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Código Logístico I000428 ISBN 978-65-5821-087-0 9 786558 210870 Camile de OliveiraCamile de Oliveira Anderson ToniAnderson Toni Música Música na Educação Básicana Educação Básica C a m ile d e O live ira A nd e rso n To ni M ú sic a n a Ed u c a ç ã o Bá sic a Música na Educação Básica Camile de Oliveira Anderson Toni IESDE BRASIL 2021 © 2021 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: rassco/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ O46m nome autor Música na educação básica / Camile de Oliveira, Anderson Toni. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2021. 114 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-65-5821-087-0 1. Música - Instrução e estudo. 2. Educação artística (Ensino funda- mental) - Estudo e ensino. 3. Educação artística (Ensino médio) - Estudo e ensino. 4. Professores de música - Formação. 5. Prática de ensino. I. Toni, Anderson. II. Título. 21-73780 CDD: 780.71 CDU: 780.71 Camile de Oliveira Anderson Toni Mestre em Música pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Educação Musical pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná da Universidade Estadual do Paraná (Embap/Unespar – Campus Curitiba I). Graduada em Licenciatura em Música pela Embap/Unespar. Professora no Ensino Superior, ministra as disciplinas de Música na Educação Básica e Estágio Supervisionado em Música. Atua como musicista e como professora de iniciação instrumental de violino e flauta doce para crianças, adultos e professores. Trabalhou como professora de Arte/Música na Educação Básica. Mestre em Música, na linha Cognição e Educação Musical, e graduado em Licenciatura em Música pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Técnico em Informática pelo Instituto Federal Catarinense (IFC). Atua nas áreas da educação e cognição musical, com foco no engajamento e suas relações com as experiências emocionais e as conexões entre as pessoas nas práticas musicais. Tem experiência no ensino de musicalização infantil em escolas da rede privada, no ensino de teoria musical, percepção e solfejo para jovens e adultos, assim como na produção de materiais didáticos para a Educação Básica e o Ensino Superior. SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! 1 Sem a música não há vida 9 1.1 O que é música? 9 1.2 Um homo musicalis 14 1.3 Propriedades do som 16 1.4 Elementos da música 20 1.5 O que faz a música na escola? 21 2 Solta o som! 27 2.1 Modalidades do fazer musical 27 2.2 Composição 29 2.3 Apreciação 33 2.4 Performance 38 2.5 Literatura e técnica 41 3 Educação musical 48 3.1 Métodos ativos em educação musical 48 3.2 Abordagens criativas em educação musical 54 3.3 Ensinando música musicalmente 58 3.4 O jogo musical 62 3.5 O professor(a) de música atuante 64 4 A música no Ensino Fundamental 69 4.1 A aula de música no Ensino Fundamental – Anos Iniciais 69 4.2 A aula de música no Ensino Fundamental – Anos Finais 74 4.3 O planejamento da ação didática 76 4.4 Atividades e repertório 79 4.5 Avaliação 82 5 A música no Ensino Médio 89 5.1 A aula de música no ensino médio 89 5.2 O planejamento da ação didática 92 5.3 Interseções entre a música e as outras áreas 96 5.4 Atividades e repertório 100 5.5 Avaliação 104 6 Resolução das atividades 109 A música é parte do que nos torna humanos. Por isso, ela está presente em diferentes atividades que realizamos em nossas vidas, como na escuta de uma canção enquanto dirigimos o carro, nas brincadeiras que as crianças realizam em seus contextos ou, ainda, no canto coletivo em diferentes espaços religiosos. Por ser algo tão presente em nossas vidas, é fundamental que possamos também pensar seus processos de ensino e aprendizagem. Portanto, esse é o objetivo que buscamos alcançar neste livro: permitir um entendimento sobre a música, suas práticas e seus processos educativos. De maneira mais específica, temos como foco fornecer subsídios para que você possa pensar os processos de fazer, escutar e criar música em contextos de ensino e aprendizagem no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. O estudo da música e os seus ensinos permitem desdobramentos em diferentes discussões. No recorte deste livro, o Capítulo 1 contextualiza o que podemos chamar de música, como ela faz parte da cultura humana, os elementos do som e da música e as primeiras aproximações com o contexto escolar. Na sequência, o Capítulo 2 apresenta caminhos para pensar o comportamento musical como fenômeno e experiência com base no modelo C(L)A(S)P, de Keith Swanwick. Esse modelo permite desdobramentos para pensar a prática musical em três pilares relacionados com a composição/criação musical, a apreciação/escuta musical e a performance/fazer musical. Na continuação dos estudos, o terceiro capítulo permite adentrarmos o tema educação musical. De maneira específica, a educação musical é estudada a partir de abordagens metodológicas ativas e criativas, de fundamentações com base nos olhares de alguns educadores musicais e da reflexão do papel do professor no ensino e aprendizagem de música. Os dois últimos capítulos (4 e 5) focam, respectivamente, a música no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. Logo, disposições legais sobre a música na escola são apresentadas com subsídios para a estruturação da ação didática e para se APRESENTAÇÃO Vídeo pensar a elaboração, adaptação e seleção de atividades e repertórios musicais. Além disso, são exploradas possibilidades de relações com outras áreas de conhecimento e critérios para pensar a avaliação em música. Por fim, destacamos que esta obra contém indicações diversas que auxiliam a ampliar o seu repertório de experiências e reflexões. Esperamos que esta leitura possa lhe conduzir a caminhos de fundamentações de olhares para a música e para a educação musical de maneira contextualizada, com base em seus espaços de atuação como pessoa, músico, aluno e professor. Desejamos uma boa leitura! Sem a música não há vida 9 1 Sem a música não há vida Camile de Oliveira Prepare-se para uma jornada sonora, musical e cultural. Ao longo des- tas páginas a música será nossa companheira, compreenderemos seu conceito, sua presença e seu contexto na cultura humana. Na sequên- cia, falaremos sobre os elementos que fazem parte do som e da música, compreendendo as suas características. A nossa jornada encerra-se na escola, onde a música será situada como a protagonista da sala de aula. As indicações de filmes, documentários e livros enriquecem este caminho que vamos percorrer. Por isso, escolha a sua trilha sonora favorita, aperte o play e embarque nesta jornada musical. 1.1 O que é música? Vídeo Para começar, fazemos um convite. Imagine as seguintes situa- ções, com o maior número de elementos possível, resgatandoce- nas que você já viveu, imaginou ou assistiu em filmes/séries e na televisão: • uma longa viagem de carro, de ônibus ou de avião; • uma ocasião comemorativa, como aniversário, casamento ou formatura; • uma animada reunião com amigos; • um evento esportivo, com a torcida apoiando a sua equipe, como um jogo de futebol; • uma apresentação escolar de Natal. Conseguiu imaginar essas situações e seus personagens, ele- mentos, cores, cheiros, sensações, sons? Se a resposta for afirmati- va, é provável que cada uma dessas referências tenha feito você se lembrar de sons específicos ou de alguma trilha sonora em especial. O som, o silêncio e a música são elementos presentes no nosso co- tidiano, e muitas vezes independentes das nossas escolhas ou von- tades. A partir do momento em que o nosso aparelho auditivo se Conhecer e compreender o conceito de música. Objetivo de aprendizagem 10 Música na Educação Básica Ollyy/Shutterstock desenvolve, os fenômenos sonoros se integram e impactam as nossas vidas. A música acompanha a jornada da huma- nidade desde a origem da espécie, e, confor- me indicam os registros históricos, a voz, os instrumentos e o movimento eram utilizados como formas de expressão. Esse fato repre- senta a relevância da música na vida humana, pois, mesmo quando as necessidades básicas de sobrevivência eram as preocupações centrais, os sons vocais e instrumentais se constituíam como uma das atividades da espécie humana. Existem teorias que postulam a música como uma adaptação biológica que, ao promover a socializa- ção e a interação, contribuiu para a reprodução e a sobrevivência da nossa espécie. O professor e pesquisador da área da cognição e psicologia da música David Huron trata sobre as possíveis evidências da música ser uma adaptação evoluti- va. No artigo Um instinto para a música: seria a música uma adaptação evolutiva?, o autor ressalta que, ainda as que as teorias evolutivas sobre a música sejam especulativas, existem argumentos que podem sustentar essa compreensão. Acesso em: 1 out. 2021. https://seer.ufrgs.br/EmPauta/article/view/39610/25312 Artigo Na Antiguidade do Ocidente, a música foi objeto de pensadores nas sociedades grega e romana, e eles discorreram sobre os seus signifi- cados e valores. O termo grego mousiké simbolizava a unidade entre a poesia, o ritmo, a melodia e a dança. Nessa sociedade, a música signifi- cava uma forma de prática artística, social, cultural, educacional, políti- ca e ética. Havia também a relação dos sons e da música com os mitos, com os astros e com a magia. Esse termo é, ainda, uma das origens possíveis da palavra música. Ao longo do tempo, a música continuou acompanhando a huma- nidade, com transformações, adaptações e ressignificações, de modo a se inserir nas diversas culturas presentes no mundo. Em todas as sociedades humanas a relação com os sons e com o fazer musical é presente, ainda que essa relação seja tão diversa quanto as diferentes culturas e localidades do planeta. https://seer.ufrgs.br/EmPauta/article/view/39610/25312 Sem a música não há vida 11 Considerando essa diversidade de culturas e de contextos nos quais a música está inserida de alguma forma, a tarefa de buscar uma definição sobre a música é, no mínimo, desafiadora. Isso se deve ao fato de que, em determinadas sociedades, até mesmo o termo música é inexistente, ainda que exista alguma atividade vocal, instrumental, sonora. Por exemplo, os inuítes são uma população indígena do norte do Canadá que tradicionalmente não possui uma palavra para música conforme a entendemos. A palavra inuite nipi se aproxima do nosso entendimento sobre música, mas ela designa também o barulho, o falar, os sons dos de animais selvagens, da natureza, e os sons da garganta. Na linguagem xona, do Zimbábue, a palavra tamba é as- sociada à dança, à música e ao brincar. Em grande parte das etnias africanas, o sentido de música implica tanto o som quanto o movi- mento, ou seja, são indissociáveis. Entretanto, existem definições que nos ajudam a demarcar o nosso território musical. Músicos, filósofos, poetas e estudiosos de outras áreas buscaram definir, conceituar ou falar sobre música. Algumas citações, de tão conhecidas, estampam cadernos, roupas, bolsas, canecas e refletem algumas das ideias que o senso comum atribui à música. O site Pensador (2021) indica algu- mas dessas citações: Atribuída ao compositor Ludwig Beethoven: A música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos. A melodia é a vida sensível da poesia. Atribuída ao filósofo Friedrich Nietzsche: Sem a música a vida seria um erro. Atribuída ao físico Albert Einstein: https://www.pensador.com/autor/friedrich_nietzsche/ 12 Música na Educação Básica Se eu não fosse físico, provavelmente seria músico. Muitas vezes penso na música. Vivo meus devaneios na música. Vejo minha vida em termos de música. Atribuída ao escritor Aldous Huxley: Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o inexprimível é a música. Quais ideias, conceitos e relações estão presentes nessas frases? Leia-as novamente e procure refletir sobre qual entendimento sobre a música está implícito em cada uma das frases. A primeira frase indica uma relação tanto com os sentidos quanto com a esfera espiritual. A segunda sugere a importância da presença da música na vida humana. A terceira fala sobre o aspecto imaginativo. Por fim, a quarta frase traz a expressão. Como já comentamos anteriormente, esses aspectos per- meiam o senso comum quando pensamos sobre a música, e de alguma forma se relacionam também com os conceitos utilizados pelos estu- diosos. Entretanto, é necessário conhecer o que a literatura apresenta sobre isso. O dicionário Michaelis on-line informa o seguinte sobre o verbete música (MICHAELIS, 2021): 1. MÚS Arte de expressar ideias por meio de sons, de forma melo- diosa e conforme certas regras. 2. MÚS Composição harmoniosa e envolvente de sons. 3. MÚS Obra musical. Já a Enciclopédia Barsa (1994, p. 219) indica que música é a “arte de coordenar fenômenos acústicos para produzir efeitos estéticos”. Nos dois casos, podemos constatar que a música é definida por meio de elementos como melodia, harmonia, acústica e estética. A perspectiva cultural e social não é considerada nessas definições, de modo que os elementos estruturantes são a condição para a sua definição. Alguns teóricos da música também consideram esse aspecto nas suas concep- ções, como: https://www.pensador.com/autor/aldous_huxley/ Sem a música não há vida 13 “Música é a arte dos sons, combinados de acordo com as variações de altura, proporcionados segundo a sua duração e ordenados sob as leis da estética” (PRIOLLI, 2006, p. 6). “Música é a arte de combinar os sons simultânea e sucessivamente, com ordem, equilíbrio e proporção dentro do tempo” (MED, 1996, p. 11). “A música é uma organização de sons (ritmo, melodia etc.) com a intenção de ser ouvida” (SCHAFER, 1992, p. 35). Uma ampliação dessas definições, no sentido de considerar os as- pectos culturais e sociais, é apresentada por outros estudiosos da área, como Maura Penna (2008, p. 17; 22), que afirma: “a música é uma forma de arte que tem como material básico o som”, e complementa: “a mú- sica não é uma linguagem universal. É, sem dúvida, um fenômeno uni- versal, mas como linguagem é socialmente construída”. Nesse sentido, o pesquisador Ian Cross (2001, p. 4 apud MEIRELLES; STOLTZ; LÜDERS, 2014, p. 112) entende que: “Música pode ser definida como atividades temporalmente padronizadas humanas em âmbito individual e social que envolve a produção e percepção de sons e que não tem referencial consensual fixo assim como eficácia evidente”. E, de maneira abrangente, Elliot e Silverman (2015, p. 105, tradução nossa) apresentam o seguinte: 1. MÚSICA (em letra maiúscula): refere-se a todas as músicas do mundo, do passado e do presente. 2. Música (com a primeira em maiúscula): refere-se a uma práticamusical em específico, que é reconhecível como o resultado das dimensões interativas, intersubjetivas de engajamento humano. 3. música (com todas em minúscula): refere-se aos produtos musi- cais, peças, eventos musicais de vários tipos, como composições, performances, improvisações, vídeos e áudios etc. 14 Música na Educação Básica Outra discussão recorrente diz respeito ao entendimento da música como uma linguagem, ou seja, uma forma de comunicação e de ex- pressão dos sentimentos. Há também estudiosos que afirmam o con- trário, que a música não possui significado para além dela mesma, algo característico da linguagem. Sem a intenção de aprofundar essa discus- são, é importante compreender que o conceito de música não deve se restringir ao seu aspecto comunicativo ou emocional, algo recorrente em muitos discursos. Da mesma forma, apenas os seus elementos for- mais – melodia, harmonia, ritmo – são insuficientes para definir uma prática humana tão comum quanto complexa. Ao longo das páginas anteriores, você conheceu pontos de vista de diferentes áreas sobre a definição de música, as quais destacaram as suas perspectivas acústicas, de organização sonora, sobrenaturais, expressivas, comunicativas e sociais. A partir disso, qual seria a sua de- finição sobre música? Faça esse exercício crítico e reflexivo, que pode, inclusive, fomentar ricas discussões no contexto da sala de aula. Ao elaborar a sua definição, considere os aspectos culturais e sonoros que são compartilhados na sua prática. Afinal, o que é música? 1.2 Um homo musicalis Vídeo A música é um dos aspectos que caracterizam a espécie humana. Ainda que, para nós, os sons do pássaro soem como uma linda melodia, para o pássaro, a produção desse som é uma característica da espécie, independente de contexto, lugar ou significados atribuídos. Portanto, entende-se que apenas a espécie humana produz arte – o que inclui a música –, desenvolvendo ferramentas e técnicas específicas para essa finalidade e significando essas práticas na cultura. Conforme explica Penna (2008), quando afirmamos que os pássaros (ou outros animais) estão fazendo música, estamos interpretando esse som com base na nossa experiência humana. Um dos motivos pelo qual fazemos isso está em um importante órgão do corpo: o cérebro! O nosso cérebro é equipado para a música, ou seja, a sua estrutura e o seu funcionamento são capazes de receber e converter os estímulos sonoros em música. Devido ao avanço dos estudos da área da neuro- ciência, foi possível constatar estruturas cerebrais específicas utilizadas para o processamento musical. Os estudos sobre a neuroplasticidade cerebral mostram, inclusive, que o treinamento musical pode influen- ciar o desenvolvimento estrutural e funcional do cérebro (LEVITIN, Pergunte, para familiares ou amigos: “Para você, o que é música?”. Procure classificar as respos- tas considerando as perspectivas que citamos anteriormente: das suas características sonoras, sobrenaturais, expres- sivas, comunicativas ou sociais. Para refletir Contextualizar a música na cultura humana. Objetivo de aprendizagem Sem a música não há vida 15 2006). Isso contesta o que a crença popular sugere, que apenas quem tem dom pode desenvolver-se musicalmente. De acordo com os estu- dos, o “dom” para a música é algo que todos nós possuímos (o nosso cérebro), e o que pode aperfeiçoar na nossa relação com ela são os estímulos, os aprendizados e as vivências. Você já acompanhou uma música batendo os pés, sem nem perce- ber? Ou então alguma música já fez você se lembrar de uma situação específica da sua vida? Sentiu uma energia incrível ao ouvir uma playlist? A área que nos ajuda a entender como esses e outros comportamentos funcionam é a cognição musical, cujas pesquisas tratam dos proces- sos mentais envolvidos quando nos relacionamos com a música, o que inclui áreas diferentes do conhecimento, como psicologia, neurobiolo- gia, musicologia, entre outras (MEIRELLES; STOLTZ; LÜDERS, 2014). A relação entre a música e o cérebro contribui para compreendermos os processos de ensino e aprendizagem, composição, performance, per- cepção auditiva, memória, emoção, linguagem e significado etc. A cog- nição musical considera, ainda, que somos afetados pela música tanto pela emoção quanto pela enculturação (SLOBODA, 2008). Já sabemos que a música nos acompanha há muito tempo, e existem registros arqueológicos que mostram que, antes mesmo da linguagem e da agricultura, a nossa espécie já fazia música (LEVITIN, 2006). Flautas que datam de cerca de 50 mil anos a.C. e registros da arte rupestre em sítios arqueológicos comprovam que os sons, o canto e o movimento são formas expressivas indissociáveis do ser humano. Porém, essa re- lação foi se modificando ao longo do tempo, adaptando-se e refletindo as mudanças na forma de entendermos o mundo. Figura 1 Flauta pré-histórica Um dos exemplos de instrumentos pré-históricos: uma flauta feita de osso de ave, com orifícios. Foi encontrada na caverna de HohleFels, na Alemanha, e data de aproximadamente 35 mil a.C. Os pesquisadores acreditam que pedras, troncos e sementes foram outros materiais utilizados para produzir som. m ou nt ai np ix /S hu tte rs to ck A separação entre “quem ouve” e “quem faz” música ou a dissocia- ção entre tocar, cantar e dançar são mudanças recentes em boa parte da sociedade ocidental. Em determinadas sociedades indígenas, todos O músico e pesquisador canadense Daniel Levitin é o autor do Livro A mente musical – a psicologia cogni- tiva da música. No vídeo Daniel Levitin – Your Brain on Music ele explica como o cérebro se relaciona e responde à música. Ative a legenda e surpreenda-se com o cérebro musical. Disponível em: https:// www.youtube.com/ watch?v=lyt8EmsJIBA. Acesso em: 1 out. 2021. Site No documentário O poder da música (título original: Alive inside: a Story of Music & Memory) podemos perceber como a emoção da música influencia até na memória de pacientes com Alzheimer e demên- cia. Um dos casos é o de Henry, que já não se lembra nem de si mesmo, nem de sua família, mas, ao ouvir algumas de suas músicas preferidas, recorda-se da letra da canção e de detalhes da época em que as ouvia. É emocionante! Direção: Michel Rossato-Bennett. Estados Unidos: Projector Media, 2014. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=8FPpmBfpKcA. Acesso em: 1 out. 2021. Documentário https://www.youtube.com/watch?v=lyt8EmsJIBA https://www.youtube.com/watch?v=lyt8EmsJIBA https://www.youtube.com/watch?v=lyt8EmsJIBA https://www.youtube.com/watch?v=8FPpmBfpKcA https://www.youtube.com/watch?v=8FPpmBfpKcA 16 Música na Educação Básica tocam, cantam e ouvem música, ou seja, não há a separação entre com- positores, intérpretes e ouvintes. Outro exemplo ocorre nas sociedades africanas nas quais tocar, cantar e dançar são atividades integradas, in- dissociáveis (ELLIOT; SILVERMAN, 2015). As funções que a atividade mu- sical desempenha também variam conforme a época e o lugar, sendo utilizada em rituais religiosos, para sustentar uma atividade repetitiva, ajudar na conexão espiritual, regular comportamentos, entre outros. Allan Merriam (1964 apud HUMMES, 2004, p. 18) aponta dez categorias de funções que a música pode desempenhar na sociedade: 1. expressão emocional; 2. prazer estético; 3. divertimento e entretenimento; 4. comunicação; 5. representação simbólica; 6. reação física; 7. imposição de conformidade às normas sociais; 8. validação das instituições sociais e dos rituais religiosos; 9. contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura; 10. contribuição para a integração da sociedade. O título desta seção, Homos Musicalis, não é um termo científico, porém foi utilizado com o objetivo de reforçar como o nosso cérebro, a nossa mente e os nossos comportamentos são, de diferentes formas, impactados pela música. Esse é o nosso ponto de partida para tratar- mos de questões específicas doensino e da aprendizagem da música na Educação Básica. 1.3 Propriedades do som Vídeo Agora que situamos a música na cultura humana, vamos tratar de um aspecto fundamental para a sua constituição: o som. Perceba que até o momento direcionamos a nossa discussão à música, mas ainda assim o som permeou o nosso texto – isso porque a relação som e música é intrínseca, ou seja, o som é a matéria-prima da música. O som será aqui enfocado de maneira isolada apenas por propósitos didáti- cos, por isso reforçamos que o som é inseparável da música. Som é um fenômeno acústico que acontece por meio da vibração de um corpo e que se propaga em um meio. As vibrações produzem ondas sonoras que são captadas e decodificadas pelos ouvidos e pelo cérebro. Quando as vibrações são regulares, o resultado, em geral, é Pensando em você, reflita e busque lembrar de uma música a partir das seguintes situações: a. Quando você acorda feliz, uma das músicas que você ouve é: b. Em uma festa, você gosta de ouvir: c. Uma música que marcou um momento importante da sua vida: d. Uma música que sabe cantar ou tocar decor é: e. A música que te acom- panha no trabalho, no trânsito ou em algum afazer doméstico: f. A primeira memória musical que tem da infância é: Para refletir Compreender as pro- priedades constitutivas do som. Objetivo de aprendizagem Sem a música não há vida 17 de um som com altura definida, por exemplo, o som de uma tecla do piano. Quando as vibrações são irregulares, o resultado é um ruído, um som sem altura definida, como o de um copo quebrando. E quando não captamos ou percebemos nenhuma vibração? Nesse caso, temos o silêncio. O som, o ruído e o silêncio são fundamentais para a música. An dr ew B er ez ov sk y/ Sh ut te rs to ck Figura 2 Vibrações do som A vibração da onda sonora não é visível, porém alguns experimentos como o desta imagem nos ajudam a visualizar esse processo. Podemos classificar o som de acordo com as suas características. As propriedades do som são um aspecto da música frequentemente abor- dado no ensino e aprendizagem, sendo, em alguns casos, considerado como conteúdo central. Ressaltamos que as propriedades do som são parte do trabalho com educação musical, mas não se constituem como um objetivo principal; este deve ser a música como um todo. São quatro as propriedades (também chamados de qualidades ou parâmetros) do som: altura, timbre, duração e intensidade. Confira: • Altura: refere-se aos sons graves (“grossos”), médios e agudos (“finos”). Em música, dizemos que um som grave é baixo, e que um som agudo é alto. Chamamos assim porque não há relação com a potência do som, e sim com a vibração da onda sonora. Em geral, a altura do som varia de acordo com o corpo vibrante – por isso uma corda grossa terá um som grave, e uma corda fina terá um som agudo. É importante que essa classificação aconteça na comparação de ao menos dois sons: um deles será entendi- do como grave ou agudo em relação ao outro. Por exemplo, nos sons da natureza, o som de um trovão é mais grave do que o som de um pássaro; o rugido do leão é grave em comparação com o miado do gato. O silêncio foi um tema recorrente na pesquisa e na obra do compositor norte-americano John Cage (1912-1992). Com o objetivo de buscar o silên- cio absoluto, ele adentrou uma câmara anecoica, que é um ambiente preparado para isolar e conter os sons. Ainda que ele não tenha ouvido sons externos e nem internos, o silêncio não se fez por completo: foi possível ouvir a sua pulsação e circulação sanguínea. Experimente tampar os ouvidos com os dedos – com cuidado – e perceba: você ouviu algum som? John Cage também compôs a obra 4’33” (lê-se “quatro minutos e 33 se- gundos”), na qual explora a relação do silêncio com a música. Procure por essa obra no YouTube e surpreenda-se. Curiosidade 18 Música na Educação Básica Sobre a grafia musical (tanto na partitura tradicional quanto na analógica), existem algumas convenções no registro dos sons graves, médios e agudos: em geral, os sons graves são grafados em um plano inferior; e os agudos, em um plano superior, conforme podemos observar nas figu- ras a seguir. Figura 3 Partitura tradicional Nota dó grave, escrita no plano inferior. Nota dó grave, escrita no plano inferior. Nota dó agudo, escritas no plano superior. al ri/ Sh ut te rs to ck Nesta partitura tradicional, os sons se sucedem do grave para o agudo e do agudo para o grave. Fonte: Elaborada pela autora. Figura 4 Partitura analógica Som agudo Som grave Som grave Na partitura analógica são indicados movimentos ascendentes e descendentes do som, do grave para o agudo e do agudo para o grave. Fonte: Elaborada pela autora. • Duração: refere-se a quanto tempo ele soa, ao “comprimento” dos sons, podendo ser longos, curtos, muito curtos, entre outros. Pense nas durações dos seguintes sons: uma batida de martelo; uma buzina que é pressionada por bastante tempo; os pingos de uma torneira; uma sirene de ambulância. A batida de martelo e os pingos têm uma duração curta, e a buzina e a sirene têm o som longo. Sobre a duração dos sons, também existem algumas convenções no registro dos sons longos e curtos, como o uso de traços longos para representar os sons longos e traços curtos para representar os sons curtos. É possível também utilizar pa- lavras ou sílabas como referência à duração dos sons. Confira: Sem a música não há vida 19 Figura 5 Figuras de ritmo do som e do silêncio utilizadas na notação tradicional, da mais longa para a mais curta Pe te r H er m es F ur ia n/ Sh ut te rs to ck Figura 6 Grafia analógica do ritmo, indicando sons longos e curtos com traços som longo som curto som curto sons muito curtos Fonte: Elaborada pela autora. • Timbre: permite diferenciar a fonte sonora, ou seja, o que produ- ziu o som. Por meio do timbre, conseguimos distinguir se ouvimos uma flauta ou um violão, ou discriminar os sons do cotidiano. O timbre também é o responsável por identificarmos a voz de uma pessoa sem precisar ver quem está falando. Na educação musi- cal, o trabalho com o timbre pode incluir o som dos instrumentos, os sons do corpo, dos objetos sonoros, da natureza, entre outros. • Intensidade: refere-se aos sons fortes e fracos, que crescem ou decrescem. Novamente, não há relação direta entre o alto (agu- do) e o baixo (grave), ou seja, os termos que utilizamos em músi- ca são forte (para sons fortes, como uma explosão) e fraco (para sons fracos, como um botão caindo no chão). Note que um som pode ser alto (agudo) e fraco, como o de moedas batendo; pode também ser baixo (grave) e forte, como um trovão. Na notação existem formas de representar a intensidade dos sons. Na par- titura tradicional são colocadas letras na parte inferior das notas que representam a intensidade dos sons, por exemplo, p para piano (que não tem relação com o instrumento musical; no ita- liano, a palavra significa “fraco”), mf para mezzo forte (do italiano, “meio forte”) e f para forte (do italiano, “forte”). Na notação analó- gica pode-se utilizar traços espessos para os sons fortes e estrei- tos para os sons fracos: 20 Música na Educação Básica Figura 7 Grafia analógica do ritmo, indicando sons fortes e fracos I I I I I I I I Sons fortes sons fracos Fonte: Elaborada pela autora. Na literatura recente, alguns autores citam a densidade como outro parâmetro do som. Ela representa a quantidade de sons que acontecem ao mesmo tempo, simultâneos, e que podem ser densos ou rarefeitos (CAZNOK, 2003). Uma sala de aula cheia de estudantes conversando tem uma sonoridade densa, e uma sala com dois estudantes tem uma sono- ridade rarefeita. Em música, uma orquestra inteira tocando tem um som denso, e, quando apenas uma pessoa faz um solo, o som é rarefeito. Você percebeu que as propriedades do som não ocorrem de ma- neira isolada? Ou seja, um som pode ser agudo, longo, fraco e vir de umobjeto, da natureza, do corpo ou de instrumento. Quando falamos da música – e não especificamente dos sons –, essa integração é ainda mais evidente. Ao pensarmos na articulação entre duração, timbre, in- tensidade e altura, estamos falando do próximo tópico: os elementos da música! 1.4 Elementos da música Vídeo Você já ouviu alguém falando que achou linda uma melodia? Ou que o grupo estava tocando em perfeita harmonia? E alguém já te disse que não tem ritmo? Esses termos originam-se nos elementos que com- põem a música e que são resultado da articulação dos parâmetros do som. A melodia designa uma sequência de sons com altura definida, como no caso de um violino tocando, sozinho, a Marcha Nupcial. Geral- mente, quando assobiamos uma música, estamos assobiando a sua melodia, o seu contorno melódico. A harmonia trata-se de quando os sons musicais acontecem de maneira simultânea. Alguns instrumentos – entre eles piano, violão, acordeão, harpa e guitarra – são capazes de produzir três ou mais sons ao mesmo tempo, por isso fazem a harmonia da música. Dessa forma, afirmações como “a harmonia da cantora” não são verdadeiras. A frase em francês “Tous le choses, c’est du rythme”, ou, em por- tuguês, “Tudo é ritmo”, é proferida por um homem do grupo étnico Compreender os ele- mentos constitutivos da música. Objetivo de aprendizagem Sem a música não há vida 21 Malinke, da África, no documentário Foli: não há movimento sem ritmo. O percussionista brasileiro Naná Vasconcelos diz que “o ritmo é a músi- ca que nasce da escuta do corpo, e não da abstração da alma, inspirado pela atenção ao compasso do mundo” (DIÁRIO DE NANÁ, 2007). Essas frases significativas revelam algo que nem sempre percebemos: que o ritmo é parte da nossa vida. Na teoria musical, o ritmo é definido como a organização das durações do som. Na música e na vida, o ritmo ultrapassa essa definição, “é aquilo que nos faz dançar, movimentar o corpo, bater com os pés” (LEVITIN, 2006, p. 67-68). A pulsação e o andamento são conceitos que se relacionam com o ritmo. A pulsação é a regularidade – ou irregularidade – nas batidas da música. Quando cantamos “parabéns a você”, batemos palmas na pulsação. O andamento é a velocidade da pulsação de uma música: po- demos cantar e acompanhar o “Parabéns” em velocidade lenta, média, rápida, acelerando, desacelerando etc. Retomando a importância do ritmo na vida, pense na pulsação do seu coração, nos dedos digitando no teclado do computador, na vassoura varrendo o chão. Com relação à música, pense na batida do rock We will rock you, da banda Queen, por exemplo. Tudo isso é ritmo. A teoria musical ocidental considera os parâmetros do som e os ele- mentos da música como estruturas centrais da nossa área. Entretanto, a educação musical no contexto escolar vai além dos aspectos técnicos e teóricos do ensino de música. Diferentemente de formar instrumentis- tas ou cantores, o ensino de música na escola deve ir além, e objetivar “a mudança na experiência de vida e, especialmente, na forma de se re- lacionar com a música e com a arte no cotidiano” (PENNA, 2008, p. 89). Assista ao documentário Foli: não há movimento sem ritmo, de 2010, produzido por Thomas Roebers e Floris Leeuwen- berg, e sinta o poder do ritmo nas nossas vidas. Direção: Thomas Roebers e Floris Leeuwenberg. Guiné: Bjorn Warning, 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=lVPLIuB9CY&t=40s. Acesso em: 1 out. 2021. Documentário 1.5 O que faz a música na escola? Vídeo Você já parou para pensar sobre como são selecionadas as discipli- nas escolares? Por que algumas áreas do conhecimento se estruturam de uma determinada forma e passam a fazer parte da cultura escolar? Certamente os documentos oficiais da educação são um fator deter- minante nesse processo, mas existem outros fatores? E em relação à música, desde quando ela é um conteúdo escolar? Na sua opinião, por que ela deve ser um componente curricular? As disciplinas escolares refletem, em geral, os saberes e conteúdos do cotidiano, do conhecimento científico e da cultura. Essa sistemati- Situar a presença da música na escola. Objetivo de aprendizagem https://www.youtube.com/watch?v=lVPLIuBy9CY&t=40s https://www.youtube.com/watch?v=lVPLIuBy9CY&t=40s 22 Música na Educação Básica zação que ocorre quando um conhecimento vira uma disciplina não é fixa e depende de muitas variáveis. Especificamente sobre a música, Fonterrada (2008, p. 13) diz que “o fato de a música ter ou não seu valor reconhecido coloca-a dentro ou fora do currículo escolar”. Atualmente a música é uma das linguagens artísticas que integra o componente curricular Arte, ou seja, ela é um saber que deve fazer parte da Educa- ção Básica. Mas será que sempre foi assim? No Brasil, a trajetória da música na escola é marcada por idas e vindas. Mudanças políticas influenciaram a sua presença ou ausência nesse contexto, de modo que a história da educação musical escolar permanece em construção. Isso não significa que ela seja algo novo, conforme podemos constatar na linha do tempo a seguir, que indica alguns marcos importantes da música na educação. Figura 8 Marcos e práticas em educação musical no Brasil Jesuítas Rigor Repertório europeu Igreja Canto/instrumento 1808: Família real Música fora da Igreja. Decreto sobre o ensino de música nas escolas Canto/instrumento A PARTIR DE 1500 1854 Escola Nova Canto orfeônico: Villa-Lobos Música para todos Criação/som (Continua) SÉC. XX Sem a música não há vida 23 Linguagem da Arte Lei n. 13.278/2016 e BNCC (2017): música como linguagem do componente da Arte PCN LDBEN n. 9.394/1996 – PCN Arte como área Polivalência Lei n. 5.692/1971 Educação artística Conteúdo obrigatório Lei n. 11.769/2008: música como componente curricular obrigatório da Educação Básica 1996 2016/2017 1971 2008 Fonte: Elaborada pela autora. Conforme você pode observar, temos um histórico no ensino e aprendizagem em música que, especialmente a partir de 1808, passa a acontecer também na escola. Nessa época, o objetivo era o treinamen- to vocal e instrumental. O canto orfeônico foi uma proposta de educa- ção musical desenvolvida pelo compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos e que esteve em vigor nas escolas públicas brasileiras entre 1930 e 1950. Partindo do folclore nacional e dos grandes agrupamentos co- rais, o canto orfeônico é considerado como a primeira sistematização de uma proposta de educação musical escolar, que incluía a formação de professores, metodologia e materiais didáticos específicos. O canto orfeônico é uma prática coral que, no Brasil, foi utilizada no con- texto coletivo das escolas públicas. Tinha o propó- sito de ensinar o canto e elementos da teoria nas aulas de música a partir do repertório folclórico e cívico brasileiro. Além do ensino de música, o canto orfeônico brasileiro cum- pria objetivos ideológicos e políticos, de disciplina e civismo. Saiba mais 24 Música na Educação Básica Em 1971, com a Lei n. 5.692/1971, uma nova proposta metodológica entrou em vigor, instituindo a Educação Artística, que à época se pro- vou um esvaziamento da música na escola. Apenas a partir dos Parâ- metros Curriculares Nacionais é que a música volta a ser considerada uma área do conhecimento. Em 2008, ela tornou-se componente cur- ricular obrigatório, e, a partir de 2016, tem seu espaço garantido, com objetos do conhecimento e habilidades próprias discriminadas na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017). Antes de 2008, as discussões sobre a educação musical esco- lar direcionavam-se para validar a sua presença como disciplina; depois dessa conquista de espaço, é preciso refletir sobre qual ensino de música queremos na escola brasileira. O objetivo da educação musical não deve ser exclusivamente o do treinamento teórico, vocal ou instrumental. A música é parte do conteúdo es- colar pelo fato de ser parte da vida humana, uma prática cultural que encontra na sala de aula uma oportunidadepara ser experi- mentada, sentida, criada, praticada, pensada, compartilhada, am- pliada e ressignificada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio da música, você fez uma jornada que começou no tempo das cavernas e que chegou até a sala de aula de hoje. Foi possível constatar a importância e presença dela na cultura humana, compreendendo algu- mas de suas características e os elementos que a compõem. Diferentes definições de música foram apresentadas e, frente ao desafio de sintetizar uma expressão artística tão complexa, ressaltamos a sua compreensão por meio da prática social e dos elementos que fazem parte dela. Os parâmetros do som e os elementos da música são tópicos que frequentemente fazem parte dos conteúdos abordados na educação musical. Entretanto, eles não devem ser os elementos centrais do ensino e aprendizagem da música no contexto escolar, tampouco devem ser o treinamento teórico, vocal ou instrumental. Na sala de aula, a prática, a apreciação e a criação devem ser o fio condutor das propostas, permea- das pelos conteúdos teórico, histórico e técnico da área. Todos somos seres musicais e nos relacionamos com a música de alguma forma, e na escola vamos fomentar, pensar e ampliar essa relação tão antiga quanto a própria humanidade. No livro Hoje tem aula de música?, a autora, Cecília Cavalieri França, reúne propostas para pensar- mos a aula de música na escola. Cada capítulo apresenta atividades e questões que são explica- das e discutidas com base no referencial teórico da área. FRANÇA, C. C. Belo Hori- zonte: MUS, 2016. Livro Sem a música não há vida 25 ATIVIDADES Atividade 1 No início do capítulo, você conheceu diferentes ideias e conceitos sobre a música. Reveja o que diz a literatura apresentada sobre o conceito de música e elabore um resumo que contemple essas diferentes perspectivas. Atividade 2 Com as suas palavras, explique os parâmetros do som e os elementos da música. Inclua exemplos de cada um deles. Atividade 3 Com base na leitura do capítulo, o que justifica a presença da música na escola? Atividade 4 Qual é o objetivo da educação musical escolar? Atividade 5 De que forma podemos trabalhar com a música na escola? REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. CAZNOK, Y. B. Música: entre o audível e o visível. São Paulo: Unesp, 2003. DIÁRIO DE NANÁ. Direção: Samora Paschoal. Rio de Janeiro: Grifa Mixer, 2007. ELLIOTT, D.; SILVERMAN, M. Music matters: a philosophy of music education. 2. ed. New York: Oxford University Press, 2015. ENCICLOPÉDIA BARSA. Rio de Janeiro: Encyclopaedia Britannica, 1994. FONTERRADA, M. T. de O. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. 2. ed. São Paulo: Unesp, 2008. 26 Música na Educação Básica HUMMES, J. M. Por que é importante o ensino de música? Considerações sobre as funções da música na sociedade e na escola. Revista da ABEM, Porto Alegre, v. 12, n. 11, p. 17-25, set. 2004. Disponível em: http://www.abemeducacaomusical.com.br/revistas/revistaabem/ index.php/revistaabem/article/view/343. Acesso em: 1 out. 2021. LEVITIN, D. A música no seu cérebro: a ciência de uma obsessão humana. Trad. de Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Schwarcz, 2006. MED, B. Teoria da música. Brasília: Musimed, 1996. MEIRELLES, A.; STOLTZ, T.; LÜDERS, V. Da psicologia cognitiva à cognição musical: um olhar necessário para a educação musical. Música em perspectiva, v. 7, n. 1, 2014. MICHAELIS. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. 2021. Disponível em: https:// michaelis.uol.com.br/. Acesso em: 1 out. 2021. PENNA, M. Música(s) e seu ensino. Porto Alegre: Sulina, 2008. PENSADOR. Frases sobre Música. 2021. Disponível em: https://www.pensador.com/frase_ sobre_musica/. Acesso em: 1 out. 2021. PRIOLLI, M. L. de M. Princípios básicos da música para a juventude. Rio de Janeiro: Casa Oliveira de Músicas LTDA, 2006. SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. Tradu. de Marisa Trench de O. Fonterrada, Magda R. Gomes da Silva e Maria Lúcia Pascoal. São Paulo: Unesp, 1992. SLOBODA, J. A. A mente musical: psicologia cognitiva da música. Trad. de Beatriz Ilari e Rodolfo Ilari. Londrina: Eduel, 2008. http://www.abemeducacaomusical.com.br/revistas/revistaabem/index.php/revistaabem/article/view/343 http://www.abemeducacaomusical.com.br/revistas/revistaabem/index.php/revistaabem/article/view/343 https://michaelis.uol.com.br/ https://michaelis.uol.com.br/ https://www.pensador.com/frase_sobre_musica/ https://www.pensador.com/frase_sobre_musica/ Solta o som! 27 2 Solta o som! Camile de Oliveira Solta o som! é o nome deste capítulo por uma razão especial: a nos- sa relação com a experiência musical acontece diretamente por meio de comportamentos específicos, que nos envolvem, nos motivam e captu- ram a nossa atenção. Vamos conhecer quais são esses comportamentos musicais e qual é a relação deles no contexto da aula de música na escola. Vamos começar investigando quais são as modalidades do compor- tamento musical como fenômeno e experiência e suas características. Vamos compreender o modelo C(L)A(S)P, de Keith Swanwick, situando a composição, a apreciação e a performance na aula de música, além da li- teratura e da técnica. Vamos conhecer as possibilidades de trabalhar com essas modalidades, refletindo sobre os seus papéis na educação musical. Porém, vamos começar com um experimento: escolha a sua música pre- ferida e coloque-a para ouvir agora mesmo. Feche o livro, e quando ela acabar, volte para cá. 2.1 Modalidades do fazer musical Vídeo Durante o momento de fruição, no experimento que indicamos na introdução, a música fez você pensar e discriminar os sons longos e curtos? Os sons graves, médios e agudos foram o objeto da sua aten- ção exclusiva? Ou você reparou somente em qual tipo de instrumento estava tocando, analisando se o som foi forte ou fraco? Possivelmente, você teve uma experiência bem diferente do que as perguntas sugerem. A sua música preferida mexeu com você, capturou a sua atenção e, mesmo sem perceber, você já estava cantando, ba- tucando, acompanhando com a sua mente, com os pés ou dançando. Por meio dessa experiência – tão frequente quando ouvimos as nos- sas músicas – percebemos que a complexidade do fenômeno musical não se resume à percepção e à classificação dos parâmetros do som. A articulação da duração, altura, timbre e intensidade, organizados de Investigar as caracterís- ticas das modalidades do comportamento musical como fenômeno e experiência. Objetivo de aprendizagem acordo com uma intenção expressiva e ordenados em uma estrutura compõem o discurso musical ao qual atribuímos sentido e significado (SWANWICK, 2003). Isso acontece por meio das formas diretas de nos relacionarmos com a música: ouvir, tocar e cantar, criar, permeados pelo conhecimento de técnicas e da literatura da área. Esse é o princípio do modelo C(L)A(S)P, do educador musical inglês Keith Swanwick (1979), que defende uma abordagem integrada da músi- ca como fenômeno e experiência (FRANÇA; SWANWICK, 2002). Do inglês, as letras representam as atividades principais: C – composition (compo- sição); A – appreciation (apreciação); e P – performance (execução). As letras que ficam entre parênteses não são centrais nesse modelo, mas permeiam a experiência musical: L – literature (literatura); e S – skills (téc- nicas). No português, costuma-se utilizar a sigla (T)EC(L)A, que, embora pareça uma tradução interessante, traz uma ordem diferente das moda- lidades. Para Swanwick, a técnica não é um aspecto central, já a compo- sição o é, por isso, ela é a primeira letra da sigla inglesa. Por conta disso, neste livro, utilizaremos a sigla original: C(L)A(S)P. Cada uma das modalidades – composição, apreciação e performan- ce – oportuniza diferentes formas e níveis de envolvimento com a ex- periência musical. A natureza específica do ato de criar, tocar e cantar e ouvir promove o nosso engajamento cognitivo, afetivo e psicológico, conforme explicaSwanwick: Enquanto compõe, o indivíduo desenvolve o pen- samento abstrato, pois cria mundos imaginários, estruturando os sons conforme sua intenção ex- pressiva. Ao ouvir música, ele é levado a acomo- dar-se àquelas combinações sonoras, imitando-as internamente. Quando realiza uma performance musical vocal ou instrumental, coloca em ação um conjunto de habilidades sensoriais, físicas e inte- lectuais. Integrar essas modalidades na educação musical significa equilibrar atividades de tendências imitativas e imaginativas, contribuindo para o de- senvolvimento integral do aluno. Estudos científicos apresentam mais uma razão para incluí-las e inte- grá-las no currículo: elas constituem “janelas” que podem ser indicadores singulares da compreensão musical do indivíduo (FRANÇA, 2006, p. 71). Vi Di S tu di o/ Sh ut te rs to ck 2828 Música na Educação BásicaMúsica na Educação Básica Solta o som! 29 Por esse motivo, a centralidade do ensino de música não deve es- tar apenas nos parâmetros do som, nos elementos da música ou na teoria; esses aspectos são parte de algo maior, ou seja, a música como experiência que vivenciamos de diferentes formas: ouvindo, cantando, tocando, inventando e compartilhando. 2.2 Composição Vídeo A composição é uma atividade musical que pode, em um primeiro mo- mento, parecer algo destinado a poucas pessoas, apenas àqueles com algum tipo de “dom” específico. Associamos o ato de compor à figura do composi- tor, aquela pessoa excêntrica, com profundo conhecimento musical, alguém inacessível e que faz obras destinadas ao entendimento de poucos. Entretanto, a composição é, essencialmente, o ato de criar, sendo isso algo que fazemos com frequência em nosso cotidiano, inclusive, em nosso dia a dia musical. Improvisar uma batucada, um movimen- to, uma coreografia, uma letra, um assobio são todos atos de criação que experimentamos em algum momento, de modo consciente ou in- consciente. Quem já observou uma criança brincando, percebeu que a criação de músicas é uma atividade que flui da sua expressão natu- ralmente lúdica e criativa. Na adolescência, a necessidade de autoex- pressão e de autoafirmação pode transparecer na criação de canções autorais. França (2017, p. 39) diz que esse comportamento musical: [...] envolve toda forma de invenção musical e ocorre sempre que alguém tem liberdade de organizar sons com a intenção de se expressar musicalmente, independente da complexidade técni- ca e do grau de originalidade envolvidos. Essa atividade desen- volve a sensibilidade ao potencial expressivo das ideias musicais, já que envolve o trabalho com a matéria-prima sonora de manei- ra direta e criativa e permite ao indivíduo tomar decisões sobre incontáveis possibilidades de organização dos sons. Por isso, a composição deve ser parte das nossas aulas de música, independentemente do segmento ou contexto de ensino. Diferentes autores – tanto da teoria musical quanto da educação musical – busca- ram conceituar os termos composição, criação e improvisação sob dife- rentes pontos de vista. Sem a intenção de aprofundar essa discussão, cabe salientar que, neste livro, serão utilizados os termos composição, criação e improvisação como referência às criações musicais no con- Compreender e situar a composição e a improvi- sação na aula de música. Objetivo de aprendizagem 30 Música na Educação Básica texto da música na escola. Além de desmistificar o ato de compor e a figura do compositor, é importante conhecermos as oportunidades de trabalho que esse aspecto importante da educação musical oferece. Estruture a sua proposta de composição com clareza e objetividade, preferencialmente, relacionando-a com o conteúdo e o tema da aula. Propostas muito abertas, como “Invente uma música”, podem não ser a melhor forma de estimular a composição. Inicialmente, invista em mo- mentos curtos e frequentes para criar, de modo que os alunos se acos- tumem com esse espaço de protagonismo criativo. Perceba o quanto é necessário interferir na composição, equilibrando as orientações da atividade com o espaço para o aluno se expressar. Ao realizar as me- diações, utilize perguntas no sentido de estimular a reflexão dos alu- nos. Em vez de usar afirmações categóricas, como “Não é assim”, “Está errado”, pergunte: “Qual é a sua ideia?”, “Como a música vai começar? E depois, como será?”, “Como a música vai terminar?”, “Quais sons você vai utilizar?”, “Será que essa ideia combina com o que foi proposto (re- force a proposta inicial)?”, “O que você gostaria de mudar?”. Na sala de aula, você pode propor momentos de criação coletiva ou em pequenos grupos. Em pequenos grupos, considere um tempo maior para a atividade, pois as trocas e divergências são tão comuns quanto ricas para o processo criativo. Faça visitas aos grupos e pergun- te sobre o que estão pensando, quais ideias surgiram, como elas serão Ka te ry na O m el ia nc he nk o/ Sh ut te rs to ck https://www.shutterstock.com/pt/g/craftykat Solta o som! 31 realizadas. Oportunize um momento para que todos possam compar- tilhar as suas criações, reforçando um ambiente sem julgamentos ou constrangimentos. Nessas apresentações, permita que o grupo se organize, e peça para que eles expliquem a ideia após a apresentação. Peça para que os alunos apresentem novamente, caso perceba que a primeira apresen- tação não tenha sido como o planejado. Ofereça um incentivo verbal, no sentido de evidenciar a relação entre a proposta (o que você pediu), o processo (como trabalharam) e o produto (o resultado final). Julga- mentos de valor como “bom”, “ruim”, “gostei”, “não gostei” devem ser evitados por não contribuírem no desenvolvimento ou na avaliação de uma proposta de criação. Em vez disso, pergunte: “O que poderia ser diferente?” No coletivo, uma proposta inicial pode ser o uso de “tutti – solo – improviso”: tutti, do italiano, indica algo que todos fazem ao mesmo tempo e da mesma forma. Nos solos, uma pessoa apenas faz, momento em que pode apresentar a sua criação, e no improviso, cada um dos participantes inventa algo na hora, concomitantemente. Para exemplificar, pense na sequência palma – palma – estalo – es- talo como um tutti. Toda a turma realiza o mesmo movimento. Depois, pergunta-se quem pode criar uma sequência mantendo a palma – pal- ma, mas substituindo os estalos por outros dois sons corporais; este será o solo da pessoa. Repete-se o tutti algumas vezes, e então a pes- soa faz o solo. No improviso, todos são convidados a fazer quaisquer outros sons corporais, ao mesmo tempo, explorando e inventando na hora, sem que o foco seja individual. Nesse caso, a forma ficaria então: tutti – solo – tutti – improviso e tutti. Ao planejar uma atividade de composição para as suas aulas de mú- sica, considere os seguintes aspectos: estruture bem a sua proposta em relação aos objetivos e às orientações. Por exemplo, se o conteúdo da aula for sons do corpo, a orientação pode ser: crie uma sequência de quatro ba- tidas utilizando dois sons corporais diferentes. Nessa proposta, temos o objetivo claro (composição de uma sequência) e a orien- tação (quatro batidas com dois sons corporais diferentes) bem definidos; comece com a exploração e a manipulação de algum elemento relacionado à composição. No caso de uma proposta de compo- 32 Música na Educação Básica sição utilizando o som das vogais, primeiro faça uma atividade na qual a turma possa experimentar as diferentes possibilidades dos sons das vogais. Depois de experimentar e manipular o ma- terial musical – corpo, voz, instrumento, movimento –, encaminhe a atividade de composição; utilize recursos visuais e de associação para estimular a criativida- de musical. Associações com personagens de filmes, desenhos, super-heróis ou com cenários – uma praia, o trânsito, uma flores- ta, um castelo abandonado – contribuem nas escolhas expressi- vas dos alunos no ato de selecionar os sons da composição; nesse sentido, também utilize cartõescom sinais gráficos (um cartão com poucas bolinhas, outro cheio de bolinhas, por exem- plo), ou com palavras sugestivas, como “alegre”, “misterioso”, “agitado”, “cansado”, “engraçado”, para estimular o clima expres- sivo da composição; paródias e arranjos instrumentais são outras formas de criação musical que podem ser utilizadas. Na paródia, a estrutura da can- ção é mantida e a composição se direciona à letra. No arranjo, a letra é mantida, mas o acompanhamento instrumental é o foco da criação. Além dos instrumentos musicais, os objetos do coti- diano podem ser utilizados para a composição de um arranjo de uma música; existem diferentes aplicativos para celular que permitem a cria- ção de trechos musicais de diversos estilos, com sonoridades di- versas. Essa é uma boa ferramenta para trabalhar a composição individualmente, porém, certifique-se de garantir um momento de apreciação das criações de cada um. Ainda utilizando o celu- lar, é possível gravar as composições dos alunos em arquivos de áudio para revisitá-las em outro momento. Sugerimos os seguintes aplicativos, com os quais é possível trabalhar a composição: • Incredibox: explora o beatbox, o canto e o arranjo musical. É gratuito, mas existe também a versão paga. Permite que a música seja gravada e compartilhada. Não é necessário baixar, apenas acessar e jogar on-line. O acesso é otimizado via navegador do computador; via smartphone, é necessário baixar. Disponível em: https://www.incredibox.com/pt. Acesso em: 14 set. 2021. • Typatone: cada letra é convertida em um som. O nome dos alunos pode inspirar uma composição. Utilize combinações diversas de palavras e de espaços entre as letras. Acesse e jogue on-line. Permite o compartilhamento. Disponível em: https://typatone.com/m/YWC9GwXNob. Acesso em: 14 set. 2021. (Continua) https://www.incredibox.com/pt https://typatone.com/m/YWC9GwXNob Solta o som! 33 • Typedrummer: semelhante ao anterior, cada letra representa um som percussivo. Explore palavras curtas, longas, com espaços entre as letras. Disponível em: http://typedrummer.com/. Acesso em: 14 set. 2021. • Patatap: digite uma letra do teclado e ela será convertida em um som e em uma imagem. Acesse e jogue on-line. Uma atividade inicial pode ser a de compor uma sequência de apenas quatro sons (teclas) diferentes. Disponível em: https://www.patatap.com/. Acesso em: 14 set. 2021. • Sampulator: grava pequenas sequências de sons de diferentes timbres. Acesse e grave on-line. Disponível em: http://sampulator.com/. Acesso em: 14 set. 2021. • Online voice recorder: um gravador de áudio que você pode usar on-line. Capta o áudio da voz e do ambiente. Disponível em: https://online-voice-recorder.com/. Acesso em: 14 set. 2021. A composição em sala de aula tem o objetivo de estimular o de- senvolvimento de um discurso musical próprio, que se alimenta dos estímulos e das vivências oportunizados aos alunos. Criatividade, expressividade, autonomia, cooperação, diálogo e liberdade são ca- raterísticas dos processos de criação e não devem ser entendidas exclu- sivamente por meio do produto resultante. A seleção e a organização dos sons, que formam ideias musicais e resultam em uma performance compartilhada, são formas necessárias de interação com a música, que podem, inclusive, ser indicativos importantes da compreensão e do de- senvolvimento musical dos alunos. A plataforma Chrome Mu- sic Lab, do Google, oferece diversos jogos musicais que podem inspirar propostas de exploração e composição musical. Acesse, jogue e divirta-se. Disponível em: https://musiclab. chromeexperiments.com/ Acesso em: 3 set. 2021. Site 2.3 Apreciação Vídeo A apreciação musical é, possivelmente, a forma de vivência musical com a qual temos mais contato em nosso cotidiano: é comum ouvir música no trânsito, lavando louça, lendo um texto ou no supermer- cado. Porém, ouvir uma música de fundo enquanto fazemos outra atividade é uma prática diferente das propostas de apreciação. Na edu- cação musical, a apreciação é ampliada e estruturada com base nos objetivos da aprendizagem musical, sempre envolvendo a participação ativa dos envolvidos. A apreciação é o termo utilizado por Swanwick (1979) para nomear a forma de ouvir que supõe o envolvimento intencional com a música enquanto fenômeno estético. Ao mesmo tempo em que ocupa uma posição importante na educação musical, ela pode ser uma atividade considerada menos relevante nas matérias escolares e nas atividades Compreender e situar a apreciação musical na aula de música. Objetivo de aprendizagem http://typedrummer.com/ https://www.patatap.com/ http://sampulator.com/ https://online-voice-recorder.com/ https://musiclab.chromeexperiments.com/ https://musiclab.chromeexperiments.com/ 34 Música na Educação Básica cotidianas, de modo que as habilidades que envolvem a leitura e a es- crita costuma ser mais valorizadas (GREEN, 2012). Também chamada de audição musical, ela é entendida como impor- tante por ser a razão da existência da música e por contribuir para o desenvolvimento musical do indivíduo (WUYTACK; PALHEIROS, 1995). Entre as finalidades da audição musical, há o desenvolvimento da sen- sibilidade auditiva e da capacidade de ouvir música, o desenvolvimen- to do pensamento musical, a aquisição de conceitos e o estímulo da capacidade crítica relativa a repertórios de diferentes estilos, épocas e contextos (WUYTACK; PALHEIROS, 1995). A audição musical ativa é uma contribuição do compositor e educa- dor musical belga Jos Wuytack, que integra a sua pedagogia musical ati- va. Partindo das ideias de Orff (educador musical alemão), a pedagogia de Wuytack tem como fundamento o ato de aprender música fazendo música, isto é, que o desenvolvimento musical ocorra por meio do en- volvimento ativo com a música, o que inclui a apreciação. A audição musical ativa é aquela que “implica o envolvimento ativo do ouvinte, e para o qual são necessárias a experiência e a aprendiza- gem” (WUYTACK; PALHEIROS, 1995, p. 10). A proposta é a de promover envolvimento ativo do ouvinte, assimilando, previamente, os materiais temáticos da obra por meio da expressão verbal, vocal, corporal, ou instrumental e da visualização do musicograma: um gráfico no qual es- tão representados os elementos essenciais da obra o do excerto musi- cal (PALHEIROS; BOURSCHEIDT, 2013). Wuytack e Palheiros (1995 apud PALHEIROS; BOURSCHEIDT, 2013, p. 324) fornecem orientações metodo- lógicas específicas para a audição musical ativa: [...] dar a ouvir a música, pelo menos três vezes (primeiramente reconhecer os materiais musicais; depois seguir a indicação do professor no musicograma grande e por fim indicar os temas individualmente no musicograma pequeno); selecionar excertos musicais de curta duração, para facilitar a concentração; adaptar as atividades à idade das crianças, realizando atividades com mo- vimento, sobretudo com crianças pequenas; situar a música no seu contexto histórico e cultural (época, estilo, gênero). Solta o som! 35 A canção é um tipo de repertório que gera um engajamento com o ouvinte com mais facilidade por ser um discurso muito presente na nossa cultura. A letra é um elemento rico a ser trabalhado na aprecia- ção musical: as palavras, as rimas, as construções dos versos, o refrão, as metáforas, a combinação da palavra com o ritmo e o instrumental utilizado para enfatizar a expressividade musical são oportunidades de trabalho com a canção em português. Em outros idiomas, a tradução, as sonoridades e os fonemas são igualmente oportunos na aula de música. Em geral, cantar músicas em idiomas diferentes atrai a curio- sidade dos alunos, o que pode evoluir para um projeto cultural amplo, considerando a cultura tanto geral quanto musical do local de origem da canção. No repertório instrumental, no qual não há um texto para guiar a nossa compreensão, podemos utilizar recursos específicos para esti- mular o engajamento e “ativar” a nossa audição. Existem repertóriosinstrumentais trabalhados com frequência nas aulas de música, como as obras da música clássica: As quatro estações, do compositor italiano Antônio Vivaldi; O carnaval dos animais, do compositor francês Camille Saint-Saens; O quebra nozes, do compositor russo Tchaikovsky; Quadros de uma exposição, do compositor russo Mussorgsky; O trenzinho do cai- pira, do compositor brasileiro Heitor Villa Lobos. Entretanto, a escuta da música instrumental – que em geral não é frequente no cotidiano de crianças e adultos – não deve se restringir à música clássica. O re- pertório instrumental brasileiro deve fazer parte das aulas de Música na escola: o frevo, a música dos pífanos 1 do nordeste ou da viola cai- pira, as músicas de Hermeto Pascoal, Naná Vasconcelos, Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth ou do grupo Uakti, são esses alguns dos exemplos de repertório que você deve conhecer e utilizar nas aulas. Na prática, o planejamento de uma proposta de audição musical ativa pode ocorrer de acordo com os seguintes encaminhamentos: Tipo de flauta popular 1 36 Música na Educação Básica 1 Escolha o repertório instrumental, ou seja, aquele em que o foco não é a letra da canção. 2 Perceba qual elemento musical é característico dessa música: o ritmo, a frase, o instrumental. Caso não consiga identificar, faça o seguinte: ouça várias vezes, pare um pouco e veja qual parte ficou “grudada” na sua cabeça, qual elemento marcou você. 3 Pense no que podemos fazer, ativamente, para ressaltar esse elemento da música: alguma batida corporal, movimento (corporal ou com objetos como lenços, fitas), som com objetos ou instrumentos, recitar alguma frase, parlenda. 4 Teste várias vezes e veja se você consegue executar o que escolheu com a música. Se você conseguiu realizar essa ação com fluidez junto à música, você está no caminho certo. 5 Por fim, pense em como você pode facilitar ou dificultar essa proposta. É importante considerar três níveis de dificuldade: fácil, médio e difícil. Assim, no coletivo, todos e todas poderão participar dentro das suas possibilidades. Ku lip er ko /S hu tte rs to ck Para exemplificar, busque na internet a música A primavera, do compositor italiano Antônio Vivaldi (1678-1741). Escute o trecho inicial (aproximadamente os primeiros 30 segundos, dependendo da grava- ção) e perceba que a intensidade da música é um dos elementos que fica evidente: uma frase é forte, e a sua repetição é fraca. Podemos, então, bater palmas fortes quando a frase for forte, e bater palmas fra- cas quando a frase for fraca. Outra possibilidade é caminhar nos sons fortes, e paralisar nos sons fracos. Tanto as palmas quanto os passos de- vem acompanhar a música, ou seja, devem ser realizados de modo a se encaixarem com a música. O referencial deve ser auditivo e a música é o que coordena as ações, de modo a garantir que a audição ativa ocorra de Você pode conferir uma versão da música A primavera, de Antônio Vivaldi, acessando: https:// www.youtube.com/ watch?v=e3nSvIiBNFo Acesso em: 14 set. 2021. Música https://www.youtube.com/watch?v=e3nSvIiBNFo https://www.youtube.com/watch?v=e3nSvIiBNFo https://www.youtube.com/watch?v=e3nSvIiBNFo Solta o som! 37 fato. Caso contrário, corre-se o risco de os estudantes se atentarem ape- nas à execução das atividades, esquecendo de prestar atenção à música. Esses exemplos de atividades, embora simples, ajudam a compreender como funciona a apreciação (ou audição) musical ativa. Entretanto, é in- dispensável considerar algumas questões importantes: verifique a duração da sua gravação. Para os anos iniciais do En- sino Fundamental, prefira utilizar trechos que durem até um mi- nuto e meio. Para os anos finais e Ensino Médio, até dois minutos e meio. Se a música for longa, perceba qual é o melhor momento para pausar a gravação; comece ouvindo o trecho musical, reforçando com a turma que o foco é o ouvir com atenção, sem conversas ou distrações. Caso esse momento de audição tenha sido prejudicado na primeira vez, repita esse momento de audição, pois é importante que todos consigam ouvir a música que será trabalhada de manei- ra clara e atenta. Depois de ouvir, faça perguntas sobre ela: o que vocês ouviram? Como eram os sons? Tinha voz? Uma voz ou mais de uma? Vozes femininas, masculinas, infantis, misturadas? Sobre os instrumentos: quais perceberam? Houve alguma parte que se repetiu na música, ou sempre foi diferente? O que cha- mou a sua atenção? Se essa música fosse de algum filme, o que teria acontecido nessa cena? existem diferentes gravações disponíveis de um mesmo repertó- rio. Por exemplo, o que utilizamos foi o da Primavera, de Vivaldi, que podemos encontrar com diferentes velocidades e interpreta- ções. Em geral, prefira versões não tão rápidas, pois isso contri- bui na execução das propostas; a qualidade da gravação deve ser a melhor possível. Ainda que você não seja um músico ou uma musicista experiente, é possí- vel perceber se existem ruídos, se o som está distorcido, soando “abafado”, sem definição, ou mal equalizado. Evite o uso de arqui- vos de tipo .midi. Certifique-se, ainda, do volume que irá utilizar, que deve ser adequado para uma escuta de qualidade; ao elaborar e fazer os sons e movimentos, busque realizá-los de maneira cuidadosa e expressiva, compatível com a música esco- lhida. No exemplo dado, as palmas fortes não devem ser mais fortes do que a música. A música remete à alegria da primavera, portanto a palma não deve ser agressiva. Busque sempre a qua- 38 Música na Educação Básica lidade dos movimentos e das sonoridades, combinando com o caráter da música, e não apenas o barulho; o musicograma é um recurso visual que apoia a apreciação musi- cal. Ele indica, com elementos gráficos, aspectos da música como a frase, o ritmo, os instrumentos, entre outros. A apreciação musical é uma das atividades fundamentais da área de música. O ouvir fundamenta a nossa experiência, por esse moti- vo, a apreciação deve estar presente sempre que possível nas aulas de música. Para além do ouvir como ato passivo – para distrair, acalmar, ambientar –, na educação musical, devemos considerar os aspectos musicais e expressivos nas atividades desenvolvidas com o propósito de uma aprendizagem musical. 2.4 Performance Vídeo Algumas frases são frequentes quando conversamos sobre músi- ca com pessoas que não receberam um treinamento formal: “Mas eu não sei tocar nada”, ou ainda, “Só canto no chuveiro”. Essas afirmações denotam o quanto a performance vocal ou instrumental é valorizada e considerada como um sinônimo da prática musical. No imaginário popular, violinistas, cantores de ópera ou guitarristas virtuosos são as pessoas capacitadas a fazer música, o que faz com que mesmo musicis- tas da cultura popular não sejam (erroneamente) reconhecidos como músicos. Contrária a essa percepção, está o fato de que todo ser humano tem o potencial de fazer música, independentemente de aprender formal- mente um instrumento musical ou a técnica vocal. A performance – por vezes também chamada de execução – é o ato que faz a música existir de fato; sem tocar ou cantar, os sons só existem nas ideias ou no papel. Na educação musical, o tocar e o cantar são práticas que ultrapassam a fronteira do ensino instrumental, fazendo soar a música na escola, conforme explica Swanwick (1994 apud SWANWICK; FRANÇA, 2002, p. 14): [...], na educação musical abrangente, é preciso ampliar o con- ceito de performance além do paradigma do instrumentista virtuose. Performance musical abrange todo e qualquer com- portamento musical observável, desde o acompanhar de uma canção com palmas à apresentação formal de uma obra musical para uma plateia. Confira exemplos de musicogramas nos links a seguir: • https://www.youtube.com/ watch?v=oB1WHKgjgHQ • https://www.youtube.com/ watch?v=HC_hJMCYda8 • https://www.youtube.com/ watch?v=1qv-EHxJbN0&t=6s Acesso em: 25 out. 2021. Dica Compreendere situar a performance na aula de música. Objetivo de aprendizagem Solta o som! 39 Conforme iremos constatar até o fim de nossos estudos, o objetivo da educação musical escolar não é o de formar instrumentistas ou can- tores. Embora o violão, a flauta doce e o canto coral estejam presentes em muitas escolas, o seu ensino e aprendizagem específicos ocorrem em conservatórios, escolas de música, projetos sociais ou demais cur- sos livres. Caso estejam disponíveis ao professor, os instrumentos musicais devem ser utilizados nas aulas e integrados às diversas ativi- dades desenvolvidas, enriquecendo o aprendizado e a experiência es- tética dos alunos. Porém, é necessário reforçar que aula de música não é sinônimo de aula de instrumento. Fazer sons corporais, vocais, com objetos – como caneta, colher, balde, entre tantos outros –, com recursos digitais ou com instrumen- tos de corda, sopro, percussão e com as pregas vocais; com acompa- nhamento de outros sons, instrumentos ou vozes ou fazendo um solo: essas atividades são todas entendidas como performance. Entretanto, o fato de que é possível realizar uma prática musical com poucos re- cursos não significa que ela deve ser feita de qualquer forma, ou seja, devemos buscar sempre a melhor sonoridade possível, que esteja de acordo com o nosso propósito estético. Mesmo considerando as limita- ções técnicas e específicas, tocar um ritmo batendo em um balde deve exigir a nossa atenção com a produção de som na mesma medida em que o fazem artistas renomados. Não é apenas bater, é fazer música. Ao tocar, cantar, fazer sons que foram combinados, compostos, improvisados ou ensaiados e replicados com base em algum mode- lo estabelecido, estamos realizando uma performance, de modo que sempre que houver uma expressão musical, haverá uma performan- ce. A composição, na educação musical, é diretamente relacionada à performance, pois são os próprios compositores quem interpretam as suas criações, de modo que “a educação musical precisa preencher a lacuna existente entre a composição e a performance, dedicando-se à formação de um intérprete mais criativo e independente, capaz de tomar decisões interpretativas, tocar de ouvido e improvisar” (FRANÇA; SWANWICK, 2002, p. 14). As apresentações escolares são momentos de performance já esta- belecidos em muitas culturas escolares, nos quais o foco é demonstrar domínio vocal ou instrumental por meio de um repertório específico. Ensaios, repetições e memorizações dominam as aulas de música nes- sas oportunidades, e o momento da performance final – da apresen- tação – é celebrado pela plateia como o resultado esperado de uma aula de música. Ao refletirmos sobre todo esse processo e produto, essa experiência pode ser, a depender da forma como é encaminhada, enriquecedora ou restritiva ao desenvolvimento musical dos alunos. O cuidado com a sonoridade e a expressividade, a repetição que oportuniza o domínio e o fazer musical em si são pontos importantes das apresentações escolares, que devem ainda considerar o protago- nismo dos alunos (contribuindo com as ideias, com o repertório, com a criação), e todas as oportunidades de desenvolvimento musical prove- nientes do repertório escolhido. Para ilustrar, pense na canção natalina Bate o sino, como parte de uma apresentação de Natal. Por meio dela, expanda as oportunidades ao tratar de temas: como são as canções natalinas de outras partes do mundo? Como o som é produzido em um sino? Existem sinos de quais tamanhos, formatos e sonoridades? Em quais situações os sinos são utilizados? Como é o movimento de um grande sino? Quem tem um sino em casa? Quais outras músicas utilizam o som do sino? O que faz um sino ter um som longo, e outro curto? Escute os diferentes sinos e perceba, por meio da audição, qual é grande, médio, pequeno. Quem inventa um ritmo para tocar no sino? M on ke y B us in es s Im ag es /S hu tte rs to ck 4040 Música na Educação BásicaMúsica na Educação Básica Solta o som! 41 Essas e muitas outras provocações devem acompanhar as aulas de música e também o treino para uma apresentação, contribuindo para o desenvolvimento musical integral dos alunos. Do contrário, essas oportunidades de engajamento e aprendizado ficam restritas apenas a um dos aspectos do fazer musical, no qual a música não é considera- da dentro da sua totalidade, e sim reduzida apenas a um “enfeite” nas datas comemorativas. No planejamento das suas atividades de perfor- mance, sugere-se: os objetivos devem ser claros e contextualizados com os conteú- dos da aula; o professor é o modelo dos alunos, o que significa que você deve- rá ter domínio sobre a sua produção de som, seja vocal, corporal, instrumental. Você deve saber executar com excelência o que se propõe; combine os detalhes previamente: como será a introdução, quan- do todos tocam e cantam, quando parar. Todos os encaminha- mentos devem ser claros para os alunos; ofereça diferentes formas de explorar a performance, com dife- rentes sonoridades, velocidades, intensidades, expressividades. Por exemplo: como cantaríamos essa música se estivéssemos na igreja? Ou em uma festa? mantenha o espaço aberto para as criações e escolhas que po- dem surgir espontaneamente por parte dos alunos, que devem compartilhar desse discurso musical; inclua todos os alunos participantes, quer seja o aluno instru- mentista ou aquele que não se sente confortável em cantar e to- car. Converse com ele, pensando de maneira conjunta como ele pode integrar à performance; relacione a performance à apreciação e à composição, esgotando as possibilidades de aprendizagem do repertório. O educador musical Estevão Marques é o autor do livro Colherim: ritmos brasileiros na dança percussiva das colheres, que oferece um vasto repertório musical para ser tocado utilizando as colheres como instru- mento. As imagens, expli- cações e vídeos ensinam a tocar ritmos do Brasil e do mundo. Inspire-se para utilizar e adaptar as atividades para o Ensino Fundamental e Médio. MARQUES, E. São Paulo: Peirópolis, 2013. Livro 2.5 Literatura e técnica Vídeo Na abordagem C(L)A(S)P, a letra L (literature) e a letra S (skills) são en- tendidas como aspectos periféricos, ou seja, a literatura e a técnica não devem ser as atividades essenciais às aulas de música. Elas oferecem o suporte necessário para a composição, para a apreciação e para a 42 Música na Educação Básica performance. Em muitos casos, o ensino de técnicas, assim como o de leitura e escrita convencional dominam as aulas de música, novamente afastando o aluno da experiência abrangente que é o fazer musical. Repetir padrões, dominar movimentos, relacionar o som com a grafia são habilidades necessárias, mas que devem ser situadas e praticadas nas atividades de ouvir, criar, tocar e cantar. A literatura, para Swanwick, compreende as informações sobre músi- ca, que vão desde a literatura musical ou repertório até conteúdos teóri- co-práticos, como a harmonia, o contraponto, a análise e a estruturação musical (MADUREIRA, 2019). A leitura de partituras, figuras de duração, claves e dados sobre a biografia de compositores são conteúdos frequen- tes das aulas de música e dos materiais didáticos voltados para essa área. As habilidades técnicas aparecem relacionadas à performance quando, por exemplo, precisamos aprender a respiração e a emissão corretas para o canto e para a flauta, a postura e o dedilhado para tocar uma escala no violão ou no piano, a forma de segurar as baquetas para tocar o xilofone. É possível perceber que tanto as habilidades da litera- tura quanto da técnica são importantes no desenvolvimento musical, pois são parte da nossa área. O que Swanwick (1979 apud MADUREIRA, 2019, p. 144) reitera, no entanto, é: Técnica sem performance é um negócio infértil. Performan- ce sem técnica certamente deve ser evitado. Composição sem a apreciação inspiradora de obras de outros compositores é algo improvável. Um ouvinte engajado
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