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INVENTARIAMENTO DE FLORA AULA 2 Profª Dayane May 2 CONVERSA INICIAL Levantamento florístico: levantamento de espécies nativas O levantamento florístico consiste em listar todas as espécies vegetais existentes em uma determinada área. As coleções de herbário permitem a documentação permanente da composição florística de áreas que se modificam ao longo do tempo, seja pela ação antrópica ou por efeito de eventos e perturbações naturais que alteram irremediavelmente a cobertura vegetal. As exsicatas documentadas nos herbários são instrumentos didáticos para estudos de reconhecimento da flora de um determinado local ou região. Também são referências para o desenvolvimento de pesquisas, teses, dissertações e monografias sobre os mais variados aspectos da Botânica, práticas de conservação, manejo e educação ambiental. Desta forma, o levantamento florístico contribui para o conhecimento da composição florística e pode gerar subsídios para o desenvolvimento futuro de projetos relacionados à pesquisa, ensino e extensão com foco em práticas de conservação, manejo e educação ambiental além de proporcionar a prática científica através da elaboração, montagem, acompanhamento e finalização de um projeto de pesquisa; reconhecer as categorias sucessionais das espécies identificadas e identificar necessidades de manejo. Objetivos: • Compreender acerca dos procedimentos para a execução de levantamentos florísticos a fim de delinear a composição da vegetação. • Compreender as técnicas de coleta e materiais utilizados para a amostragem de espécimes. • Compreender os procedimentos para a herborização do material botânico e confecção de exsicatas. • Organizar em um padrão de classificação taxonômico. • Interpretar a listagem de espécies amostradas em uma determinada área, considerando o espectro biológico e a fitofisionomia de uma região. 3 TEMA 1 – ESTUDO QUALITATIVO DA FLORA A identificação das espécies de uma comunidade e a análise de sua estrutura são fundamentais para o manejo adequado de uma formação, facilitando o desenvolvimento de planos de gestão e conservação, bem como programas de monitoramento. Representa, ainda, uma etapa no conhecimento de um ecossistema por fornecer informações básicas aos estudos biológicos subsequentes (Cardoso-Leite, 2013). Somente a partir da realização de estudos sobre a flora e a estrutura das comunidades vegetais, em número suficiente para se permitir uma massa crítica para que seja possível elaborar um modelo teórico de manejo e conservação adequado. O conhecimento da biota dos fragmentos, na maioria das vezes encontradas sobre a forma de Unidades de Conservação, é de suma importância para a manutenção e conservação das espécies. A elaboração de estratégias de conservação depende da aquisição de dados coletados por meio de experimentos científicos em universidades e institutos de pesquisa, que subsidiam programas de conservação e manejo. Ainda, os levantamentos florísticos fornecem informações para a compreensão dos padrões biogeográficos e auxiliam na determinação de áreas prioritárias para a conservação (Cervi et al, 2007). Os levantamentos florísticos são determinantes para estabelecer divisões fitogeográficas e importantes para o manejo de áreas verdes, bem como para o planejamento e manutenção. Visa identificar as espécies que ocorrem em uma determinada área geográfica e representa uma importante etapa no conhecimento de um ecossistema por fornecer informações básicas aos estudos biológicos subsequentes, tornando impossível a não utilização desse material como ferramenta na conservação ambiental (Rodrigues et al, 2012). Ainda, o levantamento pode ser utilizado para análise de dados, verificação de hábitos, estudo das áreas de: fitossociologia, sistemática, taxonomia, ecologia e história natural do ecossistema observado (Pesamosca; Ludtke, 2013). Sendo assim, os levantamentos qualitativos ampliam os conhecimentos da flora local e contribuem para o manejo e conservação, dando suporte para futuras pesquisas relacionadas à fitossociologia, conservação, manejo e contribuem para desenvolvimento de atividades de educação ambiental. 4 A execução dos estudos florísticos pode ser por meio do levantamento de dados secundários ou em campo a fim de delinear a composição da vegetação. 1.1 Levantamento de dados secundários Consiste na obtenção de dados secundários sobre as espécies vegetais já registradas em uma determinada área. Na grande maioria dos casos, são informações de obtenção mais rápida, mais acessível e mais barata do que os dados primários. O meio digital, tecnologia e plataformas de acesso, comunicação e armazenamento de dados ampliam a facilidade bem como a quantidade de informações disponíveis para o pesquisador. Os dados secundários podem compreender: • Levantamentos documentais: são informações que a organização mantém em seus arquivos. • Levantamentos bibliográficos: são consultas sobre o assunto feitas em livros, revistas especializadas, artigos acadêmicos, dissertações e teses, além de informações publicadas em jornais, associações de classe, sindicatos etc. 1.2 Levantamento de campo O levantamento florístico da vegetação com ocorrência em uma determinada área é realizado por meio de coletas periódicas em que são amostradas todas as espécies florísticas encontradas. O material botânico é coletado, herborizado e catalogado, quando possível. Para a determinação das espécies, são utilizadas bases bibliográficas especializadas, chaves de identificação, consulta a especialistas e comparação com o acervo de herbários, quando necessário. A relação entre os dados coletados e os já existentes em listas secundárias devem ser comparados com o intuito de identificar as espécies que não haviam sido observadas em outros estudos, sendo destacadas as espécies com difícil ocorrência na região ou com poucas coletas registradas. levando em consideração aspectos ecológicos, como o hábito da espécie (árvore, arbusto, erva, epífitas, lianas, palmeiras). 5 TEMA 2 – COLETA E AMOSTRAGEM DE ESPÉCIMES As técnicas de coleta e materiais utilizados para a amostragem de espécimes dependerá do nível de detalhamento, que serão definidos de acordo com os objetivos, necessidades, período e recursos disponíveis de cada estudo. Pode ser feita uma abordagem generalizada contemplando as espécies arbóreas, mas também ser ampliado para outros aspectos ecológicos relacionados ao hábito, como o levantamento de espécies herbáceas, arbustivas, lianas, epífitas e saprófitas. Ainda, as espécies ameaçadas de extinção podem ser classificadas de acordo com o grau de ameaça estadual, nacional, internacional. As listas estaduais são organizadas pelas Secretarias de Meio Ambiente ou órgãos ambientais de cada Estado. A lista nacional é organizada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e é fundamental para guiar os licenciamentos e fiscalizações ambientais no país. A lista mundial é organizada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), que descreve as ações prioritárias para combater as ameaças que colocam em risco as espécies descritas. 2.1 Definição da área e época de coleta As coletas devem amostrar todas as espécies encontradas preferencialmente em estágio fértil, de modo a abranger toda área de estudo ou que seja representativa, de modo que permita atender aos objetivos propostos. Para tanto, torna-se necessário o planejamento da época e horário das expedições de campo, sendo recomendadas as coletas pela manhã e nas estações de primavera e verão, mas que podem variar de acordo com a fisionomia da vegetação. Se viável e necessário, realizar o monitoramento de indivíduos ao longo do ano para obtenção de material fértil. Deve-se evitar períodos chuvosos ou em que a vegetaçãoarbórea perde as folhas, para fisionomias deciduais ou semideciduais (Machado; Barbosa, 2010). A morfologia da parte aérea do vegetal pode apresentar variações de acordo com o ambiente, época e condições nutricionais. Desta forma, indivíduos da mesma espécie podem variar na consistência da folha, no tamanho e outras características. Portanto, o material botânico encontrado deve ser coletado, herborizado e determinado para a conferência de gêneros e espécie. 6 2.2 Materiais utilizados na coleta botânica Para a realização de um levantamento de campo, são necessários materiais que vão auxiliar na localização, coleta e identificação do material botânico. • Tesoura de poda: utilizada para a coleta de amostras e redução do material coletado, sendo mantido apenas o tamanho e número necessário para montagem das exsicatas, preferencialmente fértil, ou seja, com flores ou frutos. • Binóculo: amplia o campo de visão, auxilia na localização do material fértil, principalmente em indivíduos arbóreos altos, e na identificação das espécies em campo. • Caderno de anotações: para inserir as informações com o local e a data de coleta, o coletor, o tipo de vegetação, o hábito de crescimento, o nome vulgar regional e, principalmente, as características do indivíduo que são perdidas nas coletas, por exemplo: cor da flor, cheiro, presença de látex, tipo de tronco, entre outras características relevantes. • Lápis grafite ou caneta: para anotações ou marcações dos materiais vegetativos coletados. As marcações de caneta podem ser perdidas ou borradas se eventualmente forem molhadas. Já as marcações a lápis são mantidas caso o mesmo ocorra, sendo, portanto, preferencial para uso em campo. • Fita-crepe: a numeração de todo material botânico coletado deve constar para a identificação, com a marcação de cada indivíduo em um pedaço de fita-crepe. • Saco de coleta: utilizado para acondicionar em campo o material botânico coletado. • Prensa de campo: feita com jornal e papelão para acondicionar o material coletado. É fechada com corda elástica ou barbante. • Canivete: auxilia na verificação de determinadas características em campo, como retirada de casca para averiguar cor e odores, verificação da presença de látex e dureza da madeira. • GPS ou instrumentos de localização geográfica: para anotar pontos específicos da área de coleta, de acordo com os objetivos do estudo. O 7 GPS indica ao usuário sua localização precisa em termos de latitude, longitude e altitude. • Tesoura de alta poda (Podão): para coleta de indivíduos arbóreos. Consiste no uso de ganchos ou tesouras de poda acopladas a uma das extremidades de uma vara de alumínio, de aproximadamente 2m, que, acopladas às outras varas de tamanho igual, permite alcançar uma altura de até 9m. A coleta se dá por tração mecânica de um cordel amarrada à tesoura de poda. Esse equipamento é de fácil uso e transporte em campo, porém, tem alcance de altura limitado entre 15 e 20 metros. Além da coleta manual ou com tesoura de alta poda, o material botânico pode ser coletado por métodos de escalada (com o uso de equipamentos de segurança, como cadeiras, cordas, roldanas e travas), uso de esporões presos nos calçados para subida em árvores e sustentação, uso de estilingue ou até mesmo espingarda, os quais permitem fazer coletas a grandes alturas, muitas vezes inacessíveis por outros métodos. A Figura 1 mostra etapas da coleta do material botânico e alguns materiais como a prensa de campo e o saco para acondicionamento durante a expedição de campo. Figura 1 – Levantamento de campo com a coleta do material botânico Fotos: Dayane May. TEMA 3 – HERBORIZAÇÃO E PREPARAÇÃO DE EXSICATAS Os herbários são locais para a realização dos registros das plantas e de consulta para determinação de espécies, as exsicatas são armazenadas em 8 coleções científicas registradas e incorporadas ao acervo (Machado; Barbosa, 2010). As exsicatas documentadas em um herbário são referências de informações atualizadas e materiais para estudos de reconhecimento da flora de um determinado local ou região. Ainda, contribuem para o desenvolvimento de pesquisas científicas nas áreas da Botânica, conservação, manejo e educação ambiental. Para a herborização do material botânico, secagem e confecção de exsicatas são comuns alguns procedimentos manuais, mas que podem variar de acordo com os materiais e estrutura disponíveis. A Figura 2 ilustra a planta em seu ambiente e após ser coletada e herborizada. Figura 2 – Aechmea distichantha no ambiente; após o processo de herborização e confecção de exsicata Fotos: Dayane May. 3.1 Materiais utilizados na herborização As amostras do material botânico coletadas em campo deverão ser prensadas em jornal e papelão de modo alternado, sendo colocadas uma a uma, junto com as informações de família, data e coletor. O jornal deve ser checado periodicamente, de modo a trocar o jornal úmido por seco até as amostras estarem completamente secas. • Prensa: irá acondicionar o material durante o processo de secagem e deverá efetivar a compressão da pilha formada pela sobreposição das camadas. Entre as camadas de papelão e jornal, podem ser utilizadas 9 folhas de alumínio enrugadas para auxiliar na passagem do ar quente e acelerar a secagem. A prensa é fechada com tábuas de madeira que irão pressionar o material botânico entre jornais, papelões e placas de alumínio enrugadas. Após, as prensas irão para a estufa de secagem para o material ser desidratado integralmente. • Estufa para secagem: podem ser equipamentos próprios para a secagem do material, bem como serem construídas ou improvisadas. Contêm lâmpadas incandescentes ou próprias para estufa, ou mesmo a gás, que mantém a temperatura em torno de 60°C. O tempo de secagem irá depender das características de cada planta, mas varia em torno de 72 horas. A Figura 3 mostra os materiais utilizados na herborização e as etapas de secagem do material botânico. Figura 3 – Prensa aberta, acondicionamento do material botânico prensado e estufa de secagem Fotos: Dayane May. As amostras devem atender ao tamanho padrão das exsicatas. Portanto, os ramos e folhas que estiverem sobrepostos ou salientes deverão ser dobrados ou diminuídos no momento da prensagem, de modo a compor a melhor visualização das características da planta e seu armazenamento. Além disto, ao colocar a amostra entre os jornais e papelões, algumas folhas devem ser viradas para manter visíveis ambas as faces do limbo, tanto abaxial, quanto adaxial. As flores podem ser prensadas abertas para melhor visualização da morfologia interna. As flores e frutos são estruturas frágeis e podem se desprender durante a prensagem e secagem. Caso ocorra, estas deverão ser armazenadas em envelopes identificados e colocados junto à exsicata. 10 Flores, frutos ou partes muito sensíveis podem se desprender durante o processo de prensagem e desidratação. Essas estruturas devem ser armazenadas dentro de pequenos envelopes ou sacos de pão, devidamente rotulados com a identificação (coletor e número de coleta), para que não se percam e sejam colocadas juntamente à exsicata. Algumas flores devem ser prensadas abertas para melhor visualização das estruturas internas (Machado; Barbosa, 2010). 3.3 Montagem das exsicatas Após a secagem, são montadas as exsicatas para incorporação no acervo de um herbário. As coleções botânicas são organizadas padronizadas em termos de tamanho, material de montagem e identificação. Desta forma, é possível que as mesmas sejam doadas, permutadas ou enviadas para outros herbários para identificação em todo mundo. Para a montagem da exsicata, as plantas desidratadas são costuradas ou coladas em folhas de cartolina de 29,5 x 42 cm. Deve ser colocada uma etiqueta ou rótulo de tamanho12 x 10 cm com a identificação e com as informações anotadas em campo para aquela amostra. As partes frágeis que se desprenderam no processo de secagem podem ser acondicionadas em um pequeno envelope no canto superior esquerdo da cartolina de montagem (Machado; Barbosa, 2010), conforme mostram os exemplos na Figura 4. 11 Figura 4 – Exemplo de exsicatas Piptocarpha axillaris Baker (Asteraceae) Tibouchina clinopodifolia (DC.) Cogn. (Melastomataceae) Fotos: Dayane May. As exsicatas finalizadas recebem uma capa protetora de 42 x 59 cm, geralmente de papel Kraft, que envolve a cartolina como o material já costurado. Do lado de fora dessa capa, deve-se escrever o número de registro da amostra, o nome da família e o nome científico. As repetições do material botânico são as duplicatas. Estas ficam acondicionadas em jornais, contendo as etiquetas, e ficam disponíveis para doações, trocas e envio para especialistas (Machado; Barbosa, 2010). Após a montagem das exsicatas, estas deverão ser cadastradas para serem incorporadas ao acervo de um herbário. Deverão passar por um processo de expurgo, que irá descontaminar e prevenir fungos e ataques de insetos. Depois de expurgadas, as plantas irão para o herbário, em que serão acondicionadas em armários de aço para consultas. É comum o uso de naftalina triturada para a conservação das exsicatas, que agirá como repelente de insetos. 12 TEMA 4 – ELABORAÇÃO DA LISTA DE TÁXONS A identificação das plantas normalmente é feita com o material reprodutivo (flores e frutos) e material vegetativo (ramos com folhas) e com auxílio e especialistas. No entanto, existem bibliografias especializadas e chaves de identificação, mas requerem conhecimento e familiaridade com a terminologia botânica. Outra forma de identificar é por comparação de material já coletado e identificado em herbários. As características da planta que foram anotadas na coleta de campo, como localização, tamanho, forma de vida, coloração, presença de espinhos, látex, odor característico, umidade do solo, entre outras, podem facilitar o trabalho de identificação. O sistema de classificação das angiospermas mais utilizado atualmente na identificação de famílias e gêneros é o APG IV (Angiosperm Phylogeny Group) (APG IV, 2016). Recomenda-se realizar uma rigorosa revisão dos nomes (principalmente gêneros e espécies) em locais especializados e atualizados, visto que ocorrem mudanças na nomenclatura taxonômica com o avanço dos estudos científicos. Para a verificação de sinonímias botânicas e grafias podem ser consultados diferentes bancos de dados como a Flora do Brasil Online (Reflora, 2023), Herbário Virtual SpLink (Splink, 2023) MOBOT (Missouri Botanical Garden, 2017), The International Plant Names Index (IPNI, 2023) e World Flora Online (WFO, 2023). A nomenclatura deve seguir o Código Internacional de Nomenclatura Botânica (ICBN), seguindo o sistema de escrita binomial (dois nomes) e em latim, sendo sua grafia em itálico ou subscrita. A primeira palavra é o gênero e deve ser escrito em letra maiúscula; a segunda é o epíteto específico, que pode ser um adjetivo, um nome relacionado ou um nome possessivo e deve ser escrito sempre em letra minúscula. A maioria dos epítetos específicos mencionam características da planta que podem ser morfológicas, ecológicas, ou químicas, a área de distribuição do táxon, o nome do primeiro coletor do táxon ou até mesmo uma homenagem. O epíteto específico é seguido pelo nome do autor, ou seja, a pessoa que descreveu o táxon pela primeira vez. Os nomes dos autores devem ser abreviados segundo uma lista de abreviaturas apropriadas. Exemplos: 13 • Polygala brasiliensis L. • Eryngium elegans Cham. & Schltdl • Allophylus edulis (A. St.-Hil., Cambess. & A. Juss.) Radlk • Baccharis microdonta DC • Piptocarpha axillaris Baker A lista botânica deve ser organizada em um padrão de classificação taxonômico com indicação de informações referentes à flora amostrada em uma área, que podem variar de acordo com o objetivo do estudo. São organizadas em ordem alfabética de família, dentro dessa, gêneros e, por fim, espécie. Podem apresentar informações, como hábito (árvore, arbusto, erva, epífita, liana ou parasita), hábitat (local específico que habita) e origem (nativa, exótica, cultivada, naturalizada). Ainda, pode ser colocado o grau de ameaça estadual, nacional ou internacional. O nome vulgar ou regional, bem como o número de registro da coleta e coletor podem ser acrescentados, de acordo com a necessidade e objetivos do estudo. Como exemplo, um trecho da lista florística apresentada em um estudo sobre a flora fanerogâmica da Universidade Federal de Juiz de Fora em Minas Gerais (Silva et al, 2020), a qual relaciona as espécies encontradas e as informações pertinentes para a publicação científica. A lista deve sempre estar em formato de tabela e acompanhada do título ao que se refere, da respectiva legenda e com o esclarecimento de abreviações, conforme exemplifica a Figura 5. 14 Figura 5 – Exemplo de formato de uma lista de táxons Fonte: Silva et al, 2020. TEMA 5 – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS QUALITATIVOS A análise e interpretação da composição florística e da estrutura da vegetação pode ser qualitativa e/ou quantitativa e irá de acordo com os objetivos da pesquisa. Também pode ser de forma comparativa, em que são estabelecidas relações entre duas ou mais áreas. Pode ser feita por meio de uma matriz de presença e ausência de espécies e utilizar instrumentos de análise estatística para tal comparação. A análise qualitativa considera a listagem das espécies que compõem uma determinada área, bem como as informações correlatas de hábito, hábitat, origem e outras, serão relacionadas com aspectos fitogeográficos e do perfil da vegetação como um todo. A fitogeografia aborda a localização geográfica de elementos da vegetação, desde grandes formações até a área natural de ocorrência de uma determinada espécie. Para tanto, a fisionomia da vegetação com as diferentes formações e áreas de transições estabelecidas devem ser relacionadas e analisadas com a capacidade de suporte do meio, como aspectos nutricionais do solo, pressão antrópica, efeitos de borda, fragmentação de remanescentes florestais. 15 A interpretação dos dados florísticos pode considerar o espectro biológico e a fitofisionomia de uma região. 5.1 Espectro biológico O estudo do espectro biológico ou estudos com formas de vida são quase tão importantes quanto composição florística na descrição da vegetação. Uma forma de vida é caracterizada pelas adaptações das plantas às condições ecológicas específicas. Desta forma, pode-se analisar os componentes estruturais básicos da vegetação, processos fisiológicos controlados por aspectos da forma da planta, que, por sua vez, pode fornecer informações entre as relações entre planta e ambiente sem utilizar aspectos taxonômicos. As formas de vida estão relacionadas com fatores ambientais abióticos que são determinantes para a composição da vegetação: temperatura, precipitação, sazonalidade, solos, fogo, neblina, altitude, entre outros. Pequenas variações desses fatores podem refletir nas características ambientais e, consequentemente, na biodiversidade local, sendo uma importante ferramenta para avaliação do estado de conservação de uma área. Uma das classificações sobre formas de vida e espectro biológico foi proposta por Mueller-Dombois e Ellenberg (1974): • Fanerófitas: contém as gemas apicais em ramos aéreos. Variam de acordo com a altura sendo classificadas em megafanerófitas (superior a 30 m), mesofanerófitas (entre 8 e 30 m), microfanerófitas (entre 2 e 8 m) e nanofanerófitas (entre 0,5 e 2 m). • Caméfitas: meristemas apicais em ramos próximos ao solo. Plantas perenes em que os ramosmaduros, ou sistema caulinar, permanecem em uma altura de até 0,5 m acima da superfície do solo. • Hemicriptófitas: meristemas situados a nível do solo. Plantas herbáceas com redução periódica do sistema caulinar, ficando a parte remanescente rente à superfície do solo. Entre as fanerófitas, são identificados os diferentes hábitos de crescimento: 16 • Árvores: com crescimento secundário, presente nos estratos superior e intermediário florestal. • Arbutos: com crescimento secundário, presente no estrato intermediário florestal. • Ervas: sem crescimento secundário, presentes no estrato inferior. • Epífitas: sem crescimento secundário, plantas que germinam e enraízam sobre outras. • Hemiepífitas: germinam em outras plantas e, posteriormente, conectam- se com o solo. • Lianas: plantas trepadeiras, que crescem suportadas por si mesma ou por outras e que enraízam sobre o chão, mantendo o seu contato com o solo durante o seu ciclo de vida. A Figura 6 mostra alguns exemplos dos diferentes hábitos das fanerófitas. Figura 6 – Exemplos de hábitos das fanerófitas: arbóreo, herbáceo e epifítico Fotos: Dayane May. 5.2 Perfil da vegetação Os diagramas de perfil são ferramentas para caracterização da fisionomia ou do habitat de espécies. A fisionomia da vegetação mostra o arranjo, a disposição e as relações entre os indivíduos de uma comunidade vegetal. A representação do perfil da vegetação é uma forma de visualizar em escala a arquitetura e composição de trechos da vegetação por meio de figuras. As características podem variar dentro da mesma formação de acordo com as condições ambientais e diversidade. 17 Como exemplo, a Figura 7 apresentada em um estudo (Melo et al, 2017) mostra um perfil de vegetação (30 x 3 m) do fragmento de floresta ombrófila pertencente à Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira, Joinville, Santa Catarina. Figura 7 – Exemplo de perfil da vegetação de um fragmento de Floresta Ombrófila Densa Fonte: elaborada por Jefferson Schnaider com base em Melo, 2017. NA PRÁTICA A atividade sugerida é uma prática dos procedimentos de coleta, herborização e confecção de exsicata que vimos em teoria. O intuito é aplicar os conhecimentos e produzir um material didático ou semelhante aos reais utilizados em herbários. Atividade: coleta de material botânico e confecção de exsicata: 1) Coletar amostras de pelo menos 5 espécies de acordo com as técnicas de coleta e herborização de material botânico, preferencialmente fértil (com flores ou frutos); 2) Após as amostras estarem secas, fixá-las (costura ou colagem) em cartolina de 29,5 x 42 cm (tamanho padrão da exsicata). 3) Colocar as informações de coleta e identificação na etiqueta (12 x 10 cm), conforme modelo: 18 Fonte: Dayane May 4) Anexar a etiqueta no canto inferior da exsicata. FINALIZANDO • A execução dos estudos florísticos pode ser por meio do levantamento de dados secundários ou em campo a fim de delinear a composição da vegetação. No primeiro, as informações de obtenção são mais rápidas, acessíveis e com menor custo. O levantamento de campo ocorre com coletas periódicas em que são amostradas todas as espécies florísticas encontradas. • As técnicas de coleta e materiais utilizados são definidos de acordo com os objetivos, necessidades, período e recursos disponíveis de cada estudo. Em geral, são necessários materiais que vão auxiliar na localização, coleta e identificação do material botânico. São eles: tesoura de poda, binóculo, caderno de anotações, lápis ou caneta, fita-crepe, saco de coleta, prensa de campo, canivete, GPS e tesoura de poda alta. • O material botânico coletado em campo deve ser prensado em jornal e papelão de modo alternado, junto com as informações de família, data e o coletor. A prensa acondicionará o material durante o processo de secagem em estufa, em que o material irá ser desidratado integralmente. Após a secagem, são montadas as exsicatas para incorporação no acervo de um herbário. As exsicatas são cadastradas e passam por um processo de expurgo para descontaminar, prevenir fungos e ataques de insetos. Família Sem Negrito Espécie (negrito) descritor sem negrito Det.: quem determinou a espécie xx.xx.xxxx (data) País, Estado, Cidade, local de coleta. Nome da equipe que coletou. Data de coleta xx IV xx Caraterísticas da espécie HERBÁRIO REGISTRO N.°__________ XXXXXXXXX (LOGO) 19 • A identificação das plantas normalmente é feita com o material reprodutivo e vegetativo e com auxílio e especialistas, bibliografias especializadas e chaves de identificação. A lista botânica deve ser organizada em um padrão de classificação taxonômico (atualmente é o APG IV) e seguir o Código Internacional de Nomenclatura Botânica (ICBN). Ainda, recomenda-se realizar uma rigorosa revisão dos nomes científicos, visto que ocorrem mudanças na nomenclatura taxonômica com o avanço dos estudos. • A análise e interpretação da composição florística e da estrutura da vegetação pode ser qualitativa, quantitativa ou comparativa. Pode considerar o espectro biológico ou estudos com formas de vida, classificado entre fanerófitas, caméfitas e Hemicriptófitas, ou pelos diferentes hábitos de crescimento, como arbóreo, arbustivo, herbáceo, epifítico, lianas e parasitas. Ainda, a análise pode considerar a fitofisionomia de uma região, sendo utilizado os perfis de vegetação, como instrumento de representação da composição e arquitetura da vegetação. 20 REFERÊNCIAS APG IV. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants: APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society, 181(1): 1-20, 2016. CARDOSO-LEITE, E. et al. Analysis of floristic composition and structure as an aid to monitoring protected areas of dense rain forest in southeastern Brazil. Acta Botanica Brasilica, v. 27, n. 1, p. 180-194, 2013. CERVI, A. C. et al. A vegetação do Parque Estadual de Vila Velha, município de Ponta Grossa, Paraná, Brasil. Bol. Mus. Bot. Mun., v. 69, p. 1-52, 2007. IPNI. International Plant Names Index. 2023. Published on the Internet http://www.ipni.org, The Royal Botanic Gardens, Kew, Harvard University Herbaria & Libraries and Australian National Herbarium. (Retrieved 25 July 2023). MACHADO, S. R; BARBOSA, S. B. Manual de procedimento para herbário. São Paulo: Herbário Bot, 2010. MELO JUNIOR, J. C. et al. Flora vascular, estrutura comunitária e conservação de fragmentos da floresta atlântica na Bacia Hidrográfica do Rio Cachoeira, Joinville, SC, Brasil. Acta Biológica Catarinense. v. 4, n. 3, p. 41-72, 2017. Disponível em: <https://periodicos.univille.br/ABC/article/view/393>. Acesso em: 14 nov. 2023. MOBOT. 2017. Disponível em: <http://www.tropicos.org>. Acesso em: 14 nov. 2023. MUELLER-DOMBOIS, D.; ELLENBERG, H. Aims and methods of vegetation ecology. New York: John Wiley & Sons, 1974. 547p. PESAMOSCA, S. C; LÜDTKE, R. Levantamento florístico. Universidade Federal de Pelotas, 2013. RODRIGUES, C. R. B. A importância do levantamento florístico para áreas de preservação permanente. Anais... XX Congresso interno de iniciação cientifica. Campinas, 2012. SILVA, C. N. et al. Flora fanerogâmica do Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia, v. 71, p. e04312017, 21 2020. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/2175-7860202071075>. Acesso em: 14 nov. 2023. SPLINK. Species Link Network. Disponível em: <specieslink.net/Search>. Acesso em: 14 nov. 2023. WFO. Published on the Internet. <http://www.worldfloraonline.org>. Acesso em: 14 nov. 2023.