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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO Projeto de Extensão RELATÓRIO FINAL CAMPO GRANDE (MS) – Setembro de 2016 2 FICHA TÉCNICA Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Reitora Célia Maria Silva Correa Oliveira Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (FAENG). Diretor Professor João Onofre Pereira Pinto Curso de Arquitetura e Urbanismo (CAU) Coordenador Professor Gutemberg Weingartner Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS Coordenação Professor Arquiteto e Urbanista Ângelo Marcos Vieira de Arruda Técnicos – Arquitetos e Urbanistas Poliana Esquina Padula Paulo Eduardo Barbosa de Abreu Pricila Nakamura Fabiany Bertucci Acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo e Geografia Anna Luísa Zamai Martins Cristiano Garcia Rodrigues Felype Augusto Trefzer Chamorro Julia de Almeida Andrade Laura Aline Cella Leon Matos Santos Milene Rodrigues Marcellani Regina Maria de Oliveira Scatena 3 AGRADECIMENTOS Para realização deste trabalho, muitas pessoas e entidades, deram sua contribuição. Nossos sinceros agradecimentos: A) Aos acadêmicos do Curso de Arquitetura e Urbanismo: Leon Matos, Regina Scatena, Júlia Andrade, Felype Chamorro, Laura Cella, Millene Macellani e Anna Zamai; B) Aos colegas arquitetos e urbanistas Paulo Abreu e Poliana Padula; C) Ao Instituto de Planejamento Urbano de Campo Grande (PLANUB), todo o pessoal técnico e da Direção, pelo apoio; D) A toda a Diretoria do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (SECOVI- MS) pelo apoio e financiamento do trabalho; E) A Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Cultura da UFMS (FAPEC) pelo apoio de gestão e execução; F) A UFMS por meio da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (FAENG) e do Laboratório de Geoprocessamento, pelo apoio; G) A professora Ermínia Maricato, pelas palavras que prefaciam esse trabalho, com o cuidado e o carinho depositados em nossa equipe. 4 5 SUMÁRIO Apresentação --------------------------------------------------------------------------- 7 Prefácio -----------------------------------------------------------------------------------9 1. Sobre o Projeto de Extensão --------------------------------------------------- 13 2. Os vazios urbanos em Campo Grande: territorialidade e espacialidade na história e formação da cidade ------------------------------------------------ 16 3. Quem é Campo Grande? -------------------------------------------------------- 45 4. Vazios Urbanos em Campo Grande -------------------------------------------59 5. Vazios urbanos na região do Centro e seus bairros -----------------------82 6. Vazios urbanos na região do Bandeira e seus bairros ------------------- 99 7. Vazios urbanos na região do Anhaduizinho e seus bairros ----------- 114 8. Vazios urbanos na região do Lagoa e seus bairros--------------------- - 128 9. Vazios urbanos na região do Imbirussu e seus bairros ----------------- 142 10. Vazios urbanos na região do Segredo e seus bairros ------------------ 156 11. Vazios urbanos na região do Prosa e seus bairros --------------------- 171 Anexo: Um estudo dos vazios urbanos nas cidades brasileiras ---------- 186 Um pouco do Estado da Arte dos “Vazios Urbanos” no Brasil ------------207 Glossário -------------------------------------------------------------------------------212 6 7 APRESENTAÇÃO Inegavelmente, um dos maiores problemas urbanísticos de Campo Grande, são os vazios urbanos existentes em seu território. Desde os primórdios dos planos diretores, diversas diretrizes tentaram regular a produção do espaço urbano, levando em conta sempre a necessidade de urbanizar os vazios, de sorte a permitir que a mancha urbana fosse contínua. A partir da década de 1970, a cidade recebeu contingentes populacionais em função de sua futura condição de capital de Mato Grosso do Sul em 1979 e, com isso, acelerou-se a urbanização descontrolada e os limites do perímetro foram sendo ampliados e os parcelamentos novos surgindo, disputando espaço com os conjuntos habitacionais públicos e com as ocupações irregulares em curso. Resultado ao fim da década, a cidade teve quase 200 favelas, mais de 10 mil novas casas construídas e uns 120 mil lotes vazios ao fim dos anos 1990. Campo Grande, em 1995, parou para repensar seu planejamento e, no Plano Diretor daquele ano, decretou a prioridade de combater os vazios urbanos com políticas de habitação e de urbanização. Mas, os instrumentos de controle não tinham uma base de dados que revelassem a real situação da cidade naquele momento e, sem essa informação precisa, as diretrizes expressaram-se, apenas, nas zonas de uso e nos índices urbanísticos em vigor. Em 2006, com a discussão da revisão do Plano Diretor, foi que o tema “vazios urbanos”, retomou seu protagonismo. Mesmo assim, o plano não expressou as diretrizes fundamentais para o tema e apenas o mapa de uma divisão da cidade em macrozonas (exigida pelo Estatuto da Cidade) e zonas especiais, contextualiza a necessidade de urbanização prioritária nas Macro Zona 1 e Macro Zona 2. Naquele momento da revisão não havia dados de nenhum levantamento consistente de toda a cidade para delimitar os necessários encaminhamentos de planejamento para a discussão dos vazios urbanos. A cidade caminhava para um perímetro urbano de quase 360 km2 em 2014, mais de 130 mil lotes vazios, segundo a SEMADUR (dado pouco consistente, pois nunca aferido) e, à olho nu, muitas glebas e áreas livres quando tomamos a decisão, por meio do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS, de procurar parceiros para a realização de uma ampla pesquisa em todo o território urbano, visando mapear e identificar os vazios urbanos em nossa cidade. Este trabalho apresenta o Relatório Final, depois de quase dois anos de intenso trabalho técnico e urbanístico, com uma equipe de acadêmicos e profissionais 8 extremamente competentes e comprometidos com a causa. Hoje, examinando esse trabalho, temos o orgulho de afirmar que, no Brasil, poucas cidades têm uma radiografia tão expressiva do seu território urbano e, com as amplas possibilidades das ferramentas digitais, apresentar mapas e documentos inéditos, que retratam a nossa realidade de Campo Grande. Vazios urbanos deixarão de ser um tabu em nossas discussões; os vazios urbanos privados precisam ser incorporados às políticas e diretrizes do nosso planejamento urbano; os vazios urbanos podem, no curto, médio e longo prazos, serem peças essenciais do nosso desenvolvimento. Basta entender suas razões e motivações e compatibilizar instrumentos urbanos legais que os usem em benefício de toda a sociedade. É isso que o Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS quer que aconteça ao final desse trabalho. Ser usado por todos. Obrigado, mais uma vez aos que nele trabalharam – especialmente os colegas Paulo Abreu e Poliana Padula e os acadêmicos Leon, Anna, Regina, Milena, Laura, Júlia e Felype – e aos parceiros SECOVI-MS, PLANURB e FAPEC. Prof. Ângelo Marcos Vieira de Arruda Coordenador do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS 9 PREFÁCIO Em que pesem as divergências entre urbanistas do mundo todo, há uma quase unanimidade na crítica à cidade dispersa. A bibliografia internacional sobre o assunto é numerosa. A extensão ampla e horizontal na ocupação do solo com baixa densidade, que tem nos subúrbios americanos o principal exemplo, é ambientalmente e economicamente insustentável. Por vários motivos o modelo de “cidade compacta” tem sido largamente defendido: 1) A cidade dispersa é a causade viagens diárias mais longas sustentadas, principalmente, pelo veículo motorizado individual. O automóvel e o combustível fóssil, como sabemos, é um dos maiores promotores do aquecimento global e de doenças ocasionadas pela poluição do ar. 2) Na cidade dispersa as redes de infraestrutura – água, coleta de esgotos, drenagem de águas pluviais, iluminação pública, pavimentação – também são mais estendidas e, portanto, mais caras no custo per capita. Tanto sua construção ou instalação, como sua manutenção, resultam menos econômicas. É preciso lembrar também que os serviços resultam mais caros. É o caso da coleta e destinação do lixo, serviços de educação e saúde, etc. 3) Na cidade dispersa, pelos motivos apontados, os moradores passam mais tempo nos transportes, tempo que não é dedicado ao lazer, à família. 4) A cidade dispersa, baseada no transporte rodoviário, resulta em maior superfície impermeabilizada impactando o meio ambiente. Grande parte do solo urbano é destinado às ruas e aos estacionamentos. Ao desenvolver considerações criticas à cidade “modernista”, monofuncional, Jane Jacobsi, em seu notável livro Morte e vida das grandes cidades, lembra que é o mix de uso das edificações que propicia uma cidade mais viva (e segura) durante o dia ou durante a noite. Sem dúvida a cidade viva está relacionada à certa densidade e também na diversidade de usos (moradia, serviços, comércio, lazer). Ela será culturalmente e socialmente mais rica, ou mesmo mais justa e segura, se apresentar diversidade de idades, de etnias e rendas. O gueto, formado apenas por ricos ou 10 pobres, ou por determinada característica social apresenta, frequentemente, o que podemos chamar de patologias urbanas e sociais. A proximidade de serviços e comercio próximos às residências possibilitam que uma parte das viagens seja feita a pé ou utilizando bicicletas. Viagens motorizadas são eliminadas ou encurtadas. O ambiente construído resulta mais amigável a idosos e crianças. Seguindo a utopia colocada por modelos como esse (por exemplo, as Smart Growth) a cidade compacta se combina com arredores verdes, formado por agricultura de alimentos perecíveis, e de preferência orgânicos, ou por áreas de matas voltadas para o lazer ou preservação da água, fauna e flora. Nada mais distante desse modelo aqui apresentado dessa forma simples e esquemático do que as cidades brasileiras. Bairros excessivamente verticalizados se combinam a periferias amplas e dispersas. Nas periferias, bairros formados pela autoconstrução das casas, são interrompidos por loteamentos fechados (uma ocorrência ilegal embora produzido pelo mercado formal em todo Brasil) deixando pelo caminho muitos vazios completamente ociosos. Essas propriedades que estão na “engorda” são infladas pela renda imobiliária, gerada pelos investimentos públicos e privados em seus arredores. Nas favelas das grandes metrópoles brasileiras a densidade (770 hab./ha) pode ultrapassar a de bairros verticalizados mostrando que planos diretores e leis de zoneamento aplicam-se apenas para uma parte da cidade: aquela controlada pelo mercado e submetidas à detalhada legislação urbana e edilícia. Como lembra Pedro Abramoii, essa cidade não é concentrada e nem difusa. Ela é “confusa”, ou seja, apresenta a fusão de ambos os padrões. Se nas metrópoles do centro-sul existe o fenômeno dos imóveis edificados vazios e ociosos nas áreas centrais, nas capitais do centro-oeste e nas cidades de porte médio em todo Brasil, é a ociosidade da terra que chama atenção. Evidentemente a terra da qual se fala é a terra urbana, produzida ou servida de infraestrutura urbana. Entre nós, nada mais difícil do que aplicar modelos que contrariem o desperdício, a desigualdade, a insustentabilidade ambiental, social e econômica. A terra é um nó na sociedade brasileira. Toda terra que tem valor de mercado é 11 reservada para a produção imobiliária privada. E esta não chega às camadas de baixa renda. As poucas moradias sociais produzidas por meio de políticas públicas se localizam fora da cidade. Conjuntos habitacionais populares repetem a fórmula dos guetos ou senzalas urbanas marcando forte separação em relação ao tecido urbano consolidado existente. O Estado faz um precaríssimo controle do uso e da ocupação do solo de modo que, a população pobre, que não tem acesso ao mercado imobiliário e nem às políticas públicas encontra, nas ocupações ilegais, uma saída para resolver seu problema de habitação. Esta é uma prática que caminha no sentido de preservar o interesse de uma minoria de ricos proprietários. A cidade resulta cara e dispendiosa sem falar no sacrífico a que são submetidos àqueles que moram longe da oferta de emprego e serviços como hospitais e mercados. Durante muitos anos, os movimentos sociais que reivindicavam habitação, reunidos em torno da proposta de reforma urbana, lutaram e conquistaram um novo arcabouço legal com a finalidade de assegurar o instrumento jurídico da função social da propriedade. Ele está presente, assim como também a função social da cidade, na Constituição federal de 1988 e no Estatuto da Cidade, Lei federal 10.257/2001. A função social da propriedade deveria ser aplicada por meio do Plano Diretor que definiria o conceito e os locais de sua aplicação. No entanto, embora mencionada em praticamente todos os planos diretores, raríssimos são os casos de municípios que aplicaram a lei.iii Mais raro ainda é seu reconhecimento pelo poder judiciário que continua julgando como se a nova legislação não existisse. A pesquisa “VAZIOS URBANOS EM CAMPO GRANDE”, realizada pelo Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS, coordenada pelo arquiteto e urbanista e professor Ângelo Marcos Vieira de Arruda, com a participação da arquiteta e urbanista Poliana Padula e do arquiteto e urbanista da UFMS, Paulo Abreu, constitui um esforço importante no sentido de evidenciar uma cidade que cresce de forma excessivamente horizontal, dispersa, com as ocorrências de algumas torres discrepantemente altas em localizações mais centraisiv. 12 A pesquisa buscou classificar e relacionar os vazios úteis (até 25% de edificação) à lei do zoneamento (unidades parceladas e não parceladas), ao domínio público ou privado, ao levantamento da macrodrenagem e à geotecnia municipal. A manutenção de um significativo estoque de terras vazias cercadas de toda infraestrutura constitui um desperdício social. No entanto, os benefícios da valorização imobiliária, advindos dos investimentos públicos são apropriados privadamente. Enquanto a terra permanece ociosa, a população de baixa renda acaba morando em locais mais distantes e ermos em condições que não são exatamente urbanas, mas também não são rurais. Como já foi lembrado, as viagens diárias se tornam mais longas, aumentando o preço dos transportes e aumentando o sacrifício imposto por essa forma de mobilidade. Esse trabalho permite, portanto, estudar, planejar e corrigir desequilíbrios existentes no processo de urbanização de Campo Grande, de forma a torná-la uma cidade um pouco mais compacta (o que não significa necessariamente verticalizada), mais econômica em seu funcionamento e manutenção e, portanto, mais justa. Fica evidente aqui que, melhorar a mobilidade da população de mais baixa renda, exige pensar o transporte coletivo ou os meios não motorizados de locomoção, juntamente com o adequado (econômico, justo e sustentável) uso e ocupação do solo. Isso significa ocupar os vazios urbanos antes de admitir o aumento da expansão horizontal da cidade. Isso significa planejar e dirigir o crescimento da cidade. Finalmente isso significa aplicar a função social da propriedade visando o adequado futuro para Campo Grande. Ermínia Maricato 15 de dezembro de 2015 i Jacobs, Jane. Morte e Vida das Grandes Cidades, disponível em http://pt.slideshare.net/00107238/jacobs-jane-morte-e-vida-das-grandes-cidades-14024953. ii Abramo, Pedro. A cidade COM-FUSA: a mão inoxidável do mercado e a produção da estrutura urbana nas grandes metrópoles latino-americanas. In Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. V. 9, n 2, 2007 iii Denaldi, Rosana. “A efetividade dos instrumentos de Direito Urbanístico – Edificação compulsória, IPTU progressivo e desapropriação por títulos da dívida pública" Pesquisa em andamento UFABC/IPEA 2015. iv A Pesquisa foi promovida pela Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul em parceria com da FAPEC/MS, do Instituto Municipal de Planejamento Urbano e do SECOVI- MS e teve a participação de alunos bolsistas Leon Matos, Júlia Andrade, Laura Cella, Milena Marcellani, Felype Chamorro, Regina Scatena e Anna Zamai. 13 1. Sobre o Projeto de Extensão Apresentação O Projeto de Extensão “OS VAZIOS URBANOS NA CIDADE DE CAMPO GRANDE- MS” surgiu da necessidade imperiosa de se estudar um dos maiores problemas urbanísticos da capital de Mato Grosso do Sul - previsto como diretriz prioritária no Plano Diretor, e um capítulo importante na discussão da política de desenvolvimento urbano do município. Com a criação do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS em 2013, espaço de projetos de pesquisa e de extensão de políticas públicas e com o interesse declarado do Instituto de Planejamento Urbano de Campo Grande (PLANURB) em promover estudos visando a revisão do Plano Diretor – de um lado – e do outro lado, o mercado imobiliário, por meio do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (SECOVI-MS), de conhecer a realidade do assunto, visando a discussão da cidade e de seus temas de interesse, a UFMS, por meio da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (FAENG) e do Curso de Arquitetura e Urbanismo/Observatório, celebrou Convênio de Cooperação envolvendo essas partes e ainda com a participação da Fundação FAPEC/UFMS, visando estudar os vazios urbanos da cidade de Campo Grande, um trabalho inédito e de grande importância para todos. A partir do Projeto de Extensão aprovado pela PREAE/UFMS e inscrito no SIGProj n. 189470.793.203.25112014, envolvendo essas partes interessadas, o trabalho foi iniciado em 01 de setembro de 2014 e encerrado em 30 de julho de 2016, tendo a coordenação do Prof. Ângelo Marcos Vieira de Arruda – que também coordena o Observatório de Arquitetura e Urbanismo–, a participação dos técnicos arquitetos e urbanistas Paulo Abreu, Pricila Nakamura e Poliana Padula e dos bolsistas acadêmicos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMS, Leon Matos, Felype Chamorro, Julia Andrade, Regina Scatena, Anna Luiza Zamai, Milena Macellani e Laura Cella. 14 Justificativa O trabalho foi iniciado com a aprovação do Plano de Trabalho, treinamento de toda a equipe e preparação de todo o conjunto de informações necessárias para o desenvolvimento das tarefas. O objetivo geral do projeto era mapear os vazios urbanos dentro do perímetro urbano de Campo Grande a partir das informações disponíveis no banco de dados do Instituto Municipal de Planejamento Urbano de Campo Grande - PLANURB, contidas nas sete regiões urbanas, aí incluídos os parcelamentos de todos os bairros cadastrados. O Projeto objetivava ainda elaborar Mapas Urbanos com os vazios encontrados em glebas e áreas livres; analisar os dados encontrados possibilitando nova leitura sobre a cidade para investigações futuras; possibilitar uma revisão do Plano Diretor em 2016 com bases de dados mais consistentes permitindo encontrar novas políticas setoriais; divulgar para os usuários - profissionais da arquitetura e engenharia, profissionais do setor imobiliário e investidores em especial - dados mais confiáveis da situação urbana de Campo Grande. Metodologia A metodologia adotada na execução do projeto consistiu na realização das seguintes atividades: a) Formação da equipe técnica da UFMS e dos parceiros; b) Construção da equipe dos estagiários da UFMS e de outros locais fora da UFMS, especialmente do SECOVI e PLANURB; c) Elaboração do Plano de Trabalho; d) Treinamento e capacitação da equipe de georreferenciamento, com auxílio do Laboratório do Curso de Geografia; e) Aproximação com o Banco de Dados e uso dos softwares; f) Divisão das tarefas por equipes, para cada bairro, com organização e sistematização de todas as informações; g) Separação dos parcelamentos e das fontes de dados para utilização dos softwares; 15 h) Preparação dos trabalhos com sistematização das informações a serem colhidas, desenhadas e especificadas; i) Levantamento de dados e mapeamento dos vazios e revisão de todos os dados. O trabalho utilizou-se do software livre Qgis, licenciado pela General Public License (GNU) que opera em linguagem Linux, Unix, Mac OSX, Windows e Android e suporta vários formatos vetoriais, raster, de banco de dados e do banco de dados da Prefeitura Municipal de Campo Grande por meio de ortofotografias de dezembro de 2013 e de plantas oficiais de quase todos os parcelamentos da cidade. Alguns parcelamentos não possuem dados tão precisos como planta oficial, mas estes foram discutidos e revisados juntamente com as partes envolvidas. 16 2. Os vazios urbanos em Campo Grande: território e espacialidade na história da formação da cidade. Os diversos estudos sobre a ocupação histórica e do território de Campo Grande dizem que tudo começou no ano de 1872 quando o mineiro José Antônio Alves Pereira, seus dois filhos- Joaquim e Antônio Luís e mais quatro agregados, chegaram no dia 211 de junho e à margem esquerda do córrego Anhanduizinho ergueram um pequeno rancho de palha. As famílias que chegavam montaram ranchos desalinhados, nas redondezas da atual Rua 26 de Agosto. O assentamento original da localidade ocorreu à margem dos córregos Prosa e Segredo, local agradável para os novos moradores. E desse assentamento surgia a vila de Campo Grande e a trajetória do planejamento urbano da cidade. Os primeiros edifícios começam a ser erguidos. Dois anos depois, em 1877, José Antônio Pereira ergueu a primeira igreja do arraial, em esteio de aroeira e construção de pau-a-pique. A partir de então, o povoado passou a ser conhecido como Santo Antônio de Campo Grande da Vacaria. Em 1888, funda-se o primeiro cemitério, nos cruzamentos das atuais Ruas 15 de Novembro e 13 de Maio, ao lado da Praça Ari Coelho2. Fig. 1 - Campo Grande no começo do século XX Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 1 A data de fundação de Campo Grande deveria ser 21 de junho de 1872 e não como é a de 26 de agosto de 1899. 2 Esta Praça, antes de sua atual denominação, era chamada de Praça Municipal ou Jardim Público e depois Praça da Liberdade. 17 Em 1889, através da Lei estadual n º 729, de 23 de novembro, foi criado o Distrito de Paz, pertencente ao município de Miranda. A região atraia contingentes migrantes de vários lugares, especialmente aqueles com negócio de gado. Nessa época, multiplicaram-se as fazendas nos arredores do distrito e a base da economia local era a pecuária bovina, devido à grande quantidade de terras disponíveis. Em 1889, 10 anos antes da emancipação política de Campo Grande, estima-se que algo em torno de 180 pessoas residia aqui. A economia do lugar crescia com os negócios de gado do Triângulo Mineiro e de outras localidades. Os primeiros migrantes europeus começaram a chegar ao arraial e as casas comerciais, escola, e outras necessidades humanas, foram implantadas. Em 26 de agosto de 1899, ocorreu a emancipação política, através da Resolução estadual nº 225 e nasceu o município de Campo Grande com um território de 105.000 km², desmembrado de Nioaque,o sexto município do sul de Mato Grosso3 e o último a ser criado no século XIX. Fig. 2 – As rotas pecuárias Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 3 – Havia ainda Corumbá (1850), Miranda (1871), Nioaque (1890), Coxim (1898) e Paranaíba (1857). 18 Esse assentamento surgiu de forma a ocupar as terras férteis da região e seus moradores ora habitavam ranchos às margens dos dois córregos centrais ou estavam sediados em pequenas fazendas nas proximidades da vila. Fig. 3 - Campo Grande no começo do século XX Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda A origem rural e mineira do assentamento do território conduziu a ocupação social e urbana. Hábitos e feitos nesse tempo eram todos vinculados à origem rural mineira do fundador e dos primeiros moradores. Ranchos foram erguidos na área mais urbana da vila, mas muitos mantinham suas terras rurais para a prática pecuária, marca cultural da cidade e de seu urbanismo: grandes propriedades cultuadas de família para família, extensões de terra de perder a vista. 2.1 O Plano de Alinhamento de Ruas e o Rossio. A preocupação com o planejamento e o desenvolvimento de Campo Grande esteve sempre presente em todos os documentos e planos existentes, desde sua fundação e já em 1905 veio a aprovação da primeira lei municipal que faz referências a temas da urbanização recente. O Código de Posturas de Campo Grande daquele ano tratava, dentre outros assuntos, de saneamento e de limpeza urbana, da localização das edificações e dos tamanhos dos lotes. A preocupação sanitária era enorme, pois a cidade, com pouco mais de 1.200 habitantes, segundo Themistocles Paes de Souza Brasil, em seu relatório de 1906, de que fala Paulo Coelho Machado, em seu livro Rua Velha, devia seguir o ritmo das outras capitais, principalmente Belo Horizonte, que acabava de ter um Plano Urbanístico, elaborado no final do século XIX. Outra medida urbanística veio com a aprovação da Resolução n 21, de 18 de junho de 1909: ela aprova a primeira planta urbana da cidade, elaborada pelo 19 engenheiro agrônomo Nilo Javary Barém, com lotes numerados de 01 a 382, onde traçava os primeiros passos para o ordenamento do crescimento urbano. Fig. 4 - Planta do Plano de Alinhamento de Ruas de 1909 Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda A regularidade da malha urbana, usando a trama ortogonal, com uma grande avenida central, evidenciava a utilização de um traçado europeu das cidades do século passado. Estas posições apareceram no urbanismo de Goiânia e de Belo Horizonte. A planta da cidade continha um conjunto de quarteirões com lotes médios de 2.500 m2, com testada de 40,00 ou 50,00m, de traçado ortogonal, sendo a Avenida Afonso Pena – originalmente Marechal Hermes -, a via mais larga, com 50,00m, enquanto as demais vias tinham 20,00m de largura. Essa planta histórica tinha como referências urbanísticas o traçado modernista e a sua implantação obedeceu à lógica de instalação das pessoas na época, ou seja, utilizando os córregos Prosa, ao sul e o Segredo, a oeste, como limites referenciais. A única rua povoada era a atual Rua 26 de Agosto, denominada de Rua Velha. A vila em formação se comunicava com as demais regiões do Estado de Mato Grosso e do país através de estradas boiadeiras que penetravam o sítio original a partir de várias entradas, sendo uma das mais usadas, a estrada para o Pantanal, a oeste. As saídas boiadeiras eram os limites oficiais da Vila de Campo Grande e fortemente utilizadas, por conta do intenso comércio de gado, nos meados do século XIX e depois disso, com o fim da guerra do Paraguai, como caminho de passagem de pessoas e de comunicação com São Paulo e Minas Gerais. 20 No ano de 1910, outro engenheiro, Themístocles Paes de Souza Brasil, capitão do exército e perito em matemática e geometria, inicia a demarcação do Rossio de Campo Grande, definindo-o em 6.504 hectares sendo 222 na área urbana, 1.314 para a suburbana e 4968 para a zona rústica. Fig. 5 - Planta do Rossio de Campo Grande de 1910 Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda Ao entregar o trabalho, em 1910, Themistócles preparou um Relatório onde analisa a vila em seus diversos aspectos e diz que havia 1.200 moradores na área urbana de Campo Grande. Na prática, o rocio da época equivale ao termo hoje conhecido como Perímetro Urbano de Campo Grande. E aqui começa a história dos vazios urbanos de Campo Grande. O que foi aprovado e demarcado no começo do século, 6.540 ha, é equivalente a 20% do atual perímetro atual, e quando a cidade só tinha 1.500 habitantes. O rossio de 1910, já era suficiente para abrigar a população de 650 mil habitantes, e com um adensamento populacional excelente, em torno de 100 hab./ha. Antes mesmo de encerrar a 1ª década do século XX, Campo Grande já possuía os 03 instrumentos básicos para o seu desenvolvimento ordenado: um perímetro urbano definido por lei (rossio), um traçado urbano da vila (plano de alinhamento de 21 ruas e praças) e um Código que determinava a forma de ocupação do solo e construção de edifícios. O plano de expansão urbana já tinha suas diretrizes básicas: ao norte áreas de terra onde atualmente se localiza a UCDB e a Lagoa da Cruz (Mata do Segredo); a leste, até o atual Parque dos Poderes (Desbarrancado); à oeste até o Bairro Amambay (quartéis) e ao sul pouco após o Córrego Prosa. Fig. 6 - Detalhe da Planta do Rossio de Campo Grande de 1910 Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 2.2 A Estrada de ferro da NOB e o primeiro bairro, a Amambaí. Com a criação do município de Três Lagoas em 1915, Campo Grande perdeu 45.000 km² de seu território e sua área municipal passou a ser de 60.000 km². Em 31 de julho de 1912 a Diretoria de Terras da Secretaria de Agricultura de Mato Grosso aprovou a Planta do Rossio do Patrimônio de Campo Grande com 6.504 hectares de acordo com o projeto de Themistócles Brasil. Em 20 de julho de 1910, Campo Grande foi elevado à categoria de Comarca Especial e de acordo com o relatório de Themistócles Brasil, “a vila apresentava o aspecto de pequeno povoado em formação. Casas esparsas, deixando entre si grandes intervalos, semeiam o branco de suas 22 pinturas e o vermelho dos telhados no verde escuro da vegetação, dando o conjunto uma aparência agradável.”. O principal fator de desenvolvimento urbano e econômico de Campo Grande, de todos os tempos, aconteceu nessa década: a ligação da cidade com São Paulo via Bauru, através da estrada de ferro Noroeste do Brasil, inaugurada, oficialmente, dia 14 de outubro de 1914. A ligação ferroviária modificou as relações econômicas e culturais de Campo Grande. A Rua 14 de julho, uma das muitas ruas projetadas por Nilo Javari Barém em 1909, com seus 20 metros de largura, após a implantação da estação da NOB, tornou-se a via mais importante da cidade, com seu comércio dos migrantes, principalmente os árabes. Esse surto de desenvolvimento econômico refletiu nas taxas de crescimento populacional: de 1.200 habitantes em 1910 para 3.367, em 1920, com um crescimento médio geométrico de 10,87% ao ano. Em 1919, segundo o Relatório de Humberto Miranda , a cidade tinha 550 prédios cadastrados. Ao final do período, o traçado da zona urbana da cidade cresceu para a direção norte, abrindo ruas até os limites da Av. Mato Grosso. Fig. 7 - Campo Grande no começo do século XX em planta Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 23 O sítio da vila continuava tendo como limites físicos os dois córregos – Prosa e Segredo-, como barreiras a sua mancha urbana. Nos limites do Prosa, havia chácaras que tinham formato típico de lote urbano, porém estreito e profundo. Na década de 1920, Campo Grande foi incluído na lista das 15 cidades brasileiras onde seriam construídos quartéis militares. O conjunto arquitetônico das edificações militares foi rapidamente construído. Na mesma época, Camilo Boni, engenheiro que trabalhava na Intendência Municipal na administração de Arlindo de Andrade Gomes, projetou o traçado urbanístico do primeiro bairro de Campo Grande, o Amambaí, de ruas sinuosas e largas, possibilitando, pela proximidade da área central, a moradia dos operários que não retornaram para São Paulo após o término das obras militares e de outros migrantes de menor renda. O centro se expandia para o oeste agora. Fig. 8 - Planta do bairro Amambaí Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 24 O bairro Amambaí foi projetado pela Seção de Engenharia da Intendência Municipal, sob o comando do engenheiro italiano Camillo Boni5 e com a participação do assistente Giglioti, também italiano. Boni foi um grande realizador e modernizou a administração local. Trabalhou com arquitetura, urbanismo e engenharia, como poucos, no seu tempo. Na administração pública, na área do urbanismo e paisagismo, realizou o Plano de Melhoramentos das Ruas e Calçadas, com levantamento e perfil de cada uma das vias urbanas; padronizou as calçadas e passeios; embelezou e arborizou a Av. Afonso Pena com árvores vindas da chácara do Intendente Arlindo Gomes. O projeto do bairro, que possuía uma área em torno de 65 hectares, dividia em 435 lotes e 35 quarteirões, sendo 12 deles localizados na parte norte e 22 na parte sul do bairro. Do total de lotes, 75% deles são de formato irregular, apresentando dimensões variáveis de testada entre 12 e 30 metros, sendo que os lotes de formato regular apresentam testada média de 20,00m e profundidade de 40,00m coincidindo com o formato original de 1921. Podemos afirmar que os lotes regulares ainda guardam o seu formato original do projeto de Camillo Boni. A principal característica do parcelamento é a inexistência de quadras totalmente regulares. Os polígonos variam em forma e a maioria deles apresentam formatos triangulares, trapezoidais ou de paralelogramos. A matriz geradora do traçado viário que acaba contribuindo com o formato dos quarteirões é a explicação para o parcelamento desse bairro. Do parcelamento original havia 28.889 m2 de áreas não parceladas – áreas públicas destinadas a equipamentos comunitários e praças sendo, a maior delas, a área 11, com 23.000m2, onde se localiza a Igreja do Perpétuo Socorro e a Escola dos Padres Redentoristas. Essa área era originalmente inteira e foi subdividida em duas. 5 Camillo Boni (1889-1974), filho de Domenico e Rita Boni, nasceu em 21 de agosto, na cidade de Moderna, Itália e em 1909 diplomou-se como perito em Agrimensura, Arquitetura e Engenharia no Reggio Instituto Técnico Jacoppo Barozzi. No ano de 1934, obteve do CREA/SP a licença n. 1.665, para exercer a profissão de Arquiteto e de Construtor, já que seu curso técnico de Modena não era superior pleno. 25 Outras áreas públicas existentes e que foram ocupadas eram as áreas 06 e 12 e a ponta da 01, que foram ocupadas com o Mercado Antônio Valente, com a Escola Manoel Barbosa e com a sede do SESI, respectivamente. A área destinada ao arruamento do loteamento foi de 229.575,00 m2, correspondendo a 32,7% da área total da gleba. 2.3 A cidade planejada com o plano do Escritório Saturnino de Brito A cidade já abrigava , em 1930, 10.117 habitantes, crescendo 11,63 % ao ano na década e triplicava a população em 10 anos. O desenho da mancha urbana de Campo Grande em 1930/1940, com a instalação dos quartéis e do Bairro Amambaí, Vila Orpheu Baís, Vila Carvalho e a Vila Planalto, é bem diferente da década anterior, pois, as barreiras dos córregos tinha sido transposta na direção oeste, sudoeste e noroeste. Fig. 9 - Planta de Campo Grande de 1942 com desenhos Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 26 A ligação oeste se fazia através de pontilhão na Rua 26 de agosto e na Rua Cândido Mariano, transpondo o córrego Segredo e essas duas ruas vão dar seguimento ao desenvolvimento oeste. A saída para Rochedinho, atual Av. Tamandaré, tem seu desenho configurado com o loteamento Vila Planalto. Ao sul, o traçado da Vila Carvalho – que teria ligação com uma variante da Rua 26 de agosto sugere a continuidade da Rua 14 de julho, fato que vai ocorrer anos após. A Resolução n 43, de 27 de abril de 1921, promulgada por Arlindo de Andrade Gomes, intendente municipal, estabeleceu o Código de Posturas do Município e em seu artigo VI diz que o “o prolongamento das ruas e avenidas atuais só podem ser feitos com autorização da Intendência - a Prefeitura da época-, obedecendo à planta oficial”, ou seja, supomos haver, após a planta elaborada por Nilo Javary Barem, outra com “diretrizes” para prolongamentos e ainda diz “obedecendo à mesma largura em toda a zona municipal”- Art. VII parágrafo primeiro. O Prefeito Eduardo Olímpio Machado, em 1938, contratou o escritório Saturnino de Brito, do Rio de Janeiro com a tarefa de elaborar o Plano de Saneamento e Drenagem da cidade e o projeto do sistema de abastecimento d’água da estação do córrego Lageado. Naquela ocasião, o escritório elaborou a primeira Planta Urbana de Campo Grande com levantamento topográfico e a localização cadastral dos imóveis existentes. Por fim, os estudos culminaram com a promulgação do Decreto-lei nº 39, de 31 de janeiro de 1941, o primeiro Plano Diretor da cidade, já com mais de 25 mil habitantes. Fig. 10 - Desenho do Plano de 1938 Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 27 A Planta de Campo Grande elaborada pelo escritório Saturnino de Brito em 1938 sinalizava a continuidade do traçado em direção norte, até os limites a Rua Amazonas e a inclusão do traçado da Vila Bandeirantes e do Taveirópolis a sudoeste. A Av. Contorno, atual Salgado Filho com Eduardo Elias Zahran, estava com seu desenho definido a ser implantado futuramente. Fig. 11 - Planta cadastral de Campo Grande de 1939 Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda Outra região importante criada nessa época foi a Região da Vila Alba e arredores que, pela localização próxima aos quartéis, era preferencial da população. Em 1939 a população urbana estimada era de 23.054 habitantes e apresentava um crescimento urbano na década de 8,58% ao ano. 28 A grande novidade do Decreto-Lei n. 39 era o zoneamento6 da cidade. Cinco zonas de uso foram criadas e para cada uma delas, uma norma para as atividades, empreendimentos e para a ocupação do solo (Fig. 8). A Zona Central ou Comercial compreendia a parte mais histórica e central de Campo Grande, constituída de um polígono com as ruas comerciais mais importantes, como a Rua 14 de Julho e seus arredores. Nessa zona era admitida a testada dos lotes de 10,00m (enquanto que no resto da cidade era de 12,00m) e profundidade de 30,00m. Era permitido construir até o limite de 60% do terreno e se houvesse, nos fundos, atividades residenciais, o que era típico na época, o índice cresceria para 65%. A construção deveria ser no alinhamento predial A Zona Industrial era compreendida pelas ruas mais antigas da cidade, às margens do Córrego Prosa, no caso a Rua 26 de Agosto, Barão de Melgaço e Joaquim Murtinho, onde havia terrenos brejosos e de difícil construção naqueles tempos. Nessa região havia ainda algumas pequenas olarias de tijolos e outras fábricas e era permitidoocupar 70% do terreno, pois os lotes eram maiores, por conta da profundidade das ruas até o córrego. A construção poderia ser no alinhamento predial. A Zona Residencial era um quadrilátero formado pela Av. Mato Grosso, 25 de Dezembro, Av. Afonso Pena e 13 de Maio, uma clara separação das demais zonas comercial e industrial, apesar da proximidade destas. O recuo frontal exigido era de 4,00 m e o lateral de 1,50m e no mínimo seis cômodos, num claro sentido de que as casas operárias de dois ou três cômodos ficaram para o bairro Amambaí e para a Zona de 2ª Categoria. Após a promulgação da lei, as residências existentes nos fundos das lojas comerciais existentes na Rua 14 de Julho começam a se transferir para as ruas localizadas nessa zona residencial, com destaque para a Rua Antônio Maria Coelho, Cândido Mariano, as preferidas da classe de maior renda. A Zona Mista de 1ª Categoria compreendia diversas ruas da área central e residencial, enquanto a de 2ª Categoria constituía todo o restante da cidade não 6 Desde 1905, a cidade já tinha normas urbanísticas expressas em Código de Posturas, mas nenhum deles tratava do zoneamento da cidade. O zoneamento enquanto função surge nos anos 30, após a Carta de Atenas do CIAM de 1931. 29 delimitado pela lei municipal. Tinha um sentido de corredor, pois era possível ocupar 50% do solo na primeira e 33% na Segunda categoria. Alguns itens da Lei tinham claro compromisso com a modernidade, como a exigência de construção com, no mínimo, dois pavimentos na Rua 14 de Julho, entre a General Mello e a Rua 7 de Setembro, na Rua Dom Aquino e Barão do Rio Branco e Avenida Afonso Pena entre a Calógeras e a 13 de Maio; as vilas, só poderiam ser construídas nas Zonas Mistas de 1ª e 2ª Categoria, e afastadas uma da outra, no mínimo, 200 metros, numa tentativa de retirá-las da área mais central e até não permitindo na zona residencial, evidenciando o uso uni residencial; nos loteamentos novos já se exigia um percentual de 20% da área total da gleba para o arruamento e outros 20% reservados para as áreas de praças e jardins, percentuais bem maiores que os determinados pela Lei federal 6.766/79 em vigor até recentemente para todo o país; os profissionais encarregados pelas obras, engenheiros ou arquitetos, eram obrigados a informar o nome do eletricista e do encanador encarregado e o mesmo deveria também estar cadastrado na municipalidade. Outro ponto muito importante do Plano do Escritório Saturnino de Brito, ocorreu com o Ato 16, de 27 de março de 1939, quando o Prefeito Eduardo Machado resolveu, a seu pedido, criar a Comissão Municipal de Saneamento, para analisar e encaminhar para aprovação junto ao Departamento de Saúde do Conselho de Administração Municipal do Estado de Mato Grosso, a proposta de adução das águas do Córrego Desbarrancado, localizado na parte leste da cidade, naqueles anos distantes uns 4.000m da área urbanizada da Av. Afonso Pena, o Obelisco. A área adquirida pela municipalidade nos anos 40, por orientação do Plano, foi utilizada parcialmente para adução e hoje abriga a nascente do Córrego Prosa, com águas do Desbarrancado e Córrego Português e é a sede o Parque dos Poderes, local onde estão instalados os prédios da administração estadual e uma reserva ecológica de cerrado das maiores entre as cidades brasileiras, além de captar e fornecer água para diversos bairros. Ainda hoje, uma pequena barragem construída nos anos 44, lá se encontra, formando um pequeno lago, e um espaço construído para o turismo ecológico. 30 Fig. 12 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande com bairros Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 2.4 A verticalização vem com o modernismo na arquitetura Um novo panorama econômico surgiu nos anos 40, com as imposições comerciais provocadas pela Segunda Guerra Mundial (1936-1945), com graves consequências para a construção civil em função da dependência brasileira na importação de materiais básicos como o ferro e o cimento. Somente no final da década, é que começaram a serem construídos alguns edifícios de importância para a arquitetura local. Inicia-se a verticalização da cidade com a construção de prédios de mais de três pavimentos, principalmente na Rua 14 de Julho e arredores. 31 Em 1959, na administração do Prefeito Wilson Martins, pela Lei n 663, de 30 de dezembro, que estabelece uma nova estrutura administrativa de Campo Grande, é criada uma estrutura colegiada muito parecida com o atual CMDU- Conselho Municipal de Desenvolvimento e Urbanização: o Conselho de Planejamento e Urbanismo (CPU), como órgão autônomo de aconselhamento do governo para questões de planejamento e do Plano Diretor. Em 1965, através da Lei Legislativa n 26, de 31 de maio de 1965, a cidade passou a ter um novo Código de Obras, que tratava de zoneamento, uso do solo, loteamento e posturas municipais. Em 468 artigos, delimitou zonas, definiram termos técnicos, núcleos industriais, zonas agrícolas, deram normas para construção de todos os tipos e no artigo 423 em diante, tratava de loteamentos - definindo que todos os projetos, antes de aprovados ficariam sujeitos a diretrizes da municipalidade; o lote da área central baixou para 8,00 metros a testada e os demais para 10,00 metros; a área mínima continuava em 300,00 m2; as ruas mínimas com 9,00 metros de largura e leito carroçável de 6,00 metros; definiu que as áreas de recreação obedeceriam ao índice de 16 m2 de área verde por habitante do futuro loteamento; definiu a quadra máxima de 300,00 m. de comprimento. Os anos 1960 marcaram a trajetória da verticalização da cidade. Com 63 mil habitantes , segundo o IBGE , Campo Grande já possuíam mais habitantes que Cuiabá, a capital do Estado de Mato Grosso, e a sua arrecadação tributária era quase duas vezes maior. Esse crescimento populacional e econômico definiu as perspectivas da construção civil na cidade. Novos programas e necessidades sociais usam de tecnologia construtiva e normas urbanísticas mais rígidas não davam mais espaço para o trabalho dos construtores práticos dos anos 1920 e 1930. 32 Fig. 13 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande de 1960 Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 2.5 Os Planos da Hidroservice e de Jaime Lerner: década de 1970 Na década de 1970, o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Campo Grande - PDDI, elaborado pela empresa Hidroservice Engenharia traçou as linhas do futuro planejamento urbano. No final da década de 60, impulsionado pelo planejamento do governo militar central, o município de Campo Grande contrata seu primeiro Plano Diretor, elaborado pela empresa Hidroservice Consultoria. Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado- PDDI, este era o nome técnico adotado na época. O PDDI traçou um extenso diagnóstico da cidade, em todas as áreas da administração. Deu diretrizes para várias obras, que foram realizadas ao longo dos anos, como por exemplo, a Via Norte Sul, margeando o Córrego Segredo e Anhaduizinho; o minianel rodoviário; localizava a central de abastecimento d’água da 33 cidade, a atual Guariroba; propunha uma reserva onde atualmente se localiza o Parque dos Poderes-Parque do Leste, criava o Núcleo Industrial, dentre outras obras. Fig. 14 - Vista aérea de Campo Grande dos anos 1950 Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda Do ponto de vista da política urbana, o PDDI, apesar de ser um plano bastante formal e de ter sido elaborado sem a participação popular, pode ser considerado progressista, pois propunha uma lei de uso do solo urbano, baseada nos princípios da normatização por zonas de uso; uma nova legislação de parcelamento do solo urbano que passou a exigir infraestrutura básica nos empreendimentos deloteamento, etc. O arquiteto paranaense Jaime Lerner, que como Prefeito da cidade de Curitiba e ex-diretor do IPPUC-Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba tinha levado a cabo naquela cidade propostas urbanas que a grande imprensa divulgou como exitosas veio a Campo Grande, em 1977, a convite do Prefeito da época, engenheiro Marcelo Miranda Soares, e elaborou um Plano de Diretrizes de Estruturação Urbana de Campo Grande que contemplava a prioridade no uso do solo combinado com um sistema viário e de transporte urbano através de corredores, que resultou na Lei nº 1.747 de 29 de maio de 1978. Lerner elaborou uma proposta com a participação de alguns arquitetos locais que à época trabalhavam no setor público, mas o município não possuía, ainda, um 34 órgão de planejamento urbano que pudesse acompanhar e monitorar a execução das propostas, o que acarretou modificações setoriais na supracitada lei, todas com a finalidade de alterar o zoneamento, considerado rígido e implantado através de obras públicas. O Plano de Estrutura Urbana de Lerner perdurou por mais de 10 anos, concorrendo para modificar a paisagem da cidade, principalmente na verticalização dos edifícios, na criação de um calçadão na área central e nas modificações na malha viária de transporte coletivo. O perímetro urbano se alonga e passa dos 30 mil hectares; a cidade está cheia de vazios urbanos. Fig. 15 - Campo Grande em planta nos anos 1970 Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda Em 1977, Mato Grosso foi dividido por lei complementar federal e criado o Estado de Mato Grosso do Sul, em outubro daquele ano. A instalação da nova Unidade Federada deu-se em janeiro de 1979. 35 Fig. 16 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande de 1990 Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 2.6 A instalação de Campo Grande: novo impulso ao desenvolvimento urbano No início dos anos 80, um fato importante do ponto de vista do ensino, foi a criação do Curso de Arquitetura e Urbanismo no Centro de Ensino Superior “Prof. Plínio Mendes dos Santos” - CESUP, permitindo a formação dos arquitetos locais. Com a primeira turma formada, a produção da cidade passou também pelos arquitetos formados no Estado. A cidade, como capital do novo Estado, desenvolveu-se numa enorme velocidade. Com taxa média geométrica de crescimento de 8 % ao ano, a população dobrou, mais uma vez, de uma década para a outra atingindo mais de 250 mil habitantes, e apresentando fluxo migratório interno e externo intenso, aumentando a pressão no setor habitacional e nos serviços públicos. Novas empresas de construção civil se instalaram. A nova legislação urbanística e de edificações então em vigor limitou, entre outras coisas, o gabarito dos edifícios em 12 pavimentos. 36 A partir da instalação do Parque dos Poderes, no início da década, a Avenida Afonso Pena, principal eixo viário urbano, rompeu seus limites com a Rua Ceará e foi então prolongada até o Parque, criando uma nova opção de acesso viário para o Centro Administrativo do Estado, favorecendo uma expansão do território para fins de construção e criando um mercado novo para o setor imobiliário local, nos setores residenciais e comerciais. O surto de crescimento e de desenvolvimento urbano favoreceu a explosão do mercado da construção civil em Campo Grande. O crescimento desordenado provocado pelas demandas socioeconômicas trouxe vários problemas decorrentes da expansão do perímetro urbano e a criação de conjuntos habitacionais da Companhia de Habitação Popular - COHAB, construídos em espaços distantes do centro de emprego, tais como os conjuntos José Abrão, Moreninha I, II e III e Estrela do Sul. No início da década de 80, em três ou quatro anos, o Estado construiu mais de 25 mil unidades habitacionais na cidade, fruto da política federal de financiamentos, criando enormes dificuldades urbanas provenientes da localização periférica desses assentamentos. A administração pública passou a necessitar, crescentemente, de um órgão de planejamento urbano para planejar e controlar o desenvolvimento urbano, incluindo o setor imobiliário, o qual exigia a expansão das áreas de negócios, especificamente a criação de novas áreas urbanas onde fosse permitido empreender novas atividades imobiliárias, principalmente a habitação vertical. Em 1987, a Prefeitura criou a Unidade de Planejamento Urbano de Campo Grande - PLANURB e o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano - CMDU, órgãos que passaram a elaborar novas normas e discutir as propostas urbanísticas. Em 1988, com quase 500 mil habitantes, a Câmara Municipal aprovou a nova estrutura urbanística de Campo Grande: a Lei municipal 2.567/1988, uma lei complexa, com mais de 50 artigos e 11 anexos, que tratava de todas as questões urbanísticas e ambientais - uso e parcelamento do solo urbano, perímetro urbano, áreas de fundo de vale, zoneamento, etc. Um novo zoneamento para a cidade foi desenhado, baseado em experiências de outras cidades brasileiras. 37 Ao mesmo tempo, áreas destinadas à verticalização são expandidas, atingindo quase todo o território compreendido dentro do minianel rodoviário (polígono compreendido pelas Ruas Ceará, Eduardo Elias Zahran, Salgado Filho, Tamandaré e Mascarenhas de Moraes), além de outras regiões mais periféricas. A lei criou, ainda, mecanismos de defesa ambiental e de conforto urbano, aumentando os afastamentos laterais entre os edifícios, criando regras para estacionamentos, etc. A Carta Geotécnica começava a ser elaborada e a Área non aedificandi às margens dos córregos aumenta para 50,00 metros; em alguns lugares da cidade, já era tarde; as favelas ocupavam as margens dos córregos e foi criada a Reserva do Parque dos Poderes, a maior área urbana de cerrados do oeste. 2.7 O planejamento urbano na virada do século XX Na década de 1990 há uma diminuição das taxas de crescimento econômico e populacional de Campo Grande, agora em torno de 2% ao ano. O setor público principalmente o estadual e municipal, grandes empreendedores da arquitetura e do urbanismo campo-grandense, passaram a adotar uma política de desenvolver arquitetura dos parques, praças, jardins e avenidas e alguns projetos arquitetônicos isolados. Quanto aos parques e praças cabe destacar os seguintes: a) Parque das Nações Indígenas, localizado entre as Avenidas Mato Grosso e Afonso Pena, com mais de 119 hectares de área dentro do perímetro urbano; b) Parque Ayrton Sena, com área de 33 hectares, localizado no Bairro Aero Rancho, zona sul da cidade; c) Parque Florestal Antônio Albuquerque, mais conhecido como Horto Florestal de Campo Grande, obra de recuperação do espaço urbano onde José Antônio Pereira, em 1875, construiu seu rancho ao chegar a terras de Campo Grande; d) reorganização do espaço de lazer Belmar Fidalgo na área central, e da Praça Ari; e) melhorias no desenho paisagístico e na reformulação do programa das praças dos bairros Itanhangá Park, José Abrão, Miguel, da Prefeitura da Capital. Quanto ao planejamento urbano ressalta-se a elaboração e aprovação do Plano Diretor de Campo Grande, em 1995, que introduz novos conceitos: cria as regiões 38 urbanas com base nas bacias hidrográficas da cidade e os planos locais de cada região e institui figuras peculiares de urbanização. O Plano Diretor de 1995 tinha começado a ser debatido em 1987 e depois em 1989 ele foi elaborado pelo PLANURB. Apreciado pelo CMDU e enviado para a Câmara Municipal, esse projeto de lei de 1990 da gestão Lúdio Martins Coelho, foi retirado pelo Prefeito Juvêncio César da Fonseca em seu segundo mandato e recomeçado a discussão via PLANURB. 2.8 O Plano Diretor de 1995 Em outubro de 1993, o PLANURB lançou o Seminário A CIDADE COMO UM JOGO DEMOCRÁTICO e organizava as basesda discussão do seu Plano Diretor, com cinco vetores: a horizontalidade, os vazios, as diferenças entre lugares, as distâncias e as desigualdades. Fig. 17 – Capa do Plano Diretor de 1995 Fonte: Publicação PLANURB-PMCG 39 O diagnóstico da cidade naqueles anos era que a cidade já crescia a taxas menores que as das décadas anteriores (algo em torno de 5% ao ano) com o seguinte quadro: a) A cidade era horizontal e isso implicava em densidades muito baixas em toda a cidade com um alto custo de manutenção dos serviços públicos: b) A cidade era vazia, pois o território de 1993 de 33.404 hectares tinha 43% sem ocupação e assim os vazios urbanos afloravam problemas; c) A cidade era diferente, pois o potencial construtivo não se aplicava uniformemente distribuído; d) A cidade era distante com um grau de espalhamento urbano alto e com isso custos de deslocamento excessivos e e) A cidade era desigual com irregularidades de urbanização e de oferta de infraestrutura urbana e serviços. Mais de dois anos depois, em novembro de 1995, o Plano foi aprovado pela Câmara Municipal e em seus 21 artigos, reformula-se o Sistema Municipal de Planejamento, com a criação dos Conselhos Regionais, os Planos Locais e figuras urbanísticas novas como a Outorga Onerosa, Urbanização Negociada e Consorciada. O plano serviu ainda para alimentar as discussões ambientais, de transporte e de habitação social em Campo Grande, pois, considerou essas três áreas como as prioritárias no desenvolvimento urbano. E assim nasceu a discussão da Agenda 21 e do Estatuto da Cidade: desenvolvimento sustentável; plano de gestão ambiental; conservação de recursos naturais; ética ecológica; proteção dos recursos naturais; meio antrópico; ambiente natural; cenários ambientais; ecologia urbana; fontes renováveis; biomassa; licenciamento ambiental; EIA (Estudo de Impacto Ambiental), RIMA (Relatório de Impacto Ambiental). Essa era a nova linguagem que todos estavam tendo que apreender para exercer suas profissões. Campo Grande completava, em 1999, 100 anos de sua emancipação política. Com uma população urbana de 618 mil habitantes e um órgão de planejamento urbano em pleno funcionamento, o quadro urbano já era modificado com ações e projetos desenvolvidos pela comunidade local. 40 Fig. 18 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande de 2000 Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 2.9 O planejamento urbano em tempos recentes. O inicio da discussão sobre revisão do Plano Diretor de Campo Grande de 1995 se deu com a 2º Conferência das Cidades, em julho de 2005. Em seguida aconteceram oficinas de trabalho para que a equipe técnica desenvolvesse parâmetros para as futuras discussões, a respeito do Plano, com comunidade local. Para a mobilização da comunidade foi instituído o Programa Comunidade Viva, em maio de 2005 e como primeira manifestação do programa aconteceu o 1º Ciclo de Conferências Locais em junho de 2006, onde foram feitas nove reuniões sendo sete das regiões urbanas e nos dois distritos. Dando continuidade no programa aconteceu, com a mesma intenção, sobre a participação da comunidade na revisão do Plano, o 2º Ciclo de Conferências Locais em julho de 2006, com os mesmos procedimentos da anterior. Em seu âmbito maior e agora já com as necessidades da comunidade e o mínimo entendimento da mesma sobre o Plano, aconteceram três Reuniões Públicas 41 em março e abril de 2006, duas nos distritos e uma na região do centro. Para completar o ciclo ouve três Audiências Públicas em agosto de 2006 seguindo o mesmo procedimento das Reuniões Públicas. A equipe técnica apresentou inicialmente 12 temas: 1) O papel do município na região de desenvolvimento regional 2) Desenvolvimento econômico municipal (3) Interface zona rural e urbana (4) Tendências da expansão urbana (5) Instrumentos urbanísticos (6) Política habitacional (7) Regularização fundiária (8) Função social da propriedade urbana (9) Patrimônio cultural municipal 10) Gestão democrática e controle social 11) Transporte, transito e mobilidade. 12) Saneamento ambiental e recursos hídricos O projeto de Lei foi finalizado e enviado para Câmara Municipal apenas uma vez, e não houve nenhum tipo de objeto que causou polêmica e assim fora de primeira aprovado. Um relatório técnico foi produzido pelo relator, Vereador Jorge Martins, mas a Comissão Legislativa não apreciou e o PL foi aprovado sem nenhuma emenda parlamentar com o número de Lei Complementar n. 94, de 6 de outubro de 2006. 2.10 Uma pequena conclusão A partir da década de 1940, a população urbana de Campo Grande passou a dobrar de tamanho a cada 10 anos, como vimos. Em 1950 eram 31.708 habitantes; em 1960, dobrou para 64.934; em 1970 passa para 131.110 habitantes; em 1980, já havia 283.653 habitantes em Campo Grande. 42 Em 1991 o Censo Demográfico do IBGE acusou 526 mil pessoas, um crescimento menor que nas últimas cinco décadas. Em 2000 o Censo acusou 663 mil habitantes e o crescimento médio geométrico anual que era de mais 8% nas décadas de 70/80, passa para 6% de 80/90 e agora para pouco mais de 2%. Em 2010 foram contados 786 mil pessoas. Esta velocidade de crescimento urbano e de urbanização acelerada ocorridas nas décadas passadas em Campo Grande, não correspondia com a base econômica do Estado, ainda centrada na agropecuária e mais recentemente na agroindústria. A cidade de Campo Grande assistiu, durante mais de 50 anos, a elaboração de leis e normas urbanísticas, especialmente de uso, ocupação e parcelamento do solo sem que houvesse, nem a participação da comunidade técnica, empresarial, política ou popular. O processo de planejamento ocorrido foi puramente tecnocrático: contratava- se uma empresa para elaborar planos para a cidade crescer e se desenvolver calcada nos ideais obreiros da época: planos havia para dar sustentação às obras que seriam executadas com dinheiro público, a fundo perdido. Nesta lógica, não havia necessidade de que a cidade tivesse órgão de planejamento urbano para pensar e repensar a cidade; não haveria a necessidade de construir um corpo técnico voltado para a formação em planejamento público. Se não havia planejamento urbano municipal, não havia diretrizes para loteamento, grandes edificações, projetos, etc. A cidade foi crescendo e sem acompanhamento ou monitoramento para corrigir as distorções geradas pelas normas urbanísticas, mudanças foram feitas na legislação, atendendo a interesses já citados. Ao mesmo tempo, já na década de 1980, os índices de crescimento demográfico batiam nas nuvens (8,02% a.a.); a migração se intensificara com a nova situação de capital de Mato Grosso do Sul; novo governo estadual se instala na cidade, aumentando a procura por imóveis e áreas. Com este quadro, era possível prever o que aconteceu na década de 1980: favelas surgiam da noite para o dia, em várias partes da cidade; não havia transporte coletivo para todos, muito menos energia e água potável; a rede de educação e de saúde não estava preparada para atender esta demanda. 43 Toda esta situação exigia, do setor público e da iniciativa privada, muita ação. Ao contrário, começou o caos urbano. O Governo do Estado, através da COHAB- Companhia de Habitação Popular-, desrespeitando qualquer norma urbanística municipal determinou a construção de gigantescos conjuntos habitacionais, localizados na mais distante periferia e um deles, as Moreninhas, fora do perímetro urbano. O Instituto de Previdência de MS-PREVISUL e o Instituto de Orientação às Cooperativas - INOCOOP-, também deixaram suas marcas no sítio urbano. Somente entre 1980 e 1985, o setor público estadual, construiu mais de 15.000 habitações populares, ou seja, 25% do total de habitações existentes em 1985. Eram os anos do milagre da construção civil de MatoGrosso do Sul e do país, onde o Banco Nacional da Habitação financiou milhares de habitação pelo país afora. Aqui em Campo Grande, segundo as estatísticas, nunca se construiu tanto em período tão curto. O caos urbano citado deveu-se, de um lado à localização dos conjuntos habitacionais distantes do centro urbano e do outro a inexistência de infraestrutura básica e de equipamentos sociais, tais como escola, posto de saúde, posto policial, etc. contribuindo para, ao invés de resolver o problema habitacional criar mais problemas para a administração municipal, aumentando investimentos em transporte urbano, pavimentação, etc. e jogando a população para locais distantes do centro de emprego. Ora, se a cidade já tinha um perímetro de 28.500 ha. suficiente para abrigar mais de quatro milhões de pessoas e na década de 1980 só tinha 300 mil, porque alterar o perímetro para implantar o maior conjunto habitacional do Estado- as Moreninhas, com quatro mil casas? A Câmara Municipal aprovou a mudança. Esse foi um episódio de um tempo sem discussão no planejamento. Nesse sentido, as raízes dos vazios urbanos no planejamento urbano de Campo Grande estão presentes na história e na sua trajetória de desenvolvimento, apontados aqui nesse capítulo. As nossas heranças culturais e urbanísticas são intensas e muito presentes em todos os momentos da cidade. 44 Fig. 19 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande atual com superposição de 1909 Elaboração: Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda Fig. 20 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande de 2014 Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 45 3. Quem é Campo Grande? 3.1. Uma apresentação De acordo com as projeções estatísticas, Campo Grande deve ter um milhão de habitantes em 2027. No entanto, a capital de Mato Grosso do Sul, fundada em 1872 e emancipada em 1899, segundo o IBGE, tem hoje pouco menos de 900 mil habitantes e um pouco mais de 35 mil hectares de perímetro urbano. O crescimento médio anual gira em torno de 1,72% e a quantidade de pessoas por domicílio é 3,12, ou seja, a família média campo-grandense, atualmente é de um casal e menos de dois filhos. No ano de 2015 o município tinha uma população estimada em 853.622 habitantes, segundo o IBGE. Campo Grande é um município urbano. Quase 99% de sua população (776.242 habitantes em 2010) residem na cidade enquanto pouco mais de 10 mil pessoas residem na área rural e nos distritos de Anhandui e Rochedinho. A área do município é equivalente ao tamanho de alguns países como Porto Rico, Cabo Verde, Brunei, Luxemburgo e um pouco maior que o Líbano e Jamaica. Figura 21 - Mapa do município de Campo Grande Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 46 Já a área urbana é imensa. Tem capacidade para abrigar quatro milhões de habitantes. A área urbanizada (170km²) é menos da metade do imenso perímetro urbano (359km²). Maior que Porto Alegre (160km²); Salvador (159km²) ou Recife (121km²). Figura 22 - Mapa da cidade de Campo Grande e suas bacias hidrográficas e córregos Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 A população economicamente ativa da cidade é de 70,73% e a taxa de alfabetização de 95,78%. Quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), Campo Grande vem evoluindo a cada década; era de 0,563 em 1991 passou para 0,673 em 2000 e atingiu 0,784 em 2010, índice considerado alto pelo PNUD/Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil, ficando em 12º lugar entre as 27 capitais brasileiras. Do ponto de vista econômico, o município tem 78,61% dos estabelecimentos nas atividades comerciais e de serviços. Apesar dos esforços governamentais, as 47 atividades industriais contribuem com 6,24%. Pouco mais de 20 mil estabelecimentos econômicos estavam registrados em 2013. Entretanto, a arrecadação de impostos, o setor comércio e serviços amplia o percentual para 85,7% do total. Na questão da renda familiar, Campo Grande tinha outro perfil em 2010, segundo o IBGE. Do total dos 249 mil domicílios da cidade (218 mil casas, 18 mil apartamentos e 12 mil casas em vila e outros 700 cortiços), 21,70% das famílias tinha renda mensal per capita de até um salário-mínimo; 23,00% tinham renda de 1 a 2 salários-mínimos; 14,5% de 2 a 5 salários-mínimos; 5,5% tinham renda de 5 a 10 salários-mínimos e uns 2,57% tem rendimentos acima de 10 salários-mínimos mensais. Ou seja, 59,2% das famílias tem renda de 0 a 5 salários-mínimos mensais. Já os sem rendimentos, são expressivos em Campo Grande: 32,3% da população. Em termos de rendimentos por bairro, o PLANURB disponibiliza as estatísticas, que estão expressas nesse mapa: quanto mais central, a renda é maior; quanto mais periférica a moradia, a renda cai. Figura 23 - Mapa do rendimento mediano das pessoas por bairro - 2010 Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 48 Quanto aos serviços de infraestrutura urbana, as redes de abastecimento de água e de energia elétrica atendem a 99,7% da cidade; já a de esgoto, cresceu muito nos últimos anos, e já atende a 79,64% da população, com 1.781 km de rede. A pavimentação asfáltica atende a 67,82% das vias urbanas com 2.765km de vias pavimentadas na cidade. Mais de 98% da população é atendida pela coleta domiciliar de lixo. Figura 24 - Mapa da cobertura de rede de água e esgoto de Campo Grande - 2014 Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 3.2. Sistema viário A mobilidade urbana em mais de 4.100 km de ruas e avenidas que compõem o sistema viário da cidade, se expressa por meio de uma frota de 498.409 veículos, cadastrados em 2014 sendo 258.592 automóveis, 14.129 caminhões, 58.700 caminhonetes e 114.079 motocicletas e um sistema integrado de transporte coletivo com uma frota de 583 veículos e uma média de 218 mil passageiros transportados por 49 dia que operam 180 linhas de ônibus. A cidade ainda tem uma frota autorizada de moto táxis com 491 veículos em 70 pontos e 80 km de ciclovias e ciclo faixas. Figura 25 - Mapa da rede de pavimentação asfáltica de Campo Grande 2014 Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 3.3. Infraestrutura Social A rede de atendimento social dispõe de 101 Centros de Educação Infantil, 165 unidades educacionais, sendo dois federais, 88 escolas estaduais e 185 municipais com aproximadamente 160 alunos matriculados. Na área da saúde, entre 2005 e 2015, o número de atendimentos médico-hospitalares dobrou, atingindo três milhões de atendimentos utilizando uma rede hospitalar com 1.674 leitos disponíveis e 108 unidades de saúde de todos os tipos. Por fim a rede de assistência social dispõe de 37 estabelecimentos composto pelos CRAS, UNIDAS, CCI, CCPA e CREAS. Figura 26 - Mapa das redes de educação e centros de educação infantil de Campo Grande 2014 Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 50 Figura 27 - Mapa da rede de saúde de Campo Grande 2014 Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 3.4. Limites territoriais De acordo com o Instituto de Planejamento Urbano de Campo Grande (PLANURB), a cidade possuía em 2015, um perímetro urbano com área total de 35.903,52 hectares abrigando uma população estimada 2015 de 853.622 habitantes, o que dá uma densidade de 23,77 hab./ha, muito pouco expressiva para uma capital. Ou seja, os dados sobre a cidade apontam um perímetro urbano pouco denso e por consequência, com possibilidades de muitas áreas ainda não urbanizadas ou desocupadas. 51 Figura 28 - Porcentagem de taxa de urbanização Fonte: Os Vazios Urbanos na Cidade de Campo Grande O Plano Diretor de Campo Grande, aprovado pela Lei complementar n. 94/2006 que sofreu inúmeras alterações nesses últimos anos especialmente em 2011, instituiu a política de desenvolvimentode Campo Grande e a Lei complementar n. 74/2005 e suas alterações, dividiu a cidade em 07(sete) regiões urbanas e cada região está dividida em bairros, para fins de planejamento da cidade. A cidade possui hoje 74 bairros e 793 parcelamentos que formam o poliedro de Campo Grande. 52 Figura 29 - Divisões Territoriais Urbanas Fonte: Os Vazios Urbanos na Cidade de Campo Grande 3.5. Densidade Urbana e Demografia Com relação à densidade por cada uma das regiões e bairros da cidade, Campo Grande, segundo dados do PLANURB, tem variação de 0,65 hab./ha até 63,68hab/ha, ou seja, bairros como Caiobá, Los Angeles, Mata do Segredo ou Maria Aparecida Pedrossian, com densidades muito baixas – menores que 10,00hab/ha, até os mais densos como Guanandy, Taquarussu ou Estrela Dalva, mas com taxas nunca maiores que 100,00hab/ha. Por outro lado, a evolução demográfica verificada nas últimas décadas aponta para uma taxa decrescente desde os anos 1980, apresentando uma média de 1,72% ao ano nos últimos cinco anos, conforme se verifica abaixo. 53 Figura 30 - Densidade demográfica Bruta por Bairro – IBGE 2010 Fonte: Os Vazios Urbanos na Cidade de Campo Grande Figura 31 - Evolução Populacional 1970 - 2014 Fonte: Os Vazios Urbanos na Cidade de Campo Grande 54 3.6. Instrumentos Legais - A Cidade e as Leis 3.6.1. Plano Diretor Em Campo Grande o Plano Diretor, Lei Complementar n. 94 de 06 de outubro de 2006, dividiu a área urbana da cidade em Macrozonas e Zonas Especiais de Interesse. Figura 32– Lei Complementar n. 186/2011 FONTE: Plano Diretor de Campo Grande As Macrozonas estão divididas em três tipos, sendo elas: a) Macrozona de Adensamento Prioritário - MZ1; b) Macrozona de Adensamento Secundário – MZ2 e c) Macrozona de Adensamento Restrito – MZ3. A MZ1 é a área destinada à intensificação do uso e ocupação do solo, principalmente quanto à ocupação dos vazios urbanos - lotes e glebas não utilizadas ou subutilizadas, de forma a otimizar a infraestrutura e os serviços públicos existentes. A MZ2 – é área destinada ao uso e ocupação gradual, acompanhando a expansão da 55 infraestrutura e serviços públicos à medidas que sejam disponibilizados, face às condições estabelecidas na Legislação Municipal específica. Por fim a MZ3 – é constituída por áreas reservadas para o futuro adensamento estimulando-se os usos de lazer, recreação e cultura, habitacional unir residencial, hortifruticultura, bem como parcelamento com lotes de no mínimo 5.000m². A Lei Complementar n° 186, também criou as Zonas Especiais de Interesse Social, a Zona Especial de Interesse Ambiental – ZEIA, a Zona Especial de Interesse Cultural – ZEIC e a Zona Especial de Interesse Urbanístico ZEIU, identificadas no mapa da Fig. 12. Cada uma destas zonas possui peculiaridades descritas na citada lei. 3.6.2. Lei de uso e ocupação do solo A Lei Complementar n.211 de dezembro de 2012, que altera dispositivos da lei Figura 33 – Zoneamento de Campo Grande-MS Fonte: Lei Complementar n.211/2012, adaptado por Poliana Esquina Padula. 56 n. 74 de 6 de setembro de 2005 e suas modificações até 2012, trata do uso de ocupação do solo, e assim divide a cidade em áreas com diretrizes específicas para o uso e a ocupação do solo, em zonas e corredores viários. A Lei Complementar n. 74 de 6 de setembro de 2005, no inciso LXXVI do Art. 3, define que Zonas de ocupação do solo são porções em que se divide a área urbana do território municipal estabelecidas por lei para as quais são atribuídos diferentes critérios e restrições de ocupação do solo visando ao seu ordenamento geral, enquanto Corredores viários são vias criadas para aperfeiçoar o desempenho do sistema de transporte urbano, cujos lotes lindeiros se caracterizam por oferecer um maior grau de permissividade dos índices urbanísticos e categorias de usos em relação às zonas a que pertencem. A característica do zoneamento de Campo Grande constante da Fig.13 é a de um atributo específico para as zonas localizadas na região urbana do Centro, que possuem coeficiente de aproveitamento alto – o maior é seis -, cercadas de zonas de uso Z7 que tem a capacidade de promover uma urbanização secundária, no médio prazo, sendo essa a maior zona de uso da cidade. A Lei de Uso e Ocupação do Solo, muito utilizada no dia a dia da cidade, para aprovar empreendimentos privados e públicos, possui diversos anexos com inúmeras instruções para a sua correta utilização e pode ser baixada pela internet no sítio www.capital.ms.gov.br/planurb. 3.6.3. Carta De Drenagem A carta de Drenagem tem objetivo principal de subsidiar o Poder Púbico e Privado nas ações planejadas através de critérios e recomendações de uso e Ocupação do Solo, sustentada pelas peculiaridades dos terrenos de cada bacia hidrográfica. Compreende um mapa síntese colorido representando as bacias hidrográficas e dos diversos graus de criticidade hierarquizados, obtidos a partir do cruzamento das informações. http://www.capital.ms.gov.br/planurb 57 Figura 34- Carta de Drenagem FONTE: PLANURB 3.6.4. Carta Geotécnica O objetivo principal da carta geotécnica é o de subsidiar o Poder Público e privado nas ações planejadas através de critérios e recomendações de Uso e Ocupação do Solo, em função das características peculiares dos terrenos em cada unidade homogênea. A Carta Geotécnica de Campo Grande foi elaborada em 1991 pela Prefeitura Municipal de Campo Grande, por meio do Instituto Municipal de 58 Planejamento Urbano (PLANURB) com apoio técnico do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Divide o território urbano em cinco unidades homogêneas, sintetizando suas características de solos e rochas. Desta forma, possibilita a tomada de decisões e a adoção de diretrizes distintas para cada unidade, visando prevenir possíveis problemas com o uso e a ocupação criteriosa do solo. Figura 35- Carta Geotécnica FONTE: PLANURB 59 4. Vazios Urbanos em Campo Grande 4.1. Introdução A discussão dos vazios urbanos em Campo Grande não é recente. O Plano Diretor da cidade de 1968, elaborado pela empresa Hidroservice Engenharia, já mapeava os locais de uma cidade com menos de 250 mil habitantes na época e apontava a necessidade de planejar o solo para a sua ocupação futura. Anos depois, em 1977, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ao estudar a cidade e o seu modelo de ocupação, indicava que os fundos de vale, áreas vazias deixadas às margens dos diversos córregos da cidade, devessem ter um controle de uso para atividades de recreação e lazer e com isso, preservar para o futuro. Em 1987 quando o PLANURB elaborou a revisão da Lei de Ordenamento de Uso e de Ocupação do Solo urbano de Campo Grande, procedeu a levantamento inédito de uso do solo e percebeu os vazios existentes no interior do perímetro urbano e, ao calcular a população para o ano 2000, indicava que nem todos os vazios deveriam ser ocupados, visto a necessidade de reservar áreas estratégicas para a cidade no futuro. A questão da ocupação socialmente responsável dos vazios urbanos entrou fortemente na agenda política da administração das cidades brasileiras com a Constituição de 1988 e, mais importante, com o Estatuto da Cidade, em 2001. No entanto, muita coisa mudou nas cidades brasileiras entre as primeiras propostas, na década de 1970, e as possibilidades concretas de intervenção que se desenham hoje. Figura 36 - Mapa das densidades urbanas por bairro em Campo Grande 1985 Fonte: EBNER (2001) 60 Nesse sentido, cabem algumas reflexões, mais como propostas para uma agenda de estudos e de pesquisa que possam orientar os atores sociais nas suas ações. Em primeiro lugar, em muitas cidades já não parece ser realidade a ideia, vigente nos anos 1970, de vastas extensões de terra infraestruturada
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