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Os-Vazios-Urbanos-na-Cidade-de-Campo-Grande

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1 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL 
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO 
 
 
 
 
Projeto de Extensão 
RELATÓRIO FINAL 
CAMPO GRANDE (MS) – Setembro de 2016 
2 
 
FICHA TÉCNICA 
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) 
Reitora Célia Maria Silva Correa Oliveira 
Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e Geografia (FAENG). 
Diretor Professor João Onofre Pereira Pinto 
Curso de Arquitetura e Urbanismo (CAU) 
Coordenador Professor Gutemberg Weingartner 
Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS 
Coordenação Professor Arquiteto e Urbanista Ângelo Marcos Vieira de Arruda 
Técnicos – Arquitetos e Urbanistas 
Poliana Esquina Padula 
Paulo Eduardo Barbosa de Abreu 
Pricila Nakamura 
Fabiany Bertucci 
Acadêmicos de Arquitetura e Urbanismo e Geografia 
Anna Luísa Zamai Martins 
Cristiano Garcia Rodrigues 
Felype Augusto Trefzer Chamorro 
Julia de Almeida Andrade 
Laura Aline Cella 
Leon Matos Santos 
Milene Rodrigues Marcellani 
Regina Maria de Oliveira Scatena 
 
 
3 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Para realização deste trabalho, muitas pessoas e entidades, deram sua 
contribuição. Nossos sinceros agradecimentos: 
 
A) Aos acadêmicos do Curso de Arquitetura e Urbanismo: Leon Matos, Regina 
Scatena, Júlia Andrade, Felype Chamorro, Laura Cella, Millene Macellani e Anna 
Zamai; 
B) Aos colegas arquitetos e urbanistas Paulo Abreu e Poliana Padula; 
C) Ao Instituto de Planejamento Urbano de Campo Grande (PLANUB), todo o 
pessoal técnico e da Direção, pelo apoio; 
D) A toda a Diretoria do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul (SECOVI-
MS) pelo apoio e financiamento do trabalho; 
E) A Fundação de Apoio a Pesquisa, Ensino e Cultura da UFMS (FAPEC) pelo apoio 
de gestão e execução; 
F) A UFMS por meio da Faculdade de Engenharias, Arquitetura e Urbanismo e 
Geografia (FAENG) e do Laboratório de Geoprocessamento, pelo apoio; 
G) A professora Ermínia Maricato, pelas palavras que prefaciam esse trabalho, 
com o cuidado e o carinho depositados em nossa equipe. 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
SUMÁRIO 
 
Apresentação --------------------------------------------------------------------------- 7 
Prefácio -----------------------------------------------------------------------------------9 
1. Sobre o Projeto de Extensão --------------------------------------------------- 13 
2. Os vazios urbanos em Campo Grande: territorialidade e espacialidade 
na história e formação da cidade ------------------------------------------------ 16 
3. Quem é Campo Grande? -------------------------------------------------------- 45 
4. Vazios Urbanos em Campo Grande -------------------------------------------59 
5. Vazios urbanos na região do Centro e seus bairros -----------------------82 
6. Vazios urbanos na região do Bandeira e seus bairros ------------------- 99 
7. Vazios urbanos na região do Anhaduizinho e seus bairros ----------- 114 
8. Vazios urbanos na região do Lagoa e seus bairros--------------------- - 128 
9. Vazios urbanos na região do Imbirussu e seus bairros ----------------- 142 
10. Vazios urbanos na região do Segredo e seus bairros ------------------ 156 
11. Vazios urbanos na região do Prosa e seus bairros --------------------- 171 
Anexo: Um estudo dos vazios urbanos nas cidades brasileiras ---------- 186 
Um pouco do Estado da Arte dos “Vazios Urbanos” no Brasil ------------207 
Glossário -------------------------------------------------------------------------------212 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Inegavelmente, um dos maiores problemas urbanísticos de Campo Grande, são 
os vazios urbanos existentes em seu território. 
Desde os primórdios dos planos diretores, diversas diretrizes tentaram regular 
a produção do espaço urbano, levando em conta sempre a necessidade de urbanizar 
os vazios, de sorte a permitir que a mancha urbana fosse contínua. A partir da década 
de 1970, a cidade recebeu contingentes populacionais em função de sua futura 
condição de capital de Mato Grosso do Sul em 1979 e, com isso, acelerou-se a 
urbanização descontrolada e os limites do perímetro foram sendo ampliados e os 
parcelamentos novos surgindo, disputando espaço com os conjuntos habitacionais 
públicos e com as ocupações irregulares em curso. Resultado ao fim da década, a 
cidade teve quase 200 favelas, mais de 10 mil novas casas construídas e uns 120 mil 
lotes vazios ao fim dos anos 1990. 
Campo Grande, em 1995, parou para repensar seu planejamento e, no Plano 
Diretor daquele ano, decretou a prioridade de combater os vazios urbanos com 
políticas de habitação e de urbanização. Mas, os instrumentos de controle não tinham 
uma base de dados que revelassem a real situação da cidade naquele momento e, sem 
essa informação precisa, as diretrizes expressaram-se, apenas, nas zonas de uso e nos 
índices urbanísticos em vigor. 
Em 2006, com a discussão da revisão do Plano Diretor, foi que o tema “vazios 
urbanos”, retomou seu protagonismo. Mesmo assim, o plano não expressou as 
diretrizes fundamentais para o tema e apenas o mapa de uma divisão da cidade em 
macrozonas (exigida pelo Estatuto da Cidade) e zonas especiais, contextualiza a 
necessidade de urbanização prioritária nas Macro Zona 1 e Macro Zona 2. Naquele 
momento da revisão não havia dados de nenhum levantamento consistente de toda a 
cidade para delimitar os necessários encaminhamentos de planejamento para a 
discussão dos vazios urbanos. 
A cidade caminhava para um perímetro urbano de quase 360 km2 em 2014, 
mais de 130 mil lotes vazios, segundo a SEMADUR (dado pouco consistente, pois nunca 
aferido) e, à olho nu, muitas glebas e áreas livres quando tomamos a decisão, por meio 
do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS, de procurar parceiros para a 
realização de uma ampla pesquisa em todo o território urbano, visando mapear e 
identificar os vazios urbanos em nossa cidade. 
Este trabalho apresenta o Relatório Final, depois de quase dois anos de intenso 
trabalho técnico e urbanístico, com uma equipe de acadêmicos e profissionais 
8 
 
extremamente competentes e comprometidos com a causa. Hoje, examinando esse 
trabalho, temos o orgulho de afirmar que, no Brasil, poucas cidades têm uma 
radiografia tão expressiva do seu território urbano e, com as amplas possibilidades das 
ferramentas digitais, apresentar mapas e documentos inéditos, que retratam a nossa 
realidade de Campo Grande. 
Vazios urbanos deixarão de ser um tabu em nossas discussões; os vazios 
urbanos privados precisam ser incorporados às políticas e diretrizes do nosso 
planejamento urbano; os vazios urbanos podem, no curto, médio e longo prazos, 
serem peças essenciais do nosso desenvolvimento. Basta entender suas razões e 
motivações e compatibilizar instrumentos urbanos legais que os usem em benefício de 
toda a sociedade. 
É isso que o Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS quer que 
aconteça ao final desse trabalho. Ser usado por todos. 
Obrigado, mais uma vez aos que nele trabalharam – especialmente os colegas 
Paulo Abreu e Poliana Padula e os acadêmicos Leon, Anna, Regina, Milena, Laura, Júlia 
e Felype – e aos parceiros SECOVI-MS, PLANURB e FAPEC. 
 
Prof. Ângelo Marcos Vieira de Arruda 
Coordenador do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
PREFÁCIO 
 
 
Em que pesem as divergências entre urbanistas do mundo todo, há uma quase 
unanimidade na crítica à cidade dispersa. A bibliografia internacional sobre o assunto é 
numerosa. 
A extensão ampla e horizontal na ocupação do solo com baixa densidade, que 
tem nos subúrbios americanos o principal exemplo, é ambientalmente e 
economicamente insustentável. Por vários motivos o modelo de “cidade compacta” 
tem sido largamente defendido: 
1) A cidade dispersa é a causade viagens diárias mais longas sustentadas, 
principalmente, pelo veículo motorizado individual. O automóvel e o combustível 
fóssil, como sabemos, é um dos maiores promotores do aquecimento global e de 
doenças ocasionadas pela poluição do ar. 
2) Na cidade dispersa as redes de infraestrutura – água, coleta de esgotos, 
drenagem de águas pluviais, iluminação pública, pavimentação – também são mais 
estendidas e, portanto, mais caras no custo per capita. Tanto sua construção ou 
instalação, como sua manutenção, resultam menos econômicas. É preciso lembrar 
também que os serviços resultam mais caros. É o caso da coleta e destinação do lixo, 
serviços de educação e saúde, etc. 
3) Na cidade dispersa, pelos motivos apontados, os moradores passam mais 
tempo nos transportes, tempo que não é dedicado ao lazer, à família. 
4) A cidade dispersa, baseada no transporte rodoviário, resulta em maior 
superfície impermeabilizada impactando o meio ambiente. Grande parte do solo 
urbano é destinado às ruas e aos estacionamentos. 
Ao desenvolver considerações criticas à cidade “modernista”, monofuncional, 
Jane Jacobsi, em seu notável livro Morte e vida das grandes cidades, lembra que é o 
mix de uso das edificações que propicia uma cidade mais viva (e segura) durante o dia 
ou durante a noite. Sem dúvida a cidade viva está relacionada à certa densidade e 
também na diversidade de usos (moradia, serviços, comércio, lazer). Ela será 
culturalmente e socialmente mais rica, ou mesmo mais justa e segura, se apresentar 
diversidade de idades, de etnias e rendas. O gueto, formado apenas por ricos ou 
10 
 
pobres, ou por determinada característica social apresenta, frequentemente, o que 
podemos chamar de patologias urbanas e sociais. 
A proximidade de serviços e comercio próximos às residências possibilitam que 
uma parte das viagens seja feita a pé ou utilizando bicicletas. Viagens motorizadas são 
eliminadas ou encurtadas. O ambiente construído resulta mais amigável a idosos e 
crianças. 
Seguindo a utopia colocada por modelos como esse (por exemplo, as Smart 
Growth) a cidade compacta se combina com arredores verdes, formado por agricultura 
de alimentos perecíveis, e de preferência orgânicos, ou por áreas de matas voltadas 
para o lazer ou preservação da água, fauna e flora. 
Nada mais distante desse modelo aqui apresentado dessa forma simples e 
esquemático do que as cidades brasileiras. 
Bairros excessivamente verticalizados se combinam a periferias amplas e 
dispersas. Nas periferias, bairros formados pela autoconstrução das casas, são 
interrompidos por loteamentos fechados (uma ocorrência ilegal embora produzido 
pelo mercado formal em todo Brasil) deixando pelo caminho muitos vazios 
completamente ociosos. Essas propriedades que estão na “engorda” são infladas pela 
renda imobiliária, gerada pelos investimentos públicos e privados em seus arredores. 
Nas favelas das grandes metrópoles brasileiras a densidade (770 hab./ha) pode 
ultrapassar a de bairros verticalizados mostrando que planos diretores e leis de 
zoneamento aplicam-se apenas para uma parte da cidade: aquela controlada pelo 
mercado e submetidas à detalhada legislação urbana e edilícia. Como lembra Pedro 
Abramoii, essa cidade não é concentrada e nem difusa. Ela é “confusa”, ou seja, 
apresenta a fusão de ambos os padrões. 
Se nas metrópoles do centro-sul existe o fenômeno dos imóveis edificados 
vazios e ociosos nas áreas centrais, nas capitais do centro-oeste e nas cidades de porte 
médio em todo Brasil, é a ociosidade da terra que chama atenção. Evidentemente a 
terra da qual se fala é a terra urbana, produzida ou servida de infraestrutura urbana. 
Entre nós, nada mais difícil do que aplicar modelos que contrariem o 
desperdício, a desigualdade, a insustentabilidade ambiental, social e econômica. A 
terra é um nó na sociedade brasileira. Toda terra que tem valor de mercado é 
11 
 
reservada para a produção imobiliária privada. E esta não chega às camadas de baixa 
renda. 
As poucas moradias sociais produzidas por meio de políticas públicas se 
localizam fora da cidade. Conjuntos habitacionais populares repetem a fórmula dos 
guetos ou senzalas urbanas marcando forte separação em relação ao tecido urbano 
consolidado existente. O Estado faz um precaríssimo controle do uso e da ocupação do 
solo de modo que, a população pobre, que não tem acesso ao mercado imobiliário e 
nem às políticas públicas encontra, nas ocupações ilegais, uma saída para resolver seu 
problema de habitação. Esta é uma prática que caminha no sentido de preservar o 
interesse de uma minoria de ricos proprietários. A cidade resulta cara e dispendiosa 
sem falar no sacrífico a que são submetidos àqueles que moram longe da oferta de 
emprego e serviços como hospitais e mercados. 
Durante muitos anos, os movimentos sociais que reivindicavam habitação, 
reunidos em torno da proposta de reforma urbana, lutaram e conquistaram um novo 
arcabouço legal com a finalidade de assegurar o instrumento jurídico da função social 
da propriedade. Ele está presente, assim como também a função social da cidade, na 
Constituição federal de 1988 e no Estatuto da Cidade, Lei federal 10.257/2001. 
A função social da propriedade deveria ser aplicada por meio do Plano Diretor 
que definiria o conceito e os locais de sua aplicação. No entanto, embora mencionada 
em praticamente todos os planos diretores, raríssimos são os casos de municípios que 
aplicaram a lei.iii Mais raro ainda é seu reconhecimento pelo poder judiciário que 
continua julgando como se a nova legislação não existisse. 
A pesquisa “VAZIOS URBANOS EM CAMPO GRANDE”, realizada pelo 
Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS, coordenada pelo arquiteto e 
urbanista e professor Ângelo Marcos Vieira de Arruda, com a participação da arquiteta 
e urbanista Poliana Padula e do arquiteto e urbanista da UFMS, Paulo Abreu, constitui 
um esforço importante no sentido de evidenciar uma cidade que cresce de forma 
excessivamente horizontal, dispersa, com as ocorrências de algumas torres 
discrepantemente altas em localizações mais centraisiv. 
12 
 
A pesquisa buscou classificar e relacionar os vazios úteis (até 25% de edificação) 
à lei do zoneamento (unidades parceladas e não parceladas), ao domínio público ou 
privado, ao levantamento da macrodrenagem e à geotecnia municipal. 
A manutenção de um significativo estoque de terras vazias cercadas de toda 
infraestrutura constitui um desperdício social. No entanto, os benefícios da valorização 
imobiliária, advindos dos investimentos públicos são apropriados privadamente. 
Enquanto a terra permanece ociosa, a população de baixa renda acaba morando em 
locais mais distantes e ermos em condições que não são exatamente urbanas, mas 
também não são rurais. Como já foi lembrado, as viagens diárias se tornam mais 
longas, aumentando o preço dos transportes e aumentando o sacrifício imposto por 
essa forma de mobilidade. 
Esse trabalho permite, portanto, estudar, planejar e corrigir desequilíbrios 
existentes no processo de urbanização de Campo Grande, de forma a torná-la uma 
cidade um pouco mais compacta (o que não significa necessariamente verticalizada), 
mais econômica em seu funcionamento e manutenção e, portanto, mais justa. 
Fica evidente aqui que, melhorar a mobilidade da população de mais baixa 
renda, exige pensar o transporte coletivo ou os meios não motorizados de locomoção, 
juntamente com o adequado (econômico, justo e sustentável) uso e ocupação do solo. 
Isso significa ocupar os vazios urbanos antes de admitir o aumento da expansão 
horizontal da cidade. Isso significa planejar e dirigir o crescimento da cidade. 
Finalmente isso significa aplicar a função social da propriedade visando o adequado 
futuro para Campo Grande. 
 
Ermínia Maricato 
15 de dezembro de 2015 
 
 
i
 Jacobs, Jane. Morte e Vida das Grandes Cidades, disponível em http://pt.slideshare.net/00107238/jacobs-jane-morte-e-vida-das-grandes-cidades-14024953. 
ii
 Abramo, Pedro. A cidade COM-FUSA: a mão inoxidável do mercado e a produção da estrutura urbana nas grandes 
metrópoles latino-americanas. In Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais. V. 9, n 2, 2007 
iii
 Denaldi, Rosana. “A efetividade dos instrumentos de Direito Urbanístico – Edificação compulsória, IPTU 
progressivo e desapropriação por títulos da dívida pública" Pesquisa em andamento UFABC/IPEA 2015. 
iv 
A Pesquisa foi promovida pela Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul em parceria com da 
FAPEC/MS, do Instituto Municipal de Planejamento Urbano e do SECOVI- MS e teve a participação de alunos 
bolsistas Leon Matos, Júlia Andrade, Laura Cella, Milena Marcellani, Felype Chamorro, Regina Scatena e Anna 
Zamai. 
 
13 
 
1. Sobre o Projeto de Extensão 
 
Apresentação 
 
O Projeto de Extensão “OS VAZIOS URBANOS NA CIDADE DE CAMPO GRANDE-
MS” surgiu da necessidade imperiosa de se estudar um dos maiores problemas 
urbanísticos da capital de Mato Grosso do Sul - previsto como diretriz prioritária no 
Plano Diretor, e um capítulo importante na discussão da política de desenvolvimento 
urbano do município. 
Com a criação do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS em 2013, 
espaço de projetos de pesquisa e de extensão de políticas públicas e com o interesse 
declarado do Instituto de Planejamento Urbano de Campo Grande (PLANURB) em 
promover estudos visando a revisão do Plano Diretor – de um lado – e do outro lado, o 
mercado imobiliário, por meio do Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul 
(SECOVI-MS), de conhecer a realidade do assunto, visando a discussão da cidade e de 
seus temas de interesse, a UFMS, por meio da Faculdade de Engenharias, Arquitetura 
e Urbanismo e Geografia (FAENG) e do Curso de Arquitetura e 
Urbanismo/Observatório, celebrou Convênio de Cooperação envolvendo essas partes 
e ainda com a participação da Fundação FAPEC/UFMS, visando estudar os vazios 
urbanos da cidade de Campo Grande, um trabalho inédito e de grande importância 
para todos. 
A partir do Projeto de Extensão aprovado pela PREAE/UFMS e inscrito no 
SIGProj n. 189470.793.203.25112014, envolvendo essas partes interessadas, o 
trabalho foi iniciado em 01 de setembro de 2014 e encerrado em 30 de julho de 2016, 
tendo a coordenação do Prof. Ângelo Marcos Vieira de Arruda – que também 
coordena o Observatório de Arquitetura e Urbanismo–, a participação dos técnicos 
arquitetos e urbanistas Paulo Abreu, Pricila Nakamura e Poliana Padula e dos bolsistas 
acadêmicos do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMS, Leon Matos, Felype 
Chamorro, Julia Andrade, Regina Scatena, Anna Luiza Zamai, Milena Macellani e Laura 
Cella. 
14 
 
Justificativa 
O trabalho foi iniciado com a aprovação do Plano de Trabalho, treinamento de 
toda a equipe e preparação de todo o conjunto de informações necessárias para o 
desenvolvimento das tarefas. 
O objetivo geral do projeto era mapear os vazios urbanos dentro do perímetro 
urbano de Campo Grande a partir das informações disponíveis no banco de dados do 
Instituto Municipal de Planejamento Urbano de Campo Grande - PLANURB, contidas 
nas sete regiões urbanas, aí incluídos os parcelamentos de todos os bairros 
cadastrados. 
O Projeto objetivava ainda elaborar Mapas Urbanos com os vazios encontrados 
em glebas e áreas livres; analisar os dados encontrados possibilitando nova leitura 
sobre a cidade para investigações futuras; possibilitar uma revisão do Plano Diretor em 
2016 com bases de dados mais consistentes permitindo encontrar novas políticas 
setoriais; divulgar para os usuários - profissionais da arquitetura e engenharia, 
profissionais do setor imobiliário e investidores em especial - dados mais confiáveis da 
situação urbana de Campo Grande. 
 
Metodologia 
A metodologia adotada na execução do projeto consistiu na realização das 
seguintes atividades: 
a) Formação da equipe técnica da UFMS e dos parceiros; 
b) Construção da equipe dos estagiários da UFMS e de outros locais fora da 
UFMS, especialmente do SECOVI e PLANURB; 
c) Elaboração do Plano de Trabalho; 
d) Treinamento e capacitação da equipe de georreferenciamento, com auxílio 
do Laboratório do Curso de Geografia; 
e) Aproximação com o Banco de Dados e uso dos softwares; 
f) Divisão das tarefas por equipes, para cada bairro, com organização e 
sistematização de todas as informações; 
g) Separação dos parcelamentos e das fontes de dados para utilização dos 
softwares; 
15 
 
h) Preparação dos trabalhos com sistematização das informações a serem 
colhidas, desenhadas e especificadas; 
i) Levantamento de dados e mapeamento dos vazios e revisão de todos os 
dados. 
O trabalho utilizou-se do software livre Qgis, licenciado pela General Public License 
(GNU) que opera em linguagem Linux, Unix, Mac OSX, Windows e Android e suporta 
vários formatos vetoriais, raster, de banco de dados e do banco de dados da Prefeitura 
Municipal de Campo Grande por meio de ortofotografias de dezembro de 2013 e de 
plantas oficiais de quase todos os parcelamentos da cidade. Alguns parcelamentos não 
possuem dados tão precisos como planta oficial, mas estes foram discutidos e 
revisados juntamente com as partes envolvidas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
2. Os vazios urbanos em Campo Grande: território e 
espacialidade na história da formação da cidade. 
 
 Os diversos estudos sobre a ocupação histórica e do território de Campo 
Grande dizem que tudo começou no ano de 1872 quando o mineiro José Antônio Alves 
Pereira, seus dois filhos- Joaquim e Antônio Luís e mais quatro agregados, chegaram 
no dia 211 de junho e à margem esquerda do córrego Anhanduizinho ergueram um 
pequeno rancho de palha. 
As famílias que chegavam montaram ranchos desalinhados, nas redondezas da 
atual Rua 26 de Agosto. O assentamento original da localidade ocorreu à margem dos 
córregos Prosa e Segredo, local agradável para os novos moradores. E desse 
assentamento surgia a vila de Campo Grande e a trajetória do planejamento urbano da 
cidade. 
 Os primeiros edifícios começam a ser erguidos. Dois anos depois, em 1877, José 
Antônio Pereira ergueu a primeira igreja do arraial, em esteio de aroeira e construção 
de pau-a-pique. A partir de então, o povoado passou a ser conhecido como Santo 
Antônio de Campo Grande da Vacaria. Em 1888, funda-se o primeiro cemitério, nos 
cruzamentos das atuais Ruas 15 de Novembro e 13 de Maio, ao lado da Praça Ari 
Coelho2. 
 
 
Fig. 1 - Campo Grande no começo do século XX 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
 
1
 A data de fundação de Campo Grande deveria ser 21 de junho de 1872 e não como é a de 26 de agosto de 1899. 
2
 Esta Praça, antes de sua atual denominação, era chamada de Praça Municipal ou Jardim Público e depois Praça da 
Liberdade. 
17 
 
Em 1889, através da Lei estadual n º 729, de 23 de novembro, foi criado o 
Distrito de Paz, pertencente ao município de Miranda. A região atraia contingentes 
migrantes de vários lugares, especialmente aqueles com negócio de gado. Nessa 
época, multiplicaram-se as fazendas nos arredores do distrito e a base da economia 
local era a pecuária bovina, devido à grande quantidade de terras disponíveis. 
Em 1889, 10 anos antes da emancipação política de Campo Grande, estima-se 
que algo em torno de 180 pessoas residia aqui. 
A economia do lugar crescia com os negócios de gado do Triângulo Mineiro e 
de outras localidades. Os primeiros migrantes europeus começaram a chegar ao arraial 
e as casas comerciais, escola, e outras necessidades humanas, foram implantadas. 
Em 26 de agosto de 1899, ocorreu a emancipação política, através da 
Resolução estadual nº 225 e nasceu o município de Campo Grande com um território 
de 105.000 km², desmembrado de Nioaque,o sexto município do sul de Mato Grosso3 
e o último a ser criado no século XIX. 
 
Fig. 2 – As rotas pecuárias 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
 
 
3
 – Havia ainda Corumbá (1850), Miranda (1871), Nioaque (1890), Coxim (1898) e Paranaíba (1857). 
18 
 
Esse assentamento surgiu de forma a ocupar as terras férteis da região e seus 
moradores ora habitavam ranchos às margens dos dois córregos centrais ou estavam 
sediados em pequenas fazendas nas proximidades da vila. 
 
Fig. 3 - Campo Grande no começo do século XX 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
A origem rural e mineira do assentamento do território conduziu a ocupação 
social e urbana. Hábitos e feitos nesse tempo eram todos vinculados à origem rural 
mineira do fundador e dos primeiros moradores. Ranchos foram erguidos na área mais 
urbana da vila, mas muitos mantinham suas terras rurais para a prática pecuária, 
marca cultural da cidade e de seu urbanismo: grandes propriedades cultuadas de 
família para família, extensões de terra de perder a vista. 
 
2.1 O Plano de Alinhamento de Ruas e o Rossio. 
 
 A preocupação com o planejamento e o desenvolvimento de Campo Grande 
esteve sempre presente em todos os documentos e planos existentes, desde sua 
fundação e já em 1905 veio a aprovação da primeira lei municipal que faz referências a 
temas da urbanização recente. 
O Código de Posturas de Campo Grande daquele ano tratava, dentre outros 
assuntos, de saneamento e de limpeza urbana, da localização das edificações e dos 
tamanhos dos lotes. A preocupação sanitária era enorme, pois a cidade, com pouco 
mais de 1.200 habitantes, segundo Themistocles Paes de Souza Brasil, em seu relatório 
de 1906, de que fala Paulo Coelho Machado, em seu livro Rua Velha, devia seguir o 
ritmo das outras capitais, principalmente Belo Horizonte, que acabava de ter um Plano 
Urbanístico, elaborado no final do século XIX. 
 Outra medida urbanística veio com a aprovação da Resolução n 21, de 18 de 
junho de 1909: ela aprova a primeira planta urbana da cidade, elaborada pelo 
19 
 
engenheiro agrônomo Nilo Javary Barém, com lotes numerados de 01 a 382, onde 
traçava os primeiros passos para o ordenamento do crescimento urbano. 
 
Fig. 4 - Planta do Plano de Alinhamento de Ruas de 1909 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
 A regularidade da malha urbana, usando a trama ortogonal, com uma grande 
avenida central, evidenciava a utilização de um traçado europeu das cidades do século 
passado. Estas posições apareceram no urbanismo de Goiânia e de Belo Horizonte. 
A planta da cidade continha um conjunto de quarteirões com lotes médios de 
2.500 m2, com testada de 40,00 ou 50,00m, de traçado ortogonal, sendo a Avenida 
Afonso Pena – originalmente Marechal Hermes -, a via mais larga, com 50,00m, 
enquanto as demais vias tinham 20,00m de largura. Essa planta histórica tinha como 
referências urbanísticas o traçado modernista e a sua implantação obedeceu à lógica 
de instalação das pessoas na época, ou seja, utilizando os córregos Prosa, ao sul e o 
Segredo, a oeste, como limites referenciais. A única rua povoada era a atual Rua 26 de 
Agosto, denominada de Rua Velha. 
 A vila em formação se comunicava com as demais regiões do Estado de Mato 
Grosso e do país através de estradas boiadeiras que penetravam o sítio original a partir 
de várias entradas, sendo uma das mais usadas, a estrada para o Pantanal, a oeste. As 
saídas boiadeiras eram os limites oficiais da Vila de Campo Grande e fortemente 
utilizadas, por conta do intenso comércio de gado, nos meados do século XIX e depois 
disso, com o fim da guerra do Paraguai, como caminho de passagem de pessoas e de 
comunicação com São Paulo e Minas Gerais. 
20 
 
 No ano de 1910, outro engenheiro, Themístocles Paes de Souza Brasil, capitão 
do exército e perito em matemática e geometria, inicia a demarcação do Rossio de 
Campo Grande, definindo-o em 6.504 hectares sendo 222 na área urbana, 1.314 para a 
suburbana e 4968 para a zona rústica. 
 
 Fig. 5 - Planta do Rossio de Campo Grande de 1910 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
 Ao entregar o trabalho, em 1910, Themistócles preparou um Relatório onde 
analisa a vila em seus diversos aspectos e diz que havia 1.200 moradores na área 
urbana de Campo Grande. Na prática, o rocio da época equivale ao termo hoje 
conhecido como Perímetro Urbano de Campo Grande. 
 E aqui começa a história dos vazios urbanos de Campo Grande. 
 O que foi aprovado e demarcado no começo do século, 6.540 ha, é equivalente 
a 20% do atual perímetro atual, e quando a cidade só tinha 1.500 habitantes. 
 O rossio de 1910, já era suficiente para abrigar a população de 650 mil 
habitantes, e com um adensamento populacional excelente, em torno de 100 hab./ha. 
 Antes mesmo de encerrar a 1ª década do século XX, Campo Grande já possuía 
os 03 instrumentos básicos para o seu desenvolvimento ordenado: um perímetro 
urbano definido por lei (rossio), um traçado urbano da vila (plano de alinhamento de 
21 
 
ruas e praças) e um Código que determinava a forma de ocupação do solo e 
construção de edifícios. 
 O plano de expansão urbana já tinha suas diretrizes básicas: ao norte áreas de 
terra onde atualmente se localiza a UCDB e a Lagoa da Cruz (Mata do Segredo); a leste, 
até o atual Parque dos Poderes (Desbarrancado); à oeste até o Bairro Amambay 
(quartéis) e ao sul pouco após o Córrego Prosa. 
 
Fig. 6 - Detalhe da Planta do Rossio de Campo Grande de 1910 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
 
2.2 A Estrada de ferro da NOB e o primeiro bairro, a Amambaí. 
 
 Com a criação do município de Três Lagoas em 1915, Campo Grande perdeu 
45.000 km² de seu território e sua área municipal passou a ser de 60.000 km². Em 31 
de julho de 1912 a Diretoria de Terras da Secretaria de Agricultura de Mato Grosso 
aprovou a Planta do Rossio do Patrimônio de Campo Grande com 6.504 hectares de 
acordo com o projeto de Themistócles Brasil. Em 20 de julho de 1910, Campo 
Grande foi elevado à categoria de Comarca Especial e de acordo com o relatório de 
Themistócles Brasil, “a vila apresentava o aspecto de pequeno povoado em formação. 
Casas esparsas, deixando entre si grandes intervalos, semeiam o branco de suas 
22 
 
pinturas e o vermelho dos telhados no verde escuro da vegetação, dando o conjunto 
uma aparência agradável.”. 
 O principal fator de desenvolvimento urbano e econômico de Campo Grande, 
de todos os tempos, aconteceu nessa década: a ligação da cidade com São Paulo via 
Bauru, através da estrada de ferro Noroeste do Brasil, inaugurada, oficialmente, dia 14 
de outubro de 1914. A ligação ferroviária modificou as relações econômicas e culturais 
de Campo Grande. A Rua 14 de julho, uma das muitas ruas projetadas por Nilo Javari 
Barém em 1909, com seus 20 metros de largura, após a implantação da estação da 
NOB, tornou-se a via mais importante da cidade, com seu comércio dos migrantes, 
principalmente os árabes. 
 Esse surto de desenvolvimento econômico refletiu nas taxas de crescimento 
populacional: de 1.200 habitantes em 1910 para 3.367, em 1920, com um crescimento 
médio geométrico de 10,87% ao ano. Em 1919, segundo o Relatório de Humberto 
Miranda , a cidade tinha 550 prédios cadastrados. Ao final do período, o traçado da 
zona urbana da cidade cresceu para a direção norte, abrindo ruas até os limites da Av. 
Mato Grosso. 
 
Fig. 7 - Campo Grande no começo do século XX em planta 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
23 
 
 
O sítio da vila continuava tendo como limites físicos os dois córregos – Prosa e 
Segredo-, como barreiras a sua mancha urbana. Nos limites do Prosa, havia chácaras 
que tinham formato típico de lote urbano, porém estreito e profundo. 
Na década de 1920, Campo Grande foi incluído na lista das 15 cidades 
brasileiras onde seriam construídos quartéis militares. O conjunto arquitetônico das 
edificações militares foi rapidamente construído. Na mesma época, Camilo Boni, 
engenheiro que trabalhava na Intendência Municipal na administração de Arlindo de 
Andrade Gomes, projetou o traçado urbanístico do primeiro bairro de Campo Grande, 
o Amambaí, de ruas sinuosas e largas, possibilitando, pela proximidade da área central, 
a moradia dos operários que não retornaram para São Paulo após o término das obras 
militares e de outros migrantes de menor renda. O centro se expandia para o oeste 
agora. 
 
 
Fig. 8 - Planta do bairro Amambaí 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
24 
 
 O bairro Amambaí foi projetado pela Seção de Engenharia da Intendência 
Municipal, sob o comando do engenheiro italiano Camillo Boni5 e com a participação 
do assistente Giglioti, também italiano. 
 Boni foi um grande realizador e modernizou a administração local. Trabalhou 
com arquitetura, urbanismo e engenharia, como poucos, no seu tempo. 
 Na administração pública, na área do urbanismo e paisagismo, realizou o Plano 
de Melhoramentos das Ruas e Calçadas, com levantamento e perfil de cada uma das 
vias urbanas; padronizou as calçadas e passeios; embelezou e arborizou a Av. Afonso 
Pena com árvores vindas da chácara do Intendente Arlindo Gomes. 
 O projeto do bairro, que possuía uma área em torno de 65 hectares, dividia em 
435 lotes e 35 quarteirões, sendo 12 deles localizados na parte norte e 22 na parte sul 
do bairro. 
 Do total de lotes, 75% deles são de formato irregular, apresentando dimensões 
variáveis de testada entre 12 e 30 metros, sendo que os lotes de formato regular 
apresentam testada média de 20,00m e profundidade de 40,00m coincidindo com o 
formato original de 1921. Podemos afirmar que os lotes regulares ainda guardam o seu 
formato original do projeto de Camillo Boni. 
 A principal característica do parcelamento é a inexistência de quadras 
totalmente regulares. Os polígonos variam em forma e a maioria deles apresentam 
formatos triangulares, trapezoidais ou de paralelogramos. A matriz geradora do 
traçado viário que acaba contribuindo com o formato dos quarteirões é a explicação 
para o parcelamento desse bairro. 
 Do parcelamento original havia 28.889 m2 de áreas não parceladas – áreas 
públicas destinadas a equipamentos comunitários e praças sendo, a maior delas, a 
área 11, com 23.000m2, onde se localiza a Igreja do Perpétuo Socorro e a Escola dos 
Padres Redentoristas. Essa área era originalmente inteira e foi subdividida em duas. 
 
 
5
 Camillo Boni (1889-1974), filho de Domenico e Rita Boni, nasceu em 21 de agosto, na cidade de Moderna, Itália e 
em 1909 diplomou-se como perito em Agrimensura, Arquitetura e Engenharia no Reggio Instituto Técnico Jacoppo 
Barozzi. No ano de 1934, obteve do CREA/SP a licença n. 1.665, para exercer a profissão de Arquiteto e de 
Construtor, já que seu curso técnico de Modena não era superior pleno. 
 
 
25 
 
 Outras áreas públicas existentes e que foram ocupadas eram as áreas 06 e 12 e 
a ponta da 01, que foram ocupadas com o Mercado Antônio Valente, com a Escola 
Manoel Barbosa e com a sede do SESI, respectivamente. 
A área destinada ao arruamento do loteamento foi de 229.575,00 m2, 
correspondendo a 32,7% da área total da gleba. 
 
2.3 A cidade planejada com o plano do Escritório Saturnino de Brito 
 
A cidade já abrigava , em 1930, 10.117 habitantes, crescendo 11,63 % ao ano na 
década e triplicava a população em 10 anos. 
O desenho da mancha urbana de Campo Grande em 1930/1940, com a 
instalação dos quartéis e do Bairro Amambaí, Vila Orpheu Baís, Vila Carvalho e a Vila 
Planalto, é bem diferente da década anterior, pois, as barreiras dos córregos tinha sido 
transposta na direção oeste, sudoeste e noroeste. 
 
 
Fig. 9 - Planta de Campo Grande de 1942 com desenhos 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
 
26 
 
A ligação oeste se fazia através de pontilhão na Rua 26 de agosto e na Rua 
Cândido Mariano, transpondo o córrego Segredo e essas duas ruas vão dar seguimento 
ao desenvolvimento oeste. A saída para Rochedinho, atual Av. Tamandaré, tem seu 
desenho configurado com o loteamento Vila Planalto. Ao sul, o traçado da Vila 
Carvalho – que teria ligação com uma variante da Rua 26 de agosto sugere a 
continuidade da Rua 14 de julho, fato que vai ocorrer anos após. 
 A Resolução n 43, de 27 de abril de 1921, promulgada por Arlindo de Andrade 
Gomes, intendente municipal, estabeleceu o Código de Posturas do Município e em 
seu artigo VI diz que o “o prolongamento das ruas e avenidas atuais só podem ser 
feitos com autorização da Intendência - a Prefeitura da época-, obedecendo à planta 
oficial”, ou seja, supomos haver, após a planta elaborada por Nilo Javary Barem, outra 
com “diretrizes” para prolongamentos e ainda diz “obedecendo à mesma largura em 
toda a zona municipal”- Art. VII parágrafo primeiro. O Prefeito Eduardo Olímpio 
Machado, em 1938, contratou o escritório Saturnino de Brito, do Rio de Janeiro com a 
tarefa de elaborar o Plano de Saneamento e Drenagem da cidade e o projeto do 
sistema de abastecimento d’água da estação do córrego Lageado. Naquela ocasião, o 
escritório elaborou a primeira Planta Urbana de Campo Grande com levantamento 
topográfico e a localização cadastral dos imóveis existentes. Por fim, os estudos 
culminaram com a promulgação do Decreto-lei nº 39, de 31 de janeiro de 1941, o 
primeiro Plano Diretor da cidade, já com mais de 25 mil habitantes. 
 
Fig. 10 - Desenho do Plano de 1938 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
27 
 
A Planta de Campo Grande elaborada pelo escritório Saturnino de Brito em 
1938 sinalizava a continuidade do traçado em direção norte, até os limites a Rua 
Amazonas e a inclusão do traçado da Vila Bandeirantes e do Taveirópolis a sudoeste. A 
Av. Contorno, atual Salgado Filho com Eduardo Elias Zahran, estava com seu desenho 
definido a ser implantado futuramente. 
 
 
Fig. 11 - Planta cadastral de Campo Grande de 1939 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
 
Outra região importante criada nessa época foi a Região da Vila Alba e 
arredores que, pela localização próxima aos quartéis, era preferencial da população. 
Em 1939 a população urbana estimada era de 23.054 habitantes e apresentava 
um crescimento urbano na década de 8,58% ao ano. 
28 
 
A grande novidade do Decreto-Lei n. 39 era o zoneamento6 da cidade. Cinco 
zonas de uso foram criadas e para cada uma delas, uma norma para as atividades, 
empreendimentos e para a ocupação do solo (Fig. 8). 
A Zona Central ou Comercial compreendia a parte mais histórica e central de 
Campo Grande, constituída de um polígono com as ruas comerciais mais importantes, 
como a Rua 14 de Julho e seus arredores. Nessa zona era admitida a testada dos lotes 
de 10,00m (enquanto que no resto da cidade era de 12,00m) e profundidade de 
30,00m. Era permitido construir até o limite de 60% do terreno e se houvesse, nos 
fundos, atividades residenciais, o que era típico na época, o índice cresceria para 65%. 
A construção deveria ser no alinhamento predial 
A Zona Industrial era compreendida pelas ruas mais antigas da cidade, às 
margens do Córrego Prosa, no caso a Rua 26 de Agosto, Barão de Melgaço e Joaquim 
Murtinho, onde havia terrenos brejosos e de difícil construção naqueles tempos. Nessa 
região havia ainda algumas pequenas olarias de tijolos e outras fábricas e era 
permitidoocupar 70% do terreno, pois os lotes eram maiores, por conta da 
profundidade das ruas até o córrego. A construção poderia ser no alinhamento predial. 
 A Zona Residencial era um quadrilátero formado pela Av. Mato Grosso, 25 de 
Dezembro, Av. Afonso Pena e 13 de Maio, uma clara separação das demais zonas 
comercial e industrial, apesar da proximidade destas. O recuo frontal exigido era de 
4,00 m e o lateral de 1,50m e no mínimo seis cômodos, num claro sentido de que as 
casas operárias de dois ou três cômodos ficaram para o bairro Amambaí e para a Zona 
de 2ª Categoria. Após a promulgação da lei, as residências existentes nos fundos das 
lojas comerciais existentes na Rua 14 de Julho começam a se transferir para as ruas 
localizadas nessa zona residencial, com destaque para a Rua Antônio Maria Coelho, 
Cândido Mariano, as preferidas da classe de maior renda. 
A Zona Mista de 1ª Categoria compreendia diversas ruas da área central e 
residencial, enquanto a de 2ª Categoria constituía todo o restante da cidade não 
 
6
 Desde 1905, a cidade já tinha normas urbanísticas expressas em Código de Posturas, mas nenhum deles tratava do 
zoneamento da cidade. O zoneamento enquanto função surge nos anos 30, após a Carta de Atenas do CIAM de 
1931. 
 
29 
 
delimitado pela lei municipal. Tinha um sentido de corredor, pois era possível ocupar 
50% do solo na primeira e 33% na Segunda categoria. 
Alguns itens da Lei tinham claro compromisso com a modernidade, como a 
exigência de construção com, no mínimo, dois pavimentos na Rua 14 de Julho, entre a 
General Mello e a Rua 7 de Setembro, na Rua Dom Aquino e Barão do Rio Branco e 
Avenida Afonso Pena entre a Calógeras e a 13 de Maio; as vilas, só poderiam ser 
construídas nas Zonas Mistas de 1ª e 2ª Categoria, e afastadas uma da outra, no 
mínimo, 200 metros, numa tentativa de retirá-las da área mais central e até não 
permitindo na zona residencial, evidenciando o uso uni residencial; nos loteamentos 
novos já se exigia um percentual de 20% da área total da gleba para o arruamento e 
outros 20% reservados para as áreas de praças e jardins, percentuais bem maiores que 
os determinados pela Lei federal 6.766/79 em vigor até recentemente para todo o 
país; os profissionais encarregados pelas obras, engenheiros ou arquitetos, eram 
obrigados a informar o nome do eletricista e do encanador encarregado e o mesmo 
deveria também estar cadastrado na municipalidade. 
Outro ponto muito importante do Plano do Escritório Saturnino de Brito, 
ocorreu com o Ato 16, de 27 de março de 1939, quando o Prefeito Eduardo Machado 
resolveu, a seu pedido, criar a Comissão Municipal de Saneamento, para analisar e 
encaminhar para aprovação junto ao Departamento de Saúde do Conselho de 
Administração Municipal do Estado de Mato Grosso, a proposta de adução das águas 
do Córrego Desbarrancado, localizado na parte leste da cidade, naqueles anos 
distantes uns 4.000m da área urbanizada da Av. Afonso Pena, o Obelisco. A área 
adquirida pela municipalidade nos anos 40, por orientação do Plano, foi utilizada 
parcialmente para adução e hoje abriga a nascente do Córrego Prosa, com águas do 
Desbarrancado e Córrego Português e é a sede o Parque dos Poderes, local onde estão 
instalados os prédios da administração estadual e uma reserva ecológica de cerrado 
das maiores entre as cidades brasileiras, além de captar e fornecer água para diversos 
bairros. Ainda hoje, uma pequena barragem construída nos anos 44, lá se encontra, 
formando um pequeno lago, e um espaço construído para o turismo ecológico. 
 
30 
 
 
 
Fig. 12 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande com bairros 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
 
 
2.4 A verticalização vem com o modernismo na arquitetura 
 
Um novo panorama econômico surgiu nos anos 40, com as imposições 
comerciais provocadas pela Segunda Guerra Mundial (1936-1945), com graves 
consequências para a construção civil em função da dependência brasileira na 
importação de materiais básicos como o ferro e o cimento. Somente no final da 
década, é que começaram a serem construídos alguns edifícios de importância para a 
arquitetura local. Inicia-se a verticalização da cidade com a construção de prédios de 
mais de três pavimentos, principalmente na Rua 14 de Julho e arredores. 
31 
 
Em 1959, na administração do Prefeito Wilson Martins, pela Lei n 663, de 30 
de dezembro, que estabelece uma nova estrutura administrativa de Campo Grande, é 
criada uma estrutura colegiada muito parecida com o atual CMDU- Conselho Municipal 
de Desenvolvimento e Urbanização: o Conselho de Planejamento e Urbanismo (CPU), 
como órgão autônomo de aconselhamento do governo para questões de 
planejamento e do Plano Diretor. 
 Em 1965, através da Lei Legislativa n 26, de 31 de maio de 1965, a cidade 
passou a ter um novo Código de Obras, que tratava de zoneamento, uso do solo, 
loteamento e posturas municipais. Em 468 artigos, delimitou zonas, definiram termos 
técnicos, núcleos industriais, zonas agrícolas, deram normas para construção de todos 
os tipos e no artigo 423 em diante, tratava de loteamentos - definindo que todos os 
projetos, antes de aprovados ficariam sujeitos a diretrizes da municipalidade; o lote da 
área central baixou para 8,00 metros a testada e os demais para 10,00 metros; a área 
mínima continuava em 300,00 m2; as ruas mínimas com 9,00 metros de largura e leito 
carroçável de 6,00 metros; definiu que as áreas de recreação obedeceriam ao índice de 
16 m2 de área verde por habitante do futuro loteamento; definiu a quadra máxima de 
300,00 m. de comprimento. 
Os anos 1960 marcaram a trajetória da verticalização da cidade. Com 63 mil 
habitantes , segundo o IBGE , Campo Grande já possuíam mais habitantes que Cuiabá, 
a capital do Estado de Mato Grosso, e a sua arrecadação tributária era quase duas 
vezes maior. 
 Esse crescimento populacional e econômico definiu as perspectivas da 
construção civil na cidade. Novos programas e necessidades sociais usam de tecnologia 
construtiva e normas urbanísticas mais rígidas não davam mais espaço para o trabalho 
dos construtores práticos dos anos 1920 e 1930. 
 
32 
 
 
Fig. 13 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande de 1960 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
 
2.5 Os Planos da Hidroservice e de Jaime Lerner: década de 1970 
 
 Na década de 1970, o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de Campo 
Grande - PDDI, elaborado pela empresa Hidroservice Engenharia traçou as linhas do 
futuro planejamento urbano. 
No final da década de 60, impulsionado pelo planejamento do governo militar 
central, o município de Campo Grande contrata seu primeiro Plano Diretor, elaborado 
pela empresa Hidroservice Consultoria. Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado-
PDDI, este era o nome técnico adotado na época. 
 O PDDI traçou um extenso diagnóstico da cidade, em todas as áreas da 
administração. Deu diretrizes para várias obras, que foram realizadas ao longo dos 
anos, como por exemplo, a Via Norte Sul, margeando o Córrego Segredo e 
Anhaduizinho; o minianel rodoviário; localizava a central de abastecimento d’água da 
33 
 
cidade, a atual Guariroba; propunha uma reserva onde atualmente se localiza o Parque 
dos Poderes-Parque do Leste, criava o Núcleo Industrial, dentre outras obras. 
 
 
Fig. 14 - Vista aérea de Campo Grande dos anos 1950 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
 
 Do ponto de vista da política urbana, o PDDI, apesar de ser um plano bastante 
formal e de ter sido elaborado sem a participação popular, pode ser considerado 
progressista, pois propunha uma lei de uso do solo urbano, baseada nos princípios da 
normatização por zonas de uso; uma nova legislação de parcelamento do solo urbano 
que passou a exigir infraestrutura básica nos empreendimentos deloteamento, etc. 
 O arquiteto paranaense Jaime Lerner, que como Prefeito da cidade de Curitiba 
e ex-diretor do IPPUC-Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba tinha 
levado a cabo naquela cidade propostas urbanas que a grande imprensa divulgou 
como exitosas veio a Campo Grande, em 1977, a convite do Prefeito da época, 
engenheiro Marcelo Miranda Soares, e elaborou um Plano de Diretrizes de 
Estruturação Urbana de Campo Grande que contemplava a prioridade no uso do solo 
combinado com um sistema viário e de transporte urbano através de corredores, que 
resultou na Lei nº 1.747 de 29 de maio de 1978. 
 Lerner elaborou uma proposta com a participação de alguns arquitetos locais 
que à época trabalhavam no setor público, mas o município não possuía, ainda, um 
34 
 
órgão de planejamento urbano que pudesse acompanhar e monitorar a execução das 
propostas, o que acarretou modificações setoriais na supracitada lei, todas com a 
finalidade de alterar o zoneamento, considerado rígido e implantado através de obras 
públicas. O Plano de Estrutura Urbana de Lerner perdurou por mais de 10 anos, 
concorrendo para modificar a paisagem da cidade, principalmente na verticalização 
dos edifícios, na criação de um calçadão na área central e nas modificações na malha 
viária de transporte coletivo. O perímetro urbano se alonga e passa dos 30 mil 
hectares; a cidade está cheia de vazios urbanos. 
 
 
Fig. 15 - Campo Grande em planta nos anos 1970 
Fonte: Acervo do Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
 
Em 1977, Mato Grosso foi dividido por lei complementar federal e criado o 
Estado de Mato Grosso do Sul, em outubro daquele ano. A instalação da nova Unidade 
Federada deu-se em janeiro de 1979. 
35 
 
 
Fig. 16 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande de 1990 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
 
 
2.6 A instalação de Campo Grande: novo impulso ao desenvolvimento urbano 
 
 No início dos anos 80, um fato importante do ponto de vista do ensino, foi a 
criação do Curso de Arquitetura e Urbanismo no Centro de Ensino Superior “Prof. 
Plínio Mendes dos Santos” - CESUP, permitindo a formação dos arquitetos locais. Com 
a primeira turma formada, a produção da cidade passou também pelos arquitetos 
formados no Estado. 
 A cidade, como capital do novo Estado, desenvolveu-se numa enorme 
velocidade. Com taxa média geométrica de crescimento de 8 % ao ano, a população 
dobrou, mais uma vez, de uma década para a outra atingindo mais de 250 mil 
habitantes, e apresentando fluxo migratório interno e externo intenso, aumentando a 
pressão no setor habitacional e nos serviços públicos. Novas empresas de construção 
civil se instalaram. A nova legislação urbanística e de edificações então em vigor 
limitou, entre outras coisas, o gabarito dos edifícios em 12 pavimentos. 
36 
 
 A partir da instalação do Parque dos Poderes, no início da década, a Avenida 
Afonso Pena, principal eixo viário urbano, rompeu seus limites com a Rua Ceará e foi 
então prolongada até o Parque, criando uma nova opção de acesso viário para o 
Centro Administrativo do Estado, favorecendo uma expansão do território para fins de 
construção e criando um mercado novo para o setor imobiliário local, nos setores 
residenciais e comerciais. 
 O surto de crescimento e de desenvolvimento urbano favoreceu a explosão do 
mercado da construção civil em Campo Grande. O crescimento desordenado 
provocado pelas demandas socioeconômicas trouxe vários problemas decorrentes da 
expansão do perímetro urbano e a criação de conjuntos habitacionais da Companhia 
de Habitação Popular - COHAB, construídos em espaços distantes do centro de 
emprego, tais como os conjuntos José Abrão, Moreninha I, II e III e Estrela do Sul. No 
início da década de 80, em três ou quatro anos, o Estado construiu mais de 25 mil 
unidades habitacionais na cidade, fruto da política federal de financiamentos, criando 
enormes dificuldades urbanas provenientes da localização periférica desses 
assentamentos. 
 A administração pública passou a necessitar, crescentemente, de um órgão de 
planejamento urbano para planejar e controlar o desenvolvimento urbano, incluindo o 
setor imobiliário, o qual exigia a expansão das áreas de negócios, especificamente a 
criação de novas áreas urbanas onde fosse permitido empreender novas atividades 
imobiliárias, principalmente a habitação vertical. 
 Em 1987, a Prefeitura criou a Unidade de Planejamento Urbano de Campo 
Grande - PLANURB e o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano - CMDU, 
órgãos que passaram a elaborar novas normas e discutir as propostas urbanísticas.
 Em 1988, com quase 500 mil habitantes, a Câmara Municipal aprovou a nova 
estrutura urbanística de Campo Grande: a Lei municipal 2.567/1988, uma lei complexa, 
com mais de 50 artigos e 11 anexos, que tratava de todas as questões urbanísticas e 
ambientais - uso e parcelamento do solo urbano, perímetro urbano, áreas de fundo de 
vale, zoneamento, etc. Um novo zoneamento para a cidade foi desenhado, baseado 
em experiências de outras cidades brasileiras. 
37 
 
 Ao mesmo tempo, áreas destinadas à verticalização são expandidas, atingindo 
quase todo o território compreendido dentro do minianel rodoviário (polígono 
compreendido pelas Ruas Ceará, Eduardo Elias Zahran, Salgado Filho, Tamandaré e 
Mascarenhas de Moraes), além de outras regiões mais periféricas. A lei criou, ainda, 
mecanismos de defesa ambiental e de conforto urbano, aumentando os afastamentos 
laterais entre os edifícios, criando regras para estacionamentos, etc. 
A Carta Geotécnica começava a ser elaborada e a Área non aedificandi às 
margens dos córregos aumenta para 50,00 metros; em alguns lugares da cidade, já era 
tarde; as favelas ocupavam as margens dos córregos e foi criada a Reserva do Parque 
dos Poderes, a maior área urbana de cerrados do oeste. 
 
2.7 O planejamento urbano na virada do século XX 
 
 Na década de 1990 há uma diminuição das taxas de crescimento econômico e 
populacional de Campo Grande, agora em torno de 2% ao ano. O setor público 
principalmente o estadual e municipal, grandes empreendedores da arquitetura e do 
urbanismo campo-grandense, passaram a adotar uma política de desenvolver 
arquitetura dos parques, praças, jardins e avenidas e alguns projetos arquitetônicos 
isolados. Quanto aos parques e praças cabe destacar os seguintes: 
a) Parque das Nações Indígenas, localizado entre as Avenidas Mato Grosso e 
Afonso Pena, com mais de 119 hectares de área dentro do perímetro urbano; b) 
Parque Ayrton Sena, com área de 33 hectares, localizado no Bairro Aero Rancho, zona 
sul da cidade; c) Parque Florestal Antônio Albuquerque, mais conhecido como Horto 
Florestal de Campo Grande, obra de recuperação do espaço urbano onde José Antônio 
Pereira, em 1875, construiu seu rancho ao chegar a terras de Campo Grande; d) 
reorganização do espaço de lazer Belmar Fidalgo na área central, e da Praça Ari; e) 
melhorias no desenho paisagístico e na reformulação do programa das praças dos 
bairros Itanhangá Park, José Abrão, Miguel, da Prefeitura da Capital. 
 Quanto ao planejamento urbano ressalta-se a elaboração e aprovação do Plano 
Diretor de Campo Grande, em 1995, que introduz novos conceitos: cria as regiões 
38 
 
urbanas com base nas bacias hidrográficas da cidade e os planos locais de cada região 
e institui figuras peculiares de urbanização. 
 O Plano Diretor de 1995 tinha começado a ser debatido em 1987 e depois em 
1989 ele foi elaborado pelo PLANURB. Apreciado pelo CMDU e enviado para a Câmara 
Municipal, esse projeto de lei de 1990 da gestão Lúdio Martins Coelho, foi retirado 
pelo Prefeito Juvêncio César da Fonseca em seu segundo mandato e recomeçado a 
discussão via PLANURB. 
 
2.8 O Plano Diretor de 1995 
 
 Em outubro de 1993, o PLANURB lançou o Seminário A CIDADE COMO UM 
JOGO DEMOCRÁTICO e organizava as basesda discussão do seu Plano Diretor, com 
cinco vetores: a horizontalidade, os vazios, as diferenças entre lugares, as distâncias e 
as desigualdades. 
 
Fig. 17 – Capa do Plano Diretor de 1995 
Fonte: Publicação PLANURB-PMCG 
39 
 
 O diagnóstico da cidade naqueles anos era que a cidade já crescia a taxas 
menores que as das décadas anteriores (algo em torno de 5% ao ano) com o seguinte 
quadro: 
a) A cidade era horizontal e isso implicava em densidades muito baixas em 
toda a cidade com um alto custo de manutenção dos serviços públicos: 
b) A cidade era vazia, pois o território de 1993 de 33.404 hectares tinha 43% 
sem ocupação e assim os vazios urbanos afloravam problemas; 
c) A cidade era diferente, pois o potencial construtivo não se aplicava 
uniformemente distribuído; 
d) A cidade era distante com um grau de espalhamento urbano alto e com isso 
custos de deslocamento excessivos e 
e) A cidade era desigual com irregularidades de urbanização e de oferta de 
infraestrutura urbana e serviços. 
 Mais de dois anos depois, em novembro de 1995, o Plano foi aprovado pela 
Câmara Municipal e em seus 21 artigos, reformula-se o Sistema Municipal de 
Planejamento, com a criação dos Conselhos Regionais, os Planos Locais e figuras 
urbanísticas novas como a Outorga Onerosa, Urbanização Negociada e Consorciada. 
 O plano serviu ainda para alimentar as discussões ambientais, de transporte e 
de habitação social em Campo Grande, pois, considerou essas três áreas como as 
prioritárias no desenvolvimento urbano. E assim nasceu a discussão da Agenda 21 e do 
Estatuto da Cidade: desenvolvimento sustentável; plano de gestão ambiental; 
conservação de recursos naturais; ética ecológica; proteção dos recursos naturais; 
meio antrópico; ambiente natural; cenários ambientais; ecologia urbana; fontes 
renováveis; biomassa; licenciamento ambiental; EIA (Estudo de Impacto Ambiental), 
RIMA (Relatório de Impacto Ambiental). 
 Essa era a nova linguagem que todos estavam tendo que apreender para 
exercer suas profissões. Campo Grande completava, em 1999, 100 anos de sua 
emancipação política. Com uma população urbana de 618 mil habitantes e um órgão 
de planejamento urbano em pleno funcionamento, o quadro urbano já era modificado 
com ações e projetos desenvolvidos pela comunidade local. 
40 
 
 
Fig. 18 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande de 2000 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
 
 
2.9 O planejamento urbano em tempos recentes. 
 
 O inicio da discussão sobre revisão do Plano Diretor de Campo Grande de 1995 
se deu com a 2º Conferência das Cidades, em julho de 2005. Em seguida aconteceram 
oficinas de trabalho para que a equipe técnica desenvolvesse parâmetros para as 
futuras discussões, a respeito do Plano, com comunidade local. 
 Para a mobilização da comunidade foi instituído o Programa Comunidade Viva, 
em maio de 2005 e como primeira manifestação do programa aconteceu o 1º Ciclo de 
Conferências Locais em junho de 2006, onde foram feitas nove reuniões sendo sete 
das regiões urbanas e nos dois distritos. Dando continuidade no programa aconteceu, 
com a mesma intenção, sobre a participação da comunidade na revisão do Plano, o 2º 
Ciclo de Conferências Locais em julho de 2006, com os mesmos procedimentos da 
anterior. Em seu âmbito maior e agora já com as necessidades da comunidade e o 
mínimo entendimento da mesma sobre o Plano, aconteceram três Reuniões Públicas 
41 
 
em março e abril de 2006, duas nos distritos e uma na região do centro. Para 
completar o ciclo ouve três Audiências Públicas em agosto de 2006 seguindo o mesmo 
procedimento das Reuniões Públicas. 
 
 A equipe técnica apresentou inicialmente 12 temas: 
1) O papel do município na região de desenvolvimento regional 
2) Desenvolvimento econômico municipal 
(3) Interface zona rural e urbana 
(4) Tendências da expansão urbana 
(5) Instrumentos urbanísticos 
(6) Política habitacional 
(7) Regularização fundiária 
(8) Função social da propriedade urbana 
(9) Patrimônio cultural municipal 
10) Gestão democrática e controle social 
11) Transporte, transito e mobilidade. 
12) Saneamento ambiental e recursos hídricos 
 
 O projeto de Lei foi finalizado e enviado para Câmara Municipal apenas uma 
vez, e não houve nenhum tipo de objeto que causou polêmica e assim fora de primeira 
aprovado. Um relatório técnico foi produzido pelo relator, Vereador Jorge Martins, 
mas a Comissão Legislativa não apreciou e o PL foi aprovado sem nenhuma emenda 
parlamentar com o número de Lei Complementar n. 94, de 6 de outubro de 2006. 
 
2.10 Uma pequena conclusão 
 
 A partir da década de 1940, a população urbana de Campo Grande passou a 
dobrar de tamanho a cada 10 anos, como vimos. Em 1950 eram 31.708 habitantes; em 
1960, dobrou para 64.934; em 1970 passa para 131.110 habitantes; em 1980, já havia 
283.653 habitantes em Campo Grande. 
42 
 
 Em 1991 o Censo Demográfico do IBGE acusou 526 mil pessoas, um 
crescimento menor que nas últimas cinco décadas. Em 2000 o Censo acusou 663 mil 
habitantes e o crescimento médio geométrico anual que era de mais 8% nas décadas 
de 70/80, passa para 6% de 80/90 e agora para pouco mais de 2%. Em 2010 foram 
contados 786 mil pessoas. 
 Esta velocidade de crescimento urbano e de urbanização acelerada ocorridas 
nas décadas passadas em Campo Grande, não correspondia com a base econômica do 
Estado, ainda centrada na agropecuária e mais recentemente na agroindústria. 
 A cidade de Campo Grande assistiu, durante mais de 50 anos, a elaboração de 
leis e normas urbanísticas, especialmente de uso, ocupação e parcelamento do solo 
sem que houvesse, nem a participação da comunidade técnica, empresarial, política ou 
popular. 
 O processo de planejamento ocorrido foi puramente tecnocrático: contratava-
se uma empresa para elaborar planos para a cidade crescer e se desenvolver calcada 
nos ideais obreiros da época: planos havia para dar sustentação às obras que seriam 
executadas com dinheiro público, a fundo perdido. 
 Nesta lógica, não havia necessidade de que a cidade tivesse órgão de 
planejamento urbano para pensar e repensar a cidade; não haveria a necessidade de 
construir um corpo técnico voltado para a formação em planejamento público. Se não 
havia planejamento urbano municipal, não havia diretrizes para loteamento, grandes 
edificações, projetos, etc. 
 A cidade foi crescendo e sem acompanhamento ou monitoramento para 
corrigir as distorções geradas pelas normas urbanísticas, mudanças foram feitas na 
legislação, atendendo a interesses já citados. Ao mesmo tempo, já na década de 1980, 
os índices de crescimento demográfico batiam nas nuvens (8,02% a.a.); a migração se 
intensificara com a nova situação de capital de Mato Grosso do Sul; novo governo 
estadual se instala na cidade, aumentando a procura por imóveis e áreas. 
 Com este quadro, era possível prever o que aconteceu na década de 1980: 
favelas surgiam da noite para o dia, em várias partes da cidade; não havia transporte 
coletivo para todos, muito menos energia e água potável; a rede de educação e de 
saúde não estava preparada para atender esta demanda. 
43 
 
 Toda esta situação exigia, do setor público e da iniciativa privada, muita ação. 
Ao contrário, começou o caos urbano. O Governo do Estado, através da COHAB-
Companhia de Habitação Popular-, desrespeitando qualquer norma urbanística 
municipal determinou a construção de gigantescos conjuntos habitacionais, localizados 
na mais distante periferia e um deles, as Moreninhas, fora do perímetro urbano. O 
Instituto de Previdência de MS-PREVISUL e o Instituto de Orientação às Cooperativas -
INOCOOP-, também deixaram suas marcas no sítio urbano. 
 Somente entre 1980 e 1985, o setor público estadual, construiu mais de 15.000 
habitações populares, ou seja, 25% do total de habitações existentes em 1985. 
 Eram os anos do milagre da construção civil de MatoGrosso do Sul e do país, 
onde o Banco Nacional da Habitação financiou milhares de habitação pelo país afora. 
Aqui em Campo Grande, segundo as estatísticas, nunca se construiu tanto em período 
tão curto. 
 O caos urbano citado deveu-se, de um lado à localização dos conjuntos 
habitacionais distantes do centro urbano e do outro a inexistência de infraestrutura 
básica e de equipamentos sociais, tais como escola, posto de saúde, posto policial, etc. 
contribuindo para, ao invés de resolver o problema habitacional criar mais problemas 
para a administração municipal, aumentando investimentos em transporte urbano, 
pavimentação, etc. e jogando a população para locais distantes do centro de emprego. 
 Ora, se a cidade já tinha um perímetro de 28.500 ha. suficiente para abrigar 
mais de quatro milhões de pessoas e na década de 1980 só tinha 300 mil, porque 
alterar o perímetro para implantar o maior conjunto habitacional do Estado- as 
Moreninhas, com quatro mil casas? A Câmara Municipal aprovou a mudança. Esse foi 
um episódio de um tempo sem discussão no planejamento. 
 Nesse sentido, as raízes dos vazios urbanos no planejamento urbano de Campo 
Grande estão presentes na história e na sua trajetória de desenvolvimento, apontados 
aqui nesse capítulo. As nossas heranças culturais e urbanísticas são intensas e muito 
presentes em todos os momentos da cidade. 
 
44 
 
 
Fig. 19 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande atual com superposição de 1909 
Elaboração: Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS – Prof. Ângelo Arruda 
 
 
 
Fig. 20 - Mapa do perímetro urbano de Campo Grande de 2014 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
45 
 
3. Quem é Campo Grande? 
 
3.1. Uma apresentação 
 
De acordo com as projeções estatísticas, Campo Grande deve ter um milhão de 
habitantes em 2027. No entanto, a capital de Mato Grosso do Sul, fundada em 1872 e 
emancipada em 1899, segundo o IBGE, tem hoje pouco menos de 900 mil habitantes e 
um pouco mais de 35 mil hectares de perímetro urbano. O crescimento médio anual 
gira em torno de 1,72% e a quantidade de pessoas por domicílio é 3,12, ou seja, a 
família média campo-grandense, atualmente é de um casal e menos de dois filhos. No 
ano de 2015 o município tinha uma população estimada em 853.622 habitantes, 
segundo o IBGE. 
Campo Grande é um município urbano. Quase 99% de sua população (776.242 
habitantes em 2010) residem na cidade enquanto pouco mais de 10 mil pessoas 
residem na área rural e nos distritos de Anhandui e Rochedinho. A área do município é 
equivalente ao tamanho de alguns países como Porto Rico, Cabo Verde, Brunei, 
Luxemburgo e um pouco maior que o Líbano e Jamaica. 
 
Figura 21 - Mapa do município de Campo Grande 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
 
 
46 
 
 
 
Já a área urbana é imensa. Tem capacidade para abrigar quatro milhões de 
habitantes. A área urbanizada (170km²) é menos da metade do imenso perímetro 
urbano (359km²). Maior que Porto Alegre (160km²); Salvador (159km²) ou Recife 
(121km²). 
 
 
Figura 22 - Mapa da cidade de Campo Grande e suas bacias hidrográficas e córregos 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
 
A população economicamente ativa da cidade é de 70,73% e a taxa de 
alfabetização de 95,78%. Quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal 
(IDHM), Campo Grande vem evoluindo a cada década; era de 0,563 em 1991 passou 
para 0,673 em 2000 e atingiu 0,784 em 2010, índice considerado alto pelo PNUD/Atlas 
de Desenvolvimento Humano no Brasil, ficando em 12º lugar entre as 27 capitais 
brasileiras. 
Do ponto de vista econômico, o município tem 78,61% dos estabelecimentos 
nas atividades comerciais e de serviços. Apesar dos esforços governamentais, as 
47 
 
atividades industriais contribuem com 6,24%. Pouco mais de 20 mil estabelecimentos 
econômicos estavam registrados em 2013. Entretanto, a arrecadação de impostos, o 
setor comércio e serviços amplia o percentual para 85,7% do total. 
Na questão da renda familiar, Campo Grande tinha outro perfil em 2010, 
segundo o IBGE. Do total dos 249 mil domicílios da cidade (218 mil casas, 18 mil 
apartamentos e 12 mil casas em vila e outros 700 cortiços), 21,70% das famílias tinha 
renda mensal per capita de até um salário-mínimo; 23,00% tinham renda de 1 a 2 
salários-mínimos; 14,5% de 2 a 5 salários-mínimos; 5,5% tinham renda de 5 a 10 
salários-mínimos e uns 2,57% tem rendimentos acima de 10 salários-mínimos mensais. 
Ou seja, 59,2% das famílias tem renda de 0 a 5 salários-mínimos mensais. Já os sem 
rendimentos, são expressivos em Campo Grande: 32,3% da população. 
Em termos de rendimentos por bairro, o PLANURB disponibiliza as estatísticas, 
que estão expressas nesse mapa: quanto mais central, a renda é maior; quanto mais 
periférica a moradia, a renda cai. 
 
Figura 23 - Mapa do rendimento mediano das pessoas por bairro - 2010 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
 
48 
 
Quanto aos serviços de infraestrutura urbana, as redes de abastecimento de 
água e de energia elétrica atendem a 99,7% da cidade; já a de esgoto, cresceu muito 
nos últimos anos, e já atende a 79,64% da população, com 1.781 km de rede. A 
pavimentação asfáltica atende a 67,82% das vias urbanas com 2.765km de vias 
pavimentadas na cidade. Mais de 98% da população é atendida pela coleta domiciliar 
de lixo. 
 
Figura 24 - Mapa da cobertura de rede de água e esgoto de Campo Grande - 2014 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
 
3.2. Sistema viário 
 
A mobilidade urbana em mais de 4.100 km de ruas e avenidas que compõem o 
sistema viário da cidade, se expressa por meio de uma frota de 498.409 veículos, 
cadastrados em 2014 sendo 258.592 automóveis, 14.129 caminhões, 58.700 
caminhonetes e 114.079 motocicletas e um sistema integrado de transporte coletivo 
com uma frota de 583 veículos e uma média de 218 mil passageiros transportados por 
49 
 
dia que operam 180 linhas de ônibus. A cidade ainda tem uma frota autorizada de 
moto táxis com 491 veículos em 70 pontos e 80 km de ciclovias e ciclo faixas. 
 
Figura 25 - Mapa da rede de pavimentação asfáltica de Campo Grande 2014 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
 
3.3. Infraestrutura Social 
A rede de atendimento social dispõe de 101 Centros de Educação Infantil, 165 
unidades educacionais, sendo dois federais, 88 escolas estaduais e 185 municipais com 
aproximadamente 160 alunos matriculados. Na área da saúde, entre 2005 e 2015, o 
número de atendimentos médico-hospitalares dobrou, atingindo três milhões de 
atendimentos utilizando uma rede hospitalar com 1.674 leitos disponíveis e 108 
unidades de saúde de todos os tipos. Por fim a rede de assistência social dispõe de 37 
estabelecimentos composto pelos CRAS, UNIDAS, CCI, CCPA e CREAS. 
 
Figura 26 - Mapa das redes de educação e centros de educação infantil de Campo Grande 2014 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
50 
 
 
 
Figura 27 - Mapa da rede de saúde de Campo Grande 2014 
Fonte: Perfil Sócio Econômico de Campo Grande 2015 
 
3.4. Limites territoriais 
 
De acordo com o Instituto de Planejamento Urbano de Campo Grande 
(PLANURB), a cidade possuía em 2015, um perímetro urbano com área total de 
35.903,52 hectares abrigando uma população estimada 2015 de 853.622 habitantes, o 
que dá uma densidade de 23,77 hab./ha, muito pouco expressiva para uma capital. Ou 
seja, os dados sobre a cidade apontam um perímetro urbano pouco denso e por 
consequência, com possibilidades de muitas áreas ainda não urbanizadas ou 
desocupadas. 
 
 
 
51 
 
 
 
 
 
 
Figura 28 - Porcentagem de taxa de urbanização 
Fonte: Os Vazios Urbanos na Cidade de Campo Grande 
 
 
 
 
O Plano Diretor de Campo Grande, aprovado pela Lei complementar n. 94/2006 
que sofreu inúmeras alterações nesses últimos anos especialmente em 2011, instituiu 
a política de desenvolvimentode Campo Grande e a Lei complementar n. 74/2005 e 
suas alterações, dividiu a cidade em 07(sete) regiões urbanas e cada região está 
dividida em bairros, para fins de planejamento da cidade. A cidade possui hoje 74 
bairros e 793 parcelamentos que formam o poliedro de Campo Grande. 
52 
 
 
Figura 29 - Divisões Territoriais Urbanas 
Fonte: Os Vazios Urbanos na Cidade de Campo Grande 
 
 
3.5. Densidade Urbana e Demografia 
 
Com relação à densidade por cada uma das regiões e bairros da cidade, Campo 
Grande, segundo dados do PLANURB, tem variação de 0,65 hab./ha até 63,68hab/ha, 
ou seja, bairros como Caiobá, Los Angeles, Mata do Segredo ou Maria Aparecida 
Pedrossian, com densidades muito baixas – menores que 10,00hab/ha, até os mais 
densos como Guanandy, Taquarussu ou Estrela Dalva, mas com taxas nunca maiores 
que 100,00hab/ha. 
Por outro lado, a evolução demográfica verificada nas últimas décadas aponta 
para uma taxa decrescente desde os anos 1980, apresentando uma média de 1,72% ao 
ano nos últimos cinco anos, conforme se verifica abaixo. 
53 
 
 
Figura 30 - Densidade demográfica Bruta por Bairro – IBGE 2010 
Fonte: Os Vazios Urbanos na Cidade de Campo Grande 
 
Figura 31 - Evolução Populacional 1970 - 2014 
Fonte: Os Vazios Urbanos na Cidade de Campo Grande 
54 
 
3.6. Instrumentos Legais - A Cidade e as Leis 
 
3.6.1. Plano Diretor 
 
Em Campo Grande o Plano Diretor, Lei Complementar n. 94 de 06 de outubro 
de 2006, dividiu a área urbana da cidade em Macrozonas e Zonas Especiais de 
Interesse. 
 
 
Figura 32– Lei Complementar n. 186/2011 
FONTE: Plano Diretor de Campo Grande 
 
As Macrozonas estão divididas em três tipos, sendo elas: a) Macrozona de 
Adensamento Prioritário - MZ1; b) Macrozona de Adensamento Secundário – MZ2 e c) 
Macrozona de Adensamento Restrito – MZ3. 
A MZ1 é a área destinada à intensificação do uso e ocupação do solo, 
principalmente quanto à ocupação dos vazios urbanos - lotes e glebas não utilizadas 
ou subutilizadas, de forma a otimizar a infraestrutura e os serviços públicos existentes. 
A MZ2 – é área destinada ao uso e ocupação gradual, acompanhando a expansão da 
55 
 
infraestrutura e serviços públicos à medidas que sejam disponibilizados, face às 
condições estabelecidas na Legislação Municipal específica. Por fim a MZ3 – é 
constituída por áreas reservadas para o futuro adensamento estimulando-se os usos 
de lazer, recreação e cultura, habitacional unir residencial, hortifruticultura, bem como 
parcelamento com lotes de no mínimo 5.000m². 
A Lei Complementar n° 186, também criou as Zonas Especiais de Interesse 
Social, a Zona Especial de Interesse Ambiental – ZEIA, a Zona Especial de Interesse 
Cultural – ZEIC e a Zona Especial de Interesse Urbanístico ZEIU, identificadas no mapa 
da Fig. 12. Cada uma destas zonas possui peculiaridades descritas na citada lei. 
 
3.6.2. Lei de uso e ocupação do solo 
A Lei Complementar n.211 de dezembro de 2012, que altera dispositivos da lei 
 
Figura 33 – Zoneamento de Campo Grande-MS 
Fonte: Lei Complementar n.211/2012, adaptado por Poliana Esquina Padula. 
 
 
56 
 
n. 74 de 6 de setembro de 2005 e suas modificações até 2012, trata do uso de 
ocupação do solo, e assim divide a cidade em áreas com diretrizes específicas para o 
uso e a ocupação do solo, em zonas e corredores viários. 
A Lei Complementar n. 74 de 6 de setembro de 2005, no inciso LXXVI do Art. 3, 
define que Zonas de ocupação do solo são porções em que se divide a área urbana do 
território municipal estabelecidas por lei para as quais são atribuídos diferentes 
critérios e restrições de ocupação do solo visando ao seu ordenamento geral, 
enquanto Corredores viários são vias criadas para aperfeiçoar o desempenho do 
sistema de transporte urbano, cujos lotes lindeiros se caracterizam por oferecer um 
maior grau de permissividade dos índices urbanísticos e categorias de usos em relação 
às zonas a que pertencem. 
A característica do zoneamento de Campo Grande constante da Fig.13 é a de 
um atributo específico para as zonas localizadas na região urbana do Centro, que 
possuem coeficiente de aproveitamento alto – o maior é seis -, cercadas de zonas de 
uso Z7 que tem a capacidade de promover uma urbanização secundária, no médio 
prazo, sendo essa a maior zona de uso da cidade. 
A Lei de Uso e Ocupação do Solo, muito utilizada no dia a dia da cidade, para 
aprovar empreendimentos privados e públicos, possui diversos anexos com inúmeras 
instruções para a sua correta utilização e pode ser baixada pela internet no sítio 
www.capital.ms.gov.br/planurb. 
 
3.6.3. Carta De Drenagem 
 
A carta de Drenagem tem objetivo principal de subsidiar o Poder Púbico e 
Privado nas ações planejadas através de critérios e recomendações de uso e Ocupação 
do Solo, sustentada pelas peculiaridades dos terrenos de cada bacia hidrográfica. 
Compreende um mapa síntese colorido representando as bacias hidrográficas e 
dos diversos graus de criticidade hierarquizados, obtidos a partir do cruzamento das 
informações. 
 
 
http://www.capital.ms.gov.br/planurb
57 
 
 
 
Figura 34- Carta de Drenagem 
FONTE: PLANURB 
3.6.4. Carta Geotécnica 
O objetivo principal da carta geotécnica é o de subsidiar o Poder Público e 
privado nas ações planejadas através de critérios e recomendações de Uso e Ocupação 
do Solo, em função das características peculiares dos terrenos em cada unidade 
homogênea. A Carta Geotécnica de Campo Grande foi elaborada em 1991 pela 
Prefeitura Municipal de Campo Grande, por meio do Instituto Municipal de 
58 
 
Planejamento Urbano (PLANURB) com apoio técnico do Instituto de Pesquisas 
Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Divide o território urbano em cinco 
unidades homogêneas, sintetizando suas características de solos e rochas. Desta 
forma, possibilita a tomada de decisões e a adoção de diretrizes distintas para cada 
unidade, visando prevenir possíveis problemas com o uso e a ocupação criteriosa do 
solo. 
 
Figura 35- Carta Geotécnica 
FONTE: PLANURB 
59 
 
4. Vazios Urbanos em Campo Grande 
4.1. Introdução 
A discussão dos vazios urbanos em Campo Grande não é recente. O Plano 
Diretor da cidade de 1968, elaborado pela empresa Hidroservice Engenharia, já 
mapeava os locais de uma cidade com menos de 250 mil habitantes na época e 
apontava a necessidade de planejar o solo para a sua ocupação futura. 
Anos depois, em 1977, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, ao estudar a 
cidade e o seu modelo de ocupação, indicava que os fundos de vale, áreas vazias 
deixadas às margens dos diversos córregos da cidade, devessem ter um controle de 
uso para atividades de recreação e lazer e com isso, preservar para o futuro. 
Em 1987 quando o PLANURB elaborou a revisão da Lei de Ordenamento de Uso 
e de Ocupação do Solo urbano de Campo Grande, procedeu a levantamento inédito de 
uso do solo e percebeu os vazios existentes no interior do perímetro urbano e, ao 
calcular a população para o ano 2000, indicava que nem todos os vazios deveriam ser 
ocupados, visto a necessidade de reservar áreas estratégicas para a cidade no futuro. 
A questão da ocupação socialmente responsável dos vazios urbanos entrou 
fortemente na agenda política da administração das cidades brasileiras com a 
Constituição de 1988 e, mais importante, com o Estatuto da Cidade, em 2001. No 
entanto, muita coisa mudou nas cidades brasileiras entre as primeiras propostas, na 
década de 1970, e as possibilidades concretas de intervenção que se desenham hoje. 
 
Figura 36 - Mapa das densidades urbanas por bairro em Campo Grande 1985 
Fonte: EBNER (2001) 
60 
 
Nesse sentido, cabem algumas reflexões, mais como propostas para uma 
agenda de estudos e de pesquisa que possam orientar os atores sociais nas suas ações. 
Em primeiro lugar, em muitas cidades já não parece ser realidade a ideia, vigente nos 
anos 1970, de vastas extensões de terra infraestruturada

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