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Anne Karen Reis ONCOPATOLOGIA Câncer de Mama INTRODUÇÃO O carcinoma da mama é a neoplasia maligna extracutânea mais comum em mulheres, perdendo apenas para o câncer de pulmão como causa de mortes por câncer. Quase todas as neoplasias malignas da mama são adenocarcinomas e, com base na expressão de receptores de estrogênio e HER2, podem ser divididas em três subgrupos biológicos principais, que mostram surpreendentes diferenças no que diz respeito às características do paciente, características histológicas, resposta terapêutica e sobrevida: • Receptores de estrogênio (RE) - positivos, HER2-negativos (50% a 65% dos tumores); • HER2-positivos (10% a 20% dos tumores, que podem ser tanto RE-positivos quanto RE-negativos); • Receptores de estrogênio (RE) - negativos, HER2-negativos (10% a 20% dos tumores). INCIDÊNCIA E EPIDEMIOLOGIA • Raro em mulheres com idade inferior a 25 anos; • A incidência aumenta rapidamente depois dos 30 anos; • As neoplasias com receptores de estrogênio positivos continuam aumentando com o decorrer dos anos, enquanto a incidência dos casos RE- negativos e HER2-positivos permanece relativamente constante; • O carcinoma ductal in situ (CDIS) é raramente palpável e quase sempre é detectado por mamografia; • O carcinoma invasivo é menos comum em mulheres não caucasianas, especialmente nas mais velhas; • Desde 1994, houve queda na mortalidade dos casos diagnosticados do câncer de mama, atribuída ao rastreamento mamográfico e a tratamentos mais eficazes. FATORES DE RISCO • Mutações hereditárias → aproximadamente 5 a 10% dos carcinomas ocorrem em pessoas com mutações hereditárias; • Parentes em primeiro grau com câncer de mama; • Raça/etnia; • Idade → o risco do câncer de mama alcança seu pico entre os 70 e 80 anos de idade, declinando vagarosamente depois disso; • Menarca precoce → A menarca em mulheres com idade inferior a 11 anos aumenta o risco em 20%; • Menopausa tardia; • Idade no nascimento do primeiro filho; • Doença mamária benigna; • Exposição estrogênica; • Densidade mamária; • Exposição à radiação; • Carcinoma da mama contralateral ou de endométrio; • Obesidade; • Sedentarismo; • Amamentação → quanto mais tempo a mulher amamentar, maior a redução do risco; • Tóxicos ambientais. ETIOLOGIA E PATOGENIA • O câncer de mama pode ser hereditário, desenvolvendo-se em mulheres com mutações em genes supressores tumorais, ou esporádico. Anne Karen Reis ONCOPATOLOGIA CÂNCER DE MAMA HEREDITÁRIO • Aproximadamente 12% dos casos de câncer de mama ocorrem devido à hereditariedade de um gene ou genes suscetíveis; • Os genes mais importantes e de maior suscetibilidade envolvidos no câncer de mama familiar conhecidos são → BRCA1, BRCA2, TP53 e CHEK2; • As mutações no BRCA1 e BRCA 2 são responsáveis por 80 a 90% dos casos de câncer de mama hereditários de “gene único” e de aproximadamente 3% de todos os casos de câncer de mama. CÂNCER DE MAMA ESPORÁDICO • Os principais fatores de risco para o câncer de mama esporádico são aqueles relacionados à exposição hormonal → gênero, idade da menarca e menopausa, história reprodutiva, amamentação e estrogênios exógenos. PRINCIPAIS VIAS GENÉTICAS DA CARCINOGÊNESE • A via mais comum (seta amarela) dá origem aos carcinomas RE-positivos (luminais). As lesões precursoras reconhecidas incluem a atipia epitelial plana e a hiperplasia ductal atípica; • Uma via menos comum (seta azul) origina os carcinomas RE – negativo e HER2 – negativo. Nenhuma lesão precursora foi identificada, talvez porque a lesão progrediu rapidamente para um carcinoma; • A terceira via (seta verde) compreende os carcinomas HER2 – positivos, que podem ser RE – negativos ou RE – positivos. CLASSIFICAÇÃO DOS CARCINOMAS MAMÁRIOS Quase todas (>95%) das neoplasias malignas da mama são adenocarcinomas que se originaram primeiramente a partir do ducto/sistema lobular na forma de carcinomas in situ. Carcinoma in situ → proliferação neoplasia de células epiteliais que está limitada aos ductos e lóbulos pela membrana basal. Carcinoma invasivo → aquele que infiltra a membrana basal e se desenvolve em meio ao estroma. IN SITU CARCINOMA DUCTAL IN SITU (CDIS) • Proliferação clonal de células epiteliais malignas, limitadas aos ductos e lóbulos pela membrana basal; • Quando envolve os lóbulos, o ácino expandido assume uma aparência que lembra pequenos ductos; • O CDIS é quase sempre detectado na mamografia; • Pode ser dividido em dois grandes subtipos arquiteturais → comedocarcinoma e não comedocarcinoma. Comedocarcinoma → pode produzir alguma modularidade, mas geralmente é detectado em mamografias como áreas de calcificações agrupadas, lineares e ramificações. Apresenta células neoplásicas com núcleo pleomórfico de alto grau e áreas de necrose central. Comedocarcinoma. Proliferação de alto grau associada a grandes áreas centrais de necrose e calcificações preenchendo vários ductos. Anne Karen Reis ONCOPATOLOGIA Não comedocarcinoma → não exibem o núcleo de alto grau e a necrose central e vários padrões podem ser reconhecidos. O CDIS cribriforme pode ter espaços arredondados (como um cortador de biscoitos) em meio a ductos, ou um padrão sólido. O CDIS micropapilífero apresenta protusões bulbares sem eixos fibrovasculares. Não comedocarcinoma. CDIS cribriforme. Espaços arredondados regulares (“cortador de biscoito”) contendo secreções e calcificações. Não comedocarcinoma. CDIS micropapilífero. As projeções papilíferas não exibem eixos fibrovasculares. CARCINOMA LOBULAR IN SITU (CLIS) • O CLIS é uma proliferação clonal de células dentro de ductos e lóbulos que crescem em uma maneira não coesa; • Na maioria dos casos, a perda de adesão celular se deve à disfunção da E-caderina, uma proteína transmembrana que contribui para a adesão entre as células epiteliais normais na mama e em outros tecidos glandulares; • O CLIS consiste numa população uniforme de células com núcleos ovais ou arredondados e pequenos nucléolos, envolvendo ductos e lóbulos. Células mucoprodutoras com aspecto de “em anel de sinete” estão comumente presentes. A falta de E-caderina resulta em uma forma arredondada, sem coesão de células adjacentes. Carcinoma lobular in situ. População monomórfica de células pequenas, redondas e pouco coesas preenchendo e expandindo o ácino de um lóbulo. A arquitetura lobular subjacente ainda pode ser reconhecida. As células se estendem ao lóbulo adjacente por disseminação pagetoide. CARCINOMA INVASIVO (INFILTRANTE) RE-positivo, HER-negativo Também chamado “luminal”, corresponde a 50% a 65% dos carcinomas, e é a forma mais comum de carcinoma invasivo. Com base nas taxas de proliferação, ele é subdividido em dois subgrupos. • RE-positivo, HER2-negativo, baixa proliferação (40% a 55% dos carcinomas): Este grupo de carcinoma de mama é o mais frequente entre as mulheres e homens idosos; • RE-positivo, HER2-negativo, alta proliferação (aproximadamente 10% dos carcinomas): Embora esses tumores sejam RE-positivos, os níveis de RE podem ser baixos e a expressão do receptor de progesterona pode ser baixa ou ausente. Anne Karen Reis ONCOPATOLOGIA HER2-positivo • Aproximadamente 20% dos carcinomas; • É o segundo subtipo molecular mais comum de carcinoma invasivo de mama; • Aproximadamente metade destes carcinomas é RE-positiva. Quando presente, a expressão RE é geralmente baixa, a expressão dos receptores de progesterona geralmenteestá ausente. RE-negativas e HER2-negativas • Semelhantes ao carcinoma triplo negativo “basal”; • Aproximadamente 15% dos carcinomas; • São o terceiro principal subtipo molecular. Esses carcinomas são mais comuns em mulheres jovens, antes da menopausa, e também em afro-americanas (20% a 25% dos carcinomas nesse grupo) e mulheres hispânicas (17% dos carcinomas desse grupo). • A maioria dos carcinomas que se originam em mulheres com mutações BRCA1 é desse tipo. MORFOLOGIA DOS CARCINOMAS INVASIVOS • A aparência mamográfica e macroscópica do carcinoma invasivo é muito variada, dependendo da reação estromática ao tumor; • Geralmente, quando associados com reação estromática desmoplásica, apresentam-se como massas radiodensas irregulares e firmes; • Quando cortados ou raspados, esses tumores tipicamente produzem um som característico (semelhante ao corte de uma castanha), devido ao pequeno foco central (aspecto em ponta de alfinete), ou traços de estroma desmoplásico branco-calcário e ocasionais focos de calcificação; • Menos comumente, os tumores se apresentam como nódulos aparentemente bem circunscritos de células neoplásicas, com escassa reação estromática, ou podem ser quase imperceptíveis, compostos por glândulas neoplásicas dispersas ou células tumorais isoladas, infiltrando o tecido fibrogorduroso adjacente.