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Fraudes Trabalhistas Atuação dos órgãos de fiscalização; Desconsideração da personalidade jurídica Art. 9° - Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação. Fraude trabalhista, portanto, é todo ato destinado a desvirtuar ou impedir a aplicação da legislação do trabalho. Esses atos são considerados nulos pela CLT, o que significa dizer que uma vez demonstrada a existência de uma fraude, esta deixa de produzir os efeitos pretendidos por quem a praticou. A fraude trabalhista pode partir e ser articulada tanto pelo empregador quanto pelo empregado, bem como em ação conjunta. COMETIDAS PELO EMPREGADOR São algumas fraudes trabalhistas cometidas pelo empregador: Adulterar o cartão de ponto para evitar pagar horas extras; Pagar salário por fora do registro na carteira (as horas extras, por exemplo); Alterar a função do empregado no registro, burlando a categoria e os direitos garantidos a ele; Manter o empregado sem registro na carteira de trabalho; Pejotizar o funcionário em troca de certos benefícios para que ele abra mão de seus direitos como Celetista. Súmula no 12 do TST As anotações apostas pelo empregador na carteira profissional do empregado não geram presunção "juris et de jure", mas apenas "juris tantum". COMETIDAS PELO EMPREGADO São algumas fraudes trabalhistas que podem partir do empregado: Realizar vendas de produtos dentro da empresa sem que o empregador saiba; Adulterar o cartão de ponto para evitar registros de atrasos ou faltas; Apresentar atestados médicos falsos ou comprados; Desviar dinheiros e bens da empresa; Praticar furtos à empresa ou a outros funcionários. PEJOTIZAÇÃO O termo Pejotização surge da denominação Pessoa Jurídica: é utilizado para descrever o ato de manter empregados através da criação de empresa pelos contratados – a relação passa a ser entre empresas ao invés do contrato de trabalho entre a empresa e seus empregados. O termo ficou vinculado a uma prática pejorativa, onde o empregador maquia a relação de trabalho – por reduzir os direitos do empregado, a pejotização traria benefícios financeiros ao empregador. CONTRATAÇÃO POR COOPERATIVAS A fraude trabalhista nas cooperativas acontece quando há um desvio de finalidade na exploração da mão de obra. Neste caso, o raciocínio parte do seguinte pressuposto: as sociedades cooperativas são formadas por uma série de trabalhadores autônomos que em conjunto exercem uma atividade econômica. Todos os trabalhadores estão em igualdade de condições, não existe hierarquia ou subordinação entre eles uma vez que são autônomos. Nas cooperativas as decisões são tomadas em assembleias, e todos cooperados têm poder de voto. Acontece que, a fraude trabalhista passa a existir a partir do momento que essa autonomia e igualdade entre cooperados deixa de existir. Minist ne i · - - / SALÁRIO CLANDESTINO Configura salário clandestino aquele é pago “por fora”, ou seja, não é constado no contracheque do funcionário. Às vezes pode até ser constado como um “bônus“. Configura-se fraude pois, a partir do momento em que uma verba perde o caráter salarial, deixa de ter seus reflexos legais previdenciários e fiscais, o que gera um prejuízo ao empregado. ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO Portaria MPT, 547: Art. 2° A inspeção do trabalho é atividade típica de Estado, exercida por Auditores-Fiscais do Trabalho, a quem compete assegurar em todo o território nacional, a aplicação da Constituição e das disposições legais e infralegais no que concerne à proteção dos trabalhadores no exercício da atividade laboral, assim como das cláusulas de instrumentos coletivos infringidos. A fiscalização trabalhista é realizada pelos auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Previdência e do Ministério Público do Trabalho. Estes órgãos são responsáveis por realizar a fiscalização administrativa, isto é, extrajudicial. Já o Ministério Público do Trabalho é o responsável por apresentar ações civis públicas, como ajustes de conduta baseado em irregularidades que ainda podem ser corrigidas pela companhia. A fiscalização trabalhista pode ocorrer de forma direta ou indireta. Na fiscalização do trabalho direta o auditor vai até a empresa para fazer a análise da denúncia e avaliar se os direitos trabalhistas estão sendo cumpridos. Diferente da avaliação indireta, que é feita a distância, por meio da avaliação de documentos e dados. O artigo 12, inciso 10, da Portaria MTP No 547 detalha as duas modalidades da seguinte forma: § 10. A fiscalização direta poderá ser executada na modalidade: I – dirigida – cujo início e desenvolvimento ocorrem nos locais de trabalho ou estabelecimentos fiscalizados; ou II – mista – realizada por meio de inspeção no local de trabalho e notificação para apresentação de documentos em unidade descentralizada da inspeção do trabalho ou em meio digital. § 11. A fiscalização indireta poderá ser executada na modalidade: I – presencial – quando iniciada a partir de notificação aos sujeitos fiscalizados para apresentar documentos em uma unidade descentralizada da inspeção do trabalho, que não envolvam inspeção em locais de trabalho; ou II – eletrônica – quando não ocorre inspeção nos locais de trabalho e não é exigido o comparecimento do fiscalizado ou seu preposto em uma unidade descentralizada da inspeção do trabalho, hipótese em que poderá se desenvolver somente através da análise de dados ou mediante a apresentação de documentos pelo empregador em meio digital. Desconsideração da personalidade jurídica Personalidade Jurídica: conceito Pessoa jurídica é o sujeito de direito personificado não humano. Como sujeito de direito, tem aptidão para titularizar direitos e obrigações. Por ser personificada, está autorizada a praticar os atos em geral da vida civil — comprar, vender, tomar emprestado, dar em locação etc. —, independentemente de específicas autorizações da lei. Finalmente, como entidade não humana, está excluída da prática dos atos para os quais o atributo da humanidade é pressuposto, como casar, adotar, doar órgãos e outros. Base Legal: Art. 985 do Código Civil - A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150). A desconsideração da autonomia patrimonial da pessoa jurídica (“desconsideração da personalidade jurídica”) é medida extrema e cirúrgica, coibindo a fraude ou o abuso de direito e, de uma forma mais simples e objetiva, pois incluídos nos dois institutos citados, a confusão patrimonial, permitindo que no caso em concreto, respeitado o devido processo legal, o credor alcance os bens particulares dos sócios e administradores. Segundo Fábio Ulhôa Coelho: “a teoria da desconsideração da personalidade jurídica não é contrária à personalização das sociedades empresárias e à sua autonomia em relação aos sócios. Ao contrário, seu objetivo é preservar o instituto, coibindo práticas fraudulentas e abusivas que dele se utilizam” (COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Parte Geral. Volume 1. Editora Saraiva, 5a Edição, 2012). Segundo o STJ, via de regra, o juiz só está autorizado a “levantar o véu” da personalidade jurídica quando forem atendidos os pressupostos específicos relacionados com a fraude ou o abuso de direito. (AREsp 792.920, REsp 948.117, REsp 1.236.916, REsp 1.493.071) Teoria Maior A desconsideração, para ser deferida, exige a presença de dois requisitos: o abuso da personalidade jurídica (desvio de finalidade ou confusão patrimonial) + prejuízo ao credor. Art. 50, CC. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. Teoria MenorA desconsideração da personalidade jurídica exige um único elemento, qual seja o prejuízo ao credor. Essa teoria foi adotada pelo art. 49 da Lei 9.605/98 (Lei Ambiental) e pelo art. 28 do CDC: Art. 49 Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. Art. 28, § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. Confusão patrimonial: Como o próprio nome já diz, “confusão” é o ato ou efeito de confundir, de aparentar ser, falta de distinção entre coisas diferentes. Art. 50, CC, § 2o Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto os de valor proporcionalmente insignificante; e III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial. Desvio de finalidade: Ocorre quando o sócio se usa da personalidade jurídica para agir de forma que não remete à finalidade para qual a empresa foi criada e vice-versa. Art. 50, CC § 1o Para os fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza. No direito do trabalho, caso sejam observados os critérios (subjetivo ou objetivo) para aplicação do referido incidente de desconsideração da personalidade jurídica, dada a identidade principiológica existente entre o diploma consumerista e o trabalhista, em especial no que tange ao princípio da proteção do hipossuficiente na relação jurídica, a doutrina e jurisprudência justrabalhista têm adotado a teoria menor. AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA SOB A ÉGIDE DA LEI 13.467/2017. FASE DE EXECUÇÃO. TRANSCENDÊNCIA JURÍDICA RECONHECIDA. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. ART. 896, §2o DA CLT. SÚMULA 266 DO TST.(...) Atualmente, a moderna doutrina e a jurisprudência trabalhista encamparam a chamada teoria objetiva da desconsideração da personalidade jurídica que disciplina a possibilidade de execução dos bens do sócio, independentemente de os atos deste violarem ou não o contrato, ou haver abuso de poder. Basta a pessoa jurídica não possuir bens para ter início a execução aos bens do sócio. (TST-Ag-AIRR-710-95.2018.5.20.0005. 6a Turma. Relator: AUGUSTO CÉSAR LEITE DE CARVALHO. Data de Julgamento: 05 de outubro de 2022) Microempreendedor Individual Em se tratando de MEI (Microempresário Individual), não é possível a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica prevista no artigo 50 do Código Civil, uma vez que este instituto prevê a existência de pessoa jurídica. Assim, como o patrimônio do MEI (Microempresário Individual) se confunde com o de sua empresa, não é preciso instaurar incidente de desconsideração da personalidade jurídica para executar seus bens. Desconsideração da personalidade jurídica inversa A desconsideração inversa da personalidade jurídica tem o efeito primordial de atingir o patrimônio da pessoa jurídica em razão de um débito de um dos seus sócios. Para que seja realizada a Desconsideração Inversa da Personalidade Jurídica, é necessário o preenchimento dos mesmos requisitos para a desconsideração prevista nos Código Civil e Código de Processo Civil. Art. 50, CC. § 3o O disposto no caput e nos §§ 1o e 2o deste artigo também se aplica à extensão das obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.
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