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Geovana Sanches, TXXIV COMPLICAÇÕES DA CIRROSE HEPÁTICA ENCEFALOPATIA HEPÁTICA (EH) A encefalopatia hepática é uma complicação neuropsiquiátrica com alta prevalência em pacientes cirróticos, acometendo entre 50 e 70% deles. Apresenta um espectro clínico muito variável, incluindo: • Alterações subclínicas • Distúrbios de atenção (letargia à coma) • Alterações do sono • Distúrbios motores Fisiopatologia • Enterócitos à glutamina à amônia • Flora bacteriana à compostos nitrogenados à amônia • Ausência de metabolização dessa amônia pelo fígado doente à aumento da amônia sérica • Alteração da permeabilidade da BHE • Aumenta da captação de amônio pelo cerebelo e gânglios da base • Alteração da neurotransmissão o Aumento da ativação do sistema GABAérgico • Alteração sobre a serotonina, espécies reativas de oxigênio, óxido nítrico e manganês Classificação • Tipo A: encefalopatia associada com insuficiência aguda fulminante • Tipo B: encefalopatia associada com shunt portossistêmico na ausência de doença hepática intrínseca (by-pass) • Tipo C: encefalopatia associada com cirrose e hipertensão portal o Episódica § Precipitada § Espontânea § Recorrente o Persistente § Leve § Grave § Dependente de tratamento o Mínima Fatores precipitantes • Aumento da carga de nitrogênio o Hemorragia digestiva o Insuficiência renal o Aumento da ingestão proteica o Constipação • Medicações e drogas o Benzodiazepínicos § Aumento do GABA o Excesso de diuréticos o Narcóticos o Etanol • Alterações hidroeletrolíticas o Hiponatremia o Hipocalemia o Hipovolemia o Hipóxia o Alcalose metabólica o Desidratação • Causas variadas o Peritonite bacteriana espontânea o Outras infecções § ITU, PNM, sepse etc. o Shunts portossistêmicos (TIPS) o Lesão hepática adicional § Viral § Isquêmica § Medicamentosa § Tóxica o Cirurgia o Evolução da doença o Trombose da veia porta e hepática Quadro clínico • Alterações do estado de consciência • Flapping (asterixis) o Sinal mais característico da EH o Consiste na dificuldade de manter a hiperextensão, com tentativa de correção pelo paciente Geovana Sanches, TXXIV Critérios de West Haven para avaliação do estado de consciência Grau I • Déficits de atenção • Dificuldade para +/- • Sonolência excessiva • Alteração do padrão de sono • Euforia ou depressão (sendo a depressão mais comum) Grau II • Letargia ou apatia • Comprometimento da fala • Conduta inapropriada Grau III • Rebaixamento importante do nível de consciência • Estupor Grau VI • Coma Diagnóstico • Quadro clínico • Exames complementares o Avaliação geral do paciente o Busca de fatores precipitantes o Diagnóstico diferencial Tratamento • Suporte clínico o Proteção de vias aéreas o Controle da agitação (haloperidol) o Suspensão de diuréticos • Correção dos fatores precipitantes o Lavagem intestinal o Tratamento de infecções • Redução da produção e absorção da amônia o Lavagem gástrica nos casos de HDA o Lavagem intestinal (enema com lactulose) o Nutrição (aminoácidos de cadeia ramificada) • Lactulose o Acidifica o cólon o Propicia a proliferação de bactérias não produtoras de amônia o Propicia a evacuação (2 a 3 evacuações pastosas ao dia) • Antibióticos o Objetivam impedir a produção de amônia pela flora intestinal o Neomicina o Metronidazol o Rifaximina • Restrição proteica o Foco na qualidade e não na quantidade • Ornitina aspartato o Aumenta o metabolismo hepático da amônia • Flumazenil, Levodopa/bromocriptina, Zn o Não devem ser utilizados, pois não são eficazes ASCITE Definição Define-se ascite o acúmulo de líquido (transudato ou exsudato) na cavidade peritoneal, com correspondente aumento do volume abdominal. É a complicação mais comum no paciente cirrótico. Etiologias • Cirrose hepática o 80% dos casos • Síndrome nefrótica • Desnutrição • Hipertensão portal • Carcinomatose peritoneal o Especialmente metástases • Insuficiência cardíaca o Presença de estase jugular fala muito a favor de IC • Tuberculose peritoneal • Outras causas diversas Exame físico • Sinal de piparote: percussão no abdome do paciente em que se nota a propagação de uma onda de líquido ali acumulado o Permite identificação de ascite com grande volume • Semicírculo de Skoda: consiste em deixar o paciente em decúbito dorsal; ao percutir a Geovana Sanches, TXXIV região central do abdome, obtém-se som timpânico, enquanto na periferia há som maciço pela presença do líquido ascítico o Permite identificação de ascite de médio volume • Macicez móvel: solicita-se que o paciente fique em decúbito lateral enquanto é realizada a percussão do abdome; o Permite identificação de ascite de pequeno volume Fisiopatologia • Hipertensão portal o Aumento da produção de óxido nítrico (liberado pelo endotélio com objetivo de causar vasodilatação) • Vasodilatação arterial e esplâncnica o Sem alteração na volemia • Underfilling arterial o Sub-preenchimento da artéria (há dilatação do vaso, porém sem alteração do volume) o Aumento dos barorreceptores • Ativação do SRAA, SNS e ADH o Retenção de sódio e água visando reestabelecer a volemia • Overfilling arterial o Aumento da volemia, sem correção do problema inicial • Aumento da pressão sinusoidal • Extravasamento de líquido para o espaço peritoneal • Ascite o Redução da volemia o Maior ativação do SRAA o Ciclo... História natural 1. Sem ascite 2. Ascite sem complicações 3. Ascite + hiponatremia 4. Ascite refratária 5. Síndrome hepatorrenal o Os rins interpretam uma IRA pré- renal, mesmo que não haja diminuição real da volemia Avaliação: punção do líquido ascítico Toda ascite deve ser puncionada, pois as características do líquido nos auxiliarão no raciocínio clínico. Os sítios preferenciais de punção são os flancos e a região suprapúbica, com algumas considerações: • Flanco esquerdo é o local mais seguro • Flanco direito possui o ceco, estrutura que pode ser perfurada acidentalmente • Para punção da região supra púbica, o paciente deve estar com a bexiga vazia Exames • GASA: Gradiente albumina soro-ascite o Calculado através da diferença entre a albumina sérica e a albumina presente na ascite • Avaliação da celularidade total e diferencial o Visa descartar a presença de peritonite bacteriana (PBE) • Cultura GASA > 1,1 d/dL Ascite secundária à hipertensão portal GASA < 1,1 d/dL Ascite de causa não portal Ø Cirrose Ø Hepatite alcoólica Ø ICC Ø Mista Ø Metástase hepática Ø Hepatite fulminante Ø Síndrome de Budd- Chiari Ø Mixedema Ø Carcinomatose Ø Tuberculose Ø Ascite pancreática Ø Isquemia mesentérica Ø Ascite biliar Ø Síndrome nefrótica Ø Serosite (LES) Ø Ascite quilosa Tratamento Medidas gerais • Cessação do álcool • Dieta hipossódica o 2g Na+/dia o Na primeira descompensação, até 30% dos casos se resolvem apenas com a dieta • Restrição hídrica não melhora a ascite, de forma que o paciente deverá mantê-la como o habitual; está indicada apenas se houver hiponatremia sintomática ou < 125 Diuréticos • Necessários nos casos em que não há resposta à dieta • Espironolactona o Dose: 100 a 400 mg/dia Geovana Sanches, TXXIV § Maiores do que as doses habituais o Bloqueador da aldosterona: diminui a reabsorção de sódio e água o Efeito colateral: hipercalemia § Se presente, associar a furosemida (espolia K+) • Furosemida o Dose: 40 a 160 mg/dia • Avaliação do efeito do diurético o Avaliar o peso diário por 3 dias o Paciente perdendo peso à não aumentar dose o Sem redução de peso à aumento da dose Paracentese de alívio • Até 5 litros: alta hospitalar • > 5 litros:repor 6 a 8 mg de albumina para cada litro TIPS • Usado para casos refratários ou HDA de repetição • Diminui a pressão portal • Diminui taxa de ressangramento em pacientes com varizes esofágicas Transplante • Ascite refratária sem resposta aos demais tratamentos implementados PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA (PBE) A peritonite bacteriana espontânea (PBE) consiste na infecção espontânea do líquido ascítico. Para que ela ocorra, portanto, faz-se necessário a presença prévia de ascite. Patogenia Baseia-a na presença de bacteremia (geralmente por E. coli) que progride para uma bacterascite. Dentre os fatores predisponentes para isso estão: • Disfunção do sistema retículo-endotelial • Procedimentos invasivos • Translocação bacteriana • Isquemia mesentérica • Hemorragia gastrointestinal Quadro clínico Os pacientes em geral são assintomáticos ou oligossintomáticos, sendo os sintomas inespecíficos e com baixa sensibilidade. j • Febre nas últimas 24h o Sensibilidade de 35% o Especificada de 81% • Náuseas e vômitos • Dor abdominal • Sangramento gastrointestinal • Alteração de sinal vital • Hipotermia • Alteração mental Diagnóstico Deve-se realizar a paracentese em todos os pacientes com ascite nova ou hospitalizados por qualquer complicação da cirrose. Deve-se solicitar a avaliação de leucócitos totais com diferencial, além da cultura. Em termos práticos, ao identificarmos a presença de valores superiores a 250 polimorfonocleares no líquido, inicia-se o tratamento, tendo em vista que o resultado da cultura demorará. Tratamento Antibioticoterapia • Cefalosporina de 3ª geração o Duração: 7 dias o Cefotaxima (penetra melhor no líquido ascítico) ou Ceftriaxona • Outras opções o Amoxicilina-clavulanato o Quinolonas o Carbapenêmicos • Realizar nova punção em 48h para avaliar a resposta ao antibiótico – faz-se necessária a redução de ao menos 25% de PNM Albumina • Previne evolução para síndrome hepatorrenal • Reduz mortalidade em 10% a 30% • Doses o Ao diagnóstico: 1,5 g/kg o 3º dia: 1 g/kg Profilaxia Primária • Após HDA o Quinolona ou ceftriaxona por 5 dias • Child C e BT > 3 com Cr > 1,2 ou hiponatremia Geovana Sanches, TXXIV o Quinolona 1x ao dia o Tempo indeterminado • Proteína no líquido ascítico < 1,5 mg/dL o Quinolona o Necessário profilaxia devido a menor capacidade de opsonização do líquido Secundária • Após PBE • Quinolona 1x/dia enquanto houver ascite Prognóstico • 20% de óbito (com tratamento) • 70% de recorrência em 1 ano
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