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VALORIZAÇÃO ENERGÉTICA DE ESPÉCIES SUPRIMIDAS NA IMPLANTAÇÃO DE UM EMPREENDIMENTO EÓLICO MARCELA CRISTINA PEREIRA DOS SANTOS ALMEIDA Macaíba/RN Março de 2022 Nº 000 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS - UAECIA ESCOLA AGRÍCOLA DE JUNDIAÍ - EAJ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS MARCELA CRISTINA PEREIRA DOS SANTOS ALMEIDA VALORIZAÇÃO ENERGÉTICA DE ESPÉCIES SUPRIMIDAS NA IMPLANTAÇÃO DE UM EMPREENDIMENTO EÓLICO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Ciências Florestais (Área de Concentração em Ciências Florestais - Linha de Pesquisa: Tecnologia e Utilização de Produtos Florestais). Orientador: Profa. Dra. Renata Martins Braga Macaíba/RN Março de 2022 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Rodolfo Helinski - Escola Agrícola de Jundiaí - EAJ - Macaiba Almeida, Marcela Cristina Pereira dos Santos. Valorização energética de espécies suprimidas na implantação de um empreendimento eólico / Marcela Cristina Pereira dos Santos Almeida. - 2022. 58f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias, Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais. Macaíba, RN, 2022. Orientadora: Profa. Dra. Renata Martins Braga. 1. Valor de biomassa - Dissertação. 2. Caatinga - Dissertação. 3. Supressão vegetal - Dissertação. I. Braga, Renata Martins. II. Título. RN/UF/BSPRH CDU 620.95(81) Elaborado por Elaine Paiva de Assunção - CRB-15/492 AGRADECIMENTOS __________________________________________________________________________ Agradeço A Deus, por ter me abençoado para que tivesse motivação para chegar a essa conquista. À minha orientadora Profa. Dra. Renata Martins Braga pela orientação e exemplos transmitidos, mas principalmente pela confiança e paciência. Aos meus amores Emanuel e Gabriel, por estarem sempre presentes na minha vida, contribuindo para a realização dos meus sonhos. Aos meus pais, Moacir e Graça, e sogros Haroldo e Lourdes pela rede de apoio e todo incentivo para que eu me dedicasse aos estudos. A CRN Bio Ambiental e Arqueologia pelo compartilhamento de dados e informações. Aos companheiros e amigos do Laboratório de Tecnologia Ambiental (LabTam). Muito obrigado pela amizade de todos vocês, pelas experiências compartilhadas e ajudas nos momentos necessários. Ao laboratório Labtam, na pessoa da professora Dra. Dulce Melo, por toda estrutura oferecida. Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte pela oportunidade e pelos conhecimentos compartilhados. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. RESUMO __________________________________________________________________________ VALORIZAÇÃO ENERGÉTICA DE ESPÉCIES SUPRIMIDAS NA IMPLANTAÇÃO DE UM EMPREENDIMENTO EÓLICO Diante do crescente potencial eólico, principalmente na região Nordeste e no estado do Rio Grande do Norte (RN), há um considerável crescimento de supressão vegetal, em decorrência da instalação dos complexos eólicos. O presente trabalho busca apresentar alternativas de valorização energética das espécies suprimidas durante a instalação de um parque eólico na região do Mato Grande (RN), através da caracterização energética e pirólise rápida analítica. Os dados quantitativos de biomassa que embasaram o trabalho foram fornecidos por uma empresa potiguar de consultoria ambiental e para a caracterização energética dos resíduos produzidos durante a supressão das espécies nativas da caatinga foram realizadas a análise imediata, poder calorífico, densidade aparente, análise termogravimétrica e composição de celulose, hemicelulose e lignina. A pirólise rápida analítica foi desenvolvida a 500 °C em um pirolisador HP-R 5200 da CDS Analytical acoplado a um cromatógrafo a gás para identificação dos produtos da pirólise. Os resultados de poder calorífico do pereiro, imburana e catingueira foram de 18,39 MJ/kg- 1, 17,99 MJ/kg-1 e 17,47 MJ/kg-1, respectivamente, apontando o seu potencial energético. Os resultados da pirólise comprovam a presença de diversos compostos oxigenados característicos da decomposição de materiais lignocelulósicos, tais como fenóis, cetonas e compostos oxigenados leves, contendo entre 1-4 átomos de carbono, que compreendem a ácidos carboxílicos. Os materiais apresentam elevado poder calorífico e podem ser aplicados para combustão direta, como na fabricação de briquetes e pellets. Os resultados de pirólise também revelam o potencial para obtenção de químicos renováveis como um produto atrativo para diversas áreas da indústria, como a produção de tintas, resinas fenólicas e pesticidas. E por apresentar em sua composição uma quantidade considerável de compostos oxigenados como é o caso das classes de cetonas e fenóis, revela seu potencial para o aproveitamento dos produtos da pirólise na indústria química, assim como aplicação direta dessas biomassas em processos termoquimicos de conversão de energia. Palavras-chave: Supressão vegetal, caatinga, pirólise rápida, valor de biomassa ABSTRACT __________________________________________________________________________ ENERGY VALORIZATION OF SPECIES SUPPRESSED IN THE IMPLEMENTATION OF A WIND DEVELOPMENT Given the growing wind potential, especially in the Northeast region and in state of Rio Grande do Norte (RN), there is a considerable growth of plant suppression, due to the installation of wind complexes. The present work seeks to present alternatives of energy recovery of species suppressed during the installation of a wind farm in the region of Mato Grande (RN), through energy characterization and rapid analytical pyrolysis. The quantitative biomass data that underpinned the work were provided by an environmental consulting company and for the energy characterization of the residues produced during the suppression of the native species of the Caatinga were performed the proximate analysis, calorific value, apparent density, thermogravimetric analysis and composition of cellulose, hemicellulose and lignin. Fast analytical pyrolysis was developed at 500 °C in an HP-R 5200 pyrolysis from CDS Analytical coupled to a gas chromatograph to identify pyrolysis products. The calorific power results of pereiro, imburana and catingueira were 18.39 MJ/kg-1, 17.99 MJ/kg-1 and 17.47 MJ/kg-1, respectively, indicating its energy potential. The pyrolysis results prove the presence of several oxygenated compounds characteristic of the decomposition of lignocellulosic materials, such as phenols, ketone and light oxygenated compounds, containing between 1-4 carbon atoms, which comprise carboxylic acids. The materials have a high calorific value and can be applied for direct combustion, such as in the manufacture of briquettes and pellets. Pyrolysis results also reveal the potential to obtain renewable chemicals as an attractive product for several areas of industry, such as the production of paints, phenolic resins and pesticides. Futhermore by presenting in its composition a considerable amount of oxygenated compounds, such as ketonesand phenols, it reveals its potential for the use of pyrolysis products in the chemical industry, as well as direct application of these biomasses in thermochemical processes of energy conversion. Keywords: Plant suppression, caatinga, fast pyrolysis, biomass valorization. SUMÁRIO __________________________________________________________________________ Página 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1 2. OBJETIVOS ......................................................................................................... 4 3. REVISÃO DE LITERATURA................................................................................. 6 3.1. Energia eólica ..................................................................................................... 7 3.2. Impactos ambientais .......................................................................................... 9 3.3. Espécies nativas da Caatinga ......................................................................... 13 3.4. Valorização energética .................................................................................... 17 4. MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................... 20 4.1. Caracterização do Pó de serra das espécies nativas .................................... 22 4.2. Pirólise .............................................................................................................. 26 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................... 28 6. CONCLUSÕES ................................................................................................... 43 7. LITERATURA CITADA ....................................................................................... 45 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Evolução da Capacidade Eólica Instalada no Brasi.........................................l 08 Figura 2. Potência eólica instalada nos estados brasileiros ............................................09 Figura 3. Supressão vegetal semimecanizada ................................................................11 Figura 4. Mapa de projetos eólicos no Rio Grande do Norte ..........................................13 Figura 5. Poincianella pyramidalis (catingueira)............................................................ 14 Figura 6. Commiphora leptophloeos (imburana)............................................................. 16 Figura 7. Aspidosperma pyrifolium (pereiro).................................................................... 17 Figura 8. Localização do complexo eólico....................................................................... 21 Figura 9. Fluxograma do processo de caracterização do resíduo da Catingueira, Pereiro e Imburana...................................................................................................................... 25 Figura 10. Localização do complexo eólico .....................................................................22 Figura 11. Único indivíduo de barriguda encontrado ao entorno da área de supressão. 29 Figura 12. G. Gardneriana ...............................................................................................30 Figura 13. (A) Escavação para resgate de plântula. (B) Plântula de Aroeira resgatada. 31 Figura 14. Curvas termogravimétrica (TG/DTG) da catingueira...................................... 34 Figura 15. Curvas termogravimétricas (TG/DTG) da imburana ......................................34 Figura 16. Curvas termogravimétricas da pereiro........................................................... 35 Figura 17. Distribuição dos produtos da pirólise analítica por classe............................. 39 1 LISTA DE TABELAS __________________________________________________________________________ Tabela 1. Variantes do processo de Pirólise 16 Tabela 2. Espécies florestais encontradas e coletadas na área do empreendimento 22 Tabela 3. Caracterização física, análise imediata e poder calorífico do pereiro, catingueira e imburana 26 Tabela 4. Teores de celulose, hemicelulose e lignina encontrados nas biomassas da imburana, pereiro e caingueira 16 Tabela 5 Compostos resultantes da pirólise da biomassa da catingueira, imburana e pereiro 16 2 LISTA DE ABREVIATURAS __________________________________________________________________________ MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais RAS - Relatório Ambiental Simplificado IDEMA – Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente TG - Análise termogravimétrica 1 Introdução _____________________________ 2 1. INTRODUÇÃO __________________________________________________________________________ Recentemente, no ano de 2020, o total de energia disponibilizada no Brasil, a chamada oferta interna de energia, chegou ao valor de 287,6 MTep apresentando uma diminuição de cerca de 2,2% em relação ao ano de 2019. O aumento das fontes de energia elétrica, como a eólica e a solar, além do incremento das fontes biomassa e biodiesel fizeram com que o patamar de energia renovável do Brasil se sobresaisse em relação a países do mundo inteiro. Além do mais, a pandemia causada pelo coronavírus acarretou na retração de ofertas de energia não renovável, como é o caso do petróleo e seus derivados, gás natural, carvão mineral e urânio (BEN 2021). Ainda segundo o Balanço energético nacional, realizado no ano de 2021, a produção de eletricidade a partir da fonte eólica atingiu uma marca de 57.051 GWh no ano de 2020, o que siginifica um aumento de 1,9% em relação a 2019, quando se atingiu 55.986 GWh. Em 2020, a potência instalada para geração eólica no país expandiu 11,4%. Segundo o Banco de Informações da Geração (SIGA), da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o parque eólico nacional atingiu 17.131 MW. Diante dos dados apresentados em relação ao vasto crescimento do setor eólico, é notório os benefícios trazidos pela substituição majotitária do país para fontes de energia limpa. Desta forma, é importante ressaltar que para a implantação dos complexos eólicos são executadas atividades geradoras de impacto ambiental negativo na área. É o caso de operações de preparação das estradas, áreas de escavações para a obtenção de materiais destinados à complementação de volumes necessários para aterros e remoção do material vegetal, tais como: árvores, arbustos, tocos, raízes etc. Nesses serviços são incluídos desmatamento, deslocamento e limpeza até o nível do terreno considerado apto para a terraplenagem; serviços topográficos de marcação dos offsets (linhas demarcadoras da área de execução dos serviços) e das cotas vermelhas (alturas de corte e de aterro). Além de serviço de terraplenagem para elaboração da via de acesso (CASSARO, 2015). Segundo Azevedo (2017), a retirada da mata nativa presente na área de instalação de um empreendimento eólico causa bastante perturbação no ambiente a ser alterado, principalmente pelos impactos ambientais negativos causados. A utilização de máquinas pesadas, risco de águas residuais e óleo do canteiro de obras podem infiltrar-se no solo e levar a sérios problemas ambientais. Fatores como erosão do solo, ameaça de extinção de espécies nativas, desregulação do equilíbrio da fauna, entre outros desgastes antrópicos são 3 ocasionados pela supressão vegetal, escavação, fundação e construção de estradas. Segundo De Queiroz (2018), um grande número de complexos eólicos instalados ou em estalação estão localizados na região nordeste do país, mais precisamente no semiáridonordestino. Lugar onde o bioma Caatinga é predominante. Isso se dar pela caracteristicas atrativas da região, como a localização estratégia para que se obtenha ventos fortes e velozes, além de índices pluviométricos baixos e irregulares. E apesar de atrair altos investimentos para região, poucos se tem estudado a respeito da valorização da biomassa perdida na supressão vegetal dessas áres. Segundo a Resolução do CONAMA nº 237, de 19 de dezembro de 1997, todas as atividades que gerem impactos ambientais são passíveis de estudo e pesquisa, garantindo assim a qualidade mínima dos seres vivos em tal ambiente. Para isso que existe o licenciamento ambiental, que através de um estudo detalhado concede ou não a licença de implementação de um empreendimento de baixo, médio ou grande impacto. Para que se obtenha esse licenciamento é necessário que se faça um Estudo do Impacto Ambiental (EIA) juntamente com o Relatório de Impactos Ambientais ou, para empreendimentos de menor impacto, o Relatório Ambiental Simplificado (RAS) (PACHECO et al, 2013). A atividade de resgate de flora, que tem por princípio a retirada de germoplasma da região que sofrerá a supressão, sendo replantada em outra área para compensação do dano causado, atua de forma mitigadora aos impactos ambientais causados pelo desmatamento. A coleta de sementes e plântulas da região a ser desmatada, e o plantio dessas em área selecionada pela gestão ambiental do empreendimento eólico, minimiza as perdas genéticas de flora do ambiente (CAVALCANTE, 2019). Apesar disso, existe uma deficiência no que se diz respeito ao aproveitamento da lenha e demais biomassas florestais retiradas desta área. Mesmo com os estudos dos impactos ambientais causados pela supressão vegetal em área de implantação de complexos eólicos, não há estudos na literatura voltados especificamente ao aproveitamento dessa materia prima, capazes de mostrar seus uso e potencial. Diante disso, o presente trabalho busca apresentar alternativas para a valorização energética de espécies nativas da caatinga (conhecidas popularmente por: catingueira, pereiro e imburana), que sofrem constante supressão na etapa de instalação de um empreendimento eólico na região do Mato grande, no Rio Grande do Norte, através da caracterização energética e pirólise analítica. Considerando que há a necessidade dessa retirada de vegetação para o desenvolvimento da geração de energia eólica, esse estudo aponta diferentes usos para a lenha retirada da mata nativa. 4 Objetivo Geral _____________________________ 5 2. OBJETIVOS __________________________________________________________________________ 2.1. Objetivo geral Apresentar alternativa de valorização energética de espécies vegetais suprimidas durante a implatação de um parque eólico na região do Mato grande, no Rio Grande do Norte, através da realização de análises fisico-químicas que tendem a caracterizar e indicar o potencial energético dessas biomassas. 2.2. Objetivos específicos ● Analisar dados referentes a supressão de espécies nativas da caatinga na etapa da implantação de um empreendimento eólico; ● Adquirir amostras do material lenhoso suprimido; ● Caracterizar material coletado através das análises de densidade aparente, análise termogravimétrica, análise imediata (Teor de umidade, teor de cinza, teor de voláteis e carbono fixo) e poder calorífico; ● Avaliar o potencial energético das espécies selecionadas para aplicação em processos termoquímicos, como a pirólise. ● Indicar utilização alternativa dessa lenha retirada na supressão, afim de realizar o aproveitamento energético. 6 Revisão de literatura _____________________________ 7 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. Energia eólica A necessidade por energia elétrica, que hoje se apresenta como uma realidade cada vez mais indispensável, demonstrou um crescimento considerável no mundo, durante o período da primeira e segunda revolução industrial. A grande questão é que tal necessidade não é pertinente apenas para o desenvolvimento econômico e tecnológico da sociedade, vai além, sendo imprescindível para uma melhor qualidade de vida para a população e bem-estar de toda a sociedade. Países de todo o mundo apontam sua matriz energética a fontes que além de não serem renováveis, são considerados grandes emissores de gás carbônico, o gás que atenua o efeito estufa em todo o planeta (PINTO, 2019). Desta forma, ainda segundo Pinto (2019), tem se buscado cada vez mais fontes alternativas de produção de energia, as consideradas fontes limpas, tais como: solar, geotérmica, de biocombustíveis, eólica, entre outras. Destas, a energia eólica vem se destacando como uma fonte viável, por se tratar de um recurso renovável, limpo e abundante, que é o vento. O surgimento e crescimento da energia eólica tem contribuído para a diversificação da matriz energética utilizada em todo o mundo, principalmente no Brasil, por possuir características climáticas atrativas a instalação dessa nova fonte de energia. E isso é relevante por representar uma maior segurança energética para o país, isto é, a prerrogativa para que não se passe novamente por crises no setor energético. Além disso, os efeitos na mudança climática podem ser positivos, havendo a substituição de fontes não renováveis a fontes renováveis (LIMA, 2018). A Figura 1 a seguir mostra o crescimento expansivo que a energia eólica apresentou no Brasil. No ano de 2020 chegou a cerca de 1065 Gwh adicionais em relação ao ano de 2019. Em 2015, a energia eólica já havia ultrapassado a energia nuclear ultrapassou a geração de energia da biomassa em 2019, e em 2020 teve um crescimento de 1,90% em relação a 2019, se consolidando a principal entre as três fontes de energia. Figura 1 Evolução da Capacidade Eólica Instalada no Brasil Fonte: Balanço Energético Nacional, 2021. 8 O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica – PRONINFA, regulamentado na Lei nº 10.438/2002 foi imprescindível para que a produção de energia eólica no Brasil pudesse ser iniciada. Tal programa é responsável pela diversificação da matriz energética nacional, como também pelo fomento do mercado interno para o uso dessa fonte, além de pequenas centrais hidrelétricas (PCH) e empreendimentos termelétricos. Através deste Programa, foi possível ser instalados 52 parques eólicos, que somam a geração de 1.298,6 MW de potência em todo o país. Apesar disso, o crescente desenvolvimento na utilização da energia eólica no Brasil só aconteceu depois do ano de 2014, obtendo o incremento anual de 1GW. A partir desse momento, o País continuou avançando no crescimento do uso e exploração dessa fonte de energia, obtendo inclusive valores maiores de incremento anual. No ano de 2019 chegou a 14.776MW de capacidade instalada, com a implantação de mais de 600 usinas eólicas em toda a região (ANEEL, 2019). Tendo por base as recentes tecnologias utilizadas para a geração de energia a partir do vento, principalmente utilizando-se de aerogeradores situados a 100 metros de altura, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), afirma que o potencial eólico brasileiro onshore (em terra) pode chegar a 880,5 GW, sendo que 522 GW são considerados tecnicamente viáveis. Além disso, o potencial eólico brasileiro offshore (no mar) também é gigantesco, podendo chegar até a 1,3 TW, levando em consideração a localização das instalações na região oceânica costeira do Nordeste por se tratar de áreas possuidoras de características mais favoráveis ao desenvolvimento na geração da energia. Na Região do nordeste brasileiro, como mostrana Figura 2, é estimado um potencial onshore de 309 GW. Em todo o País, a maior parte dos projetos eólicos está localizado no Nordeste. E essa realidade só é possível devido a possibilidade máxima de aproveitamento na geração de energia elétrica produzida, pelo fato de a região ser possuidora de “jazidas” de vento (BEZERRA, 2019). 9 Figura 2 Potência eólica instalada nos estados brasileiros Fonte: BEZERRA, 2019 Desta forma, as fontes de energia renovável, principalmente a energia eólica, vem se apresentando como a solução para um problema global. Ademais, colabora social e economicamente com a sociedade trazendo diversificação na obtenção de energia, geração de empregos direta e indiretamente, além do desenvolvimento local, principalmente em áreas rurais. Apesar disso, o desenvolvimento desenfreado dessa fonte energética pode ocasionar impactos ambientais irreversíveis à comunidade onde estão sendo instaladas as turbinas, principalmente relacionados à fauna e flora do local. Por isso, é interessante que sejam desenvolvidos meios de planejamentos a fim de mitigar os impactos ambientais negativos que porventura possam surgir tanto no período de implantação, como no período de operação dos empreendimentos eólicos (AZEVEDO, 2017). 3.2. Impactos ambientais A Avaliação de Impactos Ambientais - AIA é um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente, de grande importância para a gestão institucional de planos, programas e projetos, em nível federal, estadual e municipal (IBAMA, 1995). Consiste em um processo de avaliação dos efeitos ecológicos, econômicos e sociais, que podem advir da implantação de atividades antrópicas (projetos, planos e programas), e de monitoramento e controle desses efeitos pelo poder público e pela sociedade. Ou seja, esse instrumento é formado por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar desde o início do processo, que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma 10 ação proposta (ou já ocorrida com danos) e de suas alternativas e que os resultados sejam apresentados, de forma adequada, ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão (CREMONEZ, 2014). Claudio (1987) explica que a Avaliação de Impactos Ambientais tem como objetivo prevenir e minimizar as alterações que podem ocorrer na elaboração de um projeto ou determinada atividade, pois o estudo é essencialmente um instrumento de previsão. Impacto ambiental pode ser definido conforme a legislação ambiental brasileira (Resolução CONAMA 001, de 23 de janeiro de 1986) como: "qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente, afetam: I a saúde, a segurança e o bem estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e V - a qualidade dos recursos ambientais". Ainda, podemos definir Impacto Ambiental como sendo uma perturbação no ecossistema proveniente de uma ação ou omissão humana (efeito ambiental), qualificada de positiva ou negativa por um certo grupo social, no contexto de sua realidade espacial e temporal. Nota-se que o efeito ambiental inclui a noção de julgamento, valor positivo (benéfico) ou negativo (prejudicial). Portanto, o conceito de Impacto Ambiental é relativo porque o julgamento que lhe é intrínseco varia no espaço e no tempo (SÁNCHEZ, 2015). Na instalação de um empreendimento eólico é necessário que se faça esse estudo antes da implantação. O RAS (Relatório Ambiental Simplificado), aponta alguns impactos causados pela construção civil que será executada, tais como: ● Poluição atmosférica por fumaça de escapamento, poeira e fuligem provocada, sobretudo, pela movimentação do solo, desmatamento da área, intensificação do tráfego de veículos e movimentação de entulhos; ● Impactos resultantes do não gerenciamento adequado de entulhos, pilhas de material de construção (areia e argila) podendo provocar o assoreamento das áreas de drenagens naturais presentes na área, manutenção de veículos próximo as drenagens, disposição inadequada de resíduos e efluentes sanitários em cursos d’água ou próximos a eles que terminam afetando as áreas de drenagens. Mau gerenciamento de resíduos sólidos de diversas naturezas podendo atingir os cursos d’água indiretamente pela lixiviação das chuvas; ● Desmatamentos com perda significativa de habitats, aumento dos níveis de ruídos provocando o afugentamento e intensificação do tráfego de veículos provocando atropelamentos a fauna presente na região; 11 ● Serviços de terraplanagem, topografias, drenagem, aberturas de estradas, implantação dos aerogeradores e instalações de apoio provocando o desmate da vegetação, que é a supressão vegetal, como mostra a Figura 3; ● Entre outros. Figura 3 Supressão vegetal semimecanizada. Fonte: Imagem cedida pela CRN Bio, 2021 Destaca-se a supressão vegetal por se tratar de um impacto com significativa importância e forte magnitude para o meio biótico. Principalmente na região da Caatinga, nordeste brasileiro, que se encontra em constante degradação, com a retirada da lenha de forma ilegal, mais de 70% das áreas florestadas, segundo o Serviço Florestal Brasileiro, em 2018. A retirada da vegetação, sobretudo, do extrato arbustivo-arbóreo deve ser planejada. Como na área há formações florestais arbóreas, subarbustivas e arbustivas, como estratos predominantes. As áreas que serão degradadas, sobretudo, para a abertura de estradas devem ser compensadas. Para as fundações das torres dos aerogeradores não há impactos significativos devido a área de pequena dimensão que é utilizada na ocupação da base dos aerogeradores com conseguinte desmate de vegetação. Nos RAS, além do estudo de impactos ambientais, deve conter também medidas 12 mitigatórias, que no caso de um empreendimento eólico podem ser: 1) Conservar rigorosamente a cobertura vegetal das faixas marginais das estradas, de forma a evitar o avanço de processos erosivos; 2) Os espécimes maiores da flora, de porte arbóreo, por serem repositórios naturais do banco de sementes de suas espécies, deverão ser protegidos; 3) Medidas educativas deverão ser implementadas de acordo com Programa de Educação Ambiental, nesse caso, com ações voltadas aos trabalhadores empregados nas obras de instalação com medidas referentes à preservação e uso sustentável da flora da região.” (CRN Bio, 2013) 3.2.1 Mitigação dos impactos causados pela supressão vegetal na instalação de um empreendimento eólico através do resgate de flora O resgate de flora consiste na atividade de remoção de espécies vegetais de seu local de origem, e em seguida o seu replantio em área biologicamente análoga. Normalmente, na fase da instalação de empreendimentos que envolva a supressão de vegetação nativa, existem condicionantes impostas pelo órgão ambiental responsável pelo licenciamento, que vão da compensação ambiental à proteção de espécimes importantes da flora existente na área a ser impactada, podendo acontecer através do seu transplante direto, ou pela coleta de sementes e plântulas ao entorno das matrizes vigorosas, sadias e produtivas, para que possa ser realizado posteriormente replantio de mudas com maior vigor, visando preservar a diversidade genética do local afetado(CAVALCANTE, 2005). Geralmente, os órgãos ambientais licenciadores solicitam o transplante de dois grupos de vegetais: indivíduos de espécies com algum grau de ameaça de extinção, conforme as listas estaduais e/ou nacionais da flora ameaçada, e os indivíduos de espécies protegidas por alguma legislação específica, declaradas imunes ao corte pela Código Florestal Estadual (Lei nº 9.519/1992), no Rio Grande do Norte. Além disso, o entendimento a respeito da ecologiadas espécies manejadas durante a atividade e no processo é fundamental, havendo um rol de espécies pouco tolerantes a transplantes, com índices de sobrevivência abaixo das demais espécies, devendo os cuidados com estas serem redobrados. O Rio Grande do Norte, estado brasileiro que mais cresce na construção de empreendimentos eólicos, encontra-se imerso no bioma caatinga, em grande parte de seu território. Diante disso, espécies nativas dessa região vêm sofrendo com a supressão vegetal ocorrida para implantação dos complexos (SILVA, 2020). A figura 4 representa o Mapa de projetos eólicos no Rio Grande do Norte. 13 Figura 4 Mapa de projetos eólicos no Rio Fonte: Grande do Norte. Fonte: (SILVA, 2020). 3.3 Espécies nativas da Caatinga O bioma Caatinga possui uma extensão de 912.529 km2 e é uma das seis grandes regiões ecológicas brasileiras. Entre os seis biomas conhecidos no País, ele é o único presente somente no Brasil, não sendo encontrado em nenhum outro país. Localizado em sua grande parte na região do nordeste brasileiro, o bioma da Caatinga apresenta uma extensa superfície plana com altitude variando de 300 a 500 m composta por florestas secas e vegetação arbustiva decíduas, apresentando perda de folhas durante a estação seca. A maior parte do território da Caatinga apresenta clima semiárido, marcado por temperaturas médias elevadas, entre 25 e 30°C e baixa precipitação, entre 400 e 1200 mm anuais (TABARELLI, 2018). Conhecida também como Floresta Tropical Sazonalmente Seca Brasileira, a Caatinga, possui uma diversidade vegetal e índice de endemismo consideravelmente alto, apesar de ser conhecida como uma região fortemente degradada pelo uso não sustentável de seus recursos naturais (RIBEIRO,2021). O inventário nacional brasileiro, produzido pelo Serviço Florestal Brasileiro, no ano de 2018, apresentou que a cobertura de florestas naturais no estado do Rio Grande do Norte é de aproximadamente 2,2 milhões de hectares, o que equivale a 42% do território total do estado. Afirmando que a Caatinga é a tipologia predominante nas áreas classificadas como floresta, representando cerca de 91 % das áreas de florestas do estado, cerca de 2 milhões de hectares. O inventário aponta que evidências de antropismo foram observadas em 71% 14 dos locais amostrados, sendo boa parte dele ocasionado pela supressão vegetal (SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO, 2018). Segundo Silva (2015), após análise de flora presente na região do Rio Grande do Norte foram registradas diferentes famílias botânicas, entre essas as que mais apresentaram incidência na região foram as famílias: Fabaceae, Poaceae, Cyperaceae, Euphorbiaceae, Rubiaceae, Asteraceae, Convolvulaceae, Malvaceae, Myrtaceae e Boraginaceae, que juntas contribuem com mais de 60% dos registros encontrados. As espécies comumente encontradas na região do Rio Grande no Norte, são: Griffinia gardneriana, Myracrodruon urundeuva (aroeira), Mimosa tenuiflora (Jurema Preta), Aspidosperma pyrifolium (Pereiro), Ceiba glaziovii (barriguda), Caesalpinia férrea (Pau Ferro), Caesalpinia pyramidalis (Catingueira), Ziziphus joazeiro (Joazeiro), Mimosa verrucosa (Jurema Branca) e Commiphora leptophloeos (Imburana). Destas, destacam-se a catingueira, pereiro e imburana, por haver uma quantidade restrita de estudos de biomassa proveniente delas, principalmente de seus potenciais energéticos. 3.3.1 Cenostigma pyramidale A catingueira-verdadeira (Poincianella pyramidalis [Tul.] L.P.Queiroz, também conhecida como Caesalpinia pyramidalis [Tul.]), apresentada na Figura 5 pertence à família Leguminosae que pode ser conhecida por diferentes nomes na região nordeste a variar o Estado, desta forma é conhecida popularmente por: canela-de-velho, catingueira-verdadeira e pau-de-rato no Piauí ou apenas catingueira, no Rio Grande do Norte, por exemplo. Grande parte dessa nomenclatura deve- se ao odor característico das suas folhas. A sua distribuição geográfica é endêmica do bioma Caatinga, apresentando sua distribuição geográfica em todo o Nordeste brasileiro, sendo encontrada em diversos ambientes, com ocorrência desde várzeas úmidas, podendo ter o crescimento de até 10 m altura e 50 cm de diâmetro, além de áreas semiáridas, onde apresenta arbusto menores, com menos de dois metros de altura e poucos centímetros de diâmetro. Possui a capacidade de adaptação consistente em diferentes tipos de solos, principalmente os mais pobres, onde existe a presença de solos pedregosos, sendo presente em grande densidade em diferentes locais de Caatinga. Manifesta considerável resistência aos déficits hídricos e salino, que é a realidade da região da caatinga. Apresenta, em sua maioria, porte arbustivo e arbóreo, cuja copa é arredondada e baixa, não contendo a presença de espinhos. Exibe folhas compostas bipinadas e coriáceas, a catingueira-verdadeira possui comportamento decíduo na estação seca (MATIAS, 2017). 15 Figura 5 Poincianella pyramidalis (catingueira) Fonte: Cavalcante, 2013. A catingueira pode ser utilizada para várias diferentes finalidades, a alimentação animal é uma delas, através das folhas que brotaram após o início do período chuvoso, apresentando-se como excelente fonte de forragem. Além disso, apresenta potencial melífero, através da produção de pólen e néctar, como no abrigo para as abelhas silvestres que não possuem ferrão. Permitindo que estas façam seus ninhos nos ocos dos troncos da espécie. Possuem também a capacidade de ser utilizada como fonte energética, sendo lenha. Enquanto também possui habilidade na área medicamentosa, através da medicina caseira, onde a catingueira pode ser utilizada em função de suas propriedades antidiarreicas, através do uso de suas folhas, flores e cascas. Atuando também nos tratamentos contra hepatite e anemia, através do uso da sua casca. As aplicações industriais ocorrem pelo fato de as cinzas da madeira apresentarem elevado teor de potássio, sendo desta forma usada para fabricação de sabão (CARVALHO, 2014). 3.3.2. Commiphora leptophloeos A Commiphora leptophloeos (Mart.) J. B. Gillett., como mostra a Figura 6, conhecida popularmente por imburana, é uma espécie que chega a alcançar de 3 a 4 metros de altura e se destaca fitossociologicamente por apresentar uma dominância relativa e ter por característica uma baixa densidade e regeneração natural. A espécie é conhecida por seu valor madeireiro, apresenta uma exploração extrativista considerável, o que afeta diretamente a sua presença no bioma da Caatinga. Além disso, possui valor forrageiro e medicinal, onde 16 comunidades tradicionais fazem uso de sua biomassa para tratamento de diferentes doenças, suas propriedades farmacológicas são atribuídas à presença de taninos, saponinas, flavonóides e alcalóides (SILVA, 2021). Figura 6 Commiphora leptophloeos (imburana) Fonte: Barrus, E. (2020) Sua distribuição geográfica ocorre no Norte (Amazonas, Pará, Roraima, Tocantins), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe) Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso) e Sudeste (Minas Gerais), do País e tem por domínio fitogeográficos a Amazônia, Caatinga e Cerrado (BRASIL, 2020). 3.3.3 Aspidosperma pyrifolium A espécie Aspidosperma pyrifolium Mart., como mostra a Figura 7, pertencente à família Apocynaceae, tem por nome popular 'pereiro'. Sua ocorrência é observada tanto da caatinga quanto do cerrado brasileiro, apresentando-se também na Bolívia e no Paraguai. Essa espécie é considerada xerófila, heliófila e assim como a maioria das espécies presentes no bioma Caatinga, sua exploração é voltada para o mercado madeireiro e medicamentoso. Suas sementes são a principal forma de propagação e disseminação da espécie, tendo por propriedades as formas aladas, planas, papiráceas e apresentamperda de viabilidade 17 rapidamente após dispersão e também após armazenamento, o que exige estratégias particulares para conservação da espécie (CUNHA,2021). Figura 7 Aspidosperma pyrifolium (pereiro) Fonte: Projeto verde, 2015. O pereiro é caracterizado pela presença de alcalóides indólicos, um metabólito secundário responsável pela defesa das plantas contra predadores. Além disso, tal espécie, quando feita a retirada de seus extratos brutos aquosos da casca da planta, são popularmente usadas como antiinflamatório, antileishmania e principalmente como antiplasmódico em condições de malária (DE ARAUJO, 2018). Diante de toda caracterização fitofisiológica dessas espécies é interessante que seja feito um estudo para avaliar o potencial energético das suas diferentes biomassas. Levando em consideração que existe a mitigação dos impactos sofridos com sua supressão, é necessário que exista uma destinação eficaz a madeira retirada na implantação de um complexo eólico. 3.4 Valorização energética do resíduo florestal Apontado como o produto do material descartado na atividade de obtenção de madeira, na supressão vegetal e reflorestamento, o resíduo florestal se apresenta como uma alternativa energética ao redor do mundo. No Brasil, devido a vasta produção florestal, o aproveitamento deste subproduto se torna consideravelmente viável. As características e 18 disponibilidade regional da biomassa são determinadas como um grupo de indicadores para sustentabilidade, em especial com foco no meio ambiente e aplicação de critérios socioeconômicos. Em muitos casos é deixada para decomposição natural do solo, sem aproveitamento da energia nela contida e produzindo gás carbônico e metano. Os resíduos até agora representam um potencial de energia ainda inexplorado em todo o mundo (RAMBO, 2015). A conversão de biomassa em energia pode ser realizada por processos termoquímicos, biológicos, mecânicos e físicos. Como exemplos de processos termoquímicos têm-se a combustão, a gaseificação e a pirólise (FELIX, 2018). A combustão da biomassa constitui o sistema mais empregado para o aproveitamento de resíduos lenhosos; representa cifras relativamente importantes dentro da estrutura de consumo energético dos países menos desenvolvidos. A combustão produz gases quentes atingindo temperaturas de 800 a 1000 °C. Cerca de 80% da combustão de biomassa ocorre nos trópicos. Ela é a maior fonte de produção de gases tóxicos, material particulado e gases do efeito estufa no planeta, influencia a química e a física atmosférica, produz espécies químicas que mudam significativamente o pH da água da chuva, e afeta o balanço térmico da atmosfera pela interferência na quantidade de radiação solar refletida para o espaço (PEDROZA et al., 2017). O objetivo principal da gaseificação é a conversão de biomassa em um gás combustível, através de sua oxidação parcial com ar, oxigênio ou vapor de água a altas temperaturas, tipicamente, na faixa de 800 – 900 ºC. Este gás cujo poder calorífico se situa entre 4 e 6 MJ/Nm3, pode ser queimado diretamente ou usado como combustível para motores de combustão interna e turbinas a gás (PEDROZA et al., 2017). A pirólise é definida como um processo de decomposição térmica da biomassa na ausência de oxigênio e que apresenta como produtos compostos na fase gasosa, líquida e sólida. O gás é formado por CO, CO2, hidrogênio e hidrocarbonetos de baixa massa molar. O líquido obtido tem sua origem na condensação de gases, intitulado por bio-óleo ou líquido pirolenhoso, e o sólido é chamado de bio-carvão (WHYTE, 2015). A carbonização, tida como uma variante do processo de pirólise, é o mais simples e mais antigo método de conversão de um combustível, que geralmente utiliza-se da lenha, em outro de qualidade superior e conteúdo energético melhor caracterizado, que é o carvão. Tal procedimento constitui-se em aquecer o material original, numa temperatura entre 300°C e 500°C, numa quantidade de ar muito baixa, até que o material volátil seja separado. O principal produto, chamado de carvão, possui uma densidade energética duas vezes maior que aquela do material de origem e queima em temperaturas muito mais altas. Além de gás combustível, durante o processo da carbonização do resíduo sólido, ocorre também a produção de bioóleo e ácido piro-lenhoso. Enquanto o processo de pirólise rápida pode ser 19 empregado para a obtenção de elevados rendimentos de bio-óleo com a operação do reator nas seguintes condições: taxas elevadas de aquecimento variando entre 600 e 1200 ºC/min, temperatura de reação de aproximadamente 500 ºC, tempo de residência dos vapores menor que 2 segundos, rápida transferência de massa do interior da partícula para a superfície e rápido resfriamento de vapores e biomassa com diâmetro de partícula de até 2 mm e umidade em torno de 10 %, conforme mostra a Tabela 1 (GÓMEZ, 2002). Tabela 1 Variantes do processo de Pirólise Variantes do processo Tempo de Residência Temperatura do processo (°C) Principais Produtos obtidos Carbonização Horas/dias 400 – 450 Carvão vegetal Convencional 5 – 30 min Até 600 Bio-óleo, carvão e gás Rápida 0,5 – 5 seg 500 – 550 Bio-óleo Flash-líquido < 1 seg < 650 Bio-óleo Flash-gás < 1 seg > 650 Gás combustível Vácuo 2 – 30 seg 400 Bio-óleo Metano-pirólise < 10 seg >700 Produtos químicos Hidro-pirólise < 10 seg <500 Bio-óleo e produtos químicos Fonte: PEDROZA, 2011. A termoconversão provoca a ruptura da ligação carbono-carbono e carbono-oxigênio. Além de ser um processo de oxidação-redução em que parte da biomassa é limitada a carbono, enquanto a outra é oxidada e hidrolisada dando origem a fenóis, carboidratos, álcoois, aldeídos, cetonas e ácidos carboxílicos, entre outros. Tais produtos primários se ajustam entre si para produção de moléculas mais complexas, como é o caso dos ésteres, produtos poliméricos, entre outros (HUANG, 2015). 20 Material e Métodos _____________________________ 21 4. MATERIAL E MÉTODOS __________________________________________________________________________ O material utilizado para o desenvolvimento deste trabalho foi o pó da lenha de três espécies nativas da caatinga, produzidos pelo corte do motosserra, durante a supressão vegetal ocorrida na etapa de implantação do complexo eólico. Foram selecionadas três espécies, e o parâmetro de escolha utilizado para selecionar essas espécies foi a frequência e quantidade de indivíduos encontrados na área do empreendimento. Sendo essas: Cenostigma pyramidale (catingueira), Commiphora leptophloeos (imburana) e Aspidosperma pyrifolium (pereiro). Os dados relativos à implantação de um empreendimento eólico, que embasaram a pesquisa aqui realizada foram compartilhados por uma empresa de consultoria ambiental, responsável pela execução das atividades ambientais na implantação de um complexo eólico, a empresa CRN Bio Ambiental e Arqueologia, localizada na cidade de Natal/ RN, na Av. Governador José Varela, 2867 Capim Macio. O complexo eólico portador dos dados fornecidos tem sua localização na região do Mato Grande, no Rio Grande do Norte. Como mostra a Figura 8. Figura 8 Localização do complexo eólico. Fonte: Google maps, 2022 22 Após a coleta do pó de serra das três espécies (granulometria de aproximadamente 0,150 mm), foi feita a secagem na estufa a 100ºC por um período de 24 horas para que fosse retirada a umidade. Em seguida, o material passou pela etapa de caracterização e pirólise rápida analitica a fim de avaliar o potencial energético de cada espécie florestal analisada, conforme mostra a Figura 9 Figura 9 Fluxograma do processo de caracterização do resíduo da Catingueira, Pereiro e Imburana.Fonte: Autor 4.1. Caracterização do Pó de serra das espécies nativas 4.1.1. Análise Imediata A determinação do teor de massa de voláteis, umidade e cinzas, foram desenvolvidos conforme as normas ASTM (American Standard Testing Materials). E as análises foram executadas no Laboratório de Refino e Tecnologia Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 23 A umidade foi definida seguindo a norma ASTM E871-82 através do cálculo da perda de massa de uma amostra quando aquecida sob condições de temperatura, tempo e pressão controlados. A análise foi feita em triplicata, onde foram pesadas 3 amostras com aproximadamente 1 g, conforme recomendação da norma. As amostras foram colocadas em estufa por 24 h a 100 °C ± 1°C e após o período, os recipientes com as amostras foram retirados da estufa e colocados num dessecador contendo sílica gel para atingir a temperatura ambiente, sendo pesados posteriormente a cerca de 5 min, depois da pesagem, os recipientes voltavam a estufa, onde permaneceram por 20 min para uma nova pesagem a fim de verificar se a massa da amostra já havia se estabilizado. Foi realizada a repetição desse procedimento até que a variação de massa fosse menor que 0,2%. Para o cálculo do percentual de umidade a Equação (1) foi utilizada. 𝑼(%) = (𝑴𝒊 − 𝑴𝒇) (𝑴𝒊 − 𝑴𝒓) × 𝟏𝟎𝟎 (𝟏) Onde: 𝑴𝒓: Massa do recipiente (g); 𝑴𝒊: Massa inicial da amostra (g); 𝑴𝒇: Massa final da amostra (g). O teor de cinzas (CZ) foi determinado seguindo a norma ASTM E I755- 01. O procedimento experimental foi feito em triplicada, onde os cadinhos foram identificados e pesados vazios e aproximadamente 2,0 g de amostra foram colocados em cada cadinho e em seguida, inseridos dentro do forno tipo mufla EDG 7000 e aquecidos a 600 ± 25 °C, com taxa de 10 °C/min e permanência por 3h. Posteriormente os cadinhos resfriados até a temperatura ambiente para obtenção da sua massa final. O teor de cinzas foi obtido a partir da Equação (2): 𝐶𝑍(%) = 𝑀𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 − 𝑀𝑐𝑎𝑑 𝑀𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 − 𝑀𝑐𝑎𝑑 × 100 (2) Onde: 𝑀𝑐𝑎𝑑: Massa do cadinho (g); 𝑀𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙: Massa inicial da amostra seca (g); 𝑀𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙: Massa de cinzas encontrada no final (g). O teor de voláteis (MV) foi determinado seguindo a norma ASTM E872-85, esse 24 método é utilizado para determinar o teor porcentual de vapores liberados na decomposição da amostra de biomassa. Aproximadamente 2,0 g de amostra foram colocadas em um cadinho previamente pesado, e colocado sem tampa no forno tipo mufla EDG 7000 a 750°C por 7 minutos. Após essa etapa o cadinho foi retirado do forno e colocado no dessecador. A perda de massa foi obtida a partir da Equação (3): 𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 (%) = 𝑊𝑖 − 𝑊𝑓 𝑊𝑖 − 𝑊𝑐 × 100 (3) 𝑊𝑐: Massa do cadinho + tampa (g); 𝑊𝑖: Massa inicial da amostra (g); 𝑊𝑓: Massa final da amostra (g). O teor de carbono fixo é uma medida indireta determinada a partir da Equação (4): 𝐶𝑎𝑟𝑏𝑜𝑛𝑜 𝐹𝑖𝑥𝑜(%) = 100 − (𝑡𝑒𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑣𝑜𝑙á𝑡𝑒𝑖𝑠 + 𝑡𝑒𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑐𝑖𝑛𝑧𝑎𝑠 + 𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒) (4) 4.1.2 Densidade Aparente A densidade aparente de cada biomassa analisada foi obtida experimentalmente de acordo com a norma ASTM E 873-82, onde a massa da amostra (g) é dividida pelo volume (cm³) por ela ocupado em uma proveta graduada (3 mL). O procedimento foi realizado em triplicata, determinando a média e desvio padrão. 4.1.3 Análise Composicional As análises foram executadas no Laboratório de Nutrição Animal da UFRN. Celulose e hemicelulose. Para determinação dos teores de celulose e hemicelulose utilizou-se a metodologia com adaptação do método de Van Soest (1967), descritas em INCT-CA: F-001/1; F-002/1; F- 003/1 e F-004/1. Para determinação do teor de celulose, hemicelulose foram realizados ensaios de Fibra em Detergente Ácido (FDA) e Fibra em Detergente Neutro (FDN). Utilizou-se o teor de fibra em detergente neutro (FDN) para ocorrer a separação das fibras insolúveis no meio (celulose, hemicelulose, lignina) e em seguida aplicou-se a fibra em detergente ácido (FDA), para a solubilização do conteúdo celular e hemicelulose. Utilizou-se cerca de 0,55 g da 25 amostra, e a análise em aparelho analisador de fibras Ankon2000. As Equações (5) e (6) foram utilizadas as para obter os valores referentes a FDN e FDA: %𝐹𝐷𝑁 = %𝐹𝐷𝑁𝐴𝑆𝐴 %𝐴𝑆𝐸 × 100 (5) %𝐹𝐷𝐴 = %𝐹𝐷𝐴𝐴𝑆𝐴 %𝐴𝑆𝐸 × 100 (6) Onde: 𝐹𝐷𝑁 = fibra em detergente neutro; 𝐹𝐷𝐴 = fibra em detergente ácido; %𝐹𝐷𝑁𝐴𝑆𝐴 = % de fibra em detergente neutro com base na amostra seca; %𝐹𝐷𝐴𝐴𝑆𝐴 = % de fibra em detergente ácido com base na amostra seca; 𝐴𝑆𝐸 = % de amostra seca em estufa. Para obter os valores referentes a quantidade de celulose e hemicelulose, utilizou-se as Equações (7) e (8): %𝐶𝑒𝑙𝑢𝑙𝑜𝑠𝑒 = 𝐹𝐷𝐴(%) 𝐿𝐼𝐺(%) (7) Onde: 𝐹𝐷𝐴 = fibra em detergente ácido; 𝐿𝐼𝐺 = lignina. %𝐻𝑒𝑚𝑖𝑐𝑒𝑙𝑢𝑙𝑜𝑠𝑒 = 𝐹𝐷𝑁(%) 𝐹𝐷𝐴(%) (8) Onde: 𝐹𝐷𝐴 = fibra em detergente ácido; 𝐹𝐷𝑁 = fibra de detergente neutro. 4.1.4. Lignina O teor de lignina foi determinando pelo método da hidrólise ácida descrita pela 26 metodologia INCT-CA F-005/1. Foram inseridos 0,8 g em sacos de tecido não tecido (TNT), colocando-os em potes com 80 mL de detergente ácido sulfúrico (12 M) e em seguida, colocados em autoclave a 105 °C por uma hora, para que ocorresse a extração de todos os componentes solúveis em detergente ácido. Para obter o valor da lignina foi utilizada as Equações (9) e (10). %𝐿𝐼𝐺𝐴𝑆𝐴 = 𝑅𝑒𝑠 (𝑔) − 𝑅𝑀(𝑔) 𝐴𝑆𝐴(𝑔) ∗ 100 (9) %𝐿𝐼𝐺𝑀𝑆 = %𝐿𝐼𝐺𝐴𝑆𝐴 %𝐴𝑆𝐸 ∗ 100 (10) Onde: %𝐿𝐼𝐺𝐴𝑆𝐴 = percentual de lignina com base na amostra seca; 𝑅𝑒𝑠 = Massa do resíduo após tratamento com ácido sulfúrico; 𝑅𝑀= Massa do resíduo mineral; ASA = Massa da amostra seca; %𝐿𝐼𝐺𝑀𝑆 = % de lignina na amostra; %𝐴𝑆𝐸 = % de amostra seca. 4.1.5 Análise Termogravimétrica (TGA) A avaliação do comportamento térmico foi realizada em uma balança termogravimétrica TGA Q500 da TA Instruments em atmosfera de N2 (99,999 %) e ar sintético (99,999 %), de 30-900°C, com taxa de aquecimento de 10°C min-1, utilizando aproximadamente 12 mg de biomassa 4.2. Poder calorífico O poder calorífico superior (PCS) foi determinado de acordo com a ASTM E711-87, utilizando-se uma bomba calorimétrica IKA da Parr Instrument ® a 30 atm. O poder calorífico superior foi estimado com base na equação de correlação com a análise imediata proposta por Parikh et al. (2005). 4.3. Análise de fluorescencia de raio X As análises de fluorescência de raios X das amostras das cinzas das biomassas da 27 catingueira, pereiro e imburana foram realizadas com o objetivo de se obter informações acerca de suas composições quimicas inorgânicas e, deste modo, saber quais elementos e em que proporções são encontradas nas biomasas. O equipamento utilizado for da marca Shimatzu, modelo EDX-720, localizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 4.4. Pirólise A pirólise da biomassa foi realizada a 500°C em um pirolisador Py-5200 HP-R da CDS Analytical ® acoplado a um cromatógrafo a gás (GC / MS) 3900 VARIAN com uma coluna cromatográfica VF-5ms (30 mx 0,25 mm x 0,1 µm). Os gases produzidos foram arrastados sob um fluxo de 50,0 mLmin-1 de N2 (99,999%) e armazenados em um trap de Tenax, onde são dessorvidos a 300 ºC e injetados no cromatógrafo, e separados na coluna cromatográfica. A identificação dos picos cromatográficos foi realizada porsimilaridade espectral maior que 85%, após uma análise detalhada de cada espectro utilizando a biblioteca comercial NIST 28 Resultados e Discussão _____________________________ 29 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO __________________________________________________________________________ O Mapa apresentado na Figura 10 apresenta a localização do complexo eólico de onde obtivemos dados para execução desse estudo. Figura 10 Localização do complexo eólico Fonte: CRN Bio, 2021 Foram identificadas 9 espécies nativas que sofreram desmatamento durante a etapa de instalação do empreendimento eólico, como mostra a Tabela 2. Tabela 2 Espécies florestais encontradas e coletadas na área do empreendimento NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR AMEAÇADA DE EXTINÇÃO DE ACORDO COM A CNCFlora Griffinia gardneriana Grifinea Sim Myracrodruon urundeuva Aroeira Não Mimosa tenuiflora Jurema preta Não 30 Aspidosperma pyrifolium Pereiro Não Ceiba glaziovii Barriguda Não Caesalpinia ferrea Pau ferro Não Caesalpinia pyramidalis Catingueira Não Ziziphus joazeiro Juazeiro Não Mimosa verrucosa Jurema Branca Não Commiphora leptophloeos Imburana Não Fonte: CRN-Bio, 2021. A espécie Ceiba glazioviié é uma espécie pertencente a familia Malvaceae, sendo arbórea e conhecida popularmente como barriguda, possui amplitude ecológica exclusiva da região Nordeste brasileira. Podendo ser encontrada no bioma Caatinga. Por ter crescimento rápido, é importante para que se desenvolva em plantios mistos, principalmente na recuperação de áreas degradadas (RIBEIRO et al, 2020). Apesar de ser uma espécie tida como nativa nessa região, em determinadas áreas é encontrada em pouca quantidade de indivíduos, como no caso da área analisada onde foi encontrada apenas um indivíduo em torno da área de supressão vegetal, apresentado na Figura 11 a seguir. 31 Figura 11 Único indivíduo de barriguda encontrado ao entorno da área de supressão. Fonte: CRN Bio Ambiental e arqueologia, 2021 Dentre as espécies encontradas na área de supressão vegetal, a Caesalpinia ferrea, o Pau ferro da caatinga, foi a espécie de menor incidencial, não superando o numero de dois indivíduos. Assim como o juazeiro, por isso, mostrou-se insignificante apresentar seus potenciais no presente trabalho, já que tratam-se de espécies que não sofreram potencial degradação. Enquanto a catingueira foi a espécie mais abundante e quem mais sofreu supressão. A aroeira apresentou-se numa quantidadde consderável e necessitou de uma atenção maior pois durante a elaboração do Relatório ambiental simplificado (RAS) estava presente na lista de espécies ameaçadas. Porem durante a implantação do complexo eólico a espécie já não constava mais na lista. A jurema branca e preta são espécies abundantes na área de caatinga e no local selecionado para ser feita a supressão vegetal não foi diferente, contudo existem bastante estudos que apontam o potencial de tais espécies. 5.1. Coleta de dados durante a implantação de um parque eólico No projeto Jandaíra, a condicionante das autorizações de supressão vegetal, ASV’s, emitidas pelo IDEMA, visou preservar a Myracrodruon urundeuva (aroeira), como mostra a Figura 4, além das exigências do PRAD (Programa de Recuperação de área degradada) e reposição florestal. No entanto, além desta aroeira, foram identificados e resgatados 32 indivíduos da espécie Griffinia gardneriana (Griffínea) na área do complexo eólico, na qual se encontra ameaçada de extinção, de acordo com a Portaria MMA Nº 443/2014. A Griffinia gardneriana (Herb.) Ravenna pertence à família Amaryllidaceae, sendo conhecida popularmente por lírio. Essa espécie é endêmica no Brasil, com distribuição registrada na Caatinga e em áreas de restinga, mais especificamente nos estados da Bahia, Ceará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão, Minas Gerais e Rio de Janeiro e apresenta importância por ser fonte de alimento e água para a fauna presente na região, possuindo em suas raízes um bulbo semelhante a uma cebola, como mostra a Figura a seguir. Figura 12: G. Gardneriana Fonte: CRN Bio ambiental e arqueologia, 2021 A espécie se caracteriza, morfologicamente, por apresentar bulbos subterrâneos, folhas longas e largas, de coloração verde-escura com manchas acinzentadas. As flores estão reunidas em inflorescências do tipo escapo e apresentam simetria bilateral, coloração lilás ou branca e tépalas formando um tubo alongado, conferindo potencial ornamental à espécie. A antese floral ocorre no início da noite, quando as flores exalam odor adocicado. De acordo com Centro Nacional de Conservação da Flora (2017), as populações naturais de G. gardneriana encontram-se ameaçadas de extinção. 33 (A) (B) Figura 13 (A) Escavação para resgate de plântula. (B) Plântula de Aroeira resgatada Fonte: CRN Bio, 2021 Para que se tenha uma estimativa de quanto material lenhoso é retirado na supressão vegetal durante a implantação de um complexo eólico de 477,2 hectares, a empresa CRN Bio Ambiental e Arqueologia disponibilizou dados, referente a licença emitida pelo IDEMA autorizando a retirada de 1823,55 estéreos de lenha das espécies apresentadas na Tabela 2. Quantidade relativamente alta por se tratar de um bioma severamente degradado antropicamente. 34 5.2. Análise imediata A Tabela 3 apresenta os resultados da análise imediata,densidade aparente, e poder calorífico das espécies estudadas. Tabela 3 Caracterização física, análise imediata e poder calorífico do pereiro, catingueira e imburana INDIVÍDUOS Pereiro Catingueiro Imburana Caracterização Física Densidade aparente (kg/m³) 268,7 ± 0,61 237,1 ± 0,10 126,5 ± 0,17 Análise Imediata Umidade (%) 7,11 ± 0,13 10,04 ± 0,06 10,85 ± 0,06 Materiais Voláteis (%) 89,57 ± 1,37 79,40 ± 0,26 78,5 ±1,81 Cinza(%) 0,77 ± 0,15 1,20 ± 0,10 2,84 ± 0,11 Carbono Fixo(%)* 2,55 9,45 7,81 Poder Calorífico Poder Calorífico Superior (MJ/kg) 18,39 ± 0,64 17,47 ± 0,20 17,99 ± 0,01 Poder Calorífico Inferior (MJ/kg) 17,58 16,66 17,18 As densidades das biomassas do pereiro, catingueira e imburana variaram entre 126 e 268 kg/m3, esses dados ´podem ser relacionados a caracterização de densidade energética e comportamento de cada material. Os valores de densidade do pereiro e Catingueira foram equivalentes a outras espécies nativas da região da catinga, como o Ziziphus joazeiro, que apresentou densidade aparente de 243 kg/m3 (FONSECA et al. 2020). E relativamente baixo quando se comparando a outra espécie nativa, a Myracrodruon urundeuva (aroeira), que 35 apresentou valores aproximados de 600 kg/m3 (SILVA, 2014). E a densidade aparente encontrada na biomassa da imburana indica uma baixa densidade energética da espécie, quando comparada a espécies nativas da região. A umidade da catigueira e imburana apresentaram valores próximos, em torno de 10%. Biomassa com percentual acima desse valor indica uma necessidade de secagem e dificuldade na ignição e combustão. Enquanto o pereiro apresentou umidade de 7%, indicando assim que pode ser uma biomassa adequada ao processo de conversão termoquímica. Os valores de materiais voláteis apresentaram valores equivalentes as demais espécies nativas da região, que variaram de 78% na imburana e 89% no pereiro. Os valores encontrados na literatura para Jurema Branca e Jurema preta foram de 87 e 80%, respectivamente (SANTOS et al, 2013). Indicando assim que tais biomassas apresentam matéria volátil em sua constituição. As biomassas pereiro e catingueira apresentaramteores de cinzas de 0,77 e 1,20% em sua constituição. Comparando-os a jurema branca e jurema preta, que obtiveram valores de 0,80 e 1,6%, respectivamente, segundo dados encontrados por Santos et al, (2020), e a aroeira com 1,08%, segundo Silva, (2014). Os valores encontrados no presente trabalho são coerentes com os valores encontrados na literatura das espécies nativas na mesma região, caatinga. Vale salientar que alto ter rde cinza afeta diretamente o potencial do poder calorífico. O poder calorífico superior (PCS), medida importante para que se conheça a capacidade energética de determinada biomassa, sofre interferência proporcional ao seu teor de cinzas. Difere do poder calorífico inferior (PCI) por ser a soma da energia liberada na forma de calor e a energia gasta na vaporização da água, conhecida como reação de oxidação, enquanto o poder calorífico inferior é dada através da perda de energia liberada em forma de calor. Diante disso, os valores obitidos neste trabalho de PCS se apresentaram maiores que o PCI. Quanto maior o teor de cinza mais baixo é o poder calorífico. O presente trabalho identificou uma valor de poder calorifico de 17,99 MJ/kg-1 para a biomassa da imburana, representando um valor correspondente ao apresentado na literatura por Justino, (2020), que foi de 18.74MJ/Kg-1 para a mesma espécie em área de caatinga. Enquanto o pereiro apresentou poder calorífico de 18,39 MJ/kg-1 equivalente ao encontrado por Carvalho, (2018) no Ziziphus joazeiro (Juazeiro), 16.80 MJ/kg-1, podendo se relacionar por se tratar de espécies nativas da mesma região com caracteristicas fisicoquimicas aproximadas. A biomassa que apresentou menor poder calorífico foi a catingueira, com 17,47 MJ/kg-1 apresentando semelhança com o poder calorífico encontrado na catingueira analisada também por Carvalho, (2018) com poder calorífico de 17.60 MJ/kg-1 e inferior ao encontrado na jurema preta , com 20.50 MJ/kg-1, indicando assim que possui menor potencial energético, dentre as biomassas analisadas neste trabalho. 36 5.3. Teor de celulose, hemicelulose e lignina A Tabela 4 apresenta os teores de celulose, hemicelulose e lignina identificados nas biomassas estudadas. E mostra que os valores da porcentagem de celulose na imburana e pereiro foram bem aproximados, 46,26 e 42,64%, respectivamente. Enquanto a catingueira apresenta um teor mais baixo, de 39,03%. Tais valores são condizentes com encontrados na literatura para espécies nativas da Caatinga. A catingueira foi a que apresentou maior porcentagem de hemicelulose e menor em lignina, esse resultado ratificando a teoria explicada por Oliveira (2003), em que maiores quantidades de cinzas na madeira são decorrentes de menores teores de lignina (SILVA, 2014). O fato da imburana apresentar um alto percentual de lignina (30,61%), pode estar ligado ao percentual do carbono fixo encontrado, o segundo maior dentre as biomassas analisadas (7,81%). É importante ressaltar que a soma das porcentagens de celulose, hemicelulose e lignina de cada biomassa não chegam ao valor de cem por cento, pois a diferença encontrada se deve ao teor de extrativos. E a metodologia utilizada não apresenta etapa de extração. Tabela 4 Teores de celulose, hemicelulose e lignina encontrados nas biomassas da imburana, pereiro e caingueira Celulose (%) Hemicelulose (%) Lignina (%) Imburana 46,26 13,48 30,61 Pereiro 42,64 11,34 29,76 Catingueira 39,03 19,79 19,11 5.4. Análise termogravimétrica As Figuras 14,15 e 16 mostram as curvas de perda de massa e da DTG em função da temperatura para as biomassas de catingueira, imburana e pereiro em nitrogênio (N2). 37 Figura 14 Curvas termogravimétrica (TG/DTG) da catingueira A catingueira apresentou a primeira perda de massa de aproximadamente 10% entre 28-100ºC, referente a perda de umidade da biomassa. O segundo e maior evento de perda de massa (60%) ocorreu entre 250 a 350 ºC está associado ao teor de voláteis do material assim como pode estar relacionado as perdas de compostos da madeira que são a celulose, hemicelulose e lignina. Ao final da análise em 900 °C foi observado aproximadamente 12 % de material resídual que pode ser relacionado ao conteúdo de carbono fixo mais cinzas, como confirma as análises imediatas apresentadas anteriormente. Figura 15 Curvas termogravimétricas (TG/DTG) da imburana 38 A imburana apresentou a primeira perda de massa de aproximadamente 8% entre 28- 100ºC, referente a perda de umidade da biomassa. Já o segundo e maior evento de perda de massa, de aproximadamente 85% ocorreu entre as temperaturas de 250 a 500 ºC está associado ao teor de voláteis do material. Ao final da análise em 900 °C foi observada menos de 10% do material, relacionado a cinzas e carbono fixo existente na biomassa. Essa porcentagem também é ratificada com as análises imediatas apresentadas na tabela 3. Figura 16 Curvas termogravimétricas da pereiro Enquanto a biomassa do pereiro apresentou uma primeira curva de perda de massa, de aproximadamente 10%, ocorrida entre as temperaturas de 30 e 100ºC, essa perda está relacionada à perda de umidade da biomassa, como confirmou a análise imediata realizada na biomassa. E em seguida indicou uma curva maior, apresentando cerca de 88% de perda de massa entre as temperaturas de 280 a 590 ºC, quantidade referente aos voláteis . Além disso, apresentou cerca de 2% relacionado ao conteúdo de carbono fixo mais cinzas, como mostra a análise imediata, que apresentou o pereiro como o menor percentual de cinzas e carbono fixo das biomassas analisada neste trabalho. Desta forma é possível relacionar as composições das biomassas estudadas por apresentarem perdas de massa dividida em dois eventos, sendo o segundo maior que o primeiro tanto na catingueira, como na imburana e pereiro. Os resultados das análises imediatas confirmam o teor de voláteis, cinzas e carbono fixo. Tais resultados apresentam semelhanças com as análises termogravimétricas realizadas por Neto, (2021) que verificou a queima da biomassa do pereiro e a catingueira apresentando características bem 39 semelhantes e , com picos de degradação próximos, com intensidades semelhantes. Além de Santos (2018) que também veriguou a perda de massa relacionada ao aumento da temperatura da catingueira e do pereiro, ratificando os resultados encontrados no presente trabalho. A Tabela 5, a seguir mostra os elementos encontrados nas cinzas das biomassas da catingueira, pereiro e imburana após análise de fluorescencia de raio x. O Cálcio e Potássio foram os elementos encontrados em maiores porcentagens nas cinzas das diferentes biomassas, confirmando a existencia de diversas espécies inorganicas em sua composição. Tabela 5 Elementos encontrados na análise de FRX das cinzas da biomassa da catingueira, pereiro e imburana Elemento Percentual (%) catingueira pereiro Imburana Cálcio 80,12 65,33 37,61 Potássio 18,78 32,45 57,59 Ferro - 2,03 2,34 Sílica - - 1,66 Outros 1,11 0,36 0,80 Esses resultados são compatíveis aos encontrados por Avelar (2013), que analisou uma biomassa de origem florestal também. Porém, tais resultados apresenta-se relativamente baixos quando se comparado a estudo realizado por Félix (2018), em biomassa advinda do Eucalipto. 5.5. Pirólise O processo de pirólise analítica é importante para que se possa descrever a respeito das características da biomassa estudada, pois pode auxiliar na identificação dos principais componentes que são liberados no processo. A Tabela 6 mostra quais foram os componentes encontrados nas amostras da biomassa de catingueira, imburana e pereiro, respectivamente, em porcentagem. 40 Tabela 6 compostos resultantes da pirólise da biomassa da catingueira, imburana e pereiro Tempo de Retenção (min)Composto Fórmula Catingueira Área (%) Imburana Área (%) Pereiro Área (%) 2,20 C1-C4 C1-C4 7,36 6,22 5,08 3,23 Ácido acético C2H4O2 18,96 15,63 12,19 3,83 C1-C4 C1-C4 8,00 10,30 8,90 5,76 C1-C4 C1-C4 5,62 4,07 4,23 5,99 1,3- dioxano C4H8O2 2,94 2,55 3,62 6,15 N.I - 3,54 1,89 2,77 7,16 3- furaldeído C5H4O2 4,30 3,07 3,29 7,61 2- furanmetanol C5H6O2 5,18 2,54 3,57 8,94 Ciclopentanona C5H8O 2,33 2,20 2,07 9,17 2-hidroxi-2- ciclopentenona-1- 5,27 4,25 4,84 10,34 Fenol C6H6O - 3,68 - 10,80 N.I - 3,46 1,48 11,40 2-hidroxi-3-metil- 2- ciclopenten-1- ona C6H8O2 2,10 2,94 2,91 12,32 4- metilfenol C7H8O 2,48 12,74 Mequinol C7H8O2 3,19 2,48 8,36 12,82 2,7-dimetil-octano C10H22 2,88 2,98 2,44 13,31 2-hidroxi-3,5- dimetilciclopent-2- en-1-ona C7H10O2 0,93 0,92 0,62 14,77 2-metoxi-5- metilfenol C8H10O2 3,08 3,29 7,48 16,38 4-etil-2- metoxifenol C9H12O2 0,82 1,81 2,44 17,00 2-metoxi-4- vinilfenol C9H10O2 6,07 11,59 10,48 17,62 2,6- dimetoxifenol C6H10O3 5,60 6,99 2,30 17,76 Eugenol C10H10O2 1,12 1,09 2,34 2-metoxi-4- (1- propenil) -fenol C10H12O2 0,65 0,85 1,33 19,22 1,2,4- trimetoxibenzeno C9H12O3 2,39 0,96 - 19,31 2-metoxi-6- (2- propenil) -fenol C10H12O2 4,23 5,23 7,28 A Tabela 6 apresenta que os compostos mais expressivos presentes nas amostras das três biomassas são pertencentes da família dos fenóis. Onde a biomassa do pereiro exibe 41 a maior porcentagem (42%) dessa classe de compostos. Enquanto a biomassa da imburana expõe 40,45%, seguida da biomassa da catingueira que exibe 27,15%. Os fenóis são classificados como compostos oxigenados aromáticos capaz de manifestar um efeito negativo sobre o bio-óleo, quando se deseja obtê-lo com a finalidade de o tornar combustível devido às reações de oxidação, o que faz com que este se configure com certa instabilidade (CHAGAS et al., 2016). Os compostos oxigenados de menor massa molécular, ou seja, os que contém entre 1 a 4 átomos de carbono (C1-C4), também apresentaram um percentual considerável na composição das biomassas estudadas. Apresentando 20,98% do total da amostra da biomassa da catingueira, 20,59% na Imburana e 18,21% na biomassa do pereiro. Além desses compostos, foram encontrados outros pertencentes aos grupos das cetonas, furanos, ésteres, entre outros. A Figura 17 abaixo apresenta os resultados em porcentagem em área em relação às principais classes de compostos orgânicos apresentados nas pirólises das três biomassas analisadas Figura 17 Distribuição dos produtos da pirólise analítica por classe Fonte: Autor, 2022. Na imagem podemos afirmar que a classe do ácido acético apresentou a terceira maior proporção na composição das biomassas, com 18,96% na biomassa da catingueira. Valor considerável ao se comparar com espécies lenhosas, como o Eucalyptus urograndis, que apresentou 22,75% num estudo desenvolvido por Silva (2019). É importante observar que o pereiro foi a espécie que apresentou maior percentual de 42 fenol e a catingueira o menor percentual, esse resultado está relacionado a quantidade de lignina presente na biomassa. Além disso a pocentagem de ácido acético também sofre interferência com essa composição, porém de forma inversa. A catingueira pode apresentar uma maior porcentagem de C1-C4 por exibir uma maior quantidade de celulose. O 2-metoxi-4-vinilfenol é a susbtância aromática de maior destaque entre as biomassas apresentadas, sendo superior a 10% na composição da imburana e pereiro e acima de 6% na composição da catingueira. Diante desses resultados, frente a possíveis aplicações do bio-óleo da biomassa da catingueira, é possível referir o emprego de compostos como o ácido acético, pois é um valoroso produto químico industrial, cujo uso maior é como matéria-prima para fabricação do manômero acetato de vinila, precursor do ácido tereftálico empregado na fabricação do polietileno, o qual possui uma série de aplicações, tais como: fibras e garrafas, embora seja um composto indesejável na pirólise por promover o aumento da acidez do bio-óleo (SILVA, 2019) As modificações catalíticas na pirólise são indicadas também para aumentar a relação hidrogênio-carbono dos produtos finais. Além disso, a presença de catalisadores no processo de pirólise pode melhorar o rendimento e a qualidade dos produtos formados (SANTANA JÚNIOR, 2018). 43 Conclusões _____________________________ 44 6. . CONCLUSÕES __________________________________________________________________________ O resgate de flora se apresenta, de fato, como uma medida mitigatória dos impactos ambientais ocorridos durante a implantação de um parque eólico. E levando em consideração que se faz necessário que haja a supressão vegetal para que seja gerada energia limpa através dos ventos, a utilização da lenha das espécies catingueira, imburana e pereiro, nativas da região, para geração de energia através da queima se faz oportuna. As análises imediatas e poder calorifico apontam biomassas com potencial energético para queima e sua utilização como fonte de energia através da pelletização e produção de briquetes para a industria. Outrossim, sua composição apresenta caracteristicas semelhantes a demais espécies nativas do bioma caatinga, ja presentes na literaura que provam tais potenciais. Além disso, o produto pirolítico analisado por cromatografia a gás/espectrometria de massas confirmou grandes concentrações de fenóis (cerca de 42%, na biomassa do pereiro), apresentando-se assim como produto atrativo para diversas áreas da indústria, como por exemplo as indústrias de tintas, resinas fenólicas e pesticidas. E por conter em sua composição uma quantidade considerável de compostos oxigenados como é o caso das classes de cetonas e furanos, revela seu potencial para o aproveitamento energético tanto no aproveitamento dos produtos da pirólise na indústria química, quanto na queima direta. 45 Literatura Citada _____________________________ 46 7. LITERATURA CITADA ALNASIR, Z.; KAZERANI, M. An analytical literaturereview of stand-alone wind energy conversion systemsfrom generator viewpoint.Renewable And SustainableEnergy Reviews,v. 28, p.597-615, 2013. AMARANTE, Odilon A. C.,et al. Atlas do Potencial Eólico Brasileiro. Brasília: MME, 2001. AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – ANEEL. Banco de informações de geração. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br> . AQUILA, G. Análise do impacto dos programas de incentivos para viabilizar economicamente o uso de fontes de energia renovável. [Dissertação]. Itajubá: Universidade Federal de Itajubá, 2015 AVELAR, Karen Pereira Batista de. Estudo da influência da temperatura na degradação termoquímica da biomassa de avelós. 2013. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. AZEVEDO, João Paulo Minardi; DO NASCIMENTO, Raphael Santos; SCHRAM, Igor Bertolino. Energia eólica e os impactos ambientais: um estudo de revisão. Revista Uningá, v. 51, n. 1, 2017. Balanço Energético Nacional 2021: Ano base 2020 / Empresa de Pesquisa Energética. – Rio de Janeiro : EPE, 2021. Brazilian Energy Balance 2021 Year 2020 / Empresa de Pesquisa Energética – Rio de Janeiro: EPE, 2021. BARRUS, E. Projeto Imburana. Revista ECO-Pós, [S. l.], v. 23, n. 2, 2020. Disponível em: https://revistaecopos.eco.ufrj.br/eco_pos/article/view/27634. Acesso em: 10 jan. 2022. BEZERRA, Francisco Diniz. Energia eólica no Nordeste. Caderno Setorial ETENE. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, ano 4, n.66. fev.,2019. (Série Caderno Setorial ETENE, n.66) BRASIL, Flora do 2020. Burseraceae in Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB16657>.
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