espaço geográfico é a superfície terrestre constituída pelo espaço natural (preservado, conservado, transformado ou destruído pela sociedade humana) e pelo espaço social (dos campos de cultivo às metrópoles) que são inseparáveis (SOUZA, 2019). Nesse sentido, o espaço urbano é um tipo de espaço social, ou melhor, um tipo de espaço geográfico, diferente do espaço rural ou agrário. Continuando nesse raciocínio de Souza (2019), de acordo com Harvey (2014), a produção do espaço pode ser natural ou social – urbano e agrário. A produção do espaço natural é uma universalidade, determinada pelas leis naturais, como a evolução e a seleção natural das espécies, e a relação metabólica da sociedade com a natureza. Por sua vez, a produção do espaço social é uma generalidade, determinada pelas leis sociais e da economia política, como as leis do movimento, reprodução ou acumulação de capital, como ocorre com a produção do espaço urbano. Seguindo nessa perspectiva, a produção do espaço urbano é simultaneamente restrita e ampla. A produção do espaço urbano restrita é aquela 31 stricto sensu e “[...] trata-se da produção de bens, produtos, mercadorias, o que significa dizer que o processo de produção concebe um mundo objetivo – o espaço em sua materialidade como condição de reprodução da vida social” (CARLOS, 2019, p. 21). Por sua vez, a produção do espaço urbano ampla é aquela lato sensu na qual “[...] ao mesmo tempo em que o homem produz o mundo objetivo (real e concreto), produz uma consciência sobre ele – um mundo de determinações e possibilidades – capaz de metamorfosear a realidade” (CARLOS, 2019, p.21). Nesse contexto, a produção restrita do espaço urbano refere-se à construção de casas, apartamentos, lojas e escritórios, e imóveis em geral, que se tornam mercadorias e serão alugadas, vendidas e financiadas para a obtenção de rendas, lucros e juros, enfim, para a reprodução de capital. A produção ampla do espaço urbano engloba a organização da cidade e a sua utilização para a moradia, para o trabalho, para o lazer e para o consumo pelos indivíduos e grupos sociais, ou seja, para a reprodução biológica e social, indo além da reprodução de capital. A produção do espaço urbano é a construção, organização e utilização dos espaços de uma determinada cidade. A primeira forma de espaço urbano na humanidade foi a cidade política “[...] (efetivamente realizada e mantida no modo de produção asiático) que organiza uma vizinhança agrária, dominando-a” (LEFEBVRE, 2001, p. 77). Essa cidade política “[...] administra, protege, explora um território frequentemente vasto, aí dirigindo os grandes trabalhos agrícolas: drenagem, irrigação, construção de diques, arroteamentos etc.” (LEFEBVRE, 1999, p. 21). Assim, os primeiros espaços urbanos surgiram na Mesopotâmia, mais precisamente no Crescente Fértil, há cerca de 5 mil anos, tendo características políticas de administração e proteção dos espaços agrários ao redor. Posteriormente, com o excedente da produção do campo, os espaços urbanos políticos tornaram-se comerciais, sem perder seu caráter político, onde eram trocados (vendidos-comprados) os excedentes agropecuários e a produção dos artesãos. A cidade comercial: [...] principia relegando o comércio para a sua periferia (heterotopia dos bairros, feiras e mercados, dos locais destinados aos metecos, aos estrangeiros especializados em trocas) e que a seguir integra o mercado integrando-se ela mesma numa estrutura social baseada nas trocas, nas comunicações ampliadas, no dinheiro e na riqueza mobiliária (LEFEBVRE, 2001, p. 77). 32 No espaço urbano comercial ou mercantil, “[...] a troca comercial torna-se função urbana: essa função fez surgir uma forma (ou formas: arquiteturais e/ou urbanísticas) e, em decorrência, uma nova estrutura do espaço urbano” (LEFEBVRE, 1999, p. 23). Portanto, a espaço urbano comercial, que também é político, passa a ser não só o centro administrativo como também o centro de trocas, reestruturando-o No século XV houve a formação dos primeiros Estados modernos e a consequente expansão marítima e comercial europeia para outros continentes, que possibilitou a colonização da América nos séculos XVI e XVII, e resultou na acumulação primitiva de capital e no início do sistema econômico capitalista. Assim, os espaços urbanos comerciais e administrativos passam a ser capitalistas. Os primeiros espaços urbanos brasileiras foram político-comerciais, surgindo nesse contexto do capitalismo mercantilista. Os colonizadores portugueses criaram vilas e cidades com o objetivo de ocupar e explorar os recursos existentes no Brasil. A primeira vila brasileira foi São Vicente, criada em 1532, atualmente um município do estado de São Paulo. A primeira cidade brasileira foi Salvador, fundada em 1549, como primeira capital do Brasil, sendo atualmente a capital do estado da Bahia. A segunda cidade brasileira, o Rio de Janeiro, foi criada em 1565 com o nome de São Sebastião do Rio de Janeiro, tendo sido capital do Brasil entre 1808 e 1960, e é a atual capital do estado do Rio de Janeiro. Entre essas primeiras cidades brasileiras destacamos Natal, criada em 1599 (CORRÊA, 1996). Em meados do século XVIII, teve início a Revolução Industrial, o que tornou mais consolidado o sistema econômico capitalista. Tal fato teve como consequência a industrialização dos espaços urbanos e a mecanização dos espaços agrários, seguidos do êxodo rural e o progressivo crescimento dos espaços urbanos no mundo ocidental, em especial, a Europa, e Estados Unidos, já no século XIX. Assim, surgiram os espaços urbanos industriais, sem perder as características políticas e comerciais, “[...] com suas implicações (partida para a cidade das populações camponesas despojadas e desagregadas, período das grandes concentrações urbanas)” (LEFEBVRE, 2001, p. 77). O espaço urbano industrial foi responsável pela: 33 implosão-explosão (metáfora emprestada da física nuclear), ou seja, a enorme concentração (de pessoas, de atividades, de riquezas, de coisas e de objetos, de instrumentos, de meios e de pensamento) na realidade urbana, e a imensa explosão, a projeção de fragmentos múltiplos e disjuntos (periferias, subúrbios, residências secundárias, satélites etc.) (LEFEBVRE, 1999, p. 26). Com o espaço urbano industrial, começou a inflexão do agrário para o urbano, ou seja, começou uma implosão-explosão caracterizada pela concentração urbana, o êxodo rural, o crescimento quantitativo e qualitativo do espaço urbano, a subordinação completa, enfim, do agrário ao urbano. Os países centrais do capitalismo – os da Europa Ocidental, os Estados Unidos e o Japão – começaram sua industrialização-urbanização no século XIX. Ao longo do século XX ocorreu a industrialização-urbanização dos países da América Latina, do sudeste asiático e da África. No primeiro quarto de século XX, com o início da industrialização do Brasil, surgiram os primeiros espaços urbanos industriais do país, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro, e o consequente crescimento quantitativo e qualitativo desses espaços urbanos. A população brasileira passou a viver, em sua maioria, nos espaços urbanos na década de 1960. A população brasileira era de 70.992.343 habitantes em 1960, sendo 45% deles residentes nos espaços urbanos, e passoupara 94.508.583 habitantes em 1970, tendo 56% de moradores em espaços urbanos (IBGE, 2019). O relatório World Urbanization Prospects, de 2014, da Organização das Nações Unidas (ONU) mostrou que desde 2008 mais da metade da população mundial passou a viver nos espaços urbanos. Sendo assim, a produção do espaço urbano exerce um papel fundamental na reprodução de capital e na reprodução das relações sociais. Lefebvre (2016a) afirma que mesmo diante de tantos conflitos (colonialismo, imperialismo, Primeira e Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria, entre outros) e de tantas crises mundiais (as de 1929, 1973 e 2008), a sobrevivência do capitalismo ocorre, entre outros fatores, devido à reprodução das relações sociais, em especial, à produção (construção, organização e utilização) do espaço urbano. O autor provoca: “[...] o lugar da reprodução das relações da produção não se pode localizar na empresa, no local de trabalho e nas relações de trabalho. A pergunta proposta formula-se assim em toda a sua amplitude: onde se reproduzem estas relações?” (LEFEBVRE, 2016a, p. 131). E ele próprio responde: “[...] não é 34 apenas toda a sociedade que se torna o lugar da reprodução (das relações de produção e já não apenas dos meios de produção): é todo o espaço [geográfico]” (LEFEBVRE, 2016a, p. 138). Assim, os espaços urbanos tornam-se elementos essenciais para a reprodução continuada e ampliada de capital e para a sobrevivência do capitalismo, pois o espaço urbano passa a ser “[...] setorizado, reduzido a um meio homogêneo e, contudo, fragmentado, reduzido a pedaços (só se vendem pedaços de espaço às ‘clientelas’), o espaço transforma-se na sede do poder” (LEFEBVRE, 2016a, p. 138). Os fragmentos dos espaços urbanos (os empreendimentos imobiliários e os espaços turísticos) passam a ser vendidos como mercadorias. Ampliando a ideia de Lefebvre (2016a), de acordo com Harvey (2005), nos momentos de crise do capitalismo duas estratégias são feitas para a sua sobrevivência. A primeira está relacionada à intensificação das atividades econômicas, da reestruturação produtiva, por meio de: investimentos tecnológicos nos velhos setores da economia; a criação de novos setores econômicos, desejos e novas necessidades para os consumidores; e da preparação da mão de obra para trabalhar com essas novas tecnologias e com esses novos setores econômicos. A segunda estratégia está relacionada com a produção capitalista do espaço, o ajuste espacial (spatial fix) – ou reordenação espaço-temporal, mediante expansão geográfica do capitalismo para novos lugares, territórios e regiões do mundo, e construção de habitações e infraestruturas no espaço urbano. As crises são “[...] racionalizadores irracionais de um capitalismo sempre instável” (HARVEY, 2011, p. 65). Assim, as crises são momentos de reestruturação da economia, da política, da cultura e, consequentemente, do espaço, servindo para a manutenção e funcionamento equilibrado do sistema político-econômico capitalista. Para resolver as crises econômicas, mesmo que temporariamente, ocorre o deslocamento para novos setores econômicos e para novos espaços, incluindo a produção do espaço urbano. Por isso, as crises, mesmo que mundiais, ocorrem em tempos diferentes em espaços diferentes. Nesse sentido, quando ocorre uma crise econômica, o capital é retirado do circuito ou fluxo produtivo e pode ser reinvestido no fluxo imobiliário ou pode ser alocado para o circuito social, como investimentos em educação, ciência e tecnologia. Segundo Harvey (2013a), existem três circuitos, ou caminhos, do fluxo de capital. O primeiro é o da produção de bens de consumo, valores e mais-valores, 35 além do consumo de mercadorias e reprodução da força de trabalho, ou seja, o circuito produtivo. O segundo é o do mercado de capitais financeiros e intermediários do Estado, que produz o capital fixo imóvel e o fundo de consumo, os bens duráveis dos produtores e dos consumidores, o ambiente ou espaço construído, isto é, o circuito imobiliário. O terceiro está associado às funções do Estado: os gastos sociais em educação, saúde, segurança, administração, ciência e tecnologia. Quando há excedentes de capital que se desvalorizam no circuito primário produtivo, geram-se crises econômicas. Para amenizar os efeitos dessas crises, esse capital excedente é investido no circuito secundário ou imobiliário, isto é, na produção do espaço urbano. Em outras palavras, a produção do espaço urbano por meio do circuito imobiliário faz com que as cidades estejam em constante mutação, principalmente em momentos de pós-crise com investimento em infraestrutura e moradias. O espaço geográfico, para Souza (2013), pode ter diferentes escalas, a saber: internacional (global ou de um grupo de países); nacional; regional (por exemplo, macrorregiões, mesorregiões, microrregiões do IBGE e regiões metropolitanas); e local – macrolocal (ou da cidade ou do município), mesolocal (ou de uma região, setor, zona administrativa), microlocal (ou de um bairro), nanolocal (ou de um conjunto habitacional ou condomínio ou loteamento fechado). De forma semelhante, para Santos (1985) e Corrêa (1996), as escalas espaciais podem ser: global, nacional, regional e local. Por seu turno, Carlos (2011) menciona três escalas do urbano. A primeira, a escala do espaço mundial é a que “[...] aponta a direção da virtualidade do processo contínuo de reprodução e que aparece como tendência inexorável no horizonte das exigências da acumulação, ou seja, como projeto de construção de um espaço mundial” (CARLOS, 2011, p. 81). A segunda escala é a escala intermediária da metrópole, a “[...] mediação entre o local e o mundo” (CARLOS, 2011, p. 85). Enfim, há a escala local do lugar, onde: [...] vive-se a contradição principal (reveladora de outras) que funda o processo de produção do espaço: o processo de produção social do espaço em conflito com sua apropriação privada, posto que, numa sociedade fundada sobre a troca, a apropriação do espaço, ele próprio reduzido enquanto mercadoria (portanto ligado à forma 36 mercadoria), se reproduz sob lei do reprodutível (CARLOS, 2011, p. 83). Assim como Carlos (2011), para Corrêa (2011), existem também três escalas urbanas. A primeira é a escala da rede urbana, que abarca a rede urbana do espaço mundial ou global, além da rede urbana internacional de um grupo de países, a rede urbana nacional, e a rede urbana regional de um país ou, no caso do Brasil, de um estado federado. A segunda, a escala intermediária (regional) que engloba a os eixos urbanizados, as metrópoles, as megalópoles e, no caso do Brasil, as regiões metropolitanas, que se constituem “na rede urbana metamorfoseada em espaço intraurbano” (CORRÊA, 2011, p. 43). A terceira, a escala da cidade ou do espaço intraurbano, ou simplesmente do espaço urbano, que engloba a escala local (macrolocal, mesolocal, microlocal e nanolocal) do lugar. A produção do espaço urbano ocorre nessa escala local da cidade e na escala intermediária das regiões metropolitanas, onde a rede urbana se metamorfoseia em espaço urbano. As regiões metropolitanas, no Brasil, foram instituídas pela Lei complementar federal nº 14, de 8 de junho de 1973. A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, a criação das regiões metropolitanas ficou sob a responsabilidade dos estados federados. Na escala local do lugar ou da cidade e na escala intermediária da região metropolitana, o espaço urbano é produzido – construído, organizado e utilizado – por meio da convergência e divergência de processos. Estes processos urbanos se constituem em um conjunto de “[...] forças que atuam ao longo do tempo e que permitem localizações, relocalizações e permanência das atividades e população sobre o espaço urbano” (CORRÊA, 1996, p. 122). A fragmentação, a articulação, (des)centralização, a (des)concentração,a coesão ou especialização, a (autos)segregação, a invasão-sucessão e a cristalização são alguns dos processos urbanos elencados por Corrêa (1996). De modo complementar, Vasconcelos (2013) elenca mais processos urbanos: diferenciação, justaposição, separação, dispersão, divisão, exclusão, inclusão, dessegregação, fortificação, polarização, dualização, gentrificação, marginalização e periferização. Acrescentamos aos referidos autores, o processo urbano de verticalização. 37 Os processos urbanos são sociais e, por isso, também “[..] são espaciais” (HARVEY, 1980, p. 3). Nessa perspectiva, um processo social que ocorre no espaço urbano é um processo socioespacial urbano. Os processos socioespaciais “[...] referem-se às relações sociais e ao espaço, simultaneamente (levando em conta a articulação dialética de ambos no contexto da totalidade social, mas preservando a individualidade de cada um)” (VASCONCELOS, 2013, p. 34). Nesse contexto, um processo socioespacial é um processo produzido pela sociedade e que tem uma dimensão espacial. O processo é “[...] uma ação contínua desenvolvendo-se em direção a um resultado qualquer, implicando conceitos de tempo (continuidade) e mudança” (SANTOS, 1985, p. 50). Os processos “[...] não ocorrem no espaço, mas definem seu próprio quadro espacial. O conceito de espaço está embutido ou é interno ao processo” (HARVEY, 2012, p. 12). Assim, em um contexto urbano específico, um processo é uma ação contínua (com algumas descontinuidades) no tempo histórico. Um processo carrega em si mesmo o quadro espacial, ou seja, a dinâmica econômica, política e social do espaço urbano no qual se insere, indo além das suas formas urbanas resultantes. Então, um conjunto de processos socioespaciais promovem a produção, e o transbordamento, do espaço urbano. De acordo Santos (1985), os agentes que produzem o espaço geográfico são: as firmas; as instituições; e as pessoas. Esses agentes constroem e organizam a infraestrutura (o meio construído), que é “[...] o trabalho humano materializado e geografizado na forma de casas, plantações, caminhos etc.” (SANTOS, 1985, p. 6). Eles também utilizam ou transformam, e até destroem, o meio ecológico, que é “[...] o conjunto de complexos territoriais que constituem a base física do trabalho humano” (SANTOS, 1985, p. 6). De forma semelhante, para Corrêa (1996) esses agentes da produção do espaço são: as empresas; as instituições do Estado; e os grupos sociais. Na mesma linha de pensamento dos autores citados, Carlos (2011) afirma que esses agentes são: os capitalistas (industriais, comerciais, imobiliários e financeiros); o Estado; e os sujeitos sociais. Segundo Harvey (1980), os agentes do mercado de moradias e, consequentemente, agentes da produção do espaço urbano são: os usuários de moradia; os corretores de imóveis; os proprietários; os incorporadores; as instituições financeiras; e as instituições governamentais. Seguindo essa linha de 38 raciocínio, segundo Capel (1983), esses agentes do espaço urbano são: os proprietários dos meios de produção; os proprietários de terras; os promotores imobiliários e empresas de construção; e os organismos públicos. Os agentes da produção do espaço urbano são aqueles que têm “[...] capacidade para intervir na construção da cidade” (CAPEL, 2013, p. 17, tradução nossa). Eles podem atuar de forma direta: aqueles agentes “[...] que edificam realmente e colaboram no processo de transformação do solo e no lançamento ao mercado (construtores e promotores imobiliários)” (CAPEL, 2013, p. 17, tradução nossa). Como também, podem atuar de forma indireta, sendo aqueles agentes: [...] que demandam determinados tipos de edifícios para usos diversos (por exemplo, empresários industriais que decidem a construção de uma fábrica, ou empresas que requerem edifícios de escritórios); também os proprietários que tomam decisões sobre se vendem o solo para uso urbano ou conservam seu uso rural, e os financistas que concedem ou não os capitais ou créditos necessários (CAPEL, 2013, p. 17, tradução nossa). Podemos resumir, de acordo com Vasconcelos (2011), que os agentes da produção do espaço urbano são: econômicos, políticos e sociais. Nessa perspectiva, os agentes econômicos da produção do espaço são: os proprietários de terras e de imóveis (capitalistas fundiários e capitalistas rentistas); os proprietários dos meios de produção (capitalistas industriais e capitalistas comerciais); incorporadores e promotores imobiliários que também estão associados ou são empresas de construção e corretores de imóveis (capitalistas imobiliários); e as firmas ou as empresas financeiras (capitalistas financeiros). Já os agentes políticos são: as instituições governamentais e os organismos públicos que representam o Estado. Enquanto os agentes sociais, por exemplo, são: as pessoas; os grupos sociais; os sujeitos sociais (indivíduos); os compradores; e os moradores. Os agentes econômicos, quando dominantes são privados, formais, legalizados e visíveis no mercado. Também são móveis e centrais, atuando em várias cidades do país ou do mundo, geralmente externos ao lugar, ativos, normalmente estáveis, difusores de ideologias, articulados principalmente com os agentes políticos. Por outro lado, quando os agentes econômicos não são dominantes, tendem a ser informais, ilegais, invisíveis no mercado, imóveis e periféricos, atuando apenas em uma pequena de uma cidade, frequentemente são 39 do próprio lugar, passivos, instáveis, receptores de ideologias, não articulados com os agentes políticos (VASCONCELOS, 2011). Os agentes políticos são públicos, intermediários, favorecendo, principalmente, por meio de investimentos em infraestruturas e por meio da legislação, os agentes, econômicos e sociais, dominantes. Em menor grau, ou raramente, favorecem os agentes, econômicos e sociais, dominados (VASCONCELOS, 2011). Na maioria dos casos, os agentes dominantes e não dominantes são, por seus interesses, contraditórios e conflitantes entre si, assim, os agentes políticos devem organizar o espaço minimizando os conflitos de interesses entre eles. Porém, na maioria das vezes, esses agentes atendem ao interesse dos agentes dominantes, deixando de lado, assim, as necessidades básicas dos agentes sociais, como os investimentos públicos em educação, saúde, segurança e infraestrutura. Dessa maneira, os agentes sociais podem ser agentes dominantes, visíveis, centrais, ativos, difusores de ideologias, articulados com os agentes econômicos e políticos, geralmente reformistas e conservadores das relações sociais capitalistas. De forma oposta, os agentes sociais podem ser excluídos do direito de propriedade imobiliária, sendo dominados, invisíveis, periféricos, passivos, receptores de ideologias, desarticulados com os demais agentes. Porém, algumas vezes, deixam a passividade para serem agentes construtores (nos casos das favelas), transformadores, quiçá revolucionários, da realidade social quando lutam pela reforma urbana (VASCONCELOS, 2011). Cada um desses agentes exerce estratégias e práticas socioespaciais específicas dentro de um mesmo processo socioespacial. Para Corrêa (2007, p.68), as estratégias e práticas socioespaciais “[...] constituem ações espacialmente localizadas, engendradas por agentes sociais concretos, visando a objetivar seus projetos específicos” (CORRÊA, 2007, p. 68). O referido autor complementa que, um único agente pode ter estratégias distintas, assim como diferentes agentes podem ter práticas socioespaciais semelhantes, ou seja, um agente social pode em determinado momento ser um agente político ou econômico, ou ainda um agente político pode exercer o papel de agente econômico (CORRÊA, 2011). Lefebvre afirma que a prática espacial “[...] consiste em uma projeção ‘sobre o terreno’ de todos os aspectos, elementos e momentos
Compartilhar