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ThiagoAugustoNogueiraDeQueiroz-TESE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES – CCHLA 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA – PPGE 
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: 
DINÂMICA SOCIOAMBIENTAL E REESTRUTURAÇÃO DO TERRITÓRIO 
LINHA DE PESQUISA: DINÂMICA URBANA E REGIONAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TRANSBORDAMENTO DO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO DE NATAL 
PARA O MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM-RN 
 
 
 
 
 
 
 
 
THIAGO AUGUSTO NOGUEIRA DE QUEIROZ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL-RN 
2020 
THIAGO AUGUSTO NOGUEIRA DE QUEIROZ 
 
 
 
 
 
 
 
O TRANSBORDAMENTO DO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO DE NATAL 
PARA O MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM-RN 
 
 
 
 
 
 
 
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação e Pesquisa em Geografia 
(PPGe) do Centro de Ciências Humanas 
Letras e Artes (CCHLA) da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) 
como pré-requisito para a obtenção do 
título de doutor. 
 
Orientador: Professor Doutor Ademir 
Araújo da Costa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL-RN 
2020 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de 
Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA 
 
Queiroz, Thiago Augusto Nogueira de. 
 O transbordamento do processo de verticalização de Natal para o município 
de Parnamirim-RN / Thiago Augusto Nogueira de Queiroz. - Natal, 2020. 
 207f.: il. color. 
 
 Tese (doutorado) - Centro de Ciência Humanas, Letras e Artes, Programa 
de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte, 2020. 
 Orientador: Prof. Dr. Ademir Araújo da Costa. 
 
 
 1. Transbordamento urbano - Tese. 2. Processo de verticalização - Tese. 3. 
Natal - Tese. 4. Parnamirim - Tese. 5. Nova Parnamirim – Tese. I. Costa, 
Ademir Araújo da. II. Título. 
 
RN/UF/BS-CCHLA CDU 711.4(813.2) 
 
 
 
Elaborado por Heverton Thiago Luiz da Silva - CRB-15/710 
THIAGO AUGUSTO NOGUEIRA DE QUEIROZ 
 
O TRANSBORDAMENTO DO PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO DE NATAL 
PARA O MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM-RN 
 
 
Tese de Doutorado apresentada na 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
(UFRN), Centro de Ciências Humanas Letras e 
Artes (CCHLA), Programa de Pós-Graduação e 
Pesquisa em Geografia (PPGe), área de 
concentração Dinâmica Socioambiental e 
Reestruturação do Território, Linha de 
Pesquisa Dinâmica Urbana e Regional. 
 
Natal, 03 de setembro de 2020. 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
 
 
Prof. Dr. Ademir Araújo da Costa (Orientador) 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
 
 
 
Prof.ª Dra. Ione Rodrigues Diniz Morais (Avaliadora Interna ao Programa) 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
 
 
 
Prof. Dr. Alexsandro Ferreira C. da Silva (Avaliador Externo ao Programa) 
Departamento de Políticas Públicas - UFRN 
 
 
 
Prof. Dr. Ricardo Luiz Töws (Avaliador Externa à Instituição) 
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná - IFPR 
 
 
 
Prof.ª Dra. Beatriz Ribeiro Soares (Avaliadora Externa à Instituição) 
Universidade Federal de Uberlândia - UFU 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Agradeço a Deus criador do Universo e desse pequeno grão de poeira 
cósmica chamado de planeta Terra, que é constituído, em sua superfície, pelo nosso 
espaço geográfico. Agradeço por existir e pelas oportunidades que me foram dadas 
para que eu me tornasse filho, esposo, doutorando em Geografia e professor de 
Geografia na rede pública de ensino do estado do Rio Grande do Norte e do 
município de Parnamirim-RN. 
Agradeço à minha esposa Bárbara Coutinho pela paciência, companhia e 
compreensão nos momentos mais difíceis do projeto, da pesquisa e da escrita da 
tese. Agradeço por todos os momentos felizes que me proporciona para assim 
esquecer um pouco o árduo trabalho de pesquisar e de ensinar e por tornar leve o 
fardo da vida cotidiana. Como também, agradeço pela ajuda nos registros 
fotográficos que ilustram essa tese e pela ajuda nas entrevistas da pesquisa de 
campo. 
Agradeço aos meus pais - Cassemiro Queiroz e Vanilde Nogueira. Ele me 
ensinou a ser pontual, responsável, organizado e comprometido com meu trabalho, 
seja o de pesquisador de doutorado, seja o de professor do Ensino Básico. Ela me 
ensinou a ser calmo, tranquilo e a ter paciência para enfrentar as adversidades e os 
momentos mais difíceis da vida. 
Agradeço ao meu orientador Ademir Araújo, um professor e amigo que me 
acompanha desde a graduação, desde a época em que ele era meu tutor no 
Programa de Educação Tutorial (PET). Nesses últimos anos, orientou-me no 
doutorado, conversando sobre a tese e sobre a vida, publicando artigos e livros 
comigo e com outros orientandos, compreendendo meus limites para a execução da 
pesquisa, lendo e dando dicas para melhorar o trabalho como um todo. 
Agradeço às professoras: Ione Rodrigues, representando todos os 
professores do PPGe da UFRN, pelo acompanhamento do desenvolvimento da tese, 
desde os colóquios e seminários, passando pela qualificação de doutorado, até o 
momento da defesa; Maria Eugênia, pelas contribuições na qualificação; e Beatriz 
Ribeiro, pelas contribuições na defesa. Agradeço, também, aos professores 
Alexsandro Ferreira e Ricardo Luiz, que contribuíram na defesa. 
Agradeço à Ana Clara pela elaboração dos mapas que ilustrou e tornou mais 
rico o texto da tese. Ao conterrâneo e amigo que a Geografia me proporcionou: 
Eduardo Nascimento pelas conversas acadêmicas e políticas, em sua maioria, nas 
redes sociais. Enfim, agradeço aos moradores dos edifícios altos do bairro de 
Nova Parnamirim, pelas entrevistas concedidas e respondidas. Para todos aqueles 
que de alguma forma contribuíram com esse trabalho: MUITO OBRIGADO! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cidade grande, moça bela / Tu tens o cheiro da ilusão 
Quem passou na tua janela / Já conheceu a solidão 
 
Cidade grande / Chaminé de gasolina 
Foi minha sina / Nos teus braços vir parar 
Tua grandeza / Me levou a um delírio 
Feito um colírio / Clareando o meu olhar 
 
Cidade grande / Paraíso da loucura 
Quem te procura / Feito eu vim te procurar 
Sofre um bocado / Pra entender o teu mistério 
Falando sério / Foi difícil acostumar 
 
Cidade grande, moça bela / Tu tens o cheiro da ilusão 
Quem passou na tua janela / Já conheceu a solidão 
 
Teu movimento / Eu comparei a um formigueiro 
De tão ligeiro / Comecei a imaginar 
Meu Deus do céu / Como é que a felicidade 
Nessa cidade / Acha um espaço pra morar 
 
Minha tristeza / Rejeitou tua alegria 
Num belo dia / Quando eu pude perceber 
Que o progresso / É que faz do teu dinheiro 
Um cativeiro / Onde se mata pra viver 
 
Cidade grande, moça bela / Tu tens o cheiro da ilusão 
Quem passou na tua janela / Já conheceu a solidão 
 
Quando eu olhei / A água preta do teu rio 
Um calafrio / Me subiu ao coração 
Fiquei com medo / De algum dia o oceano 
Achar um plano / E se vingar na traição 
 
Cidade grande / Se tu fosses minha um dia 
Eu te mostraria / Como a abelha faz o mel 
Mas quem sou eu / Apenas um simples poeta 
Que vê a vida / Com os olhos para o céu 
 
Cidade grande, moça bela / Tu tens o cheiro da ilusão 
Quem passou na tua janela / Já conheceu a solidão 
 
(Cidade Grande – Petrúcio Amorim) 
RESUMO 
 
A verticalização urbana é um processo socioespacial inserido em uma estrutura 
econômica, política e cultural, em tempos históricos e espaços geográficos 
diferentes, resultando em formas urbanas verticais, podendo ter funções 
residenciais, ou terciárias, ou mistas, com diferentes representações socioespaciais. 
O processo de verticalização em Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte-
RN, teve início na década de 1970 e se expandiu nas décadas seguintes. Na década 
de 1980 começou a ocorrer o transbordamento urbano de Natal para os municípios 
vizinhos: Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Extremoz. Já o 
processo de verticalizaçãoem Parnamirim, na Região Metropolitana de Natal, ocorre 
de forma mais intenso no bairro de Nova Parnamirim. Tal fato nos levou a perguntar: 
o processo de verticalização em Nova Parnamirim é produto do transbordamento 
urbano de Natal? A partir dessa indagação objetivamos compreender o 
transbordamento do processo de verticalização de Natal para o bairro de Nova 
Parnamirim, apreendendo o transbordamento urbano e o processo de verticalização, 
conhecendo o transbordamento do processo de verticalização de Natal para o 
município de Parnamirim, entendendo o processo de verticalização percebido no 
bairro, e sabendo sobre o processo de verticalização relacional em Nova 
Parnamirim. Para atingir esses objetivos, realizamos uma pesquisa bibliográfica, 
uma pesquisa documental e uma pesquisa de campo. Os resultados mostraram que 
o transbordamento do processo de verticalização de Natal para Parnamirim teve 
início na década de 1990, e continua de maneira mais intensa em Nova Parnamirim. 
A verticalização urbana percebida em Nova Parnamirim tem duas fases. Em sua 
primeira fase (1997-2008), a verticalização desse bairro se caracterizou pela 
construção arquitetônica de edifícios altos sem apartamentos na cobertura e sem 
apartamentos no térreo. Nessa fase, também houve a unanimidade da participação 
de incorporadoras locais, com sede em Natal. Na segunda fase (2008-2020) da 
verticalização do bairro de Nova Parnamirim, os edifícios altos passaram a ser 
construídos com apartamentos duplex na cobertura e com apartamentos no térreo. 
Além disso, nessa segunda fase, houve uma participação expressiva de 
incorporadoras internacionais, além de incorporadoras nacionais com capitais 
estrangeiros. Nessa segunda fase, também ocorreu a descentralização do terciário 
moderno de Natal que transbordou para Nova Parnamirim, onde se instalaram 
shopping centers, strip malls, praças de food trucks, redes nacionais e internacionais 
de hipermercados, supermercados, lojas de departamentos e filiais de lojas locais 
nas principais avenidas – Abel Cabral, Maria Lacerda e Ayrton Senna. Sobre a 
verticalização urbana relacional, os incorporadores imobiliários representam e 
concebem em seus panfletos de publicidade e propaganda o bairro de Nova 
Parnamirim como sendo “Zona Sul” de Natal. Por sua vez, os moradores dos 
edifícios altos concebem, na compra ou aluguel do apartamento, o uso das áreas de 
lazer do condomínio, mas, na maioria dos casos, não as vivenciam. Esses 
moradores vivenciam e utilizam com uma média e alta intensidade o espaço urbano 
de Natal e do próprio bairro, utilizando com pouca intensidade, ou não, o espaço 
urbano de Parnamirim. Assim, comprovamos a hipótese levantada de que o 
processo de verticalização em Nova Parnamirim é produto do transbordamento 
urbano de Natal para o município de Parnamirim. 
 
Palavras-chave: Transbordamento urbano; Processo de verticalização; Natal (RN); 
Parnamirim; Nova Parnamirim. 
ABSTRACT 
 
Urban verticalization is a socio-spatial process inserted in an economic, political and 
cultural structure, in different historical times and geographical spaces, resulting in 
vertical urban forms, which may have residential, or tertiary, or mixed functions, with 
different socio-spatial representations. The verticalization process in Natal, capital of 
the state of Rio Grande do Norte (RN - Brazil), began in the 1970s and expanded in 
the following decades. In the 1980s, the urban overflow of Natal began to occur in 
the neighboring municipalities: Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante and 
Extremoz. The verticalization process in Parnamirim, in the Metropolitan Region of 
Natal, is more intense in the district of Nova Parnamirim. This fact led us to ask: is 
the verticalization process in Nova Parnamirim a product of the urban overflow in 
Natal? From this question we aim to understand the overflow of the verticalization 
process from Natal to the district of Nova Parnamirim, apprehending the urban 
overflow and the verticalization process, knowing the overflow of the Natal 
verticalization process for the municipality of Parnamirim, understanding the process 
of verticalization perceived in the district, and knowing about the process of relational 
verticalization in Nova Parnamirim. To achieve these objectives, we conducted a 
bibliographic search, a documentary search and a field research. The results showed 
that the overflow of the verticalization process from Natal to Parnamirim started in the 
1990s, and continues more intensely in Nova Parnamirim. The urban verticalization 
perceived in Nova Parnamirim has two phases. In its first phase (1997-2008), the 
verticalization of this district was characterized by the architectural construction of tall 
buildings without apartments on the roof and without apartments on the ground floor. 
In this phase, there was also the unanimous participation of local developers, based 
in Natal. In the second phase (2008-2020) of the verticalization of the Nova 
Parnamirim disctrict, the tall buildings started to be built with duplex apartments on 
the roof and with apartments on the ground floor. In addition, in this second phase, 
there was an expressive participation of international developers, in addition to 
national developers with foreign capital. In this second phase, there was also the 
decentralization of the modern tertiary of Natal that overflowed to Nova Parnamirim, 
where shopping centers, strip malls, food truck squares, national and international 
hypermarket chains, supermarkets, department stores and local store branches were 
installed. on the main avenues - Abel Cabral, Maria Lacerda and Ayrton Senna. 
Regarding urban relational verticalization, real estate developers represent and 
conceive the Nova Parnamirim as district of Natal's “South Zone” in their advertising 
pamphlets. In turn, the residents of tall buildings conceive, when buying or renting the 
apartment, the use of the leisure areas of the condominium, but, in most cases, they 
do not experience them. These residents experience and use the urban space of 
Natal and the district itself with medium and high intensity, using the urban space of 
Parnamirim with little or no intensity. Thus, we prove the hypothesis raised that the 
verticalization process in Nova Parnamirim is the product of the urban overflow from 
Natal to the municipality of Parnamirim. 
 
Keywords: urban overflow; verticalization process; Natal (RN – Brazil); Parnamirim; 
district Nova Parnamirim. 
 
 
 
 
RESUMEN 
 
La verticalización urbana es un proceso socioespacial insertado en una estructura 
económica, política y cultural, en diferentes épocas históricas y espacios 
geográficos, dando lugar a formas urbanas verticales, que pueden tener funciones 
residenciales, terciarias o mixtas, con diferentes representaciones socioespaciales. 
El proceso de verticalización en Natal, capital del estado de Rio Grande do Norte 
(RN – Brasil), se inició en la década de 1970 y se expandió en las décadas 
siguientes. En la década de 1980, el desbordamiento urbano de Natal comenzó a 
ocurrir en los municipios vecinos: Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante y 
Extremoz. El proceso de verticalización en Parnamirim, en la Región Metropolitana 
de Natal, es más intenso en el barrio de Nova Parnamirim. Este hecho nos llevó a 
preguntarnos: ¿el proceso de verticalización en Nova Parnamirim es producto del 
desborde urbano en Natal? A partir de esta pregunta pretendemos comprender el 
desbordamiento del proceso de verticalización de Natal al barrio de Nova 
Parnamirim, aprehendiendo el desborde urbano y el proceso de verticalización, 
conociendo el desborde del proceso de verticalización de Natal para el municipio de 
Parnamirim, entendiendo el proceso de verticalización percibida en el barrio, y 
conocer el proceso de verticalización relacional en Nova Parnamirim. Para lograr 
estos objetivos, realizamos una búsqueda bibliográfica, una búsqueda documental y 
una investigación de campo.Los resultados mostraron que el desbordamiento del 
proceso de verticalización de Natal a Parnamirim comenzó en la década de 1990 y 
continúa con mayor intensidad en Nova Parnamirim. La verticalización urbana 
percibida en Nova Parnamirim tiene dos fases. En su primera fase (1997-2008), la 
verticalización de este barrio se caracterizó por la construcción arquitectónica de 
edificios altos sin departamentos en la azotea y sin departamentos en la planta baja. 
En esta fase, también se contó con la participación unánime de los desarrolladores 
locales, con base en Natal. En la segunda fase (2008-2020) de la verticalización del 
barrio de Nova Parnamirim, se empezaron a construir los edificios altos con 
apartamentos dúplex en la azotea y apartamentos en la planta baja. Además, en 
esta segunda fase, hubo una participación expresiva de desarrolladores 
internacionales, además de desarrolladores nacionales con capital extranjero. En 
esta segunda fase, también se produjo la descentralización del terciario moderno de 
Natal que se desbordó hacia Nova Parnamirim, donde se instalaron centros 
comerciales, strip malls, plazas de food truck, cadenas de hipermercados nacionales 
e internacionales, supermercados, grandes almacenes y sucursales de tiendas 
locales. sobre las principales avenidas - Abel Cabral, Maria Lacerda y Ayrton Senna. 
En cuanto a la verticalización relacional urbana, los promotores inmobiliarios 
representan y conciben el barrio Nova Parnamirim en la “Zona Sul” de Natal en sus 
folletos publicitarios. A su vez, los vecinos de edificios altos conciben, al comprar o 
alquilar el apartamento, el uso de las áreas de esparcimiento del condominio, pero, 
en la mayoría de los casos, no las experimentan. Estos residentes experimentan y 
utilizan el espacio urbano de Natal y el propio barrio con intensidad media y alta, 
utilizando el espacio urbano de Parnamirim con poca o ninguna intensidad. Así, 
probamos la hipótesis planteada de que el proceso de verticalización en Nova 
Parnamirim es producto del desbordamiento urbano de Natal al municipio de 
Parnamirim. 
 
Palabras clave: desbordiamento urbano; proceso de verticalización; Natal (RN - 
Brasil); Parnamirim; barrio Nova Parnamirim. 
LISTA DE FIGURAS 
Página 
 
Figura 1 – Escalas e agentes da produção e do transbordamento do 
espaço urbano. ............................................................................................................... 42 
 
Figura 2 – Estruturas, formas e funções do processo socioespacial 
de verticalização urbana. ..................................................................................... 48 
 
Figura 3 – As escalas das estratégias e práticas dos agentes do 
processo de verticalização urbana. ...................................................................... 56 
 
Figura 4– O processo de verticalização percebido, concebido e 
vivido. ................................................................................................................... 64 
 
Figura 5 – Processo socioespaciais urbanos que convergem com a 
verticalização ........................................................................................................ 69 
 
Figura 6 – Panfleto do Residencial Rota do Sol, incorporado pela 
CNH. .................................................................................................................... 108 
 
Figura 7 – Panfleto do Residencial Bossa Nova, destacando o 
espaço absoluto. .................................................................................................. 155 
 
Figura 8 – Panfleto do Residencial Bossa Nova, destacando o 
espaço relativo. .................................................................................................... 156 
 
Figura 9 – Panfleto do Residencial Novo Sttilo, destacando o espaço 
absoluto. ............................................................................................................... 157 
 
Figura 10 – Panfleto do Residencial Top Life, destacando o espaço 
relativo. ................................................................................................................. 159 
 
Figura 11 – Panfleto de vários empreendimentos da MRV. ................................. 160 
 
Figura 12 – Panfleto do Residencial Vivenda dos Mares, destacando 
o espaço absoluto. ............................................................................................... 161 
 
Figura 13 – Panfleto do Residencial Vivenda dos Mares, destacando 
o espaço relativo. ................................................................................................. 162 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FOTOS 
 
Página 
 
Foto 1 - Edifício da Previdência Social, bairro Tirol. ............................................. 77 
 
Foto 2 – Edifício Salmar, bairro Cidade Alta......................................................... 78 
 
Foto 3 – Edifícios residenciais Parque das Palmeiras, bairro Lagoa Nova. ......... 82 
 
Foto 4 – Edifício Residencial Guilhermina Soares, bairro N. Sra. de Nazaré. ...... 85 
 
Foto 5 – Condomínio Residencial Riverside, bairro Redinha. .............................. 87 
 
Foto 6 – Edifício Mirante João Olímpio Filho, bairro Ribeira. ............................... 88 
 
Foto 7 – Residencial Pirangi, distrito litorâneo de Pirangi do Norte. ..................... 97 
 
Foto 8 – Residencial Uruaçu I, avenida Abel Cabral, bairro Nova Parnamirim. ... 97 
 
Foto 9 – Residenciais Flórida Gardens e Califórnia Gardens, avenida Ayrton 
Senna, bairro Nova Parnamirim. .......................................................................... 98 
 
Foto 10 – Residencial Corais de Cotovelo, distrito litorâneo de Cotovelo. ........... 99 
 
Foto 11 – Edifício Arara, Residencial Amazônia, bairro Emaús ........................... 103 
 
Foto 12 – Residencial Rota do Sol, distrito litorâneo de Pium. ............................. 108 
 
Foto 13 – Difference Club Residencial, bairro Boa Esperança............................. 112 
 
Foto 14 – Residencial Campos do Cerrado, avenida Gastão Mariz de Faria. ...... 119 
 
Foto 15 – Residencial Parque Itatiaia, avenida Gastão Mariz de Faria. ............... 119 
 
Foto 16 – Residencial Sun Familly, avenida Abel Cabral. .................................... 120 
 
Foto 17 – Residencial Sun Happy, avenida Abel Cabral. ..................................... 121 
 
Foto 18 – Residencial Spazio Senna, avenida Ayrton Senna. ............................. 122 
 
Foto 19 – Residencial Uruaçu IV, avenida Abel Cabral. ....................................... 123 
 
Foto 20 – Residencial Holambra, avenida Gastão Mariz de Faria. ...................... 124 
 
Foto 21 – Residencial Park Towers, avenida Adail Pamplona Menezes. ............. 124 
 
Foto 22 – Residencial Bellavista Ponta Negra, avenida Gastão Maria de Faria. . 125 
 
Foto 23 – Residencial Sirius, avenida Abel Cabral. .............................................. 127 
 
Foto 24 – Residencial Atmosfera, avenida Abel Cabral. ...................................... 128 
 
Foto 25 – Residencial Panamericano, avenida Maria Lacerda Montenegro. ....... 128 
 
Foto 26 – Residencial Vivenda dos Mares (torre ao fundo), avenida Maria 
Lacerda Montenegro. ........................................................................................... 129 
 
Foto 27 – Nimbus Residence, avenida Abel Cabral. ............................................ 136 
 
Foto 28 – Residencial Spazio Nautilus, avenida Abel Cabral. .............................. 136 
 
Foto 29 – Residencial Top Life, avenida Maria Lacerda Montenegro. ................. 137 
 
Foto 30 – Stillo Club Residence, avenida Abel Cabral. ........................................ 140 
 
Foto 31 – Novo Stillo Home Club, avenida Maria Lacerda Montenegro. .............. 140 
 
Foto 32 – Certto Home Club, vizinho ao Novo Stillo. ........................................... 141 
 
Foto 33 – Residencial Aquarelle, avenida Abel Cabral. ....................................... 142Foto 34 – Residencial Bossa Nova, avenida Gastão Mariz de Faria. ................... 143 
 
Foto 35 – Residencial Vila Verde, BR-101. .......................................................... 144 
 
Foto 36 – Residenciais Renaissances Libertè e Avant, avenida Abel Cabral. ..... 145 
 
Foto 37 – Residencial Renaissance Premiere, vizinho ao Uruaçu IV ................... 145 
 
Foto 38 – Residencial Lélia, avenida Mahatman Ghandi ..................................... 146 
 
Foto 39 – Residencial Monte Real, vizinho ao Parque Itatiaia ............................. 147 
 
Foto 40 – Residencial Harmonique, avenida Maria Lacerda Montenegro. ........... 148 
 
Foto 41 – Faixa de protesto no Residencial Novo Sttilo. ...................................... 158 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Página 
 
Gráfico 1 – Número de formulários aplicados por setor da verticalização 
em Nova Parnamirim. ........................................................................................... 165 
 
Gráfico 2 – Faixa etária dos moradores entrevistados dos edifícios altos 
em Nova Parnamirim. ........................................................................................... 166 
 
Gráfico 3 – Faixa de renda dos moradores entrevistados dos edifícios 
altos em Nova Parnamirim. .................................................................................. 166 
 
Gráfico 4 – Número de pessoas com quem residem os moradores 
entrevistados dos edifícios altos em Nova Parnamirim. ....................................... 168 
 
Gráfico 5 – Frequência com que os moradores entrevistados dos edifícios 
altos em Nova Parnamirim utilizam os espaços de lazer do condomínio. ............ 169 
 
Gráfico 6 – Principal meio de transporte utilizado pelos moradores 
entrevistados de edifícios altos em Nova Parnamirim. ......................................... 171 
 
Gráfico 7 – Principais problemas do bairro de Nova Parnamirim 
apresentados pelos moradores entrevistados dos edifícios altos. ....................... 172 
 
Gráfico 8 – Preferências dos moradores entrevistados de edifícios altos 
em Nova Parnamirim. ........................................................................................... 179 
 
Gráfico 9 – Local de origem dos moradores entrevistados dos edifícios 
altos em Nova Parnamirim. .................................................................................. 183 
 
Gráfico 10 – Local de trabalho dos moradores entrevistados dos edifícios 
altos em Nova Parnamirim. .................................................................................. 185 
 
Gráfico 11 – Espaços de Natal utilizados pelos moradores entrevistados 
de edifícios altos em Nova Parnamirim. ............................................................... 188 
 
Gráfico 12 – Espaços de Nova Parnamirim utilizados por moradores 
entrevistados dos edifícios altos no bairro. .......................................................... 190 
 
Gráfico 13 – Espaços de Parnamirim (exceto Nova Parnamirim) utilizados 
pelos moradores entrevistados de edifícios altos em Nova Parnamirim. ............. 193 
 
Gráfico 14 – Município onde os moradores entrevistados dos edifícios 
altos em Nova Parnamirim consideram morar. .................................................... 195 
 
 
 
 
 
LISTA DE MAPAS 
 
Página 
 
Mapa 1- Localização do bairro de Nova Parnamirim. ........................................... 21 
 
Mapa 2 – Localização dos condomínios com edifícios altos em Nova 
Parnamirim. .......................................................................................................... 22 
 
Mapa 3 – Expansão urbana - Natal e Parnamirim – de 1980 a 2000. .................. 95 
 
Mapa 4 – A expansão do processo de verticalização de Natal e seu 
transbordamento para Parnamirim até 2010. ....................................................... 105 
 
Mapa 5 – Bairros de Parque do Pitimbu e Parque dos Eucaliptos. ...................... 115 
 
Mapa 6 – Setores do processo de verticalização em Nova Parnamirim. ............. 132 
 
Mapa 7 – Localização e distribuição dos condomínios com edifícios altos 
por fases (incorporados antes e depois de 2008) em Nova Parnamirim. ............. 134 
 
Mapa 8 – Localização das principais empresas de Nova Parnamirim. ................ 150 
 
Mapa 9 – Condomínios com edifícios altos por setor de Nova Parnamirim 
(2020). .................................................................................................................. 153 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE QUADROS 
 
Página 
 
Quadro 1 – Condomínios com edifícios altos incorporados em Parnamirim 
de 1994 a 2007. ................................................................................................... 109 
 
Quadro 2 – Linhas de ônibus e alternativos, empresas, dias, horários e 
número de viagens em Nova Parnamirim (2020). ................................................ 172 
 
Quadro 3 – Preço médio do apartamento em bairros de Natal (Região 
Administrativa) e de Parnamirim. ......................................................................... 186 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Página 
 
Tabela 1 – Natal - Número de habitantes, crescimento absoluto e relativo 
– de 1872 a 1950. ................................................................................................ 75 
 
Tabela 2 – Natal – Número de habitantes, crescimento absoluto e relativo 
– de 1950 a 2000. ................................................................................................ 83 
 
Tabela 3 – Parnamirim – Número de habitantes, crescimento absoluto e 
relativo – de 1960 a 2010. .................................................................................... 114 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE SIGLAS 
 
BNH – Banco Nacional de Habitação 
 
Bovespa – Bolsa de Valores de São Paulo 
 
Caern – Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte 
 
Catre – Centro de Aplicações Táticas e Recompletamento das Equipagens 
 
CBTU – Companhia Brasileira de Trens Urbanos 
 
CDI – Companhia de Desenvolvimento Industrial do Rio Grande do Norte 
 
CEF – Caixa Econômica Federal 
 
Cohab-RN – Companhia de Habitação Popular do Rio Grande do Norte 
 
CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas 
 
Cosern – Companhia Energética do Rio Grande do Norte 
 
Datanorte – Companhia de Processamento de Dados do Rio Grande do Norte 
 
DIN – Distrito Industrial de Natal 
 
DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte 
 
Emproturn – Empresa de Promoção e Desenvolvimento do Turismo do RN S.A. 
 
FAB – Força Aérea Brasileira 
 
FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço 
 
Fundhap – Fundação de Habitação Popular 
 
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
 
I PND – Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento 
 
II PND – Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento 
 
INSS – Instituto Nacional de Segurança Social 
 
Inocoop-RN – Instituto de Orientação à Cooperativas Habitacionais do RN 
 
IPE – Instituto de Previdência dos Servidores do Estado do RN 
 
IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas 
 
Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional 
 
PAC – Programa de Aceleração do Crescimento 
 
PEA – População Economicamente Ativa 
 
PIB – Produto Interno Bruto 
 
PMCMV – Programa Minha Casa Minha Vida 
 
Prodetur – Programa de Desenvolvimento do Turismo 
 
RN – Rio Grande do Norte 
 
SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo 
 
SFH – Sistema Financeiro de Habitação 
 
SFI – Sistema de Financiamento Imobiliário 
 
SFS – Sistema Financeiro de Saneamento 
 
Siduscon – Sindicato da Indústria da Construção Civil 
 
Sudene – Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste 
 
Telern – Telecomunicações do Rio Grande do Norte S.A. 
 
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande doNorte 
 
VLT – Veículo Leve sobre Trilhos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
Página 
 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 19 
 
2 O TRANSBORDAMENTO URBANO E O PROCESSO DE 
VERTICALIZAÇÃO ............................................................................................. 30 
 
2.1 A produção e o transbordamento do espaço urbano ..................................... 30 
 
2.2 O processo de verticalização do espaço urbano ............................................ 42 
 
2.3 A verticalização urbana percebida e relacional .............................................. 56 
 
3 O TRANSBORDAMENTO DA VERTICALIZAÇÃO URBANA DE NATAL 
PARA O MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM ............................................................. 73 
 
3.1 A pré-verticalização urbana em Natal ............................................................ 73 
 
3.2 O processo de verticalização de Natal ........................................................... 76 
 
3.3 A metropolização e o transbordamento da verticalização urbana de Natal .... 89 
 
4 O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO PERCEBIDO EM NOVA 
PARNAMIRIM ...................................................................................................... 113 
 
4.1 A pré-verticalização urbana em Nova Parnamirim ......................................... 113 
 
4.2 A primeira fase da verticalização urbana em Nova Parnamirim ..................... 117 
 
4.3 A segunda fase do processo de verticalização em Nova Parnamirim ............ 133 
 
5 O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO RELACIONAL EM NOVA 
PARNAMIRIM ...................................................................................................... 154 
 
5.1 A verticalização urbana concebida pelos incorporadores imobiliários ............ 154 
 
5.2 A verticalização urbana concebida pelos moradores dos edifícios altos ........ 164 
 
5.3 O espaço vivido pelos moradores dos edifícios altos ..................................... 182 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 196 
 
7 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 202 
 
 
 
19 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 A verticalização urbana é um processo socioespacial que tem uma 
determinada estrutura econômica, política e cultural em diferentes períodos 
históricos e em diferentes cidades. As formas urbanas verticais como os edifícios 
baixos, médios e altos, os arranha-céus, as supertorres e as megatorres são os 
produtos desse processo. Essas formas têm diferentes funções, podendo ser 
residenciais, comerciais, de serviços, de escritórios e mistas. O processo de 
verticalização, com suas estruturas, formas e funções, produzem também 
representações socioespaciais diferentes para indivíduos e grupos sociais diversos. 
 A verticalização urbana é um fenômeno de escala mundial e nacional, na 
medida em que existe em, praticamente, todos os países do mundo e em todas as 
metrópoles e cidades médias do Brasil. O processo de verticalização pode ocorrer 
em uma escala local, dentro dos limites de um município ou de uma cidade, como 
também, pode extrapolar esses limites, tendo uma escala metropolitana. O processo 
de verticalização vai além da construção restrita dos condomínios com edifícios 
verticais pelas incorporadoras imobiliárias, englobando também a organização do 
bairro e da cidade pelo Estado e a utilização dos espaços condominiais, do bairro e 
da cidade pelos moradores. 
 Nesse sentido, a verticalização urbana converge com a autossegregação dos 
moradores em seus apartamentos, em seus condomínios, dentro dos muros altos, 
com concertinas, cercas elétricas, câmeras de vigilância e guarita. Como também, 
converge com a fragmentação do espaço urbano, na qual nas proximidades dos 
condomínios verticais, nos principais eixos viários, são criados um conjunto de 
serviços modernos e lojas de departamento, supermercados, hipermercados, strip 
malls e shopping centers, voltados para um público de médio e alto poder aquisitivo. 
 O processo de verticalização pode ser, assim, percebido e relacional. A 
verticalização urbana percebida é aquela materializada no espaço, sendo a 
materialidade absoluta do condomínio com edifício vertical e a materialidade relativa 
das residências, comércios e serviços do entrono, no bairro. A verticalização urbana 
relacional é aquela concebida e vivida, ou seja, as representações socioespaciais 
dos condomínios verticais pelos incorporadores e moradores, como também, os 
espaços de representação vividos pelos moradores. 
20 
 
 O processo de verticalização na cidade de Natal, capital do estado do Rio 
Grande do Norte, começou na década de 1970 e se expandiu, nas últimas décadas, 
juntamente com o crescimento horizontal da cidade. Na década de 1980 começou a 
ocorrer o transbordamento da mancha urbana de Natal para os municípios vizinhos: 
Parnamirim, Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Extremoz. A metropolização da 
cidade de Natal não ocorreu por meio da conurbação da cidade polo com as cidades 
vizinhas, como acontece tradicionalmente. A metropolização de Natal ocorreu pelo 
transbordamento do centro principal para os municípios limítrofes. 
 No município de Parnamirim, na Região Metropolitana de Natal, notamos um 
processo de verticalização de forma mais intensa no bairro de Nova Parnamirim 
(Mapa 1), pois Parnamirim é constituído por 37 condomínios com edifícios altos, com 
10 pavimentos ou mais. Deste total, 29 estão localizados no bairro de Nova 
Parnamirim, construídos nas principais avenidas – Abel Cabral, Maria Lacerda 
Montenegro e Ayrton Senna – ou nas suas proximidades, nos último vinte anos e, 
mais intensamente, nos últimos dez anos, transformando a paisagem do bairro. 
(Mapa 2). 
A partir desse contexto, perguntamos: o processo de verticalização em Nova 
Parnamirim é produto do transbordamento urbano de Natal? Por que ocorre o 
processo de verticalização nesse bairro? Como ocorre esse processo? Quais são os 
agentes da produção do espaço que participam do processo de verticalização em 
Nova Parnamirim? Quais as escalas desses agentes? Quais as estratégias e 
práticas deles? 
Buscamos dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre Parnamirim 
e, especificamente, Nova Parnamirim. Observamos que nenhuma delas enfatizaram 
o processo de verticalização no município ou no bairro. Diante disso, nos instigamos 
a desenvolver uma pesquisa de doutorado, em Geografia, no âmbito do Programa 
de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
(UFRN), na área concentração “Dinâmica socioambiental e reestruturação do 
território”, e na linha de pesquisa “Dinâmica urbana e regional”, na medida em que o 
processo de verticalização nesse bairro faz parte da dinâmica de Natal e da Região 
Metropolitana, que reestrutura os territórios dos municípios de Natal e de 
Parnamirim. 
 
 
21 
 
 
 
Mapa 1- Localização do bairro de Nova Parnamirim. 
 
 
 
22 
 
Mapa 2 – Localização dos condomínios com edifícios altos em Nova Parnamirim. 
 
 
23 
 
Partiremos da seguinte hipótese, da resposta provisória aos questionamentos: 
o processo de verticalização em Nova Parnamirim é um produto do transbordamento 
urbano de Natal para o município de Parnamirim, por meio das estratégias e práticas 
socioespaciais de agentes econômicos como incorporadores imobiliários, de 
agentes políticos como o Estado, e de agentes sociais como os moradores 
proprietários e moradores inquilinos, que constroem, organizam e utilizam o espaço 
geográfico em diferentes escalas – internacionais, nacionais, regionais e locais. 
Portanto, o objetivo geral deste trabalho é compreender o transbordamento do 
processo de verticalização de Natal para o bairro de Nova Parnamirim. A partir dele 
objetivamos: apreender o transbordamento urbanoe o processo de verticalização; 
conhecer o transbordamento do processo de verticalização de Natal para o 
município de Parnamirim; entender o processo de verticalização percebido (absoluto 
e relativo) no bairro de Nova Parnamirim; e saber sobre o processo de verticalização 
relacional (concebido e vivido) em Nova Parnamirim. 
 Para atingir os objetivos da pesquisa, como metodologia, utilizamos a 
pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e a pesquisa de campo. A pesquisa 
bibliográfica é “[...] aquela desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído 
principalmente de livros e artigos científicos, [dissertações e teses]” (Gil, 2008, p. 
50). Nossa bibliografia consultada e lida foi dividida em dois blocos: trabalhos 
teóricos e empíricos sobre as escalas e os agentes da produção e do 
transbordamento do espaço urbano e do processo de verticalização no mundo e no 
Brasil; e pesquisas sobre a produção e transbordamento do espaço urbano e o 
processo de verticalização em Natal, Parnamirim e Nova Parnamirim. 
 Entre outros, destacamos os seguintes pensadores e suas principais obras 
sobre o espaço urbano: David Harvey (1980), Henri Lefebvre (2013), Horácio Capel 
(1983), Milton Santos (1985), Roberto Lobato Corrêa (1996), Marcelo Lopes de 
Souza (2013), Ana Fani Alessandri Carlos (2011) e Pedro de Almeida Vasconcelos 
(2011). Depois, sobre o processo de verticalização urbana podemos destacar a 
leitura das obras de: Ademir Araújo da Costa (2000), Maria Adélia Aparecida Souza 
(1994), Nadia Somekh (1997), Joseli Maria Silva (2000), Yane Almeida Diniz (2013) 
e César Miranda Mendes (2009). 
Sobre o espaço urbano e a verticalização de Natal apoiamo-nos nas obras de 
Ademir Araújo da Costa (2000), Edna Maria Furtado (2005) e Mariana de 
Vasconcelos Pinheiro (2011). Sobre o histórico do município de Parnamirim 
24 
 
utilizamos as contribuições de Carlos Peixoto (2003) e Giesta (2013). Por último, 
para entender a produção do espaço de Nova Parnamirim, nos respaldamos em 
Marta Turra (2003), Francisco Elói de Souza (2004) e Daniel Gustavo Batista Nicolau 
(2008). 
A segunda etapa da pesquisa se constituiu em uma pesquisa documental ou 
no levantamento de dados secundários. Se a pesquisa bibliográfica se apropria da 
análise de trabalhos já realizados, a pesquisa documental “[...] vale-se de materiais 
que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser 
reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa” (GIL, 2008, p.51). Os 
documentos consultados foram divididos em seis grupos: dados populacionais de 
Natal e Parnamirim; planos diretores de Natal e Parnamirim; panfletos com 
propaganda e publicidade dos empreendimentos com edifícios altos de Parnamirim; 
dados sobre as incorporações de condomínios residenciais com edifícios altos em 
Parnamirim; dados sobre valores médios de apartamentos de alguns bairros de 
Natal e de Parnamirim; e dados sobre as linhas de transporte coletivo em Nova 
Parnamirim. 
Os dados populacionais de Natal e Parnamirim foram adquiridos na internet, 
no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais precisamente 
no Sistema IBGE de Recuperação Automática (Sidra). Nesse banco de dados 
agregados conseguimos a quantidade populacional de Natal de 1872 até 2010 e de 
Parnamirim de 1960 até 2010. Com esses dados brutos, fizemos uma análise 
estatística e construímos tabelas sobre o número de habitantes, crescimento 
populacional absoluto por década e crescimento relativo por década. 
Entre os planos diretores, utilizamos o Plano Diretor de Natal de 1994, o 
Plano Diretor de Parnamirim de 2000 e o de 2013. Esses documentos foram 
adquiridos nos sites das respectivas prefeituras: Prefeitura Municipal de Natal e 
Prefeitura Municipal de Parnamirim. Analisamos nesses planos aqueles 
instrumentos urbanísticos que afetam diretamente o processo de verticalização, a 
saber: o gabarito, o zoneamento do adensamento, e a outorga onerosa do direito de 
construir. Focamos no papel desempenhado por esses instrumentos na proibição, 
restrição e até permissão da verticalização em ambos os municípios. 
O terceiro grupo de documentos, os panfletos, foram distribuídos pelas 
empresas nos semáforos de Natal e de Parnamirim, como também, foram 
distribuídos nos eventos de lançamento e de vendas de imóveis da Caixa 
25 
 
Econômica Federal, o Feirão da Caixa de 2017. Adquirimos esses panfletos e 
fizemos uma análise de seu conteúdo, as imagens, as palavras, as expressões. 
Esse procedimento serviu para que soubéssemos mais sobre o processo de 
verticalização concebido pelos incorporadores imobiliários, como também, foram 
importantes para entender o futuro processo de verticalização percebido em 
Parnamirim e em Nova Parnamirim. 
O quarto grupo de documentos, talvez o mais importante deles, foram os 
dados sobre as incorporações imobiliárias adquiridos no 1º Ofício de Notas de 
Parnamirim. Tivemos acesso aos arquivos do cartório, especificamente às pastas de 
incorporações e de destinações (reincorporações). Com o acesso a esses dados, 
construímos um quadro que contém o nome do condomínio residencial, o número de 
registro no cartório, o bairro do condomínio, a empresa incorporadora, o número de 
torres do condomínio, o número de pavimentos, o número de apartamentos por 
pavimento, o número de unidades habitacionais de cada condomínio. Como 
também, em alguns tivemos acesso aos nomes dos proprietários das terras 
adquiridas para que ocorresse a incorporação. 
O quinto grupo de dados foram adquiridos juntamente ao site Cafasy, antigo 
Properati, que monitora mensalmente o preço médio de aluguel e venda de imóveis 
– terrenos, casas e apartamentos – a partir da quantidade de quartos, por bairros e 
municípios brasileiros. Esses dados serviram para construir um quadro, mostrando 
que o valore médio dos apartamentos em Nova Parnamirim é menor que nos bairros 
da cidade de Natal. 
O sexto e último grupo de dados foram adquiridos junto ao aplicativo Moovit, 
no qual criamos um quadro com os dados sobre as linhas de ônibus, as empresas, 
os dias, os horários e o número de viagens no bairro de Nova Parnamirim. Esses 
dados serviram para relacionar com os problemas encontrados pela população em 
seu espaço vivido. 
A terceira fase foi a pesquisa de campo ou o levantamento de dados 
primários que “[...] procura muito mais o aprofundamento das questões propostas do 
que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis” 
(GIL, 2008, p. 57). Nessa pesquisa de campo fizemos três procedimentos: 
observação simples com registro fotográfico; entrevistas pautadas; e entrevistas 
estruturadas. 
26 
 
O primeiro procedimento de campo foi a observação, ou seja, “[...] o uso dos 
sentidos com vistas a adquirir os conhecimentos necessários para o cotidiano” (GIL, 
2008, p. 100). Entre os tipos de observação, utilizamos a observação simples que se 
entende como sendo “[...] aquela em que o pesquisador, permanecendo alheio à 
comunidade, grupo ou situação que pretende estudar, observa de maneira 
espontâneas os fatos que aí ocorrem” (GIL, 2008, p. 101). 
Observamos assim, o bairro de Nova Parnamirim cotidianamente, focando 
nos seus condomínios com edifícios altos e no entorno deles como escolas, centros 
comerciais, shoppings, supermercados, redes de fast food e placas de sinalização 
localização. Esse procedimento também nos possibilitou saber qual condomínio 
incorporado tinha sido, ou não, concluído. Essa observação foi acompanhada do 
registro fotográfico desses condomínios. 
O segundo e o terceiro procedimento de campo foram entrevistas que são 
técnicas nas quais “[...] o investigador se apresenta frente ao investigado [ou 
virtualmente via internet] e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos 
dados que interessam à investigação” (GIL, 2008, p. 109). Especificamente na 
segunda etapa do campo utilizamosentrevistas pautadas nas quais apresentam “[...] 
certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesse 
que o entrevistador vai explorando ao longo do seu curso” (GIL, 2008, p. 112). 
Essas entrevistas foram importantes para sairmos da “visão de sobrevoo”, isto 
é, [...] examinar os homens e os grupos sociais exclusiva ou quase exclusivamente 
‘de longe’, ‘à distância’” (SOUZA, 2011, p. 148). Assim, adentramos em seus 
apartamentos e condomínios fechados, mesmo que indiretamente como no caso das 
entrevistas estruturadas, mergulhamos em seus cotidianos no bairro de Nova 
Parnamirim e no espaço urbano de Natal. 
Nesse sentido, entrevistamos 10 moradores de edifícios altos com o objetivo 
de captar o espaço vivido por eles e as representações que esses espaços têm para 
eles. Assim, questionamos: onde nasceram, onde moraram, quais as vantagens e 
desvantagens de morar no respectivo condomínio, quais os pontos positivos e 
negativos de morar em Nova Parnamirim, além de saber o que eles frequentam no 
bairro, em Natal e em Parnamirim e se desejam ou não deixar de morar em 
apartamento ou se desejam ou não morar na capital potiguar. 
Para não serem identificados, modificamos os nomes verdadeiros dos 
entrevistados para pseudônimos. Dessa maneira, entrevistamos: Eva do Nimbus (55 
27 
 
anos); Adão do Atmosfera (35 anos); Joaquim do Sirius (50 anos); Ana do Stillo (39 
anos), Maria do Sun Familly (39 anos); José do Aquarelle (35 anos); Sara do Sun 
Happy (19 anos); Marta do Nautilus (48 anos); sua irmã Maria do Nautilus (28 anos); 
e o João do Vila Verde (21 anos). As respostas dos entrevistados não podem ser 
generalizadas e serviram apenas para exemplificar, com mais detalhes, a vida 
cotidiana no bairro e no espaço urbano de Natal e exemplificar os resultados das 
entrevistas estruturadas. 
A terceira e última etapa da pesquisa de campo foi a aplicação de 150 
formulários, via redes sociais virtuais, com os moradores dos edifícios altos de Nova 
Parnamirim. Esse procedimento também é denominado de entrevista estruturada e 
se constitui em uma técnica de pesquisa na qual “[...] desenvolve-se a partir de uma 
relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanece invariável para todos os 
entrevistados, que geralmente são em grande número” (GIL, 2008, p. 113). 
A amostragem dessa entrevista estruturada é não probabilística pois “não 
apresenta fundamentação matemática ou estatística, dependendo unicamente de 
critérios do pesquisador” (GIL, 2008, p. 91). O critério utilizado para a amostragem 
foi do tipo por acessibilidade ou conveniência, que se caracteriza por ser: 
 
o menos rigoroso de todos os tipos de amostragem. Por isso mesmo 
é destituída de qualquer rigor estatístico. O pesquisador seleciona os 
elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de 
alguma forma, representar o universo. Aplica-se este tipo de 
amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é 
requerido elevado nível de precisão (GIL, 2008, p. 94). 
 
Procuramos saber, nessas entrevistas estruturadas as seguintes 
características dos moradores: a faixa de renda; com quantas pessoas convivem; o 
quanto utilizam os espaços de lazer do condomínio; o principal meio de transporte 
utilizado; os principais problemas do bairro; se tem vontade ou não de morar em 
uma casa; de qual município vieram; onde trabalham ou estudam; os espaços que 
frequentam em Natal, Nova Parnamirim e Parnamirim; e se sentem-se moradores de 
Natal ou de Parnamirim. Interrompemos o número de entrevistados em 150 quando 
os dados primários coletados entraram num estado de saturação, ou seja, quando 
“[...] novos dados nada mais acrescentam [...]” (GIL, 2008, p.176). Com os 
resultados construímos um conjunto de gráficos não estatísticos para serem 
qualitativamente analisados. 
28 
 
Dessa forma, a pesquisa bibliográfica sobre a produção do espaço urbano e 
sobre o processo de verticalização serviu para apreender o processo de 
verticalização urbana como produção do espaço, com seus agentes e suas escalas. 
Para conhecer o transbordamento do processo verticalização do espaço urbano de 
Natal para o município de Parnamirim utilizamos a pesquisa bibliográfica sobre 
Natal, os dados populacionais de Natal pesquisados no Sidra do IBGE e a análise 
do conteúdo dos planos diretores de Natal (1994) e Parnamirim (2000 e 2013). 
Seguindo a relação entre objetivos específicos e procedimentos de pesquisa, 
para entender o processo de verticalização percebido em Nova Parnamirim nos 
baseamos na pesquisa bibliográfica sobre Parnamirim e Nova Parnamirim, nos 
dados populacionais de Parnamirim coletados no Sidra-IBGE, além dos dados do 
quadro sobre as incorporações imobiliárias coletadas no cartório e as fotografias 
registradas nas observações simples de campo, que serviram para ilustrar ou até 
explicar partes do processo. Por último, para saber sobre o processo de 
verticalização concebido e percebido em Nova Parnamirim, utilizamos a análise de 
conteúdo dos panfletos de publicidade e propaganda, da mesma forma, a análise 
qualitativa das entrevistas pautadas e dos gráficos oriundos das entrevistas 
estruturadas. 
Os resultados dessa pesquisa estão estruturados em seis capítulos. Após 
este Capítulo 1 da Introdução, no Capítulo 2, O transbordamento urbano e o 
processo de verticalização, debateremos sobre a produção e o transbordamento 
do espaço urbano. No segundo subcapítulo, refletiremos sobre o processo de 
verticalização do espaço urbano, suas estruturas, suas formas e funções, além das 
escalas, estratégias e práticas dos seus agentes socioespaciais. No último 
subcapítulo, discutiremos sobre o processo de verticalização urbana percebido 
(absoluto e relativo) e relacional (concebido e vivido). 
No Capítulo 3, intitulado O transbordamento do processo de verticalização 
urbana de Natal para o município de Parnamirim, debateremos, brevemente na 
primeira parte, sobre a produção do espaço de Natal antes do processo de 
verticalização, a pré-verticalização até 1968. No segundo subcapítulo, discutiremos, 
sucintamente, sobre o processo de verticalização urbana de Natal da década de 
1970 aos dias atuas. Por último, dialogaremos sobre a metropolização e o 
transbordamento do processo de verticalização de Natal para Parnamirim da década 
de 1990 aos dias atuais. 
29 
 
No Capítulo 4 O processo de verticalização percebido em Nova 
Parnamirim, debateremos sobre como ocorreu a pré-verticalização no bairro. No 
segundo subcapítulo, refletiremos sobre o processo de verticalização do bairro de 
Nova Parnamirim do período de 1997 a 2008. Por último, discutiremos sobre o 
processo de verticalização do bairro de 2008 até o presente. 
No Capítulo 5, intitulado O processo de verticalização relacional em Nova 
Parnamirim, dialogaremos sobre a concepção desse processo pelos incorporadores 
imobiliários na primeira parte. Em seguida, no segundo subcapítulo, refletiremos 
sobre como esse processo é concebido pelos moradores dos edifícios altos de Nova 
Parnamirim. Enfim, no terceiro subcapítulo, discutiremos sobre como esses 
moradores vivenciam o apartamento, o condomínio, o bairro e o espaço urbano na 
vida cotidiana. Segue-se a esse as considerações finais no Capítulo 6. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
2 O TRANSBORDAMENTO URBANO E O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO 
 
 Este capítulo tem como objetivo apreender o transbordamento urbano e o 
processo de verticalização enquanto produção do espaço e está dividido em três 
subcapítulos. No primeiro, debateremos sobre a produção e o transbordamento do 
espaço urbano. No segundo, refletiremos sobre o processo de verticalização do 
espaço urbano, suas estruturas, suas formas e funções, além das escalas, 
estratégias e práticas dos seus agentes socioespaciais. No terceiro e último, 
discutiremos sobre o processo de verticalização urbanapercebido (absoluto e 
relativo) e relacional (concebido e vivido). 
 
2.1 A produção e o transbordamento do espaço urbano 
 
 Para Corrêa (1996, p.145) o espaço urbano é a “[...] objetivação geográfica do 
estudo da cidade [...]”. A cidade, para o referido autor, é “[...] a expressão concreta 
de processos sociais na forma de um ambiente físico construído sobre o espaço 
geográfico” (CORRÊA, 1996, p. 121). O espaço geográfico “em uma primeira 
aproximação, pode-se dizer que corresponde à superfície terrestre” (SOUZA, 2013, 
p.21). Sendo assim, o espaço geográfico é a superfície terrestre constituída pelo 
espaço natural (preservado, conservado, transformado ou destruído pela sociedade 
humana) e pelo espaço social (dos campos de cultivo às metrópoles) que são 
inseparáveis (SOUZA, 2019). Nesse sentido, o espaço urbano é um tipo de espaço 
social, ou melhor, um tipo de espaço geográfico, diferente do espaço rural ou 
agrário. 
Continuando nesse raciocínio de Souza (2019), de acordo com Harvey 
(2014), a produção do espaço pode ser natural ou social – urbano e agrário. A 
produção do espaço natural é uma universalidade, determinada pelas leis naturais, 
como a evolução e a seleção natural das espécies, e a relação metabólica da 
sociedade com a natureza. Por sua vez, a produção do espaço social é uma 
generalidade, determinada pelas leis sociais e da economia política, como as leis do 
movimento, reprodução ou acumulação de capital, como ocorre com a produção do 
espaço urbano. 
Seguindo nessa perspectiva, a produção do espaço urbano é 
simultaneamente restrita e ampla. A produção do espaço urbano restrita é aquela 
31 
 
stricto sensu e “[...] trata-se da produção de bens, produtos, mercadorias, o que 
significa dizer que o processo de produção concebe um mundo objetivo – o espaço 
em sua materialidade como condição de reprodução da vida social” (CARLOS, 2019, 
p. 21). Por sua vez, a produção do espaço urbano ampla é aquela lato sensu na qual 
“[...] ao mesmo tempo em que o homem produz o mundo objetivo (real e concreto), 
produz uma consciência sobre ele – um mundo de determinações e possibilidades – 
capaz de metamorfosear a realidade” (CARLOS, 2019, p.21). 
Nesse contexto, a produção restrita do espaço urbano refere-se à construção 
de casas, apartamentos, lojas e escritórios, e imóveis em geral, que se tornam 
mercadorias e serão alugadas, vendidas e financiadas para a obtenção de rendas, 
lucros e juros, enfim, para a reprodução de capital. A produção ampla do espaço 
urbano engloba a organização da cidade e a sua utilização para a moradia, para o 
trabalho, para o lazer e para o consumo pelos indivíduos e grupos sociais, ou seja, 
para a reprodução biológica e social, indo além da reprodução de capital. A 
produção do espaço urbano é a construção, organização e utilização dos espaços 
de uma determinada cidade. 
A primeira forma de espaço urbano na humanidade foi a cidade política “[...] 
(efetivamente realizada e mantida no modo de produção asiático) que organiza uma 
vizinhança agrária, dominando-a” (LEFEBVRE, 2001, p. 77). Essa cidade política 
“[...] administra, protege, explora um território frequentemente vasto, aí dirigindo os 
grandes trabalhos agrícolas: drenagem, irrigação, construção de diques, 
arroteamentos etc.” (LEFEBVRE, 1999, p. 21). Assim, os primeiros espaços urbanos 
surgiram na Mesopotâmia, mais precisamente no Crescente Fértil, há cerca de 5 mil 
anos, tendo características políticas de administração e proteção dos espaços 
agrários ao redor. 
Posteriormente, com o excedente da produção do campo, os espaços 
urbanos políticos tornaram-se comerciais, sem perder seu caráter político, onde 
eram trocados (vendidos-comprados) os excedentes agropecuários e a produção 
dos artesãos. A cidade comercial: 
 
[...] principia relegando o comércio para a sua periferia (heterotopia 
dos bairros, feiras e mercados, dos locais destinados aos metecos, 
aos estrangeiros especializados em trocas) e que a seguir integra o 
mercado integrando-se ela mesma numa estrutura social baseada 
nas trocas, nas comunicações ampliadas, no dinheiro e na riqueza 
mobiliária (LEFEBVRE, 2001, p. 77). 
32 
 
 
 No espaço urbano comercial ou mercantil, “[...] a troca comercial torna-se 
função urbana: essa função fez surgir uma forma (ou formas: arquiteturais e/ou 
urbanísticas) e, em decorrência, uma nova estrutura do espaço urbano” 
(LEFEBVRE, 1999, p. 23). Portanto, a espaço urbano comercial, que também é 
político, passa a ser não só o centro administrativo como também o centro de trocas, 
reestruturando-o 
No século XV houve a formação dos primeiros Estados modernos e a 
consequente expansão marítima e comercial europeia para outros continentes, que 
possibilitou a colonização da América nos séculos XVI e XVII, e resultou na 
acumulação primitiva de capital e no início do sistema econômico capitalista. Assim, 
os espaços urbanos comerciais e administrativos passam a ser capitalistas. 
Os primeiros espaços urbanos brasileiras foram político-comerciais, surgindo 
nesse contexto do capitalismo mercantilista. Os colonizadores portugueses criaram 
vilas e cidades com o objetivo de ocupar e explorar os recursos existentes no Brasil. 
A primeira vila brasileira foi São Vicente, criada em 1532, atualmente um município 
do estado de São Paulo. A primeira cidade brasileira foi Salvador, fundada em 1549, 
como primeira capital do Brasil, sendo atualmente a capital do estado da Bahia. A 
segunda cidade brasileira, o Rio de Janeiro, foi criada em 1565 com o nome de São 
Sebastião do Rio de Janeiro, tendo sido capital do Brasil entre 1808 e 1960, e é a 
atual capital do estado do Rio de Janeiro. Entre essas primeiras cidades brasileiras 
destacamos Natal, criada em 1599 (CORRÊA, 1996). 
Em meados do século XVIII, teve início a Revolução Industrial, o que tornou 
mais consolidado o sistema econômico capitalista. Tal fato teve como consequência 
a industrialização dos espaços urbanos e a mecanização dos espaços agrários, 
seguidos do êxodo rural e o progressivo crescimento dos espaços urbanos no 
mundo ocidental, em especial, a Europa, e Estados Unidos, já no século XIX. 
Assim, surgiram os espaços urbanos industriais, sem perder as características 
políticas e comerciais, “[...] com suas implicações (partida para a cidade das 
populações camponesas despojadas e desagregadas, período das grandes 
concentrações urbanas)” (LEFEBVRE, 2001, p. 77). O espaço urbano industrial foi 
responsável pela: 
 
33 
 
implosão-explosão (metáfora emprestada da física nuclear), ou seja, 
a enorme concentração (de pessoas, de atividades, de riquezas, de 
coisas e de objetos, de instrumentos, de meios e de pensamento) na 
realidade urbana, e a imensa explosão, a projeção de fragmentos 
múltiplos e disjuntos (periferias, subúrbios, residências secundárias, 
satélites etc.) (LEFEBVRE, 1999, p. 26). 
 
Com o espaço urbano industrial, começou a inflexão do agrário para o 
urbano, ou seja, começou uma implosão-explosão caracterizada pela concentração 
urbana, o êxodo rural, o crescimento quantitativo e qualitativo do espaço urbano, a 
subordinação completa, enfim, do agrário ao urbano. Os países centrais do 
capitalismo – os da Europa Ocidental, os Estados Unidos e o Japão – começaram 
sua industrialização-urbanização no século XIX. Ao longo do século XX ocorreu a 
industrialização-urbanização dos países da América Latina, do sudeste asiático e da 
África. 
No primeiro quarto de século XX, com o início da industrialização do Brasil, 
surgiram os primeiros espaços urbanos industriais do país, com destaque para São 
Paulo e Rio de Janeiro, e o consequente crescimento quantitativo e qualitativo 
desses espaços urbanos. A população brasileira passou a viver, em sua maioria, 
nos espaços urbanos na década de 1960. A população brasileira era de 70.992.343 
habitantes em 1960, sendo 45% deles residentes nos espaços urbanos, e passoupara 94.508.583 habitantes em 1970, tendo 56% de moradores em espaços urbanos 
(IBGE, 2019). O relatório World Urbanization Prospects, de 2014, da Organização 
das Nações Unidas (ONU) mostrou que desde 2008 mais da metade da população 
mundial passou a viver nos espaços urbanos. 
Sendo assim, a produção do espaço urbano exerce um papel fundamental na 
reprodução de capital e na reprodução das relações sociais. Lefebvre (2016a) afirma 
que mesmo diante de tantos conflitos (colonialismo, imperialismo, Primeira e 
Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria, entre outros) e de tantas crises mundiais (as 
de 1929, 1973 e 2008), a sobrevivência do capitalismo ocorre, entre outros fatores, 
devido à reprodução das relações sociais, em especial, à produção (construção, 
organização e utilização) do espaço urbano. 
O autor provoca: “[...] o lugar da reprodução das relações da produção não se 
pode localizar na empresa, no local de trabalho e nas relações de trabalho. A 
pergunta proposta formula-se assim em toda a sua amplitude: onde se reproduzem 
estas relações?” (LEFEBVRE, 2016a, p. 131). E ele próprio responde: “[...] não é 
34 
 
apenas toda a sociedade que se torna o lugar da reprodução (das relações de 
produção e já não apenas dos meios de produção): é todo o espaço [geográfico]” 
(LEFEBVRE, 2016a, p. 138). 
Assim, os espaços urbanos tornam-se elementos essenciais para a 
reprodução continuada e ampliada de capital e para a sobrevivência do capitalismo, 
pois o espaço urbano passa a ser “[...] setorizado, reduzido a um meio homogêneo 
e, contudo, fragmentado, reduzido a pedaços (só se vendem pedaços de espaço às 
‘clientelas’), o espaço transforma-se na sede do poder” (LEFEBVRE, 2016a, p. 138). 
Os fragmentos dos espaços urbanos (os empreendimentos imobiliários e os espaços 
turísticos) passam a ser vendidos como mercadorias. 
Ampliando a ideia de Lefebvre (2016a), de acordo com Harvey (2005), nos 
momentos de crise do capitalismo duas estratégias são feitas para a sua 
sobrevivência. A primeira está relacionada à intensificação das atividades 
econômicas, da reestruturação produtiva, por meio de: investimentos tecnológicos 
nos velhos setores da economia; a criação de novos setores econômicos, desejos e 
novas necessidades para os consumidores; e da preparação da mão de obra para 
trabalhar com essas novas tecnologias e com esses novos setores econômicos. A 
segunda estratégia está relacionada com a produção capitalista do espaço, o ajuste 
espacial (spatial fix) – ou reordenação espaço-temporal, mediante expansão 
geográfica do capitalismo para novos lugares, territórios e regiões do mundo, e 
construção de habitações e infraestruturas no espaço urbano. 
As crises são “[...] racionalizadores irracionais de um capitalismo sempre 
instável” (HARVEY, 2011, p. 65). Assim, as crises são momentos de reestruturação 
da economia, da política, da cultura e, consequentemente, do espaço, servindo para 
a manutenção e funcionamento equilibrado do sistema político-econômico 
capitalista. Para resolver as crises econômicas, mesmo que temporariamente, ocorre 
o deslocamento para novos setores econômicos e para novos espaços, incluindo a 
produção do espaço urbano. Por isso, as crises, mesmo que mundiais, ocorrem em 
tempos diferentes em espaços diferentes. Nesse sentido, quando ocorre uma crise 
econômica, o capital é retirado do circuito ou fluxo produtivo e pode ser reinvestido 
no fluxo imobiliário ou pode ser alocado para o circuito social, como investimentos 
em educação, ciência e tecnologia. 
Segundo Harvey (2013a), existem três circuitos, ou caminhos, do fluxo de 
capital. O primeiro é o da produção de bens de consumo, valores e mais-valores, 
35 
 
além do consumo de mercadorias e reprodução da força de trabalho, ou seja, o 
circuito produtivo. O segundo é o do mercado de capitais financeiros e 
intermediários do Estado, que produz o capital fixo imóvel e o fundo de consumo, os 
bens duráveis dos produtores e dos consumidores, o ambiente ou espaço 
construído, isto é, o circuito imobiliário. O terceiro está associado às funções do 
Estado: os gastos sociais em educação, saúde, segurança, administração, ciência e 
tecnologia. 
Quando há excedentes de capital que se desvalorizam no circuito primário 
produtivo, geram-se crises econômicas. Para amenizar os efeitos dessas crises, 
esse capital excedente é investido no circuito secundário ou imobiliário, isto é, na 
produção do espaço urbano. Em outras palavras, a produção do espaço urbano por 
meio do circuito imobiliário faz com que as cidades estejam em constante mutação, 
principalmente em momentos de pós-crise com investimento em infraestrutura e 
moradias. 
O espaço geográfico, para Souza (2013), pode ter diferentes escalas, a saber: 
internacional (global ou de um grupo de países); nacional; regional (por exemplo, 
macrorregiões, mesorregiões, microrregiões do IBGE e regiões metropolitanas); e 
local – macrolocal (ou da cidade ou do município), mesolocal (ou de uma região, 
setor, zona administrativa), microlocal (ou de um bairro), nanolocal (ou de um 
conjunto habitacional ou condomínio ou loteamento fechado). De forma semelhante, 
para Santos (1985) e Corrêa (1996), as escalas espaciais podem ser: global, 
nacional, regional e local. 
Por seu turno, Carlos (2011) menciona três escalas do urbano. A primeira, a 
escala do espaço mundial é a que “[...] aponta a direção da virtualidade do processo 
contínuo de reprodução e que aparece como tendência inexorável no horizonte das 
exigências da acumulação, ou seja, como projeto de construção de um espaço 
mundial” (CARLOS, 2011, p. 81). A segunda escala é a escala intermediária da 
metrópole, a “[...] mediação entre o local e o mundo” (CARLOS, 2011, p. 85). Enfim, 
há a escala local do lugar, onde: 
 
[...] vive-se a contradição principal (reveladora de outras) que funda o 
processo de produção do espaço: o processo de produção social do 
espaço em conflito com sua apropriação privada, posto que, numa 
sociedade fundada sobre a troca, a apropriação do espaço, ele 
próprio reduzido enquanto mercadoria (portanto ligado à forma 
36 
 
mercadoria), se reproduz sob lei do reprodutível (CARLOS, 2011, p. 
83). 
 
Assim como Carlos (2011), para Corrêa (2011), existem também três escalas 
urbanas. A primeira é a escala da rede urbana, que abarca a rede urbana do espaço 
mundial ou global, além da rede urbana internacional de um grupo de países, a rede 
urbana nacional, e a rede urbana regional de um país ou, no caso do Brasil, de um 
estado federado. A segunda, a escala intermediária (regional) que engloba a os 
eixos urbanizados, as metrópoles, as megalópoles e, no caso do Brasil, as regiões 
metropolitanas, que se constituem “na rede urbana metamorfoseada em espaço 
intraurbano” (CORRÊA, 2011, p. 43). A terceira, a escala da cidade ou do espaço 
intraurbano, ou simplesmente do espaço urbano, que engloba a escala local 
(macrolocal, mesolocal, microlocal e nanolocal) do lugar. 
A produção do espaço urbano ocorre nessa escala local da cidade e na 
escala intermediária das regiões metropolitanas, onde a rede urbana se 
metamorfoseia em espaço urbano. As regiões metropolitanas, no Brasil, foram 
instituídas pela Lei complementar federal nº 14, de 8 de junho de 1973. A partir da 
promulgação da Constituição Federal de 1988, a criação das regiões metropolitanas 
ficou sob a responsabilidade dos estados federados. 
Na escala local do lugar ou da cidade e na escala intermediária da região 
metropolitana, o espaço urbano é produzido – construído, organizado e utilizado – 
por meio da convergência e divergência de processos. Estes processos urbanos se 
constituem em um conjunto de “[...] forças que atuam ao longo do tempo e que 
permitem localizações, relocalizações e permanência das atividades e população 
sobre o espaço urbano” (CORRÊA, 1996, p. 122). 
A fragmentação, a articulação, (des)centralização, a (des)concentração,a 
coesão ou especialização, a (autos)segregação, a invasão-sucessão e a 
cristalização são alguns dos processos urbanos elencados por Corrêa (1996). De 
modo complementar, Vasconcelos (2013) elenca mais processos urbanos: 
diferenciação, justaposição, separação, dispersão, divisão, exclusão, inclusão, 
dessegregação, fortificação, polarização, dualização, gentrificação, marginalização e 
periferização. Acrescentamos aos referidos autores, o processo urbano de 
verticalização. 
37 
 
Os processos urbanos são sociais e, por isso, também “[..] são espaciais” 
(HARVEY, 1980, p. 3). Nessa perspectiva, um processo social que ocorre no espaço 
urbano é um processo socioespacial urbano. Os processos socioespaciais “[...] 
referem-se às relações sociais e ao espaço, simultaneamente (levando em conta a 
articulação dialética de ambos no contexto da totalidade social, mas preservando a 
individualidade de cada um)” (VASCONCELOS, 2013, p. 34). Nesse contexto, um 
processo socioespacial é um processo produzido pela sociedade e que tem uma 
dimensão espacial. 
 O processo é “[...] uma ação contínua desenvolvendo-se em direção a um 
resultado qualquer, implicando conceitos de tempo (continuidade) e mudança” 
(SANTOS, 1985, p. 50). Os processos “[...] não ocorrem no espaço, mas definem 
seu próprio quadro espacial. O conceito de espaço está embutido ou é interno ao 
processo” (HARVEY, 2012, p. 12). Assim, em um contexto urbano específico, um 
processo é uma ação contínua (com algumas descontinuidades) no tempo histórico. 
Um processo carrega em si mesmo o quadro espacial, ou seja, a dinâmica 
econômica, política e social do espaço urbano no qual se insere, indo além das suas 
formas urbanas resultantes. Então, um conjunto de processos socioespaciais 
promovem a produção, e o transbordamento, do espaço urbano. 
De acordo Santos (1985), os agentes que produzem o espaço geográfico são: 
as firmas; as instituições; e as pessoas. Esses agentes constroem e organizam a 
infraestrutura (o meio construído), que é “[...] o trabalho humano materializado e 
geografizado na forma de casas, plantações, caminhos etc.” (SANTOS, 1985, p. 6). 
Eles também utilizam ou transformam, e até destroem, o meio ecológico, que é “[...] 
o conjunto de complexos territoriais que constituem a base física do trabalho 
humano” (SANTOS, 1985, p. 6). 
De forma semelhante, para Corrêa (1996) esses agentes da produção do 
espaço são: as empresas; as instituições do Estado; e os grupos sociais. Na mesma 
linha de pensamento dos autores citados, Carlos (2011) afirma que esses agentes 
são: os capitalistas (industriais, comerciais, imobiliários e financeiros); o Estado; e os 
sujeitos sociais. 
Segundo Harvey (1980), os agentes do mercado de moradias e, 
consequentemente, agentes da produção do espaço urbano são: os usuários de 
moradia; os corretores de imóveis; os proprietários; os incorporadores; as 
instituições financeiras; e as instituições governamentais. Seguindo essa linha de 
38 
 
raciocínio, segundo Capel (1983), esses agentes do espaço urbano são: os 
proprietários dos meios de produção; os proprietários de terras; os promotores 
imobiliários e empresas de construção; e os organismos públicos. 
Os agentes da produção do espaço urbano são aqueles que têm “[...] 
capacidade para intervir na construção da cidade” (CAPEL, 2013, p. 17, tradução 
nossa). Eles podem atuar de forma direta: aqueles agentes “[...] que edificam 
realmente e colaboram no processo de transformação do solo e no lançamento ao 
mercado (construtores e promotores imobiliários)” (CAPEL, 2013, p. 17, tradução 
nossa). Como também, podem atuar de forma indireta, sendo aqueles agentes: 
 
[...] que demandam determinados tipos de edifícios para usos 
diversos (por exemplo, empresários industriais que decidem a 
construção de uma fábrica, ou empresas que requerem edifícios de 
escritórios); também os proprietários que tomam decisões sobre se 
vendem o solo para uso urbano ou conservam seu uso rural, e os 
financistas que concedem ou não os capitais ou créditos necessários 
(CAPEL, 2013, p. 17, tradução nossa). 
 
Podemos resumir, de acordo com Vasconcelos (2011), que os agentes da 
produção do espaço urbano são: econômicos, políticos e sociais. Nessa perspectiva, 
os agentes econômicos da produção do espaço são: os proprietários de terras e de 
imóveis (capitalistas fundiários e capitalistas rentistas); os proprietários dos meios de 
produção (capitalistas industriais e capitalistas comerciais); incorporadores e 
promotores imobiliários que também estão associados ou são empresas de 
construção e corretores de imóveis (capitalistas imobiliários); e as firmas ou as 
empresas financeiras (capitalistas financeiros). Já os agentes políticos são: as 
instituições governamentais e os organismos públicos que representam o Estado. 
Enquanto os agentes sociais, por exemplo, são: as pessoas; os grupos sociais; os 
sujeitos sociais (indivíduos); os compradores; e os moradores. 
Os agentes econômicos, quando dominantes são privados, formais, 
legalizados e visíveis no mercado. Também são móveis e centrais, atuando em 
várias cidades do país ou do mundo, geralmente externos ao lugar, ativos, 
normalmente estáveis, difusores de ideologias, articulados principalmente com os 
agentes políticos. Por outro lado, quando os agentes econômicos não são 
dominantes, tendem a ser informais, ilegais, invisíveis no mercado, imóveis e 
periféricos, atuando apenas em uma pequena de uma cidade, frequentemente são 
39 
 
do próprio lugar, passivos, instáveis, receptores de ideologias, não articulados com 
os agentes políticos (VASCONCELOS, 2011). 
Os agentes políticos são públicos, intermediários, favorecendo, 
principalmente, por meio de investimentos em infraestruturas e por meio da 
legislação, os agentes, econômicos e sociais, dominantes. Em menor grau, ou 
raramente, favorecem os agentes, econômicos e sociais, dominados 
(VASCONCELOS, 2011). Na maioria dos casos, os agentes dominantes e não 
dominantes são, por seus interesses, contraditórios e conflitantes entre si, assim, os 
agentes políticos devem organizar o espaço minimizando os conflitos de interesses 
entre eles. Porém, na maioria das vezes, esses agentes atendem ao interesse dos 
agentes dominantes, deixando de lado, assim, as necessidades básicas dos agentes 
sociais, como os investimentos públicos em educação, saúde, segurança e 
infraestrutura. 
Dessa maneira, os agentes sociais podem ser agentes dominantes, visíveis, 
centrais, ativos, difusores de ideologias, articulados com os agentes econômicos e 
políticos, geralmente reformistas e conservadores das relações sociais capitalistas. 
De forma oposta, os agentes sociais podem ser excluídos do direito de propriedade 
imobiliária, sendo dominados, invisíveis, periféricos, passivos, receptores de 
ideologias, desarticulados com os demais agentes. Porém, algumas vezes, deixam a 
passividade para serem agentes construtores (nos casos das favelas), 
transformadores, quiçá revolucionários, da realidade social quando lutam pela 
reforma urbana (VASCONCELOS, 2011). 
Cada um desses agentes exerce estratégias e práticas socioespaciais 
específicas dentro de um mesmo processo socioespacial. Para Corrêa (2007, p.68), 
as estratégias e práticas socioespaciais “[...] constituem ações espacialmente 
localizadas, engendradas por agentes sociais concretos, visando a objetivar seus 
projetos específicos” (CORRÊA, 2007, p. 68). 
O referido autor complementa que, um único agente pode ter estratégias 
distintas, assim como diferentes agentes podem ter práticas socioespaciais 
semelhantes, ou seja, um agente social pode em determinado momento ser um 
agente político ou econômico, ou ainda um agente político pode exercer o papel de 
agente econômico (CORRÊA, 2011). 
Lefebvre afirma que a prática espacial “[...] consiste em uma projeção ‘sobre o 
terreno’ de todos os aspectos, elementos e momentos

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