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Transtornoespectroautismo-MaranhAúo-2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
Transtorno do Espectro do Autismo: 
Da avaliação à intervenção neuropsicológica histórico-cultural 
 
 
 
 
 
Samantha Santos de Albuquerque Maranhão 
 
 
 
 
 
 
Natal 
Dezembro/2018 
2 
 
Samantha Santos de Albuquerque Maranhão 
 
 
 
 
 
 
 
 
Transtorno do Espectro do Autismo: 
Da avaliação à intervenção neuropsicológica histórico-cultural 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tese elaborada sob orientação da Profª. 
Postdoctor Izabel Augusta Hazin Pires e 
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em 
Psicologia da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte para fins de Banca de Defesa 
de Doutorado. 
 
 
 
Natal 
Dezembro/2018 
3 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA 
 
Maranhão, Samantha Santos de Albuquerque. 
 Transtorno do Espectro do Autismo: da avaliação à intervenção neuropsicológica 
histórico-cultural / Samantha Santos de Albuquerque Maranhão. - Natal, 2018. 
 156f.: il. 
 
 Tese (Doutorado)- Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências 
Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Natal, RN, 2018. 
 Orientadora: Profa. Dra. Izabel Augusta Hazin Pires. 
 
 
 1. Transtornos do Neurodesenvolvimento - Tese. 2. Autismo - Tese. 3. 
Neuropsicologia - Tese. 4. Diagnóstico - Tese. 5. Reabilitação - Tese. I. Pires, 
Izabel Augusta Hazin. II. Título. 
 
RN/UF/BS-CCHLA CDU 159.9:616.986 
 
 
 
4 
 
Vivo um momento que: 
 
Quando me afasto das pessoas, fico só num canto, dizem que não percebo ninguém 
Quando me machuco e vem o riso, dizem que não sinto 
Quando saio de situações e corro sem parar, dizem que não me protejo e não tenho medo 
Quando balanço meu corpo, grito e aceno minhas mãos, dizem que não falo 
Quando junto tampinhas, revistas e sucatas, dizem que não brinco 
Quando insisto em seguir os mesmos caminhos, dizem que não sei aonde vou 
Pareço diferente 
Tenho uma forma particular de interagir e me comunicar. 
Tenho interesse por coisas que, talvez, vocês nunca tenham pensado e acreditem: 
São interessantes também. 
Eu percebo, eu sinto, tenho medo, falo, brinco e insisto num caminho prá chegar até você 
Sou uma pessoa, tenho autismo. 
Margherita Midea Cuccovia, 2006. 
 
5 
 
Agradecimentos 
 
“Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, e não nos deixa só, porque deixa 
um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da 
vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso” 
(Charles Chaplin) 
Nos encontros não casuais da vida, agradeço imensamente: 
Aos meus pais e ao meu esposo Rosenberg, pelo apoio incondicional nesta trajetória 
acadêmica; 
Ao meu filho Raul, que ainda no meu ventre, suportou madrugadas acordadas e fortaleceu 
a sensibilidade humana em cada linha escrita neste trabalho; 
À minha orientadora Izabel Hazin pela competência e profissionalismo com que conduziu 
este trabalho, sem, no entanto, esquecer-se da delicadeza, do incentivo e do carinho que 
permeiam as relações entre sujeitos; 
Ao Instituto Santos Dumont, aqui representado pelo atual Diretor-Geral, pela 
oportunidade de fazer valer esta tese, sem perder de vista o carinho e a confiança 
depositados no meu trabalho; 
Aos colegas do Laboratório de Pesquisa e Extensão em Neuropsicologia (LAPEN), 
especialmente as integrantes Artemis de Paula e Priscila Magualhães com quem 
compartilhei momentos árduos e de conquistas deste percurso; 
Às amigas que a vida me presenteou, em especial, Camila Simão, Dulce Teixeira, Flávia 
Gobbi, Lilian Lisboa, Lívia Vilela e Yoshie Kanegane pelo apoio essencial na vida 
profissional e pessoal; 
Às crianças participantes e pais pela disponibilidade e convivência durante os meses de 
realização do estudo; 
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela 
concessão da bolsa de estudos e pelo apoio e incentivo à pesquisa. 
6 
 
Sumário 
 
Lista de Tabelas .............................................................................................................. 7 
Lista de Figuras .............................................................................................................. 8 
Introdução Geral .......................................................................................................... 10 
Objetivos ........................................................................................................................ 26 
Método ........................................................................................................................... 27 
ESTUDO 1: O teste SON-R 2 ½ - 7 [a] como modelo de avaliação de inteligência 
para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo .......................................... 32 
Bibliografia .................................................................................................................... 50 
ESTUDO 2: Perfil de comunicação, interação social e comportamento em crianças 
com Transtorno do Espectro do Autismo .................................................................. 52 
Bibliografia: .................................................................................................................. 93 
Considerações Finais dos Estudos 1 e 2 – Ensaio do Estudo 3 ............................... 101 
ESTUDO 3: Intervenção neuropsicológica para crianças com indicadores clínicos 
de risco para o desenvolvimento do Transtorno do Espectro do Autismo: modelo 
teórico piloto ................................................................................................................ 117 
Bibliografia .................................................................................................................. 153 
Anexo ........................................................................................................................... 156 
 
 
 
 
 
7 
 
Lista de Tabelas 
 
Tabela 1: Caracterização do grupo clínico ..................................................................... 28 
Tabela 2: Protocolo clínico SEMEA .............................................................................. 29 
Tabela 3: Bateria avaliativa utilizada na pesquisa .......................................................... 31 
Tabela 4: Caracterização da amostra .............................................................................. 37 
Tabela 5: Desempenho nos testes de inteligência de acordo com a variável Nível de 
Intensidade do TEA ........................................................................................................ 43 
Tabela 6: Caracterização do grupo clínico conforme os níveis de comunicação, interação 
e comportamento ............................................................................................................ 68 
Tabela 7: Resultados da análise descritiva do tipo Z-scores dos desempenhos do grupo 
controle ........................................................................................................................... 77 
Tabela 8: Desempenhos dos subgrupos Comunicação, Interação e Comportamento a 
partir de gradação sintomatológica em Leve, Moderado e Grave .................................. 77 
Tabela 9: Distribuição dos grupos na análise de Cluster ................................................ 82 
Tabela 10: Desempenho dos subgrupos Comunicação, Interação e Comportamento com 
e sem casos graves .......................................................................................................... 84 
Tabela 11: Síntese dos principais programas de intervenção para pessoas com Transtornodo Espectro do Autismo ............................................................................................... 123 
Tabela 12: Proposta interventiva do estudo 3 ............................................................... 148 
Tabela 13: Protocolo SEMEA para gradação de severidade nas áreas de Comunicação, 
Interação e Comportamento ......................................................................................... 156 
 
 
 
8 
 
Lista de Figuras 
 
Figura 1: Número de crianças que realizaram e não realizaram os testes de inteligência
 ........................................................................................................................................ 41 
Figura 2: Crianças que realizaram os testes de inteligência e obtiveram classificações de 
desempenho .................................................................................................................... 42 
Figura 3: Crianças que obtiveram classificações de desempenho nas escalas do SON-R 
2½-7 [A] - SON-R EE: Escala de execução | SON-R ER: Escala de raciocínio ............ 43 
Figura 4: Descrição do funcionamento do grupo TEA nos subtestes SON-R 2½-7 [A] 44 
Figura 5: Gráfico indicando a qualidade dos cluster a partir de medidas de coesão e 
separação ........................................................................................................................ 81 
Figura 6: Gráfico apontando o grau de importância de cada variável para a partição dos 
grupos ............................................................................................................................. 82 
Figura 7: Grau de importância da variável Reconhecimento de Emoções nos grupos de 
Interação Social .............................................................................................................. 83 
Figura 8: Grau de importância da variável Reconhecimento de Emoções no subgrupo 
Comportamento .............................................................................................................. 83 
 
file:///C:/Users/USER/Google%20Drive/DOUTORADO/TESE/TESE%20FINAL_Samantha.docx%23_Toc533675368
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file:///C:/Users/USER/Google%20Drive/DOUTORADO/TESE/TESE%20FINAL_Samantha.docx%23_Toc533675370
file:///C:/Users/USER/Google%20Drive/DOUTORADO/TESE/TESE%20FINAL_Samantha.docx%23_Toc533675371
file:///C:/Users/USER/Google%20Drive/DOUTORADO/TESE/TESE%20FINAL_Samantha.docx%23_Toc533675371
file:///C:/Users/USER/Google%20Drive/DOUTORADO/TESE/TESE%20FINAL_Samantha.docx%23_Toc533675372
file:///C:/Users/USER/Google%20Drive/DOUTORADO/TESE/TESE%20FINAL_Samantha.docx%23_Toc533675372
file:///C:/Users/USER/Google%20Drive/DOUTORADO/TESE/TESE%20FINAL_Samantha.docx%23_Toc533675373
file:///C:/Users/USER/Google%20Drive/DOUTORADO/TESE/TESE%20FINAL_Samantha.docx%23_Toc533675373
file:///C:/Users/USER/Google%20Drive/DOUTORADO/TESE/TESE%20FINAL_Samantha.docx%23_Toc533675374
file:///C:/Users/USER/Google%20Drive/DOUTORADO/TESE/TESE%20FINAL_Samantha.docx%23_Toc533675374
9 
 
Resumo 
 
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) tem curso evolutivo crônico, portanto, o 
diagnóstico e habilitação precoces são fundamentais para o aprimoramento do 
neurodesenvolvimento infantil e, por conseguinte, uma melhor qualidade de vida da 
criança com TEA e de seus familiares. Embora existam critérios clínicos que definam o 
diagnóstico do TEA, a etiologia multifatorial e, até o momento, a ausência de marcadores 
biológicos potencializam a necessidade de um diagnóstico-padrão consistente com o fim 
de subsidiar intervenções robustas. Os dados oriundos deste trabalho estão apresentados 
e discutidos em três partes que correspondem a estudos relativamente independentes no 
âmbito da temática em questão, quais sejam: 1) O teste SON-R 2 ½ - 7 [a] como modelo 
de avaliação de inteligência para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo; 2) 
Perfil de comunicação, interação social e comportamento em crianças com Transtorno do 
Espectro do Autismo e; 3) Intervenção neuropsicológica de orientação sistêmica para 
crianças com Transtorno do Espectro do Autismo: modelo teórico piloto. Participaram do 
estudo 60 crianças de 5 a 7 anos, sendo 20 diagnosticadas com TEA e 40 com 
desenvolvimento típico. Os critérios de inclusão para o grupo clínico foram: 1) 
diagnóstico de TEA confirmado por equipe interprofissional; 2) inserção e frequência 
sistemática na rede regular de ensino; 3) idades entre 5 a 7 anos; 4) autorização dos 
responsáveis legais por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). 
Como critérios de exclusão prevaleceram: 1) presença de comorbidade neurológicas, 
psiquiátricas ou genéticas associadas ao quadro clínico de TEA; 2) comprometimento na 
acuidade visual e auditiva não corrigidos. Foram utilizados instrumentos que avaliam 
inteligência não-verbal (SON-R 2½-7 [a] e Matrizes Coloridas de Raven); funções 
executivas e percepção social (NEPSY-II); bem como uma escala de observação do 
comportamento que diferencia a gravidade da tríade sintomatológica do TEA 
(comunicação, interação, comportamento). O estudo 1 auxiliou na reflexão sobre a 
sensibilidade de instrumentos brasileiros utilizados na avaliação da inteligência no TEA. 
O estudo 2 auxiliou na compreensão do perfil das funções executivas, teoria da mente e 
reconhecimento de emoções em grupos clínicos estratificados pelo nível de gravidade nas 
áreas de comunicação, interação e comportamento. Por sua vez, o estudo 3 trouxe um 
modelo de programa de intervenção neuropsicológica para crianças com risco de 
desenvolvimento do TEA, a partir de diretrizes de habilitação centradas na estimulação 
de precursores comportamentais de funções cognitivas fundamentais para a socialização. 
Acredita-se que a presente tese constitui um modelo de avaliação e intervenção que pode 
redefinir planos e redirecionar os futuros caminhos ao cuidado a saúde da pessoa com 
TEA, especialmente em âmbito local e regional, onde há particularidades sociais e 
culturais em interface com o quadro clínico. 
Palavras-chave: Transtornos do Neurodesenvolvimento; Autismo; Neuropsicologia; 
Diagnóstico; Reabilitação. 
10 
 
Introdução Geral 
 
A presente tese de doutorado traz como tema o Transtorno do Espectro do Autismo 
(TEA) com foco na avaliação e intervenção neuropsicológica histórico-cultural. A tese 
foi motivada por uma trajetória de pesquisa e profissional vinculada ao tema. Dos estágios 
curriculares obrigatórios do Curso de Psicologia ao título de Mestre em Psicologia, os 
temas autismo e neuropsicologia estiveram presentes nos cenários de prática clínica e de 
pesquisa, dos quais firmaram um percurso em investigações que buscaram compreender 
o desenvolvimento das funções mentais complexas nos transtornos do desenvolvimento, 
sem perder de vista a interface com aspectos histórico-culturais. 
Fruto desta trajetória na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), 
ingressei no Instituto Santos Dumont (ISD), Organização Social que atua na região 
Nordeste do Brasil nas áreas de educação, saúde materno-infantil, reabilitação, 
neurociências e neuroengenharia. A inserção no ISD inaugurou uma etapa profissional 
voltada para implementar um serviço de neuropsicologia aplicado à habilitação e 
reabilitação física, intelectual e auditiva, sendo o Autismo uma das clínicas contempladas. 
Com o objetivo de integrar educação, pesquisa e o trabalho interprofissional em saúde, a 
atuação no ISD, alinhada à trajetória acadêmica na UFRN, culminou no presente projeto 
de doutorado, cujo objetivo central é assumir o compromisso social de produzir 
conhecimento científico aplicado a propostas clínicas voltadas para uma transformação 
mais justa e humana da realidade social. 
O TEA desvela-se como um tema que ainda precisa de apoio científico e a 
neuropsicologia apresenta-se como base teórica e práticaque, acredita-se, pode construir 
um caminho alternativo ao cuidado à saúde da pessoa com TEA. Dentre as clínicas de 
reabilitação do ISD, o Autismo constitui-se como uma das áreas de avaliação diagnóstica 
11 
 
e modalidades de grupos interventivos individuais, em dupla ou em grupo, grupo de pais, 
Equoterapia e educação permanente para professores da rede básica de ensino. Este 
cenário integra-se ao universo da pesquisa, aqui apresentado como uma das propostas de 
parceria entre o ISD e a UFRN com o fim de oferecer às pessoas com Autismo uma 
possibilidade de avaliação e intervenção neuropsicológica, que também poderá ser 
implementada em diversos cenários da saúde para pessoas com TEA. 
O TEA constitui-se como Transtorno do Neurodesenvolvimento caracterizado pela 
presença de uma díade de comprometimentos qualitativos nos domínios da 
interação/comunicação social e padrões comportamentais (APA, 2013). O diagnóstico 
segue uma abordagem clínica dimensional, cujas características vinculadas ao TEA se 
evidenciam num contínuo de frequência e intensidade. 
Sinais de alerta de TEA já são passíveis de identificação nos seis primeiros meses de 
vida. Embora não haja, até o momento, evidência que respalde um diagnóstico clínico no 
primeiro ano de vida da criança, é crescente o volume de conhecimento sugerindo a 
possibilidade de identificação de sinais de risco nesse período. Por exemplo, Chinello, 
Gangi, Valenza (2016) estudaram o desenvolvimento motor típico de lactentes de 12 a 17 
meses e observaram o progresso gradativo de substituição dos reflexos primitivos pela 
aquisição de ações motoras direcionadas, especialmente ações com a mão ou boca. O 
estudo sugere que os lactentes com indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento 
infantil, sem intervenção precoce, frequentemente possuem atraso na aquisição de 
movimentos especializados, devido à persistência de reflexos primitivos. 
De modo similar, Srinivasan e Bhat (2016) compararam a habilidade de compartilhar 
objetos, ao engatinhar e andar, em grupo de 16 crianças entre nove e 15 meses com 
desenvolvimento típico e com risco para o desenvolvimento infantil. De forma geral, os 
bebês com risco obtiveram pior desempenho na habilidade de compartilhar objetos com 
12 
 
cuidadores. Estes frequentemente demonstraram menores taxas de passos (durante o 
andar) em direção aos alvos apropriados para a tarefa, ou seja, cuidadores ou objetos. 
Desde o nascimento, o cérebro humano possui zonas corticais funcionais, 
especialmente dedicadas à apreciação visual do rosto humano (circunvolução fusiforme 
do hemisfério direito) e à apreciação auditiva da palavra. Falhas na percepção facial e 
vocal repercutem na resposta-sorriso do bebê, que por sua vez, podem repercutir no 
reconhecimento, entendimento e compartilhamento de suas emoções primárias (alegria, 
tristeza, medo, raiva, nojo). Falhas na percepção facial e vocal também parecem repercutir 
na imitação buco-facial do outro (Zilbovicius et al., 2006). 
Nessa direção, para Gillet (2014), os sinais de alerta para a identificação precoce de 
TEA podem mudar consideravelmente com a idade, sendo mais sutis nos 6 primeiros 
meses e mais aparentes a partir dos 18-22 meses. Klin et al. (2008) apresentam dados de 
eye-tracking obtidos em bebês de 17 meses com risco de autismo. O estudo mapeou o 
movimento ocular de bebês ao olhar rostos de humanos e verificou que eles direcionam 
o olhar para elementos situados à margem do rosto. Quando incide sobre o rosto, em 
contraponto ao grupo controle de bebês sem risco de autismo, o olhar dos bebês com risco 
de autismo não é direcionado para o eixo central e os olhos. Pierce et al. (2011) 
observaram o direcionamento do olhar de crianças entre 17 e 24 meses com TEA e 
verificaram preferência de direcionamento visual para imagens de formas geométricas 
em movimento, bem como atípica exploração visual de rostos. Nogueira, Seabra e Seidl 
de Moura (2000 como citado em Bosa 2002, p. 84) apresentam achados de bebês com 
suspeita de autismo que possuem menor frequência de contato visual e nenhum episódio 
de interação com sua mãe. Martinho e Zilbovicius (2009) indicam que indivíduos com 
autismo possuem padrão diferente de ativação cortical, das regiões do cerebelo, 
mesolímbicas e do córtex do lobo temporal, particularmente uma hipoativação do giro 
13 
 
fusiforme (porção inferior do lobo temporal), descrito como área cerebral seletiva para a 
face humana. 
Congênere, parece existir disfunção na área cerebral envolvida na seletividade para a 
voz humana. Martinho e Zilbovicius (2009) destacam estudos que encontraram diferença 
significativa no padrão de ativação cerebral durante a percepção da voz em indivíduos 
com autismo. Nesses estudos, escutar uma voz e outro tipo de som ativou as mesmas 
regiões cerebrais. 
Recém-nascidos, com apenas horas de vida, conseguem imitar o adulto quando este 
abre a boca e estende a língua para fora. Quando mais velhas, as crianças com 
desenvolvimento típico direcionam o olhar ou demonstram tendência em alternar entre a 
pessoa e o objeto de interesse. Aos 12 meses de vida, as crianças, tipicamente, olham para 
o parceiro, após apontar. Aos 14 meses, o ato de apontar acompanha o olhar para o 
parceiro e, aos 16 meses, o olhar precede o gesto, sugerindo progressos na habilidade de 
compreender a importância de tal gesto ao direcionar o olhar do parceiro para o seu 
próprio foco de interesse (Abreu, Cardoso-Martins & Barbosa, 2014). 
Estudos de vídeos familiares retrospectivos mostram que crianças com risco de TEA 
dificilmente imitavam as posturas orofaciais e corporais do outro, os movimentos 
arbitrários das mãos (como abri-las e fecha-las), o apontar direcionado para os objetos, 
ou ainda, os gestos que imitam a utilização de um objeto (Bosa, 2002; Garcia & Lampreia, 
2011; Gillet, 2014; Zaqueu, Teixeira, Alckmin-Carvalho, & Paula, 2015). 
No neurodesenvolvimento de crianças com risco de TEA parece existir uma mudança 
de caminho no percurso de habilidades que guiam o desenvolvimento social. Klin et al. 
(2015) e Schmidt (2017) sugerem a diminuição do tempo de fixação do olhar social em 
bebês entre dois e seis meses de vida com risco de TEA e tal queda parece interferir na 
robustez de comportamentos sociais imprescindíveis para comunicação e interação social. 
14 
 
Por meio de observações clínicas sistemáticas e longitudinais, Messinger (2012) 
comparou o desenvolvimento social de crianças típicas e com risco de TEA. Ele observou 
a presença de falhas gestuais nos primeiros meses de vida a partir da observação do modo 
pelo qual os bebês com risco olhavam para os objetos, pediam o que desejavam, ou como 
reagiam quando apontavam para alguma direção. Tais bebês apresentaram sinais clínicos 
mais evidentes de TEA, após os dois anos e meio de idade. 
Outro comportamento indicativo de risco para o TEA é a aceitação do colo de 
qualquer pessoa. Comumente, a partir dos oito meses, a criança tende a estranhar quem 
não é do seu convívio e até chora demonstrando aparente insatisfação. Uma criança com 
risco de TEA sugere sentir-se confortável com qualquer pessoa. O choro quase 
ininterrupto, uma inquietação constante, ou ao contrário, uma aparente apatia exacerbada, 
também despertam a atenção. É importante observar, inclusive, se o bebê se incomoda 
com o toque, com alguns sons e com certas texturas de alimentos (o que comumente 
dificulta a transição do leite materno para as comidas sólidas). Quando as crianças estão 
mais velhas, os pais geralmente observam ausência da fala, uma aparente surdez e os 
movimentos pendulares estereotipados de tronco, mãos e cabeça (Luystera, Powell, 
Tager-Flusberg, & Nelson, 2014). 
Desde os primeiros anos de vida, as crianças com risco de TEA comumente 
demonstram aparente ausência de necessidade de aconchego, ausência de elevação dos 
braços (como antecipação a ser pego no colo),falta de imitação da fala ou dos gestos, 
falha em apontar ou mostrar objetos para os outros e peculiar contato visual. Geralmente 
essas crianças procuram o objeto/evento de interesse, mas não há partilha social do 
mesmo. Frequentemente demonstram não responder ao próprio nome, especialmente 
quando há envolvimento excessivo no que estão fazendo (Grossman, Carter, & Vokmar, 
1997). 
15 
 
Estudos de neuroimagem sugerem que crianças com TEA teriam disfunção nos 
neurônios-espelho (encontrados em diferentes áreas cerebrais ativadas durante a 
imitação) e nas estruturas neuroanatômicas responsáveis pelo processamento de 
informações de ordem social. Porém, Hamilton (2013) sugere que não há uma disfunção 
global dos neurônios-espelho no autismo. Para o autor, haveria falha na modulação top-
down1 de resposta social. Castelli, Frith, Happé and Frith (2002) e Frith (2004) também 
sugerem falhas na ativação top-down em indivíduos com TEA, uma vez que parecem 
existir fraquíssimas conexões entre regiões do córtex extra estriado e regiões fronto-
temporais, o que, por conseguinte, repercute na compreensão de estímulos sociais, 
notadamente em inter-relações pessoais dinâmicas. 
De modo geral, o conjunto de estudos de neuroimagem sugere que as disfunções 
neurológicas de crianças com TEA iniciam antes mesmo da idade típica do diagnóstico 
clínico. Todavia, comumente a metodologia de identificação precoce (antes dos 5 anos) 
depende de acesso à tecnologia de ponta, inacessível à população em geral. Conforme 
Schmidt (2017) atualmente há o desafio de converter as soluções de identificação precoce 
para a saúde pública brasileira. 
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que existam 70 milhões de pessoas 
com TEA, cerca de 1% da população mundial. No Brasil, há quase 2 milhões de 
brasileiros e nos Estados Unidos a prevalência aumentou 119,4% entre 2000 e 2010. O 
Centro para Controle e Prevenção de Doenças (Center of Diseases Control and 
Prevention – CDC), órgão próximo do Ministério da Saúde brasileiro, estima que uma 
em 68 crianças no mundo será diagnosticada com autismo, sendo uma em 42 meninos e 
uma em 189 meninas, logo, para cada quatro meninos, uma menina é afetada. Desses, 
 
1 Estratégia de processamento da informação neurológica “de cima para baixo”, na qual é formulada uma 
visão geral do sistema nervoso, partindo de uma instância final para a inicial, como uma engenharia reversa 
cada nível neurológico vai sendo detalhado, do mais alto ao mais baixo, de forma a se chegar nas 
especificações dos níveis mais básicos do elemento abordado. 
16 
 
independentemente de grupos étnicos e socioeconômicos, 40 a 60 por cento dos casos 
podem ser atribuídos à genética (David, Babineau, & Wall, 2016; Schmidt, 2017). 
Não há um consenso sobre os motivos subjacentes ao aumento da taxa de prevalência 
mundial do TEA. David et al. (2016) reforçam a importância de estudos com colaboração 
internacional a fim de somar esforços para organizar e homogeneizar informações 
epidemiológicas sobre o TEA. Schmidt (2017) mostra estudos com justificativas atreladas 
às mudanças recentes relacionadas à maior sensibilidade dos instrumentos diagnósticos, 
ao aumento do número de centros de referência que registram os diagnósticos, além do 
próprio fato de um aumento no conhecimento sobre TEA entre clínicos, educadores e a 
população em geral. 
Embora a taxa de prevalência tenha aumentado, Mello (2013) destaca que apenas 
15,45% de crianças entre 0 e 5 anos com diagnóstico de TEA são assistidas no Brasil. Ele 
sugere que essa realidade brasileira se depara com a árdua tarefa de identificação clínica 
ainda na primeira infância e com a heterogeneidade sintomática presente no espectro do 
autismo. De acordo com Nunes (2012), as crianças com TEA possuem vaga em escolas 
regulares brasileiras, mas são encobertas por atitudes paternalistas de aceitação e 
despreparo, em virtude de escassos recursos diagnósticos que subsidiem propostas 
adequadas de intervenção pedagógica. 
O diagnóstico e intervenção precoces (antes dos 5 anos) são fundamentais para o 
neurodesenvolvimento infantil e, por conseguinte, para uma melhor condição de vida da 
criança e seus familiares. Os estudos mais recentes sobre autismo apontam que 
intervenções precoces são as mais efetivas e podem diminuir a necessidade de assistência 
especial para as faixas de idade seguintes (David, Babineau & Wall, 2016; Garcia & 
Lampreira, 2011; Rogers et al., 2014). 
17 
 
 Embora existam critérios clínicos que definam o diagnóstico de TEA, a etiologia 
multifatorial e, até o momento, a ausência de marcadores biológicos diagnósticos 
potencializam a necessidade de desenvolvimento de técnicas auxiliares que busquem 
fortalecer o diagnóstico clínico, o qual, frequentemente é dificultado pela grande 
variabilidade de apresentações clínicas do TEA. 
Segundo Schmidt (2017), a heterogeneidade sintomatológica presente no TEA pode 
se manifestar nas áreas da comunicação e comportamentos, de forma independente. Nessa 
direção, para além do estabelecimento do nível de severidade nas áreas de comunicação 
e comportamentos, o presente estudo acredita que a avaliação neuropsicológica pode 
auxiliar no refinamento do diagnóstico de TEA, a partir da identificação de alterações em 
funções cognitivas precursoras da comunicação, interação social e comportamento. Nesse 
sentido, a avaliação neuropsicológica permite caracterizar o perfil neuropsicológico do 
grupo clínico avaliado, destacando os pontos de força e fragilidade no seu funcionamento 
cognitivo, bem como os impactos de possíveis alterações comportamentais sobre a 
interação e comunicação social. 
Embora uma larga gama de estudos recentes proporcione a compreensão do perfil 
neuropsicológico do TEA, acredita-se que mais pesquisas na área podem confluir para a 
compreensão rebuscada do perfil neuropsicológico dessa população clínica, sem perder 
de vista a construção de uma metodologia que tente apaziguar os problemas e 
divergências metodológicas vigentes até o momento, especialmente na avaliação da 
inteligência e cognição social (Bosa, 2001; Gillet, 2014). 
Quanto à avaliação da inteligência no TEA, estudos epidemiológicos apontam maior 
severidade dos sintomas de deficiência intelectual associado ao autismo em mulheres, 
sendo a comorbidade identificada em 36% destas, em comparação a 30% no caso dos 
homens (Blacher & Kasari, 2016). A prevalência do autismo associado à deficiência 
18 
 
intelectual é de 4,7 mil casos para cada 10 mil diagnósticos. Da totalidade de casos de 
TEA, aproximadamente 46% apresentam inteligência classificada como Na média, 23% 
Limítrofe e 31% como Deficiência Intelectual. No entanto, cabe a reflexão crítica sobre 
as características de padronização adequadas às especificidades de avaliação cognitiva 
deste grupo clínico, especialmente quanto à investigação de testes sensíveis à avaliação 
da inteligência (e outros constructos) na população com TEA. 
Quanto à cognição social, na atualidade identifica-se convergência dos estudos em 
termos da identificação no TEA de disfunções na cognição social, aqui compreendida 
enquanto conjunto de processos cognitivos que tornam possível o desenvolvimento social 
humano. Estudos filogenéticos revelam que o crescimento total do cérebro poderia estar 
correlacionado a adaptações sociais complexas, bem como ao aumento de regiões 
cerebrais, tais como o lobo frontal e temporal, especializadas em processar informações 
sobre outras pessoas. Marin, Moura e Mercadante (2009) destacam que, durante o 
surgimento do homem moderno, por volta de 150 mil anos atrás, indivíduos que puderam 
interpretar intenções foram capazes de se engajar em relações sociais e de cooperar em 
atividades sociais, conquistando vantagens adaptativas para a espécie. 
Também em estudo filogenético, Moura, Marin, Campos eMercadante (2009) 
destacam o aumento do número das minicolunas corticais no córtex pré-frontal e no lobo 
temporal, concomitante ao decréscimo da espessura da minicoluna e ao tamanho neuronal 
reduzido. Essa configuração requer o aumento no metabolismo que restringe a 
conectividade das minicolunas supranumerárias que, por sua vez, levam a alterações na 
taxa de substância branca/cinzenta, na proporção de fibras de associação e na dominância 
cerebral. 
Atualmente estudos neuropsicológicos sobre o TEA sugerem que as dificuldades 
identificadas no âmbito do comportamento social de pessoas com autismo podem estar 
19 
 
associadas a falhas no desenvolvimento de precursores comportamentais da cognição 
social. Acredita-se que o TEA é uma espécie de “pane” neurofisiológica que cria 
obstáculos para o processamento cerebral típico. Ou seja, como a trama de fina renda, 
onde ao se modificar um elo há o risco de desmanchar todo o desenho, possivelmente, 
nas manifestações clínicas do TEA subjaz um processo atípico que atravessa e 
“reconfigura” o neurodesenvolvimento típico. 
Nessa perspectiva, lança-se a hipótese de disfunções na cognição social e, portanto, 
reflete-se o modo pelo qual ocorre o neurodesenvolvimento ontogenético de funções 
neuropsicológicas no autismo, influenciado por processos interativos precoces (Bosa, 
2001). De acordo com Sasson, Nowlin e Pinkham (2013) a cognição social denota 
processos cognitivos que mediam experiências sociais. Trata-se da decodificação, 
processamento e interpretação de informações sociais. 
Na cognição social a teoria da mente (ToM), reconhecimento, entendimento e 
compartilhamento de emoções e funções executivas (FE) necessariamente entrelaçam-se 
quando exigidos dentro de um contexto dinâmico, pautado por relações sociais (Baron-
Cohen, 1995). Dentre as FE, destaca-se a flexibilidade cognitiva, controle inibitório e 
memória operacional. Por sua vez, a ToM é uma função cognitiva que permite entender 
o próprio estado mental, assim como o dos outros (Baron-Cohen, Leslie, & Frith, 1985). 
Tal função cognitiva permite ao indivíduo inferir ou interpretar pensamentos, crenças, 
intenções, sentimentos ou desejos das pessoas. 
Estudos de exames funcionais de imagem cerebral mostram uma hipoperfusão em 
sulco temporal superior (STS) e no giro temporal superior, que estaria associado aos 
sintomas emocionais e cognitivos do autismo. O STS faz parte do “cérebro social” 
processando os movimentos dos olhos, boca, mãos e corpo, permitindo a percepção social 
utilizada para avaliar o pensamento dos outros (ToM). O STS parece estar envolvido 
20 
 
também na percepção e na imitação da voz humana, essenciais para o desenvolvimento 
da comunicação interpessoal. 
Também se ressalta a qualidade da interação social sobre o neurodesenvolvimento 
infantil. Trevarthen (1996 como citado em Bosa 2001, p. 286) apresenta estudo acerca do 
efeito bilateral entre a falha nas funções cognitivas fundamentais para socialização e o 
estilo interativo extremamente diretivo ou pouco estimulador de pais de crianças com 
TEA. 
Portanto, defende-se aqui que o desenvolvimento humano não é embasado por 
processo contínuo e homogêneo, uma vez que se pressupõe o estabelecimento de uma 
relação de aprendizagem e comunicação constante entre o organismo e o contexto social 
em que este se desenvolve, ou para o qual se direciona. Acredita-se aqui na possibilidade 
de redefinições sinápticas mediante influências cognitivas, afetivas, socioculturais e 
ambientais, logo, defende-se modelos de avaliação e intervenção que considerem tais 
prerrogativas para o desenvolvimento neuropsicológico e, por conseguinte, para o 
delineamento do perfil clínico do TEA (Ciasca, Guimarães, & Guimarães, 2004). 
Em um cenário onde 23,9% da população brasileira possui pelo menos uma 
deficiência visual, auditiva, motora ou intelectual, especialmente na região Nordeste do 
Brasil, tendo o estado do Rio Grande do Norte o maior índice de deficiência (taxa de 
27,76% acima da média nacional), torna-se inconteste a proposição de serviços e 
pesquisas que auxiliem esta população (IBEG, 2010). Como apresentado anteriormente, 
o diagnóstico precoce do Autismo é desafiador, especialmente na saúde pública e, das 
crianças diagnosticadas, apenas 15,45% entre 0 e 5 anos são assistidas no Brasil. Também 
como discutido, as intervenções precoces são as mais efetivas e podem diminuir a 
necessidade de assistência especial para as faixas de idade seguintes, sendo, portanto, 
urgente a proposição de intervenção centrada na estimulação de precursores 
21 
 
comportamentais de funções cognitivas fundamentais para a socialização, sem perder de 
vista a qualidade da interação social com os pares e cuidador(es). 
Nesta perspectiva, sugere-se a intervenção neuropsicológica de orientação sistêmica 
como possibilidade que busca integrar a dimensão cognitiva aos aspectos socioculturais, 
ambientais, comportamentais e emocionais. Neste estudo adotar-se-á o modelo 
neuropsicológico de orientação sistêmica sobre referencial interpretativo 
neuropsicológico fundamentado pela perspectiva da psicologia histórico cultural, em 
especial, pelo legado teórico de Luria (1902-1977) e suas aplicações práticas decorrentes 
do seu programa científico. Nesse sentido, compreende-se o neurodesenvolvimento da 
criança com TEA como qualitativamente diferente, no qual a maturação de habilidades 
cognitivas está sensível à influência de um contexto de interação social e cultural 
específicos (Hazin et al., 2010). Ademais, parte-se de achados que vão ao encontro do 
que Luria (1966, 1973a) afirmou acerca de uma das leis que regem as funções corticais, 
a saber, a lei da estrutura hierárquica das zonas corticais, segundo a qual há uma interação 
contínua entre as unidades funcionais. 
Conforme, Schonen, Van Hout, Mancini e Livet (1998) a atividade metabólica 
cerebral de crianças, por meio da tomografia por emissão de pósitrons, aumenta 
progressivamente a partir das exigências sociais que perpassam o desenvolvimento 
humano – atividade subcortical mais intensa nos três meses, atividade frontal crescente 
ao redor dos nove ou dez meses e, finalmente, em torno dos quatro anos, pico da atividade 
metabólica cortical. No modelo de intervenção neuropsicológica sistêmica, portanto, vale 
destacar a associação desses achados com o percurso ontogenético de habilidades que 
envolvem a cognição social, das quais, progressivamente, a partir da relação dialética 
entre sujeito e cultura, há crescente atividade cortical de funções desempenhadas pelas 
22 
 
áreas cerebrais correspondentes às habilidades de compreensão dos pensamentos e 
sentimentos dos outros. 
A partir das discussões suscitadas, sugiram as seguintes perguntas de pesquisa: 
1) Se a heterogeneidade sintomatológica presente no TEA pode se manifestar de 
forma independente nas áreas da comunicação, interação social e comportamento, é 
possível identificar um perfil de inteligência, funções executivas, teoria da mente e 
reconhecimento de emoções considerando os níveis de gravidade do TEA e assim refinar 
o seu diagnóstico? 
2) O modelo de avaliação neuropsicológica disponível na realidade brasileira atual é 
sensível à heterogeneidade sintomatológica do TEA? 
3) Quais as características de um modelo de intervenção neuropsicológica de 
orientação sistêmica, considerando o desenvolvimento ontogenético de funções 
neuropsicológicas como alternativa para atenuar os níveis de severidade do TEA? 
Para a efetivação do presente estudo, é imprescindível lembrar da importância do 
diagnóstico-padrão robusto e refinado para promoção de intervenção precoce na saúde 
pública brasileira. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 determina, 
em seu artigo 196, que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, garantido 
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do riscode doença e de 
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua 
promoção, proteção e recuperação7. No ordenamento jurídico brasileiro existe o Decreto 
n° 8368, de 02 de dezembro de 2014, que tem por objetivo garantir à pessoa do espectro 
do autismo o direito à saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), respeitando-
se suas especificidades. 
O atendimento a tal decreto exige como etapa primeira a identificação da população 
clínica, notadamente em fases precoces do desenvolvimento, processo esse que pode ser 
23 
 
realizado por uma equipe multiprofissional de saúde. De acordo com o Ministério da 
Saúde (2015, p. 48): “A detecção precoce para o risco do TEA é um dever do Estado, 
pois, em consonância com os Princípios da Atenção Básica, contempla a prevenção de 
agravos, promoção e proteção à saúde, propiciando a atenção integral, impactando na vida 
das pessoas e de suas famílias”. 
Para melhor entendimento, pontua-se que as diretrizes do SUS preconizam a 
essencialidade de políticas de prevenção e intervenções para crianças em situações de 
risco e vulnerabilidade, dentre as quais, crianças com risco de TEA. Nesse sentido, no 
atual contexto da atenção integral à saúde das pessoas com TEA no Nordeste brasileiro, 
é inconteste a necessidade de pesquisas com perfil clínico voltadas para diagnóstico-
padrão consistente e intervenção precoce refinada, sendo ambos necessários para atender 
as necessidades de saúde pública das pessoas com TEA. 
Como anteriormente citado, a presente pesquisa surgiu a partir de parceria 
estabelecida entre o Instituto Santos Dumont (ISD) e o Laboratório de Pesquisa e 
Extensão em Neuropsicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) 
que, juntos, no ano de 2015, implantaram o Serviço Multiprofissional de Atenção ao 
Espectro do Autismo (SEMEA), objetivando a construção de serviço de referência 
ambulatorial para a atenção à saúde da pessoa com TEA. 
O ISD é uma Organização Social (OS) financiada com recursos do Ministério da 
Educação (MEC). A OS atua na cidade de Macaíba (Rio Grande do Norte), nas áreas de 
educação, saúde materno-infantil, habilitação/reabilitação, neurociências e 
neuroengenharia. Sua missão é promover educação para a vida, formando cidadãos por 
meio de ações integradas de ensino, pesquisa e extensão e contribuir para a transformação 
mais justa e humana da realidade social brasileira. O ISD apresenta duas unidades: O 
Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IIN-ELS), onde há 
24 
 
Programa de Pós-graduação em Neuroengenharia; e o Centro de Educação e Pesquisa 
Saúde Anita Garibaldi (CEPS) onde há educação e o trabalho interprofissional em saúde 
que buscam a reorientação da formação e do modelo de atenção à saúde na perspectiva 
da integralidade e da humanização do cuidado, da valorização dos usuários e suas 
necessidades como elementos fundamentais para o fortalecimento do Sistema Único de 
Saúde (SUS). 
Atualmente, o SEMEA integra um dos ambulatórios de habilitação/reabilitação do 
CEPS atendendo, aproximadamente, 100 crianças entre 0 e 12 anos da 7ª região de saúde 
de Natal com hipótese ou diagnóstico de TEA. Essas crianças e seus familiares ingressam 
no SEMEA e respondem a protocolo clínico multiprofissional (neurologia, 
neuropsicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia) de confirmação 
diagnóstica. Posteriormente, a equipe propõe o Plano Terapêutico Singular, a saber, um 
protocolo de intervenção multiprofissional, constituído de diferentes modalidades 
terapêuticas, tais como integração sensorial, estimulação da linguagem, equoterapia, 
grupo de apoio aos pais e atividades de educação permanente com profissionais de saúde 
e educação básica. 
Nessa perspectiva, o presente estudo constitui-se como uma das pesquisas resultantes 
da parceria entre a UFRN e o ISD. A atual neurologista do SEMEA desenvolveu projeto 
de mestrado intitulado “Análise de Sinais em Eletroencefalografia e Eye-tracking como 
Ferramenta Complementar de Avaliação de Crianças com Transtorno do Espectro 
Autista”. Trata-se de estudo clínico caso-controle desenvolvido no IIN-ELS. Aliado à 
essa dissertação, o presente projeto de doutorado também soma esforços no rebuscamento 
do diagnóstico clínico do TEA e avança na proposição de um modelo de intervenção 
neuropsicológica que favoreça o incremento terapêutico não só no SEMEA, mas em todos 
os serviços ambulatórias especializados que tenham interesse nesta temática. 
25 
 
Este trabalho está estruturado de acordo com as normas do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da UFRN, apresentando inicialmente uma Introdução Geral, 
seguida dos Objetivos Geral e Específicos e da Metodologia global utilizada para 
realização da pesquisa. Na sequência, os dados oriundos deste trabalho estão apresentados 
e discutidos em três seções que correspondem a estudos relativamente independentes no 
âmbito da temática em questão, quais sejam: 1) O teste SON-R 2 ½ - 7 [a] como modelo 
de avaliação de inteligência para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo; 2) 
Perfil de comunicação, interação social e comportamento em crianças com Transtorno do 
Espectro do Autismo e; 3) Proposta de Intervenção Neuropsicológica de orientação 
sistêmica para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo: modelo teórico piloto 
Esses estudos serão apresentados de forma independente, sendo cada um constituído 
por todos os elementos textuais necessários a uma publicação científica. As considerações 
finais e referências bibliográficas serão apresentadas ao final do trabalho completo. 
 
26 
 
Objetivos 
 
Objetivo geral: Construir um modelo de diretrizes para avaliação e intervenção 
neuropsicológica histórico-cultural para crianças com Transtorno do Espectro do 
Autismo (TEA) em diferentes níveis de comunicação, interação e comportamento. 
 
Objetivos específicos: 
1) Analisar o desempenho intelectual não-verbal de crianças com TEA, em função 
da severidade do diagnóstico; 
2) Analisar os domínios de teoria da mente, reconhecimento de emoções e funções 
executivas de crianças com TEA, a partir dos níveis de comunicação, interação 
social e comportamento estereotipado e restrito; 
3) Construir modelo teórico piloto de intervenção neuropsicológica baseado nos 
pressupostos histórico-cultural para crianças com indicadores de risco de 
desenvolvimento de TEA. 
 
27 
 
Método 
 
O presente estudo obedeceu às diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas 
envolvendo seres humanos. Sua execução foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa 
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (parecer nº 46207015.0.0000.5537). 
Para operacionalização dos objetivos propostos, adotou-se modelo de estudo transversal 
clínico caso-controle, por meio do seguinte arranjo operacional: 
Participantes 
Participaram deste estudo crianças atendidas no Serviço Multidisciplinar de Atenção 
ao Espectro do Autismo (SEMEA) do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita 
Garibaldi (CEPS), unidade do Instituto Santos Dumont localizada no município de 
Macaíba (RN). Foram avaliadas 60 crianças entre 5 a 7 de idade, sendo 20 do grupo 
clínico e 40 do grupo controle pareado. As crianças do grupo clínico foram divididas em 
três subgrupos de acordo com os critérios de classificação da quinta edição do Manual 
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5): 1- Crianças com TEA 
exigindo muito apoio substancial (nível 3); 2- Crianças com TEA exigindo apoio 
substancial (nível 2); 3- Crianças com TEA exigindo apoio (nível 1). 
Os níveis de intensidade do transtorno foram estabelecidos por três avaliadores 
independentes (neurologista, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo) integrantes da 
equipe multiprofissional do SEMEA, composta por neurologista, neuropsicólogo, 
fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta. Salienta-seque os profissionais 
avaliadores seguem protocolo clínico estruturado para confirmação diagnóstica do TEA. 
O processo avaliativo tem duração média de 2 meses (Tabela 2). A concordância entre 
juízes foi avaliada pelo Kappa de Cohen (0.7167), cujo valor indicou concordância 
substancial (Landis & Koch, 1977). Nos casos de discordância entre os juízes, foi 
28 
 
considerada a resposta mais prevalente. A Tabela 1 apresenta a caracterização do grupo 
clínico em função da idade, sexo, tipo de escola, escolaridade da mãe e renda familiar. 
 
Tabela 1: Caracterização do grupo clínico 
 TEA Leve TEA Moderado TEA Grave 
N 7 7 6 
Idade (em anos) 
 
 Alcance 5-7 5-7 5-7 
 Média 5,43 5,40 5,23 
 Desvio-Padrão 0,83 0,88 0,89 
Sexo 
 
 Feminino 0 0 0 
 Masculino 7 7 6 
Tipo de escola 
 
 Pública 3 7 6 
 Privada 4 0 0 
Escolaridade da mãe 
 Fundamental II 0 1 2 
 Médio Completo 3 2 2 
 Superior Completo 4 4 2 
Renda familiar 
 B 3 2 1 
 C 4 4 4 
 D-E 0 1 1 
 
 
29 
 
 
Tabela 2: Protocolo clínico SEMEA 
Instrumento/Procedimentos Objetivo Quem aplica 
Anamnese inspirada na Autism 
Diagnostic Interview-Revised 
(ADI-R) 
 
Entrevistar pais ou cuidadores 
com o fim de identificar 
características clínicas do 
TEA 
Neurologista, 
Neuropsicólogo 
Eletroencefalograma funcional 
e Eye Tracking 
Verificar padrão elétrico e 
movimento ocular diante de 
objetos inanimados e faces 
humanas 
Neurologista 
Observação do comportamento 
inspirada no Autism Diagnostic 
Observation Schedule (ADOS) 
Protocolar observações 
acerca dos comportamentos 
sociais e da comunicação 
Neurologista, 
Neuropsicólogo, 
Fonoaudiólogo 
Avaliação Neuropsicológica Caracterizar o perfil 
cognitivo, comportamental e 
emocional 
Neuropsicólogo 
Escala de Comportamento 
Adaptativo (Vineland) 
Caracterizar o perfil de 
funcionalidade e autonomia 
Neuropsicólogo, 
Terapeuta Ocupacional 
Avaliação da Linguagem Caracterizar o 
desenvolvimento da 
linguagem e comunicação 
com intencionalidade 
Fonoaudiólogo 
Avaliação Sensorial Delinear o perfil sensorial 
 
Terapeuta Ocupacional 
Avaliação Auditiva Descartar surdez Otorrinolaringologista 
30 
 
Avaliação do metabolismo e 
genética 
Descartar alterações 
metabólicas e genéticas 
Encaminhamento 
externo 
Formulário para Avaliação de 
Tratamentos do Autismo 
(ATEC) 
Medir os efeitos da 
intervenção nos domínios de 
linguagem, sociabilidade, 
percepção 
sensorial/cognitiva, saúde, 
aspectos físicos e 
comportamento 
Equipe SEMEA 
Plano Terapêutico Singular Construir projeto terapêutico 
com metas definidas a curto e 
médio prazo 
Pais e equipe SEMEA 
 
Os critérios de inclusão para o grupo clínico foram: 1) diagnóstico de TEA 
confirmado pela equipe multiprofissional do SEMEA; 2) inserção e frequência 
sistemática na rede regular de ensino; 3) idades entre 5 a 7 anos; 4) autorização dos 
responsáveis legais por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). 
Como critérios de exclusão prevaleceram: 1) presença de comorbidade neurológicas, 
psiquiátricas ou genéticas associadas ao quadro clínico de TEA; 2) comprometimento não 
corrigido na acuidade visual e auditiva. 
Este grupo clínico foi pareado com o grupo controle espelhado, numa proporção de 
1:2. Assim como as crianças do grupo clínico, os participantes do grupo controle tiveram 
sua participação autorizada, mediante a assinatura de Termo de Consentimento Livre e 
Esclarecido pelos responsáveis legais e Termo de Assentimento. 
Instrumentos 
A Tabela 3 apresenta uma síntese das funções cognitivas e comportamentais avaliadas 
no presente estudo e os respectivos instrumentos utilizados: 
31 
 
Tabela 3: Bateria avaliativa utilizada na pesquisa 
Domínios Investigados Instrumentos 
Inteligência não-verbal SON-R 2 ½ - 7 [a] e 
Matrizes Progressivas Coloridas de Raven 
Funções 
Executivas 
Fluência Fluência em Desenhos – NEPSY-II 
Controle inibitório Atenção Auditiva – NEPSY-II 
Inibindo Respostas – NEPSY-II 
Teoria da Mente Percepção Social – NEPSY-II 
Reconhecimento de Emoções 
 
Procedimentos de Análise de dados 
Os dados oriundos da avaliação neuropsicológica foram analisados com auxílio 
do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS 21.0), adotando-se p<0,05 
como nível de significância em todas as análises. De forma geral, foram realizadas 
análises descritivas multidimensionais do tipo Cluster com o objetivo de agrupar 
informações contidas em variáveis categoriais-descritivas, de maneira a obter 
características de grupos que podem ser interpretáveis pelo pesquisador. Tal modalidade 
de análise possibilita a reunião de dados nominais em agrupamentos, de forma tal que os 
componentes de um mesmo agrupamento tenham alta similaridade entre si e elevada 
dissimilaridade em relação aos componentes associados a outros grupos. Posteriormente, 
os dados oriundos da análise de Cluster foram submetidos ao Teste Qui-Quadrado, com 
o objetivo de identificar o nível de significância da interferência das variáveis clínicas 
(relevantes para a partição dos clusters) nos escores dos testes utilizados. 
 
32 
 
ESTUDO 1: O teste SON-R 2 ½ - 7 [a] como modelo de avaliação de inteligência 
para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo 
 
Introdução 
O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) constitui-se como Transtorno do 
Neurodesenvolvimento que apresenta uma díade de comprometimentos qualitativos nos 
domínios da interação/comunicação social e padrões restritos e repetitivos de 
comportamento, interesses e atividades (APA, 2013). O diagnóstico de TEA é 
prioritariamente clínico. Profissionais e pesquisadores baseiam-se em um conjunto de 
características comportamentais, normalmente, obtido pelo histórico clínico 
comportamental e observações clínicas, das quais frequentemente descrevem o nível de 
funcionalidade e severidade da expressividade clínica, cuja frequência e intensidade 
geralmente são associados ao nível de linguagem e desempenho intelectivo. 
Embora o atraso geral clinicamente importante na linguagem e o desempenho 
intelectivo não componham critérios clínicos para o diagnóstico do TEA, a amplitude de 
perfis fenotípicos solicita procedimentos de diagnóstico-padrão robustos aptos a 
considerar o perfil cognitivo e diretrizes de intervenção multiprofissional condizentes 
(Frith, 2004; Klin, 2006; Schwartzman et al., 2011). 
Munson, Dawson, Sterling, Beauchaine, Zhou e Koehler (2008) verificaram a 
existência de subgrupos distintos de crianças com TEA a partir de diferenças no perfil 
cognitivo. Foram identificados quatro grupos: deficiência intelectual severa (59% da 
amostra); discrepâncias entre habilidades verbais e não-verbais (12,5% da amostra); 
prejuízo leve a moderado em ambas as habilidades (21,7%); e desempenho médio em 
todas as habilidades (7% da amostra). Também houve um aumento progressivo do 
primeiro ao último grupo nos escores de comportamento adaptativo obtidos nas escalas 
de Comunicação e Socialização, da Vineland Adaptive Behavior Scales. 
33 
 
Além disso, a verificação do desempenho intelectual em indivíduos com TEA 
também se faz imprescindível na investigação de comorbidades, como o Transtorno de 
Aprendizagem, ou diagnóstico diferencial entre TEA e rebaixamento intelectual 
associado com síndromes genéticas como Síndrome do X-Frágil, Síndrome Alcoólica 
Fetal, Síndrome de Williams-Beuren, dentre outras (Mecca, Orsati, & Macedo, 2014). 
A inteligência está associada à capacidade para aprender relações, utilizando 
conhecimentos prévios ou apenas o raciocínio (Laros, Valentini, Gomes, & Andrade, 
2014). Refere-se à capacidade do indivíduo de pensar abstratamente, resolver problemas 
e aprender com a experiência. Sua avaliação é de suma importância, pois estas habilidades 
estão relacionadas à funcionalidade docomportamento e adaptação ao ambiente, tais 
como a comunicação, socialização, atividades de vida diária, sucesso acadêmico e 
profissional. 
O primeiro critério para investigação do desempenho intelectual é o Quociente 
Intelectual (QI) medido por testes de inteligência. O QI é avaliado por parâmetros 
psicométricos e adequação à cultura na qual o teste de inteligência é utilizado e objetiva 
quantificar o desempenho do indivíduo em uma série de problemas. O desempenho 
intelectual é tradicionalmente definido em níveis de variação do QI em referência a 
resultados da distribuição amostral normativa do teste de inteligência. 
No Brasil, são raros os instrumentos que fornecem QI ou uma medida da habilidade 
geral de raciocínio para crianças, especialmente em fase pré-escolar ou com TEA, 
deficiências sensoriais e motoras, ou distúrbios de linguagem. As escalas Wechsler e o 
Teste das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven são os instrumentos tradicionalmente 
utilizados, no entanto, são os que mais possuem limitações, notadamente quanto às 
características de padronização específicas aos grupos citados (Laros, Reis, & Tellegen, 
2010; Mecca, Antonio, Seabra, & Macedo, 2014). 
34 
 
A prevalência brasileira de deficiência intelectual no TEA é estimada em torno de 
70% dos casos, porém, os testes tradicionalmente utilizados exigem habilidades verbais 
nas suas instruções e na execução, colocando indivíduos com TEA em desvantagem. De 
acordo com Tellegen e Laros (2004), os testes de inteligência geral, como as escalas 
Wechsler, focam essencialmente na inteligência adquirida ao longo de um processo 
formal de aprendizagem, denominada inteligência cristalizada. Com isso, grupos clínicos 
que apresentam dificuldades de aprendizagem e fragilidades no desenvolvimento da 
linguagem podem ter seu desempenho prejudicado (Tellegen & Laros, 2005). 
Em estudo publicado por Tellegen e Laros (1993), três grupos clínicos (deficiência 
auditiva, problemas na fala e atraso no desenvolvimento da linguagem) apresentaram 
baixo desempenho intelectual devido à dificuldade de compreensão das instruções 
exclusivamente verbais. Estudos apontam que testes não-verbais são mais úteis e 
permitem acessar habilidades a partir de instruções e respostas sem a utilização da fala 
(Mecca et al., 2014). 
Muitos países utilizam o teste não-verbal de inteligência Leiter-R (Leiter International 
Performance Scale – Revised) para avaliar essas populações clínicas na idade entre 2 e 
20 anos. Estudos que objetivam avaliar os aspectos cognitivos do TEA têm mostrado que 
quando este quadro está associado a algum grau de deficiência intelectual, testes não-
verbais como a Leiter-R têm se mostrado mais úteis para a avaliação de inteligência 
quando comparados as escalas Wechsler e o Teste das Matrizes Progressivas de Raven. 
Além disso, indivíduos com TEA tendem a apresentar maiores pontuações em testes não-
verbais (Grondhuis, 2010). 
De acordo com Hurley e Levitas (2007), há uma necessidade de se compreender 
melhor os aspectos cognitivos daqueles com TEA que apresentam deficiência intelectual 
moderada ou severa, bem como aqueles indivíduos que não conseguem responder aos 
35 
 
testes mais tradicionais devido aos prejuízos na compreensão e expressão verbais 
(Macedo, Mecca, Valentini, Laros, Lima & Schwartzman, 2013). 
Embora o estudo publicado por Macedo et al. (2013) aponte que o funcionamento 
intelectual não está diretamente relacionado ao fato da criança ter um Transtorno Autista, 
Síndrome de Asperger ou Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra 
Especificação (TGD-SOE), faz-se necessário a análise do funcionamento intelectual de 
um grupo clínico com TEA classificado com os novos critérios diagnósticos do DSM-5, 
cuja especificidade está na classificação monotética, em detrimento da politética do 
DSM-IV (Volkmar & Reichow, 2013). 
 No DSM-IV os critérios diagnósticos estavam imbricados com múltiplos níveis de 
análise (no mínimo 6 critérios, dentre o total de 12) permitindo, aproximadamente, duas 
mil (2000) combinações de critérios clínicos. No DSM-V a possibilidade de combinações 
decresce pela metade, porque a nova proposição exige preenchimento de todos os três 
critérios clínicos para vertente de comprometimento da comunicação social associada à 
interação social (Volkmar, Reichow, & McPartland, 2012). 
A substituição de subcategorias por uma única ampla remete ao reconhecimento 
científico da expressividade clínica variável do Autismo. Estudos genéticos correlatos 
apontam que o mesmo genótipo pode produzir fenótipos de maior ou menor gravidade. 
Nessa perspectiva, os diagnósticos classificados como Transtorno Autista, Síndrome de 
Asperger ou Transtorno Global do Desenvolvimento sem Outra Especificação (TGD-
SOE) parecem diluídos em sintomas que propõem evidenciar um contínuo de frequência 
e intensidade de características clínicas autistas (Volkmar & Reichow, 2013). 
Recentemente foi lançado no Brasil o Teste Não-Verbal de Inteligência (SON-R 2½-
7 [a]), cuja edição é a versão reduzida e normatizada para a população brasileira do teste 
não-verbal de inteligência SON-R 2½-7, versão holandesa. O teste foi construído por 
36 
 
Snijders-Oomen (1943) com a finalidade de avaliar crianças surdas. A independência dos 
testes SON das habilidades verbais o torna adequado às populações clínicas com 
habilidade verbal subdesenvolvida, pessoas mudas ou com problemas auditivos, pessoas 
com problemas de aprendizagem, ou ainda pessoas com problemas na linguagem 
receptiva e expressiva (Laros et al., 2010). 
O teste SON-R 2 ½ - 7 [a] desponta como possibilidade para avaliação do desempenho 
intelectual das crianças com TEA. Uma das principais vantagens desse instrumento está 
na forma de aplicação por meio da manipulação de figuras, mosaicos e desenhos, sem a 
exigência de instruções ou respostas verbais (Laros et al., 2010). 
Outra característica importante do SON-R 2 ½ - 7 [a] é a possibilidade de realização 
da descrição de mais de uma habilidade cognitiva nas crianças a partir dos dois anos e 
seis meses. O teste possui duas escalas: a Escala de Execução (SON-EE) e a Escala de 
Raciocínio (SON-ER). A escala SON-ER avalia o raciocínio concreto e abstrato; 
enquanto a SON-EE avalia habilidades espaciais e viso motoras, das quais proporcionam 
sensibilidade para detalhes visuais, para a apresentação de ideias gráficas, assim como 
facilita a orientação em espaço tridimensional. 
Dessa forma, diante da necessidade de adequação da avaliação da inteligência ao 
grupo clínico do espectro do autismo, o objetivo do presente estudo foi verificar a 
sensibilidade do uso do teste não-verbal de inteligência SON-R 2½-7[a] em um grupo de 
crianças com TEA (conforme DSM-5) e crianças com desenvolvimento típico com perfil 
socioeconômico, de idade e de escolaridade semelhante ao grupo clínico avaliado. 
Objetivou-se ainda conseguir evidências de correlação entre o SON-R 2½-7[a] e o 
Matrizes Progressivas Coloridas de Raven. Espera-se encontrar correlações positivas 
entre os resultados obtidos nos instrumentos, uma vez que ambos pretendem avaliar a 
dimensão da inteligência não-verbal (Cohen, 1988). 
37 
 
Método 
Participantes 
Participaram deste estudo crianças atendidas no Serviço Multidisciplinar de Atenção 
ao Espectro do Autismo (SEMEA) do Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita 
Garibaldi (CEPS), unidade do Instituto Santos Dumont localizada no município de 
Macaíba (RN). Foram avaliadas 30 crianças, entre 5 e 7 anos de idade, de ambos os sexos, 
divididos em quatro grupos de acordo com os critérios de classificação da quinta edição 
do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5): 1- Crianças com 
TEA exigindo muito apoio substancial (nível 3); 2- Crianças com TEA exigindo apoio 
substancial (nível 2); 3- Crianças com TEA exigindo apoio (nível 1); e 4 - Crianças com 
desenvolvimento típico.Tabela 4: Caracterização da amostra 
 Sem TEA TEA Leve TEA 
Moderado 
TEA Grave 
N 10 7 7 6 
Idade (em anos) 
 Alcance 5-7 5-7 5-7 5-7 
 Máximo 7 7 7 7 
 Mínimo 5 5 5 5 
 Média 5.9 6.14 6.28 5.8 
 Desvio-Padrão 0.94 0.83 0.88 0.89 
 
Instrumentos 
Utilizou-se como instrumentos de coleta de dados os subtestes e escalas do teste SON-
R 2 ½ - 7 [a] e o Teste das Matrizes Progressivas Coloridas de Raven. 
38 
 
 
1. O SON-R 2½-7[a] é composto por quatro subtestes, a saber: Mosaicos, 
Categorias, Situações e Padrões, administrados nesta ordem. Estes são diversificados em 
termos de apresentação do estímulo, requisitos de administração, tipo de resposta e 
compõem a Escala de Raciocínio (Categorias e Situações) e a Escala de Execução com 
enfoque espacial (Mosaicos e Padrões). 
Categorias 
Subteste planejado para avaliar Raciocínio Abstrato, que possui 15 itens e um 
exemplo. A criança precisa escolher as figuras que possuem algo em comum com a 
categoria apresentada (ex: bonecas). Nos primeiros sete itens, quatro ou seis cartões 
precisam ser postos na categoria correta. Os itens seguintes são de múltipla escolha nos 
quais a criança deve escolher, entre os cinco objetos, os dois adequados à categoria em 
análise. 
Situações 
Subteste que avalia Raciocínio Concreto e possui 14 itens e um exemplo. A criança 
escolhe a opção que melhor complete uma figura ou situação, de modo a deixá-la 
consistente e coerente. Na primeira parte do subteste são apresentadas metades de quatro 
figuras. Depois de ter recebido os cartões com as metades faltantes, a criança precisa 
colocar a metade certa, completando corretamente o desenho. A segunda parte desse 
subteste é de múltipla escolha. Cada item consiste no desenho de uma situação em que 
uma ou duas peças estão faltando. As peças corretas precisam ser escolhidas entre várias 
alternativas a fim de deixar a situação consistente. 
Mosaicos 
Subteste composto por 15 itens e um exemplo e planejado para avaliar habilidades 
espaciais. A criança precisa copiar padrões de mosaicos em uma moldura utilizando 
39 
 
quadrados vermelhos, amarelos e vermelhos/amarelos. Na primeira parte, a criança 
precisa copiar padrões simples de mosaicos numa moldura utilizando 3 a 5 quadrados 
vermelhos. Na segunda parte, requer-se da criança que padrões de mosaicos sejam 
copiados com quadrados vermelhos, amarelos e vermelhos/amarelos. 
Padrões 
Subteste construído para avaliar habilidades espaciais e formado por 16 itens. A 
criança precisa copiar com um lápis uma forma geométrica. Os itens inicialmente são 
demonstrados pelo examinador e, no decorrer da aplicação, a criança precisa copiar a 
figura sem ajuda. 
 
2. Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR): O teste investiga a 
capacidade de estabelecer comparações, o desenvolvimento do pensamento lógico, 
assim como o raciocínio analítico e a capacidade de raciocinar por analogia 
(Albuquerque, 1996). Tal instrumento traz subjacente a teoria do fator geral de 
inteligência (fator “g”) e investiga a capacidade edutiva, ou seja, a capacidade de extrair 
novos insights (compreensões) e informações do que já é percebido ou conhecido. 
Os itens do MPCR são apresentados sob a forma de um desenho ou matriz, em que 
falta uma parte. A tarefa da criança consiste em escolher, entre as alternativas colocadas 
na metade inferior da página, a que completa corretamente o desenho. A escala contém 
36 itens divididos em três séries: A, Ab e B. Os 12 itens de cada série estão dispostos em 
ordem de dificuldade crescente. A maioria dos itens está impresso com fundos coloridos, 
o que os torna mais atraentes. A avaliação é feita através de um crivo ou chave de 
correção. Os totais parciais de cada série permitem determinar a consistência da 
pontuação, que indica a validade do resultado. O total de acertos é convertido em 
percentil, de acordo com a faixa etária e tipo de escola da criança avaliada. 
40 
 
Procedimentos 
O presente estudo obedeceu às diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas 
envolvendo seres humanos. Sua execução foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa 
da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (parecer nº 46207015.0.0000.5537). 
Após o consentimento formal de pais/responsáveis, foram inclusas na amostra apenas 
crianças com Transtorno do Espectro do Autismo e crianças com desenvolvimento típico 
com perfil socioeconômico e de escolaridade semelhante ao grupo clínico. 
Para o diagnóstico de TEA foram utilizados os critérios do DSM-5: 1 - Crianças com 
TEA exigindo apoio (Leve), 2 - Crianças com TEA exigindo apoio substancial 
(Moderado), 3 - Crianças com TEA exigindo muito apoio substancial (Grave). Os níveis 
de intensidade do transtorno foram estabelecidos por três avaliadores independentes que 
integram a equipe multiprofissional do SEMEA (neurologista, terapeuta ocupacional e 
fonoaudiólogo). Salienta-se que os profissionais avaliadores não sabiam acerca do 
objetivo deste estudo e realizam intervenções juntos às crianças há mais de 1 ano. A 
concordância entre juízes foi avaliada pelo Kappa de Cohen (0.7167), que indicou 
concordância substancial (Landis & Koch, 1977). Nos casos de discordância entre os 
juízes, foi considerada a resposta mais prevalente. 
O processo de avaliação teve média de três sessões com a criança, com duração de 50 
minutos, em sala apropriada em termos de iluminação e isolamento de ruídos. As crianças 
foram avaliadas individualmente a partir de dois instrumentos de avaliação da 
inteligência: o teste SON-R 2 ½ - 7 [a] e o Teste das Matrizes Progressivas Coloridas de 
Raven (MPCR). 
Os dados oriundos da avaliação da capacidade intelectual foram analisados em duas 
etapas: 1) análise estatística descritiva do desempenho dos subgrupos no Teste das 
Matrizes Progressivas Coloridas de Raven, Teste SON-R 2 ½ - 7 [a] (escala de execução), 
41 
 
Teste SON-R 2 ½ - 7 [a] (escala de raciocínio) e os subteste Mosaicos, Padrões, 
Categorias e Situações; 
2) análise estatística inferencial, visando verificar a presença de discrepâncias 
estatisticamente significativas quanto às variáveis que exercem influência sobre os 
resultados dos participantes. Esta análise foi realizada através do teste Qui-Quadrado, 
dado o baixo efetivo de participantes e a não-garantia de distribuição normal da amostra, 
utilizando-se nível de significância de p<0,05 para rejeição da hipótese nula. Para a 
realização de tais análises, a variável independente nominal utilizada foi a ausência ou 
presença de TEA nos diferentes níveis de gravidade previsto no DSM-5. 
 
Resultados 
A Figura 1 apresenta os dados das crianças que compreenderam as instruções e 
completaram as tarefas do MPCR e SON-R 2½-7 [A]. Note-se que nenhuma das crianças 
diagnosticadas com TEA Grave foi capaz de realizar o MPCR. No entanto, todos os 
sujeitos entenderam e executaram as tarefas apresentadas pelo SON-R 2½-7 [A]. 
 
Figura 1: Número de crianças que realizaram e não realizaram os testes de inteligência 
A Figura 2 apresenta os resultados obtidos pelas crianças que realizaram os testes 
MPCR e SON-R 2½-7 [A] de acordo com a classificação do coeficiente intelectual. 
1
0
7
4
0
1
0
7 7
6
0 0
3
0 0 0 0 0
S E M T E A T E A L E V E T E A 
M O D E R A D O
T E A G R A V E S E M T E A T E A L E V E T E A 
M O D E R A D O
T E A G R A V E
M P C R S O N - R 2 ½ - 7 [ A ]
Fez Não Fez
42 
 
Considerando os resultados obtidos do SON-R 2½-7 [A], o número total de crianças com 
TEA Grave obteve resultados abaixo da média, enquanto apenas uma criança com TEA 
Leve obteve resultado similar. O grupo com TEA Leve concentra-se principalmente na 
categoria média, enquanto o grupo com TEA Moderado concentra-se na categoria abaixo 
da média. Por sua vez, o grupo sem TEA está concentrado na categoria acima da média. 
Em relação ao teste MPCR, o grupo sem TEA está concentradona categoria média, 
enquanto os grupos com TEA Moderada e Leve apresentaram classificações iguais nas 
categorias média e abaixo da média. 
Com relação às escalas SON-R 2½-7 [A], a Figura 3 apresenta o desempenho das 
crianças em relação ao nível do coeficiente intelectual obtido a partir das escalas 
Execução (SON-R EE) e Raciocínio (SON-R ER). Os grupos com TEA Leve e Moderado 
geralmente tiveram melhor desempenho na escala de execução quando comparados à 
escala de raciocínio. 
0
1
2
0 0
1
5
66
3
2
0
4
5
1
0
4
3
0 0
6
1 1
0
S E M T E A T E A L E V E T E A 
M O D E R A D O
T E A G R A V E S E M T E A T E A L E V E T E A 
M O D E R A D O
T E A G R A V E
M P C R S O N - R 2 ½ - 7 [ A ]
Abaixo da Média Média Acima da Média
Figura 2: Crianças que realizaram os testes de inteligência e obtiveram classificações de desempenho 
43 
 
 
Figura 3: Crianças que obtiveram classificações de desempenho nas escalas do SON-R 2½-7 
[A] - SON-R EE: Escala de execução | SON-R ER: Escala de raciocínio 
Na Tabela 5, nota-se que houve diferença significativa nos resultados obtidos nos 
subtestes SON-R 2½-7 [A] de acordo com o nível de intensidade do TEA, com exceção 
do subteste Padrões (p = 0,015). No geral, identifica-se uma diferença significativa em 
relação ao nível de intensidade do TEA, sugerindo a existência de uma relação negativa 
entre o nível de intensidade e o coeficiente intelectual. Também foi identificada uma 
diferença significativa entre as classificações de QI obtidas nas escalas em função do 
nível de intensidade do TEA (Execução x2 = p = 0,001 e Raciocínio x2 =; p = 0,000). 
Tabela 5: Desempenho nos testes de inteligência de acordo com a variável Nível de Intensidade 
do TEA 
 MPCR SON-R IQT SON-R 
EE 
SON-ER Mosaicos Categorias Situações Padrões 
x2 p=0,05 0.142 <0.001 0.001 <0.001 0.003 <0.001 0.001 0.015 
Nota: Valores em negrito - Estatística significativamente diferente (p = 0,05) de acordo com o nível de 
intensidade do TEA. MPCR = Matrizes Progressivas Coloridas de Raven; SON-R QIT = QI Total de SON-
R 2½-7 [A]; SON-R EE = Escala de Execução do SON-R 2½-7 [A]; SON-R ER = Escala de Raciocínio do 
SON-R 2½-7 [A] 
 
0
2
5
6
0
1
5
6
5
4
1
0
3
5
2
0
5
1 1
0
7
1
0 0
S E M T E A T E A L E V E T E A 
M O D E R A D O
T E A G R A V E S E M T E A T E A L E V E T E A 
M O D E R A D O
T E A G R A V E
S O N - R E E S O N - R E R
Abaixo da Média Média Acima da Média
44 
 
Na busca por melhor compreensão da amostra clínica nos subtestes SON-R 2½-7 
[A], a Figura 4 apresenta os resultados de desempenho dos grupos com TEA Leve, 
Moderado e Grave. Os grupos com TEA Leve e Moderado apresentaram a maior 
dispersão de desempenho entre os subtestes. Identificou-se que o pior desempenho em 
todos os grupos foi observado no subteste Padrões, seguido das Categorias. O 
desempenho nos subtestes Mosaicos e Situações parece estar mais próximo na 
comparação dos grupos Leve e Grave do TEA, no entanto, o grupo do TEA Moderado 
está distanciado dos demais. 
 
Discussão 
A análise descritiva dos resultados indica que todas as crianças com TEA Grave não 
conseguiram realizar o teste de Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (MPCR). 
Embora tenham obtido resultados abaixo da média no teste de QI Total da SON-R 2½-7 
[A], seu desempenho foi completado com sucesso. Apesar do reduzido número de sujeitos 
obtidos em uma amostra selecionada por conveniência, os resultados reforçam o estudo 
de Campos e Fernandes (2016), no qual participaram 44 crianças e adolescentes com TEA 
com idade entre 6 e 12 anos, diagnosticados segundo critérios do DSM-IV-TR (versão 
revisada). Vinte (20) crianças não foram capazes de realizar o teste de Matrizes com 
Figura 4: Descrição do funcionamento do grupo TEA nos subtestes SON-R 2½-7 [A] 
45 
 
sucesso, e o estudo relata que esses foram os sujeitos com maiores níveis de 
comprometimento. 
Com base nos resultados apresentados na comparação dos sujeitos de acordo com os 
resultados do MPCR e SON-R 2½-7 [A], verifica-se que as crianças sem TEA e as com 
TEA Leve e Moderado realizaram ambos os testes. No entanto, há uma discrepância no 
desempenho relacionado ao aumento da gravidade do TEA, que foi associado apenas ao 
nível de inteligência para o SON-R 2½-7 [A]. 
Esses achados também corroboram com estudos que discutem as limitações de 
padronização do teste de Matrizes para grupos clínicos como o TEA (Mecca et al., 2014). 
O teste de Matrizes apresenta alta validade de convergência com o SON-R 2½-7 [A], 
porém exige habilidades verbais para a compreensão de suas instruções, apresentando, 
assim, uma desvantagem para indivíduos com TEA. 
Por sua vez, Laros et al. (2010) destacam a vantagem do SON-R 2½-7 [A] através da 
manipulação de imagens, mosaicos e desenhos, sem a necessidade de instruções ou 
respostas verbais, e também sem repetição de itens em excesso. Essas características 
reforçam a motivação e o desempenho de crianças de diferentes culturas com 
comprometimento severo na linguagem receptiva e expressiva e/ou com TEA. 
A análise descritiva do SON-R 2½-7 [A] indica que todas as crianças da amostra com 
TEA Grave obtiveram resultados abaixo do esperado no QIT, embora as crianças com 
TEA Leve e Moderado tenham flutuado no desempenho. Os resultados obtidos do teste 
Qui-quadrado demonstram a associação do nível de intensidade do TEA em relação ao 
desempenho no teste SON-R 2½-7 [A] (p = 0,000). A esse respeito, o funcionamento 
intelectual parece estar diretamente relacionado ao nível de gravidade do TEA. 
Com relação às escalas SON-R 2½-7 [A], ambas apresentaram estatística significante 
com o nível de intensidade do TEA (Execução p = 0,001 e Raciocínio p = 0,000). No 
46 
 
entanto, uma análise descritiva mais detalhada sugere mais recursos na Escala de 
Execução. A partir da análise de cada resultado dos subtestes SON-R 2½-7 [A], verificou-
se que os grupos de TEA Leve, Moderado e Grave apresentaram pior desempenho no 
subteste Padrões, seguido de Categorias. O desempenho nos subtestes Mosaicos e 
Situações está mais próximo nos grupos com TEA Leve e Moderado, mas distâncias do 
grupo TEA Moderado. 
A Escala de Execução (SON-EE) avalia habilidades espaciais e visomotoras, 
enquanto a Escala de Raciocínio (SON-ER) avalia raciocínio concreto e abstrato. O 
raciocínio é entendido como a capacidade cognitiva exigida para resolver problemas 
simples e complexos da ordem intelectual ou para a resolução de desafios cotidianos de 
rotina (Laros, Tellegen, Jesus e Karino, 2013). 
O desempenho na Escala de Execução (p = 0,001) pode ter sido influenciado pelos 
resultados obtidos no subteste Mosaicos, o que requer que o sujeito construa uma 
estrutura com mosaicos de um modelo anterior em um quadro. Esses achados concordam 
com estudos anteriores que indicam habilidades visuoespaciais como as habilidades mais 
preservadas no TEA (Happé & Frith, 1996; Mayes & Calhoun, 2008). 
Em contrapartida, as dificuldades observadas no subteste Padrões corroboram o 
estudo publicado por Macedo et al. (2013), que analisou a sensibilidade e especificidade 
do teste SON-R 2½-7 [A] para o TEA e sugere dificuldades de execução para o subteste 
Padrões associado ao desenvolvimento de habilidades motoras finas. Embora as 
habilidades motoras não estejam dentro das principais características do TEA, muitos 
estudos destacam os déficits motores nesse grupo. 
Por fim, o desempenho na Escala de Raciocínio (SON-ER) através dos subtestes de 
Categorias e Situações é compatível com a literatura clínica, uma vez que o nível de 
intensidade do TEA (segundo os critérios do DSM-5) é influenciado pelo nível de 
47 
 
desenvolvimento da linguagem social/pragmática. As crianças com TEA geralmente 
apresentam déficits na linguagem pragmática, em oposição ao desenvolvimento adequado 
da linguagem semântica, do uso da gramática e da sintaxe.

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