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TEMA 2 CORPO DE DELITO Aula IV- Pontos Relevantes II

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DIREITO PENAL E 
PROCESSO PENAL 
APLICADOS 
 
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MÓDULO 4: 
PARTES E PROVAS NO 
PROCESSO PENAL 
TEMA 2- CORPO DE DELITO 
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Aula IV- Pontos Relevantes – II 
 
 TEXTO 
IMPOSSIBILIDADE DO EXAME DE CORPO DE DELITO 
 
Como já estudado em aula anterior, dispõe o art. 167, que “Não sendo possível o 
exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios...” 
 
Há entendimento de que quando a lei fala em desaparecimento de vestígios, 
deve-se entender que apenas o desaparecimento natural dos vestígios, ou em 
razão de ação do autor, poderá ser a ausência do exame ser suprida por prova 
testemunhal. Se o desaparecimento, diz Greco Filho, for causado pelo próprio 
Estado não será legítima a substituição do exame de corpo de delito pela prova 
testemunhal: 
 
“Para que a substituição do exame pela prova testemunhal possa ocorrer 
validamente, porém, é preciso que o desaparecimento dos vestígios seja 
decorrente de causas não-imputáveis aos órgãos de persecução penal. 
O exemplo clássico do corpo de delito indireto é o do homicídio com o corpo 
jogado ao mar, não sendo possível o exame necroscópico. 
Se, porém, os vestígios desaparecerem virtude da inércia, inclusive burocrática, 
dos órgãos policiais ou judiciais, a menor segurança da prova testemunhal não 
poderá ser carreada ao acusado.”1 
 
No mesmo sentido é a lição de Fauzi Hassan Choukr: 
 
 
1 Greco Filho, 1999, p. 222 
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“Deve ficar claro que a impossibilidade da realização do exame há 
de ser compreendida apenas pela inexistência de base material 
para a realização direta, a dizer, quando o exame não é realizado 
no momento oportuno pela desídia do Estado, ou seja realização 
é imprestável pela falta de aptidão técnica dos operadores 
encarregados de fazê-lo, não há que onerar o réu com uma prova 
indireta em vez daquela que poderia ter sido imediatamente 
realizada.”2 
 
Citando Choukr, Aury Lopes Jr. adota o mesmo entendimento.3 
 
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que não poderá ser suprido o exame de 
corpo de delito, se era possível fazê-lo. 
 
O Superior Tribunal de Justiça, concedeu ordem de habeas corpus, restabelecendo 
a sentença absolutória, em hipótese de condenação pelo Tribunal de Justiça, por 
crime de incêndio (art. 250, CP), sem exame de corpo de delito. Segundo o 
acórdão, a condenação foi baseada em “um relatório feito por um inspetor de 
polícia e uma certidão de ocorrência do Corpo de Bombeiros”. Ademais, consigna 
que “à época em que a autoridade policial tomou conhecimento do fato, tais 
vestígios ainda poderiam ser detectados pela perícia oficial”: 
 
“1. Relativamente às infrações que deixam vestígios, a realização de exame pericial 
se mostra indispensável, podendo ser suprida pela prova testemunhal apenas se 
os vestígios do crime tiverem desaparecido. 
2. Na hipótese, tratando-se de delito de incêndio, inserido entre os que deixam 
vestígios, apenas poderia ter sido comprovada a materialidade do crime por meio 
de exame pericial, já que os vestígios não haviam desaparecido.”4 
 
2 Choukr, 2014, p. 388 
3 Lopes Jr., 2012, p. 620 
4 HC 65.667 STJ 
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Convém lembrar o dever a autoridade policial de, “logo que tiver conhecimento” 
do crime, preservar o local para a perícia (art. 6º, VII, CPP). O descuidado com esse 
dever que venha a causar o desaparecimento dos vestígios não poderá permitir 
que a prova testemunhal supra a falta do exame de corpo de delito. 
INEXIGÊNCIA DA COLABORAÇÃO DO RÉU 
 
Quando se tratar de hipótese em que a perícia dependem de colaboração do 
suspeito, é pacífico o entendimento de que não se poderá exigir a colaboração do 
réu. Essa colaboração poderá ocorrer, mas se o suspeito ou réu se recusar, não 
poderá suportar qualquer consequência nefasta. 
 
São as hipóteses de exames laboratoriais (DNA, sangue ou bafômetro – 
alcoolemia) e grafotécnico. 
 
O réu não pode ser coagido fisicamente e não pode suportar consequência por 
não ter colaborado (acusação por crime de desobediência, presunção de 
responsabilidade penal ou, em caso de condenação, majoração da pena em razão 
da recusa). 
HOMICÍDIO SEM CADÁVER 
 
A temática do homicídio sem cadáver é sempre possível ocorrer em um caso. 
Afinal, se houver uma acusação de homicídio em que não foi encontrado cadáver, 
é possível a condenação? 
 
É sempre oportuno conhecer o mais emblemático erro judiciário que foi o caso 
dos irmãos Naves. 
Em 1937, em Araguari – MG, Sebastião e Joaquim Naves foram acusados da 
“morte” de seu primo Benedito, que havia desaparecido. Como Benedito havia 
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sido visto com uma vultosa quantia de dinheiro recebido da venda da safra de 
arroz, seu desaparecimento foi tido como homicídio e a suspeita recaiu sobre os 
irmãos Naves. 
 
Barbaramente torturados, ambos vieram a confessar o crime, embora jamais tenha 
sido encontrado o cadáver. Condenados, cumpriram a pena de 8 anos e 6 meses 
em regime fechado. Em 1949 Joaquim morreu. E, em 1952, Benedito, a suposta 
vítima, foi encontrado vivo. Ele havia desaparecido voluntariamente, porque o 
valor obtido com a venda não era suficiente para o pagamento das dívidas. 
 
Em 1953, em julgamento de revisão criminal, o TJMG absolveu os dois 
condenados. 
 
Situação de condenação por homicídio sem cadáver é o conhecido caso Bruno, 
que teria sido o mandante do homicídio de Eliza Samúdio, em 2010, sem que 
tenha sido encontrado seu cadáver. 
 
Então goleiro do Flamengo, Bruno foi preso preventivamente acusado de 
participação no crime e foi condenado, pelo Tribunal do Júri de Contagem - MG, 
em 2013, a pena de 22 anos e 3 meses. 
 
Caso interessante é contado por Denilson Feitoza em sua obra, sobre um processo 
no qual atuou como promotor de justiça, de um pai que afundou seu filho bebê 
no rio e soltou depois de um tempo. Jamais o cadáver foi encontrado, mas em 
razão da presença de testemunhas, que presenciaram o fato, o acusado foi 
condenado. 
 
“Atuamos na acusação, como membro do Ministério Público, num processo de 
competência do tribunal do júri, em que a denúncia foi oferecida e o réu foi 
condenado sem laudo cadavérico. O réu matou seu filho bebê, imergindo-o num 
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rio caudaloso até ficar inerte e, depois, soltou seu cadáver nas fortes águas 
turbulentas, para ocultar o cadáver. Conforme queria, o corpo desapareceu e 
jamais foi encontrado. Não havia como fazer o exame cadavérico (ou 
necroscópico). Contudo, as declarações das testemunhas e do réu e os demais 
elementos contidos nos autos foram categóricos e incontestáveis no sentido de 
que aquele determinado bebê, filho do réu, foi morto intencionalmente por ele. O 
réu foi condenado pelo júri por homicídio doloso qualificado e, afinal, a sentença 
condenatória transitou em julgado.”5 
 
Não há dúvida da possiblidade de condenação por homicídio sem cadáver. Vale 
para essa hipótese a regra do exame de corpo de delito. Desparecidos os vestígios 
(cadáver), sendo impossível exame de corpo direto ou indireto, poderá a prova 
testemunhal suprir-lhe a falta (art. 167). Contudo, sem corpo de delito e sem prova 
testemunhal, não pode a confissão autorizar a condenação (art. 158). 
 
É o que dispõe a doutrina. Assim, diz Nucci que: 
 
“Se o cadáver, no caso de homicídio, desapareceu, ainda que o 
réu confesse ter matado a vítima, não havendo exame de corpo 
de delito, nem tampouco prova testemunhal, não se pode punir 
o autor. A confissão isolada não presta para comprovar a 
existência das infrações que deixam vestígios materiais. (...) Diante 
da clareza da lei, exemplificando, ainda que alguém se apresente 
à polícia, admitindo ter matado determinada vítima e narrando 
com riqueza de detalhes o ocorrido, nada se poderá fazer em 
matéria de comprovação da existência da infração penal, caso 
outras provas não sejam obtidas. A confissão não se presta, em 
hipótese alguma, a suprir a materialidade do delito.”6 
 
5 Feitoza, 2008, p. 643 
6 Nucci, 2009, p. 48 
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Também aduz Gustavo Badaró: 
 
“De outro lado, em nenhuma hipótese, a prova da materialidade 
delitiva poderá ser feita por meio da confissão.”7 
 
Na jurisprudência, há precedentes de casos de homicídio sem cadáver, conforme 
se vê a seguir. 
 
Julgando um habeas corpus de Minas Gerais, a Turma do STF, denegou a ordem, 
de um caso em que o paciente foi acusado de ter matado sua companheira e ter 
desaparecido com o cadáver. A decisão é muito mais baseada na questão da 
pronúncia, que não depende de prova incontroversa, segundo o acórdão do Min. 
Carlos Veloso. No entanto, não deixa de ser um precedente do STF, sobre a 
hipótese de homicídio sem cadáver: 
 
“CPP, art. 408, I - Por ser a pronúncia mero juízo de admissibilidade da acusação, 
não é necessária prova incontroversa do crime, para que o réu seja pronunciado. 
As dúvidas quanto à certeza do crime e da autoria deverão ser dirimidas durante 
o julgamento pelo Tribunal do Júri. Precedentes do STF. II. – H.C. indeferido.”8 
 
Em um julgado do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, há o caso de dois 
homens que mataram uma pessoa com golpes de facão e marreta e depois 
desapareceram com o cadáver, jogando-o em um riacho (sanga). 
 
Para compreensão do caso concreto, destaca-se do acórdão os seguintes trechos: 
 
 
7 Badaró, 2016, p. 442 
8 HC n° 73522/MG – STF - DJ 26/04/96 
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“Narra a peça acusatória que, no dia 14 de agosto de 2003, no interior da 
residência situada na Rua Candelária, nº 17, Vila Pedreira, Santiago, RS, os 
denunciados, em comunhão de esforços e acordo de vontades, mataram a vítima 
J.R.S.S, deferindo-lhe vários golpes de facão, faca e marreta. (...) Sustenta que, nas 
mesmas circunstâncias de dia, após o cometimento do homicídio, os acusados 
subtraíram e ocultaram o cadáver da vítima J.R.S.S, visando a assegurar a ocultação 
e a impunidade do crime de homicídio perpetrado. 
(...) 
J.S.C. (fls. 205/206), afirma que chegou na casa de C. e encontrou o corpo da vítima 
envolto num lençol. Refere ter perguntado quem era, mas E. e C. não disseram 
quem tinha matado a vítima e ambos exigiram que os ajudassem a carregar o 
corpo. E. então achou uma escada e colocaram o corpo da vítima sobre ela 
levando-o, os três, até uma sanga. Depois voltaram para casa de C. e a limparam, 
bem como os instrumentos utilizados. Depois E. saiu e quando retornou ficou 
sabendo a identidade da vítima. Ficou sabendo que o motivo da morte foi uma 
dívida da vítima de R$ 15,00. 
Chama a atenção o depoimento de J., pois categórico em afirmar que ao se 
deparar com o crime, tanto E. como C. silenciaram acerca de quem era o autor do 
crime, porém ambos estavam preocupados em esconder o corpo e o impeliram a 
ajudar na sua ocultação, o que está a demonstrar que estavam em conluio.”9 
 
Na jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, há o caso do crime 
pelo pai contra a própria filha, de quatro meses, que, em razão de seu choro de 
madrugada, virou a criança de bruços e apertou seu pescoço até sua morte. 
“Algumas horas após a ocorrência do fato delituoso [homicídio], nos cômodos de 
areia localizados nas proximidades da Avenida Brasil, os denunciados R.M.C. e 
A.A.S, em comunhão de esforços e conjunção de vontades, ocultaram o cadáver 
de sua filha K., de aproximadamente 04 (quatro) meses de idade (não registrada).” 
 
9 Apelação Crime Nº 70016163941, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ivan Leomar 
Bruxel, Julgado em 11/10/2006 
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Condenados pelo Tribunal do Júri, foi negado provimento à apelação dos réus, 
que alegavam a impossibilidade de condenação pela falta do exame de corpo de 
delito. A leitura de trechos do julgado permite a compreensão dos fundamentos 
da decisão: 
 
“A materialidade, na falta do corpo de delito, pode ser comprovada pela prova 
testemunhal. Inteligência do art. 167 do código de processo penal.”10 
 
Destacam-se do corpodo acórdão, para compreender o caso concreto, os 
seguintes trechos: 
 
“No caso dos autos, realmente há impossibilidade física de realização do exame 
de corpo de delito direto, uma vez que não localizado o corpo da vítima. 
Igualmente impraticável a realização de exame indireto, em que ‘há sempre um 
juízo de valor feito pelos peritos, algo que não ocorre com a prova testemunhal 
supletiva’. Assim, para a comprovação da materialidade neste processo restou, 
tão-somente, a ‘possibilidade da prova testemunhal, que, se houver, poderá suprir 
o exame de corpo de delito, direto ou indireto (art. 167)’. 
(...) 
Como se pode constatar, portanto, perfeitamente plausível que o Conselho de 
Sentença, a par de não ter acesso a laudo pericial, utilize a prova testemunhal 
como elemento de convicção para a comprovação da materialidade.” 
 
É preciso, porém, reconhecer que sem o cadáver, a dificuldade probatória 
aumenta, pois será preciso provar, por prova testemunhal, primeiro a morte, 
depois provar que se tratou de homicídio e, só após isso, comprovar a autoria. 
Quando há o exame de corpo de delito, a autópsia já comprovou a morte e, 
ordinariamente, que se tratou de homicídio. Por exemplo um cadáver encontrado 
 
10 Apelação Crime Nº 70013588066, Primeira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Manuel José 
Martinez Lucas, Julgado em 29/03/2006 
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com três tiros no peito. A prova pericial prova a existência do homicídio e todo o 
debate no Tribunal do Júri será sobre a autoria. Como dito, nos casos de homicídio 
sem cadáver, a prova será muito mais difícil. 
 LEITURA COMPLEMENTAR 
 
“O caso dos Irmãos Naves foi um acontecimento policial e jurídico ocorrido na 
época do Estado Novo no Brasil, no qual dois irmãos foram presos e barbaramente 
torturados até confessar sua suposta culpa em um crime que não cometeram. (...)” 
 
Para a íntegra do texto, segue link abaixo: 
 
Irmãos Naves 
 
“A intensa exposição na mídia do provável homicídio da modelo Eliza Samúdio, 
que teria ocorrido no mês de junho de 2010, com o envolvimento do goleiro do 
Flamengo Bruno Fernandes das Dores de Souza, e participação de pessoas de seu 
convívio, tem suscitado interessante discussão sobre a possibilidade de os réus 
serem processados e condenados por crime de homicídio mesmo diante do 
desaparecimento do cadáver. (...)”. 
 
Para a íntegra do texto, segue link abaixo: 
 
Homicídio sem cadáver? 
 
 LEGISLAÇÃO 
Código Penal 
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https://pt.wikipedia.org/wiki/Irm%C3%A3os_Naves
http://www.ammp.org.br/inst/artigo/Artigo-8.pdf
 
 
 
 Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o 
patrimônio de outrem: 
 Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa. 
 Aumento de pena 
 § 1º - As penas aumentam-se de um terço: 
 I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito 
próprio ou alheio; 
 II - se o incêndio é: 
 a) em casa habitada ou destinada a habitação; 
 b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social 
ou de cultura; 
 c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo; 
 d) em estação ferroviária ou aeródromo; 
 e) em estaleiro, fábrica ou oficina; 
 f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável; 
 g) em poço petrolífico ou galeria de mineração; 
 h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta. 
 Incêndio culposo 
 § 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos. 
 
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Código de Processo Penal 
Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial 
deverá: 
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer 
outras perícias; 
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido 
os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. 
 JURISPRUDÊNCIA 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. 
FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. COMPROVAÇÃO. EXAME DE 
CORPO DE DELITO INDIRETO. VALIDADE. INSURGÊNCIA DESPROVIDA. 1. Segundo a 
pacífica jurisprudência desta Corte Superior, quando a conduta deixar vestígios, 
o exame de corpo de delito é indispensável à comprovação da materialidade do 
crime, podendo, contudo, o laudo pericial ser substituído por outros elementos 
de prova apenas quando os vestígios tenham desaparecido por completo ou o 
lugar se tenha tornado impróprio para a constatação dos peritos. 2. O exame de 
corpo de delito é indispensável para comprovar que o furto foi praticado com o 
rompimento de obstáculo (art. 155, § 4º, I, do CP e art. 158 do CPP). 3. A 
jurisprudência do STJ admite o exame de corpo de delito indireto realizado por 
duas pessoas idôneas, compromissadas e que possuam qualificação técnica, ex 
vi do art. 159, §§ 1º e 2º, do CPP, como ocorreu no caso. 4. O exame de corpo de 
delito indireto (prova pericial) não se confunde com o exame indireto do art. 
167 do CP, que é prova testemunhal. O tribunal de origem asseverou que a 
prova pericial (indireta) e as declarações colhidas em juízo demonstravam ter 
havido o rompimento de obstáculo (prova testemunhal). 5. Agravo regimental 
desprovido. 
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(STJ - AgRg no REsp: 1726667 RS 2018/0043907-8, Relator: Ministro JORGE MUSSI, 
Data de Julgamento: 23/08/2018, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 
31/08/2018). ( Grifo Nosso). 
 
 BIBLIOGRAFIA 
 
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ed. São Paulo: Forense, 2015. 
 
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e sua Jurisprudência. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2014. 
 
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Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. 
 
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9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
 
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Processo Penal Comentado. São Paulo: Saraiva, 2012. 
 
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Penal. 7ª ed. Salvador: Juspodvum, 2012. 
 
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Crítica Jurisprudencial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007. 
 
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e atual. Niterói, RJ: Impetus, 2008. 
 
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Vol. 1. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 
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