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TrabalhodocenteAssistentes-Souza-2021

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
Departamento de Serviço Social – DESSO 
Programa de Pós-Graduação em Serviço Social - PPGSS 
 
 
 
TATIANA DE LIMA SOUZA 
 
 
 
 
O TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS NO ENSINO 
SUPERIOR DO RN E O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal/RN 
2021 
TATIANA DE LIMA SOUZA 
 
 
 
O TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS NO ENSINO 
SUPERIOR DO RN E O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, como 
requisito para obtenção do título de mestre em 
Serviço Social. 
 
Área de concentração: Sociabilidade, Serviço 
Social e Política Social 
 
Linha de pesquisa: Serviço Social, Trabalho e 
Questão Social 
 
Orientador: Profº. Dr.º Roberto Marinho Alves 
da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Natal/RN 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
Sistema de Bibliotecas - SISBI 
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA 
Souza, Tatiana de Lima. 
 O trabalho docente de Assistentes Sociais no ensino superior 
do RN e o Projeto Ético-Político do Serviço Social / Tatiana de 
Lima Souza. - 2021. 
 174f.: il. 
 
 Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais 
Aplicadas, Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. Natal, 
RN, 2021. 
 Orientador: Prof. Dr. Roberto Marinho Alves da Silva. 
 
 
 1. Docência em Serviço Social - Dissertação. 2. Formação 
Profissional - Dissertação. 3. Condições de trabalho - 
Dissertação. 4. Estratégias de ensino - Dissertação. 5. Projeto 
Ético-Político - Dissertação. I. Silva, Roberto Marinho Alves da. 
II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. 
 
RN/UF/Biblioteca CCSA CDU 364:378 
 
 
 
 
Elaborado por Eliane Leal Duarte - CRB-15/355 
 
 
TATIANA DE LIMA SOUZA 
 
 
O TRABALHO DOCENTE DE ASSISTENTES SOCIAIS NO ENSINO 
SUPERIOR DO RN E O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL 
 
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social, da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, como requisito 
para obtenção do título de mestre em Serviço Social. 
 
Área de concentração: Sociabilidade, Serviço Social 
e Política Social 
Linha de pesquisa: Serviço Social, Trabalho e 
Questão Social 
 
Orientador: Profº. Dr.º Roberto Marinho Alves da 
Silva 
 
 Aprovado em 
BANCA EXAMINADORA 
 
____________________________________________________ 
Profº. Drº. Roberto Marinho Alves da Silva 
Orientador 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
____________________________________________________ 
Profª. Drª. Eliana Andrade da Silva 
Examinadora interna 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
___________________________________________________ 
Profª. Drª. Erlenia Sobral do Vale 
Examinadora externa 
Universidade Estadual do Ceará 
 
_____________________________________________________ 
Profª. Drª. Ilena Felipe Barros 
Suplente 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
Natal/RN 
2021 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos Assistentes Sociais docentes de Instituições de 
Ensino Superior públicas e privadas do RN que 
lutam e defendem o Projeto Ético Político do 
Serviço Social. 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
A Deus por sempre acompanhar os meus passos, decisões e pela saúde e força 
concedidas para que pudesse vivenciar da melhor forma essa experiência do mestrado, 
principalmente, nesse contexto difícil posto pela pandemia da COVID-19, no qual 
diariamente acompanhávamos o aumento de casos e mortes de brasileiros, assim como 
o sofrimento de muitas famílias. Essas questões complexificaram o processo de reflexão 
e escrita, dadas as limitações desse período, a exemplo da necessidade do 
distanciamento social, o qual demonstrou, ainda mais, a relevância do apoio de 
professores, amigos e familiares. 
Entendo que cursar uma pós-graduação não é somente um processo individual, 
mas conta com um coletivo de indivíduos que direta ou indiretamente participam desse 
momento. Por isso, gostaria de deixar aqui alguns agradecimentos: 
À minha mãe e ao meu pai, Neuza e Miguel, pelo auxílio, incentivo e presença 
constante para reduzir as dificuldades decorrentes dessa difícil caminhada, os quais 
também se esforçaram para que pudesse me dedicar ao mestrado. 
Aos meus irmãos Taciana, Thiago e Tacio, pessoas importantes, que também 
colaboraram de diferentes maneiras nesse momento de minha vida. 
À minha querida amiga Necy, pelas conversas animadoras que confortavam e 
davam ânimo para escrever e ainda pela companhia em todos os momentos, mas 
principalmente, quando em um dia chuvoso aventurou-se comigo pelas ruas de Natal 
para entregarmos ofícios nas IES privadas. Um dia desafiante e inesquecível! 
Às/os queridas/os amigas/os de mestrado da turma 2019.1, vivenciamos muitos 
momentos de aprendizagem, participamos de atos políticos, de lanches e almoços 
coletivos, nos quais compartilhávamos os desafios inerentes à pós-graduação e 
auxiliávamos uns aos outros naquilo que era possível. 
Aos meus amigos Assistentes Sociais de Ceará-Mirim, Jailza Teixeira e Carlos 
Henrique, pelos alegres momentos que já vivenciamos juntos na universidade. 
À Profa. Eliana Andrade, que desde o primeiro período da graduação em Serviço 
Social na UFRN, admiro o seu trabalho e me identifico com ela por ser mulher e negra 
em um espaço que mesmo democrático, ainda rondam preconceitos. No período de 
2015-2016 tive a feliz oportunidade de ser monitora nas disciplinas que Eliana 
lecionava, tendo sido esse um momento de muita aprendizagem e amadurecimento. 
À professora Márcia de Sá Rocha, pelo apoio que sempre encontrei tanto na 
graduação quanto na pós-graduação, ao procurá-la na sua acolhedora sala e que 
carinhosamente dizia ser minha também. Foram muitas conversas e desabafos durante 
esses momentos na UFRN. 
Ao falar sobre a importância de Márcia para a minha trajetória acadêmica, não 
posso deixar de agradecer também ao Prof. Fernando Teixeira e a Profa. Mônica 
Calixto, a qual me incentivou a acreditar que poderia cursar o mestrado em Serviço 
Social. 
Ao Prof. Roberto Marinho, querido orientador, que me acompanhou e orientou 
muito bem desde o início do mestrado, sempre atencioso e compreensivo com as 
minhas limitações e dificuldades. Aprendi muito com as suas orientações e com os seus 
questionamentos que me incentivaram a ampliar as reflexões sobre a profissão. A sua 
presença foi fundamental para a construção desse trabalho. 
Ao GEP/QSPSSS pelos momentos de encontros e reflexões coletivas que 
auxiliaram no amadurecimento da pesquisa e no acúmulo de conhecimentos referentes à 
profissão. 
Aos docentes de IES públicas e privadas do RN, que mesmo com tantas 
atividades para realizarem, aceitaram contribuir com a nossa pesquisa. 
A todas as queridas pessoas, familiares, amigos e professores que não estão 
nesses agradecimentos, muito obrigada por tudo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
[...] Descobrir por si mesmo uma verdade, sem 
sugestões e ajudas exteriores, é criação, 
mesmo que a verdade seja velha, e demonstra 
a posse do método; indica que, de qualquer 
modo, entrou-se na fase da maturidade 
intelectual, na qual se podem descobrir 
verdades novas [...]. 
 
(Antonio Gramsci, 2002, p.40)RESUMO 
A presente dissertação analisou o trabalho docente de Assistentes Sociais em Cursos de 
Serviço Social de Instituições de Ensino Superior públicas e privadas no Rio Grande do 
Norte, considerando suas estratégias para garantir a formação profissional em 
consonância com a direção do Projeto Ético-Político da Profissão. A docência em 
Serviço Social tem sido uma área perpassada por desafios e limites, os quais se 
diferenciam ao considerarmos as suas respectivas configurações, o vínculo empregatício 
dos docentes e as demandas pedagógicas que emergem nesses espaços de atuação. Pois, 
nas instituições públicas prevalecem as Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira 
de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), enquanto que, no contexto de 
algumas instituições privadas são priorizadas as Diretrizes formuladas pelo Ministério 
da Educação (MEC), as quais possuem um direcionamento que precariza a formação 
profissional e o trabalho docente. Dessa forma, o nosso objeto de pesquisa foi a relação 
entre as particularidades do trabalho docente na formação profissional para o Serviço 
Social, enquanto atribuição privativa de Assistentes Sociais, e as estratégias de ensino 
que são utilizadas para assegurar a direção do Projeto Ético-Político da Profissão. A 
abordagem teórico-metodológica de pesquisa qualitativa foi o materialismo histórico-
dialético que possibilita analisar o movimento da realidade e suas contradições numa 
perspectiva de totalidade. Quanto às técnicas de pesquisa foram realizados levantamento 
bibliográfico no repositório da CAPES, entrevistas semiestruturadas e a aplicação de 
questionários com oito docentes de instituições de educação superior públicas e 
privadas do RN. Os resultados da pesquisa evidenciaram que em relação aos 
fundamentos da docência em Serviço Social e aos fundamentos pedagógicos, os 
docentes apontaram a necessidade de discussões durante a graduação e a pós-graduação 
e a existência de disciplinas e outras inciativas que contemplem esse debate. No tocante 
às condições de trabalho em IES públicas e privadas, elas são perpassadas pela 
sobrecarga de trabalho e a precarização das condições e relações trabalhistas, sendo esta 
última situação vivenciada, sobretudo, na esfera privada. Identificamos que um 
elemento comum aos dois espaços de atuação se refere à desvalorização da docência na 
educação superior. Em virtude disso, o atendimento das demandas pedagógicas, que se 
relacionam aos discentes, à instituição e a profissão sofrem as implicações dessas 
condições de trabalho, acarretando dificuldades para a formulação de respostas 
qualificadas e em consonância com o Projeto Profissional. Nesse sentido, as estratégias 
político-pedagógicas utilizadas pelos docentes de instituições públicas e privadas 
dialogam, porém os profissionais da esfera privada tendem a enfrentar maiores 
dificuldades para a efetivação dessas estratégias, as quais são expressão de criatividade, 
compromisso e resistência diante da perspectiva de educação capitalista. Portanto, 
reafirmamos a relevância do debate sobre a docência em Serviço Social, tendo em vista 
o cenário atual de mercantilização e precarização da educação superior e a necessidade 
de defender o Projeto Ético-Político da profissão no âmbito da formação e do trabalho 
profissional. Concluímos, então que as estratégias político-pedagógicas constituem-se 
como uma das formas de assegurar a direção social da profissão e de lutar pela 
continuidade da educação superior com qualidade e alinhada às Diretrizes Curriculares 
da ABEPSS. 
 
Palavras-chave: Docência em Serviço Social. Formação profissional. Condições de 
trabalho. Estratégias de ensino. Projeto Ético-Político. 
 
 
ABSTRACT 
The present master’s thesis analyzed the Social Workers’ teaching work at Social Work 
graduation courses at public and private Higher Education Institutions in Rio Grande do 
Norte, considering its strategies to mantain the professional formation in line with the 
direction of the Profession’s Ethical-Political-Project. The Social Work teaching has 
been an area permeated by challenges and limits, which differenciate themselves when 
we consider their respective configurations, the professors’ employment relationship 
and the pedagogical demands that emerge at these acting places. At the Public 
Institutions prevails the Curricular Guidelines of Associação Brasileira de Ensino e 
Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS), while in the context of some private institutions 
the Guidelines formulated by the Education Ministry, which have a direction that 
undermine the professional formation and the teaching work. Hence, our research object 
was the relation between the particularities of the teaching work in the professional 
formation for the Social Work, while private attributions of Social Workers, and the 
education strategies that are used to ensure the direction of the Profession’s Ethical-
Political Project. The theorical-methodological approach of qualitative research was the 
dialectical-historical materialism which makes possible to analyze the moviments of 
reality and its contradictions in a perspective of totality. As to the research techniques it 
was performed bibliographical survey at the CAPES’s repository, semi-structured 
interviews and questionnaire application with eight professors from public and private 
higher education institutions of RN. The research results highlighted that in relation to 
the fundaments of the Social Work teaching and to the pedagogical fundaments, the 
professors pointed out the need of discussion during the graduation and the pos-
graduation and the existence of courses and other initiatives tha contemplate that debate. 
Regarding the work conditions at the public and private HEI, they are permeated by the 
work overload and the precariousness of conditions and working relationship, being the 
latter situation experienced, especially, at the private sphere. We identified that an 
element common to the two acting spaces reffers to the devaluation of teaching work at 
higher education. Because of that, the attendance of pedagogical demands, which relate 
to the students, to the institution and the profession suffers from the implications of 
those work conditions, resulting in difficulties to the formulation of qualified answers 
andin accordance with the Professional Project. In that regard, the pedagogical-political 
strategies used by the professors of public and private higher educations institutions 
dialogue, however the private sphere tend to endure more difficulties to the effectuation 
of those strategies, which are the expression of criativity, commitment and resistance 
against the capitalist education’s perspective. Therefore, we reaffirm the relevance of 
the debate about the teaching in Social Work, in view of the current scenario of 
mercantilization and precariousness of higher education and the need to defend the 
Profession’s Ethical-Political Project in scope of the formation and the professional 
work. We conclude that the pedagogical-political strategies constitute as one of the 
ways to ensure the prfession’s social direction and the fighting for the continuity of 
higher education with quality and lined up to ABEPSS’s Curricular Guidelines. 
 
Keywords: Teaching in Social Work. Professional formation. Work conditions. 
Education strategies. Ethical-Political Project. 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
ABESS – Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social 
ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social 
CBAS – Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais 
CAPES – Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior 
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
CBCISS – Centro Brasileiro de Cooperação e Intercâmbio de Serviços Sociais 
CELATS – Centro Latino-Americano de Trabalho Social 
CFESS – ConselhoFederal de Serviço Social 
CRESS – Conselho Regional de Serviço Social 
DESSO – Departamento de Serviço Social 
EC – Emenda Constitucional 
ENESSO – Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social 
ENPESS – Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social 
EAD – Ensino a Distância 
ERE – Ensino Remoto Emergencial 
ESS – Escola de Serviço Social 
FASSO – Faculdade de Serviço Social 
GEP/QSPSSS – Grupo de Estudos e Pesquisa em Questão Social, Política Social e 
Serviço Social 
IES – Instituição de Ensino Superior 
IFES – Instituição Federal de Ensino Superior 
LDB – Lei de Diretrizes e Bases 
MEC – Ministério da Educação 
MEB – Movimento de Educação de Base 
PEP – Projeto Ético-Político 
PPP – Projeto Político Pedagógico 
PUC – Pontifícia Universidade Católica 
PPGSS – Programa de Pós-Graduação em Serviço Social 
REUNI – Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais 
SID – Seminário de Iniciação à Docência 
UERN – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte 
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 13 
2 O ESTADO E A EDUCAÇÃO SUPERIOR EM TEMPOS DE CRISE: REFLEXOS 
NA DOCÊNCIA E NO SERVIÇO SOCIAL ................................................................. 29 
2.1 O Estado no contexto da crise estrutural do capital .............................................. 29 
2.2 A educação superior no Brasil: a perspectiva do direito e o avanço da 
mercantilização ........................................................................................................... 36 
2.3 A docência no ensino superior na formação profissional do Serviço Social como 
atribuição privativa de Assistentes Sociais e o debate do corporativismo.................. 45 
3 OS FUNDAMENTOS DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E DA DOCÊNCIA NO 
SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL .................................................................................. 54 
3.1 Gênese e trajetórias históricas da docência no Serviço Social ............................. 55 
3.2 Bases das Diretrizes Curriculares da ABEPSS: enfrentamento do 
conservadorismo e a luta por ruptura .......................................................................... 66 
3.3 Configurações contemporâneas da formação de docentes de Serviço Social....... 75 
3.4 Os fundamentos para a atuação na docência em Serviço Social .......................... 87 
4 O TRABALHO DE ASSISTENTES SOCIAIS DOCENTES NO ENSINO 
SUPERIOR: ESTRATÉGIAS POLÍTICO-PEDAGÓGICAS ....................................... 96 
4.1 Condições de trabalho de Assistentes Sociais docentes em IES públicas e privadas
 .................................................................................................................................... 96 
4.2 As demandas pedagógicas: desafios ao trabalho de Assistentes Sociais docentes
 .................................................................................................................................. 117 
4.3 O Projeto Ético-Político do Serviço Social e a docência .................................... 127 
4.4 Estratégias político-pedagógicas na formação profissional do Serviço Social ... 138 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 155 
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 161 
APÊNDICE .................................................................................................................. 168 
ANEXO A .................................................................................................................... 171 
ANEXO B .................................................................................................................... 175 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
1 INTRODUÇÃO 
A atual crise do capital, estrutural conforme Mészáros (2009), configura-se 
como um movimento necessário à dinâmica de reprodução das relações sociais na 
sociedade capitalista. Entre outros elementos resultantes desse processo de crise, 
verifica-se a precarização1 das condições de trabalho e a intensificação da 
mercantilização da educação superior, considerando que tais elementos configuram-se 
como meios fundamentais para assegurar a reprodução da sociabilidade do capital. 
Dessa forma, as determinações econômicas e culturais dessa crise incidem 
diretamente no mundo do trabalho (ANTUNES, 2015), ocorrendo uma ofensiva 
econômica, política e ideológica do capital frente aos direitos e conquistas dos 
trabalhadores. Nesse contexto, são postos também desafios ao Assistente Social 
enquanto um trabalhador assalariado inserido na divisão sociotécnica do trabalho e que 
atua em diferentes espaços ocupacionais (IAMAMOTO, 2015a), seja na saúde, na 
assistência social ou na educação. 
Essa última área constitui-se como uma das que mais vivencia os impactos da 
expansão do capital, por meio da ampliação da rede privada, inclusive com os lucrativos 
cursos na modalidade de ensino a distância, transformando o conhecimento e a 
certificação do mesmo em uma mercadoria, não sendo a educação materializada 
fundamentalmente como um direito social conquistado pela classe trabalhadora 
(PINTO, 2013). Identificamos, então, o distanciamento da perspectiva de educação 
defendida pela categoria de Assistentes Sociais, enquanto meio de formação de cidadãos 
e de construção de conhecimentos que possibilitam o desenvolvimento das capacidades 
humanas (CFESS, 2010). 
Para analisar esta realidade e suas contradições, adotamos a perspectiva 
gramsciana de educação, como direito, orientada para uma formação integral ou unitária 
da classe trabalhadora, a partir das reflexões sobre a forma como se constituía a 
organização das escolas e das universidades na sociedade, com destaque para a 
realidade italiana, Gramsci defendia uma concepção de educação que articulasse 
aspectos técnicos do trabalho profissional (fazer), com o desenvolvimento e 
 
1 “[...] a precarização não é algo estático, mas um modo de ser intrínseco ao capitalismo, um processo que 
pode tanto se ampliar como se reduzir, dependendo diretamente da capacidade de resistência, 
organização e confrontação da classe trabalhadora. Trata-se de uma tendência que nasce, conforme 
Marx demonstrou em O Capital, com a própria criação do trabalho assalariado no capitalismo [...]” 
(ANTUNES, 2020, p.61-62, grifos do autor). 
14 
 
aprimoramento da intelectualidade dos estudantes (pensar sobre o fazer), ou seja, o “[...] 
tipo de escola que poderíamos chamar de ‘humanista’ [...], destinado a desenvolver em 
cada indivíduo humano a cultura geral indiferenciada, o poder fundamental de pensar e 
de saber orientar-se na vida [...]” (GRAMSCI, 2001, p.32). 
Norteados por essa concepção crítica de educação e considerando a realidade 
brasileira, temos que na sociedade contemporânea a educação pública em suas diversas 
modalidades, ensino infantil, fundamental I e II, médio e superior, entre outras, possui 
especificidades e relevância social para a vida daqueles indivíduos que têm a 
possibilidade de acessarem esse direito social. Contanto, a história do Brasil demonstra 
que, mesmo constituindo-se como uma área de expressiva importância, ainda há a 
necessidade de mais investimentos e valorização da educação pública, bem como de 
seus respectivos profissionais, para que assim seja possível viabilizar melhorias 
qualitativas do ensino ofertado aos brasileiros. 
Neste trabalho optamos por refletir sobre a docência na educação superior, mais 
especificamente, o trabalho docente por Assistentes Sociais em Instituições de Ensino 
Superior (IES) públicas e privadas no estado do Rio Grande do Norte – RN. A escolha 
dessa temáticade estudo decorre da aproximação vivenciada pela mestranda com o 
fazer profissional do Assistente Social docente no curso de Serviço Social da 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o qual ocorreu por intermédio 
da participação em projeto de monitoria desenvolvido no período de 2015.1 a 2016.2, 
intitulado “O apoio da monitoria no desenvolvimento das competências necessárias à 
formação do Assistente Social”2. 
Essa experiência proporcionou uma aproximação com a realidade da docência 
no ensino superior e do modo como ela se configura na profissão de Serviço Social. A 
vivência com o cotidiano do trabalho docente e com a participação e protagonismo nas 
aulas de Oficina de Iniciação à Vida Acadêmica e Fundamentos Históricos Teórico-
Metodológicos do Serviço Social III, entre outras atividades relacionadas com a 
docência, foram alguns dos fatores que contribuíram para o interesse nessa temática. 
O projeto de monitoria também possibilitou a participação no Seminário de 
Iniciação à Docência (SID) e em outros eventos que fomentaram a necessidade de 
entender melhor o que é a docência no Serviço Social, quais são os desafios que 
 
2 Projeto de monitoria coordenado pela Profª. Drª. Eliana Andrade da Silva, vinculada ao Departamento 
de Serviço Social (DESSO) da UFRN. Os projetos de monitoria destinam-se ao apoio pedagógico e visam 
contribuir na formação de futuros docentes em Serviço Social, subsidiando na formação profissional do 
estudante-monitor e dos alunos que tem a oportunidade de conhecê-la. 
15 
 
perpassam esse campo de atuação, os limites postos ao cotidiano de trabalho do 
Assistente Social docente e as possibilidades vislumbradas para fazer enfrentamento às 
condições adversas vivenciadas nas IES, sejam elas públicas ou privadas para a 
efetivação de um trabalho norteado pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social (PEP). 
Ou seja, pelo Código de Ética de 1993, pela Lei de Regulamentação da Profissão 
(8.662/1993) e pelas Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira de Ensino e 
Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) de 1996. 
No desenvolvimento do projeto de monitoria outras inquietações foram 
emergindo, tais como: Quais modificações ocorreram na prática docente realizada por 
Assistentes Sociais desde o surgimento da profissão de Serviço Social até os dias 
atuais? Quantos Assistentes Sociais docentes existem em Natal? Que fatores motivam 
os profissionais do Serviço Social para o trabalho docente em um contexto tão 
complexo que perpassa as IES? 
A inserção no mestrado acadêmico da UFRN, a partir do período de 2019.1, 
também possibilitou o amadurecimento de algumas análises tecidas na graduação a 
respeito da docência em Serviço Social e consequentemente o aprofundamento da 
proposta inicial do projeto de pesquisa. Acrescentamos ainda que a vivência do Estágio 
Docência no mestrado viabilizou, mais uma vez, o contato direto com o trabalho 
docente e com as demandas dos discentes no processo de ensino-aprendizagem. 
Da mesma forma, a participação em discussões realizadas no Grupo de Estudos 
e Pesquisa em Questão Social, Política Social e Serviço Social (GEP-QSPSSS) 
vinculado ao DESSO da UFRN, constituiu-se em outro fator importante para motivar a 
aproximação com a docência nas atividades de pesquisa e de disseminação de 
conhecimentos. Verificamos, no entanto, que essa temática do trabalho de Assistentes 
Sociais docentes tem sido pouco estudada na área do Serviço Social. 
Importa apontar que em um levantamento no portal do Programa de Pós-
Graduação em Serviço Social (PPGSS)3 da UFRN em busca de trabalhos sobre a 
docência em Serviço Social identificamos apenas uma dissertação de mestrado 
(SOUSA, 2015) e um projeto de pesquisa de doutorado que estava em andamento. 
Realizamos também pesquisas no site de algumas das principais revistas da área do 
Serviço Social, a saber: Serviço Social e Sociedade, Katálysis e Temporalis. A partir 
 
3 Esse levantamento foi realizado no ano de 2019. 
16 
 
disso encontramos o total de 8 artigos relacionados com a docência, compreendidos 
entre o ano de 2010 a 2019. 
Quais elementos justificariam esse fato? Ao longo da graduação são ínfimas as 
discussões sobre o trabalho de Assistentes Sociais docentes, prevalecendo as questões 
relativas ao trabalho profissional nas políticas sociais, sobretudo da assistência social e 
da saúde. Porém, por ser o Serviço Social uma profissão de caráter generalista, a 
docência necessitaria ser abordada de forma mais fecunda no decorrer da formação4. 
Mesmo que o discente não seguisse na carreira docente, seria dada a oportunidade de 
conhecer melhor esse espaço de trabalho que ultrapassa os momentos de sala de aula. 
Desse modo, observa-se que a realidade e as dificuldades do trabalho docente, 
geralmente, são aspectos conhecidos apenas pelos estudantes que passam por projetos 
de monitoria e que durante o curso desenvolvem o interesse pela docência, ou ainda por 
aqueles que conseguem aprovação no mestrado acadêmico e que têm a oportunidade de 
conhecê-la melhor através do Estágio Docência. Constatamos que há prevalência de 
determinadas temáticas que são objetos de estudo dos Assistentes Sociais. Notoriamente 
que essas discussões são importantes, entretanto o amadurecimento da profissão de 
Serviço Social vem suscitando estudos mais aprofundados sobre outros espaços de 
trabalho, que são estratégicos para a formação profissional e também caracterizados por 
suas particularidades, a exemplo da docência nas IES públicas e privadas. 
Com base nos elementos apresentados, torna-se essencial analisar a docência na 
formação profissional do Serviço Social como uma das atribuições privativas do 
Assistente Social e a necessidade de refletir sobre essa atuação na atual conjuntura de 
crise do capital. Justifica-se assim, a pertinência de pesquisar e socializar essa temática, 
para que contribua na formulação de novas análises sobre a importância estratégica e os 
limites do trabalho docente do Assistente Social no meio acadêmico/profissional. 
Salienta-se que o contexto pontuado acima referente à docência em Serviço 
Social possui particularidades para cada âmbito de ensino. Nas IES públicas, apesar dos 
retrocessos vivenciados, a exemplo dos cortes de recursos firmados na Emenda 
Constitucional (EC) 95, de 2016, e do Programa Universidade e Institutos 
Empreendedores e Inovadores (Future-se) tramitando na Câmara Federal (PL n. 3076), 
os docentes efetivos vislumbram de autonomia relativa para desenvolver suas atividades 
 
4 Seria importante a existência de componentes curriculares optativos na estrutura curricular do curso de 
Serviço Social que discutissem, mesmo que de forma introdutória, sobre a educação superior e a docência 
enquanto uma área na qual pode atuar o Assistente Social. 
17 
 
de ensino, pesquisa e extensão com os discentes, de se organizar politicamente no 
movimento da categoria na luta pela defesa da educação superior pública e ainda pela 
preservação dos seus direitos. 
No que se refere às instituições privadas, estudos (PEREIRA, 2010; 
ALBUQUERQUE, 2015) identificam algumas contradições que se relacionam com o 
que é estabelecido pelas IES para o processo de formação dos estudantes de Serviço 
Social e realização do trabalho docente, por exemplo, mudanças nos currículos que não 
estão relacionadas com o projeto de formação profissional construído pela categoria e 
ainda a desvalorização do trabalho docente. Essas situações muitas vezes entram em 
choque com a perspectiva de educação e formação defendidas pela ABEPSS. Nisso 
reside um impasse para os docentes, pois ao mesmo tempo em que precisam cumprir 
essas exigências para continuar com o vínculo trabalhista, também devem buscar 
estratégiaspara garantir a direção do Projeto Ético-Político do Serviço Social. 
No momento atual, no qual estamos vivenciando a pandemia do Novo 
Coronavírus (COVID-19)5, essas diferenças entre as IES públicas e privadas bem como 
o trabalho docente tem se expressado nitidamente a partir do debate sobre o Ensino a 
Distância (EAD) e o estágio supervisionado obrigatório em Serviço Social, pois para as 
IES públicas essa última atividade estava suspensa até o final de 2020. Já as IES 
privadas apontavam a importância de continuidade do estágio em formato remoto, 
mesmo que sem a vivência no espaço sócio ocupacional, o contato com a realidade e o 
acompanhamento do supervisor de campo. Essa defesa estava embasada na perspectiva 
de que os discentes precisavam continuar o curso e assim cumprir com o pagamento de 
mensalidades e a manutenção de contratos, encontrando respaldo ainda na Portaria do 
Ministério da Educação (MEC) de n. 544/2020 que autorizou tal formato de atividades. 
Os docentes das IES privadas nesse contexto enfrentam o desafio de defender a 
qualidade da formação e do trabalho profissional dos Assistentes Sociais, considerando 
a Política Nacional de Estágio da ABEPSS e as demandas acadêmicas dos discentes, os 
 
5 No Brasil foi a partir do mês de março de 2020 que o cenário de pandemia da COVID-19 colocou como 
necessário o distanciamento social, entre outras medidas de controle do vírus. Tal quadro acarretou 
impactos no campo social, econômico, político e cultural. Assim, embasados pela perspectiva marxiana, 
Andrade, Andrade e Prates (2021, p.36-37, grifos dos autores) realizam “[...] alguns apontamentos quanto 
à política socioeconômica adotada no Brasil durante essa pandemia, caracterizada por: a) negacionismo 
da pandemia em nome da economia e da garantia da saúde financeira; b) massificação nos principais 
veículos de comunicação da necessidade de um ‘esforço de todos’ para salvação nacional; c) construção 
da narrativa de que ‘estamos no mesmo barco’ e ‘sairemos mais fortes’; d) socorro financeiro emergencial 
como saída – uma espécie de Band-aid – para classe trabalhadora que é defraudada até o sangue pelo 
arrocho do sistema capitalista; na verdade, uma medida de injeção de capital no sistema financeiro para 
‘combater a crise do coronavírus’”. 
18 
 
quais fazem parte da classe trabalhadora e se veem pressionados a seguir as 
recomendações das IES privadas para assim não acarretar problemas na manutenção de 
suas bolsas e até mesmo na conclusão de sua graduação6. 
O quadro sinteticamente exposto englobando a educação superior, a formação 
profissional e o trabalho de Assistentes Sociais docentes explicita questões que 
dificultam o trabalho desses profissionais. Isso porque, a configuração das IES tanto 
pode colaborar quanto acarretar limitações para que a formação seja coerente com as 
Diretrizes Curriculares da ABEPSS de 1996. Observamos, então, limites postos pela 
conjuntura e a necessidade dos Assistentes Sociais docentes vislumbrarem as 
possibilidades para a efetivação do Projeto Ético-Político durante a formação 
profissional dos discentes de Serviço Social. 
Considerando esses aspectos, o nosso objeto de pesquisa foi a relação entre as 
particularidades do trabalho docente na formação profissional para o Serviço Social, 
enquanto atribuição privativa de Assistentes Sociais, e as estratégias de ensino que são 
utilizadas para assegurar a direção do Projeto Ético-Político da Profissão. 
Buscamos compreender, especificamente, quais estratégias de ensino têm sido 
adotadas para garantia da direção do Projeto Ético-Político do Serviço Social no 
cotidiano do trabalho docente de Assistentes Sociais em cursos de Graduação em 
Serviço Social desenvolvidos em instituições públicas e privadas de ensino superior do 
RN? No tocante às questões norteadoras da pesquisa podem ser assim elencadas: Quais 
os fundamentos da formação profissional de Assistentes Sociais para o trabalho docente 
em Serviço Social? Quais as condições de trabalho e as demandas pedagógicas postas a 
docentes Assistentes Sociais que ensinam em cursos de graduação em Serviço Social 
em Instituições de Ensino Superior pública e privada do RN? Qual a concepção dos 
docentes acerca das estratégias de ensino utilizadas na docência em Serviço Social 
considerando a direção do Projeto Ético-Político? 
O objetivo geral que orientou a pesquisa foi o seguinte: analisar o trabalho 
docente de Assistentes Sociais em Cursos de Serviço Social de Instituições de Ensino 
Superior públicas e privadas no Rio Grande do Norte, considerando suas estratégias 
 
6 Para mais informações a respeito do posicionamento da categoria de Assistentes Sociais sobre a 
realização do Estágio em caráter remoto conferir a nota da ABEPSS referente ao estágio supervisionado 
no período de isolamento social para o combate ao novo Coronavírus (COVID-19) e a Orientação 
Normativa n.03/2020 do CRESS/RN, que dispõe sobre o estágio supervisionado curricular obrigatório e 
não obrigatório no contexto do novo Coronavírus (COVID-19). 
19 
 
para garantir a formação profissional em consonância com a direção do Projeto Ético-
Político da Profissão. 
Com base nas questões norteadoras foram traçados os seguintes objetivos 
específicos: analisar os fundamentos da formação profissional de Assistentes Sociais 
para o trabalho docente em Serviço Social; identificar as condições de trabalho e as 
demandas pedagógicas postas a docentes Assistentes Sociais que ensinam em cursos de 
graduação em Serviço Social em Instituições de Ensino Superior pública e privada do 
RN; apreender qual a concepção desses docentes acerca das estratégias de ensino 
utilizadas no Serviço Social considerando a direção do Projeto Ético-Político 
Profissional. 
Para alcançar esses objetivos, optamos por delinear uma metodologia de 
pesquisa coerente com a abordagem teórica. Assim, consideramos ser fundamental 
salientar que o interesse em pesquisar determinada temática guarda relação íntima com 
as vivências acadêmicas e profissionais da pessoa pesquisadora. A pesquisa, portanto, 
oportuniza novas descobertas que impulsionam novos estudos e a possibilidade de 
desencadear modificações na realidade analisada. 
As inquietações que emergem a partir do amadurecimento teórico do tema de 
pesquisa condicionam o pesquisador a ir além do que se apresenta de imediato na 
realidade. Logo, conhecer um aspecto dessa realidade é um processo que demanda 
sucessivas aproximações, criticidade e opções orientadas por valores, sejam eles de 
caráter emancipatórios ou conservadores. Queremos afirmar com isso que não há 
neutralidade no processo de construção do conhecimento nas Ciências Sociais. 
Conforme a linha de raciocínio de Marx e do método desenvolvido por ele, 
afirmamos que: 
[...] o processo de conhecimento, além de buscar desocultar as contradições 
inclusivas que conformam os fenômenos, sujeitos, organizações e sociedades, 
valoriza o processo porque pretende transformar o instituído, a partir da 
constituição de novos valores e condições objetivas e, nesse sentido, é 
também teleológico (PRATES, 2016, p.85). 
Sabemos que existem diferentes formas de analisar o real. Coerente com o 
direcionamento ético-político do Projeto da Profissão, optamos pelo método histórico 
crítico-dialético, o qual embasou as reflexões e análises desse estudo sobre a docência 
no âmbito do Serviço Social. Acreditamos que só por meio deste referido método é 
possível analisar, decifrar e apreender a dinâmica, o movimento da realidade e suas 
contradições em uma perspectiva de totalidade, pois viabiliza a apreensão da essência, 
20 
 
indo além da aparência. “[...] a dialética nos fornece os fundamentos para fazermos um 
estudo em profundidade, visto que, o método dialético requer o estudo da realidadeem 
seu movimento, analisando as partes em constante relação com a totalidade [...]” 
(OLIVEIRA, 2012, p.53, grifos da autora). 
As categorias do método7 que sustentaram as análises foram: contradição, 
totalidade, mediação e historicidade. Em relação à primeira, pesquisamos dois contextos 
de trabalho nos quais atuam o Assistente Social e que são perpassados por interesses, os 
quais tendem a ser conflitantes. A totalidade, ao considerar que a área da docência é 
formada de múltiplas determinações que se inserem em uma totalidade mais ampla a 
qual está atrelada à educação superior e esta ao conjunto de relações sociais 
hegemônicas na sociedade capitalista. A mediação permitiu a reflexão crítica, ao 
considerarmos que a realidade sofre constantes transformações influenciadas por fatores 
econômicos, políticos e sociais. E, por último, a historicidade, pois em hipótese alguma 
se pode desprezar o contexto histórico da trajetória do Serviço Social na educação 
superior e, principalmente, na área da docência. 
Com base nas leituras realizadas e reflexões desenvolvidas aprofundamos 
categorias analíticas importantes que ajudaram no entendimento do objeto de estudo e 
das questões norteadoras da pesquisa, sendo relativas ao Estado, educação superior, 
docência e trabalho. 
Considerando a necessidade de conhecer o estado da arte das pesquisas e 
produções acadêmicas relativas à temática do presente estudo, foi realizado um 
levantamento no Repositório da Capes, em busca de teses e dissertações que tivessem 
como eixo de discussão o trabalho docente dos Assistentes Sociais em Instituições de 
Ensino Superior. Para filtrarmos as produções delimitamos inicialmente o período de 
2010 a 20198, utilizando as seguintes palavras-chave: docência em Serviço Social e 
trabalho docente do Assistente Social. 
A partir disso, encontramos 15 dissertações de mestrado9 e 16 teses de 
doutorado, totalizando 31 trabalhos10. Observamos que as dissertações tinham como 
 
7 Assim como Coelho (2010), entendemos ser pertinente articular as categorias do método marxiano com 
as determinações que estão imbricadas ao objeto de pesquisa. 
8 Esse recorte, referente ao ano, se justificou em virtude da ampliação do acesso ao ensino superior e a 
expansão de cursos stricto sensu resultando consequentemente no acúmulo de trabalhos de pesquisa. 
9 Dentre as 15 dissertações, destacamos duas: a primeira que era do mestrado em economia doméstica e a 
segunda que discutia a docência, porém os sujeitos de pesquisa foram docentes mulheres do ensino 
fundamental. Outro esclarecimento é que, se somarmos as 31 teses e dissertações do período 
compreendido entre 2010 e 2019, mais as 8 teses e dissertações anteriores a esses anos citados e que 
estavam disponíveis no repositório da CAPES, contabilizaremos, ao todo, 39 trabalhos. 
21 
 
principal eixo de análise a formação profissional e o trabalho docente, a precarização 
das condições de trabalho e da própria forma que tem se estruturado a educação superior 
brasileira nos últimos anos, processos de adoecimento dos docentes e a análise da 
docência em IES públicas e privadas. Em relação às teses, as abordagens relacionavam-
se com a precarização e intensificação do trabalho docente no ensino superior e os 
reflexos das exigências da sociedade do capital para o trabalho docente tanto em âmbito 
público quanto privado, reflexões sobre a formação profissional em Serviço Social e a 
contribuição dos docentes nesse percurso. Verificamos, então, que tanto as dissertações 
quanto as teses apontaram a preocupação da categoria em refletir sobre as principais 
questões que estão presentes no cotidiano de Assistentes Sociais docentes. 
No segundo momento, retiramos o filtro referente ao ano, permanecendo apenas 
as palavras-chave, tendo em vista a possibilidade da existência de trabalhos 
relacionados à docência em Serviço Social anteriores ao ano de 2010. Feito isso, foi 
possível identificar 8 trabalhos sobre a docência em IES públicas e privadas e o debate 
relacionado ao ensino em Serviço Social, dividido entre 6 teses e 2 dissertações. Esse 
resultado demonstra a importância dessa discussão para o processo de formação 
profissional dos discentes e, especialmente, para os Assistentes Sociais docentes. 
Considerando essas questões e visando contemplar os objetivos da nossa 
pesquisa11 utilizando as categorias educação superior e docência, escolhemos ao todo 6 
trabalhos12, divididos entre 3 teses que nos auxiliassem no aprofundamento e 
entendimento do processo de formação profissional e a contribuição da docência 
(PORTES, 2016), a configuração do trabalho docente em IES públicas (DUARTE, 
2017) e a outra sobre o trabalho docente em IES privadas (ALBUQUERQUE, 2015). 
No que se refere às dissertações optamos pelo mesmo quantitativo de trabalhos, sendo 
que com outros enfoques, a saber: a relação entre o ensino e as práticas pedagógicas na 
docência em Serviço Social (DANTAS, 2012), a relação entre o Projeto Ético-Político, 
a formação profissional e a docência em Serviço Social (COELHO, 2010) e por último 
as condições do trabalho docente em IES públicas (SOUSA, 2015). 
Todavia, observamos que outras questões, como o produtivismo, prevaleciam 
nas discussões e dialogavam com o nosso objeto de estudo. Assim, fomos tecendo as 
 
10 Deixamos aqui o reconhecimento e contribuições referentes ao trabalho de Carvalho (2019), no qual a 
autora realizou levantamento sobre as publicações que discutiam a docência na área do Serviço Social. 
11 O objetivo ao realizar esse levantamento era aprofundar as reflexões sobre a docência e as estratégias 
de ensino utilizadas pelos docentes Assistentes Sociais para assegurar a direção social do PEP. 
12 Um dado interessante é que após a seleção dos trabalhos a partir da leitura de seus resumos, 
observamos que todos eram de autoria de mulheres. 
22 
 
mediações necessárias para explorarmos as riquezas existentes nas produções 
escolhidas. Adiantamos que os trabalhos selecionados para a análise evidenciaram o 
quanto a profissão de Serviço Social avançou, possuindo um conjunto de obras de viés 
crítico, que são construídas geralmente pelos docentes e que possibilitam aos 
profissionais que estão em outros espaços de trabalho refletir mais sobre a sua prática 
cotidiana e também se sentirem impulsionados a socializar suas análises. 
Essas leituras foram fundamentais para situar o presente estudo no contexto atual 
das preocupações e abordagens sobre o trabalho docente de Assistentes Sociais na 
formação profissional do Serviço Social. As dimensões das análises acima destacadas 
nas teses e dissertações estudadas também estão em sintonia com as nossas questões de 
pesquisa e, em grande parte, com as opções teórico-metodológicas aqui apresentadas. 
No que diz respeito à abordagem, por exemplo, aqui também optamos pela 
qualitativa, tendo em vista os objetivos delineados para nortear a pesquisa, os quais não 
indicaram como sendo necessário numerar ou medir dados, como geralmente ocorre na 
abordagem quantitativa. Para Triviños (1987, p.132), “na pesquisa qualitativa existe 
pouco empenho por definir operacionalmente as variáveis. Elas são apenas descritas e 
seu número pode ser grande, ao contrário do que apresenta o enfoque quantitativo [...]”. 
Tendo em vista o objetivo proposto de analisar o trabalho docente de Assistentes 
Sociais em Cursos de Serviço Social de Instituições de Ensino Superior públicas e 
privadas no Rio Grande do Norte, considerando suas estratégias para garantir a 
formação profissional em consonância com a direção do Projeto Ético-Político da 
Profissão, o universo da pesquisa abrangeu Assistentes Sociais docentes de IESpúblicas 
e privadas do RN. Assim, delimitou-se uma amostra qualitativa de docentes que 
estavam inseridos nos cursos de Serviço Social presenciais em instituições públicas e 
privadas do estado, a partir de informações referentes ao período de ingresso na IES e 
do vínculo empregatício de professores vinculados aos Departamentos de Serviço 
Social da UFRN e da UERN, sendo feito também um levantamento nos Programas de 
Pós-Graduação das respectivas universidades, possibilitando identificar discentes que já 
tinham atuado como docentes em IES privadas do estado13. 
Em relação ao lócus de pesquisa, no caso, a UFRN e a UERN, a escolha se 
explica devido à facilidade de acesso, haja vista a aproximação com alguns docentes em 
 
13 Nesse processo, buscamos informações nos sites da UFRN e UERN sobre o corpo docente e também 
dialogamos com os docentes dos Departamentos para auxiliar no contato com outros profissionais que 
poderiam participar da nossa pesquisa. 
23 
 
decorrência da participação no projeto de monitoria e em eventos da categoria de 
Assistentes Sociais. Sendo esse fato algo que contribui para a aproximação do 
pesquisador com os participantes da pesquisa. A respeito do trabalho de campo Minayo 
(2013, p.61) nos diz que, 
O trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade 
sobre a qual formulou uma pergunta, mas também estabelecer uma interação 
com os ‘atores’ que conformam a realidade e, assim, constrói um 
conhecimento empírico importantíssimo para quem faz pesquisa social [...]. 
Desse modo, foram definidos a priori alguns critérios para a escolha dos 
docentes a serem entrevistados, dentre os quais: 
a) profissionais que possuíssem no mínimo dois anos de experiência na carreira 
docente14, uma vez que teriam uma melhor apreensão das configurações desse espaço e 
do contexto de mudanças norteado principalmente por retrocessos que têm perpassado o 
ensino superior, a exemplo das demissões ocorridas no ano de 2019 na particularidade 
de algumas IES privadas do RN; 
b) três docentes da UFRN e três docentes da UERN15 efetivos, pois teríamos a 
possibilidade de analisar o trabalho docente em duas instituições públicas sendo uma 
federal e a outra estadual. Escolhemos um profissional com experiência na docência, 
considerando o seu ano de entrada na IES, outro mais jovem na carreira e por fim um 
que tivesse desenvolvido alguma atividade relacionada à educação em IES privada do 
RN, com a finalidade de construir um resgate histórico da docência a partir de gerações 
distintas de profissionais e de suas respectivas vivências acadêmicas; 
c) por fim, quatro docentes que já tivessem atuado como professores substitutos 
na UFRN, UERN ou ainda que fossem discentes dos PPGSS dessas instituições atuando 
até o ano de 2019 em IES privadas no RN. Com isso, visávamos apreender a partir das 
vivências desses sujeitos, as particularidades existentes em cada âmbito e que 
influenciavam na docência. Esse quantitativo foi delimitado em razão de ser um número 
possível de serem feitas análises aprofundadas do material resultante das entrevistas e 
também por abarcar na nossa pesquisa os diferentes vínculos empregatícios existentes 
na área da docência. 
De modo geral, a intenção de entrevistar dez profissionais se justificou pela 
necessidade de identificar as particularidades do trabalho docente em instituições de 
 
14 Cabe destacar que, mesmo não estando nos nossos critérios, entrevistamos docentes que estavam em 
cargos de gestão nos respectivos departamentos das IES públicas e também inseridos nos PPGSS. 
15 Conseguimos entrevistar 2 docentes efetivas da UERN. 
24 
 
ensino superior e analisar as estratégias de ensino que embasavam o trabalho destes 
profissionais em cada âmbito e que contribuíam para a manutenção da direção do 
Projeto Ético-Político do Serviço Social. No entanto, diante das dificuldades 
decorrentes da pandemia e das limitações do Ensino Remoto Emergencial (ERE), 
conseguimos realizar 8 entrevistas16. 
Reconhecendo a relevância de traçarmos o perfil dos docentes entrevistados 
obtivemos, a partir dos questionários enviados para os profissionais, respostas que 
expressaram a diversidade de trajetória dos mesmos17. Todos os docentes que 
responderam o questionário estavam atuando em diferentes IES, sendo 2 inseridos em 
IES privadas e 6 em instituições públicas, sendo que destas instituições, duas 
profissionais já tinham vivenciado o trabalho docente em IES privadas. Sobre o sexo 
dos docentes, foram entrevistadas 6 profissionais do sexo feminino e dois do sexo 
masculino18. 
Esses dados apontam a prevalência de mulheres ocupando cargos de docentes 
nas IES. Na gênese da profissão, conforme destacado por Iamamoto e Carvalho (2013), 
Castro (2011) e Aguiar (2011) os cargos de docência eram ocupados, principalmente, 
por homens católicos, especificamente padres, e o trabalho social nas instituições ficava 
a cargo das Assistentes Sociais que iam sendo formadas pelos professores citados. 
Quando os docentes foram questionados se possuíam filhos, 3 responderam que tinham 
filhos e 4 que não. 
 
Quadro: Informações gerais dos docentes 
 
 Sexo Natureza da IES que 
atua 
Possui filhos 
Docente 1 Feminino Pública Não 
Docente 2 Feminino Privada Sim 
Docente 3 Feminino Pública ____ 
Docente 4 Feminino Pública Sim 
Docente 5 Masculino Privada Não 
Docente 6 Feminino Pública Sim 
Docente 7 Feminino Pública Não 
Docente 8 Masculino Pública Não 
 
 
16 Ao longo do trabalho, os docentes participantes da pesquisa foram identificados a partir da ordem na 
qual ocorreram as entrevistas. 
17 Apenas uma docente não respondeu o questionário que enviamos por e-mail. 
18 Esses dados dialogam com os achados da pesquisa de Sousa (2015) que foi realizada com docentes do 
DESSO e que foi constatado a prevalência de mulheres na docência. 
25 
 
Todos os docentes apontaram que cursaram a graduação em IES públicas (2 da 
UECE, 4 da UFRN, 1 da UERN e uma não respondeu), as quais seguem as Diretrizes 
Curriculares da ABEPSS e buscam assegurar o ensino, a pesquisa e a extensão. Tal 
questão é relevante porque esses docentes durante a trajetória acadêmica, como 
discentes, vivenciaram esse tripé, aspecto crucial para uma formação crítica. Porém, 
essa não é uma garantia de que ao ingressarem na docência permanecerão nas IES 
públicas, porque desde a Reforma Universitária de 1968 a tendência tem sido o 
crescimento de instituições privadas ofertando o curso de Serviço Social, a partir de 
diversas modalidades (LIMA, 2008; PEREIRA, 2008; 2018). 
Em relação ao ano de conclusão do curso de graduação dos docentes 
entrevistados, verificamos que 60% ocorreu no século XXI, 30% na década de 1990 e 
uma profissional da década de 1970. Ou seja, a quase totalidade vivenciou suas 
respectivas formações em períodos nos quais a profissão estava se afastando do 
conservadorismo e dialogando mais com uma perspectiva crítica de análise da realidade. 
No tocante à formação acadêmica de pós-graduação, temos um quadro de 
Assistentes Sociais que possuem qualificada formação para a realização do trabalho 
docente. Isso porque, os docentes efetivos responderam que eram doutores ou pós-
doutores; já os docentes que atuavam em IES privadas ou que eram substitutos nas IES 
públicas estavam em processo de doutoramento ou possuíam mestrado e especialização. 
Se considerarmos o ano de conclusão da graduação, temos que os docentes substitutos e 
horistas são relativamente jovens na docência, o que explica o fato desses profissionais 
estarem realizando cursos no momento que a entrevista foi realizada. Assim, dos 
docentes que se formaram no século XXI, dois estavam cursando o doutorado. 
Os docentes efetivos nãoestavam realizando cursos, já aqueles que eram 
horistas ou substitutos estavam cursando o doutorado, exceto uma docente. Um dado 
que indica que mesmo possuindo vínculos empregatícios precarizados, no qual a 
sobrecarga de trabalho é intensa, os profissionais substitutos e horistas ainda conseguem 
se dedicar a sua própria formação profissional. 
No que concerne ao tempo de atuação dos Assistentes Sociais na docência, ele 
também é diverso, pois observamos que uma docente já possuía condições de solicitar 
aposentadoria, mas que permanecia atuando; as outras docentes efetivas também 
possuíam um tempo considerável na docência; e os substitutos e horistas, como era de 
se esperar, eram os mais jovens na carreira. Logo, o tempo de atuação na docência 
indica que são docentes que possuem significativa trajetória nas IES, pois 4 docentes 
26 
 
estavam na docência há mais de 10 anos, 2 se inseriram há mais de 3 anos e uma que 
estava atuando pouco mais de 40 anos na docência. 
 
Quadro: Trajetória de formação acadêmica dos docentes entrevistados 
 
 IES que cursou a 
graduação 
Ano de conclusão 
do curso de 
graduação 
Formação 
acadêmica de pós-
graduação 
Tempo de 
atuação na 
docência 
Docente 1 Pública 1990 Doutorado 15 anos 
Docente 2 Pública 2010 Mestrado e 
Especialização 
10 anos 
Docente 3 _____ _____ _____ _____ 
Docente 4 Pública 1974 Pós-doutorado 41 anos 
Docente 5 Pública 2012 Mestrado 6 anos 
Docente 6 Pública 2002 Doutorado 17 anos 
Docente 7 Pública 1992 Pós-doutorado 27 anos 
Docente 8 Pública 2013 Mestrado 4 anos 
 
Além da aplicação de questionários com perguntas abertas e fechadas visando 
conhecer melhor o perfil de docentes das IES públicas e privadas, conforme anunciado, 
foram realizadas entrevistas semiestruturadas19 considerando que é um instrumento 
fundamental de apreensão de informações e percepções sobre a realidade que “[...] se 
desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo 
que o entrevistador faça as necessárias adaptações” (LÜDKE; ANDRÉ, 2014, p.40). 
Dessa forma, foi possível analisar o que os docentes pensavam sobre a docência em 
Serviço Social, além da identificação de suas estratégias pedagógicas. 
O material obtido a partir das entrevistas foi transcrito mantendo a fidedignidade 
do seu conteúdo e posteriormente categorizado e analisado. Para analisar o material 
coletado o nosso estudo utilizou técnicas de análise temática de conteúdo que consiste 
em “[...] uma técnica de pesquisa e, como tal, tem determinadas características 
metodológicas: objetividade, sistematização e inferência” (RICHARDSON, 2012, 
p.223). Dessa forma, essa técnica de análise possibilita “[...] descobrir os núcleos de 
sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou frequência signifiquem 
alguma coisa para o objeto analítico visado [...]” (MINAYO, 2014, p.316, grifos da 
autora). 
 
19 Considerando que estávamos vivenciando a pandemia do Coronavírus (COVID-19), sem uma previsão 
de retorno de atividades presenciais nas universidades, foi utilizado o google meet e, para os docentes que 
solicitaram a chamada de vídeo, para a realização das entrevistas. Já os questionários foram enviados para 
os e-mails dos docentes que aceitaram participar da pesquisa. 
27 
 
Conforme discorre a autora, existem três etapas interligadas na análise temática, 
as quais englobam: a pré-análise, a etapa de exploração do material e por último o 
tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Assim, iniciamos fazendo as leituras 
flutuantes dos materiais levantados, seguido de uma análise mais criteriosa que 
possibilitou identificar as categorias presentes no material pesquisado, resultante da 
pesquisa teórica em base bibliográfica e empírica, os quais possibilitaram avançar no 
entendimento do objeto de estudo. Feito isso, adentramos no processo de 
sistematização, ou melhor, de categorização e análise dos dados, alcançando sínteses e 
possíveis respostas para as inquietações que nortearam a pesquisa. 
Por fim, esclarecemos que esse projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê 
de Ética e Pesquisa da UFRN (CEP/HUOL), obtendo parecer favorável de n. 4.431.725 
e CAAE de n. 39337620.9.0000.5292 para a execução do estudo, correspondendo, 
assim, com as orientações dadas pela resolução nº. 510 de 2016 (BRASIL, 2016) que 
versa sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais, tendo em 
vista que foi um estudo que contou com a contribuição de seres humanos. Assim, foram 
tomados todos os cuidados éticos20 para resguardar os direitos dos participantes da 
pesquisa no processo de coleta de dados, bem como no momento de análise. 
Cabe destacar também que esse trabalho se inseriu na linha de pesquisa Serviço 
Social, Trabalho e Questão Social do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da 
UFRN, o qual tem como área de concentração Sociabilidade, Serviço Social e Política 
Social. Sua relevância consistiu em trazer análises em uma perspectiva de totalidade 
sobre as questões que envolvem a atuação do Assistente Social como docente no âmbito 
das universidades públicas e privadas do RN, contribuindo para adensar a produção 
teórica do Serviço Social sobre a docência e até mesmo provocar novas pesquisas 
referentes a esse espaço de atuação. 
Considerando os contornos acima delineados do objeto de estudo, a dissertação 
está estruturada em quatro seções. A primeira seção é esta introdução na qual 
apresentamos as motivações para a realização da pesquisa, algumas reflexões iniciais 
sobre o trabalho de Assistentes Sociais docentes na educação superior, e ainda a 
metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa. 
A segunda seção aborda o debate sobre o Estado e a educação numa perspectiva 
gramsciana, haja vista que é o Estado que a partir de disputas de concepções de mundo, 
 
20 É importante ressaltar que foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o 
Termo de autorização para gravação de voz (Anexos A e B). 
28 
 
elabora legislações, como a Lei de Diretrizes e Bases da educação, e constrói 
perspectivas para direcionar a educação superior. Esta desde o seu surgimento no Brasil, 
sofre a interferência dos interesses da classe dominante, mesmo com os processos de 
luta dos trabalhadores para reafirmá-la enquanto um direito, visto que vivenciamos um 
contexto de crise estrutural do capital. Nesse contexto, verificamos a inserção do 
Serviço Social no ensino superior, destacando a docência e a discussão das atribuições 
privativas de Assistentes Sociais que atuam na formação de futuros profissionais. A 
partir disso, resgatamos a questão do corporativismo para apontar que os Assistentes 
Sociais docentes atuam numa direção crítica voltada para os interesses coletivos dos 
trabalhadores, sendo esta uma das razões para a defesa da direção do PEP. 
A terceira seção traz reflexões sobre os fundamentos da formação profissional, 
resgatando os elementos da gênese do Serviço Social e da atuação das pioneiras nos 
cargos de docência. Apresentamos a contribuição de Assistentes Sociais docentes e de 
outras áreas de atuação no processo de construção do Projeto de Formação Profissional 
do Serviço Social, que em 1996 ficou conhecido como as Diretrizes Curriculares da 
ABEPSS, as quais passaram por mudanças provocadas pelo MEC. Explicitamos em 
seguida que é esse Projeto que direciona a formação acadêmica dos docentes na 
contemporaneidade. Finalizamos a seção com a discussão dos fundamentos para a 
atuação de Assistentes Sociais docentes, os quais reafirmam a direção crítica da 
profissão. 
A quarta seção discute o trabalho de Assistentes Sociais docentes abordando 
alguns aspectos da particularidade dessa atuação em IES públicas e privadas do RN. 
Considerando que, são dois espaçosque apresentam demandas diversas para os 
docentes e que também trazem implicações para a formação profissional em Serviço 
Social. Ainda nessa seção, discutimos sobre o Projeto Ético-Político e alguns aspectos 
que estão relacionados com a sua construção, enfatizando a sua importância para a 
docência. Já as estratégias político-pedagógicas configuram-se como uma mediação 
utilizada pelos docentes, diante das possibilidades existentes nas IES, para fortalecer a 
direção social conquistada pela profissão e que conforma o Projeto Profissional. 
As considerações finais apresentam algumas sínteses referentes aos resultados da 
pesquisa, sugestões identificadas a partir do estudo bibliográfico e do diálogo com os 
docentes das IES públicas e privadas, bem como as principais aprendizagens 
possibilitadas a partir de todo o processo de realização da pesquisa. 
29 
 
2 O ESTADO E A EDUCAÇÃO SUPERIOR EM TEMPOS DE CRISE: 
REFLEXOS NA DOCÊNCIA E NO SERVIÇO SOCIAL 
A análise da educação superior na contemporaneidade suscita que sejam 
elucidados alguns apontamentos sobre o que é o Estado e as suas principais estratégias 
articuladas ao grande capital para o processo de enfrentamento da crise estrutural que 
estamos vivenciando desde a década de 1970 (MÉSZÁROS, 2009). 
Nesse sentido, o pensamento gramsciano contribui para apreendermos 
criticamente as categorias analíticas do Estado e ainda da educação, seja sob a 
perspectiva de reprodução da hegemonia do modo de produção capitalista, seja como 
um importante componente da estratégia de resistência da classe trabalhadora. Para 
tanto, temos por pressuposto que a atuação de Assistentes Sociais docentes, enquanto 
intelectuais e que estão articulados aos interesses da classe trabalhadora exerce função 
crucial para a construção coletiva de uma nova concepção de mundo. 
Ao discutir sobre algumas das particularidades inerentes ao trabalho dos 
Assistentes Sociais, buscamos incorporar o debate sobre o corporativismo e as suas 
principais características, demonstrando as suas implicações para o processo de luta dos 
trabalhadores e defendendo que a resistência contra a ofensiva capitalista, presente nas 
ações desse Estado burguês, é sempre coletiva e acompanhada de valores 
emancipatórios, conforme expressa o Projeto Ético-Político do Serviço Social. 
Desse modo, para qualificar as reflexões sobre o trabalho docente em Serviço 
Social em IES públicas e privadas, é imperativa a discussão sobre o Estado e as 
estratégias que utiliza para direcionar a Política de Educação superior no Brasil. Sendo 
esse movimento em conformidade com os seus interesses e com aqueles da classe 
dominante, atendendo também algumas pautas da classe trabalhadora para garantir o 
consenso e a continuidade de sua hegemonia. 
2.1 O Estado no contexto da crise estrutural do capital 
Inicialmente é importante refletir sobre como a atual configuração do Estado, 
que tem intensificado suas políticas de cortes nos recursos destinados à educação 
pública, em especial ao ensino superior, está atrelada à ideologia da classe dominante, a 
qual utiliza-se do Estado e dos seus recursos para concretizar o projeto de sociedade 
30 
 
almejado. Nesse processo, as classes subalternas e as suas necessidades sociais são cada 
vez menos atendidas, sendo mantida a hegemonia da classe dominante. 
Sobre essa relação do Estado com a Educação, Lima (2013, p.12, grifos da 
autora) reflete que: 
O papel histórico do Estado brasileiro na condução da política de expansão 
da educação superior é, portanto, fundamental. É o Estado que cria o 
arcabouço jurídico para operar esta política, autorizando e credenciando as 
IES privadas, bem como legalizando a privatização interna das IES públicas e 
estimulando o produtivismo e o padrão mercantil da pesquisa e da produção 
de conhecimentos. As concepções de educação superior – reduzida à 
educação terciária – e de universidade – como instituição de ensino e/ou 
instituição subsumida à lógica mercantil – são compartilhadas por reitores 
das universidades e por parte dos docentes dessas IES. 
Lima (2013) explica que o Estado influencia de diferentes formas nos caminhos 
que a educação pública e privada pode seguir, visto que, se temos recursos compatíveis 
com as demandas educacionais tem-se a possibilidade de se alcançar resultados 
positivos, já a ausência de investimentos ou cortes nos recursos, como tem sido feito 
pelo Governo Federal no mandato do presidente Jair Messias Bolsonaro, desde 2019, 
acarreta danos regressivos para a continuidade dessa política. Outra questão que 
podemos extrair dessa citação é que alguns sujeitos que estão em IES públicas 
defendem projetos que desmontam a própria concepção de educação pública. 
Desse modo, a forma como o Estado está configurado demanda que a classe 
trabalhadora se organize para lutar por seus interesses. Na luta docente, podemos citar, 
entre outras, a pauta por melhores condições de trabalho e salário, pela realização de 
concurso público – visto que a contratação de professores substitutos no âmbito das 
universidades públicas tende a precarizar o trabalho docente – e a defesa do mestrado e 
doutorado acadêmico, uma vez que foi aventada a possibilidade de redução do tempo 
dos respectivos cursos21. Isso demonstra o avanço do aligeiramento do ensino que já 
vem perpassando a graduação e visa se espraiar para a pós-graduação. 
Considerando essa dimensão macro política da presente análise, concebemos ser 
relevante tratarmos, de forma sucinta, sobre o Estado e o seu papel pedagógico, para 
influenciar o conjunto da sociedade, para assim alcançar seus interesses, enquanto um 
Estado classista, e impor para os sujeitos uma concepção do mundo que legitima os 
anseios de uma classe social em detrimento da outra. 
 
21 Ao realizar uma busca de documentos sobre essa questão destacamos que é uma tendência a qual tem 
sido discutida, ainda que timidamente pelos programas de pós-graduação, pois inexiste uma regulação 
formal do Ministério da Educação e da Capes sobre essa redução do tempo de duração dos cursos de 
mestrado e doutorado. 
31 
 
Diversos e importantes autores dedicaram-se a pesquisar sobre o Estado 
enquanto uma construção social. Temos assim, entre várias outras, as contribuições de 
Hegel, Karl Marx, Engels, Lenin, Rosa Luxemburgo, entre outros. Contanto, a 
concepção de Estado que guiará a presente análise será a abordagem desenvolvida pelo 
marxista Antonio Gramsci. A escolha desse autor se justifica em virtude das preciosas 
contribuições dele para compreensão ampliada do Estado capitalista na 
contemporaneidade, bem como para refletirmos e lutarmos por uma educação – que se 
contrapõe aos valores mercadológicos – capaz de contribuir para a formação de sujeitos 
críticos e consequentemente para a construção de uma nova concepção do mundo. 
Portanto, a leitura que se constrói do Estado tem estreita relação com a concepção do 
mundo que, conforme Gramsci (1995, p.12): 
[...] Quando a concepção do mundo não é crítica e coerente, mas ocasional e 
desagregada, pertencentes simultaneamente a uma multiplicidade de homens-
massas, nossa própria personalidade é composta de uma maneira bizarra: nela 
se encontram elementos dos homens das cavernas e princípios da ciência 
mais moderna e progressista; preconceitos de todas as fases históricas 
passadas, grosseiramente localistas, e intuições de uma futura filosofia que 
será própria do gênero humano mundialmente unificado. Criticar a própria 
concepção do mundo, portanto, significa torná-la unitária e coerente e elevá-
la até o ponto atingido pelo pensamento mundial mais desenvolvido [...]. 
No campo dos pensadores marxistas, Gramsci consegue em suas reflexões ir 
além da abordagem de Estado realizada por Marx no século anterior, e isso se explica 
exatamente em virtude do momento histórico que ele vivenciounas primeiras décadas 
do século XX, pelo menos até onde vislumbrou de condições e liberdade política para 
tal. Dessa forma, Gramsci apreendeu elementos novos do movimento da realidade que 
não foi possível no período em que Marx viveu (SIMIONATTO, 2011). 
De acordo com o entendimento de sua obra, essa perspectiva ampliada do Estado 
será importante para a organização da classe trabalhadora, para a formação e ampliação 
dos conselhos de fábricas, dos sindicatos e para maior participação de outros sujeitos na 
esfera pública. Ademais, quando discutimos o Estado pensamos na dimensão da esfera 
pública, da participação da sociedade civil a partir da reivindicação de direitos como a 
educação. Dessa forma, a intervenção do Estado pode servir para efetivação dos 
instrumentos normativos que regulamentem a educação enquanto um direito ou para 
permitir a sua mercantilização. Feitas essas considerações traremos as reflexões de 
Gramsci em relação à concepção de Estado. 
Gramsci apud Buci-Glucksmann (1980, p.129) apontará que: “o Estado é todo o 
conjunto de atividades teóricas e práticas com as quais a classe dirigente justifica e 
32 
 
mantém não somente a sua dominação, mas também consegue obter o consenso ativo 
dos governados”. Ou seja, mesmo que a classe dominante detenha um poder capaz de 
influenciar os rumos tomados pelo Estado, essa classe e suas decisões precisam de um 
mínimo de legitimidade perante a classe dominada. Entretanto esse não é um processo 
simples, mas perpassado por lutas e disputas no âmbito da sociedade civil. Por isso, para 
Simionatto (2011, p.69), “as discussões gramscianas sobre o Estado apresentam-se a 
partir da existência de duas esferas distintas no interior das superestruturas, quais sejam: 
a) sociedade civil; e b) sociedade política”. Sendo a sociedade civil, entendida 
criticamente, perpassada de disputas de projetos, pois é nesse âmbito que as massas 
conseguem pautar seus interesses e expressar possíveis inconformidades com a direção 
do Estado. Isto é, “[...] o lugar onde se tornam conscientes os conflitos e contradições 
[...] é um momento da superestrutura ideológico-política [...]” (idem, p.70). 
Essa relação entre sociedade política e sociedade civil é pertinente para 
apreendermos o movimento do Estado na contemporaneidade. Tal síntese é expressa na 
citação seguinte: 
É verdade que, no curso de seu trabalho, Gramsci distinguirá 
progressivamente dois conceitos de Estado, ou mais precisamente dois 
momentos da articulação do campo estatal: o Estado em sentido estreito 
(unilateral), e o Estado em sentido amplo, dito integral. Em um sentido 
estreito, o Estado se identifica com o governo, com o aparelho de ditadura de 
classe, na medida em que ele possui funções coercitivas e econômicas. A 
dominação de classe se exerce através do aparelho de Estado no sentido 
clássico (exército, polícia, administração, burocracia). Mas essa função 
coercitiva é inseparável de um certo papel adaptativo-educativo do Estado, 
que procura realizar uma adequação entre aparelho produtivo e moralidade 
das massas populares [...] (BUCI-GLUCKSMANN, 1980, p.128, grifos da 
autora). 
Com base nas reflexões das autoras anteriormente citadas, apreendemos a 
necessidade que o Estado tem de manter um nível adequado de conformismo e 
apassivamento22 da população ou “massas” como falava Gramsci para que assim não 
ocorra nenhuma perturbação ao satisfatório andamento dos interesses da classe 
dominante. Dessa forma, o Estado mobiliza os meios de direção intelectual e moral da 
sociedade: 
O Estado integral pressupõe a tomada em consideração do conjunto dos 
meios de direção intelectual e moral de uma classe sobre a sociedade, a 
maneira como ela poderá realizar sua “hegemonia”, ainda que ao preço de 
 
22 Para refletir sobre o conformismo e o apassivamento dialogando com a discussão da educação 
superior, podemos apontar o debate que será tecido sobre a democratização da educação e o crescimento 
do setor privado na oferta dos cursos de graduação ocorridos no governo de Luís Inácio Lula da Silva. 
33 
 
“equilíbrios de compromisso”, para salvaguardar seu próprio poder político, 
particularmente ameaçado em períodos de crise [...] (BUCI-
GLUCKSMANN, 1980, p.128-129). 
Essa concepção integral do Estado de Gramsci, segundo Buci-Glucksmann 
(1980), expressa uma crítica ao mecanicismo e ao economicismo presentes naquela 
época nas abordagens marxistas ressaltando que: “[...] o Estado integral pede um 
desenvolvimento rico, articulado, das superestruturas, que exclui a possibilidade da sua 
redução somente ao governo-força, mesmo ele sendo completado ideologicamente” 
(BUCI-GLUCKSMANN, 1980, p.129). Dessa forma, Gramsci buscou apresentar 
análises mais atualizadas e interligadas com a conjuntura do seu tempo, o que não quer 
dizer que tenha negado estudos anteriores sobre o Estado (SIMIONATTO, 2011). Hoje, 
visualizamos que a sua contribuição continua sendo atual e necessária para entender as 
configurações e contradições que perpassam o Estado nesse momento histórico. 
Esses apontamentos históricos auxiliam na reflexão sobre a função do Estado na 
atualidade, o qual apresenta algumas características que retomam aspectos do fascismo, 
intensificando a disputa de hegemonia e a luta pela defesa da democracia. Desse modo, 
de uma lado estão os defensores do capital e de perspectivas antidemocráticas; no outro, 
os sujeitos que lutam por direitos, dadas as decisões do Estado em prejuízo dos 
interesses da classe trabalhadora. 
Considerando esses fatores, a conquista da hegemonia passa por um processo de 
construção e nisso reside a dificuldade da classe dominada, porque unificar todas as 
questões dos trabalhadores em um contexto de notáveis dificuldades para a efetivação 
dos direitos em todos os âmbitos constitui um grande desafio. De acordo com Dias 
(2014, p.111-112), “a passagem de uma classe subalterna à posição hegemônica 
significa antes de mais nada a tomada de posse de si mesma, a sua afirmação enquanto 
coletividade individualiza face às demais classes [...]”. Com isso, ressalta-se a urgência 
dos trabalhadores conquistarem hegemonia, para só assim caminhar para a construção 
de uma nova sociabilidade. 
Nesse sentido, a hegemonia tem também uma função educativa, e o Estado 
não só luta para conquistar o consenso, mas também educa esse consenso, ou 
seja, a hegemonia deve ser não só a forma na qual se afirma a direção, o 
poder de uma classe, de um bloco social, mas deve ser também o terreno e o 
instrumento para realizar a superação da subalternidade, para atingir uma 
nova, mais alta unificação entre governantes e governados, entre dirigentes e 
dirigidos (SIMIONATTO, 2011, p.55). 
34 
 
A forma que a classe trabalhadora encontrará para se tornar a classe dirigente 
passa, portanto, pela educação, pois demanda reflexões coletivas fundamentais para sua 
constituição como classe dirigente, intelectual e moral. É aqui que podemos 
compreender a importância da contribuição de docentes e discentes das IES públicas e 
privadas, junto com os trabalhadores e movimentos sociais, para que, assim, 
colaborarem no processo de organização desses sujeitos. 
Portanto, não tem como desconsiderar o Estado e as suas repercussões no 
cotidiano de todos os trabalhadores e daqueles que se identificam com a luta por outra 
sociedade, inclusive na educação. Percebemos também porque o modelo atual do 
Estado tem reduzido ou impedido a ampliação de recursos para expandir a educação 
superior, para a viabilização da assistência estudantil e a realização de projetos de 
pesquisa, extensão, monitoria e tutoria, enquanto ações que repercutem em melhorias 
diretas para a comunidade acadêmica e, se pensarmos nas ações de extensão, para a 
comunidade externa também. Rossi et al. (2019, p.11) ilustra essa situação a partir de 
alguns dados:

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