Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Atendimento Educacional de Alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento Professora Mestre Fabiane Fantacholi Guimarães Professora Mestre Greicy Juliana Moreira Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração Thassiane da Silva Jacinto Revisão Textual Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br/site/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Núcleo de Educação a Distância; GUIMARÃES, Fabiane Fantacholi. MOREIRA, Greicy Juliana. Atendimento Educacional de Alunos com Transtornos Globais do Desenvolvimento. Fabiane Fantacholi Guimarães Greicy Juliana Moreira. Paranavaí - PR.: Fatecie, 2021. 119 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. AUTORAS Fabiane Fantacholi Guimarães • Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias (Uni- versidade Pitágoras Unopar). • Licenciatura e Bacharel em Pedagogia (CESUMAR). • Especialista em Psicopedagogia Institucional (Faculdade Maringá) • Especialista em Educação Especial (Faculdade de Tecnologia América do Sul) • Especialista em EAD e as Novas Tecnologias Educacionais (UniCESUMAR). • Especialista em Docência no Ensino Superior (UniCESUMAR). • Especialista em Tecnologias Aplicadas no Ensino A Distância (UniFCV). • Professora orientadora de trabalho de conclusão de curso da Pós-Graduação • (UniFCV). • Professora conteudista na área da Educação (UniFCV/UniFATECIE). • Professora de disciplinas de Pós-Graduação na área da Educação (UniFCV). • Coordenadora de cursos EAD de Pós-Graduação na área da Educação (UniF- CV). • Supervisora de Cursos EAD de Graduação na área da Educação (UniFCV). • Psicopedagoga do Núcleo de Atendimento Escolar (NEA). • Experiência na Educação Básica há 9 anos. • Experiência no Ensino Superior (presencial e a distância) desde 2012 até os dias atuais. Acesse meu currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/7315666246327967 Greicy Juliana Moreira • Mestre em Letras (UEM). • Especialista em Língua Portuguesa - Teoria e Prática (América do Sul). • Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional (Faculdade Maringá). • Especialista em Educação Especial com Ênfase em Libras (Dom Bosco). • Especialista em Educação Empreendedora (Puc-RJ). • Especialista em Gestão de Pessoas (Faculdade Maringá). • Especialista em Tecnologias Aplicadas no Ensino A Distância (UniFCV). • Licenciatura em Letras - Português. • Segunda Licenciatura em Pedagogia (UniCesumar). • Tutora/Mediadora Pedagógica (UniFCV). • Professora Responsável de disciplinas de Graduação na área da Educação (UniFCV). • Professora Conteudista na área da Educação (UniFCV/UniFATECIE). • Instrutora de cursos Técnicos e Profissionalizantes (SENAC-PR). • Experiência na área de Educação há 14 anos. • Experiência no Ensino Técnico, Superior e Pós-Graduação (presencial e a dis- tância) desde 2010 até os dias atuais. Acesse meu currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/8929294723407914 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Acadêmico(a), olá!!! Seja bem-vindo(a)! A partir de agora, você deu largada em uma jornada de co- nhecimento por meio do incrível mundo da educação inclusiva, mais especificamente ao maravilhoso universo do “Atendimento Educacional de Aluno com Transtornos Globais do Desenvolvimento”. Nossa missão será apresentar a você, por meio de dialogismo, novos conhecimen- tos e descobertas, que proporcionarão reflexões e mudanças significativas no seu modo de pensar e agir, tanto no contexto pessoal, acadêmico e sobretudo na esfera profissional, favorecendo o desenvolvimento de suas competências, habilidades e atitudes. O presente material foi produzido exclusivamente para proporcionar a construção de novos conhecimentos, por meio de quatro unidades curriculares, recheadas de concei- tos teóricos e reflexivos, conectando teoria e situações reais, favorecendo o processo de ensino-aprendizagem. A apostila é composta por uma introdução, seguida de quatro unidades, divididas em três tópicos cada uma, criteriosamente analisados e selecionados para dar sustentação às discussões, reflexões e conclusão. Além dos conteúdos abordados no decorrer das unidades curriculares, você tam- bém terá acesso à informações extras, como por exemplo novas leituras, a seção #sai- bamais, #reflita, #leituracomplementar, e ainda, dicas de livros e filmes, que contemplam os assuntos em questão na presente disciplina. Na Unidade I, o conteúdo disponibilizado será sobre as Dimensões Dos Transtor- nos Globais De Desenvolvimento e suas especificidades: Classificação Internacional de Doenças: CID, o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais e, por último, a Definição, conceituação e características do TGD. Na Unidade II, a ênfase será exclusivamente sobre os Transtornos Globais Do Desenvolvimento – Condutas Típicas: as especificações do que envolve as condutas típi- cas, como o professor e a família podem lidar com essas condutas e também as possíveis estratégias e recursos a serem oferecidos para os alunos com condutas típicas. Na Unidade III, vamos falar sobre as especificidades do Autismo, Síndrome De Asperger e Síndrome De Rett e, então, durante nosso diálogo, levá-lo a compreender a definição e encaminhamentos relacionados a cada um desses transtornos globais do de- senvolvimento. Na Unidade IV, denominada de Interlocução do Atendimento Especializado no Ensino Regular Para Alunos Com TGD, nosso propósito será apresentar informações sobre os aspectos legais relacionados ao Atendimento Educacional Especializado (AEE), enfatizando o atendimento ao público em questão dessa disciplina – TGD/TEA. Para tanto, os assuntos abordados serão: fundamentos teóricos, legais e pedagógicos do atendimento especializado, a Institucionalização do atendimento especializado no projeto político pe- dagógico e, por último, o Desmembramentos do TGD e as ações necessárias a serem seguidas pela escola, família e sociedade. Diante do exposto, desejamos que, a partir desse momento, você inicie a leitura e estudo desse material e que, no decorrer dessa trilha de descobertas, você possa refletir sobre os aspectos aqui abordados, sobre a importância da sua formação acadêmica e, ainda, como contribuir, enquanto profissional, para a eliminação de barreiras relacionadas ao ensino-aprendizagem do público-alvo da educação inclusiva, especialmente, no que tange a educação dos alunos com TGD/TEA. Boa viagem! Embarque agora nessa trilha de conhecimentos! Até mais!!! Profa. Me. Fabiane Fantacholi Guimarães. Profa. Me. Greicy Juliana Moreira. SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 8 Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento UNIDADE II ................................................................................................... 25 Transtorno Do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea UNIDADE III .................................................................................................. 49 Métodos Educacionais De Intervenção E Apoio A Inclusão Do Aluno Com Tgd-Tea UNIDADE IV .................................................................................................. 72 InterlocuçãoDo Atendimento Especializado No Ensino Regular Para Alunos Com Tgd-Tea 8 Plano de Estudo: A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ● Classificação Internacional de Doenças: CID ● Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais ● Definição, conceituação e características do TGD-TEA Objetivos da Aprendizagem: ● Conhecer a Classificação Internacional de Doenças ● Conhecer o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais ● Estudar a definição, conceituação e características do Transtorno Global do Desen- volvimento UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento Professora Mestre Fabiane Fantacholi Guimarães 9UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a). Seja bem-vindo(a) à Unidade I, intitulada “Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento”, da disciplina de Atendimento Educacional de Aluno com Transtor- nos Globais do Desenvolvimento do curso de Graduação em Educação Especial. No primeiro momento: conheceremos a Classificação Internacional de Doenças (CID). Esse documento é publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa padronizar a codificação de doenças e outros problemas relacionados à saúde. No segundo momento: conheceremos o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM). Esse documento se propõe a servir como um guia prático, funcional e flexível para organizar informações que possam auxiliar no diagnóstico preciso e no tratamento de transtornos mentais pelos profissionais da área da Saúde. No terceiro momento: estudaremos a definição, conceituação e características do Transtorno Global do Desenvolvimento, que passou por mudanças significativas no decor- rer dos tempos. Espero que estes textos colaborem para a sua melhor compreensão sobre o tema de nossa primeira unidade. Boa leitura! 10UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento 1. CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DOENÇAS: CID A Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (também conhecida como Classificação Internacional de Doenças – CID) é publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e visa padronizar a codificação de doenças e outros problemas relacionados à saúde. A CID fornece códigos relativos à classificação de doenças e de uma grande variedade de sinais, sintomas, aspectos anor- mais, queixas, circunstâncias sociais e causas externas para ferimentos ou doenças. A cada estado de saúde é atribuída uma categoria única à qual corresponde um código CID. A CID é revista periodicamente e encontra-se na sua décima edição (CID-10). Está prevista a substituição da CID-10 pela décima primeira edição (CID-11). A CID-11 foi lançada em 18 de junho de 2018, tendo sido apresentada para adoção dos Estados membros, em maio de 2019, durante a Assembleia Mundial da Saúde, e deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2022. A versão anterior, a CID-10, foi desenvolvida em 1993 para registar as estatísticas de mortalidade. Atualizações anuais (menores) e trienais (maiores) são publicadas pela OMS. A CID permite que programas e sistemas possam referenciar, de forma padroniza- da, as classificações, auxiliando a busca de informação diagnóstica para finalidades gerais. É importante também para codificar e classificar os dados de mortalidade de atestados de óbito. Deve-se tomar o cuidado para não confundir a “classificação” com a “causa” de 11UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento doenças e lembrar que o objetivo da CID não é oferecer um quadro explicativo da relação entre os agravos, mas apenas listá-las, de forma coerente com as lesões. Caro(a) estudante, a CID-10 trazia vários diagnósticos dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD - sob o código F84), como: Autismo Infantil (F84.0), Autismo Atípico (F84.1), Síndrome de Rett (F84.2), Transtorno Desintegrativo da Infância (F84.3), Transtorno com Hipercinesia Associada ao Retardo Mental e aos Movimentos Estereotipados (F84.4), Síndrome de Asperger (F84.5), Outros TGD (F84.8) e TGD sem Outra Especificação (F84.9). A nova versão da classificação a CID-11 une todos esses diagnósticos no Transtorno do Espectro do Autismo (código 6A02 - em inglês: Autism Spectrum Disorder - ASD), as subdivisões passaram a ser apenas relacionadas a prejuízos na linguagem funcional e deficiência intelectual. A intenção é facilitar o diagnóstico e simpli- ficar a codificação para acesso a serviços de saúde. Imagem 1 - Mudança na classificação do CID-10 para CID-11 Fonte: elaborado pela autora com base na CID-10 e CID-11. 12UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento Caro(a) estudante, ao longo do nosso material iremos referenciar a CID, fique aten- to(a)! Vale ressaltar que, por ser a CID-11 um documento novo, ainda iremos encontrar em várias pesquisas a utilização da CID-10, precisamos compreender que na área da pesquisa acadêmica (educação) será aos poucos a mudança da nomenclatura referente ao TGD para TEA. SAIBA MAIS Você sabia, caro(a) acadêmico(a), que a CID-10 foi aprovada pela Conferência Interna- cional para a Décima Revisão, em 1989, e adotada pela Quadragésima Terceira Assem- bléia Mundial de Saúde para entrar em vigor em 1o de janeiro de 1993? Segundo o site das Nações Unidas, a CID-11 reflete as mudanças e os avanços na Medicina e Tecnolo- gia que aconteceram de lá para cá. A estrutura de codificação e ferramentas eletrônicas foram simplificadas, para permitir que o profissional possa registrar os problemas de maneira mais fácil e eficaz. A nova classificação conta com 55 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte versus 14.400 da CID-10. Entre as principais novidades, está a inclusão de distúrbio em games (gaming disorder), que já havia sido anunciado no começo do ano. A OMS define a desordem como um “padrão de comportamento persistente ou recorrente”, de gravidade suficiente para “re- sultar em comprometimento significativo nas áreas de funcionamento pessoal, familiar, social, educacional, ocupacional ou outras”. Reprodução/OMS Fonte: elaborado pela autora com base no CID e OMS. 13UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento REFLITA O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que reconhece crianças e adolescentes como sujeitos de pleno direito, classifica esses indivíduos como: pessoas em desenvol- vimento. Sendo assim, caro(a) acadêmico(a), pense bem antes de realizar qualquer ato, pois você faz parte desse desenvolvimento! Fonte: a autora. 14UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento 2. MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICA DOS TRANSTORNOS MENTAIS O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o DSM, em sua 5ª edição, foi publicado em maio de 2013 (versão em português em 2014). O DSM se pro- põe a servir como um “guia prático, funcional e flexível para organizar informações que podem auxiliar no diagnóstico preciso e no tratamento de transtornos mentais”. Trata-se de “uma ferramenta para clínicos, um recurso essencial para a formação de estudantes e profissionais e uma referência para pesquisadores da área” (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. xii). O guia representa a base para definição de doenças psíquicas, referência para a prática clínica, e, segundo seus autores, contém informações úteis para todos os profissio- nais ligados à saúde mental, “incluindo psiquiatras, outros médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, consultores, especialistas das áreas forense e legal, terapeutas ocupacionais e de reabilitação e outros profissionais da área da saúde”. (AMERICAN PSY- CHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. xii). O DSM-5 também é um instrumento para a coleta e a comunicação precisa de estatísticas de saúde pública sobre as taxas de morbidade e mortalidade dos transtornos mentais. Embora o DSM-5continue sendo uma classificação categórica de transtornos in- dividuais, reconhecemos que os transtornos mentais nem sempre se encaixam totalmente dentro dos limites de um único transtorno. Alguns domínios de sintomas, como depressão e ansiedade, envolvem múltiplas categorias diagnósticas e podem refletir vulnerabilidades 15UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento subjacentes comuns a um grupo maior de transtornos. O reconhecimento dessa realidade fez os transtornos incluídos no DSM-5 serem reordenados em uma estrutura organizacio- nal revisada, com o intuito de estimular novas perspectivas clínicas. Essa nova estrutura corresponde à organização de transtornos planejada para a CID-11, cujo lançamento está programado para 2022. Caro(a) estudante, ao longo do nosso material iremos referenciar o DSM, fique atento(a)! SAIBA MAIS Você, caro(a) acadêmico(a), sabia que, assim como no DSM, o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, a nova CID, Classificação Internacional de Doen- ças, uniu os transtornos do espectro num só diagnóstico? Essa decisão veio para facili- tar o diagnóstico e tornar mais simples a codificação para acesso a serviços de saúde. Fonte: a autora. 16UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento 3. DEFINIÇÃO, CONCEITUAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO TGD-TEA Caro(a) estudante, vamos primeiramente conhecer o percurso histórico trilhado pela área dos transtornos globais do desenvolvimento, conhecido como TGD, contextualizando as diferentes terminologias e enfoques teóricos utilizados para referenciar tal transtorno. O desafio de compreender as desordens psíquicas esteve presente na sociedade e desprender-se de conceitos enraizados constitui ponto essencial para o conhecimento dos transtornos globais do desenvolvimento. Nesses mais de 75 anos de estudos no campo dos TGDs, é necessário conhecer os pesquisadores e suas alegações fundamentais sobre tal quadro clínico, os parâmetros internacionais para a sua identificação e, ainda, as possíveis hipóteses para o seu apare- cimento. Na educação, tais conhecimentos se tornam significativos por estarem relacio- nados, na atualidade, a uma das áreas com identificação mais frequente na população infanto-juvenil. 17UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento SAIBA MAIS Você já deve ter assistido a algum filme com passagens bíblicas, independentemente da religião a qual esteja vinculado, retratando uma época em que a ciência era pratica- mente inexistente. O fato de que não tinham o conhecimento científico para explicar o mundo em que viviam, faz-nos indagar: “de que forma os sujeitos conseguiam explicar os fenômenos da natureza, como o raio e/ou o trovão?”. Para aquele momento, as explicações possíveis provinham de ideias relacionadas às atividades de magia e da religião. Da mesma forma, sujeitos com alguma má formação, ou mesmo com comportamentos que fugiam do esperado para a sociedade, eram vistos como pessoas cuja condição tinha origens demoníacas. Esse ponto de vista evidencia a ação dos aspectos culturais no modo de justificar e aceitar os acometimentos de ordem física, intelectual e mental (psíquica). Com efeito, as pessoas inseridas em organizações prósperas na sociedade, tais como a justiça e a igreja, eram as que sentenciavam os sujeitos que de alguma forma não eram vistos com afeição, excluídos da convivência da comunidade. Com a ampliação da atuação médica, as crenças perderam força. Entretanto, por mais distante que essas ideologias possam estar, a expressão “ele está possuído” até hoje é ouvida quando um sujeito apresenta alterações de comportamento. No caminho para uma vida mais digna aos sujeitos que eram marginalizados, surge a importante ação do médico Philippe Pinel, o qual apostava numa corrente de tratamento humanitário que resultou na expansão das descrições dos transtornos psíquicos. Podemos citar como marco desse momento histórico o caso conhecido como “o menino selvagem”, que foi tema cinematográfico. O cineasta François Truffaut reproduziu em um filme o trabalho de Jean Itard com um jovem que foi capturado numa floresta, ex- cluído da convivência em sociedade. Seu comportamento se assemelhava ao que, após anos de estudo, Leo Kanner descreve clinicamente como distúrbio autista. Fonte: Santos (2020). 18UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento CURIOSIDADE O filme L’Enfant Sauvage traduzido para “O menino (ou garoto) selvagem”, de François Truffaut, retrata o estudo do médico Jean Itard com o jovem Victor (como foi chamado) de Aveyron. Capturado após viver alguns anos na floresta, privado de relações sociais, Victor demonstrou que o ser humano é um animal social, que precisa, para se constituir como ser humano, viver entre os humanos. O filme produzido por Truffaut coincidiu com os estudos e a descrição clínica de Leo Kanner (1894-1981) sobre crianças autistas. Fonte: a autora. A conceituação dos transtornos globais do desenvolvimento passou por mudanças significativas no decorrer dos tempos, e, nem sempre esses conceitos tiveram um ponto de convergência entre o campo da educação e o da saúde. Nesse sentido, para os sujeitos que compõem, atualmente, esse grupo de estu- dantes, as intervenções clínicas se apresentam como uma primeira opção de intervenção, sendo atribuída, para a educação, um segundo plano possível. As manifestações clínicas de pacientes esquizofrênicos, tais como isolamento e distanciamento da realidade, foram descritas pelo psiquiatra Bleuler (1911 apud SANTOS, 2020) empregando a expressão autismo. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) absorveu as subcategorias do autismo como a síndrome de Asperger, o transtorno desintegrativo da infância e os transtornos global do desenvolvimento não especificado e propõe a classifica- ção de Transtornos do Espectro Autista (TEA) em substituição a de Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014). No entanto, caro(a) estudante, na educação, até o momento, ainda se denomina a área Transtorno Global do Desenvolvimento, onde está englobado o Transtorno do Espectro Autismo. As patologias com apresentações sintomáticas semelhantes ao espectro do autis- mo foram denominadas, na educação do DSM-5, de autismo infantil, autismo de Kanner, autismo de alto funcionamento, autismo atípico, transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação, transtorno desintegrativo da infância e síndrome de Asperger, que indica linhas-mestras para a identificação do Transtornos do Espectro Autista (TEA). 19UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento Caro(a) estudante, atenção! O diagnóstico desse transtorno é realizado por um médico, que, na avaliação comportamental, pode utilizar escalas padronizadas para iden- tificá-lo. Entre os anos de 1970 e 1980, houve um crescente interesse pelo autismo, o que acarretou o desenvolvimento de pesquisas no campo médico e psicológico. Tais estudos objetivavam o encontro de um quadro descritivo relacionado ao autismo e aos espectros correlatos que repercutiram em muitos países, inclusive, no cenário brasileiro. REFLEXÃO Afinal, quem são essas crianças que, por alguns educadores, costumam ser adjetivadas como diferentes, agressivas e inquietas, e que quando falam apresentam uma lingua- gem tão incomum? Fonte: a autora. O conceito transtorno global do desenvolvimento (TGD) foi adotado para definir os distúrbios mentais da infância, que apresentam tanto um início muito precoce, quanto uma tendência evolutiva. Os transtornos do espectro autista (TEA) enquadram-se nessa categorização, uma vez que se manifestam na primeira infância e apresentam curso per- manente. É válido ressaltar que os TGDs incluem, necessariamente, alterações qualitativas da experiência subjetiva, dos processos cognitivos, da comunicação(linguagem) e do comportamento e não somente alterações quantitativas. Não podemos conceber o TGD somente como um atraso ou uma interrupção do processo de desenvolvimento típico, visto que se trata da manifestação clínica de um processo atípico e prejudicial ao desenvolvi- mento (BRASIL, 2015). Dessa forma, consideramos fundamental esclarecer que a noção de desenvolvi- mento aplicada ao conceito nosológico de TGD não diz respeito apenas à questão genética, mas àquela praticada pela perspectiva contemporânea da psicopatologia do desenvolvi- mento, que concebe esse processo como resultante de questões multifatoriais, ou seja, genéticas e ambientais (psicossocial). O entendimento sobre o conceito contemporâneo de desenvolvimento envolve, necessariamente, o processo de constituição psíquica, que 20UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento não é inato e se estabelece por meio da interação recíproca entre o bebê e seu principal cuidador nos primeiros anos de vida. (SANTOS, 2019). A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, portaria n. 555, de 07 de janeiro de 2008 (BRASIL, 2008), como documento político nor- teador, apresenta modificações significativas se comparada à política anterior, pois altera o perfil dos estudantes da educação especial. O documento designa como parte dos TGDs os seguintes diagnósticos clínicos: autismo, síndrome do espectro autista (Asperger e Rett), transtorno desintegrativo da infância e transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação. Esses transtornos têm como característica em comum as funções do desenvolvimento prejudicadas (BRASIL, 2010). Até 2007, a nomenclatura utilizada na Educação era Condutas Típicas que começou a ser amplamente divulgada na década de 90, para fazer referência aos alunos que apresentavam distúrbios de comportamentos, substituindo a terminologia anteriormen- te empregada, distúrbios de comportamento, que muitos prejuízos trouxe, seja pelo pre- conceito que a expressão sugeria, seja pela interpretação inadequada de qualquer reação do aluno pelo professor, que ocasionava um rótulo e posterior encaminhamento para a Educação Especial. Quadro 1 - Mudanças em relação a nomenclaturas utilizadas na Educação DE 1994 ATÉ 2007 CONDUTAS TÍPICAS A PARTIR DE 2008 TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO Quadros neurológicos, como por exem- plo, Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Síndromes, como por exemplo, Trans- torno Bipolar; Transtorno de Conduta; Transtorno de Ansiedade, entre outros. Psiquiátricos Persistentes, como por exemplo, Psicose. Refere-se especificamente à alunos com diagnósticos de: autismo; síndromes do espectro de autismo, como por exemplo: Síndrome de Asperger, Síndrome de Rett, entre outros; psicose infantil. Fonte: a autora. Ainda de acordo com o Documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade é compreendido como Transtorno Funcional Específico que será atendido, 21UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento neste Departamento, nos serviços de apoio especializado da área de Deficiência Intelectual e Transtornos Funcionais Específicos, na Rede Pública de Ensino. Assim, esclarece que o Transtorno Bipolar, de Conduta, de Ansiedade, entre outros, deverá ter o acompanhamento da Saúde Mental (tratamento medicamentoso e terapêuti- co), sem que necessariamente sejam encaminhados aos serviços de apoio educacional especializado da Rede Pública de Ensino. Caro(a) estudante, como podemos verificar, ainda estamos no aguardo da atualiza- ção no campo da educação sobre a nomenclatura utilizada. Digo o documento do Ministério da Educação (MEC), pois como sabemos, na área da saúde, já houve a mudança. Por esse motivo, em nosso material, utilizamos e utilizaremos o que consta na portaria n. 555, de 07 de janeiro de 2008. SAIBA MAIS Você sabia, caro(a) acadêmico(a), que o autismo tornou-se um problema de saúde pú- blica no mundo inteiro, e sua importância se reflete em dois eventos recentes: em 2007, a Organização das Nações Unidas (ONU) decretou o dia 2 de abril como o dia mundial de conscientização do autismo, e a entidade americana Autism Speaks convocou vários monumentos do mundo, por meio da campanha Light It Up Blue iniciada em 2010, a se iluminarem de azul, no dia em questão, a fim de promover a conscientização do trans- torno. Fonte: a autora. REFLEXÃO “Temos o direito de sermos iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de sermos diferentes sempre que a desigualdade nos descaracteriza” (SANTOS, 2006, p. 27). 22UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) acadêmico(a), Finalizamos a Unidade I da disciplina de Atendimento Educacional de Aluno com Transtornos Globais do Desenvolvimento. No primeiro momento: conhecemos a Classificação Internacional de Doenças (CID). Esse documento é publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa padronizar a codificação de doenças e outros problemas relacionados à saúde, verificamos que passou por atualizações no decorrer dos anos e que a última versão entrará em vigor em 2022. No segundo momento: conhecemos o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM). Esse documento se propõe a servir como um guia prático, funcional e flexível para organizar informações que podem auxiliar o diagnóstico preciso e o tratamento de transtornos mentais pelos profissionais da área da Saúde Esse manual está ligado diretamente com a CID, sendo assim, ambos caminham juntos. No terceiro momento: estudamos a definição, conceituação e características do Transtorno Global do Desenvolvimento, que passou por diversas mudanças significativas no decorrer dos tempos. Concluímos, nesta primeira unidade, que, devido às mudanças em determinados documentos legais, ainda se denomina a área Transtorno Global do Desenvolvimento, em que está englobado o Transtorno do Espectro Autismo. Os TGDs, segundo documentos leis, designa os seguintes diagnósticos clínicos: autismo, síndrome do espectro autista (Asperger e Rett), transtorno desintegrativo da infância e transtorno invasivo do desenvol- vimento sem outra especificação. Para aprofundar seus conhecimentos, não deixe de consultar as referências. 23UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento LEITURA COMPLEMENTAR Leitura complementar traz dados sobre publicações de pesquisas na área do Trans- torno Global do Desenvolvimento (TGD) realizada por Gianni Marcela Boechard Magalhães. Link de acesso ao material completo: https://periodicos.ufes.br/snee/article/view/23935 24UNIDADE I Dimensões dos Transtornos Globais de Desenvolvimento MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Transtornos Globais do Desenvolvimento Autor: Shirley Aparecida dos Santos Editora: Contentus Sinopse: Este livro define a trajetória histórica da área de transtor- nos globais do desenvolvimento, trazendo conceitos e concepções teóricas fundamentais para o seu entendimento. Trata das teorias sobre desenvolvimento humano de Piaget, Wallon e Vygotsky, métodos e abordagens para o trabalho terapêutico e traz uma discussão sobre direitos, educação especial e inclusão. Também trabalha o atendimento educacional especializado e flexibilização/ diferenciação curricular. FILME/VÍDEO Título: O Garoto Selvagem Ano: 26 de fevereiro de 1970 (França) Sinopse: Um menino incapaz de falar, andar, ler ou escrever é encontrado nu em uma floresta na França, vivendo com um bando de lobos. Ele é levado para Paris e um médico tenta ajudá-lo. Link do vídeo: https://vimeo.com/155385147 WEB Em Tese – Educação e os Transtornos Globais do Desenvol- vimento DURAÇÃO: 30 MINUTOS Exibido em: 12/08/15 Link do site: http://www.tv.ufpr.br/portal/edicao/em-tese-educa- cao-e-os-transtornos-globais-do-desenvolvimento/25 Plano de Estudo: ● Fundamentos conceituais, teóricos e a perspectiva histórica do autismo no século XX ● Conceito geral e disfunções do TEA ● Causas do TEA Objetivos da Aprendizagem ● Contextualizar os fundamentos conceituais, teóricos e a perspectiva histórica do au- tismo no século XX ● Estudar o conceito geral e disfunções do transtorno do espectro autista (TEA) ● Conhecer as causas do transtorno do espectro autista (TEA) UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais e Disfunção Do Tea Professora Mestre Fabiane Fantacholi Guimarães 26UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a). Seja bem-vindo(a) à Unidade II, intitulada “Transtorno do Espectro Autista: con- ceitos iniciais e disfunção do TEA”, da disciplina de Atendimento Educacional de Aluno com Transtornos Globais do Desenvolvimento do curso de Graduação em Educação Especial. No primeiro momento: contextualizar os fundamentos conceituais, teóricos e a perspectiva histórica do autismo no século XX, no entanto, independentemente da posição teórica utilizada para compreender o autismo, sabe-se hoje que ele não constitui um quadro único, mas um quadro clínico complexo que precisa ser olhado a partir de cada sujeito, levando-se em conta suas especificidades, possibilidades e dificuldades. No segundo momento: estudar o conceito geral e disfunções do transtorno do es- pectro autista (TEA). Válido ressaltar, como já elencamos anteriormente, antes do conceito de autismo, existiu e ainda existe em alguns documentos legais, o termo Transtornos Glo- bais do Desenvolvimento (TGD). Os TEA são considerados, atualmente, como transtorno de desenvolvimento de causas variadas. No terceiro momento: conhecer as causas do transtorno do espectro autista (TEA), considerando que em algumas das prováveis causas do TEA, ele é um transtorno de comportamento multifacetado, de base neurológica. Espero que esses textos colaborem para a sua melhor compreensão sobre o tema da nossa primeira unidade. Boa leitura! 27UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea 1. FUNDAMENTOS CONCEITUAIS, TEÓRICOS E A PERSPECTIVA HISTÓRICA DO AUTISMO NO SÉCULO XX A nomenclatura autismo foi empregada pela primeira vez pelo psiquiatra Eugen Bleuler (1857-1939), em 1911, para relatar a fuga da realidade e o retraimento de adultos esquizofrênicos para um mundo interior. A palavra é de origem grega (autós) e significa “por si mesmo”. Trata-se de “um termo, dentro da psiquiatria, para denominar comportamentos humanos que se centralizam em si mesmos, voltados para o próprio indivíduo” (ORRÚ, 2012, p. 17). Quando o médico Jean Itard (1774-1838) relatou informações sobre o menino selvagem de Aveyron, em 1799, o termo autismo não havia sido utilizado. O jovem foi capturado por camponeses de Aveyron, na França, sem vestimentas e movimentando-se como quadrúpede e sem comunicação oral. Ele se balançava sem parar e não demonstrava nenhuma afeição por quem o servia, era indiferente a tudo, não prestava atenção em coisa alguma, nem aceitava mudanças, e lembrava-se com precisão da localização de objetos existentes em seu quarto. Não reagia ao disparo do revólver, mas voltava-se na direção de um estalo de casca de noz (FERRARI, 2012, p. 6-7). A educação desse jovem foi atribuída a Itard, no entanto, o desfecho não foi consi- derado triunfante nem pelo próprio pesquisador, porque o jovem não saiu do mutismo nem teve “acesso à dimensão simbólica da linguagem, apesar da incontestável melhora nas relações sociais” (FERRARI, 2012, p. 7). 28UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea Esse acontecimento foi muito estudado e deu margem para inúmeros questiona- mentos sobre a causa das manifestações comportamentais do jovem de Aveyron, entre as quais se destaca a causa de sua debilidade: o abandono do contato humano ao qual fora submetido. Em 1943, em uma interpretação mais definida, o psiquiatra austríaco Leo Kanner descreveu o autismo infantil após observar 11 crianças entre 2 e 8 anos que apresenta- vam características comuns, o que culminou na publicação do artigo intitulado Distúrbios autísticos de contato afetivo (Autistic Disturbances of Affective Contact). Kanner, em sua descrição, destacou que das 11 crianças observadas, 8 adquiriram linguagem, embora com atraso. Em referências às características sintomáticas dos autistas, verifica-se que muitos profissionais da educação têm dificuldade em identificar esses traços no contexto escolar. A aquisição da linguagem por crianças autistas é muito singular, fato perceptível não só pela irregularidade característica, mas também pela fraca intenção comunicativa. Essa linguagem se apresenta com inversão pronominal e ecolalia. Alguns autistas podem reproduzir uma infinidade de palavras, letras de música, propagandas conhecidas, trechos de conversas, embora não objetivem uma intenção comunicativa, por terem condições favoráveis quanto à memória verbal (SANTOS, 2019). SAIBA MAIS Caro(a) acadêmico(a), em relação à importância da linguagem, o embasamento recai sobre o livro intitulado Pensamento e Linguagem, de Lev Semenovich Vygotsky. Esse autor apresenta um estudo detalhado sobre o desenvolvimento intelectual, orientado para a psicologia evolutiva, educação e psicopatologia. Deixo aqui o link de acesso: http://www2.uefs.br/filosofia-bv/pdfs/vygotsky_01.pdf Ainda que a pesquisa de Kanner passe por algumas alterações no conceito e na definição do autismo, o fundamento é sempre o mesmo, pois ele distingue o distúrbio autís- tico do quadro esquizofrênico, divergindo de Bleuler, que entende essa afecção não como uma doença independente, mas como mais um dos sintomas da esquizofrenia (SANTOS, 2019). 29UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea Desse modo, a partir de 1943 “os conceitos de autismo, psicose e esquizofrenia se colidiram e foram usados de maneira intercambiável durante muitos anos, contudo, atual- mente, foi superado” (BRASIL, 2015, p.18). Após a divulgação dos estudos de Kanner, Hans Asperger (1906-1980), médico e pesquisador, escreveu o artigo Psicopatia autística na infância. Nele, o austríaco também tomou de empréstimo de Bleuler o termo “autismo” para descrever quatro crianças que apresentavam como questão central o transtorno no relacionamento com o ambiente ao seu redor, por vezes compensado pelo alto nível de originalidade no pensamento e nas atitudes. Em alguns momentos, no entanto, o desempenho das crianças pesquisadas (pen- samentos e atitudes) foi percebido como mais ameno (BRASIL, 2015). A respeito desses sintomas, foi constatado seguinte: As características autistas apareceriam a partir do segundo ano de vida e se- riam persistentes. Haveria pobreza de expressões gestuais e faciais e, quan- do as crianças eram inquietas, sua movimentação era estereotipada e sem objetivo, podendo haver movimentos rítmicos repetitivos. Suas falas seriam artificiais, mas teriam atitude criativa em relação à linguagem, exemplificada pelo uso de palavras incomuns e neologismos [...] (BRASIL, 2015, p. 21-22). SAIBA MAIS Você sabia, caro(a) acadêmico(a), que as pesquisas de Hans Asperger eram públicas nos países em que o idioma alemão era dominante? Na década de 1970, foram reali- zadas as primeiras aproximações com os escritos de Kanner, especialmente por pes- quisadores holandeses, tal como Van Krevelen, que tinha domínio dos idiomas inglês e alemão. As iniciativas de assemelhar ambos foram difíceis, em virtude das diferenças entre os pacientes estudados por cada pesquisador, uma vez que os descritos por Kan- ner eram mais jovens e apresentavam maior prejuízo cognitivo. Fonte: a autora (2020). Até fins da década de 1970, o autismo era considerado uma forma de esquizofrenia infantil e classificado dentroda categoria das psicoses (APA, 1952/1968). Em 1979, Wing e Gould foram os primeiros a propor a tríade diagnóstica que abrangia deficiências específi- cas na comunicação, socialização e imaginação (CAMINHA et al., 2016). Em 1980, com a publicação da 3ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-3), o autismo se converteu no protótipo de um novo grupo de 30UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea transtornos do desenvolvimento reunidos sob o título de transtornos globais do desenvolvi- mento (TGD) (APA, 1980). A expressão amplamente utilizada, “transtornos invasivos do desenvolvimento”, não é apropriada. O DSM-4, publicado em 1994, pela primeira vez incluiu o termo “qualitativo” para descrever as deficiências dentro da tríade de manifestações clínicas, definindo a extensão das deficiências em vez da presença ou ausência absoluta de um determinado compor- tamento como suficiente para satisfazer o critério diagnóstico. Na classificação do DSM-4 (APA, 1994), os “transtornos globais do desenvolvimento” abarcavam o amplo espectro de distúrbios com as características citadas acima, incluindo cinco subtipos comportamentais: Figura 1 - Organograma Fonte: Bacarin (2020, p. 29). Na Figura 1 percebe-se pela pirâmide que a caracterização do autismo hierarquiza- va os indivíduos, porém não apresentava um elo que justificasse esse ranqueamento para além dos sintomas neurológicos. Para melhor compreensão da mudança entre o DSM-4 e o DSM-5, retoma-se o conceito conforme a metodologia elaborada pela Associação de Amigos do Autista (AMA). Na definição atual do conceito, o autismo é uma síndrome, ou seja, um conjunto de sintomas, que causa transtorno de neurodesenvolvimento e, como consequência, alte- rações comportamentais, que não o caracterizam como uma doença. O salto de qualidade na compreensão se encontra em entender que essas características não são estanques e assimétricas, porém, necessariamente são pertinentes à mesma síndrome, porque se ca- racteriza sempre por desvios qualitativos na comunicação, na interação social e no uso da imaginação (BACARIN, 2020). Caro(a) estudante, estes três desvios, que ao aparecerem 31UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea juntos caracterizam o autismo, foram chamados por Lorna Wing e Judith Gould, em seu es- tudo realizado em 1979, de “Tríade”, como relatado anteriormente. A Tríade é responsável por um padrão de comportamento restrito e repetitivo, nas condições de inteligência que podem variar do retardo mental aos níveis acima da média (CAMINHA et al., 2016). Em 2013, a 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 2014) propôs uma nova classificação, com novas orientações sobre o diagnóstico e algumas mudanças conceituais importantes. Os subtipos comportamentais descritos no DSM-5, excetuando todos os diagnósticos anteriores (Figura 1), reunidos numa única deno- minação e passam a receber o diagnóstico único de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Entretanto, entende-se que podem coexistir três grupos de situações que dificultam o diagnóstico clínico, sendo eles: 1. O TEA pode ser a síndrome principal, que coexiste com traços ou aspectos de outras síndromes secundárias; 2. O TEA pode ser a síndrome secundária, pois apenas alguns traços ou aspectos se fazem presentes em relação a uma outra síndrome principal; 3. O TEA pode ser a única síndrome, porém com espectros variados conforme cada indivíduo. Tomando por base a análise conceitual elencada, o DSM-5 apresenta a seguinte classificação do TEA: Figura 2 - Classificação Fonte: Bacarin (2020, p. 30). Na Figura 2, observa-se que o Autismo Clássico, o Transtorno Desintegrativo da Infância e o Transtorno Global do Desenvolvimento não específico foram dissolvidos nessa nova classificação do DSM-5. 32UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea Se por um lado a mudança na classificação de autismo ou autismos facilitou a iden- tificação da síndrome a partir da categorização como suave, moderado ou severo, por outro lado, essa transformação requer um maior tempo de observação e investigação para definir o espectro em que classifica o grau da criança com TEA. Essa é a primeira consequência decorrente da nova maneira de se diagnosticar o TEA (BACARIN, 2020). SAIBA MAIS Você sabia que a mudança da classificação de TGD para TEA se justifica porque nos Estados Unidos o tratamento é financiado pelo governo, e todos os pormenores são elementos usados para não disponibilizar a gratuidade do tratamento ou a inclusão do sujeito em um plano de saúde? O diagnóstico de autismo, por exemplo, para resolver o problema e propiciar o direito desses sujeitos a serem acompanhados nas clínicas e nas instituições escolares, uniformizou-se todos como portadores de TEA. O DSM-4 considerava o autismo como um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento e incluía os quadros de Transtorno de Rett, Transtorno de Asperger e Transtorno Desintegrativo da Infância, já não representando mais o entendimento e classificação dos “autistas”. Fonte: Bacarin (2020). Caro(a) estudante, mesmo com novas descobertas a respeito do TEA, ainda vi- vemos uma época de incertezas, uma vez que no meio de várias incertezas, é que se percebem características do TEA, no indivíduo, precocemente. Os primeiros sinais se apresentam ainda nos primeiros anos, e, com um olhar mais apurado, podem-se perceber características em bebês. O TEA afeta o desenvolvimento do ser humano de forma intensa, incidindo na construção da personalidade (SILVA; ROZEK, 2020). As causas do TEA ainda não são consideradas únicas, não existindo, assim, uma definição do que, na realidade, causa o autismo. Temos diferentes abordagens e estudos que convergem ou divergem nos resultados de suas pesquisas, mas que vão transitando, basicamente, entre fatores “psicológicos, disfunções cerebrais e alterações de neurotrans- missores, fatores ambientais, aspectos genéticos, questões alimentares, entre outros” (SILVA; ROZEK, 2020, p. 6). 33UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea Independentemente da posição teórica utilizada para compreender o autismo, sa- be-se, hoje, que ele não constitui um quadro único, mas um quadro complexo que precisa ser olhado a partir de cada sujeito, levando-se em conta suas possibilidades e dificuldades. REFLEXÃO “As crianças com necessidades especiais, assim como as aves, são diferentes em seus vôos. Mas todas são iguais em seu direito de voar.” Fonte: a autora (2020). 34UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea 2. CONCEITO GERAL E DISFUNÇÕES DO TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO (TEA) Caro(a) estudante, para ser compreendido, o TEA precisa ser muito bem estu- dado. Segundo Silva, Gaiato e Reveles (2012), o Transtorno do Espectro do Autismo é considerado um transtorno de neurodesenvolvimento, no qual a criança tem dificuldade na comunicação social e mantém um interesse restrito e estereotipado. Isso significa que se trata de uma alteração ocorrida dentro do cérebro, em que as conexões entre os neurônios se dão de forma diferente, ocasionando dificuldade em interagir com as outras pessoas de maneira adequada. Os TEA são considerados atualmente como transtorno de desenvolvimento de causas variadas. Entretanto, como já estamos estudando acerca de como o TEA se apre- senta legalmente, constatamos que antes do conceito de autismo, existiu e ainda existe em alguns documentos legais o termo Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Para Morais (2012), essa síndrome é entendida como uma das perturbações contínuas e gerais, designadas de “perturbações globais do desenvolvimento”. O autismo caracteriza-se pela existência de disfunções sociais, perturbações na comunicaçãoe no jogo imaginativo, tal como por interesses e atividades restritas e repetitivas. O autismo, para ser considerado em termos de diagnóstico, tem de ter presentes estas manifestações, desde o nascimento até aproximadamente aos 36 meses de idade, persistindo e evoluindo de diferentes maneiras ao longo da vida. 35UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea Nesse sentido, quando o docente, o pedagogo, o especialista na educação espe- cial, ou a equipe escolar solicitarem um laudo diagnóstico em decorrência das limitações e especificidades dessas profissões, geralmente a escola só consegue entender, que naquele laudo, constam informações sobre uma criança com características autísticas, quando se faz referência, neste documento, ao termo Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Assim sendo, é preciso questionar: o que especificamente significa dizer que uma criança tem TGD? Ao observar a Figura 3 a seguir, infere-se alguns pontos para essa problemática: Figura 3 - Alteração cognitiva no TEA Fonte: Bacarin (2020, p. 13). A alteração em comunicação social no TEA apresenta ou pode apresentar os ele- mentos listados a seguir, de acordo com Silva, Gaiato e Reveles (2012): • Dificuldade no contato visual; • Dificuldade no uso de gestos e expressões faciais; • Dificuldades em fazer amizades e no brincar, entender emoções e sentimentos relacionados ao outro; • Falta de interesse por coisas ou atividades que as outras crianças propõem; • Foco em brinquedos ou brincadeiras apenas seja do seu interesse; • Aproximação com os demais de uma forma artificializada, robotizada ou “apren- dida” e fracasso nas conversas interpessoais. • Demonstrações de pouco interesse no que outra pessoa está dizendo ou sen- tindo; • Dificuldade em iniciar ou responder a interações sociais; • Dificuldade de entender a linguagem não verbal das outras pessoas; • Dificuldade em se adaptar a diferentes situações sociais. 36UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea O interesse restrito e estereotipado pode aparecer, de acordo com Silva, Gaiato e Reveles (2012), nas seguintes situações: • Movimentos repetitivos ou estereotipados com objetos e/ou fala; • Na fala, repetições de trechos de filmes ou desenhos, falando sozinhos numa linguagem “própria”, sem função de interação social; • Insistência em rotinas, rituais de comportamentos padronizados, fixação em temas e interesses restritos; • Hiper ou Hiporreação a estímulos do ambiente, como sons ou texturas; • Estereotipias motoras, movimentos repetitivos com o corpo ou com as mãos; • Extrema angústia com pequenas mudanças na rotina; • Forte apego a objetos, gastando muito tempo observando ou usando um mesmo brinquedo ou segurando o dia todo algo que caiba nas mãos; • Sensibilidade a barulhos, cheiros, texturas de objetos ou extremo interesse em luzes, brilhos e determinados movimentos repetitivos; • Alteração na sensibilidade à dor. As autoras mencionadas ressaltam que, em decorrência das individualidades, as crianças com TEA podem apresentar especificidades diversas quanto à alteração em comunicação social e ao interesse restrito e estereotipado. Acerca dessa questão, Morais (2012) observa que ao nível comportamental as características que distinguem as crianças com autismo das que sofrem de outro tipo de perturbações do desenvolvimento, baseiam- -se sobretudo na sociabilidade, no jogo, na linguagem, na comunicação a nível global, a nível de atividade, do repertório de interesses, e as atitudes dos demais não assumem para elas a mesma importância que por norma assume para outras crianças. Deste modo as crianças autistas representam um grande desafio para os profissionais, pelas vastas características que reúnem. “É importante e significativo entender que o autismo é uma disfunção no desenvolvimento cerebral que tem origem na infância, que persiste ao longo de toda a vida e que pode dar origem a uma grande variedade de expressões clínicas” (MORAIS, 2012, p. 12). Conforme estudamos até o momento, o transtorno do espectro autista caracteri- za-se por déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, estas informações são baseadas nos dados do DSM-5. 37UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea Os principais sintomas que caracterizam a dificuldade de integração, segundo a American Psychiatric Association (2014), são: • Déficits na reciprocidade socioemocional, variando, por exemplo, de abordagem social anormal e dificuldade para estabelecer uma conversa normal a compar- tilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, a dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais. • Déficits nos comportamentos comunicativos não verbais usados para intera- ção social, variando, por exemplo, de comunicação verbal e não verbal pouco integrada a anormalidade no contato visual e linguagem corporal ou déficits na compreensão e uso gestos, a ausência total de expressões faciais e comunica- ção não verbal. • Déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos, variando, por exemplo, de dificuldade em ajustar o comportamento para se adequar a contextos sociais diversos a dificuldade em compartilhar brincadeiras imaginati- vas ou em fazer amigos, a ausência de interesse por pares. Os indivíduos com TEA apresentam um processamento perceptivo centrado nos detalhes, o que determina que a exploração dos objetos não aconteça de uma forma típica, sendo, muitas vezes, não vinculada às funções do objeto, mas a seus detalhes. Por exem- plo: ao brincar com um carrinho, a criança não faz explorando a ação do brinque- do, mas desmontando, enfileirando, classificando por cor ou tamanho, ou sem uma prévia classificação, e mantendo-se atento às rodinhas, fazendo-as girar por horas sem um objetivo específico (SILVA; ROZEK, 2020, p. 9). A American Psychiatric Association (APA, 2014) traz os principais sintomas que caracterizam a gravidade baseada em prejuízos na comunicação social e em padrões de comportamento restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades – ATEN- ÇÃO! Os exemplos são ilustrativos, e não executivos –, sendo eles: • Movimentos motores, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos (p. ex., estereotipias motoras simples, alinhar brinquedos ou girar objetos, ecolalia, frases idiossincráticas). • Insistência nas mesmas coisas, adesão inflexível a rotinas ou padrões ritualiza- dos de comportamento verbal ou não verbal (por exemplo, sofrimento extremo em relação a pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrões rígidos 38UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea de pensamento, rituais de saudação, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir os mesmos alimentos diariamente). • Interesses fixos e altamente restritos que são anormais em intensidade ou foco (por exemplo, forte apego a ou preocupação com objetos incomuns, interesses excessivamente circunscritos ou perseverativos). • Hiper ou hiporreatividade a estímulos sensoriais ou interesse incomum por aspectos sensoriais do ambiente (por exemplo, indiferença aparente a dor/ temperatura, reação contrária a sons ou texturas específicas, cheirar ou tocar objetos de forma excessiva, fascinação visual por luzes ou movimento). Para melhor compreensão, a tabela a seguir retirada do DSM-5 ilustra as gravida- des citadas anteriormente. Tabela 1 - Níveis de gravidade para transtorno do espectro autista Fonte: American Psychiatric Association (2014, p. 52). 39UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea SAIBA MAIS Caro(a) acadêmico(a),para ampliar o seu conhecimento entre o autismo em relação à fala, linguagem e comunicação, o livro intitulado Autismo: fala, linguagem e comuni- cação, da autora Silvia Dias Caldas, elabora discussões sobre diferentes aspectos do autismo, especialmente a relação com a comunicação. Dessa forma, aborda os tipos do Transtorno do Espectro do Autismo, o desenvolvimento de linguagem, níveis de análise da fala e cognição social. A obra ainda trata de dificuldades semânticas, linguagem não verbal, sistemas aumentativos e alternativos de comunicação, bem como questões so- bre brincadeira e música. Fonte: Caldas (2020). REFLEXÃO “As pessoas com autismo não mentem, não julgam, não manipulam. Talvez possamos aprender alguma coisa com elas.” Fonte: a autora (2020). 40UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea 3. CAUSAS DO TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO (TEA) Caro(a) estudante, buscaremos neste último tópico compreender algumas das prováveis causas do Transtorno do Espectro Autista (TEA), que é um transtorno de com- portamento multifacetado, de base neurológica. Para a construção dessa investigação acerca das possíveis causas do TEA, fare- mos um resgate de suas características centrais, ou seja, a tríade de identificação dessa síndrome que possui ramificações e camadas díspares, variáveis de indivíduo. São elas, de acordo com a American Psychiatric Association (APA, 2014): 1. Prejuízos na interação social 1.1 Prejuízo no uso de comportamento não verbais a. Contato visual direto b. Expressão facial c. Gestos comunicativos 1.2 Dificuldade para estabelecer relacionamentos com colegas 1.3 Dificuldades para compartilhar prazer, interesses ou desconforto 1.4 Falta de reciprocidade social/emocional 2. Prejuízos na comunicação a. Atraso ou ausência da fala expressiva 41UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea b. Dificuldade para iniciar ou manter uma conversação c. Uso estereotipado e repetitivo da linguagem, linguagem pedante d. Dificuldade na compreensão, na contextualização e. Alterações na prosódia e articulação f. Dificuldades para compreender metáforas g. Dificuldades para compreender figuras de linguagem h. Tendência para compreensão literal 3. Padrões restritos de comportamento, interesses e atividades. 3.1 Preocupação insistente com um ou mais padrões estereotipados e restritos de interesse 3.2 Maneirismos estereotipados e repetitivos 3.3 Apego excessivo a rotinas 3.4 Preocupação persistente com partes de objetos Resgatamos as características principais do TEA, uma vez que as dificuldades encontradas pelos profissionais das mais diversas áreas para desenvolverem suas práticas e voltá-las aos autistas. Isso porque, mesmo com a presença desses sintomas, em todos os diagnósticos clínicos neurológicos e multidisciplinares, cada indivíduo – ou, no jordão médico, cada quadro clínico – apresenta variáveis graus de gravidade. Existe uma vasta bibliografia sobre as várias teorias que procuram explicar o pro- blema da etiologia ou a causa do quadro clínico do autismo, no entanto serão elencadas aqui as hipóteses que se mostraram mais relevantes em relação à importância das investi- gações, bem como aos avanços que proporcionaram no contexto da American Psychiatric Association (APA, 2014), são elas: 1. Teoria psicológica 2. Teoria cognitiva 3. Fatores biológicos evidentes: gêmeos, história familiar e síndromes 4. Ausência de marcador biológico 5. Diagnóstico clínico 42UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea Dessa forma, apresentaremos no quadro a seguir um esboço sobre as principais teorias: Quadro 1 - As principais teorias da causa do TEA Teoria psicológica Durante muito tempo a abordagem predominante foi a psicológica. Muitos teóricos defendiam a hipótese de que o autismo seria o resultado de proge- nitoras ou mães frias. Essa teoria foi combatida e superada em seus funda- mentos, não sendo mais referência para o debate. Teoria cognitiva Essa teoria trabalha com distúrbios na formação e na cognição cerebral, que levariam a um quadro. É uma das mais aceitas na comunidade acadêmica que estuda o TEA, pois as evidências das pesquisas nacionais e internacio- nais demonstraram, em um contínuo processo de amadurecimento científi- co, que o indivíduo com autismo. Fatores biológicos evi- dentes É consenso entre a comunidade acadêmica que os fatores biológicos são muito presentes em crianças com TEA. Cite-se os casos de autismo em gêmeos e os casos de mulheres que gestaram uma criança autista e, na segunda gravidez, geraram outra criança também autista, ou seja, o histórico familiar é considerável, pois aumenta o risco de nascimentos de crianças com TEA. As síndromes também são probabilidades, visto que uma criança com uma síndrome apresenta alteração neurológica e que existe uma grande associação entre síndromes e comportamentos autísticos. Ausência de marcador biológico Biomarcadores ou marcadores biológicos são entidades que podem ser medidas experimentalmente e indicam a ocorrência de determinada função normal ou patológica de um organismo ou uma resposta a um agente farma- cológico. A falta de um exame de sangue, uma tomografia ou um eletroence- falograma, por exemplo, que demonstra que a pessoa tem TEA, faz com que o diagnóstico se paute na observação clínica. Diagnóstico clínico No âmbito do raciocínio clínico do especialista que avalia a criança, a investi- gação deverá ser realizada com bases nas teorias anteriores citadas, ou me- lhor, tomando os elementos contidos nas “tendências hipotéticas” anteriores que, dentro da gama de indícios, elementos e linhas de possibilidades, man- tiveram-se como pressuposto ou como base para que a tendência hipotética que usamos hoje caminhe em direção a um hipótese científica, podendo elevar a possibilidade de acerto quanto às especificidades de cada caso. Fonte: Bacarin (2020). Nos últimos 60 anos de produções e estudos sobre as possíveis causas do autismo criaram uma rotina em que várias teorias foram aparecendo e posteriormente dando espaço a outras teorias, sendo as cinco listadas anteriormente as mais significativas. Sobre o TEA, a causa do autismo permanece desconhecida, entretanto, existe um conjunto de elementos a se considerar, sendo elas: evidências científicas; pesquisas nas mais diversas áreas; evidências em neuroimagens e neurocomportamento; avaliações neuropsicológicas. Pesquisados ao analisarem os elementos evidências citados anterior- mente, inferiram que até o presente momento o problema do TEA é neurobiológico. Nesse sentido, o TEA não é um problema emocional, ele é gerado por alterações na biologia do cérebro. Contudo, a causa dessa alteração é desconhecida, bem como o que desencadeia esse processo (BACARIN, 2020). 43UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea O que se sabe é que alguns fatores do ambiente podem ter relação causal, a saber, sendo: prematuridade; intercorrências como anoxia neonatal; problemas relacionados ao nascimento da criança; alguns distúrbios metabólicos (BACARIN, 2020). Todavia, apesar dos fatores ambientais mais precisos, não se sabe qual é a causa principal e, no geral, não se sabe qual é o gatilho que desencadeia o transtorno. No entanto, existem alguns fatores de risco que estão relacionados ao aparecimento de uma criança autista em uma família. Isto é: quando se deve suspeitar que uma família corre risco maior de ter um filho autista? Basicamente, quando já existe uma criança TEA e em prematuros. Caro(a) estudante, para finalizarmos e não deixar de expor todas as teorias que envolvem a discussão das causas do TEA, apresentaremos a teoria da mente. Como vimos as causas não são corretas, uma das teoriasmais aceitas, no domínio científico, associa os múltiplos fatores mais prováveis a uma alteração nos processos ativação e desativação controlados por genes de determinadas regiões cerebrais associadas à lin- guagem, à cognição social e à criatividade. Isso confirma as narrativas apresentadas no Quadro 1, que relacionam o TEA a um distúrbio na formação e na cognição cerebral, isto é, desvio no desenvolvimento do cérebro em decorrência de uma combinação de fatores genéticos e ambientais – nem todos conhecidos –, conforme figura a seguir: Figura 4 - Autismo - possível origem do problema Fonte: Bacarin (2020, p. 71). Para uma corrente de pesquisadores, o conjunto desses fatores, ainda muito im- precisos, dificulta o desenvolvimento de habilidades de compreensão e dedução da gama de estados mentais, imaginativos e emocionais, de crenças, desejos e intenções. A essa hipótese se denomina Teoria da Mente (Theory of Mind - TM) (BACARIN, 2020). Silva, Gaiato e Reveles (2012, p. 84) observam que “o ser humano desenvolveu, ao longo de sua existência, habilidades de comunicação e de linguagem tão sofisticadas que 44UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea aprendeu a se relacionar de maneira muito complexa. Às vezes, a comunicação é tão rica que nem é preciso falar para se fazer entender”. Caro(a) estudante, para compreender melhor essa colocação, o exemplo irá au- xiliar na compreensão, se estamos em uma conversa e o interlocutor começa a bocejar, podemos ter a sensação de que nosso papo está desagradável ou cansativo e tendemos, naturalmente, a mudar o rumo da conversa. Ou ainda, quando uma pessoa faz uma brinca- deira irônica, percebemos que por trás da sua fala existe um deboche, a pessoa não falou, mas passou a mensagem através do seu jeito de falar, da entonação da voz e da expressão facial. Já o autista tem dificuldades de perceber estados mentais, o que faz com que avaliem, de forma equivocada, uma série de situações sociais, ou ainda, simplesmente não conseguem entendê-las. As pessoas com autismo levam mais tempo para aprender o significado de certas atitudes e demoram para interagir, já que não compreendem as sensações e emoções dos outros. Por exemplo, podem falar por horas e horas sobre o mesmo tema, sem perceber que o interlocutor está entediado. A dificuldade do autista em mentir ou enganar também está relacionada à teoria da mente, ele não consegue imaginar que a outra pessoa esteja pensando de forma diferente dele (SILVA; GAIATO; REVELES, 2012). Assim sendo, enquanto pessoas neurotípicas (é um neologismo amplamente utilizado na comunidade autística como um rótulo para pessoas que não estão no espectro do autismo) têm uma capacidade inerente à sua espécie de entender estados psíquicos e perceber intencionalidades da outra pessoa (Figura 5), o indivíduo TEA não possui essa capacidade (BACARIN, 2020). Figura 5 - Compreensão de estados psíquicos e intencionalidades Fonte: Bacarin (2020, p. 72). 45UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea Caro(a) estudante, um dos erros recorrentes no processo de análise de uma pos- sível criança com TEA acontece na fase de investigação, quando, ao serem levantadas as possíveis incidências, o grupo de profissionais ou o diagnóstico clínico foca sua busca em encontrar associações. Para isso, a importância de uma avaliação multidisciplinar, como: pedagogo, psicopedagogo, profissional da área da educação especial, fonoaudiólogo, entre outros, reúnem informações para o médico, no qual tenha elementos para fazer o diagnóstico. Em resumo, o diagnóstico depende da avaliação multidisciplinar e da família, com relatórios detalhados da instituição escolar, fotos e vídeos da família, bem como a importân- cia do DSM é que o manual ajuda a padronizar o que se deve comparar. SAIBA MAIS Você, caro(a) acadêmico(a), sabia que o Manual da Classificação Internacional da Or- ganização Mundial de Saúde (OMS), é um importante manual, pois está no fato de apre- sentar a classificação das tipificações das síndromes e como compreendê-las? Fonte: a autora (2020). REFLITA “A vida é como um quebra-cabeças. Deveríamos parar de tentar encaixar as pessoas onde elas não cabem.” Fonte: Google. 46UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) acadêmico(a), Finalizamos a Unidade II da disciplina de Atendimento Educacional de Aluno com Transtornos Globais do Desenvolvimento. No primeiro momento: contextualizamos os fundamentos conceituais, teóricos e a perspectiva histórica do autismo no século XX, no entanto, independentemente da posição teórica utilizada para compreender o autismo, sabe-se hoje que ele não constitui um quadro único, mas um quadro complexo que precisa ser olhado a partir de cada sujeito, levando-se em conta suas possibilidades e dificuldades. No segundo momento: estudamos o conceito geral e disfunções do transtorno do espectro autista (TEA), no qual constatamos que antes do conceito de autismo, existiu e ainda existe em alguns documentos legais o termo Transtornos Globais do Desenvolvi- mento (TGD), em relação às disfunções criança tem dificuldade na comunicação social e mantém um interesse restrito e estereotipado, isto descrito nos documentos legais, como CID e DSM. No terceiro momento: conhecemos as causas do transtorno do espectro autista (TEA), em que compreendemos que a causa do autismo permanece desconhecida, entre- tanto, existe um conjunto de elementos a se considerar, sendo elas: evidências científicas; pesquisas nas mais diversas áreas; evidências em neuroimagens e neurocomportamento; avaliações neuropsicológicas. Para aprofundar seus conhecimentos, não deixe de consultar as referências. 47UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E Disfunção Do Tea LEITURA COMPLEMENTAR Leitura complementar apresenta-se como um guia para se desenvolver processos investigativos de caráter institucional na verificação de uma possível criança que tenha TEA. FORTIN, Marie Fabienne. O processo de investigação: da con- cepção à realização. Loures: Lusociência, 1999. Sinopse: A obra Processo de investigação: da concepção à realização, cuja autora principal é Marie-Fabienne Fortin, Pro- fessora Jubilada da Faculdade de Ciências de Enfermagem da Universidade de Montreal, titular da área da investigação científica naquela faculdade, é sem dúvida uma obra de cariz didáctico, útil para professores, estudantes e todos os que se interessem pelo processo científico. Ao longo dos 23 capítulos do manual são desenvolvidas as bases teóricas inerentes ao processo de investigação. As principais orien- tações metodológicas, específicas dos vários tipos de estudos, tanto quantitativos como qualitativos, são ilustradas com exemplos de estudos realizados por outros autores, permitindo, com base nelas, conduzir um trabalho de investigação desde a sua con- cepção até à publicação dos resultados. Os leitores encontrarão ainda ajuda para fazer uma auto-avaliação crítica dos estudos que venham a realizar. A organização dos conteúdos em torno de objectivos pedagógicos específicos por capítulo; a própria estrutura dos capítulos em que, após uma breve introdução, os conteúdos se desenvolvem por seções e temas, dos mais genéricos aos mais específicos, termi- nando com o resumo dos aspectos tratados; as ideias expostas ilustradas com exemplos de estudos de investigação e figuras esquemáticas, sintetizadas em quadros e creditadas com a cita- ção de autores peritos no assunto, cujas referências bibliográficas fecham o capítulo, são algumas das características que não só facilitam a compreensão dos conteúdos como a consulta da obra. Recomendado a estudantes e a todos quantos se iniciam na reali- zação de investigação! 48UNIDADE II Transtorno do Espectro Autista: Conceitos Iniciais E DisfunçãoDo Tea LIVRO Título: Autismo infantil - novas tendëncias e perspectivas Autor: Francisco Baptista Assumpcao Junior; Evelyn Kczynski Editora: Atheneu Ano: 2015 Sinopse: Autismo Infantil - Novas Tendências e Perspectivas, ora em sua segunda edição, tem sua origem acadêmica no Labora- tório de Distúrbios do Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Seu objetivo é a realização de pesquisas diagnósticas e terapêuticas dos Transtornos de Habili- dades Escolares, Transtornos de Linguagem e Fala, Transtornos Específicos do Desenvolvimento e outros. Para a realização desse projeto, criou-se equipe multidisciplinar, formada por médicos (Neurologistas e Psiquiatras), Psicólogos, Fonoaudiólogos e Terapeutas Ocupacionais. Um dos seus frutos, já na segunda edição, é o presente trabalho, que chega ao público atualizado, revisto e ampliado. Mantém sem- pre o seu caráter eminentemente prático e didático. O livro tem único tema, “Autismo Infantil”, que é abordado de modo amplo, profundo e rico em detalhes e casuísticas. Assim, sua equipe autoral é formada por 2 Coordenadores Editoriais, 17 Colaboradores, 3 partes, 2 capítulos, num total de 325 páginas. Como se vê, agora, encorpado, integra a Série de Psiquiatria: Da Infância à Adolescência. Embora seja uma segunda edição, é o primeiro volume da série. Autismo Infantil - Novas Tendências e Perspectivas se constituirá, sem sombra de dúvida, livro obrigatório para Psiquiatras e Psicó- logos e, em caso de especial interesse, Pediatras e Pedagogos, vivamente interessados em atualizar-se dos mais modernos e atuais conhecimentos sobre o autismo infantil. FILME/VÍDEO Título: Temple Grandin Ano: 2010 Sinopse: Jovem autista luta para ter uma vida normal. Incentivada pelo professor, ela chega à universidade e usa sua sensibilidade e habilidade com os animais para criar uma técnica que revoluciona a indústria agropecuária dos Estados Unidos. WEB Diário de um autista Link do site. https://www.youtube.com/channel/UCbhT_vtlwr7X2wG6q_0mW- VQ/featured 49 Plano de Estudo: ● Método TEACCH ● Pecs – Sistema de Comunicação por Troca de Figuras ● ABA – Análise Aplicada do Comportamento ● Outras técnicas de apoio educacional Objetivos da Aprendizagem ● Conhecer o Método TEACCH - Tratamento e Educação de Criança Autistas e com Desvantagens na Comunicação. ● Aprender sobre o PECs – Sistema de Comunicação por Troca de Figuras. ● Entender sobre a ABA – Análise Aplicada do Comportamento. ● Consultar outras técnicas de apoio educacional. UNIDADE III Métodos Educacionais De Intervenção E Apoio A Inclusão Do Aluno Com Tgd-Tea Professora Mestre Fabiane Fantacholi Guimarães 50UNIDADE III Métodos Educacionais De Intervenção E Apoio A Inclusão Do Aluno Com Tgd-Tea INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a), Seja bem-vindo(a) à Unidade III, intitulada “Métodos Educacionais de Intervenção e apoio a inclusão do aluno com TGD-TEA”, da disciplina de Atendimento Educacional de Aluno com Transtornos Globais do Desenvolvimento do curso de Graduação em Educação Especial. No primeiro momento: conhecer o Método Tratamento e Educação de Criança Au- tistas e com Desvantagens na Comunicação (TEACCH), no qual este método de tratamento e educação é um dos mais importantes métodos de tratamento educacional para crianças com autismo e distúrbios correlatos de comunicação. No segundo momento: aprender sobre o PECs (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras), no qual trata-se de um procedimento para o processo de ensino e aprendiza- gem de pessoas com distúrbios de comunicação, muito utilizado também com pessoas com TEA, que estimula a funcionalidade da comunicação por intermédio da troca de figuras. No terceiro momento: entender sobre a Análise Aplicada do Comportamento (ABA), em que seu método se refere à intervenção e ao ensino de aptidões necessárias para viver em uma sociedade, bem como é responsável por aplicar princípios comportamentais a situações sociais realmente relevantes. No quarto momento: consultar outras técnicas de apoio educacional, algumas das possibilidades de apoio educacional que são usualmente utilizadas para o processo de aprendizagem da criança com TEA, apenas para dar uma ideia a pais e profissionais. Espero que estes textos colaborem para a sua melhor compreensão sobre o tema de nossa primeira unidade. Boa leitura! 51UNIDADE III Métodos Educacionais De Intervenção E Apoio A Inclusão Do Aluno Com Tgd-Tea 1. MÉTODO TEACCH Um dos mais importantes métodos de tratamento educacional para a pessoa com TEA é conhecido como método TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children – traduzido: Tratamento e Educação de Criança Au- tistas e com Desvantagens na Comunicação). Ele constitui-se em um método de tratamento e educação para crianças com autismo e distúrbios correlatos de comunicação. Segundo as autoras Marques e Mello (2005), o objetivo máximo do TEACCH é apoiar o autismo em seu desenvolvimento para ajudá-lo a conseguir chegar à idade adulta com o máximo de autonomia possível. Isto inclui ajudá-lo a compreender o mundo que o cerca através da aquisição de habilidades de comunicação que lhe permitam relacionar-se com outras pessoas, oferecendo-lhes, até onde for possível, condições de escolher de acordo com suas próprias necessidades (MARQUES; MELLO, 2005, p.145). Sendo que a meta fundamental é o desenvolvimento da comunicação e da in- dependência e o meio principal para isto é a educação. Assim, a avaliação é a ferramenta para a seleção de estratégias, que deverão ser estabelecidas individualmente. Os primeiros estudos que originaram o método remontam à década de 1960 atra- vés do estudioso psicólogo americano, Eric Schopler, sendo uma abordagem psicanalítica, no qual surgiu no desenvolvimento de um projeto de investigação no Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Carolina do Norte nos Estados Unidos. Um grupo de profissionais da área da saúde mental atendia às crianças com TEA em uma visão 52UNIDADE III Métodos Educacionais De Intervenção E Apoio A Inclusão Do Aluno Com Tgd-Tea psicanalítica e oferecia terapia para elas e seus pais. Nesse período, acreditava-se que havia uma forte influência dos pais, que, em parte, eram considerados responsáveis pelo quadro de autismo dos seus filhos (DEFENDI, 2016). Com o avanço das pesquisas científicas, essa ideia foi abandonada, e novos ele- mentos foram considerados para o tratamento das pessoas com TEA, o que ampliou a visão e colaborou para mudanças no método TEACCH para enfatizar a importância do processo educacional a essas pessoas (DEFENDI, 2016). O TEACCH, ao contrário de métodos comportamentais, não ataca os problemas de comportamento diretamente, mas tenta analisar e eliminar as suas causas. Isso não quer dizer que técnicas de modificação de conduta sejam completamente eliminadas do método, mas que elas são utilizadas em situações de risco, nos casos em que as medidas tomadas, de acordo com o critério anteriormente descrito, não tenham sido eficazes (MARQUES; MELLO, 2005). Em suma, o método TEACCH tem como foco promover competências adaptativas que são necessárias para desenvolver uma vida mais independente, buscando modificar o ambiente para que se adapte às necessidades das crianças com TEA. O TEACCH é um modelo de intervenção chamado generalista e transdisciplinar, que respeita às características do indivíduo, adaptando-se a elas. Assim, todos aqueles que participam do processo educativo são envolvidos, diminuindo as dificuldades a um nível da linguagem receptiva, aumentando as possibilidades de comunicação e permitindo a diversidade de contextos. Tem por objetivo facilitar a aprendizagem, partindo do arranjo ambiental. Um ensino estruturado, que tem como alternativa promover a adaptação de cada indivíduo, dando e recebendo o apoio não só dos terapeutas como também dos pais, que se tornam co-terapeutas
Compartilhar