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INVENTARIAMENTO DE FLORA - 02

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INVENTARIAMENTO DE FLORA 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Dayane May 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Levantamento florístico: levantamento de espécies nativas 
O levantamento florístico consiste em listar todas as espécies vegetais 
existentes em uma determinada área. As coleções de herbário permitem a 
documentação permanente da composição florística de áreas que se modificam 
ao longo do tempo, seja pela ação antrópica ou por efeito de eventos e 
perturbações naturais que alteram irremediavelmente a cobertura vegetal. 
As exsicatas documentadas nos herbários são instrumentos didáticos 
para estudos de reconhecimento da flora de um determinado local ou região. 
Também são referências para o desenvolvimento de pesquisas, teses, 
dissertações e monografias sobre os mais variados aspectos da Botânica, 
práticas de conservação, manejo e educação ambiental. 
Desta forma, o levantamento florístico contribui para o conhecimento da 
composição florística e pode gerar subsídios para o desenvolvimento futuro de 
projetos relacionados à pesquisa, ensino e extensão com foco em práticas de 
conservação, manejo e educação ambiental além de proporcionar a prática 
científica através da elaboração, montagem, acompanhamento e finalização de 
um projeto de pesquisa; reconhecer as categorias sucessionais das espécies 
identificadas e identificar necessidades de manejo. 
Objetivos: 
• Compreender acerca dos procedimentos para a execução de 
levantamentos florísticos a fim de delinear a composição da vegetação. 
• Compreender as técnicas de coleta e materiais utilizados para a 
amostragem de espécimes. 
• Compreender os procedimentos para a herborização do material botânico 
e confecção de exsicatas. 
• Organizar em um padrão de classificação taxonômico. 
• Interpretar a listagem de espécies amostradas em uma determinada área, 
considerando o espectro biológico e a fitofisionomia de uma região. 
 
 
 
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TEMA 1 – ESTUDO QUALITATIVO DA FLORA 
A identificação das espécies de uma comunidade e a análise de sua 
estrutura são fundamentais para o manejo adequado de uma formação, 
facilitando o desenvolvimento de planos de gestão e conservação, bem como 
programas de monitoramento. Representa, ainda, uma etapa no conhecimento 
de um ecossistema por fornecer informações básicas aos estudos biológicos 
subsequentes (Cardoso-Leite, 2013). 
Somente a partir da realização de estudos sobre a flora e a estrutura das 
comunidades vegetais, em número suficiente para se permitir uma massa crítica 
para que seja possível elaborar um modelo teórico de manejo e conservação 
adequado. O conhecimento da biota dos fragmentos, na maioria das vezes 
encontradas sobre a forma de Unidades de Conservação, é de suma importância 
para a manutenção e conservação das espécies. 
A elaboração de estratégias de conservação depende da aquisição de 
dados coletados por meio de experimentos científicos em universidades e 
institutos de pesquisa, que subsidiam programas de conservação e manejo. 
Ainda, os levantamentos florísticos fornecem informações para a compreensão 
dos padrões biogeográficos e auxiliam na determinação de áreas prioritárias 
para a conservação (Cervi et al, 2007). 
Os levantamentos florísticos são determinantes para estabelecer divisões 
fitogeográficas e importantes para o manejo de áreas verdes, bem como para o 
planejamento e manutenção. Visa identificar as espécies que ocorrem em uma 
determinada área geográfica e representa uma importante etapa no 
conhecimento de um ecossistema por fornecer informações básicas aos estudos 
biológicos subsequentes, tornando impossível a não utilização desse material 
como ferramenta na conservação ambiental (Rodrigues et al, 2012). Ainda, o 
levantamento pode ser utilizado para análise de dados, verificação de hábitos, 
estudo das áreas de: fitossociologia, sistemática, taxonomia, ecologia e história 
natural do ecossistema observado (Pesamosca; Ludtke, 2013). 
Sendo assim, os levantamentos qualitativos ampliam os conhecimentos 
da flora local e contribuem para o manejo e conservação, dando suporte para 
futuras pesquisas relacionadas à fitossociologia, conservação, manejo e 
contribuem para desenvolvimento de atividades de educação ambiental. 
 
 
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A execução dos estudos florísticos pode ser por meio do levantamento de 
dados secundários ou em campo a fim de delinear a composição da vegetação. 
1.1 Levantamento de dados secundários 
Consiste na obtenção de dados secundários sobre as espécies vegetais 
já registradas em uma determinada área. Na grande maioria dos casos, são 
informações de obtenção mais rápida, mais acessível e mais barata do que os 
dados primários. O meio digital, tecnologia e plataformas de acesso, 
comunicação e armazenamento de dados ampliam a facilidade bem como a 
quantidade de informações disponíveis para o pesquisador. Os dados 
secundários podem compreender: 
• Levantamentos documentais: são informações que a organização 
mantém em seus arquivos. 
• Levantamentos bibliográficos: são consultas sobre o assunto feitas em 
livros, revistas especializadas, artigos acadêmicos, dissertações e teses, 
além de informações publicadas em jornais, associações de classe, 
sindicatos etc. 
1.2 Levantamento de campo 
O levantamento florístico da vegetação com ocorrência em uma 
determinada área é realizado por meio de coletas periódicas em que são 
amostradas todas as espécies florísticas encontradas. O material botânico é 
coletado, herborizado e catalogado, quando possível. Para a determinação das 
espécies, são utilizadas bases bibliográficas especializadas, chaves de 
identificação, consulta a especialistas e comparação com o acervo de herbários, 
quando necessário. 
A relação entre os dados coletados e os já existentes em listas 
secundárias devem ser comparados com o intuito de identificar as espécies que 
não haviam sido observadas em outros estudos, sendo destacadas as espécies 
com difícil ocorrência na região ou com poucas coletas registradas. levando em 
consideração aspectos ecológicos, como o hábito da espécie (árvore, arbusto, 
erva, epífitas, lianas, palmeiras). 
 
 
 
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TEMA 2 – COLETA E AMOSTRAGEM DE ESPÉCIMES 
As técnicas de coleta e materiais utilizados para a amostragem de 
espécimes dependerá do nível de detalhamento, que serão definidos de acordo 
com os objetivos, necessidades, período e recursos disponíveis de cada estudo. 
Pode ser feita uma abordagem generalizada contemplando as espécies 
arbóreas, mas também ser ampliado para outros aspectos ecológicos 
relacionados ao hábito, como o levantamento de espécies herbáceas, 
arbustivas, lianas, epífitas e saprófitas. 
Ainda, as espécies ameaçadas de extinção podem ser classificadas de 
acordo com o grau de ameaça estadual, nacional, internacional. As listas 
estaduais são organizadas pelas Secretarias de Meio Ambiente ou órgãos 
ambientais de cada Estado. A lista nacional é organizada pelo Ministério do Meio 
Ambiente (MMA) e é fundamental para guiar os licenciamentos e fiscalizações 
ambientais no país. A lista mundial é organizada pela União Internacional para 
Conservação da Natureza (IUCN), que descreve as ações prioritárias para 
combater as ameaças que colocam em risco as espécies descritas. 
2.1 Definição da área e época de coleta 
As coletas devem amostrar todas as espécies encontradas 
preferencialmente em estágio fértil, de modo a abranger toda área de estudo ou 
que seja representativa, de modo que permita atender aos objetivos propostos. 
Para tanto, torna-se necessário o planejamento da época e horário das 
expedições de campo, sendo recomendadas as coletas pela manhã e nas 
estações de primavera e verão, mas que podem variar de acordo com a 
fisionomia da vegetação. 
Se viável e necessário, realizar o monitoramento de indivíduos ao longo 
do ano para obtenção de material fértil. Deve-se evitar períodos chuvosos ou em 
que a vegetaçãoarbórea perde as folhas, para fisionomias deciduais ou 
semideciduais (Machado; Barbosa, 2010). 
A morfologia da parte aérea do vegetal pode apresentar variações de 
acordo com o ambiente, época e condições nutricionais. Desta forma, indivíduos 
da mesma espécie podem variar na consistência da folha, no tamanho e outras 
características. Portanto, o material botânico encontrado deve ser coletado, 
herborizado e determinado para a conferência de gêneros e espécie. 
 
 
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2.2 Materiais utilizados na coleta botânica 
Para a realização de um levantamento de campo, são necessários 
materiais que vão auxiliar na localização, coleta e identificação do material 
botânico. 
• Tesoura de poda: utilizada para a coleta de amostras e redução do 
material coletado, sendo mantido apenas o tamanho e número necessário 
para montagem das exsicatas, preferencialmente fértil, ou seja, com flores 
ou frutos. 
• Binóculo: amplia o campo de visão, auxilia na localização do material fértil, 
principalmente em indivíduos arbóreos altos, e na identificação das 
espécies em campo. 
• Caderno de anotações: para inserir as informações com o local e a data 
de coleta, o coletor, o tipo de vegetação, o hábito de crescimento, o nome 
vulgar regional e, principalmente, as características do indivíduo que são 
perdidas nas coletas, por exemplo: cor da flor, cheiro, presença de látex, 
tipo de tronco, entre outras características relevantes. 
• Lápis grafite ou caneta: para anotações ou marcações dos materiais 
vegetativos coletados. As marcações de caneta podem ser perdidas ou 
borradas se eventualmente forem molhadas. Já as marcações a lápis são 
mantidas caso o mesmo ocorra, sendo, portanto, preferencial para uso 
em campo. 
• Fita-crepe: a numeração de todo material botânico coletado deve constar 
para a identificação, com a marcação de cada indivíduo em um pedaço 
de fita-crepe. 
• Saco de coleta: utilizado para acondicionar em campo o material botânico 
coletado. 
• Prensa de campo: feita com jornal e papelão para acondicionar o material 
coletado. É fechada com corda elástica ou barbante. 
• Canivete: auxilia na verificação de determinadas características em 
campo, como retirada de casca para averiguar cor e odores, verificação 
da presença de látex e dureza da madeira. 
• GPS ou instrumentos de localização geográfica: para anotar pontos 
específicos da área de coleta, de acordo com os objetivos do estudo. O 
 
 
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GPS indica ao usuário sua localização precisa em termos de latitude, 
longitude e altitude. 
• Tesoura de alta poda (Podão): para coleta de indivíduos arbóreos. 
Consiste no uso de ganchos ou tesouras de poda acopladas a uma das 
extremidades de uma vara de alumínio, de aproximadamente 2m, que, 
acopladas às outras varas de tamanho igual, permite alcançar uma altura 
de até 9m. A coleta se dá por tração mecânica de um cordel amarrada à 
tesoura de poda. Esse equipamento é de fácil uso e transporte em campo, 
porém, tem alcance de altura limitado entre 15 e 20 metros. 
Além da coleta manual ou com tesoura de alta poda, o material botânico 
pode ser coletado por métodos de escalada (com o uso de equipamentos de 
segurança, como cadeiras, cordas, roldanas e travas), uso de esporões presos 
nos calçados para subida em árvores e sustentação, uso de estilingue ou até 
mesmo espingarda, os quais permitem fazer coletas a grandes alturas, muitas 
vezes inacessíveis por outros métodos. 
A Figura 1 mostra etapas da coleta do material botânico e alguns materiais 
como a prensa de campo e o saco para acondicionamento durante a expedição 
de campo. 
Figura 1 – Levantamento de campo com a coleta do material botânico 
 
Fotos: Dayane May. 
TEMA 3 – HERBORIZAÇÃO E PREPARAÇÃO DE EXSICATAS 
Os herbários são locais para a realização dos registros das plantas e de 
consulta para determinação de espécies, as exsicatas são armazenadas em 
 
 
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coleções científicas registradas e incorporadas ao acervo (Machado; Barbosa, 
2010). 
As exsicatas documentadas em um herbário são referências de 
informações atualizadas e materiais para estudos de reconhecimento da flora de 
um determinado local ou região. Ainda, contribuem para o desenvolvimento de 
pesquisas científicas nas áreas da Botânica, conservação, manejo e educação 
ambiental. 
Para a herborização do material botânico, secagem e confecção de 
exsicatas são comuns alguns procedimentos manuais, mas que podem variar de 
acordo com os materiais e estrutura disponíveis. A Figura 2 ilustra a planta em 
seu ambiente e após ser coletada e herborizada. 
Figura 2 – Aechmea distichantha no ambiente; após o processo de herborização 
e confecção de exsicata 
 
Fotos: Dayane May. 
3.1 Materiais utilizados na herborização 
As amostras do material botânico coletadas em campo deverão ser 
prensadas em jornal e papelão de modo alternado, sendo colocadas uma a uma, 
junto com as informações de família, data e coletor. O jornal deve ser checado 
periodicamente, de modo a trocar o jornal úmido por seco até as amostras 
estarem completamente secas. 
• Prensa: irá acondicionar o material durante o processo de secagem e 
deverá efetivar a compressão da pilha formada pela sobreposição das 
camadas. Entre as camadas de papelão e jornal, podem ser utilizadas 
 
 
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folhas de alumínio enrugadas para auxiliar na passagem do ar quente e 
acelerar a secagem. A prensa é fechada com tábuas de madeira que irão 
pressionar o material botânico entre jornais, papelões e placas de 
alumínio enrugadas. Após, as prensas irão para a estufa de secagem para 
o material ser desidratado integralmente. 
• Estufa para secagem: podem ser equipamentos próprios para a secagem 
do material, bem como serem construídas ou improvisadas. Contêm 
lâmpadas incandescentes ou próprias para estufa, ou mesmo a gás, que 
mantém a temperatura em torno de 60°C. O tempo de secagem irá 
depender das características de cada planta, mas varia em torno de 72 
horas. 
A Figura 3 mostra os materiais utilizados na herborização e as etapas de 
secagem do material botânico. 
Figura 3 – Prensa aberta, acondicionamento do material botânico prensado e 
estufa de secagem 
 
Fotos: Dayane May. 
As amostras devem atender ao tamanho padrão das exsicatas. Portanto, 
os ramos e folhas que estiverem sobrepostos ou salientes deverão ser dobrados 
ou diminuídos no momento da prensagem, de modo a compor a melhor 
visualização das características da planta e seu armazenamento. Além disto, ao 
colocar a amostra entre os jornais e papelões, algumas folhas devem ser viradas 
para manter visíveis ambas as faces do limbo, tanto abaxial, quanto adaxial. As 
flores podem ser prensadas abertas para melhor visualização da morfologia 
interna. 
As flores e frutos são estruturas frágeis e podem se desprender durante a 
prensagem e secagem. Caso ocorra, estas deverão ser armazenadas em 
envelopes identificados e colocados junto à exsicata. 
 
 
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Flores, frutos ou partes muito sensíveis podem se desprender durante o 
processo de prensagem e desidratação. Essas estruturas devem ser 
armazenadas dentro de pequenos envelopes ou sacos de pão, devidamente 
rotulados com a identificação (coletor e número de coleta), para que não se 
percam e sejam colocadas juntamente à exsicata. Algumas flores devem ser 
prensadas abertas para melhor visualização das estruturas internas (Machado; 
Barbosa, 2010). 
3.3 Montagem das exsicatas 
Após a secagem, são montadas as exsicatas para incorporação no acervo 
de um herbário. As coleções botânicas são organizadas padronizadas em 
termos de tamanho, material de montagem e identificação. Desta forma, é 
possível que as mesmas sejam doadas, permutadas ou enviadas para outros 
herbários para identificação em todo mundo. 
Para a montagem da exsicata, as plantas desidratadas são costuradas ou 
coladas em folhas de cartolina de 29,5 x 42 cm. Deve ser colocada uma etiqueta 
ou rótulo de tamanho12 x 10 cm com a identificação e com as informações 
anotadas em campo para aquela amostra. As partes frágeis que se 
desprenderam no processo de secagem podem ser acondicionadas em um 
pequeno envelope no canto superior esquerdo da cartolina de montagem 
(Machado; Barbosa, 2010), conforme mostram os exemplos na Figura 4. 
 
 
 
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Figura 4 – Exemplo de exsicatas 
 
Piptocarpha axillaris Baker 
(Asteraceae) 
Tibouchina clinopodifolia (DC.) Cogn. 
(Melastomataceae) 
Fotos: Dayane May. 
As exsicatas finalizadas recebem uma capa protetora de 42 x 59 cm, 
geralmente de papel Kraft, que envolve a cartolina como o material já costurado. 
Do lado de fora dessa capa, deve-se escrever o número de registro da amostra, 
o nome da família e o nome científico. As repetições do material botânico são as 
duplicatas. Estas ficam acondicionadas em jornais, contendo as etiquetas, e 
ficam disponíveis para doações, trocas e envio para especialistas (Machado; 
Barbosa, 2010). 
Após a montagem das exsicatas, estas deverão ser cadastradas para 
serem incorporadas ao acervo de um herbário. Deverão passar por um processo 
de expurgo, que irá descontaminar e prevenir fungos e ataques de insetos. 
Depois de expurgadas, as plantas irão para o herbário, em que serão 
acondicionadas em armários de aço para consultas. É comum o uso de naftalina 
triturada para a conservação das exsicatas, que agirá como repelente de insetos. 
 
 
 
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TEMA 4 – ELABORAÇÃO DA LISTA DE TÁXONS 
A identificação das plantas normalmente é feita com o material reprodutivo 
(flores e frutos) e material vegetativo (ramos com folhas) e com auxílio e 
especialistas. No entanto, existem bibliografias especializadas e chaves de 
identificação, mas requerem conhecimento e familiaridade com a terminologia 
botânica. Outra forma de identificar é por comparação de material já coletado e 
identificado em herbários. As características da planta que foram anotadas na 
coleta de campo, como localização, tamanho, forma de vida, coloração, 
presença de espinhos, látex, odor característico, umidade do solo, entre outras, 
podem facilitar o trabalho de identificação. 
O sistema de classificação das angiospermas mais utilizado atualmente 
na identificação de famílias e gêneros é o APG IV (Angiosperm Phylogeny 
Group) (APG IV, 2016). Recomenda-se realizar uma rigorosa revisão dos nomes 
(principalmente gêneros e espécies) em locais especializados e atualizados, 
visto que ocorrem mudanças na nomenclatura taxonômica com o avanço dos 
estudos científicos. Para a verificação de sinonímias botânicas e grafias podem 
ser consultados diferentes bancos de dados como a Flora do Brasil Online 
(Reflora, 2023), Herbário Virtual SpLink (Splink, 2023) MOBOT (Missouri 
Botanical Garden, 2017), The International Plant Names Index (IPNI, 2023) e 
World Flora Online (WFO, 2023). 
A nomenclatura deve seguir o Código Internacional de Nomenclatura 
Botânica (ICBN), seguindo o sistema de escrita binomial (dois nomes) e em latim, 
sendo sua grafia em itálico ou subscrita. A primeira palavra é o gênero e deve 
ser escrito em letra maiúscula; a segunda é o epíteto específico, que pode ser 
um adjetivo, um nome relacionado ou um nome possessivo e deve ser escrito 
sempre em letra minúscula. 
A maioria dos epítetos específicos mencionam características da planta 
que podem ser morfológicas, ecológicas, ou químicas, a área de distribuição do 
táxon, o nome do primeiro coletor do táxon ou até mesmo uma homenagem. O 
epíteto específico é seguido pelo nome do autor, ou seja, a pessoa que 
descreveu o táxon pela primeira vez. Os nomes dos autores devem ser 
abreviados segundo uma lista de abreviaturas apropriadas. Exemplos: 
 
 
 
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• Polygala brasiliensis L. 
• Eryngium elegans Cham. & Schltdl 
• Allophylus edulis (A. St.-Hil., Cambess. & A. Juss.) Radlk 
• Baccharis microdonta DC 
• Piptocarpha axillaris Baker 
A lista botânica deve ser organizada em um padrão de classificação 
taxonômico com indicação de informações referentes à flora amostrada em uma 
área, que podem variar de acordo com o objetivo do estudo. São organizadas 
em ordem alfabética de família, dentro dessa, gêneros e, por fim, espécie. 
Podem apresentar informações, como hábito (árvore, arbusto, erva, epífita, liana 
ou parasita), hábitat (local específico que habita) e origem (nativa, exótica, 
cultivada, naturalizada). Ainda, pode ser colocado o grau de ameaça estadual, 
nacional ou internacional. O nome vulgar ou regional, bem como o número de 
registro da coleta e coletor podem ser acrescentados, de acordo com a 
necessidade e objetivos do estudo. 
Como exemplo, um trecho da lista florística apresentada em um estudo 
sobre a flora fanerogâmica da Universidade Federal de Juiz de Fora em Minas 
Gerais (Silva et al, 2020), a qual relaciona as espécies encontradas e as 
informações pertinentes para a publicação científica. A lista deve sempre estar 
em formato de tabela e acompanhada do título ao que se refere, da respectiva 
legenda e com o esclarecimento de abreviações, conforme exemplifica a Figura 
5. 
 
 
 
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Figura 5 – Exemplo de formato de uma lista de táxons 
 
Fonte: Silva et al, 2020. 
TEMA 5 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS QUALITATIVOS 
A análise e interpretação da composição florística e da estrutura da 
vegetação pode ser qualitativa e/ou quantitativa e irá de acordo com os objetivos 
da pesquisa. Também pode ser de forma comparativa, em que são estabelecidas 
relações entre duas ou mais áreas. Pode ser feita por meio de uma matriz de 
presença e ausência de espécies e utilizar instrumentos de análise estatística 
para tal comparação. 
A análise qualitativa considera a listagem das espécies que compõem 
uma determinada área, bem como as informações correlatas de hábito, hábitat, 
origem e outras, serão relacionadas com aspectos fitogeográficos e do perfil da 
vegetação como um todo. 
A fitogeografia aborda a localização geográfica de elementos da 
vegetação, desde grandes formações até a área natural de ocorrência de uma 
determinada espécie. Para tanto, a fisionomia da vegetação com as diferentes 
formações e áreas de transições estabelecidas devem ser relacionadas e 
analisadas com a capacidade de suporte do meio, como aspectos nutricionais 
do solo, pressão antrópica, efeitos de borda, fragmentação de remanescentes 
florestais. 
 
 
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A interpretação dos dados florísticos pode considerar o espectro biológico 
e a fitofisionomia de uma região. 
5.1 Espectro biológico 
O estudo do espectro biológico ou estudos com formas de vida são quase 
tão importantes quanto composição florística na descrição da vegetação. Uma 
forma de vida é caracterizada pelas adaptações das plantas às condições 
ecológicas específicas. Desta forma, pode-se analisar os componentes 
estruturais básicos da vegetação, processos fisiológicos controlados por 
aspectos da forma da planta, que, por sua vez, pode fornecer informações entre 
as relações entre planta e ambiente sem utilizar aspectos taxonômicos. 
As formas de vida estão relacionadas com fatores ambientais abióticos 
que são determinantes para a composição da vegetação: temperatura, 
precipitação, sazonalidade, solos, fogo, neblina, altitude, entre outros. Pequenas 
variações desses fatores podem refletir nas características ambientais e, 
consequentemente, na biodiversidade local, sendo uma importante ferramenta 
para avaliação do estado de conservação de uma área. 
Uma das classificações sobre formas de vida e espectro biológico foi 
proposta por Mueller-Dombois e Ellenberg (1974): 
• Fanerófitas: contém as gemas apicais em ramos aéreos. Variam de 
acordo com a altura sendo classificadas em megafanerófitas (superior a 
30 m), mesofanerófitas (entre 8 e 30 m), microfanerófitas (entre 2 e 8 m) 
e nanofanerófitas (entre 0,5 e 2 m). 
• Caméfitas: meristemas apicais em ramos próximos ao solo. Plantas 
perenes em que os ramosmaduros, ou sistema caulinar, permanecem em 
uma altura de até 0,5 m acima da superfície do solo. 
• Hemicriptófitas: meristemas situados a nível do solo. Plantas herbáceas 
com redução periódica do sistema caulinar, ficando a parte remanescente 
rente à superfície do solo. 
Entre as fanerófitas, são identificados os diferentes hábitos de 
crescimento: 
 
 
 
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• Árvores: com crescimento secundário, presente nos estratos superior e 
intermediário florestal. 
• Arbutos: com crescimento secundário, presente no estrato intermediário 
florestal. 
• Ervas: sem crescimento secundário, presentes no estrato inferior. 
• Epífitas: sem crescimento secundário, plantas que germinam e enraízam 
sobre outras. 
• Hemiepífitas: germinam em outras plantas e, posteriormente, conectam-
se com o solo. 
• Lianas: plantas trepadeiras, que crescem suportadas por si mesma ou por 
outras e que enraízam sobre o chão, mantendo o seu contato com o solo 
durante o seu ciclo de vida. 
A Figura 6 mostra alguns exemplos dos diferentes hábitos das fanerófitas. 
Figura 6 – Exemplos de hábitos das fanerófitas: arbóreo, herbáceo e epifítico 
 
Fotos: Dayane May. 
5.2 Perfil da vegetação 
Os diagramas de perfil são ferramentas para caracterização da fisionomia 
ou do habitat de espécies. A fisionomia da vegetação mostra o arranjo, a 
disposição e as relações entre os indivíduos de uma comunidade vegetal. A 
representação do perfil da vegetação é uma forma de visualizar em escala a 
arquitetura e composição de trechos da vegetação por meio de figuras. As 
características podem variar dentro da mesma formação de acordo com as 
condições ambientais e diversidade. 
 
 
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Como exemplo, a Figura 7 apresentada em um estudo (Melo et al, 2017) 
mostra um perfil de vegetação (30 x 3 m) do fragmento de floresta ombrófila 
pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira, Joinville, Santa Catarina. 
Figura 7 – Exemplo de perfil da vegetação de um fragmento de Floresta 
Ombrófila Densa 
 
Fonte: elaborada por Jefferson Schnaider com base em Melo, 2017. 
NA PRÁTICA 
A atividade sugerida é uma prática dos procedimentos de coleta, 
herborização e confecção de exsicata que vimos em teoria. O intuito é aplicar os 
conhecimentos e produzir um material didático ou semelhante aos reais 
utilizados em herbários. 
Atividade: coleta de material botânico e confecção de exsicata: 
1) Coletar amostras de pelo menos 5 espécies de acordo com as técnicas 
de coleta e herborização de material botânico, preferencialmente fértil 
(com flores ou frutos); 
2) Após as amostras estarem secas, fixá-las (costura ou colagem) em 
cartolina de 29,5 x 42 cm (tamanho padrão da exsicata). 
3) Colocar as informações de coleta e identificação na etiqueta (12 x 10 cm), 
conforme modelo: 
 
 
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Fonte: Dayane May 
4) Anexar a etiqueta no canto inferior da exsicata. 
FINALIZANDO 
• A execução dos estudos florísticos pode ser por meio do levantamento de 
dados secundários ou em campo a fim de delinear a composição da 
vegetação. No primeiro, as informações de obtenção são mais rápidas, 
acessíveis e com menor custo. O levantamento de campo ocorre com 
coletas periódicas em que são amostradas todas as espécies florísticas 
encontradas. 
• As técnicas de coleta e materiais utilizados são definidos de acordo com 
os objetivos, necessidades, período e recursos disponíveis de cada 
estudo. Em geral, são necessários materiais que vão auxiliar na 
localização, coleta e identificação do material botânico. São eles: tesoura 
de poda, binóculo, caderno de anotações, lápis ou caneta, fita-crepe, saco 
de coleta, prensa de campo, canivete, GPS e tesoura de poda alta. 
• O material botânico coletado em campo deve ser prensado em jornal e 
papelão de modo alternado, junto com as informações de família, data e 
o coletor. A prensa acondicionará o material durante o processo de 
secagem em estufa, em que o material irá ser desidratado integralmente. 
Após a secagem, são montadas as exsicatas para incorporação no acervo 
de um herbário. As exsicatas são cadastradas e passam por um processo 
de expurgo para descontaminar, prevenir fungos e ataques de insetos. 
 
 
 
 
Família Sem Negrito 
Espécie (negrito) descritor sem negrito 
 
Det.: quem determinou a espécie xx.xx.xxxx (data) 
 
País, Estado, Cidade, local de coleta. 
Nome da equipe que coletou. Data de coleta xx IV xx 
 
Caraterísticas da espécie 
 
HERBÁRIO REGISTRO N.°__________ 
XXXXXXXXX 
(LOGO) 
 
 
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• A identificação das plantas normalmente é feita com o material 
reprodutivo e vegetativo e com auxílio e especialistas, bibliografias 
especializadas e chaves de identificação. A lista botânica deve ser 
organizada em um padrão de classificação taxonômico (atualmente é o 
APG IV) e seguir o Código Internacional de Nomenclatura Botânica 
(ICBN). Ainda, recomenda-se realizar uma rigorosa revisão dos nomes 
científicos, visto que ocorrem mudanças na nomenclatura taxonômica 
com o avanço dos estudos. 
• A análise e interpretação da composição florística e da estrutura da 
vegetação pode ser qualitativa, quantitativa ou comparativa. Pode 
considerar o espectro biológico ou estudos com formas de vida, 
classificado entre fanerófitas, caméfitas e Hemicriptófitas, ou pelos 
diferentes hábitos de crescimento, como arbóreo, arbustivo, herbáceo, 
epifítico, lianas e parasitas. Ainda, a análise pode considerar a 
fitofisionomia de uma região, sendo utilizado os perfis de vegetação, como 
instrumento de representação da composição e arquitetura da vegetação. 
 
 
 
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